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LEI DE ABUSO DE

AUTORIDADE (lei nº
4.898/1965)
ATO DE ABUSO DE AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE
Não é a lei de abuso de autoridade uma lei eminentemente criminal somente.
O ato de abuso de autoridade enseja tripla responsabilização para o agente que o
comete:

Responsabilidade
Administrativa

Ato de abuso de Responsabilidade


autoridade Cível

Responsabilidade Crime de abuso


Penal de autoridade

Art. 1º, lei 4898/1965 - O direito de representação e o processo de responsabilidade


administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções,
cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

Art. 6º, lei 4898/1965 - O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
administrativa civil e penal.

§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso


cometido e consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com
perda de vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.

§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no
pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do


Código Penal e consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função
pública por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas a utônoma ou
cumulativamente.
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar,
de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não
poder o acusado exercer funções de natureza policial ou milita r no município da culpa,
por prazo de um a cinco anos.

SUJEITO ATIVO
O sujeito ativo do crime de abuso de autoridade é a autoridade pública para
fins penais. Trata-se de um crime funcional, que deve ser praticado por funcionário
público que exerça autoridade. É preciso que se observe a delimitação do artigo 5º,
lei 4898/1965:

Art. 5º, lei 4898/1965 - Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce
cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que
transitoriamente e sem remuneração.

Professor Silvio Maciel diz que este art. 5º traz o mesmo conceito do artigo
327, CP que traz o conceito de funcionário público para fins penais.
Para Heleno Fragoso, qualquer pessoa que exerça função pública, gratuita
ou remunerada, permanente ou ocasional, pertença ou não a Administração.
Desta feita, o jurado e o mesário eleitoral poderão cometer o crime de abuso
de autoridade, para estes fins penais.
Não são consideradas como autoridades as pessoas que exercem munus
público. Munus é o encargo imposto pela lei ou pelo Juiz para a defesa de interesses
privados. Exerce o munus público o tutor, o curador, o administrador da falência
(massa falida), advogados particulares, inventariante, etc.
O particular, que não possui função pública, sozinho jamais poderá
responder pelo crime de abuso de autoridade. Mas, poderá responder o particular
pelo crime de abuso de autoridade desde que pratique a conduta juntamente com
o funcionário público e saiba que este possui esta qualidade.

SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo principal ou imediato é a pessoa física ou jurídica que sofre
a conduta abusiva. Mas, existe também a figura do sujeito passivo mediato ou
secundário que é o Estado. O abuso de autoridade significa sempre uma irregular
prestação de serviços públicos. Sempre acarreta prejuízo na prestação deste
serviço público, não representando o Estado corretamente.
Desta feita, no crime de abuso de autoridade há dupla subjetividade passiva.
Incapazes e estrangeiros podem ser vítimas de abuso de autoridade.
Qualquer pessoa física poderá ser sujeito passivo imediato deste crime de abuso
de autoridade.
Mas, se a vítima for criança ou adolescente poderá ocorrer uma forma
específica de crime do Estatuto da Criança ou do Adolescente.
A própria autoridade pública também poderá ser vítima de abuso de
autoridade.
Pessoa jurídica de direito público como a de direito privado poderá ser vítima
do crime de abuso de autoridade.

OBJETIVIDADE OU OBJETO JURÍDICO


Existem dois objetos jurídicos dentro da lei do crime de abuso de autoridade:

1) Objeto jurídico principal ou imediato: o objeto jurídico neste caso é a


proteção dos direitos ou garantias individuais ou coletivos das pessoas
físicas ou jurídicas.

2) Objeto jurídico secundário ou mediato: é a normal e a regular prestação


dos serviços públicos.

O crime de abuso de autoridade é um crime de dupla objetividade jurídica.

ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO


O crime de abuso de autoridade é punido a título de dolo e, observada a
finalidade específica de abusar, isto é, de agir com abusividade, com prepotência.
A conduta tem que ter o escopo de abusar, de haver excesso deliberado com a
conduta.
Se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger o
interesse público acaba cometendo algum excesso (uma espécie de excesso
culposo), o ato é ilegal, mas não há propriamente a configuração do crime de abuso
de autoridade.
Há uma linha muito tênue entre a atuação da autoridade normal e um
possível excesso que pode ser cometido. Por isso este elemento subjetivo do tipo
é requerido.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas previstas nos
tipos penais.
Os crimes do artigo 3º não admitem tentativa. A lei já pune o simples atentado
como um crime consumado. São denominados estes crimes do art. 3º como “crimes
de atentado”.

Art. 3º, lei 4898/1965 - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associ ação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela
Lei nº 6.657,de 05/06/79)

Já os crimes do artigo 4º não admitem tentativa nas alíneas “c”, “d”, “g” e “i”,
conforme marcadas no artigo abaixo. Isso porque são considerados como crimes
omissivos puros ou próprios.

Art. 4º, lei 4898/1965 - Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades


legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente , ao juiz competente a prisão ou detenção de
qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,
emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade polic ial recibo de importância recebida
a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)

As demais letras, não marcadas, do artigo 4º da lei 4898/1965 admitem a


tentativa.

AÇÃO PENAL
Art. 12, lei 4898/1965 - A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito
policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a
representação da vítima do abuso.
Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada.
A representação mencionada no artigo 12 (abaixo grifada a expressão) não é a
condição de procedibilidade que é prevista no Código de Processo Penal. Esta
representação é apenas o direito de petição contra abuso de poder, que é previsto
no art. 5º, XXXIV, “a”, CF.

Art. 5º, CF
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder; (...)

COMPETÊNCIA
A competência para julgamento dos crimes de abuso de autoridade é em
regra da Justiça Estadual; somente irá para a competência da Justiça Federal
quando cometido o abuso de autoridade contra bem, interesse ou patrimônio da
União.
Se o crime de abuso de autoridade foi praticado por funcionário federal ou
contra o funcionário federal, neste caso sempre serão julgados os crimes na Justiça
Federal (CC 89397/AC).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE AMEAÇA,


ABUSO DE AUTORIDADE, DISPARO DE ARMA DE FOGO EM VIA PÚBLICA,
CALÚNIA, INJÚRIA E PREVARICAÇÃO COMETIDOS CONTRA JUIZ FEDERAL.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO
PENAL.
1. Nos termos do art. 92, III da Lei Maior, os Juízes Federais são órgãos do Poder
Judiciário, qualidade essa que impõe o reconhecimento do interesse da União no
julgamento de crimes de que sejam vítimas, o que atrai a competência da Justiça
Federal para processar e julgar a respectiva Ação Penal, nos termos do art. 109, IV
da CF/88. Outrossim, tal qualidade não pode ser ignorada quando da fixação do
Juízo competente, devendo ser levada em consideração, ainda que a vítima não
esteja no exercício das funções jurisdicionais.
2. A interpretação restritiva prevista na Súmula 147/STJ não se aplica aos Juízes
Federais, ocupantes de cargos cuja natureza jurídica não se confunde com a de
funcionário público, mas sim com a de órgão do Poder Judiciário, o que reclama
tratamento e proteção diferenciados, em razão da própria atividade por eles exercida.
3. O art. 95 da Constituição Federal, que assegura a garantia da vitaliciedade aos
Magistrados, e o art. 35, VIII da LC 35/79, que dispõe sobre o dever destes de
manterem conduta irrepreensível na vida pública e particular, revelam a
indissolubilidade da qualidade de órgão do Poder Judiciário da figura do cidadão
investido no mister de Juiz Federal e demonstram o interesse que possui a União em
resguardar direitos, garantias e prerrogativas daqueles que detêm a condição de
Magistrado.
4. O art. 109, IV da Constituição Federal é expresso ao determinar a competência
da Justiça Federal para o processo e julgamento de infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas.
5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Suscitante, o Juízo
Federal da 2a. Vara da Seção Judiciária do Estado do Acre.
(CC 89397/AC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 28/03/2008, DJe 10/06/2008)
E o crime de abuso de autoridade praticado por militar? NÃO É A
JUSTIÇA MILITAR, a competência para o julgamento é da Justiça Comum (estadual
ou federal). A questão está sumulada no enunciado de súmula 172, STJ. Não é
crime militar, é crime comum, por isso não é julgado na Justiça Militar.

Súmula 172, STJ - COMPETE A JUSTIÇA COMUM PROCESSAR E JULGAR MILITAR


POR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE, AINDA QUE PRATICADO EM SERVIÇO.

TIPOS DOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE


ARTIGO 3º

Para a doutrina este artigo 3º é considerado inconstitucional por ser aberto,


e vago e impreciso, violando o princípio da taxatividade, corolário do princípio da
legalidade.
Mas a jurisprudência não considerou nunca este artigo 3º como
inconstitucional.

Art. 3º, lei 4898/1965 - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;

O direito à liberdade de locomoção inclui o direito de ir, vir e permanecer em


local público.
Os atos decorrentes de poder de polícia não configuram o atentado à
liberdade de locomoção, por serem legítimas restrições à liberdade de locomoção.
Exemplos: bloqueios de trânsito; retirada de ébrios e doentes mentais de locais
públicos quando eles estão provocando tumulto ou colocando em perigo a
segurança própria ou alheia.

Observação: expulsar prostitutas da rua é conduta configurada como um


abuso de autoridade. Isso por dois motivos: 1. As prostitutas possuem liberdade de
locomoção; 2. Prostituição não é crime, apenas manter uma casa de prostituição é
crime.

Prisão para averiguação é uma conduta que configura crime de abuso de


autoridade. A doutrina entende que a condução momentânea à Delegacia para
rápidas averiguações não é conduta configurada como abuso de autoridade.
Exemplo: Policial suspeita que a identidade de uma pessoa é falsa; então a conduz
até a Delegacia para verificar se os dados são encontrados em seu sistema e se
estão corretos.

b) à inviolabilidade do domicílio;

Segue a possibilidade de violação de domicílio o que está disposto no art. 5º,


XI, CF:
Art. 5º, CF
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

STF entende que domicílio é qualquer local não aberto ao público, onde a
pessoa trabalhe ou ocupe como moradia permanente ou provisória.

Observação: Não se inclui como domicílio a boléia do caminhão ou qualquer


outro veículo automotor.

Se o policial entrar na casa de alguém sem mandado, diz o STF e o STJ diz
que há concurso de crimes entre o crime de abuso de autoridade desta alínea com
o crime do código penal de violação de domicílio (vide os julgados no HC 92912/RS
e REsp 781957/RS)

c) ao sigilo da correspondência;

Só está abrangida pelo sigilo a correspondência fechada. Se houver a


consulta de uma correspondência aberta não há configuração do abuso de
autoridade.

Observação: correspondência dos presos poderá ser aberta apenas


excepcionalmente, em razão de relevante interesse público. Foi isto que decidiu o
Supremo.

d) à liberdade de consciência e de crença;


e) ao livre exercício do culto religioso;

São garantias previstas na Constituição Federal.


Não podem ser coibidas manifestações pacíficas religiosas. Mas, os abusos,
por óbvio, poderão ser interrompidos. Exemplo: culto com sacrifício de animais;
cultos com excesso de som, que utilizam o volume muito alto do som da pregação;
etc.

f) à liberdade de associação;

A Constituição também garante fundamentalmente a liberdade de


associação; proíbe expressamente apenas a associação realizada para fins ilícitos
ou associações paramilitares.

g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;

h) ao direito de reunião;

i) à incolumidade física do indivíduo;

Qualquer atentado à incolumidade física do indivíduo acarreta o crime de


abuso de autoridade.
Não é necessário que haja a lesão na vítima. O simples atentado já configura
o abuso de autoridade. Mas, se a vitima sofrer lesões, o agente responderá pelo
crime de abuso em concurso material com o crime de lesão corporal (ver os dois
últimos julgados transcritos acima, HC e RESP, que invadiram o domicílio sem
mandado).

E se o fato configurar tortura? Se o fato configurar tortura o abuso fica


absorvido pelo crime específico de tortura.

j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela


Lei nº 6.657,de 05/06/79)

É a conduta de impedimento do profissional de exercer uma atividade legal.


Exemplo: Delegado de Polícia impediu que o membro do Ministério Público
verificasse o cumprimento de pena pelos presos.
Outro exemplo: impedir o Delegado que o Advogado veja os autos de
inquérito policial. É uma garantia inclusive exposta na súmula vinculante 14 e no
Estatuto da OAB.

SÚMULA VINCULANTE Nº 14 - É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO


REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ
DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR
ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO
EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.

ARTIGO 4º

Art. 4º, lei 4898/1965 - Constitui também abuso de autorida de:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades


legais ou com abuso de poder;

1. Autoridade executa medida privativa de liberdade sem atendimento das


formalidades legais. Exemplo: manda o recolhimento do preso sem que
seja lavrado o flagrante;

2. Autoridade executa medida privativa de liberdade com abuso de poder.


Exemplo: uso de algemas desnecessárias (súmula vinculante 11).

SÚMULA VINCULANTE Nº 11 - SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE


RESISTÊNCIA E DE FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE
FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS,
JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE
RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL (abuso de autoridade) DO
AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO
PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO.
Observação: se a vítima for criança ou adolescente o crime configurado é
do artigo 230, Estatuto da Criança e do Adolescente.

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não


autorizado em lei;

Esta modalidade de abuso de autoridade não é praticada apenas por


funcionários de presídios. Pode ser praticada por hospitais de custódia e tratamento
(manicômios judiciários).
Exemplo: impedir o preso, sem motivos, de receber visitas; expor a imagem
do preso na imprensa, constrangendo o preso a vexame, sem autorização dele; etc.
Colocar o preso, com ordem judicial, no regime disciplinar diferenciado (RDD)
não é abuso de autoridade, porque é um constrangimento autorizado em lei.

Observação; se esta conduta for praticada contra criança ou adolescente,


ocorre a configuração do artigo 232 do Estatuto da Criança ou do Adolescente.

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de


qualquer pessoa;

Esta alínea já foi tratada anteriormente, no arquivo do ECA. Aqui exige-se


apenas a comunicação ao Juiz e não à família do preso, como está previsto no ECA
e na Constituição.

Observação: Se a vítima for criança ou adolescente, incorre o agente nas


penas do artigo 231, ECA.

d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada;

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei;

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,


emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida


a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando


praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

Esta alínea demonstra-se como uma prova inequívoca de que a pessoa


jurídica pode ser vítima de abuso de autoridade.
Não basta que o ato lesivo atente contra a honra ou o patrimônio da pessoa
jurídica ou física; não baste que cause a lesão, mas é preciso que este ato seja
praticado:

a) Com abuso de poder: excesso dos limites legais impostos;


b) Com desvio de poder: violação das finalidades da lei; violação moral da
lei, para os administrativistas;

c) Sem competência legal para executar o ato.

O ato legítimo pode causar lesão à honra ou patrimônio de alguém e não se


considera abuso de autoridade. Exemplo: autoridades sanitárias interditam
restaurante em razão de ele não obedecer as normas da vigilância sanitária. Este
ato causa grave dano ao patrimônio e à honra; mas como revestido de legalidade,
não há que se falar em crime de abuso de autoridade.

i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,


deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)

A alínea só está punindo o prolongamento indevido de prisão temporária,


prisão preventiva ou prisão pena.
A prisão temporária prevista na lei 7960/1989, possui regulamento de que se
for vencido o prazo, a autoridade policial tem de liberar o preso, independentemente
de ordem judicial (alvará de soltura). Caso prolongue esta espécie de prisão
temporária, além do prazo, incorrerá a autoridade no crime de abuso de autoridade.
Vencido o prazo imposto a título de medida de segurança, e não colocado o
inimputável em liberdade, responderá pelo crime de abuso de autoridade o diretor
do estabelecimento psiquiátrico, hospital de custódia e tratamento.
Não existe crime de abuso de autoridade culposo. Se o Juiz deixar de expedir
ordem de liberdade (concessão de alvará de soltura), de forma dolosa, incorre sua
conduta no crime de abuso de autoridade.
Ou se a autoridade policial ou o diretor do hospital de custódia e tratamento
não obedecerem ao alvará de soltura expedido pelo Juiz, ao final prazo da prisão-
pena, responderão também pelo abuso de autoridade.

Observação: deixar de soltar criança ou adolescente apreendido, não


configura esta alínea sobre esta conduta, mas sim às penas do artigo 235, ECA.

ARTIGO 6º

Os artigos 3º e 4º descrevem a conduta punível a título de abuso de


autoridade, mas não cominam a pena. Na verdade as penas estão previstas no
artigo 6º, §3º, da lei de abuso de autoridade.
Art. 6º, lei 4898/1965 - O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
administrativa civil e penal.

§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso


cometido e consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com
perda de vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.

§ 2º A sanção civil, caso não se ja possível fixar o valor do dano, consistirá no


pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do


Código Penal (artigos correspondentes antes da reforma da parte geral do Código
Penal em 1984) e consistirá em:

a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses (considero o crime de abuso de autoridade um
crime de menor potencial ofensivo);

c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública


por prazo até três anos (não é efeito de condenação ao crime de abuso de autoridade,
é verdadeiramente pena principal) .

Esta pena pode ser aplicada cumulativamente ou autonomamente à pena de


detenção ou de multa (vide logo abaixo o §4º, deste mesmo artigo 6º).
Em muitas leis esparsas as penas restritivas de direitos são verdadeiramente
penas principais em muitos tipos. Exemplo: lei dos crimes ambientais (para as
pessoas jurídicas); código de trânsito brasileiro (suspensão da habilitação); etc.
O condenado ao crime de abuso de autoridade perderá o cargo que exercia,
ficando impedido de exercer a função pública que exercia, e para qualquer outro
cargo público. Por até três anos pode ficar inabilitado para o exercício da função
pública.

§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

Observação: a perda do cargo não é automática como ocorre quando da


condenação do funcionário público ao crime de tortura. A perda do cargo, na lei do
abuso de autoridade, é uma das penas que o Juiz pode ou não aplicar.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar
(policiais ou militares), de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma
ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar
no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.

A doutrina majoritária entende que este §5º não mais se aplica por tratar de
uma pena acessória que não se aplica mais em razão da reforma da parte geral do
Código Penal.

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