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Professor: JULIANO YAMAKAWA

Turma: CARREIRAS POLICIAIS


Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL

Tal exceção tem previsão expressa no art. 2º,


LEI PENAL NO TEMPO parágrafo único, do CP, com a seguinte redação:

TEORIA DA ATIVIDADE Art. 2º, Parágrafo único, do CP - A lei posterior, que de
qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado
MUITO IMPORTANTE

Cumpre salientar que, apesar do Código Penal
mencionar que se trata de efeito retroativo, na
CONCEITO realidade, a lei penal benéfica possui efeito extra-ativo
Segundo a teoria da atividade, o momento do crime (gênero), ou seja, há efeito retroativo e ultra-ativo
será o da ação ou omissão, ainda que outro seja o do (espécies).
resultado.
Em outras palavras, a lei penal benéfica será
A adoção da teoria da atividade é prevista no art. 4º aplicada às condutas anteriores à sua vigência (efeito
do Código Penal (CP), nos seguintes termos: retroativo), bem como para aquelas praticadas durante
sua vigência, mesmo que venha a ser revogada (efeito
ultra-ativo).
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da

ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.

Nesse sentido, o Código Penal brasileiro adotou
TEORIA: Atividade
como marco temporal o momento em que o agente age
ou se omite, mesmo que o resultado da conduta
criminosa venha a ocorrer em momento posterior e
distinto. REGRA: Lei Vigente

LEI PENAL TEORIA DA EXCEÇÃO: Lei Penal Benéfica com


NO TEMPO ATIVIDADE efeito extra-ativo

REGRAS E EXCEÇÕES LEI PENAL BENÉFICA INTERMEDIÁRIA


REGRA CONCEITO
Como ocorre em qualquer ramo do ordenamento É possível que, na sucessão de leis penais, ocorra a
jurídico, o Direito Penal adota, como regra, a aplicação aplicação de uma lei penal benéfica intermediária,
da lei vigente. ainda que não seja a lei em vigor quando da prática da
infração penal ou a lei vigente na época do julgamento.
Por exemplo, se um indivíduo for preso em
flagrante, hoje, na posse irregular de entorpecentes, Em suma, verifica-se tanto o efeito retroativo,
será aplicada a Lei nº 11.343/03, atual Lei de Drogas. quanto o efeito ultra-ativo, em um mesmo contexto
fático.
EXCEÇÃO
Ocorre que o Direito Penal possui uma disposição LEI PENAL TEMPORÁRIA/EXCEPCIONAL
específica, que é a aplicação da lei penal benéfica com
efeito retroativo, sendo, portanto, uma exceção à regra CONCEITO
da lei vigente. Inicialmente, é importante conceituar lei penal

temporária e lei penal excepcional:

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LEI PENAL TEMPORÁRIA: é aquela que tem a sua lei vigente quando da cessação da permanência ou
vigência predeterminada no tempo1. continuidade.”

LEI PENAL EXCEPCIONAL: é a que se verifica
quando a sua duração está relacionada a situações de O entendimento da Súmula nº 711 do STF é muito
anormalidade2. exigido nos concursos públicos.

Dos conceitos acima, percebe-se que, em ambos, a O aluno pode optar por decorar o enunciado, ou
lei penal tem duração limitada, tais normas já nascem lembrar que o marco temporal para lei penal no tempo
com expectativa de serem revogadas. é a teoria da atividade.

Dada a transitoriedade de sua duração, a lei Nesse sentido, para ambos, deve se levar em
temporária/excepcional tem efeito ultra-ativo, consideração o fim da conduta (crime permanente) ou
conforme previsão legal do art. 3º do CP. a última conduta (crime continuado) e, assim,
determinar a lei vigente no momento.
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora
decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS
praticado durante sua vigência
CONCEITO
No caso concreto, é possível se deparar com uma
LEI PENAL: CRIME PERMANENTE E CRIME situação curiosa: a existência de uma lei, parcialmente
CONTINUADO benéfica, revogada por uma lei posterior, também,
parcialmente benéfica. Ex: Lei 6.368/76 e 11.343/06,
respectivamente, antiga e nova Lei de Drogas.

MUITO IMPORTANTE
DÚVIDA: É possível a combinação de leis de forma a
aplicar apenas a parte benéfica de cada uma?
CONCEITO

CRIME PERMANENTE é aquele cujo momento da A resposta é NÃO.
consumação se prolonga no tempo. Ex: sequestro (CP,
art. 148). Segundo a jurisprudência do STF, a combinação de
leis violaria o princípio da legalidade, pois ao se aplicar,
CRIME CONTINUADO é uma modalidade de parcialmente, lei revogada (Lei A) e lei revogadora (Lei
concurso de crimes prevista no art. 71 do Código Penal, B), ter-se-ia, na realidade, uma 3ª norma (Lei C).
nos seguintes termos:

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os LEI A LEI B LEI C
subseqüentes ser havidos como continuação do
primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Súmula 501 do STJ: "É cabível a aplicação
retroativa da Lei 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais
Súmula nº 711 do STF: “A lei pena mais gravosa
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei
aplica-se ao crime continuado ou permanente se era a
n.6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis".

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CLEBER MASSON, DIREITO PENAL ESQUEMATIZADO, PÁG. 137, 9ª CLEBER MASSON, DIREITO PENAL ESQUEMATIZADO, PÁG. 137, 9ª
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situação, dever-se-á aplicar a lei vigente ao tempo


da prática do crime.

CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA 4. (CESPE – 2018/STJ - Analista) - Tendo como
CONCEITO referência a jurisprudência sumulada dos tribunais
superiores, julgue o item a seguir, acerca de crimes,
A continuidade normativo-típica ocorre quando um penas, imputabilidade penal, aplicação da lei penal
tipo penal, mesmo revogado, continua a ser uma e institutos. Tratando-se de crimes permanentes,
conduta delitiva. aplica-se a lei penal mais grave se esta tiver
vigência antes da cessação da permanência.
Nesse caso, não há abolitio criminis, mas apenas
transferência da tipicidade para outro artigo de lei. 5. (CESPE – 2014/TJ-DFT - Juiz) - Com fundamento
nas súmulas dos tribunais superiores, assinale a
Por exemplo, é o que ocorreu com o crime de opção correta. É possível a aplicação retroativa de
contrabando que, mesmo revogado no art. 334 do CP, lei penal vigente em combinação com a lei penal
teve sua normatividade mantida no art. 334-A do CP. revogada, desde que o resultado da incidência de
leis penais combinadas seja favorável ao acusado.
Cuidado, a continuidade normativo-típica não
configura lei penal benéfica superveniente, daí dizer
que não possui efeito retroativo.
GABARITO
1. Certo
EXERCÍCIOS 2. Errado
3. Certo
1. (CESPE – 2018/PF - Delegado) Em cada item a 4. Certo
seguir, é apresentada uma situação hipotética, 5. Errado
seguida de uma assertiva a ser julgada com base na
legislação de regência e na jurisprudência dos
tribunais superiores a respeito de execução penal, Comentário da questão 1: De fato, não houve
lei penal no tempo, concurso de crimes, crime revogação do crime (abolitio criminis), mas o fenômeno
impossível e arrependimento posterior. Manoel conhecido como continuidade normativo-típica, ou seja,
praticou conduta tipificada como crime. Com a ocorreu apenas um deslocamento do tipo penal para
entrada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi outro, mantendo, portanto, a tipicidade da conduta
formalmente revogado, mas a conduta de Manoel praticada.
foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação,
Manoel responderá pelo crime praticado, pois não
ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei.

2. (CESPE – 2018/EMAP - Analista) - A respeito da Comentário da questão 2: Ao contrário do
aplicação da lei penal, julgue o item a seguir. No afirmado no enunciado, o Código Penal adota a teoria da
ordenamento jurídico brasileiro, é adotada a teoria atividade em relação ao tempo do crime (CP, art. 4º).
da ubiquidade quando se fala do tempo do crime,
ou seja, o crime é considerado praticado no Por outro lado, a teoria da ubiquidade é adotada para
momento da ação ou da omissão. o local do crime, conforme previsto no art. 6º do Código
Penal.
3. (CESPE – 2018/EBSERH - Advogado) - Com
referência à lei penal no tempo, ao erro jurídico-
penal, ao concurso de agentes e aos sujeitos da
infração penal, julgue o item que se segue. Situação
hipotética: Um crime foi praticado durante a Comentário da questão 3: No enunciado, como a
vigência de lei que cominava pena de multa para lei posterior é mais gravosa que a lei vigente no
essa conduta. Todavia, no decorrer do processo momento da conduta, deve esta ser aplicada ao caso
criminal, entrou em vigor nova lei, que, revogando concreto.
a anterior, passou a atribuir ao referido crime a
pena privativa de liberdade. Assertiva: Nessa

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É importante ressaltar que a lei penal gravosa não


tem efeito retroativo, apenas a lei penal mais benéfica.


Comentário da questão 4: Não obstante a regra da
aplicação retroativa da lei penal mais benéfica, nos casos
de crime continuado e crime permanente, deve ser
aplicada a lei vigente no momento da cessação da
continuidade ou permanência.

Súmula nº 711 do STF: “A lei pena mais gravosa


aplica-se ao crime continuado ou permanente se era a
lei vigente quando da cessação da permanência ou
continuidade.”


Comentário da questão 5: Segundo entendimento
dos Tribunais Superiores, a aplicação da lei penal mais
benéfica de forma retroativa não pode resultar na
combinação de leis, ou seja, deve-se aplicar a
integralidade do texto legal.

Nesse sentido, caso a lei nova seja em parte benéfica


em relação à lei anterior, dever-se-á, no caso concreto,
optar por uma das duas, jamais podendo combinar as
leis.

Súmula 501 do STJ: "É cabível a aplicação retroativa


da Lei 11.343/2006, desde que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao
réu do que o advindo da aplicação da Lei
n.6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis".

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