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INTRODUÇÃO/CONCEITOS IMPORTANTES

I) CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

SITUAÇÃO ANTES Após a edição da CF/88, parte da doutrina apoiou a tese de que
DA EMENDA os tratados de direitos humanos eram diferenciados dos demais
CONSTITUCIONA tratados em virtude da redação dos dois parágrafos originais do
L Nº 45/2004 art. 5º:
 art. 5º, § 1º estabelece a aplicação imediata das normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais;
 o art. 5º, § 2º dispõe que os direitos e garantias expressos na
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que o Brasil seja parte

TEORIA DO DUPLO CONTROLE OU TEORIA DO DUPLO ESTATUTO


DUPLO CRIVO
O controle pode ser exercido tanto por Os tratados de direitos humanos podem
órgãos internacionais (ex. Corte ter duas formas (estatutos): natureza
Interamericana de Direitos Humanos), constitucional (os aprovados pelo rito do
quanto no âmbito interno dosS Estados art. 5º, § 3º) e natureza supralegal (todos
(Teoria do Duplo Controle); os demais), na visão do STF. Veremos
isso mais adiante!

TEORIA DO DUPLO ESTATUTO:

CF + TRATADOS APROVADOS NO
RITO DA EC

TRATADOS INTERNACIONAIS DE
DH NÃO APROVADOS PELO RITO
DAS EC

LEIS

TEORIA DO TRAPÉZIO NORMATIVO:


CF + TODOS OS
TRATADOS SOBRE
DIREITOS HUMANOS

LEIS

EFEITO NEGATIVO:
invalidação das normas e
decisões nacionais contrárias
às normas internacionais,
resultando no chamado
controle destrutivo ou
saneador de
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

convencionalidade;

Consiste na análise da EFEITO POSITIVO:


compatibilidade dos atos interpretação adequada das
internos (comissivos ou normas nacionais para que
omissivos) em face das normas estas sejam conformes às
internacionais (tratados, normas internacionais (efeito
EFEITOS
costumes internacionais, positivo do controle de
princípios gerais de direito, convencionalidade), resultando
atos unilaterais, resoluções em um controle construtivo de
vinculantes de organizações convencionalidade.
internacionais).
EFEITO PARALISANTE: Paralisa
a eficácia da norma declarada
inconvencional. Efeito de
afastamento

EFEITO DE AFASTAMENTO:
Afasta a aplicação da norma
declarada inconvencional.

 ATENÇÃO
É dever funcional dos Defensores Públicos de postular o controle de
convencionalidade (art. 1º, caput, 3º-A, III, e 4º, III, VI, X, da LC 80/94; e art. 134,
caput, da CF).

O controle de convencionalidade pode ser de duas matrizes:


CONTROLE DE MATRIZ INTERNACIONAL CONTROLE DE MATRIZ NACIONAL
Controle de convencionalidade exercido Controle de convencionalidade exercido
pelas Cortes Internacionais. Ex.: Corte pelos juízes internos (qualquer um). Ex.:
IDH. STF, STJ, Tribunais, Juízes monocráticos.
Obs: Os tratados internacionais de
direitos humanos, independentemente
da adoção do rito previsto no art. 5o , §
3o , da CF, ensejariam o “controle difuso
de convencionalidade”, ao passo que
aqueles submetidos ao procedimento do
§ 3o possibilitariam o “controle
concentrado de constitucionalidade”
(Mazzuoli).

Norma constitucional A resposta é sim.


originária pode ser “O CASO OLMEDO BUSTOS (A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE
objeto de controle de CRISTO) VS CHILE também se destaca em razão de o
convencionalidade? Estado chileno ter sido responsabilizado pela Corte IDH,
Em outras palavras, o mesmo agindo com fundamento em uma norma
Brasil poderia ser constitucional editada pelo seu poder constituinte
responsabilizado, em originário (...) Estabeleceu a Corte que “a responsabilidade
um caso concreto, internacional do Estado pode decorrer de atos ou
mesmo agindo com omissões de qualquer poder ou órgão deste,
fundamento em uma independentemente de sua hierarquia, que violem a
norma constitucional Convenção Americana” (...) Em seu voto, o juiz Cançado
estabelecida pelo Trindade também advertiu que “(...) qualquer norma de
legislador originário de direito interno, independentemente de sua natureza
1988? (constitucional ou infraconstitucional), pode, por sua
própria existência aplicabilidade, per se comprometer a
responsabilidade de um Estado Parte num tratado de
direitos humanos?”.

PRINCÍPIOS REITORES DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE


PRINCÍPIO DA Assim como vigora no ordenamento jurídico interno uma
PRESUNÇÃO presunção relativa de constitucionalidade dos atos
RELATIVA DE normativos, tem-se no âmbito da análise da
CONVENCIONALIDAD convencionalidade dos atos normativos internos uma
E DOS ATOS presunção relativa de convencionalidade.
NORMATIVOS
INTERNOS

PRINCÍPIO DA Os atos normativos internos devem ser interpretados


INTERPRETAÇÃO conforme o que dispõem os tratados internacionais de
CONFORME OS direitos humanos.
DIREITOS HUMANOS

PRINCÍPIO DA Também chamado de princípio da máxima integridade dos


PROGRESSIVIDADE direitos humanos, impõe que o controle de
convencionalidade não seja exercido para restringir a
proteção dos direitos humanos.
PRINCÍPIO DA Ao exercer o controle de convencionalidade, o intérprete
INTERPRETAÇÃO deve analisar a situação à luz dos tratados internacionais e
INTERNACIONALISTA dos precedentes internacionais de direitos humanos

PRINCÍPIO DA A jurisprudência internacional não exige uma forma


ATIPICIDADE DOS específica ou oficial de se exercer o controle de
MEIOS DE CONTROLE convencionalidade.
DE
CONVENCIONALIDAD
E

PRINCÍPIO DA Também conhecido como princípio pro homine, impõe que


INTERPRETAÇÃO PRO no exercício do controle de convencionalidade, se busque
PERSONA sempre a interpretação mais protetiva ou mais favorável
ao indivíduo.

GRAUS (OU NÍVEIS) DE INTENSIDADE DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE


DIFUSO NA VISÃO DE MAC-GREGOR
Grau O intérprete da norma realiza uma interpretação dos atos normativos
baixo internos que seja “conforme” as normas internacionais
Grau
médio O intérprete considera que não há forma de compatibilizar, por meio do
princípio a interpretação conforme, a aplicação da norma interna com a
norma internacional. Portanto, deixa de aplicar a norma interna em
detrimento da norma internacional.
Grau Verifica-se nos casos em que o intérprete possui a faculdade de expulsar
alto
do ordenamento jurídico interno a norma doméstica que considere
inconvencional. No caso do Brasil, só é possível quando o STF ou um
Tribunal de Justiça de um determinado Estado reconhecer, de forma
simultânea, a inconstitucionalidade diante de juízo abstrato e concentrado
e, ao mesmo tempo, a inconvencionalidade de determinada norma.

CONTROLE FORTE CONTROLE FRACO


Consiste na situação em que a Também chamado de controle “débil”,
autoridade pública deixa de aplicar a se caracteriza como um mandado de
norma interna em razão dela violar o interpretação das normas internas
bloco de convencionalidade e a própria conforme o conteúdo disposto nos
jurisprudência internacional. tratados internacionais de direitos
humanos e na jurisprudência
internacional.
Nessa modalidade de exercício do
controle de convencionalidade, a norma
interna não seria deixada de lado no
caso concreto, mas interpretada à luz do
bloco de convencionalidade e da
jurisprudência internacional de Direitos
Humanos.

Por fim, sobre controle de convencionalidade, lembremos de duas teses


importantes que podem aparecer em sua prova:
 As leis de auto-anistia violam a CADH e o próprio acesso à justiça (Caso Almonacid
Arellano e Caso Gomes Lund).
A norma constitucional que trata da prisão do depositário infiel é uma norma
constitucional originária. Portanto, embora, como vimos, possa ser objeto de
controle de convencionalidade, não pode ser declarada inconstitucional (controle de
constitucionalidade) pois o STF não admite a tese das “normas constitucionais
inconstitucionais” no que diz respeito a normas constitucionais originárias (poder
constituinte originário). Súmula Vinculante 25: é ilícita a prisão civil do depositário
infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE (Louis Favoreu)


BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
AMPLO ESTRITO (RESTRITO)
Consiste no reconhecimento da Só abarca os tratados aprovados pelo
existência de outros diplomas rito especial do art. 5º, § 3º, introduzido
normativos de hierarquia constitucional, pelo Emenda Constitucional nº 45/2004.
além da própria Constituição.
Em relação aos tratados internacionais de Direitos Humanos, o STF adota a teoria do
bloco de constitucionalidade RESTRITO, tendo em vista que somente serão
parâmetro para controle de constitucionalidade aqueles tratados aprovados pelo
rito de EC.

II) INCORPORAÇÃO DE TRATADOS INTERNACIONAIS NO NOSSO


ORDENAMENTO JURÍDICO
1. Os que versam sobre direitos humanos,
aprovados em cada casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos
respectivos membros, são equivalentes às
emendas constitucionais (CF, art. 5º, § 3º),
como vimos.

2. Os que versam sobre direitos humanos, mas


FORMAS DE OS TRATADOS foram aprovados pelo procedimento ordinário –
INTERNACIONAIS SEREM que são aprovados por maioria simples (CF,
INCORPORADOS AO NOSSO art.47), possuem status supralegal, situando-se
ORDENAMENTO JURÍDICO entre as leis e a Constituição. Ex.: Pacto de São
José da Costa Rica.

3. E por fim, os que não versam sobre direitos


humanos ingressam no ordenamento jurídico
brasileiro com força de lei ordinária. O STF não
admite que Tratado Internacional trate de
matéria reservada à Lei Complementar.

“TEORIA DA JUNÇÃO DE VONTADES OU TEORIA DOS ATOS COMPLEXOS”


(...) A Constituição exigiu um procedimento complexo que une a vontade
concordante dos Poderes Executivo e do Legislativo no plano federal no que tange à
formação e incorporação de tratados ao ordenamento interno. As bases
constitucionais são o art. 84, VIII, que estabelece competir ao Presidente da
República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo
do Congresso Nacional e, ainda, o art. 49, I, que dispõe que é da competência
exclusiva do Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional. A participação dos dois Poderes na formação da vontade
brasileira em celebrar definitivamente um tratado internacional consagrou a
chamada “teoria da junção de vontades ou teoria dos atos complexos”: para que um
tratado internacional seja formado é necessária a conjunção de vontades do Poder
Executivo e do Poder Legislativo, como veremos a seguir.

FASES DE INCORPORAÇÃO:

2. FASE DE
1. FASE DA APRECIAÇÃO 3. FASE DE 4. FASE DE
ASSINATURA LEGISLATIVA OU RATIFICAÇÃO PROMULGAÇÃO
CONGRESSSUAL

1. FASE DA Compreende o processo que vai da negociação dos termos do


ASSINATURA tratado até a assinatura do seu texto pelo Estado por intermédio
do Poder Executivo (Presidente da República na função de Chefe
de Estado).
2. FASE DE Compreende a apreciação legislativa do texto do tratado pelo
APRECIAÇÃO Congresso Nacional.
LEGISLATIVA
OU
CONGRESSSUAL
3. FASE DE A ratificação se dá pelo Presidente da República, por meio do
RATIFICAÇÃO qual o Estado consente em obrigar-se aos termos do ato
internacional.
A partir da ratificação o tratado entra em vigor no plano
internacional para o Estado, salvo previsão em sentido contrário.
4. FASE DE A última fase compreende a incorporação legislativa do tratado
PROMULGAÇÃO na ordem jurídica interna por meio de um decreto de
promulgação do Presidente da República. Embora existam
críticas, o STF exige, para vigor do tratado na ordem jurídica
interna brasileira, a edição de um decreto do Presidente da
República.

1. A Convenção de Nova York (Convenção


Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência)

2. O Protocolo Facultativo da Convenção


Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência,
TRATADOS COM STATUS
CONSTITUCIONAL:

3. O Tratado de Marraqueche, e

4. A Convenção Interamericana contra o


Racismo e todas as formas de
Discriminação.

III) TEORIAS E CONCEITOS

TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL


A teoria do impacto desproporcional, que também pode aparecer na sua prova com
o nome em inglês, “disparate impact doctrine”, é uma teoria que consiste na
violação da igualdade material, através de algum ato do poder público, seja uma lei
ou um ato administrativo, ou até uma decisão judicial, ou também ato de particular,
que cria uma vantagem para determinada classe ou grupo em detrimento de um
grupo minoritário. O ato, no entanto, é aparentemente inofensivo, mas suas
consequências são graves. O estado restringe desproporcionalmente os direitos de
certos indivíduos já vulneráveis através de critérios aparentemente neutros.
 Por exemplo, no caso Yatama X Nicarágua, a Corte IDH, em primeira manifestação
sobre direito eleitoral, mencionou a teoria do impacto desproporcional quando
entendeu que exigir do indígena filiação partidária para concorrer às eleições é algo
naturalmente desproporcional. O fato de ser filiado a um partido para concorrer às
eleições, na visão da Corte, não tem nada demais (é neutro). No entanto, exigir isso
dos povos indígenas causa um impacto desproporcional.
A Teoria do Impacto Desproporcional também foi citada na recente ADI 5543, em
que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionais
dispositivos de normas do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) que excluíam do rol de habilitados para doação de sangue os
“homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais
destes nos 12 meses antecedentes". O julgamento foi concluído em 08/05/2020, e
prevaleceu o voto do relator, ministro Edson Fachin, no sentido de julgar procedente
a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5543, ajuizada pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB), para declarar a inconstitucionalidade de dispositivos da Portaria
158/2016 do Ministério da Saúde e da Resolução RDC 34/2014 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária.

A TEORIA DO ROMANCE EM CADEIA


Você já ouviu falar nesse termo? Em síntese, a teoria do romance em cadeia é uma
expressão cunhada por Ronald Dworkin, estando ligado, também, à teoria dos
precedentes judiciais. Um juiz, ao estar diante de um novo caso, não deve julgar de
qualquer forma. É imperioso que este se valha da análise de casos pretéritos para
que só então possa redigir um novo julgamento, seguindo a linha de raciocínio
anterior, seja para manter ou alterar (desde que com a devida fundamentação) a
sua ideia. Este novo julgamento deve ser observado por um julgador futuro, ao
analisar um novo caso semelhante a este. 24
Foi justamente por isso que o Ministro Edson Fachin trouxe a teoria do romance em
cadeia, pois em seu voto, na ADI 5543, citou diversos casos apreciados pelo STF em
situação semelhante, sendo o atual mais um “capítulo do romance em cadeia da
narrativa constitucional”.

FUNDAMENTOS DA OBJETIVOS PRINCÍPIOS NAS


REPÚBLICA (Art. 1o, FUNDAMENTAIS DA RELAÇÕES
CF/88) REPÚBLICA (Art. 3o, INTERNACIONAIS (Art. 4o,
CF/88) CF/88)
I - Soberania; I - construir uma I - independência
II - Cidadania; sociedade livre, justa e nacional;
III - Dignidade da pessoa solidária; II - prevalência dos
humana; II - garantir o direitos humanos;
IV - Valores sociais do desenvolvimento III - autodeterminação dos
trabalho e da livre nacional; povos;
iniciativa; III - erradicar a pobreza e a IV - não-intervenção;
V - Pluralismo político. marginalização e V - igualdade entre os
reduzir as desigualdades Estados;
sociais e regionais; VI - defesa da paz;
IV - promover o bem de VII - solução pacífica dos
todos, sem preconceitos conflitos;
de origem, raça, sexo, cor, VIII - repúdio ao
idade e quaisquer terrorismo e ao racismo;
outras formas de IX - cooperação entre os
discriminação. povos para o progresso
da humanidade;
X - concessão de asilo
político.
Parágrafo único. A
República Federativa do
Brasil buscará a integração
econômica, política, social
e cultural dos povos da
América Latina, visando à
formação de uma
comunidade latino-
americana de nações.

 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA: SOCIDIVAPLU (I - Soberania; II - Cidadania; III -


Dignidade da pessoa humana; IV - Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V -
Pluralismo político).

 OBJETIVOS DA REPÚBLICA: CONGAPROER (I - construir uma sociedade livre, justa e


solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação).
Historicidade (predomina em relação ao jusnaturalismo)

Relatividade (admitem relativização) (exemplos de exceções: direito de não ser torturado ou


escravizado - são entendidos como absolutos)

Essencialidade/Centralidade dos DH (prevalência da dignidade humana, filtragem “pro persona” no


ordenamento)

Universalidade (subjetiva; art.1, DUDH 1948): basta ser humano para receber a proteção
Características
dos DH:
Imprescritibilidade (os DH não se perdem pelo decurso do tempo), Inalienabilidade e
Irrenunciabilidade;

Abertura dos DH (rol de DH não são exaustivos; há possibilidade de expansão dos direitos necessários
à uma vida digna; §2º do art. 5º da CRFB/88 adotou)

Vedação ao retrocesso/”Efeito Cliquet”/Entrincheiramento

Unidade/Indivisibilidade/Interdependência

DIMENSÕES DE DH (Karel Vasak)


1ª. DIMENSÃO: 2ª. DIMENSÃO: 3ª DIMENSÃO:
direitos de liberdade (civis direitos de igualdade direitos de solidariedade
e políticos); (sociais, culturais e (direito ao
Papel passivo + papel econômicos) ex.: saúde, desenvolvimento, à paz, à
ativo (ex. segurança educação, etc; autodeterminação, ao
pública) meio ambiente
equilibrado);
CRÍTICAS À TEORIA GERACIONAL:
• Uma geração não substitui a outra (termo mais adequado: dimensão);
• Ausência de verdade histórica; (ex.: Brasil na Era Vargas, durante o Estado Novo –
direitos sociais assegurados e civis limitados; ex.: OIT – direitos trabalhistas);
• Perigosa e falta dicotomia de que Direitos de Liberdade são direitos negativos e
Direitos Sociais são prestacionais (contribui com a tese de que direitos sociais são
meras normas programáticas);
• Indivisibilidade dos Direitos Humanos (ex.: direito à vida e direito à saúde);

PAULO BONAVIDES E AS DIMENSÕES DE DIREITOS


QUARTA DIMENSÃO QUINTA DIMENSÃO
Seria a globalização dos direitos Direito à paz em toda a humanidade
humanos. (anteriormente classificado por Vasak
Ex.: participação democrática como sendo de terceira geração).
(democracia direta), direito ao
pluralismo, bioética e limites à
manipulação genética.

Zulmar Fachin acrescenta, ainda, mais uma dimensão de direitos fundamentais:


SEXTA DIMENSÃO
Acesso à água potável

IV) EXECUÇÃO DE DECISÕES ORIUNDAS DE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS


DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

A EXECUÇÃO DE  não precisa ser homologada pelo STJ, pois não é sentença
DECISÕES estrangeira.
ORIUNDAS DE  a sentença será executada em primeiro grau, em uma vara da
TRIBUNAIS Justiça Federal, isso porque a União estará no polo passivo.
INTERNACIONAI  adota-se o procedimento do precatório para esses casos? Não.
S DE DIREITOS Nesses casos não se aplica o procedimento previsto no art. 100
HUMANOS NO da CF/88, considerando que isso geraria outra violação às
BRASIL vítimas, que teriam que esperar ainda muito mais tempo para
serem “ressarcidas”.

QUAIS SÃO AS FORMAS DE REPARAÇÃO À VÍTIMA NO ÂMBITO INTERNACIONAL?


RESTITUIÇÃO É o retorno ao status quo ante. Pessoa presa ilegalmente que
deverá ser posta em liberdade.
INDENIZAÇÃO/ Inclui indenização por Danos Materiais, Imateriais/Morais e
COMPENSAÇÃO Reembolso de custas e gastos.
REABILITAÇÃO A garantia da atenção médica e/ou psicológica à vítima, por
exemplo.
GARANTIA DA Exemplo citado pela doutrina é a capacitação dos agentes
NÃO públicos e a educação em direitos humanos, etc.
REPETIÇÃO
SATISFAÇÃO Direito à memória e à verdade.
INVESTIGAR, Obrigação de investigar, processar e, se adequado, punir os
PROCESSAR E responsáveis pelas violações de direitos humanos.
PUNIR

V) IDC (INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA)

IDC (INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA)


que o IDC (Incidente de Deslocamento de Competência) é importante instrumento
processual. Foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro com a finalidade de
assegurar o cumprimento das obrigações assumidas pelo Estado brasileiro com a
comunidade internacional, por meio da assinatura de tratados internacionais sobre
direitos humanos. O IDC é um instrumento que tem como objetivo federalizar a
apuração e o julgamento dos crimes graves contra os direitos humanos quando
presentes os requisitos constitucionalmente estabelecidos.
PREVISÃO Foi a Emenda Constitucional nº 45/2004 que introduziu um
CONSTITUCIONAL novo § 5º ao art. 109 da CF, estabelecendo que, nas hipóteses
de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante
o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal. Senão, vejamos:
(…) § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte,
poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).”
A mesma emenda introduziu o novo inciso V-A no art. 109, da
CF, determinando a competência dos juízes federais para julgar
as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º, do
art. 109, da CF. Vejamos a norma constitucional: “Art. 109. Aos
juízes federais compete processar e julgar:(…) (…) V-A as causas
relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (…)
Quando o Estado assina um tratado internacional sobre direitos
humanos, cabe a ele adotar todas as medidas necessárias para
que haja o seu cumprimento de forma efetiva e integral, sejam
elas judiciais ou extrajudiciais. Sendo o Estado signatário do
tratado centrado no federalismo, como ocorre com o Brasil, não
CLÁUSULA se pode alegar tal modelo para se eximir da responsabilidade
FEDERAL (ART. 28 assumida perante a comunidade internacional. Essa é a
DA CADH) chamada “cláusula federal”, prevista no art. 28 da CADH. Desta
forma, havendo violação de direitos humanos por um ente da
federação (Ex.: o Estado do Rio de Janeiro), a responsabilidade
será atribuída ao ente central, no caso brasileiro à União, não
podendo o mesmo alegar o federalismo e a autonomia dos
entes federados para negar sua responsabilidade.
1) Legitimidade exclusiva de propositura do Procurador-Geral
da República;
ELEMENTOS
2) Competência privativa do Superior Tribunal de Justiça, para
PRINCIPAIS DO
conhecer e decidir, com recurso ao STF (recurso
INCIDENTE DE
extraordinário)1;
DESLOCAMENTO
3) Abrangência cível ou criminal dos feitos deslocados, bem
DE
como de qualquer espécie de direitos humanos (abarcando
COMPETÊNCIA
todas as gerações de direitos) desde que se refiram a casos de
“graves violações” de tais direitos;
1
Lembra André de Carvalho Ramos, ainda, “que de acordo com a Resolução nº 06/2005 do Superior
Tribunal de Justiça, a competência para o julgamento do incidente será da Terceira Seção, composta
pelos Ministros da 5ª e 6ª Turmas do STJ. Realizado o deslocamento, a Justiça Federal será definida de
acordo com as demais peculiaridades do caso, observando-se todas as demais regras constitucionais e
legais de competência. Assim, em caso de crime doloso contra a vida, a competência do Tribunal do Júri
Estadual será deslocada para o Tribunal do Júri Federal. Se for caso de foro por prerrogativa de função,
será observado tal foro na esfera federal”.
4) Permite o deslocamento na fase pré-processual (ex.,
inquérito policial ou inquérito civil público) ou já na fase
processual;
5) Relaciona-se ao cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados de direitos humanos celebrados pelo Brasil;
6) Fixa a competência da Justiça Federal e do Ministério Público
Federal para atuar no feito deslocado.
i) Quando houver grave violação aos direitos humanos; e
ii) Quando estiver evidenciada uma conduta das autoridades
estaduais reveladora de falha proposital ou por negligência,
imperícia, imprudência na condução de seus atos, que vulnerem
o direito a ser protegido, ou ainda que revele demora
injustificada na investigação ou prestação jurisdicional, gerando
o risco de responsabilização internacional do Brasil, por
descumprimento de nossas obrigações internacionais de
direitos humanos.
IMPORTANTE: Não basta que ocorra uma grave violação de
direitos humanos. É necessário que a conduta da autoridade
estadual revele comportamento reprovável que amesquinhe as
obrigações internacionais sobre direitos humanos assumidas
QUANDO O pelo estado brasileiro, exigindo a demonstração concreta de
DESLOCAMENTO risco de descumprimento de obrigações decorrentes de
SERÁ DEFERIDO? tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da
inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições
reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à
devida persecução penal. Com isso, na medida em que haja
inércia ou dificuldades materiais aos agentes locais, pode o
Chefe do Ministério Público Federal, o Procurador-Geral da
República, requerer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o
deslocamento do feito, em qualquer fase e de qualquer espécie
(cível ou criminal) para a Justiça Federal. Ressalto que nem
sempre a inércia nas investigações ou processamento ocorre
por dolo ou culpa das autoridades locais. Não raras vezes, até
existe a vontade de se proceder às averiguações necessárias,
mas falta aparato para tanto (como recursos materiais e
humanos).
PRIMEIRA Em 2010, o STJ concedeu a primeira federalização de grave
FEDERALIZAÇÃO violação de direitos humanos relacionada ao homicídio do
DE DIREITOS defensor de direitos humanos Manoel Mattos, assassinado em
HUMANOS janeiro de 2009, após ter incessantemente noticiado a atuação
de grupos de extermínio na fronteira de Pernambuco e Paraíba.
A Procuradoria Geral da República requereu ao Superior
Tribunal de Justiça a federalização do caso, tendo o STJ, por
maioria, acatado o pleito.
Cuidado! Isto porque o primeiro IDC (o número 01) foi o do caso
Dorothy Stang, uma missionária norte-americana que foi
assassinada. No entanto, o STJ indeferiu o incidente sob o
argumento de que as autoridades do estado do Pará estavam
empenhadas na solução do caso.
Vamos analisar os IDCs propostos até o ano de 2021 na tabela abaixo, dando
atenção especial ao IDC que versa sobre o homicídio da vereadora Marielle Franco,
ocorrido na cidade do Rio de Janeiro:
O IDC 1/DF trata da morte da missionária norte-americana
Dorothy Stang em 12/2/2005, representante dos direitos
humanos no que tange aos conflitos agrários no local, ocorrido
IDC 1:
no interior do Pará. O STJ entendeu ausentes os pressupostos
legais e fáticos para o deslocamento. O tema central do IDC é a
violência pela disputa de terras (agrária) no Brasil.
O IDC 2/DF cuida do caso do advogado e vereador
pernambucano Manoel Bezerra de Mattos Neto assassinado em
24/01/2009, assim como denunciantes e testemunhas do caso,
IDC 2: que apontavam a atuação de grupos de extermínio na fronteira
com os Estados da Paraíba e Pernambuco (data do julgamento:
27/10/2010). O STJ entendeu presentes os pressupostos legais e
fáticos para o deslocamento. O tema central do IDC é a violência
de grupos de extermínio.
O IDC 3/GO trata da tortura e homicídios levados a efeito por
autoridades policiais do Estado de Goiás. O STJ entendeu
presentes os pressupostos legais e fáticos para o deslocamento
de parte das ações penais em curso, julgando, assim,
IDC 3:
parcialmente procedente o pedido (data do julgamento:
10/12/14). O tema central do IDC é a violência policial e a
morosidade do Poder Judiciário.

O IDC 4/PE foi manejado por Sandro Ricardo da Cunha Moraes,


Ministro do Tribunal de Contas de Pernambuco, em razão de
que o ato do Tribunal de Contas local, que culminou com sua
aposentadoria por invalidez permanente, violando “segredo de
justiça” para as causas de sua aposentação, colocando sua
IDC 4:
família e ele em risco na sociedade que convivem. Foi negado
seguimento ao IDC, haja vista a ilegitimidade do postulante,
pessoa física não imbuída da qualidade de Procurador Geral da
República. Julgado monocraticamente pelo Ministro Rogério
Schietti Cruz no dia 20 de maio de 2014.
O IDC 5/PE trata da morte do Promotor de Justiça estadual
Thiago Faria Soares, decorrente de provável ação de grupos de
extermínio que atuam no interior do Estado de Pernambuco
IDC 5: (região conhecida como “Triângulo da Pistolagem”). O STJ
entendeu presentes os pressupostos legais e fáticos para o
deslocamento (data da decisão: 14/11/2014). O tema central do
IDC é a violência de grupos de extermínio
IDC 9/SP trata da Chacina do Parque Bristol (Zona Sul de SP) ou
IDC 9: “Maio Sangrento (ou crimes de maio)”, que culminou na morte
de mais de 500 pessoas em São Paulo em maio de 2006, ainda
segue sem julgamento. O Instituto Conectas foi admitido como
“amicus curiae”.
O IDC 10/DF trata da Chacina do Cabula, operação policial
conduzida em Salvador/BA que resultou na morte de 12 pessoas
entre 15 e 28 anos e em 6 feridos, em fev./2015 (data do
IDC 10:
julgamento 28/11/2018). O STJ entendeu ausentes os
pressupostos legais e fáticos para o deslocamento. O tema
central do IDC é a violência policial e parcialidade das
autoridades locais.
Neste IDC foi alegada a parcialidade do TJ do Estado de Ceará e
do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar. Foi
IDC 11:
reconhecida a ilegitimidade ativa, haja vista não ter sido
ajuizado pelo PGR, o STJ não divulgou o nome restando
consignado apenas (H. de P. F.)
O IDC 14/DF trata da greve dos policiais militares do Estado do
Espírito Santo, sob a alegação da falta de parcialidade das
autoridades estaduais para conduzir a investigação e imputar
IDC 14:
responsabilidades. O STJ entendeu ausentes os pressupostos
legais e fáticos para o deslocamento (data do julgamento:
08/08/18). O tema central do IDC é a violência policial e a
imparcialidade das autoridades locais.
O IDC 15/CE cuida de mortes causadas por grupos de extermínio
no Ceará, dos quais teriam participado autoridades públicas
IDC 15:
estaduais, ainda está pendente de julgamento. O tema central é
a atuação de grupos de extermínio e a violência estatal.
O IDC 21/RJ aduz sobre as chacinas ocorridas na Favela Nova
IDC 21: Brasília no Estado do Rio de Janeiro, em episódios de mortes e
violência estatal em operações policiais entre os anos de 1994 e
1995. O tema central é a violência estatal.
IDC 22/RO trata de homicídios e torturas de pessoas vinculadas
a ligas de camponeses ocorridos em 2009, 2011, 2012 e 2016,
IDC 22: refere-se a crimes graves com suspeita de agentes estatais de
segurança pública em Rondônia, ainda está pendente de
julgamento. Tema central morosidade da justiça e violência
estatal.
O IDC 24/DF cuida do popular caso do assassinato de Marielle
Franco, vereadora do Município do Rio de Janeiro, e Anderson
IDC 24: Gomes, seu motorista, em 14 de março de 2018. O STJ
entendeu ausentes os pressupostos legais e fáticos para o
deslocamento (data do julgamento: 27/05/20). O tema central
do IDC são as milícias atuantes no Rio de Janeiro.

1) SISTEMA GLOBAL/ONUSIANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS (DUDH) - 1948

CARTA INTERNACIONAL DOS


DIREITOS HUMANOS PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS
("INTERNATIONAL BILL OF CIVIS E POLÍTICOS (PIDCP) - 1966
RIGHTS")

PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS
(PIDESC) - 1966

CARTA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ("INTERNATIONAL BILL OF


RIGHTS")
 A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) de
1948, que integra o sistema onusiano, foi elaborada pela
Organização das Nações Unidas;
 “a Declaração foi adotada e proclamada em Paris, em 10 de
dezembro de 1948, pela Resolução 217 A-III, da Assembleia
Geral da ONU. Dos 56 países representados na sessão da
Assembleia, 48 votaram a favor e nenhum contra, com oito
abstenções (África do Sul, Arábia Saudita, Bielorrússia,
Iugoslávia, Polônia, Tchecoslováquia, Ucrânia e União
Soviética). Com fundamento na dignidade da pessoa humana,
a Declaração Universal nasceu como um código de conduta
DECLARAÇÃO mundial para dizer a todo o planeta que os direitos humanos
UNIVERSAL DE são universais, bastando a condição de ser pessoa para que se
DIREITOS possa vindicar e exigir a proteção desses direitos em qualquer
HUMANOS ocasião e em qualquer circunstância”.
 Qual a natureza jurídica da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH)? É hard law (força obrigatória) ou
soft law (não vinculante)? A DUDH foi aprovada por meio de
uma Resolução da Assembleia Geral da ONU. Como se sabe, as
Resoluções da Assembleia Geral não têm força vinculante.
Contudo, meus amigos, essa JAMAIS será a posição adotada
por vocês. Para o professor André, este posicionamento não
deve prevalecer, haja vista que diversas decisões das Cortes
Internacionais consideram a DUDH como costume
internacional (decore essa expressão). Então, elas deixam de
ser SOFT law para ser HARD law.
PACTO O PIDCP e o PIDESC fazem parte do sistema onusiano, e por
INTERNACIONAL serem tratados, são dotados de força vinculante.
“O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP)
foi adotado pela XXI Sessão da Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 16 de dezembro de 1966, junto do Pacto
Internacional sobre Direitos Sociais, Econômicos e Culturais.
Contudo, entrou em vigor somente em 1976, pois exigiu
ratificação de 35 Estados para entrar em vigor (art. 49, § 1º).
Possui, em 2017, 169 Estados partes. O Pacto teve por
finalidade tornar juridicamente vinculantes aos Estados vários
direitos já contidos na Declaração Universal de 1948,
detalhando-os e criando mecanismos de monitoramento
internacional de sua implementação pelos Estados Partes.”
Internalizado pelo Decreto nº 592/1992, o PIDCP traz em seu
art.28 o chamado “Comitê”, que será composto 18 membros.
O Comitê será integrado por nacionais dos Estados Partes do
presente Pacto, os quais deverão ser pessoas de elevada
reputação moral e reconhecida competência em matéria de
direitos humanos, levando-se em consideração a utilidade da
participação de algumas pessoas com experiências jurídicas.
Por fim, lembrem-se que os membros do Comitê serão eleitos
para um mandato de quatro anos, e que cada Estado Parte
poderá indicar duas pessoas. Essas pessoas deverão ser
nacionais do Estado que as indicou e a mesma pessoa poderá
DOS DIREITOS
ser indicada mais de uma vez.
CIVIS E POLÍTICOS
LEMBREM-SE: Os membros do Comitê, 18 no total, serão
(PIDCP)
eleitos e exercerão suas funções a título pessoal.
 Cuidado, pois o PIDCP tem dois protocolos facultativos:
 PRIMEIRO PROTOCOLO FACULTATIVO AO PACTO
INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS: possui a
finalidade de instituir mecanismo de análise de petições de
vítimas ao Comitê de Direitos Humanos por violações a
direitos civis e políticos previstos no Pacto. No Brasil, foi
aprovado apenas em 16 de junho de 2009, pelo Decreto
Legislativo nº 311/2009. Logo, as vítimas de violações de
direitos protegidos no PIDCP contam com mais um mecanismo
internacional de supervisão e controle das obrigações
assumidas pelo Brasil. Ou seja: em relação aos mecanismos de
proteção do PIDCP, existe a figura do Comitê trazido pelo texto
do Pacto e também a sistemática de peticionamento individual
das vítimas instituída por intermédio do 1º Protocolo
Facultativo.
 SEGUNDO PROTOCOLO ADICIONAL AO PACTO
INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS: O Segundo
Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos com vistas à Abolição da Pena de Morte foi adotado
e proclamado pela Resolução nº 44/128 da Assembleia Geral
da ONU, de 15 de dezembro de 1989.36.
PACTO O PIDCP e o PIDESC fazem parte do sistema onusiano, e por
serem tratados, são dotados de força vinculante.
O PIDESC tem um protocolo facultativo (mas este não foi
INTERNACIONAL ratificado pelo Brasil ainda): As vítimas de violações de direitos
DOS DIREITOS econômicos, sociais e culturais agora dispõem de um
ECONÔMICOS, mecanismo para apresentar suas queixas e denúncias em
SOCIAIS E âmbito internacional ante o Comitê de Direitos Econômicos,
CULTURAIS Sociais e Culturais da ONU. O protocolo facultativo ao PIDESC
(PIDESC) traz o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da
ONU. Esse comitê edita os chamados Comentários Gerais,
importantíssimos para nossas provas

PIDCP PIDESC
Direitos de 1ª geração (garantias
Direitos de 2ª geração (direitos sociais ou
fundamentais ou liberdades básicas,
“direitos de igualdade”)
“direitos de liberdade”)
Estabelece aos Estados uma obrigação Por outro lado, os direitos previstos no
diferente no tocante aos direitos civis e PIDESC são de implementação
políticos em contraposição aos sociais progressiva. Isso tem a sua razão de ser
econômicos e culturais, denotando-se pelo fato de que a maioria dos direito
pela leitura dos dispositivos, que o PIDCP sociais e econômicos depende de
impõe uma obrigação mais contundente medidas que envolvem a disponibilidade
e imediata. de recursos públicos para a sua
aplicação, estando os países em estágios
diferentes de desenvolvimento
econômico e social.
Art. 2.2: 2. Na ausência de medidas Art. 2.1: Cada Estado Parte do presente
legislativas ou de outra natureza Pacto compromete-se a adotar medidas,
destinadas a tornar efetivos os direitos tanto por esforço próprio como pela
reconhecidos no presente Pacto, os assistência e cooperação internacionais,
Estados Partes do presente Pacto principalmente nos planos econômico e
comprometem-se a tomar as técnico, até o máximo de seus recursos
providências necessárias com vistas a disponíveis, que visem a assegurar,
adotá-las, levando em consideração seus progressivamente, por todos os meios
respectivos procedimentos apropriados, o pleno exercício dos
constitucionais e as disposições do direitos reconhecidos no presente Pacto,
presente Pacto. incluindo, em particular, a adoção de
medidas legislativas.
IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES

VIDA

PROIBIÇÃO DE TORTURA E DE PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU


DEGRADATES

PROIBIÇÃO DE ESCRAVIDÃO, SERVIDÃO E SUBMISSÃO AO TRABALHO FORÇADO

LIBERDADE E SEGURANÇA PESSOAL

INTEGRIDADE DO PRESO

NÃO PRISÃO POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO CONTRATUAL

DIREITO DE CIRCULAÇÃO

JUÍZO NATURAL

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
DIREITOS TIPICIDADE PENAL
RECONHE
CIDOS PERSONALIDADE JURÍDICA
PELO
VIDA PRIVADA
PIDCP
LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO

LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONSCIÊCIA E RELIGIÃO

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

DIREITO DE REUNIÃO (QUE PODE SER OBJETO DE RESTRIÇÕES IMPOSTAS EM


CONFORMIDADE COM A LEI)

DIREITO DE ASSOCIAÇÃO, INCLSUIVE CONSTITUIR SINDICATOS

PROTEÇÃO À FAMÍLIA

PROTEÇÃO À CRIANÇA

DIREITO DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

IGUALDADE PERANTE A LEI E IGUALDADE DE PROTEÇÃO DA LEI

PROTEÇÃO ÀS MINORIAS
IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES

DIREITO AO TRABALHO

DIREITO A CONDIÇÕES DE TRABALHO JUSTAS E FAVORÁVEIS

LIBERDADE SINDICAL (COMPREENDIDO O DIREITO DE FUNDAR SINDICATOS,


FILIAR-SE A SINDICATOS E O DIREITO DE GREVE)

SEGURANÇA SOCIAL, INCLUINDO OS SEGUROS SOCIAIS


DIREITOS
RECONHECIDOS PROTEÇÃO E ASSITÊNCIA À FAMÍLIA
NO PIDESC
DIREITO A UM NÍVEL DE VIDA ADEQUADO PARA SI E SUA FAMÍLIA, INCLUSIVE
ALIMENTAÇÃO, VESTIMENTA E MORADIA

DIREITO A GOZAR DO MELHOR ESTADO DE SAÚDE FÍSICA E MENTAL POSSÍVEL

DIREITO À EDUCAÇÃO

DIREITO A PARTICIPAR DA VIDA CULTURAL

DIREITO A GOZAR DOS BENEFÍCIOS CIENTÍFICOS

OUTROS DOCUMENTOS IMPORTANTES DO SISTEMA ONUSIANO


CONVENÇÃO SOBRE  CONCEITO DE DISCRIMINACÃO RACIAL SEGUNDO A
A ELIMINAÇÃO DE CONVENÇÃO: "Discriminação racial" significará toda
TODAS AS FORMAS distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em
DE DISCRIMINAÇÃO raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que
RACIAL tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social,
cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.
 FORMA DE ASSEGURAR O PROGRESSO ADEQUADO DE
CERTOS GRUPOS RACIAIS OU ÉTNICOS: Não serão
consideradas discriminação racial as medidas especiais
tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso
adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de
indivíduos que necessitem da proteção que possa ser
necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos
igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam, em
consequência, à manutenção de direitos separados para
diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sido
alcançados os seus objetivos.
 MECANISMOS DE MONITORAMENTO:
- Relatórios periódicos
- Comunicação interestatal
- Peticionamento individual
 Lembrar que foi a Convenção Interamericana (e não a da
ONU) contra o Racismo e todas as formas de Discriminação
que foi incorporada pelo rito das emendas constitucionais.
CONVENÇÃO SOBRE A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
A ELIMINAÇÃO DE Discriminação contra a Mulher (conhecida também pela sigla
TODAS AS FORMAS de sua denominação em inglês, CEDAW, cuidado, a banca
DE DISCRIMINAÇÃO adora usar a sigla) foi adotada pela Resolução nº 34/180 da
CONTRA A MULHER Assembleia Geral da ONU, em 18 de dezembro de 1979,
tendo em vista a persistente manutenção das discriminações
contra a mulher.
• O QUE SE CONSIDERA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER
SEGUNDO A CONVENÇÃO? toda distinção, exclusão ou
restrição baseada no sexo; e que tenha por objeto ou
resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício pela mulher; dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social,
cultural e civil ou em qualquer outro campo;
independentemente de seu estado civil, com base na
igualdade do homem e da mulher (art. 1º).
• O Protocolo Facultativo, à Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher foi
adotado por Resolução da Assembleia Geral da ONU de 6 de
outubro de 1999, e teve por objetivo aperfeiçoar o sistema
de monitoramento da Convenção, assegurando o direito de
petição quanto às violações dos direitos nela garantidos.
 Foi exatamente no Comitê da Convenção para Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher das
Nações Unidas (Comitê da CEDAW), que houve a condenação
no Brasil. Trata-se do primeiro caso em que o Brasil foi
responsabilizado no sistema global de proteção dos direitos
humanos (sistema convencional contencioso quase judicial
das nações unidas). No caso ALYNE PIMENTEL TEIXEIRA VS
BRASIL o Comitê condenou o Brasil, reconhecendo que o
estado brasileiro atuou de forma insuficiente na proteção dos
direitos humanos à vida, à saúde e à não discriminação no
acesso à saúde.

SISTEMA DE PROTEÇÃO E MONITORAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO


INTERNACIONAL
MECANISMO CONVENCIONAIS MECANISMOS NÃO CONVENCIONAIS
O sistema de proteção das Nações Unidas A então Comissão de Direitos Humanos da
(sistema global) está assentado em ONU, no entanto, desde a sua criação em
mecanismos convencionais de direitos 1946, instituiu mecanismos não
humanos, isto é, fundado em tratados convencionais (ou extraconvencionais) de
internacionais. Assim, são vários os tratados proteção, ou seja, não previstos
de direitos humanos que preveem originariamente em tratados internacionais
mecanismos de monitoramento dos direitos a que os Estados formalmente aderem.
por eles protegidos, consubstanciados em Como se percebe, o fundamento desses
Comitês de direitos humanos. mecanismos não convencionais se encontra
Os chamados “Comitês” são responsáveis fora de qualquer tratado internacional
por monitorar a implementação dos específico, tendo como supedâneo a própria
respectivos tratados. O sistema de petições Carta das Nações Unidas.”
individuais, por meio do qual a vítima de
determinada violação de direitos humanos,
cumprindo certos requisitos (como
esgotamento dos recursos internos,
ausência de litispendência internacional,
etc.), é um dos mecanismos de proteção dos
Comitês.
Da mesma forma como ocorre no sistema
regional americano, em que a competência
contenciosa da Corte IDH precisa ser aceita
pelos Estados partes da CADH para de fato
ser ativada, no sistema global a competência
dos comitês também depende de declaração
especial ou da ratificação de um protocolo
facultativo.

“Um dos mecanismos não convencionais de monitoramento estabelecidos


PEER pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU é o mecanismo de Revisão
REVIEW Periódica Universal (RPU), cuja finalidade é implementar a chamada revisão
por pares (peer review) em matéria de direitos humanos. O mecanismo
nasceu de autorização da Assembleia Geral da ONU, por meio da Resolução
60/251 de 2006, que atribuiu ao Conselho competência para “organizar uma
revisão periódica universal, baseada em informação objetiva e confiável,
para o cumprimento das obrigações e compromissos de direitos humanos de
cada Estado, de modo a que se assegure a universalidade de abrangência e
o tratamento igual no que diz respeito a todos os Estados”. Por meio desse
mecanismo, todos os Estados-membros da ONU devem submeter
periodicamente à Organização relatórios sobre a situação dos direitos
humanos em seus respectivos territórios, sob o escrutínio dos demais países
(ao que se denomina “escrutínio universal”). Os Estados, assim, avaliam-se
mutuamente quanto à proteção dos direitos humanos no território de cada
qual, o que possibilita terem todos uma visão global das principais práticas
sobre direitos humanos no mundo. Em princípio, todos os Estados-membros
da ONU haveriam de ser avaliados “por pares” em períodos de quatro anos,
após o qual um conjunto de recomendações viria à luz

RELATÓRIOS- Além das informações disponibilizadas pelos Estados e pelos


SOMBRAS mecanismos especiais das Nações Unidas, as Revisões Periódicas
OU SHADOW utilizam também uma compilação de informações apresentadas por
REPORT escrito (relatórios-sombra), também chamadas de Shadow Report e
são apresentadas por organizações da sociedade civil de cada país
acerca da situação de direitos humanos percebida nas bases
nacionais. Então, por exemplo, a Defensoria Pública pode apresentar
relatórios-sombras? Sim!
Percebam a importância desses relatórios e a relevância de a
Defensoria poder apresentá-los; isso porque nem sempre (leia-se
quase nunca) um Estado terá interesse em informar à ONU, no
período das Revisões Periódicas, todos os problemas internos que,
em tese, configuram-se como violadores dos Tratados e Convenções
Internacionais ou normas de jus cogens.
Portanto, as entidades que apresentam os shadow reports possuem
o papel complementar de demonstrar, no âmbito internacional, as
mazelas vividas no país e que devem ser erradicadas.

TREATY Os principais tratados universais (ou globais ou onusianos) criaram


BODIES Comitês, também chamados comumente de treaty bodies, para o
monitoramento internacional da situação dos direitos protegidos. A
princípio, o monitoramento limita-se ao envio pelo Estado de relatórios
periódicos, que serão analisados pelo Comitê, que emitirá recomendações
(ausência de força vinculante das recomendações).
Nove dos tratados onusianos que possuem esses Comitês admitem, sob
condições, o mecanismo de petições individuais. O Brasil já reconheceu o
mecanismo de petição individual de cinco Comitês. No caso de o Comitê
considerar, no bojo de uma petição individual contra um Estado, que
houve violação de direitos humanos, este determina ao Estado que realize
a reparação (força vinculante questionada).
Ainda, o Brasil adotou o Protocolo Facultativo à Convenção contra a
Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, que estabelece a competência, para fins preventivos, do
Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra a Tortura e exige a
criação de mecanismo nacional.

RESERVA DENÚNCIA
Segundo o art. 2, 1, “d” da Convenção de “é ato unilateral pelo qual uma parte de
Viena, significa “uma declaração um tratado anuncia sua intenção de se
unilateral, qualquer que seja a sua desvincular do compromisso,
redação ou denominação, feita por um desobrigando-se de cumprir as
Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou obrigações estabelecidas em seu bojo,
aprovar um tratado, ou a ele aderir, com sem que isso enseje a possibilidade de
o objetivo de excluir ou modificar o responsabilização internacional”. No
efeito jurídico de certas disposições do Brasil prevalece que a denúncia é ato
tratado em sua aplicação a esse Estado. privativo do Presidente da República,
Na prática, muitas reservas são sendo desnecessária a participação do
elaboradas por questões políticas. A Congresso Nacional, embora tal
Convenção Americana, por exemplo, não posicionamento seja criticado. Na
vedou a pena de morte, mas proibiu que hipótese de o tratado ser incorporado
ela fosse restabelecida nos Estados que formalmente à Constituição, não se pode
já a tivessem abolido. No entanto, aceitar que este seja objeto de denúncia,
sabemos que, posteriormente, um tendo em vista que este passou a
Protocolo trouxe sua abolição. Por outro integrar o bloco de constitucionalidade,
lado, esse protocolo admite a sendo, inclusive cláusula pétrea.
possibilidade de aplicar a pena de morte
em caso de guerra declarada. O Brasil,
ao aderir a esse instrumento, fez uma
reserva nesse sentido, tendo em vista a
previsão do art. 5º, XLVII da CF/88”.

PRINCÍPIO DO A doutrina aponta que “A Corte IDH consagrou o entendimento


STOPPEL NO de que a exceção de admissibilidade por ausência de
ÂMBITO esgotamento dos recursos internos tem que ser utilizada pelo
INTERNACIONA Estado no procedimento perante à Comissão Interamericana de
L Direitos Humanos. Assim, se o Estado nada alega durante o
procedimento perante a Comissão, subentende-se que houve
desistência tácita dessa objeção. Após, não pode o Estado alegar
a falta de esgotamento, pois seria violação do princípio do
estoppel, ou seja, da proibição de se comportar de modo
contrário a sua conduta anterior (non concedit venire contra
factum proprium).”

TODOS OS MEMBROS DAS NAÇÕES UNIDAS SÃO


ASSEMBLEIA GERAL MEMBROS DA ASSEMBLEIA GERAL (DELIBERAÇÕES POR
MAIORIA DE 2/3)

5 MEMBROS PERMANENTES (CHINA, FRANÇA, REINO


UNIDO, EUA E RÚSSIA) + 10 MEMBROS NÃO
CONSELHO DE SEGURANÇA PERMANENTES ELEITOS PELA ASSEMBLEIA GERAL PARA
MANDATO DE 2 ANOS (DELIBERAÇÕES POR VOTO
AFIRMATIVO DE 9 MEMBROS)

CORTE INTERNACIONAL DE
COMPOSTO POR 15 JUÍZES
JUSTIÇA
ÓRGÃOS DA ONU

CONSELHO ECONÔMICO E
COMPOSTO POR 54 MEMBROS
SOCIAL

CONSELHO DE TUTELA

CHEFIADO PELO SECRETÁRIO-GERAL INDICADO PELA


SECRETARIADO
ASSEMBLEIA GERAL PARA MANDATO DE 5 ANOS

ÓRGÃOS DA ONU
ASSEMBLEIA “Órgão deliberativo máximo que tem como atribuições principais
GERAL discutir, iniciar estudos e deliberar sobre qualquer questão que
afete a paz e segurança em qualquer âmbito, exceto quando a
mesma estiver sendo debatida pelo Conselho de Segurança;
receber e apreciar os relatórios do Conselho de Segurança e
demais órgãos da ONU e eleger membros do Conselho de
Segurança, do Conselho Econômico e Social e do Conselho de
Tutela.”
CONSELHO DE “Embora outros conselhos possam deliberar sobre questões de
SEGURANÇA segurança, este é o único que toma as decisões que os países
membros são obrigados a cumprir. Ele foi criado para manter a
paz e a segurança internacionais, além de examinar qualquer
situação que possa provocar atritos entre países e recomendar
soluções ou condições para a solução.”
CONSELHO “Coordena o trabalho econômico e social da ONU e das demais
ECONÔMICO E instituições integrantes, além de formular recomendações
SOCIAL relacionadas a diversos setores como direitos humanos,
(ECOSOC) economia, industrialização, recursos naturais e etc.”

CONSELHO DE “Foi criado com o propósito de auxiliar os territórios sob tutela


TUTELA JÁ da ONU a constituir governos próprios e, após anos de atuação,
EXTINTO foi extinto em 1994 quando Palau (no Pacífico), o último
território sob tutela da ONU, tornou-se um Estado soberano.”
CORTE “Órgão jurídico máximo da ONU que através de convenções ou
INTERNACIONA costumes internacionais, princípios gerais de direito
L DE JUSTIÇA reconhecidos pelas nações civilizadas, jurisprudência e pareceres
ou mesmo através de acordos; tem o poder de decisão sobre
qualquer litígio internacional, seja ele parte integrante de seu
estatuto ou solicitado por qualquer país membro ou não membro
(apenas países, não indivíduos), desde que, no último caso,
obedeça alguns critérios.”
SECRETARIADO “Presta serviços a outros órgãos da ONU e administra os
programas e políticas que elaboram, além de chamar a atenção
do Conselho de Segurança sobre qualquer assunto a ele
pertinente.”

A LEI Nº 13.810/2019 E O CUMPRIMENTO DE SANÇÕES IMPOSTAS POR


RESOLUÇÕES DO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
O CSNU (Conselho de Segurança das Nações Unidas) pode impor sanções a países e
também a pessoas físicas e jurídicas. Mas como são aplicadas essas sanções? Para
que essas sanções sejam aplicadas, o CSNU emite uma RESOLUÇÃO. Entre essas
sanções que o Conselho de Segurança aplica, a principal é a indisponibilidade de
ativos pertencentes à pessoa física ou jurídica. Essa indisponibilidade de ativos é
como um Bacenjud, só que vindo do âmbito internacional, e é aplicada a pessoas
(mais uma vez, lembro que pessoas aqui são físicas ou jurídicas) que tiverem
participação comprovada no financiamento ou na prática de ações terroristas. Era a
Lei nº 13.170/2015 que regulamentava essas sanções impostas pelo Conselho de
Segurança. Acontece que a Lei nº 13.810/2019 REVOGOU expressamente essa lei de
2015!
CONCEITOS IMPORTANTES:
ATIVOS Bens, direitos, valores, fundos, recursos ou serviços, de
qualquer natureza, financeiros ou não
INDISPONIBILIDAD Proibição de transferir, converter, trasladar, disponibilizar
E DE ATIVOS ativos, ou deles dispor, direta ou indiretamente;
FUNDAMENTOS Existência de indícios ou provas da prática de terrorismo, de
OBJETIVOS seu financiamento ou de atos a ele correlacionados, por
pessoa natural ou por intermédio de pessoa jurídica ou
entidade.
ENTIDADES Cuidado com essa expressão. Para a Lei, entidades são
“arranjos ou estruturas legais que não possuem
personalidade jurídica, tais como fundos ou clubes de
investimento. OBS.: Não confunda com o conceito de
“entidades” no direito administrativo.
SEM DEMORA Imediatamente ou dentro de algumas horas.
OUTROS PONTOS IMPORTANTES:
 Segundo o art. 4º da referida Lei, a indisponibilidade de ativos não constitui a
perda do direito de propriedade. Isso quer dizer, em outras palavras, que a
indisponibilidade é uma espécie de bloqueio dos ativos (imóvel, automóveis,
aplicação em poupança, etc.), mas isso não implica na PERDA da propriedade.
 Mas caso o proprietário descumpra a regra prevista no art. 4º e venda, por
exemplo, um dos bens tornados indisponíveis pelo Conselho de Segurança, o que
acontece? O art. 5º informa que são nulos e ineficazes atos de disposição
relacionados aos ativos indisponibilizados com fundamento nesta Lei, ressalvados os
direitos de terceiro de boa fé.
 IMPORTANTE: antes da vigência da Lei nº 13.810/2019, para que fosse decretada
a indisponibilidade dos ativos pelo CSNU, a União obrigatoriamente tinha que ajuizar
uma ação judicial requerendo essa indisponibilidade, isso porque estava expresso na
Lei nº 13.170/2015. Veja o que diz o art. 6 da Lei nº 13.810/2019: Art. 6º As
resoluções sancionatórias do Conselho de Segurança das Nações Unidas e as
designações de seus comitês de sanções são dotadas de executoriedade imediata na
República Federativa do Brasil. EXCEÇÃO: Art. 12. Na hipótese de haver informações
sobre a existência de ativos sujeitos à indisponibilidade ou de pessoas e bens sujeitos
a outra espécie de sanção determinada em resoluções do Conselho de Segurança
das Nações Unidas ou em designações de seus comitês de sanções, sem que tenha
ocorrido seu cumprimento na forma da Seção I deste Capítulo, a União ingressará,
sem demora, com auxílio direto judicial para obtê-la.

2) TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


O Tribunal Penal Internacional foi criado a partir do referido Estatuto. O preâmbulo
do Estatuto de Roma dispõe que “é dever de cada Estado exercer a respectiva
jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes internacionais”. Logo,
estabeleceu-se mais um exemplo da subsidiariedade da jurisdição internacional, tal
qual ocorre com os tribunais internacionais de direitos humanos. O princípio que
espelha essa subsidiariedade é o princípio da complementaridade. Por esse
princípio, o TPI não exercerá sua jurisdição caso o Estado com jurisdição já houver
iniciado ou terminado investigação ou processo penal, salvo se este não tiver
“capacidade” ou “vontade” de realizar justiça. Nesse ponto, o próprio Estado-parte
pode solicitar a intervenção do TPI ou ainda o próprio TPI pode iniciar as
investigações e persecuções criminais. Assim, a jurisdição internacional penal é
complementar à jurisdição nacional e só poderá ser acionada se o Estado não
possuir vontade ou capacidade para realizar justiça e impedir a impunidade. É bom
lembrar que o caso também será inadmissível se o acusado já tiver sido julgado pelo
mesmo fato (vedação ao bis in idem), exceto se o julgamento tiver sido feito apenas
para “simular”, sendo essa espécie de simulação nula, pois o seu fim de obter a
impunidade.

1) Assembleia dos Estados Partes;

2) O Tribunal Penal Internacional


propriamente dito;
ÓRGÃOS do
Tribunal
3) Fundo Fiduciário para Vítimas.
Penal
Internacional
4) O Gabinete do Procurador;

5) A Secretaria.

a) Genocídio

b) Crimes contra a
QUAIS CRIMES O humanidade
TRIBUNAL PENAL
INTERNACIONAL
(TPI) JULGA? c) Crimes de
Guerra

d) Crimes de
agressão

GHUGA (G-> genocídio; HU -> humanidade; G -> guerra; A -> agressão


TPI JULGA PESSOAS

CORTE IDH JULGA ESTADOS

a Corte Cidadã entendeu que é necessária a edição de lei em


sentido formal para a tipificação do crime contra a humanidade
INFORMATIV trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado
O 659 DO STJ internalizado. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, Terceira Seção, por maioria, julgado em 25/09/2019, DJe
30/10/2019.

a) As instâncias judiciais internas terem falhado


na persecução penal do caso – características
da complementaridade ou da subsidiariedade
do TPI.

b) O crime tenha sido cometido após a entrada


em vigor do Estatuto (01/07/2002) (art. 11.1)
CONDIÇÕES PARA
O EXERCÍCIO DA
COMPETÊNCIA DO c) O crime ou os crimes devem ter sido
TRIBUNAL PENAL cometidos no território de um Estado Parte
INTERNACIONAL (12.2.a) ou por um nacional de um Estado
Parte (art. 12.2.b), podendo, ainda, esta
aderência se dar mediante declaração
específica por Estado não contratante caso o
crime tenha ocorrido em seu território ou for
cometido por nacional (art. 11.2) ou ainda, ter
o CNSU adotado resolução vinculante
adjudicando o caso ao TPI,
independentemente de o Estado onde
ocorreu o crime ou do quão autor é nacional
ter ratificado o Estatuto de Roma (art. 13.b)
1) denúncia por um
Estado Parte;

A ativação da
competência do TPI 2) Denúncia pelo CSNU
pode se dar por três ao Procurador e
meios:

3) De ofício pelo
Procurador (ER, art. 13).

A RELAÇÃO DO BRASIL COM O TPI


O Brasil aderiu ao Estatuto de Roma em 25.09.2002, por meio do Decreto nº 4.388.
No entanto, em 2004, com a famosa Emenda Constitucional 45, objetivando
eliminar (ou pelo menos atenuar) algumas incompatibilidades entre o ER e a CF/88
segundo a doutrina, inseriu o § 4º ao art. 5º: § 4º O Brasil se submete à jurisdição
de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
INCOMPATIBILIDADES ENTRE O ESTATUTO DE ROMA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A doutrina tem apontado pelo menos 5 (cinco) incompatibilidades entre o Estatuto
de Roma e a Constituição Federal, sendo elas:
• Entrega de brasileiro nato. O Estatuto de Roma prevê que os Estados-Partes
devem entregar a pessoa investigada ou condenada pelo TPI ao Tribunal para
cumprir prisão preventiva ou pena definitiva, assim como para comparecer a atos
que exijam a sua presença física. O art. 102 do Estatuto de Roma faz distinção entre
entrega: Estado -> Tribunal e extradição: Estado -> Estado. A CF veda a extradição de
Brasileiro nato.54
• Coisa julgada pro reo. O Estatuto de Roma não aceita a coisa julgada “fraudulenta”
e a supera, inclusive CONTRA o réu.
• Imunidades materiais e formais previstas na CF/88, para congressistas por
exemplo.
• Imprescritibilidade. A Constituição Federal contém rol taxativo – art. 5º, incisos XLII
e XLIV (racismo, ação de grupos armados, civis e militares contra a ordem
constitucional e o Estado democrático de Direito). O Estatuto de Roma generaliza a
imprescritibilidade.
• Pena de caráter perpétuo: O Estatuto de Roma permite e a CF/88 proíbe. O
Estatuto de Roma prevê, em casos de “elevado grau de ilicitude do fato e as
condições pessoais do condenado o justificarem” a pena de prisão perpétua (art. 77,
1.b do Estatuto de Roma).

Surge, então, a seguinte dúvida: havendo conflito entre o que diz o Estatuto de
Roma e a Constituição de 1988, quem prevalece?
Sobre o tema, a doutrina especializada entende que em caso de incompatibilidades,
estas devem ser resolvidas em favor do Estatuto de Roma, isso porque o Direito
Internacional dos Direitos Humanos está fundado na premissa de que o Estado,
depois de aderir ao texto de um tratado, não pode invocar disposições de direito
interno para descumprir os termos daquele

DECISÕES PROFERIDAS PELO TPI IMPORTANTES PARA PROVAS


CASO THOMAS Esse caso merece destaque por ser a primeira condenação pelo TPI.
LUBANGA DYLO Segundo a doutrina, “Thomas Lubanga é um ex-líder de um dos maiores
movimentos revolucionários da República Democrática do Congo. Após
diversas denúncias da comunidade internacional de que Lubanga estaria
realizando o aliciamento e recrutamento de crianças menores de quinze
anos56 para compor os quadros de seu grupo revolucionário – e após
infrutíferas tentativas de resolver o problema na jurisdição doméstica, o
presidente congolês, Joseph Kabila, remeteu o caso ao Procurador do
Tribunal Penal Internacional, em março de 2004. A câmara de
julgamento do TPI condenou Lubanga a 14 anos de prisão por seu
envolvimento no recrutamento e alistamento de crianças menores de 15
anos para as Forças Patrióticas para a Libertação do Congo.”
CASO MATHIEU Diferente do caso anterior, este traz justamente o contrário: a primeira
NGUDJOLO absolvição proferida pelo Tribunal Penal Internacional em toda sua
CHUI história. Em 2003 ocorreu o caso “Massacre do Bogoro”, no qual a Força
de Resistência Patriótica em Ituri atacou a aldeia de Bogoro, na República
Democrática do Congo. Foi praticada uma série de crimes contra a
humanidade, dentro os quais o assassinato de civis e crimes sexuais
contra as mulheres que residiam na aldeia. O conflito ocorreu por
motivos étnicos (...) O órgão acusatório do Tribunal Penal Internacional
acusou Mathieu Ngudjolo Chui, juntamente com outras pessoas (...) de
cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade. No dia 18 de
dezembro de 2012, a 2ª Câmara de Julgamento do Tribunal Penal
Internacional absolveu Mathieu Ngudjolo Chui de todas as acusações,
por considerar que a promotoria não conseguiu reunir provas suficientes.
CASO JEAN- Caso também importantíssimo para nossa prova. Trata-se de condenação
PIERRE BEMBA proferida em 21 de junho de 2016 contra o ex-Vice-Presidente da
República Democrática do Congo, Jean-Pierra Bemba. O Vice-Presidente
foi condenado pelo TPI a 18 anos de prisão por violações e mortes brutais
há uma década na República Centro-Africana. SE LIGA: Segundo a
doutrina, trata-se de dirigente político de mais alto nível a ser condenado
pelo TPI.
Sobre o tema, Caio Paiva e Thimotie ainda trazem alguns pontos que são
destaques sobre o caso:
• O TPI pela primeira vez usou a teoria do domínio da posição (command
responsabilitity). É que o TPI considerou Jean Pierre culpado em razão de
ter promovido uma campanha de estupro, mortes e torturas, sendo a
primeira vez que este Tribunal utilizou o “princípio do comando” ou da
“responsabilidade superior” para condenar um indivíduo por crimes
perpetrados não por ele, mas por seus subordinados.
• Aplicação do princípio da irrelevância da qualidade oficial. O art. 27 do
Estatuto de Roma prevê expressamente o “princípio da irrelevância da
qualidade oficial”, uma vez que a qualidade oficial de Chefe de Estado ou
de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário
público, em caso algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade
criminal nos termos do Estatuto.60
Porém, em 2018, com três votos a favor e dois contra, a seção de recurso
do TPI, "anulou a declaração de culpabilidade de Jean-Pierre Bemba" e
"declarou a absolvição do acusado porque os erros cometidos pela
primeira instância removeram completamente a sua responsabilidade
penal", afirmou a juíza Christine van den Wyngaert, em audiência
pública. Segundo o Tribunal, a condenação de Jean-Pierre Bemba em
2016, "não comprovou totalmente que este não tenha tomado medidas
suficientes para evitar os crimes cometidos pelas tropas congolesas".
CASO OSMAR Tem grande relevância para nossas provas, sobretudo por ter sido o
AL BASHIR primeiro litígio internacional em que o Conselho de Segurança da ONU
“CASO DAFUR” adjudicou e remeteu o feito ao TPI. No entanto, ainda está pendente de
julgamento. A doutrina lembra que “o caso versa sobre o conflito
instaurado na região de Dafur, no Sudão, em março de 2003, quando
grupos de oposição ao governo central realizaram um ataque no
aeroporto da localidade de El Fasher, como forma de exprimir suas
insatisfações de natureza política, econômica e social. Em resposta, um
mês após o ataque do grupo de oposição, o governo sudanês, liderado
pelo Presidente Omar Al Bashir, com apoio da milícia Javaweed,
bombardeou e atacou vilarejos, matando civis, estuprando mulheres e
roubando bens e terras dos que lá estavam (...) O conflito armado na
região do Darfur também gerou dois milhões e meio de refugiados.”

3) SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


SISTEMA EUROPEU
A Convenção Americana de Direitos Humanos não tratou,
com ênfase, dos direitos econômicos, sociais e culturais.
SISTEMA INTERAMERICANO Assim, precisava-se de um novo regramento internacional
sobre a matéria. É aí que surge em 1988, o conhecido
“Protocolo de San Salvador”.
É o mais novo e o com menos força cogente entre seus
signatários. Característica mais importante: incluiu em seu
SISTEMA AFRICANO texto (no mesmo texto do tratado-regente) tanto os direitos
civis e políticos quanto os direitos econômicos, sociais e
culturais, para além do direito “dos povos”.
4) SISTEMA REGIONAL AMERICANO (SISTEMA INTERAMERICANO)

I) INTRODUÇÃO

ORIGEM DO SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO (OU AMERICANO)


O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos tem sua origem
histórica com a proclamação da Carta da Organização dos Estados Americanos
(Carta de Bogotá) de 1948, aprovada na 9ª Conferência Interamericana, ocasião em
que também se celebrou a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.
Esta última formou a base normativa de proteção no sistema interamericano
anterior à conclusão da Convenção Americana (em 1969) e continua sendo o
instrumento de expressão regional nessa matéria, principalmente para os Estados
não partes na Convenção Americana. O instrumento fundamental do sistema
interamericano de direitos humanos é a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos. A Convenção foi assinada em 1969, tendo entrado em vigor internacional
em 18 de julho de 1978, após ter obtido o mínimo de 11 ratificações. Somente os
Estados-membros da OEA é que têm o direito de se tornar parte dela. O Brasil a
ratificou no ano de 1992, tendo sido promulgada internamente pelo Decreto nº 678,
de 6 de novembro daquele ano.”

NÃO CONFUNDIR!
DECLARAÇÃO AMERICANA DOS CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS
DIREITOS E DEVERES DO HOMEM (SOFT HUMANOS (HARD LAW)
LAW)
A Declaração Americana dos Direitos e A Convenção Americana sobre Direitos
Deveres do Homem, aprovada na IX Humanos foi aberta à assinatura na
Conferência Internacional realizada em Conferência Especializada
Bogotá em abril de 1948 é considerada o Interamericana sobre Direitos Humanos,
primeiro acordo internacional sobre em San José de Costa Rica, em 22 de
direitos humanos, nela consta um novembro de 1969, tendo sido aprovada
preâmbulo e dois capítulos; o primeiro no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de
dedicado aos direitos humanos e o 25 de setembro de 1992, e promulgada
segundo aos deveres e obrigações, pelo Decreto presidencial 678, de 6 de
totalizando 38 artigos. novembro desse mesmo ano.

 A Declaração dos Direitos e Deveres do Homem é de 1948, isto é, o mesmo ano da


Declaração Universal dos Direitos Humanos do sistema Onusiano, que também é de
1948. Cuidado, pois a questão pode dizer que a DUDH é do mesmo ano da Convenção
Americana (CADH), o que está errado.

CONVENÇÃO  Em relação aos direitos protegidos, a Convenção aprofundou a


AMERICANA DE redação dos direitos enunciados na Declaração Americana,
DIREITOS vinculando os Estados (a Declaração Americana era tida como um
HUMANOS texto não vinculante por não ser um tratado propriamente dito).
(1969) (PACTO  Criou a Corte Interamericana de Direitos Humanos, como o
DE SAN JOSÉ DA segundo órgão de supervisão do sistema interamericano de
direitos humanos.
 Dotou a já existente Comissão Interamericana de Direitos
Humanos de novas atribuições. A partir da entrada em vigor da
Convenção, a Comissão passou a ter papel dúplice:
- Em primeiro lugar, continuou a ser um órgão principal da OEA,
encarregado de zelar pelos direitos humanos de modo amplo,
COSTA RICA) incumbido até mesmo do processamento de petições individuais
retratando violações de direitos humanos protegidos pela Carta
da OEA e pela Declaração Americana.
- Em segundo lugar, a Comissão passou a ser também órgão da
Convenção Americana e Direitos Humanos, analisando petições
individuais e interpondo ação de responsabilidade internacional
contra um Estado perante a Corte.

PROTOCOLO À CADH SOBRE


DIREITOS HUMANOS EM
MATÉRIA DE DIREITOS
ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS (SAN
PROTOCOLOS ADICIONAIS À SALVADOR)
CADH
PROTOCOLO À CADH
RELATIVO À ABOLIÇÃO DA
PENA DE MORTE

PROTOCOLOS ADICIONAIS À CADH


PROTOCOLO À A Convenção Americana de Direitos Humanos não tratou, com
CADH SOBRE ênfase, dos direitos econômicos, sociais e culturais. Assim,
DIREITOS precisava-se de um novo regramento internacional sobre a
HUMANOS EM matéria. É aí que surge em 1988, o conhecido “Protocolo de
MATÉRIA DE San Salvador”:
DIREITOS  O Protocolo de San Salvador, foi adotado pela Assembleia
ECONÔMICOS, Geral da OEA, em 17 de novembro de 1988, em São Salvador,
SOCIAIS E El Salvador, sendo voltado aos direitos econômicos, sociais e
CULTURAIS (SAN culturais garantidos no âmbito do sistema interamericano de
SALVADOR) proteção aos direitos humanos. O Congresso Nacional
brasileiro aprovou o ato por meio do Decreto Legislativo nº 56,
de 19 de abril de 1995. O Brasil aderiu ao Protocolo em 8 de
agosto de 1996 e o ratificou em 21 de agosto de 1996,
entrando o ato em vigor para o Brasil em 16 de novembro de
1999. Finalmente, deu-se a promulgação por meio do Decreto
nº 3.321, de 30 de dezembro de 1999.
 Em seu preâmbulo, o Protocolo ressalta a estreita relação
existente entre os direitos econômicos, sociais e culturais, os
direitos civis e políticos, uma vez que as diferentes categorias
de direito constituem um todo indissolúvel que protege a
dignidade humana. As duas categorias de direitos exigem uma
tutela e promoção permanentes, com o objetivo de conseguir
sua vigência plena, sem que jamais possa ser justificável a
violação de uns a pretexto da realização de outros.
André de Carvalho Ramos destaca que o Protocolo Adicional à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à
Abolição da Pena de Morte foi adotado em Assunção, em 8 de
junho de 1990, durante a XX Assembleia Geral da Organização
dos Estados Americanos, na esteira da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, que já restringira a aplicação da pena
de morte. Entrou em vigor internacional em 28 de agosto de
1991.
PROTOCOLO À Esse protocolo foi introduzido à CADH, pois esta não previu a
CADH RELATIVO À proibição à pena de morte quando de sua existência. O
ABOLIÇÃO DA protocolo proíbe a pena de morte, no entanto, traz ressalvas
PENA DE MORTE em seu art. 2.1: “Não será admitida reserva alguma a este
Protocolo. Entretanto, no momento de ratificação ou adesão,
os Estados-Partes neste instrumento poderão declarar que se
reservam o direito de aplicar a pena de morte em tempo de
guerra, de acordo com o Direito Internacional, por delitos
sumamente graves de caráter militar.”.
Ou seja, é o caso do Brasil. Não há pena de morte, salvo em
caso de guerra declarada, nos termos do art. 5º, XLVII, “a”,
CRFB. Cuidado, pois no momento da aposição da ressalva é
necessária a comunicação ao Secretário Geral da OEA.

II) OUTROS INSTRUMENTOS NORMATIVOS

Além do Pacto de San José da Costa Rica e seus protocolos adicionais, existem outros
instrumentos normativos compondo o sistema interamericano, sendo oportuno trazer
algumas considerações sobre alguns desses instrumentos.

A CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA 2


DEFINIÇÃO DE - todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma
TORTURA: pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais;
- com fins de investigação criminal;
- ou como meio de intimidação;
- ou como castigo pessoal, ou como medida preventiva, como

2
TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA RELÓGIO: Sobre o delito de tortura, você já ouviu falar na teoria do
cenário da bomba relógio ou ticking time bomb scenario? Essa teoria faz a seguinte proposição: o direito
à tortura é um direito absoluto ou relativo? Imagine que um terrorista programou uma bomba relógio
que está prestes a explodir. Diante disso, e considerando que só ele consegue desarmar a bomba, é
possível torturá-lo para salvaguardar o direito de inúmeras pessoas? Essa teoria é pouco explorada no
Direito brasileiro. Não há resposta precisa para a pergunta anterior, havendo diversos tipos de
posicionamentos. Prevalece, no entanto, o entendimento no sentido de que a proibição da tortura
constitui direito absoluto (Flávio Martins, 2017, p. 778).
pena ou com qualquer outro fim.
EXCLUI-SE EXCLUI-SE EXPRESSAMENTE DO CONCEITO DE TORTURA,
EXPRESSAMENTE entretanto, as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que
DO CONCEITO sejam unicamente consequência de medidas legais ou inerentes
DE TORTURA: a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou
aplicação dos métodos mencionados na definição de tortura.
entretanto, as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que
sejam unicamente consequência de medidas legais ou inerentes
a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou
aplicação dos métodos mencionados na definição de tortura.
RESPONSÁVEIS São considerados responsáveis os empregados ou funcionários
PELO DELITO DE públicos que, nessa condição, ordenem sua comissão ou
TORTURA: instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou,
podendo impedi-lo, não o façam. São também consideradas
responsáveis as pessoas que, por instigação dos funcionários ou
empregados públicos anteriormente mencionados, ordenem sua
comissão, instiguem ou induzam a ela, ou nela sejam cúmplices.
 Atenção total a um fato: segundo a Convenção
Interamericana, o responsável deve ser funcionário público ou
particular instigado por aquele. Devemos ter cuidado pelo fato
de que no âmbito legal, a tortura é punida quando praticada por
qualquer pessoa, independentemente de ser instigada por
particular ou não, tratando-se, como regra geral, de crime
comum.
 A Convenção é clara ao determinar que o fato de se ter agido
por ordens superiores NÃO exime da responsabilidade penal
correspondente (art. 4º).
NÃO SE ADMITE  a existência de circunstâncias como o estado de guerra, a
COMO ameaça de guerra, o estado de sítio ou emergência, a comoção
JUSTIFICATIVA ou conflito interno, a suspensão das garantias constitucionais, a
PARA A PRÁTICA instabilidade política interna, ou outras emergências ou
DE TORTURA: calamidades públicas30.
 a periculosidade do detido ou condenado, nem a insegurança
do estabelecimento carcerário ou penitenciário (art. 5º).
DIREITOS DAS Direito de ser examinada de maneira imparcial; direito à
PESSOAS compensação adequada.
VÍTIMAS DE
TORTURA:
OUTRAS • Convenção contém MANDADO DE CRIMINALIZAÇÃO DA
OBSERVAÇÕES: TORTURA.
• Estados Partes se comprometem a informar a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos sobre as medidas
legislativas, judiciais, administrativas e de outra natureza que
adotarem em sua aplicação. A Comissão procurará analisar, em
seu relatório anual, a situação prevalecente nos Estados-
membros da OEA, no que diz respeito à prevenção e supressão
da tortura, em conformidade com suas atribuições.
• No caso de o Estado não poder extraditar por algum motivo o
torturador, deve julgá-lo (aut dedere, aut judicare).

A CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER (CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ)
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a
Mulher (Convenção de Belém do Pará) foi concluída pela Assembleia Geral da OEA,
em Belém do Pará, no Brasil, em 9 de junho de 1994, como resposta à situação de
violência contra mulheres existente na América.
Entende-se por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no
gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto na esfera pública como na esfera privada.
A violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica:
a) ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação
interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua
residência, incluindo-se, entre outras turmas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual;
b) ocorrida na comunidade e comedida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras
formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada,
sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições
educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e
c) perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.
Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos
os direitos humanos e liberdades consagrados em todos os instrumentos regionais e
internacionais relativos aos direitos humanos. Estes direitos abrangem, entre outros:
a) direito a que se respeite sua vida;
b) direitos a que se respeite sua integridade física, mental e moral;
c) direito à liberdade e à segurança pessoais;
d) direito a não ser submetida a tortura;
e) direito a que se respeite a dignidade inerente à sua pessoa e a que se proteja sua
família;
f) direito a igual proteção perante a lei e da lei;
g) direito a recesso simples e rápido perante tribunal competente que a proteja
contra atos que violem seus direitos;
h) direito de livre associação;
i) direito à liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, de acordo
com a lei; e
j) direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a participação
A Convenção de Belém do Pará estabelece que os Estados Partes convêm em adotar,
progressivamente, medidas especificas, inclusive programas destinados a:
a) promover o conhecimento e a observância do direito da mulher a unia vida livre
de violência e o direito da mulher a que se respeitem e protejam teus direitos
humanos;
b) modificar os padrões sociais e culturais de conduta de homens e mulheres,
inclusive a formulação de programas formais e não formais adequados a todos os
níveis do processo educacional, a fim de combater preconceitos e costumes e todas
as outras práticas baseadas na premissa da inferioridade ou superioridade de
qualquer dos gêneros ou nos papéis estereotipados para o homem e a mulher, que
legitimem ou exacerbem a violência contra a mulher;
e) promover a educação e treinamento de todo pessoal judiciário e policial e demais
funcionários responsáveis pela aplicação da lei, bem como do pessoal encarregado
da implementação de políticas de prevenção, punição e erradicação da violência
contra a mulher;
d) prestar serviços especializados apropriados a mulher sujeitada a violência, por
intermédio de entidades dos setores público e privado, inclusive abrigos, serviços de
orientação familiar, quando for o caso, e atendimento e custódia dos menores
afetados;
e) promover e apoiar programas de educação governamentais é privados,
destinados a conscientizar o público para os problemas da violência contra a mulher,
recursos jurídicos e reparação relacionados com essa violência;
f) proporcionar à mulher sujeita a violência acesso a programas eficazes de
recuperação e treinamento que lhe permitam participar plenamente da vida pública,
privada e social;
g) incentivar os meios de comunicação a que formulem diretrizes adequadas, de
divulgação que contribuam para a erradicação da violência contra a mulher em
todas as suas formas e enalteçam o respeito pela dignidade da mulher;
h) assegurar a pesquisa e coleta de estatísticas e outras informações relevantes
concernentes às causas, consequências a frequência da violência contra a mulher, a
fim de avaliar a eficiência das medidas tomadas para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher, bem como formular e implementar as mudanças
necessárias; e
i) promover a cooperação internacional para o intercâmbio de ideias e experiências,
bem cosmo a execução de programas destinados à proteção da mulher sujeitada a
violência.
Para a adoção das medidas acima, os Estados Partes devem levar especialmente em
conta a situação da mulher vulnerável a violência por sua raça, origem étnica ou
condição de migrante, de refugiada ou de deslocada, entre outros motivos. Também
será considerada violência a mulher gestante, deficiente, menor, idosa ou em
situação socioeconômica desfavorável, afetada por situações de conflito armado ou
de privação da liberdade.
Nenhuma das disposições da Convenção de Belém do Pará poderá ser interpretada
no sentido de restringir ou limitar a legislação interna dos Estados Partes que
ofereçam proteções e garantias iguais ou maiores para os direitos da mulher, bem
como salvaguardas para prevenir e erradicar a violência contra a mulher.
Ademais, a fim de proteger o direito de toda mulher a uma vida livre de violência, os
Estados Partes deverão incluir nos relatórios nacionais à Comissão Interamericana
de Mulheres informações sobre as medidas adotadas para prevenir e erradicar a
violência contra a mulher, para prestar assistência à mulher afetada pela violência,
bem como sobre as dificuldades que observarem na aplicação das mesmas e os
fatores que contribuam para a violência contra a mulher.
Por fim, os Estados poderão formular reservas à Convenção de Belém do Pará no
momento de aprová-la, assiná-la, ratificá-la ou a ela aderir, desde que tais reservas:
a) não sejam incompatíveis com o objetivo e propósito da Convenção;
b) não sejam de caráter geral e se refiram especificamente a uma ou mais de suas
disposições.
CASO MARIA DA PENHA MAIA FERNANDES
O foi um divisor de águas no assunto violência doméstica no Brasil e na América
Latina. Foi neste caso que a Comissão Interamericana (e não a Corte IDH), pela
primeira vez aplicou a Convenção de Belém do Pará para sustentar a
responsabilidade do Estado no que tange ao dever de prevenir, sancionar e erradicar
a violência doméstica contra a mulher.
A Comissão Interamericana, em seu relatório anual nos anos 2000, assim
estabeleceu:
“A denúncia alega a tolerância da República Federativa do Brasil (doravante
denominada “Brasil” ou “o Estado”) para com a violência cometida por Marco
Antônio Heredia Viveiros em seu domicílio na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará,
contra a sua então esposa Maria da Penha Maia Fernandes durante os anos de
convivência matrimonial, que culminou numa tentativa de homicídio e novas
agressões em maio e junho de 1983. Maria da Penha, em decorrência dessas
agressões, sofre de paraplegia irreversível e outras enfermidades desde esse ano.
Denuncia-se a tolerância do Estado, por não haver efetivamente tomado por mais
de 15 anos as medidas necessárias para processar e punir o agressor, apesar das
denúncias efetuadas”
Desta forma, entre as recomendações da Comissão que foram estabelecidas ao
Brasil, estava a de adequar sua legislação aos termos da Convenção Americana. Foi a
partir daí, como bem lembra a doutrina, que o Estado brasileiro se preocupou em
aprovar uma lei específica sobre o tema, que seria a então Lei nº 11.340/2006, mais
conhecida como Lei Maria da Penha, em homenagem à vítima Maria da Penha Maia
Fernandes.

CASO PRESÍDIO MIGUEL CASTRO CASTRO VS PERU


Foi no “Caso Presídio Miguel Castro Castro vs Peru” o primeiro caso de aplicação da
Convenção de Belém do Pará e também o primeiro caso sobre violência de gênero
contra mulher perante a Corte IDH. Sobre o caso, pontuam Caio Paiva e Thimotie
Aragon (2020, p. 190): Os fatos do presente caso se desenvolveram no marco do
conflito armado do Peru. Entre os dias 6 e 9 de maio de 1992, o Estado peruano
executou uma operação chamada “Remoção 1”, cuja presumida finalidade era o
traslado de aproximadamente 90 mulheres presas no estabelecimento penal
“Miguel Castro Castro” para centros penitenciários femininos. A Polícia Nacional
derrubou parte da parede externa do pátio do pavilhão 1A utilizando explosivos.
Simultaneamente, os efetivos policiais tomaram o controle dos dos quais realizaram
disparos com armas de fogo (...) A operação gerou a morte de dezenas de internos,
assim como deixou muitos feridos (...) Três das mulheres presas no estabelecimento
penal “Miguel Castro Castro” estavam grávidas. Em relação às três mulheres presas
que estavam grávidas, a Corte considerou que a violação aos tratados restou
agravada, eis que a violência lhes afetou em maior medida.”

CASO MARIA DA PENHA MAIA CASO PRESÍDIO MIGUEL CASTRO CASTRO


FERNANDES VS PERU
Primeiro caso de aplicação da Convenção de Primeiro caso de aplicação da Convenção de
Belém do Pará pela Comissão Belém do Pará e também o primeiro caso
Interamericana de DH. sobre violência de gênero contra mulher
perante a Corte IDH.

CASO DO PRESÍDIO MIGUEL CASTRO CASO GONZÁLEZ E OUTRAS VS MÉXICO


CASTRO (CAMPO ALGODOEIRO)
O primeiro sobre violência de gênero Foi o primeiro precedente da Corte IDH
contra a mulher (sem a extensão sobre violência ESTRUTURAL de gênero
necessária para ser considerado contra mulher
estrutural).

CASO BARBOSA DE SOUZA Y OTROS VS. BRASIL** SENTENÇA DE 7 DE SETEMBRO


DE 2021
“O Estado brasileiro sofreu nova condenação na Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Desta vez, por um caso de feminicídio ocorrido em 1998 na Paraíba, que
em fevereiro foi objeto de audiência pública no tribunal. O Brasil foi
responsabilizado por “violação de direitos e garantias judiciais, proteção judicial e
igualdade perante a lei e por aplicação indevida da imunidade parlamentar em
benefício do principal responsável pelo homicídio de Márcia Barbosa de Souza”, de
20 anos. Para a Corte, faltou diligência para realizar as investigações necessárias.
Também foi considerado “caráter discriminatório por razão de gênero” nessas
mesmas investigações, além de violação de direito à integridade pessoal em prejuízo
dos familiares da jovem. O caso envolve um ex-deputado estadual da Paraíba, Aércio
Pereira de Lima (PFL, antigo nome do DEM). “Márcia Barbosa de Souza era uma
estudante afro-descendente de 20 anos, que vivia em situação de pobreza”, define a
Corte Interamericana. Ela teria ido a João Pessoa em busca de emprego. De acordo
com o processo, na noite de 17 de junho de 1998 encontrou-se com o então
deputado em um motel. No dia seguinte, uma testemunha viu alguém tirar um
corpo do carro e atirá-lo em terreno baldio na capital paraibana. A jovem foi morta
por asfixia. No julgamento, a questão da imunidade foi vista como um empecilho na
apuração do crime de feminicídio, dificultando o acesso à Justiça. “A Corte assinalou
que a imunidade parlamentar foi idealizada como uma garantia de independência
do órgão legislativo, no conjunto de seus integrantes, e que não se pode ser
concebida coo um privilégio pessoal do parlamentar”, afirmam os juízes na
sentença. O deputado, que sempre negou o crime, foi condenado apenas em 2007,
a 16 anos de prisão, por homicídio e ocultação de cadáver. Recorreu, mas morreu
pouco meses depois, sem que a sua apelação fosse examinada. “Esta é a primeira
sentença em que a Corte analisa a imunidade parlamentar no marcado do direito do
acesso à justiça e a obrigação reforçada de investigar com a devida diligência a
morte violenta de uma mulher”.

A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E A VIOLÊNCIA DE GÊNERO


CASO DO PRESÍDIO Primeiro caso envolvendo violência de gênero
MIGUEL CASTRO
CASO “CAMPO Primeiro caso envolvendo violência estrutural de
ALGODOEIRO” gênero
CASO BARBOSA DE Primeira condenação do Brasil por feminicídio
SOUZA Y OTROS VS.
BRASIL

CASO VELÁSQUEZ PAÍZ E OUTROS VS GUATEMALA


O Caso Velásquez Paiz e outros vs Guatemala se insere no contexto de violência
contra mulheres na Guatemala. No presente caso, Claudia Velásquez foi morta com
sinais de violência e agressão sexual sem que houvesse investigação adequada. Dos
pontos importantes, o candidato deve saber que a Corte Interamericana de Direitos
Humanos ressaltou que nos casos de violência contra a mulher, as autoridades
estatais devem iniciar de ofício e sem demora uma investigação efetiva e imparcial.
A Corte repudiou o comportamento de autoridades estatais que acabavam por fazer
a mulher ser responsável ou merecedora de ter sido atacada.
“(...) A Corte IDH se deparou com um cenário muito grave na Guatemala, em que o
Estado não somente falhou na investigação da morte da vítima, como também assim
o fez mediante sucessivas condutas de autoridades estatais que discriminaram a
senhora Cláudia Velásquez Paíz mediante estereótipos de gênero, extraindo
conclusões precipitadas e preconceituosas em relação ao seu modo de vestir (...)
Temos no Caso Velásquez Paíz um precedente importantíssimo contra o machismo
enraizado na sociedade e contra uma política estatal discriminatória que fez (e ainda
faz) vítimas por todo o continente americano”. A Corte Interamericana censurou de
forma contundente o comportamento das autoridades estatais guatemaltecas, que
acabavam fazendo da mulher responsável ou merecedora de ter sido atacada.”

III) A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

 No exercício de sua jurisdição contenciosa, a Corte Interamericana só pode ser


acionada (jus standi) pelos Estados contratantes e pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, que exerce função similar à do Ministério Público brasileiro.
Diferentemente do sistema regional europeu, não há, no sistema interamericano de
direitos humanos, possibilidade de o indivíduo ingressar diretamente na Corte
Interamericana, devendo, obrigatoriamente, provocar a Comissão para essa finalidade.
Será, portanto, a Comissão, no papel de substituta processual, que, em nome próprio,
defenderá os direitos das alegadas vítimas perante a Corte Interamericana,
acompanhando todo o processo e tomando parte nas manifestações orais nas
audiências designadas.
Contudo, no curso de uma ação já proposta, pode a vítima ou seus representantes
requerer diretamente à Corte IDH medidas, inclusive provisórias.

AS VÍTIMAS DE UMA COMISSÃO O ESTADO EM


ESGOTADOS OS
VIOLAÇÃO ESTATAL PETICIONAR À INTERAMERICANA DEMANDARÁ CAUSA PERANTE A
RECURSO INTERNOS
DEVEM DE DH QUE CORTE IDH
a. que hajam sido interpostos e esgotados os recursos
da jurisdição interna, de acordo com os princípios de
direito internacional geralmente reconhecidos;

b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses,


a partir da data em que o presumido prejudicado em
seus direitos tenha sido notificado da decisão
REQUISITOS PARA QUE UMA definitiva.
PETIÇÃO SEJA ADMITIDA
PERANTE A COMISSÃO
c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja
pendente de outro processo de solução internacional;

d. que, no caso do artigo 44, a petição contenha o


nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a
assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante
legal da entidade que submeter a petição.

a. não existir, na legislação interna do


Estado de que se tratar, o devido processo
legal para a proteção do direito ou direitos
que se alegue tenham sido violados;

SITUAÇÕES EM QUE NÃO É b. não se houver permitido ao presumido


NECESSÁRIO DEMONSTRAR OS prejudicado em seus direitos o acesso aos
REQUISITOS PARA A PETIÇÃO SER recursos da jurisdição interna, ou houver
ADMITIDA sido ele impedido de esgotá-los; e

c. houver demora injustificada na decisão


sobre os mencionados recursos.

O CRIME DE DESACATO: o crime de desacato é convencional?

CASO PALAMARA IRIBARNE VS. CHILE


A Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou o crime de desacato
violação da Convenção Americana de Direitos Humanos (ofensa à liberdade de
expressão – art. 13), por criar entrave desproporcional aos que criticam o
funcionamento dos órgãos públicos e seus membros, suprimindo o debate essencial
para o funcionamento de um sistema democrático e restringindo, ao mesmo tempo,
de modo desnecessário, a liberdade de pensamento e expressão (Corte
Interamericana de Direitos Humanos, Caso Palamara Iribarne vs. Chile, sentença de
22 de novembro de 2005, em especial parágrafo). Neste caso, o Sr. Iribarne, na
época dos fatos, servidor civil da Marinha chilena, foi processado por delitos de
desobediência e desacato, pela publicação de livro intitulado “Ética y Servicios de
Inteligencia”, no qual criticou a atuação da inteligência militar chilena.

CASO FONTEVECCHIA E OUTROS VS. ARGENTINA


O Caso Fontevecchia e outros vs. Argentina guarda relação com a liberdade de
expressão, sendo a sentença de 29 de novembro de 2011.
O caso se refere à condenação civil imposta aos senhores Jorge Fontevecchia e
Héctor D’Amico, diretor e editor, respectivamente, da revista Noticias, mediante
sentenças prolatadas por tribunais argentinos como responsabilidade ulterior pela
publicação de dois artigos em novembro de 1995. Tais publicações se referiam à
existência de um filho não reconhecido do senhor Carlos Saúl Menem, então
Presidente da Nação, com uma deputada; à relação entre o presidente e a
deputada; e à relação entre ele e seu filho. A Corte Suprema de Justiça da Nação
considerou que se havia violado o direito à vida privada do senhor Menem como
consequência das publicações. A Corte Interamericana estabeleceu que as
informações publicadas eram de interesse público, e que, ademais, já estavam no
domínio público. Por isso, não ocorreu uma ingerência arbitrária no direito à vida
privada do senhor Menem. Desse modo, a medida de responsabilidade ulterior
imposta não cumpriu com o requisito de ser necessária em uma sociedade
democrática, e constituiu uma violação do Artigo 13 da Convenção Americana.

REVISÃO GERAL SOBRE A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-
COMPOSIÇÃO DA á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta
COMISSÃO IDH autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de
direitos humanos.
QUEM A COMISSÃO A Comissão representa todos os membros da Organização
REPRESENTA? dos Estados Americanos.
Sim, os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal,
pela Assembleia Geral da Organização, de uma lista de
OS MEMBROS DA candidatos propostos pelos governos dos Estados membros.
COMISSÃO SÃO Cada um dos referidos governos pode propor até três
ELEITOS A TÍTULO candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de
PESSOAL? qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados
Americanos. Quando for proposta uma lista de três
candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de
Estado diferente do proponente.
MANDATO DO Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só
MEMBRO DA poderão ser reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos

3
Além do STJ, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na sessão virtual finalizada em 19/06/2020,
decidiu, por maioria de votos, que o crime de desacato foi recepcionado pela Constituição Federal de
1988. A maioria dos ministros acompanhou o voto do relator, ministro Luís Roberto Barroso, pela
improcedência da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 496.
membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de
COMISSÃO dois anos. Logo depois da referida eleição, serão
determinados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes
desses três membros.
MAIS DE UM  Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de
NACIONAL um mesmo Estado.
INTENGRANDO A
COMISSÃO:
CUIDADO!
A Comissão tem a função principal de promover a
observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício
do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:
a. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da
América;
b. formular recomendações aos governos dos Estados
membros, quando o considerar conveniente, no sentido de
que adotem medidas progressivas em prol dos direitos
humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos
constitucionais, bem como disposições apropriadas para
promover o devido respeito a esses direitos;
c. preparar os estudos ou relatórios que considerar
PRINCIPAL FUNÇÃO
convenientes para o desempenho de suas funções;
DA COMISSÃO
d. solicitar aos governos dos Estados membros que lhe
proporcionem informações sobre as medidas que adotarem
em matéria de direitos humanos;
e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da
Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os
Estados membros sobre questões relacionadas com os
direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-
lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;
f. atuar com respeito às petições e outras comunicações, no
exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto
nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g. apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos.
Os Estados Partes devem remeter à Comissão cópia dos
OBRIGAÇÃO DOS relatórios e estudos que, em seus respectivos campos,
ESTADOS PARTES submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho
Interamericano Econômico e Social e do Conselho
Interamericano de Educação, Ciência e Cultura.
OBRIGAÇÃO DE Os Estados Partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as
PRESTAR informações que esta lhes solicitar sobre a maneira pela qual
INFORMAÇÕES o seu direito interno assegura a aplicação efetiva de
SOBRE O DIREITO quaisquer disposições desta Convenção.
INTERNO
QUEM PODE Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-
APRESENTAR governamental legalmente reconhecida em um ou mais
Estados membros da Organização, pode apresentar à
PETIÇÃO PERANTE
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de
A COMISSÃO?
violação desta Convenção por um Estado Parte (Ius Standi).
Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu
instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a
ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que
DECLARAÇÃO DE reconhece a competência da Comissão para receber e
COMPETÊNCIA DA examinar as comunicações em que um Estado Parte alegue
COMISSÃO PARA haver outro Estado Parte incorrido em violações dos direitos
RECEBER E humanos estabelecidos nesta Convenção.
EXAMINAR ATENÇÃO: As comunicações feitas em virtude deste artigo só
COMUNICAÇÕES podem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas
por um Estado Parte que haja feito uma declaração pela qual
reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão
não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado Parte
que não haja feito tal declaração.
A Comissão declarará inadmissível toda petição ou
comunicação apresentada quando:
a. não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo
46.
b. não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos
INADMISSIBILIDAD
garantidos por esta Convenção;
E DAS PETIÇÕES
c. pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for
manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for
evidente sua total improcedência; ou
d. for substancialmente reprodução de petição ou
comunicação anterior, já examinada pela Comissão ou por
outro organismo internacional.
Em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma
O QUE PODE FAZER
investigação, mediante prévio consentimento do Estado em
A COMISSÃO EM
cujo território se alegue haver sido cometida a violação, tão
CASOS GRAVES E
somente com a apresentação de uma petição ou
URGENTES?
comunicação que reúna todos os requisitos formais de
admissibilidade.
Se houver chegado a uma solução amistosa de acordo, a
Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao
peticionário e aos Estados Partes nesta Convenção e,
E SE CHEGAR A
posteriormente, transmitido, para sua publicação, ao
UMA SOLUÇÃO
Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos. O
AMISTOSA?
referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da
solução alcançada. Se qualquer das partes no caso o solicitar,
ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.
MAS E SE NÃO Se não chegar a uma solução, e dentro do prazo que for
CHEGAR A UMA fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório
SOLUÇÃO no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não
AMISTOSA? representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos
membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao
referido relatório seu voto em separado.

COMISSÃO INTERAMERICANA E VISITA IN LOCO NO BRASIL


Na CADH há a possibilidade de a Comissão Interamericana realizar a visita in loco no
país, a fim de verificar a existência ou não de violação a direitos humanos naquele
determinado estado.
 No entanto, o Brasil, ao ratificar Convenção, fez declaração interpretativa no
sentido de que “os arts. 43 e 48, alínea d, não incluem o direito automático de
visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, as
quais dependerão da anuência expressa do Estado”.
O Brasil já foi objeto de visita in loco em 1995. Em novembro de 2018 foi realizada
uma NOVA VISITA IN LOCO PELA COMISSÃO IDH NO BRASIL.
Comissão identificou diversas violações aos direitos humanos sobre os seguintes
temas:
1. VIOLÊNCIA NO CAMPO: ACESSO À TERRA E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS
QUE AFETAM O MEIO AMBIENTE
2. PESSOAS AFRODESCENTES E COMUNIDADES TRADICIONAIS AFRODESCENDENTES
(QUILOMBOS)
3. POVOS E COMUNIDADES INDÍGENAS
4. CAMPONESES, CAMPONESAS E TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS
5. PESSOAS VÍTIMAS DE TRABALHO FORÇADO OU EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE
ESCRAVO E VÍTIMAS DO TRÁFICO DE PESSOAS
6. PESSOAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA, PESSOAS VIVENDO EM FAVELAS, PESSOAS
EM SITUAÇÃO DE RUA E ZONAS PERIFÉRICAS
7. PESSOAS SOB CUSTÓDIA DO ESTADO
8. PESSOAS MIGRANTES, SOLICITANTES DE ASILO E REFUGIADOS
9. SEGURANÇA CIDADÃ
10. IMPACTO DIFERENCIADO SOBRE PESSOAS EM MATÉRIA DE SEGURANÇA
11. MORTES VIOLENTAS E USO EXCESSIVO DA FORÇA POR PARTE DA POLÍCIA
12. A MILITARIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA
13. POLÍTICA DE DROGAS E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
14. IMPUNIDADE DE GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS DURANTE A
DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985)

A) CASOS BRASILEIROS SUBMETIDOS À APRECIAÇÃO DA COMISSÃO


INTERAMERICANA

CASOS BRASILEIROS SUBMETIDOS À APRECIAÇÃO DA COMISSÃO


INTERAMERICANA
CASO JOSÉ “As peticionárias alegaram que José Pereira foi gravemente ferido,
PEREIRA VS e que outro trabalhador rural foi morto quando ambos tentaram
BRASIL escapar, em 1989, da Fazenda “Espirito Santo”, onde tinham sido
atraídos com falsas promessas sobre condições de trabalho, e
terminaram sendo submetidos à trabalhos forçados, sem
liberdade para sair e sob condições desumanas e ilegais, situação
que sofreram juntamente com 60 outros trabalhadores dessa
fazenda. As peticionárias advogam que os fatos denunciados
constituem um exemplo da falta de proteção e garantias do
Estado brasileiro, ao não responder adequadamente as denúncias
sobre essas práticas que, segundo elas, eram comuns nessa
região, e permitir de fato sua persistência. As peticionárias
também alegaram desinteresse e ineficácia nas investigações e
nos processos referentes aos assassinos e os responsáveis pela
exploração trabalhista”.
Você precisa saber que nesse caso o Brasil celebrou um
compromisso internacional para defender a competência da
justiça federal para julgar os crimes envolvendo condições
análogas às de escravos. Foi o primeiro acordo de solução
amistosa envolvendo o Brasil.
Caso muito importante. O caso dos meninos emasculados pode
ser descrito como uma sequência de homicídios de meninos com
idade entre 04 e 15 anos, cuja característica principal era a
retirada dos órgãos genitais. Esses crimes foram praticados no
período compreendido entre os anos de 1991 e 2003 na região
que interliga a capital maranhense, São Luís, e os municípios de
Paço do Lumiar e São José de Ribamar, e chamaram a atenção da
comunidade local e internacional pela crueldade a que foram
submetidas as vítimas e pela impunidade constatada em relação à
maioria dos casos durante mais de uma década.
Foi a primeira vez que o Brasil celebrou uma solução amistosa a
CIDH após a admissibilidade do caso e antes da deliberação final
CASO DOS
(Foi no Caso José Pereira em que o Brasil celebrou a primeira
MENINOS
solução amistosa. No entanto, a solução amistosa do caso
EMASCULADO
Meninos Emasculados do Maranhão ganha destaque em razão do
S DO
de ter sido o acordo celebrado entre o Brasil e as vítimas ANTES da
MARANHÃO
aprovação do relatório de mérito). Houve participação do Estado
VS BRASIL
do Maranhão nas negociações (a doutrina chama isso de
paradiplomacia). Frisa-se que essa atuação do Maranhão foi muito
interessante, principalmente pelo fato da previsão da cláusula
federal na CADH (art. 28). Isso porque os Estados federais, que se
subdividem em estados, como é o caso do Brasil, são
responsabilizados no sistema interamericano mesmo que a
violação tenha decorrido de uma conduta de um de seus estados.
Assim, mesmo que a violação tenha ocorrido no Maranhão, a
República Federativa do Brasil poderia ser responsabilizada. A
incidência da paradiplomacia nesse caso auxiliou na chegada a um
acordo (solução amistosa), justamente pela Unidade Federativa
Maranhão estar mais próxima dos fatos e ter, por isso, dado
grande contribuição.
CASO SIMONE Caso importantíssimo para nossas provas, pois foi a primeira vez
ANDRÉ DINIZ que um país-membro da OEA foi responsabilizado na CIDH por
VS BRASIL racismo.
Segundo Caio Paiva, “o Jornal “A Folha de São Paulo”, de grande
circulação no Estado de São Paolo, publicou na parte dos
classificados, a pedido de Gisele Mota da Silva, nota por meio da
qual Gisele comunicava o seu interesse em contratar uma
empregada doméstica que, entre outros requisitos, deveria ter “a
cor branca”. Simone André Diniz, tomando conhecimento do
anúncio, entrou em contato e se apresentou como candidata ao
emprego, sendo prontamente recusada pela empregadora em
razão de sua cor de pele. Inconformada e sentindo-se
discriminada, Simone apresentou notícia criminis por meio da
subcomissão e do Negro da Comissão de Direitos Humanos da
OAB/SP, a partir de qual foi instaurado o inquérito policial para
apurar eventual ocorrência do crime previsto no art. 20 da Lei nº
7.716/1989. Concluída a investigação, porém, o Ministério Público
manifestou-se pelo arquivamento por não ter identificado
qualquer base para o oferecimento da denúncia, o que foi
acolhido e homologado pelo Judiciário, arquivando-se, pois, o
caso.”
A Subcomissão do Negro da Comissão de Direitos Humanos da
OAB/SP e o Instituto do Negro Padre Batista denunciaram o Brasil
na Comissão Interamericana. Segundo o Relatório de mérito nº
66/06108, a Comissão chegou à conclusão de que o Brasil foi
responsável pela violação ao direito à igualdade perante a lei, à
proteção judicial e às garantias judiciais consagradas
respectivamente nos artigos 24, 8 e 25 da Convenção Americana.
A Comissão determinou igualmente que o Estado violou a
obrigação que impõe o artigo 1 de respeitar e garantir os direitos
consagrados na Convenção. Finalmente a CIDH efetua as
recomendações pertinentes ao Estado brasileiro:
1. Reparar plenamente a vítima Simone André Diniz, considerando
tanto o aspecto moral como o material, pelas violações de direitos
humanos determinadas no relatório de mérito e, em especial,
2. Reconhecer publicamente a responsabilidade internacional por
violação dos direitos humanos de Simone André Diniz;
3. Conceder apoio financeiro à vítima para que esta possa iniciar e
concluir curso superior;
4. Estabelecer um valor pecuniário a ser pago à vítima à título de
indenização por danos morais;
5. Realizar as modificações legislativas e administrativas
necessárias para que a legislação antirracismo seja efetiva, com o
fim de sanar os obstáculos demonstrados nos parágrafos 78 e 94
do presente relatório;
6. Realizar uma investigação completa, imparcial e efetiva dos
fatos, com o objetivo de estabelecer e sancionar a
responsabilidade a respeito dos fatos relacionados com a
discriminação racial sofrida por Simone André Diniz;
7. Adotar e instrumentalizar medidas de educação dos
funcionários de justiça e da polícia a fim de evitar ações que
impliquem discriminação nas investigações, no processo ou na
condenação civil ou penal das denúncias de discriminação racial e
racismo;
8. Promover um encontro com organismos representantes da
imprensa brasileira, com a participação dos peticionários, com o
fim de elaborar um compromisso para evitar a publicidade de
denúncias de cunho racista, tudo de acordo com a Declaração de
Princípios sobre Liberdade de Expressão;
9. Organizar Seminários estaduais com representantes do Poder
Judiciário, Ministério Público e Secretarias de Segurança Pública
locais com o objetivo de fortalecer a proteção contra a
discriminação racial e o racismo;
10. Solicitar aos governos estaduais a criação de delegacias
especializadas na investigação de crimes de racismo e
discriminação racial;
11. Solicitar aos Ministérios Públicos Estaduais a criação de
Promotorias Públicas Estaduais Especializadas no combate ao
racismo e a discriminação racial;
12. Promover campanhas publicitárias contra a discriminação
racial e o racismo.
 PARADIGMA DO RACISMO INSTITUCIONAL: para a doutrina, o
Caso Simone André Diniz se tornou paradigma do denominado
racismo institucional.
Esse caso é emblemático e conhecido por todos. Maria da Penha é
uma mulher cearense que sofreu diversos atentados pelo seu ex-
cônjuge. O TJ-CE passou muitos anos para julgar o processo, que
ficou em grau de recurso durante anos. O caso chegou até a
CASO MARIA Comissão, que responsabilizou o Estado Brasileiro e aplicou, pela
DA PENHA primeira vez, a Convenção de Belém do Pará. Entre as
MAIA recomendações da Comissão que foram estabelecidas ao Brasil,
FERNANDES VS estava a de adequar sua legislação aos termos da Convenção
BRASIL Americana. Foi a partir daí, como bem lembra a doutrina, que o
Estado brasileiro se preocupou em aprovar uma lei específica
sobre o tema, que seria a então Lei nº 11.340/2006, mais
conhecida como Lei Maria da Penha, em homenagem à vítima
Maria da Penha Maia Fernandes.
CASO JAILTON Jailton Neri da Fonseca, um garoto de 13 anos, foi executado por
NERI VS BRASIL policiais do Estado do Rio de Janeiro durante uma incursão em
– PRIMEIRA uma favela. Decidiu a Comissão que a vítima foi privada de sua
CONDENAÇÃO liberdade de forma ilegal, sem que houvesse existido alguma
DO BRASIL POR causa para sua detenção ou de qualquer situação flagrante. Além
AUSÊNCIA DE disso, ele não foi apresentado imediatamente a um juiz e também
AUDIÊNCIA DE não teve direito de recorrer a um tribunal para que este
CUSTÓDIA NA deliberasse sobre a legalidade da sua detenção ou ordenasse sua
COMISSÃO liberdade, uma vez que foi morto logo após sua prisão. A comissão
ainda conclui: "O único propósito da sua detenção arbitrária e
ilegal foi matá-lo.” Entre diversas recomendações da Comissão ao
Brasil, constam a) reparar plenamente os familiares da vítima
pelos danos materiais e morais sofridos, b) bem como adotar e
instrumentalizar medidas de educação dos funcionários da Justiça
e da Polícia. Foi o primeiro caso em que a Comissão
responsabilizou o Brasil por ausência de audiência de custódia.
Segundo o Relatório de admissibilidade nº 11/16110, no dia 26 de
março de 2009 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
recebeu uma petição apresentada por Thiago Cremasco contra o
Brasil. A petição foi apresentada em representação de Luiza
CASO LUIZA
Melinho cujos direitos humanos teriam sido supostamente
MELINHO
violados pelo Estado em um processo relacionado com sua cirurgia
(CASO
de afirmação sexual. O peticionante sustenta que o Estado do
ADMITIDO
Brasil violou os direitos humanos da suposta vítima ao lhe haver
PELA
negado a realização de uma cirurgia de afirmação sexual através
COMISSÃO)
do sistema público de saúde e negado a pagar-lhe a realização da
cirurgia em um hospital particular. Isto a havia impedido de ter
uma vida digna e havia posto em risco sua vida e integridade
física.
CASO Segundo o Relatório da CIDH, em 22 de fevereiro de 1994, a
CARANDIRU Americas Watch, o CEJIL e a Comissão Teotônio Vilela
apresentaram uma petição contra o Brasil fatos que ocorreram em
2 de outubro de 1992 na Casa de Detenção Carandiru, na cidade
de São Paulo. Ela se refere, em síntese, à morte de 111 presos (dos
quais 84 processados, mas ainda não condenados) e a lesões
graves sofridas por outros internos durante a repressão de um
motim de detentos, ações supostamente praticadas pela Polícia
Militar de São Paulo em 2 de outubro de 1992.
Os peticionários solicitaram que o Estado brasileiro fosse
condenado pela violação dos artigos 4, 5, 8, 25 e 1 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos relativos aos direitos à vida, à
integridade pessoal, ao devido processo e à proteção judicial,
todos eles em conformidade com a obrigação do Estado de
respeitar e assegurar o gozo desses direitos (artigo 1).
O Estado, que em geral reconhece ter havido violações da vida e
da integridade pessoal nas ocorrências de que se trata, por sua vez
defende que tomou medidas firmes e profundas para resolver a
situação das prisões do Estado de São Paulo e que os processos
contra os agentes responsáveis e de indenização foram
devidamente instaurados nos diferentes foros e prosseguem de
acordo com as garantias processuais e que os referentes a
homicídios dolosos cometidos por agentes policiais foram
transferidos para a justiça ordinária em cumprimento à Lei nº
9299-96 (Lei Bicudo). No que diz respeito ao mérito, após analisar
os fatos e o direito aplicável, a Comissão concluiu que o caso
denunciado caracteriza um massacre no qual o Estado violou os
direitos à vida e à integridade pessoal e que, em suas sequelas,
também foram violados os direitos ao devido processo e à
proteção judicial (artigos 4, 5, 8 e 25), em conexão com o artigo 1
da Convenção, e formula recomendações no sentido de que se
proceda à investigação dos fatos, à punição dos responsáveis, à
concessão de reparação às vítimas e à adoção de medidas, nos
níveis nacional e estadual, para evitar que se repitam violações
desse tipo.
Segundo Caio Paiva e Thimotie Aragon (2020, p. 546), “o Brasil não
cumpriu com a recomendação da CIDH de conduzir uma
investigação completa, imparcial e efetiva com o propósito de
identificar, processar e punir autoridades e funcionários
responsáveis pelas violações de direitos humanos no Caso
Carandiru.”

B) CASOS EM QUE A COMISSÃO CONCEDEU MEDIDAS CAUTELARES CONTRA


O BRASIL

CORTE IDH COMISSÃO INTERAMERICANA


Emite medidas provisórias. Emite medidas cautelares
(São vinculantes). (Não são vinculantes).
A Corte pode atuar e determinar medida
As medidas cautelares têm amparo na
provisória mesmo qu e o caso não
Carta da OEA, na Convenção Americana
tenha ainda sido a ela submetido, mas é
de DH, na Convenção Interamericana
necessário que ela seja instada pelasobre o Desaparecimento Forçado e no
Comissão Interamericana. Estatuto da Comissão Interamericana.
Extrema gravidade e urgência. Gravidade ou urgência;
Evitar danos irreparáveis às pessoas.
Grave risco de dano irreparável às
pessoas ou ao objeto de uma petição
pendente nos órgãos do Sistema
Interamericano.
A supervisão do cumprimento das A supervisão cabe a própria comissão.
medidas provisórias ou urgentes
determinadas é feita por relatórios
estatais ou pelas vítimas.

CASOS EM QUE A COMISSÃO CONCEDEU MEDIDAS CAUTELARES CONTRA O BRASIL


MEDIDA Segundo o site da Comissão IDH115, fora emitido em 21 de
CAUTELAR NO outubro de 2021 a Resolução 86/2021, mediante a qual
869-21 ANTÔNIO outorgou medidas cautelares em favor de Antônio Martins
MARTINS ALVES Alves, ao consideras que se encontra em uma situação de grave
EM RELAÇÃO AO e urgente risco de dano irreparável a seus direitos no Brasil.
BRASIL 21 DE Segundo a solicitação, desconhece-se o paradeiro ou destino de
OUTUBRO DE Antônio Martins Alves desde 16 de julho de 2021. Alegou-se
2021 que Martins Alves, é trabalhador rural tradicional, mora na
região do Assentamento Canaã, e participa ativamente da
defesa de suas terras e do meio ambiente, o que
historicamente ter-lhe-ia gerado conflitos com pessoas ou
grupos interessados na construção de estradas, desmatamento,
exploração do turismo ou outros esforços com impacto
ambiental relevante.
Após denunciar-se a desaparição às autoridades em 19 de julho
de 2021, estas teriam atuado, porém não obtiveram resultados
concretos. A solicitação indicou que transcorreram
aproximadamente 90 dias sem que o paradeiro do beneficiário
tenha sido determinado; e expressou particular preocupação
diante da sua situação de vulnerabilidade, dada sua posição
socioeconômica de marginalização histórica, idade e de saúde,
devido a sua dificuldade de caminhar.
Por sua parte, o Estado indicou que, após buscas intensas, não
se localizou o beneficiário, nem se teria identificado indícios de
crime ou falecimento. Dessa maneira, as autoridades teriam
orientado a filha do senhor Martins Alves a comparecer ao
órgão forense para registrar seu material genético nos sistemas
pertinentes e informou-se oficialmente a órgãos de saúde e
segurança públicas para que, em caso obtenham informação
relevante, comuniquem-se com a unidade policial responsável.
Considerando as diligências expostas, o Estado argumentou que
a presente solicitação de medidas cautelares não é necessária,
pois estariam implementando medidas eficazes.
A Comissão valorou a informação enviada pelo Estado sobre as
diligências implementadas logo de tomar conhecimento da
alegada desaparição do beneficiário. Não obstante, não contou
com informação que permita indicar que existem avanços
substanciais para esclarecer o ocorrido ou dar com o paradeiro
do beneficiário e que ele não esteja em risco.
Em consequência, de acordo com o artigo 25 do Regulamento,
a Comissão solicita ao Brasil que: a. adote as medidas
necessárias para determinar a situação e o paradeiro de
Antônio Martins Alves, a fim de proteger os seus direitos à vida
e à integridade pessoal; e b. informe sobre as ações adotadas
para investigar os supostos fatos que levaram à adoção desta
medida cautelar e para evitar a sua repetição.
MEDIDA Segundo o Relatório da Medida Cautelar nº 888-19, em 24 de
CAUTELAR Nº setembro de 2019, a Comissão Interamericana de Direitos
888-19 PESSOAS Humanos recebeu uma solicitação de medidas cautelares
PRIVADAS DE interposta pelo Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à
LIBERDADE NA Tortura do Rio de Janeiro e pelo Núcleo do Sistema
CADEIA PÚBLICA Penitenciário da Defensoria Pública em benefício das pessoas
JORGE SANTANA privadas de liberdade na Cadeia Pública Jorge Santana, instando
A RESPEITO DO a CIDH a que solicitasse ao Estado do Brasil a adoção das
BRASIL medidas necessárias para proteger seus direitos à saúde, à vida
RESOLUÇÃO e à integridade pessoal.
Segundo a solicitação, os possíveis beneficiários se encontram
em situação de risco em virtude das condições de
encarceramento e falta de atenção médica.
Conforme o artigo 25 de seu Regulamento, em 2 de outubro de
2019, a Comissão solicitou informações ao Estado, o qual
respondeu em 24 de outubro de 2019.
Após analisar as alegações de fato e de direito apresentadas
pelas partes, a Comissão considera que as informações
prestadas mostram prima facie que as pessoas privadas de
liberdade na Cadeia Pública Jorge Santana se encontram em
situação de gravidade e urgência, uma vez que seus direitos à
saúde, à vida e à integridade pessoal estão em grave risco.
Por conseguinte, de acordo com o artigo 25 de seu
Regulamento, a CIDH solicita ao Brasil que: a) adote as medidas
necessárias para proteger a vida, a integridade pessoal e a
6/2020116 saúde das pessoas privadas de liberdade na Cadeia Pública
Jorge Santana, garantindo, em especial, atenção médica
adequada e oportuna, conforme as recomendações dos
especialistas competentes; b) adote as medidas necessárias
para assegurar que as condições de detenção dos beneficiários
se adequem às normas internacionais aplicáveis, garantindo,
em especial, que a estrutura da Cadeia Pública Jorge Santana
reúna as condições de segurança necessárias, atendendo à
situação dos beneficiários com deficiência ou lesionados,
mutilados, com fraturas ou feridos de outras formas, a fim de
prevenir maiores danos a toda a população carcerária;
executando ações imediatas para reduzir substancialmente a
superlotação; e propiciando salubridade e higiene adequadas;
c) acorde as medidas a serem adotadas com os beneficiários e
seus representantes; e d) informe sobre as ações adotadas, a
fim de investigar os fatos que deram lugar à adoção da
presente medida cautelar e, desse modo, evitar sua repetição.
COMUNIDADE A “Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
GUYRAROKÁ DO adotou a Resolução 47/2019, na qual concedeu medidas
POVO INDÍGENA cautelares em favor dos membros da comunidade Guyraroká
GUARANI do Povo Indígena Guarani Kaiowá. Os solicitantes alegaram que
KAIOWÁ NO os beneficiários estariam em uma situação de risco, uma vez
BRASIL117 - que foram sujeitos a uma série de ameaças, assédio e atos de
RESOLUÇÃO violência supostamente perpetrados por proprietários de terras
47/2019 no contexto de um conflito fundiário. Ao tomar sua decisão, a
Comissão levou em conta que, durante sua visita in loco ao
Brasil em novembro de 2018, visitou a comunidade Guyraroká,
onde pôde constatar "a grave situação humanitária que sofrem
os povos Guarani e Kaiowá". Os solicitantes também alegaram
que a comunidade estaria inserida em um contexto de intenso
conflito entre as pessoas beneficiárias propostas e os
denominados proprietários de terras, ou de pessoas que
atuariam sob as suas ordens. Nesse sentido, a CIDH alerta, com
especial preocupação, que, segundo os solicitantes, os
membros da comunidade têm alegado, entre outros, que
sempre quando saem para caçar ou pescar nas proximidades,
empregados das fazendas realizariam disparos com armas de
fogo acima deles, o que qualificaram como uma "prática
comum" que "acontece sempre". Além disso, a solicitação
destacou que integrantes da comunidade Guyraroká teriam
recebido ameaças de morte e teriam sido perseguidos em
automóveis por terceiros quando se deslocavam ou quando
buscavam realizar suas atividades de subsistência. Ademais, a
Comissão considerou a seriedade implicada nas alegações dos
solicitantes relativas ao uso de pesticidas nas áreas onde estão
as pessoas beneficiárias, incluindo as proximidades da escola
indígena e suas fontes de água, o que poderia agravar sua
situação de vulnerabilidade, visto que poderia trazer impactos
sobre suas fontes de subsistência. A Comissão considera
pertinente esclarecer que não está chamada a se pronunciar,
pela via do mecanismo das medidas cautelares, sobre quem são
os proprietários de terras em controvérsia. No âmbito das
medidas cautelares tampouco se determina a responsabilidade
do Estado pelo alegado descumprimento de obrigações
estabelecidas na Convenção ou em outros instrumentos
pertinentes. A concessão de medidas cautelares se refere
exclusivamente aos requisitos de gravidade, urgência e risco de
dano irreparável estabelecidos no artigo 25 do seu
Regulamento, que podem ser resolvidos sem tratar de
determinações de mérito. Sobre o acima exposto, a CIDH
observou que o Estado não prestou informações que
permitissem desvirtuar a situação de risco à vida e à
integridade alegada pelos solicitantes, ou que indicassem terem
sido adotadas medidas de proteção idôneas e efetivas para
enfrentar a situação apresentada. Como consequência, de
acordo com o artigo 25 do Regulamento da CIDH, a Comissão
solicitou ao Estado brasileiro que adote as medidas necessárias
para proteger os direitos à vida e à integridade pessoal dos
membros da comunidade Guyraroká do Povo Indígena Guarani
Kaiowá e para evitar atos de violência de terceiros; adote as
medidas de proteção culturalmente adequadas para proteger a
vida e a integridade pessoal da comunidade Guyraroká do Povo
Indígena Guarani Kaiowá implementando, por exemplo, ações
voltadas ao melhoramento, entre outros aspectos, das
condições de saúde, alimentação e acesso à água potável;
acorde com o povo beneficiário e seus representantes as
medidas a serem adotadas; e informe sobre as ações
implementadas para investigar os fatos que deram lugar à
adoção da presente medida cautelar, e assim evitar sua
repetição”.
A Comissão Interamericana de Humanos (CIDH), aprovou em 08
de março de 2019 a Resolução 11/2019, sendo os beneficiários
da medida cautelar o senhor Júlio Lancellotti, padre e defensor
dos Direitos Humanos, e Daniel Guerra Feitosa, pessoa em
situação de rua.
A Comissão teve em conta que, segundo os peticionantes, os
beneficiários teriam sido sujeitos a vários atos de violência e
MEDIDA
ameaças, que seriam provenientes de autoridades da força
CAUTELAR -
pública. Tais eventos de risco estariam relacionados à atividade
RESOLUÇÃO
de defesa dos direitos humanos realizada por Júlio Lancellotti
11/2019 – JÚLIO
em favor de pessoas em situação de rua.
LANCELLOTI E
Por fim, de acordo com o artigo 25 do Regulamento da
DANIEL GUERRA
Comissão, a Comissão solicitou ao Estado do Brasil a tomar as
FEITOSA
medidas necessárias para proteger os direitos à vida e à
integridade pessoal do Sr. Júlio Renato Lancellotti e Daniel
Guerra Feitosa, a fim de que Júlio Lancellotti possa continuar
trabalhando como defensor dos direitos humanos sem ser
objeto de ameaças, assédio ou atos de violência no exercício
deles. Solicitou também ao Estado do Brasil que informasse
sobre as ações realizadas para investigar os fatos que levaram à
adoção dessas medidas e, assim, evitar sua repetição.
Em 4 de agosto de 2011, a CIDH outorgou medidas cautelares
em favor das pessoas privadas de liberdade no Centro de
MEDIDA Detenção Prof. Aníbal Bruno, da cidade de Recife, Pernambuco,
CAUTELAR 199/11 no Brasil.
– PESSOAS O pedido de medida cautelar alega que 97 pessoas privadas de
PRIVADAS DE liberdade morreram no referido estabelecimento prisional
LIBERDADE NA desde janeiro de 2008, das quais 55 eram mortes violentas. O
PRISÃO pedido também alega que vários internos teriam sido
PROFESSOR torturados, supostamente pelas autoridades ou com seu
ANÍBAL BRUNO, consentimento. Também indica que em julho de 2011
BRASIL ocorreram duas rebeliões em que duas pessoas foram mortas e
outras 16 feridas, e solicitou ao Estado que adotasse todas as
medidas necessárias para proteger a vida, a integridade pessoal
e a saúde das pessoas privadas de liberdade.
MEDIDA Segundo noticiado no site da OEA, “A Comissão Interamericana
CAUTELAR EM de Direitos Humanos (CIDH) concedeu medidas cautelares em
FAVOR DE 1º de agosto de 2018 em favor de Mônica Teresa Azeredo
MÔNICA TERESA Benício, companheira da defensora dos direitos humanos e
AZEREDO vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de
BENÍCIO, EX- 2018 na cidade de Rio de Janeiro. Ao tomar essa decisão, a
COMPANHEIRA Comissão levou em conta que a beneficiária teria sido
DA DEFENSORA submetida a ameaças, assédio e perseguição, supostamente
DOS DIREITOS ligadas ao assassinato da vereadora e defensora Marielle
HUMANOS E Franco.
VEREADORA De acordo com as informações fornecidas, Mônica Benício
assumiu o trabalho de defesa dos direitos humanos que
realizava Marielle Franco, denunciando as circunstâncias do
assassinato e a demora na investigação. Observou-se também
que, embora o Estado tenha informado sobre a existência de
um mecanismo de proteção a pessoas defensoras no Brasil e
ter contatado a solicitante, até a presente data Mônica Benício
não contava com medidas de proteção, nem teria sido realizada
uma avaliação abrangente da sua situação de risco, a fim de
determinar a aplicabilidade de tais medidas.
A Comissão observou igualmente que diante a falta de
informações sobre o estado da investigação, não seria possível
avaliar se o risco alegado teria sido mitigado pela punição dos
responsáveis pelo assassinato de Marielle Franco. Esta
informação foi avaliada pela Comissão à luz do contexto
especial de risco em que trabalham dos defensores e
MARIELLE defensoras dos direitos humanos da comunidade LGBTI.
FRANCO Consequentemente, de acordo com o artigo 25 de seu
Regulamento, a Comissão solicitou ao Estado que adote as
medidas necessárias para proteger os direitos à vida e
integridade pessoal de Mônica Tereza Azeredo Benício; tomar
medidas para assegurar que a beneficiária continue a
desempenhar o seu trabalho como defensora dos direitos
humanos sem ser submetida a ameaças, assédio ou violência
no exercício das suas funções; estabelecer as medidas a serem
adotadas com a beneficiária e seus possíveis representantes; e
relatar as ações implementadas com o objetivo de investigar os
fatos que levaram à adoção da medida cautelar e, assim, evitar
sua repetição.
A concessão da medida cautelar e sua adoção pelo Estado não
constituem um pré-julgamento sobre uma possível petição
perante o Sistema Interamericano, em que se aleguem
violações a direitos protegidos na Convenção Americana e
outros instrumentos aplicáveis”
Segundo pontua André de Carvalho Ramos (2020, p. 295) “o ex-
MEDIDA deputado Jean Wyllys e seus familiares receberam uma série de
CAUTELAR ameaças por meio eletrônico e redes sociais, em razão de sua
Nº.1262/2018 atuação como militante por direitos das pessoas LGBTI, além de
JEAN WYLLYS DE ser o primeiro deputado a abertamente falar sobre sua
MATOS SANTOS E orientação sexual. Em razão da falta de atuação do Estado para
FAMÍLIA EM proteger o deputado por meio de escolta e suporte aos
RELAÇÃO AO familiares e diante da urgência e gravidade dos riscos à
BRASIL integridade pessoal e à vida, a Comissão IDH emitiu medida
cautelar”.
MEDIDA Em 1º de abril de 2011, a CIDH outorgou medidas cautelares
CAUTELAR Nº em favor dos membros das comunidades indígenas da bacia do
382/10 – 2011 – rio Xingu, no Pará.
COMUNIDADES O pedido de medidas cautelares alega que a vida e a
integridade pessoal dos beneficiários estariam em risco pelo
impacto da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A CIDH solicitou que o governo brasileiro suspendesse
imediatamente o processo de licenciamento da usina
hidrelétrica de Belo Monte e impedir a realização de qualquer
execução de obras material até que sejam cumpridas as
seguintes condições mínimas:
(1) realizar processos de consulta em conformidade obrigações
internacionais do Brasil, no sentido de que a consulta é, em boa
fé, prévia, livre, informado, culturalmente adequada, e com o
objetivo de chegar a um acordo em relação a cada uma das
comunidades indígenas afetadas, beneficiários das presentes
medidas cautelares;
(2) assegurar que, como antes da conclusão de tais processos
INDÍGENAS DA de consulta para garantir que a consulta é informada, as
BACIA DO RIO comunidades indígenas beneficiárias tenham acesso a
XINGU, PARÁ, Avaliação de Impacto Social e Projeto Ambiental, em um
BRASIL formato acessível, incluindo tradução para as respectivas
línguas indígenas;
(3) tomar medidas para proteger a vida e a integridade pessoal
dos membros dos povos indígenas em isolamento voluntário da
bacia do Xingu, e para evitar a propagação de doenças e
epidemias entre as comunidades indígenas beneficiárias de
medidas de precaução após a construção de hidroelétrica Belo
Monte, ambas as doenças devido à população influxo massivo
na área, como exacerbação de transmissão de vectores de
doenças aquáticos, tais como a malária.
Além disso, a Comissão decidiu que o debate entre as partes
em relação à consulta prévia e informada contra o
consentimento projeto de Belo Monte foi transformado em
uma discussão sobre questões de fundo para além do âmbito
do processo de medidas cautelares. O Brasil não cumpriu as
medidas impostas.
MEDIDA A medida cautelar nº 08 de 2013 foi a solicitação das medidas
CAUTELAR Nº cautelares se deu em razão de que estas pessoas em privação
08/2013 – da liberdade estariam em situação de risco por conta das
PRESÍDIO condições precárias da detenção, bem como a falta de controle
CENTRAL DE por parte do Estado em várias áreas do estabelecimento
PORTO ALEGRE prisional.
Ao analisar as alegações, a Comissão considerou que os
indivíduos estariam enfrentando uma situação de risco e
urgência, colocando em risco suas vidas e integridades físicas e
moral, motivo pelo qual a Comissão solicitou que o Brasil
adotasse medidas para salvaguardar a vida e a integridade dos
apenados.
Sendo assim, a Comissão solicitou ao Estado brasileiro que este
viabilizasse condições mínimas de higiene e tratamentos
médicos adequados.
A medida Cautelar de nº 367 de 2013 trata sobre pessoas
privadas de liberdade no complexo penitenciário de Pedrinhas,
no Estado do Maranhão.
No complexo de Pedrinhas, no Maranhão, houve alegações de
péssimas condições de detenção e superlotação extrema.
Relatos apontam que em 2013 três internos teriam sido
assassinados na unidade, além de no mesmo ano ter havido
MEDIDA
uma rebelião na casa de detenção onde dez internos foram
CAUTELAR Nº
mortos.
367/2013 -
Considerando a superlotação carcerária, em 10 de outubro de
COMPLEXO
2013 foi emitido o Decreto Estadual de nº 29.443, na qual
PENITENCIÁRIO
declara a situação de emergência no sistema penitenciário do
DE PEDRINHAS,
Maranhão por 180 dias. Assim, foram enviados integrantes da
NO MARANHÃO -
força nacional de segurança para reforçar a segurança.
BRASIL
A CIDH determinou que o Brasil adotasse as medidas
necessárias, como reduzir os níveis de superlotação existentes
e investigar os fatos que motivaram as medidas cautelares para
evitar sua repetição.
É importante registrar que conforme notícia veiculada no site
do Governo do Estado de Maranhão, no dia 10 de julho de 2015
foi apresentado as medidas adotadas em Pedrinhas para
Comissão da OEA.
Em 31 de Dezembro de 2015, a CIDH concedeu medidas
MEDIDA
cautelares em favor da vida e a integridade dos adolescentes
CAUTELAR Nº
privados de liberdade em unidades de atendimento
60/2015 -
socioeducativo de internação masculina do estado do Ceará. A
ADOLESCENTES
solicitação de medidas cautelares alega que os beneficiários
PRIVADOS DE
estão em situação de risco devido a condições precárias de
LIBERDADE EM
detenção, as quais incluem superlotação crítica, uso excessivo
UNIDADES DE
de força pelos instrutores dos centros, torturas, utilização de
ATENDIMENTO
isolamento prolongado, abusos sexuais e falta de tratamento
SOCIOEDUCATIVO
médico.
DE INTERNAÇÃO
Após a análise das alegações de fato e de direito, a Comissão
MASCULINO DO
considera que as informações apresentadas demonstram, em
ESTADO DO
princípio, que os adolescentes privados de liberdade se
CEARÁ.
encontram em situação de gravidade e urgência, com as suas
vidas e integridade pessoal correndo grave risco.
MEDIDA Em 21 de julho de 2016, a CIDH decidiu solicitar a adoção de
CAUTELAR Nº medidas cautelares em favor de dois adolescentes privados de
302/2015 - liberdade no Centro de Atendimento Socioeducativo ao
ADOLESCENTES Adolescente (CASA) Cedro, no Brasil.
PRIVADOS DE A solicitação de medidas cautelares alega que os adolescentes
LIBERDADE NO estão em situação de risco devido ao suposto uso excessivo de
CENTRO DE força por parte do pessoal do centro de detenção, utilização de
ATENDIMENTO isolamento prolongado e contínuo como punição disciplinar e
SOCIOEDUCATIVO falta de atendimento médico adequado em consequência
destes episódios de violência.
Após analisar as alegações de fato e de direito, a Comissão
AO ADOLESCENTE
considera que a informação apresentada demonstra, em
- CASA CEDRO
princípio, que os adolescentes estão em uma situação de
gravidade e urgência, uma vez que sua vida e integridade
pessoal estão em grave risco.
MEDIDA Essa medida cautelar é de muitíssima relevância. Primeiro, pelo
CAUTELAR Nº tema tratado. Segundo, porque a medida foi solicitada por
208/2016 - Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro.
INSTITUTO PENAL A medida cautelar de nº 208 de 2016 trata sobre o Instituto
PLÁCIDO DE SÁ penal Plácido de Sá de Carvalho. A Comissão recebeu a
DE CARVALHO – solicitação de uma medida cautelar pelos Defensores Públicos
SOLICITAÇÃO do núcleo de sistema penitenciário do Rio de Janeiro, para que
PELOS o Brasil instituísse medidas que protegessem (com efetividade,
DEFENSORES claro) a vida e a integridade das pessoas privadas de liberdade
PÚBLICOS DO RIO no instituto penal, onde se encontravam em detenções
DE JANEIRO (DPE- precárias, tendo ocorrido diversos falecimentos no recinto por
RJ) este motivo.
Em 7 de dezembro de 2018, a CIDH decidiu conceder medidas
cautelares em favor de Joana D'Arc Mendes, no Brasil. O pedido
de medidas cautelares alega que Joana D'Arc Mendes estaria
em risco após receber uma série de ameaças e assédios
supostamente relacionados ao seu trabalho como defensora de
direitos humanos e à busca de justiça no caso de seu filho,
supostamente assassinado pela polícia, bem como às denúncias
apresentadas contra grupos de milícia.
MEDIDA
Após analisar as alegações de fato e de direito, a CIDH
CAUTELAR
considera que as informações apresentadas demonstram, em
1358/18 - JOANA
princípio, que a beneficiária se encontra em uma situação de
D'ARC MENDES
gravidade e urgência.
Por conseguinte, em conformidade com o artigo 25 do
Regulamento da CIDH, a Comissão solicitou ao Brasil que
adotasse as medidas necessárias para proteger o direito à vida
e à integridade pessoal da Sra. Joana D'Arc Mendes; que
acordasse com a beneficiária e sua representante as medidas a
serem adotadas; e que informasse sobre as ações
empreendidas para investigar os fatos que deram origem à
adoção dessa medida cautelar, evitando assim sua repetição.
MEDIDA No dia 24 de setembro de 2018, a Comissão Interamericana de
CAUTELAR N. Direitos Humanos recebeu um pedido de medidas cautelares
1489 - 2018 - em relação ao Estado do Brasil denunciando que o Sr. André
ANDRÉ LUIZ Luiz Moreira da Silva teria sido provavelmente assassinado por
MOREIRA DA grupos de "milícia" em 22 de setembro de 2018, não tendo
SILVA informações sobre o seu paradeiro ou destino até hoje.
Após analisar as alegações de fato e de direito das partes, a
Comissão considera que o senhor André Luiz Moreira da Silva
se encontra em situação de gravidade e urgência, uma vez que
os seus direitos à vida e à integridade pessoal enfrentam risco
de dano irreparável. Consequentemente, em conformidade
com o artigo 25 do Regulamento da CIDH, a Comissão solicita
ao Estado do Brasil que:
a) adote as medidas necessárias para proteger os direitos à vida
e à integridade pessoal do senhor André Luiz Moreira da Silva e,
em particular, determinar o seu paradeiro ou destino;
b) acorde, quando apropriado, as medidas a serem
implementadas com os beneficiários e os seus representantes;
e
c) informe sobre as ações realizadas com o objetivo de
investigar os fatos que levaram à adoção desta resolução e,
assim, evitar sua repetição.

IV) CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

CONTENCIOSA
A CORTE IDH
POSSUI DUAS
FUNÇÕES:
CONSULTIVA

 André de Carvalhos Ramos lembra que “não é obrigatório o reconhecimento de sua


jurisdição contenciosa: o Estado pode ratificar a Convenção Americana e não
reconhecer a jurisdição contenciosa da Corte IDH, pois tal reconhecimento é cláusula
facultativa da Convenção. Apesar de ter ratificado e incorporado internamente a
Convenção Americana de Direitos Humanos em 1992, foi somente em 1998 que o
Brasil reconheceu a jurisdição contenciosa obrigatória da Corte Interamericana de
Direitos Humanos.

REVISÃO GERAL SOBRE A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


COMPOSIÇÃO DA A Corte compor-se-á de SETE JUÍZES, nacionais dos Estados
CORTE membros da Organização, eleitos a título pessoal.
jurista da mais alta autoridade moral, de reconhecida
competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as
REQUISITOS PARA
condições requeridas para o exercício das mais elevadas
SER JUIZ DA CORTE
funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam
IDH:
nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. NO
BRASIL, O STF.
PODE HAVER DOIS Não. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.
JUÍZES DA MESMA
NACIONALIDADE?
Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo
voto da maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na
JUÍZES ELEITOS
Assembleia Geral da Organização, de uma lista de candidatos
propostos pelos mesmos Estados.
Cada um dos Estados Partes pode propor até três candidatos,
CADA ESTADO
nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro
PARTE PODE
Estado membro da Organização dos Estados Americanos.
PROPOR ATÉ 3
Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos
CANDIDATOS
um deles deverá ser nacional de Estado diferente do
proponente.
Os juízes da Corte serão eleitos por um período de seis anos e
só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três dos
MANDATO DOS
juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três
JUÍZES DAS CORTE
anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-
se-ão por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três
juízes.
O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso
submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do
mesmo.
André de Carvalho Ramos (2020, p. 297) lembra que a Corte
IDH restringiu em 2009 – por meio de Opinião Consultiva n. 20
– a interpretação do art. 55 da Convenção, que trata do juiz ad
hoc, eliminando tal figura nas demandas iniciadas pela
Comissão a pedido de vítimas (ou seja, todas até o momento)
JUIZ NACIONAL DO
e mantendo-o somente para as demandas originadas de
ESTADO PARTE EM
comunicações interestatais. Também em 2009, na mesma
CASO SUBMETIDO
Opinião Consultiva n. 20, a Corte restringiu a possibilidade do
À CORTE
juiz que porventura possuir a mesma nacionalidade do Estado
Réu atuar no caso. Somente o fará nas demandas interestatais
(inexistentes, até o momento). Nas demandas iniciadas pela
Comissão a pedido das vítimas, o juiz da nacionalidade do
Estado Réu deve se abster de participar do julgamento, tal
qual ocorre com o Comissário da nacionalidade do Estado em
exame, que não pode participar das deliberações da Comissão
IDH”.
Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de
nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado Parte
no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para fazer
O CASO DO JUIZ parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.
AD HOC CUIDADO: Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso,
nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada um
destes poderá designar um juiz ad hoc.
OBS.: O juiz ad hoc deve reunir os mesmos requisitos para ser
Juiz da Corte IDH.
QUÓRUM PARA O quórum para as deliberações da Corte é constituído por
DELIBERACÃO DA cinco juízes.
CORTE
COMISSÃO A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.
ATUANDO COMO Neste caso, a Comissão faz às vezes de Ministério Público no
“FISCAL DA sentido de ser “fiscal da ordem jurídica”.
ORDEM JURÍDICA”
Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu
instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a
COMPETÊNCIA DA
ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que
CORTE
reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem
convenção especial, a competência da Corte em todos os casos
relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.
COMPETÊNCIA A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso
PARA relativo à interpretação e aplicação das disposições desta
INTERPRETAÇÃO E Convenção que lhe seja submetido, desde que os Estados
APLICAÇÃO DA Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida
CADH competência, por declaração especial.
Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade
CORTE
protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se
RECONHECENDO A
assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade
VIOLAÇÃO A UM
violados. Determinará também, se isso for procedente, que
DIREITO OU
sejam reparadas as consequências da medida ou situação que
LIBERDADE
haja configurado a violação desses direitos, bem como o
pagamento de indenização justa à parte lesada.
Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer
EDIÇÃO DE necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos
MEDIDAS assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas
PROVISÓRIAS provisórias que considerar pertinentes66. Se se tratar de
assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu
conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.
Os Estados membros da Organização poderão consultar a
FUNÇÃO
Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros
CONSULTIVA DA
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos
CORTE
Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes
Ex.: edição das
compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da
opiniões
Organização dos Estados Americanos, reformada pelo
consultivas
Protocolo de Buenos Aires.
NECESSIDADE DE A sentença da Corte deve ser fundamentada.
FUNDAMENTAÇÃ
O NAS SENTENÇAS
DA CORTE
SENTENÇA A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de
INAPELÁVEL E divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte
DEFINITIVA (CABE interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o
“EMBARGOS DE pedido seja apresentado dentro de 90 dias a partir da data da
DECLARAÇÃO” EM notificação da sentença. É como se fossem embargos de
90 DIAS) declaração.
A parte da sentença que determinar indenização
compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo
processo interno vigente para a execução de sentenças contra
o Estado. Recordo a vocês que as sentenças internacionais
EXECUCÃO DA
independem de homologação no STJ. Essa é a posição de
SENTENÇA NO
André de Carvalho Ramos e Valério Mazzuoli.
PAÍS
Nesse sentido, se aparecer em prova questionando esse
ponto, tenham em mente que sentença estrangeira NÃO É a
mesma coisa que sentença internacional (esta é proferida por
cortes internacionais como a Corte IDH, aquelas por tribunais
internos de outros países).

CIDH Corte IDH


Emite medida cautelar SEM caráter Emite medida provisória de natureza
vinculante vinculante.

COMISSÃO IDH CORTE IDH


COMPOSIÇÃO 7 MEMBROS 7 JUÍZES
CADA ESTADO PARTE ATÉ 3 CANDIDATOS ATÉ 3 CANDIDATOS
PODE PROPOR:
4 ANOS (1 RECONDUÇÃO) 6 ANOS (1 RECONDUÇÃO)
*O MANDATO DE 3 *O MANDATO DE 3
MEMBROS DESIGNADOS MEMBROS DESIGNADOS
MANDATO
PELA PRIMEIRA ELEIÇÃO PELA PRIMEIRA ELEIÇÃO
EXPIRARÁ AO CABO DE 2 EXPIRARÁ AO CABO DE 3
ANOS ANOS
QUÓRUM DE - 5 JUÍZES
DELIBERAÇÃO
“EMBARGOS DE - 90 DIAS
DECLARAÇÃO”

A) PRINCIPAIS CASOS BRASILEIROS JULGADOS PELA CORTE IDH

PRINCIPAIS CASOS BRASILEIROS JULGADOS PELA CORTE IDH


CASO “O Estado brasileiro sofreu nova condenação na Corte Interamericana
BARBOSA de Direitos Humanos. Desta vez, por um caso de feminicídio ocorrido
DE SOUZA Y em 1998 na Paraíba, que em fevereiro foi objeto de audiência pública
OTROS VS. no tribunal. O Brasil foi responsabilizado por “violação de direitos e
BRASIL - garantias judiciais, proteção judicial e igualdade perante a lei e por
SENTENÇA aplicação indevida da imunidade parlamentar em benefício do
DE 7 DE principal responsável pelo homicídio de Márcia Barbosa de Souza”, de
SETEMBRO 20 anos. Para a Corte, faltou diligência para realizar as investigações
DE 2021 necessárias. Também foi considerado “caráter discriminatório por
razão de gênero” nessas mesmas investigações, além de violação de
direito à integridade pessoal em prejuízo dos familiares da jovem. O
caso envolve um ex-deputado estadual da Paraíba, Aércio Pereira de
Lima (PFL, antigo nome do DEM).
“Márcia Barbosa de Souza era uma estudante afro-descendente de 20
anos, que vivia em situação de pobreza”, define a Corte
Interamericana. Ela teria ido a João Pessoa em busca de emprego. De
acordo com o processo, na noite de 17 de junho de 1998 encontrou-
se com o então deputado em um motel. No dia seguinte, uma
testemunha viu alguém tirar um corpo do carro e atirá-lo em terreno
baldio na capital paraibana. A jovem foi morta por asfixia. No
julgamento, a questão da imunidade foi vista como um empecilho na
apuração do crime de feminicídio, dificultando o acesso à Justiça. “A
Corte assinalou que a imunidade parlamentar foi idealizada como
uma garantia de independência do órgão legislativo, no conjunto de
seus integrantes, e que não se pode ser concebida como um privilégio
pessoal do parlamentar”, afirmam os juízes na sentença. O deputado,
que sempre negou o crime, foi condenado apenas em 2007, a 16 anos
de prisão, por homicídio e ocultação de cadáver. Recorreu, mas
morreu pouco meses depois, sem que a sua apelação fosse
examinada. “Esta é a primeira sentença em que a Corte analisa a
imunidade parlamentar no marcado do direito do acesso à justiça e a
obrigação reforçada de investigar com a devida diligência a morte
violenta de uma mulher”.”
CASO O Corte responsabilizou o Brasil foi condenado pelas mortes e
EMPREGAD violações de direitos humanos dos trabalhadores da Fábrica de Fogos,
OS DA em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano. O caso se relaciona
FÁBRICA DE a uma explosão ocorrida em 11 de dezembro de 1998, em uma
FOGOS DE fábrica de fogos de artifício, em que 64 pessoas morreram e seis
SANTO ficaram feridas, todas elas empregadas da fábrica. Dessas pessoas, 22
ANTÔNIO eram crianças e adolescentes, entre 11 e 17 anos de idade. A CIDH
DE JESUS E determinou que o Estado é responsável pela violação do direito à vida
SEUS e à integridade pessoal, em virtude da falta de fiscalização da fábrica,
FAMILIARE cujas atividades industriais perigosas eram conhecidas, e porque
S VS BRASIL devia ter conhecimento de que nela ocorria uma das piores formas de
– trabalho infantil e se cometiam graves irregularidades.
15/07/2020
CASO Esse caso é muito importante para sua prova. Foi a primeira
DAMIÃO condenação do Brasil perante a Corte IDH e também o primeiro caso
XIMENES envolvendo violação aos direitos humanos de pessoa com deficiência.
LOPES - Em apertadíssima síntese, Damião Ximenes Lopes fora levado a uma
04/07/2006 casa de repouso. Lá ele sofreu tratamento desumano, consistente,
dentre outras coisas, em tomar choque. Sofreu muito e infelizmente
veio a óbito. Um ponto importante tratado nesse julgamento foi a
sujeição que determinados pacientes psiquiátricos sofrem ao se
submeterem a tratamentos, como receber injeções de calmantes para
ficarem inertes durante um tempo. Entendeu a Corte IDH que no caso
de Damião esses procedimentos foram usados com abusos, pois sob a
ótica da Corte, a sujeição somente pode ser usada no estrito limite do
necessário, o que não ocorreu no caso concreto em comento.
No julgamento, a Corte responsabilizou o Brasil pela violação aos
Direitos Humanos presentes na CADH. Foi condenado ao pagamento
de danos morais à família de Ximenes Lopes e a investigar e punir os
assassinos da vítima. A Corte reconheceu a existência de
responsabilidade internacional do Estado por atos cometidos por
particulares, no caso, uma clínica particular. Estabeleceu-se o dever
de o Estado brasileiro adotar práticas consentâneas à política
antimanicomial.
O senhor Nogueira era um advogado e defensor dos Direitos
Humanos. Esse caso é muito importante para sua prova por um
motivo: o Brasil foi absolvido. O advogado Nogueira de Carvalho
denunciou um grupo de extermínio no Rio Grande do Norte. Esse
advogado foi assassinado no dia 20/10/2006. A investigação brasileira
CASO não identificou nada com relação aos assassinos. O Brasil foi
NOGUEIRA acionado. Resultado: improcedência do pedido. Para a Corte, não
DE houve a comprovação de que o Brasil teria ficado omisso. Isso porque
CARVALHO em âmbito nacional ocorreu um júri que ABSOLVEU os supostos
– autores do crime; dessa forma, ainda que tenha havido tais
28/11/2006 absolvições, o Estado brasileiro não se quedou inerte, de maneira que
a atuação da Corte IDH fica obstada. Outro ponto importante é que
esse caso foi o primeiro que envolveu violação de direitos humanos
contra um defensor de direitos humanos. Lembro-lhes que é dever
dos Estados proteger pessoas que tenham destaque na seara dos
direitos humanos, justamente por serem mais vulneráveis a todos os
tipos de violência. Portanto, atenção total a esse caso.
Sétimo Garibaldi foi assassinado por pistoleiros em um caso de
operação extrajudicial de despejo das famílias de trabalhadores sem
terras que ocupavam uma fazenda no Município de Querência do
Norte, no Paraná. Ocorre que as investigações não foram conduzidas
da maneira correta, ao arrepio da legislação, no que culminou com o
CASO arquivamento do caso. Em decorrência disso, após os trâmites, a
SÉTIMO Corte IDH reconheceu que não poderia julgar o Brasil pela morte de
GARIBALDI Garibaldi, pois o crime ocorreu antes de o país aceitar a jurisdição da
– Corte internacional (limitação rationi temporis da competência).
23/09/2009 PORÉM, a Corte IDH reconheceu que os familiares de Garibaldi
tinham o direito de ver uma investigação adequada, proba, que viesse
a, pelo menos, tentar descobrir quem foram os autores do delito
(ressalta-se que a investigação criminal é obrigação de MEIO). Pela
violação desse direito, houve condenação ao pagamento de danos
materiais e morais aos familiares, além da obrigação de investigar e
punir os assassinos da vítima.
CASO Esse caso é muito famoso e tem costume de cair nas provas
ESCHER E objetivas. Aconteceu no Paraná. Com autorização de uma juíza, o
OUTROS – Secretário de Segurança Pública marcou uma coletiva e divulgou o
20/09/2009 áudio de uma interceptação telefônica sigilosa. O procedimento dizia
respeito a uma investigação envolvendo “Arlei José Escher e outros,
todos membros integrantes de organizações comunitárias que
mantinham relação com o Movimento dos Sem Terra (MST),
compartilhando com este o objetivo comum de promover a reforma
agrária no Estado do Paraná.”
A Corte IDH entendeu que houve diversas violações a direitos
previstos na CADH, como a proteção das comunicações telefônicas
decorrente da proteção da vida privada. Ressalta-se que, no presente
caso, “os representantes das vítimas solicitaram à Corte IDH que fosse
ordenado ao Estado brasileiro a revogação de uma lei que concedeu o
título de cidadã honorária do Paraná à juíza responsável pelo
processo da jurisdição interna.” A Corte IDH rejeitou o pedido, mas
afirmou que, se fosse preciso, teria a competência para determinar
que um Estado tornasse sem efeito uma lei que atentasse aos ditames
previstos na CADH. Por isso, atenção para esse detalhe, bem como
para eventuais discussões acerca da relativização da soberania dos
Estados diante de decisões dessa natureza! O Brasil foi condenado a
pagar danos materiais e morais e a investigar e punir criminalmente
os envolvidos.
CASO Trata-se do Caso que mais cai em provas, sendo o primeiro caso
GOMES brasileiro que envolveu a chamada “justiça de transição”. Recorde-
LUND – se que a justiça de transição possui 4 dimensões: direito à memória,
24/09/2010 direito à verdade, direito à reparação das vítimas e redemocratização
das instituições envolvidas com a ditadura militar. Nesse Caso,
Gomes Lund e outras pessoas desapareceram e até hoje não foram
encontradas.
“(...) Popularmente conhecido como Guerrilha do Araguaia, trata da
responsabilidade do Estado Brasileiro pela detenção arbitrária,
tortura e desaparecimento forçado de aproximadamente setenta
pessoas, dentre elas integrantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro)
e camponeses da Região do Araguaia, situada no Estado do Tocantins,
entre 1972 e 1975. A maioria das vítimas desaparecidas integrava (ou
pelo menos havia uma suspeita que o fizessem) o movimento de
resistência intitulado “Guerrilha do Araguaia”, conhecido por realizar
atos de residência aos militares. Naquela época, o governo do Estado
brasileiro implementou ações com o objetivo de exterminar todos os
integrantes do movimento Guerrilha do Araguaia, no que teve êxito.
Ocorre que, no dia 28 de agosto de 1979, o Brasil aprovou a Lei
Federal 6.683, conhecida popularmente como “Lei da Anistia”. Esse
diploma normativo perdoou todos aqueles que haviam cometidos
crimes políticos ou conexos com eles no período da ditadura militar, o
que acabou gerando a irresponsabilidade de todos os agentes do
Estado Brasileiro que participaram dos massacres ocorridos no
período da ditadura. A controvérsia chegou até a CIDH (Comissão)
(...). Após o Brasil não ter se manifestado sobre os relatórios da CIDH,
a demanda foi submetida à Corte (...) No dia 24 de novembro de
2010, a Corte IDH sentenciou o Caso Gomes Lund, responsabilizando o
Estado Brasileiro pelas violações ocorridas (..)
Como vimos, esse caso envolve a Guerrilha do Araguaia que ocorreu
antes do Brasil aderir à jurisdição da Corte, razão pela qual o Brasil
alegou, em preliminar, que não poderia ser julgado no presente caso.
No entanto, a Corte IDH entendeu que os atos de desaparecimento
forçados se prolongam no tempo; por isso, a jurisdição da Corte foi
reconhecida e o Brasil responsabilizado.
No caso, também foi assentada que a teoria da quarta instância (essa
teoria é expressa em vários editais, como no da DPE-AP – 2018) não é
admitida no sistema interamericano. Isto é, a Corte IDH não funciona
como uma outra instância de julgamento, e não há uma hierarquia
entre as decisões domésticas e as da Corte IDH. Um exemplo disso é o
fato de o STF reconhecer que a Lei de Anistia é constitucional, e a
Corte IDH, em diversos julgamentos, entender que as leis de anistias
são inconvencionais.4
OBS: a Corte IDH poderia ter responsabilizado o Brasil no Caso
Gomes Lund em razão do crime de desaparecimento forçado, ainda
que na legislação interna não haja esse delito? A resposta é sim.
Segundo a doutrina, esse já era o entendimento da Corte no Caso
Caballero Delgado e Santana vs Guatemala (1993), no sentido de que
a ausência de tipificação do delito de desaparecimento forçado não
deve impedir a condenação do Estado em âmbito internacional. O
fato de o Estado ainda não ter criminalizado a conduta de
desaparecimento forçado deve servir como mola propulsora para
uma condenação no âmbito internacional, e por conseguinte, uma
futura tipificação do delito em análise. Ao condenar o Brasil pelo
desaparecimento forçado de uma série de pessoas no Caso Gomes
Lund vs Brasil, a Corte IDH nada mais fez do que manter o seu
entendimento consolidado, nas palavras de Caio Paiva.
CASO Esse caso é muito importante também. Cerca de 85 vítimas foram
FAZENDA colocadas em situação de escravidão e resgatada no ano 2000 na
BRASIL Fazenda Brasil Verde, bem como mais 43 resgatadas em 1997, na
VERDE X mesma fazenda, localizada no Município de Sapucaia, Estado do Pará.
BRASIL - Em suma, o Brasil foi responsabilizado (primeira condenação do Brasil
20/10/2016 por trabalho escravo na Corte IDH) e a Corte IDH utilizou, no
julgamento, pela primeira vez, o critério da condição econômica como
fator para aferir a existência ou não de uma situação discriminatória,
reconhecendo uma discriminação estrutural. Neste caso, um dos
pontos mais importantes da sentença condenatória é o
reconhecimento da proibição do trabalho escravo como norma de jus
cogens e como obrigação erga omnes. Por fim, é importante lembrar
que o Brasil já tinha sido responsabilizado na Comissão
4
Em relação a esse ponto, o entendimento do STF pela constitucionalidade da Lei de Anistia viola a
necessidade de que os diplomas internos brasileiros sejam avaliados também sob uma perspectiva de
controle de CONVENCIONALIDADE. Assim, a legislação interna não apenas deve estar de acordo com a
CRFB, mas também conforme os Tratados e Convenções internacionais. Sendo a Corte IDH a intérprete
maior da CADH, a posição mais consentânea com o diálogo internacional entre as Cortes seria o STF
adotar a posição internacional e declarar a Lei de Anistia inconvencional, extirpando-a do ordenamento
jurídico.
Interamericana sobre a proibição do trabalho escravo no “Caso José
Pereira”.
Se refere às falhas e à demora na investigação e punição dos
responsáveis pelas execuções extrajudiciais de 26 pessoas no
contexto de duas incursões policiais efetuadas pela Polícia Civil do Rio
CASO
de Janeiro em 1994 e 1995, em uma favela chamada Nova Brasília, no
COSME
Rio de Janeiro. As mortes foram justificadas pelas autoridades
ROSA
policiais mediante a lavratura dos chamados “autos de resistência à
GENOVEVA
prisão”.
E OUTROS
Esse caso tramitou durante 15 anos perante a Comissão
X BRASIL -
Interamericana. Remetido à Corte, esta reconheceu que houve uma
16/02/2017
chacina cometida por policiais, em uma favela, conhecida como
(AS
Favela Nova Brasília. A condenação é relativamente recente, então
BANCAS
tomem cuidado. Neste caso, a Corte IDH também considerou como
TAMBÉM
violação da garantia de independência e imparcialidade nas
COBRAM
investigações e o fato de os acusados fazerem parte do mesmo órgão
ESSE CASO
que fez a investigação.
POR NOME
#OBS: Além da execução extrajudicial de 26 pessoas, esse caso contou
DE FAVELA
com três mulheres vítimas de violência sexual. A sentença prevê que o
NOVA
Brasil implemente um programa ou curso permanente e obrigatório
BRASÍLIA)
sobre atendimento a mulheres vítimas de estupro bem como faz
menção direta que a jurisprudência da Corte considera o estupro uma
forma de tortura ( DPE/CE!)
CASO O caso foi levado à Corte IDH pela Comissão Interamericana de
POVOS Direitos Humanos, por supostas violações contra o direito de
INDÍGENAS propriedade e integridade do Povo Xucuru, uma vez que houve
XUCURU X demora de mais de 16 anos (1989-2005) no processo administrativo
BRASIL - de reconhecimento, titulação, demarcação e delimitação das suas
05/02/2018 terras.
Dois pontos importantes e que podem cair em sua prova: o Estado
brasileiro alegou, em suas exceções preliminares, incompetência
ratione temporis (a respeito de fatos anteriores à data de
reconhecimento da jurisdição da Corte e quanto a fatos anteriores à
data de adesão do Estado à Convenção) e materiae (em relação à
suposta violação da Convenção 169 da OIT, cujos instrumentos não
fazem parte do sistema de proteção interamericano). Atenção que
esse foi o primeiro caso envolvendo indígenas e o Brasil na Corte
IDH. Porém, seu examinador pode querer te confundir com o caso da
Usina de Belo Monte, que foi o primeiro caso com essa temática em
sede da COMISSÃO INTERAMERICANA. Atenção para esse detalhe!
 ATENÇÃO! Você sabe diferenciar a teoria do fato indígena da teoria
do indigenato? Ambos os conceitos foram tratados pelo STF no caso
Raposa Serra do Sol e se relacionam diretamente à questão da
demarcação de terras indígenas: “Para a teoria do indigenato a posse
das terras indígenas pelas comunidades indígenas é imemorial. Os
índios são donos da terra por tanto tempo que não é possível dizer
em que momento determinada área passou a ser considerada uma
terra indígena. (...) As comunidades indígenas não dependeriam de
qualquer legitimação para ocupar as áreas consideradas terras
indígenas, já que a própria condição de indígena bastaria para
legitimar a posse territorial. (...) No entanto, ao analisar o caso Raposa
Serra do Sol (Pet. 3388), o STF estabeleceu um marco temporal para
caracterizar determinada área como terra indígena. Segundo o
tribunal constitucional brasileiro, serão consideradas terras indígenas
as áreas que estavam ocupadas de forma permanente por
comunidades indígenas no dia 5 de outubro de 1988, data da
promulgação da Constituição de 1988. Criou-se, assim, um verdadeiro
“fato indígena”, pois, para o STF, o direito dos indígenas começou
com a Constituição de 1988 (...).” A posição do STF é altamente
criticada, pois macula o direito dos indígenas que, afinal, já existia
muito antes da CRFB/88. Como forma de mitigar essa posição,
entende o STF que mesmo que os indígenas não estivessem ocupando
a terra no momento da promulgação da CRFB, farão jus ao território
se ficar comprovado um renitente esbulho (foram retirados à força do
local).
CASO A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou em
VLADIMIR 2018 o estado brasileiro pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em
HERZOG X 1975, durante a ditadura militar no Brasil. É a primeira vez que a
BRASIL - Corte IDH reconhece um homicídio cometido durante a ditadura do
15/03/2018 Brasil como sendo um crime contra a humanidade. A Corte já tinha
emitido decisões semelhantes para casos de outros países da América
Latina e condenado o Brasil em 2010 por não ter investigado os
desaparecimentos ocorridos na Guerrilha do Araguaia (no caso
Gomes Lund que vimos acima).Conforme consta do resumo da
Sentença, “Em 15 de março de 2018, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos proferiu uma sentença mediante a qual declarou
responsável o Estado do Brasil pela violação dos direitos às garantias
judiciais e à proteção judicial, previstos nos artigos 8.1 e 25.1 da
Convenção Americana, em relação com os artigos 1.1 e 2 deste
instrumento, e também em relação aos artigos 1, 6 e 8 da Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (CIPST), em
detrimento de Zora, Clarice, André e Ivo Herzog. Essas violações se
deram como consequência da falta de investigação, julgamento e
punição dos responsáveis pela tortura e assassinato de Vladimir
Herzog, cometidos em um contexto sistemático e generalizado de
ataques à população civil, assim como pela aplicação da Lei de Anistia
nº 6683/79 e de outros excludentes de responsabilidade proibidos
pelo Direito Internacional em casos de crimes contra a humanidade.
Adicionalmente, a Corte considerou que o Estado é responsável pela
violação do direito de conhecer a verdade em detrimento de Zora
Herzog, Clarice Herzog, Ivo Herzog e André Herzog, em virtude de não
haver esclarecido judicialmente os fatos violatórios do presente caso
e de não haver apurado as responsabilidades individuais respectivas
em relação com a tortura e o assassinato de Vladimir Herzog, em
conformidade com os artigos 8 e 25 da Convenção. Igualmente,
considerou que o Estado é responsável pela violação do direito à
integridade pessoal, previsto no artigo 5.1 da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, em relação com o artigo 1.1 deste
instrumento, em detrimento de Zora Herzog, Clarice Herzog, Ivo
Herzog e André Herzog. Por último, a Corte ordenou ao Estado a
adoção de diversas medidas de reparação”.

JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO
CONCEITO A doutrina costuma definir justiça de transição como sendo “um
conjunto de mecanismos judiciais ou extrajudiciais utilizados por uma
sociedade como um ritual de passagem à ordem democrática após
graves violações de direitos humanos por regimes autoritários e
ditatoriais, de forma que assegure a responsabilidade dos violadores
de direitos humanos, o resguardo da justiça e a busca da
reconciliação”
DIMENSÕE 1. DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE
S 2. DIREITO À REPARAÇÃO DAS VÍTIMAS E SEUS FAMILIARES
3. ADEQUADO TRATAMENTO JURÍDICO AOS CRIMES COMETIDOS NO
PASSADO
4. A REFORMA DAS INSTITUIÇÕES PARA A DEMOCRACIA

VALIDADE OU NÃO DAS LEIS DE ANISTIA BRASILEIRA


1ª CORRENTE: A IMPRESCRITIBILIDADE 2ª CORRENTE: PRESCRITIBILIDADE DOS
DOS CRIMES CONTRA A HUMANIDADE É CRIMES CONTRA A HUMANIDADE E DOS
NORMA DE JUS COGENS E POSSUI CRIMES DE GUERRA (ADOTADA PELAS
CARÁTER CONSUETUDINÁRIO (E CORTES NACIONAIS)
TAMBÉM CONVENCIONAL)
Para esta corrente, a existência da Essa é a corrente adotada pelas cortes
Convenção Internacional sobre a nacionais do Brasil. Para essa segunda
Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra corrente, não é possível reconhecer a
e Crimes contra a Humanidade, de 1968, imprescritibilidade dos delitos contra a
apenas declarou a imprescritibilidade humanidade e de guerra, logo, não é
dos crimes de guerra e de crimes contra possível promover a persecução penal
a humanidade, ante a existência prévia contra os agentes da ditadura pelos fatos
de um costume internacional no sentido atentatórios aos direitos humanos que
da imprescritibilidade desses delitos, foram cometidos no período da ditadura
conforme a Resolução 2.338 da militar brasileira, pois estes estão
Organização das Nações Unidas, de prescritos. Caio Paiva e Thimotie Aragon
1967. O Brasil não aderiu à Convenção (2020, p. 282) afirma que “não podemos
Internacional sobre a Imprescritibilidade concordar com esse posicionamento
dos Crimes de Guerra e Crimes contra a adotado pelos Tribunais Brasileiros, isso
Humanidade, mas isso não faria porque o próprio Supremo Tribunal
diferença, já que se trata de costume Federal frequentemente aplica o
internacional (caráter consuetudinário). costume internacional diretamente em
nosso país (...) sem qualquer processo de
integração.”
A Corte IDH considerou ser inaplicável a Lei nº 6.683/79 (Lei da Anistia) aos agentes
da ditadura, uma vez que tal lei ofendeu o direito à justiça das vítimas e seus
familiares, previsto implicitamente nos arts. 8º e 25 da Convenção Americana de
Direitos Humanos (Caso Gomes Lund vs. Brasil, sentença de 24-11-2010). Ocorre que
o STF decidiu pela improcedência da ADPF 153, interposta pelo Conselho Federal da
OAB, que almejava a interpretação conforme a Constituição da Lei da Anistia, no
sentido de excluir os agentes da ditadura do seu alcance. Para o relator, Min. Eros
Grau, a Lei da anistia veiculou uma decisão política assumida naquele momento e a
Constituição de 1988 não pode afetar leis-medida que a tenham precedido (ADPF
153, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-4-2010, Plenário, DJE de 6-8-2010).

 Recentemente, em março de 2021, o STJ aprovou a Súmula 647, no sentido de que


são imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes
de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos
durante o regime militar.

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE


Uma das determinações da Corte IDH no Caso Gomes Lund vs Brasil,
CRIAÇÃO foi a instituição da denominada Comissão Nacional da Verdade que
foi criada pela Lei 12.528/11.
“Examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos
praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (período de 18 de setembro de 1946 até
a data da promulgação da Constituição), a fim de efetivar o direito à
memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”.
Além de (i) esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves
violações de direitos humanos, promovendo o esclarecimento dos
casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de
FINALIDADE cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior, a Comissão
(art. 1º) deve encaminhar aos órgãos públicos competentes toda e qualquer
informação obtida que possa auxiliar na (ii) localização e identificação
de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos e (iii)
recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir
violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e
promover a efetiva reconciliação nacional. Quanto à obtenção da
verdade judicial, é cabível a responsabilização dos agentes que
promoveram graves violações de direitos humanos durante a
ditadura militar.
CONCLUSÃO Em 10 de dezembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade, criada
pela Lei nº 12.528/2011, entregou seu relatório final, que contempla
a análise de graves violações de direitos humanos dentro do período
de 1946 a 1988. Composto por três volumes, o relatório final
documentou especialmente centenas de casos de violações graves de
direitos humanos cometidos por agentes da ditadura militar (1964-
1985), atestando que tais violações consistiram em uma política
sistemática de Estado (e não atos isolados, de indivíduos – civis ou
militares – agindo contra orientações superiores).
Conforme consta do relatório, “na ditadura militar, a repressão e a
eliminação de opositores políticos se converteram em política de
Estado, concebida e implementada a partir de decisões emanadas da
Presidência da República e dos ministérios militares” (p. 963). Assim,
tais crimes têm, de acordo com o relatório final, a natureza de crimes
contra a humanidade. Essa conclusão é importante e está em
consonância com a decisão da Corte IDH no Caso Gomes Lund vs.
Brasil (2010).”

TEORIA DA QUARTA INSTÂNCIA


No Caso Gomes Lund, o Brasil alegou, em preliminar, que no âmbito interno havia
uma decisão do STF sobre o caso. Para o Brasil, então, se a Corte IDH prosseguisse
com o julgamento do Caso Gomes Lund, ela acabaria se tornando uma instância
revisora de julgamentos locais, como uma espécie de “quarta instância”. E o que a
Corte IDH decidiu? “A exceção alegada pelo Brasil não foi acolhida pela Corte IDH,
sob o argumento de que não há qualquer hierarquia entre o Supremo Tribunal
Federal e a Corte. O que deve haver é uma relação de diálogo, complementaridade e
reciprocidade, mas jamais de hierarquia. Assim, a própria Corte IDH não possui o
intuito de revisar as decisões das cortes internas, mas apenas de realizar o controle
de convencionalidade da Lei da Anistia brasileira em face da CADH como mero fato”.

POLÍTICAS DE VETO (VETTING)


Outro ponto importante está relacionado com as políticas de veto (vetting) como
instrumento de redemocratização das instituições envolvidas na ditadura. As
“políticas de veto” têm ligação com o estudo do caso Gomes Lund. Para a doutrina,
“a redemocratização das instituições envolvidas e aparelhadas pela ditadura militar
consiste em uma das quatro dimensões da justiça de transição. A partir dessa
dimensão, a doutrina, capitaneada por Cherif Bassiouni, e a prática internacional,
criaram as “políticas de veto”, também chamadas de “políticas de lustração”. Tais
políticas estão inseridas no documento conhecido como Princípios de Chicago e
visam a “proibição daqueles que participaram do governo anterior, realizando
abusos, de fazer parte das Forcas Armadas, agencias de inteligência, ou outras forcas
de seguranças; dos líderes políticos de se elegerem ao novo governo; o afastamento
de membros do Judiciário e demais funcionários da administração pública
associados ao regime anterior”

B) OUTROS CASOS IMPORTANTES DA CORTE IDH ENVOLVENDO OUTROS


PAÍSES

OUTROS CASOS IMPORTANTES DA CORTE IDH ENVOLVENDO OUTROS PAÍSES


Esse caso é muito importante. A Corte IDH responsabilizou o
CASO DEL México em um caso em que gangues de traficantes matavam as
CAMPO mulheres dos maridos envolvidos em gangue rival. Foi o primeiro
ALGODONERO caso envolvendo feminicídio perante a Corte IDH. CUIDADO:
X MÉXICO também pode aparecer como “Cotton Field ou Caso Campo
Algodonero (Caso González y otras v. Mexico)”
Esse caso merece total atenção, pois costuma cair inclusive em
segundas fases. Atala Riffo era uma juíza chilena, que separou de
seu marido para viver uma união estável homoafetiva. O pai das
filhas de Atala Riffo, ou seja, o ex-cônjuge, ajuizou uma ação para
que ele (ex-cônjuge) ficasse com a guarda das filhas, pelo simples
fato de Atala Riffo viver com uma pessoa do mesmo sexo. E esse
CASO ATALA absurdo foi acolhido pelas Cortes chilenas, até que o caso foi
RIFFO X CHILE levado à Corte IDH, que entendeu que houve inegável violação
aos direitos previstos na CADH, condenando o Chile ao
pagamento em indenização em dinheiro. A questão do
preconceito envolvendo as relações homoafetivas, como se
verifica no caso Atala Riffo, é constante nas provas para membro
da Defensoria e no dia a dia defensorial. Portanto, deem atenção
especial para esse caso, pois, como dito, sua cobrança é
constante.
Em resumo, o Chile foi condenado por ter censurado o filme “A
última tentação de cristo”. A fundamentação foi centrada no
direito à liberdade de expressão. Recentemente, a questão do
direito à liberdade de expressão foi posta em debate em
decorrência de um filme de humor gravado pelo grupo Porta dos
Fundos, exibido no canal de streaming Netflix, em que Jesus
Cristo era retratado como sendo homossexual. Em uma ação
CASO “A tramitada no TJRJ, uma das Câmaras Cíveis determinou que o
ÚLTIMA canal retirasse do ar o mencionado filme, decisão essa que foi
TENTAÇÃO DE revertida no STF justamente com base no direito à liberdade de
CRISTO” X expressão.
CHILE OBS: “O Caso Olmedo Bustos (A última Tentação de Cristo) vs
(TAMBÉM Chile também se destaca em razão de o Estado chileno ter sido
CHAMADO DE responsabilizado pela Corte IDH, mesmo agindo com fundamento
OLMEDO em uma norma constitucional editada pelo seu poder
BUSTOS E constituinte originário (...) Estabeleceu a Corte que “a
OUTROS)” responsabilidade internacional do Estado pode decorrer de atos
ou omissões de qualquer poder ou órgão deste,
independentemente de sua hierarquia, que violem a Convenção
Americana” (...) Em seu voto, o juiz Cançado Trindade também
advertiu que “(...) qualquer norma de direito interno,
independentemente de sua natureza (constitucional ou
infraconstitucional), pode, por sua própria existência
aplicabilidade, per se comprometer a responsabilidade de um
Estado Parte num tratado de direitos humanos?”.
CASO FURLAN E Sobre esse caso, vocês precisam saber que ele foi o primeiro caso
FAMILIARES VS envolvendo o Defensor Público Interamericano.
ARGENTINA
CASO “DOS Esse caso também é interessantíssimo e costuma ser cobrado em
MENINOS DE prova. Algumas crianças que viviam em situação de rua foram
RUA” – colocadas em um carro da polícia e em seguida executadas. A
TAMBÉM Corte Interamericana responsabilizou a Guatemala.
Um dos principais pontos desse caso é saber que a Corte utilizou,
como fundamentação, o “dano ao projeto de vida”. Fique ligado
nesse termo, pois ele costuma aparecer em provas. Em síntese, o
dano ao projeto de vida é qualquer conduta que obste uma
pessoa de seguir o projeto que tinha para sua vida,
interrompendo seus planos e sonhos de maneira abrupta e
contra a sua vontade.
No Brasil, uma situação parecida foi a chamada “Chacina da
CHAMADO
Candelária”, ocorrida no Rio de Janeiro em 1993. Nesse crime, 8
NINÕS DE LA
jovens foram mortos por atiradores que dispararam a esmo
CALLE X
contra pessoas em situação de rua que dormiam próximas à
GUATEMALA”
Igreja da Candelária. Houve processo penal contra os
responsáveis em decorrência do testemunho de um sobrevivente
que foi inserido em programa de proteção à testemunha.
Analisando os fatos, verifica-se que na Chacina da Candelária
também incidiu a questão do dano ao projeto de vida, pois entre
os mortos havia pessoas com idades que variavam entre 11 e 19
anos. Todos jovens (alguns enquadrados no ECA como criança,
inclusive) e cheios de planos, apesar da dura realidade das ruas
que tinham à época do atentado.
CASO Neste caso, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu
CHINCHILLA a respeito do direito à vida e do direito à saúde das pessoas
SANDOVAL VS. privadas de liberdade, inclusive em relação àquelas com
GUATEMALA enfermidades graves e com deficiências.
CASO Segundo Relatório, este caso foi submetido à Corte
VELÁSQUEZ Interamericana de Direitos Humanos pela Comissão
RODRÍGUEZ VS. Interamericana de Direitos Humanos em 24 de abril de 1986.
HONDURAS Originou-se em uma denúncia (Nº 7920) contra o Estado de
Honduras, recebida na Secretaria da Comissão em 7 de outubro
de 1981. 2. Ao introduzir a demanda, a
Comissão invocou os artigos 50 e 51 da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos. A Comissão submeteu este caso com o
fim de que a Corte decida se houve violação, por parte do Estado
envolvido, dos artigos 4 (Direito à Vida), 5 (Direito à Integridade
Pessoal) e 7 (Direito à Liberdade Pessoal) da Convenção em
detrimento do senhor Ángel Manfredo Velásquez Rodríguez
(também conhecido como Manfredo Velásquez). Igualmente,
solicitou que a Corte dispusesse que fossem “reparadas as
consequências da situação que configurou a vulneração desses
direitos e que fosse concedida à parte ou partes lesadas uma
justa indenização”. 3. Segundo a denúncia apresentada perante a
Comissão e a informação complementar recebida nos dias
imediatamente seguintes, Manfredo Velásquez, estudante da
Universidade Nacional Autônoma de Honduras, “foi detido de
forma violenta e sem intermédio de ordem judicial de prisão, por
elementos da Direção Nacional de Investigação e do G-2
(Inteligência) das Forças Armadas de Honduras”. A detenção
ocorreu em Tegucigalpa, na tarde de 12 de setembro de 1981. Os
denunciantes declararam que várias testemunhas oculares teriam
afirmado ter sido esse levado junto com outros detidos às celas
da II Estação da Força de Segurança Pública localizadas no Bairro
El Manchén de Tegucigalpa, onde foi submetido a “duros
interrogatórios sob cruéis torturas, acusado de supostos delitos
políticos”. Acrescenta a denúncia que, em 17 de setembro de
1981, foi transferido ao I Batalhão de Infantaria onde
prosseguiram os interrogatórios e que, apesar disto, todas as
forças policiais e de segurança negaram sua detenção. 4. Depois
de haver transmitido a denúncia ao Governo, a Comissão, em
diversas oportunidades, solicitou do mesmo a informação
correspondente sobre os fatos denunciados. Diante da falta de
resposta do Governo, a Comissão, em aplicação do artigo 42
(antigo art. 39) de seu Regulamento, presumiu como
“verdadeiros os fatos denunciados na comunicação de 7 de
outubro de 1981 relativos à detenção e posterior
desaparecimento do senhor Ángel Manfredo Velásquez
Rodríguez na República de Honduras” e observou ao Governo
“que tais fatos constituem gravíssimas violações ao direito à vida
(art. 4) e ao direito à liberdade pessoal (art. 7) da Convenção
Americana”.
A CORTE, por unanimidade, desconsidera a exceção preliminar de
não esgotamento dos recursos internos oposta pelo Governo de
Honduras. Por unanimidade declara que Honduras violou os
deveres de respeito e de garantia do direito à liberdade pessoal,
reconhecido no artigo 7 da Convenção, em relação ao artigo 1.1
da mesma, em detrimento de Ángel Manfredo Velásquez
Rodríguez. Por unanimidade declara que Honduras violou os
deveres de respeito e de garantia do direito à integridade
pessoal, reconhecido no artigo 5 da Convenção, em relação ao
artigo 1.1 da mesma, em detrimento de Ángel Manfredo
Velásquez Rodríguez. Por unanimidade declara que Honduras
violou o dever de garantia do direito à vida, reconhecido no
artigo 4 da Convenção, em relação ao artigo 1.1 da mesma, em
detrimento de Ángel Manfredo Velásquez Rodríguez. Por
unanimidade 5. decide que Honduras está obrigada a pagar uma
justa indenização compensatória aos familiares da vítima. 6.
Decide que a forma e a quantia desta indenização serão fixadas
pela Corte caso o Estado de Honduras e a Comissão não se
ponham de acordo a respeito num período de seis meses,
contados a partir da data desta sentença, e deixa aberto o
procedimento para esse efeito.
BARRIOS ALTOS Em 8 de junho de 2000, a Comissão Interamericana de Direitos
VS. PERU Humanos apresentou à Corte a demanda neste caso, na qual
BARRIOS ALTOS invocou o artigo 51.1 da Convenção Americana sobre Direitos
VS. PERU Humanos e o artigo 32 do Regulamento. A Comissão submeteu o
BARRIOS ALTOS caso com o objetivo de que a Corte decidisse se houve violação,
VS. PERU por parte do Estado do Peru, do artigo 4 (Direito à Vida) da
Convenção Americana, em detrimento de (...). Igualmente, pediu
à Corte que decidisse se o Estado violou o artigo 5 (Direito à
Integridade Pessoal) da Convenção Americana, em prejuízo de
(...). Ademais, requereu ao Tribunal que decidisse se o Estado
peruano violou os artigos 8 (Garantias Judiciais), 25 (Proteção
Judicial) e 13 (Liberdade de Pensamento e de Expressão) da
Convenção Americana, como consequência da promulgação e
aplicação das leis de anistia nº 26.479 e nº 26.492. Finalmente,
solicitou à Corte que determinasse se, como consequência da
promulgação e aplicação das leis de anistia Nº 26.479 e Nº 26.492
e da violação aos direitos indicados, o Peru descumpriu os artigos
1.1 (Obrigação de Respeitar os Direitos) e 2 (Dever de Adotar
Disposições de Direito Interno) da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.
A CORTE decidiu por unanimidade, admitir o reconhecimento de
responsabilidade internacional efetuado pelo Estado. 2. Declarar,
em conformidade com os termos do reconhecimento de
responsabilidade internacional efetuado pelo Estado, que este
violou: a) o direito à vida, consagrado no artigo 4 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, em detrimento (...); b) o
direito à integridade pessoal, consagrado no artigo 5 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em detrimento
de (...); e c) o direito às garantias judiciais e à proteção judicial,
consagrados nos artigos 8 e 25 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, como consequência da promulgação e
aplicação das leis de anistia nº 26.479 e nº 26.492, em
detrimento dos familiares envolvidos. 3. Declarar, em
conformidade com os termos do reconhecimento de
responsabilidade efetuado pelo Estado, que este descumpriu os
artigos 1.1 e 2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
como consequência da promulgação e aplicação das leis de
anistia nº 26.479 e nº 26.492 e da violação dos artigos da
Convenção indicados no ponto resolutivo 2 desta Sentença. 4.
Declarar que as leis de anistia nº 26.479 e nº 26.492 são
incompatíveis com a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos e, consequentemente, carecem de efeitos jurídicos. 5.
Declarar que o Estado do Peru deve investigar os fatos a fim de
identificar as pessoas responsáveis pelas violações de direitos
humanos referidas nesta Sentença, assim como divulgar
publicamente os resultados desta investigação e punir os
responsáveis. 6. Determinar que as reparações sejam fixadas de
comum acordo pelo Estado demandado, pela Comissão
Interamericana e pelas vítimas, seus familiares ou seus
representantes legais devidamente identificados, dentro de um
prazo de três meses, contados a partir da notificação da presente
Sentença.
Foi no Caso Família Pacheco Tineo vs Bolívia que a Corte IDH
analisou um caso envolvendo o princípio do non-refoulement.
Neste caso, “a Corte Interamericana considerou que o princípio
do non-refoulement foi violado pelo Estado boliviano. (...)
Considerou que no sistema interamericano, o princípio do non-
refoulement possui uma maior amplitude em virtude do caráter
de complementaridade do Direito Internacional dos Refugiados
FAMÍLIA
ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Deste modo, a
PACHECO
proibição do rechaço deve ser compreendida como pedra angular
TINEO VS
da proteção internacional dos refugiados.”
BOLÍVIA
 MUITO IMPORTANTE: Preciso que vocês prestem atenção a
este caso (Caso Família Pacheco Tineo vs Bolívia). É que, além de
tudo que já falamos, ele tem grande relevância em razão das
vítimas terem contado com a assistência da Defensoria Pública
Interamericana quando do processamento perante a Corte IDH.
Segundo Caio Paiva, atuou em favor das vítimas, pela primeira, o
Defensor Público Interamericano brasileiro Roberto Tadeu,
membro da DPE-MT).

VOCÊ SABE O QUE É A TEORIA DA MARGEM DA APRECIAÇÃO?


Essa teoria costuma cair em provas objetivas (CAIU NA DPE-PE-2018) e DPE-MG-
2019, mas é um ótimo tema para a discursiva e oral. Essa teoria possui duas
acepções, a primeira, é que ainda que existam decisões de Cortes Internacionais
sobre um determinado assunto, como por exemplo, a decisão da Corte IDH sobre a
inconvencionalidade da anistia, isso não faz com que as decisões domésticas
também tenham que entender que a lei seja inconvencional. Um exemplo é a lei da
anistia do Brasil, que o STF entendeu ser constitucional, e a Corte IDH entendeu que
ser inconvencional. Nesse caso, existe uma “margem de apreciação nacional”, ou
margem de discricionariedade. Mas as provas costumam cobrar a outra acepção,
que veremos abaixo. Para a segunda acepção, o juízo doméstico (nacional) é o que,
em regra, conhece melhor os conflitos envolvendo a alguns assuntos internos, como
o direito de guarda, por exemplo. Assim, em alguns casos, a Corte não julgaria o
mérito do processo, tendo em vista a “teoria da margem da apreciação nacional”,
pois o juízo doméstico conhece melhor do caso. A Corte Europeia tem diversos
julgados adotando esta teoria da margem da apreciação.

 ATENÇÃO
CASO DAMIÃO  PRIMEIRA CONDENAÇÃO DO BRASIL PERANTE A CORTE IDH
XIMENES LOPES  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO VIOLAÇÃO DOS DIREITOS
X BRASIL HUMANOS DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA CORTE IDH.
CASO  PRIMEIRO CASO QUE ENVOLVEU VIOLAÇÃO DE DIREITOS
NOGUEIRA DE HUMANOS CONTRA UM DEFENSOR DE DIREITOS HUMANOS NA
CARVALHO X CORTE IDH.
BRASIL
CASO GOMES  PRIMEIRO CASO BRASILEIRO QUE ENVOLVEU A CHAMADA
LUND X BRASIL “JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO” NA CORTE IDH.
CASO FAZENDA  PRIMEIRA CONDENAÇÃO DO BRASIL POR TRABALHO ESCRAVO
BRASIL VERDE X NA CORTE IDH
BRASIL  A CORTE IDH UTILIZOU, NO JULGAMENTO, PELA PRIMEIRA VEZ,
O CRITÉRIO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA COMO FATOR PARA
AFERIR A EXISTÊNCIA OU NÃO DE UMA SITUAÇÃO
DISCRIMINATÓRIA, RECONHECENDO UMA DISCRIMINAÇÃO
ESTRUTURAL.
CASO POVOS  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO INDÍGENAS E O BRASIL NA
INDÍGENAS CORTE IDH
XUCURU X
BRASIL
CASO DA USINA  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO INDÍGENAS E O BRASIL NA
DE BELO COMISSÃO IDH
MONTE X
BRASIL
CASO VLADIMIR  PRIMEIRA VEZ QUE A CORTE IDH RECONHECE UM HOMICÍDIO
HERZOG X COMETIDO DURANTE A DITADURA DO BRASIL COMO SENDO UM
BRASIL CRIME CONTRA A HUMANIDADE
CASO DO  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA
PRESÍDIO CORTE IDH
MIGUEL  PRIMEIRO CASO DE APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE BELÉM DO
CASTRO X PERU PARÁ NA CORTE IDH
CASO MARIA  PRIMEIRO CASO DE APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE BELÉM DO
DA PENHA PARÁ PELA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DH.
MAIA
FERNANDES X
BRASIL
CASO “CAMPO  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO VIOLÊNCIA ESTRUTURAL DE
ALGODOEIRO” GÊNERO NA CORTE IDH
X MÉXICO  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO FEMINICÍDIO PERANTE A CORTE
IDH (primeira vez que um órgão internacional de direitos
humanos reconheceu o feminicídio como crime de homicídio
praticado contra mulher por questões de gênero)
CASO BARBOSA  PRIMEIRA CONDENAÇÃO DO BRASIL POR FEMINICÍDIO NA
DE SOUZA Y CORTE IDH
OTROS VS.
BRASIL
CASO FURLAN E  PRIMEIRO CASO ENVOLVENDO O DEFENSOR PÚBLICO
FAMILIARES VS INTERAMERICANO NA CORTE IDH.
ARGENTINA
CASO JOSÉ  PRIMEIRO ACORDO DE SOLUÇÃO AMISTOSA ENVOLVENDO O
PEREIRA X BRASIL NA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DH.
BRASIL
CASO DOS  PRIMEIRA VEZ QUE O BRASIL CELEBROU UMA SOLUÇÃO
MENINOS AMISTOSA NA COMISSÃO IDH APÓS A ADMISSIBILIDADE DO
EMASCULADOS CASO E ANTES DA DELIBERAÇÃO FINAL
DO MARANHÃO
X BRASIL
CASO SIMONE  PRIMEIRA VEZ QUE UM PAÍS MEMBRO DA OEA FOI
ANDRÉ DINIZ X RESPONSABILIZADO NA COMISSÃO IDH POR RACISMO
BRASIL
CASO JAILTON  PRIMEIRO CASO EM QUE A COMISSÃO IDH RESPONSABILIZOU
NERI X BRASIL O BRASIL POR AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

C) TODAS AS OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE IDH

TODAS AS OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE IDH


ASSUNTO QUESTIONAMENTO/CONCLUSÃO
Vejam o que diz o art. 64 da CADH:
O estado do Peru, então, suscitou a
seguinte dúvida.
INTERPRETAÇÃO
DA EXPRESSÃO Pessoal, a Corte IDH entendeu, por
unanimidade, “que a competência
“OUTROS
OPINIÃO consultiva da Corte pode ser exercida, em
CONSULTIVA 01 – TRATADOS”, geral, sobre toda disposição que trate da
1982
PREVISTOS NO ART. proteção dos direitos humanos, de
qualquer tratado internacional aplicável
64 DA CADH. aos estados americanos,
independentemente de ser bilateral ou
multilateral ou de quem sejam ou
possam ser partes deste os estados
estranhos ao sistema interamericano”.
A Comissão apresentou à Corte às
seguintes dúvidas: a partir de que
momento um Estado é parte da CADH?
Quando houve a ratificação ou adesão
com uma ou mais reservas? Ou desde a
data do depósito de ratificação ou
adesão do instrumento ou ao cumprir-se
OPINIÃO INTERPRETAÇÃO o término previsto no art. 20 da
CONSULTIVA 02 - DOS ART. 74 E 75 Convenção de Viena sobre o Direito dos
1982 DA CADH Tratados?
Segundo a Corte IDH, é tido um estado
como parte da CADH desde o dia do
depósito de seu instrumento de
ratificação ou adesão, ou quando for
necessária a aceitação da reserva,
expressa ou tacitamente, afirma
Mazzuoli.
OPINIÃO RESTRIÇÕES À PENA Foram postas em questão as seguintes
CONSULTIVA 03 – DE MORTE dúvidas:
1983
a) pode um governo aplicar pena de
morte a delitos para os quais não esteja
prevista esta pena em sua legislação
interna no momento em que a CADH
entrou em vigência no referido estado?

b) poderia um governo, sob a


justificativa de reserva (feita no
momento da ratificação) legislar
posteriormente à entrada em vigor da
CADH, a fim de impor pena de morte a
delitos que não tinham essa forma de
punição quando da ratificação?
A resposta às duas perguntas é não.
A Corte entendeu, como bem aponta
Mazzuoli, “pela proibição absoluta da
extensão da pena de morte e, por
consequência, pela impossibilidade de
um Estado aplicá-la a delitos que não
possuíam essa sanção ANTES da CADH,
bem como que uma reserva não permite
ao Estado-parte legislar estendendo a
aplicação da pena capital para outros
delitos que não a previam
anteriormente”.
Por excesso de zelo, gostaria de lembrar
a vocês a previsão na CADH sobre a
possibilidade da pena de
morte.
Ou seja, a pena de morte não é
completamente proibida, sendo
permitida em determinadas situações.
Importante dizer que o Brasil, ao aderir a
CADH, fez reservas com relação à pena
de morte, que como sabemos, é
permitida em caso de guerra declarada e
em crimes militares (morte por
fuzilamento).
Vejam: “Ao ratificar o Protocolo sobre a
Abolição da Pena de Morte (Protocolo à
CADH), adotado em Assunção, em 8 de
Junho de 1990, declaro, devido a
imperativos constitucionais, que consigno
a reserva, nos termos estabelecidos no
Artigo II do Protocolo em questão, no
qual se assegura aos Estados Partes o
direito de aplicar a pena de morte em
tempo de guerra, de acordo com o
direito internacional, por delitos
sumamente graves de caráter militar.”
O Estado da Costa Rica queria saber se
havia alguma incompatibilidade com a
CADH, caso alterasse um dispositivo da
MODIFICAÇÃO DA Constituição deles sobre nacionalidade.
OPINIÃO CONSTITUIÇÃO DA Esse caso foi o primeiro sobre
CONSULTIVA 04 - COSTA RICA compatibilidade de leis internas, segundo
1984 RELACIONADA À Valério Mazzuoli. A corte entendeu que
NATURALIZAÇÃO os critérios para outorga de
nacionalidade são de competência
exclusiva do Estado, dentro de sua
margem de apreciação.
Segundo Caio Paiva e Thimotie Aragon
(2017), para a Corte, “a exigência da
formação obrigatória de jornalistas,
enquanto impeça o uso pleno dos meios
de comunicação social como veículo para
OBRIGATORIEDADE expressar ou transmitir opiniões, é
DA ASSOCIAÇÃO DE
OPINIÃO inconvencional, pois violaria o art. 13 da
JORNALISTAS E
CONSULTIVA 05 – CADH, causando uma restrição
LIBERDADE DE
1985 desproporcional à liberdade de
EXPRESSÃO E
INFORMAÇÃO expressão.”
Aqui quero deixar registrado uma
importante decisão do STF (2009) que
entendeu ser inconstitucional a exigência
de diploma de jornalista para o exercício
da profissão
Nessa OC, a Corte entendeu que o termo
“leis” contido no artigo 30 da CADH
“significa qualquer norma jurídica de
caráter geral, adequada ao bem comum,
OPINIÃO A EXPRESSÃO
emana dos órgãos legislativo
CONSULTIVA 06 – “LEIS” NO ART. 30
1986 DA CADH
constitucionalmente previstos e
democraticamente elegidos, e elaborada
segundo procedimento constitucional
dos estados-partes para a formação de
leis”, nas palavras do mestre Mazzuoli.
OPINIÃO DIREITO DE O Estado da Costa Rica solicitou à Corte
CONSULTIVA 07 – RESPOSTA OU DE IDH alguns questionamentos sobre o
1986 RETIFICAÇÃO direito de resposta, havendo
estabelecido, segundo Valério Mazzuoli,
que “não há indicação no art. 14.1 dos
termos nos quais a resposta deveria ser
feita (tempo, veículo, prazo, etc.),
condições estas que seriam estabelecidas
por lei segundo o próprio dispositivo.
Dessa linguagem, os magistrados
entenderam que há um requerimento de
que tais condições sejam estabelecidas
para o exercício do direito de retificação,
cujo conteúdo irá variar de um Estado
para outro, dentro de um limite razoável
e conforme os conceitos afirmados pela
Corte”.
Segundo o mesmo autor, o Tribunal citou
a OC 6 (que acabamos de ver) sobre a
expressão “das leis”, na qual restou dito
que o conceito desse termo (dentro da
CADH) deveria ser interpretado
casuisticamente, ou seja, caso a caso.
OPINIÃO SUSPENSÃO DO O art. 27.1 da CADH traz a seguinte
CONSULTIVA 08 – HABEAS CORPUS previsão:
1987 EM PERÍODOS DE Em caso de guerra, de perigo público, ou
EXCEÇÃO de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado
Parte, este poderá adotar disposições
que, na medida e pelo tempo
estritamente limitados às exigências da
situação, suspendam as obrigações
contraídas em virtude desta Convenção,
desde que tais disposições não sejam
incompatíveis com as demais obrigações
que lhe impõe o Direito Internacional e
não encerrem discriminação alguma
fundada em motivos de raça, cor, sexo,
idioma, religião ou origem social.
A pergunta é: o Habeas Corpus está
incluso no rol desses direitos que podem
ser suspensos?
A Corte IDH decidiu que não pode, pois, a
garantia do HC está implicitamente
prevista na expressão “nem das garantias
indispensáveis para a proteção de tais
direitos”, prevista no art. 27.2 da CADH,
vejam:
27.2. A disposição precedente não
autoriza a suspensão dos direitos
determinados seguintes artigos: 3
(Direito ao reconhecimento da
personalidade jurídica); 4 (Direito à vida);
5 (Direito à integridade pessoal); 6
(Proibição da escravidão e servidão); 9
(Princípio da legalidade e da
retroatividade); 12 (Liberdade de
consciência e de religião); 17 (Proteção
da família); 18 (Direito ao nome); 19
(Direitos da criança); 20 (Direito à
nacionalidade) e 23 (Direitos políticos),
nem das garantias indispensáveis para a
proteção de tais direitos.
Em resumo, indagou-se quais seriam os
direitos que poderiam ser suspensos em
caso de perigo público, guerra ou
emergência, conforme disposto no artigo
SUSPENSÃO DE 27 da CADH. A resposta da Corte à
DIREITOS EM presente OC foi bem parecida com a
OPINIÃO
PERÍODOS DE anterior.
CONSULTIVA 09 –
1987
GUERRA, PERIGO Segundo Mazzuoli, “consideram-se
PÚBLICO OU garantias judiciais indispensáveis, não
EMERGÊNCIA suscetíveis de suspensão segundo o art.
27.2 (acabamos de ver, lembram?), o
habeas corpus, ou qualquer outro
recurso efetivo perante juízes e Tribunais
competentes.”
A Corte IDH afirmou ser competente para
emitir OC sobre a Declaração Americana
dos Direitos e Deveres do Homem.
Aqui quero registrar que embora a
POSSIBILIDADE DE Declaração Americana não seja
A CORTE EMITIR formalmente um tratado, nos moldes
PARECER SOBRE A
OPINIÃO trazidos pela Convenção de Viena (a que
DECLARAÇÃO
CONSULTIVA 10 – eu indiquei para que vocês lessem,
AMERICANA DOS
1989 lembram?), isso não impede a Corte IDH
DIREITOS E
DEVERES DO de emitir uma OC sobre possíveis
HOMEM DE 1948 interpretações, até porque a Assembleia
Geral da OEA já reconheceu que a
Declaração é fonte internacional aos
membros da OEA, reafirma Valério
Mazzuoli.
OPINIÃO REQUISITO DE Vimos que para que seja possível o
CONSULTIVA 11 – ESGOTAMENTO peticionamento perante a Comissão
1990 PRÉVIO DOS Interamericana é preciso o esgotamento
RECURSOS prévio dos recursos internos, lembram?
INTERNOS
Vimos também que a própria CADH traz
algumas exceções.
Chegaram até à Corte IDH os seguintes
questionamentos: mas se estivermos
diante de um caso em que o peticionante
for um indigente, que devido à sua
insuficiência de recursos, não tenha a
mínima capacidade de utilizar os
“recursos internos”, mesmo assim seria
necessário esgotá-los? Esses e outros
questionamentos foram feitos à Corte
IDH.
Segundo o professor Mazzuoli, “se um
indivíduo busca proteção legal para
usufruir de seus direitos e encontra
obstáculo decorrente de sua posição
econômica (...) há violação, na medida
em que o Estado tem dever de organizar
o aparato governamental e criar a
estrutura necessária para garantir os
direitos (...)”
Em resumo, caso reste configurado
alguma situação de hipossuficiente
(inclusive econômica), a Comissão poderá
dispensar a exigência do esgotamento
dos recursos internos. Isso é
extremamente relevante para nossa
prova!
A Corte IDH se absteve de responder à
COMPATIBILIDADE presente consulta, em razão de
OPINIÃO
DE PROJETO DE LEI “entender que expressar opinião no
CONSULTIVA 12 –
1991
COM O ART. 8.2H presente processo poderia gerar uma
DA CADH solução disfarçada sobre litígios ainda
não submetidos à apreciação da Corte”.
1. pode qualificar uma norma como
violadora ou não da CADH, porém não
pode determinar se tal norma é
ATRIBUIÇÕES DA compatível com o ordenamento interno
OPINIÃO COMISSÃO do país;
CONSULTIVA 13 – INTERAMERICAN 2. se uma petição é declarada
1993 A DE DIREITOS inadmissível pela Comissão, não cabem
HUMANOS mais pronunciamentos sobre o mérito;
3. seus relatórios não podem ser
publicados em um mesmo documento,
sendo que o primeiro relatório é sigiloso.
OPINIÃO RESPONSABILIDADE Foram feitos os seguintes
CONSULTIVA 14 – DO ESTADO-PARTE questionamentos:
1994 DIANTE DA EDICÃO
DE LEI QUE VIOLA A 1. Quando um estado parte da CADH
CADH
estabelece uma lei que viola
manifestamente as obrigações que o
estado contraiu, ao ratificar tal
instrumento, quais seriam, nesse caso, os
efeitos jurídicos dessa em vista das
obrigações internacionais do Estado?

2. Nesse mesmo caso, na edição de


leis contrárias à CADH, no caso de uma lei
cujo cumprimento por parte dos agentes
públicos traduz em violação manifesta à
convenção, quais são as obrigações
desses agentes?

Bem importante essa OC. Vamos lá.

Segundo Mazzuoli, a Corte decidiu que “a


promulgação de lei manifestamente
contrária às obrigações assumidas por
um Estado, ao ratificar ou aderir à
Convenção, constitui violação desta, e
caso tal norma afete direitos e liberdades
protegidos em relação a individuais
específicos, gera a responsabilidade
internacional do estado”.

Com muita genialidade, pontua o mesmo


autor “finalmente a Corte entendeu, por
unanimidade, que os direitos humanos
protegidos pela Convenção geram
responsabilidade internacional
exclusivamente ao Estado, não lhe
competindo determinar a culpabilidade
ou intencionalidade dos autores
materiais do delito”.
OPINIÃO INFORMES DA a) a Comissão pode modificar os dois
CONSULTIVA 15 – informes emitidos anteriormente e emitir
COMISSÃO
1997 um terceiro?
INTERAMERICANA b) se fosse possível alterar o informe
DE DIREITOS definitivo, qual dos deverá ser
considerado como válido para o Estado?
HUMANOS
Vamos entender.
A Corte IDH dividiu os informes em duas
etapas:
Primeira: Segundo Mazzuoli, na ausência
de solução amistosa, a Comissão tem o
poder de emitir sua opinião e conclusões,
recomendações ao Estado e fixação de
prazo para cumprimento.
Segunda: Na segunda etapa, segundo
sustenta o autor, se a Comissão decide
aplicar esse poder, a Convenção requer
que ao final do prazo fixado seja decidido
se o estado tomou ou não as medidas
adequadas e se será ou não publicado o
informativo contendo opinião,
conclusões e recomendações.
Caio Paiva e Thimotie Aragon, em sua
obra de Jurisprudência Internacional
(2017), informam que: “o pedido de
modificação deve ser realizado pelas
partes interessadas (os peticionários e os
Estados) antes da publicação do próprio
informe e dentro de um prazo razoável,
contado a partir de sua notificação, sob
pena de comprometer a segurança do
processo convencional. No entanto, em
nenhuma hipótese é admitida a
expedição de um terceiro informe pela
Comissão Interamericana.”
A tese fixada pela Corte IDH,
respondendo a diversos
questionamentos do México, em linhas
gerais, foi a de que a assistência consular,
sem dúvidas, é indispensável para a
garantia de pessoas presas em outros
Estados, como também para pessoas que
PENA DE MORTE E foram sentenciadas com a pena máxima
OPINIÃO DIREITO À
(de morte) fora de seus países, assim
CONSULTIVA 16 – INFORMAÇÃO
1999 SOBRE ASSISTÊNCIA
como para as pessoas sentenciadas à
CONSULAR pena de morte.
Nesse sentido, afirma Mazzuoli que “o
direito à informação sobre assistência
consular constitui um meio para a defesa
do acusado, que repercute até
decisivamente, em outros direitos
processuais, como o devido processo
legal”.
OPINIÃO CONDIÇÃO Nas palavras de Valério Mazzuoli, “a
CONSULTIVA 17 – JURÍDICA E Corte conclui então que a carência de
2002 DIREITOS recursos materiais não pode ser o único
HUMANOS DA fundamento para uma decisão judicial ou
CRIANÇA
administrativa que vise à separação da
criança de sua família.”
Isso tem previsão no ECA também, certo?
#ATENT@ Vejam: Art. 23. A falta ou a
carência de recursos materiais não
constitui motivo suficiente para a perda
ou a suspensão do familiar.
Além disso, a Corte reforçou que “para o
exercício e desfrute pleno dos direitos
pela criança, não basta que o Estado se
abstenha de condutas negativas, mas
também que adote providências positivas
para assegurar tal situação”, afirma o
mesmo professor.
Outra OC bem importante para nossa
prova. Segundo a Corte IDH, aponta
Mazzuoli em sua obra:
“para o trabalhador migrante alguns
CONDIÇÃO
direitos ganham caráter fundamental,
OPINIÃO JURÍDICA E
não obstante frequentemente violados,
CONSULTIVA 18 – DIREITOS DOS
2003
como a proibição e abolição do trabalho
MIGRANTES NÃO
infantil, atenção especial à mulher
DOCUMENTADOS
trabalhadora, negociação coletiva,
duração de jornada, segurança e higiene
do trabalho, indenização, tempo de
descanso, dentro outros citados na OC”.
Pode-se concluir que a Comissão
Interamericana tem plena autonomia e
CONTROLE DE independência no exercício de seu
LEGALIDADE EM mandato, conforme a CADH. Por fim, é a
OPINIÃO
RELACÃO ÀS própria Corte IDH, no exercício de suas
CONSULTIVA 19 –
2005
ATRIBUICÕES DA funções, que efetua o controle de
COMISSÃO legalidade das ações da Comissão no que
INTERAMERICANA. se refere aos assuntos sob o
conhecimento do próprio tribunal, afirma
Mazzuoli.
POSSIBILIDADE DE A Corte IDH assentou a tese de que o
UM MAGISTRADO Estado pode indicar um juiz ad hoc
DA MESMA apenas em casos contenciosos em que
OPINIÃO
NACIONALIDADE envolvam outros Estados.
CONSULTIVA 20 –
DO ESTADO
2009
DEMANDADO
PROCESSAR E
JULGAR UM CASO
OPINIÃO CRIANÇAS EM “A migração internacional é um
CONSULTIVA 21 – SITUAÇÃO DE fenômeno complexo, que pode envolver
2014 MIGRAÇÃO vários Estados, sendo que a mobilização
(IMPORTANTÍSSIMA) de crianças pode ter origem tanto numa
busca por proteção, como por
oportunidade ou de outra índole. A Corte
entende que a proteção internacional é
aquela que oferece um Estado a uma
pessoa estrangeira devido ao fato de
seus direitos humanos estarem
vulneráveis ou ameaçados nos eu pais de
origem ou residência habitual”. “Sobre o
assunto, a Corte colocou que no tocante
aos direitos das crianças em situação de
migração, devem ser adotados os
seguintes princípios pelos estados: a) não
discriminação; b) interesse superior da
criança; c) respeito ao direito à vida,
sobrevivência de desenvolvimento e d)
respeito à opinião da criança em todo
procedimento que a afete, garantindo
sua participação”.
OPINIÃO POSSIBILIDADE DE Alunos, imagine a seguinte pergunta em
CONSULTIVA 22 – APLICAÇÃO DA sua prova oral: candidato, pessoas
2016 CADH ÀS PESSOAS jurídicas podem peticionar no sistema
JURÍDICAS interamericano?

Atenção.

A Corte IDH salientou que as pessoas


jurídicas não podem pleitear perante a
sistema interamericano, isso porque o
art. 1.2 da CADH estabelece que os
direitos ali reconhecidos referem a
pessoas, isto é, a seres humanos.

Dessa forma, segundo Mazzuoli, a


conclusão dos magistrados da Corte IDH
foi de que “da interpretação do art. 1.2
da CADH, é claro que as pessoas jurídicas
não são titulares de direitos
convencionais, pelo que também não
podem figurar como vítimas nos
processos contenciosos do sistema
interamericano.”

No entanto, a Corte fez ressalva com


relação às comunidades indígenas e
tribais (anotem que isso vai cair), pois
estas são titulares de direitos protegidos
pelo sistema.

O professor ainda assevera que:

“a Corte ressaltou que (...) com base na


boa fé, implica concluir que a titularidade
de direitos também foi conferida às
organizações sindicais, possibilitando a
estas figurar no sistema interamericano
defendendo seus próprios direitos (...).
Os magistrados (da Corte IDH) ainda
sustentaram que em determinadas
hipóteses, o indivíduo que exerça seus
direitos por meio de pessoa jurídica pode
recorrer ao sistema para defender seus
direitos fundamentais, mesmo que
quando envolto por uma figura jurídica.”

Em outras palavras, deve-se analisar cada


caso, a fim de verificar a possibilidade de
um particular (pessoa física) exercer seus
direitos de pessoa natural através de
uma pessoa jurídica.
OPINIÃO MEIO AMBIENTE E Essa opinião consultiva caiu na prova da
CONSULTIVA 23 – DIREITOS DPE-AM de 2018. É muitíssima relevante,
2017 HUMANOS. pessoal, pois foi a primeira vez em que a
OBRIGAÇÕES Corte Interamericana de Direitos
AMBIENTAIS
Humanos desenvolveu de forma
ESPECÍFICAS
detalhada o conteúdo “direito ao meio
DERIVADAS DA
CADH. ambiente sadio”, inclusive reconhecendo
DETALHAMENTO os direitos de acesso à informação,
DO CONTEÚDO DO participação pública e acesso à justiça em
DIREITO AO MEIO matéria ambiental.
AMBIENTE SADIO
Anota Mazzuoli (2019), que a Corte IDH
reconheceu uma relação clara entre a
proteção ao meio ambiente e a
realização de outros direitos humanos.
Assim, a Corte pontua que os Estados
têm a obrigação de prevenir danos
ambientais significativos, dentro ou fora
de seu território (princípio da prevenção).
Nesse caso, importante asseverar que o
princípio da precaução (que não se
confunde com prevenção) está associado
às medidas que devem ser adotados em
casos no quais não haja certeza científica
sobre o impacto que certa atividade
possa gerar no meio ambiente.
Eu gostaria de registrar aqui que a CADH
não traz garantias diretas quanto ao meio
ambiente. No sistema americano, quem
cuidou disso foi o Protocolo de San
Salvador, que trouxe, além de direitos de
segunda dimensão, direitos de terceira
dimensão (difusos, e aqui se encontra,
para a maioria esmagadora da doutrina,
o direito ambiental).
Por fim, pecando pelo excesso, existe um
tema que está na moda, que é o
Greening, ou também chamado de
“esverdeamento”, que consiste na
proteção jurídica internacional do meio
ambiente, como em alguns casos
julgados pela Corte IDH, a exemplo do
caso Comunidade Moiwana x Suriname.
OPINIÃO IDENTIDADE DE “Os Estados têm a possibilidade de
CONSULTIVA 24 – GÊNERO, estabelecer e decidir sobre o
2017 IGUALDADE E NÃO procedimento mais apropriado de acordo
DISCRIMINAÇÃO DE com as características de cada contexto e
CASAIS DO MESMO
sua legislação nacional, os trâmites para
SEXO
a mudança de nome, adequação de
imagem e retificação da referência ao
sexo ou gênero, nos registros e nos
documentos de identidade, para que
estejam de acordo com a identidade de
gênero autopercebida,
independentemente de sua natureza
jurisdicional ou materialmente
administrativa;
(...)
A Convenção Americana protege, em
virtude do direito à proteção da vida
privada e familiar (artigo 11.2), assim
como o direito à proteção da família
(artigo 17), o vínculo familiar que possa
derivar de uma relação de um casal do
mesmo sexo. A Corte estima também que
devem ser protegidos, sem discriminação
alguma, com respeito aos casais de
pessoas heterossexuais, em
conformidade com o direito à igualdade e
à não discriminação (artigos 1.1 e 24),
todos os direitos patrimoniais que
derivam do vínculo familiar protegido
entre pessoas do mesmo sexo. Sem
prejuízo do anterior, a obrigação
internacional dos Estados transcende as
questões vinculadas unicamente a
direitos patrimoniais e se projeta a todos
os direitos humanos internacionalmente
reconhecidos, assim como aos direitos e
obrigações reconhecidos no direito
interno de cada Estado que surjam dos
vínculos familiares de casais
heterossexuais”.
Em 2018, o Conselho Nacional de Justiça
editou o Provimento 73/2018, que
institui regras para as pessoas trans
mudarem nome e gênero em suas
certidões de nascimento ou casamento
diretamente nos cartórios, ou seja, sem
precisarem de decisão judicial, em que
maiores de 18 anos podem requerer a
alteração desses dados “a fim de adequá-
los à identidade autopercebida”.
Recentemente, nos autos da Arguição de
Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 527, o Ministro
Barroso, do STF, decidiu que “Transexuais
e travestis com identificação com gênero
feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou
masculino”.
A Corte opinou, por unanimidade, que o
DIMENSÕES DOS direito de buscar e receber asilo no
OPINIÃO
ASILOS âmbito do sistema interamericano
CONSULTIVA 25 –
2018
TERRITORIAL E configura-se um direito humano de
DIPLOMÁTICO buscar e receber proteção internacional
em território estrangeiro.
OPINIÃO ANALISAR O Questionamentos feitos pelo Estado da
CONSULTIVA 26 – ALCANCE DAS Colômbia:
2020 OBRIGAÇÕES EM 1. A luz do direito internacional,
MATÉRIA DE convencional e consuetudinário, e em
DIREITOS
especial, a Declaração Americana de
HUMANOS DE UM
Direitos e Deveres do Homem de 1948,
ESTADO QUE
DENUNCIE A quais são as obrigações em matéria de
CONVENÇÃO direitos humanos que tem um Estado
AMERICANA SOBRE membro da OEA que denunciou a CADH?
DIREITOS 2. Quais são os efeitos sobre as
HUMANOS E TEM obrigações em matéria de direitos
INTERESSE EM humanos que subsistem caso o referido
RETIRAR-SE DA Estado também denuncie a Carta da
ORGANIZAÇÃO DOS Organização dos Estados americanos e
ESTADOS procuram retirar se da Organização?
AMERICANOS -OEA. 3. Quais os mecanismos de que
dispõe a Comunidade Internacional, em
especial os Estados membros da OEA,
para exigir o cumprimento das
obrigações, e de outro lado, os indivíduos
sujeitos à jurisdição do Estado de exigir a
proteção de seus direitos humanos,
quando surge um quadro de graves e
sistemáticas violações de direitos?
Segundo professores em estudo
publicado na Revista Brasileira de Direito
Internacional, temos as seguintes
respostas:
“No tocante ao questionamento que
versa sobre as obrigações em matéria de
direitos humanos que tem um Estado-
membro da OEA que denunciou a CADH,
a luz do direito internacional,
convencional e consuetudinário, e em
especial, a Declaração Americana de
Direitos e Deveres do Homem de 1948-
DADDH, a CIDH fundamentou sua posição
no sentido de que o instrumento é fonte
de obrigações acordos internacionais
para todos os Estados membros da OEA,
conforme estabelecido no tratado
constitutivo que deu origem à
Organização. E que apesar de não ter a
formalização e um tratado internacional,
a seu significado durante toda a sua
evolução extrapolou esta necessidade de
forma (CORTE IDH.2021).O sistema
convencional, que contém os direitos
humanos, não é a fonte exclusiva do
Sistema Interamericano, mas encontra
sua fonte também em diversos tratados
formalizados no âmbito do sistema e
ainda outras competências para a
Comissão e a Corte, e outros
órgãos da OEA, que fazem parte do
sistema internacional americano. A CIDH
convalida seu entendimento de que a
denúncia da Convenção Americana não a
afeta obrigações internacionais de
direitos humanos, decorrentes da CADH,
bem como de outros tratados
internacionais de direitos humanos que o
Estado seja parte e se encontrem em
vigor. Aliado a esse fato, a CIDH preserva
suas competências para “conocer
peticiones individuales e n conformidad
con los artículos 51 y 52 de su
Reglamento, y medidas cautelares, según
lo establecido en el a rtículo 25 del
mismo instrumento (CORTE IDH.2021)”.
E ainda com base no art. 106 da Carta da
OEA, que a CIDH também mantém suas
competências de monitoramento e
cooperação técnica em matéria de
direitos humanos, “relacionadas con la
realización de visitas in loco; inclusión del
Estado denunciante en suInforme Anual y
otros informes establecido; convocatoria
del Estado denunciante a audiencias,
todas ellas establecidas en los capítulos
IV, V y VI del Reglamento de la Comisión
(CORTE IDH.2021)".8
Em relação aos efeitos sobre as
obrigações em matéria de direitos
humanos que subsistem caso o referido
Estado também denuncie a Carta da
Organização dos Estados americanos
deve ser ressaltado que o sistema
interamericano deve visar à
universalidade da ratificação dos
instrumentos de direitos humanos, como
reflexo de seu caráter universal,
indivisível e interdependente. Para a
CIDH, a plena observância dos direitos
humanos é essencial para a construção
de democracias sólidas e inclusivas nas
Américas.
Em relação ao terceiro questionamento
feito na OC 26/2020, referente aos
mecanismos de que dispõe a
Comunidade Internacional, em especial
os Estados- membros da OEA, para exigir
o cumprimento das obrigações, e de
outro lado, os indivíduos sujeitos à
jurisdição do Estado de exigir a proteção
de seus direitos humanos, quando surge
um quadro de graves e sistemáticas
violações de direitos, a CIDH entende que
os tratados de direitos humanos são
diferentes de quaisquer outros tratados
possuem características especiais em
razão da matéria.
OPINIÃO DIREITOS SINDICAIS A opinião consultiva nº 27 é bem recente
CONSULTIVA 27 - (2021), e foi feita pela Comissão
2021 Interamericana à Corte IDH. Os
questionamentos feitos pela Comissão
foram basicamente os seguintes: qual o
alcance dos direitos sindicais? Qual o
alcance da negociação coletiva, e qual a
relação disso com a liberdade de
associação, expressão e de reunião? Qual
o alcance dos direitos das mulheres nessa
temática da liberdade sindical e qual o
papel do Estado na proteção desses
direitos?
A Corte IDH respondeu em cinco pontos.
O primeiro ponto respondido pela Corte
é que os sindicatos devem gozar de uma
proteção específica aos sindicalizados, a
fim de que seu emprego seja garantido
além do exercício da função de
sindicalizado. Para a Corte IDH, os
sindicatos devem ter personalidade
jurídica garantida pela lei. Além disso,
deve o Estado garantir que os sindicatos
tenham ferramentas para atuar dentro
no ordenamento.
O segundo ponto respondido pela Corte
é sobre a negociação coletiva. A Corte
entendeu que o direito à negociação
coletiva é um direito essencial da
liberdade sindical. Entendeu também que
o Estado deve fomentar a prática das
negociações coletivas. Porém, a
negociação coletiva não pode ser in
pejus. Assim, se há uma determinada lei
garantindo direito a um determinado
grupo, a negociação coletiva não pode
reduzir esse direito para este grupo.
Terceiro ponto é sobre o direito de greve.
A Corte entendeu que o direito de greve
é um direito fundamental dos
trabalhadores. Trata-se de uma forma de
se garantir direitos econômicos, sociais e
profissionais. O Estado então deve
garantir esses meios, o que não quer
dizer que não possam ser estabelecidas
condições prévias (regulamentações)
para esse direito. Também deixou
consignado que a faculdade de decretar a
ilegalidade de uma greve,
eventualmente, tem que ser por um
órgão judicial, nunca por um órgão
administrativo.
O quarto ponto foi com relação a
mulheres. A Corte entendeu que as
mulheres têm os mesmos direitos que os
homens de exercer funções de líder
sindical, de estar atuando na forma de
trabalhadora sindicalizada, e mencionou
também que é preciso a tutela da mulher
grávida e do homem que seja pai de
criança. A mulher não pode, de forma
alguma, sofrer qualquer tipo de
discriminação e ser analisada de forma
não equiparada ao homem no mercado
de trabalho. A Corte também falou sobre
a necessidade de se prevenir a violência
sexual no ambiente de trabalho.
O quinto e último ponto que a corte
tratou foi sobre as novas tecnologias. A
legislação trabalhista precisa ser vista sob
um viés evolutivo, considerando o novo
mercado de trabalho (mercado de
trabalho mais digital). Os trabalhadores
que estão inseridos em trabalhos digitais
também precisam estar assegurados do
ponto de vista trabalhista.
OPINIÃO POSSIBILIDADE DE O Estado da Colômbia levou o seguinte
CONSULTIVA 28 – SE PERMITIR questionamento ao conhecimento da
2021 REELEIÇÕES POR Corte IDH: é possível se permitir
TEMPO reeleições por tempo indefinido?
INDEFINIDO Adiantamos que a Corte IDH entendeu
que reeleições por tempo indefinido não
é compatível com a ideia de democracia
prevista pela OEA.
Em 2019, Evo Morales se candidatou à
sua quarta reeleição e ganhou.
Questionado sobre essa reeleição por
tempo indefinido, ele justificou que
haveria um direito humano a ser
candidato e, portanto, de se candidatar
indefinidamente.
O Estado da Colômbia fez os seguintes
questionamentos, que foram
respondidos pela Corte IDH:
a) existe direito a reeleições
indefinidas? A Corte entendeu que não
existe. Para a Corte, não existe direito
humano autônomo a reeleições
indefinidas, seja na CADH, na Carta
Democrática Interamericana ou na
Declaração Americana.
b) A proibição de reeleições
indefinidas ofende o art.3º da CADH?
Não. Para a Corte IDH, proibir reeleições
indefinidas é uma restrição do direito de
ser eleito, porém, essa restrição está
dentro de todo um sistema que visa
proteger o estado democrático de
direito.
c) Estabelecer reeleições indefinidas
fere a CADH? Fere. Quando se limita a
reeleição, está se protegendo o
pluralismo político, partidos políticos e
aumentando a independência e a
separação dos poderes.
A Corte IDH, ao responder esse
questionamento da Colômbia, dividiu
essa resposta em três itens: a)
democracia, estado de direito e direitos
humanos; b) princípios da democracia
representativa e; c) compatibilidade da
reeleição presidencial com a CADH (art.
23). A Corte asseverou que tudo que
embasou sua decisão na OC 28/2021
também se utilizou os artigos 3 e 4 da
Carta Democrática Interamericana.
Segundo a Corte, a democracia é um
regime que deve proteger as minorias, e
não uma ditadura da maioria.
Ademais, asseverou a Corte IDH que para
haver uma democracia representativa
precisamos de quatro elementos: 1)
periodicidade das eleições; 2) pluralismo
político; 3) obrigação de evitar que uma
pessoa se perpetue no poder de forma
indefinida; e 4) garantia da separação de
poderes.

V) OEA E A VALORIZAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA

RESOLUÇÃO É o primeiro documento normativo aprovado pela OEA que aborda o


2.656 (XLI- tema do acesso à justiça como um direito autônomo e impulsiona o
papel da Defensoria Pública. Na Resolução 2.656 (XLI-0/11), de 7 de
julho de 2011, a OEA, além de reconhecer que o acesso à justiça é
um direito humano fundamental, e que somente por meio dele se
pode restabelecer o exercício dos direitos que tenham sido
ignorados ou violados, veio expressamente apoiar “o trabalho que
vêm desenvolvendo os defensores públicos oficiais dos Estados do
Hemisfério, que constitui um aspecto essencial para o
fortalecimento do acesso à justiça e à consolidação da democracia”
(art. 2º). Na mesma Resolução também se recomendou “aos
Estados-membros que já disponham do serviço de assistência
jurídica gratuita que adotem medidas que garantam que os
defensores públicos oficiais gozem de independência e autonomia
funcional” (art. 4º). Relativamente aos Estados que ainda não têm
Defensoria Pública, a Resolução recomenda “que considerem a
possibilidade de criá-la em seus ordenamentos jurídicos” (art. 5º).
Como decorrência dessa recomendação da OEA, o Congresso
Nacional brasileiro finalmente inseriu (por meio da Proposta de
Emenda à Constituição nº 80/2014) um §4º ao art. 134 da
Constituição, consagrando expressamente como princípios básicos
da Defensoria Pública “a unidade, a indivisibilidade e a
independência funcional”. Trata-se de uma conquista de todos os
defensores públicos brasileiros, proveniente do sistema regional
interamericano, que fortalece a instituição e qualifica os defensores
0/11) como agentes de transformação social. Tal está a demonstrar que os
instrumentos de soft law – esse é o caso da Resolução 2.656 (XLI-
0/11) da OEA – comportam certa eficácia nas ordens internas dos
Estados, fazendo operar até mesmo alterações legislativas (inclusive
de índole constitucional) no plano doméstico. Como mínimo
eficacial, porém, destaque-se que tais normativas hão de servir de
baliza às ações dos Estados para o fim de que estejam adequadas
aos padrões básicos reconhecidos pelo direito internacional.
DESTAQUES DA LITERALIDADE DA RESOLUÇÃO:
2. Apoiar o trabalho que vêm desenvolvendo os defensores públicos
oficiais dos Estados do Hemisfério, que constitui um aspecto
essencial para o fortalecimento do acesso à justiça e à consolidação
da democracia
3. Afirmar a importância fundamental do serviço de assistência
jurídica gratuita para a promoção e a proteção do direito ao acesso à
justiça de todas as pessoas, em especial daquelas que se encontram
em situação especial de vulnerabilidade.
4. Recomendar aos Estados membros que já disponham do serviço
de assistência jurídica gratuita que adotem medidas que garantam
que os defensores públicos oficiais gozem de independência e
autonomia funcional
5. Incentivar os Estados membros que ainda não disponham da
instituição da defensoria pública que considerem a possibilidade de
criá-la em seus ordenamentos jurídicos.
Visa a estabelecer a “Defensoria Pública Oficial como garantia de
Resolução acesso à justiça para as pessoas em condições de vulnerabilidade”.
2.714/2012: Essa Resolução foi importante para a implementação da Emenda
Constitucional nº 74/2013 e da Emenda Constitucional nº 80/2014.
O documento intitulado “Rumo à autonomia e ao fortalecimento da
Defensoria Pública Oficial para garantir o acesso à justiça” visa
aprofundar o compromisso dos Estados-membros e também
normatizar o trabalho dos defensores na proteção dos direitos
humanos. Abaixo, apenas o que você precisa saber sobre as
Resoluções:
a) Para a OEA o acesso à justiça, tão fundamental, é também o meio
que possibilita restabelecer o exercício dos direitos que tenham sido
ignorados ou violados. Salientou que o acesso à justiça não se esgota
com o ingresso das pessoas na instância judicial, mas que se estende
ao longo de todo o processo, o qual deve ser instruído segundo os
princípios que fundamentam o Estado de Direito;
b) A OEA reafirmou a importância fundamental do serviço de
RESOLUÇÃO assistência jurídica gratuita prestado pelos defensores públicos
AG/RES. oficiais para a promoção e a proteção do direito ao acesso à justiça
2821 (XLIV- de todas as pessoas, em especial daquelas que se encontram em
O/14) situação especial de vulnerabilidade em todas as etapas do
processo; c) É de fundamental importância que a defensoria pública
oficial goze de independência e autonomia funcional e técnica.
Nesse sentido, a OEA reiterou uma vez mais aos Estados membros
que já dispõem do serviço de assistência jurídica gratuita, que
adotem medidas destinadas a que os defensores públicos oficiais
contêm com um orçamento adequado e gozem de independência,
autonomia funcional, financeira e/ou orçamentária e técnica. Tal
independência visa garantir um serviço público eficiente, livre de
ingerências e controles indevidos por parte de outros poderes do
Estado.
d) A OEA incentivou novamente os Estados que ainda não
disponham da instituição da defensoria pública que considerem a
possibilidade de criá-la em seus ordenamentos jurídicos.
RESOLUÇÃO Sobre a Resolução nº 2.887/2016, apesar de ter sido aprovada em
Nº espanhol, o site da ANADEP74 pontuou que:
2.887/2016 “A Organização dos Estados Americanos (OEA) deu mais um
importante passo em prol do fortalecimento da Defensoria Pública.
Durante o 46º Período Ordinário de Sessões da Assembleia Geral da
OEA, que ocorreu em Santo Domingo (República Dominicana), de 13
a 15 de junho, foi aprovada a Resolução AG/RES nº 2.887/2016. O
documento intitulado “Promoção e proteção dos direitos humanos”
tem por objetivo aprofundar o compromisso dos Estados-membros
da Associação Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF) e
também normatizar o trabalho dos defensores na proteção dos
direitos humanos. A Resolução aponta a importância da assistência
jurídica gratuita e o papel das Defensorias Públicas na sociedade e,
principalmente, para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Ao
todo, a Resolução apontou 21 pontos para serem trabalhados. Entre
os principais estão: o reconhecimento e a promoção dos direitos das
pessoas de ascendência africana nas Américas; proteção dos
refugiados nas Américas; recomendações sobre o Relatório Anual da
Corte Interamericana de Direitos Humanos; observações e
recomendações sobre o Relatório Anual da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos; combate à tortura e outros
castigos cruéis, desumanos ou degradantes; acompanhamento do
Programa Interamericano para o Registro Civil Universal e "Direito à
Identidade"; apoio à Comissão para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência, CEDDIS e à sua
Secretaria Técnica; proteção dos Direitos Humanos dos Idosos; o
combate à violência contra a Mulher e outros. “O documento é uma
ferramenta importante de trabalho para as Defensorias Públicas em
todo o continente americano. As resoluções ampliam a autonomia
das Defensorias e estimulam a troca de experiências e boas práticas
entre as Instituições. Além disso, é um viés fundamental no desenho
de políticas públicas da área”.
(...) O documento intitulado tem por objetivo aprofundar o
compromisso dos Estados-membros da OEA e ressaltar o papel da
Instituição como instrumento eficaz na garantia do acesso à Justiça
das pessoas em situações de vulnerabilidades. A Resolução aponta
também que é imprescindível o respeito à independência das
defensoras e defensores públicos no exercício de suas funções.
RESOLUÇÃO Entre outros pontos da normativa, estão as atividades institucionais
Nº voltadas para as pessoas privadas de liberdade. As medidas a serem
2.928/2018 adotadas pelas Defensorias Públicas em toda a América são: a
criação de mecanismos para monitorar os centros de detenção,
especialmente para prevenir e denunciar o tratamento cruel,
desumano e degradante aos apenados; a redução da prisão
preventiva; e a adoção de tratamento digno e diferenciado para
proteção de grupos LGTTs, por exemplo, historicamente
discriminados no ambiente prisional.

VI) DEFENSOR PÚBLICO INTERAMERICANO

ORIGEM A Defensoria Pública Interamericana surgiu em 2009 após a


celebração de um convênio entre a Corte IDH (sistema
americano) e a AIDEF (Associação Interamericana de
Defensorias Públicas). Perceba, portanto, que este convênio
foi realizado entre a Corte e a AIDEF. A Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em tese, não
fazia parte do convênio. No entanto, cuidado, pois em 2013
houve uma ampliação deste convênio, a fim de possibilitar a
atuação dos Defensores Públicos Interamericanos também na
Comissão Interamericana.
 A previsão normativa do Defensor Público Interamericano é
somente no regulamento da Corte (art. 2.11 do Regulamento
da Corte). CUIDADO: não há previsão convencional do
Defensor Público Interamericano. Assim, na leitura da CADH
vocês não encontrarão tal figura, o que demanda cuidado na
resolução de questões, principalmente as fechadas.
“Defensor Interamericano” significa a pessoa que a Corte
designe para assumir a representação legal de uma suposta
vítima que não tenha designado um defensor por si mesma.
CONCEITO DE
 No entanto, compete a AIDEF aceitar ou não o caso
DEFENSOR
apresentado pela Corte ou Comissão, oportunidade em que
PÚBLICO
deverá escolher dentre Defensoras e Defensores presentes em
INTERAMERICANO
uma lista formada mediante a indicação de 2 Defensores por
cada um dos países que compõe a AIDEF, sendo 2 titulares e 1
suplente.
Perante a Corte não há necessidade de a vítima comprovar
hipossuficiência financeira para ser assistida por um DPI;
haverá a designação de um DPI para atuar no caso, se a vítima
CONCEITO DE
carecer de recursos econômicos OU não possuir representação
NECESSITADO
legal (requisitos alternativos). Ou seja, trata-se de um conceito
mais amplo de necessitado, que abrange uma vulnerabilidade
além da meramente financeira.
MANDATO Há previsão no Regulamento Unificado que os defensores
públicos são eleitos para um período de três anos, podendo
ser reeleitos para somente um período consecutivo (art. 6.5).
E de acordo com o Regulamento Unificado, os defensores
públicos interamericanos somente devem ser afastados ou
licenciados de suas atividades na respectiva Defensoria Pública
nacional de origem para atuarem nos casos para os quais
forem designados, não sofrendo, nesse período, nenhuma
diminuição nem perda de sua remuneração (art. 8.1).
CRITÉRIOS DE ESCOLHA DO DEFENSOR PÚBLICO AMERICANO
a) que um defensor público interamericano não pertença ao
Estado denunciado;
b) que os demais defensores públicos interamericanos (os
CRITÉRIOS
outros dois) pertençam ao Estado denunciado, salvo se, por
OBJETIVOS
disposições internas, não estiverem autorizados para
demandar contra seu próprio Estado, ou que não exista dentro
da lista de defensores públicos interamericanos um nacional
do Estado denunciado;
a) a índole dos direitos violados;
b) as circunstâncias do caso;
CRITÉRIOS c) a formação curricular e acadêmica do defensor público
SUBJETIVOS interamericano; e
d) a experiência do defensor público interamericano em
intervenções ou litígios que guardem relação com a índole dos
direitos violados e as circunstâncias do caso.
5) MIGRAÇÕES E REFUGIADOS (TEORIA GERAL DO DIREITO MIGRATÓRIO)

TEORIA GERAL DO DIREITO MIGRATÓRIO


A teoria geral do direito migratório trata da mobilidade humana, que visa dar
respostas a questões globais de migração e que não se restrinjam apenas ao Brasil,
ou seja, aplicáveis em todo o mundo. Trata-se uma teoria global de análise, mas com
pouca repercussão, ainda, no Brasil. É deliberadamente inclusiva, já que,
inicialmente, ela não categoriza a forma ou a motivação de ingresso. Reconhece o
migrante como um sujeito internacional de direitos, alvo de proteção. Em um
segundo momento, o intérprete pode se valer de instrumentos específicos, mais
relacionado a forma de migração.
 A principal decisão nesse sentido é a OC nº 18, da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, que trata dos direitos dos migrantes indocumentados e acesso a direitos.
 Regras de Brasília Sobre o Acesso à Justiça das Pessoas em Condição de
Vulnerabilidade, migração e deslocamento interno: (4) Poderão constituir causas de
vulnerabilidade, entre outras, as seguintes: a idade, a incapacidade, a pertença a
comunidades indígenas ou a minorias, vitimização, a migração e o deslocamento
interno, a pobreza, o gênero e a privação de liberdade.
 Ainda de acordo com as referidas Regras, a deslocação de uma pessoa fora do
território do Estado da sua nacionalidade pode constituir uma causa de
vulnerabilidade, especialmente nos casos dos trabalhadores migratórios e seus
familiares.
 Considera-se trabalhador migratório toda a pessoa que vá realizar, realize ou
tenha realizado uma atividade remunerada num Estado do qual não seja nacional.
Assim reconhecer-se-á uma proteção especial aos beneficiários do estatuto de
refugiado conforme a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, assim
como aos solicitantes de asilo.
 Também podem encontrar-se em condição de vulnerabilidade os DESLOCADOS
INTERNOS, entendidos como pessoas ou grupos de pessoas que se tenham visto
forçados ou obrigados a escapar ou a fugir do seu local ou do seu lugar de residência
habitual, em particular como resultado ou para evitar os efeitos de um conflito
armado, de situações de violência generalizada, de violações dos direitos humanos
ou de catástrofes naturais ou provocadas pelo ser humano, e que não cruzaram uma
fronteira estatal internacionalmente reconhecida.
 Pode-se defender, ainda, o princípio da não criminalização da migração e a
expansão da teoria geral do direito migratório para além das movimentações
internacionais, mas de forma a incluir as movimentações internas (inclusive, para os
deslocados intraurbanos).
 É necessário haver na DPU uma área de atuação exclusiva para tratar o tema
migratório? Sim, hoje, cada vez mais, existe uma demanda relacionada ao direito
migratório. Recentemente o CNJ publicou uma resolução sobre o tratamento de
imigrantes presos ou acusados, que vale a pena conhecer.
A TEORIA GERAL DO DIREITO MIGRATÓRIO ESTRUTURA-SE EM:
SAÍDA: o direito de sair de determinado país. A saída só pode ser restrita
por lei, como forma de se proteger outro bem jurídico (por
exemplo, na atual situação de pandemia, o direito à saúde).
ADMISSÃO: é o direito de retorno para seu próprio país, princípio do non-
refoulement, direito a reunião familiar (no melhor interesse da
criança), proibição de detenções arbitrárias, acesso à proteção
consular e a proibição das deportações e expulsões coletivas (falta
de fundamentação e análise de cada caso).
PERMANÊNCI princípio da não discriminação (trata-se da chave de um direito
A (a mais internacional migratório para o migrante indocumentado e
relacionada ao justifica o acesso aos direitos sociais) Obs.: nesse sentido, a OC nº
cotidiano da 18 da Corte IDH (não se pode vedar o acesso a um direito tendo
Defensoria por base a origem do indivíduo). Também em relação aos direitos
Pública): dos residentes, a proibição da escravidão, dos trabalhos forçados e
do trabalho infantil, o direito a um julgamento justo e acesso à
justiça (de forma igualitária a dos nacionais, inclusive com acesso à
defensoria pública), liberdade de consciência, expressão e
manifestação (o revogado Estatuto do Estrangeiro vedava o direito
associação para o migrante).
MARCO NORMATIVO BRASILEIRO
 O Brasil, durante décadas, teve sua migração regida pela Lei nº 6.815/80 (Estatuto
do Estrangeiro), que tinha como característica marcante a adoção de um paradigma
autoritário e securitário sobre o fenômeno migratório. Houve um esforço muito
grande para que fosse aprovada, em 2017, a Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração),
revogando o Estatuto do estrangeiro e promovendo um novo marco para o tema no
Brasil. Há uma mudança de paradigma no direito migratório brasileiro, uma vez que
o migrante passa a ser visto como sujeito de direitos. O migrante deixa de ser uma
ameaça e passa a ser visto como alguém que compõe a sociedade brasileira.
 IMPORTANTE: Não houve revogação da Lei nº 9.474/97 (Lei do Refúgio). Ambas as
leis convivem no ordenamento jurídico brasileiro, sendo a lei de refúgio um caso
especial do fenômeno migratório.
 Há, ainda, o Decreto nº 9.199/2017, que regulamenta a Lei de Migração. Trata-se
de um instrumento normativo com aspectos manifestamente ilegais, que excederam
o poder regulamentar.
 E uma série de instrumentos infralegais (especialmente portarias do Poder
Executivo) que regulamentam o tema.
Com a nova lei de migração, houve um salto substancial de qualidade no quadro de
tratamento jurídico do migrante. Mas, há, ainda, uma “colcha de retalhos”
normativa sobre o tema, o que gera uma dificuldade muito grande para lidar com o
tema. O direito migratório deve ser pensado como algo em construção no Brasil.
Com a Pandemia da Covid-19, o mundo tende a ser cada vez mais resistente a
mobilidade humana e há um risco muito grande de aumento da xenofobia.

CASO VÉLEZ LOOR VS PANAMÁ


No Caso Vélez Loor, a Corte IDH decidiu que os Estados não devem fixar políticas
migratórias voltadas à detenção arbitrária e que, se houver necessidade, a detenção
deve ser analisada casuisticamente. No mesmo Caso, a Corte IDH entendeu que
estrangeiros presos em situação migratória, ou seja, aqueles que apresentam
qualquer tipo de problema relacionado ao ingresso ou saída do país (condição de
irregularidade, provável solicitante de refúgio, etc.), também tem direito à
realização da audiência de custódia.

Sobre direito migratório, você também precisa saber da existência da Opinião


Consultiva nº 21:
(...) Essa consulta resultou na Opinião Consultiva n.º 21, de 19 de agosto de 2014,
pela qual a Corte Interamericana entendeu, entre outros, que os Estados “se
encontram obrigados a identificar as crianças estrangeiras que necessitam de
proteção internacional dentro de suas jurisdições, através de uma avaliação inicial
com garantias de segurança e privacidade, com o fim de lhes proporcionar o
tratamento adequado e individualizado que seja necessário de acordo com sua
condição de crianças e, em caso de dúvida sobre a idade, avaliar e determinar a
mesma; determinar se se trata de uma criança desacompanhada ou separada, assim
como sua nacionalidade ou, se for o caso, sua condição de apátrida; obter
informação sobre os motivos de sua saída do país de origem, de sua separação
familiar se for o caso, de suas vulnerabilidades e qualquer outro elemento que
evidencie ou negue sua necessidade de algum tipo de proteção internacional; e
adotar, caso seja necessário e pertinente, de acordo com o interesse superior da
criança, medidas de proteção especial”.”

CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS


CONCEITO Qualquer pessoa que em consequência dos acontecimentos
DE ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida
REFUGIADO por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção
desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do
país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais
acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer
voltar a ele. No caso de uma pessoa que tem mais de uma
nacionalidade, a expressão "do país de sua nacionalidade" se refere
a cada um dos países dos quais ela é nacional. Uma pessoa que, sem
razão válida fundada sobre um temor justificado, não se houver
valido da proteção de um dos países de que é nacional.
 CUIDADO: É importante esclarecer que o marco temporal previsto
no art. 1 da Convenção (acabamos de ver acima) não vale em razão
do Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados, e no caso
dos países latino-americanos, a Declaração de Cartagena de 1984.
 Ademais, atenção também que o dispositivo se preocupou, e não
poderia ser diferente diante da sistemática do Direito Internacional,
com a figura do apátrida (conforme se depreende do trecho “ou que,
se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha
sua residência habitual”). Dessa forma, pessoas nessa situação
também podem ser consideradas refugiadas caso se enquadrem no
conceito legal.
CASOS EM 1) se ela (pessoa refugiada) voltou a valer-se da proteção do país de
QUE que é nacional; ou
CESSARÁ A 2) se havendo perdido a nacionalidade, ela a recuperou
APLICAÇÃO voluntariamente; ou
DA 3) se adquiriu nova nacionalidade e goza da proteção do país cuja
CONVENÇÃO nacionalidade adquiriu; ou
4) se se estabeleceu de novo, voluntariamente, no país que
abandonou ou fora do qual permaneceu por medo de ser
perseguido; ou
5) se, por terem deixado de existir as circunstâncias em
consequência das quais foi reconhecida como refugiada, ela não
pode mais continuar a recusar valer-se da proteção do país de que é
nacional.
CASOS EM As disposições desta Convenção não serão aplicáveis às pessoas a
QUE NÃO SE respeito das quais houver razões sérias para pensar que:
APLICA A a) elas cometeram um crime contra a paz, um crime de guerra ou um
CONVENÇÃO crime contra a humanidade, no sentido dos instrumentos
internacionais elaborados para prever tais crimes;
b) elas cometeram um crime grave de direito comum fora do país de
refúgio antes de serem nele admitidas como refugiados;
c) elas se tornaram culpadas de atos contrários aos fins e princípios
das Nações Unidas.

PRINCÍPIO DO NON-REFOULEMENT NON-REFOULEMENT INDIRETO


REGRA: O princípio do non-refoulement O “non-refoulement indireto” impede a
é instituto de Direito Internacional dos devolução do estrangeiro para país que
Refugiados, segundo o qual “nenhum possa vir a facilitar ou determinar seu
dos Estados Contratantes expulsará ou retorno para o Estado onde sofrerá
rechaçará, de maneira alguma, um perseguição, por isso o nome indireto.
refugiado para as fronteiras dos Anote-se que este princípio foi
territórios em que a sua vida ou a sua reconhecido pela Corte IDH no caso
liberdade seja ameaçada em virtude da Família Pacheco Tineo Vs Bolívia.
sua raça, da sua religião, da sua
nacionalidade, do grupo social a que
pertence ou das suas opiniões políticas”.
(Convenção Relativa ao Estatutos dos
Refugiados, art.33).
EXCEÇÃO: O benefício da presente
disposição não poderá, todavia, ser
invocado por um refugiado que por
motivos sérios seja considerado um
perigo para a segurança do país no qual
ele se encontre ou que, tendo sido
condenado definitivamente por crime ou
delito particularmente grave, constitui
ameaça para a comunidade do referido
país. (art.33.2)
FAMÍLIA PACHECO TINEO VS BOLÍVIA
Foi no Caso Família Pacheco Tineo vs Bolívia que a Corte IDH analisou um caso
envolvendo o princípio do non-refoulement. Neste caso, “a Corte Interamericana
considerou que o princípio do non-refoulement foi violado pelo Estado boliviano.
(...) Considerou que no sistema interamericano, o princípio do non-refoulement
possui uma maior amplitude em virtude do caráter de complementaridade do
Direito Internacional dos Refugiados ao Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Deste modo, a proibição do rechaço deve ser compreendida como pedra angular da
proteção internacional dos refugiados.”
 MUITO IMPORTANTE: Preciso que vocês prestem atenção a este caso (Caso
Família Pacheco Tineo vs Bolívia). É que, além de tudo que já falamos, ele tem
grande relevância em razão das vítimas terem contado com a assistência da
Defensoria Pública Interamericana quando do processamento perante a Corte IDH.
Segundo Caio Paiva, atuou em favor das vítimas, pela primeira, o Defensor Público
Interamericano brasileiro Roberto Tadeu, membro da DPE-MT).

CASO WONG HO WING VS PERU/ “TEORIA DA PROTEÇÃO INDIRETA (OU POR


RICOCHETE) DOS DIREITOS HUMANOS”.
No julgamento do Caso Wong, a Corte Interamericana exigiu que os Estados
americanos não cooperassem caso o extraditando pudesse ser submetido a
qualquer tratamento desumano ou degradante, pena de morte, tortura ou risco aos
direitos humanos previstos na CADH, desde que a alegação acerca dessa suposta
violação aos direitos humanos fosse genérica. Tal entendimento gera uma situação
curiosa: em determinados casos, a CADH passaria a surtir efeito fora do continente
americano, para países que sequer são membros da OEA. Tomemos como exemplo
o Caso Wong: se as alegações feitas por Sr. Wing ao Estado peruano tivessem
demonstrado o risco concreto de violação aos direitos humanos, a Corte IDH não
recomendaria sua extradição para Estado chinês. Assim, os dispositivos da
Convenção Americana estariam servindo de garantia para o sr. Wong contra um país
que sequer é membro da OEA (China). A doutrina chama esse fenômeno de teoria
da proteção indireta (ou por ricochete) dos direitos fundamentais.

OPINIÃO A OC/18 da Corte IDH, solicitada pelo México, tem como assunto
CONSULTIVA 18 “a condição jurídica e direitos dos migrantes não documentados”
DA CORTE IDH:

COMENTÁRIO trata sobre as dimensões de gênero do estatuto de refugiada, o


GERAL Nº asilo, a nacionalidade e a apatridia das mulheres, sendo o seu
32/2014 DO principal objetivo contextualizar a proteção dos direitos
COMITÊ DA ONU humanos no contexto de migração referente às mulheres.

OC 25/2018 E Somente as pessoas em situação de refúgio são protegidas pelo


CASO DA D. Internacional dos Refugiados. Pessoas Migrantes somente
FAMÍLIA pelo Direito Internacional dos DH.
PACHECO TINEO:

PESSOA EM SITUAÇÃO DE MIGRAÇÃO Pessoa em Situação de REFÚGIO:


100 Regras de Brasília – Regra 13: Todo indivíduo migrante (todo refugiado
O deslocamento de uma pessoa fora do é migrante, mas nem todo migrante será
território do Estado da sua nacionalidade considerado refugiado!) que devido a
pode constituir uma causa de grave e generalizada violação de
vulnerabilidade, especialmente direitos humanos, é obrigado a deixar
nos casos dos trabalhadores migratórios seu país de nacionalidade ou de
e seus familiares, em condição residência habitual para buscar refúgio
migratória irregular. em outro país, devido a fundados
Considera-se TRABALHADOR temores de perseguição por motivos de:
MIGRATÓRIO toda a pessoa que vá a) Raça
realizar, realize ou tenha realizado uma b) Religião
atividade remunerada num Estado do c) Nacionalidade
qual não seja nacional. A condição d) Grupo social ou
migratória de uma pessoa não pode ser e) Opiniões Políticas.
um obstáculo ao acesso à justiça para a
defesa de seus direitos. Além do mais
reconhecer-se-á uma proteção especial
aos beneficiários do estatuto de
refugiado conforme a Convenção sobre o
Estatuto dos Refugiados de 1951, assim
como aos solicitantes de asilo.

6) FEMINISMO

A doutrina sustenta que “o feminismo é um movimento social e


político que possui como sua principal causa ideológica a luta pela
FEMINISMO
igualdade de gênero e seus consectários, como, por exemplo, o
combate à violência de gênero”.

Ao longo da história, o movimento foi subdividido em três ondas:

ONDAS DO FEMINISMO
Originou-se por meio do movimento sufragista realizado durante o
PRIMEIRA século XIX e início do século XX em todo o mundo, em particular
ONDA em países como França, Reino Unido, Canadá, Países Baixos e
Estados Unidos.
Trata-se de um período de atividade feminista que começou na
década de 1960 nos EUA e foi se espalhando por todo o mundo
ocidental. A segunda onda do feminismo ampliou a discussão,
abordando várias questões, como, por exemplo, a sexualidade, a
SEGUNDA
família, o mercado de trabalho, os direitos sexuais e reprodutivos,
ONDA
além da igualdade de gênero. Também chamou atenção para
questões como o problema do estupro conjugal e da violência
doméstica e familiar contra a mulher.
A terceira onda do feminismo teve início no começo dos anos
1990, como resposta aos supostos defeitos das duas primeiras
ondas feministas. A terceira onda do feminismo expande os temas
feministas para incluir um grupo diversificado de mulheres com um
TERCEIRA conjunto de identidades variadas, e não apenas mulheres brancas
ONDA e mais abastadas financeiramente. Desse modo, as feministas
ampliaram seus objetivos, com foco em ideias novas e abolindo
expectativas e estereótipos baseados em gêneros. Temas
polêmicos como pornografia, trabalho sexual e prostituição não
encontram um consenso entre as feministas desta onda.

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