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CURSO MEGE

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Turma: TJ-SP - 1ª Fase (Reta Final)
Material: Rodada 6

MATERIAL DE APOIO 1
(Rodada 6)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ........................................................... 3

DIREITO TRIBUTÁRIO ........................................................................................... 4


1. DOUTRINA (RESUMO) .............................................................................................. 5
2. LEGISLAÇÃO ........................................................................................................... 56
3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................... 56
4. QUESTÕES .............................................................................................................. 60
5. GABARITO COMENTADO ....................................................................................... 62

DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................. 66


1. DOUTRINA (RESUMO) ............................................................................................ 67
2. LEGISLAÇÃO ......................................................................................................... 108
3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................. 108
4. QUESTÕES ............................................................................................................ 113
5. GABARITO COMENTADO ..................................................................................... 114
2
DIREITO EMPRESARIAL ..................................................................................... 118
1. DOUTRINA (RESUMO) .......................................................................................... 119
2. LEGISLAÇÃO ......................................................................................................... 160
3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................. 160
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4. QUESTÕES ............................................................................................................ 167
5. GABARITO COMENTADO ..................................................................................... 169

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA


(Conforme Edital do TJ-SP 188)

DIREITO TRIBUTÁRIO – Professor Luiz Vinicius Holanda


Crédito tributário. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Extinção das
obrigações tributárias. Exclusão do crédito tributário. (Referente ao ponto 6 do Edital)

DIREITO ADMINISTRATIVO – Professor Bruno Pinto


Desapropriação. Hipóteses. Desapropriação indireta. Desapropriação por zona.
Desapropriação urbanística. Promoção de atos expropriatórios pelos particulares:
hipótese e requisitos. Efeitos do decreto e utilidade pública. Destinação dos bens
desapropriados. Hipóteses de desapropriação punitiva. Desapropriação por acordo e
judicial: diferenças. Desapropriação de bens públicos de outro ente da federação.
Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de Junho de 1941. (Referente ao ponto 20 do Edital)
Intervenção na propriedade e atuação no domínio econômico: servidão, requisição,
ocupação temporária, tombamento e limitações administrativas. (Referente ao ponto
21 do Edital)
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DIREITO EMPRESARIAL – Professor Luiz Vinicius Holanda
Teoria Geral dos Títulos de Crédito. Títulos de crédito no Código Civil. Letra de câmbio,
nota promissória, cheque, duplicata. Títulos de crédito impróprios. Títulos bancários.
Títulos do agronegócio. Títulos eletrônicos ou virtuais. (Referente ao ponto 12 do Edital)
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DIREITO TRIBUTÁRIO (conteúdo atualizado em 06-07-2021)

APRESENTAÇÃO

Fala pessoal!
Então, estamos na nossa segunda rodada e o TJSP está CADA VEZ MAIS PERTO.
Nesse momento, trataremos sobre o crédito tributário e todas as suas particularidades:
lançamento, natureza jurídica e suas características.
É um assunto que exige atenção de vocês, especialmente quanto às hipóteses
taxativas do CTN e aos conceitos de suspensão e de extinção do crédito. No que se refere
à extinção do crédito, observem os prazos de decadência em cada tipo de lançamento
tributário, pois as questões de prova podem trazer casos concretos para o candidato
verificar a ocorrência da decadência ou da prescrição.
Com relação à exclusão do crédito tributário, não há muito que sugerir além da
leitura da rodada e dos artigos do CTN. E, tocando nesse ponto, peço encarecidamente
que lembrem de fazer uma forte leitura dos artigos relacionados ao final desta rodada
e, não menos importante, uma leitura das súmulas e da jurisprudência.
Um grande abraço, pessoal.
Confiem em vocês, confiem no nosso projeto e Bons estudos!
Professor Luiz Vinicius Holanda. 4

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. NOÇÕES GERAIS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Como é cediço, o lançamento tributário constitui o crédito tributário, segundo


o art. 142 do CTN.
Pela redação desse artigo, o crédito tributário é constituído com o lançamento,
só passando a existir a partir deste, mas a obrigação tributária existe desde o fato
gerador, tendo o lançamento a função de declarar a existência daquela.
A constituição definitiva do crédito tributário torna líquida, certa e exigível a
obrigação, devendo o sujeito passivo adimpli-la, sob pena de a Fazenda Pública realizar
atos executórios necessários.
Sobre o crédito tributário, nosso foco deve ser nas causas de suspensão,
extinção e exclusão, uma vez que é um dos temas mais cobrados desta matéria e cai
com grande recorrência no TJSP.

1.2. SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Embora a constituição do crédito tributário se dê com o lançamento, esse


crédito pode sofrer suspensão de sua exigibilidade.
Alguns autores apontam que o CTN apresenta um rol exaustivo de casos de
5
suspensão, em seu art. 151. Esse entendimento se baseia no art. 141 do CTN, que dispõe
considerar, para o caso de suspensão do crédito, apenas os disciplinados nesse Código.
Outro argumento se atrela ao fato de o art. 111, I, do CTN dispor que as normas sobre
suspensão devem ser interpretadas literalmente.
Impende destacar que a suspensão, na verdade, suspende a exigibilidade do
- por isso, deve a autoridade realizar o lançamento,
crédito e não sua constituição,
constituir o crédito, mas não poderá proceder a notificação do sujeito passivo nem
aplicar penalidade. Nesses casos, normalmente, o crédito constituído vem com a
expressão: “suspenso por medida judicial”.

ATENÇÃO! Como a suspensão do crédito tributário apenas suspende sua exigibilidade,


mas não sua constituição, o fisco deve realizar o lançamento, sob pena de decair o
direito de constituir o crédito.

A suspensão pode ser antes da constituição, caso em que impede a


exigibilidade do crédito; ou pode ocorrer após a constituição do crédito, hipótese na
qual se suspende a exigibilidade. Em ambos os casos, o fisco não poderá ingressar com
uma execução fiscal, diante da suspensão da exigibilidade.

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OBSERVAÇÃO: Dentre hipóteses de suspensão do crédito tributário, as reclamações e


os recursos (inciso III, art. 151, CTN) e o parcelamento (inciso VI, art. 151, CTN)
somente ocorrem APÓS o lançamento; no primeiro caso porque não se pode
impugnar lançamento que não tenha sido realizado; e no caso do parcelamento, não
há como parcelar crédito não constituído.

Ante a impossibilidade de cobrança do crédito suspenso, o contribuinte pode


obter certidão positiva com efeito de negativa (art. 206, parte final, do CTN).
Tem-se, ainda, o entendimento de que as hipóteses de suspensão da
exigibilidade do crédito também são causas suspensivas da prescrição, pois, com a
ocorrência dessas hipóteses, a Fazenda fica impedida por lei de tomar qualquer
providência para haver seu crédito, como propor a ação de execução fiscal.
Destarte, pode-se afirmar que as causas de suspensão do crédito também são
de suspensão da prescrição, além dos casos de parcelamento, remissão, isenção e
anistia, quando obtidos em caráter individual e por meio fraudulento (art. 155,
parágrafo único, do CTN).
Feitos esses comentários iniciais, convém transcrever as hipóteses trazidas pelo
art. 151 do CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: 6


I - moratória;
II - o depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras
do processo tributário administrativo;
IV - a concessão
- de medida liminar em mandado de segurança;
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em
outras espécies de ação judicial; (Incluído pela Lcp nº 104, de
10.1.2001)
VI – o parcelamento. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o
cumprimento das obrigações assessórios dependentes da
obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela
consequentes.

Atenção ao parágrafo único acima, não obstante a inexigibilidade do crédito da


obrigação principal, o sujeito passivo tem que cumprir as obrigações acessórias
dependentes.
Note, ainda, que, das causas suspensivas contidas no art. 151, apenas a
moratória e o parcelamento são de iniciativa do sujeito ativo da relação jurídico-

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tributária (entes políticos). As demais hipóteses de suspensão do crédito tributário


advêm de iniciativa do sujeito passivo.

1.2.1. MORATÓRIA

A moratória significa dilação de prazo para pagamento do tributo, podendo


ser concedida genericamente por lei (forma direta) ou por ato administrativo
declaratório do cumprimento dos requisitos previstos na lei (forma indireta).
Por exemplo: a União concede moratória geral do ITR de determinada região
(forma direta); a União concede moratória individual do ITR de determinada região, a
todos que comprovem a inundação de suas terras pela enchente provocada pelo
transbordamento de uma barragem (nesse caso, os proprietários terão que comprovar
tal situação - forma indireta).
O instituto da moratória é disciplinado no art. 152 e ss. do CTN:

Art. 152. A moratória somente pode ser concedida:


I - em caráter geral:
a) pela pessoa jurídica de direito público competente para
instituir o tributo a que se refira;
b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do 7
Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente
concedida quanto aos tributos de competência federal e às
obrigações de direito privado;
II - em caráter individual, por despacho da autoridade
administrativa, desde que autorizada por lei nas condições do
inciso-anterior.
Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode
circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à
determinada região do território da pessoa jurídica de direito
público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de
sujeitos passivos.

Na moratória geral, basta que o contribuinte cumpra os requisitos contidos na


lei para ter direito à dilação do prazo e, por consequência, à suspensão de seu crédito.
Não há necessidade de requerimento administrativo e a comprovação do
preenchimento de certos requisitos, como acontece na moratória individual.

ATENÇÃO! Na moratória geral, o beneficiário que comprovar os requisitos legais


adquire o direito à suspensão do crédito.

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Por outro lado, na moratória individual, não há direito adquirido e pode depender do
oferecimento de garantias pelo beneficiário.

Frisa-se, ainda, que ambas moratórias são através de lei, sendo o despacho
administrativo ato declaratório do preenchimento dos requisitos legais para a concessão
da moratória individual.
A moratória prevista na alínea “a” do inciso I, alhures transcrito, se refere à
moratória autônoma, cujo ente competente para instituir o tributo dilata o prazo para
o pagamento.
Já o disposto na alínea “b” do inciso I, acima, é chamado pela doutrina de
moratória heterônoma. Há discussões doutrinárias a respeito da constitucionalidade
desse dispositivo. Contudo, trata-se de hipóteses excepcionais, na medida em que a
norma expõe a necessidade de, simultaneamente, a União também conceder a
moratória aos tributos federais e às obrigações envolvendo as relações privadas.
A lei que conceder a moratória geral ou autorizar a individual deve, também,
especificar as condições que será concedida: prazo de duração, as condições para a
moratória individual, os tributos aplicados, número de prestações e vencimentos (em
caso de moratória parcelada), etc.
Veja o que dispõe o art. 153 do CTN:
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Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou
autorize sua concessão em caráter individual especificará, sem
prejuízo de outros requisitos:
I - o prazo de duração do favor;
II - as condições da concessão do favor em caráter individual;
-
III - sendo caso:
a) os tributos a que se aplica;
b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo
a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de
outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão
em caráter individual;
c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no
caso de concessão em caráter individual.

Vislumbre-se, ainda, o disposto na alínea “b” do inciso III, acima. Se a moratória


se configura como dilação do prazo para pagamento, como essa norma determina a
indicação do “número de prestações e seus vencimentos”? Trata-se de moratória ou
de parcelamento?
A norma em questão se refere à chamada “moratória parcelada”. Consiste em
uma forma excepcional para o pagamento do crédito e, em regra, ocorre sem acréscimo
de penalidade e juros.

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Por outro lado, o parcelamento se configura como medida de política fiscal


para aumentar o adimplemento dos créditos tributários, contudo, salvo disposição em
contrário, persiste o pagamento do principal mais os respectivos juros e multas (art. 155-
A, § 1º, CTN).
Veja o esquema adiante:

O CTN ainda determina quais créditos podem ser abrangidos pela moratória.
Conforme o art. 154, a moratória pode ser concedida a créditos já lançados ou em fase
de lançamento.
Em regra, a moratória deve ser concedida após o lançamento, todavia, o
dispositivo em questão também possibilita que a lei, excepcionalmente, conceda
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moratória de crédito cujo lançamento não se tenha iniciado.
Veja o teor do artigo:

Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória


somente
- abrange os créditos definitivamente constituídos à
data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento
já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente
notificado ao sujeito passivo.
Parágrafo único. A moratória não aproveita aos casos de dolo,
fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em
benefício daquele.

Outrossim, caso o beneficiário, ou terceiro em benefício desse, atue com dolo,


fraude ou simulação a moratória não será aproveitada, segundo o parágrafo único
supratranscrito.
Já fora mencionado que a moratória individual não gera direito adquirido, razão
pela qual poderá ser “revogada”, de ofício, pelo Fisco. Essa possibilidade se encontra
disciplinada no art. 155, do CTN, in verbis:

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Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não


gera direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se
apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as
condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos
para a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de
juros de mora:
I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou
simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;
II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.
Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo
decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não
se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do
crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode
ocorrer antes de prescrito o referido direito.

Há duas situações que podem levar à “revogação” da moratória individual. A


primeira se encontra na hipótese em que o beneficiário não cumpria, na concessão da
moratória, os requisitos legais, porém, mesmo assim, lhe fora concedida. Trata-se,
então, de um ato concessivo ilegal, já que o sujeito não preenchia as condições e
requisitos legais.
A segunda se constata quando o beneficiário deixou de cumprir as condições
para receber o benefício da moratória individual, caso em que não pode continuar
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gozando da suspensão do crédito.

ATENÇÃO! A doutrina critica a nomenclatura do CTN (“revogado”), por entender que,


na primeira situação, seria caso de anulação pela ilegalidade, e, na segunda, de
cassação. -
Não obstante essa posição doutrinária, deve-se seguir a nomenclatura do CTN nas
provas objetivas, salvo se o enunciado propuser classificação diversa.

Por fim, o art. 155 determina que a revogação da moratória individual enseja a
cobrança de juros de mora, além do principal. Ademais, havendo a existência de dolo
ou simulação, incidirá, também, multa, não se contando o prazo prescricional (art. 155,
I, c/c parágrafo único); não existindo dolo ou simulação, não incidirá multa, mas se conta
a prescrição, razão pela qual a revogação, nesse caso, só poderá ocorrer antes de
efetivada a prescrição (art. 155, II, c/c parágrafo único).

ATENÇÃO! Lembre-se que, para a revogação da moratória, deve haver procedimento


administrativo com ampla defesa e contraditório.

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Para sintetizar o que foi explanado a respeito da moratória, observe o esquema


adiante:

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1.2.2. PARCELAMENTO
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O parcelamento se configura como medida de política fiscal, concedida por lei
específica do ente político competente para instituir o tributo, com a finalidade de
aumentar o adimplemento dos créditos tributários, criando condições à regularização
dos contribuintes.
A previsão de ser necessária lei específica se encontra no art. 155-A do CTN,
tendo o STJ decidido que há incidência do princípio da legalidade tributária, razão pela
qual não pode um ato infralegal apresentar requisitos não previstos na lei.
Nas palavras do STJ: “a concessão do parcelamento deve estrita observância
ao princípio da legalidade, não havendo autorização para que atos infralegais, como
portarias, tratem de requisitos não previstos na lei de regência do benefício” (STJ –
REsp 1.739.641, 1ª T. j. 21.06.2018).
Outrossim, embora o parcelamento suavize as condições de pagamento, em
regra, persiste o pagamento do principal mais os respectivos juros e multas, salvo
disposição legal em contrário.
Nesse sentido, encontra-se o art. 155-A do CTN:

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Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição


estabelecidas em lei específica. (Incluído pela Lcp nº 104, de
10.1.2001)
§ 1o Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do
crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas.
(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)

OBSERVAÇÃO: Esse parágrafo 1º reforça a tese do STJ de que o parcelamento exclui


o benefício da denúncia espontânea, já que essa dispensa o pagamento de multa e o
parcelamento não.
Lembrando que, na denúncia espontânea, o sujeito passivo declara,
espontaneamente e antes de qualquer atuação do Fisco, os ilícitos praticados e paga
o respectivo tributo e juros de mora.

§ 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as


disposições desta Lei, relativas à moratória. (Incluído pela Lcp
nº 104, de 10.1.2001)
§ 3o Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento
dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial.
12
(Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
§ 4o A inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste
artigo importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do
ente da Federação ao devedor em recuperação judicial, não
podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao
- pela lei federal específica. (Incluído pela Lcp nº 118,
concedido
de 2005)

O § 2º acima determina a aplicação subsidiária das normas referentes à


moratória ao parcelamento. Nota-se que o CTN, ao incluir o parcelamento através da Lc
nº 104/2001, não esmiuçou muitos detalhes a respeito desse instituto. Isso porque,
embora não sejam idênticos, há uma semelhança em seus regimes jurídicos. Por esse
motivo, o parágrafo em epígrafe determina a aplicação subsidiária das normas
referentes à moratória.
Já o § 3º dispõe acerca de uma lei específica para tratar de parcelamento de
devedores em recuperação judicial. E complementa com o § 4º determinando que, se
não existir essa lei específica, aplica-se a lei geral de parcelamento do ente. Contudo,
traz como limite mínimo de parcelas o mesmo número possível contido na lei específica
federal.
Por exemplo: Imagine que a União tenha uma lei geral de parcelamento
limitado a 60 meses e uma lei específica para recuperação judicial limitada a 84 meses;
O Estado de Pernambuco, por sua vez, tenha lei geral de parcelamento com limitação a

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72 meses e não possua lei específica de parcelamento para devedores em recuperação


judicial; Nesse caso, aplica-se o limite de 84 meses da lei específica da União, porque o
prazo da lei geral de PE é menor que a lei específica federal; todavia, será aplicada a lei
geral de PE para os demais aspectos; Caso, por outro lado, a lei geral de PE trouxesse
prazo maior que a lei específica da União, seria aplicado o prazo maior de PE.

1.2.3. DEPÓSITO DO SEU MONTANTE INTEGRAL

O depósito do montante integral também é causa de suspensão do crédito


tributário. Não se trata de um pagamento realizado, mas, apenas, de uma garantia de
que o crédito tributário se encontra reservado pelo depósito.
Para tanto, deve haver um litígio judicial ou administrativo. Vitorioso o
depositante, impõe-se o levantamento do valor, uma vez que haverá a extinção do
crédito tributário (art. 156, IX e X, CTN), mesmo que o contribuinte possua outros
débitos com o ente tributante, conforme decisão do STJ:

Não é lícito ao Fisco apropriar-se de tal depósito a pretexto de


que existem outras dívidas do contribuinte, oriundas de outros
tributos. (REsp. 297115, 1ª T).

Caso o contribuinte perca a ação, ou o processo seja julgado sem resolução


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do mérito, será o depósito convertido em renda, extinguindo-se o crédito tributário.

ATENÇÃO! Não se deve confundir o depósito do montante integral com a ação de


consignação em pagamento; no primeiro caso, o sujeito passivo não tem a intenção de
pagar o crédito depositado,- tanto que pode discuti-lo em juízo; a intenção desse
depósito é suspender a exigibilidade do crédito e, com isso, não ensejar os encargos
moratórios.
Por outro lado, na ação de consignação em pagamento, o sujeito passivo deseja adimplir
seu débito, ou seja, consigna o valor em juízo com a intenção de ver extinto o crédito
tributário.

O depósito deve ser em dinheiro e sobre todo o montante cobrado, incluindo


multas e juros. Esse é o entendimento sumulado do STJ:

Súmula 112 do STJ: O depósito somente suspende a


exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.

Outro ponto é que, no depósito integral, em caso de lançamento por


homologação, incumbe à Fazenda manifestar sua concordância ou não; concordando,
não se faz necessário o lançamento de ofício para prevenir a verificação da decadência.

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Isso porque o STJ entende que, ao depositar o montante integral, já se opera


o lançamento da quantia respectiva, não necessitando de qualquer ato formal por parte
do fisco. Veja o seguinte trecho da ementa:

É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que, nos casos


de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o
contribuinte, ao realizar o depósito judicial com o objetivo de
suspender a exigibilidade do crédito tributário, promove a
constituição deste; como resultado, torna-se desnecessário o
ato formal de lançamento pela autoridade administrativa no
que se refere aos valores depositados. (STJ - REsp 1637092/RS,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, j.
06.12.2016)

Por outro lado, se houver levantamento indevido da quantia depositada,


poderá o fisco cobrar judicialmente no prazo de 5 anos, contados da data da extinção
do depósito (STJ - REsp 1216466/RS, 2ª TURMA, j. 20.11.2012).

1.2.4. RECLAMAÇÕES E OS RECURSOS

Cabe aos entes tributantes criar o procedimento administrativo contencioso 14


tributário, assegurando aos contribuintes o contraditório e a ampla defesa, em atenção
ao disposto no art. 5º, LV, da CF:

Art. 5º. (...)


LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
-
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Assim, a reclamação e os recursos administrativos fiscais propostos pelo


contribuinte, ensejam a suspensão do crédito tributário desde o lançamento até a
decisão final do contencioso administrativo ou revisão de ofício pelo fisco.
Após, deve o contribuinte ser notificado do resultado do recurso ou da revisão,
momento em que se deflagra a fluência do prazo prescricional para se cobrar o crédito.
O STJ ainda entende que inexiste prescrição intercorrente no contencioso
administrativo fiscal por ausência de previsão legal:

(...) o recurso administrativo suspende a exigibilidade do crédito


tributário enquanto perdurar o contencioso administrativo,
nos termos do art. 151, III, do CTN, desde o lançamento
(efetuado concomitantemente com o auto de infração),
momento em que não se cogita do prazo decadencial, até o seu

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julgamento ou a revisão de ofício, sendo certo que somente a


partir da notificação do resultado do recurso ou da sua revisão
deflagra-se a fluência do prazo prescricional, não havendo falar-
se, ainda, em prescrição intercorrente em processo
administrativo fiscal, porquanto ausente previsão legal
específica. (STJ - AgInt no REsp. 1587540/PE, Rel. Ministra
REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, j. 18.08.2016)

Outrossim, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário ocorrerá ainda


que o recurso seja interposto intempestivamente, conforme entendimento do STJ:

1. Nos termos da jurisprudência do STJ, "a reclamação ou


recurso administrativo, mesmo intempestivo, suspende a
exigibilidade do crédito tributário e, por consequência o curso
do prazo prescricional, enquanto perdurar o contencioso
administrativo, nos termos do art. 151, III, do CTN" (AgRg no
REsp 1520098/PE, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, 2ª
Turma, j. 05.11.2015).

ATENÇÃO! A suspensão do crédito será observada nas reclamações e recursos


administrativos que discutam o próprio lançamento do crédito tributário, sua 15
exigibilidade. Caso o processo administrativo seja para arguir outras questões, não
terá o condão de suspender a exigibilidade do crédito.

Por fim, cumpre destacar que, em face do inciso LV do art. 5º da CF, a doutrina
se debruçou quanto à necessidade
- da existência de recursos no processo administrativo
fiscal.
Todavia, o STF, em sua posição mais recente, exarou o entendimento de que
pode o ente impor instância única aos processos administrativos, mas não pode
condicionar os recursos administrativos, caso haja mais de uma instância, a pagamento
de quaisquer valores.
O STF assentou que a possível exigência de valores para recorrer
administrativamente violaria o direito de petição, o princípio da isonomia, devido
processo legal, ampla defesa, contraditório e à determinação de Lc para tratar sobre
normas gerais em direito tributário (art. 146, III, ”b” , CF).
Diante de tais argumentos, o STF editou a seguinte súmula vinculante para
encerrar os debates judiciais acerca do tema:

Súmula vinculante 21. É inconstitucional a exigência de depósito


ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para
admissibilidade de recurso administrativo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

1.2.5. LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA

A concessão de liminar em MS é outra hipótese de suspensão da exigibilidade


do crédito tributário, portanto, apenas impede que a Fazenda Pública promova qualquer
ato executório contra o sujeito passivo.

ATENÇÃO! Apenas haverá a suspensão da exigibilidade do crédito se for concedida


a liminar. A simples impetração do MS não suspende o crédito tributário.

Assim, poderá o sujeito passivo impetrar MS para impedir esses atos


executórios, requerendo uma liminar amparada nos requisitos legais do art. 7º, III, da
Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança): fundamento relevante e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida.
Por exemplo: se uma lei que tenha o condão de tributar as publicações de
livros, afrontando a imunidade constitucional, entrar em vigor, pode ser objeto de
impetração de MS com pedido de liminar pelas editoras.
Atente que não é possível MS contra lei em tese (súmula 266 do STF), todavia,
no caso acima, é perfeitamente possível a impetração em razão dos efeitos concretos 16
que tal legislação inconstitucional causará às editoras de livros. Deve, portanto, o
impetrante comprovar que a lei possa vir a violar concretamente seus direitos.
Outrossim, por apenas impedir ou suspender a exigibilidade, o fisco deve
realizar o lançamento tributário, sob pena de decadência de seu crédito.
Entretanto, caso a liminar, além de suspender o crédito, impeça o fisco de
realizar qualquer ato contra o- sujeito passivo, não há que se falar em decadência. Isso
porque o fisco, nesse caso, não pode tomar nenhuma atitude para ver o crédito
constituído e, por não se encontrar em situação de inércia, suspende-se, também, o
prazo para o lançamento.
Observe o fragmento do seguinte julgado do STJ:

TRIBUTÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO


TRIBUTÁRIO. LANÇAMENTO DE ISSQN. VEDAÇÃO CONTIDA EM
LIMINAR DEFERIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA.
DECADÊNCIA AFASTADA. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ.
2. O STJ possui jurisprudência firme no sentido de que o
deferimento de medida liminar para suspender a exigibilidade
do crédito tributário não obsta a sua constituição, a fim de
evitar a decadência. Entretanto, no caso dos autos, o Tribunal
de origem deixou expressamente delineado que liminar
concedida em Mandado de Segurança vedava a atuação do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Fisco, inclusive quanto à constituição do crédito tributário, não


estando, portanto, caracterizada a inércia do sujeito ativo. (STJ
- AgInt no AREsp 930.915/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin,
2ª Turma, j. 04.04.2017)

1.2.6. LIMINAR OU DE TUTELA ANTECIPADA

O contribuinte pode ingressar em juízo para discutir a exigibilidade do crédito


tributário, como corolário do direito ao acesso à Justiça, nos moldes do art. 5º, XXXV, da
CF:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão


ou ameaça a direito;

Não se pode exigir nenhuma garantia ou depósito do montante como requisito


para a propositura da ação judicial. Esse é o entendimento vinculante do STF exposto na
súmula a seguir:

Súmula vinculante 28. É inconstitucional a exigência de depósito


prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual 17
se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

Claro que a simples propositura da ação em questão não enseja a suspensão


do crédito, pois se deve atender às hipóteses do art. 151 do CTN.
Dessa forma, o contribuinte tem a possibilidade de, ao ingressar com a ação,
-
requerer, liminarmente, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário até decisão
final, nos termos da legislação processual vigente.
Embora o inciso V do art. 151 do CTN mencione “tutela antecipada” e o NCPC
atribua a nomenclatura de “tutela de urgência”, em nada modifica essa possibilidade de
suspensão do crédito. Até porque, a tutela de urgência pode ser concedida de forma
antecipada.
O NCPC assim prevê a tutela de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,
conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo
a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou


após justificação prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será
concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.

Destarte, concedida a tutela para suspender a exigibilidade do crédito


tributário, não poderá o fisco realizar qualquer tipo de cobrança ao contribuinte.

1.3. EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A extinção do crédito tributário se dará quando não puder mais ser cobrado do
contribuinte. Em razão do disposto no art. 141, c/c art. 111, I, ambos do CTN, as
hipóteses de extinção do crédito tributário se encontram de forma taxativa no art. 156
do CTN.
Transcreve-se o referido dispositivo:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:


I - o pagamento;
II - a compensação;
18
III - a transação;
IV - remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
-
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento
nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no §
2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a
definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser
objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado;
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e
condições estabelecidas em lei. (Incluído pela Lcp nº 104, de
10.1.2001)
Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção
total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da
irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos
artigos 144 e 149.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Dentre as modalidades de extinção do crédito, há aquelas que não necessitam


de lei específica autorizativa para ocorrerem, como: pagamento, prescrição,
decadência e homologação do pagamento antecipado (lançamento por homologação).
Outras requerem lei específica a fim de possibilitar a extinção do crédito:
compensação, transação, remissão e dação em pagamento de bens imóveis.
E, por último, aquelas que pressupõem a existência de um litígio, seja judicial
seja administrativo: conversão do depósito em renda, consignação em pagamento,
decisão administrativa irreformável e decisão judicial transitada em julgado.

1.3.1. PAGAMENTO

O pagamento é a forma mais simples de se extinguir quaisquer obrigações. Não


é diferente no direito tributário. Por isso, o CTN trouxe uma seção especial para tal
modalidade de extinção do crédito, conforme adiante se vê nos artigos transcritos:

Art. 157. A imposição de penalidade não ilide o pagamento


integral do crédito tributário.

Conforme esse dispositivo, a multa é sempre cumulativa. A única hipótese de 19


separá-la do valor do tributo se refere à posição privilegiada no processo de falência.
Nesse caso, a multa não possui privilégio.

Art. 158. O pagamento de um crédito não importa em


presunção de pagamento:
-
I - quando parcial, das prestações em que se decomponha;
II - quando total, de outros créditos referentes ao mesmo ou a
outros tributos.

A falta dessa presunção de que o pagamento da última parcela presume o das


outras implica no dever de o contribuinte guardar os comprovantes de pagamento até
a prescrição dos créditos (art. 195, parágrafo único, CTN).
Interessante julgado sobre esse tema diz respeito ao documento do veículo e o
pagamento do IPVA:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IPVA. QUITAÇÃO.


CERTIFICADO DE LICENCIAMENTO DO VEÍCULO (CLRV).
COMPROVAÇÃO. DARF. PRECEDENTES.
1. A expedição do Certificado de Registro e Licenciamento de
Veículo (CLRV) (CTB, art. 131, § 2º), ainda que condicionada à

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

quitação de tributos incidentes sobre a propriedade de veículo


automotor, não é dotada de nenhuma eficácia liberatória de
obrigação fiscal.
2. O efeito deliberatório decorrente da quitação do IPVA se
promove via Documento de Arrecadação Fiscal (DARF).
3. Recurso especial provido. (STJ - REsp 600.995/RS, Rel. Ministro
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/04/2007, DJ 25/04/2007, p. 302)

O CTN, ainda, contempla o local e o prazo para o pagamento do tributo, em


seus arts. 159 e 160, in verbis:

Art. 159. Quando a legislação tributária não dispuser a respeito,


o pagamento é efetuado na repartição competente do domicílio
do sujeito passivo.

OBSERVAÇÃO: Percebe-se que a obrigação de pagar o tributo é portável (o devedor


vai ao credor pagar) e não quesível (o credor é quem iria ao devedor cobrar
pagamento).
20
Art. 160. Quando a legislação tributária não fixar o tempo do
pagamento, o vencimento do crédito ocorre trinta dias depois
da data em que se considera o sujeito passivo notificado do
lançamento.
Parágrafo
- único. A legislação tributária pode conceder desconto
pela antecipação do pagamento, nas condições que estabeleça.

Esse último dispositivo impondo o prazo de 30 dias da notificação do


lançamento para o vencimento do crédito, só se aplica nos casos de lançamento de
ofício ou por declaração, uma vez que, no lançamento por homologação, o contribuinte
se antecipa no pagamento e não há notificação de lançamento.
A legislação tributária, no que tange ao tributo sujeito a lançamento por
homologação, deve estabelecer o prazo para pagamento, não se impondo o disposto no
art. 160 acima.
Outro aspecto do pagamento do tributo é que, em virtude da indisponibilidade
do patrimônio público, não se pode admitir que seja concedido qualquer desconto,
salvo por meio de lei (art. 150, § 6º, CF).
Em caso de mora do sujeito passivo, o valor do tributo será acrescido de juros
de mora e da penalidade cabível. No direito tributário, inexiste justificativa para a não
quitação do crédito tributário dentro do prazo legal, segundo o art. 161 do CTN:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é


acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante
da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e
da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta
Lei ou em lei tributária.
§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são
calculados à taxa de um por cento ao mês.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de
consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal para
pagamento do crédito.

Trata-se de mora ex re, incidindo, desde logo, os juros moratórios e multa


prevista. As legislações têm disposto que os juros contam a partir do primeiro dia ao
mês seguinte à data do pagamento; já a multa de mora tem incidido a partir do dia
seguinte ao vencimento.
Nada obstante essas disposições acima, em caso de consulta tributária ao fisco,
não se pode ser imposto ao contribuinte os efeitos da mora enquanto estiver pendente
de resposta, isto é, não há fluência de juros de mora e nem aplicação de multa de mora
nesse período. Não se pode dizer, contudo, que se trata de mais uma hipótese de
suspensão de exigibilidade do crédito tributário, uma vez que o art. 151 é taxativo.
21
O pagamento, de regra, deverá ser efetuado em dinheiro, contudo, o art. 162
do CTN apresenta outras formas que adiante se vê:

Art. 162. O pagamento é efetuado:


I - em moeda corrente, cheque ou vale postal;
-
II - nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado,
ou por processo mecânico.

OBSERVAÇÃO: Estampilha é uma espécie de selo que comprova o pagamento do


tributo, feito em dinheiro, no momento da aquisição.

§ 1º A legislação tributária pode determinar as garantias


exigidas para o pagamento por cheque ou vale postal, desde que
não o torne impossível ou mais oneroso que o pagamento em
moeda corrente.
§ 2º O crédito pago por cheque somente se considera extinto
com o resgate deste pelo sacado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 3º O crédito pagável em estampilha considera-se extinto com


a inutilização regular daquela, ressalvado o disposto no artigo
150.

OBSERVAÇÃO: Essa inutilização ocorre quando colocada em determinado local, pois,


teoricamente, não haveria de ser reaproveitada.

§ 4º A perda ou destruição da estampilha, ou o erro no


pagamento por esta modalidade, não dão direito a restituição,
salvo nos casos expressamente previstos na legislação tributária,
ou naquelas em que o erro seja imputável à autoridade
administrativa.
§ 5º O pagamento em papel selado ou por processo mecânico
equipara-se ao pagamento em estampilha.

O processo mecânico nada mais é do que um registro, no próprio documento


fiscal, de que o pagamento foi efetuado em moeda corrente.
O CTN ainda disciplina a respeito de imputação de pagamento dos tributos. Há
situações em que o sujeito passivo realiza o pagamento de tributos, mas não identifica
a que se refere.
22
No direito tributário, se houver dois ou mais débitos vencidos para a mesma
pessoa jurídica de direito público, caberá à autoridade administrativa competente
receber o pagamento e imputá-lo, segundo as normas contidas no art. 163 do CTN.

Art. 163.
- Existindo simultaneamente dois ou mais débitos
VENCIDOS do mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa
jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes
tributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou juros de
mora, a autoridade administrativa competente para receber o
pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as
seguintes regras, na ordem em que enumeradas:
I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em
segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária;
II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas
e por fim aos impostos;
III - na ordem crescente dos prazos de prescrição;
IV - na ordem decrescente dos montantes.

Observe que há uma ordem legal para a imputação, não podendo ser pago de
forma aleatória.

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OBSERVAÇÃO: Trata-se de uma norma em desuso, pois, atualmente, os pagamentos


dos tributos são realizados diretamente na rede bancária, de forma eletrônica, não
havendo interferência do fisco na quitação desses tributos.

O CTN primeiro elege os pagamentos do sujeito passivo como contribuinte em


detrimento dos indicados como apenas responsável tributário. Não conseguindo
resolver, serão adimplidos dos tributos mais retributivos para o menos retributivo
(inciso II). Não resolvido, segue a ordem inversa da prescrição, ou seja, primeiro os que
estão mais perto de prescrever. E, se ainda assim não se resolver a imputação, será pago
o montante de maior valor para o de menor valor.
Outra forma de se realizar o pagamento se perfaz através de consignação do
valor do tributo em juízo pelo sujeito passivo. Da mesma maneira, o CTN apresenta
normas específicas para a consignação de crédito tributário.

Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser


consignada judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos:
I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao
pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao
cumprimento de obrigação acessória; 23
II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de
exigências administrativas sem fundamento legal;
III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito
público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador.
§ 1º A consignação só pode versar sobre o crédito que o
-
consignante se propõe pagar.
§ 2º Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa
efetuado e a importância consignada é convertida em renda;
julgada improcedente a consignação no todo ou em parte,
cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem prejuízo das
penalidades cabíveis.

Frisa-se que a simples consignação do valor não faz extinguir o crédito


tributário automaticamente. Só no caso de procedência é que o montante é convertido
em renda e, a partir de então, o crédito estará extinto.
De outro modo, em caso de improcedência da ação consignatória, os encargos
moratórios apenas incidirão sobre a diferença entre o valor consignado e o crédito
tributário devido, e não sobre todo o crédito tributário.

1.3.1.1. Pagamento Indevido

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Existem situações, ainda, que o pagamento foi realizado indevidamente, seja


por ser um tributo indevido ou pago a maior, seja por erro. Nesses casos, o sujeito
passivo pode requerer a repetição do indébito (devolução do indevido).
Esse pedido de devolução dos valores pagos indevidamente não necessita ser
precedido de qualquer protesto judicial ou extrajudicial, conforme se observa na
redação do art. 165 do CTN:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de


prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual
for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no §
4º do artigo 162, nos seguintes casos:
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou
maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou
da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador
efetivamente ocorrido;
II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da
alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na
elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao
pagamento;
III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão 24
condenatória.

A obrigação de restituir não é tributária e nem civil, já que se fundamenta na


vedação do enriquecimento sem causa. Embora tenha sido pago a título de tributo, o
que foi pago a mais não é tributo, portanto, não poderia ser sua restituição uma
obrigação tributária. -
Contudo, nem todo contribuinte pode requerer a repetição do indébito, pois se
houver a transferência do encargo financeiro, apenas poderá pleiteá-la se autorizado
pelo terceiro que arcou com a repercussão financeira do tributo.
Atenção à redação do art. 166 do CTN:

Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua


natureza, transferência do respectivo encargo financeiro
somente será feita a quem prove haver assumido o referido
encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por
este expressamente autorizado a recebê-la.

Primeiramente, há de se relembrar a diferenciação a respeito do contribuinte


de fato e o contribuinte de direito.
No primeiro caso, ele sofre a incidência econômica do tributo, mesmo que não
integre formalmente a relação jurídico-tributária (por exemplo: o consumidor de um

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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produto). É o contribuinte de fato, portanto, que recebe todo o ônus financeiro do


encargo tributário, pois esse lhe é transferido.
Já o contribuinte de direito, é o integrante do polo passivo da relação jurídico-
tributária, aquele obrigado a pagar (recolher) o tributo ou penalidade pecuniária (por
exemplo: o comerciante que vendeu o produto). É a lei que determina o contribuinte de
direito.
Pelo STJ, em regra, o contribuinte de fato (terceiro/consumidor) não pode
pleitear a restituição, mesmo que comprove que suportou o encargo, visto que não é
contribuinte de direito, portanto, não possui relação jurídico-tributária para tal pleito,
carecendo de legitimidade ativa (REsp. 983814).
Só quem pode se utilizar desse artigo é o contribuinte de direito. Isso porque
a repercussão econômica ocorre em quase todos os tributos, razão pela qual a lei deve
indicar essa possibilidade, atribuindo, assim, uma repercussão jurídica.
Nesse sentido, veja-se a súmula do STF adiante:

Súmula 546. Cabe a restituição do tributo pago indevidamente,


quando reconhecido por decisão, que o contribuinte "de jure"
não recuperou do contribuinte "de facto" o "quantum"
respectivo.

O STF, com tal entendimento, corrobora com o disposto no art. 166 do CTN. O 25
contribuinte de direito deve comprovar que não houve a repercussão econômica, isto
é, que não se transferiu o encargo financeiro do tributo a terceiro. Caso tenha havido a
transferência, deve o contribuinte de direito estar expressamente autorizado a receber
a quantia.
Excepcionalmente, o STJ admite a legitimidade ativa do contribuinte de fato
(consumidor final), especificamente
- nas relações entre concessionária de energia
elétrica e consumidor final, para a propositura de ação declaratória de inexistência de
débito cumulada com repetição de indébito no que se refere ao ICMS cobrado
indevidamente sobre demanda contratada e não utilizada (Resp. 1.299.303).

Resumindo:
Contribuinte de FATO NÃO pode pleitear a repetição do indébito.
Contribuinte de DIREITO PODE pleitear a repetição do indébito SE:
i) comprovar que não houve repercussão econômica; OU
ii) se tiver havido a transferência, deve estar expressamente autorizado a receber a
quantia.
EXCEÇÃO: contribuinte de fato pode pleitear a repetição do indébito caso seja
consumidor final na relação com concessionária de energia elétrica e o ICMS tenha sido
cobrado indevidamente sobre a demanda contratada e não utilizada.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

O valor a ser restituído deve ser acrescido dos juros de mora e penalidades
pecuniárias, na mesma proporção paga, ressalvadas as infrações formais não
prejudicadas pela restituição.
Por exemplo: o contribuinte recolhe IR a mais, pois não considerou uma
isenção que se enquadrava; contudo, quanto à apresentação da declaração do IR, o fez
a destempo, gerando uma multa. Nesse caso, o valor pago a maior deve ser restituído
com juros legais, mas a multa pela declaração extemporânea não deve ser restituída,
pois se trata de infração formal.
Nesse sentido, o art. 167 do CTN:

Art. 167. A restituição total ou parcial do tributo dá lugar à


restituição, na mesma proporção, dos juros de mora e das
penalidades pecuniárias, salvo as referentes a infrações de
caráter formal não prejudicadas pela causa da restituição.
Parágrafo único. A restituição vence juros não capitalizáveis, a
partir do trânsito em julgado da decisão definitiva que a
determinar.

Sobre esse parágrafo único, tem-se um momento para os juros moratórios e


outro para a correção, conforme as súmulas 188 e 162 do STJ: 26
Súmula 188. Os juros moratórios, na repetição do indébito
tributário, são devidos a partir do trânsito em julgado da
sentença.
Súmula 162. Na repetição do indébito tributário, a correção
-
monetária incide a partir do pagamento indevido.

Contudo, no caso dos tributos federais, com a SELIC, que possui ambos
embutidos, fica complicada a utilização de tais súmulas. Hoje, o posicionamento do STJ
para tal questão pode ser demonstrado através do julgado adiante:

RECURSO REPETITIVO. TAXA SELIC. REPETIÇÃO. INDÉBITO. A


Seção, ao julgar recurso representativo de controvérsia (art.
543-C do CPC e Resolução n. 8/2008-STJ) reiterou aplicar-se a
taxa Selic a partir de 1º/1/1996 (vigência da Lei n. 9.250/1995)
na atualização monetária do indébito tributário, não podendo a
Taxa Selic ser acumulada com outro índice, já que o seu cálculo
abrange, além dos juros, a inflação do período. Observou-se,
também, que, se os pagamentos forem efetuados após
1º/1/1996, o termo inicial para a incidência da Taxa Selic será a
data do pagamento indevido. No entanto, se houver

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

pagamentos anteriores à data da vigência da mencionada lei, a


Taxa Selic terá como termo inicial da data de 1º/1/1996. (STJ –
REsp. 1.111.175-SP, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em
10/6/2009).

Em caso de tributos estaduais, distritais e municipais, aplica-se os índices


definidos nas leis de cada ente tributante. Por outro lado, pode a lei do ente federativo
indicar a SELIC para incidir sobre seus créditos tributários. Veja o entendimento
sumulado do STJ a respeito do tema:

Súmula 523. A taxa de juros de mora incidente na repetição de


indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada
para cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a
incidência da taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista
na legislação local, vedada sua cumulação com quaisquer outros
índices.

O CTN também disciplina o prazo para pleitear a restituição do indébito:

Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o


decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: 27
I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da
extinção do crédito tributário; (Vide art 3 da LCp nº 118, de
2005)
II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se
tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado
- judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou
a decisão
rescindido a decisão condenatória.

Primeiramente, cumpre destacar que há uma discussão doutrinária a respeito


da natureza jurídica do prazo acima. Alguns entendem se tratar de prazo prescricional,
por se perder a pretensão à obtenção da restituição. Outros afirmam ser um prazo
decadencial, uma vez que há a perda do direito de pleitear a restituição.
Pelas disposições dos arts. 168 e 169, ambos do CTN, percebe-se que o
legislador atribuiu o caráter de prazo decadencial de 05 anos para se pleitear a
restituição administrativamente e o prazo prescricional de 02 anos para o ingresso de
ação judicial visando anular a decisão administrativa.
Daí, pergunta-se: se o contribuinte resolver requerer a restituição
diretamente no âmbito judicial, qual prazo aplicável e sua natureza jurídica?
Em verdade, esse pedido de restituição, no prazo de 05 anos, ora tratado,
refere-se ao pleito, tanto na via judicial, quanto na via administrativa. Ocorre que, caso
o sujeito passivo, venha requerer a restituição pela via administrativa e seja negado seu

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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pleito, poderá, ainda, ingressar com uma ação anulatória dessa decisão, no prazo
prescricional de 02 anos, conforme art. 169 do CTN.

ATENÇÃO! O STJ sumulou o seguinte entendimento: “Súmula 625. O pedido


administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional
para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da
execução de título judicial contra a Fazenda Pública.”
Professor, não entendi essa súmula. Não foi dito acima que o prazo de 05 anos do art.
168 do CTN seria tanto para requerer a repetição na via judicial quanto na via
administrativa?
Sim. Contudo, conforme entendimento da súmula, caso o sujeito passivo opte por
requerer administrativamente e a resposta seja dada após os 05 anos, não poderá haver
pedido de repetição na via judicial. Isso porque, conforme tal entendimento, o pedido
administrativo da restituição não interrompe o prazo prescricional para ação de
repetição do indébito tributário. A razão desse entendimento da súmula é porque o
pedido administrativo de repetição não consta como hipótese de interrupção da
prescrição tributária, nos termos do art. 174 do CTN.
Por exemplo: O contribuinte, em 2012, paga duas vezes o IPTU. Quando chega em 2017,
antes de completar os 05 anos, ele faz pedido administrativo de repetição. Em 2018, o
fisco nega o pedido. Nesse caso, não poderá mais pedir a repetição na via judicial, em
razão da prescrição.
Tudo bem, professor. O contribuinte, nesse exemplo, não poderia ingressar mais com
28
ação de repetição diante da prescrição, contudo, não poderia entrar com ação
anulatória, com base no art. 169 do CTN?
Sim. Como será tratado adiante, a resposta negativa, na via administrativa, do pedido
de repetição, possibilita o ingresso com ação anulatória dessa decisão, no prazo de 02
anos.
-
A súmula em questão não trata da ação anulatória, principalmente porque as hipóteses
dos arts. 168 e 169 do CTN são diversas. Nessa linha, o STJ: “O contribuinte que formula
pleito de compensação na via administrativa dispõe de dois anos, a contar da ciência da
resposta que o denega, para ingressar em juízo com a respectiva pretensão anulatória,
nos termos do art. 169 do CTN. (STJ. 1ª Turma. REsp. 1180878/RS, Rel. Min. Sérgio
Kukina, j. 06.02.2018)”.

Por outro lado, se resolver ingressar diretamente na via judicial, terá o prazo
prescricional de 05 anos.
O termo inicial desse prazo de 05 anos vai depender do tipo de lançamento do
tributo. Nos lançamentos de ofício e por declaração, como é o Fisco quem intima para
pagamento, informando o montante, tem-se como extinto o crédito na data do
pagamento, na forma do art. 168, I, do CTN.
Nessa linha, o STJ proferiu decisão em sede de recurso repetitivo:

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O prazo de prescrição quinquenal para pleitear a repetição


tributária, nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício, é
contado da data em que se considera extinto o crédito
tributário, qual seja, a data do efetivo pagamento do tributo, a
teor do disposto no artigo 168, inciso I, c.c artigo 156, inciso I, do
CTN. (STJ - REsp 1110578/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, j. 12.05.2010)

De outra maneira, no caso de lançamento por homologação, havia a


controvérsia sobre a aplicação da tese dos 5 anos mais 5 anos. Isso porque, na prática,
o fisco levava os 5 anos para homologar o lançamento e, a partir desse ato, ter-se-ia 5
anos para requerer a repetição do indébito.
Contudo, após a Lc nº 118/2005, o termo inicial do prazo para requerer a
restituição do tributo, nos casos de lançamento por homologação, passou a ser a data
do pagamento antecipado, conforme art. 3º dessa fonte normativa. Transcreve-se:

Art. 3o Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei


no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional,
a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo
sujeito a lançamento por homologação, no momento do
pagamento antecipado de que trata o § 1o do art. 150 da
referida Lei. 29
Nos termos do voto do Min. Albino Zavascki:

“Assim, na hipótese em exame, com o advento da LC 118/2005,


a prescrição,
- do ponto de vista prático, deve ser contada da
seguinte forma: relativamente aos pagamentos efetuados a
partir da sua vigência (que ocorreu em 09.06.2005), o prazo
para a ação de repetição do indébito é de cinco anos a contar da
data do pagamento; e relativamente aos pagamentos
anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema
anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a
contar da vigência da lei nova”.

Atualmente, portanto, o prazo para requerer a repetição do indébito dos


tributos sujeitos ao lançamento por homologação também é de 5 anos, a contar do
efetivo pagamento antecipado.
Quanto ao inciso II do art. 168, destaca-se que se refere à hipótese em que o
contribuinte pagou um tributo por força de uma decisão condenatória, a qual,
posteriormente, teve seu entendimento modificado definitivamente. Conforme esse
dispositivo, o sujeito passivo terá o prazo de 5 anos para pleitear a restituição, contados
da decisão definitiva que lhe foi favorável.

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Há de se mencionar o prazo para se requerer restituição do indébito quando


existir decisão de controle concentrado ou de controle difuso de constitucionalidade,
sendo, nesse último caso, a partir da suspensão da norma pelo Senado.
Para o STJ, a declaração de inconstitucionalidade é irrelevante para o termo a
quo da ação de repetição do indébito tributário (AgRg. no REsp. nº 615.819/RS). O termo
inicial segue normalmente o previsto nos incisos I e II, a depender do caso.
Isso porque, se o termo inicial apenas ocorresse com a declaração de
inconstitucionalidade, traria uma insegurança jurídica, uma vez que inexiste prazo para
o controle de constitucionalidade das normas.
Quanto ao prazo para ingressar com a ação anulatória da decisão
administrativa negatória da restituição, caso o sujeito passivo tivesse requerido,
primeiramente, na via administrativa, o art. 169 determina o prazo prescricional de 2
anos, a contar da decisão.

Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão


administrativa que denegar a restituição.
Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo
início da ação judicial, recomeçando o seu curso, por metade, a
partir da data da intimação validamente feita ao representante
judicial da Fazenda Pública interessada.
30
De início, constata-se que se trata de prazo prescricional. Como mencionado,
a aplicação deste artigo ocorre apenas se houver decisão administrativa denegatória.
Interessante, ainda, a norma contida no parágrafo único supratranscrito. Trata-
se de hipótese de prescrição intercorrente, verificada em caso de o processo judicial
não ser finalizado no prazo. Contudo, apenas se aplica na situação de a demora ser
imputada ao próprio autor da- ação.
Entende-se, a doutrina, que a esse parágrafo também se aplica o entendimento
esposado na seguinte súmula do STF:

Súmula 383. A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça


a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas
não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do
direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

A diferença é que, no caso do parágrafo único acima, o prazo a ser observado


é o de dois anos.
Por exemplo: se o sujeito passivo ajuíza ação após 8 meses da decisão que
negou o pedido de restituição; interrompida a prescrição, o prazo prescricional
recomeçará da intimação da Fazenda Pública por mais 16 meses, pois não poderia ficar
aquém dos 2 anos previstos inicialmente.

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Por fim, cabe dispor acerca da restituição de créditos tributários prescritos.


Diferentemente do que ocorre na seara civil, os créditos tributários que atinjam a
prescrição se tornam extintos automaticamente (art. 156, V, CTN).
Por isso, quando há o pagamento de um crédito tributário prescrito, cabe a
restituição, uma vez que se pagou algo que já não mais existia.

1.3.2. COMPENSAÇÃO

A compensação, em direito tributário, sempre exige lei, seja estipulando as


condições e garantias, seja delegando à autoridade competente a incumbência de fazê-
lo.
Nesse sentido, veja o art. 170 do CTN:

Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que


estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade
administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários
com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do
sujeito passivo contra a Fazenda pública.
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a
lei determinará, para os efeitos deste artigo, a apuração do seu
montante, não podendo, porém, cominar redução maior que a
31
correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo
tempo a decorrer entre a data da compensação e a do
vencimento.

Sobre os requisitos acima, tem-se como certo o crédito que não exista dúvida;
-
líquido o que possui valor determinado; vencido o que já expirou o prazo para
pagamento; e fungível quando os objetos das dívidas são semelhantes, determinados
pelo gênero ou quantidade.
Conforme já decidiu o STJ, “a compensação tributária adquire a natureza de
direito subjetivo do contribuinte, desde que haja a concomitância de três elementos
essenciais” (REsp. 867.895/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, j. 08.04.2008):

a) o crédito tributário, como produto do ato administrativo do


lançamento ou do ato-norma do contribuinte que constitui o
crédito tributário;
b) o débito do fisco, como resultado de ato administrativo de
revogação, anulação ou reforma; de decisão administrativa; ou
de decisão judicial; e
c) a existência de lei específica editada pelo ente competente,
que autorize a compensação.

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ATENÇÃO! O prazo para se pleitear judicialmente a compensação de créditos


tributários será o mesmo para repetição do indébito do art. 168 do CTN, qual seja, 05
anos.

Outra questão é que, no direito tributário, pode-se compensar créditos


vincendos, todavia, somente o valor que a Fazenda Pública deve ao sujeito passivo. O
crédito tributário não pode ser vincendo, ou seja, o valor que o sujeito passivo deve ao
Fisco tem que se encontrar vencido para se autorizar a compensação.
Nesse caso, o parágrafo único acima traz uma limitação à Fazenda, estipulando
como teto um redutor no percentual de 1% a.m. pelo tempo a decorrer entre a data da
compensação e a do vencimento.
Por exemplo: em 05.05.2017, o sujeito passivo tem um crédito de R$10.000,00
contra a Fazenda Pública, que possui vencimento em 05.06.2017; caso seja realizada a
compensação em 05.05.2017, a Fazenda poderá reduzir do montante acima até 1% (já
que só há um mês de diferença entre a data da compensação e a do vencimento).
Todavia, se o crédito estiver sendo discutido judicialmente, não pode o sujeito
passivo se aproveitar dele para realizar a compensação antes do trânsito em julgado da
decisão judicial. Isso porque o crédito não possui a certeza necessária para a
compensação. 32
O CTN trata do assunto no artigo a seguir:

Art. 170-A. É vedada a compensação mediante o


aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo
sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva
- judicial. (Artigo incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)
decisão

Desse modo, a compensação só ocorrerá após o trânsito em julgado da


decisão que a reconhecer, nos termos do artigo em comento.
O STJ sumulou o entendimento de acordo com essa norma acima:

Súmula 212. A compensação de créditos tributários não pode


ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar cautelar ou
antecipatória.

O STJ entendia que não se podia pedir a suspensão do crédito tributário por
liminar, quando, na verdade, pretendia-se compensar o crédito antecipadamente. Hoje,
o STJ entende ser possível a suspensão liminar da exigibilidade de créditos tributários
a serem, posteriormente, compensados.

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Outro ponto é o cabimento de mandado de segurança para se DECLARAR o


direito à compensação tributária, nos termos da súmula 213 do STJ, in verbis:

Súmula 213. O mandado de segurança constitui ação adequada


para a declaração do direito à compensação tributária.

ATENÇÃO! No concurso para juiz de direito do TJRJ de 2019, a banca, baseando-se na


jurisprudência do STJ, considerou incorretas as seguintes assertivas:
“o mandado de segurança não constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.”
“a compensação de créditos tributários pode ser deferida em ação cautelar ou por medida
liminar cautelar ou antecipatória.”

Por outro lado, embora o sujeito passivo possa ingressar com um MS para o
judiciário declarar seu direito à compensação, não cabe a mesma ação para convalidar
a compensação já realizada. Esse é o entendimento também sumulado pelo STJ:

Súmula 460. É incabível o mandado de segurança para


convalidar a compensação tributária realizada pelo 33
contribuinte.

1.3.3. TRANSAÇÃO

A transação, outra forma


- de extinção do crédito tributário, deve ocorrer através
de lei, nos termos do art. 171 do CTN:

Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos
sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar
transação que, mediante concessões mútuas, importe em
determinação de litígio e consequente extinção de crédito
tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para
autorizar a transação em cada caso.

ATENÇÃO! No caput do art. 171 está disposto a palavra “determinação”, mas o correto
é “terminação”; a transação vai gerar o término do litígio e a extinção do crédito
tributário.

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Há uma discussão a respeito da possibilidade da transação, apenas, perante o


Judiciário ou se poderia, também, no âmbito administrativo. O CTN não faz nenhuma
restrição. A doutrina se encontra dividida quanto ao assunto, havendo entendimento
para ambas as possibilidades.

1.3.4. REMISSÃO (PERDÃO)

Consiste na dispensa gratuita da dívida, que só poderá ser concedida por lei
específica.
A CF/88 exige que haja lei específica para se conceder a remissão de tributos,
in verbis:

Art. 150. (...)


§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que
regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.
34
O CTN possui dispositivo no mesmo sentido, disciplinando a matéria no art.
172:

Art. 172. A lei pode autorizar a autoridade administrativa a


conceder,
- por despacho fundamentado, remissão total ou
parcial do crédito tributário, atendendo:
I - à situação econômica do sujeito passivo;
II - ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto a
matéria de fato;
III - à diminuta importância do crédito tributário;
IV - a considerações de equidade, em relação com as
características pessoais ou materiais do caso;
V - a condições peculiares a determinada região do território da
entidade tributante.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera
direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no
artigo 155.

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Primeiramente, cumpre destacar que esses incisos são direcionados ao


legislador e não ao aplicador da legislação tributária, uma vez que apresentam requisitos
a serem observados pela lei concessiva da remissão.
Em razão de o CTN utilizar a expressão “crédito tributário”, entende-se que
abrange os valores do tributo e das multas. Todavia, sabe-se que, no tocante às multas,
por ser penalidade, a hipótese é de exclusão do crédito tributário, através da anistia
(próximo ponto a ser estudado).
A diferença é que a exclusão impede o lançamento, ou seja, ocorre antes da
constituição do crédito; já a extinção ocorre depois do lançamento. Não obstante, a
anistia apenas se dá no tocante às multas e não ao tributo. Esse último, só pode ser
objeto de isenção (exclusão do crédito tributário referente ao tributo).
Deve-se fazer anotação sobre o inciso IV acima (“considerações de equidade,
em relação com as características pessoais ou materiais do caso”), pois poderá surgir
dúvidas quanto a sua aplicabilidade, em face da proibição do art. 108, § 2º, CTN:

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade


competente para aplicar a legislação tributária utilizará
sucessivamente, na ordem indicada:
IV - a equidade.
§ 2º O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa
do pagamento de tributo devido. 35
Entretanto, pela própria leitura da vedação do artigo acima, vislumbra-se que
se direciona ao aplicador do direito, enquanto os incisos do art. 172 são direcionados ao
legislador. Trata-se, então, de normas com finalidades distintas.
Assim, não pode o aplicador da norma, com base em equidade, dispensar
pagamento de tributo devido,- mas ao legislador é permitido, levando-se em conta as
características pessoais ou materiais do caso, utilizar da equidade para editar lei
específica para conceder ou autorizar a remissão.
O parágrafo único do art. 172 aponta a concessão de remissão em caráter
individual, remetendo-se às regras da moratória individual.
Assim, utilize o esquema sobre moratória individual para esquematizar as
normas, aplicando-as à remissão em caráter individual (não gera direito adquirido;
revogação de ofício, incidência de penalidade em caso de dolo ou simulação, sem correr
a prescrição; não incidência de penalidade nos demais casos, correndo a prescrição etc).

1.3.5. DECADÊNCIA

A decadência e a prescrição são tratadas pelo CTN como formas de extinção do


crédito tributário. Por esse motivo, em ambos os casos cabe a repetição do indébito,
uma vez que se pagou algo que já não mais existia.

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A decadência ocorre antes do lançamento e a prescrição depois do lançamento


definitivo.
A maior controvérsia sobre a decadência se consubstancia no termo inicial dela.
Ele irá variar conforme a modalidade do lançamento do tributo e a circunstância do caso.
O art. 173 e o § 4º do art. 150, ambos do CTN, disciplinam a matéria:

Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito


tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado;
II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver
anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente
efetuado.
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-
se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto,
contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do
crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de
qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento.
Art. 150. (...)
§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco
anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse
36
prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado,
considera-se homologado o lançamento e definitivamente
extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo,
fraude ou simulação.

-
O art. 173, I, acima traz a regra geral para a contagem do prazo decadencial de
05 anos. Primeiro, há de se observar que o lançamento tributário pode ser realizado
desde a ocorrência do fato gerador. Como se viu, o lançamento declara a obrigação
tributária e constitui o crédito. Só se pode declarar essa obrigação se ela houver surgido,
ou seja, apenas com o surgimento do fato gerador (art. 113, § 1º, CTN).
Destarte, com o surgimento do FG, o fisco já poderia lançar o tributo e seu
prazo decadencial para tanto se inicia do ano seguinte a esse surgimento.
Por exemplo: uma pessoa compra um carro novo em fevereiro de 2015; surge
o FG do IPVA (propriedade do veículo automotor); o fisco, nesse instante, já poderia
lançar o IPVA respectivo; assim, o início do prazo decadencial de 05 anos será a partir
de 01.01.2016 (primeiro dia do exercício seguinte); já o tempo final para lançar tal
tributo seria em 31.12.2020 (05 anos após e um dia antes da decadência, já que, no dia
01.01.2021, o crédito já estaria decaído).
Já o inciso II, traz uma norma específica para os casos de anulação do
lançamento por vício formal, realizado em decisão judicial ou administrativa. O prazo
decadencial de 05 anos apenas se inicia com o trânsito em julgado dessa decisão
anulatória.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Não se aplica, essa hipótese, aos casos de anulação por vício material, mas
apenas por vício formal. Nesse sentido, o STJ:

Apenas a existência de vício formal autoriza aplicação do artigo


173, II do Código Tributário Nacional em que o prazo
decadencial passa a contar da data em que se tornar definitiva
a anulação de lançamento tributário. (STJ - AgRg no REsp
1050432/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, 2ª TURMA, j.
18.05.2010)

ATENÇÃO! Essa hipótese não é o caso da súmula 392 do STJ: “A Fazenda Pública pode
substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos,
quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do
sujeito passivo da execução.”.
A súmula trata de alteração da CDA por erro formal ou material, mas não de alteração
do lançamento, tanto que veda a alteração do sujeito passivo da CDA, já que estaria
modificando o próprio lançamento.

Desse modo, anulando-se o lançamento por vício formal, o fisco terá NOVO
prazo decadencial para realizar outro lançamento, inclusive rever todos os aspectos
materiais envolvendo o fato gerador, não se restringindo à solução do vício formal.
37

ATENÇÃO!
Vício formal é aquele que diz respeito à forma de constituição do crédito (exemplos:
competência da autoridade lançadora;
- ampla defesa e contraditório etc).
Vício material diz respeito à própria existência do crédito tributário (exemplos: sujeito
passivo, fato gerador, alíquota, base de cálculo etc).

O parágrafo único do art. 173 contém uma hipótese de antecipação da


contagem do prazo decadencial. Segundo essa norma, o prazo de 05 anos já começa a
contar da notificação do sujeito passivo de qualquer medida preparatória do
procedimento de lançamento.
Como assim?
Bem, a regra geral seria do art. 173, I, (primeiro dia do exercício seguinte), no
entanto, se o fisco, em um procedimento fiscalizatório, já constata a ocorrência do FG,
ao notificar o contribuinte do início dessa fiscalização, o prazo decadencial já começa a
contar daí e não do exercício seguinte à ocorrência desse FG.
Em verdade, há uma antecipação da contagem do prazo decadencial que
beneficia o contribuinte e prejudica o fisco, uma vez que terá um prazo menor para
realizar o lançamento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Nesse sentido, o STJ:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA. FATO GERADOR


OCORRIDO EM 2005. CONTEÚDO DA NOTIFICAÇÃO REALIZADA
EM 2010. QUESTÃO RELEVANTE. AUSÊNCIA DE VALORAÇÃO.
OMISSÃO CONFIGURADA. [...] 3. Segundo a jurisprudência do
STJ, a regra do art. 173, parágrafo único, do CTN, ao mencionar
a "medida preparatória indispensável ao lançamento", apenas
antecipa o termo inicial da decadência (para momento anterior
ao estabelecido no art. 173, I, do CTN), não o prorrogando,
entretanto, visto que este não se suspende ou interrompe. [...]
(REsp 1758098/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 11/09/2018, DJe 04/02/2019)

ATENÇÃO! Essa norma só será aplicada aos prazos decadenciais que ainda não se
iniciaram. Se, no procedimento preparatório, já houver iniciado o prazo de 05 anos para
o lançamento, não haverá qualquer influência nesse prazo.
Lembre-se que se trata de regra que antecipa a contagem do prazo, mas se esse já se
iniciou, não haverá o que antecipar.

38
As normas sobre o lançamento por homologação somente são aplicadas se o
contribuinte declarou a matéria de fato e efetuou o pagamento do tributo, mesmo que
seja ínfimo.
Nesse caso, o prazo decadencial segue o § 4º do art. 150 do CTN, contando-se
os 05 anos (salvo se a lei complementar previr outro prazo) da ocorrência do fato
gerador. -
Esse prazo não se aplica no caso de comprovado dolo, fraude ou simulação,
situação na qual aplicar-se-á a regra geral de decadência para o lançamento de ofício
(art. 173, I, CTN).
Primeiro, o contribuinte precisa realizar a declaração do débito. Caso não
realize essa declaração, caberá ao Fisco realizar o lançamento de ofício em decorrência
da omissão. Nessa hipótese, o prazo decadencial para o lançamento segue a regra geral
do art. 173, I, do CTN. O STJ já possui entendimento sumulado nesse sentido:

Súmula 555. Quando não houver declaração do débito, o prazo


decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito
tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do
CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o
dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da
autoridade administrativa.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Segundo, o contribuinte deve realizar o respectivo pagamento do débito.


Todavia, se o sujeito passivo faz a declaração e não paga, o STJ entende que a
declaração já serve como constituição do crédito e não precisa qualquer outra
providência do fisco. Nessa hipótese, não há que se falar em prazo decadencial, mas,
apenas, em prazo prescricional.
O STJ já sumulou esse entendimento:

Súmula 436. A entrega de declaração pelo contribuinte


reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário,
dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

ATENÇÃO! Essa súmula 436 acima pode gerar algumas dúvidas. Portanto, resolvi tecer
algumas considerações.
Se, no lançamento por homologação, o contribuinte declara e não paga, conforme o
entendimento do STJ (Súmula 436), o crédito tributário decorrente do fato gerador
DECLARADO já se encontra constituído. Certo?
Contudo, pergunta-se: o contribuinte pode omitir informação, declarando somente
parte do FG?
Sim.
Então, aquilo que ele declarou como FG pode não ser tudo e ainda restar crédito a ser
constituído. Correto?
39
Todavia, esse crédito restante, cuja informação sobre o FG fora omitida pelo
contribuinte, só poderá ser constituído, através do lançamento de ofício, se não tiver
sido ultrapassado o prazo decadencial para lançar essa parte.
Veja que não se está falando da parte que o contribuinte declarou. Essa aqui, o crédito
já está constituído e não há- no que se falar em decadência. Pode-se falar até em
prescrição, se o Fisco não cobrar dentro do prazo, mas decadência não.
O que o fisco ainda pode lançar é a parte omitida do FG, ou seja, não declarada pelo
contribuinte. Ora, se não foi declarada pelo contribuinte, tem-se que lançar de oficio,
obedecendo o prazo decadencial geral do art. 173, I, do CTN.

Assim, em regra, o sujeito passivo deve declarar e pagar o tributo devido,


tendo o fisco 5 anos, a contar da ocorrência do fato gerador, para homologar
expressamente; caso não homologue de forma expressa no prazo, considera-se
homologado tacitamente e ocorre a extinção definitiva do crédito. Nesse caso, também
se opera a impossibilidade de o Fisco realizar eventual lançamento suplementar de
ofício, já que ensejará a extinção do crédito tributário.

1.3.6. PRESCRIÇÃO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

O prazo prescricional do crédito tributário só começa a correr após sua


constituição definitiva, conforme dispõe o art. 174 do CTN:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve


em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução
fiscal; (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que
importe em reconhecimento do débito pelo devedor.

O crédito só se encontra definitivamente constituído após o lançamento e


escoado o prazo para impugnação ou, ainda, se impugnado o crédito, após a decisão
definitiva administrativa.

ATENÇÃO! A impugnação do crédito é causa de suspensão da exigibilidade e, por


conseguinte, da prescrição (art. 151, III, CTN). 40
Isso porque, primeiramente, deve-se abrir prazo para impugnação, em virtude
dos postulados da ampla defesa e do contraditório. Em segundo lugar, a impugnação do
crédito enseja a possibilidade de sua modificação, nos termos do art. 145, I, do CTN.
Quanto à interrupção - da prescrição prevista nos incisos do parágrafo único
supratranscrito, os três primeiros casos apenas ocorrem no âmbito judicial; a última
hipótese se consubstancia na única em que pode ser extrajudicialmente.
Atente ao inciso I, cuja redação originária previa a interrupção apenas com a
citação. Essa mudança se aplicou imediatamente aos processos em curso, contudo,
apenas aos que o despacho de citação ocorrera após a mudança. Observe-se o trecho
do julgado do STJ que esclarece bem a matéria:

A Lei Complementar 118, de 9 de fevereiro de 2005 cuja


vigência teve início em 09.06.05, modificou o art. 174 do CTN
para atribuir ao despacho do juiz que ordenar a citação o efeito
interruptivo da prescrição e por se constituir norma processual
deve ser aplicada imediatamente aos processos em curso,
podendo incidir mesmo quando a data da propositura da ação
seja anterior à sua vigência. Contudo, a novel legislação é
aplicável quando o despacho do magistrado que ordenar a
citação seja posterior à sua entrada em vigor. (STJ - AgRg no

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-

REsp 1073004/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, 2ª TURMA, j.


20.11.2008)

O STJ também decidiu que a citação válida da pessoa jurídica interrompe a


prescrição em relação ao sócio responsável pelo débito fiscal (Resp 751906, j.
21.02.2006). Esse entendimento se aplica aos casos de redirecionamento fiscal para os
sócios, no caso de responsabilidade pessoal, contida no art. 135 do CTN.
Os incisos II e III se referem a qualquer medida judicial adotada pelo credor,
demonstrando que não se encontra inerte.
O inciso IV, como dito, é a única hipótese de interrupção que pode ser
extrajudicialmente e, ainda, por iniciativa do próprio devedor, como: pedido de
parcelamento (hipótese em que interromperá a prescrição e logo que deferido
suspenderá a exigibilidade do crédito); pedido de compensação de débito; confissão de
dívida (hipótese que não impede o pedido de restituição, caso haja algum crédito
tributário indevidamente pago, já que a restituição independe de prévio protesto - art.
165 do CTN, portanto, não importa os motivos que levaram o pagamento indevido).
Além dessas hipóteses de interrupção, a prescrição tributária pode ser
suspensa. O CTN, embora não preveja expressamente hipóteses de suspensão, pode-se
afirmar que, no caso de moratória individual dolosa ou fraudulenta, não corre a
prescrição entre a obtenção e a “revogação”, conforme parágrafo único do art. 155 do
CTN.
Cabe dispor, ainda, que esse parágrafo único do art. 155 se aplica, também, ao
41
parcelamento, à remissão, à isenção e à anistia, obtidos em caráter individual com base
em procedimento fraudulento.
Também ocorre a suspensão em todos os casos em que a exigibilidade do
crédito tributário se perfaz suspensa.
A doutrina ainda aponta como hipótese de suspensão da prescrição, o disposto
-
no art. 2º, § 3º, da Lei nº 6.830/80 (LEF). Conforme esse dispositivo, suspende-se a
prescrição do crédito da Fazenda Pública, pelo prazo de 180 dias ou até a distribuição
da execução fiscal. Veja o que dispõe o texto normativo:

Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela


definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17
de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui
normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle
dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal.
§ 3º - A inscrição, que se constitui no ato de controle
administrativo da legalidade, será feita pelo órgão competente
para apurar a liquidez e certeza do crédito e suspenderá a
prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até
a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo
aquele prazo.

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Todavia, como a LEF aplica-se a créditos tributários e não tributários (§ 2º, art.
2º, LEF) e os casos de suspensão de prescrição de crédito tributário apenas podem ser
previstos em Lc nacional, o STJ entende que essa regra acima apenas se aproveita aos
créditos não-tributários (REsp. 249262, 1ª T, j. 18.05.2000).
Interessante ponto se refere à prescrição intercorrente. Há mais uma hipótese
de suspensão da prescrição, quando o feito é arquivado pelo período de 1 ano.
Observe o art. 40 da LEF:

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não


for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais
possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de
prescrição.
§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos
ao representante judicial da Fazenda Pública.
§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja
localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz
ordenará o arquivamento dos autos.
§ 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou
os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da
execução. 42
4o
§ Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido
o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e
decretá-la de imediato.(Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004)
§ 5o A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no § 4o
deste -artigo será dispensada no caso de cobranças judiciais cujo
valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro de
Estado da Fazenda.(Incluído pela Lei nº 11.960, de 2009)

Entende-se que, durante o prazo de 1 ano, previsto no § 2º acima, não se


computa a prescrição.
Sobre o tema, o STJ sumulou o seguinte entendimento:

Súmula 314. Em execução fiscal, não localizados bens


penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual
se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Cumpre mencionar o novo posicionamento do STJ a respeito da prescrição


intercorrente na execução fiscal, dando nova interpretação ao art. 40 da LEF (REsp.
1.340.553, 1ª Seção, j. 12.09.2018). Essa Corte Superior decidiu, resumidamente, que
basta a Fazenda ter ciência da não localização do executado ou de bens passíveis de

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penhora, para haver a contagem da suspensão do processo por 1 ano e, em seguida, os


5 anos da prescrição intercorrente.
Esquematização do resumo da decisão:

OBSERVAÇÃO: Atente que esse caso de suspensão da prescrição apenas se refere à


execução fiscal. Não se admite prescrição intercorrente no processo administrativo
tributário, uma vez que, pendente de julgamento, a exigibilidade do crédito resta
suspensa.

1.3.7. CONVERSÃO DO DEPÓSITO EM RENDA

Essa hipótese ocorre quando o sujeito passivo deposita integralmente o crédito


tributário em juízo para suspender o crédito, inclusive obstar os juros de mora, e a ação,
43
por qualquer motivo que seja (com ou sem resolução do mérito), é extinta.
A extinção da ação em que se discute o crédito tributário, cujo valor foi
depositado, leva a conversão desse depósito em renda, extinguindo-se aquele.
Caso o contribuinte vença a ação, poderá levantar o valor.
Impende frisar que não - existe procedimento específico para a conversão em
renda e a consequente extinção do crédito tributário. Por isso, alguns autores defendem
a necessidade de o juiz, de ofício, determinar a conversão, adotando-se, por analogia, o
disposto no art. 32, II, §, 2º, da LEF:

§ 2º - Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito,


monetariamente atualizado, será devolvido ao depositante ou
entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo
competente.

1.3.8. PAGAMENTO ANTECIPADO E A HOMOLOGAÇÃO DO LANÇAMENTO

Trata-se da hipótese de lançamento por homologação, visto anteriormente. O


sujeito passivo declara e paga antecipadamente o tributo, cujo crédito só será extinto
com a homologação, expressa ou tácita, do fisco.

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1.3.9. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO JULGADA PELA PROCEDÊNCIA

As hipóteses da consignação em pagamento estão disciplinadas no art. 164 do


CTN:

Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser consignada


judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos:
I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao
pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao
cumprimento de obrigação acessória;
II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de
exigências administrativas sem fundamento legal;
III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito
público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador.
§ 1º A consignação só pode versar sobre o crédito que o
consignante se propõe pagar.
§ 2º Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa
efetuado e a importância consignada é convertida em renda;
julgada improcedente a consignação no todo ou em parte,
cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem prejuízo das
penalidades cabíveis.
44
Entende-se que essa ação consignatória se diferencia do depósito do montante
integral. Na primeira, o depósito só ocorre do que o sujeito passivo entende devido e,
na segunda, há o depósito do crédito cobrado pelo fisco para se evitar os consectários
da mora e discutir o crédito imputado.
-
O rito processual a ser observado é o previsto nos arts. 539 e ss. do NCPC, com
atenção às peculiaridades do crédito tributário.
Por exemplo: o art. 541 do NCPC determina que, “tratando-se de prestações
sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo
processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até
5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento.”.
Todavia, o crédito tributário tem que ser depositado em juízo na data do seu
respectivo vencimento, sob pena de incidência de multa e juros moratórios.
Esse é o posicionamento do STJ (AgRg. no REsp. 1.365.761, 1ª Turma, j.
09.06.2015), sob o seguinte argumento:

“não se pode permitir que o contribuinte ou responsável


tributário, por estar em juízo, seja agraciado com mais 5 dias
para adimplir o tributo, só porque ajuíza ação consignatória em
pagamento, porquanto, diretamente, estar-se-ia criando

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-

distinção vedada pela Constituição Federal (art. 150, inciso I, da


Constituição Federal), além de estar-se estabelecendo espécie
de moratória tributária, de caráter geral, sem previsão legal.”

No tocante ao inciso I, entende-se que não só é possível a consignação por


subordinação ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, mas, também, no caso
de subordinação ao recebimento de juros e correção monetária (STJ – REsp. 55911).
No inciso III, trata-se de hipótese de tentativa de bitributação, como no caso
de dois municípios limítrofes cobrarem IPTU sobre o mesmo imóvel.

ATENÇÃO! Lembre-se da dica sobre o conceito de bitributação e bis in idem.


Às vezes nos confundimos para saber quando se trata de bitributação e quando se
trata de bis in idem. Temos em mente que um deles se refere a 2 entes distintos e o
outro se refere ao mesmo ente, mas qual é qual?
Lembrem-se que a palavra “idem” significa “o mesmo”.
Daí, temos que “bis in idem” se refere ao mesmo ente que cobra dois tributos ou
duas vezes o mesmo tributo.
Já a “bitributação” se refere a 2 entes distintos que pretendem cobrar sob o mesmo
fato gerador ao mesmo contribuinte.
45
Por outro lado, há situações em que entes tributantes distintos exigem tributos,
também, diversos para o mesmo fato gerador. Nesses últimos casos, caberá a
consignação para se averiguar qual ente federativo detém competência tributária para
a exigência tributária.
Por exemplo: um determinado
- imóvel se encontra situado em uma área que
não se sabe sua classificação, se imóvel urbano ou rural; surge, então, a dúvida sobre
quais dos impostos (IPTU ou ITR) esse imóvel se encontra sujeito; se for considerado
imóvel urbano, a competência tributária será do município (IPTU – imposto municipal),
mas se rural, a competência tributária será da União (ITR – imposto federal).
Não obstante o exemplo, sabe-se que o Município pode vir a fiscalizar e cobrar
o ITR (art. § 4º, III, CF), o que não retira da União a competência tributária para instituir
o imposto.
Por fim, frisa-se, a respeito do § 2º acima, que só no caso de procedência é que
o montante depositado em consignação é convertido em renda e o crédito extinto. Em
caso de improcedência, os encargos moratórios apenas incidem sobre a diferença e não
sobre todo o crédito tributário. O STJ também entende cabível a ação consignatória,
quando o Fisco cobra um crédito maior do que o contribuinte entende devido (REsp.
667.302).

1.3.10. DECISÃO ADMINISTRATIVA IRREFORMÁVEL

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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A decisão administrativa irreformável é aquela proferida em definitivo na órbita


do contencioso administrativo e, segundo o mesmo inciso IX do art. 156 do CTN, “que
não mais possa ser objeto de ação anulatória”.
Apesar de alguns entenderem que não há interesse de agir da Fazenda para
procurar o Judiciário para anular suas próprias decisões, tem-se entendido que nos
casos de graves vícios, haveria esse interesse.

1.3.11. DECISÃO JUDICIAL PASSADA EM JULGADO

Apenas extingue o crédito a proferida em favor do sujeito passivo, não mais


sujeita à recurso.
Importante mencionar que a extinção do crédito com base no inciso X do art.
156 do CTN, ora tratado, apenas se refere à coisa julgada material. Isso porque a coisa
julgada formal apenas atinge o processo extinto, o que não impede o ingresso com outra
ação.
Destaca-se, também, a súmula 239 do STF:

Súmula 239. Decisão que declara indevida a cobrança do


imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em
relação aos posteriores.
46
O teor dessa súmula alude às ações judiciais que questionam o próprio
lançamento, limitados ao tempo da discussão judicial (objeto da lide). Se, por outro lado,
a demanda for em torno do próprio tributo, os efeitos da coisa julgada se protraem nos
períodos posteriores.
Por exemplo: uma empresa
- questiona o lançamento do IRPJ do ano de 2013;
caso a decisão judicial declare indevida a cobrança do IRPJ/2013, não atinge os demais
anos, ficando circunscrita ao ano impugnado.
Diferentemente, um ente questiona a cobrança do próprio IR, por entender se
encaixar em hipótese de imunidade; nessa situação, declarado o enquadramento na
imunidade, os efeitos da decisão se prolongam.

1.3.12. DAÇÃO EM PAGAMENTO DE BENS IMÓVEIS

A dação em pagamento faz extinguir a obrigação. No caso de direito tributário,


o sujeito passivo tem como prestação devida o dinheiro (art. 3º do CTN), contudo, o CTN
excepcionou para acolher a dação em pagamento de bens imóveis, como forma de
extinguir o crédito tributário.
O STF já se posicionou (ADI 1917) no sentido de que a extinção do crédito
tributário apenas pode ocorrer nas hipóteses previstas no CTN (Lc de caráter nacional

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dispondo sobre normas gerais em matéria tributária – art. 146, III, CF). Portanto, só
poderia haver dação em pagamento de bens móveis caso fosse previsto no CTN.
De todo modo, o STF, na ADI-MC 2405, modificou seu entendimento,
assegurando aos Estados-membros disciplinarem regras específicas de quitação dos
seus próprios créditos tributários. Desse modo, os Estados-membros podem criar novos
casos de extinção de seus créditos tributários, ainda que não previstos no CTN.
Observe trecho da ementa:

Extinção de crédito tributário criação de nova modalidade


(dação em pagamento) por lei estadual: possibilidade do
Estado-membro estabelecer regras específicas de quitação de
seus próprios créditos tributários. Alteração do entendimento
firmado na ADInMC 1917-DF, 18.12.98, Marco Aurélio, DJ
19.09.2003: consequente ausência de plausibilidade da alegação
de ofensa ao art. 146, III, b, da Constituição Federal, que reserva
à lei complementar o estabelecimento de normas gerais
reguladoras dos modos de extinção e suspensão da exigibilidade
de crédito tributário. (ADI 2405 MC, Relator(a): Min. Carlos
Britto, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal
Pleno, j. 06.11.2002)

Com essa decisão, torna-se possível que os entes federativos disciplinem outras 47
formas de extinção do crédito tributário, inclusive a dação em pagamento de bens
móveis.

1.4. EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO


-
Nos pontos anteriores, discorreu-se sobre o crédito tributário, sua constituição
pelo lançamento, algumas hipóteses de suspensão da exigibilidade e de sua extinção.
No presente ponto, serão abordadas as hipóteses de exclusão do crédito tributário.
Essa exclusão do crédito tributário significa impedir sua constituição, portanto,
ocorre antes do lançamento.
As hipóteses trazidas pelo CTN são: isenção e anistia.

Art. 175. Excluem o crédito tributário:


I - a isenção;
II - a anistia.
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o
cumprimento das obrigações acessórias dependentes da
obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela
consequente.

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A isenção exclui o crédito relativo ao tributo e a anistia referente à penalidade


pecuniária. Em ambas, contudo, não se exclui a obrigação acessória dependentes ou
consequentes da obrigação principal.
Por exemplo: um sujeito passivo isento de pagar ICMS não pode deixar de
realizar a escrituração de suas vendas (obrigação acessória).

1.4.1. ISENÇÃO

Há discussões doutrinárias a respeito da natureza jurídica da isenção.


A isenção se encontra como dispensa legal do pagamento do tributo devido.
Por isso, ocorrido o fato gerador, surge a obrigação tributária, mas não haverá
constituição do crédito pela dispensa legal de pagar o tributo.
Há diversas classificações doutrinárias a respeito das isenções, não fazendo
objetivo deste ponto esgotá-las. De todo modo, apresenta-se, de forma direta, algumas
delas no seguinte quadro:

Quanto à forma de concessão i) absoluta ou geral: concedida por lei;


ii) solene ou individual: prevista em lei e concedida 48
por despacho da autoridade.

Quanto à natureza i) onerosa ou condicionada: com ônus para o


beneficiário;
ii) gratuita ou incondicionada: sem ônus.
-
Quanto à capacidade i) técnica: o beneficiário não possui capacidade
contributiva contributiva; busca trazer isonomia;
ii) política: há capacidade contributiva, mas é
concedida por política fiscal.

Quanto à abrangência i) ampla: todo o território do ente;


ii) restrita: parte do território;
iii) setorial: apenas a alguns segmentos
econômicos.

Quanto aos elementos i) objetiva: em função do fato gerador do objeto;


ii) subjetiva: em função do sujeito passivo;
iii) mista: em função do objeto e do sujeito.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Quanto à revogação da isenção i) revogável;


ii) irrevogável.

Em razão da indisponibilidade do interesse público, a dispensa do pagamento


do tributo deve ser mediante lei específica, razão por que da exigência contida tanto no
art. 150, § 6º da CF quanto no art. 176 do CTN, in verbis:

Art. 150. (...)


§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que
regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

OBSERVAÇÃO: Atente que essa exceção do art. 155, § 2º, XII, “g”, CF, refere-se aos
casos, permitidos por Lc, em que os Estados e o DF concederão e revogarão isenções,
incentivos e benefícios fiscais sem ser por meio de lei específica. 49
Outrossim, impende destacar que a competência para isentar se perfaz um
desdobramento da competência para instituir um tributo. Por isso, se a CF exigir que
determinado tributo seja instituído mediante Lc, imprescindível a utilização desse
mesmo instrumento normativo para se conceder a isenção. Do mesmo modo, se
apenas for preciso Lo para instituí-lo, necessária somente Lo para isentar.
-

Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é


sempre decorrente de lei que especifique as condições e
requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se
aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.
Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada
região do território da entidade tributante, em função de
condições a ela peculiares.

ATENÇÃO! A expressão “ainda quando prevista em contrato” quer apontar aquelas


concedidas pelo ente tributante, através de contrato, para atrair investimentos. Essa
concessão contratual não atinge o direito tributário e, se não houver lei, não poderá
ser concedida a isenção. Poderá, por outro lado, existir uma responsabilidade na
esfera civil ou administrativa.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Essa mesma observação acima se aplica ao art. 179 do CTN, que também menciona
isenção com requisito previsto em “contrato” para sua concessão.

Importante registrar que o art. 151, III, da CF, proíbe a União de instituir
isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.
Trata-se do princípio da vedação às isenções heterônomas ou heterotópicas.
Esse princípio decorre do fato de o poder de isentar ser proveniente do poder
de tributar. Assim, como esse último deriva da competência atribuída pela CF, a isenção
do tributo só poderá advir, em regra, do próprio ente político competente para a
instituição do tributo. Essa vedação, por simetria, aplica-se aos Estados com relação aos
Municípios.
Contudo, há três exceções: isenção heterônoma do ICMS nas exportações (art.
155, § 2º, incisos X, “a”, e XII, “e”, todos da CF); isenção heterônoma do ISS na
exportação de serviços (art. 156, § 3º, II, CF); e a possibilidade de o tratado internacional
conceder isenções de tributos estaduais e municipais.
Sobre essa última possibilidade, tanto o STF quanto o STJ possuem a linha de
ser possível a União celebrar tratados internacionais prevendo hipóteses de isenções
para tributos estaduais e municipais. Isso porque, nesse caso, a União atua como
representante do Brasil. Observe as seguintes súmulas que mencionam hipóteses de
isenções concedidas em tratados internacionais:
50
Súmula 575 do STF. À mercadoria importada de país signatário
do GATT, ou membro da ALALC, estende-se a isenção do imposto
de circulação de mercadorias concedida a similar nacional.
Súmula 20 do STJ. A mercadoria importada de país signatário do
GATT é isenta do ICM, quando contemplado com esse favor o
-
similar nacional.
Súmula 71 do STJ. O bacalhau importado de país signatário do
GATT é isento do ICM.

Convém dispor ainda sobre a possibilidade trazida no parágrafo único do art.


176 do CTN supratranscrito. Esse dispositivo permite a concessão de isenção restrita a
determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela
peculiares.
Todavia, há de se observar o princípio da uniformidade geográfica contido no
art. 151, I, da CF, que veda a União de “instituir tributo que não seja uniforme em todo
o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro”.
Por outro lado, esse mesmo dispositivo constitucional excepciona nos casos dos
incentivos fiscais “destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-
econômico entre as diferentes regiões do País”.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Vislumbra-se, assim, a existência de consonância da norma contida no art. 176,


parágrafo único, do CTN, com a prevista na CF.
Resumindo: Em regra, não se pode conceder isenção que não seja uniforme ou
que implique distinção ou preferência de um ente federativo em detrimento de outro,
contudo, possibilita-se, excepcionalmente, a restrição desse benefício fiscal a
determinada região do território, diante das peculiaridades socioeconômicas.
Vê-se também que o art. 176 expõe que a lei concessiva da isenção deve
informar os tributos a que se aplica. Nesse sentido, o art. 177 vem a dispor que, salvo
lei em contrário, não se estende às taxas, às contribuições de melhoria e aos instituídos
posteriormente à sua concessão.

Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é


extensiva:
I - às taxas e às contribuições de melhoria;
II - aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.

A intenção de não extensão às taxas e às contribuições de melhoria se


correlaciona ao fato de que se trata de tributos contraprestacionais, de modo que o fato
gerador é definido com base em uma atividade estatal diretamente relacionada ao
contribuinte.
Isso quer dizer, por exemplo, que se houver uma isenção de IPTU, não se
51
estenderá à taxa de coleta domiciliar. Nada impede que a lei também preveja isenção
para essa taxa, como permite a parte inicial do caput acima.
Quanto aos tributos posteriormente criados, para fins de provas de concurso
público, pode-se entender que há a possibilidade de a isenção se estender a eles.
Primeiro, por causa da parte inicial do caput (“salvo disposição de lei em contrário”);
-
segundo, porque a lei que concede isenção é específica e pode conceder a tributo
futuro, atendendo o art. 150, § 6º, CF.
Todavia, a doutrina rechaça tal argumento, entendendo que não se pode
atribuir a isenção de forma tão genérica a ponto de abranger tributos sequer criados.

1.4.1.1. Revogação das isenções

As isenções podem ser gratuitas ou onerosas, havendo tratamento distinto


entre elas, principalmente no tocante à sua revogação.
O art. 178 trata delas:

Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em


função de determinadas condições, pode ser revogada ou
modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

inciso III do art. 104. (Redação dada pela Lei Complementar nº


24, de 7.1.1975)

ATENÇÃO! Esse art. 104, III, do CTN, prevê a aplicação do princípio da anterioridade
quando da extinção ou redução da isenção.
O STF possuía entendimento de que a revogação de isenção entraria em vigor
imediatamente, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas
condições.
Contudo, a 1ª Turma do STF, em 2014, proferiu julgamento no sentido de se aplicar os
princípios da anterioridade ordinária e nonagesimal para o caso de revogação do
benefício fiscal.
Nesse julgado acima, o Min. Roberto Barroso afirmou: “Deve ser entendida como
majoração do tributo toda alteração ocorrida nos critérios quantitativos do
consequente da regra-matriz de incidência. Sob tal perspectiva, um aumento de alíquota
ou uma redução de benefício relacionada a base econômica apontam para o mesmo
resultado: agravamento do encargo.”.
Em 2019, a 1ª Turma do STF ratificou o entendimento: “Conforme consignado na
decisão agravada, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no
sentido de que não só a majoração direta de tributos atrai a aplicação do princípio da
anterioridade, mas também a majoração indireta decorrente de revogação de
benefícios fiscais. Precedentes.” (STF - RE 1214919 AgR-segundo, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, 1ª Turma, j. 27.09.2019)
52
Seguindo essa linha, a 2ª Turma proferiu o seguinte julgamento: “A alteração no
programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.” (RE 1091378 AgR, Relator(a): Min.
EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 31/08/2018)
Em 2019, a 2ª Turma do STF -ratificou seu entendimento: “Consoante a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, o princípio da anterioridade é aplicável à redução dos
percentuais de compensação relativos ao benefício fiscal do Reintegra, instituído pela
Lei 13.043/2014 e concretizado pelo Decreto 9.393/2018.” (STF - ARE 1236688 AgR,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2ª Turma, j. 13.12.2019)
Portanto, para as duas turmas, caso seja revogado o benefício fiscal da isenção, aplica-
se a anterioridade, de modo que, caso a prova venha colocar alguma questão nesse
sentido, deve-se seguir o STF.

Sobre a questão, veja ainda o entendimento sumulado pelo STF:

Súmula 544. Isenções tributárias concedidas, sob condição


onerosa, não podem ser livremente suprimidas.

Para se considerar onerosa, deve ser por prazo certo e exigir o preenchimento
de certas condições para sua concessão.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Desse modo, se o sujeito passivo está sendo beneficiado por uma isenção
onerosa e cumpre todas as condições impostas pela lei concessiva durante o prazo
determinado, mesmo que essa isenção seja revogada por lei posterior, não será
atingido. De outra maneira, àqueles que não haviam cumprido os requisitos até a
revogação da isenção, não poderão mais ser beneficiados pelo benefício fiscal em
questão.

1.4.1.2. Isenção geral e individual

Outro ponto da isenção é que pode ser concedida em caráter geral ou


individual. Na geral, o efeito decorre direto da lei. Mas na individual, em razão de ter
que se constatar o preenchimento de certos requisitos, perfaz-se necessário o
requerimento perante a Administração Tributária, comprovando-se os requisitos legais.
A autoridade, verificando tal preenchimento, defere a isenção individual por despacho.
Observe-se o disposto no art. 179 do CTN:

Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é


efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade
administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça
prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos
requisitos previstos em lei ou contrato para concessão. 53
§ 1º Tratando-se de tributo lançado por período certo de
tempo, o despacho referido neste artigo será renovado antes
da expiração de cada período, cessando automaticamente os
seus efeitos a partir do primeiro dia do período para o qual o
interessado deixar de promover a continuidade do
reconhecimento da isenção.
-
§ 2º O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido,
aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.

Um exemplo do § 1º são os casos do IPTU, ITR e IPVA. Esses impostos são


lançados anualmente (período certo de tempo) e, pelo dispositivo, a cada ano o
beneficiário individual deve fazer novo requerimento para concessão da isenção,
comprovando-se a manutenção dos requisitos legais.
O § 2º dispõe que se aplica à isenção individual o disposto do art. 155, que trata
da moratória individual. Portanto, não gera direito adquirido ao beneficiário e pode ser
revogada de ofício, nas mesmas hipóteses da moratória individual, conforme esquema
abaixo:

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-

ATENÇÃO! No caso de revogação, os juros de mora serão sempre cobrados


juntamente com o valor principal do tributo, em ambas as situações: i) dolo ou
simulação, com a incidência, também, da multa; e ii) demais casos, sem aplicação da
multa.

1.4.2. ANISTIA
54

Por fim, a segunda forma de exclusão do crédito tributário se dá pela anistia,


que consiste no perdão das infrações tributárias, extinguindo a punibilidade do infrator.
A anistia só pode ser concedida após o cometimento da infração, pois, caso
-
contrário, incentivar-se-ia o cometimento de atos ilícitos, já que o agente praticaria a
infração já sabendo da anistia.
Essa anistia também deve ser concedida antes do lançamento da penalidade
pecuniária, porque, se o crédito já estiver constituído, será o caso de remissão (hipótese
de extinção do crédito).
O art. 180 do CTN aponta nesse sentido, ao determinar que a anistia abrange
exclusivamente as infrações cometidas anteriormente à vigência da lei concessiva,
estipulando, ainda, algumas exceções à sua aplicação. Observe:

Art. 180. A anistia abrange exclusivamente as infrações


cometidas anteriormente à vigência da lei que a concede, não
se aplicando:
I - aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e
aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com
dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro
em benefício daquele;

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-

II - salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de


conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas.

Atente que a anistia tributária não pode ser concedida a qualquer infração, pois
os incisos I e II alhures a excetua dos atos definidos como crimes ou contravenções; ou
dos praticados mediante dolo, fraude ou simulação; além das infrações praticadas em
conluio.
Todavia, essa expressão “salvo disposição em contrário” acaba por permitir a
concessão de anistia em crimes dolosos, uma vez que o art. 73 da Lei nº 4.502/64 define
o crime de conluio como crime doloso. Portanto, seria o único caso de anistia em
infrações dolosas.
Veja a redação do art. 73:

Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas


naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos
arts. 71 e 72.

1.4.2.1. Anistia geral ou limitada

A anistia também pode ser concedida em caráter geral ou limitado. Na geral, o 55


efeito decorre direto da lei, sem impor qualquer condição ao beneficiário. Já na limitada,
o CTN impõe certas limitações ao beneficiário, restringindo a anistia às infrações de
determinado tributo; ou às infrações puníveis até determinado valor, conjugadas ou não
com penalidades de outra natureza; à determinada região do território; ou a
determinadas condições.
Se concedida por despacho da autoridade, a anistia limitada não gerará direito
-
adquirido ao beneficiário e pode ser revogada de ofício, nas mesmas hipóteses da
moratória individual, conforme esquema abaixo:

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-

ATENÇÃO! No caso de revogação, os juros de mora serão sempre cobrados


juntamente com o valor principal do tributo, em ambas as situações: i) dolo ou
simulação, com a incidência, também, da multa; e ii) demais casos, sem aplicação da
multa.

Veja os dispositivos do CTN referente ao tema:

Art. 181. A anistia pode ser concedida:


I - em caráter geral;
II - limitadamente:
a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo;
b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até
determinado montante, conjugadas ou não com penalidades de
outra natureza;
c) a determinada região do território da entidade tributante, em
função de condições a ela peculiares;
d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela
lei que a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei
56
à autoridade administrativa.
Art. 182. A anistia, quando não concedida em caráter geral, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade
administrativa, em requerimento com a qual o interessado faça
prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos
- previstos em lei para sua concessão.
requisitos
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera
direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no
artigo 155.

2. LEGISLAÇÃO

CTN – Arts. 151 a 182.

3. JURISPRUDÊNCIA

SÚMULAS DO STF

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Súmula Vinculante nº 08. São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do


Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de
prescrição e decadência de crédito tributário.

SÚMULAS DO STJ

Súmula 625. O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe


o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art.
168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública.
Súmula 622: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para
a constituição do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso
do prazo para a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e
esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento voluntário, inicia-se
o prazo prescricional para a cobrança judicial.
Súmula 555. Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal
para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173,
I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar
o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.
Súmula 509. É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS
decorrentes de nota fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a
veracidade da compra e venda. 57
Súmula 464. A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do Código
Civil não se aplica às hipóteses de compensação tributária.
Súmula 461. O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por
compensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em
julgado.
-
Súmula 460. É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação
tributária realizada pelo contribuinte.
Súmula 447. Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de restituição
de imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores.
Súmula 437. A suspensão da exigibilidade do crédito tributário superior a quinhentos
mil reais para opção pelo Refis pressupõe a homologação expressa do comitê gestor e a
constituição de garantia por meio do arrolamento de bens.
Súmula 431. É ilegal a cobrança de ICMS com base no valor da mercadoria submetido
ao regime de pauta fiscal.
Súmula nº 436. A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal
constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.
Súmula 397. O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao
seu endereço.
Súmula 360. O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a
lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo.

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Súmula 213. O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do


direito à compensação tributária.
Súmula 212. A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação
cautelar ou por medida liminar cautelar ou antecipatória.

JULGADOS DO STJ

- A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário ocasiona a


retomada do lapso prescricional para o Fisco, desde que inexistente qualquer outra
medida constante do art. 151 do CTN ou recurso especial / extraordinário dotado de
efeito suspensivo, sendo desnecessário aguardar o trânsito em julgado. (info 605 –
2017)

- As condições para a concessão de parcelamento tributário devem estrita observância


ao princípio da legalidade e não há autorização para que atos infralegais tratem de
condições não previstas na lei de regência do benefício. (STJ – REsp. 1.739.641-RS, Rel.
Min. Gurgel de Faria, por unanimidade, julgado em 21/06/2018)

- A notificação do contribuinte do auto de infração constitui definitivamente o crédito


tributário e dá início ao cômputo do prazo prescricional para a sua cobrança, não
havendo que se falar em prazo decadencial. (STJ – jurisprudência em teses)
58
- A prescrição quinquenal para a cobrança dos tributos sujeitos a lançamento de ofício
é contada da data de sua constituição definitiva, ou seja, quando já não caiba recurso
administrativo ou findo o prazo para sua interposição. (STJ – jurisprudência em teses).
-
- A extinção do crédito tributário por meio de compensação está sujeita à condição
resolutória da sua homologação. (STJ – jurisprudência em teses).

- No que tange ao art. 170-A, do CTN, a jurisprudência desta corte, por ocasião do
julgamento do Recurso Especial 1.167.039/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
submetido ao regime do art. 543-C do Código de Processo Civil (recursos repetitivos),
firmou o entendimento segundo o qual o art. 170-A do CTN - que veda a compensação
de créditos tributários antes do trânsito em julgado da ação - aplica-se às demandas
ajuizadas após 10.1.2001, mesmo na hipótese de tributo declarado inconstitucional. (STJ
– AgInt. no REsp 1589345/PA, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, 2ª Turma, j.
09.08.2016)

- O depósito do montante integral do débito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN,
suspende a exigibilidade do crédito tributário, impedindo o ajuizamento da execução
fiscal por parte da Fazenda Pública. [...] É que as causas suspensivas da exigibilidade do

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-

crédito tributário (art. 151 do CTN) impedem a realização, pelo Fisco, de atos de
cobrança, os quais têm início em momento posterior ao lançamento, com a lavratura do
auto de infração. O processo de cobrança do crédito tributário encarta as seguintes
etapas, visando ao efetivo recebimento do referido crédito: a) a cobrança
administrativa, que ocorrerá mediante a lavratura do auto de infração e aplicação de
multa: exigibilidade-autuação; b) a inscrição em dívida ativa: exigibilidade-inscrição; c) a
cobrança judicial, via execução fiscal: exigibilidade-execução. Os efeitos da suspensão
da exigibilidade pela realização do depósito integral do crédito exequendo, quer no bojo
de ação anulatória, quer no de ação declaratória de inexistência de relação jurídico-
tributária, ou mesmo no de mandado de segurança, desde que ajuizados anteriormente
à execução fiscal, têm o condão de impedir a lavratura do auto de infração, assim como
de coibir o ato de inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da execução fiscal, a qual,
acaso proposta, deverá ser extinta. (REsp. 1140956SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, j. 24.11.2010)

- Não pode o magistrado, de ofício, pronunciar a remissão, analisando isoladamente o


valor cobrado em uma Execução Fiscal, sem questionar a Fazenda sobre a existência de
outros débitos que somados impediriam o contribuinte de gozar do benefício. (STJ –
REsp. 1208935, 1ª seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 13.04.2011 – recurso
repetitivo)

- É cabível a ação consignatória para pagamento dos valores devidos a título de IPTU, 59
independentemente do recolhimento das taxas de coleta e remoção de lixo e de
combate a sinistros, constantes dos mesmos carnês de cobrança, desde que o
contribuinte entenda indevida a cobrança das referidas taxas e pretenda discuti-las
judicialmente. (STJ – REsp. 169.951, Ministro Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, j.
21.09.2004)

-
- O STJ possui orientação pacificada no sentido de que, instaurado o contencioso
administrativo, a exigibilidade do crédito tributário fica suspensa até a decisão final (STJ
– REsp. 1.144.962/SC, Relator. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, j.
18.05.2010).

- A decadência, consoante a letra do art. 156, V, do CTN, é forma de extinção do crédito


tributário. Sendo assim, uma vez extinto o direito, não pode ser reavivado por qualquer
sistemática de lançamento ou auto lançamento, seja ela via documento de confissão de
dívida, declaração de débitos, parcelamento ou de outra espécie qualquer (DCTF, GIA,
DCOMP, GFIP, etc.). (STJ – REsp. 1355947/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, j. 12.06.2013 – recurso repetitivo)

- Caso haja inadimplemento do crédito tributário, perfaz-se legítima a incidência de juros


de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário. (STJ – AgRg. no
REsp. 1.335.688-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Turma, j. 04.12.2012)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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- Tema 980/STJ, fixando-se a seguinte tese: (i) o termo inicial do prazo prescricional da
cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no dia seguinte
à data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o parcelamento de ofício da dívida
tributária não configura causa interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o
contribuinte não anuiu. (REsp. 1641011 PA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018)

Informativo 638: O parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional,


uma vez que o contribuinte não anuiu.

4. QUESTÕES

1. (Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) Com relação à
suspensão da exigibilidade do crédito tributário, pode-se afirmar:
a) o prévio depósito de dinheiro não pode ser exigido para a interposição de recurso
administrativo, mas apenas para que este suspenda a exigibilidade do crédito tributário.
b) viola o princípio da isonomia a lei de moratória geral que circunscreve sua
aplicabilidade e consequente suspensão da exigibilidade do crédito tributário a
determinada região ou a determinada categoria de sujeitos passivos.
c) por caracterizar denúncia espontânea da infração, a suspensão do crédito tributário
pelo parcelamento afasta a imposição de penalidade.
60
d) suspensa a exigibilidade do crédito tributário pelo depósito judicial do montante
integral, este deverá ser convertido em renda, com a consequente extinção do crédito,
caso a Fazenda Pública seja vencedora na demanda.

2. (Ano: 2018 Banca: VUNESP - Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) Em reiteradas
decisões ao longo do tempo, o Supremo Tribunal Federal tem mantido firme o
entendimento de não admitir sanção política como meio de coerção ao pagamento de
tributo. A respeito do tema, é correto afirmar que a Corte considera inadmissível, por
constituir sanção política:
a) o condicionamento de impressão de notas fiscais à prestação de garantia real ou
fidejussória por parte do contribuinte com débitos fiscais.
b) a vedação de adesão ao Simples Nacional fundada na existência de débitos perante a
Fazenda Pública ou INSS.
c) o protesto de certidão de dívida ativa.
d) a dupla exigência do ICMS em operações interestaduais, como consequência de
diferença entre a alíquota do Estado remetente e a do Estado destinatário.

3. (Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) Sobre a dação em
pagamento, é correto afirmar que:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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a) é instituto de direito civil acolhido pelo Código Tributário Nacional, como forma de
extinção do crédito tributário, mediante a entrega de bens, no modo e condições
estabelecidos em decreto do Chefe do Poder Executivo da pessoa jurídica de direito
público credora.
b) é instituto de direito civil acolhido pelo Código Tributário Nacional, como forma de
extinção do crédito tributário, mediante a entrega de bens móveis e imóveis, no modo
e condições estabelecidos em lei.
c) é instituto de direito civil acolhido pelo Código Tributário Nacional, como forma de
extinção do crédito tributário, mediante a entrega de bens imóveis, no modo e
condições estabelecidos pela lei.
d) é instituto de direito civil não expressamente acolhido pelo Código Tributário
Nacional, mas que pode ser admitido pela legislação específica dos entes tributantes
como forma de extinção do crédito tributário, mediante a entrega de bens.

4. (Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) Assinale a
alternativa correta.
a) A norma de isenção se aloca no plano da definição da competência tributária, não
ocorrendo, portanto, o fato imponível, por não existir a possibilidade de formulação da
hipótese de incidência.
b) As imunidades e isenções não se distinguem a partir da fonte formal da qual emanam.
c) As isenções técnicas são legitimamente reconhecidas ante a ausência de capacidade 61
contributiva como a concedida visando à preservação do mínimo vital ou destinada a
uma pessoa jurídica para que possa desenvolver suas atividades.
d) A imunidade política é também denominada de imunidade recíproca e veda a
tributação sobre patrimônio, renda e serviços das pessoas jurídico-políticas (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios).
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5. (Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) Na disciplina das
isenções, imunidades e hipóteses de não incidência, é correto afirmar que:
a) quem pode isentar também pode conceder imunidade.
b) quem pode tributar pode isentar.
c) alíquota zero e isenção são expressões juridicamente equivalentes.
d) não incidência é situação juridicamente distinta de imunidade e de não competência.

6. (Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) “A” é proprietário
de imóvel residencial situado na Comarca da Capital do Estado. A Prefeitura Municipal
afirma ser ele devedor do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, referente aos
exercícios de 1997 a 2003, ajuizando ação de execução fiscal. Tal ação é proposta em
agosto de 2007. O magistrado competente julga a ação extinta, sem mandar citar o
executado, afirmando estar ela prescrita, sendo a sentença proferida em agosto de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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2009. Tendo em vista a prescrição quinquenal, prevista no art. 174 do Código


Tributário Nacional, é correto afirmar que:
a) a referida ação estaria parcialmente prescrita, em virtude de aplicar-se o disposto no
art. 174 do CTN, in casu, apenas aos exercícios anteriores ao de 2003, permitindo o
prosseguimento da ação executiva no que tange a esse último exercício.
b) a referida ação encontra-se inteiramente prescrita, podendo o magistrado declará-lo
de plano, tendo em vista o disposto no art. 219, § 5.º, do Código de Processo Civil, que
permite o reconhecimento ex officio da prescrição.
c) em se tratando de interesse patrimonial disponível, o magistrado não poderia ter
decretado a extinção da ação pelo reconhecimento ex officio da prescrição, cabendo
anular a sentença e determinar o prosseguimento da execução.
d) a referida ação não estaria prescrita, pois não chegou a haver a citação pessoal do
devedor, nos termos do art. 174, parágrafo único, I, do CTN, tendo o magistrado, como
referido, extinguido a ação executiva de ofício.

7. (Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) São causas de
exclusão do crédito tributário:
a) Apenas a isenção e a anistia, desde que se deem após o nascimento da obrigação
tributária e antes do lançamento.
b) A imunidade, a isenção, a anistia e a não incidência, sob qualquer aspecto e a qualquer
tempo, desde que ainda não efetuado o lançamento do débito fiscal. 62
c) Apenas a isenção e a anistia, desde que se deem antes do nascimento da obrigação
tributária, com a ocorrência do fato gerador.
d) Apenas a anistia, referentemente a impostos e taxas, cujos fatos geradores tenham
ocorrido antes da vigência da lei instituidora.

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8. (Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto) A respeito das
isenções de ICMS, é correto afirmar que
a) têm validade em todo o território nacional.
b) podem ser outorgadas por meio de Lei Complementar produzida pela União.
c) somente podem ser instituídas após aprovação de convênio autorizativo no Conselho
Nacional de Política Fazendária.
d) podem ser objeto de Decreto.

5. GABARITO COMENTADO

1) D.
A) INCORRETA. É importante que vocês atentem que o art. 151, inciso III, do CTN
estabelece que as reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo
tributário administrativo, suspendem a exigibilidade do crédito tributário. Ainda, não há

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exigência legal para que a reclamação ou recurso sejam cumulados com o depósito em
dinheiro para que suspendam a exigibilidade do crédito tributário.
B) INCORRETA. “Art. 152, Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode
circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da
pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria
de sujeitos passivos”.
C) INCORRETA. “Art. 155-A, § 1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento
do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas”.
D) CORRETA. A alternativa correta da questão. O depósito do montante integral, nos
termos do artigo 151, II, do CTN, suspende a exigibilidade do crédito tributário. Caso o
contribuinte seja vencido em demanda judicial, o depósito será convertido em renda,
extinguindo o crédito tributário.

2) A
A) CORRETA. Para o STF, condicionar a impressão de notas fiscais à prestação de
garantia é método de cobrança de tributos pretéritos em função de tributos cuja
exigibilidade sequer se iniciou, o que não se admite. Para cobrar tributos já devidos,
dispõe o Estado da execução fiscal e seus privilégios.
B) INCORRETA. O Simples é um regime criado para beneficiar o contribuinte,
prestigiando o princípio da isonomia em seu aspecto material. Assim, entendeu o STF
não configurar sanção política condicionar a adesão ao plano à inexistência de débitos 63
fiscais.
C) INCORRETA. O STF já decidiu pela constitucionalidade do protesto da CDA,
argumentando não haver restrição dos direitos fundamentais do contribuinte,
tampouco violação à proporcionalidade.
D) INCORRETA. Aqui, é importante colacionar o julgado do STF para a devida
compreensão da assertiva. “O-objetivo precípuo desta prática é compelir o contribuinte,
pela via transversa, ao recolhimento do ICMS, utilizando-se à evidência de um
mecanismo coercitivo de pagamento do tributo repudiado pelo nosso ordenamento
constitucional. Sob esse enfoque, a Suprema Corte já se manifestou contrariamente a
tais práticas, placitando o entendimento no sentido de ser inadmissível a apreensão de
mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos (Enunciado da Súmula
323/STF). Assim, a retenção das mercadorias equivale, ipso facto, ao confisco” (STF.
Plenário. ADI 4.628/DF, rel. Min. Luiz Fux, j. 17.09.2014).

3) C.
Trata-se da definição exata da dação em pagamento, prevista no art. 156, inciso XI, do
CTN. “Art. 156. Extinguem o crédito tributário: (...) XI – a dação em pagamento em bens
imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei”.

4) C

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A) INCORRETA. A isenção configura mera dispensa legal do pagamento do tributo, com


base no exercício da competência tributária, e não no plano de sua definição, isto é, com
base em norma constitucional.
B) INCORRETA. De fato, existe distinção entre a imunidade e a isenção, no que diz
respeito à fonte formal da qual emanam: a imunidade procede da CF/88, e a isenção, da
lei.
C) CORRETA. As isenções podem ser técnicas ou políticas. São técnicas quando
reconhecidas ante a ausência da capacidade contributiva da pessoa. São políticas
quando acabam por beneficiar pessoas que possuem capacidade contributiva, em razão
de outras finalidades.
D) INCORRETA. A imunidade recíproca não é política, e sim ontológica, já que configura
decorrência da forma federativa de Estado, visando proteger a autonomia financeira dos
entes federativos.

5) B e D foram consideradas corretas pela banca.


B) CORRETA. De fato, o ente competente para instituir o tributo (tributar) pode também
conceder benefícios fiscais (isentar).
D) CORRETA. Como leciona o professor Sabbag, “a imunidade é uma norma que
demarca negativamente a “competência tributária”, ou seja, é uma norma de não
incidência tributária”.
64
6) A
Questões assim sempre são complexas, mas fazendo uma boa leitura do enunciado e
das alternativas, nós conseguimos simplificar. É importante ter em mente o art. 174 do
CTN, que diz que “a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva”. Junto disso, percebemos que o IPTU,
- estava prescrito ainda, uma vez que a ação foi proposta
com relação ao ano de 2003, não
em 2007 e ele só estaria prescrito em 2008, quando fariam 5 anos da constituição do
crédito tributário.

7) A
De acordo com a doutrina majoritária, somente é possível falar em “exclusão” do crédito
tributário por isenção ou anistia antes do lançamento do tributo ou da penalidade
pecuniária. Se já tiver havido o lançamento do tributo ou da multa, o crédito tributário
já terá sido constituído e a sua dispensa será hipótese de “extinção” do crédito tributário
por força de remissão.

8) C
Primeiro é importante fazer a leitura atenta da CF/88: “Art. 155. Compete aos Estados e
ao Distrito Federal instituir impostos sobre: […] §2º O imposto previsto no inciso II
(ICMS) atenderá ao seguinte: […] XII - cabe à lei complementar: g) regular a forma como,
mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e

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benefícios fiscais serão concedidos e revogados”. Agora, atentem que os benefícios


fiscais do ICMS serão concedidos pelos Estados e pelo DF, por Convênio, celebrado de
acordo com o previsto na LC 24/75 (Lei do Confaz). Representantes dos Estados e do DF
devem ser convocados para se reunir no âmbito do Conselho Nacional de Política
Fazendária (CONFAZ) para deliberarem sobre a concessão de benefício fiscal.

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DIREITO ADMINISTRATIVO (conteúdo atualizado em 18-07-2021)

APRESENTAÇÃO

Caros alunos,
Nosso segundo ponto de Direito Administrativo é sobre a intervenção do
Estado na propriedade, abordando aspectos do direito de propriedade em si e as
características das diversas modalidades de intervenção estatal, todas fundamentadas
nos princípios da supremacia do interesse público e da função social da propriedade.
Verificaremos que, a fim de adequar o exercício do direito de propriedade ao
atendimento das necessidades coletivas, o Estado se valerá de instrumentos jurídicos
de intervenção na propriedade tanto de caráter restritivo (limitação administrativa,
servidão, requisição, ocupação temporária e tombamento) quanto supressivo
(desapropriação).
Serão apresentados os traços gerais das modalidades e espécies de intervenção
do Estado na propriedade, suficientes que são para responder às questões objetivas do
nosso TJ/SP, aprofundando nossa análise, contudo, em relação à desapropriação, que
possui disciplina legal mais pormenorizada e grande ressonância na jurisprudência dos
Tribunais Superiores.
Aos estudos,
Professor Bruno Pinto.
66

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

O direito de propriedade está garantido no art. 5º, XXII, da Constituição


Federal, enquanto um direito fundamental, sendo corolário do sistema econômico
capitalista brasileiro (art. 170 da CF/88), tratando-se do mais amplo direito real,
compreendendo as faculdades de usar, gozar e dispor da coisa, bem como de
reivindicá-la de quem quer que injustamente a detenha (direito de sequela).
A doutrina aponta como características do direito de propriedade:

i) complexo, por envolver um conjunto de faculdades ou


poderes, que pode, inclusive, ser desmembrados (elasticidade);
ii) absoluto, por ser oponível erga omnes, ensejando a obrigação
de toda a coletividade de respeitar sua utilização adequada;
iii) exclusivo, dado que, ressalvadas certas situações [como o
condomínio], seu exercício sobre determinado bem exclui o de
outrem; e
iv) perpétuo, já que, em regra, seu exercício não se dá por prazo
determinado, perdurando até que haja sua transmissão, mortis
causa ou inter vivos. 67
ATENÇÃO! Há quem entenda a exclusividade do direito de propriedade como a
característica de ser oponível erga omnes, compreendendo seu absolutismo, por sua
vez, como a faculdade de seu titular de utilizar a coisa como bem lhe aprouver, desde
que respeitados os direitos e garantias de terceiros. É essa a posição de Matheus
Carvalho. -

Por sua vez, a função social não é mais entendida como algo externo ao direito
de propriedade, como se um simples limitador seu fosse, mas, sim, é compreendida
como parte de seu próprio conteúdo, sem o qual ele não se legitima. Não é por acaso
que o inciso XXIII do art. 5º da CF/88 é peremptório no sentido de que “a propriedade
atenderá sua função social”, constando ambos, direito de propriedade e função social,
como princípios da ordem econômica (art. 170, II e III, da CF/88). É importante observar
que essa função social impõe não apenas deveres negativos (não fazer) ao titular do
direito de propriedade, mas também deveres positivos (fazer), sob pena de sanção.
É com base na função social e no supraprincípio da supremacia do interesse
público sobre o privado que o Estado irá intervir na propriedade, restringindo ou, até
mesmo, suprimindo o direito individual em prol do atendimento das necessidades
coletivas.

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ATENÇÃO! O inciso I do art. 22 da CF/88 define que compete privativamente à União


legislar, respectivamente, sobre Direito Civil – incluindo a possibilidade de editar leis
que tratem do direito de propriedade e dos demais direitos reais. Apesar disso, via de
regra, a competência para legislar sobre as diferentes formas de intervenção estatal na
propriedade é comum, por se tratar de matéria administrativa. Ressalvam-se, contudo,
a desapropriação (art. 22, II) e a requisição administrativa (art. 22, III), cuja competência
legislativa é privativa da União.

1.1.1. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

A doutrina define duas modalidades de intervenção do Estado na propriedade


privada:

a) Intervenção restritiva: o Estado impõe limitações, restrições, e


condicionamentos ao uso da propriedade por seu titular, sem,
contudo, retirar o direito em si. São consideradas intervenções
restritivas: servidão administrativa, ocupação temporária,
requisição, limitação administrativa e tombamento.
b) Intervenção supressiva: o Estado transfere para si a propriedade
de terceiro, suprimindo o direito de propriedade anteriormente
existente. Tradicionalmente, a desapropriação é apontada como 68
a única forma de intervenção supressiva.

1.1.1.1. Limitação Administrativa

Trata-se de restrição- de caráter GERAL (permissivas, negativas ou positivas),


não atingindo um bem especificamente, mas, sim, todos os proprietários que estiverem
na situação descrita na norma.
As limitações decorrem do exercício do poder de polícia do Estado, ensejando
a limitação do uso de bens privados, como forma de os adequarem às necessidades
públicas. Assim, a norma geral incide sobre bens pertencentes a particulares,
configurando uma restrição ao caráter absoluto da propriedade, uma vez que limita a
forma de utilização do bem pelo próprio proprietário.
Em virtude de seu caráter de generalidade, normalmente, a limitação
administrativa produz efeitos ex nunc, não retroagindo para atingir pessoas e
propriedades que respeitavam a situação anterior.
A instituição das limitações administrativas pode se dar tanto por lei quanto
por ato administrativo de caráter geral, e de qualquer das esferas da Federação
(competência comum).

ATENÇÃO! Consoante bem observa Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, a limitação


administrativa sempre tenciona a proteção de interesses públicos abstratos, ao passo

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que TODAS AS DEMAIS hipóteses de intervenção estatal na propriedade visam à


execução de obras ou serviços públicos específicos.

As limitações administrativas são bastante frequentes no Direito Urbanístico, a


cargo da Municipalidade. Por exemplo, temos o direito de preempção, previsto no art.
25 do Estatuto da Cidade (Lei Federal nº n. 10.257/2001), que confere ao Poder Público
Municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa
entre os particulares; para tanto, deve ser editada lei municipal discriminando quais
áreas do município se sujeitarão à restrição.
Por ter caráter normativo e geral, as limitações administrativas, a princípio, não
geram danos específicos, logo, não ensejam o dever de indenização. É que se trata de
uma restrição aplicada a todas as propriedades, não havendo a configuração de prejuízo
individual de determinado patrimônio, podendo ser reconhecida apenas de modo
excepcional, dependendo das peculiaridades do caso concreto. Entende-se que a
limitação administrativa enseja dano indenizável quando ela atinge pessoas ou grupos
determinados e esvaziam o potencial econômico do bem.
No ponto, o STJ entende que a (excepcional) pretensão indenizatória por dano
decorrente de limitação administrativa se submete à prescrição quinquenal das ações
contra a fazenda pública, ao argumento de que se trata de ação de natureza pessoal.
O STJ chegou a essa conclusão ao analisar leis ambientais que, a pretexto de
restringir o uso da propriedade, esvaziavam o conteúdo econômico do bem. Para a Corte
Cidadã, não se poderia equiparar essas restrições ambientais à desapropriação 69
indireta, pois esta pressupõe o apossamento da coisa pelo Poder Público à revelia do
devido processo legal, o que não dá na espécie. Assim sendo, a hipótese seria mesmo
de limitação administrativa, cuja ação indenizatória correlata, diferentemente do que
ocorre com a desapropriação indireta, teria natureza pessoal, sujeitando-se, então, à
prescrição quinquenal do Decreto nº 20.910/1932. Confira-se:
-
(...) 3. Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo
apossamento da propriedade pelo Poder Público. Desse modo,
as restrições ao direito de propriedade, impostas por normas
ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se
constituem desapropriação indireta. 4. O que ocorre com a
edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade
é a limitação administrativa, cujos prejuízos causados devem
ser indenizados por meio de ação de direito pessoal, e não de
direito real, como é o caso da ação em face de desapropriação
indireta. 5. Assim, ainda que tenha havido danos ao agravante,
diante de eventual esvaziamento econômico de propriedade,
deve ser indenizado pelo Estado, por meio de ação de direito
pessoal, cujo prazo prescricional é de 5 anos, nos termos do art.
10, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 3.365/41. 6. Precedentes:
Agrg nos EREsp 1192971/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia
Filho, Primeira Seção, julgado em 12/09/2012, Dje 18/09/2012;
AgRg nos EDcl no AREsp 457.837/MG, Rel. Ministro Humberto

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Martins, Segunda Turma, julgado em 15/05/2014, Dje


22/05/2014; EDcl no Resp. 1.308.119/MG, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 20/02/2014,
Dje 06/03/2014; AgRg no AREsp 177.692/MG, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18/09/2012, Dje
24/09/2012. Embargos de declaração recebidos como agravo
regimental, o qual se nega provimento. (EDcl no Resp.
1454919/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
julgado em 07/04/2015).

Por fim, vale registrar que o STJ entende que, caso seja ajuizada ação de
desapropriação indireta visando à reparação de prejuízos em virtude de limitações
administrativas decorrentes de inclusão de imóvel em unidade de conservação, a ação
deve ser conhecida e ter seu mérito apreciado, por aplicação dos princípios da
instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito (STJ. 1ª
Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 – Info
662). É claro, contudo, que, por se tratar, na verdade, de ação indenizatória por danos
decorrentes de limitação administrativa, a qual, como visto, possui natureza pessoal [ao
contrário da ação de desapropriação indireta, que é real], deve ser observado o prazo
prescricional de 05 (cinco) anos.

1.1.1.2. Tombamento 70
Tombamento é a modalidade de intervenção estatal na propriedade por meio
do qual a Administração protege o patrimônio MATERIAL cultural brasileiro. Nesse
caso, o Estado intervém para proteger a memória nacional, bens de ordem histórica,
artística, arqueológica, cultural, científica, turística e paisagística.
- prevê expressamente essa modalidade de intervenção
A Constituição Federal
em seu art. 216, in verbis:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

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§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade,


promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.

O tombamento pode recair sobre bens de qualquer natureza, móveis ou


imóveis, DE NATUREZA MATERIAL, públicos ou privados, desde que haja relevância
histórica, artística ou cultural.

ATENÇÃO! DI PIETRO afirma ser possível o tombamento de quaisquer bens, materiais


ou IMATERIAIS, móveis ou imóveis, públicos ou privados. Entretanto, no site do próprio
IPHAN, é possível verificar que o tombamento se restringe aos bens MATERIAIS, ficando
a proteção do patrimônio cultural imaterial (conjunto das práticas, representações,
expressões, conhecimentos e técnicas) a cargo do registro, que está disciplinado no
âmbito federal pelo Decreto nº 3.551/2000.

O tombamento determina a incidência de um regime especial de cuidados


sobre o bem objeto de proteção, em razão de suas características peculiares.
A competência para legislar sobre proteção do patrimônio histórico, cultural,
artístico, turístico e paisagístico é concorrente entre a União, os Estados e o DF (art. 24, 71
VII, da CF/88). A legislação federal e estadual poderá, no que couber, ser suplementada
pela legislação municipal (art. 30, II, CF/88), tendo o Município competência expressa
para promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação
e a ação fiscalizatória federal e estadual (art. 30, IX, CF/88). O STF já reconheceu essa
competência comum para legislar sobre tombamento (RE 308399, Relator(a): Min.
CARLOS VELLOSO, julgado em 29/03/2005, publicado em DJ 14/04/2005). O CESPE
considerou correta a seguinte - assertiva: “Todos os entes federativos possuem
competência para legislar sobre tombamento e competência material para realizá-lo”
(PGM Belo Horizonte 2017).
Segundo ensina Lúcia Valle Figueiredo, em sua obra Curso de Direito
Administrativo:

“Tombamento, de maneira singela, é o ato administrativo


constitutivo por meio do qual a Administração Pública, ao
reconhecer, à luz de manifestações técnicas, que determinado
bem se enquadra nos pressupostos constitucionais e legais e, no
confronto do caso concreto com os valores resguardados pela
Constituição, verifica a necessidade de conservá-lo e determina
sua preservação, com a consequente inclusão no Livro do
Tombo”.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Assim, a doutrina tradicional entende que o tombamento é sempre resultante


da vontade expressa do Poder Público, manifestada por meio de ato administrativo do
Poder Executivo.

ATENÇÃO! Para a doutrina tradicional, o tombamento é ato administrativo


discricionário e constitutivo. Entretanto, com apoio nos ensinamentos de Hugo Nigro
Mazzilli e Édis Milaré, boa parte da doutrina mais moderna defende que o
reconhecimento de que determinado bem tem valor cultural pode ser feito pelo Poder
Judiciário, pois a falta de proteção de tais bens pode decorrer exatamente da omissão
do Poder Público, justamente sob o pressuposto de que o tombamento apenas declara
a importância cultural de determinado bem (natureza declaratória).

O tombamento exige a instauração de processo administrativo, com


observância do princípio constitucional do devido processo legal, no qual se assegure
ao proprietário o direito ao contraditório e a ampla defesa, no intuito de que se possa
comprovar, se for o caso, a inexistência de relação entre o bem a ser tombado e a
proteção ao patrimônio cultural. É obrigatório parecer do órgão técnico cultural. É
possível a interposição de recurso pelo proprietário contra a decisão final, dirigido ao
Presidente da República.
Marcelo ALEXANDRINO e Vicente PAULO consignam as ss. etapas do
procedimento administrativo de tombamento:
72
“a) Parecer do órgão técnico cultural; b) A notificação ao
proprietário, que poderá manifestar-se, anuindo com o
tombamento ou impugnando à intenção do Poder Público de
intentá-lo; c) Decisão do Conselho Consultivo da pessoa
incumbida do tombamento, após a manifestação dos técnicos e
-
do proprietário. A decisão concluirá: c.1) Pela anulação do
processo, caso haja ilegalidade; c.2) Pela rejeição da proposta do
tombamento; ou c.3) Pela homologação da proposta, caso
necessário o tombamento; d) Possiblidade de interposição de
recurso pelo proprietário a ser dirigido ao Presidente da
República”.

A doutrina costuma apresentar as seguintes espécies de tombamento:

- Quanto à manifestação de vontade: voluntário, quando


provocado pelo próprio proprietário ou quando este consentir
com a proposta feita pelo Poder Público; ou compulsório,
quando a iniciativa é do Poder Público e o proprietário se recusa
a aceitar o tombamento do seu bem;
- Quanto à eficácia do ato: provisório, enquanto está em curso
o processo administrativo; ou definitivo, depois de concluído o

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

processo administrativo e efetuada a inscrição do bem.


Costuma-se afirmar que a única diferença entre o tombamento
definitivo e o provisório é a inexistência, neste último, de
inscrição do bem no registro de tombamento.

É possível o tombamento de bens públicos, conforme dispõe o art. 5º do


Decreto-Lei nº 25/37 dispõe:

O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e


aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser
notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda
estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos.

ATENÇÃO! Apesar de existir divergência doutrinária sobre o tema, o STJ entende que é
possível a realização de tombamento de bens públicos “de baixo para cima”, não
havendo qualquer hierarquia entre as esferas da Federação, podendo os entes menores
tombarem bens dos maiores (RMS 18.952/RJ). Nesse sentido, é possível que um
Município venha a tombar bens estaduais ou federais.
ADMINISTRATIVO – TOMBAMENTO – COMPETÊNCIA MUNICIPAL.
1. A Constituição Federal de 88 outorga a todas as pessoas jurídicas de Direito Público a 73
competência para o tombamento de bens de valor histórico e artístico nacional.
2. Tombar significa preservar, acautelar, preservar, sem que importe o ato em
transferência da propriedade, como ocorre na desapropriação.
3. O Município, por competência constitucional comum – art. 23, III –, deve proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
-
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos.
4. Como o tombamento não implica em transferência da propriedade, inexiste a
limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o Município de
desapropriar bem do Estado.
5. Recurso improvido. (RMS 18.952/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
julgado em 26/04/2005, DJ 30/05/2005, p. 266)
Recentemente, o tema foi levado ao STF. Na ocasião, o Ministro Relator Dias Toffoli
proferiu decisão monocrática afirmando que, “ainda que se considere não haver
impedimento de tombamento de bem da União pelo Estado, é necessária a intimação
do ente federado proprietário do bem objeto da restrição, para que participe
efetivamente do processo, pois, embora não importe em perda de propriedade, dele
resulta a limitação de uso do bem tombado” (ACO 2176). Destacou que:
“Diversamente do que ocorre com a desapropriação (art. 2º, §2º, do Decreto-Lei nº
3.365/41), inexiste proibição explícita a respeito do tombamento de um bem de ente de
maior abrangência federativa por outro de abrangência menor, de modo que, em tais
circunstâncias, prevalece a regra geral que atribui aos entes federados, indistintamente,

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-

a competência para ‘conservar o patrimônio público’ e para ‘proteger os documentos,


as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos’ (art. 23, I e III, da CF/88), cabendo-
lhes, ainda, promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro, por diversas formas
de acautelamento e preservação, inclusive por meio do tombamento (art. 226, § 1º, da
CF/88)”.
No processo, a PGR (Procuradoria-Geral da República) também se manifestou no
sentido de que não há impedimento legal de um Estado-membro da federação
promover o tombamento de bem da União, mas que a ausência de notificação da União
para participar de procedimento administrativo destinado a tombar o bem enseja
nulidade do ato de restrição administrativa.
No caso de tombamento de bem público (tombamento de ofício), a medida começa a
produzir efeitos pela simples notificação (art. 5º, DL 25/37)

ATENÇÃO! Agora em 2018, na ACO 1.208, o STF reconheceu a possibilidade de


tombamento de imóvel federal por lei estadual. Ademais, o Supremo entendeu que
não há vedação ao tombamento feito por ato legislativo, porque tal providência possui
caráter provisório, ficando o tombamento permanente, este sim, restrito a ato do
Executivo. Segundo o Relator, a lei estadual ora questionada deve ser entendida apenas
como declaração de tombamento para fins de preservação de bens de interesse local,
que repercutam na memória histórica, urbanística ou cultural até que seja finalizado o
procedimento subsequente. 74
A decisão também assentou que o tombamento provisório por ato legislativo não
precisa ser precedido de notificação prévia da União, exigência restrita ao
procedimento de tombamento definitivo promovido pelo Executivo.

Finalmente, é importante conhecer os efeitos do tombamento sobre o bem


-
tombado: efetivado o tombamento e a respectiva inscrição no Ofício de Registro de
Imóveis respectivo, surgem algumas obrigações de fazer, não fazer e de tolerar que
devem ser suportadas pelo proprietário do bem tombado:

- É vedado ao proprietário, ou ao titular de eventual direito de


uso, destruir, demolir ou mutilar o bem tombado;
- O proprietário somente poderá reparar, pintar ou restaurar o
bem após a devida autorização do Poder Público;
- O proprietário deverá conservar o bem tombado para mantê-
lo dentro de suas características culturais. Se não dispuser de
recursos para proceder às necessárias obras de conservação e
restauração, deverá obrigatoriamente comunicar o fato ao
órgão que decretou o tombamento, o qual poderá mandar
executá-la a suas expensas;
- Independentemente de solicitação do proprietário, pode o
Poder Público, no caso de urgência, tomar a iniciativa de

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-

providenciar as obras de conservação;


- O tombamento não impede o proprietário de gravá-lo por
meio de penhor, anticrese ou hipoteca [é livre!];
- Não há obrigatoriedade de o Poder Público indenizar o
proprietário do imóvel em razão do tombamento.

Ademais, os proprietários dos imóveis vizinhos também sofrem consequências


pelo ato do tombamento, relativas à visibilidade do bem tombado, previstas no art. 18
do Decreto-Lei nº 25/37:

Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa
tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a
visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de
ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se
neste caso a multa de cinquenta por cento do valor do mesmo
objeto.

ATENÇÃO! O CPC/2015 trouxe importante mudança quanto a um dos efeitos do


tombamento: direito de preferência para os entes públicos no caso de alienação de bem
tombado. Com a nova lei adjetiva civil, essa prerrogativa do Poder Público se restringe 75
às alienações judiciais (revogação do art. 22 do Decreto-Lei nº 25/37; arts. 889 e 892, §
3º, do CPC/2015). Assim, a novidade trazida pelo novo CPC foi na retirada do direito de
preferência no caso de alienação extrajudicial do bem tombado, não permanecendo
nem mesmo a obrigação de notificar os entes federados quando ocorrer este tipo de
alienação (extrajudicial). Enfim, o direito de preferência do Poder Público limita-se à
alienação judicial do bem tombado.
-

1.1.1.3. Servidões Administrativas

A servidão administrativa ostenta a qualidade de direito real de natureza


pública.
Essa servidão pública recairá sobre bens imóveis determinados e deve ser
registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que produza efeitos erga omnes.
A servidão administrativa não se confunde com a servidão civil, haja vista sua
natureza pública e a destinação de interesse coletivo conferida ao bem. Sua causa é o
interesse público.
Na servidão administrativa, tem-se um ônus real incidente sobre imóvel
particular com a finalidade de permitir uma utilização pública, restando ao particular
tão somente o dever de suportá-la. Esse imóvel particular gravado pela servidão
administrativa é chamado de “prédio serviente” (ao “serviço público dominante”).
Temos, portanto, que a servidão afeta o caráter exclusivo da propriedade.

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São exemplos comuns de servidão administrativa a instalação de redes


elétricas e a implantação de gasodutos e oleodutos em áreas privadas para a execução
de serviços públicos.

ATENÇÃO! Servidão <-> Serviço Público: a servidão administrativa está sempre


relacionada a um serviço público ou de utilidade pública. Por exemplo, uma restrição
geral à altura de prédios decorrente da legislação municipal urbanística configura
limitação administrativa; diferentemente, o limite de altura de prédios em razão de sua
vizinhança a um aeroporto é uma servidão administrativa.

Verifica-se, portanto, que a servidão afeta o caráter exclusivo da propriedade,


uma vez que impõe ao proprietário o dever de suportar a utilização do bem pelo poder
público, independentemente de sua concordância.
Embora não exista uma disciplina normativa genérica e própria das servidões
administrativas, ela está prevista no art. 40 do Decreto-lei nº 3.365/41 nos seguintes
termos: “o expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na forma
desta lei”. Por isso, prevalece que se aplicam à servidão administrativa as regras da
desapropriação por utilidade pública. Nessa senda, é necessária a declaração da
utilidade/necessidade pública de instituir a servidão.
Analogamente, o art. 18, XII, da Lei Federal nº 8.987/95 – Lei de Concessões e
Permissões de Serviços Públicos, também prevê que “O expropriante poderá constituir
servidões, mediante indenização na forma da lei“.
76
Com fundamento nesses dispositivos legais, a servidão administrativa pode
ensejar o pagamento de indenização ao proprietário do imóvel, sempre que houver
dano comprovado. Assim sendo, como a servidão não implica a perda do direito de
propriedade, mas apenas restrição à sua exclusividade, a regra é que não há indenização
por sua instituição. No entanto, caso o proprietário comprove [é seu o ônus da prova]
- ou prejuízos, será possível reconhecer a indenização,
que o uso público causou danos
conforme as peculiaridades do caso concreto.
Para a doutrina majoritária, é possível a incidência de servidão administrativa
sobre bens públicos, desde que respeitada a “hierarquia federativa”, analisando-se
analogicamente o art. 2º, § 2º, do Decreto-lei nº 3.365/41. Dessa forma, a União poderia
instituir servidão sobre os Estados e Municípios, e os Estados somente sobre os
Municípios, não se admitindo o inverso. Ainda por força desse dispositivo legal,
prevalece que a servidão administrativa sobre bens públicos exige autorização
legislativa.
Prevalece na doutrina que a servidão administrativa deve ser instituída por ato
individual que especifique seu objeto, seja através de acordo administrativo, seja por
meio de sentença judicial:

- Por acordo com o proprietário: a servidão deve ser procedida


mediante a expedição de um ato declaratório, no qual o Poder
Público informa o interesse/necessidade pública na utilização do

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bem, com posterior execução, mediante o pagamento de


indenização, estipulada por meio de perícia. Caso o particular
concorde com o valor ofertado pelo Poder Público, a servidão
será instituída extrajudicialmente, mediante acordo;
- Por sentença judicial: observado o mesmo procedimento
acima, se o particular não concordar com o valor ofertado pelo
Estado, o Estado deverá ajuizar ação própria, na qual será
estipulada justa indenização após a realização de perícia, cujo
pagamento (prévio) é indispensável à utilização do bem pela
Administração Pública.

Ressalvadas as situações em que a servidão é instituída por lei, a instituição da


servidão, por se tratar de medida de natureza real, deve ser feita mediante registro no
Cartório de Registro de Imóveis, como forma de garantir eficácia erga omnes. Todavia,
no caso de servidões administrativas aparentes, mesmo que o registro não seja
efetivado, deve ser garantida a proteção erga omnes, em decorrência da visibilidade das
obras realizadas. Nesse sentido, a Súmula 415 do STF dispõe que a “Servidão de trânsito
não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas,
considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”.

ATENÇÃO! Alguns doutrinadores, como Maria Sylvia Di Pietro, admitem a instituição de


servidão administrativa por lei, dispensando a necessidade de ato administrativo 77
constitutivo. Nesse caso, não há pagamento de indenização, como regra, haja vista não
se tratar de situação que enseja prejuízo específico a um particular, mas, sim, de
restrição de caráter geral e abstrato.
Entretanto, essa possibilidade de instituição de servidões administrativas por meio de
lei não é nada pacífica, sendo inclusive o instrumento de instituição uma das diferenças
apontadas entre as servidões-administrativas e as limitações administrativas. Assim, em
razão do seu caráter genérico, as limitações administrativas devem ser instituídas por
lei, enquanto as servidões administrativas devem ser instituídas por ato individual que
especifique o seu objeto (acordo ou decisão judicial). É nesse sentido a posição de José
dos Santos Carvalho Filho e de Rafael Oliveira.

A servidão administrativa tem caráter perpétuo (permanente), porque não


instituída por prazo determinado, perdurando enquanto necessária ao atendimento do
objetivo público subjacente.
Não obstante seu caráter perpétuo, a servidão pode ser extinta:

- desaparecimento do bem gravado;


- perda da afetação pública do prédio serviente, pelo
desinteresse superveniente da Administração em continuar
utilizando o imóvel;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

- aquisição do bem imóvel pelo Poder Público que havia


instituído a servidão;
- nas situações em que não haja mais interesse público na
manutenção da servidão do bem.

Como acima consignado, a servidão administrativa [na realidade, a declaração


de utilidade/necessidade pública de instituição de uma servidão administrativa] não é
ato administrativo autoexecutório, somente se constituindo por acordo ou sentença
judicial.
Em resumo, temos as seguintes características da servidão:

i) direito real;
ii) sobre bem imóvel;
iii) perpétua ou definitiva;
iv) indenização condicionada à demonstração de prejuízo; e
v) inexistência de autoexecutoriedade.

1.1.1.4. Requisição e Ocupação Temporária


A. Requisição da propriedade privada 78
A requisição administrativa consiste em forma de intervenção estatal na
propriedade privada por meio da qual, diante de perigo público iminente, o Estado
utiliza (coativamente) bens móveis, imóveis ou até mesmo serviços particulares, com
indenização ulterior, se houver dano.
- XXV do art. 5º da CF/88, nos ss. termos:
Está prevista no inciso
Art. 5º (...)
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular, assegurada
ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

Nos termos do art. 22, III, da CF/88, a competência legislativa é privativa da


União “III – requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de
guerra”. Nessa esteira, foram editados o Decreto-Lei nº 4.812/42, que trata da
requisição de móveis e imóveis necessários às Forças Armadas e à defesa da população,
e a Lei Federal nº 7.565/1986, a qual disciplina a requisição de aeronaves. Outrossim, a
Lei Federal nº 8.080/1990, prevê, em seu art. 15, XIII, a possibilidade de o Poder Público
requisitar leitos e serviços de hospitais.
Ressalve-se, entretanto, que a requisição administrativa não depende de
regulamentação infraconstitucional, podendo ser implementada por ato administrativo
com fundamento direto na Constituição Federal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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A seu turno, a competência administrativa [para implementar em si a


requisição] é comum, podendo, então, ser realizada por todos os entes federativos.
Nessa perspectiva, numa situação de conflito interno ou mesmo de guerra externa
declarada, por exemplo, todas as esferas da Federação envolvidas poderão requisitar
bens e serviços, a fim de enfrentar situações diversas de perigo público iminente,
respeitadas suas competências administrativas constitucionais, à luz dos arts. 21 e 23 da
CF/88.

ATENÇÃO! É importante perceber que, conquanto a requisição administrativa seja uma


das medidas possíveis de serem adotadas no “estado de defesa” (art. 136, § 1º, II:
“ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade
pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes”) e no “estado de sítio”
(art. 139, VII: “requisição de bens”), ela pode ser implementada independentemente da
decretação desses estados de exceção constitucional, não sendo o estado de sítio nem
o estado de defesa, assim, pressupostos de sua realização.

Seguindo as lições de Hely Lopes Meirelles, conforme a natureza do perigo


público iminente e a finalidade, a requisição administrativa classifica-se em: (i)
requisição militar, que visa a proteger a segurança interna e a soberania nacional,
ameaçadas por conflito armado, comoção interna ou abalo semelhante; e (ii) requisição
civil, destinada a evitar danos à vida, à saúde e aos bens da coletividade diante da
inundação, incêndio, sonegação de gêneros de primeira necessidade, epidemias, 79
catástrofes e circunstâncias adversas afins. Importante anotar, ainda, que ambas podem
ser decretadas tanto em tempo de paz quanto de guerra.
A requisição administrativa é ato administrativo unilateral e autoexecutório,
na medida em que, face a uma situação de perigo iminente, o Estado pode requisitar
direta e imediatamente bens e serviços, sem necessidade de prévia autorização judicial.
Finalmente, quanto à- indenização, esta é posterior e somente se comprovada
a existência de dano.

B. Ocupação temporária

A ocupação temporária é a forma de intervenção estatal pela qual o Poder


Público usa, transitoriamente, IMÓVEIS privados, como meio de apoio à execução de
obras e serviços públicos.
Excepcionalmente, nomeadamente no âmbito dos contratos administrativos,
a Administração poderá ocupar bens móveis, serviços e pessoal, a fim de acautelar
infrações contratuais do contratado e garantir a continuidade de um serviço público (art.
58, V, da Lei Federal nº 8.666/1993 e 104, V, da nova lei de licitações).
Ocorre, usualmente, quando a Administração tem necessidade de ocupar
terreno privado para nele depositar equipamentos e materiais destinados à realização
de obras e serviços públicos nas cercanias.

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A instituição de ocupação temporária dar-se por meio da expedição de ato da


autoridade administrativa competente, que deve, se for o caso, fixar, desde logo, a
indenização devida ao particular.
Trata-se de ato de natureza autoexecutória, porquanto independente de
intervenção judicial para ser implementado.
Ademais, quanto à indenização, ela somente é devida se comprovado efetivo
prejuízo ao particular proprietário do imóvel.
No ponto, José dos Santos Carvalho Filho leciona que a indenização varia de
acordo com a modalidade de ocupação temporária: se vinculada à desapropriação, nos
termos do art. 36 do Decreto-Lei 3.365/1941 [“Art. 36. É permitida a ocupação
temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados,
vizinhos às obras e necessários à sua realização”], haverá dever de indenização; se não
for, a indenização somente terá lugar se houver dano comprovado, tal qual se dá com a
servidão e a requisição.
A extinção da ocupação temporária ocorre com a conclusão da obra ou do
serviço do Poder Público, já que a propriedade privada deve ser desocupada assim que
esteja concluída a atividade pública que deu causa à ocupação.

Ocupação temporária Requisição

Caráter transitório. Caráter transitório. 80


Situação de normalidade. Situação de perigo público iminente.
Via de regra, só incide sobre propriedade Incide sobre bens móveis, imóveis e
imóvel. serviços.

ATENÇÃO! O art. 58, V, da Lei- Federal nº 8.666/1993 e 104, V, da nova lei de licitações,
traz forma especial de ocupação temporária, relativa a contratos administrativos,
enquanto uma cláusula exorbitante presente nas avenças que tenham objeto serviços,
permitindo que a Administração ocupe provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal
e serviços vinculados ao objeto do contrato, a fim de acautelar apuração administrativa
de faltas contratuais do contratado ou garantir a continuidade do serviço em caso de
rescisão contratual. Observe-se que, nessa hipótese particular, a ocupação temporária
não incide apenas sobre bens imóveis.

Vejamos as principais semelhanças e distinções acerca das modalidades


interventivas restritivas:

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-

Modalidades Objeto Instituição e Extinção Indenização

Em regra, não haverá


Sua instituição se dá,
dever de indenizar.
primariamente, por lei e,
Sobre bens Exceção: danos
de forma secundária, por
imóveis, móveis e desproporcionais ao
Limitação atos administrativos
serviços. particular ou quando
Administrativa normativos.
Obs.: são impostas esvazie o potencial
Extingue-se com a
em caráter GERAL. econômico do bem
revogação da lei ou do
(prescrição em 05
ato administrativo.
anos).

Sobre bens Sua instituição se dá após


MATERIAIS, processo administrativo,
móveis e imóveis, assegurada ampla defesa
públicos ou e contraditório. Somente se houver
privados. O comprovação de dano
Tombamento Pode ser cancelado (prescrição em 05
patrimônio cultural
imaterial é (“destombamento”), de anos).
protegido por ofício ou mediante
outras formas, recurso, pelo Presidente
como o registro. da República.

Instituídas por acordo, 81


decisão judicial e
usucapião.
Obs.: Há divergência
acerca da possibilidade
Apenas sobre Prévia, mas
de instituição por lei.
IMÓVEIS. condicionada à
Servidão - Perduram enquanto comprovação de
Administrativa Natureza de direito houver a necessidade de prejuízo.
REAL da
satisfação do interesse
Administração. Prescreve em 5 anos.
público (PERMANENTES).
Podem ser extintas em
razão da desafetação do
bem, incorporação ao
patrimônio público, etc.

A sua instituição é
Sobre bens
autoexecutória, diante
imóveis, móveis e
de situação de PERIGO Somente se houver
de serviços
IMINENTE. dano e APÓS a
Requisição particulares.
Extingue-se requisição do bem.
Natureza de direito
automaticamente com o Prescreve em 5 anos.
PESSOAL da
desaparecimento da
Administração.
situação de perigo.

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-

Regra: Imóveis. A sua instituição é Somente se houver


comprovação de
Exceção: Móveis e autoexecutória.
dano.
Ocupação serviços Extingue-se com o
particulares (art. decurso do prazo fixado Exceção: quando
Temporária
58, V, Lei 8.666/93 para a ocupação ou com vinculada a
e 104, V, da nova lei o término da execução da desapropriação.
de licitações) obra ou do serviço. Prescreve em 5 anos.

1.1.1.5. Desapropriação

A desapropriação é o procedimento de direito público pelo qual o Poder Público


transfere para si a propriedade de terceiro, por razões de utilidade pública ou
necessidade pública, ou de interesse social, normalmente mediante o pagamento de
justa e prévia indenização.
Trata-se de modalidade supressiva de intervenção estatal na propriedade, em
que o Poder Público não condiciona o uso da propriedade privada, mas, sim transfere
bem de terceiro a si.
A doutrina classifica a desapropriação como forma originária de aquisição de
propriedade, porque não provém de nenhum título anterior, razão pela qual o bem
expropriado se torna insuscetível de reivindicação e se libera de qualquer ônus que 82
sobre ele incidisse precedentemente, ficando eventuais credores sub-rogados no preço
[e não no bem!].

ATENÇÃO! Por tratar-se de hipótese de responsabilidade originária, o ente


desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas
hipóteses em que o período - de ocorrência dos fatos geradores é anterior à
desapropriação (Info 606 STJ).

A desapropriação é efetivada mediante um processo administrativo, na


maioria das vezes, acompanhado de uma fase judicial.
Esse procedimento tem início com a fase administrativa, em que o Poder
Público declara o interesse na desapropriação e dá início às medidas visando à
transferência do bem: se houver acordo entre a Administração e o proprietário do bem,
esgota-se nesta fase; na ausência de acordo, o procedimento entra na sua fase judicial,
devendo o magistrado solucionar toda a controvérsia.
São pressupostos da desapropriação, em regra1:

1Diz-se “em regra” porque, conforme veremos, na “desapropriação confiscatória”, o


pressuposto é simplesmente a localização de culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou
de exploração de trabalho escravo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

a) A utilidade pública ou necessidade pública;


b) O interesse social.

A utilidade pública ocorre quando a transferência do bem para o poder público


é conveniente, embora não seja imprescindível. Já a necessidade pública decorre de
situações de emergência, cuja solução exija a desapropriação do bem. Ambas são
disciplinadas pelo Decreto-Lei nº 3.365/1941.
Por sua vez, a desapropriação por interesse social destina-se, nos termos da Lei
nº 4.132/1962, à justa distribuição da propriedade ou ao bem estar social, tendo lugar
quando o bem expropriado se destinar a terceiros como medida de concretização dos
direitos fundamentais sociais.
A regra matriz do instituto da desapropriação está no art. 5º, XXIV, da CF/88:

Art. 5º (....)
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
os casos previstos nesta Constituição.

Além da previsão genérica acima, a CF/88 trata de três espécies de 83


desapropriação por interesse social, duas da chamada “desapropriação-sanção” (art.
182, § 4º, III, e art. 184) e uma da assim intitulada “desapropriação-confiscatória” (art.
243):

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo


Poder-Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes.
(...)
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos
da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
(...)
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social,


para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em
dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social,
para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de
desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento
contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial
de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da
dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender
ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins
de reforma agrária.
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região
84
do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas
psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da
lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
observado,
- no que couber, o disposto no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado
e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma
da lei.

A primeira hipótese (art. 182, § 4º, III, da CF/88) trata da chamada


“desapropriação (por interesse social) urbanística”, que possui caráter sancionatório e
pode ser aplicada ao proprietário do solo urbano que não atenda às exigências de
promover o adequado aproveitamento de sua propriedade, nos termos do plano
diretor do município. O expropriante é o município (competência exclusiva). A
indenização será paga mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas
anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ATENÇÃO! É importante observar as ss. diferenças específicas entre a desapropriação


urbanística (art. 182, § 4º, III, da CF/88) e a desapropriação para fins de reforma agrária
(art. 184, CF/88), na medida em que é comum questões de concurso misturarem as
duas: títulos da dívida pública x títulos da dívida agrária; emissão aprovada pelo Senado
Federal x inexistência de aprovação pelo Senado Federal; prazo de resgate de 10 anos x
prazo de resgate de 20 anos, a partir do segundo ano de sua emissão.

A segunda hipótese (art. 184 da CF/88) refere-se à “desapropriação (por


interesse social) para fins de reforma agrária” e, por suas peculiaridades, será estudada
em tópico específico mais adiante.
A terceira hipótese (art. 243 da CF/88) de previsão constitucional específica é
denominada doutrinariamente de “desapropriação-confiscatória”, porquanto não
enseja ao proprietário nenhuma indenização. Essa espécie de desapropriação tem como
pressuposto a localização de cultivo ilícito de plantas psicotrópicas ou de exploração
de trabalho escravo.
Sobre essa desapropriação confiscatória, o STF já decidiu que deve ser
desapropriado todo o imóvel, ainda que apenas uma parcela da propriedade esteja
coberta pela plantação ilegal (RE 543.974/MG). Ainda, o STF entendeu que a
expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que “in vigilando” ou “in eligendo” (RE
635336/PE, informativo 851).
As regras sobre desapropriação são regulamentadas e complementadas por 85
meio de leis específicas, quais sejam:

- Decreto-Lei nº 3.365/41, que dispõe sobre a desapropriação


por utilidade pública e é tratada como “lei geral da
desapropriação”;
-
- Lei Federal nº 4.132/62, que dispõe sob a desapropriação por
interesse social;
- Lei Federal nº 8.257/1991, que dispõe sobre a desapropriação
de imóveis onde forem localizadas culturas ilegais plantas
psicotrópicas;
- Lei Federal nº 8.629/1993, que dispõe sobre a desapropriação
rural;
- Lei Complementar nº 76/93, que dispõe sobre a
desapropriação rural para fins de reforma agrária.

Sobre os bens desapropriáveis, pode ser desapropriado QUALQUER objeto


suscetível de valoração patrimonial. Pode ser móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo. É
possível, por exemplo, a desapropriação do espaço aéreo, do subsolo, de ações e de
quotas de sociedade. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo pontuam que, quanto aos
bens imóveis, eles somente podem ser desapropriados por um ente federado em cujo
território estejam situados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Não podem ser desapropriados: moeda corrente do país; direitos


personalíssimos (direito à vida, à imagem, aos alimentos); margens dos rios navegáveis
(Súmula 479 do STF); pessoas jurídicas.
Finalmente, os bens públicos PODEM ser desapropriados, respeitada, contudo,
a regra do art. 2º, § 2º do Decreto-Lei nº 3.365/41, de acordo com a qual existe uma
espécie de “hierarquia federativa”, porquanto ela deve ocorrer dos entes federados
mais abrangentes para os de nível territorial menos abrangente:

Art. 2º Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens


poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados,
Municípios, Distrito Federal e Territórios.
(...)
§ 2º Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito
Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e
os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato
deverá preceder autorização legislativa.

Em outras palavras, a União pode desapropriar bens de quaisquer entes


federados, e não pode ter seus bens desapropriados; os Estados somente podem
desapropriar bens de seus respectivos Municípios; os Municípios e o Distrito Federal não
podem desapropriar bens das demais entidades federativas. 86
ATENÇÃO! Conforme entendimento jurisprudencial do STF e STJ, um Município ou um
Estado pode desapropriar bens de uma pessoa administrativa vinculada à União, como
uma autarquia federal, desde que haja prévia autorização do Presidente da República,
concedida mediante decreto.
-
A par dessa “hierarquia federativa”, a desapropriação de bem público depende
de lei autorizativa editada pelo ente federativo desapropriante. Essa autorização
legislativa é dispensada se houver acordo entre os entes federativos envolvidos.

1.1.2. COMPETÊNCIA PARA DESAPROPRIAR

É necessário separar três competências distintas: competência legislativa,


competência declaratória e competência executória.

- Competência para legislar: é privativa da União, nos termos


do art. 22, II, da CF. Essa competência pode ser delegada aos
estados e ao DF, para a disciplina de temas específicos, desde
que a delegação seja efetivada por meio de lei complementar.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

- Competência para declarar a necessidade ou utilidade pública


ou interesse social do bem: em regra, a competência é comum
da União, dos Estados, do DF e dos Municípios. Entretanto, no
caso de desapropriação por interesse social para fins de reforma
agrária (art. 184 da CF) e desapropriação confiscatória (art. 243
da CF), a competência é exclusiva da União. Já no caso de
declaração de interesse social de imóvel para fins de
urbanísticos, a competência é exclusiva do Município (art. 182, §
4º, III, da CF).

ATENÇÃO! Há alguns casos previstos em lei que permitem que algumas autarquias
declarem a utilidade pública para fins de desapropriações específicas – exemplo: o art.
82, IX, da Lei nº 10.233/2001 permite ao DNIT declarar a utilidade pública do bem a ser
desapropriado com o objetivo de implantar o Sistema Federal de Viação e o art. 10 da
Lei nº 9.074/1995 que permite à ANEEL declarar o interesse em desapropriar áreas para
a instalação de concessionárias e permissionárias de energia elétrica.

ATENÇÃO! É incorreto pensar que a desapropriação de imóvel rural somente pode ser
feita pela União. Sucede que é a desapropriação de imóvel rural por interesse social para
fins de reforma agrária, por descumprimento da função social da propriedade rural, nos
termos do art. 184 da CF/88, que é da competência exclusiva da União. Por utilidade ou
necessidade públicas ou mesmo por interesse social genérico, qualquer ente federado 87
pode desapropriar imóvel rural.

ATENÇÃO! A declaração de utilidade ou necessidade públicas ou de interesse social de


um bem não pode ser feita por pessoas jurídicas de direito privado. Como visto, a
competência declaratória é dos entes políticos [e, excepcionalmente, de autarquias]. É
bastante comum questões de - prova incluírem agentes privados delegados dentre os
competentes para expedição do decreto expropriatório, tentando confundir o
candidato em razão de aqueles estarem entre os legitimados para executar a
desapropriação [em certas hipóteses].

- Competência executória: a competência para promover


efetivamente a desapropriação é mais ampla, alcançando as
entidades da Administração Direta e Indireta e os agentes
delegados do Poder Público (concessionárias e permissionárias).

1.1.3. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

A fase administrativa da desapropriação envolve duas subfases: declaratória e


outra subfase executiva: (i) declaratória, consistente, justamente, na manifestação de
intenção Poder Público de desapropriar o bem; e (ii) executória, referente às
providências voltadas à transferência do bem para o expropriante, que se dá de forma

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

administrativa se houver acordo com o expropriado quanto ao preço, naquilo que se


intitula “desapropriação amigável”.
A subfase declaratória, de manifestação da intenção do ente político de
desapropriar determinado bem, ocorre ordinariamente por meio da expedição de um
decreto expropriatório, a cargo do Chefe do Poder Executivo. Excepcionalmente, é
possível que a declaração expropriatória seja do Poder Legislativo, prevalecendo que o
veículo adequado é a lei [e não o decreto legislativo].

ATENÇÃO! O STF considerou INCONSTITUCIONAL previsão na Lei Orgânica do Distrito


Federal que exigia prévia aprovação da Câmara Legislativa para a edição do decreto
expropriatório pelo Governador, pois haveria extrapolação do procedimento do
Decreto-Lei nº 3.365/1941, com a consequente violação da competência privativa da
União para legislar sobre desapropriação. Ademais, existiria agressão ao princípio
fundamental da separação dos poderes, pois prevalece no STF que a decisão de
desapropriação é uma decisão político-administrativa discricionária do Poder Executivo
(ADI nº 969/DF, j. em 27/09/2006).

A declaração expropriatória deve conter (i) a descrição precisa do bem a ser


desapropriado, (ii) a finalidade da desapropriação e (iii) a hipótese legal que autoriza a
desapropriação.
Nesse sentido, de acordo com o Enunciado nº 04 da 1ª Jornada de Direito
Administrativo do CJF:
88

“O ato declaratório da desapropriação, por utilidade ou


necessidade pública, ou por interesse social, deve ser
MOTIVADO de maneira explícita, clara e congruente, não sendo
suficiente
- a mera referência à hipótese legal”.

Essa declaração expropriatória (de utilidade pública, necessidade pública ou


interesse social) acarreta consequências importantes, a saber:

a) Autorização para que a autoridade administrativa ingresse


no bem (art. 7º Decreto-lei 3.365/1941): “Declarada a utilidade
pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a
penetrar nos prédios compreendidos na declaração, podendo
recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial.”. Esse
ingresso é fundamental para a realização de inspeções e
levantamentos de campo, com conhecimento de perto da área
a desapropriar;
b) Início do prazo de caducidade do decreto expropriatório:
Ultrapassado o prazo de 05 anos (por utilidade ou necessidade
públicas) ou de 02 anos (por interesse social) sem que seja
promovida a desapropriação, ocorre a caducidade do decreto e

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

o bem não pode ser objeto de nova declaração no prazo de 01


ano (art. 10 do Decreto-lei nº 3.365/41).
c) Fixação do estado do bem para fixação de futura indenização
das benfeitorias (art. 26, §1º Decreto-lei 3.365/41): após a
expedição do decreto expropriatório, as benfeitorias necessárias
realizadas serão sempre indenizadas; as benfeitorias úteis
somente o serão se foram realizadas mediante autorização do
Poder Público; e as benfeitorias voluptuárias não serão
indenizadas. Registre-se, ainda, ser possível a concessão de
licença para obras no imóvel após a expedição da declaração
expropriatória, mas o valor da obra não se incluirá na
indenização (Súmula nº 23 do STF).

Antes da Lei Federal nº 13.867/2019, não havendo acordo entre as partes sobre
o preço, a desapropriação judicializava-se necessariamente, exigindo-se que o ente
expropriante (ou seu delegado, inclusive particular concessionário) ingressasse com
ação de desapropriação. Ocorre que a novel legislação trouxe a possibilidade de as
partes se submeterem aos procedimentos da mediação ou da arbitragem, esta que
deverá ser proposta dentro do prazo de 15 (quinze) dias que o expropriado possui para
aceitar ou não o preço [o silêncio é interpretado como recusa]. Vejamos:

Art. 10-A. O poder público deverá notificar o proprietário e 89


apresentar-lhe oferta de indenização. (Incluído pela Lei nº
13.867, de 2019)
§ 1º A notificação de que trata o caput deste artigo conterá:
(Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
I - cópia do ato de declaração de utilidade pública; (Incluído pela
Lei nº-13.867, de 2019)
II - planta ou descrição dos bens e suas confrontações; (Incluído
pela Lei nº 13.867, de 2019)
III - valor da oferta; (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
IV - informação de que o prazo para aceitar ou rejeitar a oferta
é de 15 (quinze) dias e de que o silêncio será considerado
rejeição; (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
V - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 2º Aceita a oferta e realizado o pagamento, será lavrado
acordo, o qual será título hábil para a transcrição no registro de
imóveis. (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 3º Rejeitada a oferta, ou transcorrido o prazo sem
manifestação, o poder público procederá na forma dos arts. 11
e seguintes deste Decreto-Lei. (Incluído pela Lei nº 13.867, de
2019)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Art. 10-B. Feita a opção pela mediação ou pela via arbitral, o


particular indicará um dos órgãos ou instituições especializados
em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo
órgão responsável pela desapropriação. (Incluído pela Lei nº
13.867, de 2019)
§ 1º A mediação seguirá as normas da Lei nº 13.140, de 26 de
junho de 2015 [dispõe sobre a mediação entre particulares como
meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de
conflitos no âmbito da administração pública], e,
subsidiariamente, os regulamentos do órgão ou instituição
responsável. (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 2º Poderá ser eleita câmara de mediação criada pelo poder
público, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.140, de 26 de junho
de 2015. (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 4º A arbitragem seguirá as normas da Lei nº 9.307, de 23 de
setembro de 1996, e, subsidiariamente, os regulamentos do
órgão ou instituição responsável. (Incluído pela Lei nº 13.867, de
2019)
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)

90
1.1.4. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO

De antemão, cumpre esclarecer que, embora o Decreto-Lei nº 3.365/1941


disponha sobre a desapropriação por utilidade pública, ele é, conforme já pontuado,
considerado uma “Lei Geral de Desapropriação”, razão pela qual se aplica à
desapropriação por necessidade
- pública e por interesse social [no caso desta última,
deve também ser observada a Lei nº 4.132/1962].
Bem, em caso de impossibilidade de acordo na via administrativa, aquele que
possui competência executória (o Poder Público ou o agente delegado) deve propor a
ação judicial de desapropriação em face do proprietário do bem.
Quanto à competência processual para a ação de desapropriação:

- IMÓVEL: nos termos do art. 47 do CPC/2015, a competência é


absoluta e do foro da situação da coisa, ainda que a União figure
como parte, não se aplicando o disposto no art. 11 do Decreto-
Lei 3.365/1941, conforme entendimento firme do STJ (REsp
307535/SP,Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJ 13.05.2002; AgRg
no REsp 464392/DF, Rel. MIn. DENISE ARRUDA, DJ 03.05.2004 e
REsp 6375/PR, Rel. Min. CÉSAR ASFOR ROCHA, DJ de
22.11.1993);
- MÓVEL: incide normalmente o referido art. 11 (e arts. 51 e 52,
caput, do CP/2015), devendo a ação ser proposta no foro do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

domicílio do réu.

ATENÇÃO! De acordo com o entendimento do STJ, a superveniência de vara federal no


local do imóvel desloca a competência da ação de desapropriação imobiliária para
esse juízo, pois se trata de competência absoluta, não sujeita ao princípio da perpetuatio
jurisdictionis. Confira-se:
"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.
INSTALAÇÃO DE NOVAS VARAS FEDERAIS. REDISTRIBUIÇÃO DE PROCESSOS. AÇÃO DE
DESAPROPRIAÇÃO. NATUREZA REAL. ARTIGO 95 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA. FORO DE SITUAÇÃO DO IMÓVEL. FORUM REI SITAE.
1. A perpetuatio jurisdictionis tem como ratio essendi a competência territorial relativa,
no afã de fixar-se no domicílio do réu, no momento da demanda, ainda que o
demandado altere a posteriori o seu domicílio.
2. A competência para as ações fundadas em direito real sobre bem imóvel (CPC, art.
95, in fine) é absoluta e, portando, inderrogável, de modo a incindir o princípio do forum
rei sitae, tornando-se inaplicável o princípio da perpetuatio jurisdictionis.
3. A superveniente criação de Vara Federal, situada no local do imóvel, desloca a
competência para esse Juízo, na forma do art. 87, do CPC, que assim dispõe: Art. 87 -
Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes
as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da
hierarquia.
91
4. A competência absoluta do local do imóvel justifica-se em razão da melhor aptidão
do juiz de determinado território para exercer a sua função, cuja competência
transmuda-se de relativa para absoluta, em face da natureza pública do interesse que a
informa. Precedentes:
(REsp 936.218/CE, DJ 18.09.2007;
- AgRg no REsp 958544/PE, DJ 19.10.2007 Resp. REsp.
549.508/SP, DJ. 19.12.2005; Resp. 819225/PR, DJ.16.10.2006; CC. 46771/RJ, DJ.
19.09.2005; CC. 5008/DF, DJ. 14.12.1993)
5. Nesse sentido, é cediço em sede de abalizada doutrina: 'A determinação da
competência em razão da situação da coisa, ou, mais precisamente, em razão da
situação do imóvel, cria o chamado fórum rei sitae, herança romana, da época imperial.
Justifica-se pela evidente conveniência do andamento do processo no foro da situação
do imóvel sobre que versar a lide e que se manifesta na diminuição de despesas e de
tempo na prática de certos atos e por possibilitar ao juiz da causa o exame direto das
coisas sobre que incidir a sua decisão. Com efeito, em quase todas ações relativas a
imóvel se produzem vistorias, que são provas de fatos ou circunstâncias inerentes a este,
as quais não poucas vezes reclamam a presença do juiz. Demais, é aconselhar-se que,
nessas ações, o juiz, 'a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse à decisão da causa',
se valha da chamada inspeção judicial e se locomova até o imóvel sempre que julgar isso
necessário 'para melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva observar' (Cód.
Proc. Civil, arts. 440 e 442, nº I). O Código de Processo Civil de 1939 instituía o forum rei
sitae para as ações relativas a imóvel, isto é, para as ações ditas imobiliárias. Restringiu
o Código atual a competência daquele foro para as ações reais imobiliárias. (Moacyr

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Amaral Santos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 1º volume, 5ª ed., Editora
Saraiva, 1977, p. 199).
6. Recurso especial desprovido" (STJ, REsp 885.557/CE, Rel. Ministro LUIZ FUX,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 03/03/2008).

Sobre o sujeito ativo, dispõe o art. 3º do Decreto-Lei nº 3.365/1941:

Art. 3o Os concessionários de serviços públicos e os


estabelecimentos de caráter público ou que exerçam funções
delegadas de poder público poderão promover desapropriações
mediante autorização expressa, constante de lei ou contrato.

ATENÇÃO! De acordo com o STJ, com a Lei Complementar nº 37/1979, que modificou a
redação do art. 22, § 2º, da LC 35/1979, “os juízes substitutos, que ainda não hajam
adquirido a vitaliciedade, passaram a poder praticar todos os atos reservados aos juízes
vitalícios, inclusive o conhecimento dos processos de desapropriação” (STJ, 1º Turma,
REsp 41922 PR 1993/0035240-7, Rel. Ministro Demócrito Reinaldo, j. em 01/09/1998).
Houve, pois, uma revogação tácita do art. 12 do Decreto-Lei nº 3.365/41, segundo o qual
somente juízes vitalícios poderão apreciar ações de desapropriação.

92
Ao despachar a inicial, o juiz designará um perito para proceder à avaliação do
bem (art. 14).
É importante conhecer os detalhes da chamada “imissão provisória na posse”,
peculiaridade da ação de desapropriação.
O Poder Público não precisa aguardar o desfecho do processo para acessar o
bem e dar a destinação de interesse
- público que justificou a declaração expropriatória.
Para tanto, admite-se sua imissão na posse do bem no curso do processo judicial,
conforme previsão no art. 15 do Decreto-lei nº 3.365/41.
A imissão na posse depende do preenchimento de 02 (dois) requisitos legais:

a) Declaração de urgência: alegada a urgência, que não pode ser


renovada, o expropriante possui o prazo improrrogável de 120
(cento e vinte) dias para requerer a imissão provisória, conforme
art. 15, §2º do Decreto-lei nº 3.365/41;
b) Depósito prévio: o expropriante deve efetuar o depósito de
acordo com os critérios previstos no art. 15, §1º do Decreto-lei
nº 3.365/41. O STF considerou que esses critérios foram
recepcionados pela CF/88, conforme dispõe o enunciado na
Súmula 652/STF: “Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do
Decreto-lei 3.365/1941 (Lei da desapropriação por utilidade
pública)”. O argumento do STF é que, embora esses critérios
possam não corresponder ao real valor do bem, não há

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

vulneração à garantia constitucional da justa indenização (art.


5º, XXIV, CF/88), tendo em vista que esta somente é fixada ao
final, com a sentença (STF, RE n° 178.215-3). De modo diverso, o
STJ entendeu que apenas o “caput” do art. 15 do DL foi
recepcionado pela CF/88, tendo ocorrido derrogação de seus
parágrafos, justamente por incompatibilidade com a garantia
constitucional da justa indenização, sendo imprescindível a
realização de avaliação judicial provisória para a fixação do valor
do depósito prévio (STJ, REsp 181407 / SP).

O STJ entende que o valor da indenização deve ser contemporâneo à avaliação


efetivada em juízo, tendo como base o laudo adotado pelo juiz para a fixação do justo
preço, reportando-se à época em que realizada, e não ao passado, pouco importando
a data da imissão na posse ou mesmo a da avaliação administrativa. Segundo a Corte
Cidadã exigir que esses trabalhos técnicos refiram-se à realidade passada (de anos,
muitas vezes) pode prejudicar a qualidade das avaliações e o contraditório. Nesse
sentido, aponta que o próprio art. 26 do Decreto-Lei 3.365/1941 prevê que a
indenização, em regra, deverá corresponder ao valor do imóvel apurado na data da
perícia (avaliação judicial). (STJ, 2ª Turma. AgRg no Resp. 1.459.124-CE, julgado em
18/09/2014, Informativo 549)
NADA OBSTANTE, em sentido diametralmente oposto, o Enunciado nº 31 da 1ª
Jornada de Direito Administrativo do CJF estabelece que:
93
“A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as
condições mercadológicas existentes à época da efetiva perda
da posse do bem”.

-
Registre-se que, atendidos os requisitos acima, o expropriante possui direito
subjetivo à imissão provisória, não podendo o magistrado indeferir o requerimento.
O expropriado, réu da ação, poderá levantar, independentemente de
concordância, até 80% do depósito efetivado na imissão provisória na posse (art. 33,
§2º do Decreto-Lei nº 3.365/41).
Destaca-se que a Lei Federal nº 13.465, de 11 de julho de 2017, inseriu o art.
34-A no referido Decreto, criando a chamada “transferência antecipada da
propriedade”, com a possibilidade de o expropriado levantar 100% do valor do
depósito se concordar com a desapropriação. Veja a inovação legislativa:

Art. 34-A. Se houver concordância, reduzida a termo, do


expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na posse
implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o
consequente registro da propriedade na matrícula do imóvel.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 1º A concordância escrita do expropriado não implica


renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado em
juízo.
§ 2º Na hipótese deste artigo, o expropriado poderá levantar
100% (cem por cento) do depósito de que trata o art. 33 deste
Decreto-Lei.
§ 3º Do valor a ser levantado pelo expropriado devem ser
deduzidos os valores dispostos nos §§ 1º e 2º do art. 32 deste
Decreto-Lei, bem como, a critério do juiz, aqueles tidos como
necessários para o custeio das despesas processuais.

ATENÇÃO! A concordância do expropriado prevista no art. 34-A é com a


desapropriação – viabilizando, assim, a transferência antecipada da propriedade e o
levantamento de 100% do valor depositado –, e não com o preço ofertado pelo
expropriante, afinal de contas, consoante o § 1º daquele mesmo preceptivo legal, tal
concordância NÃO implica renúncia ao direito (constitucional) de discutir o preço
depositado.

É importante observar que o art. 34-A não revogou o art. 33, § 2º, do DL, de
modo que concorrem duas possibilidades:
94
i) expropriado não concorda com a desapropriação, podendo
levantar até 80% do valor depositado, questionar o preço na
própria ação de desapropriação e discutir o mérito da
desapropriação em ação autônoma; ou
ii) expropriado concorda com a desapropriação, caso em que
poderá - levantar 100% do valor depositado e questionar esse
montante (o preço) na ação desapropriação, porém não poderá
mais se insurgir contra o mérito da desapropriação (em ação
autônoma), sobre o qual haverá coisa julgada material.

De acordo com o STF, a justa indenização é fixada apenas na sentença, não


sendo parâmetro para a imissão provisória na posse. Dessa forma, o valor do depósito
indispensável à imissão deve observar o art. 15 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, e não o
valor da avaliação pericial prévia, podendo o juiz fixá-lo em montante inferior a esta
(STF, RE 176.108/SP, j. em 12/06/1997). Confira-se o art. 15:

§ 1º A imissão provisória poderá ser feita, independente da


citação do réu, mediante o depósito: (Incluído pela Lei nº 2.786,
de 1956)

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-

a) do preço oferecido, se este for superior a 20 (vinte) vezes o


valor locativo, caso o imóvel esteja sujeito ao imposto predial;
(Incluída pela Lei nº 2.786, de 1956)
b) da quantia correspondente a 20 (vinte) vezes o valor locativo,
estando o imóvel sujeito ao imposto predial e sendo menor o
preço oferecido; (Incluída pela Lei nº 2.786, de 1956)
c) do valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do
imposto territorial, urbano ou rural, caso o referido valor tenha
sido atualizado no ano fiscal imediatamente anterior; (Incluída
pela Lei nº 2.786, de 1956)
d) não tendo havido a atualização a que se refere o inciso c, o
juiz fixará independente de avaliação, a importância do
depósito, tendo em vista a época em que houver sido fixado
originalmente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização
posterior do imóvel. (Incluída pela Lei nº 2.786, de 1956)

ATENÇÃO! Vimos que o valor do depósito prévio nem sempre corresponderá ao valor
da indenização fixado na sentença, sendo que, caso este último valor seja maior que a
quantia do depósito efetuado para fins de imissão provisória, o expropriante deverá
pagar juros compensatórios ao expropriado, contados desde a data de imissão na posse.

95
Consigne-se que o Poder Público pode, se não subsistirem as razões que
fundamentaram a decisão de desapropriar, desistir da desapropriação, inclusive no
curso da ação judicial, por requerimento expresso de julgamento do processo sem
exame do mérito, ou por meio de revogação do decreto expropriatório. No caso, o
expropriado não pode se opor à desistência, mas será indenizado pelos prejuízos
causados.
-

1.1.5. DEFESA DO RÉU

A legislação em vigor limita a defesa do réu no processo de desapropriação,


bem como o alcance da análise judicial em relação aos pressupostos de utilidade
pública, necessidade pública e interesse social. De acordo com o art. 9º do Decreto-lei
nº 3.365/41:

“ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação,


decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública”.

Portanto, no processo de desapropriação, a discussão deve se limitar apenas à


eventual vício processual [da ação judicial, e não do procedimento administrativo de
desapropriação] e ao preço, nos termos do art. 20 do Decreto-Lei nº 3.365/41:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial


ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser
decidida por ação direta.

ATENÇÃO! Em que pese a literalidade do art. 20 do Decreto-Lei nº 3.365/41, o


Enunciado nº 03 da 1ª Jornada de Direito Administrativo do CJF prescreve que o Poder
Judiciário pode, no processo de desapropriação, examinar a regularidade (formal) do
processo de desapropriação e da presença dos elementos de validade do ato de
declaração pública.
Em provas objetivas, atentar para a literalidade da Lei, a não ser que seja cobrado
especificamente o entendimento da Jornada.

1.1.6. INDENIZAÇÃO

Na desapropriação por utilidade ou necessidade públicas e por interesse


social, a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro.
Essa indenização deve ser integral, englobando os danos emergentes, os lucros
cessantes, as despesas processuais, os juros, a correção monetária e os honorários
advocatícios. Em regra, o pagamento deve ser feito em dinheiro por meio do sistema do
precatório (art. 100, da CF/88). Excepcionalmente, o pagamento pode ser por RPV (em
razão do valor reduzido da indenização, art. 100, §§ 3º e 4º, da CF). 96
ATENÇÃO! Por óbvio, a desapropriação promovida por pessoas privadas delegatárias de
atividades administrativas não se submete à sistemática dos precatórios, prerrogativa
processual exclusiva da Fazenda Pública.
-
Nos termos do art. 26 do Decreto-Lei, o valor da indenização será
contemporâneo da avaliação2. A despeito disso, as benfeitorias necessárias feitas após
o decreto expropriatório serão incluídas no preço; as benfeitorias úteis também o serão
se tiverem sido autorizadas pelo expropriante; as voluptuárias, nunca. Ademais, não se
incluirão direitos de terceiros contra o expropriado.
Na desapropriação sancionatória urbanística e rural, o pagamento da
indenização não é prévio, nem em dinheiro, mas, sim, por meio de títulos.

2
Reitere-se que, para o STJ, a avaliação judicial levará em conta o justo preço do imóvel na época em que
realizada, pouco importando a data da imissão na posse ou mesmo a da avaliação administrativa
(Informativo 549).

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-

Desapropriação rural
Desapropriação urbanística
para fins de reforma agrária

A indenização é realizada por títulos da A indenização rural é implementada por


dívida pública resgatáveis em até 10 títulos da dívida agrária, resgatáveis no
anos, em parcelas anuais, iguais e prazo de até 20 anos, a partir do segundo
sucessivas. ano de sua emissão.

Importante registrar que, nos termos do § 1º do art. 184 da CF/88, na


desapropriação para fins de reforma agrária, as benfeitorias úteis e necessárias são
indenizadas em dinheiro.
Na desapropriação confiscatória não há indenização, nem em dinheiro, nem
em títulos.
QUANTO AOS JUROS MORATÓRIOS, eles têm por objetivo recompor os
prejuízos pelo atraso no efetivo pagamento. Se a ação de desapropriação foi ajuizada
pelo ente político, os juros moratórios passam a incidir a partir de 1º de janeiro do ano
seguinte àquele em que o precatório deveria ter sido pago, não incidindo durante o
prazo constitucional para pagamento de precatórios judiciais, nos moldes da
Constituição (prazo de respiro). Esse entendimento é reafirmado pela Súmula
Vinculante 17 do STF.
97
ATENÇÃO! Contudo, se a ação foi movida por delegado do Poder Público, com
personalidade jurídica de direito privado, os juros moratórios incidirão a partir do
trânsito em julgado, pois não há que se falar em regime de precatórios. Assim sendo, a
Súmula nº 70 do STJ não perdeu sua aplicação completamente.

-
Os juros de mora incidem no percentual de 6% ao ano, de acordo com o art.
15-B do Decreto-Lei nº 3.365/41 e incidem sobre aquele valor que o proprietário do
bem não levanta automaticamente [pois, sobre o que o expropriado já levantou
quando da imissão provisória na posse, não há que se falar em atraso no pagamento],
com a decisão final do processo.
A seu turno, os JUROS COMPENSATÓRIOS têm por objetivo compensar o
expropriado pelo fato de ter perdido a posse antes de receber a justa indenização. Eles
começam a incidir a partir do momento em que o particular perde a posse do bem, in
casu, com a imissão provisória na posse.
A base de cálculo dos juros compensatórios é a diferença entre 80% do valor
ofertado pelo ente expropriante e o valor fixado na sentença pelo juiz.
Não haverá juros compensatórios se:

i) o valor ofertado for aceito pelo expropriado;


ii) o valor fixado na sentença for equivalente ao ofertado; ou

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-

iii) grau de utilização da terra e de eficiência forem iguais a zero.

Quanto ao percentual, o STF, agora em 2018, no julgamento da ADI nº


2.332/DF, contrariando o entendimento que havia sido fixado quando do deferimento
de medida cautelar em 2001, reconheceu a constitucionalidade do art. 15-A do Decreto-
Lei nº 3.365/1941 (com redação dada pela MP 1.577, de 11/6/1997), de modo que ele
deverá ser de 6% a.a., tendo sido cancelada a Súmula 618 do STF e não mais se aplicando
a Súmula 408 do STJ. O STF declarou a inconstitucionalidade também do vocábulo “até”,
razão pela qual o percentual não mais poderá ser inferior a 6% a.a.. Registre-se, por fim,
que o STF estabeleceu que os juros compensatórios dependem da comprovação, pelo
expropriado, do grau de utilização do bem maior do que zero e da perda de renda em
razão da imissão provisória [desde 2001, quando do julgamento da MC, o STF entendia
que bastava ocorrer a privação da posse, com a imissão provisória, para ser devido o
pagamento dos juros compensatórios].

ATENÇÃO! Mudança de Jurisprudência: STF, ADI nº 2.332DF, j. em 17/05/2018 e


publicação no DJe 28/05/2018!
Com a solução da ADI 2.332/DF em 2018, o STF estabeleceu: (i) o percentual dos juros
compensatórios é de exatamente 6 % a.a., não podendo ser inferior (constitucionalidade
do percentual da Lei e inconstitucionalidade do vocábulo “até”); (ii) não basta a imissão
provisória e a perda da posse pelo expropriado, somente incidindo juros
compensatórios se ele comprovar o grau de utilização e a perda de renda decorrente do 98
desapossamento.
Registre-se, contudo, que o STF ainda não modulou sua decisão, de modo que importa
sabermos o histórico do tratamento jurídico dos juros compensatórios em matéria de
desapropriação no Brasil:
1. 1941 (redação original do DL 3.365/1941): não havia previsão de juros
compensatórios; -
2. 1963: STF entende que, mesmo no silêncio da lei, são devidos juros compensatórios,
sendo aplicável o percentual de 6% a.a. previsto no CC/1916 editando o Enunciado
Sumular nº 164: “No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios
desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.”;
3. 1984: STF modifica sua jurisprudência e eleva o percentual dos juros compensatórios
para 12% a.a., para fazer frente à alta inflação (perda do poder aquisitivo da moeda) da
época, valendo-se do limite da Lei de Usura, que estabelecia como máximo de juros o
dobro da legalmente prevista (6%, conforme CC/1916), sendo, assim, editado o Verbete
nº 618 da Súmula do STF, fixando que “Na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos
juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano.”
4. 1997: percentual é reduzido para 6% a.a. pela MP nº 1.577/1997, de 11/06/1997,
sucessivamente reeditada até a MP 2.183-56, de 27/08/2001, esta que incluiu o
vocábulo “até” no art. 15-A do DL, estabelecendo, assim, que o percentual seria de até
6% a.a., bem como que os juros compensatórios somente seriam devidos se o
proprietário comprovasse a perda da renda em virtude do desapossamento e que não
haveria pagamento se o grau de utilização e eficiência da terra fossem iguais a zero;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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5. 2001: STF concede, em 13/09/2001, medida cautelar na ADI nº 2.332/DF,


determinando que o percentual dos juros compensatórios é de 12% a.a., além de que
eles seriam devidos independentemente de comprovação de grau de utilização e da
perda de renda pelo expropriado em razão do desapossamento (suspensão dos §§ 1º e
2º do art. 15-A do DL). Como a eficácia ex nunc (prospectiva) da liminar, acabou que,
entre 11/06/1997 e 13/09/2001, o percentual dos juros compensatórios em
desapropriação foi de 6%, o que foi cristalizado no Enunciado Sumular nº 408 do STJ:
Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida
Provisória n. 1.577, de 11/6/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001, e,
a partir de então, em 12% ao ano, na forma da súmula n. 618 do Supremo Tribunal
Federal.
6. 2018: julgando o mérito da ADI nº 2.332/DF, o STF entendeu que o percentual de 6%
do caput do art. 15-A do DL e as condicionantes previstas em seus §§ 1º e 2º são
constitucionais, apenas declarando a inconstitucionalidade do advérbio “até”.
É interessante notar que, como (ainda) não houve modulação [e dado que a declaração
de constitucionalidade tem eficácia ex tunc], o reconhecimento da constitucionalidade
do percentual de 6% retroage à data da edição da MP 2.183-56 (27/08/2001), objeto da
ADI. Assim sendo, desde a MP 1.557, de 11/06/1997, os juros compensatórios são de
6% a.a. Vejam que, teoricamente, se assim se mantiver a decisão final da ADI (sem
modulação), os entes expropriantes poderão apresentar, conforme o TJ da decisão na
ADI seja anterior ou posterior à formação do título executivo na ação de desapropriação,
a teor do que dispõem, respectivamente, os §§ 5º e 8º do art. 535 do CPC/2015,
impugnação ao cumprimento de sentença ou ação rescisória, para fazer valer, desde 99
11/06/1997, o percentual de 6%.

Registre-se que, em 2020, alinhando-se ao entendimento do STF, o STJ


cancelou o Enunciado nº 408 de sua Súmula, reconhecendo também que a taxa de juros
compensatórios é de exatamente 6% ao ano (caput do art. 15-A do DL). Ademais, o STJ
também cancelou sua Tese -nº 283, a qual previa que os juros compensatórios eram
devidos em desapropriações para fins de reforma agrária mesmo quando improdutivo
o imóvel. Em outras palavras, agora, assim como o STF, o STJ entende que os juros
compensatórios somente deverão ser pagos se atendidas as condicionantes dos §§ 1º e
2º art. 15-A do DL (comprovação do grau de utilização e da perda de renda decorrente
do desapossamento).
Em relação aos HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, eles são pagos pela parte
sucumbente na ação de desapropriação e deverão incidir sobre o valor fixado na
sentença menos o valor depositado pelo ente estatal para fins de imissão provisória na
posse, que é, efetivamente, o valor da sucumbência. Nesse sentido a Súmula nº 617 do
STF: “A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença
entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas monetariamente.” O montante a ser
pago pode variar entre 0,5% e 5% do valor da sucumbência, conforme art. 27, § 1º, do
Decreto-lei nº 3.365/41:

Art. 27. O juiz indicará na sentença os fatos que motivaram o seu


convencimento e deverá atender, especialmente, à estimação

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dos bens para efeitos fiscais; ao preço de aquisição e interesse


que deles aufere o proprietário; à sua situação, estado de
conservação e segurança; ao valor venal dos da mesma espécie,
nos últimos cinco anos, e à valorização ou depreciação de área
remanescente, pertencente ao réu.
§ 1o A sentença que fixar o valor da indenização quando este for
superior ao preço oferecido condenará o desapropriante a pagar
honorários do advogado, que serão fixados entre meio e cinco
por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4o
do art. 20 do Código de Processo Civil, não podendo os
honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um
mil reais). (Vide ADIN Nº 2332) (Redação dada Medida Provisória
nº 2.183-56, de 2001)

O dispositivo foi objeto de controle judicial de constitucionalidade pelo STF, por


meio da ADI 2.332/DF, julgada em definitivo em 2018, a qual declarou a
constitucionalidade dos parâmetros mínimo (0,5%) e máximo (5%) para a concessão de
honorários advocatícios e a inconstitucionalidade da expressão “não podendo os
honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)” prevista no §
1º do art. 27. Assim sendo, os limites percentuais dos honorários advocatícios são
mesmo 0,5% (mínimo) e 5% (máximo), mas o teto em valor absoluto de R$ 151.000,00
não se aplica, podendo ser maior o montante.
100
ATENÇÃO! A Medida Provisória 700, de 2015, que alterava as regras do Decreto-Lei nº
3.365/41 e trazia importantes alterações, como a dispensa de autorização legislativa
quando as desapropriações de bens ocorressem mediante acordo entre os entes da
Federação, perdeu a sua eficácia, em decorrência do término do prazo para sua votação
no Congresso.
-
Por outro lado, a Lei Federal nº 13.465, de 11 de julho de 2017, que tratou, entre outros
temas da regularização fundiária rural e urbana, trouxe importantes inovações no tema
da desapropriação, por isso é importante que a sua legislação esteja atualizada para o
estudo do tema.

1.1.7. DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA

A desapropriação por zona abrange a área contígua necessária ao


desenvolvimento de obras públicas e as zonas que se valorizam extraordinariamente,
em decorrência da realização do serviço.
Está prevista no art. 4º do Decreto-lei nº 3.365/41:

A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao


desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se
valorizarem extraordinariamente, em consequência da

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realização do serviço. Em qualquer caso, a declaração de


utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se
quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se
destinam à revenda.
Parágrafo único. Quando a desapropriação destinar-se à
urbanização ou à reurbanização realizada mediante concessão
ou parceria público-privada, o edital de licitação poderá prever
que a receita decorrente da revenda ou utilização imobiliária
integre projeto associado por conta e risco do concessionário,
garantido ao poder concedente no mínimo o ressarcimento dos
desembolsos com indenizações, quando estas ficarem sob sua
responsabilidade.

São (02) duas as hipóteses, portanto, de desapropriação por zona:

- Desapropriação de imóveis lindeiros necessários à realização


de obras públicas;
- Desapropriação de imóveis que serão valorizados
extraordinariamente em decorrência da realização de obras e
da prestação de serviços públicos.
101
Neste último caso, o Poder Público desapropria os imóveis e, após a respectiva
valorização extraordinária, aliena-os a terceiros pelo preço atualizado. O intuito é evitar
que determinados particulares sejam beneficiados de maneira desigual com a execução
de obras públicas ou com a prestação de serviços públicos, o que violaria o princípio da
impessoalidade.
-
1.1.8. DIREITO DE EXTENSÃO

O direito de extensão é o direito do expropriado de exigir que a desapropriação


e a respectiva indenização alcancem a totalidade do bem, quando o remanescente
resultar esvaziado de seu conteúdo econômico.
O direito de extensão surge no caso de desapropriação parcial, quando a parte
não expropriada do bem fica praticamente inútil, inservível ou de difícil utilização. Para
que não fique apenas com a propriedade de parte inservível, requer o proprietário que
a desapropriação e a consequente indenização seja estendida a todo o bem,
convertendo-se a desapropriação parcial, em desapropriação total. Este direito deve ser
pleiteado pelo proprietário durante as fases administrativa ou judicial do
procedimento de desapropriação, porquanto tal pedido não é admitido com término
da desapropriação.

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1.1.9. TREDESTINAÇÃO

A tredestinação é a ocorrência do desvio de finalidade por parte do Poder


Público, que deixa de satisfazer o interesse público subjacente à desapropriação
realizada. A tredestinação se divide em duas espécies:

- Tredestinação lícita: o poder público não satisfaz o interesse


público previsto no decreto expropriatório, mas sim outro
interesse público;
- Tredestinação ilícita: em vez que atender o interesse público,
o expropriante utiliza o bem desapropriado para satisfazer
interesses privados.

Conforme já decidiu o STJ, apenas a tredestinação ilícita enseja o direito de


retrocessão do expropriado, pois, na tredestinação lícita, o Poder Público concede
destinação pública ao bem, ainda que diversa da inicialmente programada (REsp.
968.414/SP).
Destaca-se que, para a corrente majoritária, a mera omissão do Estado, como
a demora em conferir finalidade pública ao bem, não configura tredestinação e, assim,
não gera direito à retrocessão.
102
1.1.10. RETROCESSÃO

É disciplinada no art. 519 do Código Civil, nos seguintes termos:

-
Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para
que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços
públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo
preço atual da coisa.

A retrocessão surge quando há desinteresse superveniente do Poder Público


pelo bem que desapropriou. Neste caso, o expropriante passa a ter a obrigação de
oferecer ao ex-proprietário o bem desapropriado para que ele, desejando, exerça o
direito de preferência, pelo valor atual do bem. Também surge para o expropriado o
direito à retrocessão, como visto, quando ocorre a tredestinação ilícita.
Na hipótese de não ser possível o retorno do bem ao domínio do expropriado,
a obrigação resolve-se em perdas e danos.

ATENÇÃO! Persiste divergência doutrinária quanto à natureza jurídica do instituto da


retrocessão, se de direito real ou pessoal. Para uma corrente, trata-se de direito real do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

proprietário reaver o bem expropriado, por decorrer da propriedade do imóvel, de


maneira que a desapropriação corresponderia a uma transmissão de propriedade
resolúvel condicionada à correta destinação do bem. Por outro lado, há doutrinadores
que defendem o caráter pessoal do instituto, em face do disposto no art. 35 do Decreto-
lei nº 3.365/41, segundo o qual qualquer ação fundada no processo de desapropriação
resolve-se em perdas e danos. Observem que o prazo prescricional para a pretensão de
retrocessão depende da corrente adotada. Prevalece nos tribunais brasileiros o caráter
real do instituto, do modo que se aplica o prazo prescricional de 10 anos, em razão do
que dispõe o art. 205 do CC/02. Todavia, quem entende que a retrocessão é direito de
caráter obrigacional aplica o prazo quinquenal previsto no Decreto nº 20.910/32, bem
como no parágrafo único do art. 10 do Decreto nº 3.365/41

A retrocessão não se confunde com a desistência da desapropriação. A


desistência ocorre antes da incorporação do bem ao patrimônio do poder público, isto
é, antes de efetivada a transferência do bem. Já a retrocessão surge depois de concluído
o processo de desapropriação, após a transferência da propriedade, por motivo de
interesse público superveniente.

1.1.11. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA

A desapropriação indireta é o apossamento administrativo do bem pelo Poder


Público sem o respeito ao devido processo legal. O fundamento legal da
103
desapropriação indireta é o art. 35 do Decreto-lei 3.365/41:

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda


Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que
fundada
- em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer
ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

A ação de desapropriação indireta é uma ação indenizatória proposta em face


do Poder Público, com fundamento na retirada substancial dos poderes inerentes da
propriedade privada.
A teor do que dispõe o art. 35 acima, enquanto não houver a afetação do bem
esbulhado ao interesse público, poderá o particular se valer das ações possessórias
em face do Estado, recuperando a posse do bem.
A legitimidade ativa (para propor a ação) é do proprietário.
O foro processual competente, tratando-se de IMÓVEL, é o da situação da
coisa, tendo em vista a natureza real da ação, sem que isso represente qualquer violação
ao art. 109, § 2º, da CF/88, especialmente por facilitar a instrução probatória (STJ, CC
46.771/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, DJ de 19/09/2005). No caso
de MÓVEL, aplica-se o art. 109, § 2º, da CF/88, e os arts. 51 e 52, par. único, podendo a
ação ser ajuizada na seção judiciária ou comarca do domicílio do autor, da ocorrência

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

do ato ou fato que deu origem, da situação da coisa ou do Distrito Federal ou da Capital
do Estado.
Ademais, é importante conhecer o entendimento do STJ no sentido de que o
prazo prescricional da ação indenizatória por desapropriação indireta é de 10 (dez)
anos.

Tema nº 1.019: "O prazo prescricional aplicável à desapropriação


indireta, na hipótese em que o poder público tenha realizado
obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de
interesse social ao imóvel, é de dez anos, conforme o parágrafo
único do artigo 1.238 do Código Civil" (EAREsp 815.431.).

Isso porque, a ação de desapropriação indireta possuiria natureza real e pode


ser proposta pelo particular prejudicado enquanto não tiver transcorrido o prazo para
que o Poder Público adquira a propriedade do bem por meio da usucapião, aplicando-
se, por analogia, o prazo da usucapião extraordinária. Assim, enquanto não tiver
passado o prazo para que o Estado adquira o imóvel por força de usucapião, o particular
poderá buscar a indenização decorrente do ato ilícito de apossamento administrativo.
Nesse contexto, o CC/02 estabelece em seu art. 1.238 o prazo de 15 anos da
usucapião extraordinária. No entanto, este prazo passa a ser de 10 anos se o possuidor
tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local (parágrafo único do art.
1.238). Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha
104
realizado obras no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública ou de interesse
social [que inviabiliza a reivindicação do bem pelo particular, resolvendo-se, então, em
perdas e danos], entende-se que a situação se enquadraria no parágrafo único do art.
1.238 do CC, de sorte que o prazo para a usucapião seria de 10 anos.

-
ATENÇÃO! Cuidado com a Súmula nº 119 do STJ, que prevê o seguinte: “A ação de
desapropriação indireta prescreve em vinte anos.” É que ela foi editada em 1994, ainda
sob a vigência do CC/1916, que fixava em 20 (vinte) anos o prazo da usucapião
extraordinária. Atualmente, como visto, esse prazo é de 10 (dez) anos [com o redutor
de 05 anos], de modo que a ação de desapropriação indireta prescreve em 10 anos.

1.1.12. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL

A desapropriação por interesse social possui três espécies:

a) Desapropriação por interesse social “genérica” – de


competência comum.
b) Desapropriação por interesse social para fins de reforma
agrária – de competência exclusiva da União.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

c) Desapropriação por interesse social urbanística – de


competência exclusiva dos Municípios.

Observem que a desapropriação por interesse social “genérica” é de


competência de todos os entes políticos (União, Estados e Municípios).
Já a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, prevista
no art. 184 da CF, incide sobre imóveis rurais que não estejam cumprindo sua função
social.
O expropriante, nesta hipótese, é exclusivamente a União, e sua indenização
será em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis
no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei. Não se exige que essa emissão seja aprovada pelo Senado Federal.
Ressalte-se que tanto o STJ (MS 2.932/DF) quanto o STF (RE 115.166) já
pacificaram entendimento que esses títulos de dívida agrária representam títulos pro
soluto, ou seja, materializam o próprio pagamento, independentemente do
correspondente resgate no futuro.
Com efeito, a desapropriação para fins de reforma agrária do art. 184 da CF
consiste em espécie de desapropriação-sanção em razão da inobservância da função
social da propriedade rural. Por esta razão, o pagamento da indenização não será feito
em dinheiro, mas sim em títulos da dívida agrária.
Conforme o texto constitucional, a função social é cumprida quando o imóvel 105
rural atende, simultaneamente, os seguintes critérios, previstos no art. 186 da CF/88,
observe:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade


rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de
exigência
- estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de
trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.

Por outro lado, o art. 185 da CF/88 considera insuscetível de desapropriação


para fins de reforma agrária a pequena e a média propriedade rural, desde que o
proprietário não possua outra, e a propriedade rural produtiva:

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de


reforma agrária:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei,


desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos
requisitos relativos a sua função social.

Nesse ponto, destaque-se que o STF já deixou assente que, para efeito de
aplicação do art. 185, da CF/88, a determinação de extensão da propriedade rural –
pequena, média ou grande, deve levar em consideração a totalidade do imóvel, e não
apenas aquelas que tenham possibilidade de ser objeto de exploração econômica (MS
25.066/DF).
Ou seja, para fins de cálculo da área do imóvel para caracterizá-lo ou não como
uma grande propriedade rural, deve ser levada em conta a área global, sem dedução
das áreas não aproveitáveis e da reserva legal (art. 16, § 2º, da Lei nº 4.771/65), o que
seria considerado somente no cálculo da produtividade do imóvel (art. 6º da Lei nº
8.629/93).
Assim, destaca-se que a pequena ou média propriedade rural, cujas dimensões
físicas ajustem-se aos parâmetros fixados em sede legal (art. 4º, II e III, da Lei nº
8.629/1993), são insuscetíveis de reforma agrária, com fulcro no art. 184 da CF, mesmo
que sejam improdutivas, desde que o proprietário não possua outra propriedade.
106
Além disso, pela leitura do texto constitucional, extrai-se que a propriedade
produtiva não está sujeita a desapropriação para fins de reforma agrária, seja qual for
sua dimensão. No entanto, é preciso destacar que, diante de uma interpretação
sistemática da Constituição, a propriedade produtiva apenas estará insuscetível dessa
desapropriação se cumprir os demais requisitos para atingir sua função social, previstos
no art. 186 da CF. Nesse sentido:
-
ADI nº 2.213: “(...) O acesso à terra, a solução dos conflitos
sociais, o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural,
a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a
preservação do meio ambiente constituem elementos de
realização da função social da propriedade. A desapropriação,
nesse contexto - enquanto sanção constitucional imponível ao
descumprimento da função social da propriedade - reflete
importante instrumento destinado a dar consequência aos
compromissos assumidos pelo Estado na ordem econômica e
social. Incumbe, ao proprietário da terra, o dever jurídico-social
de cultivá-la e de explorá-la adequadamente, sob pena de incidir
nas disposições constitucionais e legais que sancionam os
senhores de imóveis ociosos, não cultivados e/ou improdutivos,
pois só se tem por atendida a função social que condiciona o
exercício do direito de propriedade, quando o titular do domínio
cumprir a obrigação (1) de favorecer o bem-estar dos que na

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

terra labutam; (2) de manter níveis satisfatórios de


produtividade; (3) de assegurar a conservação dos recursos
naturais; e (4) de observar as disposições legais que regulam as
justas relações de trabalho entre os que possuem o domínio e
aqueles que cultivam a propriedade. (...)”
MS nº 22.164/SP: “(...) A própria Constituição da República, ao
impor ao Poder Público o dever de fazer respeitar a integridade
do patrimônio ambiental, não o inibe, quando necessária a
intervenção estatal na esfera dominial privada, de promover a
desapropriação de imóveis rurais para fins de reforma agrária,
especialmente porque um dos instrumentos de realização da
função social da propriedade consiste, precisamente, na
submissão do domínio à necessidade de o seu titular utilizar
adequadamente os recursos naturais disponíveis e de fazer
preservar o equilíbrio do meio ambiente (CF, art. 186, II), sob
pena de, em descumprindo esses encargos, expor-se à
desapropriação-sanção a que se refere o art. 184 da Lei
Fundamental. (...)”

Quanto à produtividade da terra, a sua aferição é regulada pelo art. 6º e


parágrafos da Lei nº 8.629/93, julgado constitucional pelo STF (MS 23.312):
107
Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada
econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de
utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices
fixados pelo órgão federal competente.
"Esta Corte já decidiu que o art. 6º da Lei 8.629/1993, ao definir
o imóvel
- produtivo, a pequena e a média propriedade rural e a
função social da propriedade, não extrapola os critérios
estabelecidos no art. 186 da CF; antes, confere-lhe eficácia total
(MS 22.478/PR, Maurício Corrêa, DJ de 26-9-1997)." (STF, MS
23.312, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 16-12-1999,
Plenário, DJ de 25-2-2000.)

Destaca-se que o esbulho possessório impede a desapropriação para fins de


reforma agrária, nos termos do art. 2º, §6º, da Lei nº 8.629/93:

O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de


esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário
ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou
desapropriado nos dois anos seguintes à sua desocupação, ou
no dobro desse prazo, em caso de reincidência; e deverá ser
apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem

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-

concorra com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie


o descumprimento dessas vedações.

Com efeito, segundo disposto na Súmula nº 354 do STJ: "A invasão do imóvel é
causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária".

2. LEGISLAÇÃO

1) Constituição Federal:

Artigos 5º, incisos XXII; XXIII; XXIV; e XXV; 22; 182; 184; 185; 186 e 243.

2) Decreto Lei 3.365/41;

3) Lei Federal nº 4.132/1962.

3. JURISPRUDÊNCIA
108
SÚMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SÚMULA Nº 23
Verificados os pressupostos legais para o licenciamento da obra, não o impede a
declaração de utilidade pública
- para desapropriação do imóvel, mas o valor da obra não
se incluirá na indenização, quando a desapropriação for efetivada.
SÚMULA Nº 157
É necessária prévia autorização do presidente da república para desapropriação, pelos
estados, de empresa de energia elétrica.
SÚMULA Nº 164
No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada
imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.
SÚMULA Nº 378
Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do expropriado.
SÚMULA Nº 415
Servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza
das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito a proteção possessória.
SÚMULA Nº 416

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-

Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não cabe indenização


complementar além dos juros.
SÚMULA Nº 475
A Lei 4.686, de 21/6/1965, tem aplicação imediata aos processos em curso, inclusive em
grau de recurso extraordinário.
SÚMULA Nº 476
Desapropriadas as ações de uma sociedade, o poder desapropriante, imitido na posse,
pode exercer, desde logo, todos os direitos inerentes aos respectivos títulos.
SÚMULA Nº 479
As margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis de expropriação e,
por isso mesmo, excluídas de indenização.
SÚMULA Nº 561
Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data do efetivo pagamento da
indenização, devendo proceder-se à atualização do cálculo, ainda que por mais de uma
vez.
SÚMULA Nº 617
A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença entre a
oferta e a indenização, corrigidas ambas monetariamente.
SÚMULA Nº 618 (CANCELADA)
Na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze
109
por cento) ao ano.
SÚMULA Nº 652
Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Decreto-Lei 3365/1941 (Lei da
desapropriação por utilidade pública).
SÚMULA Nº 668 -
É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda
Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a
assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.

SÚMULAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SÚMULA Nº 12
Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.
SÚMULA Nº 56
Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros
compensatórios pela limitação de uso da propriedade.
SÚMULA Nº 67

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-

Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que por mais de uma vez,
independente do decurso de prazo superior a um ano entre o cálculo e o efetivo
pagamento da indenização.
SÚMULA Nº 69
Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada
imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.
SÚMULA Nº 70
Os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito
em julgado da sentença.
SÚMULA Nº 102
A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações expropriatórias,
não constitui anatocismo vedado em lei.
SÚMULA Nº 113
Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na
posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
SÚMULA Nº 114
Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação,
calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
SÚMULA Nº 131
Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verba advocatícia as parcelas
110
relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidas.
SÚMULA Nº 141
Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a diferença
entre a indenização e a oferta, corrigidas monetariamente.
SÚMULA Nº 354 -
A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de
reforma agrária.
SÚMULA Nº 408 (CANCELADA)
Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida
Provisória n. 1.577, de 11/06/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001 e,
a partir de então, em 12% ao ano, na forma da Súmula n. 618 do Supremo Tribunal
Federal.

JULGADOS DO STJ

É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência


da desapropriação. (STJ, 2ª Turma. Resp. 1.368.773-MS, julgado em 06/12/2016,
Informativo 569)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel


desapropriado nas hipóteses em que o período de ocorrência dos fatos geradores é
anterior ao ato de aquisição originária da propriedade. (STJ, 2ª Turma, Resp. 1.668.058-
ES, julgado em 08/06/2017, Informativo 606)

Na ação de desapropriação por utilidade pública, a citação do proprietário do imóvel


desapropriado dispensa a do respectivo cônjuge. Isso porque o art. 16 do Decreto-Lei
3.365/1941 (Lei das Desapropriações) dispõe que a "citação far-se-á por mandado na
pessoa do proprietário dos bens; a do marido dispensa a da mulher". Ressalte-se que,
apesar de o art. 10, § 1º, I, do CPC dispor que "ambos os cônjuges serão necessariamente
citados para as ações que versem sobre direitos reais imobiliários", o art. 42 do referido
Decreto-Lei preconiza que o CPC somente incidirá no que for omissa a Lei das
Desapropriações. Assim, havendo previsão expressa quanto à matéria, não se aplica a
norma geral. (STJ, 2ª Turma. Resp. 1.404.085-CE, julgado em 05/04/2014, Informativo
547)

No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que


a área registrada em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá
levantar somente o valor da indenização correspondente à área registrada, devendo o
depósito indenizatório relativo ao espaço remanescente ficar retido em juízo até que o
expropriado promova a retificação do registro ou até que seja decidida, em ação própria,
a titularidade do domínio. (STJ, 2ª Turma. Resp. 1.286.886-MT, julgado em 06/05/2014, 111
Informativo 540)

Não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva


florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de
cálculo da produtividade do imóvel rural. (STJ, 2ª Turma. AgRg no Resp. 1.301.751-MT,
julgado em 08/04/2014, Informativo
- 539)

A pretensão indenizatória decorrente de desapropriação indireta prescreve em vinte


anos na vigência do CC/1916 e em dez anos na vigência do CC/2002, respeitada a regra
de transição prevista no art. 2.028 do CC/2002. De início, cumpre ressaltar que a ação
de desapropriação indireta possui natureza real e, enquanto não transcorrido o prazo
para aquisição da propriedade por usucapião, ante a impossibilidade de reivindicar a
coisa, subsiste a pretensão indenizatória em relação ao preço correspondente ao bem
objeto do apossamento administrativo. Com base nessa premissa e com fundamento no
art. 550 do CC/1916 - dispositivo legal cujo teor prevê prazo de usucapião -, o STJ firmou
a orientação de que "a ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos"
(Súmula 119/STJ). O CC/2002, entretanto, reduziu o prazo da usucapião extraordinária
para quinze anos (art. 1.238, caput) e previu a possibilidade de aplicação do prazo de
dez anos nos casos em que o possuidor tenha estabelecido no imóvel sua moradia
habitual ou realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Assim, considerando que
a desapropriação indireta pressupõe a realização de obras pelo poder público ou sua
destinação em função da utilidade pública ou do interesse social, com fundamento no
atual Código Civil, o prazo prescricional aplicável às desapropriações indiretas passou a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ser de dez anos. (STJ, 2ª Turma. Resp. 1.300.442-SC, julgado em 18/06/2013,


Informativo 523)

A ação possessória pode ser convertida em indenizatória (desapropriação indireta) –


ainda que ausente pedido explícito nesse sentido – a fim de assegurar tutela alternativa
equivalente ao particular, quando a invasão coletiva consolidada inviabilizar o
cumprimento do mandado reintegratório pelo município (Info 619).

JULGADOS DO STF

A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que “in vigilando” ou “in elegendo”. A
nova redação do art. 243 aclarou a necessidade de observância de um nexo mínimo de
imputação da atividade ilícita ao atingido pela sanção. A própria menção à aplicabilidade
do art. 5º remete a um mínimo de proteção do proprietário não culpado pelo ilícito.
Assim, a responsabilidade do proprietário, embora subjetiva, é bastante próxima da
objetiva. Dessa forma, a função social da propriedade impõe ao proprietário o dever de
zelar pelo uso lícito de seu terreno, ainda que não esteja na posse direta. Entretanto,
esse dever não é ilimitado, e somente se pode exigir do proprietário que evite o ilícito
quando evitá-lo esteja razoavelmente ao seu alcance. Ou seja, o proprietário pode
afastar sua responsabilidade se demonstrar que não incorreu em culpa, que foi
esbulhado ou até enganado por possuidor ou detentor. Nessas hipóteses, tem o ônus
112
de demonstrar que não incorreu em culpa, ainda que “in vigilando” ou “in elegendo”.
Segundo o relator, em caso de condomínio, havendo boa-fé de apenas alguns dos
proprietários, a sanção deve ser aplicada e ao proprietário inocente cabe buscar
reparação dos demais. (STF. Plenário. RE 635336/PE, julgado em 14/12/2016,
Informativo 851)
-
Juros compensatórios e honorários advocatícios em desapropriação – NOVO
O STF analisou a constitucionalidade do art. 15-A do DL 3.365/41 e chegou às seguintes
conclusões: 1) em relação ao “caput” do art. 15-A do DL 3.365/41: 1.a) reconheceu a
constitucionalidade do percentual de juros compensatórios no patamar fixo de 6% ao
ano para remuneração do proprietário pela imissão provisória do ente público na posse
de seu bem; 1.b) declarou a inconstitucionalidade do vocábulo “até”; 1.c) deu
interpretação conforme a Constituição ao “caput” do art. 15-A, de maneira a incidir juros
compensatórios sobre a diferença entre 80% do preço ofertado em juízo pelo ente
público e o valor do bem fixado na sentença; 2) declarou a constitucionalidade do § 1º
do art. 15-A, que condiciona o pagamento dos juros compensatórios à comprovação da
“perda da renda comprovadamente sofrida pelo proprietário”; 3) declarou a
constitucionalidade do § 2º do art. 15-A, afastando o pagamento de juros
compensatórios quando o imóvel possuir graus de utilização da terra e de eficiência
iguais a zero; 4) declarou a constitucionalidade do § 3º do art. 15-A, estendendo as
regras e restrições de pagamento dos juros compensatórios à desapropriação indireta.
5) declarou a inconstitucionalidade do § 4º do art. 15-A; 6) declarou a

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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constitucionalidade da estipulação de parâmetros mínimo (0,5%) e máximo (5%) para a


concessão de honorários advocatícios e a inconstitucionalidade da expressão “não
podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)”
prevista no § 1º do art. 27. STF. Plenário. ADI 2332/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 17/5/2018, DJe 28/05/2018 (Info 902)

4. QUESTÕES

1. (VUNESP – JUIZ DE DIREITO – TJ/SP/2014) A Prefeitura de determinado Município


do Estado de São Paulo pretende desapropriar imóvel situado em sua zona urbana. O
proprietário do referido imóvel descobre que o intento do Prefeito Municipal é
decorrente de espírito de emulação, posto tratar-se de seu inimigo político,
inexistindo qualquer motivo técnico para a desapropriação em questão. Visando
atacar tal vício do decreto expropriatório, o expropriado deve:
a) levantar a questão em sede de preliminar, ao apresentar a sua contestação,
postulando pela extinção do feito sem julgamento de mérito.
b) levantar a questão por meio de ajuizamento de ação autônoma, com o objetivo de
anulação do referido decreto, devido ao desvio de finalidade.
c) levantar a questão na audiência de instrução e julgamento, ao aduzir oralmente as
suas alegações finais, postulando pela extinção do feito sem julgamento de mérito.
d) levantar a questão ainda na fase administrativa da desapropriação, perante o 113
departamento competente da Municipalidade.

2. (VUNESP – JUIZ DE DIREITO – TJ/SP/2015) O instituto da desapropriação, no direito


brasileiro, é regido por norma editada por decreto-lei na década de 40 e recepcionada
pela Constituição Federal de 1988, com algumas alterações pontuais procedidas por
legislação posterior. Sobre o -instituto da desapropriação, é correto afirmar que
a) só é possível a expropriação de bens imóveis com prévia indenização em dinheiro ou,
em algumas hipóteses, em títulos públicos com vencimento em prazo de, no máximo,
cinco anos.
b) a desapropriação exige que os bens expropriados sejam destinados a uma finalidade
ou utilidade públicas, incorporando-se ao patrimônio público, vedada a sua posterior
alienação em favor de particulares.
c) na desapropriação de bem imóvel, a declaração de utilidade pública deve especificar
o bem dela objeto e se circunscrever àquela área necessária àquela finalidade, vedada
sob pena de nulidade do ato expropriatório a inclusão de área lindeira para futura
alienação e captura da valorização imobiliária pelo poder público.
d) a prática dos atos necessários à desapropriação pode ser exercida por particulares
mediante delegação pelo poder público à iniciativa privada.

3. (VUNESP – JUIZ DE DIREITO – TJ/SP/2018): É correto afirmar que a chamada


desapropriação indireta:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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a) difere da desapropriação por utilidade pública, embora também fundada em decreto


da entidade expropriante, por ser a respectiva ação judicial promovida pelo proprietário
ou possuidor e não pelo Poder Público.
b) decorre de apossamento administrativo cuja licitude se funda no princípio da
intangibilidade da obra pública e na supremacia do interesse público.
c) decorre da aplicação do princípio da intangibilidade da obra pública a uma situação
originada de ato ilícito indenizável praticado pela Administração contra o proprietário
ou possuidor.
d) não dispensa o cumprimento das exigências previstas no artigo 34 do Decreto-lei no
3.365/41 para o levantamento do valor indenizatório depositado em juízo.

4. (VUNESP – JUIZ DE DIREITO – TJ-RO/2019) As desapropriações necessárias à


adequada prestação de serviço público no regime de concessão:
a) poderão ser de responsabilidade da concessionária, conforme previsto no edital de
licitação, competindo ao Poder Concedente editar o decreto de utilidade pública e arcar
com o ônus das indenizações.
b) poderão ser de responsabilidade da concessionária, conforme previsto no edital de
licitação, competindo ao Poder Concedente declarar de utilidade pública os bens
necessários à prestação do serviço e à concessionária arcar com as indenizações
cabíveis.
c) serão sempre de responsabilidade do Poder Concedente. 114
d) serão sempre de responsabilidade da concessionária, competindo ao Poder
Concedente apenas editar o decreto de utilidade pública.
e) serão de responsabilidade da concessionária caso se trate de concessão patrocinada,
modelo em que a ela cabe indicar os bens necessários à prestação do serviço, arcando
o Poder Público com as indenizações relativas aos bens reversíveis.
-
5. (VUNESP – JUIZ DE DIREITO – TJ-AC/2019) Assinale a alternativa correta a respeito
do processo judicial de desapropriação.
a) A ação, quando a União for autora, será proposta no foro da Capital do Estado onde
for domiciliado o réu; sendo outro o autor, no foro do seu domicílio.
b) A imissão provisória poderá ser feita mediante o depósito, exigida, contudo, a prévia
citação do réu.
c) Os juros compensatórios são devidos, na desapropriação direta, desde a imissão
antecipada na posse e, na indireta, da efetiva ocupação do imóvel.
d) Na hipótese de urgência, o expropriante poderá ser emitido provisoriamente na posse
do bem, que será autorizada mediante o depósito da quantia oferecida na inicial.

5. GABARITO COMENTADO

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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1 – Letra “B”.
Como vimos, de acordo com o art. 20 do DL nº 3.365/1941, na ação judicial de
desapropriação, a contestação do réu somente poderá versar sobre vício do processo
judicial ou impugnação do preço, devendo qualquer outra questão ser decidida por ação
direta/autônoma.
Nada obstante, anote-se mais uma vez o recente Enunciado nº 03 da 1ª Jornada de
Direito Administrativo do CJF, segundo o qual o Poder Judiciário pode, no processo de
desapropriação, examinar a regularidade (formal) do processo de desapropriação e da
presença dos elementos de validade do ato de declaração pública.

2. Letra “D”.
A) INCORRETA. As desapropriações por descumprimento da função social são aquelas
que devem ser pagas em títulos públicos, com vencimento de até 10 (dez) anos no caso
de imóvel urbano (art. 182, § 4º, III, CF/88) e de até 20 (vinte) anos em se tratando de
imóvel rural (art. 184, CF/88). Temos ainda a desapropriação confiscatória, no caso de
plantio de plantas psicotrópicas ou de exploração de trabalho escravo, em que não
pagamento de indenização alguma (art. 243, CF/88).
B. INCORRETA. Na desapropriação por zona – da área contígua necessária ao
desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se valorizarem
extraordinariamente, em consequência da realização do serviço –, estabelece o art. 4º
do DL nº 3.365/1941 que o decreto de utilidade pública deverá indicar quais áreas são
indispensáveis à continuação da obra e quais se destinam à revenda (das áreas que se
115
valorizarem extraordinariamente).
C. INCORRETA. A desapropriação por zona envolve justamente a expropriação da área
lindeira (contígua) privada de uma obra ou serviço público (art. 4º do DL nº 3.365/1941.
D. CORRETA. Art. 3º do DL nº 3.365/1941: “Os concessionários de serviços públicos e os
estabelecimentos de caráter público ou que exerçam funções delegadas de poder público
-
poderão promover desapropriações mediante autorização expressa, constante de lei ou
contrato”. Nesse mesmo sentido, o art. 31, VI, da Lei Federal nº 8.987/1995, estabelece
ser ônus da concessionária “promover as desapropriações e constituir servidões
autorizadas pelo poder concedente, conforme previsto no edital e no contrato”.

3 – Letra “C”
A) INCORRETA. A desapropriação por utilidade pública é efetivada mediante um
processo administrativo, na maioria das vezes acompanhado de uma fase judicial,
afastado apenas na hipótese de acordo entre as partes. O decreto de utilidade pública
é um ato que antecede o processo judicial e faz parte da fase declaratória da
desapropriação, sendo pressuposto obrigatório para a regular desapropriação por
utilidade pública, podendo ser efetivado pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo,
neste caso, por meio de lei. Como dito, a desapropriação indireta, por sua vez, é o
apossamento administrativo do bem pelo Poder Público sem o respeito ao devido
processo legal e, consequentemente, sem que tenha havido prévia declaração da
utilidade ou necessidade do bem pelo Poder Público. Ainda, na desapropriação por
utilidade pública, caso não haja acordo entre as partes, cabe àquele que possui

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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competência executória (o Poder Público ou o agente delegado) propor a ação judicial


de desapropriação em face do proprietário do bem, enquanto a desapropriação indireta
dá ensejo apenas à ação indenizatória (de natureza real) a ser proposta pelo proprietário
do bem em face do Poder Público.
B) INCORRETA. Conforme esclarecido na letra “A”, a desapropriação indireta ou
apossamento administrativo é ato ilícito, que não se convalida em razão do princípio da
intangibilidade da obra pública, este que apenas impede o desfazimento da obra ou
serviço público iniciado pela Administração e a retomada do bem por seu proprietário.
C) CORRETA. A desapropriação indireta, caraterizada pelo apossamento administrativo
de um bem independentemente da observância do devido processo legal, sem seguir os
devidos trâmites do processo de desapropriação, sem qualquer indenização prévia,
representa ato ilícito cometido pela Administração. O princípio da intangibilidade da
obra pública não transforma o ato ilícito em ilícito, mas apenas impede a destruição da
obra, visando a evitar um formalismo oneroso, porquanto, após a demolição, a
Administração poderia, expropriando, recomeçar a construí-la, restando ao particular
prejudicado, apenas reclamar indenização pelos prejuízos sofridos. É princípio
consonante ainda com o princípio setorial da continuidade do serviço público.
D) INCORRETA. Conforme entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça, o
art. 34 do Decreto-lei no 3.365/41 – que condiciona o levantamento do preço à prova
da propriedade, estabelecendo que, se houver dúvida sobre o domínio, o preço ficará
em depósito – é inaplicável à desapropriação indireta, isso porque, nesta, não há
depósito prévio pela Fazenda Pública, que somente procede ao pagamento após seu
valor ser certificado em decisão final transitada em julgado, não sendo admissível
116
rediscutir a titularidade da propriedade após, em fase de execução, sendo, assim,
indevido qualquer condicionamento do levantamento do montante ao autor da ação.
(REsp. 167.341-SP, D.J. 13.09.99, Rel. Min. Hélio Mosimann e REsp 252404/SP, Rel. Min.
Francisco Peçanha Martins, j. em 17/09/2002)

4 – Letra “B”
-
A competência executória para a desapropriação, ou seja, a competência para promover
efetivamente a desapropriação alcança as entidades da Administração Direta e Indireta
e os agentes delegados do Poder Público (concessionárias e permissionárias), nos
termos do art. 3º do Decreto-Lei nº 3.365/1941. Neste caso, a responsabilidade pelas
indenizações caberá diretamente à concessionária, conforme dispõe o art. 29 da Lei de
Concessões e Permissões de Serviços Públicos – Lei Federal nº 8.987/1995:
Art. 29. Incumbe ao poder concedente:
VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do serviço ou obra
pública, promovendo as desapropriações, diretamente ou mediante outorga de poderes
à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações
cabíveis.

5 – Letra “C”
A) INCORRETA. De acordo com a literalidade do art. 11 do Decreto-Lei nº 3.365/41, que
dispõe sobre desapropriações por utilidade pública, a ação, quando a União for autora,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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será proposta no Distrito Federal ou no foro da Capital do Estado onde for domiciliado
o réu, perante o juízo privativo, se houver; sendo outro o autor, no foro da situação dos
bens.
B) INCORRETA. A imissão na posse depende do preenchimento de 02 (dois) requisitos
legais, quais sejam, a declaração de urgência e o depósito prévio, podendo realizar-se
independentemente da citação do réu, nos termos do art. 15, §1º do Decreto-Lei nº
3.365/41.
C) CORRETA. Os juros compensatórios têm por objetivo compensar o expropriado pelo
fato de ter perdido a posse antes de receber a justa indenização. Eles começam a incidir
a partir do momento em que o particular perde a posse do bem, ou seja, com a imissão
provisória na posse, na desapropriação direta, e com a efetiva ocupação, na
desapropriação indireta (art. 15-A; Súmula 164, STF; Súmula 69, STJ).
D) INCORRETA. De fato, na hipótese de urgência, o expropriante poderá ser emitido
provisoriamente na posse do bem, mediante o depósito, o qual deverá obedecer os
critérios previstos no art. 15, §1º do Decreto-lei nº 3.365/41, que estabelece que o valor
do depósito será equivalente: (i) ao preço oferecido, se este for superior a 20 vezes o
valor locativo, caso o imóvel esteja sujeito ao imposto predial; (ii) à quantia
correspondente a 20 vezes o valor locativo, estando o imóvel sujeito ao imposto predial
e sendo menor o preço oferecido; (iii) ao valor cadastral do imóvel, para fins de
lançamento do IPTU ou ITR, caso o referido valor tenha sido atualizado no ano fiscal
imediatamente anterior; e, (iv) não tendo havido a atualização a que se refere o inciso
(iii), o juiz fixará independente de avaliação, a importância do depósito, tendo em vista
a época em que houver sido fixado originalmente o valor cadastral e a valorização ou
117
desvalorização posterior do imóvel. O STF considerou que esses critérios foram
recepcionados pela CF/88, conforme dispõe o enunciado na Súmula 652/STF: “Não
contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Decreto-lei 3365/1941 (Lei da desapropriação
por utilidade pública)”. O argumento do STF é que, embora esses critérios possam não
corresponder ao real valor do bem, não há vulneração à garantia constitucional da justa
indenização (art. 5º, XXIV, CF/88),
- tendo em vista que esta somente é fixada ao final,
com a sentença (STF, RE n° 178.215-3). De modo diverso, o STJ entendeu que apenas o
“caput” do art. 15 do DL foi recepcionado pela CF/88, tendo ocorrido derrogação de
seus parágrafos, justamente por incompatibilidade com a garantia constitucional da
justa indenização, sendo imprescindível a realização de avaliação judicial provisória para
a fixação do valor do depósito prévio (STJ, REsp 181407 / SP)

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DIREITO EMPRESARIAL (conteúdo atualizado em 05-07-2021)

APRESENTAÇÃO

Olá pessoal, como estamos indo?


Estou retornando aqui para nosso 2º encontro e trataremos do melhor assunto
do Direito Empresarial: títulos de crédito.
É importante que vocês saibam que títulos de crédito é o segundo assunto mais
importante, quando verificamos a quantidade de questões. Logo, é assunto
indispensável na nossa revisão de reta final.
É importante que vocês atentem que o TJSP tem um apreço especial por cobrar
as disposições do Código Civil referente aos títulos de créditos. Logo, peço máxima
concentração ao revisar estes dispositivos. No mais, é ler a lei seca e fazer as questões
ao final do material.
Qualquer dúvida estou aqui.
Estudem, tenham fé e confiem no nosso trabalho. Vai dar certo!
Um forte abraço!
Professor Luiz Vinicius Holanda
118

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. DIREITO CAMBIÁRIO

“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal


e autônomo nele mencionado” (Cesare Vivante).
Esse conceito é fundamental e com ele podemos traçar os princípios que regem
toda a matéria (esqueça o aniversário de namoro/casamento, mas não estes princípios):
cartularidade, literalidade e autonomia.

PRINCÍPIOS (CLAu):

a) Cartularidade (incorporação) = o crédito deve estar materializado em um


documento (título); para a transferência do crédito é necessária a transferência do
documento; a exigibilidade do crédito pressupõe a apresentação do título.
Exceções = (a) o título está anexo a investigação criminal (processo ou IP - STJ); (b)
duplicata virtual; (c) em processo falimentar, é possível utilizar a cópia autenticada se
o original estiver juntado em outro processo (art. 9º, parágrafo único, LRF).

b) Literalidade = só têm validade para o direito cambiário as relações constantes do


próprio título (ex: a quitação parcial deve ser aposta na própria nota promissória) –
assegura certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade da prestação prometida
119
ou ordenada, impedindo que meros ajustes verbais possam influir no exercício do
direito mencionado no título.

c) AUtonomia = as relações jurídico-cambiais são autônomas e independentes entre


si (ex: a invalidade de um endosso não prejudica os demais).
Abstração = com a transferência
- do título a terceiro de boa-fé ocorre a desvinculação
do negócio que lhe deu origem.
Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé (processual) = só se
pode suscitar a causa debendi em face do credor primitivo ou do terceiro ciente dos
vícios (má-fé).

PERCEBA que, embora parecidas, autonomia e abstração NÃO são a mesma


coisa.

AUTONOMIA ABSTRAÇÃO

Independência das relações cambiárias. Desvinculação do negócio à causa debendi.

Segundo alguns autores, a cartularidade vem sendo esmaecida pelos títulos de


crédito não cartularizados – título virtual (Lei nº 11.076/04 e CC, art. 889, § 3º). Porém

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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é melhor dizer que a cartularidade vem sendo substituída pelo princípio da


INCORPORAÇÃO, que é a existência do título em suporte físico ou digital.
O devedor emissor do título pode opor exceções pessoais somente em face do
credor originário – relação original.

Contra os credores subsequentes, o devedor só pode arguir:

a) vício formal na cártula;


b) vício em seu conteúdo literal (ex: falsidade da assinatura);
c) incapacidade do subscritor;
d) falta de requisito necessário ao manejo da ação (ex: título não vencido).

ATRIBUTOS dos títulos de créditos:

a) negociabilidade = os títulos existem para fins de circulação.

b) executividade = não adimplido o título cabe sua execução (CPC, art. 784, I).

Se olharmos bem para esses atributos, perceberemos que eles foram criados e
são mantidos para garantir a eficácia dos títulos de crédito, isto é, a segurança de sua
120
circulação (negociabilidade) e a efetividade de seu pagamento (executividade).
Um cuidado que se deve ter é que a regra é que os títulos cambiais sejam pro
solvendo, isto é, mantêm incólumes eventual obrigação que deu causa à sua criação, só
a extinguindo após a quitação (não implicam novação). Para que o título seja pro soluto
(enseja novação), deve haver expressa previsão na cártula.
-

TÍTULO PRO SOLVENDO TÍTULO PRO SOLUTO

PARA pagamento = só extingue a EM pagamento (quitação) = a obrigação se


obrigação (causa subjacente) após extingue com a emissão do título ao credor,
sua liquidação  não implica em que passa a contar apenas com o direito
novação. cambial.

 CLASSIFICAÇÃO

Os títulos de crédito possuem diversas classificações, conforme modelo,


estrutura, hipóteses de emissão e circulação. O melhor modo de estudar a matéria é
por meio de uma tabela que nos faça compreender a ideia da classificação. Vejamos:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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