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TRIBUTÁRIO
Limitação ao poder de
tributar
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................3
2. PRINCÍPIOS .....................................................................................................................................4
2.1 Legalidade ............................................................................................................................4
2.2. Princípio da isonomia ........................................................................................................12
2.2.1 Desdobramentos do princípio da isonomia ...............................................................15
2.3 Princípio da não cumulatividade ........................................................................................17
2.4 Princípio da não surpresa ...................................................................................................18
2.4.1 Princípio da irretroatividade da lei tributária ............................................................18
2.4.2 Princípio da anterioridade ..........................................................................................25
2.5 Princípio do não-confisco ...................................................................................................34
2.6 Princípio da liberdade de tráfego.......................................................................................37
2.7 Princípio da unidade geográfica da tributação ..................................................................38
2.8 Princípio da transparência .................................................................................................38
2.9 Princípio da uniformidade da tributação da renda ............................................................39
2.10 Princípio da vedação às isenções heterônomas ..............................................................39
2.11 Princípio da não discriminação baseada em procedência ou destino .............................40
3. EXIGÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS FISCAIS ................................42
4. IMUNIDADES ................................................................................................................................44
4.1 Classificação doutrinária das imunidades tributárias ........................................................45
4.2 As imunidades tributárias em espécie ...............................................................................45
4.2.1 Imunidade tributária recíproca ..................................................................................46
4.2.2 Imunidade tributária religiosa ....................................................................................57
4.2.3 A imunidade tributária dos partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e
entidades educacionais e assistenciais sem fins lucrativos ................................................61
4.2.4 A imunidade tributária cultural ..................................................................................69
4.2.5 Imunidade tributária da música nacional ..................................................................75
4.2.6 Outras Imunidades .....................................................................................................76
Revisado em 18.06.2023
Base do resumo:
Ricardo Alexandre
Roberval Rocha
Leandro Paulsen
1. INTRODUÇÃO
Só nesses artigos?
NÃO. Os citados dispositivos não esgotam o tema, podendo outras limitações serem encontradas de
forma esparsas.
2.1 Legalidade
O art. 5º, II, da CF estabeleceu que ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei. Já em seu art. 150, I, diz a CF:
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
A criação e majoração de tributos só pode ser feita por lei. Como o tributo é, por definição, prestação
pecuniária compulsória e instituída em lei, deve haver a sua instituição por este meio para que seja
respeitado o art. 5º, I, da CF/88. Pelo princípio do paralelismo das formas, também é necessária a
elaboração de lei para a extinção dos tributos.
E em relação às multas?
A multa tributária (não é elemento do tributo), por gerar uma obrigação a ser adimplida pelo infrator,
somente pode ser estatuída por lei.
Empréstimos compulsórios;
A atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo (expressamente ressalvada pelo § 2.º
do mesmo art. 97); e
Súmula n. 160 do STJ: É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior
ao índice oficial de correção monetária.
(...) De outra parte, não se compreendendo no campo reservado a lei, pelo Texto Fundamental, a
definição do vencimento e do modo pelo qual se procederá a atualização monetária das obrigações
tributárias, também não se pode ter por configurada delegação de poderes no cometimento de tais
encargos, pelo legislador ordinário, ao Poder regulamentar (RE 172.394/SP).
CIDE-combustíveis
ICMS-combustíveis
Em relação a esses impostos, diz que as ALÍQUOTAS poderão ser alteradas por decreto do Presidente,
sem necessidade de todo aquele trâmite legislativo.
CUIDADO! O que se está dizendo é que as alíquotas podem ser ALTERADAS por decreto, e não criadas.
As alíquotas são criadas por lei, essa lei sim que determina qual a margem do Executivo em aumentar e
diminuir alíquota. Em outras palavras a liberdade está limitada à lei.
Na prática, as alíquotas dos tributos aduaneiros (II e IE) têm sido alteradas por Resolução da Câmara
de Comércio Exterior – CAMEX, enquanto o IPI e o IOF têm suas alíquotas alteradas diretamente por
decreto. Isso é válido?
Segundo o STF sim. Em ambos os casos, a alteração tem sido feita por ato do Poder Executivo, não
havendo desobediência ao texto constitucional, conforme já decidido pelo STF (Pleno, RE 570680/RS, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, j. 28.10.2009, DJ 04.12.2009, p. 1.024).
A Constituição prevê que as alterações são de competência do Poder Executivo, mas não estipula qual
espécie de ato normativo deste Poder concretizará a alteração. Assim, não é competência exclusiva do
Presidente da República a possibilidade de alteração das alíquotas dos tributos federais estabelecidas no
texto constitucional.
b) CIDE-combustíveis
As Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico também encaixam-se como tributo extrafiscal,
porque serve para intervir no domínio econômico. Quanto à CIDE-combustíveis, a redução e
CF, art. 177, § 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às
atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados
e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos:
I - a alíquota da contribuição poderá ser:
(...)
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150,
III, b;
c) ICMS-combustíveis (ICMS-Monofásico)
Já quanto ao ICMS-monofásico incidente sobre combustíveis definidos em Lei Complementar, a definição
(inclusive redução e aumento) de alíquotas pode ser definidas por convênio, sem obediência à legalidade,
mas se o aumento ultrapassar o mero restabelecimento de patamar anteriormente fixado, deve-se
obedecer à anterioridade.
Segundo Ricardo Alexandre, “o ICMS é um imposto estadual, mas apesar disso, tem um alcance nacional
porque incide em todos os Estados. Para evitar a guerra fiscal, disputa de tributação entre os Estados, a
Constituição dispõe que toda vez que os Estados tiverem que determinar a ALÍQUOTA do ICMS-
combustíveis, essa determinação tem que ser uma determinação conjunta”.
O convênio é resultado de uma deliberação entre os Executivos. Não passa pelo Poder Legislativo. Por
isso é EXCEÇÃO ao princípio da legalidade.
Resumindo:
Quanto a CIDE-Combustíveis, a REDUÇÃO e RESTABELECIMENTO das alíquotas podem ser feitos por
decreto, sem obediência a LEGALIDADE nem a ANTERIORIDADE.
1
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É constitucional a flexibilização da legalidade tributária constante do § 2º do art. 27
da Lei 10.865/2004, que permitiu ao Poder Executivo reduzir e restabelecer alíquotas de PIS e Cofins sobre as receitas
financeiras. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/77b917da760ab9aeca583fd0bb0e1c67>. Acesso
em: 13/01/2021
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Art. 27 (...)
§ 2º O Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam os incisos I e II do caput
do art. 8º desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras
auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses
que fixar.
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Exceções a essa exigência: II, IE, IOF, IPI e IEG. Lembrar também que MP não pode tratar das matérias
reservadas à lei complementar.
Assim, estabelecidos requisitos para o uso da medida provisória em matéria tributária, fica claro que a
utilização é lícita.
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Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o
termo inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei. STF. Plenário. RE
568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/2/2014 (Info 735).
COMENTÁRIOS: Imagine a seguinte situação: O Presidente da República editou, em 29/01/2004, a
Medida Provisória 164/2004 instituindo o PIS/PASEP. Essa MP foi convertida na Lei n. 10.865, promulgada
em 30/04/2004. Durante a tramitação da Medida Provisória 164/2004 no Congresso, foi inserido no
projeto de conversão um artigo majorando a alíquota do PIS incidente sobre a água mineral. Desse modo,
a majoração não havia sido prevista, originariamente, pela Medida Provisória e somente surgiu quando
a MP foi convertida na Lei. O prazo de 90 dias será contado da publicação da MP ou da Lei? O prazo será
iniciado da data da publicação da lei.
Em regra, o termo inicial para a contagem do prazo nonagesimal seria a data da publicação da medida
provisória e não a da lei na qual fosse convertida. Todavia, como no caso houve o agravamento da carga
tributária pela lei de conversão, a contagem do termo iniciar-se-ia da publicação desta. Assim, segundo
decidiu o STF, nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de
conversão, o termo inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei.
Art. 150 da CF - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Regra da anterioridade nonagesimal e lei de conversão da MP. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fd45ebc1e1d76bc1fe0ba933e60e9957>. Acesso
em: 24/08/2018
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Base do princípio:
A lei tributária não poderá instituir tratamento desigual ou discriminatório entre contribuintes que se
encontrem na mesma situação. A isonomia possui acepção horizontal e vertical. A horizontal refere-se às
pessoas que estão na mesma situação e que devem ser tratadas da mesma forma. A vertical refere-se às
pessoas que se encontram em situações distintas e que, por isso, devem ser tratadas de maneira
diferenciada na medida em que se diferenciam.
Art. 152 - É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária
entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.
Diz o art. 152 que todo mundo tem que ser tratado igual. É a regra da isonomia. Mas há situações em que
cabe tratamento diferenciado que não podem ser determinadas pela procedência ou destino do
produto.
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As contribuições sociais previstas no inciso I4 do caput do art. 195 poderão ter alíquotas de cálculo
diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo possível a adoção de bases de cálculo
diferenciadas apenas nos casos das alíneas “b” (receita ou faturamento) e “c” (lucro) do inc. I do caput.
4 CF, art. 195, I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe
preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
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Art. 150 da CF - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado;
Em suma, a lei tributária não pode retroagir para alcançar fatos passados, para que a cobrança do tributo
se dê sobre fatos passados. Eu tenho a lei tributária que define ou altera os elementos do tributo e essa
lei só pode ter aplicação futura, ou seja, como regra, ela só pode ter aplicação prospectiva. Nessa linha
de entendimento, o CTN, no seu art. 105, dispõe que:
Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes,
assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo
116.
Resumindo: a lei deve abranger apenas situações geradoras da obrigação tributária (aspecto material)
posteriores à sua edição, não devendo abranger fatos pretéritos. A título de exemplo: se a alíquota do
IPVA é aumentada ou diminuída, não pode alcançar fatos geradores ocorridos antes do início de sua
vigência.
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a) fato gerador instantâneo: aquele cujo aspecto material ocorre em um momento único, como na saída
da mercadoria, no caso do ICMS.
b) fato gerador continuado: aquele cujo aspecto material retrata uma situação jurídica, que permanece
no tempo, de modo que o legislador escolhe um momento para se considerar ocorrido o fato gerador,
como ocorre nos impostos sobre a propriedade (IPVA, por exemplo).
c) fato gerador periódico: aquele cujo aspecto material ocorre em um lapso de tempo determinado, ao
término do qual se valorizam diversos fatos isolados que, somados, aperfeiçoam o fato gerador do
tributo. Um exemplo típico é o Imposto de Renda, apurado anualmente.
Feita essa classificação, vamos ver agora o reflexo do princípio da irretroatividade nos tributos CSLL e IR
que possuem fatos geradores complexos.
Irretroatividade e CSLL:
A contribuição social de lucro líquido – CSLL não está sujeita ao princípio da anterioridade do exercício
financeiro, dependendo a produção de efeitos decorrentes de eventual majoração apenas a obediência
a um período mínimo de noventa dias entre a data da publicação da lei e o fato gerador.
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Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes,
assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo
116.
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Súmula n. 584 do STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei
vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.
Vale ressaltar que esse entendimento do STF, da Súmula 584 acima transcrita, foi construído e vale para
as hipóteses em que o imposto de renda tenha função meramente fiscal (arrecadatória), o que é a regra
geral.
Porém, esse enunciado já não se aplicava para as hipóteses em que o tributo tinha função extrafiscal.
(STF. Plenário. RE 592396/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3.12.2015) (repercussão geral) (Info
810).
Tratava de um enunciado de súmula bastante criticado no âmbito doutrinário. Isso porque o IR está
sujeito ao princípio da anterioridade anual. Logo, se uma lei majora o IR, ela somente poderia ser exigida
no exercício financeiro seguinte ao da sua publicação. Em outras palavras, a lei aplicável ao IR tem que
ser aquela que estiver em vigor e eficaz no primeiro dia do exercício financeiro (ano-base) no qual esses
acréscimos patrimoniais serão produzidos. Assim, se a lei majoradora do IR for publicada no curso do
exercício financeiro, não será hábil a qualificar os fatos senão antes do próximo exercício.
O problema é que o ano-base do IR é sempre anterior ao ano em que se apresenta a declaração. Por
exemplo, o ano base de 2019 só deve ser declarado em 2020. Agora, imagine uma lei publicada em 2020
(ano da declaração de renda), será que ela pode ser aplicada ao imposto de renda já consolidado em
2019?
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Art. 106 - A lei aplica-se a ato ou fato pretérito (fala verbalmente da retroatividade):
I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à
infração dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado (em aberto):
a) quando deixe de defini-lo como infração;
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não
tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
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Uma segunda possibilidade prevista no art. 106 se refere à redução de penalidades e a extinção de
infração à lei tributária. Trata-se de lei tributária mais benigna ao contribuinte. O inc. II do art. 106 do
CTN dita que as normas tributárias mais benignas atingem apenas os atos não definidamente julgados.
Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei
então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.
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Quanto ao art. 144, § 1º, o que interessa é: Que eu posso aplicar de forma RETROATIVA essa lei que
tenha AMPLIADO PODERES DE INVESTIGAÇÃO, tenha dado maiores poderes para a Administração dizer
quanto é o valor do tributo devido.
Então, o contribuinte não tem um direito de não ser tributado. Se eu tenho um novo procedimento de
fiscalização, ele deve ser aplicado, mesmo que seja retroativamente. Então, essa é primeira
possibilidade de retroatividade da lei tributária, mas que não tem a ver com o próprio tributo.
CF, Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III - cobrar tributos:
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
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Falar em anterioridade significa falar sobre o prazo para a produção de EFEITOS da lei tributária, e, claro,
da lei tributária que altere esses elementos do tributo.
Há duas modalidades: anterioridade de exercício e anterioridade nonagesimal (ou mitigada). Na primeira,
exige-se que a lei que institua ou aumente o tributo tenha sido publicada no exercício anterior. Na
segunda, exige-se o decurso de um prazo de 90 dias, contados da data em que haja sido publicada a lei
que instituiu ou aumentou o tributo. As duas normas devem ser utilizadas cumulativamente, para os
tributos em que ambas incidem.
A anterioridade nonagesimal está prevista tanto no art. 195, § 6º (especificamente para as contribuições
para a seguridade social) quanto no art. 150, III, todos da CF. Embora a redação do primeiro indique uma
aplicação mais ampla (menciona “instituição ou modificação” da contribuição, enquanto o segundo fala
em “instituição ou aumento”), o STF já decidiu que o art. 195, § 6º só é aplicável para instituição ou
majoração.
Esse é o entendimento do STJ: “Não se estando diante da criação ou majoração de tributos, mas de um
regime mais benéfico de tributação, não incide a norma do 150, III, b e c, da CF, pertinente ao princípio
da anterioridade.” (RMS 29568, DJe 30.8.2013)
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Súmula vinculante n. 50 STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não
se sujeita ao princípio da anterioridade.
Mera atualização monetária do valor do tributo ou de sua base de cálculo, por não significar
majoração do mesmo, não se sujeita a anterioridade.
Majoração indireta:
A discussão é se a redução ou revogação de um benefício fiscal como, por exemplo, a isenção tributária,
configura ou não um aumento indireto da carga tributária, apto a atrair o respeito às anterioridades
tributárias do exercício e nonagesimal.
Nesse sentido, o STF possuía um entendimento no sentido de que a revogação não era a mesma coisa
que majorar um tributo (RE 204.062), consistindo apenas em dispensa de pagamento de exação já
existente, de modo que o tributo volta a ser imediatamente exigível, não carecendo da aplicação do
princípio da anterioridade.
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Tese Fazendária: A revisão ou revogação de benefício fiscal, por se tratar de QUESTÃO VINCULADA À
POLÍTICA ECONÔMICA, que pode ser revista pelo Estado a qualquer momento, não está adstrita à
observância das regras de anterioridade tributária. Precedente da 2ª Turma do STF. STF. 2ª Turma.
RE 617389 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 08.05.2012
Tesa contra Fazenda: O ato normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido
configura aumento indireto do tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade
tributária. Precedente da 1ª Turma do STF. 1ª Turma. RE 564225 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 2.9.2014 (Info 757).
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Ressalva a respeito da majoração e extinção de desconto para pagamento de tributo sob determinadas
condições em lei:
No julgamento do AG.REG. nos EMB.DIV. no AG.REG. no RE 564.225 (J. 20.11.2019), o relator Min.
Alexandre de Moraes ressaltou em seu voto na ementa o seu ponto de vista, na linha do decidido na ADI
4016 MC, que entendeu ser um contexto ligeiramente diverso, no sentido de “a redução ou a extinção
de desconto para pagamento de tributo sob determinadas condições previstas em lei, como o
pagamento antecipado em parcela única, não pode ser equiparada à majoração do tributo em questão”.
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As quatro primeiras exceções (II, IE, IPI e IOF) existem porque são impostos extrafiscais, constituindo-se
em mecanismo de intervenção no domínio econômico.
Os empréstimos compulsórios e os impostos extraordinários de guerra são de caráter emergencial e
justificam a exceção à anterioridade ante seus nítidos intuitos.
As Contribuições para financiamento da Seguridade Social, desde a promulgação da CF, sujeitam-se,
especificamente, à anterioridade nonagesimal, posteriormente estendida aos demais tributos por meio
da EC 42/03. Logo, tais tributos estão livres da anterioridade do exercício financeiro.
Por fim, no caso das duas últimas exceções à anterioridade de exercício financeiro são exceções parciais,
criadas pela EC 33/2001. Trata-se do restabelecimento das alíquotas do ICMS monofásico incidente
sobre combustíveis definidos em LC e das alíquotas da CIDE-combustíveis. A melhor interpretação sobre
o tema é que o Poder Executivo poderá reduzir e restabelecer a alíquota do ICMS – Combustíveis e da
CIDE – Combustíveis, mas não poderão ULTRAPASSAR o teto da alíquota prevista anteriormente à
redução.
Anterioridade nonagesimal:
CF, art. 195, § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo (PREVIDENCIÁRIAS) só poderão ser
exigidas após decorridos NOVENTA DIAS da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no Art. 150, III, (b).
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Então, eu tenho uma lei que é publicada em agosto de 2004, esta lei, pela regra, só vai produzir efeitos
no exercício seguinte, a partir do primeiro dia do exercício seguinte porque entre a data de publicação,
agosto, e o primeiro dia do exercício seguinte, eu tenho, pelo menos 90 dias.
E se a lei vem em 31.12.04? Essa lei só vai produzir efeito no exercício seguinte. Mas não no dia 1º de
janeiro porque entre a publicação e o dia 1º de janeiro, eu não tenho 90 dias, eu tenho 1 dia. Então,
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Resumindo:
Regra: Lei produz efeitos no exercício seguinte (primeiro passo a ser observado)
Somada a essa regra: Entre a publicação e a data da produção de efeitos, deve haver um intervalo
mínimo de 90 dias.
De olho na Jurisprudência:
O prazo nonagesimal somente deve ser utilizado nos casos de criação ou majoração de tributos, não na
hipótese de simples prorrogação de alíquota já aplicada anteriormente. (RE 584100, repercussão geral)
Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o termo
inicial da contagem é a DATA DA CONVERSÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA EM LEI. STF. Plenário. RE
568503/RS, rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 12.2.2014 (Info 735).
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Não viola o princípio da não cumulatividade (art. 155, §2º, incisos I e XII, alínea c, da CF/88) lei
complementar que prorroga a compensação de créditos de ICMS relativos a bens adquiridos para uso e
consumo no próprio estabelecimento do contribuinte.
Conforme o art. 150, III, "c", da CF/88, o princípio da anterioridade nonagesimal aplica-se somente para
leis que instituem ou majoram tributos, não incidindo relativamente às normas que prorrogam a data
de início da compensação de crédito tributário. (STF. Plenário. RE 601967, Rel. Marco Aurélio, Relator(a)
p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18.08.2020 - Repercussão Geral - Tema 346).
II, IE e IOF
Empréstimos compulsórios:
EXCEÇÃO À NOVENTENA
a) de guerra
b) de calamidade
Imposto de Renda
Aplicam-se ao II, IE, IOF, impostos extraordinários de guerra e empréstimos compulsórios as mesmas
razões apontadas no que tange à anterioridade.
Já a exceção referente ao caso das bases de cálculo de IPVA e IPTU, tem fundamento bastante diferente
dos demais. Ambos os tributos incidem sobre o valor de um bem (imóvel na área urbana do Município,
no caso do IPTU; veículo automotor, no caso do IPVA). O momento mais propício para que as fazendas
públicas estaduais e municipais procedam às revisões dos valores dos veículos e imóveis,
respectivamente, é o fim de cada exercício. Primeiro, por possibilitar levar em consideração toda a
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Art. 150 da CF. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
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ADI 2010 MC / DF (...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende cabível, em sede de
controle normativo abstrato, a possibilidade de a Corte examinar se determinado tributo ofende, ou
não, o princípio constitucional da não-confiscatoriedade consagrado no art. 150, IV, da Constituição.
Precedente: ADI 1.075-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (o Relator ficou vencido, no precedente
mencionado, por entender que o exame do efeito confiscatório do tributo depende da apreciação
individual de cada caso concreto). - A proibição constitucional do confisco em matéria tributária nada
mais representa senão a interdição, pela Carta Política, de qualquer pretensão governamental que possa
conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou
dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, pela insuportabilidade da carga tributária, o
exercício do direito a uma existência digna, ou a prática de atividade profissional lícita ou, ainda, a regular
satisfação de suas necessidades vitais (educação, saúde e habitação, por exemplo). A identificação do
efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade da carga tributária, mediante verificação da
capacidade de que dispõe o contribuinte – (...).
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Taxas e princípio do não-confisco: A taxa tem caráter contraprestacional, por isso a verificação do caráter
confiscatório é feita comparando o custo da atividade com o valor cobrado a título de taxa (STF, ADI-MC-
QO 2.551/MG, j. 02.04.2003).
STF: multa moratória - A aplicação de multa moratória acima do patamar de 20% detém caráter
confiscatório. Trata-se de montante que se coaduna com a ideia de que a impontualidade é uma falta
menos grave, aproximando-se, inclusive, do valor que um dia já foi positivado na CF. (AI 727872
AgR/RS, J. 28.04.2015).
STF: multa punitiva - “A Corte tem firmado entendimento no sentido de que o valor da obrigação
principal deve funcionar como limitador da norma sancionatória, de modo que a abusividade revela-
se nas multas arbitradas acima do montante de 100%. Entendimento que não se aplica às multas
moratórias, que devem ficar circunscritas ao valor de 20%. Precedentes” (ARE 836828 AgR / RS, j.
16.12.2014).
STJ: A conduta dolosa do transportador que utiliza carro próprio para conduzir ao território nacional
mercadoria estrangeira sujeita à pena de perdimento acarreta a pena de perda do veículo,
independentemente de o valor do carro ser desproporcional (muito superior) ao valor das
mercadorias apreendidas. A pena de perda do veículo é prevista expressamente no art. 104, V, do
Decreto-Lei 37/66 e no art. 688, V do Decreto 6.759/2009, sendo essa punição severa com o objetivo
de coibir o descaminho e o contrabando. (1ª Turma. REsp 1.498.870-PR, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, j. 12.2.2015) (Info 556).
36
Há exceção?
SIM. A primeira é a possibilidade de cobrança do ICMS interestadual. Como um gravame incidente
também sobre operações que destinam a outro Estado determinados bens e sobre a prestação de
determinados serviços, o tributo interestadual acaba por constituir uma limitação ao tráfego de bens pelo
território nacional. Como a cobrança tem fundamento constitucional, é plenamente válida, não
havendo que se discutir sua legitimidade.
No que se refere ao pedágio, a questão era bastante controversa, principalmente com relação a sua
natureza jurídica (tributária ou não).
37
Não pode a União, portanto, estipular diferentes alíquotas do imposto sobre a renda, nos distintos
Estados da federação. O mesmo dispositivo que prevê a regra traz também a exceção, ao permitir a
diferenciação com finalidade extrafiscal de diminuir as diferenças de desenvolvimento socioeconômico
entre as diferentes regiões do país.
O STF entende que a concessão de isenção se funda no JUÍZO DA CONVENIÊNCIA E OPORTUNIDADE de
que gozam as autoridades públicas na implementação de suas políticas fiscais e econômicas. Portanto,
NÃO CABE AO PODER JUDICIÁRIO, que não pode se substituir ao legislador, estender a isenção a
contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia.
38
A restrição, aplicável exclusivamente ao imposto sobre a renda, visa evitar que a União utilize o tributo
como um meio de concorrer deslealmente no mercado de títulos da dívida pública e na seleção de
servidores.
Obs. Perceba-se que não se está a tributar o rendimento do ente federado que emitiu o título; o que se
tributa é a renda gerada pela operação, que é rendimento do particular adquirente do título.
A segunda vedação constante no dispositivo impede que a União tribute os rendimentos dos servidores
públicos estaduais e municipais de maneira mais gravosa do que aquela estipulada para os servidores
públicos federais.
Exceções:
39
40
Trata-se de um princípio que decorre do pacto federativo. Não se aplica à União, porque ela pode
estipular tratamento diferenciado tendo por meta diminuir as desigualdades econômicas (art. 151, I, CF).
Providências semelhantes, portanto, não são lícitas aos Estados e Municípios, sob pena de grave risco ao
pacto federativo.
Não podem os Estados, por exemplo, estatuir alíquotas mais elevadas de IPVA para veículos importados.
41
Em um Estado democrático de direito, o povo pode autorizar a prática de atos que configuram
disponibilidade do patrimônio público por meio da elaboração de lei. O crédito tributário é parte do
patrimônio público. Os benefícios fiscais ora extinguem (remissão), ora excluem (isenção, anistia), ora
diminuem (redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido) o crédito tributário.
Não é possível a concessão de benefícios fiscais por intermédio de qualquer ato infralegal sem que haja
previsão em lei regularmente editada pelo parlamento respectivo. Apesar de a matéria se referir a uma
limitação constitucional ao poder de tributar, a NORMA ISENTIVA, por NÃO ESTAR REGULANDO tal
limitação, mas sim excluindo a tributação, PODERÁ SER UMA LEI ORDINÁRIA, salvo nos casos em que o
próprio tributo isentado só possa ser criado por lei complementar.
Dispõe o art. 150, § 6º, da CF:
Art. 150, § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a IMPOSTOS, TAXAS ou CONTRIBUIÇÕES, só poderá ser concedido mediante
LEI ESPECÍFICA, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas
ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.
O Poder Judiciário pode, a título de isonomia, estender benefícios fiscais a outras pessoas não atingidas
diretamente pela norma?
NÃO. É vedado ao Poder Judiciário, invocando o princípio da isonomia, substituir o juízo discricionário do
legislador e estender a outras pessoas benefícios fiscais que a lei só destinou expressamente a
determinada categoria de contribuintes.
42
Em parco caso de exceção, o STF considerou inexigível a celebração de convênio quanto a concessão de
isenção (ICMS) a templo de qualquer culto (caso específico analisado pelo STF), pois, entendeu que isso
não tem aptidão para deflagrar guerra fiscal ou gerar risco ao pacto federativo.
43
Imunidades x isenções
“A diferença entre a imunidade e a isenção está em que a primeira atua no plano da definição da
competência, e a segunda opera no plano do exercício da competência”. Como a imunidade delimita
competência constitucionalmente estabelecida, é sempre prevista pela própria CF, pois não se pode criar
exceções em norma de hierarquia inferior àquela que prevê a regra. Não importa em como o texto
44
IMUNIDADE ISENÇÃO
Gerais x específicas: as primeiras são estabelecidas para todos os entes tributantes, abrangendo diversos
tributos, enquanto nas específicas o legislador restringe a imunidade a um determinado tributo de uma
determinada pessoa política (ex.: imunidade do ICMS nas operações de exportação)
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
45
46
(...) 1. Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a
interpretação de normas relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial abalo ao pacto
federativo. Precedentes. 2. A obrigação acessória decorre da legislação tributária (art. 113, § 2º, do
Código Tributário Nacional). Esse termo não engloba apenas as leis, mas também “os tratados e as
convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte,
sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (art. 96 do Código Tributário Nacional). 3. A
imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, a, da Constituição) impede que os entes públicos criem uns
para os outros obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de
obrigações acessórias. Precedentes. 4. O art. 9º, § 1º, do Código Tributário Nacional institui reserva legal
para a definição das hipóteses de responsabilidade tributária e dos atos que os entes públicos deverão
praticar na qualidade de responsáveis tributários. O dispositivo não afasta a possibilidade de obrigações
acessórias serem impostas por atos normativos infralegais. 5. Não ofende o princípio da isonomia ou
47
Art. 150, § 2º - A vedação do inciso VI, (a), é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes.
Em princípio, as autarquias e fundações, instituídas e mantidas pelo Poder Público, são imunes ao
pagamento de impostos, mas essa imunidade está condicionada à existência de um patrimônio, renda
ou serviços que se relacionem às finalidades essenciais desses órgãos.
Veja, não é todo e qualquer patrimônio, renda ou serviço que é imune, mas tão somente os relacionados
às atividades essenciais das Fundações e das Autarquias, e que, portanto, tenham uma finalidade pública
desses entes.
ATENÇÃO! Essa restrição que diz que o bem deve estar vinculado às finalidades essenciais da autarquia
ou fundação pública, não se aplica aos entes políticos, somente às entidades da Administração Indireta.
48
E referente às Caixas de Assistência dos Advogados? Possuem direito à imunidade tributária recíproca?
SIM. Na esteira da jurisprudência do STF, considera-se que a Ordem dos Advogados possui finalidades
institucionais e corporativas, além disso ambas devem receber o mesmo tratamento de direito público.
As Caixas de Assistências dos Advogados prestam serviço público delegado, possuem status jurídico de
ente público e não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito lucrativo.
As Caixas de Assistência de Advogados encontram-se tuteladas pela imunidade recíproca prevista no art.
150, VI, “a”, da Constituição Federal.
A Caixa de Assistência dos Advogados é um “órgão” integrante da estrutura da OAB, mas que possui
personalidade jurídica própria. Sua finalidade principal é prestar assistência aos inscritos no respectivo
no Conselho Seccional (art. 62 da Lei nº 8.906/94).
As Caixas de Assistências prestam serviço público delegado e possuem status jurídico de ente público.
Vale ressaltar ainda que elas não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito
lucrativo. Diante disso, devem gozar da imunidade recíproca, tendo em vista a impossibilidade de se
conceder tratamento tributário diferenciado a órgãos integrantes da estrutura da OAB.
STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6.9.2018 (Info 914).5
Até aí tudo bem, agora, essa imunidade se aplica, também, às Empresas Públicas e Sociedade de
economia mista?
É um tema que deve ser analisado com calma. Primeiramente a análise vem do art. 150, § 3º, da CF:
§ 3º - As vedações do inciso VI, (a), e do parágrafo anterior (autarquias e fundações) NÃO se aplicam ao
patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADES ECONÔMICAS
regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou
5
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. As Caixas de Assistência de Advogados gozam de imunidade tributária recíproca.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/edb446b67d69adbfe9a21068982000c2>. Acesso
em: 01/12/2018
49
Sendo assim, caso se trata de uma empresa estatal que atue na seara de exploração de atividades
econômicas, não se aplica a imunidade recíproca, pois elas devem atuar em pé de igualdade com as
demais empresas privadas.
Mas e se for uma Empresa Pública, por exemplo, que realize um serviço público?
Se for uma Empresa Pública que
- NÃO vise ao lucro,
- que esteja fora deste ambiente do mercado privado,
- nesse caso, diz o STF que a empresa pública é imune.
STF: Empresas públicas e sociedade de economia mista, quando prestadoras de serviços públicos de
prestação obrigatória e exclusiva do Estado, são abrangidas pela imunidade recíproca. (RE 407.099/RS
- ECT e AC 1.550-2 - Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia).
Portanto, depende do objeto, da atividade da empresa pública e da sociedade de economia mista. Se elas
atuarem como agentes públicos, prestadores de serviços públicos, elas podem ser imunes.
c) Não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre concorrência e do
exercício da atividade profissional ou econômica lícita.
Recentemente, no julgamento do RE 1320054 RG, o STF delineou bem a questão do “sem intuito
lucrativo” para ter direito à imunidade tributária recíproca. Segundo o Min. Luís Roberto Barroso “o
50
“Visualizada a questão do modo acima – fazendo-se a distinção entre empresa pública como instrumento
da participação do Estado na economia e empresa pública prestadora de serviço público – não tenho
dúvida em afirmar que a ECT está abrangida pela imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a),
ainda mais se considerarmos que presta ela serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do
Estado, que é o SERVIÇO POSTAL, CF, art. 21, X (Celso Antônio Bandeira de Mello, ob. cit., p. 636).
Correios gozam de imunidade tributária mesmo quando atuam em serviços que concorrem com a
iniciativa privada?
SIM. De acordo com o STF “a imunidade deve alcançar todas as atividades desempenhadas pela ECT,
inclusive as atividades afins autorizadas pelo Ministério das Comunicações, independentemente da sua
natureza”.
Os Correios prestam um serviço público de natureza essencial e atua onde a iniciativa privada não tem
interesse de atuar e, portanto, não há concorrência com fins lucrativos. Ele lembrou que as próprias
empresas privadas responsáveis pela entrega de encomendas e pacotes se valem do serviço dos Correios
porque do ponto de vista financeiro é desinteressante.
“Não se pode equiparar os Correios a empresas comuns em termos de concorrência porque não concorre
de forma igualitária com estas. Primeiro porque precisa contratar seus bens e serviços mediante a Lei
51
Se um município quiser tributar os Correios ao argumento de que o imóvel não estaria relacionado às
finalidades essenciais da empresa, a quem pertenceria o ônus de comprovar esse fato?
Do ente tributante, no caso o município.
Há presunção que o imóvel de entidade autárquica está afetado a destinação compatível com os objetivos
e finalidades institucionais. Logo, o ônus de provar o contrário, para fins de afastar a imunidade, recai
sobre o poder público tributante. Precedentes: AgRg no REsp 1.233.942/RJ, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, julgado em 18/09/2012, DJe 26/09/2012 e AgRg no AREsp 236.545/MG, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 20/11/2012, DJe 26.11.2012. (STJ. 1ª
Turma. AgRg no AREsp 304.126-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13.8.2013)
(...) 2. A Corte já firmou o entendimento de que é possível a extensão da imunidade tributária recíproca
às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, observados os seguintes parâmetros:
a) a imunidade tributária recíproca se aplica apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na
satisfação dos objetivos institucionais imanentes do ente federado;
b) atividades de exploração econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado
ou de particulares, devem ser submetidas à tributação, por apresentarem-se como manifestações de
riqueza e deixarem a salvo a autonomia política; e
c) a desoneração não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre-
concorrência e do livre exercício de atividade profissional ou econômica lícita”. Precedentes: RE n.º
253.472/SP, Tribunal Pleno. Relator para o acórdão: Min. Joaquim Barbosa, DJe de 1.º.2.11 e ACO
2243/DF, decisão monocrática, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 25.10.13.
52
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre
impostos federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.
Vale ressaltar, contudo, que, para a extensão da imunidade tributária recíproca da Fazenda Pública em
favor das sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos:
(i) a prestação de um serviço público;
(ii) a ausência do intuito de lucro e
(iii) a atuação em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência.
STF. Plenário. ACO 3410/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).
Sociedade de economia mista, cujas ações são negociadas na Bolsa, e que está voltada à remuneração
do capital de seus controladores ou acionistas, tem direito à imunidade tributária recíproca, mesmo
que preste serviço público?
NÃO. Esse foi o entendimento firmado pelo Plenário do STF no julgamento do RE 600867 (Tema 508),
vide:
Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está
abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente
em razão das atividades desempenhadas (STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/
Acórdão Luiz Fux, julgado em 29.06.2020 - Repercussão Geral – Tema 508).
53
Súmula n. 583 do STF: Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é
contribuinte do imposto predial territorial urbano.
A Imunidade tributária recíproca se aplica nos casos de o bem, por exemplo um veículo automotor,
estiver cravado com alienação fiduciária?
SIM. Se um município possui veículo adquirido mediante alienação fiduciária não haverá incidência de
IPVA, já que haverá imunidade tributária.
DEVO LEMBRAR: Alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes,
em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição
financeira, via de regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato (André Luiz Santa Cruz).
54
Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade estatal 6
A INFRAERO (empresa pública federal) celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com uma
empresa privada por meio da qual esta última poderia explorar comercialmente um imóvel pertencente
à INFRAERO. Vale ressaltar que esta empresa é uma concessionária de automóveis.
A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade tributária.
O STF não aceitou a tese e afirmou que não incide a imunidade neste caso.
A atividade desenvolvida pela empresa tem por finalidade gerar lucro.
Se fosse reconhecida a imunidade neste caso, isso geraria, como efeito colateral, uma vantagem
competitiva artificial em favor da empresa, que teria um ganho em relação aos seus concorrentes. Afinal,
a retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formação de preços menores, o que provoca
desequilíbrio das relações de mercado.
Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade estatal.
STF. Plenário. RE 434251/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em
19.4.2017 (Info 861).
6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade
estatal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/68abef8ee1ac9b664a90b0bbaff4f770>. Acesso em: 02/01/2018
55
Incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido à pessoa jurídica de direito
privado, devedora do tributo.
Ex: a União celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com uma empresa privada por meio da qual
esta última poderia explorar comercialmente determinado imóvel pertencente ao patrimônio público
federal. A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade
tributária. O STF não aceitou a tese e afirmou que não incide a imunidade neste caso. STF. Plenário. RE
601720/RJ, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 6.4.2017
(repercussão geral) (Infos 860 e 861).
Sociedade de economia mista com finalidade lucrativa e que for arrendatária de imóvel público não
goza de imunidade tributária8
A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, não se estende a empresa
privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de atividade econômica com fins
lucrativos. Nessa hipótese é constitucional a cobrança do IPTU pelo Município. Ex: a União, proprietária
de um grande terreno localizado no Porto de Santos, arrendou este imóvel para a Petrobrás (sociedade
de economia mista), que utiliza o local para armazenar combustíveis. Antes do arrendamento, a União
não pagava IPTU com relação a este imóvel em virtude da imunidade tributária recíproca. Depois que
houve o arrendamento, a Petrobrás passa a ter que pagar o imposto. STF. Plenário. RE 594015/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 6.4.2017 (repercussão geral) (Info 860).
7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se uma pessoa jurídica de direito público faz contrato de cessão de uso de imóvel com empresa
privada, esta última não goza de imunidade e deverá pagar IPTU. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/001ab2fa029c064a45e41f8b2644a292>. Acesso em:
02/01/2018
8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Sociedade de economia mista com finalidade lucrativa e que for arrendatária de imóvel público
56
57
Obs. Em julgado mais recente, o STF, reiterando sua tendência de dar interpretação extensiva à regra ora
estudada, decidiu que a imunidade dos templos de qualquer culto é aplicável aos cemitérios que
funcionem como extensões de entidades religiosas, não tenham fins lucrativos e se dediquem
exclusivamente à realização de serviços religiosos e funerários.
Dizer o direito:
O art. 150, VI, “b”, da CF/88 prevê que “os templos de qualquer culto” gozam de imunidade tributária
quanto aos impostos. Chamada pela doutrina de imunidade tributária religiosa.
Se a entidade religiosa possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem é imune (estará livre do
pagamento de IPTU)?
SIM, desde que o dinheiro seja utilizado nas atividades essenciais da Igreja.
Súmula n. 724 do STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, desde que o valor
dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.
Obs.: apesar da súmula referir-se à imunidade do art. 150, VI, c, seu enunciado também se aplica à
imunidade religiosa prevista no art. 150, VI, b.
A entidade religiosa goza de imunidade tributária sobre o cemitério utilizado em suas celebrações?
Sim, desde que este cemitério seja uma extensão da entidade religiosa (STF. Plenário. RE 578.562, Rel.
Min. Eros Grau, julgado em 21/5/2008). No caso julgado pelo STF, o cemitério analisado era uma extensão
da capela destinada ao culto da religião anglicana, situada no mesmo imóvel.
10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Maçonaria e imunidade religiosa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5edc4f7dce28c711afc6265b4f99bf57>. Acesso em:
25/08/2018
58
Pois bem, vimos que se a entidade religiosa possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem é imune.
Agora, imagine outra hipótese, se o imóvel é de terceiro e é alugado para uma entidade religiosa, ele
será imune ao IPTU?
SIM. É o que diz o recente texto constitucional acrescido pela EC 116/2022, vide:
CF, art. 156, § 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo (IPTU) não incide sobre templos
de qualquer culto, ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b" do inciso
11
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. ITBI e presunção de que imóvel adquirido será utilizado em suas finalidades
essenciais. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7369f3c86bf3c0a354615432832d9e8f>. Acesso
em: 25/08/2018
59
Em relação ao IPTU, ele é um imposto de competência municipal, cujo fato gerador é a propriedade de
bens imóveis urbanos.
Bem, como visto acima, ao limitar a competência tributária dos entes federativos, a CF determinou a
vedação da cobrança de impostos - todos eles - sobre templos de qualquer culto (art. 150, VI, b).
Ocorre que o §4º12 do art. 150 da CF determina que a imunidade conferida no art. 150, VI, b, da
Constituição diz respeito somente ao patrimônio, à renda e aos serviços relacionados com as finalidades
essenciais às atividades religiosas.
Com isso, para que, por exemplo, a isenção de IPTU fosse verificada, exigia-se que o imóvel beneficiado
fosse de propriedade da igreja, sendo ela a contribuinte formal do tributo.
Dessa forma, imóveis alugados com a finalidade de servir de espaço para cultos não eram alcançados pela
imunidade, pois a locação não faz o bem integrar o patrimônio da pessoa.
Porém, como sabemos, existe uma praxe no mercado imobiliário de transferir ao locatário, junto à
celebração de contrato de aluguel, a responsabilidade de arcar com o ônus do pagamento do IPTU do
imóvel. E isso, na prática, passava para as entidades religiosas, que optassem por locar imóveis para
exercer suas atividades religiosas, o dever de pagar o IPTU, o que contrariava o intento constitucional de
proteção à liberdade religiosa.
12
§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.
60
CF, Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos TRABALHADORES, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei;
61
É defeso que lei ordinária regule as limitações constitucionais ao poder de tributar, como o fez a Lei nº
9.532/97, tida por inconstitucional (ADIN nº 1802-3; STF).
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes
requisitos pelas entidades nele referidas:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a QUALQUER TÍTULO;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes
de assegurar sua exatidão.
§ 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade competente
pode suspender a aplicação do benefício.
§ 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente
relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos
respectivos estatutos ou atos constitutivos.
Entretanto, há que se destacar que a necessidade de lei complementar para disciplinar as limitações ao
poder de tributar não impede que o constituinte selecione matérias passíveis de alteração de forma
menos rígida, permitindo uma adaptação mais fácil do sistema às modificações fáticas e contextuais,
com o propósito de velar melhor pelas finalidades constitucionais. Nos precedentes do STF, prevalece
a preocupação em respaldar normas de lei ordinária direcionadas a evitar que falsas instituições de
assistência e educação sejam favorecidas pela imunidade. É necessário reconhecer um espaço de atuação
para o legislador ordinário no trato da matéria.
A orientação prevalecente no recente julgamento das ADIs nº 2.028/DF, 2.036/DF, 2.228/DF e 2.621/DF
é no sentido de que os artigos de lei ordinária que dispõem sobre o MODO BENEFICENTE (no caso de
62
O STF reconhece como protegidas pela imunidade as escolas de ensino profissionalizantes mantidas pelos
serviços sociais autônomos, como são os casos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC
e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI (RE 235.737).
Manutenção do patrimônio, renda e serviços das instituições imunes vinculados às suas finalidades
essenciais:
Segundo a jurisprudência pacífica da Corte, o fato de a entidade utilizar seu patrimônio em atividade que
gere renda e, a rigor, não se enquadrar nas suas finalidades essenciais, não afasta a imunidade, desde
que os recursos obtidos sejam destinados a tais finalidades essenciais.
Assim, o reinvestimento dos recursos obtidos com a exploração patrimonial garante o vínculo que a
Constituição exige entre o patrimônio e as finalidades da entidade.
Nessa situação estão, a título de exemplo, os rendimentos obtidos com o aluguel do imóvel ao particular
(RE 390.451-AgR) e aqueles obtidos com a exploração do serviço de estacionamento (RE 144.900) em
imóvel pertencente a ente imune.
No que concerne ao aluguel de imóvel integrante do patrimônio de entidade imune, o entendimento do
STF foi cristalizado na seguinte súmula:
63
A título de exemplo, o Tribunal considerou que não era alheia à finalidade filantrópica de entidade de
assistência social a utilização de imóvel como clube para fins de recreação e lazer dos funcionários da
instituição. Afirmou-se expressamente “que o emprego do imóvel para tais propósitos não configura
desvio de finalidade em relação aos objetivos da entidade filantrópica” (RE 236.174/SP, Rel. Min.
Menezes Direito, 02.09.2008).
Também demonstrando uma tendência de interpretação extensiva do conceito de atividade essencial, o
Tribunal entendeu aplicável a imunidade nos casos de manutenção por entidade beneficente de uma
livraria em imóvel de sua propriedade (RE 345.830) e da venda realizada por serviço social autônomo
(SESC) de ingressos de cinema ao público em geral (AI 155.822-AgR).
Mas o caso mais marcante em que o STF deu prevalência ao instinto protetivo da imunidade sobre a
igualdade de condições entre os concorrentes no mercado foi no julgamento do RE 186.175-Edv-ED. Na
decisão, solucionando divergência entre a 1.ª e a 2.ª Turmas, a Corte Suprema entendeu que a venda de
bens de entidade imune NÃO SE SUJEITA ao ICMS.
O ICMS é tributo indireto. Todo o seu ônus econômico-financeiro é transferido para o consumidor que,
ao pagar o preço da mercadoria, paga também o valor do imposto que naquele preço se acha embutido.
Para alguns, como a entidade imune, ao vender a mercadoria, não sofre qualquer encargo direto no seu
patrimônio, a venda não estaria abrangida pela imunidade. O STF, na contramão desse raciocínio,
entendendo que a não aplicação da imunidade acabaria por onerar os preços praticados pelas entidades
assistenciais, diminuindo-lhes a competitividade do mercado, reconheceu que as vendas estariam
inseridas dentro do contexto da regra protetiva.
Aqui um importantíssimo alerta. Nos casos diametralmente opostos, em que o adquirente imune acaba
por sofrer o encargo relativo ao tributo indireto, o STF não tem reconhecido como aplicável o benefício
da imunidade. O Tribunal teve a oportunidade de analisar a matéria ao se debruçar sobre um caso em
que o Serviço Social da Indústria – SESI invocou a imunidade tributária para se livrar do dever de pagar o
ICMS relativo à aquisição de feijão vendido por contribuinte localizado no Estado de São Paulo. Como é
consabido, se um comerciante vende determinada mercadoria, ocorre o fato gerador do ICMS, cujo
sujeito passivo (contribuinte) é o alienante. No entanto, nos termos da legislação do Estado de São Paulo,
64
Resumindo: Quando o ente imune vende (contribuinte de direito), ele não está sujeito ao ICMS; quando
o ente imune compra (contribuinte de fato), ele está sujeito ao ICMS.
Súmula n. 730 do STF: A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins
lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência
social privada se não houver contribuição dos beneficiários.
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De olho na jurisprudência:
E se o imóvel da instituição de ensino estiver VAGO ou não edificado, ele, mesmo assim, gozará da
imunidade? 13
SIM. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a garantia
constitucional da imunidade tributária. Não é possível considerar que determinado imóvel está voltado a
finalidade diversa da exigida pelo interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem
edificação ou ocupação.
Em suma, essa imunidade tributária é aplicada aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de
propriedade das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os
requisitos legais. STF. 1ª Turma. RE 385091/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/8/2013 (Info 714).
STF. Plenário. RE 767332/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31.10.2013 (não divulgado em Info).
SENAC goza de imunidade tributária no ITBI na aquisição de imóvel onde funcionará a sua sede 14
O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os requisitos
previstos na lei.
A imunidade somente incide sobre o patrimônio, a renda e os serviços da instituição de ensino que
estejam relacionados com as suas finalidades essenciais (art. 150, § 4º da CF/88).
As entidades do chamado “Sistema S”, tais como SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE, também gozam de
imunidade porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho, sendo
consideradas instituições de educação e assistência social.
13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a
imunidade tributária. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/69295f5f6bd7d1a08da4919b5bb95bff>. Acesso em:
25/08/2018
14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. SENAC goza de imunidade tributária do ITBI na aquisição de imóvel onde funcionará a sua
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Entidade de assistência social que exerce atividade econômica não relacionada com suas finalidade
institucionais15
Determinada entidade de assistência social sem fins lucrativos que atende pessoas com deficiência
explora uma agência franqueada dos Correios. Em outras palavras, ela é proprietária de uma agência
franqueada dos Correios. A renda obtida com essa atividade é revertida integralmente aos fins
institucionais dessa entidade. A venda das mercadorias nessa agência franqueada será imune de ICMS?
NÃO. O STJ decidiu que não há imunidade nesse caso. Isso porque a atividade econômica fraqueada dos
Correios não está relacionada com as finalidades institucionais da entidade de assistência social, ou seja,
o serviço prestado não possui relação com seus trabalhos na área de assistência social, ainda que o
resultado das vendas seja revertido em prol das suas atividades essenciais. Logo, não se pode conceder
a imunidade porque não está preenchido o requisito exposto no ar. 150, § 4º da CF/88 e art. 14, § 2º do
CTN. STJ. 2ª Turma. RMS 46.170-MS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23.10.2014 (Info 551).
Instituição de assistência social conseguiu, por meio de uma perícia, provar os requisitos do art. 14 do
CTN16
Se a instituição de assistência social conseguiu, por meio de uma perícia contábil, provar que atende os
requisitos do art. 150, VI, “c”, da CF/88 e do art. 14, do CTN, ela terá direito à imunidade tributária, mesmo
que não apresente certificado de entidade de assistência social, documento emitido pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Não é possível condicionar a concessão de imunidade tributária prevista para as instituições de educação
e de assistência social sem fins lucrativos à apresentação de certificado de entidade de assistência social
15 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Entidade de assistência social que exerce atividade econômica. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5f245ebebce62ddcfacd1b6292c69392>. Acesso em:
25/08/2018
16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Instituição de assistência social conseguiu provar os requisitos do art. 14 do CTN. Buscador
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A presente imunidade do art. 150, inc.VI, “c”, da CF abrange o IOF incidente sobre operações financeiras
praticadas pelas entidades mencionadas no dispositivo constitucional?
SIM, desde que vinculadas às finalidades essenciais dessas instituições. Esse é o entendimento firmado
no julgamento do RE 611510/SP (com repercussão geral), em 12.04.2021.
A União defendia, no referido recurso, que o IOF estaria fora do alcance da imunidade, ao argumento de
que o referido imposto recai sobre operações financeiras, e não sobre patrimônio, renda ou serviços das
instituições, estando, assim, fora do alcance da citada norma de imunidade constitucional.
Contudo, o STF entendeu que “os objetivos e valores perseguidos pela imunidade em foco sustentam
o afastamento da incidência do IOF, pois a tributação das operações de crédito, câmbio e seguro,
ou relativas a títulos ou valores mobiliários das entidades ali referidas, terminaria por atingir seu
patrimônio ou sua renda”.
A exigência de vinculação do patrimônio, da renda e dos serviços com as finalidades essenciais da
entidade imune, prevista no § 4º do artigo 150 da CF, não se confunde com afetação direta e
exclusiva a tais finalidades. Entendimento subjacente à Súmula Vinculante 52.
Presume-se a vinculação, tendo em vista que impedidas, as entidades arroladas no art. 150, VI, “c”,
da CF, de distribuir qualquer parcela do seu patrimônio ou de suas rendas, sob pena de suspensão
ou cancelamento do direito à imunidade (artigo 14, I, e § 1º, do CTN). Para o reconhecimento da
imunidade, basta que não seja provado desvio de finalidade, ônus que incumbe ao sujeito ativo da
obrigação tributária.
Tese firmada:
A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, ‘c’, da Constituição da República aos partidos políticos,
inclusive suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e às instituições de educação e de
assistência social, sem fins lucrativos, que atendam aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o
incidente sobre aplicações financeiras (STF. Plenário. RE 611510/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
12.4.2021 - Repercussão Geral – Tema 328)
68
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir IMPOSTOS sobre:
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
irrestritamente pela Constituição Federal. (STF, 2.a T., RE 221.239/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 25.05.2004,
DJ 06.08.2004, p. 61).
A linha de raciocínio que vem sendo adotada pela Suprema Corte, desde o julgamento do RE 221.239, é
a de que a imunidade deve ser estendida a qualquer publicação que seja relevante para a transmissão de
informação, ideias e conhecimento (tenha utilidade pública), voltada à democratização e à difusão da
cultura, à liberdade de expressão e como uma maneira de estimular o público infantil a se familiarizar
com os meios de comunicação impressos17, não estando condicionada sua fruição ao valor artístico,
didático ou à relevância das informações divulgadas ou à qualidade cultural da publicação18
apostilas também estão protegidas pela imunidade (STF, 2.a T., RE 183.403/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
j. 07.11.2000, DJ 04.05.2001, p. 35).
17
Conforme consta do voto da Ministra Cármen Lúcia no ARE 1253322.
18
De acordo com o voto do Ministro Edson Fachin no ARE 977.244.
69
Obs.:No âmbito da PGFN, inclusive, há dispensa de recorrer e contestar sobre esse tema.
IMPORTANTE! Há uma discussão um pouco mais aprofundada, que ainda não está fechada, que é a
comercialização de cards (jogo de cartas colecionáveis), independente de qualquer livro ou álbum que
tenha dado origem.
Não se tratam, portanto, de cromos ou figurinhas associados a um álbum, nem muito menos de uma
produção literária que se destina a disseminar a cultura ou incentivar a leitura. É um mero brinquedo.
Sobre esse tema, existem julgados do STF favoráveis ao reconhecimento de imunidade aos cards.
Contudo, a PGFN não engloba na dispensa de recorrer/contestar, ou seja, por não haver jurisprudência
consolidada acerca da tributação incidente sobre os aludidos cards (não manifestação do plenário do
STF), o tema deve ser combatido pelo Procurador da Fazenda em juízo.
não estão protegidos pela imunidade (STF, 1.a T., RE 213.094/ES, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. 22.06.1999,
DJ 15.10.1999, p. 23).
70
de livros sem capa dura” (STF, 2.a T., RE 392.221/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 18.05.2004, DJ 11.06.2004,
p. 16).
Súmula n. 657 do STF: “a imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis
fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos”.
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A imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal, não abarca o maquinário
utilizado no processo de produção de livros, jornais e periódicos.
A imunidade tributária visa à garantia e efetivação da livre manifestação do pensamento, da cultura e da
produção cultural, científica e artística. Assim, é extensível a qualquer material assimilável a papel
utilizado no processo de impressão e à própria tinta especial para jornal, mas não é aplicável aos
equipamentos do parque gráfico, que não são assimiláveis ao papel de impressão, por não guardarem
relação direta com a finalidade constitucional do art. 150, VI, “d”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ARE 1100204/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 29.5.2018 (Info 904)20.
19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O maquinário para impressão de livros não goza de imunidade tributária. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cff34ad343b069ea6920464ad17d4bcf>. Acesso em:
11/10/2018
20 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O maquinário para impressão de livros não goza de imunidade tributária. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cff34ad343b069ea6920464ad17d4bcf>. Acesso em:
11/10/2018
72
Conceito de livros
O conceito de livro deve ser utilizado em sentido amplo. Assim, incluem-se aqui os manuais técnicos e as
apostilas (STF RE 183.403/SP).
Os “e-readers”, ou seja, aparelhos eletrônicos utilizados exclusivamente para ler livros digitais também
gozam da imunidade tributária? Ex: um Kindle (Amazon), Lev (Saraiva), Kobo (Livraria Cultura) também
estariam protegidos pela imunidade tributária?
SIM. O avanço na cultura escrita fez com que fossem criadas novas tecnologias para o suporte dos livros,
como o papel eletrônico (“e-paper”) e o aparelho eletrônico para leitura de obras digitais ( “e-reader”).
Tais aparelhos tem a função de imitar a leitura em papel físico. Por essa razão, eles estão igualmente
abrangidos pela imunidade cultural, por equipararem-se aos livros tradicionais.
Assim, a partir de uma interpretação teleológica conclui-se que a regra de imunidade alcança também
os aparelhos leitores de livros eletrônicos (“e-readers”) confeccionados exclusivamente para esse fim.
73
É possível ler livros digitais em “smartphones”, “tablets” e “laptops”. Isso significa que eles também
devem gozar de imunidade tributária?
NÃO. O STF afirmou que a imunidade tributária aplica-se ao livro eletrônico e aos “suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo”.
Imagine que o livro digital está contido dentro de um CD-Rom, sendo assim vendido para o público.
Esse CD-Rom gozará de imunidade tributária?
SIM. Neste caso, o CD-Rom é apenas um corpo mecânico ou suporte. Aquilo que está nele fixado (seu
conteúdo textual) é o livro. Por essa razão, tanto o suporte (o CD-Rom) quanto o livro (conteúdo) estão
abarcados pela imunidade do art. 150, VI, “d”, da CF/88.
Componentes eletrônicos que compõem o material didático. Imagine a seguinte situação: determinada
editora comercializa fascículos (uma espécie de apostila) nas quais ensina como montar computadores.
O consumidor que compra esses fascículos recebe também, dentro deles, pequenos componentes
eletrônicos para que ele possa aplicar, na prática, aquilo que está lendo na apostila. Quando a editora
vai adquirir esses componentes eletrônicos para colocar nos fascículos, tais bens serão também
imunes?
SIM. A parte impressa (fascículos) e o material demonstrativo (componentes eletrônicos) formam um
conjunto com o qual se ensina como montar as placas de computadores. O STF apreciou o caso sob a
sistemática da repercussão geral e fixou a seguinte tese:
74
Súmula vinculante n. 57: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à
importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que
possuam funcionalidades acessórias.
CF, Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
(...)
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou
literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013)
75
fonogramas e videofonogramas musicais - o art. 5º, IX, da Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998)
conceitua fonograma como “toda fixação de sons de uma execução ou interpretação ou de outros sons,
ou de uma representação de sons que não seja uma fixação incluída em uma obra audiovisual”;
produzidos no Brasil – esta é uma exigência de caráter absoluto, não comportando a possibilidade de
flexibilização ou alternativa. O fonograma deve ser necessariamente produzido no Brasil;
Contendo obras musicais ou literais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por
artistas brasileiros. - tal parte denota as características subjetivas da imunidade em destaque, esta que,
ante a existência concomitante de elementos subjetivos, pode ser entendida como mista. A obra pode
ser de autoria OU interpretada por artista brasileiro;
Bem como os suportes materiais que os contenham – Todos os suportes materiais (vinil, cassete, CD,
DVD, Blu-ray) e arquivos digitais (vendidos por AppStore, Google Play e similares) contendo fonogramas
e videofonogramas imunes são também protegidos pela benesse constitucional em epígrafe;
Tributos abrangidos:
Conforme exposto, a imunidade em questão só é aplicável aos impostos, não impedindo a cobrança de
contribuições como PIS, COFINS, CSLL, etc. A incidência do IR sobre a renda dos agentes envolvidos com
a produção, gravação, replicação, distribuição e venda dos fonogramas e videogramas não foi proibida.
De custas judiciais, na ação popular, salvo comprovada má-fé (art. 5º, LXXIII)
Imunidade das receitas decorrentes de exportação a contribuições sociais e de CIDE (Art. 149, § 2º, I, CF).
Tal imunidade não se estende à CSLL e à CPMF (Info STF 565).
Imunidade ao ITR das pequenas glebas rurais definidas em lei, quando as explore o proprietário que não
possua outro imóvel (art. 153, § 4º, II, CF).
Imunidade ao IPI das exportações de produtos industrializados (art. 153, § 3º, III, CF)
Imunidade do ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, que se sujeita
apenas ao IOF e à extinta CPMF (art. 153, § 5º, CF).
76
Imunidade ao ICMS nas prestações de serviços de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora
e de sons e imagens de recepção livre e gratuita (art. 155, § 2º, X).
Imunidade a todos os impostos nas operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de
reforma agrária (art. 184, § 5º).
Taxas (XXXIV, art. 5º da CF): “são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o
direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações
de interesse pessoal”.
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195,
§ 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
(...)
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo:
I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;
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“A exportação é direta quando o estabelecimento industrial ou produtor emite a nota fiscal de venda
endereçada diretamente ao destinatário no exterior, com base em contrato.
Considera-se exportação indireta quando o estabelecimento industrial ou produtor emite a nota fiscal de
venda (com o fim específico de exportação) para destinatário comprador no Brasil, que funciona como
interveniente comercial, que por sua vez emitirá nota fiscal de venda endereçada ao comprador estrangeiro.
Nessa hipótese, a exportação será considerada indireta para o fabricante e direta para o interveniente
exportador.” (Direito Tributário. 28ª ed., São Paulo: GEN/Atlas, 2018, p. 308-309)
Se uma empresa brasileira faz a exportação de seus produtos por intermédio de uma Empresa Comercial
Exportadora, dizemos que houve uma operação indireta de exportação.
Exportação indireta e imunidade. E se este fabricante brasileiro faz essa exportação por intermédio de uma
trading company ou de uma Empresa Comercial Exportadora, incide igualmente a imunidade tributária?
Incide a imunidade tributária no caso de operações indiretas de exportação?
SIM. É o mesmo tratamento.
A imunidade tributária prevista no art. 149, § 2º, I, da CF/88 abrange também as receitas decorrentes de
operações indiretas de exportação, ou seja, realizadas com a participação sociedade exportadora
intermediária (trading companies ou ECEs).
A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal alcança as receitas
decorrentes de operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação negocial de
sociedade exportadora intermediária.
STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12.2.2020 (Info 966).
STF. Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12.2.2020 (Repercussão Geral – Tema 674).
A imunidade tributária do art. 149, § 2º, I, da CF/88 abrange o PIS/Cofins que incidiria sobre o frete
contratado por trading companies:
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