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PENAL
Crimes contra a Ordem
Econômica e Tributária
Lei n. 8137/90

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SUMÁRIO

1. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ....................................................................................3


1.1 Introdução ............................................................................................................................3
1.2 Princípio da insignificância ...................................................................................................4
1.3. Análise dos tipos penais ......................................................................................................6
2. CRIMES CONTRA A ECONOMIA ................................................................................................25
3. CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO ........................................................................28

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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, ECONÔMICA
E CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO
Revisado até 23.05.2022

Base do resumo:
Renato Brasileiro

1. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

1.1 Introdução
A Lei n. 8.137/90, ao definir os crimes contra a ordem tributária, preservou algumas das figuras típicas
contidas Lei 4.729/65 (que previa os crimes de “sonegação tributária”), criou outras novas, dando redação
mais técnica aos dispositivos.
Todos os crimes previstos nesta lei são de ação pública incondicionada.
Obs.: Quando falamos em crimes contra a ordem tributária, devemos nos ater não apenas àqueles
previstos nos arts. 1º a 3º da Lei n. 8.137/90, mas também a outros tipos penais previstos no Código
Penal, que também visam à tutela da ordem tributária, a exemplo do crime de apropriação indébita
previdenciária (CP, art. 168-A), excesso de exação (CP, art. 316, §1º, com redação dada pelo art. 20 da Lei
n. 8.137/90), facilitação de contrabando ou descaminho (CP, art. 318), descaminho (CP, art. 334) e
sonegação de contribuição previdenciária (CP, art. 337-A).

Competência:
Os crimes contra a ordem tributária devem ser julgados pela justiça comum Federal ou Estadual, de
acordo com o ente beneficiário do tributo objeto da conduta delituosa.
Se o crime tributário envolver tributo estadual ou municipal, a competência será da Justiça Comum
Estadual.
Por outro lado, se a prática de um crime tributário envolver tributo federal, a competência será da Justiça
Comum Federal.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

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1.2 Princípio da insignificância

Em que consiste o princípio da insignificância?


O princípio da insignificância, como foi cunhada por Claus Roxin, também chamado de bagatela própria,
é, segundo a doutrina majoritária, causa de exclusão da tipicidade material, por ausência de lesividade
ao bem jurídico tutelado.
Cuida-se de uma criação doutrinária e encampada pela jurisprudência.
Em resumo, “na bagatela própria não se aplica o direito penal em razão da insignificância da lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado”.1 (g.n.)
A conduta até se adéqua formalmente a um tipo penal, contudo, materialmente é atípica. Logo, não é
criminosa, por isso não justifica a aplicação da lei penal.
Segundo Supremo Tribunal Federal2, são necessários, na aferição do relevo material da tipicidade penal,
os seguintes requisitos:
a) Mínima ofensividade da conduta do agente;
b) Nenhuma periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a ordem tributária?


SIM. Não há dúvidas sobre a aplicação do referido princípio. É o caso, por exemplo, do crime de
descaminho: STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28.02.2018
(recurso repetitivo).
Porém, consoante explicita Renato Brasileiro, o difícil é a tarefa de estabelecer um montante objetivo
que possa ser levado em consideração para fins de incidência (ou não) do princípio da bagatela.
Até pouco tempo, adotava-se como patamar para fins de incidência do citado princípio o quantum
previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/02: R$ 10.000,00 (dez mil reais). Os Tribunais pátrios passaram a
entender que não seria possível que uma conduta administrativamente irrelevante tivesse relevância
criminal, sob pena de violação dos princípios da subsidiariedade, da fragmentariedade, da necessidade e
da intervenção mínima (REsp n. 1.112.748/TO).

1
SANCHES, Rogério. ob. cit. p. 78.
2
STF, HC 84412, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19.10.2004, DJ 19-11-2004 PP-
00037 EMENT VOL-02173-02 PP-00229 RT v. 94, n. 834, 2005, p. 477-481 RTJ VOL-00192-03 PP-00963

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Com o advento da Portaria n. 75/2012, outra discussão começou. Isso porque no art. 1º, inc. II, da referida
normativa restou determinado o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda
Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Assim, discutiu-se
se esse seria, também, o novo patamar para os crimes tributários, em relação à insignificância.
Adotando a mesma linha de interpretação, tanto o STJ quanto o STF passaram a adotar o patamar da
Portaria n. 75/2012 para os crimes tributários federais.

O descaminho é considerado um crime contra a ordem tributária. Logo, deverá ser aplicado o princípio
da insignificância se o montante do imposto que deixou de ser pago era igual ou inferior a 20 mil reais
(posição do STF HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04.02.2014 e STJ. 3ª Seção. REsp
1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28.02.2018 (recurso repetitivo).

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art.
20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério
da Fazenda.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28.02.2018 (recurso
repetitivo).

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, EMAP, 2018: Em razão do princípio da proteção da coisa pública, o tipo penal que
prevê o crime de descaminho não permite a aplicação do princípio da insignificância.
Errado.

A admissão da bagatela, porém, é no caso de não haver reiteração criminosa (STF, 2ª T., HC 120.320/RS,
dentre outros precedentes). Cite-se um entendimento do STF sobre o tema:

STJ: A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de


descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a
medida é socialmente recomendável.
Assim, pode-se afirmar que:
• Em regra, não se aplica o princípio da insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar
demonstrada a sua reiteração criminosa (criminoso habitual).

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• Exceção: o julgador poderá aplicar o referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto,
entender que a medida é socialmente recomendável.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1217514-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9.12.2015 (Info 575).

IMPORTANTE! Lembrando que esse patamar da Lei n. 10.522/02 e da Portaria n. 75/2012 só se aplica aos
crimes relacionados com tributos federais. Para fins de crimes tributários que envolvam tributos
estaduais ou municipais, deve ser analisado se há lei estadual ou municipal dispensando a execução fiscal
no caso de tributos abaixo de determinado valor. Se houver, esse será o parâmetro para a insignificância.
(Info 540).

Valor considerado para fins de aplicação do princípio da insignificância:


O valor a ser considerado para fins e aplicação do princípio da bagatela é aquele fixado no momento da
consumação do crime, vale dizer, da constituição definitiva do crédito tributário, e não aquele
posteriormente alcançado com a inclusão de juros e multa por ocasião da inscrição desse crédito da dívida
ativa (STJ, AREsp 625.888 SP).

1.3. Análise dos tipos penais

Sujeito Passivo:
O Estado. Ou seja, a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o cumprimento
da obrigação tributária.

Sujeito Ativo:
Cuida-se de crime próprio, que exige uma qualidade especial do agente, qual seja, a de sujeito passivo
da obrigação tributária.

No caso do sócio da empresa, não basta que ele apenas faça parte do quadro da empresa, e conste no

contrato social como administrador, mas que tenha o domínio do fato, ou seja, o real poder de mando:

a) Com a efetiva participação da administração da empresa, atuando com poderes deliberativos.


b) Concorrendo para a prática de qualquer conduta criminalizada.

Jurisprudência:

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O simples fato de ser sócio não conduz à responsabilidade criminal sob pena de restar configurada a
repudiada responsabilidade criminal objetiva. (HC 224.728/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 10.06.2014, DJe 27.06.2014)

Elemento Subjetivo:
Os crimes tributários, previstos na lei 8.137, exigem vontade consciente em praticar o delito, portanto
são dolosos, não existe previsão de crime tributário culposo.

Tipos Penais:

CAPÍTULO I
Dos Crimes Contra a Ordem Tributária
Seção I
Dos crimes praticados por particulares

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer
natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento
relativo à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato;

Crimes Materiais Tributários:


Os crimes tipificados nos incisos acima descritos são crimes materiais, conforme SV n. 24. Dessa forma,
é indispensável a constituição definitiva do crédito tributário, senão vejamos:

Súmula Vinculante n. 24: Não se tipifica crime MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no art. 1º,
incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo.

Como caiu em prova:

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CESPE/CEBRASPE, MP-RR, 2017 (Adaptada): João, prestador de serviços, trabalha como MEI na forma
da Lei Complementar n.º 123/2006 (SIMPLES Nacional). Nessa qualidade, com o propósito de recolher
menos tributo, ele informou à RFB ter recebido, no exercício de 2016, a receita bruta de R$ 50.000, mas
a RFB constatou que sua receita bruta real nesse exercício havia sido de R$ 120.000. Ante a existência de
provas suficientes desses fatos, a conduta de João foi tipificada como dolosa.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta com base na Lei n.º 8.137/1990, que dispõe
sobre crimes contra a ordem tributária.
A conduta de João poderá ser tipificada como crime contra a ordem tributária somente após o
lançamento definitivo do tributo em exame.
Certo.
CESPE/CEBRASPE, PC-GO, DPC, 2017: Considere os seguintes atos, praticados com o objetivo de suprimir
tributo:
1) Marcelo prestou declaração falsa às autoridades fazendárias;
2) Hélio negou-se a emitir, quando isso era obrigatório, nota fiscal relativa a venda de determinada
mercadoria;
3) Joel deixou de fornecer nota fiscal relativa a prestação de serviço efetivamente realizado.
Nessas situações, conforme a Lei n.º 8.137/1990 e o entendimento do STF, para que o ato praticado
tipifique crime material contra a ordem tributária, será necessário o prévio lançamento definitivo do
tributo em relação a
A) Hélio e Joel
B) Marcelo apenas
C) Hélio apenas
D) Joel apenas
E) Hélio , Marcelo e Joel
Gab.: “B”.

Nesse sentido:

Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 90):


Tese 5: A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutas
previstas no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90, conforme a súmula vinculante n. 24/STF.

Como caiu em prova:

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CESPE/CEBRASPE, MPE-PI/PROMOTOR, 2019: A empresa DEF Ltda. recebeu auto de infração no valor de
R$ 250 mil no qual, além de ser cobrado o principal do imposto devido e os juros, também foi aplicada
multa agravada, em razão de ter a fiscalização apurado a ocorrência de omissão proposital de informação,
além de prestação falsa de declaração às autoridades fazendárias, com a finalidade de reduzir o valor do
tributo devido. Da lavratura do auto de infração foi dada imediata ciência ao Ministério Público, via
representação, para eventual proposição de denúncia na esfera criminal.
Caso a empresa venha a recorrer administrativamente do auto de infração, não estará tipificado o crime
contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, I, da Lei nº 8.137/1990, antes do lançamento definitivo
do tributo.
Certo.

Inviabilidade de instauração da persecução penal (inquérito policial e ação penal) antes da constituição
definitiva do crédito tributário nos crimes materiais tributários:

A ausência de constituição definitiva do crédito tributário inviabiliza o desenvolvimento válido da


persecução criminal, acarretando o trancamento da ação penal por ausência de justa causa, o que não
impede o oferecimento de nova denúncia (ou aditamento da já existente) após o exaurimento da via
administrativa, a teor do disposto na Súmula Vinculante 24. (STF, ARE 1.047.419 AgR, rel. min. Dias
Toffoli, 2ª T, j. 27.3.2018, DJE77 de 23.4.2018.)

A constituição do crédito tributário após o recebimento da denúncia tem o condão de convalidar atos
realizados em ação penal?
NÃO. Nesses casos, a decisão definitiva do processo administrativo que realiza lançamento do crédito
tributário definitivamente consubstancia condição objetiva de punibilidade, pois sem ela não existe
suposto débito tributário, nem existe crime. Uma vez que essa atividade persecutória funda-se tão
somente na existência de suposto débito tributário, não é legítimo ao Estado instaurar processo penal
cujo objeto coincida com o de apuração tributária que ainda não foi finalizada na esfera administrativa.
(HC 102.477, voto do rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T, j. 28-6-2011,DJE 153 de 10-8-2011.)

Como caiu em prova:

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CESPE/CEBRASPE, PC-GO, 2017 (Adaptada): Para o STF, haverá crime contra a ordem tributária, ainda
que esteja pendente de recurso administrativo que discuta o débito tributário em procedimento
fazendário específico, haja vista independência dos poderes.
Errado.
CESPE/CEBRASPE, CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014: Considera-se típica, segundo o entendimento do
STF, a conduta de falsificar nota fiscal, ainda que a autoridade tributária não tenha efetivado o
lançamento definitivo do tributo.
Errado.
CESPE/CEBRASPE, MPE-PI/ANALISTA, 2018: É indispensável o lançamento definitivo do tributo para a
tipificação dos crimes materiais contra a ordem tributária.
Certo.

Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário (SV 24), NÃO
sendo necessária a juntada integral do PAF correspondente. A validade do crédito fiscal deve ser
examinada no Juízo cível, não cabendo à esfera penal qualquer tentativa de sua desconstituição.
A omissão reiterada no pagamento de tributos não legitima a instauração de persecução penal antes da
constituição definitiva dos créditos tributários
A jurisprudência do STF firmou-se no sentido de que a prisão em decorrência de crimes contra a ordem
tributária, por sua natureza penal, em nada se aproxima de prisão civil por dívida. (RE 630495 AgR,
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 22.02.2011, DJe-098 DIVULG 24-05-2011
PUBLIC 25-05-2011 EMENT VOL-02529-02 PP-00488)

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, PGE-SE, 2017: Pedro, contribuinte do ICMS, omitiu a venda de certas mercadorias na
declaração prestada ao fisco, referente ao lançamento desse tributo. Dessa forma, deixou de recolher o
ICMS devido no prazo legal.
Efetuado o lançamento definitivo do tributo, permanecendo Pedro inadimplente, o auditor responsável
elaborou uma representação fiscal para fins penais, enquadrando a conduta de Pedro como crime contra
a ordem tributária, previsto na legislação pertinente (Lei n.º 8.137/1990).
Em sua defesa, Pedro alegou a inconstitucionalidade da referida normativa, sustentando que a CF veda a
prisão por dívida, com a única exceção do devedor de alimentos
Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência do STF, o argumento de defesa apresentado por
Pedro é

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a) apropriado, já que a CF se opõe à criminalização do contribuinte pela simples omissão de rendimentos.
b) adequado, pois a CF proíbe a aplicação de pena de prisão a mero inadimplemento cível, a ser cobrado
mediante execução fiscal.
c) inconsistente, em razão da constitucionalidade da Lei n.º 8.137/1990, que prevê a prisão apenas por
crimes materiais.
d) inconsistente, em razão da constitucionalidade da Lei n.º 8.137/1990, que autoriza a prisão pela
natureza penal dos crimes contra a ordem tributária, não sendo esse fato hipótese de prisão civil por
dívida.
e) adequado, uma vez que a CF veda a prisão criminal por dívida, mesmo que esta seja oriunda de não
pagamento de tributo.
Gab.: “D”.

Exceção (mitigação) à súmula vinculante n. 24 do STF:


O STF tem decidido que a regra contida na Súmula Vinculante n. 24 pode ser mitigada de acordo com as
peculiaridades do caso concreto, sendo possível dar início à persecução penal antes de encerrado o
procedimento administrativo, nos casos de:

• embaraço à fiscalização tributária; ou

• diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal.

Nesse sentido:

Os crimes contra a ordem tributária pressupõem a prévia constituição definitiva do crédito na via
administrativa para fins de tipificação da conduta. A jurisprudência desta Corte deu origem à Súmula
Vinculante 24 (...)
Não obstante a jurisprudência pacífica quanto ao termo inicial dos crimes contra a ordem tributária, o
Supremo Tribunal Federal tem decidido que a regra contida na Súmula Vinculante 24 pode ser mitigada
de acordo com as peculiaridades do caso concreto, sendo possível dar início à persecução penal antes de
encerrado o procedimento administrativo, nos casos de embaraço à fiscalização tributária ou diante de
indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal.
STF. 1ª Turma. ARE 936653 AgR, Rel. Min Roberto Barroso, julgado em 24/05/2016.

A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que se admite a mitigação da Súmula
Vinculante n. 24/STF nos casos em que houver embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da

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prática de outras infrações de natureza não tributária. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 551422/PI, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 09/06/2020. STJ. 5ª Turma. RHC 134.016/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 23/03/2021.

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, MPE-SE, 2010: Em recente decisão, o STF entendeu que é possível a instauração de
inquérito policial para apuração de crime contra a ordem tributária, antes do encerramento do processo
administrativo-fiscal, quando isso for imprescindível para viabilizar a fiscalização.
Certo.

A SV 24 pode ser aplicada a fatos anteriores à sua edição?


SIM. Vide:

A Súmula Vinculante 24 tem aplicação aos fatos ocorridos anteriormente à sua edição.
Como a SV 24 representa a mera consolidação da interpretação judicial que já era adotada pelo STF e
pelo STJ mesmo antes da sua edição, entende-se que é possível a aplicação do enunciado para fatos
ocorridos anteriormente à sua publicação.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19.5.2015 (Info 786).
STJ. 3ª Seção. EREsp 1318662-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28.11.2018 (Info 639).

O termo inicial da prescrição da ação dos crimes materiais previstos no art.1º da Lei 8.137/1990 é a data
da consumação do delito, que, conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, corresponde à
data da constituição definitiva do crédito tributário.(RHC 122.339 AgR, rel. min. Roberto Barroso, 1ª T,
j. 4.8.2015,DJE171 de 1º.9.2015.)

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, TJDFT/JUIZ, 2014 (Adaptada): O prazo prescricional do delito material contra a ordem
tributária começa a correr do dia da prática do fato reputado como criminoso.
Errada.
FCC, TRF3/ANALISTA, 2014 (Adaptada): Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto
no art. 1º, incisos I a IV, da Lei no 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
O enunciado da Súmula Vinculante 24 do STF, citado acima, mais diretamente implica que a prescrição
começa a correr do dia em que o crime se consumou.

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Certo.

Assim, não há falar-se em início do lapso prescricional, que somente se iniciará com a consumação do
delito, nos termos do art. 111, I, do Código Penal (STF, HC 83.414 RS).

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a
venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com
a legislação.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que
poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade
quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.

ATENÇÃO! A aplicação da Súmula vinculante n. 24, comentários acima, restringe-se às condutas previstas
nos. Incisos I a IV do art. 1º da Lei n. 8.137/90. Assim, o delito trazido no inc. V do art. 1º da mesma lei,
bem como o parágrafo único do art. 1º, não teriam o lançamento definitivo do tributo como condição
objetiva de punibilidade para a deflagração da persecução penal.
Nesse sentido, é firme a jurisprudência do STJ no sentido que o delito inc. V do art. 1º da Lei n. 8.137/90
é formal e prescinde do processo administrativo-fiscal para o desencadeamento da persecução penal,
não se sujeitando aos termos da SV 24 do STF (Precedentes: RHC 76.937 MG; REsp 1.377.513).

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, PGE-BA, 2014: Suponha que, antes do término do correspondente processo
administrativo de lançamento tributário, o MP tenha oferecido denúncia contra Maurício, por ter ele
deixado de fornecer, em algumas situações, notas fiscais relativas a mercadorias efetivamente vendidas
em seu estabelecimento comercial. Nesse caso, de acordo com a jurisprudência pacífica do STF, a inicial
acusatória não deve ser recebida pelo magistrado, dada a ausência de configuração de crime material.
Errado.
FCC, PGM CAMPINAS, 2016 (Adaptada): A conduta de deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal
ao comprador de mercadoria constitui crime contra a ordem tributária.
Certo.

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CESPE/CEBRASPE, TJ-PB/JUIZ, 2015 (Adaptada): Deixar de fornecer, quando obrigatória, nota fiscal
relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço efetivamente realizado é crime cuja conduta
típica classifica-se como material, visto que somente se consuma quando há o lançamento definitivo do
tributo.
Errado.
MPE-MG/PROMOTOR (BANCA PRÓPRIA), 2013 (Adaptada): Segundo orientação do Supremo Tribunal
Federal, não se tipifica crime material contra a ordem tributária antes do lançamento definitivo do
tributo, a supressão ou redução deste, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas, exceto: Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento
equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-
la em desacordo com a legislação.
Certo.
TRF2/JUIZ, BANCA PRÓPRIA, 2017 (Adaptada): Nos termos da Súmula Vinculante 24 do STF, os crimes
contra a ordem tributária previstos no art. 1º, incisos I a IV, da Lei n° 8.137/90 não se tipificam antes do
lançamento definitivo do tributo. Contudo, o delito do art. 1º, inciso V, da Lei n.° 8.137/90 (“negar ou
deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de
mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a
legislação"), sendo formal, independe do lançamento tributário.
Certo.

Em relação ao parágrafo único do art. 1º da Lei 8.137/90 há uma polêmica quanto à natureza: se material
ou formal. De lado há quem sustente que o crime possui natureza formal, no sentido de que se sua
consumação ocorre com a simples falta de atendimento da exigência feita pela autoridade fiscal,
independentemente da supressão ou redução de tributo, contribuição social ou qualquer acessório (STJ,
5ª turma, AgRg no AREsp 1.126.039 SP, j. em 21.11.2017; 6ª turma, HC 241.770 RJ, j. em 21.06.2016).
Lado outro, há quem defenda que o citado parágrafo único nada mais é do que uma forma de se praticar
o crime do art. 1º da Lei 8.137/90, o qual tem sua consumação atrelada à produção do resultado
supressão ou redução de tributo. Logo, a ele deve ser atribuída a mesma natureza: crime material. Esse
ponto de vista foi lançado em julgados mais antigos da 6ª turma, como: REsp 113.460, j. 24.112009).

Crimes Formais Tributários:

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Os crimes previstos nos artigos 1º, inciso V, parágrafo único (adotando os julgados mais recentes, embora
tenha divergência), 2º e da Lei 8.137/90 são crimes formais, ou seja, consumam independentemente do
resultado.
Os crimes formais tributários têm como termo inicial do prazo prescricional, a conduta instrumental
(momento da consumação do delito), haja vista não ser necessária a efetiva supressão ou redução do
tributo para a sua consumação. (RHC 36.024/ES, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 25.08.2015, DJe 01.09.2015)
Apesar de estar previsto no Código Penal o descaminho é considerado pela doutrina como crime
tributário formal. Logo, para que seja proposta ação penal por descaminho NÃO É NECESSÁRIA a prévia
constituição definitiva do crédito tributário. Em outros termos, não se aplica a Súmula Vinculante 24 do
STF.

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, PGM BH, 2017 (Adaptada): Com relação aos crimes em espécie previstos no CP, Para
a configuração do crime de descaminho, é necessária a constituição definitiva do crédito tributário por
processo administrativo-fiscal.
Errado.

Decisão final do procedimento administrativo de lançamento:


Aqui um ponto importante, a decisão final do procedimento administrativo de lançamento funciona
como condição objetiva de punibilidade apenas nos crimes materiais contra a ordem tributária, que tem
a consumação condicionada à produção de resultado.
Assim, na hipótese de delito formal, como é o caso do art. 2º da Lei 8.137/90, a conclusão do
procedimento administrativo é desnecessária para a persecução penal. Esse é o entendimento do STF
(RHC 90.532).

Como caiu em prova:


FMP CONCURSOS, TCE-RS/AUDITOR, 2011 (Adaptada): Não se tipifica crime material ou formal contra a
ordem tributária, previstos no art. 1º, incisos I a V, e no art. 2º, incisos I a V, da Lei nº 8.137/90, antes do
lançamento definitivo do tributo.
Errado.

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Extinção da punibilidade pelo pagamento integral de débito mesmo após o trânsito em julgado:
“O pagamento do tributo, a qualquer tempo, até mesmo após o advento do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, é causa de extinção da punibilidade do acusado”, nos termos do art. 9º,
§ 2º, da Lei nº 10.684/03 (Altera a legislação tributária, dispõe sobre parcelamento de débitos junto à
Secretaria da Receita Federal, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e ao Instituto Nacional do Seguro
Social e dá outras providências)”. (HC 362.478/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 14.09.2017, DJe 20.09.2017)
Essa é a linha do STF também (RHC 128245).

Contudo, o pagamento da multa tributária não extingue a punibilidade do crime previsto no art. 1º, V, da
Lei 8.137/90, que deixa de atender às exigências da autoridade tributária quanto a exibição de
documentos e livros fiscais. (HC 362.478/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
14.09.2017, DJe 20.09.2017)

IMPORTANTE! Vale lembrar que a extinção do crédito tributário pela PRESCRIÇÃO não implica,
necessariamente, a extinção da punibilidade do agente.

Tipo Penal Misto Alternativo (Art. 1º, I a V, da lei 8137/90):


No crime de sonegação fiscal o bem jurídico tutelado não é o patrimônio ou erário de cada pessoa jurídica
de direito público, mas, sim, a ordem jurídica tributária como um todo. Assim, a conduta consistente em
praticar qualquer uma ou todas as modalidades descritas nos incisos I a V do art. 1 da Lei nº 8.137/90
(crime misto alternativo) conduz à consumação de crime de sonegação fiscal quando houver supressão
ou redução de tributo, pouco importando o número de tributos atingidos, razão pela qual não há
concurso formal, mas crime único, na hipótese em que o contribuinte, numa única conduta, declara
Imposto de Renda de Pessoa Jurídica com a inserção de dados falsos, ainda que tal conduta tenha obstado
o lançamento de mais de um tributo ou contribuição. (REsp 1294687/PE, Rel. Ministra MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 15.10.2013, DJe 24.10.2013)

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:


I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude,
para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado,
na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;

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III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a
parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;
IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto
liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;
V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação
tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Os delitos do art. 2º da Lei 8.137/90 são de menor potencial ofensivo, a ser processados e julgados
perante os Juizados Especiais Criminais, Estaduais ou Federais, a depender do caso concreto. Assim, a
eles serão aplicáveis os institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95, a exemplo da
composição civil dos danos, transação penal e suspensão condicional do processo.

Apropriação indébita:
O art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 é uma forma especial de apropriação indébita.
É muito semelhante também com o delito de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP),
sendo a principal diferença a seguinte:
Art. 168-A do CP Art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90
O agente deixa de repassar contribuições O agente deixa de repassar quaisquer outros
previdenciárias recolhidas dos contribuintes. tributos (que não contribuições previdenciárias)
recolhidas dos contribuintes.

Sujeito ativo
O sujeito ativo do crime é o sujeito passivo da obrigação.
Desse modo, o sujeito ativo do crime é aquele que ostenta a qualidade de sujeito passivo da obrigação
tributária, conforme claramente descrito pelo art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90: “deixar de recolher (...) na
qualidade de sujeito passivo da obrigação”.
Um ponto interessante é que a lei, quando aponta o sujeito ativo do crime como sendo o passivo da
obrigação tributária, o faz de maneira geral, isto é, não distingue o sujeito passivo direto do indireto da
obrigação tributária.
Logo, nada impede que o sujeito ativo deste crime possa ser:

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• o contribuinte (sujeito passivo direto da obrigação tributária); ou

• o responsável tributário (sujeito passivo indireto da obrigação tributária).

Assim, o termo “sujeito passivo de obrigação”, previsto no tipo penal, abrange o contribuinte e o
responsável (substituição tributária).

Crime comum:
Doutrinariamente, é classificado como crime comum, considerando que não se exige qualidade especial
do sujeito ativo (pode ser qualquer pessoa que tinha responsabilidade pelo recolhimento e não o fez
dolosamente).

Sujeito passivo:
Será a União, o Estado-membro ou o Município tributante.

Objeto:
O objeto do delito é o valor do tributo. No caso, a quantia transferida pelo consumidor ao comerciante.

Tipo objetivo:
Algumas vezes a legislação estabelece que a pessoa tem, como obrigação tributária acessória, que
recolher o tributo ou a contribuição social devida por outra e depois repassar esse valor ao ente
tributante.
Ex. 1: o empregador, ao efetuar o pagamento do salário do empregado, deverá reter uma parcela desse
rendimento e repassar tal valor à Receita Federal.
Se a pessoa fizer o desconto e não recolher, no prazo legal, o valor do tributo ou da contribuição social
para o Fisco, haverá a prática desse crime.

Elemento subjetivo:
O delito exige, para sua configuração, que a conduta seja dolosa, consistente na consciência (ainda que
potencial) de não recolher o valor do tributo.
Não existe modalidade culposa.

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Para que se configure o crime é necessária a existência de elemento subjetivo especial (“dolo
específico”)?
SIM.

Para a configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, deve ser comprovado o dolo
específico.
STJ. 6ª Turma. HC 675.289-SC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 16/11/2021 (Info 718).

A orientação do STJ era no sentido de que para o delito previsto no inciso II do art. 2º da Lei nº 8.137/90,
não havia exigência de dolo específico, mas apenas de dolo genérico.
Contudo, o STJ mudou de entendimento depois do julgamento do STF no qual a Corte afirmou que “o
contribuinte que deixa de recolher, de forma contumaz e com dolo de apropriação, o ICMS cobrado do
adquirente da mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990” (STF.
Plenário. RHC 163.334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019).
Desse modo, deve ser averiguada a existência de dolo específico de apropriação para fins de configuração
do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/1990, sob pena de ser reconhecida a absolvição.

Dolo de apropriação (= exige dolo específico)

O contribuinte que deixa de recolher, de forma contumaz e com dolo de apropriação, o ICMS cobrado do
adquirente da mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90.
STF. Plenário. RHC 163334, Rel. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019.

A configuração do crime de apropriação indébita tributária não pressupõe a clandestinidade:

Para a configuração da apropriação indébita tributária, o fato de o agente registrar, apurar e declarar em
guia própria ou em livros fiscais o imposto devido não tem o condão de elidir (fazer desaparecer) ou
exercer nenhuma influência na prática do delito, visto que este não pressupõe a clandestinidade (não se
exige que seja feito às escondidas).
Ademais, o crime previsto no art. 2º, II, da Lei 8.137/90 não exige para sua configuração a existência de
ardil, fraude ou falsidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 609.039/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/11/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 476.704/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/09/2019.

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Crimes funcionais contra a Administração Fazendária:
Para fins de tipificação dos crimes constantes do art. 3º da Lei 8.137/90, funcionário público é aquele cujo
emprego, cargo ou função tenha relação com a administração do erário público.
IMPORTANTE! Em caso de conflito aparente de normas, os crimes do art. 3º, incisos, I, II e III, da Lei n.
8.137/90, devem prevalecer em detrimento das figuras delituosas dos crimes de extravio, sonegação ou
inutilização de livro ou documento (art. 314 do CP), concussão e corrupção passiva (arts. 316 e 317 do
CP), e advocacia administrativa (art. 321 do CP), em atenção ao princípio da especialidade.

Seção II
Dos crimes praticados por funcionários públicos
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da
função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de
tributo ou contribuição social;

Cuida-se de crime material, pois a infração exige ocorrência do resultado, qual seja, o de provocar o
recolhimento indevido do tributo.

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena
- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-
se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, CÂMARA DOS DEPUTADOS/ANALISTA, 2014: A conduta do fiscal que aceita promessa
de vantagem pecuniária para deixar de lançar contribuição social devida pelo contribuinte é tipificada
como crime funcional contra a ordem tributária.
Certo.

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O delito do art. 3º pode ser competido em concurso de agentes particulares?
Em tese SIM. A qualidade de funcionário público da administração fazendária é elementar do delito do
art. 3º da Lei 8.137/90. Sendo assim, desde que o particular (extraneus) tenha consciência quanto à
presença dessa elementar, poderá responder normalmente por tal delito, nos termos do art. 30 do CP,
que prevê que não se comunicam as circunstâncias e condições pessoais, salvo quando elementares do
crime.

Suspensão e Extinção da Pretensão Punitiva nos crimes contra a ordem tributária 3:


O pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade,
conforme previu a Lei n. 10.684/2003:

Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos
crimes estiver incluída no regime de parcelamento.(...)
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada
com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais,
inclusive acessórios.

Em 2011, foi editada a Lei n. 12.382, que alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96 e passou a dispor sobre os
efeitos do parcelamento e do pagamento dos créditos tributários no processo penal. Veja o que diz a Lei:

Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos
nos arts. 1º e 2º da Lei n.° 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei n.° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa,
sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.(...)
§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver

3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O prazo da prescrição da pretensão punitiva fica suspenso durante o parcelamento
do débito tributário. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/aa1b6b26d690368d6f74a35a7daa0916>. Acesso
em: 11/12/2020

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incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do
recebimento da denúncia criminal.
§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.

O art. 83 da Lei n. 9.430/96 refere-se a quais crimes?

• crimes contra a ordem tributária previstos no arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90;

• apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP); e

• sonegação previdenciária (art. 337-A do CP).

O término do procedimento administrativo-fiscal é indispensável para que o Ministério Público ofereça


denúncia contra os agentes pela prática dos crimes acima listados?

Para os crimes tributários materiais: SIM;

Para os crimes tributários formais: NÃO.

Nesse sentido:

Súmula vinculante n. 24 do STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo
1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Os crimes acima listados são materiais ou formais?

• art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90: materiais;

• art. 1º, inciso V, da Lei nº 8.137/90: formal;

• art. 2º da Lei nº 8.137/90: formal;

• apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP): material;

• sonegação previdenciária (art. 337-A do CP): material.

O art. 83 da Lei n. 9.430/96 é constitucional?


SIM.

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A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de
sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério público depois de proferida a
decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
STF. Plenário. ADI 4980/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 10/3/2022 (Info 1047).

O que acontece se o réu de um crime contra a ordem tributária aderir ao parcelamento da dívida?
Haverá a suspensão do processo penal. Nos crimes contra a ordem tributária, quando o agente ingressa
no regime de parcelamento dos débitos tributários, fica suspensa a pretensão punitiva penal do Estado
(o processo criminal fica suspenso).

Durante o parcelamento o que ocorre com o prazo prescricional?


Também fica suspenso.

O prazo prescricional não corre enquanto estiverem sendo cumpridas as condições do parcelamento do
débito fiscal. É o que prevê o art. 9º, § 1º da Lei nº 10.684/2003.
Se, ao final, o réu pagar integralmente os débitos, haverá a extinção da punibilidade.
STF. 2ª Turma. ARE 1037087 AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14.8.2018 (Info 911).

O parcelamento do crédito tributário precisa ser antes do recebimento da denúncia?


• Créditos tributários constituídos antes da Lei nº 12.382/2011 (antes de 01/03/2011): NÃO. O
parcelamento podia ser feito após o recebimento da denúncia.
• Créditos tributários constituídos após a Lei nº 12.382/2011 (dia 01/03/2011 ou depois): SIM. O
parcelamento do crédito tributário, realizado após o oferecimento da denúncia, não extingue a
punibilidade do ilícito penal (STJ. 5ª Turma. HC 505.195/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
06/08/2019).

(...) 3. Antes da alteração do art. 83 da Lei n. 9.430/1996 pela Lei nº 12.382/2011, mesmo após o
recebimento da denúncia da ação penal, a adesão a programa de parcelamento de crédito tributário
permitia a suspensão da pretensão punitiva estatal e do prazo prescricional.
4. Em razão de a nova redação do art. 83 da Lei n. 9.430/1996 estabelecer regramento menos benéfico -
porque limitou os efeitos do parcelamento àqueles casos em que a adesão ao programa tenha se dado
antes do recebimento da denúncia -, este STJ decidiu que o art. 83 da Lei nº 9.430/1996, com a redação

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da Lei n. 12.382/2011, somente se aplicaria às condutas posteriores a sua entrada em vigor, em 1°/3/2011
(art. 7º).
5. No caso, a constituição definitiva do crédito tributário ocorreu em 20/11/2012.
6. A adesão ao Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) da Lei n. 13.496/2017, em 7/8/2017,
não implica suspensão da pretensão punitiva nem do prazo prescricional, porque se deu em data
posterior ao recebimento da denúncia da Ação Penal n. 0006722-15.2014.4.05.8300, em 8/8/2014.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 485.562/PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26.03.2019.

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRASPE, CÂMARA DOS DEPUTADOS/ANALISTA, 2014: Extinguir-se-á a punibilidade da conduta
de sonegar impostos no caso de o agente efetuar o pagamento integral dos débitos antes do
oferecimento da denúncia correspondente. Uma vez recebida a petição inicial, caso o agente quite ou
parcele os débitos antes da sentença condenatória, fará ele jus à diminuição da pena.
Errado.

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2. CRIMES CONTRA A ECONOMIA

A Constituição Federal, objetivando a proteção da ordem econômica, dispõe que a lei reprimirá o abuso
do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e o aumento
arbitrário dos lucros (art. 173, §4º).
Originariamente, os crimes contra a ordem econômica estavam tipificados nos arts. 4º, 5º e 6º da Lei
8.137/90. Contudo, com a publicação da Lei n. 12.529/11, que estruturou o Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência, os arts. 5º e 6º da Lei 8.137/90 foram revogados. Além disso, foi conferida nova redação
ao inciso I do art. 4º da Lei 8.137/90, que teve todas as suas alíneas (“a” a “f”) revogadas. A Lei do CADE
também revogou os incisos III a VII do art. 4º da Lei 8.137/90, prevendo, ademais, que a pena de multa
cominada para o referido delito não mais seria aplicada de maneira alternativa, mas sim cumulativamente
com a pena de reclusão, de 2 a 5 anos.

Art. 4° Constitui crime contra a ordem econômica:


I - abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a
concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).
a) (revogada);
b) (revogada);
c) (revogada);
d) (revogada);
e) (revogada);
f) (revogada);

Bem jurídico tutelado:


Ordem econômico-financeira, mais precisamente a livre-inciativa e a livre concorrência.

Sujeitos do crime:
Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.
O sujeito passivo do delito é a coletividade.

Tipo objetivo:

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O núcleo do tipo penal é abusar, que significa fazer uso desmedido de algo, ultrapassar os limites. Esse
abuso deve incidir sobre o poder econômico, a ser compreendido como a força ou capacidade econômica
do agente.
Esse abuso deve resultar:

Domínio de mercado;

Eliminação, total ou parcial, da concorrência;

Tipo subjetivo:
A conduta é punida exclusivamente a título doloso. Não há dolo específico.

Consumação e tentativa:
Trata-se de crime material, cuja consumação está condicionada à produção do resultado naturalístico
consubstanciado na dominação do mercado ou na eliminação, total ou parcial, da concorrência. Entende
Renato Brasileiro ser possível a figura da tentativa.

(...) II - formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando: (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).
a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas; (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011).
b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas; (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).
c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. (Redação
dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.

Segundo Renato Brasileiro, enquanto o crime do inciso I é espécie de crime material, cuja consumação
está condicionada à produção do resultado naturalístico domínio de mercado ou eliminação total ou
parcial da concorrência; o crime do inciso II é espécie de crime formal. Ele consuma-se com a simples
formação de acordo viando à dominação de marcado ou à eliminação da concorrência através da prática
de uma das condutas descritas em suas alíneas.

Bem jurídico tutelado:

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Ordem econômico-financeira, mais precisamente a livre-inciativa e a livre concorrência.

Sujeitos do crime:
Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.
O sujeito passivo do delito é a coletividade.

Tipo subjetivo:
Além do dolo genérico, consistente na formação do acordo, convênio, ajuste ou aliança entre os
ofertantes, também se exige o dolo específico, caracterizado pela fixação artificial de preços ou
quantidades vendidas ou produzidas, pretensão de controle regionalizado do mercado por empresa ou
grupo de empresas, e controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de
fornecedores.
Não há previsão da modalidade culposa.

Consumação e tentativa:
Por ser classificado como crime formal, o crime do inciso II estará consumado com a formalização do
acordo, convênio ou aliança entre os ofertantes.
Renato Brasileiro dita ser, ao menos em tese, possível a tentativa quando as condutas incriminadas
assumirem feição plurissubsistente, havendo inter criminis.

Como caiu em prova:


VUNESP, TJ-RS, 2019 (Adaptada): A conduta de formar ajuste entre ofertantes, visando à fixação artificial
de preços, é tipificada como crime contra a ordem econômica.
Certo.

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3. CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO

A Constituição Federal prega que o Estado deve promover, na forma da lei, a defesa do consumidor (art.
5º, XXXII, da CF). Além disso, dispõe que a ordem econômica está sujeita à observância de diversos
princípios, dentre eles a defesa do consumidor (art. 170, V, da CF).
Um ponto importante, é que a proteção penal ofertada ao consumidor não se esgota no âmbito do CDC,
muito embora ali estejam previstos os principais preceitos legais incriminatórios. Há outras leis que
também asseguram os direitos destinados aos consumidores: Lei n. 1.521/21 e Lei 8.137/90.

Sujeitos do crime:
Pelo menos em regra, o sujeito ativo dos crimes contra as relações de consumo previstos no art. 7º da Lei
8.137/90 é o fornecedor de produtos ou serviços.
Consoante disposto no art. 3º, caput, do CDC, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Assim, trata-se de crime próprio, porquanto demanda a condição do agente para configuração do tipo
penal incriminador.
O sujeito passivo dos crimes contra as relações de consumo é a coletividade de consumidores, ou seja,
o conjunto de pessoas que participa das relações de consumo, englobando não apenas as pessoas físicas
e jurídicas determinadas, mas também a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que tenham
intervindo nas relações de consumo (art. 2º, parágrafo único, do CDC). Outrossim, de acordo com o art.
29 do CDC, a coletividade de consumidores também abrange todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas comerciais criminalizadas no art. 7º da Lei 8.137/90.

Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:


I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao
consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores;
II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja
em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial;
III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como
puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por
preço estabelecido para os demais mais alto custo;

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IV - fraudar preços por meio de:
a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal
externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de
bem ou serviço;
b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto;
c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado;
d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços;
V - elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão
ou de taxa de juros ilegais;
VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições
publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação;
VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre
a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou
divulgação publicitária;
VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço,
em proveito próprio ou de terceiros;
IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-
prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-se a modalidade culposa, reduzindo-se a pena
e a detenção de 1/3 (um terço) ou a de multa à quinta parte.

Inicialmente, destaque-se que, conquanto todas as figuras delituosas estejam listadas no art. 7º, cada um
dos seus nove incisos funcionam como um delito autônomo, diverso dos demais.

Como caiu em prova:


CESPE/CEBRAPSE, POLÍCIA FEDERAL/DELEGADO, 2018: Importador ou prestador de serviço que
promover propaganda com o objetivo de obter vantagem indevida com o produto fornecido ou o serviço
prestado cometerá crime contra o consumidor.
Certo.
CESPE/CEBRASPE, PC-DF, 2013: Constitui crime contra as relações de consumo ter em depósito, mesmo
que não seja para vender ou para expor à venda, mercadoria em condições impróprias para o consumo.

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Errado.
FCC, SEFAZ-PI/AUDITOR, 2015 (Adaptada): Constitui crime contra as relações de consumo destruir,
inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar prejuízo à concorrência, em
proveito próprio ou de terceiros.
Errado. O fim é provocar alta de preço.
FCC, SEFAZ-PI/AUDITOR, 2015 (Adaptada): Constitui crime contra as relações de consumo vender ou
expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo
com as prescrições legais, ainda que corresponda à respectiva classificação oficial.
Errado.
É em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial.

FCC, PREFEITURA SÃO LUÍS-MA/AUDITOR, 2018 (Adaptada): De acordo com a Lei no 8.137/1990,
constitui crime contra as relações de consumo induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de
indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se
de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária.
Certo.

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