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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROMOTORIA DE JUSTIÇA JUNTO À 30 VARA CRIMINAL-DA CAPITAL qg °


Autos do Processo n.o 0426893-96.2016.8.19.0001 — Origem: 34a Vara Criminal da
Comarca Da Capital

RECORRENTE: ELPÍDIO CÍCERO GONÇALVES DA SILVA

RECORRIDO: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

AO JUÍZO DE DIREITO DA 34a VARA CRIMINAL DA COMARCA DA


CAPITAL/ RI

Processo n.o 0426893-96.2016.8.19.0001

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO, pela Promotora de Justiça que esta subscreve, no uso de suas
atribuições constitucionais e legais, vem, perante Vossa Excelência, nos
autos do processo em epígrafe, apresentar:

ao recurso de apelação interposto pela defesa de ELPÍDIO


CÍCERO GONÇALVES DA SILVA, requerendo a sua juntada e
encaminhamento à superior instância.

Rio de Jane rço de 2022.

AND EA DE PENTEA O FAVA

Promotora de Justiça

Matrícula no 4859

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 04

_PROMOTORIA_DE JUSTICAJUNTO À 34a_VARA_CRIMINAL DA CAPITAL

Autos do Processo n.o 0426893-96.2016.8.19.0001 — Origem: 34a Vara Criminal da


Comarca Da Capital

RECORRENTE: ELPÍDIO CÍCERO GONÇALVES DA SILVA

RECORRIDO: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO


EGRÉGIO TRIBUNAL,

COLENDA CÂMARA,

DOUTA PROCURADORIA DE 3USTIÇA,

Trata-se de ação penal pública deflagrada em face de


ELPÍDIO CÍCERO GONÇALVES DA SILVA em razão da prática do ilícito
penal previsto no artigo 10, II da Lei no 8.137/90 Por 6 vezes na

• forma do artiao 71 do Código Penai.

O juízo monocrático julgou procedente a pretensão punitiva


estatal, fixando a pena em 03 (três) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de
reclusão, a serem cumpridos em regime inicial aberto, convertida em duas
penas restritivas de direitos (prestação de serviço à comunidade e pena
pecuniária no valor de R$ 2.000,00), conforme respeitável sentença de tis.
864/882.

Regularmente intimada, a defesa técnica interpôs recurso às


fls. 967, oferecendo as respectivas razões de apelação às fls. 968/974,
através das quais pugna pela extinção da punibilidade em razão da quitação
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integral do débito tributário, com a consequente anulação da sentença


condenatória.

Vieram os autos ao Ministério Público para apresentação de


contrarrazões de apelação.

Inicialmente, encontrando-se presentes os requisitos de


admissibilidade, cumpre registrar que não existe óbice ao conhecimento do
recurso defensivo interposto.

Entretanto, não deve prosperar a pretensão defensiva.

I) DAS ALEGAÇÕES DEFENSIVAS

1.1) DO PLEITO DE EXTINCÃO DA PUNIBILIDADE PELA OUITACÃO


DO DÉBITO

Alega a combativa Defesa do recorrente que o apelante deve


ter extinta a punibilidade em razão da liquidação integral do débito tributário,
inclusive reconhecido pelo juízo da Vara de Fazenda Pública, conforme
decisão de fls. 962.

A pretensão do recorrente consistente na declaração de


extinção da punibilidade em razão do pagamento do tributo, a qualquer
tempo, se apoia na interpretação recente jurisprudencial acerca do tema,
diante da sucessão avassaladora de leis no tempo sobre a matéria.

Certo que a Lei 10.684/2003, em seu artigo 9 0, §20 , previu,


expressamente, que o delito do artigo 1 0 da lei n 8137/90 têm extinta a
punibilidade diante do pagamento dos tributos. Em razão da aplicação
isolada do referido dispositivo legal, entende parte da jurisprudência que a
quitação do débito tributário elidiria o réu da responsabilidade penal.
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Isto porque, como o art. 9 0 da Lei no 10.684/2003 não


estabeleceu qualquer restrição quanto ao momento ideal para realização do
pagamento, não caberia ao intérprete impor limitações ao exercício do direito
postulado. Incidiria, dessa maneira, o disposto no art. 61, caput, do CPP.

Esse é o entendimento do DR.]:

0008715-98.2007.8.19.0028 — APELAÇÃO — 1a Ementa — DES.


ANTONIO JAYME BOENTE — Julgamento: 29/05/2012 — PRIMEIRA
CÂMARA CRIMINAL - APELAÇÃO. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
Furto de energia elétrica. Pagamento do débito. Extinção da
punibilidade. Recurso da concessionária. Aplicação analógica das
regras contidas na Lei n.o 10.684/2003, que trata de débitos
tributários. Similitude fático-jurídica entre a hipótese de pagamento
de débitos tributários - aue elide o comerciante da
responsabilidade penal -, com a da quitação do débito referente
às tarifas cobradas pela concessionária de serviço público. Princípio
da isonomia que autoriza e recomenda a adoção, por analogia, da
solução declaratória da extinção da punibilidade do sujeito.
Precedentes. Desprovimento ao recurso.

Esta vertente entende, portanto, que o adimplemento do


débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, seria causa de extinção da
punibilidade do acusado, com base na concepção de que a repressão
penal nos crimes contra a ordem tributária é uma forma reforçada de
execução fiscal e, como tal, a lei deve privilegiar o recebimento do valor
devido pelo contribuinte, em detrimento da imposição de pena corporal.
Assim, não se poderia, segundo esse entendimento, restringir a
aplicabilidade da norma despenalizadora e condicionar o pagamento a
determinado marco temporal.
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Nesta mesma esteira, há alguns julgados das Cortes


Superiores no sentido de que o pagamento integral do débito tributário, a
qualquer tempo, até mesmo após o trânsito em julgado da condenação, é
causa de extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 9 0 , § 2°,
da Lei n0 10.684/2003. (SM 5a Turma.HC 362478-SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/9/2017 e STF. 2a Turma. RHC
1282451 Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2016).

Este entendimento parte da premissa de que as Leis


10684/2003 e 11941/2009, por se tratarem de lex milior, deveriam ser
aplicadas retroativamente, com fulcro no artigo 5 0, inciso XI, da Constituição
Federal, o que importaria na extinção da punibilidade independente do
momento em que fosse feito o pagamento, desde que até o trânsito em
julgado da sentença condenatória.

Ocorre que, na concepção deste órgão ministerial, a


interpretação deve ser mais abrangente, considerando a ratio legislativa e a
vigência de cada norma penal. Nesta linha de raciocínio, em fevereiro de
2011, foi editada a Lei n° 12382/2011, estabelecendo, dentre outras
providências, que as disposições contidas no cacout do art. 34 da Lei
9249/95 (o aual estabelece como marco temporal final para a
declaracão de extincão da punibilidade o pagamento do tributo em
momento anterior ao recebimento da denúncia) aplicam-se aos
processos administrativos, inauéritos e processos em curso, desde
aue não recebida a denúncia °elo juiz. Desse modo, a Lei de 2011 faz
menção expressa ao artigo 34 da Lei n° 9249/95, devendo-se concluir que o
referido dispositivo legal jamais fora revogado e que as normas penais que
tratam sobre o pagamento de tributos e seus efeitos devem ser consideradas
excepcionais.
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Neste sentido, o entendimento doutrinário ora trazido à


colação:

"Destarte, as regras contidas nas leis que dispunham sobre


programas especiais de recuperação fiscal devem ser entendidas como
excepcionais, somente sendo aplicáveis aos crimes referentes aos débitos de
que tratam e não retroativamente a outros não abrangidos pelas mesmas,
em que pesem as decisões do STF acima transcritas." (in LEIS PENAIS
EXTRAVAGANTES, 5a EDIÇÃO, Claudia Barros Portocarrero e Luiz Felipe
Palermo Ferreira, 2020, p. 892)

Assim, não obstante algumas decisões das Cortes Superiores,


a interpretação sistemática conduz à conclusão de que o diploma reitor do
pagamento de débitos tributários é a Lei no 9245 que, em seu art. 34,
estabelece expressamente como termo final para a declaração de extinção
da punibilidade pelo pagamento do tributo o recebimento da denúncia.

In casu, portanto, o pleito defensivo que recorre ao


entendimento jurisprudencial no sentido da inaplicabilidade do marco
temporal estabelecido pela Lei 9249/95 em razão do advento de lei posterior
mais favorável é, com a devida venha, equivocado, por ignorar que o artigo
34 do referido diploma legal não fora revogado.

Assim, irretocável a sentença do juízo monocrático que julgou


procedente a pretensão punitiva estatal, rejeitando o pleito de extinção da
punibilidade.

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II) CONCLUSÃO

Ante o exposto, espera o Ministério Público seja CONHECIDO


o recurso defensivo e, no mérito, lhe seja NEGADO PROVIMENTO.

Rio de Ja o de 2022.

• a de Penteado Fava

P OMOTORA DE JUSTIÇA

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