Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA DE

FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO X

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA AO PROCESSO Nº:

SOCIEDADE EMPRESÁRIA XYZ, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ de nº..., sediada no endereço..., com o endereço
eletrônico..., neste ato representado por seu..., conforme contrato social anexo,
vem, tempestivamente, por intermédio de seu advogado que a esta subscreve,
com endereço profissional na (endereço completo), com fundamento no art. 16
da Lei 6. 830/80 opor EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL COM PEDIDO DE
EFEITO SUSPENSIVO, por dependência ao processo em epígrafe, que lhe
move a FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO X, pessoa jurídica de direito
público, inscrita no CNPJ de nº..., sediada no endereço..., pelas razões de fato
e de direito que passa a expor.

1 – DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

Conforme preceitua o art. 16 §1º da Lei 6.830/80, em face de


execução fiscal, caberá oposição de embargos à execução fiscal, se esta
estiver com garantia em juízo, o que, no caso em tela, se vê pela penhora de
valores suficientes a garantir a mesma.
Ainda, destaca-se que a presente ação encontra-se tempestiva,
pois respeitado o prazo de 30 do art. 16, III da Lei supramencionada, vez que
decorridos 10 dias da intimação da penhora.

2 – DOS FATOS

O Estado X em decorrência das perdas de arrecadação com a


alteração advinda da Emenda Constitucional nº 87/2015, no Art. 155, § 2º,
inciso VII, da CRFB/88, institui por meio de lei ordinária a “Taxa de Vendas
Interestaduais, cuja base de cálculo se dá pelo preço de venda de produtos e
mercadorias para outros estados, devendo o comerciante/contribuinte recolher
o tributo no momento da saída das mercadorias.

Neste tocante, a Empresa Embargante, por entender a medida


imposta como inconstitucional, deixou de recolher o referido tributo, sendo
posteriormente autuada pelo fisco. Ato contínuo, a Embargante fora inscrita em
dívida ativa, sendo distribuída a ação de execução fiscal.

Outrossim, em decorrência da execução fiscal proposta pela


Embargada, sobreveio a penhora em valores suficientes para satisfação da
execução, não restando alternativa, senão a oposição da presente ação.

3 – DOS DIREITOS

IMPUGNAÇÃO AO BIS IN IDEM TRIBUTÁRIO

O art. 145, §5º da CF/88 estabelece que “as taxas não poderão ter base
de cálculo própria de impostos”, no mesmo sentido é a norma do art. 77 do
CTN. No caso em tela, o Estado X está tributando a atividade de venda de
produtos e mercadorias a outros estados, em outras palavras, o Estado X está
utilizando, de maneira integral, a base de cálculo do ICMS para taxar a ora
embargante, o que revela verdadeiro bis in idem tributário, atitude vedada pelos
artigos supramencionados. Ademais, não se pode dizer em aplicação da
Súmula Vinculante 29, a qual diz que é constitucional a utilização de um os
mais elementos na base de cálculo da taxa de elementos já previstos em outro
tributo, pois o que se depreende dos fatos é que o Estado X reproduziu
integralmente os elementos do tributo ICMS nessa “taxa de vendas
interestaduais”.

Ademais, há entendimento dos Tribunais Superiores que vão ao


encontro do pleiteado pelo embargante, vejamos:

TRIBUTÁRIO - IMPOSTO SOBRE A RENDA - VARIAÇÃO CAMBIAL - OTN'S -


BIS IN IDEM - VEDAÇÃO - COMPATIBILIDADE DAS NORMAS - DECRETOS-
LEI 2014/83 E 2029 /83. 1. Ocorre bis in idem quando sobre a mesma base de
cálculo há dupla incidência da norma tributária. 2. O sistema tributário veda a
dupla tributação[..] (Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp
1050054 SP 2008/0083304-6) (destaquei)

Portanto, há “integral identidade”, logo, deve ser desconstituído tal


crédito tributário em favor do Estado X.

IMPUGNAÇÃO AO FATO GERADOR DA TAXA COBRADA

Além de haver flagrante bis in idem tributário, o fato gerador da taxa que
constituiu crédito em favor do Estado X é inconstitucional. O art. 145, II da
CF/88 e o caput do art. 77 do CTN normatizam que o tributo denominado taxa
tem fato gerador vinculado às atividades que envolvem: 1) exercício de polícia
do Ente; 2) utilização de serviços públicos específicos e divisíveis oferecidos ao
público ou posto a sua disposição. No caso ora narrado, a “taxa de venda
interestaduais” tem fato gerador diverso do exposto nas normas supracitadas,
de modo que é evidente que tal taxa não constitui contrapartida ao exercício de
poder de polícia, tampouco à serviço público específico e divisível, o que ela
faz é comprometer a livre circulação de mercadorias ao onerar as operações
de venda interestadual e estabelecer tratamento diferenciado em razão do
destino do bem. Portanto, o crédito tributário deve ser desconstituído, pois
novamente vai de encontro à norma constitucional vigente.

DA VIOLAÇÃO AOS PINCÍPIOS CONSTITUICIONAIS DOS ARTS. 150, V E


152

O art. 150, V, da Lei Maior estabelece o princípio da não limitação, na


mesma esteira o art. 152 daquele diploma traz o princípio da não discriminação
quanto ao destino. Em suma, ambos impõem ao ente a obrigação negativa de
não estabelecer limites ao tráfego de pessoas ou bens por meio de tributos
levando em consideração o destino ou a procedência do bem. No caso em tela,
o Estado X instituiu taxa em razão da venda interestadual, isto é, somente
comércio a outros estados serão taxados, o que revela que a taxação leva em
consideração o destino do bem. Seguindo, há decisão do Supremo Tribunal
Federal, em sede de ADI que ratifica o alegado pelo embargante:

ADI 4.623 MT:

EMENTA: [...] PROIBIÇÃO CONSTITUCIONAL DE DIFERENCIAÇÃO DE BENS E


SERVIÇOS QUANTO À PROCEDÊNCIA OU AO DESTINO...

[...]

4. Nos termos do art. 152 da Constituição da República, não se pode reconhecer a validade
constitucional do § 6º do art. 25 da Lei n. 7.098/1998, de Mato Grosso, no qual se confere
desvantagem econômica às operações interestaduais realizadas pelos contribuintes do ICMS
sediados em Mato Grosso ou que tenham como Estado de destino aquela unidade da Federação.
(grifei)

Agora, conjugando os fatos às normas constitucionais e decisão da


Suprema Corte, evidente é a inconstitucionalidade da taxa instituída pela
embargada, portando, tal crédito deve ser desconstituído.
4 - DO EFEITO SUSPENSIVO

Havendo elementos suficientes que evidenciem a probabilidade do


direito aqui pleiteado (inconstitucionalidade do crédito), além do fundado perigo
de dano às atividades empresarias da embargante, que não pode figurar no
mercado como pessoa jurídica que não cumpre as normas tributárias, outra
não é a conclusão senão a de que restam cabalmente demonstrados os
requisitos previstos no art. 300 do Código de Processo Civil que ensejam a
concessão da tutela provisória antecipada de urgência relativamente à
desconstituição do crédito objeto da execução ora embargada.

Da mesma maneira, o § 1º do art. 919 do CPC diz que, presentes os


requisitos para a concessão da tutela provisória e a execução esteja garantida
por penhora, o juiz poderá atribuir efeito suspensivo aos embargos à execução
fiscal.

No caso em tela, está evidente a presença dos requisitos para a


concessão da tutela provisória, acima expostos, como também a execução se
encontra garantida por penhora, assim, requer-se que seja atribuído efeito
suspensivo aos embargos ora opostos.

5 - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Do exposto, pede e requer:

a) O recebimento dos presentes Embargo com atribuição do efeito


suspensivo, a fim de evitar danos irreparáveis;
b) A integral procedência dos pedidos da Embargante, para desconstituir o
crédito tributário, bem como extinção da execução fiscal com resolução
do mérito, com base na inconstitucionalidade da exação;

c) Levantamento da penhora do bem indicado para garantir a execução ora


embargada, expedindo-se ofício à autoridade competente;

d) A juntada de cópias relevantes, conforme art. 914, § 1º CPC;

e) A intimação do Embargado para, querendo, apresentar impugnação,


conforme dispõe art. 17 da lei 6.830/1980;

f) Juntada da Lei Estadual nº 6.830/80;

g) Desde já o embargante se manifesta no sentido de não haver interesse


em audiência de conciliação, prevista no art. 319, VII do CPC;

h) A condenação do Embargado no pagamento de custas e honorários


advocatícios, conforme art. 39, parágrafo único da lei 6.830/1980 e art.
85 e ss. do CPC.

Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos em direito.

Dá a causa o valor de R$ (valor do crédito impugnado)

Nestes termos, pede deferimento.

Local, data.

Advogado (a)

OAB nº...

Você também pode gostar