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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE

PRESIDENTE BERNARDES

José de Andrade, brasileiro, casado, motorista, portador da


Identidade RG n. 11.578.999 e do CPF n. 055.088.198-33, residente na Rua Pedro Carmona,
122, em Presidente Bernardes, Estado de São Paulo, e-mail xxx@xxx.xxx por meio de seu
advogado (procuração anexa), vem, à presença de V. Exª, propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO


c.c. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS (com
pedido de Tutela de Urgência)

Em face da CREDFÁCIL empresa que atua como operadora de


cartão de crédito, inscrita sob o CNP xx.xxx.xxx\xxxx-xx, estabelecida na Rua xxx, cidade de
xxx/XX, e-mail xxx@xxx.xxx.

DOS FATOS

O requerente, como informado em sua qualificação, é


motorista de caminhão. Especificamente, labora com o transporte de cargas seguradas, e
como requisito para a realização desta atividade, as seguradoras, empresas responsáveis por
sua contratação, não admitem tais profissionais com nomes inscritos no SERASA, empresa que
possui banco de dados com nomes negativados por inadimplência relacionadas a pagamentos.

O requerente obteve ciência e confirmação de que seu nome


fora inscrito no SERASA pela requerida, tendo em vista uma fatura de cartão de crédito não
paga.

Ocorre que o requerente informou que em nenhum momento


firmara contrato junto à requerida solicitando qualquer cartão de crédito. O requerente, ainda,
tentou manter contato com a requerida para explicar que a relação jurídica contratual fora
realizada mediante ato fraudulento, e que não possuía qualquer vínculo com a ação que lhe
trouxe danos. Ato contínuo, informou que o endereço constante da fatura não paga, não
pertencia a ele, entretanto, irredutível, a Operadora de Cartão de Crédito informou que o não
pagamento da fatura que estava enviando ao requerente, iria incorrer em nova inscrição de
seu nome em “lista negra”, ou seja, lista de inadimplentes.
Em decorrência do exposto, o requerente, de antemão,
vislumbrou a impossibilidade de continuar com seu serviço de transporte de cargas seguradas,
haja vista seu nome negativado, restando-lhe prejudicado.

Ainda, como consequência, tentou obter crédito junto à


empresa Carrefour, o que lhe foi negado, exatamente pela justificativa de que seu cadastro
estava negativado.

Desta forma, tem esta o objetivo da retirada, em caráter de


urgência, do nome do requerente do rol de inadimplentes, bem como a declaração de
inexistência do débito, já que não figurou como parte em relação jurídica com a requerida,
além de ser indenizado pelos prejuízos de ordem moral, decorrentes da fraude.

DO DIREITO

a) Da inexistência da Relação Jurídica e da Inversão do ônus da prova

Conforme narrado anteriormente, o requerente teve seu nome


negativado por suposta inadimplência em detrimento a uma Operadora de Cartão de Crédito.

Tendo em vista a inexistência de relação contratual, é se suma


importância a declaração de inexistência do débito apontado e, nesse sentido, segue
entendimento jurisprudencial:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. INTEMPESTIVIDADE DO


APELO. INOCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA.
FINANCIAMENTO NÃO CONTRATADO. CONSUMIDOR POR
EQUIPARAÇÃO. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL
CONFIGURADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Inocorrência de
intempestividade no apelo, pois, como se vê da procuração de fls.
44, foram conferidos aos advogados outorgados poderes para
substabelecer, não havendo restrições quanto ao substabelecimento
sem reservas. Acerto na decisão de republicação dos atos que não
contemplaram os nomes dos patronos substabelecidos. 2. Uma vez não
comprovada pelo banco réu a regular contratação com o autor, não
pode o consumidor ser responsabilizado pelas consequências
negativas daí advindas. 3. Demonstrada a ausência de contratação
de qualquer serviço, não há relação jurídica entre as partes que
justifique a negativação. 4. Deve a instituição financeira arcar com
o ônus de seu empreendimento lucrativo, não podendo repartir o
risco de sua atividade com terceiros que, vitimados pelo serviço
defeituoso, são considerados consumidores por equiparação. 5. Danos
morais configurados e proporcionalmente fixados. 6. Desprovimento
do recurso.” (TJRJ. Apelação n.º 00016877320068190203 RJ. Des.
Rel. Elton Martinez Carvalho Leme. 17ª Câm. Cível. Julgado em
04/11/14)”
Assim, conforme condição do requerente de suposto
consumidor e hipossuficiente na relação, a inversão do ônus da prova é medida necessária,
nos termos do art. 6º, III da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), ficando a cargo da
requerida demonstrar/comprovar sobre a efetiva relação jurídica com o requerente. Assim:

“CIVIL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -


APELAÇÃO - NEGATIVAÇÃO INDEVIDA - INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DÉBITO E
DA INADIMPLÊNCIA POR PARTE DO AUTOR - DANO MORAL
PRESUMÍVEL - INDENIZAÇÃO DEVIDA - QUANTUM
MANTIDO -RECURSO IMPROVIDO. - Cabe à empresa
responsável pela inclusão do nome do suposto devedor nos
cadastros de proteção ao crédito a produção de provas
inequívocas de que tal dívida existe; caso contrário, conclui-
se que a ré agiu com imprudência ao determinar tal
registro, sendo cabível a condenação no pagamento de
indenização por danos morais, haja vista que em casos que
tais eles se presumem. - A indenização pelos danos morais
sofridos pelo ofendido deve ser estabelecida em valor
suficiente e adequado para a compensação dos prejuízos por
ele experimentados e para desestimular a prática reiterada da
conduta lesiva pelo ofensor, não se podendo prestar,
entretanto, para o enriquecimento desproporcional daquele.”
(TJMG. Acórdão 107011003 38980001 MG. Des. Rel. Corrêa
Camargo. 18ª Câm. Cível. Julgado em 15/01/13)

b) Da Tutela de Urgência

Nos termos do art. 300, CPC, a tutela de urgência será


concedida sempre que evidenciado: (1) a probabilidade do direito e o (2) risco de dano:

CPC, art. 300: “A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e
o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

Conforme os autos, ambos os requisitos estão presentes. Com


relação à probabilidade do direito, ficou evidenciado que o requerente não possuiu vínculo
contratual, sendo ilicitamente inscrito no cadastro de negativados, caracterizando-a. No que
tange ao risco de dano, ficou claro sobre a possibilidade de o polo ativo ser prejudicado em sua
relação de trabalho com suas contratantes.

c) Do Dano Moral

Diante dos fatos, fica demonstrado patente configuração dos


danos morais sofridos pelo requerente, visto o transtorno ocasionado pela negativação de seu
nome. Neste sentido, os artigos 186 e 927 do Código Civil de 2002:
Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Art. 927. “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

No mesmo contexto segue a jurisprudência do Tribunal de


Justiça de São Paulo:

“1. Cabe à empresa verificar os documentos apresentados na


celebração de contrato de forma minudente, sob pena de ter
de suportar os ônus de sua negligência posteriormente. 2.
Indenizatória de danos morais. Negativação indevida nos
cadastros de restrição ao crédito. Culpa da empresa provada.
Hipótese, ademais, subsumida ao artigo 14 do CDC.
Condenação da ré em valor que atende à finalidade dúplice
da indenização por dano moral: punitiva e compensatória.
Apelo improvido.”

(TJ-SP 10011903420168260191 SP 1001190-


34.2016.8.26.0191, Relator: Soares Levada, Data de
Julgamento: 01/08/2017, 34ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 01/08/2017)

Assim, requer seja a requerida condenada a pagar, a título de


indenização, a quantia de 20 salários mínimos, o que nesta data equivale a R$19.960,00
(dezenove mil novecentos e sessenta reais).

DOS PEDIDOS

Ante o exposto requer seja declarada a inexistência do débito


atual apontado junto aos órgãos de restrição de crédito; a inversão do ônus da prova, nos
termos do art. 6º, VIII, CDC, visto que somente a requerida teria condições de apresentar ao
processo o contrato que originou a negativação; a concessão da tutela de urgência para a
exclusão do nome do requerente dos bancos de dados dos serviços de proteção ao crédito,
visto a urgência em razão de seus contratos de serviços; a condenação da requerida no
montante apontado referente aos danos morais.

A citação da requerida, na pessoa de seu representante legal,


via Oficial de Justiça (CPC, art. 246, II), para, querendo, apresentar resposta no prazo legal, sob
pena de revelia.

VALOR DO PEDIDO

Por fim, dar-se-á como valor da causa o montante de


R$19.960,00 (dezenove mil novecentos e sessenta reais).
Neste termos, pede deferimento

Presidente Bernardes, ___ de _____________ de 2019.

Advogado XXXX, OAB XXX

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