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Direito Civil - Direito das Obrigações

Cessão do crédito, cessão do débito e cessão de contrato.

Cessão é a transferência negocial, a título gratuito ou oneroso, de um direito, de um dever, de uma acção
ou de um complexo de direitos, deveres e bens, com conteúdo predominantemente obrigatório, de modo
que o adquirente (cessionário) exerça posição jurídica idêntica à do antecessor (cedente).

Cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor de uma obrigação
(cedente) transfere, no todo ou em parte, a terceiro (cessionário), independentemente do consentimento do
devedor (cedido), sua posição na relação obrigacional, com todos os acessórios e garantias, salvo disposição
em contrário, sem que se opere a extinção do vínculo obrigacional;

Poderá ser:

a) gratuita ou onerosa;

b) total ou parcial;

c) convencional, legal ou judicial;

d) pro soluto e pro solvendo.

PRO SOLUTO - quando houver quitação plena do débito do cedente para o cessionário, operando-se a
transferência do crédito, que inclui a exoneração do cedente;

PRO SOLVENDO - é a transferência de um direito de crédito, feita com intuito de extinguir a obrigação, que,
no entanto, não se extinguirá de imediato, mas apenas se e na medida em que o crédito cedido for efectiva-
mente cobrado.

Requisitos: capacidade genérica para os actos comuns da vida civil e capacidade especial, reclamada para
os actos de alienação, tanto do cedente como do cessionário; objecto lícito e possível, de modo que
qualquer crédito poderá ser cedido, constante ou não de um título, esteja vencido ou por vencer, se a isso
não se opuser a natureza da obrigação, a lei e a convenção com o devedor; não se exige formas específica
para que se efectue a cessão, porém, para que possa valer contra terceiros, excepto nos casos de
transferência de créditos, operados por lei ou sentença, será necessário que seja celebrada mediante
instrumento público ou particular.

Cessão de débito é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com anuência expressa ou tácita do
credor, transfere a um terceiro os encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação
obrigacional, substituindo-o; realizar-se-á mediante expromissão (negócio pelo qual uma pessoa assume
espontaneamente o débito de outra) ou delegação (quando o devedor transferir a terceiro, com a anuência
do credor, o débito com este contraído.

Cessão de contrato é a transferência da inteira posição activa e passiva, do conjunto de direitos e


obrigações de que é titular uma pessoa, derivados de um contrato bilateral já ultimado, mas de execução
ainda não concluída; possibilita a circulação do contrato em sua integralidade, permitindo que um estranho
ingresse na relação contratual, substituindo um dos contraentes primitivos, assumindo todos os seus
direitos e deveres.
Inadimplemento da obrigação, responsabilidade contratual, mora do devedor e mora do credor, juros,
purgação da mora, cessão da mora.
Ter-se-á o inadimplemento da obrigação quando faltar a prestação devida, isto é, quando o devedor não a
cumprir, voluntária ou involuntariamente; se o descumprimento resultar de facto imputável ao devedor,
haverá inexecução voluntária, que poderá ser dolosa, ou resultar de negligência, imprudência ou imperícia
do devedor.

Responsabilidade contratual do inadimplente: todo aquele que voluntariamente infringir dever jurídico,
estabelecido em lei ou em relação negocial, causando prejuízo a alguém, ficará obrigado a ressarci-lo;
havendo liame obrigacional, a responsabilidade do infrator, designar-se-á responsabilidade contratual; não
havendo vínculo obrigacional será extracontratual ou aquiliana.

Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento, e o credor que o não quiser receber no
tempo, lugar e forma convencionados; a mora vem a ser não só a inexecução culposa da obrigação, mas
também a injusta recusa de recebê-la no tempo, no lugar e na forma devidos.

Mora solvendi ou mora do devedor: configura-se quando este não cumprir, por culpa sua, a prestação
devida na forma, tempo e lugar estipulados; seu elemento objetivo é a não realização do pagamento no
tempo, local e modo convencionados; o subjetivo é a inexecução culposa de sua parte; manifesta-se sob 2
aspectos:

a) mora ex re, se decorrer de lei, resultando do próprio fato do descumprimento da obrigação,


independendo, portanto, de provocação do credor; se houver vencimento determinado para p
adimplemento, o próprio termo interpela em lugar do credor, assumindo o papel da intimação;

b) mora ex persona, se não houver estipulação de termo certo para a execução da relação obrigacional;
nesse caso, será imprescindível que o credor tome certas providências necessárias para constituir o devedor
em mora (notificação, interpelação, etc.); pressupões os seguintes requisitos: a) exigibilidade imediata da
obrigação; b) inexecução total ou parcial da obrigação; c) interpelação judicial ou extrajudicial do devedor;
produz os seguintes efeitos jurídicos: a) responsabilidade o devedor dos prejuízos causados pela mora ao
credor, mediante pagamento de juros moratórios legais ou convencionais, indenização do lucro cessante,
reembolso das despesas e satisfação da cláusula penal, resultante do não-pagamento; b) possibilidade do
credor exigir a satisfação das perdas e danos, rejeitando a prestação, se por causa da mora ela se tournou
inútil ou perdeu seu valor; c) responsabilidade do devedor moroso pela impossibilidade da prestação,
mesmo decorrendo de caso fortuito ou força maior.

Mora accipiendi ou mora do credor é a injusta recusa de aceitar o adimplemento da obrigação no tempo,
lugar e forma devidos; são pressupostos: a) a existência de dívida positiva, líquida e vencida; b) estado de
solvência do devedor; c) oferta real e regular da prestação devida pelo devedor; d) recusa injustificada, em
receber o pagamento; e) constituição do credor em mora; tem como conseqüências jurídicas a liberação do
devedor, isento de dolo, da responsabilidade pela conservação da coisa, a obrigação de ressarcir ao devedor
as despesas efectuadas, a obrigação de receber a coisa pela sua mais alta estimação, se o valor oscilar
entre o tempo do contrato e o do pagamento, e a possibilidade da consignação judicial da res debita pelo
devedor.

Mora de ambos: verificando-se mora simultânea, isto é, de ambos os contratantes, dá-se a sua
compensação aniquilando-se reciprocamente ambas as moras, com a consequente liberação recíproca da
pena pecuniária convencionada; imprescindível será a simultaneidade da mora, pois se for sucessiva,
apenas a última acarretará efeitos jurídicos.

Juros são o rendimento do capital, os frutos civis produzidos pelo dinheiro, sendo, portanto, considerados
como bem acessório, visto que constituem o preço do uso do capital alheio em razão da privação deste pelo
dono, voluntária ou involuntariamente.

Os juros compensatórios decorrem de uma utilização consentida do capital alheio, pois estão, em regra,
preestabelecidos no título constitutivo da obrigação, onde os contraentes fixam os limites de seu proveito,
enquanto durar o negócio jurídico, ficando, portanto, fora do âmbito da inexecução

Juros moratórios constituem pena imposta ao devedor pelo atraso no cumprimento da obrigação, actuando
como se fosse uma indemnização pelo retardamento no adimplemento da obrigação; poderão ser: a)
convencionais, caso em que as partes estipularão a taxa de juros moratórios até 12% anuais e 1% ao mês;
b) legais, se as partes não os convencionarem, pois, mesmo que não se estipulem, os juros moratórios
serão sempre devidos, na taxa estabelecida por lei, ou seja, de 6% ao ano ou 0,5% ao mês.

Obs: Os juros moratórios são devidos a partir da constituição da mora, independente da alegação de
prejuízo; nas obrigações a termo, são devidos a partir do vencimento; nas obrigações sem fixação de prazo
certo, com a interpelação, notificação e protesto; se a obrigação em dinheiro for líquida, contar-se-ão a
partir do vencimento; nas ilíquidas, desde a citação inicial para a causa.

Purgação da mora é um ato espontâneo do contraente moroso, que visa remediar a situação a que se deu
causa, evitando os efeitos dela decorrentes, reconduzindo a obrigação à normalidade; purga-se, assim, o
inadimplemento de suas faltas; é sempre admitida, excepto se lei especial regulamentar diferente, indicando
as condições de emedar a mora.

A cessação da mora ocorrerá por um fato extintivo de efeitos pretéritos e futuros, como sucede quando a
obrigação se extingue com a novação, remissão de dívidas ou renúncia do credor.
Direito Civil - Direito das Obrigações

Efeitos decorrentes do vínculo obrigacional e pessoas sujeitas a ele e meios de solver as obrigações.

Quanto aos efeitos decorrentes do vínculo obrigacional e das pessoas sujeitas a ele, temos os seguintes
1. Introdução
A transmissão de dívidas vem regulada no artigo 595.º e seguintes do Código Civil em secção
autónoma inserida num capítulo que estabelece regras sobre a transmissão de créditos e de
dívidas. Em concreto e de um modo muito sucinto, é um contrato pelo qual uma dívida é
transmitida para um novo devedor que, assim, passa a responder por ela.1

A transmissão de uma dívida não é uma prestação de serviços em linguagem corrente e mais
especificamente, face à noção de prestação de serviço prevista no artigo 1154.º do Código
Civil.

O problema reside em que, nos termos do Código do IVA, em concreto de acordo com o seu
artigo 4.º, são consideradas prestações de serviços “as operações efectuadas a título oneroso
que não constituem transmissões, aquisições intracomunitárias ou importações de bens”. Ora,
perante a abrangência deste conceito de prestação de serviços e ao carácter residual que o
mesmo assume, não é possível, pelo menos prima facie, excluir que a transmissão de dívidas
possa ser qualificada, para efeitos de IVA, como uma prestação de serviços e, desse modo, ser
sujeita a este imposto.

A transmissão de dívidas no Código Civil


Na medida em que se a assunção for gratuita representa uma doação do novo ao antigo
doador.10 Com efeito, de acordo com o artigo 940.º, n.º 1, do Código Civil “doação é o contrato
elo qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe
gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do
outro contraente.”

b) Cessão de créditos
Relativamente à cessão de créditos, destacamos duas diferenças: do ponto de vista objectivo,
ao passo que aqui está se a transmitir um crédito, ou seja um activo, um bem; 12 na assunção de
dívida o que se transmite é um passivo, uma dívida. Do ponto de vista subjectivo, ao invés aqui
não carece de autorização do devedor; na assunção (liberatória) de dívida em qualquer das
modalidades (contrato entre o primitivo e o novo devedor e contrato entre novo devedor e
credor) exige-se declaração expressa do credor para que o antigo devedor fique exonerado da
dívida.

Sobre esta questão são pertinentes, designadamente, dois casos já decididos pelo TJUE. O
acórdão Swiss Re, em que o TJUE declarou que a cessão a título oneroso de uma carteira de
contratos de resseguro do ramo vida constitui uma prestação de serviços, visto tratar-se da
cessão de um bem incorpóreo.20 E o acórdão First National Bank of Chicago em que o TJUE jul-
gou que as operações relativas à compra de um montante acordado numa dada divisa contra a
venda de um montante acordado noutra divisa e cujos detalhes (como o tipo de divisa, o
montante e a data-valor) tinham sido acordados entre as partes se consubstanciava numa
prestação de serviços pelo facto de se tratar de cessões de bens incorpóreos, consistindo o
serviço na disponibilidade do banco para concluir tais operações. 21
Assim sendo, pelo menos no que respeita à cessão de créditos – que se consubstancia no
paralelo inverso da assunção de dívidas –, dúvidas não parecem subsistir quanto à respectiva
qualificação como uma prestação de serviços (eventualmente) sujeita a IVA, cfr. conclusões do
advogado-geral Nilo Jääskinen no processo GFKL.22
20 Acórdão TJUE, Swiss Re, C-242/08, 22.10.2009.
21 Acórdão TJUE, First National Bank of Chicago, C-172/96, 14.7.1998.
22 Conclusões emitidas no Acórdão TJUE, GFKL, C-93/10, 27.10.2011.

No entanto, não podemos aqui deixar de ponderar a possibilidade de fazer aqui intervir o disposto no número 2 do artigo 4.º do
Código do IVA (que reflecte o previsto no artigo 26.º da Directiva do IVA), o qual, na respectiva alínea b), determina que as
prestações de serviços a título gratuito efectuadas pela própria empresa com vista às necessidades particulares do seu titular, do
pessoal ou, em geral, a fins alheios à mesma são assimiladas a prestações de serviços onerosas e, por isso, sujeitas a imposto.
Por fins alheios pode entender-se aqueles que são prestados para além do necessário para manter a fonte produtora ou assegurar
a regular continuidade das operações.
Com recurso à mencionada norma vertida no artº 4.º do CIVA, poder-se-ia entender que quando, de modo gratuito, uma
empresa assume uma dívida de outra empresa, com vista a realizar interesses que vão para além da persecução da sua actividade,
esta realiza uma verdadeira prestação de serviços sujeita a IVA.

Processo: nº 12798, despacho de 2018-02-05,

Enquadramento em sede de IVA:


4. O regime da cessão de créditos está previsto nos arts. 577.º e seguintes
do Código Civil (CC), e define-se como sendo o contrato pelo qual o credor
transmite a terceiro, independentemente do consentimento do devedor, a
totalidade ou parte do seu crédito, importando, na falta de convenção em
contrário, a transmissão, para o cessionário, das garantias e outros
acessórios do direito transmitido, que não sejam inseparáveis da pessoa do
cedente (vd. n.º 1 do art. 582.º do CC).
11. No caso em concreto, pelos dados fornecidos pela ora requerente,
afigura-se-nos que o contrato de cessão de créditos em causa não contempla
cláusulas em que se estipule um valor que corresponda à contrapartida de
uma remuneração de serviços (vd. figura do "factoring", regulamentada no
Decreto-lei n.º 171/95, de 18 de julho), porquanto se trata de uma cessão
que implica a transferência a título definitivo e sem direito de regresso para
a cessionária de todos e quaisquer direitos emergente do crédito a que
respeita, bem como das suas respetivas garantias e acessórios, caso
existam.
12. No acórdão do Tribunal de Justiça, de 2011-10-27, proc. n.º C-93/10, conclui que "(…)os
artigos 2.°, ponto 1, e 4.° da Sexta Directiva devem ser interpretados no sentido de que um
operador que adquire, por sua conta e risco, créditos duvidosos, a um preço inferior ao seu
valor nominal, não efectua uma prestação de serviços a título oneroso, na acepção do dito
artigo 2.°, ponto 1, e não exerce uma actividade económica abrangida pelo âmbito de aplicação
desta directiva, quando a diferença entre o valor nominal dos referidos créditos e o seu preço de
aquisição reflecte o valor económico efectivo dos créditos em causa no momento da sua cessão".

FICHA OUTRINARIA 12692 despacho de 2018-03-07 Pretende-se que a cessão dos


créditos seja plena e definitiva, assumindo, a requerente, na qualidade de
cessionária, na sua plenitude, os riscos de cobrança dos respetivos créditos
21 - Como já se referiu atrás (vd. ponto 10), a transmissão do crédito em si
não constitui uma operação sujeita a IVA, mas tão só a recuperação total do
crédito cedido, mesmo que adquirido por um preço inferior ao ser valor
nominal, ficando nessa medida o sujeito passivo obrigado a regularizar o
IVA em causa, na sua totalidade, a favor do Estado (vd. no mesmo sentido
acórdão do Tribunal de Justiça, de 2011-10-27, proc.º n.º C-93/10).
22 - Relativamente a créditos vencidos após de 1 de janeiro de 2013,
aplicam-se as disposições dos artigos 78.º - A a 78.º - D do CIVA, por
remissão do n.º 7 do art.º 198.º da Lei n.º 66-B/2012, de 31/12.
23 - Dispondo o n.º 7 do art.º 78.º - A do CIVA que: "Os sujeitos passivos
perdem o direito à dedução do imposto respeitante a créditos considerados
de cobrança duvidosa ou incobráveis sempre que ocorra a transmissão da
titularidade dos créditos subjacentes.".
24 - Nos termos do n.º 8 do mesmo preceito, "caso a transmissão da
titularidade dos créditos ocorra após ter sido efetuada a dedução do imposto
respeitante aos créditos considerados de cobrança duvidosa ou incobráveis,
devem os sujeitos passivos observar, com as necessárias adaptações, o
disposto no n.º 3 do art.º 78.º - C.".
25 - Face ao enquadramento legal da matéria, aquando da
transmissão

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