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‭Inadimplemento das Obrigações‬

‭1. Inadimplemento‬
‭ corre quando uma obrigação não é cumprida, surgindo a‬‭responsabilidade civil contratual‬
O
‭(arts. 389 a 391, CC), implicando no‬‭dever de indenizar perdas e danos‬‭(arts. 402 a 404, CC), sem‬
‭prejuízo de aplicação de outros dispositivos, tais como art. 5°, V e X, CF, que tutelam os‬‭danos morais‬‭.‬

‭ inadimplemento divide-se em dois, parcial ou total, a utilidade da obrigação para o credor‬


O
é‭ o critério para distinguir a mora do inadimplemento absoluto (art. 395 do CC).‬

#‭ Violação positiva do contrato é interpretada por Flávio Tartuce como uma espécie de‬
‭inadimplemento parcial.‬

‭Tal situação refere-se a casos onde a obrigação é realizada, mas de forma inexata ou‬
‭ efeituosa. Exemplos incluem vícios redibitórios (arts. 441 a 446 do CC) e problemas previstos pelo‬
d
‭Código de Defesa do Consumidor.‬

#‭ Quebra de deveres anexos ou laterais ao contrato não implicam em nova modalidade de‬
‭inadimplemento.‬

‭Trata-se de deveres vinculados à boa-fé objetiva, esses deveres exigem colaboração entre as‬
‭ artes durante todo o curso da obrigação. A quebra desses deveres também constitui uma violação‬
p
‭positiva do contrato, implicando responsabilização civil.‬

‭A exemplo do dever do credor de retirar o nome do devedor de cadastros de inadimplentes‬


‭após o pagamento da dívida.‬

‭2. Tipos de Inadimplemento‬

‭2.1. Inadimplemento Relativo, Parcial ou Mora‬

‭2.1.1. Conceito‬
‭A mora é o atraso, ou retardamento ou a imperfeita satisfação obrigacional, havendo um‬
i‭nadimplemento relativo. O conceito de mora no Código Civil inclui cumprimento inexato, não apenas‬
‭em relação ao tempo, mas também ao lugar e à forma de cumprimento (art. 394 do CC).‬

‭2.1.2. Tipos de Mora‬

‭2.1.2.1. Mora do Devedor (Mora Debitoris):‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigo 395 do CC.‬

‭ egra:‬‭O devedor entra em mora após o prazo para cumprimento da obrigação ou após‬
R
‭interpelação judicial ou extrajudicial.‬

‭2.1.2.2. Mora do Credor (Mora Creditoris):‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigos 396 e 397 do CC.‬
‭ egra:‬‭Ocorre quando o credor recusa receber a prestação ou não fornece os meios ao‬
R
‭devedor para que a obrigação seja cumprida.‬

‭2.1.3. Efeitos da Mora‬

‭2.1.3.1. Responsabilidade pelos Prejuízos‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigos 395 e 396 do CC.‬

‭Regra:‬‭O devedor em mora responde pelos prejuízos causados ao credor, bem como pelos‬
‭riscos da coisa objeto da obrigação.‬

‭2.1.3.2. Juros de Mora‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigo 404 do CC.‬

‭Regra:‬‭A partir da mora, o devedor deve pagar ao credor juros, se estes não forem‬
c‭ onvencionados, ou se o forem sem taxa estipulada, serão fixados segundo a taxa que estiver em‬
‭vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (1% ao mês segundo o art.‬
‭161 , § 1º do CTN).‬

‭2.1.4. Purgação da Mora‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigo 401 do CC.‬

‭Regra:‬‭O devedor pode purgar a mora, ou seja, pode eliminar seus efeitos, até o momento do‬
j‭ulgamento da lide, mediante o pagamento ou consignação da dívida, acrescida de juros, atualização‬
‭monetária e custas processuais, se houver.‬

‭Procedimento:‬‭Para purgar a mora, o devedor pode realizar o pagamento diretamente ao‬


c‭ redor ou, se houver algum impedimento para isso (como a recusa do credor em receber), pode fazer‬
‭uma consignação em pagamento. A consignação em pagamento é o depósito judicial ou em‬
‭estabelecimento bancário da coisa devida, quando o credor não pode ou não quer recebê-la, ou‬
‭quando há dúvida sobre quem realmente tem o direito de receber. Juros, atuação monetária e custas‬
‭processuais (caso haja cobrança judicial) devem ser pagas junto com o principal.‬

E‭ feitos da purgação:‬‭Evita que o contrato seja rescindido por inadimplemento, caso essa‬
‭consequência esteja prevista no contrato ou na lei; Cessa a incidência de juros de mora a partir do‬
‭momento da purgação; Evita a possibilidade de o credor recusar o pagamento atrasado e exigir a‬
‭prestação de uma vez só, no caso de dívidas parceladas.‬

‭2.1.5. Interpelação para Constituir em Mora‬


‭Fundamento Jurídico:‬‭Artigos 398 e 399 do CC.‬

‭Regra:‬‭A interpelação ao devedor pode ser necessária para constituição em mora, exceto nos‬
c‭ asos em que esta é ex lege (pela lei) ou quando a obrigação for positiva e líquida, vencendo-se em‬
‭determinado tempo e lugar. A interpelação é uma ferramenta importante para formalizar a‬
‭inadimplência e iniciar o processo de exigir o cumprimento da obrigação ou a reparação dos danos‬
‭causados pelo atraso.‬

‭Procedimento:‬‭O procedimento de interpelação pode ocorrer de diversas formas,‬


‭ ependendo do que foi estabelecido em contrato ou o que é previsto por lei: Notificação judicial:‬
d
‭Através de um oficial de justiça, onde é registrada a ciência formal do devedor. Notificação‬
‭extrajudicial: Pode ser feita por intermédio de um cartório de títulos e documentos ou por meio de‬
‭ m advogado. Citação: No caso de já haver um processo judicial, a própria citação para responder à‬
u
‭ação pode servir como interpelação.‬

‭Efeitos da interpelação:‬‭Juros de mora: A partir da interpelação, começam a correr os juros‬


‭ e mora. Responsabilidade por perdas e danos: O devedor se torna responsável por eventuais perdas‬
d
‭e danos causados pelo atraso. Possibilidade de rescisão contratual: Em certos contratos, se o devedor‬
‭não purgar a mora após ser interpelado, o credor pode rescindir o contrato.‬

‭2.2. Inadimplemento Total ou Absoluto‬

‭2.2.1. Conceito‬
‭ inadimplemento total ou absoluto é uma situação jurídica que ocorre quando o devedor‬
O
‭não realiza a prestação devida, seja ela uma entrega de coisa, um pagamento ou a realização de um‬
‭serviço, e essa falta é de tal gravidade que impede totalmente a satisfação do interesse do credor.‬
‭Este tipo de inadimplemento justifica a resolução do contrato e a exigência de perdas e danos.‬

‭Apontam-se em síntese as seguintes características:‬

‭1.‬ D ‭ efinitividade: A falta de cumprimento da obrigação é definitiva, não havendo possibilidade‬


‭de cumprimento posterior que satisfaça o interesse do credor.‬
‭2.‬ ‭Gravidade: A inexecução da obrigação é tão grave que compromete a finalidade do contrato.‬
‭3.‬ ‭Irreparabilidade: O descumprimento da obrigação não pode ser reparado ou substituído por‬
‭outro ato que atenda ao interesse do credor.‬

‭2.2.2. Regras Quanto ao Inadimplemento Absoluto da Obrigação‬

‭2.2.2.1.Perdas e Danos:‬
‭Fundamento Jurídico: Artigo 389, 403 e 404 do CC.‬

‭Regra: No caso de inadimplemento absoluto por culpa do devedor, este deve indenizar o‬
c‭ redor pelas perdas e danos. Todo o valor que perdeu ou deixou de ganhar. Abrangendo inclusive‬
‭juros e atualização monetária.‬

‭2.2.2.2.Resolução do Contrato:‬
‭Fundamento Jurídico: Artigo 475 do CC.‬

‭ egra: A parte prejudicada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, além da‬
R
‭indenização por perdas e danos.‬

‭2.2.2.3. Honorários Advocatícios‬


‭Fundamento jurídico: Art. 389 do CC c/c informativo n. 477/2011 do STJ‬

‭ s honorários advocatícios são considerados parte integrante dos danos sofridos pelo credor,‬
O
‭decorrentes do inadimplemento da obrigação.‬

#‭ Os honorários advocatícios a que se refere não podem ser confundidos com os sucumbenciais,‬
‭previstos no CPC. Referem-se aos contratuais.‬

‭O principal questionamento é o seguinte: esses honorários são os sucumbenciais, previstos‬


‭no CPC; ou são os contratuais, geralmente cobrados pelos advogados para ingresso da ação?‬
E‭ ntendemos que tais honorários são os contratuais, pois não é à toa a previsão que consta do Código‬
‭Civil, não se confundindo com os honorários de sucumbência, tratados pelo Código de Processo Civil‬
‭(nesse sentido, ver: TJSP, Apelação Cível 7329518­2, Acórdão 3588232, São Paulo, 11.ª Câmara de‬
‭Direito Privado, Rel. Des. Renato Rangel Desinano, j. 02.04.2009, DJESP 12.05.2009 e TJSP, Apelação‬
‭7074234­0, Acórdão 3427442, São José dos Campos, 12.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Rui‬
‭Cascaldi, j. 03.12.2008, DJESP 04.02.2009.‬

‭Cita-se ainda o informativo 477/2011 do STJ‬

‭2.2.2.3. Cláusula Penal‬


‭Fundamentos Jurídicos:‬‭Artigos 408 a 416 do Código Civil Brasileiro.‬

‭Regra:‬‭Natureza Compensatória: A cláusula penal tem função compensatória, destinada a‬


‭ xar antecipadamente as perdas e danos em caso de inadimplemento. Sua exigência visa a simplificar‬
fi
‭o processo de ressarcimento, dispensando a prova do prejuízo.‬

‭ umulação com Perdas e Danos:‬‭A parte prejudicada tem o direito de exigir o cumprimento‬
C
‭da prestação ou a cláusula penal, mas não pode cumular a pena com a indenização por perdas e‬
‭danos, a menos que haja disposição contratual expressa nesse sentido.‬

‭ edução Equitativa:‬‭O juiz pode reduzir equitativamente a cláusula penal se a obrigação‬


R
‭principal tiver sido em parte ou irregularmente cumprida, ou se o montante da penalidade for‬
‭manifestamente excessivo.‬

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