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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

THAIS VICTORIA MONACO ANTUNES

EXIGIBILIDADE DE DÍVIDA PRESCRITA EM RELAÇÃO AS GARANTIAS


ACESSÓRIAS DE UMA DÍVIDA

SÃO PAULO
2023
THAIS VICTORIA MONACO ANTUNES

Artigo científico apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas- FMU,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de bacharel em Direito, sob a
orientação do Mestre Ricardo Varalli.
Data da Apresentação:
Banca Examinadora:
Professor Orientador:
Professor²:
Professor ³:

SÃO PAULO
2023
EXIGIBILIDADE DE DÍVIDA PRESCRITA EM RELAÇÃO AS GARANTIAS
ACESSÓRIAS DE UMA DÍVIDA

Thais Victoria Monaco Antunes


thaisvicmonaco@gmail.com

Resumo: As dívidas prescritas podem ser exigíveis à luz da legislação


brasileira. A pretensão é o que, de fato, se finda, portanto, a prescrição não torna a
dívida inexistente, tão quanto inexigível extrajudicialmente.

Palavras-chave: prescrição; exigibilidade; pretensão; dívida;

ENFORCEMENT OF DEBT PRESCRIBED IN RELATION TO ACCESSORY


GUARANTEES OF A DEBT

Abstract: Statutory debts may become enforceable under Brazilian law. The
claim is what, in fact, ends, therefore, the prescription does not make the debt non-
existent, as well as unenforceable extrajudicially.
Keywords: prescription; enforceability; pretense; debt

Sumário: Introdução. 1.Extinção das Obrigações. 1.1 Conceito. 1.2 Formas


de Extinção das Obrigações. 2. Prescrição. 2.1 Conceito. 2.2 Requisitos e Efeitos.
2.3 Prescrição x Decadência. 3. Exigibilidade de Obrigações Após a Prescrição. 3.1
Efeitos das Prescrição Sobre a Dívida. 3.2 Efeitos da Prescrição Sobre Garantias
Acessórias de Uma Dívida. 4. Panorama Geral da Prescrição Frente a Exigibilidade
da Dívida. 4.1 Panorama Frente ao Poder Judiciário. 4.2 Ferramentas dos Órgãos
de Proteção ao Crédito. Conclusão. Referências Bibliográficas.
INTRODUÇÃO
Há muitos anos o assunto de prescrição de dívida é recorrente, contudo,
antigamente utilizavam-se do termo “caducou” e assim era expresso que a dívida
não poderia mais ser incluída nos órgãos de proteção ao crédito, tão quanto cobrada
pelo credor. Todavia, em decorrência de crises econômicas, alavancadas pela
pandemia do COVID-19 o número de pessoas inadimples avolumou de forma
exorbitante, e por conseguinte, tornando o assunto de exigibilidade de dívidas
prescritas relevante.

Nesse sentido, surge a tratativa de cobranças de dívidas com mais de 5


(cinco) anos. Um tema em ascensão no país dado a sua relevância diante do
impacto no capital nacional.

Em contrapartida, a exigibilidade de dívidas prescritas e suas garantias


devem estar em concordância com legislação brasileira e ter entendimento pacífico
visando a segurança jurídica. Visando cumprir essa finalidade é necessário tratar do
assunto de forma detalhada e segmentada.

Tendo em vista que a dívida é uma obrigação, seja ela de pagar ou


satisfazer algo é necessário abordar do assunto, bem como as formas para que
essa obrigação seja cumprida ou extinta, seguindo as diretrizes dos manuais de
direito civil do ilustre Flávio Tartuce.

Além disso, considerando que a prescrição é o ponto principal do tema


apresentado para o artigo científico, ela precisa ser versada em sua totalidade e até
mesmo sendo relacionada com semelhantes dentro do direito, que é a decadência.

Conforme o supramencionado, é um tema em ascensão dentro do país e


atualmente tem sido discutido em âmbitos diferentes e por consequência
impactando de diversas formas o judiciário, a economia e empresas do país.

Por fim, o desenvolvimento do trabalho tem como objetivo principal


compreender a legalidade de exigir dívidas prescritas e as consequências
relacionadas as dívidas prescritas e sua exigibilidade.

1. EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES


1.1 CONCEITO
O Código Civil rege as relações jurídicas das obrigações. As relações
jurídicas patrimoniais são vínculos jurídicos criados entre pessoas, sujeito ativo e
sujeito passivo, em que em tese, uma pessoa tem o dever de prestar e a outra
pessoa tem o direito de exigir a prestação.

A lei 10.406/2002, o Código Civil, não define o conceito de obrigações,


contudo, o doutrinador Flavio Tartuce traz o seguinte conceito:

“a relação jurídica transitória, existente entre um sujeito ativo, denominado credor, e


outro sujeito passivo, o devedor, e cujo objeto consiste em uma prestação situada no
âmbito dos direitos pessoais, positiva ou negativa. Havendo o descumprimento ou
inadimplemento obrigacional, poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do
devedor”
MANUAL DIREITO CIVIL, FLAVIO TARTUCE, VOLUME ÚNICO, FL 254, 5ª
edição, 2015.

Outrossim, cumpre ressaltar que o inadimplemento ou descumprimento faz


parte do conceito de obrigações, pois para o Direito há maior relevância no
descumprimento do que cumprimento tendo em vista que trata diretamente com o
conflito.

Dessarte, seguindo o entendimento das relações jurídica obrigacionais,


Direito das Obrigações, deve-se falar em extinção da obrigação, haja vista que ela
deve ser cumprida, pode ser exigida e conforme exposto anteriormente, é de mais
relevância dado sua conexão com o descumprimento.

Há algumas formas de extinguir a obrigação, e ela ocorre ou forma


espontânea ou por execução judicial. Ainda, cabe mencionar que a obrigação pode
ser extinta sem o seu cumprimento seguindo dispositivos jurídicos.

1.2 FORMAS DE EXTINÇÃO DE OBRIGAÇÃO


Nesse sentido, o devedor possui, inicialmente, três formas de extinguir a
obrigação que lhe é devida:
a) Cumprimento espontâneo: é satisfeita com o pagamento ao credor. Contudo
o cumprimento espontâneo possui algumas modalidades especiais, são elas:
Consignação: esta modalidade está prevista no artigo 334 do Código
Civil, trata-se de depósito judicial ou em instituições financeiras, quando o
credor recusar receber o pagamento dentre as hipóteses elencadas no
artigo 335 do Código Civil.
Sub-rogação: conforme o disposto no artigo 349 do Código de Processo
Civil, trata-se de substituição de um credor por outro, isto é, transferência
de todos os direitos, sejam ações, privilégios e garantias com relação à
dívida, contra o devedor principal e os fiadores.
Imputação: ocorre quando há dúvida acerca de qual débito será pago,
dado que não é suficiente para quitar sua obrigação em totalidade. Cabe
ressaltar, que deve compreender alguns requisitos e seguir uma ordem
disposta nos artigos 352 e seguintes do Código Civil.
Dação: trata-se de acordo realizado entres as partes da relação, em que
o credor concorda em receber prestação diversa do que lhe é devido,
vide artigo 356 do Código Civil. Insta frisar que o credor não é obrigado a
aceitar prestação diversa.

Por sua vez, dentre o cumprimento espontâneo da obrigação há


modalidades em que não ocorre o pagamento propriamente dito, são elas:

Novação: nesta modalidade as partes substituem uma obrigação por


outra, isto é, uma nova obrigação é criada visando extinguir a anterior,
conforme o disposto no artigo 360 e seguintes do Código Civil.
Compensação: ocorre quando ambas as partes são credoras e
devedoras uma da outra, ou seja, desde que as duas obrigações se
compensem, na forma do artigo 368 do Código Civil. Os requisitos para a
compensação estão dispostos nos artigos 369 e seguinte da referida lei.
Confusão: ocorre quando há confusão entre o credor e o devedor, pois a
mesma pessoa possuí as duas qualidades. Geralmente, empresa é
incorporada por outra, sendo assim, a obrigação extinta, na forma do
artigo 381 do Código Civil.
Remissão: trata-se de perdão da dívida pelo credor, contudo, o devedor
deve concordar, para que assim a obrigação seja extinta, disposta no
artigo 385 do Código Civil.

b) Execução judicial: se houver resistência por parte do devedor em cumprir a


obrigação que lhe fora estipulada, poderá o credor recorrer ao Poder
Judiciário para sanar a obrigação. Por consequência, se mesmo assim não
houver pagamento voluntário, poderá o devedor sofrer penhora de bens.

c) Sem cumprimento: nesta forma de extinção, a obrigação deixa de ser exigível


com base na prescrição ou até mesmo decadência. Por consequência o
credor fica impossibilitado de executar o devedor.

2. PRESCRIÇÃO
2.1 CONCEITO
A prescrição é a extinção da pretensão de cobrança de um direito em razão
do decurso do tempo, isto é, perda do direito de ajuizar ação por esta não ter sido
realizada dentre o prazo estipulado em lei.

Cada direito tem o seu prazo de prescrição. Esta variação é definida por lei,
por exemplo, a dívida poderá ser cobrada em juízo dentre o prazo de 5 (cinco) anos,
contados a partir do vencimento da obrigação, ou seja, desde a primeira data de
atraso do pagamento da dívida.

Insta frisar, que ocasionalmente, o prazo previsto em lei para extinção da


pretensão pode ter sua contagem interrompida ou suspensa. A interrupção ocorre
somente uma vez, quando ocorrer o previsto nos incisos do artigo 202 do Código
Civil, senão vejamos:

“Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente


poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - Por despacho do juiz, mesmo incompetente, que
ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na
forma da lei processual;

II - Por protesto, nas condições do inciso antecedente;

III - por protesto cambial;

IV - Pela apresentação do título de crédito em juízo de


inventário ou em concurso de credores;

V - Por qualquer ato judicial que constitua em mora o


devedor;

VI - Por qualquer ato inequívoco, ainda que


extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo
devedor.”

Ainda, cabe ressaltar que a interrupção recomeça a contar da fata que


ocorreu a interrupção, e começa a contar novamente do zero.

Em contrapartida, o impedimento ou suspensão da prescrição ocorre quando


há alguma causa que impede o decurso prescricional, considerando o prazo já
decorrido após o fim da suspensão. O impedimento ocorre quando prazo ainda não
começou a fluir:

Art. 197. Não corre a prescrição:

I - Entre os cônjuges, na constância da sociedade


conjugal;

II - Entre ascendentes e descendentes, durante o poder


familiar;

III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou


curadores, durante a tutela ou curatela.

Já a suspensão ocorre após a contagem do prazo, como por exemplo, a


existência de outra ação ou se houver alguma parte que esteja fora do país,
conforme prevê artigo 198 do Código Civil.

Art. 198. Também não corre a prescrição:


I - Contra os incapazes de que trata o art. 3 o;

II - Contra os ausentes do País em serviço público da


União, dos Estados ou dos Municípios;

III - contra os que se acharem servindo nas Forças


Armadas, em tempo de guerra.

Por fim, a prescrição é um importante advento para manter a segurança


jurídica em relação aos devedores, contudo a prescrição não extingue a o direito em
si e sim o direito de cobrança. Assim, o devedor continua sendo obrigado a cumprir
a obrigação, mas o credor não poderá mais cobrá-lo judicialmente.

2.2 REQUISITOS E EFEITOS


A prescrição necessita de alguns requisitos para sobrevir. Existem requisitos
específicos para cada obrigação, definidos em legislação complementar, contudo há
requisitos gerais.

Inicialmente, há que se falar sobre o direito violado, que por consequência


gera a pretensão de exigir o cumprimento da obrigação. Por conseguinte, a inércia
do credor é um dos principais requisitos dado que se ela se mantiver após o decurso
do prazo, o terceiro requisito, ocorre a prescrição.

Por fim, o prazo, por óbvio, a prescrição só acontecerá após o decurso do


prazo previsto na legislação. Portanto, se houver um direito violado, gerando a
pretensão, e o credor se manter inerte diante da pretensão pelo decurso do prazo,
acarretará prescrição.

Nesse sentido, cumprido os requisitos legais para que ocorra a prescrição,


são gerados os efeitos legais.

Á princípio o efeito é a extinção da obrigação. Conforme supramencionado,


a obrigação a ser cumprida fica extinta, e assim não pode ser exigida judicialmente
pelo credor, tão quanto ser cobrada de qualquer valor. Em caso de obrigação de
pagamento de dívida, não poderá sofrer correção monetária ou ser exigida, contudo,
a dívida não deixou de existir, o que deixou de existir foi a pretensão sobre-a.
2.3 PRESCRIÇÃO X DECADENCIA
De acordo com o supra referido, a prescrição é a perda da pretensão em
decurso do tempo, isto é, o direito subjetivo. O artigo 189 do código civil a define
como a extinção da pretensão. Portanto, após o prazo definido em lei, perde-se o
direito de ingressar com ação judicial para cobrar o direito violado.

Em contrapartida, a decadência refere-se a perda do direito efetivo. O direito


real é perdido pelo não requerimento no prazo legal. Ademais, não há pretensão na
decadência dado que se trata de um direito potestativo, não dependendo de
ninguém além do titular do direito.

Por fim, cabe ressaltar que a prescrição trata o direito e ação como coisas
distintas, a ação só surge após o direito violado. Já na decadência, o direito e a ação
trata-se da mesma coisa, ambos surgem no mesmo momento.

Dessarte, a prescrição e a decadência são institutos do direito material que


versam sobre o decurso de prazo para o exercício de um direito, porém possuem
características, requisitos e efeitos diferentes.

3. EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÕES APÓS A PRESCRIÇÃO


Posteriormente a prescrição de uma obrigação, o credor perde o direito de
exigir o cumprimento da obrigação e o devedor não é mais obrigado a realizá-la.
Contudo, a prescrição não impede a cobrança de dívida por meio extrajudicial,
através de plataformas de acordo, cartas de cobrança ou até mesmo um acordo
realizado de forma extrajudicial.

3.1 EFEITOS DA PRESCRIÇÃO SOBRE DÍVIDA


Conforme o supramencionado nos tópicos superiores, quando uma dívida
prescreve o credor perde o direito de ação para cobrá-la judicialmente, isto é, perde-
se a pretensão de cobrar a dívida, que por sua vez não poderá ser exigida através
de processo judicial.
Portanto, o principal efeito da prescrição sobre é a dívida que a ela deixa de
ser exigível judicialmente, e por conseguinte, o devedor não está mais obrigado a
pagar a dívida, mesmo diante de sua existência.

Em contrapartida, cumpre ressaltar que a prescrição não extingue a dívida


em si, ou seja, a obrigação de pagar ainda existe, porém não pode mais ser cobrada
judicialmente. Sendo assim, caso o devedor opte por pagar voluntariamente, após a
prescrição, ele poderá realizar.

Outrossim, cabe ressaltar que a prescrição também impossibilita a inscrição


em órgão de proteção ao crédito como a SPC Serasa e Boa Vista. Nesse sentido, os
órgãos de proteção ao crédito criaram plataformas, Serasa Limpa Nome e Acordo
Certo, para que, se houver interesse por patê do devedor, realize um acordo paga o
pagamento da dívida prescritas.

Em suma, o eventual reconhecimento de prescrição não implica na


decretação, pura e simples, de inexigibilidade ou extinção do débito, mas sim e tão
somente na inviabilidade de propositura de demanda para cobrança dos valores. O
direito subjetivo de cobrar extrajudicialmente, assim, permanece integralmente
incólume e passível de exigibilidade.

3.2 EFEITOS DA PRESCRIÇÃO SOBRE GARANTIAS ACESSÓRIAS DE UM


DÍVIDA
A prescrição de uma dívida ocorre, conforme o descrito nos tópicos
anteriores, quando o prazo de cobrar judicialmente, e assim surgem os efeitos sobre
a prescrição, bem como prescrição sobre as garantias acessórias da dívida.

As garantias acessórias são bens ou direitos que servem como segurança


para o pagamento da dívida, como avalista, fiadores, hipoteca e entre outros. Essas
garantias têm o objetivo de garantir o cumprimento da obrigação principal, tornando-
se um importante verificar os efeitos da prescrição sobre essas garantias.

Em geral, a prescrição da dívida não afeta a validade das garantias


acessórias, que continuam existindo e podendo ser exigidas pelo credor. Ou seja,
mesmo que a dívida tenha prescrito, o credor ainda pode recorrer às garantias para
obter o pagamento da dívida. Ademais, cumpre ressaltar que há casos em que a
prescrição da dívida principal pode gerar a extinção da garantia

Portanto, é fundamental que as partes envolvidas em uma relação jurídica


conheçam o prazo prescricional, bem como aos efeitos da prescrição sobre as
garantias acessórias.

Nesse sentido, a hipoteca, uma garantia acessória, segundo o Flávio


Tartuce é um direito real de garantia que incide sobre coisa alheia e recai sobre
bens imóveis, como regra, não havendo a transmissão da posse da coisa entre
partes (Flávio Tartuce, Direito Civil: Direito das Coisas. 13ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021, p. 747). Sendo assim, a parte devedora pode vincular uma garantia
ao pagamento da obrigação, sendo própria ou de terceiros sem a perda de posse.
Vale ressaltar que a hipoteca deve ser registrada no Cartório de Registro de
Imóveis.

A extinção da hipoteca, previsto no artigo 1.499, I do Código Civil será


possível se a obrigação principal for extinta.

“Art. 1.499. A hipoteca extingue-se:

I - Pela extinção da obrigação principal;”

Portanto, se uma dívida, que possui como garantia acessória a hipoteca,


prescreve, perdendo o direito de executar judicialmente, a garantia será extinta por
consequência.

Dessa maneira, suponhamos que uma pessoa física adquiriu uma dívida de
empréstimo no valor de R$ 150.000,00 (Cento e cinquenta mil reais) junto a uma
instituição financeira, e indiciou como garantia acessória a hipoteca de seu imóvel. O
devedor não realizou o pagamento tornando-se inadimplente e a instituição
financeira não o executou no prazo de 5 (cinco) anos contados da data do primeiro
atraso, e por consequência a dívida prescreveu, tornando-se inexigível de forma
judicial, bem como sua hipoteca.
Nesse sentido, o devedor deseja vender seu imóvel, podendo realizar o
cancelamento da hipoteca junto ao Cartório de Registro de Imóveis e por sua vez,
poderá realizar a venda do imóvel que serviu como garantia a dívida principal.

Em contrapartida há que abordar acerca do enriquecimento ilícito existente


na situação supramencionada, haja vista que o devedor, com a venda do imóvel
enriqueceu às custas da instituição financeira sem justa causa.

Observa-se que ainda que a instituição financeira não tenha ajuizado ação
de execução dentro do prazo legal, ainda sim a dívida principal é existente. Tendo
em vista que o imóvel adquirido teve valorização após esses 5 (cinco) anos houve
um enriquecimento ilícito dado que o consumidor não cumpriu sua obrigação e por
sua vez não teve o objetivo de quitar sua dívida, mesmo a colocando como garantia
acessória.

4. PANORAMA GERAL DA PRESCRIÇÃO FRENTE A EXIGIBILIDADE


DA DÍVIDA FRENTE A ATUALIDADE

A exigibilidade da dívida é um tema de alta relevância na atualidade, diante


das crises econômicas pós pandemia, que tiveram aumento significativo de
inadimplentes em razão do aumento da inflação e dos juros, segundo a publicação
da CNN Brasil Business.

4.1 PANORAMA FRENTE AO PODER JUDICIÁRIO

Neste contexto as demandas judiciais em relação a exigibilidade de dívidas


prescritas aumentaram consideravelmente em todo o país. Em contrapartida, os
juízos decidiam de forma divergente, gerando controvérsia e falta de segurança
jurídica às partes.

Por consequência da alta demanda judicial acerca do assunto houve


interposição do Incidente de Resolutivo de Demandas Repetitivas no Rio Grande do
Sul (NUT 8.21.1.000022) quanto a (in)exigibilidade de dívida utilizando as
plataformas de acordo, que teve as seguintes teses firmadas:

1) RECONHECIDA A LEGALIDADE DA INCLUSÃO, NO


SERVIÇO "SERASA LIMPA NOME", DE DÍVIDAS PRESCRITAS; 2)
AUSENTE DIREITO A INDENIZAÇÃO PELO ALEGADO ABALO
MORAL SOFRIDO PELA PARTE DEVEDORA QUE TEVE SUA
DÍVIDA PRESCRITA INCLUÍDA NA PLATAFORMA DE
NEGOCIAÇÃO; 3) DECLARADA A ILEGITIMIDADE DA EMPRESA
SERASA PARA RESPONDER DEMANDAS QUE ENVOLVAM A
(IN)EXISTÊNCIA OU VALIDADE DO CRÉDITO PRESCRITO
INCLUÍDO NA REFERIDA PLATAFORMA.”

Nesse sentido, é a jurisprudência assentada no Superior Tribunal de Justiça,


Resp. 1.694.322, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi:

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DECLARATÓRIA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
PARCELAS INADIMPLIDAS. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO QUE ATINGE A PRETENSÃO, E
NÃO O DIREITO SUBJETIVO EM SI.1. Ação ajuizada em 27/03/2013.
Recurso especial concluso ao gabinete em 14/12/2016. Julgamento: CPC/73.
2. O propósito recursal é definir i) se, na hipótese, houve a interrupção da
prescrição da pretensão da cobrança das parcelas inadimplidas, em virtude de
suposto ato inequívoco que importou reconhecimento do direito pelo
devedor; e ii) se, ainda que reconhecida a prescrição da pretensão de
cobrança, deve-se considerar como subsistente o inadimplemento em si e
como viável a declaração de quitação do bem. 3. Partindo-se das premissas
fáticas estabelecidas pelo Tribunal de origem quanto à inexistência de ato
inequívoco que importasse em reconhecimento do direito por parte da
recorrida – premissas estas inviáveis de serem reanalisadas ou alteradas em
razão do óbice da Súmula 7/STJ – não há como se admitir a ocorrência de
interrupção do prazo prescricional. 4. A prescrição pode ser definida como a
perda, pelo titular do direito violado, da pretensão à sua reparação. Inviável
se admitir, portanto, o reconhecimento de inexistência da dívida e quitação do
saldo devedor, uma vez que a prescrição não atinge o direito subjetivo em si
mesmo. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
Diante do exposto, a atualidade da prescrição de dívida se mantém como
um tema complexo e relevante e que por conseguinte há diversas jurisprudência e
Incidente Resolutivo de Demandas Resolutivas interposto em diversos estados, que
em sua maioria declara a dívida prescrita, existente e exigível extrajudicialmente.

4.2 FERRAMENTAS DOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO

O aumento de demandas judiciais acerca do tema impactou diretamente nas


ações dos órgãos de proteção ao crédito. As decisões que declaram o débito
prescrito exigíveis de forma extrajudicial efetivaram a criação de plataformas de
acordo que visam a recuperação de crédito tanto para o credor quanto para o
devedor.

O Serasa Limpa Nome, plataforma desenvolvida pelo Serasa Experian, bem


como o Acordo Certo, plataforma desenvolvida pela Boa Vista, tratam-se de
ferramenta criada para facilitar a negociação de débitos entre devedores e credores,
de tal sorte que possibilita a negociação tanto de DÍVIDAS NEGATIVADAS, dívidas
que ainda não prescreveram, quanto de DÍVIDAS ATRASADAS, dívidas que já
prescreveram, assim entendidas as dívidas de titularidade do devedor e não são
inseridas nos cadastros desabonadores de proteção ao crédito.

As dívidas negativadas são dívidas com o pagamento vencido e que foram


ou não negativas no cadastro de inadimplentes do Serasa. Já as dívidas atrasadas
são dívidas com o prazo de pagamento vencido, mas que não estão inseridas no
cadastro de inadimplentes do Serasa.

É importante frisar que o cadastro do consumidor no Serasa limpa nome é


totalmente opcional e voluntário. Não havendo interesse nas ofertas de
renegociação, o consumidor pode se descadastrar da plataforma. Ademais, a
plataforma Serasa limpa nome não realiza atividade alguma de cobrança, mas tão
somente apresenta as dívidas que estão em aberto para negociações, inexistindo
envio de e-mail, sms, ligações, entre outros. Ou seja, referido portal apenas
oportuniza ao consumidor a possibilidade de negociação e pagamento de débito em
atraso, não sendo realizada a inclusão de restrições creditícias em seu nome pelo
credor. Sem prejuízo de todos os esclarecimentos expendidos, indispensável
esclarecer ainda que as dívidas atrasadas não interferem no score de crédito do
consumidor. O Score e o Cadastro Positivo são influenciados por diversos fatores,
sendo de responsabilidade exclusiva do consumidor a diminuição ou aumento de
sua pontuação, motivo pelo qual não há falar sob nenhuma hipótese de que a
inclusão da Conta em Atraso realizada foi o motivo de sua redução.

Por sua vez, as dívidas atrasadas na plataforma não interfere na redução do


score, todavia, se realizar a negociação interfere positivamente no score, dado que o
consumidor demonstra apreço pela adimplência não importando a data da dívida e
por consequência melhorando o resultado de crédito do consumidor, e assim
impactando positivamente na economia nacional, não só para o consumidor que
restabelecerá seu crédito no mercado, tão quando para os credores, geralmente
varejistas e instituições financeiras, que receberão o valor que é devido e garantindo
sua posição no mercado.

CONSLUSÃO

Considerando o supramencionado no desenvolvimento do artigo científico


dívidas prescritas não se tornam inexigíveis por completo, apenas torna-se
inexigíveis de judicialmente. A relação jurídica, independentemente de qual seja a
dívida mantém-se, não sendo possível forçar por meios judiciais o cumprimento da
obrigação estabelecida.

Cumpre ressaltar a relevância que o tema apresenta haja vista seu impacto
direto na economia do país. Os consumidores, credores, como instituições
financeiras e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, bem os órgãos de
Proteção ao Crédito. Os direitos de todas essas personalidades, bem como o direito
do crédito e das obrigações e responsabilidades necessitam ser garantidos para que
não haja eventual prejuízo.

Nesse sentido, se grande parte dos consumidores entendessem por


contratar um título de crédito tendo o conhecimento de que após o prazo
prescricional essa obrigação seria inteiramente extinta teria uma consequência
imensurável aos juros do mercado financeiro e até mesmo a disponibilização de
crédito, que é tão necessária para o desenvolvimento do país.

Acarretaria consequência sobre diversos setores que giram a economia do


país, bem como, na extinção de alguns tipos de personalidades, como por exemplo
os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios, que tem como principal objeto
dívida cedidas, em grande maioria dívida com o prazo prescricional decorrido.

Dessarte, a possibilidade de cobrar a dívida ou suas garantias,


independentemente de qual seja, de forma extrajudicial garante o direito e o
funcionamento pleno da economia. Ademais, essa possibilidade visa a recuperação
de crédito de consumidores no âmbito de inadimplência, bem como evita o
enriquecimento ilícito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002, Código Civil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 18
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TARTUCE, Flávio; Manual Direito Civil: Volume único. 5. ed.: Método, 2015.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 3
abr. 2023.

TARTUCE, Flávio; Direito Civil: Direito das Coisas. 13.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021.

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https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. IRDR no TJRS.


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SERASA LIMPA NOME. Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no


Brasil. Disponível em: https://www.serasa.com.br/limpa-nome-online/blog/mapa-da-
inadimplencia-e-renogociacao-de-dividas-no-brasil/. Acesso em: 28 abr. 2023.

SERASA EXPERIAN, Serasa Limpa Nome. Disponível em:


https://www.serasa.com.br/limpa-nome-online/. Acesso em: 30 abr. 2023.

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