Você está na página 1de 5

Curso/Disciplina: Direito Civil (Obrigações)

Aula: Teoria do Adimplemento: Compensação. Confusão. Remissão. Transação e compromisso – 17


Professor (a): Rafael da Mota Mendonça
Monitor (a): Luis Renato Ribeiro Pereira de Almeida

Aula 17

TEORIA DO ADIMPLEMENTO

1. Compensação.

1.1. Conceito.

A compensação é forma de extinção da obrigação quando duas pessoas forem ao mesmo tempo
credora e devedora uma da outra. Para ocorre a compensação, é imprescindível que haja uma reciprocidade
de créditos.

1.2. Requisitos.

São requisitos para que haja compensação:

a) Cada um deve ser devedor e credor por obrigação principal.

A reciprocidade dos créditos deve ser quanto à obrigação principal. Esse requisito pressupõe a
existência de duas obrigações entre as mesmas partes.

Com a combinação entre os arts. 294 e 277 é possível concluir que, havendo cessão de crédito, o
devedor cedido deve opor a compensação no momento em que for notificado, em que toma ciência da cessão.

Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no
momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos
outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada.

Isso porque a compensação é um exemplo de exceção pessoal. Exceção pessoal é qualquer direito de
natureza personalíssima que o devedor opõe em face do credor. Assim, quando o credor ajuíza uma ação
cobrando uma dívida, o devedor, em sua defesa, pode alegar a compensação.
1
Página

Na cessão de crédito há uma alteração no polo ativo da relação obrigacional, o credor cede o seu crédito
para terceiro. O terceiro assume o lugar do credor. Se o devedor tem uma exceção pessoal (como é exemplo

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br


a compensação) contra o credor originário, somente poderá opor a exceção pessoal em face desse terceiro
(exerça o seu direito de compensar) no momento em que toma ciência da cessão.

b) Fungibilidade das prestações.

As prestações devem ser fungíveis entre si, ou seja, devem ser de mesmo gênero e espécie/qualidade.

Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se
compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.

Não é somente o dinheiro que pode ser compensado, mas também outras coisas em geral, que sejam
fungíveis entre si. Prestações heterogêneas não podem ser compensadas; mas se há fungibilidade entre as
prestações, independentemente de ser dinheiro ou não, é possível a compensação (exemplo: dinheiro com
dinheiro, sacas de café com sacas de café etc). A homogeneidade entre as prestações é fundamental.

Ademais, em razão da autonomia da vontade, nada impede que uma obrigação originariamente
infungível que seja alterada para fungível possa, a partir do momento dessa alteração, ser regularmente
compensada.

Exemplo: obrigação de dar coisa certa que se converte em uma obrigação pecuniária (obrigação de
pagar). Se uma pessoa tinha que entregar um carro para outra, e esta deveria pagar 40 mil reais àquela, há
uma reciprocidade de créditos de naturezas distintas. Porém, caso o carro vem a se perder, a obrigação que
antes era infungível torna-se fungível. Portanto, neste caso poderá haver compensação.

Obrigação de fazer não comporta compensação. De acordo com o CC/02, a compensação só poder ser
feita entre coisas, não atividades.

c) As dívidas devem ser vencidas, exigíveis e líquidas.

A expressão “vencidas” significa que as dívidas devem ser exigíveis entre si. Logo, não é possível
compensar obrigação natural, pois as obrigações naturais não são exigíveis.

d) Não pode haver direito de terceiros sobre as prestações.

Os credores recíprocos devem ser os únicos titulares.


2
Página

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br


1.3. Dívidas que não podem ser compensadas (art. 373).

Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:

I - se provier de esbulho, furto ou roubo;

II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;

III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.

Obrigações decorrentes de esbulho, furto ou roubo não podem ser compensadas, uma vez que ninguém
pode se beneficiar da própria conduta antijurídica.

Quanto ao inciso II, a compensação só é admitida se as dívidas têm a mesma natureza, a mesma causa.
Exemplo: não é possível compensar uma dívida decorrente de um mútuo com uma decorrente de alimentos.
Se ambas forem de alimentos, não há óbice para a compensação.

Quanto ao inciso III, pelo fato de o salário ser impenhorável, não pode ser compensado.

2. Confusão.

A confusão ocorre quando, por força de um fato jurídico estanho à relação obrigacional, as figuras do
devedor e do credor se reúnem na mesma pessoa. Os sujeitos credor e devedor estão presentes na mesma
pessoa.

Exemplo: pessoa que contraí um empréstimo com o pai e este vem a falecer. O devedor, que é o único
herdeiro, irá suceder o pai, e se tornará ao mesmo tempo credor e devedor. Portanto, a obrigação está extinta
pela confusão.

O art. 381 traz os requisitos para a confusão.

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e
devedor.

Ademais, a confusão não precisa necessariamente extinguir a integralidade da obrigação.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.

A confusão em geral é vislumbrada em situações de adjudicação.

Exemplo: condomínio que adquire uma unidade imobiliária que foi a leilão por dívida de cota
condominial. Quando o condomínio faz a adjudicação, determinadas obrigações são extintas pela confusão,
pois o condomínio se tornou credor e devedor das cotas.
3
Página

Se ocorre a confusão entre um credor e um devedor solidário, só há extinção da obrigação no que diz
respeito ao seu quinhão, ao percentual da dívida.

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br


Não é porque houve confusão entre um credor e um devedor solidário que a obrigação estará extinta
para todos os devedores/credores solidários.

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a
concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.

Ademais, é possível que a confusão se dê de forma temporária, em vez de extinguir a obrigação.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.

3. Remissão.

A remissão é a forma de extinção das obrigações pelo perdão do credor. O credor perdoa o devedor.

A remissão é a liberação graciosa do devedor emanada pelo credor. O credor dispensa o devedor de
pagar a dívida por um ato de vontade. É uma liberação direta do pagamento, é uma espécie de renúncia dos
direitos decorrentes da obrigação.

Não há uma forma de se fazer a remissão, que dependerá sempre da natureza da obrigação envolvida.

Há duas modalidades de remissão: a remissão expressa e a remissão tácita, que decorre de uma atitude
do credor incompatível com a conservação da sua qualidade creditória. É o que acontece quando o credor
entrega ao devedor o título da obrigação (art. 386).

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração
do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

A partir do momento em que o credor entrega uma nota promissória ao devedor, por exemplo, significa
que está realizando uma remissão tácita. Trata-se de um perdão tácito.

A remissão é vista pela doutrina como um ato abdicativo unilateral. Com isso, parte da doutrina sustenta
que, por ser ato unilateral, não é necessária a aceitação do devedor.

Contudo, de acordo com o art. 385, a remissão tem natureza de contrato, de negócio jurídico bilateral.

Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Este é um exemplo do fenômeno da despatrimonialização do direito civil. Por mais que o devedor, com
a remissão, tenha um benefício patrimonial, deve-se admitir também a tutela das situações jurídicas
existenciais. Exemplo: o devedor pode, por questão de honra, querer pagar a dívida. Portanto, deve haver a
anuência do devedor para que a remissão produza os seus efeitos e libere o devedor.
4
Página

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br


4. Transação e compromisso.

A doutrina costuma elencar como formas de extinção das obrigações sem pagamento a transação e o
compromisso. Contudo, estas têm natureza de contratos em espécie, previstos entre os arts. 840 e 853. Logo,
não serão objeto de estudo neste momento.

Obs.: alguns doutrinadores denominam as “formas de extinção das obrigações sem pagamento” como
“formas especiais de pagamento”.
5
Página

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Você também pode gostar