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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

O Direito das Obrigações é um ramo pertencente ao Direito Civil e trata do complexo de normas
que regem as relações jurídicas, e tem por objecto as prestações de uma pessoa em favor da
outra. No código civil o livro do direito das obrigações e o segundo e compreende os artigos 397
a 1250 CC.

Obrigação nos ternos do artigo 397 CC é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica
adstrita para com a outra a realização uma prestação.

Elementos constitutivos ou essenciais das obrigações

Algo muito importante deve ser trazido para analisar o direito das obrigações: seus elementos
constitutivos. Estes elementos estão no plano de existência de uma obrigação, ou seja, sem sua
presença não existe uma obrigação.

São estes os elementos constitutivos: subjectivo, objectivo e imaterial.

Elemento subjectivo

É aquele que diz respeito aos sujeitos, às partes.

O elemento subjectivo é dividido em sujeito activo e passivo, sendo que o primeiro é o


beneficiário, quem tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação, enquanto o segundo é
quem assume o dever, e, se não o cumprir, responde com seu património.

Na maioria das obrigações ocorre um sinalagma obrigacional.

Sinalagma obrigacional é o nome técnico que descreve a situação em que ambas as partes são
credoras e devedoras ao mesmo tempo.

Ao mesmo tempo que o baleiro está sendo devedor da obrigação de dar a bala para o comprador,
ele também está se tornando credor da obrigação do comprador dar dinheiro para ele. Visto pelo
lado do comprador, este é credor de receber a bala e é devedor de pagar o dinheiro por ela
correspondente.

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Elemento Objectivo.

Diz respeito ao objecto da obrigação, ou seja, a prestação.

Prestação é o dever específico de fazer, não fazer ou dar, e é fixada livremente pelas partes
dentro dos limites da lei o conteúdo positivo e negativo vide artigo 398 CC.

É importante fazer um destaque neste ponto: no caso do baleiro, o objecto da obrigação era a
obrigação de dar.

O objecto do objecto de uma obrigação é conhecido como objecto mediato. Isso quer dizer que o
objecto de uma venda de uma bala é a prestação de dar, enquanto o objecto da prestação de dar é
a bala em si.

Lembre-se que os art. 270 e 271 do Código Civil, apontam as condições de validade de um
negócio jurídico, descreve no seu inciso II que para ter validade, o objecto de uma obrigação
deve ser lícito, possível e determinado (ou determinável).

Fora destas condições, ainda se faz necessário inserir uma outra condição para ser regulada pelo
direito das obrigações: natureza patrimonial. O que quer dizer que a obrigação pode ser
transformada em valores financeiros caso não seja cumprido.

Em outras palavras, quando o namorado promete todas a gotas do oceano, todas as estrelas do
céu e todos os grãos de areia para sua amada, está fazendo apenas uma graça e mostrando o quão
grande é seu amor, mas não importa em uma promessa regida pelo direito obrigacional.

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Elemento Imaterial ou Abstracto

Não é visível. É o vínculo jurídico que cria a liga entre as partes e o objecto.

Elementos Acidentais das Obrigações

Os elementos acidentais são aqueles que podem ou não estar presentes em uma obrigação e
dizem respeito ao plano de eficácia das obrigações, ou seja, a partir de quando que a obrigação
poderá ser exercida ou parará de ser exercida.

Os elementos acidentais são a condição, o termo e o encargo.

Condição (Futuro Incerto)

Acontecimento de algo que gerará a situação suspensiva ou resolutiva e diz respeito a um evento
futuro e incerto vide artigo 270 CC.

Na condição suspensiva o efeito da obrigação apenas se iniciará depois de alcançada esta


condição. Por exemplo: Apenas te venderei meu carro se eu comprar outro.

Na condição resolutiva o efeito da obrigação vai extinguir depois de alcançada esta condição.
Por exemplo: Você pode usar meu carro até que eu o venda para um terceiro.

O Termo (Futuro Certo)

Diz respeito ao acontecimento de um evento futuro e certo que gerará a situação de iniciar ou
terminar uma obrigação vide artigo 278 CC.

O termo inicial aponta quando a obrigação começará a ter efeito.


Por exemplo: Vou te pagar daqui 1 semana.
Já o termo final aponta quando a obrigação se finda.
Por exemplo: Você pode usar meu carro até a semana que vem.
Encargo

Um ônus que pode ser imposto ao beneficiário por uma obrigação gratuita.

Por exemplo: eu te doo o imóvel caso você construa uma creche para pessoas carentes e a
mantenha por 5 anos.

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Espécies das Obrigações

1. Obrigações de Dar

A obrigação de dar é aquela em que um bem está em posse do devedor e deve ser passado para a
posse do credor.

Esta obrigação pode ser subdividida em obrigação de entregar (quanto o bem nunca esteve na
posse do credor) ou de restituir (quanto o bem já esteve na posse do credor e agora está com o
devedor).

Da mesma forma, existe ainda outra subdivisão que diz respeito ao objecto: se ele é certo ou
incerto.

No entanto, se ele for incerto, o bem é fungível e pode ser individualizado de acordo com as
características dele no momento do cumprimento da obrigação.

Um ponto de absoluta importância sobre a entrega do bem objecto da obrigação é que o Credor
não é obrigado a aceitar coisa diversa da que lhe é devido, mesmo que mais valiosa, nem é o
devedor obrigado a dar bem diverso do ajustado (art. 406 do Código Civil), o que é conhecido
como princípio da identidade.

2. Obrigações de Fazer

A obrigação de fazer é uma obrigação positiva, isso quer dizer que o devedor deve cumprir uma
tarefa ou atribuição.

A obrigação de fazer é uma das poucas que gera para o credor o direito de Autotutela.

3. Obrigações de Não Fazer

A obrigação de não fazer é uma obrigação negativa, isso quer dizer que o devedor deve se abster
de realizar uma conduta. Esmiuçando ainda mais, o devedor deve não fazer algo ou tolerar que o
credor faça (permissão). A inadimplemência começa na data que o acto for praticado.

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Se o acto foi realizado, o credor pode exigir que seja desfeito, se o devedor não desfazer e for
uma questão urgente, o próprio credor pode desfazer e cobrar perdas e danos depois, ou seja,
mais um caso de autotutela permitida pelo direito.

Por sua natureza, o inadimplemento da obrigação de não fazer não comporta o atraso (ou mora),
apenas o inadimplemento total (ou não faz ou faz, não tem como não fazer só um pouquinho).

Características das Obrigações.

Patrimonialidade

A Patrimonialidade, constituindo o carácter específico da obrigação, implica que o objecto da


relação jurídica deve ter um valor patrimonial, ou seja, deve implicar uma vantagem patrimonial
para o sujeito activo e desvantagem patrimonial para o passivo.

O objecto da prestação pode ser positivo ou negativo que constitui a coisa ou o facto devido pelo
obrigado ao credor.

Refere-se que mesmo nas relações em que o objecto da prestação é negativa (por exemplo, não
erguer um muro), o incumprimento da obrigação é susceptível de responsabilidade patrimonial.
Tal quer dizer que o credor sempre deve ser capaz de avaliar em termos pecuniários o dano
sofrido pelo incumprimento.

O n.º 2 do artigo 398 do CC refere que “a prestação não necessita de ter valor pecuniário; mas
deve corresponder a um interesse do credor, digno de protecção legal”.

Os argumentos contra esta característica são aqueles que advogam que a Patrimonialidade não é
característica exclusiva do direito das obrigações, pois, o crime como facto voluntário gera
obrigações da prestação patrimonial, cria o dever de prestar pecuniariamente (sem que se possa
tecnicamente definir obrigação) de objecto patrimonial, senão preexistia o dever negativo de
respeitar a integridade jurídica alheia (o principio de não lesar a ninguém).

A doutrina “patrimonialista” contra-ataca que apesar de se admitir que o interesse do credor


possa ser a patrimonial, a prestação deve ser susceptível de avaliação em dinheiro.

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Pecuniariedade (Art. 774 CC)

Também denominado direitos de crédito, é precisamente seu conteúdo económico, e a


possibilidade de conversão em valores monetários, o que caracteriza o direito obrigacional. O
credor possui a segurança patrimonial de ver o seu direito ser cumprido por meio de modalidades
económicas vide 774 CC. A consequência jurídica do inadimplemento culposo é a reversão em
perdas e danos, esta racionalidade permeia toda a estrutura legal das obrigações.

Relatividade

Aqui repousa a antropologia obrigacional. Advindo principalmente de negócios jurídicos, as


obrigações carregam em si os vínculos pessoais estabelecidos entre os pactuantes, assim,
dirigem-se contra indivíduos determinados, ou seja, entre aqueles que convencionaram o acto
negocial, no máximo perpassam aos seus herdeiros. Constitui uma relação de pessoa a pessoa,
não podendo ser postulada perante terceiros. Não é oponível erga omnes.

Transitoriedade

Diferente dos direitos reais que são perpétuos, o vínculo obrigacional extingue-se com o
adimplemento da prestação. O Código Civil proíbe a servidão civil, assim, ninguém poderá ficar
submetido a prestar uma obrigação pela vida toda. Os vínculos são renováveis, o que não poderá
ocorrer, é que alguém, pela falta de prazo determinado, se veja submetido indeterminadamente a
favor de outra pessoa. Todas as obrigações são temporárias e exequíveis.

Ilimitabilidade

As obrigações são expressão da autonomia privada, resultam da vontade das partes e dos meios
disponíveis para a execução. Diferentemente dos direitos reais que são criados pela legislação, o
direito obrigacional é uma categoria numerus apertus, sendo ilimitado o número de contratos
inominados.

O Código Civil traz um imenso rol de modalidades, contudo, ainda assim poderão surgir outras
formas, e desde que sejam consideradas válidas, criarão uma relação obrigacional perfeita. Aqui,
numa analogia ao Processo Civil, podemos sugerir o princípio da instrumentalidade das formas.

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O Leasing é um caso clássico, esta técnica especial de financiamento, que alia a posse transitória
de um bem escolhido pelo arrendador, não era prevista em nosso ordenamento, vindo a pouco ser
considerada forma de arrendamento mercantil.

Fontes das Obrigações

Fontes das obrigações Tradicionalmente designa-se por fonte das obrigações o conjunto de
factores susceptíveis de provocar o aparecimento concreto dessas figuras.

Consoante as bases etiológicas, fala-se em fontes económicas, sociais, históricas ou políticas. O


sentido que interessa para o nosso estudo de fontes das obrigações é o sentido técnico-jurídico.
Neste sentido, fontes das obrigações são factores aptos a produzir a situações obrigacionais
apenas as manifestações jurídicas de complexidade causal.

Fonte de obrigação é o facto jurídico de onde nasce o vínculo obrigacional. Trata-se da


realidade sub specie iuris que dá vida à relação creditória: o contrato, o negócio unilateral, o
facto ilícito, etc. Chama-se fonte de uma obrigação ao facto jurídico de que emerge essa
obrigação, ao facto jurídico constitutivo da obrigação.

A fonte tem uma importância especial na vida da obrigação, por virtude da atipicidade da
relação creditória. Enumeração legal apreciação crítica a sistematização das fontes das
obrigações foi feita, ao longo dos séculos, de maneiras diversas.

Uma primeira classificação:

a) Contratos;

b) Quase contratos;

c) Delitos;

d) Quase delitos.

Actualmente, face à nossa lei, são fontes das obrigações:

• Os Contratos (art. 405º segs. CC);

• Os Negócios Jurídicos Unilaterais (arts. 457º segs. CC);

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• A Gestão de Negócios (arts. 464º segs. CC);

• Enriquecimento Sem Causa (arts. 473º segs. CC);

Modalidades das Obrigações

A relação de subordinação estabelecida entre os titulares da relação traduz-se, no poder que tem
o credor de exigir a prestação, no dever que recai sobre o devedor de a efectuar e na sanção
aplicável ao devedor incumpridor ou em mora a requerimento do credor lesado.

É neste ponto (a possibilidade de exigir coercitivamente o cumprimento) que reside a distinção


entre obrigações civis ou perfeitas e obrigações naturais, nestas, tem o credor o poder de
pretender que o devedor cumpra a sua obrigação, nunca a possibilidade de o exigir de forma
coerciva.

A obrigação civil é a que permite que seu cumprimento seja exigido pelo próprio credor,
mediante acção judicial.

A obrigação natural é aquela a cuja execução não pode o devedor ser constrangido, mas cujo
cumprimento voluntário é pagamento verdadeiro.

O conceito legal da obrigação natural resulta do artigo 402 do CC que estatui que “a obrigação
diz-se natural, quando se funda num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento
não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça”.

No entanto, o credor pode reter a prestação a título de pagamento, caso o devedor a preste
livremente, esse cumprimento espontâneo do devedor é tido como válido e sujeito a retenção por
parte do credor (solutio retentio), logo, sem possibilidade de repetição por parte do devedor,
sendo aplicável as obrigações naturais o regime das obrigações civis (vide artigo 403º e 404º
ambos do CC).

Rafael de Menezes ensina que a obrigação civil produz todos os efeitos jurídicos, mas a
obrigação natural não, pois corresponde a uma obrigação moral. Há autores, segundo o autor,
que a chamam de obrigação degenerada. São exemplos: obrigação de dar gorjeta, obrigação de
pagar dívida prescrita, obrigação de pagar dívida de jogo, etc.

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Um desses casos está previsto no artigo 1245.º do CC ao estabelecer que o jogo e a aposta não
são contratos válidos nem constituem fonte de obrigações civis; porém, quando lícitos, são fonte
de obrigações naturais, excepto se neles concorrer qualquer outro motivo de nulidade ou
anulabilidade, nos termos gerais de direito, ou se houver fraude do credor na sua execução.

A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só vai pagar se quiser, bem
diferente da obrigação civil. Vocês sabem que se uma dívida não for paga no vencimento o
direito do credor mune-se de uma pretensão, e a dívida se transforma em responsabilidade
patrimonial. Mas tratando-se de obrigação natural, o credor não terá a pretensão para executar o
devedor e tomar seus bens. A dívida natural existe, mas não pode ser judicialmente cobrada, não
podendo o credor recorrer à Justiça.

A obrigação natural interessa ao Direito, embora corresponda a uma obrigação moral, porque ela,
mesmo sendo moral, possui um efeito jurídico: soluti retentio ou retenção do pagamento.

Como diz a doutrina, “a obrigação natural não se afirma senão quando morre”, ou seja, é com o
pagamento e sua extinção que a obrigação natural vai existir para o direito, assistindo ao credor
a soluti retentio.

Mas não se confunda obrigação natural com obrigação inexistente: se o sujeito A paga uma
dívida que nunca houve ou sujeito B, este não pode ficar com o dinheiro, sob pena de
enriquecimento sem causa. O sujeito A terá direito à repetitio indebiti (= devolução do indevido;
em direito “repetir” significa “devolver”, e “indevido” é o que não é devido). Na obrigação
natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio.

Nesta matéria, o artigo 476.º do CC é claro e afirma que sem prejuízo do disposto acerca das
obrigações naturais, o que for prestado com intenção de cumprir uma obrigação pode ser
repetido, se esta não existia no momento da prestação. Continua que a prestação feita a terceiro
pode ser repetida pelo devedor enquanto não se tornar liberatória nos termos do artigo 770.º e
que a prestação feita por erro desculpável antes do vencimento da obrigação só dá lugar à
repetição daquilo com que o credor se enriqueceu por efeito do cumprimento antecipado.

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Classificação das Obrigações em função dos tipos de prestações

Obrigação de coisa e de facto

Prestação de coisa – Aquela cujo objecto consiste na entrega de uma coisa. Por exemplo, na
hipótese de alguém comprar um bem, o vendedor obriga-se a entregá-lo (vide o que dispõe no
artigo 879º CC).

No que concerne às prestações de coisa podemos falar no objecto imediato e mediato da


prestação.

Objecto imediato – consiste na própria conduta a adoptar pelo devedor, no próprio acto de
entrega da coisa.

Objecto mediato – consiste na coisa em si, no objecto da prestação, o bem sobre o qual incide a
compra e venda.

Podendo existir na prestação de coisa a distinção que acabamos de assinalar, é de referir a


posição do Prof. Menezes Leitão; “O interesse do credor verifica-se normalmente em relação à
coisa, que tem uma existência independente da prestação, e não em relação à actividade do
devedor. No entanto, o direito de crédito nunca incide directamente sobre a coisa, antes sobre a
conduta do devedor, já que se exige sempre a mediação da actividade do devedor para o credor
obter o seu direito. Daí que mesmo nos casos de prestações de coisa, o credor não tenha qualquer
tipo de direito sobre a coisa, o que só sucede no caso dos direitos reais, mas antes um direito a
uma prestação, que consiste na entrega dessa coisa.

A Prestação de Facto – É aquela que consiste em realizar uma conduta de outra ordem, como na
hipótese de alguém se obrigar a prestar um serviço (vide o artigo 1154º do CC).

Prestações de facto material – São aquelas prestações em que a conduta que o devedor se
compromete a realizar é uma conduta puramente material, não destinada à produção de efeitos
jurídicos (ex. realizar ou não determinada obra).

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Prestações de facto jurídico – A conduta do devedor aparece destinada à produção de efeitos
jurídicos, sendo assim esse resultado jurídico incluído na prestação (ex. mandato, celebrar ou não
celebrar determinado contrato).

Prestações de facto positivo (facere) – aquelas em que a prestação tem por objecto uma acção.

Prestações de facto negativo – Aquelas em que a prestação tem por objecto uma omissão do
devedor (artigo 829 CC), estas subdividem-se em:

a)Prestações de non facere – aquelas em que a omissão se dirige à não adopção de determinada
conduta.

b)Prestações de pati – aquelas em que a omissão se dirige ao tolerar de determinada conduta de


outrem.

Obrigações fungíveis e obrigações infungíveis

a)Prestações fungíveis – aquelas em que a prestação pode ser realizada por outrem, que não o
devedor, podendo este fazer-se substituir no cumprimento (por exemplo, art.767º CC).

b)Prestações infungíveis – aquelas em que só o devedor pode realizar a prestação, não sendo
permitida a sua realização por terceiro (artigo 767º, n.º 2 CC).

Regra geral as prestações são fungíveis, no entanto o n.º 2 do artigo 767º CC admite a
infungibilidade de certas prestações, essa infungibilidade pode ser natural (quando a substituição
do devedor cause prejuízos ao credor) ou convencional (quando os titulares da relações
houverem acordado que a prestação apenas poderá ser cumprida pelo devedor).

A fungibilidade da prestação tem uma importância especial para efeito da execução específica da
obrigação. Efectivamente, se a prestação é fungível, pode o credor, sem prejuízo para o seu
interesse, obter a realização da prestação de qualquer pessoa e não apenas do devedor. Admite-
se, por isso, que o credor requeira ao tribunal que determine a realização da prestação por outrem
a expensas do devedor (artigos 827º, 828º e SS CC).

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Se a prestação é infungível, a substituição do devedor no cumprimento já não é possível, pelo
que a lei não admite a execução específica da obrigação.

De referir ainda o regime específico a que as obrigações infungíveis estão sujeitas, em caso de
impossibilidade da prestação, uma vez que nelas a impossibilidade relativa à pessoa do devedor
acarreta mesmo a extinção da obrigação, em virtude de não ser admitida a sua substituição no
cumprimento, como se pode constatar do disposto no artigo 791º CC.

Obrigações instantâneas e obrigações duradouras

Prestações instantâneas – são aquelas cuja execução ocorre num único momento (ex. entrega
da coisa no contrato de compra e venda, art.879ºb).

Contidas nas prestações instantâneas estão:

a)Prestações instantâneas integrais – são as que são realizadas de uma vez só (ex. realização da
obra pelo empreiteiro, art.1208º CC).

b)Prestações instantâneas fraccionadas – são aquelas em que o seu montante global é dividido
em varias fracções, a realizar sucessivamente (ex. o pagamento do preço na venda a prestações,
art. 934º CC).

Prestações duradouras – aquelas cuja execução se prolonga no tempo, em virtude de terem por
conteúdo ou um comportamento prolongado no tempo ou uma repetição sucessiva de prestações
isoladas por um período de tempo (ex. as prestações relativas ao contrato de locação).

O essencial para a caracterização de uma prestação como duradoura é que a sua realização global
dependa sempre do decurso de um período temporal, durante o qual a prestação deve ser
continuada ou repetida.

Neste sentido, podemos distinguir, dentro das prestações duradouras:

a)Prestações duradouras continuadas – a prestação não sofre qualquer interrupção (ex. a


prestação do locador, art.1031º).

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b)Prestações duradouras periódicas – a prestação é sucessivamente repetida em certos
períodos de tempo (ex. o pagamento da renda pelo locatário, art.1038º). Trata-se de uma
prestação duradoura no sentido em que aumenta em função do decurso do tempo.

Pelo contrário, as prestações instantâneas não têm o seu conteúdo e extensão delimitados em
função do tempo.

As prestações instantâneas fraccionadas podiam confundir-se com as prestações duradouras


periódicas. A distinção é facilmente perceptível.

Nas prestações instantâneas fraccionadas está-se perante uma única obrigação cujo objecto é
dividido em fracções, com vencimentos intervalados, pelo que há sempre uma definição prévia
do seu montante global e o decurso do tempo não influi no conteúdo e extensão da prestação,
mas apenas no seu modo de realização.

Nas prestações duradouras periódicas, verifica-se uma pluralidade de obrigações distintas,


embora emergentes de um vínculo fundamental que sucessivamente as origina, pelo que, por
definição, não pode haver qualquer fixação inicial do seu montante global, já que é o decurso do
tempo que determina o número de prestações que é realizado. Assim, o locatário só deve as
rendas correspondentes ao tempo de duração do contrato de locação, sendo sempre em função do
decurso do tempo que se determina o conteúdo da sua obrigação.

O facto do decurso do tempo determinar o conteúdo da obrigação e não apenas o momento em


que esta deve ser realizada é assim o que distingue as prestações duradouras das instantâneas.

Obrigações genéricas e Obrigações Alternativas

O artigo 539.º CC estabelece que “se o objecto da prestação for determinado apenas quanto ao
género, compete a sua escolha ao devedor, na falta de estipulação em contrário”. Porém,
enquanto a prestação for possível com coisas do género estipulado, não fica o devedor exonerado
pelo facto de perecerem aquelas com que se dispunha a cumprir, segundo o artigo 540 CC.

As obrigações alternativas encontram o seu assentamento no artigo 543.º do CC que ao ditar que
é alternativa a obrigação que compreende duas ou mais prestações, mas em que o devedor se

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exonera efectuando aquela que, por escolha, vier a ser designada. Refere ainda que na falta de
determinação em contrário, a escolha pertence ao devedor. Nas obrigações alternativas o devedor
não pode escolher parte de uma prestação e parte de outra ou outras, nem ao credor ou a terceiro
é lícito fazê-lo quando a escolha lhes pertencer.

Obrigações determinadas e obrigações indeterminadas

Resulta dos art. 280º e 400º que a prestação, enquanto objecto da obrigação, não necessita de se
encontrar determinada no momento da conclusão do negócio, bastando que seja determinável.
Como tal distinguimos entre:

Prestações determinadas – São aquelas em que a prestação se encontra completamente


determinada no momento da constituição da obrigação.

Prestações indeterminadas – São aquelas em que a determinação da prestação ainda não se


encontra realizada, pelo que essa determinação terá que ocorrer até ao momento do
cumprimento.

Razões para a indeterminação da prestação no momento da conclusão do negocio:

Essa indeterminação pode resultar do facto de as partes não terem julgado necessário tomar
posição sobre o assunto, em virtude de existir regra supletiva aplicável, ou de pretenderem
aplicar ao negócio as condições usuais do mercado. Outras vezes resulta de as partes terem
pretendido conferir a uma delas a faculdade de efectuar essa determinação, porque só essa parte
tem os conhecimentos necessários para o poder fazer adequadamente.

As partes podem acordar que essa informação seja fornecida à outra parte antes da celebração do
contrato. Nesses casos a prestação vem a ser determinada durante as negociações, o que permite
que esteja determinada no momento da conclusão do negócio.

Quando, porem, essa circunstancia não ocorre, tal significa que as partes delegaram numa delas a
faculdade de determinar o conteúdo da prestação. Essa situação pode qualificar-se como um
poder potestativo, que tem como contrapolo um estado de sujeição a contraparte vai ver o

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conteúdo da prestação ser determinado pela outra parte. No entanto, e ao abrigo do art.400º, o
poder de determinar a prestação nunca é absoluto.

Obrigações de meio e obrigações de resultado

Prestações de resultado – o devedor vincula-se a obter um resultado determinado, respondendo


por incumprimento se tal resultado não for alcançado.

Prestações de meios – o devedor não está obrigado à obtenção do resultado, apenas a actuar
com a diligência necessária para que esse resultado seja obtido.

A distinção entre prestações de resultado e prestações de meio veio a ser alvo de críticas na
doutrina.

Gomes da Silva demonstra o fracasso da distinção. Com efeito, mesmo nas obrigações de meios
existe a vinculação a um fim, que corresponde ao interesse do credor, e se o fim não é obtido
presume-se sempre a culpa do devedor. Efectivamente, em ambos os casos, aquilo a que o
devedor se obriga é sempre uma conduta (a prestação), e o credor visa sempre um resultado, que
corresponde ao seu interesse (nº2, art. 398º).

Por outro lado, cabe sempre ao devedor o ónus da prova de que realizou a prestação (art.342º
nº2) ou de que a falta de cumprimento não procede de culpa sua (art.799º).

Obrigações pecuniárias

Consiste numa prestação de pagamento em dinheiro a favor do credor. A lei refere que o
cumprimento das obrigações pecuniárias faz-se em moeda que tenha curso legal no País à data
em que for efectuado e pelo valor nominal que a moeda nesse momento tiver, salvo estipulação
em contrário (vide artigo 550 CC). É permitida a actualização das prestações, em atenção às
flutuações do valor da moeda, observando as regras do artigo 551 do Código Civil.

A obrigação pecuniária pode ser de quantidade (artigo 550 CC) e de moeda específica com
quantitativo expresso (artigo 552º CC), de moeda específica sem quantitativo expresso em
moeda corrente (artigo 553º CC) de moeda específica ou de certo metal com quantitativo
expresso em moeda corrente (artigo 554º CC) de moeda específica sem curso legal (artigo 555º
CC) ou mesmo em moeda estrangeira (artigos 558 e ss CC).

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Obrigações de Juro

São as obrigações que geram juros em, por acordo das partes ou por imposição legal, em casos
de mora do devedor. Estão previstas no artigo 559 do CC.

É importante notar que os juros usurários são anuláveis, nos termos do artigo 1146 do Código
Civil.

Classificação das obrigações em função da pluralidade dos sujeitos

Obrigações solidárias

O artigo 512 do CC define obrigação solidária, quando cada um dos devedores responde pela
prestação integral e esta a todos libera, ou quando cada um dos credores tem a faculdade de
exigir, por si só, a prestação integral e esta libera o devedor para com todos eles.

A obrigação não deixa de ser solidária pelo facto de os devedores estarem obrigados em termos
diversos ou com diversas garantias, ou de ser diferente o conteúdo das prestações de cada um
deles; igual diversidade se pode verificar quanto à obrigação do devedor relativamente a cada um
dos credores solidários (artigo 512, n.º 2 CC).

A solidariedade de devedores ou credores pode resultar da lei ou da vontade das partes (artigo
513 CC).

São solidárias porque não depende da divisibilidade do objecto, pois decorre da lei ou até mesmo
da vontade das partes. Pode ser solidariedade activa ou passiva, de acordo com os sujeitos que se
encontram em número plural dentro da relação. Quando qualquer um deve responder pela dívida
inteira, assim que demandado, tendo direito de regresso contra o sujeito que não realizou a
prestação.

EX:. "A" e "B" são sujeitos passivos de uma obrigação. "C", sujeito activo, demanda o
pagamento da dívida a "A" que cumpre a prestação sozinha e pode, posteriormente, cobrar de
"B" a parte que pagou a mais.

AULAS DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕ ES Á lvaro Cumbane Pá gina 16


Obrigações divisíveis e plurais indivisíveis

Segundo o artigo 534 do CC, as obrigações divisíveis são iguais as partes que têm os vários
credores ou devedores, se outra proporção não resultar da lei ou do negócio jurídico; mas entre
os herdeiros do devedor, depois da partilha, serão essas partes fixadas proporcionalmente às suas
quotas hereditárias, sem prejuízo do disposto nos nºs 2 e 3 do artigo 2098.º.

Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores constam do artigo 535º do CC e assevera


que “se a prestação for indivisível e vários os devedores, só de todos os obrigados pode o credor
exigir o cumprimento da prestação, salvo se tiver sido estipulada a solidariedade ou esta resultar
da lei” e que quando ao primitivo devedor da prestação indivisível sucedam vários herdeiros,
também só de todos eles tem o credor a possibilidade de exigir o cumprimento da prestação.

Se a obrigação indivisível se extinguir apenas em relação a algum ou alguns dos devedores, não
fica o credor inibido de exigir a prestação dos restantes obrigados, contanto que lhes entregue o
valor da parte que cabia ao devedor ou devedores exonerados. (artigo 534 CC).

AULAS DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕ ES Á lvaro Cumbane Pá gina 17

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