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01. Obrigação civil.

É aquela na qual existe um vínculo jurídico de prestação


entre o credor e o devedor. O devedor da relação pode ser alvo de
uma intervenção estatal por parte do credor caso esse não cumpra com a
obrigação. Por outras palavras, a obrigação civil é aquela que é juridicamente
exigível visto que, verificado o incumprimento da mesma, o credor terá o
direito de intervir judicialmente para garantir o cumprimento por parte do
devedor. O conceito de obrigação civil está descrito no art.397º CC.

02. Prestação pode ter um conteúdo negativo? Exemplifique e dê a


base legal.
Segundo o art.398º CC a obrigação pode ter um conteúdo
positivo e um conteúdo negativo. Se a obrigação tem como prestação o fazer
algo, a entrega de uma coisa, o pagamento de algo, etc. tem um conteúdo
positivo. Se a obrigação tem, por exemplo, uma prestação de não entregar algo
a outro indivíduo tem um conteúdo negativo, ou seja, a prestação negativa é
aquela que proíbe o sujeito de fazer algo.

03. Objeto de uma obrigação.


De acordo com o art.280º CC “é nulo o negócio jurídico cujo
objeto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou indeterminável” e
ainda “é nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos bons
costumes”.
Destaco também o art.405º, nº1 do mesmo diploma que nos diz que “dentro
dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos
contratos (...)”.
Deste modo tudo pode ser objeto de uma obrigação ou de um contrato desde
que se encontre dentro dos limites da lei, seja física ou legalmente possível e
ainda determinável. É ainda importante mencionar que não pode ser ofensivo
dos bons costumes, ou seja, tem que estar de acordo com o princípio da boa-fé
e do princípio da legalidade respeitando sempre a vontade das partes.

04. Obrigação natural cumprida poderá ser questionada?


A resposta é depende. Regra geral não, porque nas obrigações naturais a
regra geral é de que aquilo que foi pago de forma voluntária em cumprimento de
uma obrigação natural não pode ser pedido de volta, exceto se o devedor não
tiver capacidade para efetuar a prestação (de acordo com o art.403º CC).
De acordo com o art.402º CC “a obrigação diz-se natural,
quando se funda num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento
não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça”.
Nota: Contrariamente, a obrigação civil é aquela que é legalmente exigível
de acordo com o art.397º CC.
05. Fontes das obrigações.
Fontes de obrigações são aqueles acontecimentos jurídicos que dão origem a
uma obrigação. Temos então os contratos (por excelência), a gestão de negócios,
os negócios unilaterais, a responsabilidade civil e o enriquecimento sem causa.

06. Responsabilidade civil pelo risco.


Aquela responsabilidade que recai sobre aquelas atividades potencialmente
perigosas por um determinado sujeito de direito. Esta tem como característica
própria, regra geral, a inversão do ónus da prova porque na segunda parte do
art.487º CC está presente a culpa presumida (ou a culpabilidade). Por outras
palavras, na responsabilidade civil pelo risco a culpabilidade do sujeito causador
da lesão é uma culpabilidade presumida em função da atividade prestada por
esse sujeito, e.g.quem tem uma criação de animais nos termos do art.502º CC.
Nota: Está presente nos arts.483º, nº2, 489º, 502º, 503º e 509º CC.

07. Patrimonialidade enquanto característica da obrigação.


O direito das obrigações nasceu como um direito para regular a vida
económica em sociedade latino-romana e, regra geral, quando justificamos a
importância do direito das obrigações mencionamos valores pecuniários.
A patrimonialidade é a característica mais importante do direito das obrigações
porque quase sempre por trás de uma obrigação existem valores monetários.
Não importa se é uma obrigação de fazer ou não fazer alguma coisa ou de
entregar alguma coisa porque podemos, por exemplo, de ter que indemnizar
alguém e quem responde pela obrigação é todo o património do devedor.
EXCEÇÃO: Nem todas as obrigações têm esta característica - art.398º, nº2 CC -.

08. Princípios a serem observados na constituição das Obrigações.


A) Princípio da boa-fé - Este princípio é basicamente uma exigência de uma
conduta leal por parte dos contratantes. Na prática, isto significa que estes
devem respeitar os deveres anexos à conduta de uma relação contratual. Tais
deveres delimitam, por exemplo, qual deve ser o comportamento das partes.
B) Princípio da liberdade contratual - Este princípio está descrito no art.405º
CC e diz-nos que, dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de
fixar livremente o conteúdo dos contratos.
C) Princípio da legalidade - O princípio da legalidade está também presente no
art.405º CC, quando nos é dito que dentro dos limites da lei, e.g.as partes podem
fixar livremente o conteúdo dos contratos.
D) Princípio da dignidade da pessoa humana - O princípio da dignidade da
pessoa humana é um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja, todo ser
humano é dotado desse preceito, e tal constitui o princípio máximo do Estado
Democrático de Direito. Deste modo é importante transpô-lo para o direito das
obrigações, mais precisamente para os contratos visto que uma obrigação tem
que respeitar os valores ou a dignidade da pessoa humana.
E) Princípio da pontualidade - Este princípio está descrito no art.406º CC e
basicamente quer dizer que o contrato tem que ser cumprido de forma
restrita e pontual, seja isso nos termos de prazos ou de cláusulas.
09. Aquele que cumpre uma obrigação alheia pensando ser sua ou
no lugar de outrem.
Aqui falamos no direito de regresso porque se alguém paga uma obrigação
no lugar de outrem, essa pessoa tem o direito de pedir de volta aquilo que pagou.
Por outras palavras, se cumpri uma obrigação no lugar de outra pessoa o direito
faculta-me a possibilidade de me resguardar desta forma.
Nota: Artigos a mencionar sobre o direito de regresso - arts. 512º, 524º CC.

10. Danos patrimoniais vs Danos não patrimoniais.


A) Danos patrimoniais: incidem sobre uma alteração direta do património do
sujeito lesado, por outras palavras, alteram ou prejudicam o património do
lesado (são, normalmente, os bens materiais).
B) Danos não patrimoniais (ou danos morais) que são, por exemplo, quando
alguém causa um constrangimento do ponto de vista psicológico a outra
pessoa.
Nota: No mesmo ato lesivo podem ocorrer as duas modalidades de danos.

11. Dano futuro vs Dano emergente.


A) Danos futuros (lucros cessantes): são aqueles que provocam estragos
futuros ao lesado, isto é, são os danos que o indivíduo que sofreu a injúria
deixou de ganhar/obter devido ao acontecimento (se não tivesse ocorrido o
facto gerador o lesado não sairia
prejudicado futuramente). Esta matéria está regulada no art.496º, nº1 (que
refere os danos indemnizáveis) e no art.564º, nº2 CC.
B) Danos emergentes: são aqueles que são considerados decorrentes e diretos
do facto que deu origem ao acontecimento. Por outras palavras, é o efeito
danoso, direto e imediato, de um ato, em regra, considerado ilícito que crie
uma obrigação de reparação pelo autor, uma indemnização do lesante ao
lesado.
Esta matéria está regulada no art.564º, nº1 CC.

12. Princípio geral da responsabilidade civil.


O princípio geral na responsabilidade civil está presente no art.483º CC que
nos diz que aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação,
mas só existe obrigação de indemnizar nos casos especificados na lei
(independentemente de culpa).

13. Pressupostos (requisitos) da responsabilidade civil.


Para que seja configurada a responsabilidade civil é preciso que estejam
presentes os seguintes requisitos: a conduta, o dano, o nexo causal (ou o nexo
de causalidade) e a culpa (ou o dolo). Assim, deve acontecer um facto (por ação
ou omissão do agente) que cause dano a outra pessoa, devendo existir uma
relação entre o facto e o dano (nexo causal) e tem que ser comprovada a culpa.
É importante mencionar que a culpa ou o dolo pode caracterizar-se como a
intenção de causar o dano, ou seja, quando o agente atua com negligência
(quando a pessoa sabe que deve ter determinada atitude, mas deixa de fazer o
que é necessário para impedir determinado desfecho.
Exemplos de culpa/dolo:
a) quando o empregador deixa de fornecer equipamentos de proteção individual
para os seus empregados;
b) Imprudência: quando a pessoa deixa de cumprir regras que teriam
evitado o facto ou quando age sem cautela, ou seja, e.g. acidente por excesso de
velocidade;
c) Imperícia: ocorre pela falta de qualificação ou ausência de conhecimentos do
profissional para realizar determinada atividade, e.g. quando o dano é causado
pelo despreparo do operador para trabalhar com um determinado
equipamento.

14. Responsabilidade solidária.


Quando falamos de responsabilidade solidária estamos basicamente a referir-
nos ao facto de que uma dívida conta com mais que um devedor, ou seja, há
mais que uma pessoa a ser responsável pela mesma dívida, sendo todos
igualmente responsáveis por essa dívida. Neste caso, qualquer um dos devedores
pode ser cobrado pelo credor para pagar a integralidade do valor devido, por outras
palavras, o credor pode cobrar o total da dívida a todos os responsáveis ou
apenas a quem ele acha que tem maiores possibilidades de lhe conseguir pagar.
A responsabilidade solidária está prevista no art.497º CC que nos
diz que “se forem várias as pessoas responsáveis pelos danos, é solidária a sua
responsabilidade” e que “o direito de regresso entre os responsáveis existe na
medida das respetivas culpas e das consequências que delas advieram,
presumindo-se iguais as culpas das pessoas responsáveis”, assim (nos termos do
art.524º CC) os responsabilizados pela dívida ou os devedores que
pagam ao credor mais do que a sua parte numa dívida solidária têm o direito de
exigir aos outros devedores as suas respetivas partes.

15. Obrigação alternativa e a sua indivisibilidade?


a) Obrigação alternativa, noção e exemplo: Consistem também em
modalidades de prestações indeterminadas, que se caracterizam por existirem
duas ou mais prestações de natureza diferente, mas em que o devedor se
exonera com a mera realização de uma delas que, por escolha, vier a ser
designada (art.543º CC). Assim, se o devedor se obrigar a entregar ao credor o
barco X ou o automóvel Y cumpre a obrigação se entregar qualquer um destes
objetos. As duas prestações encontram-se em alternativa, mas apenas uma
é concretizável através de uma escolha. Na falta de determinação em
contrário, a escolha pertence ao devedor. (art.543º, nº2 CC). Assim, apesar
de existirem duas ou mais prestações, o devedor tem apenas uma
obrigação, e o credor apenas um direito de crédito. Só constituem
obrigações alternativas aquelas que pressupõem uma escolha entre
prestações. Não são assim obrigações alternativas aquelas em que só existia
uma prestação, mas se possa escolher a forma da sua execução,
designadamente em termos de lugar e prazo. Também não são obrigações
alternativas aquelas em que se estabeleça uma alternativa condicional,
realizando-se uma prestação em caso de verificação da condição e outra em caso
da sua não verificação.
b) Indivisibilidade: Nas obrigações alternativas, a escolha tem que se verificar
entre uma ou outra das prestações, não sendo permitido, mesmo tratando-se de
prestações divisíveis, que aquele a quem incumbe a escolha (o devedor ou o
próprio credor) decida realizá-la entre parte de uma prestação ou parte de
outra (art.544º CC).

16. Garantias gerais das obrigações.


O cumprimento da obrigação é assegurado pelos bens que integram o
património do devedor. O património do devedor constitui assim a garantia geral
das obrigações. Garantia geral porque a cobertura tutelar dos bens penhoráveis
do devedor abrange a generalidade das obrigações do respetivo titular.
Nota: Ao lado da garantia geral pode haver garantias especiais do crédito, quer
sob bens de terceiros, quer sobre bens do próprio devedor, que asseguram de
modo particular a satisfação do crédito do titular da garantia.
Embora a garantia geral, bem como as garantias especiais, só se destinem a ser
executadas no caso do não cumprimento da obrigação, a verdade é que a
garantia geral acompanha a obrigação desde o nascimento desta, tal como as
garantias especiais reforçam, desde a sua constituição, a consistência
económico-jurídica do vínculo obrigacional.
Como regra, todos os bens do devedor, isto é, todos os que os que constituem o
seu património, respondem pelo cumprimento da obrigação. Esta é a garantia
geral que se torna efetiva por meio da execução (art.817º CC),
sendo que apenas as obrigações naturais são inexequíveis (art.404º CC).
Assim, nem todos os bens do devedor integram a garantia da obrigação visto que
só garantem o cumprimento da obrigação os bens (do devedor) que possam ser
penhorados. Por outras palavras, há bens que a lei processual considera
impenhoráveis sacrificando o interesse do credor em obter a satisfação do crédito ou a
reparação do direito violado ao interesse do devedor em manter a coisa na sua
posse ou o direito na sua titularidade. A impenhorabilidade pode revestir uma
dupla modalidade: os bens discriminados nas diversas alíneas do art.822º CPC, que
são bens absoluta ou totalmente impenhoráveis; ou os bens mencionados nos
arts.823º e 824º CPC que são, por sua vez, relativa ou parcialmente impenhoráveis.

17. Garantias especiais das obrigações.


Consistem em situações em que a posição do credor aparece reforçada
para além do que resultaria simplesmente da responsabilidade patrimonial do
devedor. Em termos genéricos existe uma garantia especial sempre que exista algum
reforço da posição jurídica do credor, em confronto com a posição de outros
credores.
Assim, esse reforço pode passar pela atribuição de um direito subjetivo com fins
de garantia, o que ocorrerá sempre que a garantia consista num bem
determinado, que será uma prestação (no caso das garantias pessoais) ou uma
coisa (no caso das garantias reais).
Nota: Efetivamente o que é essencial é que um dos credores se encontre, em
comparação com os demais, numa posição de benefício, assim que se quebra a
normal igualdade entre credores.
Modalidades de garantias especiais:
a) a caução (art.623º CC);
b) a fiança (art.627º CC);
c) a consignação de rendimentos (art.656º CC);
d) o penhor (art.666º CC);
e) a hipoteca (art.686º CC).

18. “A” foi obrigada a prestar caução, não foi designada a espécie
que ela deveria revestir. Que alternativas têm? Fundamente.
Primeiramente existem 3 modalidades de caução
a) a caução legal: está prevista na própria lei, e.g.o Tribunal afirma que para
conceder determinada ação é necessário um depósito de uma caução como
garantia que no final se a minha fundamentação não for verdadeira a outra
parte não fica no prejuízo
b) a caução judicial: aquela que é imposta por um Tribunal
c) a caução negocial: aquela que as partes da relação jurídica estabelecem entre
elas.
Nota: Tem que ficar claro que a caução é um meio de garantia de cumprimento
das obrigações, no final o bem é restituído de forma integral na esfera do sujeito
titular - art.623º, nº1 CC.

19. Impugnação pauliana.


A impugnação pauliana ou ação pauliana é uma ação judicial que permite aos
credores atacar judicialmente certos atos (e.g. contratos de compra e venda,
doações, etc.), válidos ou inválidos, celebrados pelos devedores em seu prejuízo
(art.610º CC).

20. Sub-rogação do devedor.


No direito das obrigações, a sub-rogação é uma forma do credor substituir o
devedor quando o devedor não atua (art.606º CC). Por outras
palavras, o pagamento com sub-rogação é um instrumento jurídico utilizado
para se efetuar o pagamento de uma dívida, substituindo-se o sujeito
da obrigação, mas sem extingui-la, visto que a dívida será considerada extinta
somente quando o novo devedor pagar a mesma face ao antigo credor, por
outras palavras, o devedor é um indivíduo diferente mas o credor permanece o
mesmo (sendo que os direitos obrigacionais do novo devedor e do antigo credor
se mantém exatamente iguais mesmo com a mudança do devedor).
21. Características da fiança.
A fiança é, basicamente, o contrato por meio do qual uma pessoa se obriga
por outra, para com o seu credor, a satisfazer a obrigação, caso o devedor não a
cumpra. É importante salientar que a fiança é um contrato acessório, logo
depende de (ou exige) a forma escrita e destina-se a oferecer ao devedor uma
segurança de pagamento.
Temos, neste âmbito, de mencionar que a fiança se extingue pela extinção da
obrigação principal, pela concessão de moratória ao devedor principal ou por ato
do credor que torne impossível a sub-rogação do fiador nos seus direitos de
preferências.

22. Princípio da autonomia da vontade das partes na obrigação


que nasce de um contrato.
O princípio da autonomia da vontade está descrito no art.405º CC e diz-nos
que, dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o
conteúdo dos contratos.

23. Responsabilidade civil contratual vs extracontratual?


a) Responsabilidade civil contratual: ocorre quando se vulnera (= causar
prejuízo a) um dever de conduta que nasce de um contrato;
b) Responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana): ocorre quando
um sujeito de direito, ou por um comportamento culposo ou doloso, causa dano a
outrem.

24. Responsabilidade civil objetiva vs responsabilidade civil


subjetiva?
a) Responsabilidade civil objetiva: tem como requisitos a conduta, o dano e o
nexo de causalidade, ou seja, nesses casos o causador do dano deverá
indemnizar a vítima mesmo que não seja comprovada a culpa (apenas tem que
ser provado o nexo de causalidade para que o causador do dano tenha o dever
de indemnizar a vítima).
Esta modalidade de responsabilidade está fundamentada no art.483º, nº2 CC onde se
verifica a premissa “independentemente da culpa”. Podem
ainda mencionar-se os arts.499º, 502º e 503º, nº 1, 2 e 3. Destaco ainda o
art.487º CC, nº1 que depois da vírgula [“(...) salvo havendo presunção legal de
culpa.”] menciono também a culpa presumida e, consequentemente, a
responsabilidade civil objetiva ou pelo risco.
b) Responsabilidade civil subjetiva: tem como requisitos comprovar a
conduta, o dano, o nexo de causalidade e a culpabilidade do agente, ou seja,
nesta modalidade de culpa é necessário provar a culpabilidade do agente
(contrariamente à responsabilidade civil objetiva). No Código Civil encontram-
se os seguintes artigos a referir esta matéria: arts.483º,
nº1 e 487º, nº1 até à vírgula [“(...) É ao lesado que incumbe provar a culpa do
autor da lesão (...)”]. Assim, é importante distinguir o dolo (que é uma culpa mais
grave onde o agente tem consciência do que estava a fazer) e a mera culpa (que
equivale à negligência, sendo que esta não é uma culpa tão grave como o dolo).
25. Gestão de negócios como fonte de obrigações.
No art.464º CC temos presente o conceito da gestão de
negócios. Assim, há gestão de negócios, quando alguém assume a direção de um
“negócio” alheio no interesse e em nome do titular do direito, ou seja, no
interesse do dono e sem autorização desse.
Esta fonte de obrigações tem como requisitos:
a) a aprovação da direção de negócio alheio;
b) a atuação no interesse do dono do negócio;
c) a autorização do dono.
Assim a gestão de negócios cria deveres na esfera do gestor e direitos na esfera do
dono.
Mais precisamente, o gestor tem que informar o dono, não interromper
a gestão, atuar em conformidade com o interesse e vontade real ou presumida
do dono e prestar os bens e as contas ao final da gestão (art.465º e ss CC). De
seguida, o dono tem que aprovar a gestão (se esta estiver
correta), pagar ao gestor as suas despesas e indemnizá-lo dos
prejuízos (art.468º CC).

26. Carácter subsidiário do enriquecimento sem causa.


Este princípio vem a ser consagrado no art.473º, nº1 CC, que
dispõe que “aquele que, sem causa justificativa, enriquecer à custa de outrem é
obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupletou”, apresentando-
se, por isso, como um princípio em forma de norma, através do qual se institui
uma fonte das obrigações genérica, segundo a qual o enriquecido fica obrigado
a restituir ao empobrecido o benefício que injustificadamente obteve à custa
dele. A cláusula geral do art.473º, nº1 permite o exercício da ação de
enriquecimento sempre que alguém obtenha um enriquecimento à custa de
outrem sem causa justificativa.
Pressupostos constitutivos do enriquecimento sem causa:
a) a existência de um enriquecimento;
b) a obtenção desse enriquecimento à custa de outrem;
c) ausência de causa justificativa para o enriquecimento.
Assim, sempre que se verificasse a reunião de todos estes pressupostos, seria
possível interpor uma ação a exigir a restituição do enriquecimento sem causa.
Nota: O problema, no entanto, é que esses pressupostos são tão amplos e
genéricos, que seria possível efetuar uma aplicação indiscriminada desta cláusula
geral, colocando em causa a aplicação de uma série de outras regras de direito
positivo. Por esse motivo, o legislador decidiu consagrar expressamente no
art.474º a denominada subsidiariedade do instituto do enriquecimento sem
causa, determinando que “não há lugar à restituição por enriquecimento, quando a
lei facultar ao empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituído, negar o
direito à restituição ou atribuir outros efeitos ao enriquecimento”. Esta norma
pretende estabelecer que a ação de enriquecimento seja o último recurso a
utilizar pelo empobrecido. Estar-lhe-á, por isso, vedada a sua utilização no caso
de possuir outro fundamento para uma ação de restituição (como em caso de
invalidade ou resolução do contrato), no caso de a lei pretender que a aquisição
à custa de outrem seja definitiva (como nas hipóteses de usucapião e prescrição)
ou quando a lei atribui outros efeitos ao enriquecimento sem causa (como na
modificação do contrato, em caso de usura ou alteração das circunstâncias).
Em suma, o enriquecimento sem causa consiste numa vantagem patrimonial que
pode apresentar-se de diversas formas, ou seja:
a) como um aumento do ativo (e.g. preço por venda de coisa inexistente ou
alheia, ou própria mas já cedida ou nunca prestada);
b) como o uso, consumo ou exercício de coisas ou direito alheio (usufruto de
coisa alheia, consumo de alimentos alheios, etc.).
Nota: O carácter subsidiário do enriquecimento como fonte das obrigações é
importante porque propicia um maior benefício às vítimas quando estipula a
possibilidade de aplicação de outros institutos de maior abrangência como, por
exemplo, a responsabilidade civil.

27. Obrigação de sujeitos determinados.


É uma obrigação de sujeitos determinados, é quando as partes estão
definidas na relação jurídica, e.g. um contrato de compra e venda.

28. Obrigações singulares vs Obrigações plurais.


Pode estar relacionado com os sujeitos ou com as prestações, se falarmos de
uma obrigação alternativa a obrigação relacionada com a prestação está também no
plural porque a parte pode terminar a obrigação entregando uma coisa ou outra, no
que diz respeito aos sujeitos , é plural quando existe mais que um sujeito em algum
dos polos na relação jurídica. Singular entre duas pessoas, uma em cada polo da
relação jurídica.

29. Obrigação conjunta vs Obrigação solidária?


a) obrigação conjunta: cada uma das partes responde só por sua parte;
b) obrigação solidária: qualquer um dos sujeitos pode responder pela totalidade
da dívida da obrigação.
Nota: Esta pergunta também pode ser feita do seguinte modo: numa obrigação
conjunta o credor pode executar a totalidade do crédito em cima de um devedor
só? A RESPOSTA É NÃO, a não ser que seja numa obrigação solidária..

30. Bens jurídicos suscetíveis de penhora.


O art.601º CC diz-nos que “pelo cumprimento da obrigação respondem todos
os bens do devedor suscetíveis de penhora, prejuízo dos regimes especialmente
estabelecidos em consequência da separação de patrimónios”. Regra geral, todos
os bens do devedor, isto é, todos os que constituem o seu património,
respondem pelo cumprimento da obrigação. Esta é uma garantia geral que se
torna efetiva por meio da execução (art.817º CC). Neste seguimento é importante
destacar que nem todos os bens do devedor integram a garantia da obrigação, alguns
bens do devedor só garantem o cumprimento da obrigação. Assim, há bens que a lei
processual considera impenhoráveis, sacrificando o interesse do credor em obter
a satisfação do crédito ou a reparação do direito violado ao interesse do devedor
em manter a coisa na sua posse ou o direito na sua titularidade.
Assim, são bens absoluta ou totalmente impenhoráveis aqueles descritos no
art.736º CPC; são bens relativamente impenhoráveis
aqueles descritos no art.737º CPC; e são bens parcialmente penhoráveis
os descritos no art.738º CPC.

31. Obrigação genérica.


Aquelas cujo objeto definido pelos sujeitos da relação é apenas quanto ao
género. e.g. quando as partes no negócio jurídico definem que o objeto da obrigação
será entregar 50 carneiros. É importante mencionar que normalmente o objeto da
prestação é obrigatório ficar definido, mas não é preciso ficar definido o
quantum ou a especificidade, às vezes as partes atribuem apenas um género.
Estas obrigações estão definidas no art.539º CC, que nos diz que
“se o objeto da prestação for determinado apenas quanto ao género, compete a
sua escolha ao devedor, na falta de estipulação em contrário”. É importante
termos noção de que quando falamos de “obrigações” estamos a referir-nos a
bens ou algo que possa ser convertido em património.
Assim, quando o legislador nos diz no art.539º CC “(...) na falta de estipulação em
contrário” quer dizer que as partes, utilizando o princípio da autonomia privada,
podem estabelecer um contrato genérico, e.g.o credor pode dizer “eu
tenho cabras e ovelhas, porém a escolha não vai ser do devedor”.
No art.405º verificamos que somos remetidos para os limites da lei, quando este
afirma que as partes, após cumprirem os requisitos necessários para um contrato,
podem “tudo e mais um pouco” porque estão dentro da autonomia privada.
Porém, no início do art.539º, o legislador introduziu o princípio da decisão (da
interpretação ou da lei mais benéfica) quando nos diz que “se o objeto da
prestação for determinado apenas quanto ao género compete a escolha ao
devedor (...)”, para simplificar: e.g. Maria e João constituem uma obrigação cujo
objeto da prestação estava definido apenas em 300 ovelhas, mas não se falou do
tamanho da ovelha, da raça, das idades, das condições, etc., ou seja, se nada
estiver estipulado, a escolha pertence ao devedor. Por outras palavras, este
princípio da lei mais benéfica aparece na relação de direito privado, por exemplo,
se olharmos para os códigos de defesa dos consumidores basicamente toda a
doutrina mundial prescreve que “na interpretação de um contrato de consumo
interpreta-se sempre favorável a parte fragilizada” (que é consumidor), isto é o
princípio da decisão, da interpretação ou da lei mais benéfica.
Neste seguimento devemos também analisar o art.540º CC - e.g. a Maria (devedora)
tinha uma obrigação para com o João (credor) de lhe entregar no prazo de 5 anos
300 ovelhas, faltava um ano e os animais estavam recolhidos, mas deu-se uma
tempestade e a queda de um raio acaba por matar as 300 ovelhas. Estamos diante do
que afirma o art.540º CC, a questão é: a Maria fica exonerada desta obrigação?
Poderíamos argumentar que não porque foi algo que a mesma não teve culpa, porém
perante este artigo a obrigação mantém-se.
Nota: Caso estivéssemos perante uma situação em que, imaginemos, Vítor ia
vender um quadro do Van Gogh ao Pedro mas sem querer danificou-o 1 semana
antes da obrigação se consumar. Aqui a obrigação não se mantém porque não
existe outro quadro igual e não se pode recriar o mesmo (no exemplo das ovelhas
a obrigação mantém-se visto que existem mais ovelhas que substituam aquelas
300 que morreram).

32. Obrigação pecuniária.


Correspondem às obrigações que têm dinheiro por objeto, visando
proporcionar ao credor o valor que as respetivas espécies monetárias possuam. Estes
dois requisitos são cumulativos. Se a obrigação tem dinheiro por objeto, mas não visa
proporcionar ao credor o valor dele (ex.: entrega de determinadas moedas e notas,
para integrar uma coleção) não estaremos perante uma obrigação pecuniária. Também
não estaremos perante uma obrigação pecuniária, se a obrigação visar apenas
proporcionar ao credor um valor económico (de um determinado objeto ou de uma
componente do património), não tendo assim por objeto a entrega de quantias em
dinheiro.
Segundo o nosso Código Civil, as obrigações pecuniárias podem subdividir-se em
3 modalidades:
a) as obrigações de quantidade (art.550º);
b) as obrigações em moeda específica (art.552º);
c) as obrigações em moeda estrangeira (art.558º).

33. Garantias especiais das obrigações previstas no nosso


ordenamento jurídico.
Iniciam no art.623º CC, temos a caução, a fiança, consignação de
rendimentos, penhor e hipoteca.

34. Garantias especiais reais vs pessoais? Exemplos.


a) Garantias reais: um bem fica diretamente separado da esfera jurídica do
titular, é algo específico para o cumprimento daquela obrigação.
b) Garantia pessoal: existe um reforço com um terceiro sujeito , através de um
contrato secundário nomeadamente contrato de fiança, no final se o devedor
não pagar qualquer um dos bens do fiador pode responder pela obrigação , a
impugnação pauliana não é plausível nos bens do fiador.

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