Você está na página 1de 29

LFG – 2008 1

Intensivo Regular – Módulo I

Responsabilidade Civil (I)


1 Introdução

O pai da responsabilidade civil no Brasil foi José de Aguiar Dias.

Segundo José de Aguiar Dias  toda manifestação do homem traz em si o problema da


responsabilidade.

Todo o nosso comportamento está ligado à idéia de responsabilidade.

Iremos tratar da responsabilidade jurídica, e especificamente sobre a responsabilidade


civil.

A responsabilidade civil é uma espécie de responsabilidade jurídica  a responsabilidade


jurídica é um gênero, que comporta como espécies a responsabilidade penal,
administrativa, civil, etc...  iremos estudar a responsabilidade civil.

2 Conceito de responsabilidade civil

Responsabilidade civil  deriva da transgressão de uma norma jurídica pré-existente,


contratual ou legal, impondo ao infrator a conseqüente obrigação de indenizar.

A responsabilidade civil pressupõe sempre a violação de uma norma jurídica pré-


existente.

A responsabilidade civil impõe a alguém a obrigação de indenizar, para restituir o status


quo ante.

Historicamente, quem desenvolveu a responsabilidade civil foi o Direito Romano  o


Direito Romano foi a mola propulsora do desenvolvimento da responsabilidade civil.
LFG – 2008 2
Intensivo Regular – Módulo I
Pergunta: qual é a diferença entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal?
Ou seja, qual é a diferença entre ilícito civil e ilícito penal?
Resposta: A diferença fundamental entre o ilícito civil e o ilícito penal está em 02
aspectos fundamentais:
a) A gravidade do mecanismo sansionatório  o mecanismo sansionatório penal é
mais gravoso, pois resulta na privação da liberdade humana;
b) A tipicidade  a tipicidade é característica da responsabilidade penal  o direito

civil não tem tipo especifico  o direito civil tem regras gerais sobre
responsabilidade.
OBS: o professor de direito processual penal Miguel Fenech distingue muito bem a
responsabilidade civil e da responsabilidade penal.

Toda responsabilidade civil pressupõe a transgressão de uma norma jurídica pré-


existente  a depender da natureza jurídica da norma lesada, a responsabilidade civil se
subdivide em:
a) Responsabilidade contratual  aqui, a norma violada é uma norma contratual pré-

existente  essa responsabilidade contratual tem base nos arts. 389 e ss., e 395 e
ss., do CC.

A responsabilidade contratual é de aplicação mais facilitada  pois já existe entre


o credor e o devedor um contrato anterior.
Ex: se uma pessoa deixar de pagar as parcelas do curso de inglês  aqui, já existe
um contrato prévio.

OBS: essa responsabilidade iremos estudar em teoria dos contratos;

b) Responsabilidade extracontratual (ou aquiliana)  aqui, a norma violada é a norma

legal pré-existente  essa responsabilidade tem base nos arts. 186, 187 e 927, do
CC.

Na responsabilidade extracontratual não existe um contrato prévio entre vítima e


autor do dano  nesse caso, a norma jurídica violada é a própria norma legal.
LFG – 2008 3
Intensivo Regular – Módulo I
Ex: a pessoa está saindo do curso e bate no carro do dono do curso  aqui, essa
responsabilidade não está prevista em contrato.

A responsabilidade extracontratual tem base nos arts. 186, 187 e 927, do CC.

O art. 186 do CC consagra a regra geral da responsabilidade civil no Brasil  esse artigo
define ato ilícito.

CC – Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

O art. 927 do CC complemente afirmando que quem comete ato ilícito é obrigado a
indenizar.

O art. 186 do CC não é uma ilha, ou seja, ele não está isolado, pois ele é complementado
pelo art. 187 do CC.

CC – Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

O art. 187 do CC consagra o abuso de direito, que é equiparado a ato ilícito.


OBS: o abuso de direito tem origem no Direito Francês  um individuo, na França,
colocou lanças em sua propriedade para furar os balões que passassem por cima de sua
propriedade.

O art. 187 do CC define o abuso de direito, conectando-se ao ato ilícito  pois o abuso de
direito também é tratado como uma modalidade de ilicitude.

A regra geral da responsabilidade civil no nosso CC é o art. 186, que é complementado


pelo art. 187 do CC.

Pergunta: existe diferença entre a ilicitude do art. 186 do CC e a ilicitude do art. 187 do
CC?
LFG – 2008 4
Intensivo Regular – Módulo I
Resposta: sim, uma vez que a ilicitude prevista no art. 186 do CC é subjetiva, ao
passo que a ilicitude do art. 187 do CC é objetiva, porquanto na definição do abuso de
direito o legislador utilizou um critério apenas finalístico.
OBS: essa pergunta é respondida por Daniel Boulos, que escreveu a obra “o abuso de
direito no novo CC”, da Editora Método.
Então:
a) No art. 186 do CC  a ilicitude é subjetiva  ela está baseada na culpa.

b) No art. 187  a ilicitude é objetiva  o legislador, ao definir o abuso de direito,


consagrou-se uma ilicitude objetiva, ou seja, não baseada na culpa.

No art. 927 do CC  prevê tanto a responsabilidade subjetiva como a objetiva.

O sistema brasileiro é dual, é dualista  ele tanto reconhece uma ilicitude com culpa,
como uma ilicitude sem culpa.

OBS: vale lembrar que não caracteriza abuso de direito a situação de surrectio, e
conseqüente supressio, por conta da incidência do princípio da confiança  quando se
caracterizar essas figuras, não se trata de abuso de direito, e sim de aplicação do
princípio da confiança.

Surrectio e supressio são faces da mesma moeda 

A surrectio traduz uma situação jurídica favorável que se consolida ao longo do tempo,
mesmo ao arrepio de uma norma, à luz do princípio da confiança, determinando, em
contrapartida, a perda de um direito ou faculdade originariamente conferido à outra parte
(supressio).

Na surrectio o agente ganha, e na supressio o agente perde.


Ex: área comum de condomínio  uma pessoa tem uma garagem no condomínio, e ao
lado de sua garagem tem uma pequena área comum  o regulamento do condomínio
proibia a utilização dessa área comum  porém, esse condômino tinha dois carros, e
começou a guardar um dos carros nessa área comum  ele ficou mais de 03 anos
guardando o carro nessa área comum, e ninguém nunca se opôs  nesse caso, se o
condomínio quiser cobrar aluguel desses 03 anos que ele ficou estacionando o carro ali,
LFG – 2008 5
Intensivo Regular – Módulo I
ele não poderá, pois ocorreu a surrectio para o condômino que estacionava o carro, e
ocorreu a supressio para o condomínio e os demais condôminos.

3 Elementos da responsabilidade civil

São 03 os elementos essenciais da responsabilidade civil:


a) Conduta humana;
b) Dano ou prejuízo;
c) Nexo de causalidade.

A grande maioria da doutrina, quando escrevem sobre responsabilidade, elencam como


primeiro requisito da responsabilidade civil o ato ilícito.

Porém, o primeiro requisito é a conduta humana  não devemos dizer que o primeiro
requisito é o ato ilícito  se falarmos que o primeiro requisito é o ato ilícito estaremos
entrando em contradição, pois pode haver responsabilidade civil sem ilicitude  existem
comportamento lícitos que geram responsabilidade civil  então, o primeiro requisito é a
conduta humana.

3.1 Conduta humana

A conduta humana pode ser definida como um comportamento positivo ou negativo do


agente, que desemboca em um dano ou prejuízo.

Toda e qualquer responsabilidade pressupõe conduta humana.

A conduta humana pode ser comissiva ou omissiva.

Essa conduta humana pressupõe o elemento voluntariedade, consciência.

Ex01: uma pessoa está dirigindo um veículo, vem uma ventania e lança esse carro em
cima de uma casa  nesse caso não há conduta humana.
LFG – 2008 6
Intensivo Regular – Módulo I

Ex02: uma pessoa está vendo um quadro em uma exposição de quadros, respeitando a
distancia necessária  porém, essa pessoa tem uma hemorragia e involuntariamente
espirra sangue no quadro  nesse caso, não há conduta humana voluntária.

A ilicitude não é um requisito obrigatório da conduta humana para efeito de


responsabilidade, uma vez que, ainda que em caráter excepcional, pode haver
responsabilidade civil decorrente de ato lícito  isso é defendido por Paulo Lôbo,
Windscheid, Demogue, Martinho Garcez.
Ex01: desapropriação  a desapropriação é um ato lícito do Estado, que gera
responsabilidade civil dele  ele terá que indenizar.
Ex02: passagem forçada  a passagem forçada é exemplo de ato lícito que gera
responsabilidade civil  art. 1.285 do CC  na passagem forçada, o proprietário tem um
imóvel encravado, ou seja, sem saída para a via pública  então, ele tem o direito de
exigir a passagem por um dos imóveis vizinhos  porém, apesar da passagem forçada
ser ato lícito, ele terá que indenizar esse vizinho.

OBS: tecnicamente  passagem forçada não é servidão  a natureza jurídica da


passagem forçada não é a mesma da servidão  a servidão tem natureza jurídica de
direito real na coisa alheia, e não decorre da lei, já a passagem forçada tem

natureza de direito de vizinhança, e decorre da lei.

3.2 Nexo de causalidade

Nexo de causalidade é uma matéria filosófica, controvertida, com várias posições na


doutrina.

O nexo de causalidade traduz o liame jurídico que conecta ou vincula o agente ao


prejuízo correspondente.

Teorias explicativas do nexo de causalidade:


LFG – 2008 7
Intensivo Regular – Módulo I
a) Teoria da equivalência de condições (ou teoria da conditio sine quall non) 
tradicionalmente, essa é a teoria adotada pelo CP, em seu art. 13, com as
mitigações da teoria da imputação objetiva  desenvolvida pelo filósofo Von Buri,
esta doutrina não diferencia os antecedentes fáticos, de maneira que tudo aquilo
que concorre para o prejuízo é considerado causa;

Essa teoria tem um grande problema essa teoria não diferencia os antecedentes
 com isso, podemos ser levado a um espiral infinito de causalidade.
Ex: uma pessoa compra uma arma, e dá o tiro em outra pessoa  por essa teoria,
será causa aquele que vendeu, aquele que fabricou a arma, etc...

Essa teoria da equivalência de condições é antipatizada pelos civilistas.

A teoria da equivalência de condições não é a doutrina predominante no direito


civil.

b) Teoria da causalidade adequada  essa teoria foi desenvolvida pelo filósofo Von

Kries, e é mais refinada do que a teoria anterior  essa teoria sustenta que nem
todo antecedente é causa  causa é apenas o antecedente abstratamente idôneo
ou adequado a produzir o resultado danoso;

Ex: a compra de uma arma em uma loja registrada e autorizada pelo governo não é
abstratamente causa adequada da a morte de alguém.

Pergunta: uma pessoa tem o vôo marcada para as 13 horas  as 12:30 ele vai ao
banheiro do aeroporto  porém uma pessoa vê que ele está no banheiro e decide
fazer uma brincadeira, e coloca um durepox em sua maçaneta, e ele fica no
banheiro e perde o vôo  como ele perdeu o vôo, ele teve que pegar o vôo das 14
horas  porém, esse avião caiu e ele morreu  aquela pessoa que colocou
durepox na maçaneta deu causa ao resultado morte?
Resposta: trancar alguém no aeroporto não é causa adequada da morte de
alguém.
LFG – 2008 8
Intensivo Regular – Módulo I
Essa teoria é defendida por Mazeaud, Carbonnier, e Cavalieri Filho  essa teoria é
adotada no CC da Argentina.

c) Teoria da causalidade direta e imediata (ou teoria da necessariedade do dano ou

teoria da interrupção do nexo causal)  para esta teoria, causa é o antecedente (a


conduta) que determina o resultado como conseqüência sua, direta e imediata.

Essa teoria é defendida por Agostinho Alvim, Gustavo Tepedino e Carlos Roberto
Gonçalves  eles interpretam que essa foi a teoria adotada pelo nosso CC, com
base no art. 403 do CC.

CC – Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as


perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por
efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Para o prof. Pablo Stolze, essa foi a teoria adotada pelo nosso CC.

A jurisprudência do STJ (Resp 686.208) e do próprio STF (RE 130.764) dá base à


teoria da causalidade direta e imediata.

Para Felipe Braga  essa é a teoria adotada pelo STJ e pelo STF.

OBS: um órgão suspendeu o fornecimento de um medicamento para os rins  em


razão disso, uma pessoa perdeu um rim transplantado  o STJ decidiu que a
suspensão do medicamento foi a causa direta e imediata da perda do rim
transplantado.

Ex: “A” vende uma arma à “B”  “B” atira em “C”, que vem a morrer  a conduta
da venda da arma não é causa da morte.

3.3 Dano ou prejuízo

A responsabilidade civil não sobrevive sem o dano ou prejuízo  não há responsabilidade


civil sem dano ou prejuízo.
LFG – 2008 9
Intensivo Regular – Módulo I
OBS: merece especial referência a tese da professora da USP Giselda Hironaka,
intitulada “responsabilidade pressuposta”, que, afastando-se da doutrina tradicional,
defende que o dano ou prejuízo apenas torna concreto o dever de indenizar  ele
defende que o dano ou prejuízo não é elemento que integra a estrutura da
responsabilidade  a responsabilidade civil já é pressuposta no ordenamento jurídico, ou
seja, ela já existe no ordenamento jurídico, e o dano só concretiza a obrigação de
indenizar a vítima.

Dano ou prejuízo  o dano ou prejuízo traduz uma lesão a um interesse jurídico tutelado,
material ou moral.

Nem todo dano é indenizável.

Existem 03 requisitos do dano indenizável:


a) Lesão a um interesse juridicamente tutelado;
Ex: o término de namoro não traduz um interesse juridicamente tutelado para fins
de responsabilidade.

OBS: o TJ/RS, na AC 7000.822.0634, firmou a tese no sentido de que a ruptura de


namoro não é dano indenizável.

b) A subsistência do dano  o dano só é indenizável se o dano subsistir  essa tese


é defendida por Maria Helena Diniz;
Ex: uma pessoa bateu no carro de outra  porém, a pessoa que bateu era um
mecânico e consertou o carro.

c) A certeza do dano  não se indeniza dano hipotético, abstrato  o dano, para ser
indenizável, tem que ser certo.

OBS: esse requisito é relativizado pela teoria francesa da perda de uma chance
(perte d’une chance).
LFG – 2008 10
Intensivo Regular – Módulo I
Perda de uma chance  segundo Fernando Gaburri, a perda de uma chance ocorre nos
casos em que o ato ilícito retira da vítima a possibilidade futura de experimentar uma
situação superior ou mais favorável do que a atual.
Ex01: o corredor Vanderlei estava em primeiro lugar, mas veio uma pessoa que estava
assistindo a maratona e invadiu a corrida e o segurou  com isso, os outros corredores
ultrapassaram ele e ele não ganhou a corrida  nesse caso, ocorreu a perda de uma
chance.
Ex02: TJ/RS, na AC 7000.095.8868  decidiu que o advogado pode ser responsabilizado
pela perda de uma chance quando não faz o preparo do recurso.
Ex03: advogado perdeu o prazo para contestação e o seu cliente foi revel.
Ex04: o médico diagnostica uma doença em um paciente  esse médico tem um
procedimento mais adequado para curar o paciente, mas ele não adota esse
procedimento, e o paciente morre  aqui, ocorreu a perda de uma chance por parte do
paciente.
Ex05: STJ – Resp 436.135  traz o caso de perda de uma chance no programa show do
milhão.

É razoável defender a tese de que na perda de uma chance a indenização deve ser
reduzida.

Pergunta: o juiz, ao fixar a indenização em sede de responsabilidade civil, poderá reduzir


o quantum indenizatório considerando o grau de culpa do infrator?
Resposta: o CC/02 revolucionou, ao permitir, no parágrafo único do art. 944, que o juiz,
considerando o grau de culpa do réu, pudesse reduzir o valor da indenização devida à
vítima  então, existe hoje no CC um redutor indenizatório, com fulcro no parágrafo único
do art. 944.
Ex: se o juiz verificar que o dano foi de 10 mil reais  nesse caso, o réu deve indenizar os
10 mil reais  porém, o juiz percebeu que o réu atuou com culpa leve  nesse caso, o
juiz poderá condenar a 7 mil reais, em razão do réu ter agido com culpa leve.

CC – Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
LFG – 2008 11
Intensivo Regular – Módulo I
Tem autores que sustentam que esse parágrafo único do art. 944 do CC é
inconstitucional.

Porém  a doutrina majoritária entende que o parágrafo único do art. 944 do CC não é
inconstitucional, e está em vigor.

Como se trata de um redutor que se analisa a culpa, tem-se entendido que ele só se
aplica à demandas de responsabilidade subjetiva, ou seja, em que a culpabilidade é
discutida.

Pergunta: o que é dano moral in re ipsa?


Resposta: trata-se de uma hipótese de dano que dispensa prova em juízo, a exemplo da
inscrição indevida no SPC (STJ – Resp 718.618-RS)  trata-se do dano moral
presumido.
OBS: outro exemplo de dano moral in re ipsa podemos encontrar no Resp 357.414-RJ.

Pergunta: o que é dano reflexo ou em ricochete?


Resposta: analisa-se as vítimas envolvidas. Vale dizer, o dano reflexo consiste no
prejuízo que atinge por via oblíqua pessoa ligada à vítima direta do ato ilícito.
Ex: uma pessoa é casada e é vítima de homicídio  aquele que morreu é a vítima direta,
e a esposa e o filho são vítimas de dano reflexo.

Pergunta: o que é dano indireto?


Resposta: o dano indireto é aquele em que a mesma vítima sofre uma cadeia de
prejuízos ligados por um vínculo causal.
Ex: uma pessoa compra um animal  mas esse animal estava doente  esse animal foi
colocado no pasto e infectou outro animal  trata-se de dano indireto  ele já sofreu o
dano pelo fato do animal estar doente, e sofreu o dano pelo fato desse animal ter
contaminado outro animal dele.

8. DA RESPONSABILIDADE CIVIL
LFG – 2008 12
Intensivo Regular – Módulo I

8.1. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRA-CONTRATUAL

CONTRATUAL: quando o agente descumpre o contrato ou fica


inadimplente.

EXTRA-CONTRATUAL: quando o agente pratica ato ilícito, violando


deveres e lesando direitos.

Responsabilidade Contratual: é quando uma pessoa CAUSA PREJUÍZO A


OUTREM por descumprir uma obrigação
contratual, um dever contratual. O inadimplemento
contratual acarreta a responsabilidade de
indenizar as perdas e danos.

Responsabilidade Extracontratual: quando a RESPONSABILIDADE não deriva de


contrato, mas DE INFRAÇÃO AO DEVER DE
CONDUTA, um dever legal, imposto
genericamente no art. 159 do CC. Também
chamada de aquiliana.

Diferenças:

a) na RESPONSABILIDADE CONTRATUAL, o inadimplemento presume-se


culposo, o credor lesado encontra-se em posição mais favorável, pois só está
obrigado a demonstrar que a prestação foi descumprida sendo presumida a culpa
do inadimplente. Na EXTRACONTRATUAL, ao lesado incumbe o ônus de
provar a culpa ou dolo do causador do dano;

b) a CONTRATUAL tem origem na convenção, enquanto a EXTRACONTRATUAL a


tem na inobservância de dever genérico de não lesar outrem (neminem laedere);
LFG – 2008 13
Intensivo Regular – Módulo I
c) a capacidade sofre limitações no terreno da RESPONSABILIDADE
CONTRATUAL, sendo mais ampla no campo EXTRACONTRATUAL.

Pressupostos da RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL:

a) AÇÃO ou OMISSÃO: a responsabilidade por derivar de ato próprio, de ato de


terceiro que esteja sob a guarda do agente e, ainda, de
danos causados por coisas e animais que lhe
pertençam.

 Para que se configure a responsabilidade por omissão é


necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado
dano (de não se omitir) e que demonstre que, com a sua prática, o
dano poderia ter sido evitado.

 O dever jurídico de não se omitir pode ser imposto por lei ou


resultar de convenção (dever de guarda, de vigilância, de custódia)
e até da criação de alguma situação especial de risco.

b) CULPA ou DOLO DO AGENTE: para que a vítima obtenha a reparação do dano,


exige o referido dispositivo legal que prove dolo
(é a violação deliberada, intencional, do dever
jurídico) ou culpa stricto sensu (aquiliana) do
agente (imprudência, negligência ou imperícia).

c) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: é a relação de causalidade (nexo causal ou


etiológico) ENTRE a ação ou omissão do agente
e o dano verificado. Se houver o dano mas sua
causa não está relacionada com o comportamento
do agente, inexiste a relação de causalidade e,
também, a obrigação de indenizar.
LFG – 2008 14
Intensivo Regular – Módulo I
 As excludentes da responsabilidade civil, como a culpa da vítima e o
caso fortuito e a força maior, rompem o nexo de causalidade,
afastando a responsabilidade do agente.

8.2. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA

Teoria sobre a reparação do dano (no civil) 

• SUBJETIVA  há obrigação de indenizar sempre que se prova a culpa do agente.

 Teoria Aquiliana

Requisitos  ação ou omissão (negligência); dano ou prejuízo;

Nexo de Causalidade; Dolo ou Culpa (necessária comprovação);

Dolo  comete o Dolo quem pratica um ato ou assume o risco de


praticar tal ato. É realizado por vontade própria e consciente de
praticar um ato ilícito;

Conduta Dolosa - Ex.: uma pessoa inabilitada p/ prática de


medicina (estudante de medicina) realiza uma
cirurgia sem Ter condições para tal.

Culpa  ausência do dever de cuidado objetivo, caracterizado pela


imprudência, negligência ou imperícia. É o desvio padrão do Homem
Médio. Ex.: O dito “Homem Médio” procura, ao dirigir um automóvel,
não atropelar os pedestres e respeitar os sinais de trânsito.
LFG – 2008 15
Intensivo Regular – Módulo I
Imprudência - (conduta ativa) – quando ele trafega em alta
velocidade em uma via pública;

Negligência - (conduta passiva) – quando ele não toma


cuidados de manutenção com seu veículo;

Imperícia - Falta de habilidade técnica.

• OBJETIVA  há obrigação de indenizar, independentemente da prova de


culpa do responsável. Ex.: a responsabilidade da empresa pelos danos causados
à clientela, em atos praticados por empregado no exercício da função ou em razão
do serviço. Nesse caso, a empresa é responsável pelo dano, mas poderá ter
direito de regresso contra o empregado se este for culpado.

 é praticado contra a Administração Pública;

Requisitos - ação ou omissão; dano ou prejuízo; Nexo Causal;

Fundamento Jurídico - As pessoas jurídicas de direito público e as de


direito privado prestadoras de serviços públicos RESPONDERÃO pelos
danos que seus AGENTES (funcionários), em trabalho, causarem a
terceiros , assegurado o DIREITO DE REGRESSO contra o responsável
nos casos de dolo ou culpa. O pagamento, quando for o caso, é
realizado através de PRECATÓRIO.

Teoria do Risco Administrativo  quando presente os 3 requisitos (imprudência,


negligência ou imperícia), o Estado tem que
indenizar a vítima; contudo pode demonstrar
caso fortuito (ou força maior) ou culpa exclusiva
da vítima.
LFG – 2008 16
Intensivo Regular – Módulo I
Teoria do Risco Integral  quando presente os 3 requisitos (imprudência,
negligência ou imperícia), a vítima deve ser indenizada
pelo causador . Nesse caso, o risco é o fator
preponderante da existência do lucro. Ex.: as
atividades seguradoras.

ATO ILÍCITO – é o praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem.
Tal dever é imposto a todos no art. 159 do CC, que prescreve:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica
obrigado a reparar o dano”. Portanto, ATO ILÍCITO é fonte de
obrigação, a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado.

8.3. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR

RESPONSABILIDADE CIVIL: é a OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR o dano causado a


outrem, tanto por dolo como por culpa, sendo que a
responsabilidade civil independe da responsabilidade
criminal, pois mesmo que o ato ilícito não seja um
crime, não deixará de existir a obrigação de
indenizar as perdas e os danos.

 o interesse diretamente lesado é o privado. O prejudicado poderá


pleitear ou não de reparação. Esta responsabilidade é
patrimonial, é o patrimônio do devedor que responde por suas
obrigações.

 Ninguém pode ser preso por dívida civil, EXCETO o depositário


infiel e o devedor de pensão alimentícia oriunda do direito de
família.
LFG – 2008 17
Intensivo Regular – Módulo I
 No cível, há várias hipóteses de responsabilidade por ato de terceiros
(diferente de penal). A culpabilidade é bem mais ampla na área
cível, a culpa, ainda que levíssima, obriga a indenizar. A
imputabilidade também é tratada de maneira diferente, os menores
entre 16 e 21 anos são equiparados aos maiores quanto às
obrigações resultantes de atos ilícitos em que forem culpados.

• A responsabilidade civil pode ser contratual ou Extra-Contratual.

8.4. DO DANO E SUA REPARAÇÃO

DANO: sem a prova do dano, NINGUÉM PODE SER RESPONSABILIZADO


CIVILMENTE. A inexistência de dano torna sem objeto a pretensão à sua
reparação.

 Às vezes a lei presume o dano, como acontece na Lei de Imprensa,


que presume haver dano moral em casos de calúnia, injúria e
difamação praticados pela imprensa. Acontece o mesmo em ofensas
aos direitos da personalidade.

 Pode ser lembrado, como exceção ao princípio de que nenhuma


indenização será devida se não tiver ocorrido prejuízo, a regra
que obriga a pagar em dobro ao devedor quem demanda divida já
paga, como uma espécie de pena privada pelo comportamento ilícito
do credor, mesmo sem prova de prejuízo.

 O DANO pode ser:

I) patrimonial, material – os prejuízos econômicos sofridos pelo ofendido. A


indenização deve abranger não só o prejuízo imediato (danos
emergentes), mas também o que o prejudicado deixou de
ganhar (lucros cessantes)
LFG – 2008 18
Intensivo Regular – Módulo I
II) extrapatrimonial, moral – é o oposto de dano econômico, é dano pessoal. A
expressão tem duplo significado: (veja que a
expressão não é adequada mas, é assim consagrada)

IV.3. RESPONSABILIDADE CIVIL

521) Em que consiste a responsabilidade jurídica?

R.: É a situação originada por ação ou omissão de sujeito de Direito Público ou Privado
que, contrariando norma jurídica objetiva, se obriga a responder com sua pessoa ou com
seus bens.

522) Em que espécies se desdobra a responsabilidade jurídica?

R.: Desdobra-se em responsabilidade penal, responsabilidade civil e responsabilidade


disciplinar.

Pág. 83

523) Em que consiste a responsabilidade penal?

R.: Consiste em violação de norma penal expressa, perturbadora da paz social.

524) Em que consiste a responsabilidade civil?

R.: Consiste na obrigação de alguém, que pratica ato ilícito, de reparar, mediante
indenização quase sempre pecuniária, o dano causado a outrem.

525) Em que consiste a responsabilidade disciplinar?

R.: É aquela que ocorre quando funcionário público desrespeita um dos deveres relativos
ao cargo, comprometendo o bom funcionamento do serviço.
LFG – 2008 19
Intensivo Regular – Módulo I
526) Quais as diferenças entre a responsabilidade penal e a civil?

R.: Na responsabilidade penal, importa o dano ou a ameaça à ordem social e não o


especificamente causado ao indivíduo. A repressão ao ilícito penal visa ao
restabelecimento do equilíbrio social perturbado, indagando-se sobre a imputabilidade do
agente e o caráter anti-social de seu procedimento. Na responsabilidade civil, ao revés,
não se leva em conta a ordem social, e sim, o efetivo prejuízo econômico causado a
determinado indivíduo, ou grupo de indivíduos, por ato ilícito. Pretende-se restabelecer o
equilíbrio individual perturbado.

527) Qual o princípio inspirador da teoria da responsabilidade?

R.: Inspira-a um princípio de direito natural, o neminem laedere (a ninguém se deve


prejudicar).

528) Quais os elementos caracterizadores do ato ilícito na esfera civil?

R.: Ocorrência de um ato, violação da ordem jurídica em vigor, imputabilidade e


penetração na esfera de outrem.

529) Quanto ao ato ilícito, de que maneiras pode ser o comportamento do agente?

R.: Pode ser positivo, isto é, o agente pratica um ato ilícito, e pode ser negativo, isto é, o
agente se omite, e sua omissão ocasiona prejuízo a outrem.

Pág. 84

530) Como pode ser a atuação ou omissão do agente quanto à prática do ilícito?

R.: Pode ser imputável à consciência do agente, por dolo ou por culpa.

531) O que significa dolo?

R.: Significa que o agente desejava praticar o ato ou abster-se de fazê-lo, ou ao menos
assumiu o risco de causar prejuízo por sua ação ou omissão.

532) De que formas pode ser a culpa?

R.: A culpa pode ser de 3 formas: negligência, imprudência ou imperícia.


LFG – 2008 20
Intensivo Regular – Módulo I

533) O que é negligência?

R.: É o desleixo, o descuido, a desatenção com que o ato é praticado. É o caso do médico
que, ao operar, esquece material cirúrgico no interior do paciente.

534) O que é imprudência?

R.: É a imoderação, a falta de comedimento com que o ato é praticado. É o caso do


motorista que dirige em alta velocidade, trafegando em pista molhada e sem segurança.

535) O que é imperícia?

R.: É a falta de habilidade ou de destreza com que o ato é praticado. É o caso de pessoa
não capacitada para realizar determinado reparo, que danifica aparelho a ela entregue
para conserto, ou de condutor de veículo que o dirige sem carteira de habilitação.

536) Em que consiste a teoria da responsabilidade subjetiva?

R.: É a primitiva teoria da responsabilidade civil, fundada na Lei Aquilia, dos romanos, que
consiste em conceder-se reparação do dano quando o fato gerador for moralmente
imputável a alguém identificado, originário de sua vontade determinada ou de sua
atividade consciente. Inexistindo dolo ou culpa (negligência, imprudência ou negligência),
não terá a vítima como obter ressarcimento pelo dano sofrido.

537) Em que graus costuma ser classificada a culpa?

R.: Em culpa grave (ou lata), consistindo na falta não peculiar ao homem comum, o bonus
pater familias; em culpa leve, quando a falta cometida poderia ter sido evitada mediante
atenção; e em culpa levíssima, quando a falta somente poderia ter sido evitada se o
agente tivesse empregado extraordinária atenção ou zelo na prática do ato.

Pág. 85

538) O que é culpa contratual e culpa aquiliana?

R.: Culpa contratual é aquela originada da violação de um dever, estatuído em contrato. É


o caso do depositário (culpa in custodiendo) que não guarda a coisa depositada com o
devido zelo, deixando que se deteriore. Culpa aquiliana (ou extracontratual) é aquela que
LFG – 2008 21
Intensivo Regular – Módulo I
resulta na violação de dever baseado num princípio geral de Direito, como o respeito aos
bens alheios ou o respeito a pessoas.

539) O que é culpa in eligendo?

R.: É a originada na má escolha do representante ou do preposto.

540) O que é culpa in vigilando?

R.: É a que deriva da falta de fiscalização, por parte do empregador, relativamente a seus
empregados ou à coisa.

541) O que é culpa in committendo e culpa in ommittendo?

R.: A primeira ocorre quando o ato ilícito é praticado pelo agente, e a segunda, quando o
fato ilícito se dá em decorrência da omissão do agente.

542) O que é culpa in abstracto e culpa in concreto?

R.: Verifica-se a culpa in abstracto quando o agente pratica o ato sem o devido zelo e
diligência que costuma empregar em seus próprios negócios, própria do homem médio. E
a culpa in concreto é a que deve ser verificada caso a caso, observando-se as
peculiaridades inerentes ao ato praticado.

543) Modernamente, por que se está abandonando a teoria da responsabilidade


subjetiva?

R.: Porque o conceito de culpa é noção considerada juridicamente imprecisa; porque,


atualmente, há inúmeras situações em que ocorre responsabilidade sem culpa (acidente
do trabalho, responsabilidade do locatário pelo incêndio do prédio locado); e, finalmente,
porque o acolhimento da teoria subjetiva exacerba traços do individualismo jurídico, em
detrimento do caráter social de que deve revestir-se a prática do Direito.

Pág. 86

544) Em que consiste a teoria da responsabilidade objetiva?

R.: Consiste na obrigação de reparar o dano pela prática de ato ilícito, ou por omissão,
sem considerar-se a culpa do agente.
LFG – 2008 22
Intensivo Regular – Módulo I

545) Quais as faces da teoria da responsabilidade objetiva no Direito moderno?

R.: Atualmente, enfoca-se a teoria da responsabilidade objetiva sob dois prismas: a teoria
do risco e a teoria do dano objetivo.

546) Em que consiste a teoria do risco?

R.: Consiste na consagração da responsabilidade do patrão, no caso de acidente do


trabalho, baseada não na culpa, mas no contrato de locação de serviços. Ao contratar, o
empregador assume a responsabilidade contratual.

547) Em que consiste a teoria do risco profissional?

R.: Consiste em evolução da teoria do risco, que é a responsabilidade fundada nas


circunstâncias que cercam determinada atividade, e nas obrigações oriundas do contrato
de trabalho, sem levar-se em conta a culpa do empregador ou a do empregado.

548) Qual a conseqüência econômica da adoção da teoria do risco profissional?

R.: O ressarcimento dos danos não é tão amplo como no caso da indenização pelo Direito
comum, pois o risco não cobre todo o dano causado pelo acidente. As indenizações são
pagas mediante tabelas previamente determinadas, catalogadas pelos institutos oficiais
de Previdência Social, e seus valores são fixados em índices mais módicos, segundo o
tipo de infortúnio.

549) Em que consiste a teoria do dano objetivo?

R.: Consiste em que o dano deve ser reparado, independentemente da comprovação de


culpa. Substitui-se a noção de responsabilidade pela idéia de repararão, a de culpa pela
de risco e a de responsabilidade subjetiva pela de responsabilidade objetiva.

Pág. 87

550) Qual a teoria acolhida por nosso CC?

R.: Nosso CC acolheu a teoria da responsabilidade subjetiva, consubstanciada no art.


159.
LFG – 2008 23
Intensivo Regular – Módulo I
551) Quais os atos que, mesmo praticados, causando danos a outrem, não são
considerados ilícitos, consistindo em excludentes da responsabilidade?

R.: Aqueles praticados em legítima defesa, ou no exercício regular de um direito


reconhecido, e também aqueles que causam deterioração ou destruição de coisa alheia, a
fim de remover perigo iminente, sempre que as circunstâncias os tornarem absolutamente
necessários, sem exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo.

552) Quais exigências comuns devem ser obedecidas nos casos de responsabilidade
civil?

R.: Deve haver ofensa a norma preexistente ou erro de conduta; deve haver dano, que
deve ser certo, embora possa ser material ou moral; deve haver nexo causal, isto é,
relação de causa e efeito entre o fato gerador da responsabilidade e o dano.

553) Limita-se a responsabilidade civil somente à pessoa do agente?

R.: Não. A lei e a jurisprudência ampliaram a responsabilidade do agente, abrangendo


pais, tutores, curadores, patrões e responsáveis ou representantes em geral, na forma de
responsabilidade indireta. Além disso, a responsabilidade abrange também a guarda de
coisas inanimadas e a responsabilidade pela guarda de animais.

554) O que é culpa concorrente?

R.: É aquela em que tanto o causador do dano quanto a vítima têm parcela de
responsabilidade no evento.

555) Qual o caráter da indenização paga pelo causador do dano?

R.: Tem caráter de reparação, gerando direitos pessoais do credor (vítima ou seus
herdeiros) contra o devedor (agente). Posição doutrinária de que a indenização se reveste
de caráter alimentar não tem sido acolhida pela jurisprudência.

Pág. 88

556) Como se arbitra o valor da indenização quando ocorre culpa concorrente?

R.: Deverá ser reduzida a indenização, porque a responsabilidade foi do agente e da


vítima.
LFG – 2008 24
Intensivo Regular – Módulo I

557) Em que porcentagem se reduz o valor da indenização no caso de culpa concorrente


da vítima?

R.: Normalmente, em 50%, exceto se a culpa da vítima tiver sido quase inócua para a
produção do dano, e a do ofensor, decisiva.

558) Ocorrendo dano por culpa exclusiva da vítima, como será arbitrada a indenização?

R.: Havendo dano por culpa exclusiva da vítima, o autor não será obrigado a indenizá-la.

559) Ocorrendo o caso por motivo de força maior ou caso fortuito, será cabível pedido de
indenização?

R.: Não, porque, nestes casos, ocorre excludente de responsabilidade.

560) Qual o prazo prescricional das ações envolvendo responsabilidade civil, visando à
obtenção de indenização?

R.: O prazo prescricional é o das ações pessoais, de 20 anos, pelo art. 177 do CC.

561) Qual o prazo prescricional para ação regressiva envolvendo reembolso de


indenização?

R.: É também de 20 anos.

562) Em quanto tempo prescreve a ação de reparação contra ilícito praticado por órgão
da Administração Pública, direta ou indireta?

R.: O art. 178, § 10, VI, que fixava o prazo prescricional em 5 anos, foi revogado pelo
Decreto n.° 20.910, de 06.01.1932, e pelo Decreto-Lei n.° 4.597, de 19.08.1942. O prazo
prescricional de 5 anos, no entanto, foi mantido pelos referidos dispositivos.

563) Em quanto tempo prescreve a ação de indenização por responsabilidade no caso de


dano causado por sociedade de economia mista?

R.: Prescreve em 20 anos (Súmula n.° 39 do Superior Tribunal de Justiça (STJ)).


LFG – 2008 25
Intensivo Regular – Módulo I
Pág. 89

564) De que forma a obrigação de indenizar se transmite aos herdeiros do agente?

R.: Transmite-se no limite das forças da herança e em proporção das cotas hereditárias,
ainda que o autor da herança seja devedor solidário, incluindo tanto o dano material
quanto o dano moral.

565) Qual o efeito da sentença condenatória criminal transitada em julgado na esfera


cível, na ação de reparação de dano?

R.: A vítima, ou seus sucessores, poderão ingressar imediatamente no juízo cível com
pedido de execução para a reparação do dano.

566) Qual o efeito da sentença absolutória criminal na ação de reparação de dano, na


esfera cível?

R.: 3 hipóteses podem ocorrer, dependendo do fundamento da sentença: a) se a


absolvição se fundou na negativa do fato ou na negativa da autoria do agente, não poderá
a questão prosseguir na esfera civil; b) se fundada em falta de prova, em circunstância em
que não constitui crime o ato causador do dano, na prescrição ou em qualquer motivo
peculiar à esfera criminal que impeça a imposição de pena, a questão prosseguirá no
cível de forma independente da esfera criminal (art. 66 do Código de Processo Penal
(CPP)); c) se a absolvição foi concedida com fundamento em excludente de
antijuridicidade, somente haverá reparação do dano, na esfera civil, em caso de culpa do
ofendido.

567) Extinta a punibilidade criminal, estará também prescrita a ação indenizatória no


cível?

R.: Não, pois a responsabilidade civil, que obriga à reparação do dano, no cível, efeito
secundário da sentença condenatória penal, independe desta, subsistindo mesmo após
extinta a punibilidade da sentença penal condenatória, que somente prescreve no prazo
das ações pessoais de 20 anos. É conseqüência prevista no art. 67, Il, do CPP.

568) Como se repara o dano moral?

R.: O dano moral - que não é o oposto do dano físico, e sim, do dano econômico - tem
sido reparado sempre que dele resulte prejuízo econômico. Busca-se compensação para
o preço da dor (pretium doloris), levando-se em conta a extensão da ofensa, o grau de
culpa e a situação econômica das partes.
LFG – 2008 26
Intensivo Regular – Módulo I

Pág. 90

569) O que é dano estético?

R.: É aquele causado no aspecto físico externo de alguém, de modo a produzir-lhe


deformação, que tem, como conseqüência, provocar dor moral, pois fica a vítima sujeita a
humilhações, desfavorecimentos e aborrecimentos em sua vida pessoal e profissional.

570) De que tipo é a responsabilidade do transportador no contrato de transporte de


passageiros e cargas?

R.: É responsabilidade objetiva, baseada na Lei n.° 2.681, de 07.12.1912, que regula a
responsabilidade civil das estradas de ferro, mas cujo alcance foi ampliado pela
jurisprudência, abrangendo qualquer tipo de transporte.

571) Para obter reparação do dano causado durante transporte, o que deverá a vítima
comprovar?

R.: Basta comprovar o fato do transporte e a ocorrência do dano, não sendo necessário
provar a culpa do transportador.

572) Ocorrendo culpa concorrente do viajante, haverá redução no valor da indenização?

R.: A referida Lei prevê que, mesmo no caso de culpa concorrente, não haverá redução
do valor da indenização.

573) Quais as excludentes da responsabilidade civil do transportador a título oneroso?

R.: Somente em casos de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, estará o
transportador isento da responsabilidade.

574) Em que consiste a cláusula de incolumidade do transportador?

R.: É cláusula subentendida, ínsita no contrato de transporte, pela qual o transportador se


compromete a levar o passageiro até o destino.

575) Como se opera a cláusula de não indenizar, inserida em contrato de transporte?


LFG – 2008 27
Intensivo Regular – Módulo I
R.: Será considerada nula de pleno direito, por força da Súmula n.° 161 do STF.

Pág. 91

576) Viajando o passageiro como pingente, em determinada composição ferroviária, e


sofrendo acidente, como será regulada a responsabilidade civil da empresa?

R.: A jurisprudência tem concedido sistematicamente reparação do dano, quando


pleiteada por passageiro que se acidenta, mesmo viajando na condição de pingente,
concorrendo para a produção do dano, por entender que a responsabilidade da
companhia é objetiva.

577) Qual o prazo previsto em lei para a propositura de ação de indenização em caso de
dano causado por transportador ferroviário?

R.: É de 5 anos, segundo o Decreto-Lei n.° 4.597, de 19.08.1942, fazendo referência ao


Decreto n.° 20.910, de 06.01.1932.

578) Quando o transporte é feito gratuitamente, por mera cortesia, como deve ser
regulada a indenização no caso de acidente?

R.: O transporte gratuito é contrato unilateral, regido pelo art. 1.057 do CC. Assim sendo,
a responsabilidade do transportador, por danos causados ao transportado, é condicionada
à prova de existência de dolo ou de culpa grave.

579) Qual a extensão da reparação do dano causado por homicídio?

R.: Quanto aos danos materiais, o condenado por crime de homicídio deverá arcar com
as despesas havidas com o tratamento da vítima, se tiver ocorrido, antes de falecer, bem
como com o funeral e também com alimentos, caso a vítima os devesse a alguém. A
indenização dos danos morais à família cobrirá o luto, entendido não somente como as
roupas sóbrias utilizadas à época do funeral e época posterior, mas principalmente a dor
espiritual dos familiares, causada pela perda da pessoa querida (pretium doloris e pretium
lutus).

580) Qual a extensão da reparação do dano causado por agente condenado por lesões
corporais?
LFG – 2008 28
Intensivo Regular – Módulo I
R.: Quanto aos danos materiais, o agressor deverá ser condenado a indenizar o agredido
quanto às despesas de tratamento médico-hospitalar, inclusive cirurgias plásticas
reparadoras, além dos lucros cessantes até o momento da volta ao trabalho. Quanto ao
dano moral, a indenização será, em regra, fixada, levando-se em conta a média das
multas criminais. Se da lesão resultou dano estético irreparável, o dano moral deverá ser
indenizado, levando-se em conta o sofrimento da vítima pela deformidade permanente,
sua extensão, refletindo o resultado em sua vida pessoal e profissional.

Pág. 92

581) Qual a extensão da reparação do dano, caso o agente seja condenado por lesões
corporais que causem aleijão ou deformidade?

R.: Quanto aos danos materiais, todas as despesas de tratamento deverão ser pagas e
também os lucros cessantes até a volta ao trabalho, se possível. Se o aleijão ou
deformidade incapacitarem a vítima de forma permanente para o trabalho, os lucros
cessantes incluirão os rendimentos do trabalho que a vítima normalmente receberia.
Quanto ao dano moral, o CC estipula que a indenização será dobrada. Discute-se, na
doutrina e na jurisprudência, em relação a que valor a palavra dobrada deve ser
entendida, encontrando-se opiniões que defendem que o valor de referência seria a multa
criminal, ou os valores do tratamento e dos lucros cessantes.

582) E se o aleijão ou a deformidade forem causados em mulher solteira ou viúva ainda


capaz de casar?

R.: Além dos danos materiais, indenizáveis na forma da questão anterior, surge a questão
da extensão da reparação dos danos morais, porque a gravidade do aleijão ou da
deformidade influiria na possibilidade de a vítima casar-se ou voltar a contrair matrimônio.
A solução é dada pelo pagamento de um dote arbitrado, levando-se em conta a situação
econômica do ofensor, as circunstâncias pessoais da vítima e a gravidade da lesão.

583) Qual a extensão da reparação do dano, caso o agente seja condenado por lesões
corporais que causem perda ou diminuição permanente da capacidade da vítima ao
trabalho?

R.: Além dos danos materiais e morais, pagos quando ocorre lesão corporal, o ofensor
deverá pagar à vítima uma pensão, arbitrada segundo a diminuição na capacidade de
trabalho da vítima, ou, se a lesão incapacitou a vítima permanentemente, aos
vencimentos que a vítima deveria receber normalmente por seu trabalho.
LFG – 2008 29
Intensivo Regular – Módulo I
584) Qual a extensão da reparação do dano, caso o agente seja condenado por crime
contra a honra (injúria, calúnia ou difamação)?

R.: O dano causado à honra do ofendido poderá ter repercussões econômicas em sua
vida. A indenização cobrirá, na realidade, os reflexos do dano moral na vida econômica da
vítima, que são, em última análise, traduzidos em danos materiais.

Pág. 93

585) Caso alguém seja injustamente privado da liberdade de ir e vir, por autoridade
policial, poderá exigir reparação de danos, e em que medida?

R.: Depois de libertada mediante a impetração de habeas corpus ou outra medida, na


esfera penal, a vítima poderá pedir indenização ao Estado, que consistirá, quanto ao dano
material, no pagamento de perdas e danos e lucros cessantes e, quanto ao dano moral,
no pagamento de valor calculado, levando-se em conta a multa criminal. Mas, se a
reputação da vítima ficar comprovadamente atingida e for fator econômico importante em
sua vida profissional (ex.: artistas, pessoas públicas), alterando-a negativamente, os
danos morais poderão ser arbitrados em valores consideravelmente mais elevados.

Você também pode gostar