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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE
SOLDADOS-CFSd-2022

DIREITO ADMINISTRATIVO

Cel PM Veterano Eduardo Mendes de Sousa


UNIDADE VII - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. CONCEITOS E FUNDAMENTOS

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

3. REPARAÇÃO DOS DANOS

4. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

5. PRESCRIÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL


1 CONCEITOS E FUNDAMENTOS

1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

- é consequência jurídica e patrimonial de reparar o dano que foi


causado a uma pessoa;

- é a consequência jurídica e patrimonial que surge do descumprimento


de uma obrigação, seja prevista em lei ou num contrato, e, que em
razão dessa conduta ocorre dano a outra pessoa.

- A vítima do dano, seja material, moral ou estético, tem direito de


buscar uma compensação por esse dano que foi causado.
1.2 NOÇÃO DE RESPONSABILIDADE

- implica na ideia de que alguém deve responder perante a ordem


jurídica em virtude de algum fato procedente.

- para que haja a imputabilidade de responsabilidade a alguém,


deve-se considerar a ocorrência do fato (conduta), seja ele comissivo
ou omissivo, gerador da situação jurídica.

- deve haver nexo de causalidade (ação e efeito) entre o fato


(conduta) e dano (prejuízo).

- o fato, o nexo de causalidade, o dano e a imputabilidade de


responsabilidade a alguém constituem pressupostos inafastáveis do
instituto da responsabilidade.
1.3 RESPONSABILIDADE CIVIL

art. 186 CC: “Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

art. 927.CC ”Aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”

A regra é genérica e abrange tanto a responsabilidade extracontratual


(aquela que deriva de várias atividades estatais sem qualquer
conotação pactual) como a contratual (aquela relativa aos contratos
celebrados pela Administração).
1.4 TIPOS DE RESPONSABILIDADES

Os Tipos de responsabilidades podem ser:

- penal: importa aplicação de sanção penal;

- administrativa: de acordo com sanções previstas em normas e


regulamentos internos.

- civil: importa penalização de caráter privado, tendo como sanção a


indenização.
Obs.: Como as normas jurídicas são independentes, a responsabilização
também o será.
Eventualmente as responsabilidades podem se conjugar, se a conduta
violar simultaneamente normas diversas.
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1 Teoria da Irresponsabilidade; (o rei nunca errava)

2.2 Teoria Civilista ou Subjetiva (Teoria da Responsabilidade


com culpa do agente);

2.3 Teorias Publicistas (ou Culpa do Serviço):

a) Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima do


Serviço;
b) Teoria do Risco Administrativo;
c) Teoria do Risco Integral.
2.1 Teoria da Irresponsabilidade do Estado

Por volta do Século XVIII, época dos Estados absolutistas,


não se cogitava a responsabilidade civil do Estado, muito pelo contrário,
o Estado não possuía responsabilidade alguma. Não tinha qualquer
responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes. Não havia
indenização por qualquer danos causados a terceiros.

A entidade estatal estava intimamente ligada à figura do rei, sendo que a


igreja, que representava Deus, o escolhia. Se Deus não erra, o rei
também não.

Trata-se da noção do Estado todo-poderoso.


2.2 Teoria da Responsabilidade com culpa (civilista ou
subjetiva)

Essa teoria (doutrina civilista da culpa) teve início em meados do


século XIX, admitindo a possibilidade da responsabilidade subjetiva do
Estado. Ou seja, depende da comprovação do dolo ou culpa do
agente público, sem a qual, mesmo que haja um ato ilícito e dano, não
há que se falar em responsabilidade. (CC 1916).

- Dolo: intenção do agente de praticar o dano.


- Culpa: o agente assume o risco ao cometer o ato por negligência

(ingere bebida alcoólica e vai dirigir), imperícia (pega um caminhão para


dirigir não sendo habilitado) e imprudência (dirigir em alta velocidade).
2.3 Teorias Publicistas

Até aqui notava-se a insuficiência das concepções baseadas na culpa


civil, que ainda não permitiam a adequada e suficiente
responsabilização estatal por seus atos.

Teve então início o processo de publicização da responsabilidade civil


com o famoso caso Blanco que suscitou sobretudo conflito de
competência instaurado entre a jurisdição judicial (causas entre
particulares – civil) e a jurisdição administrativa (causas em que o
Estado é parte), sendo o Tribunal de Conflitos responsável por decidir
de quem era a competência para julgar a causa.
2.3 Teorias Publicistas

O Caso Blanco representou a primeira vez que o Estado Francês foi


condenado a pagar uma indenização, independente de comprovar dolo
ou culpa de agente público.

Essa forma de responsabilidade dispensou a verificação do fator dolo e


culpa do agente público em relação ao fato danoso.

A indenização foi paga com base no Direito Público e não no Direito


Civil. A ação foi resolvida pela jurisdição administrativa. Estava
nascendo ali o serviço público.

Surgiram então as denominadas teorias publicistas: teoria da culpa


administrativa, e da teoria do risco: administrativo e integral.
2.3 Teorias Publicistas

a) Teoria da Culpa Administrativa

Doutrina de PAUL DUEZ:

O lesado não precisa identificar o agente estatal causador do dano. Mas


tem o lesado que comprovar o mau funcionamento do serviço
público, ainda que impossível apontar o agente que o provocou. A ideia
desta teoria ainda gira em torno de culpa. Ex.: carro em deslocamento
cai em buraco existente no asfalto de via pública em bairro da cidade. A
Prefeitura é a responsável. Não aparece o agente, apenas mau
funcionamento do serviço público.
2.3 Teorias Publicistas

a) Teoria da Culpa Administrativa

A doutrina chamou de culpa anônima ou falta do serviço, que se


configura de três maneiras:

- inexistência do serviço,
- mau funcionamento do serviço
- ou do seu retardamento.

O ônus da prova do elemento culpa é do lesado.


2.3 Teorias Publicistas

b) Teoria do Risco Administrativo:

Pressupõe o risco que a atividade pública gera para os administrados


e a possibilidade de acarretar danos à comunidade.

No Brasil: surgiu em 1946 na CF, passando a adotar a


responsabilidade objetiva do Estado.

O Estado deve reparar o ato lesivo e injusto à vítima.


2.3 Teorias Publicistas

b) Teoria do Risco Administrativo

- Risco administrativo: não há responsabilidade civil genérica e


indiscriminada; deve ser atribuída ao Estado a responsabilidade pelo
risco criado por sua atividade administrativa .

O Estado tem que indenizar somente os danos que tenha causado


efetivamente, assim ficará isento de responsabilidade se provar culpa
exclusiva da vítima ou caso fortuito ou força maior ou fato exclusivo de
terceiro.

Ou seja, o Estado pode alegar excludente ou atenuante de


responsabilidade.
2.3 Teorias Publicistas

c) A Teoria do Risco Integral

Existência de evento danoso e nexo de causalidade.


A diferença para as outras teorias é que aqui a responsabilidade do Estado é majorada.
É como se fosse a majoração da teoria do risco administrativo.

Independe se o Estado agiu com dolo, culpa, caso fortuito ou força maior ou se houve
culpa exclusiva da vítima.

O Estado irá indenizar a vítima em qualquer situação. Aqui há responsabilidade civil


genérica e indiscriminada, diferente da Teoria do Risco Administrativo.

- No Brasil pode ser aceita tal teoria, nas hipóteses de dano nuclear (art. 21, XXIII “d” da
Constituição Federal) e em caso de atentado terrorista contra aeronaves (Lei n.
10.744/2003).
2.3 Teorias Publicistas

Esquema Geral

a) Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima:


Falta da Administração + nexo causal + dano injusto.

b)Teoria do Risco Administrativo:


Fato da Administração + nexo causal + dano injusto.
(Se a vítima concorrer para o dano, a responsabilidade do Estado será
diminuída, ou se for o caso, inexistente).

c) Teoria do Risco Integral:


Fato da Administração + nexo causal + dano injusto.
(O Estado responde mesmo se houver culpa da vítima para o dano).
2.3 Teorias Publicistas

Resumindo, EM REGRA, o Brasil adotou a

Teoria da Responsabilidade Objetiva baseada na modalidade da

Teoria do Risco Administrativo.

Fundamento: art. 37, § 6º CF/88:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa.
2.3 Teorias Publicistas

REGRA:

Pressupostos da Responsabilidade Objetiva na Teoria do Risco


Administrativo :

Fato (atividade funcional), o dano e o nexo de causalidade entre o fato e o


dano.
FATO (ADM PÚBL) + NEXO CAUSAL + DANO (INJUSTO)

Porém existem excludentes de responsabilidade:


- Fatos Imprevisíveis ( caso fortuito e força maior);
- Culpa Exclusiva da Vítima.
3. REPARAÇÃO DOS DANOS

A indenização é o montante pecuniário que traduz a reparação


do dano; corresponde a compensação pelos prejuízos do ato
lesivo.

Deve equivaler ao que o prejudicado perdeu, incluindo-se aí as


despesas que foi obrigado a fazer, e ao que deixou de ganhar.

Quando for o caso, devem ser acrescidos os juros de mora e a


atualização monetária.
3. REPARAÇÃO DOS DANOS

Meios de reparação do dano


Perpetrada a ofensa ao patrimônio do lesado, a reparação do dano a ser
reivindicada pode ser acertada através de dois meios:

- o administrativo: o lesado pode formular seu pedido indenizatório ao órgão


competente da pessoa jurídica civilmente responsável, formando-se então,
processo administrativo no qual poderão manifestar-se os interessados,
produzir-se provas e chegar-se a um resultado final sobre o pedido.

- o judicial: caberá ao lesado propor adequada ação judicial de indenização,


que seguirá o processo comum, ordinário ou sumário.
5. PRESCRIÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

O direito do lesado à reparação dos prejuízos tem natureza pessoal e


obrigacional.

Não pode ele ser objeto da inércia de seu titular, sob pena do
surgimento da prescrição que venha a colocar fim à tutela desses
direitos.

Segundo dispõe o art. 37 § 5º da CF cabe à lei fixar os prazos de


prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou
não, que provoquem prejuízos ao erário, ressalvando, contudo, as
respectivas ações de ressarcimento.
5. PRESCRIÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

PRESCRIÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Com efeito, deve-se ter em mente que o prazo para a


reparação do dano causado pela Administração prescreve
em 5 anos. Ou seja, prescreve em cinco anos todo e qualquer
direito ou ação movida contra a fazenda pública, seja ela federal,
estadual ou municipal, inclusive para pedir indenização por
reparação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS

● BRASIL.Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de


1988. Atualizada com as Emendas Constitucionais.
● BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992, alterada pela Lei n. 14.230, de 25 de outubro de 2021. Dispõe sobre
as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o §4º do art. 37 da
Constituição Federal; e dá outras providências.
● CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 36.ed. São Paulo: Atlas, 2022.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

● DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 33ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
● MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 44ª ed. São Paulo: Malheiros, 2020.
● MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35ª ed. São Paulo: Malheiros, 2021.

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