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Elementos: conduta oficial (ação administrativa), dano (material, moral ou estético) e nexo
causal (comprovação de que o dano foi causado pela conduta oficial).
A teoria da responsabilidade objetiva do Estado adotada no ordenamento jurídico
brasileiro, como regra, insere-se na modalidade do risco administrativo, ou seja, a
responsabilidade é objetiva, mas o Estado pode deixar de responder ou ter a
responsabilidade diminuída se estiverem presentes as excludentes ou atenuantes da
responsabilidade: força maior, caso fortuito, culpa de terceiro ou culpa da vítima.
Além do exposto anteriormente, merecem ser destacados os seguintes aspectos acerca
da responsabilidade civil objetiva do Estado:
(1º) O fundamento justificador da responsabilidade objetiva do Estado é o princípio
da repartição igualitária dos ônus e encargos sociais.
Segundo a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a responsabilidade objetiva do
Estado baseia-se no princípio da igualdade de todos perante os encargos sociais e
encontra suas raízes na Declaração de Direitos do Homem, de 1789. Nas palavras da
ilustre professora, “o princípio significa que, assim como os benefícios decorrentes da
atuação estatal repartem-se por todos, também os prejuízos sofridos por alguns membros
da sociedade devem ser repartidos. Quando uma pessoa sofre um ônus maior do que o
suportado pelas demais, rompe-se o equilíbrio que necessariamente deve haver entre os
encargos sociais; para restabelecer esse equilíbrio, o Estado deve indenizar o
prejudicado, utilizando recursos do erário”.
Ex. hipótese em que o poder público municipal construa um viaduto e essa obra
prejudique o acesso de carros a um posto de gasolina. Nesse caso, toda a comunidade
será beneficiada, pois o trânsito de veículos ficará mais rápido. Contudo, o mesmo não
pode ser dito em relação ao proprietário do posto de gasolina, que terá suas atividades
prejudicadas. Assim, para que o dono do posto de gasolina não sofra um ônus maior que
o suportado pelas demais pessoas, é que o Estado se obriga a indenizá-lo,
restabelecendo o equilíbrio.
Nesse sentido, o STF:
CONSTITUCIONAL. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO. C.F., 1967, art. 107. C.F./88, art. 37, par-6.. I. A
responsabilidade civil do Estado, responsabilidade objetiva, com
base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa
do particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a
responsabilidade estatal, ocorre, em síntese, diante dos seguintes
requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que haja
nexo causal entre o dano e a ação administrativa. A consideração
no sentido da licitude da ação administrativa e irrelevante, pois
o que interessa, e isto: sofrendo o particular um prejuízo, em
razão da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da
coletividade, e devida a indenização, que se assenta no
princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais. II. Ação de
indenização movida por particular contra o Município, em virtude dos
prejuizos decorrentes da construção de viaduto. Procedencia da
ação. III. R.E. conhecido e provido. (RE 113587, Relator(a):
CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 18/02/1992, DJ
03-04-1992 PP-04292 EMENT VOL-01656-02 PP-00382 RTJ VOL-
00140-02 PP-00636)
Defesa do Estado
A Procuradoria Geral do Estado contestou a demanda afirmando, dentre outros
argumentos, que não há recursos suficientes para indenizar os presos, devendo ser
aplicado o princípio da reserva do possível.
O STF concordou com a tese do autor? Uma pessoa que está presa em uma unidade
prisional que apresenta péssimas condições, como superlotação e falta de condições
mínimas de saúde e de higiene possui o direito de ser indenizada pelo Estado diante
desta violação de seus direitos?
SIM. O STF, ao apreciar o tema, em recurso extraordinário com repercussão geral, fixou a
seguinte tese:
Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em
seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento
jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento. STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o
ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).
A Constituição Federal determina que cabe ao Estado responder pelos danos causados
por ação ou omissão de seus agentes, em face da autoaplicabilidade do art. 37, § 6º:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa.
O Estado possui o dever de manter em seus presídios os padrões mínimos de
humanidade previstos no ordenamento jurídico. Se esse dever é descumprido, surge para
o Poder Público a responsabilidade de ressarcir os danos, inclusive morais,
comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das
condições legais de encarceramento.
Assim, ocorrido o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração
ou dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.
Não aplicação do princípio da reserva do possível
Não há como acolher o argumento que invoca o "princípio da reserva do possível".
Segundo este princípio, os recursos públicos são limitados e as necessidades ilimitadas,
de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a todas as demandas
sociais.
Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em ações judiciais nas quais está
sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a prestações, especialmente
direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais casos, discute-se se é
possível conceder o direito pleiteado mesmo que não haja, em tese, capacidade
financeira do Estado.
Aqui, contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se situa no âmbito da
responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por ação ou
omissão de seus agentes, nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de
dispositivo autoaplicável (de eficácia plena), que não depende de lei ou de qualquer outra
providência administrativa. Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a
atuação da Administração ou dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.
A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva do
possível e a natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a responsabilidade estatal
pelas calamitosas condições da carceragem afronta não apenas o sentido do art. 37, § 6º,
da CF, como também gera o esvaziamento dos dispositivos constitucionais,
convencionais e legais que impõem ao Estado o dever do Estado de garantir a integridade
física e psíquica dos detentos.
Negar a indenização aos detentos significaria violar o princípio da jurisdição
Negar aos detentos o direito à indenização pela violação de sua integridade física e moral
não é compatível com o sentido e o alcance do princípio da jurisdição.
Não pode a decisão judicial desfavorecer sistematicamente a um determinado grupo de
sujeitos, sob pena de comprometer a sua própria legitimidade.
Recusar aos detentos os mecanismos de reparação judicial dos danos sofridos faz com
que eles fiquem desamparados de qualquer proteção estatal, em condição de
vulnerabilidade juridicamente desastrosa. Seria dupla negativa: do direito e da jurisdição.
➢ NEXO CAUSAL
Resumo
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º,
inciso XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016
(repercussão geral) (Info 819).
Comentários
Exemplo:
Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que
este não lhe é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há
claramente uma violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer, o
Estado deverá ser responsabilizado, considerando que houve uma omissão
específica e o óbito era plenamente previsível.
Suponha, no entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal
anterior, sofre um mal súbito no coração e cai morto instantaneamente no pátio do
presídio. Nesta segunda hipótese, o Poder Público não deverá ser
responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão estatal e este óbito
teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento mesmo que ele
se suicide?
SIM. Existem precedentes do STF e do STJ nesse sentido: STF. 2ª Turma. ARE
700927 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2012.
No entanto, aqui também, como se adota a teoria do risco administrativo, o Estado
poderá provar alguma causa excludente de responsabilidade. Assim, nem sempre
que houver um suicídio, haverá responsabilidade civil do Poder Público.
O Min. Luiz Fux exemplifica seu raciocínio com duas situações:
• Se o detento que praticou o suicídio já vinha apresentando indícios de que
poderia agir assim, então, neste caso, o Estado deverá ser condenado a indenizar
seus familiares. Isso porque o evento era previsível e o Poder Público deveria ter
adotado medidas para evitar que acontecesse.
• Por outro lado, se o preso nunca havia demonstrado anteriormente que poderia
praticar esta conduta, de forma que o suicídio foi um ato completamente repentino
e imprevisível, neste caso o Estado não será responsabilizado porque não houve
qualquer omissão atribuível ao Poder Público.
Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus de provar a causa
excludente de responsabilidade.
Apesar de ser regra que caso fortuito e força maior excluem a responsabilidade civil do
Estado, é relevante ressaltar que, se aliado aos eventos extraordinários for comprovada a
omissão do Poder Público na realização de um serviço, não restará reconhecido o
rompimento do nexo causal e haverá dever de indenizar por parte do Estado.
Ex: enchente (força maior) que cause danos a terceiros Se ficar provado que a limpeza
dos bueiros e das galerias de águas pluviais teria sido suficiente para evitar os estragos
causados, o Estado pode ser responsabilizado pela omissão, com base na teoria da culpa
do serviço público (faute du service). Por outro lado, se ficar provado que, ainda que
houvesse a limpeza dos bueiros, os prejuízos teriam ocorrido, não haverá como
responsabilizar o Poder Público.
Sobre o tema, decidiu o STJ:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ALAGAMENTO. DANOS
MORAIS E MATERIAIS. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ACÓRDÃO
RECORRIDO QUE, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS, CONCLUIU
PELO DEVER DE INDENIZAR, EM RAZÃO DA OMISSÃO DO
ESTADO. SÚMULA 7/STJ. REDUÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. Na hipótese, o Município foi condenado ao pagamento de
indenização por danos morais e materiais, em decorrência dos
prejuízos advindos de alagamento do local onde residiam os
agravados. O recorrente ainda restou condenado à obrigação de
fazer, consistente em "executar, no prazo de oito meses contados da
intimação para cumprimento da sentença após o seu trânsito em
julgado, as obras necessárias para a correção dos vícios da galeria
pluvial detectados no laudo pericial (item VI.4, fls. 179), sob pena de
multa diária de R$ 300,00".
II. O Tribunal de origem, soberano na análise fática da causa,
consignou que "a causa da enchente foi exclusivamente a falta
de conservação dos bueiros que dão vazão às águas das
chuvas, motivada pela omissão do ente público, e, por tal razão
a culpa é exclusiva do Município". Alterar tal entendimento, com o
escopo de afastar a responsabilidade civil do Município agravante,
ensejaria, inevitavelmente, o reexame fático-probatório dos autos,
procedimento vedado, pela Súmula 7 desta Corte. Precedentes do
STJ.
III. No que se refere ao valor da indenização, fixada a título de danos
morais, o Tribunal a quo, em vista das circunstâncias fáticas do
caso, manteve o valor dos danos morais em R$ 18.000,00 (dezoito
mil reais), observando os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, não se mostrando ele exorbitante, ante o quadro
fático delineado no acórdão de origem. Conclusão em contrário,
encontra óbice na Súmula 7/STJ.
IV. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no AREsp 659.655/PR, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe
19/10/2015)
DANO INDENIZÁVEL
O lesado tem duas opções para obter a reparação do dano: 1ª) amigável (na esfera
administrativa, celebra acordo com o Estado); ou 2ª) litigiosa (na esfera judicial, move
uma ação indenizatória).
Quanto à primeira solução, acordo na esfera administrativa, alguns doutrinadores
entendem não ser possível, em razão de contrariar o princípio da indisponibilidade do
interesse público. Contudo, a posição majoritária é de que é possível a celebração desse
tipo de acordo, desde que a Administração reconheça sua responsabilidade e que haja
consenso quanto ao valor da indenização.
Quanto à via judicial, apesar de o STF já haver aceitado a possibilidade de ação contra o
agente público (RE 90.071/SC, Rel. Min. Cunha Peixoto, Tribunal Pleno, j. 18.06.1980, DJ
26.09.1980, p. 7.426), atualmente o entendimento é o de que o lesado somente pode se
voltar contra o Estado, não podendo fazê-lo contra o agente público, restando ao Estado,
caso seja derrotado na demanda, voltar-se regressivamente contra o agente público,
conforme previsto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal.
A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados
por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do
ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019
(repercussão geral) (Info 947).
Comentários
Jomar, auditor de tributos estaduais, estava dirigindo o veículo oficial da SEFAZ, indo
em direção a uma empresa onde iria realizar uma fiscalização.
Como já estava atrasado, Jomar empreendeu alta velocidade e não viu quando Cristina
atravessava na faixa, razão pela qual acabou atropelando a pedestre, que sofreu
inúmeras lesões corporais.
Cristina deseja ajuizar uma ação de indenização pelos danos materiais e morais que
sofreu em decorrência do acidente.
Art. 37 (...)
• O fato do serviço (conduta do agente público, sem precisar provar dolo ou culpa);
• O dano sofrido;
NÃO.
A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o Estado (Poder Público). Se este for
condenado, poderá acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa.
• a primeira, em favor do particular lesado, considerando que a CF/88 assegura que ele
poderá ajuizar ação de indenização contra o Estado, que tem recursos para pagar, sem
ter que provar que o agente público agiu com dolo ou culpa;
• a segunda garantia é em favor do agente público que causou o dano. A parte final do
§ 6º do art. 37, implicitamente, afirma que a vítima não poderá ajuizar a ação
diretamente contra o servidor público que praticou o ato. Este servidor somente pode
ser responsabilizado pelo dano se for acionado pelo próprio Estado, em ação
regressiva, após o Poder Público já ter ressarcido o ofendido.
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados
por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019
(repercussão geral) (Info 947).
A ação de indenização deve ser ajuizada sempre contra o Estado e este tem o direito
de, regressivamente, no caso de dolo ou culpa, acionar o servidor. No caso específico,
a ação foi proposta diretamente contra a Prefeita, embora ela devesse ser acionada
pelo Município apenas em caráter regressivo.
Apesar de o Min. Marco Aurélio não ter mencionado isso expressamente em seu voto, a
posição acima exposta ficou conhecida no meio jurídico como “teoria da dupla garantia”.
Essa expressão foi cunhada pelo então Min. Carlos Ayres Britto, no RE 327904, julgado
em 15/08/2006:
Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor
do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito
público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior,
praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra
garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa
e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular. STF. 1ª
Turma. RE 327904, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 15/08/2006.
Por isso, o STJ, que entendia que “nas ações indenizatórias fundadas na
responsabilidade civil objetiva do Estado, não é obrigatória a denunciação da lide ao
agente causador do suposto dano” (AgInt no AREsp 913.670/BA, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/09/2016, DJe 14/09/2016),
sendo, contudo, facultativa, passou a adotar a posição do STF, negando a possibilidade
de denunciação. Ex vi::
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REGRESSIVA CONTRA AGENTE
PÚBLICO. FUNDAMENTAÇÃO POR REFERÊNCIA.
POSSIBILIDADE. NÃO INDICAÇÃO DE ARGUMENTOS DA
DEFESA TIDOS POR OMITIDOS. AUSÊNCIA DE NULIDADE.
FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA NÃO IMPUGNADO E
SUFICIENTE PARA SUA MANUTENÇÃO. SÚMULA 182/STJ.
DENUNCIAÇÃO À LIDE DO AGENTE PÚBLICO.
DESNECESSIDADE. TESE DE REPERCUSSÃO GERAL.
DISTINÇÃO ENTRE DANO MORAL E MATERIAL.
DESCABIMENTO. EXORBITÂNCIA DA CONDENAÇÃO.
COMPARAÇÃO ENTRE VALORES RESSARCITÓRIOS
ATUALIZADOS E COMPENSATÓRIOS ORIGINAIS PELOS DANOS
SOFRIDOS. AUSÊNCIA DE BASE FÁTICA COMUM. SÚMULA
284/STF E 7/STJ. NÃO IMPUGNAÇÃO DO PRIMEIRO
FUNDAMENTO. SÚMULA 182/STJ.
[...]3. Inexiste qualquer elemento do julgamento do Supremo
Tribunal Federal que firmou a Tese de Repercussão Geral
940/STF (A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição
Federal, a ação por danos causados por agente público deve
ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima
para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa) apto a
sustentar a distinção pretendida pelo agravante entre a
condenação por danos materiais e morais para fins de
exigência de denunciação à lide do agente público ensejador da
condenação estatal por prejuízos ao particular.
4. A pretensão recursal foi deduzida afirmando-se a exorbitância do
valor ressarcitório buscado na ação regressiva, adotando como
paradigmas condenações por danos morais sem os consectários
inerentes à ação dos autos, ajuizados já após incidência de juros,
correção e consectários de estilo. A decisão singular afirmou a
incidência das Súmulas 284/STF (É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não
permitir a exata compreensão da controvérsia) e Súmula 7/STJ (A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial).
O agravante não impugnou a dissociação entre as hipóteses
ressarcitória (dos autos) e condenatória (dos paradigmas),
incorrendo, mais uma vez, no óbice da Súmula 182/STJ.
5. Agravo interno conhecido em parte e, nessa extensão, não
provido.
(AgInt no REsp 1582802/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2020, DJe 19/05/2020)
Prazo prescricional
Por força dos Decretos 20.910, de 1932, e 4.597, de 1942, é de cinco anos o prazo
prescricional das ações contra a Fazenda Pública (pessoas jurídicas de Direito Público).
Com o advento do art. 1º-C da Lei 9.494, de 1997, com redação dada pela MP 2.180, de
2001, o prazo de cinco anos foi estendido também às pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos.
O prazo para a propositura da ação de indenização contra o Estado começa a fluir a partir
da data do ato ou do fato que deu origem ao dano, conforme previsto no art. 1º do
Decreto 20.910, de 1932. Contudo, excepcionalmente, caso o evento danoso resulte em
invalidez ou incapacidade para o particular, o termo inicial (termo a quo) para a contagem
do prazo prescricional não é a data do acidente, mas aquela em que a vítima teve ciência
inequívoca de sua invalidez e da extensão de sua incapacidade.
Ademais, quando a ação de indenização decorre de dano gerado por ilícito penal
praticado por agente do Estado, o prazo prescricional somente tem início a partir do
trânsito em julgado da ação penal condenatória (REsp 435.266/SP, Rel. Min. Eliana
Calmon, 2ª Turma, j. 17.06.2004, DJ 13.09.2004, p. 197).
A ideia básica é que, se uma prisão de natureza cautelar foi decretada dentro dos limites
legais, não há qualquer ilicitude, não havendo possibilidade de responsabilização estatal.
O fato de, ao final da ação penal, o réu ser absolvido não significa que houve ilicitude na
prisão cautelar, uma vez que esse instituto não decorre de presunção de culpa, pois, se o
fosse, deveria ser declarado inconstitucional, tendo em vista que ninguém pode ser
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (CF, art.
5º, LVII).
Por fim, registramos que o art. 143 do Código de Processo Civil prevê que o juiz
responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos nas quando: no exercício de
suas funções, proceder com dolo ou fraude; recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo,
providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte.
O dispositivo inova ao expressamente prever que em ambas as hipóteses a
responsabilidade do magistrado é regressiva, enquanto a redação do antigo CPC/1973
permitia ao lesado, segundo parcela da doutrina, o ajuizamento da ação de
responsabilização contra a fazenda pública ou diretamente contra o juiz.
Contudo, tal inovação, na prática, é apenas aparente, pois, mesmo sob a égide do
CPC/1973, o Supremo Tribunal Federal já tinha o entendimento de que a ação destinada
à apuração da responsabilidade civil deveria ser ajuizada contra a fazenda pública, sendo
a esta possível responsabilizar o juiz regressivamente nas hipóteses legalmente previstas
(RE 228.977/SP).
Sendo assim, nos estritos termos legais, o procedimento para responsabilização do
magistrado continua a seguir um regime jurídico semelhante ao relativo aos demais
agentes públicos (caráter regressivo).
Contudo, os casos em que tal responsabilização é possível são exclusivamente os
previstos na lei, sendo importante destacarmos que, na primeira hipótese (no exercício de
suas funções, proceder com dolo ou fraude), a comprovação de mera culpa do
magistrado não é suficiente para o surgimento do dever de indenizar. Já na segunda
hipótese (recusa, omissão ou retardamento sem justo motivo, providência que o juiz deva
ordenar de ofício ou a requerimento da parte), basta a culpa, mas o parágrafo único do
dispositivo faz com que a responsabilidade dependa de que a parte requeira ao
magistrado que determine a providência e que ele não aprecie o requerimento em 10
dias.
4) Obras públicas
1º) se o dano foi causado pelo só fato da obra (em razão da obra em si); e
2º) se a obra estava sendo executada diretamente pela Administração Pública ou se a
Administração contratou sua execução com uma empresa particular.
O dano pelo só fato da obra (em razão da obra em si) é aquele causado por sua
extensão, duração ou localização, independentemente de qualquer erro ou ilicitude na
execução. É aquele que existiria ainda que fossem tomadas todas as precauções
técnicas.
Situação diversa ocorre na hipótese de danos acidentais, ou seja, quando o prejuízo for
causado por falha na execução da obra pública. Nesse caso, se o Estado estiver
executando diretamente a obra, responderá objetivamente pelos danos causados, com
amparo no art. 37, § 6º, da CF/1988. Por outro lado, se a obra estiver sendo executada
por empresas particulares, esta é que responderá subjetivamente pelos danos,
dependendo da prova da culpa ou do dolo. A responsabilidade da empresa contratada
para executar obra pública vem regulada pela Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações e
Contratos), que assim prescreve:
5) Atos de multidões
O STF reconhece a responsabilidade civil do Estado por dano causado por multidões –
como é o caso de depredações praticadas por grupos enfurecidos – quando houver culpa
do serviço de segurança pública caracterizada por omissão ou falta de diligência das
autoridades policiais.
6) Dano nuclear
A responsabilidade civil por danos nucleares vem prevista no art. 21, XXIII, “d”, da
CF/1988, que estatui que “a responsabilidade por danos nucleares independe da
existência de culpa”, o que leva parte da doutrina a entender que estaríamos diante de um
caso de responsabilidade objetiva regida pela teoria do risco integral, não sujeita,
portanto, a qualquer hipótese excludente.
O caráter objetivo da responsabilidade é incontestável, dada a expressa previsão de que
a responsabilidade “independe da existência de culpa”. Contudo, o dispositivo
constitucional não fornece qualquer elemento capaz de apontar no sentido da
possibilidade ou não de aplicação de cláusulas excludentes da responsabilidade,
elemento que, conforme estudado, diferencia a teoria do risco administrativo (que as
admite) da teoria do risco integral (que não as admite).
A questão nos parece resolvida pela Lei 6.453/1977, que prevê a exclusão da
responsabilidade do operador nos casos de culpa exclusiva da vítima (art. 6º) e nos de
conflito armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza (art.
8º), que são claras hipóteses de caso fortuito ou força maior. Assim, não nos resta dúvida
de que, ao menos nos termos legais, a responsabilidade civil por danos nucleares é
objetiva na modalidade risco administrativo.
Há quem defenda, contudo, que o legislador constituinte tomou o cuidado de criar um
dispositivo específico para disciplinar a responsabilidade civil por dano nuclear (art. 21,
XXIII, “d”) justamente porque pretendeu dar à hipótese um tratamento diferenciado
daquele previsto para os demais casos de responsabilidade civil do Estado (CF, art. 37, §
6º). A diferença decorreria do risco bem mais elevado a que a exploração de serviços e
instalações nucleares expõe a população e consistiria na ausência de causas excludentes
da responsabilidade do operador (teoria do risco integral). Assim, ainda segundo essa
doutrina, as excludentes previstas na Lei 6.453/1977 não teriam sido recepcionadas pela
Constituição Federal de 1988.
Sobre esse aspecto, registramos que o Brasil é signatário da Convenção de Viena sobre
Responsabilidade Civil por Danos Nucleares, que, apesar de ser de 21.05.1963, somente
foi promulgada e tornada vigente no Brasil com a publicação do Decreto 911/1993, já sob
a égide da Constituição Federal de 1988, portanto. Tal Convenção também prevê
cláusulas excludentes de responsabilidade e não teve sua constitucionalidade contestada.
Como o tema é controvertido, a imensa maioria das provas de concursos públicos, ao
abordar o tema, cinge-se a propor questão sobre o que é indiscutível, que é o caráter
objetivo da responsabilidade civil por danos nucleares.
As companhias aéreas sofreram grandes abalos nas suas finanças e, em muitos casos,
precisaram de ajuda estatal. Muitos defendiam a existência de responsabilidade estatal,
tendo em vista que a ocorrência de atentados como os verificados nos EUA demonstraria
falhas nos serviços de inteligência e defesa nacionais. Contudo, há de se ressaltar que a
jurisprudência brasileira não aceita a tese de responsabilidade estatal pela prática de
crimes fundada em alegação genérica de falha dos aparatos de segurança estatais. O
entendimento prevalente é que, nesses casos, a culpa exclusiva de terceiro rompe o nexo
de causalidade, desobrigando o Estado.
Resumo
O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que,
no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso
contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade
administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que
notários e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a
terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão
geral) (Info 932).
Comentários
Tabelião (= notário)
Serviços de registro: atividade por meio da qual são praticados os atos previstos na Lei
nº 6.015/73.
• tabelionato de notas;
• tabelionato de protesto.
• registro de imóveis.
Os serviços notariais e de registro são
- atividades extrajudiciais
- mas que são exercidas em caráter privado (ou seja, por particulares pessoas físicas)
Determinado dia, Juliano foi registrar um óbito. Ocorre que ele errou a grafia do nome
do falecido ao fazer a certidão e, em virtude desse equívoco, Maria (a viúva)não
conseguiu obter a pensão por morte no INSS. Maria somente conseguiu resolver a
situação depois de 2 anos, quando finalmente houve a retificação da certidão.
Isso significa que Maria ficou 2 anos sem receber a pensão por morte em virtude do
erro do registrador.
Diante desse cenário, Maria ajuizou ação de indenização unicamente contra o Estado
cobrando os prejuízos que sofreu em virtude do erro do oficial do registro.
O Estado possui responsabilidade civil direta e primária pelos danos que tabeliães e
oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão
geral) (Info 932).
Art. 37 (...)
Ação de regresso
Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os agentes públicos responsáveis por isso
(exs: Governador, Procurador-Geral do Estado, Secretário de Fazenda, a depender do
caso concreto e da organização administrativa do ente) poderão responder por ato de
improbidade administrativa.
Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o
tabelião ou registrador agiu com dolo ou culpa? Qual é o tipo de responsabilidade civil
dos notários e registradores?
Em suma:
O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que,
no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso
contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade
administrativa.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão
geral) (Info 932).
Seria possível que Maria ajuizasse a ação diretamente contra Juliano (o registrador) ou
ela teria que primeira acionar o Estado?
Pela tese da dupla garantia, se uma pessoa sofre dano causado por servidor público,
essa pessoa (vítima) somente poderá ajuizar a ação contra o Estado (Poder Público).
Se este for condenado, irá acionar o servidor que causou o dano, em caso de dolo ou
culpa. Em outras palavras, o ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra
o agente público.
O STF não discutiu se essa tese da dupla garantia se aplica também aos titulares das
serventias extrajudiciais.
Minha opinião pessoal é a de que a vítima pode sim ajuizar a ação de indenização
diretamente contra o notário ou registrador. Ela não precisa, necessariamente, acionar
o Estado primeiro. Em outras palavras, não se aplica a tese da dupla garantia para os
notários e registradores. Isso porque os titulares das serventias extrajudiciais não são
servidores públicos.
Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os
prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos
que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.
Repareque o parágrafo único é específico para a ação proposta diretamente pela vítima
contra o titular do cartório, não se aplicando, por exemplo, para a ação de regresso
ajuizada pelo Estado,considerando que estipula como termo inicial da ação não o
pagamento, mas sim a data da lavratura do ato registral ou notarial.
E por que motivo a vítima iria preferir ajuizar a ação diretamente contra o “dono” do
cartório?
• Vantagem para a vítima ao ajuizar a ação diretamente contra o titular do cartório: não
terá que receber a indenização por meio de precatório.
Jurisprudência do STF