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Quirino Soares

Juiz conselheiro jubilado

ACTOS PROCESSUAIS

Parte Geral

Definição

São todos os actos voluntários praticados no processo pelos sujeitos

processuais, respectivos auxiliares, pelos órgãos de polícia criminal e pelos

demais participantes processuais, em harmonia com o estabelecido na lei

processual penal e por esta preordenados aos fins próprios do processo, que

são o de averiguar a existência de crime e aplicar a correspondente lei penal.

Os actos processuais de maior relevo são, como não podia deixar de ser, os

protagonizados pelos sujeitos processuais, dada a faculdade de iniciativa ou

de decisão que são inerentes a estes sujeitos e a consequente virtualidade de

conformação do próprio processo.

Mas, nem todos os actos praticados no processo são, em substância, actos

processuais, o que importa pôr em relevo, atenta a diferença que, sob muitos

aspectos de regime, designadamente, o da aplicação das leis no tempo1, mas

não só, separa o direito processual do direito substantivo.

1
Cfr. artº5º, CPP e artº2º, CP

1
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Actos processuais são os actos praticados no processo que se integram numa

cadeia sequencial preordenada na lei, isto é, e noutra perspectiva, actos cujos

pressupostos e consequências estão fundamentalmente prefixados na lei

processual.

Actos como a queixa e a acusação particular2 e como a renúncia ou a

desistência deles3, que não se integram naquela sequência preordenada e cujos

pressupostos e efeitos primários ou principais estão fixados no direito

substantivo, não devem, por isso mesmo, ser tratados como actos de processo,

apesar de serem e deverem ser praticados no processo.

Regime dos vícios do acto processual

Os actos processuais têm, normalmente, estrutura unilateral4.

Aos actos processuais são, em regra, estranhos os problemas relacionados

com os vícios da vontade, salvo, porventura, o da ausência total da

voluntariedade do acto, por efeito de coacção física ou de evidente não

seriedade do comportamento ou da declaração.

2
Artº113ºe 117º, CP, e 49e 50º, CPP
3
Artº116º e 117º, CP, e 51º, CPP
4
Cfr., no entanto, a emergência, no CPP, daquilo a que o legislador, no preâmbulo do diploma (nº6, alínea b),
chama de “espaços de consenso”, local próprio para a prática de actos que implicam o acordo de vários
sujeitos processuais, como são os casos do instituto da suspensão provisória do processo, o do processo
sumaríssimo, e outros.

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Isto porque, para além da voluntariedade (o que constitui uma exigência

básica de qualquer acto jurídico) o acto processual de mais nada precisa para

garantia da sua validade substancial.

A representação dos efeitos do acto, que tem particular importância na teoria

do negócio jurídico, e, também, na teoria penal da culpa, nenhuma relevância

assume, em princípio, no direito de processo.

É que o efeito dos actos processuais está predeterminado na lei.

Assim, os vícios que implicam com a validade do acto processual são,

apenas, os de forma5.

Interpretação do acto processual

Os actos processuais são susceptíveis de interpretação, nos termos gerais,

embora o seu sentido útil esteja, na grande maioria dos casos, predefinido no

próprio regime legal em que se enquadram.

O juízo interpretativo que haja de ser feito deve prescindir de elementos

externos, pois o acto deve ser interpretado por si mesmo.

Isto é uma decorrência do carácter unilateral e formal dos actos processuais.

Ordem nos actos processuais – artº85º

Para garantir a ordem do acto, a entidade que lhe preside ou o dirige deve:

5
Cfr. artº118º, e ss., CPP

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- tomar todas as providências necessárias contra quem o perturbar,

incluindo o recurso à força pública;

- levantar ou mandar levantar auto e, se for caso disso, deter o mandar

deter o prevaricador, para efeito de procedimento (a perturbação do

funcionamento de órgão de soberania constitucional constitui crime p.

e p. pelo artº334º, CP).

Se o acto perturbador ocorrer em diligência presidida pelo juiz, este ordena, se

necessário, a detenção do prevaricador que deva intervir ou ser ouvido nesse

mesmo dia, pelo tempo indispensável.

Esta detenção, que só pode ser ordenada pelo juiz, tem natureza diferente da

prevista nos artº254º e ss., sendo uma medida que alia a garantia da ordem à

realização das finalidades do acto, com alguma semelhança com a

estabelecida no artº173º, 1.

Os artº301º, 1 (debate instrutório) e 322º (audiência) contêm regras

específicas em matéria de ordem naqueles actos.

Publicidade e segredo de justiça– artº86º

Publicidade do processo implica:

- assistência pelo público em geral aos actos, nos termos definidos no

artº87º;

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- narração dos actos ou reprodução dos seus termos pelos meios de

comunicação social, nos termos definidos no artº88º;

- consulta do auto e obtenção de cópias, extractos e certidões de

quaisquer partes do auto, nos termos definidos nos artº89º (para os

sujeitos processuais) e 90º (para o público em geral);

da publicidade está, porém, sempre excluída a matéria dos dados relativos à

reserva da vida privada, que não constituam meios de prova, dados que a

autoridade judiciária tem o dever de especificar, oficiosamente ou a

requerimento, para que sejam mantidos em segredo (nº3).

O segredo de justiça tem a sua razão de ser, por um lado, na preocupação com

o êxito da actividade de investigação e, por outro, na defesa da dignidade e

honra do suspeito e, em certos casos, da própria vítima.

O segredo de justiça implica as seguintes proibições (nº4):

- de assistência à prática, ou tomada de conhecimento do conteúdo, de

acto processual a que não tenha o direito ou o dever de assistir6;

- de divulgação da ocorrência de acto processual ou dos seus termos,

independentemente do motivo que presidir a tal divulgação.

6
Sobre acesso do arguido aos autos de inquérito, para efeitos de requerer instrução e recorrer do despacho
que lhe aplicou a prisão preventiva, cfr. acs. da Relação do Porto, de 11.09.95, na CJ, XX, 4, 228, e de
24.01.2001, na CJ XXVI, I, 226

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A proibição de divulgação de ocorrência7 de acto processual deve ser

entendida em termos hábeis, pois não implica obrigatoriedade de silêncio

quanto a actos realizados em local público.

O processo só é público a partir dos seguintes momentos (nº1):

- da decisão instrutória;

- se não tiver havido instrução, do momento em que já não pode ser

requerida;

- do recebimento do requerimento de instrução por parte do arguido, se

apenas ele a tiver requerido e não declarar que se opõe à publicidade

(terá, portanto, que haver, da parte do arguido uma expressa oposição à

publicidade)8.

Antes destes momentos, o processo marcha sob o signo do segredo, sem

prejuízo de algumas concessões à publicidade, mediante despacho da

competente autoridade judiciária.

São os casos do nº5 (conhecimento a determinadas pessoas do conteúdo de

acto ou documento, se tal se averiguar conveniente ao esclarecimento da

verdade, ficando, em todo o caso, essas pessoas vinculadas ao segredo) e dos

7
Divulgação de ocorrência; não de divulgação dos seus termos
8
Cfr. o ac. Rel. Porto, de 21.02.2001, na CJ, T1, pag.235, sobre a publicidade do debate instrutório quando,
havendo vários arguidos, apenas um ou alguns deles requereram a instrução, sem terem manifestado
oposição à publicidade. A posição defendida no acórdão, de que o processo passou, a partir daquele
requerimento, a ser público, parece-me correcta

6
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nº7 e 8 (passagem de certidão de acto ou documento, para fins de instrução de

outro processo criminal ou disciplinar, ou de acção de indemnização).

O segredo vincula todos os participantes processuais (isto é, os sujeitos

processuais, os funcionários de justiça, os órgãos de polícia criminal, os

peritos, os consultores técnicos, os intérpretes, as testemunhas e outros

intervenientes ocasionais), bem como as pessoas que, por qualquer título,

tiverem tomado conhecimento de elementos pertencentes ao processo (nº4).

É discutível se, na expressão por qualquer título, se encontra abrangida a

situação do jornalista que, por algum meio não autorizado pela entidade

competente, tem acesso ao segredo.

E é discutível porque, por um lado, há que ter em conta a sede constitucional

da liberdade de expressão e informação e de imprensa e meios de

comunicação social9, mas, também, e por outro lado, o caracter criminal da

violação do segredo de justiça (artº371º, CP) e o disposto no artº3º, da Lei de

Imprensa (Lei 2/99, de 13/10), onde se estabelece que a liberdade de imprensa

tem como únicos limites os que decorrem da Constituição e da lei10.

Esse é, porém, um problema de ordem substantiva e não processual, pois se

trata de uma questão de incriminação.

9
Cfr. artº37º e 38º, da Constituição
10
Cfr., a este respeito, o artigo do juiz de direito Manuel Henrique Ramos Soares, em Interrogações à Justiça,
ed. Tenacitas, fls.284-285

7
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Publicidade - Assistência do público –87º

Aos actos processuais declarados públicos pela lei pode assistir qualquer

pessoa.

O acto público por excelência é a audiência de julgamento, a ponto de o seu

carácter público ter constituído objecto de prescrição constitucional (artº206º,

Const).

Porém, em atenção à dignidade das pessoas, à moral pública ou ao normal

decurso do acto, pode o juiz excluir ou restringir a assistência do público, pelo

tempo indispensável, desde que fundamente a decisão em factos ou

circunstâncias concretas; a exclusão não impede o juiz de admitir, por razões

atendíveis, a assistência de determinadas pessoas, principalmente por razões

profissionais ou científicas (nº1, 2 e 4).

Já os actos relativos a crime sexual que tenha por ofendido menor de 16 anos

deverão decorrer, em regra (isto é, sem necessidade de justificação em

concreto) com exclusão da publicidade (nº3).

Em qualquer caso, a leitura da sentença será sempre pública (nº5)11.

11
Mas não terá que o ser a sentença que procedeu à reformulação de sentença condenatória declarada nula
por insuficiência de fundamentação, e que não alterou a matéria de facto antes dada como provada, não sendo
inconstitucional a norma extraída da conjugação dos artigos 321º, 2, e 87º, 5, interpretada no sentido de que,
em tal caso, é dispensada a leitura pública da decisão reformulada (ac. TC de 15.12.2004, no DR 2ª série,
nº40, de 25.02.2005)

8
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A publicidade não impede, também, o juiz de proibir a assistência de menores

ou de pessoas que se não comportem de harmonia com a dignidade e a

disciplina do acto (nº6).

Publicidade – Comunicação Social – artº88º

Como se disse, a publicidade implica, também, a narração dos actos ou

reprodução dos seus termos pelos meios de comunicação social.

Ainda que o processo já se encontre na fase pública, esta narração ou

reprodução tem alguns limites, resultantes das seguintes proibições legais (nº2

e 3):

- a reprodução de peças processuais ou de documentos incorporados no

processo até à sentença em 1ª instância, salvo autorização da autoridade

judiciária competente;

- a transmissão ou registo de imagens ou de som de qualquer acto,

designadamente, da audiência, salvo autorização da autoridade

judiciária competente, e salvo oposição de qualquer pessoa presente, na

parte que lhe diz respeito das imagens ou do som;

- a publicação da identidade de vítima de crime sexual, contra a honra ou

contra a reserva da vida privada, antes da audiência, ou mesmo depois,

se a vítima for menor de 16 anos (viu-se atrás, na parte referente à

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assistência do público, que esta categoria de vítimas implica, por regra,

a exclusão da publicidade);

- a narração dos actos anteriores à decisão sobre a exclusão da

publicidade da audiência, enquanto essa decisão não for revogada por

cessação dos motivos que a determinaram (nº3).

São proibições que, salvo a relativa às vítimas de crime sexual, contra a honra

e contra a reserva da vida privada12, têm em vista evitar julgamentos parciais e

precipitados pela opinião pública, garantindo o prestígio da justiça e a

serenidade dos juízes.

Publicidade – consulta de auto e obtenção de certidão – arº89º e 90º

Quanto aos sujeitos processuais – artº89º

O acesso ao processo por parte da entidade que o dirigir, do Ministério

Público, dos que nele intervierem como auxiliares destas entidades, e do

assistente, se o processo respeita a crime particular, é incondicionado.

Os outros sujeitos processuais, arguido e partes civis, e, também, o assistente,

quando se trate de procedimento por crime público ou semi-público, só têm

acesso franco ao processo a partir da acusação do Ministério Público, e desde

12
Que se explicam por si mesmas

10
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que a consulta se faça na secretaria ou noutro local onde decorra alguma

diligência13.

Em tais circunstâncias, poderão obter, mediante requerimento e despacho

favorável, cópias, extractos e certidões de peças do processo; se essas peças se

destinarem a preparar a acusação ou a defesa, a secretaria deverá passá-las,

sem necessidade de despacho (nº1, parte final).

Antes da acusação do Ministério Público, o arguido, as partes civis e o

assistente, se o procedimento respeitar a crime público ou semi-público, só

terão acesso às partes do processo que contenham declarações por eles

prestadas, requerimentos e memoriais por eles apresentados, diligências de

prova a que pudessem assistir, questões incidentais em que pudessem intervir.

Este acesso é feito nos termos constantes da parte final do nº2, e acrescenta-

se, sem o prejudicar, ao conhecimento a determinadas pessoas que a

autoridade judiciária pode ordenar, ainda na fase do segredo, tal como

prescrito no atrás mencionado nº5, do artº86º14.

Em ambos os casos, o dever de segredo persiste para todos (parte final do nº2,

e nº6, do artº86º).

13
Este condicionamento (do local de acesso e consulta) não foi considerado inconstitucional, mesmo que
contraposto ao direito de defesa do arguido (cfr. ac. TC nº117/96, de 06.02.96, in BMJ 454º/228)
14
Deve entender-se que o arguido que pretenda recorrer da decisão que lhe aplicou a prisão preventiva, na
fase de inquérito, tem direito a que lhe seja facultada cópia das provas que foram indicadas como
determinantes da aplicação daquela medida, isto como decorrência dos princípios do direito ao recurso e do
leal contraditório

11
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Quanto aos processos que já ultrapassaram a fase do segredo15, o assistente, o

arguido e as partes civis podem, mediante requerimento à competente

autoridade judiciária, consultá-los fora da secretaria, mediante aquilo que se

chama a confiança do processo, que é gratuita e está sujeita a prazo.

A falta de restituição do processo no prazo prescrito pela autoridade judiciária

tem os efeitos previstos no Código de Processo Civil, definidos no artº170º,

CPC.

Se a falta for do Ministério Público, a ocorrência deverá ser objecto de

participação ao superior hierárquico (nº4).

Quanto ao público em geral ( artº90º)

A consulta só pode ser realizada mediante requerimento à autoridade

judiciária competente, em processos que tenham passado a fase do segredo.

O requerente tem de demonstrar um interesse legítimo.

O legislador não fornece critério para avaliação do interesse legítimo. Será

matéria a decidir caso a caso16.

Nessas circunstâncias, o requerente poderá obter cópia, extracto ou certidão

das peças que lhe interessem.

15
Isto é, os findos ou os pendentes em que já tenha sido proferida decisão instrutória ou a instrução já não
possa ser requerida, ou, ainda, aqueles em que a instrução foi requerida, apenas, pelo arguido que não
declarou opor-se à publicidade
16
A jurisprudência tem decidido que o advogado, apesar de estar dispensado de apresentar-se com
procuração (artº63º, nº1, do Estatuto), não o está de invocar o interesse legítimo de que fala o artº90º, nº1
(cfr. Ac. TC nº661/94, in DR 2ª série, de 20.02.95

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Este direito não prejudica a proibição que, no caso, se verificar, de narração

dos actos processuais ou de reprodução dos seus termos através dos meios de

comunicação social, o que nos remete para as proibições, já estudadas, da

alínea a, c, do nº2, e do nº3, do artº88º.

Juramento e compromisso – artº91º

Num propósito de amarrá-los a um pacto com a verdade, a lei de processo

impõe às testemunhas o juramento e aos peritos e intérpretes um

compromisso, ambos sob penhor da respectiva honra.

Os termos do juramento e do compromisso constam dos nº1 e 2,

respectivamente.

A recusa de prestar juramento ou compromisso tem o mesmo valor criminal

que a própria recusa a prestar depoimento ou a exercer as funções de perito ou

de intérprete (nº3)17.

Estão dispensados de juramento os menores de 16 anos e os peritos e

intérpretes que intervierem no exercício das suas funções públicas.

Forma dos actos e sua documentação – 92º a 102º

O processo é um encadeado de autos, documentos incorporados, decisões da

competente autoridade judiciária ou de polícia criminal, promoções do

17
Cfr. artº360º, nº2, CP

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Ministério Público, exposições, memoriais e requerimentos do arguido,

assistente e parte civil.

Como já disse18, um dos princípios fundamentais do processo penal é o

princípio da oralidade, que significa que a prestação de quaisquer declarações

deve ser feita por via oral, não sendo permitida a leitura de escritos elaborados

para o efeito. Disse, então, também, que a oralidade não é incompatível com

registo ou gravação das declarações, nomeadamente, para efeitos de recurso.

A oralidade não significa, assim, rejeição da forma escrita, e não poderia ser,

visto que o escrito é o suporte indispensável do processo,

Ora, o auto é o instrumento destinado a fazer fé quanto aos termos em que se

desenrolaram os actos processuais que a lei obriga a documentar 19 bem como

a recolher as declarações, requerimentos, promoções e actos decisórios

verbais que tiverem ocorrido no decurso do mesmo acto (artº99º, nº1).

Vale como um documento autêntico, nos termos do artº169º (cfr. nº4, do

artº99º).

Sem auto, o acto é como se não existisse.

O auto obedece aos requisitos gerais dos actos escritos, estabelecidos nos

artº94º e 95º (adiante mencionados), e, além deles, deve conter:

18
No capítulo referente à Parte Geral
19
Como, p. ex., as declarações para memória futura (artº271º, nº5 e 294º), as diligência de prova no inquérito
e na instrução (artº275º, nº1 e 296º), o debate instrutório (artº305º) e a audiência de julgamento (artº362º)

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 identificação dos presentes;

 indicação dos faltosos e das causas da falta de comparência;

 descrição especificada das operações realizadas, da intervenção de cada

participante, das declarações prestadas, da documentação apresentada

ou recebida, dos resultados da diligência e de quaisquer outras

ocorrência com relevo para a apreciação da prova ou a regularidade do

acto, como, p. ex., o local da sua realização.

A redacção, o registo e a transcrição do auto estão regulamentados nos

artº100º e 101º.

Sempre que a lei determine que o auto deve ser redigido por súmula, compete

à entidade que presidir ao acto velar por que a súmula corresponda ao

essencial do que se passou ou das declarações prestadas, nos termos que

constam dos nº2, do artº100º, podendo ditar directamente, ou autorizar que

sejam os participantes processuais a fazê-lo, na parte que lhes respeita.

A redacção do auto compete ao funcionário que assessorar a entidade que

preside ao acto (artº100º, nº1), sendo assinada pelo presidente, pelos

intervenientes e pelo próprio funcionário, nos termos do artº95º, nº1, 2 e 3,

onde se fala na rubrica das folhas que não contenham a assinatura e no modo

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de reagir contra a impossibilidade ou recusa de assinatura de algum

interveniente.

Se for alegada a desconformidade entre a redacção do auto e o que, na

realidade, se passou no acto, o nº3, do artº100º, prevê um procedimento

incidental que garante o exercício do contraditório relativamente às alegadas

divergências, com decisão final da entidade que presidir.

A redacção do auto pode ser feita por métodos de escrita rápida, tais como os

estenográficos, estenotípicos, ou outros, ou, então, podem ser utilizados meios

de gravação magnetofónica ou audiovisual, cujo uso será consignado no auto,

naturalmente.

Se o auto tiver sido feito por meios estenográficos, estenotípicos ou outros

diferentes da escrita comum, a transcrição para a linguagem comum será feita

no mais curto prazo (artº101º. nº1), o que bem se compreende porque a

entidade que presidiu, e que pode não ter conhecimentos daquelas

especialidades, deve certificar-se da conformidade da transcrição e assinar.

Não assim se o registo tiver sido feito por meios magnetofónicos ou

audiovisuais20.

20
Neste mesmo sentido, cfr. o ac. STJ de 11.01.2002, no recurso 3419/00, 5ª secção, cujo sumário está
disponível na colecção de Sumários de Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, da responsabilidade dos
juízes assessores

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Quer as folhas estenografadas, quer as fitas estenotipadas ou gravadas ficarão

apensas aos autos, ou, em caso de impossibilidade, bem guardadas (seladas,

numeradas e identificadas com o processo a que respeitam)21 – artº101º, nº2.

O auto que respeite ao debate instrutório e à audiência chama-se acta,

regendo-se, complementarmente, pelas disposições pertinentes do CPP, que

são as dos artº305º (acta de instrução) e 362º (acta de audiência).

A documentação de declarações orais prestadas no debate instrutório e em

audiência está contemplada, respectivamente, nos artº305º (debate instrutório)

e º363º e 364º (audiência).

No debate instrutório, a redacção é por súmula. Na audiência, usam-se meios

estenotípicos ou estenográficos, ou outros destinados à reprodução integral

das declarações, como sejam os magnetofónicos ou audiovisuais, sempre que

os houver ou a lei expressamente impuser a documentação.

Se for o caso de imposição legal, como são o de julgamento perante juiz

singular em que não haja renúncia unânime ao recurso (artº364º, nº1 e 2) ou o

de julgamento na ausência do arguido (artº364º, nº3), e o tribunal não

disponha dos referidos meios técnicos, a documentação das declarações será

feita por súmula ditada pelo juiz, nos termos definidos nos nº2 e 3, do

artº100º.

21
Cada a abertura e encerramento desses registos deverá ficar registada no auto (artº101nº, nº3)

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De referir, por último, que, como resulta das disposições complementares dos

artº99º, nº2, e 305º e 362º, da acta não tem que constar o conteúdo das

exposições introdutórias nem da alegações feitas pelo MºPº ou os advogados

dos outros sujeitos processuais22, nem, tão pouco, as perguntas ou

observações deles ou do juiz, sempre que a documentação das declarações

seja feita por súmula.

São decisões ou actos decisórios os actos dos magistrados que

resolvem uma qualquer questão, processual ou substantiva, sobre que haja

conflito ou dúvida.

As decisões ou actos decisórios podem ser escritos ou orais, consoante o caso,

e tomam a forma de (97º, nº1, 2 e 3) de:

- sentenças, quando conhecerem, a final, do objecto do processo;

- despachos, quando conhecerem de qualquer questão interlocutória, ou

quando puserem termo ao processo por qualquer motivo que não seja o

conhecimento do objecto do processo;

- acórdão, se se tratar de acto decisório dos tribunais colegiais (tribunal

colectivo, tribunal do júri, a conferência dos juízes nos tribunais de

recurso).

22
Deve constar, tão só, que foram ou não foram produzidas

18
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Juiz conselheiro jubilado

Todo o acto decisório deve ser fundamentado, com especificação dos motivos

de facto e de direito (nº4), o que constitui uma aplicação de uma exigência

constitucional (artº205º, nº1, Const.).

A fundamentação serve os objectivos da persuasão e da transparência.

De acto decisório deve distinguir-se o chamado despacho de mero

expediente23, que a lei processual civil define como o que se destina a “prover

ao andamento regular do processo, sem interferir no conflito de interesses

entre as partes”24.

Como se não trata de acto decisório, no sentido indicado, o despacho de mero

expediente não tem que ser fundamentado25.

A forma da fundamentação constitui reserva de lei, isto é, a Constituição deu

ampla margem ao legislador ordinário para definir o sentido e os limites da

fundamentação.

Mas, o legislador ordinário não poderá, em caso algum, usar essa liberdade de

conformação para esvaziar de sentido aquele dever.

O acto decisório mais importante é a sentença ou o acórdão com valor

equivalente, e, para ele, por isso mesmo, prevê o Código requisitos especiais

de fundamentação (artº374º, nº2).

23
Cfr. artº156º, nº4, CPC
24
Será, p. ex., o despacho que designa data para a realização da audiência de julgamento
25
Cfr. o nº1, do artº205º, Const

19
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A regra geral, porém, é a de não haver tais requisitos especiais, constituindo o

nº4, do artº97º, o referencial único do magistrado decisor.

Do atrás citado nº2, do artº374º, emerge, porém, uma preferência muito clara

do legislador pela concisão, que, se desejada para a sentença, por maioria de

razão o há-de ser para os despachos.

A fundamentação da sentença, devendo ser “tanto quanto possível

completa”26, não precisa, para isso, de conter matéria de facto irrelevante ou

de esgotar a apreciação dos argumentos jurídicos da acusação e da defesa.

Basta-lhe a indicação dos factos provados com relevância para a decisão e o

tratamento jurídico das questões suscitadas.

O arguido pode apresentar exposições, memoriais e requerimentos

da sua própria lavra (não assinados pelo defensor) em qualquer fase, desde

que pertinentes ao objecto do processo ou à salvaguarda dos seus direitos

fundamentais (artº98º, nº1).

O mesmo direito, de expor ou requerer por si, não têm, já, os restantes

participantes processuais (assistente e partes civis) que se encontrem

representados por advogado27, salvo impossibilidade do advogado e o

requerimento visar a prática de acto sujeito a prazo de caducidade (nº2).

26
Citado nº2, do artº374º
27
Porém, o lesado, enquanto parte civil pode, em determinadas circunstâncias, pleitear por si – cfr. nº1, do
artº76º

20
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A entrega ou remessa a juízo dos actos escritos do arguido, assistente e partes

civis não tem uma regulamentação específica no CPP.

Aplica-se-lhe subsidiariamente a correspondente norma do artº150º, CPC.28

Nos actos, tanto escritos como orais, usa-se a língua portuguesa, sob

pena de nulidade.

A lei resolve pelo recurso a intérpretes qualificados a dificuldade de

comunicação com as pessoas que não dominem a língua portuguesa ou forem

surdas, deficiente auditivas ou mudas que não saibam escrever.

O mudo, sabendo escrever, dá as respostas por escrito (artº91º e 92º).

Forma escrita e oralidade – artº94º a 96º

A oralidade– artº96º

Salvo disposição contrária, a prestação de quaisquer declarações (declarações

propriamente ditas, depoimentos, esclarecimentos dos peritos) é feita

oralmente, sem prejuízo da sua gravação e posterior transcrição, para efeito de

recurso.

Pretende-se garantir a espontaneidade e genuinidade da declaração, e, por

isso, não é permitido prestá-la através da leitura de escrito previamente

elaborado para aquele efeito.

28
Cfr. AUJ 2/2000, de 09.12.99, no DR 1-A,nº31, de 07.02.00

21
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Diferente, embora perigosamente aparentado, é o caso de o declarante se

socorrer de apontamentos como auxiliar da memória, que a autoridade

judiciária pode autorizar, desde que tome as devidas cautelas, que podem ser a

da exibição dos escritos e o esclarecimento sobre a respectiva origem29.

Forma escrita – artº94º

Os actos escritos, em que se inclui, como vimos, os próprios autos ou actas

(que o podem ser à mão, à máquina de escrever ou em processador de texto 30)

devem sê-lo de forma perfeitamente legível, sem espaços em branco não

inutilizados, nem entrelinhas, rasuras ou emendas, não ressalvadas.

Pretende-se uma completa clareza formal, a fim de possibilitar uma

comunicação apreensível e fiável.

Se o documento é ilegível qualquer participante interessado tem direito a

requerer uma transcrição dactilográfica.

O critério de avaliação da legibilidade deverá ser o do homem comum, ou

homem médio31.

Os despachos, sentenças ou acórdãos podem ser feitos integralmente à

máquina ou em processador de texto, incluindo a parte dispositiva.

29
Cfr. nº2 e 3, do artº96º
30
Mas devendo ser autenticados, nos termos do nº2, do artº94º
31
Cfr. o ac. STJ de 29.04.2004, na base de dados do ITIJ, com o nº 04B986

22
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

A forma escrita tende para a simplificação, sem prejudicar a proficiência e a

certeza do acto, e é assim que são admitidas abreviaturas, embora de

significado inequívoco, datas e números em algarismos, ressalvada a

obrigatoriedade de indicação por extenso das penas, dos montantes

indemnizatórios e de outros elementos cuja certeza importe acautelar32.

Na mesma linha, são, também, admissíveis fórmulas pre-impressas,

formulários em suporte electrónico ou carimbos, a completar com o texto

pertinente.

A prática do acto deve ficar certificada com a menção do lugar, dia, mês e ano

da realização, e, mesmo, da hora de início e do fim, quando se trate de acto

que afecte ou possa afectar liberdades fundamentais da pessoa33.

O escrito do auto é assinado por quem a ele tiver presidido, pelos

participantes e pelo funcionário de justiça que assessorou e o redigiu, nos

termos e condições que constam do artº95º, nº1, 2 e 3.

Reforma de auto perdido, extraviado ou destruído – artº102º

Aqui se remete para o processo de reforma previsto na lei de processo civil

(artº1074º a 1081º, CPC), além de se indicar quem deve intervir na

conferência de interessados e se consignar, em harmonia com a diferente

32
O incumprimento desta regra constitui mera irregularidade, com o regime fixado no artº123º
33
Pense-se, p. ex., numa detenção ou num interrogatório de arguido detido

23
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

natureza das matérias, que o acordo dos intervenientes só supre o processo na

parte cível, se a houver, sendo meramente informativo em matéria penal.

Tempo dos Actos e da Aceleração do Processo – artº103º a 110º

Quando se praticam os actos – 103º

Os actos processuais praticam-se, em regra, apenas nos dias úteis, às horas de

expediente do serviço, e fora dos períodos de férias judiciais.

Com as seguintes excepções:

- actos relativos a arguidos detidos ou presos, ou indispensáveis à

garantia da liberdade das pessoas34 (deverá, aqui, ser considerada a

situação do arguido sujeito à medida de coação de obrigação de

permanência na habitação, que, como se verá adiante, o legislador

equipara, para muitos efeitos, nomeadamente quanto a limites máximos

de duração, à prisão preventiva35);

- actos de inquérito e de instrução, debates instrutórios e audiências de

julgamento, quando quem a eles presidir reconhecer vantagem no

início, continuação ou conclusão fora daqueles limites;

34
Cfr. o AUJ nº5/95, de 27-09-95 (in DR 1-A, de 14-12-95), segundo o qual “o disposto nos artº103º, nº2, a,
e 104º, 2, não é aplicável ao recurso interposto em processo à ordem do qual inexistem arguidos presos, ainda
que o recorrente esteja preso à ordem de outro processo”
35
Cfr. artº218º, nº3

24
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- actos de mero expediente, e decisões da autoridade judiciária 36, sempre

que necessário (este últimos serão aqueles, para além dos anteriores,

que o magistrado considere, em seu prudente arbítrio, de carácter

urgente).

Estes actos podem, pois, ser praticados em qualquer dia e a qualquer hora.

O interrogatório de arguido não pode ser efectuado entre as 0 e as 6 horas,

salvo em acto seguido à detenção.

Prazos para a prática dos actos – 104º a 107º

Em processo penal, não há prazos dilatórios37.

O processo penal contém uma disciplina própria em matéria de prazos, que

prescinde da figura da dilação38.

Os prazos em processo penal têm, regra geral, pois, natureza peremptória: o

seu decurso faz extinguir o direito a praticar o acto a que se destinam39.

São de exceptuar os prazos para os actos das entidades que dirigem as

diferentes fases do processo. Tais prazos têm, regra geral, natureza

meramente ordenadora.

36
Ver a definição de autoridade judiciária no artº1º, nº1, b
37
Assim diz o AUJ nº2/96, de 6/12, in DR 1-A, de 10/01/96
38
Recorda-se que dilação é o diferimento da possibilidade de realização de um acto ou do início da contagem
de outro prazo, chamando-se dilatório ao prazo de tal diferimento (cfr., a este respeito, o artº145º, 2, CPC)
39
Quanto ao prazo constante do artº44º (para o requerimento de recusa de juiz) cfr. o ac. STJ de 27.03.03,
ITIJ 03P594, que o considera de natureza peremptória

25
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

O não cumprimento destes prazos apenas acarreta consequências disciplinares

para os infractores.

Salvo disposição legal em contrário, a regra geral sobre a duração do prazo é

de dez dias (artº105º, 1)40.

É, por regra, de dois dias o prazo dos funcionários de justiça para a prática

dos actos próprios, salvo se houver arguidos detidos ou presos e o prazo puder

afectar o tempo de privação da liberdade 41, caso em que o acto deve ser

praticado de imediato, à frente de qualquer outro serviço (artº106º).

A contagem de prazos (artº104º) é feita segundo as regras estabelecidas na lei

de processo civil, o que nos remete para o disposto no artº144, CPC, onde se

consagra a regra da continuidade, temperada pela da suspensão do prazo

durante as férias judiciais e pela transferência para o dia seguinte ao do termo

do prazo se, no último dia, o tribunal estiver encerrado.

Correm, porém, em férias os prazos relativos a processos em que devam

praticar-se actos relativos a arguidos detidos ou presos, ou indispensáveis à

garantia da liberdade42, e, também, os relativos a inquérito, instrução, debate

instrutório e audiência, que a entidade competente tenha reconhecido, por

despacho, nos termos das alíneas a e b, do n2, do artº103º, vantagem em não

40
AUJ 2/96, de 06.12.95, no DR 1-A, nº8, de 10.01.96 (A disciplina autónoma do processo penal em matéria
de prazos prescinde da figura da dilação)
41
Aqui, deve ser incluído o arguido sujeito à medida de coação de obrigação de permanência na habitação
42
Aqui, cabem os arguidos sujeitos à medida de coação de obrigação de permanência na habitação

26
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

ficarem sujeitos às condicionantes temporais definidas no nº1 do mesmo

artº103º.

Esta regra, definida no nº2, do artº104º, aplica-se a todos os sujeitos

processuais43, e, portanto, a todos os arguidos, quer os que estejam quer os

que não estejam presos44.

A contagem do prazo, além disso, obedece à seguinte regra: não se conta o dia

em que começa, conta-se aquele em que finda (regra definida na alínea b, do

artº279º, CC, que, de acordo com o disposto no artº296º, do mesmo código,

deve ser entendida como um princípio geral aplicável em qualquer jurisdição,

na falta de norma específica).

Em caso de justo impedimento, devidamente alegado e provado, o acto pode

ser praticado para além do prazo, nos termos definidos nos nº2, 3 e 4, do

mesmo artº107º45, com respeito pelo princípio do contraditório46.

Na parte omissa, o incidente é regulado pelas correspondentes normas do

CPC, como direito subsidiário47

43
Regra que se impõe a todos os sujeitos processuais, como pondera o ac. STJ de 30.04.03, ITIJ 03P788
44
Cfr., a este respeito, o AC. TC nº213/93, de 16/3, in BMJ 425º/184, que julga constitucional a regra que
decorre da conjugação dos artº103º, nº2, a, e 104º, nº2, segundo a qual correm em férias judiciais os prazos
de todos os intervenientes em processos com arguidos presos.
45
No acórdão da Relação de Lisboa de 25.03.04, in CJ 2004, Tomo II, pag.136, diz-se que não constitui
justo impedimento uma greve ocorrida no decurso do prazo e anunciada previamente.
46
Citado nº2, do aertº107º
47
Artº146º, CPC

27
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

À falta de definição no CPP, justo impedimento deverá ser considerado, para

este efeito, o “evento não imputável à parte48 nem aos seus representantes ou

mandatários, que obste à prática atempada do acto”, por aplicação subsidiária

do artº146º, nº1, CPC49.

Integra a ideia de justo impedimento a ocorrência de tolerância de ponto no

último dia do prazo, com a consequente impossibilidade de praticar o acto50.

Independentemente do justo impedimento, o acto pode ser praticado dentro

dos três primeiros dias úteis, tal como se estabelece no nº5, 6 e 7, do artº145º,

CPC, e com as consequências ali estabelecidas, para que remete o nº5, do

artº107º.

Em processos de excepcional complexidade, definidos no artº215º, nº1, pode

o juiz, mediante requerimento, prorrogar até ao limite máximo de 20 dias, os

prazos legais da contestação do pedido cível, do requerimento para abertura

da instrução, e o da contestação do arguido (nº6, do artº107º).

O beneficiário do prazo pode renunciar ao seu decurso, nos termos

estabelecidos no artº107º, nº1.

48
Parte deverá, aqui, ter o sentido de sujeito processual
49
Sobre a impossibilidade de acesso à transcrição das declarações e depoimentos prestados em audiência,
para efeitos de recurso, cfr. os acs. TC 363/2000, de 5.7.2000, e 433/2002, de 20.10.2002, in, DR 2ª série, de
13.11.2000 e de 7.01.2003, respectivamente
50
AUJ 8/96, 10.10.96, no DR 1-A, nº254, de 02.11.96 (A tolerância de ponto não se integra no conceito de
feriado, não reunindo, pois, os pressupostos para, por interpretação analógica, poder ser subsumida no
artº144º, 1 e 3, CPC. Porém, se o dia da tolerância de ponto coincidir com o último dia do prazo para a
prática do acto, considera-se existir justo impedimento, nos termos do artº146º, 2, CPC, para que o acto possa
ser praticado no dia imediato

28
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

Os artº108º a 110º contêm os pressupostos, a disciplina e os efeitos do

incidente de aceleração processual, a que o Ministério Público, o assistente, o

arguido e as partes civis podem recorrer quando se encontrar excedido o prazo

legal de duração de determinada fase do processo.

É um incidente com natureza e contornos administrativos.

Os prazos de prescrição do procedimento criminal têm assento no Código

Penal (artº118º a 121º), atenta a natureza mista daquele instituto, de

características simultaneamente substantivas e processuais, mas em que

predominam as primeiras, pois o procedimento criminal é conditio sine qua

non da aplicação de qualquer pena.

A contagem do tempo de prisão tem regras próprias, estabelecidas no

artº479º.

Comunicação dos actos processuais e convocação para eles –

artº111º a 117º

Finalidades (artº111º, nº1)

A comunicação destina-se a transmitir:

- ordem de comparência perante os serviços de justiça

- convocação para participar em diligência processual

29
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- conhecimento do conteúdo de acto realizado ou de decisão proferida

O sentido da comunicação ou da convocação deve ser inequívoco.

Assim, se o arguido é notificado simplesmente da data designada para o acto

sem expressa convocação para comparecer não lhe será exigível que associe

esse conhecimento ao dever de comparecer, não obstante toda a panóplia de

deveres que o seu estado implica.

Executores da comunicação (artº111º, nº2)

A comunicação é feita pelos serviços de secretaria do tribunal, do MºPº ou do

órgão de polícia criminal, conforme os casos.

Meios de comunicação (artº111º, nº3, e 112º)

Entre serviços de justiça e entre as autoridades judiciárias e os órgãos de

polícia criminal, empregam-se, conforme os casos, o mandado, a carta

(precatória ou rogatória), ou o ofício, aviso, carta, telegrama, telex,

telecópia, comunicação telefónica, correio electrónico ou qualquer outro

meio de telecomunicações, tal como estabelecido nas diferentes alíneas do

nº3, do artº111º.

O mandado e a carta (precatória ou rogatória) destinam-se a determinar ou

solicitar a prática de qualquer acto processual, sendo o mandado para actos a

praticar no âmbito territorial de competência da entidade que emite a ordem e

30
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

a carta (precatória ou rogatória) para ao actos a praticar fora daqueles limites

(precatória, para o território nacional; rogatória, para o estrangeiro)51.

O ofício, carta, telegrama,…etc, emprega-se para solicitar uma notificação52

ou para qualquer outro tipo de transmissão de mensagem53

A convocação para acto processual pode ser feita por qualquer meio,

inclusive telefónico (artº112º, nº1 e 2).

Notificação – artº112º, nº3

A forma mais solene de convocação ou comunicação é a notificação, que

engloba a transcrição, cópia ou resumo do despacho que a tiver ordenado, e se

emprega, para além de outros casos:

- na comunicação do termo inicial ou final de um prazo legalmente

estipulado sob pena de caducidade;

- na convocação para interrogatório ou declarações ou para participar em

debate instrutório ou em audiência;

- na convocação de pessoa que haja sido chamada, sem efeito

cominatório, e tenha faltado;

51
Na falta de regulamentação, é às normas, sobre a mesma matéria, do CPC, na medida em que se
harmonizem com o processo penal, e como direito subsidiário, que se tem de ir buscar a solução dos
problemas de cumprimento das cartas precatórias e rogatórias (cfr., neste sentido, ac. STJ, de 22.01.2001, in
proc.3421/00)
52
Adiante se dirá o que é notificação e qual o seu regime
53
Dar a conhecer, p. ex., o estado do processo; ou pedir uma informação sobre a morada de uma testemunha

31
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- na convocação para aplicação de uma medida de coacção ou de

garantia patrimonial (artº112º nº3).

Teve o legislador em atenção a necessidade de, nas referidas hipóteses,

garantir que o destinatário fique a conhecer o conteúdo e a finalidade da

comunicação

Regras gerais sobre a notificação (artº113º)

O notificando pode indicar no processo pessoa, sediada na área de

competência territorial do tribunal, para o efeito de receber notificações, que

valerão como se feitas na pessoa do próprio (nº8).

A notificação efectua-se por

- contacto pessoal com o notificando, no lugar onde este se encontrar;

- via postal registada;

- via postal simples, nos casos expressamente previstos;

- editais e anúncios, nos casos expressamente previstos.

Quando efectuada por via postal, a notificação presume-se feita no 3º dia útil

posterior ao do envio, se registada, ou no 5º dia posterior à declaração de

depósito da carta, feita pelo funcionário do serviço postal (nº2 e 3).

Os nº5 e 6 regulam os termos da notificação postal registada, e o nº11, os da

notificação edital.

32
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

As notificações do arguido, assistente e partes civis podem ser feitas ao

respectivo defensor e advogado (podem e devem, acrescento), mas as

notificações da acusação, da decisão instrutória, do dia da audiência de

julgamento e da sentença, bem como as relativas à aplicação de medidas de

coação e de garantia patrimonial e à dedução do pedido de indemnização

civil, devem sê-lo, também, ao próprio arguido54, contando-se, então, o prazo

para a prática do acto subsequente a partir da data da notificação efectuada em

último lugar (nº9).

Terminando em dias diferentes o prazo de diferentes arguidos ou diferentes

assistentes, o acto pode ser praticado por todos ou por cada um até ao termo

do prazo que começou a correr em último lugar (nº10).

Regras especiais sobre notificações

- por requisição, nos termos previstos no artº114º, nº1 e 2, se o

notificando estiver preso, ou se tratar de funcionário ou agente

administrativo, caso este em que a opção pela requisição é meramente

facultativa55;

54
Se o arguido esteve justificadamente ausente da audiência em que se procedeu à leitura pública da
sentença, deve considerar-se regularmente notificado dela, na pessoa do advogado ou defensor (cfr., sobre o
tema, o ac. TC nº108/99, de 10.02.99, in DR 2ª série, de 15.06.99)
55
Introduziu-se, aqui, um corte com o Código anterior, que consagrava um regime obrigatório de requisição
desses funcionários, com o inconveniente de a presença da pessoa requisitada depender de autorização do
dirigente do serviço

33
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- as notificações dos advogados ou do defensor nomeado podem ser

feitas pelos três primeiros meios e também por telecópia (nº10);

- nos termos do nº7, valem, ainda, como notificação, salvo nos casos em

que a lei exigir formalismo diferente, as convocações e comunicações

verbais feitas por autoridade judiciária ou de polícia criminal aos

presentes em acto processual e as feitas por via telefónica, em caso de

urgência, com as formalidades indicadas na alínea b do mesmo nº.

Dificuldades em efectuar notificação ou cumprir mandado – artº115º

O artigo resolve os problemas do funcionário que encontre obstrução ao

cumprimento da notificação ou do mandado.

Permite o recurso à colaboração da força pública, nos termos ali

regulamentados, numa aplicação da norma do nº3, do artº205º, Const. e do

artº13º, LOFTJ.

Nada impede que, por intermédio de mandado, a notificação seja

directamente requisitada às entidades policiais, mas apenas como meio de

resolver dificuldades dos próprios serviços do tribunal.

Faltas e justificações – artº116º e 117º

Regula-se, neste conjunto de dois artigos, as consequências da falta de

comparência das pessoas regularmente convocadas ou notificadas, e a forma

de justificação da falta.

34
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

Embora o nº1, do artº117º o não diga expressamente, deverá entender-se o

“facto não imputável” à luz dos princípios de direito substantivo sobre as

causas de exclusão da ilicitude e da culpa, dada a substancial unidade que

existe entre o direito penal e o processual penal.

A consequência normal da falta injustificada56 é a condenação em multa

(artº116º, nº1).

Distinguem-se das faltas dos intervenientes em geral, as faltas do arguido, do

Ministério Público e do advogado constituído ou nomeado.

Consagra-se, excepto, naturalmente, para o Ministério Público e o advogado,

a possibilidade de detenção de quem faltar injustificadamente pelo tempo

indispensável à realização da diligência (artº116º, nº2)57.

Tratando-se de arguido, a consequência, em vez da detenção temporária, pode

ser, mesmo, a prisão preventiva, caso esta seja, no caso, admissível.

É do juiz a competência para a aplicação das sanções previstas no artº116º,

ainda que a falta ocorra no decurso do inquérito.

56
É, também, falta injustificada o abandono do local antes de, para tal, estar autorizado pelo juiz
57
Tendo em conta a limitação constante da alínea f, do nº3, do artº27º, Const., e o carácter excepcional das
medidas de restrição da liberdade pessoal, deve entender-se, como no ac. Rel Lxª, de 3.10.2000, in CJ, ano
XXV, tomo IV, pag.143, que esta privação de liberdade só pode ter lugar para assegurar a comparência
perante uma autoridade judiciária e já não perante autoridade de polícia criminal, mesmo que ordenada por
uma autoridade judiciária

35
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

O regime de justificação de faltas obriga o faltoso a uma colaboração rápida e

não desproporcionada com os serviços58.

Havendo impossibilidade de comparência, mas não de prestação de

declarações ou depoimento, esta far-se-á no local possível (artº117º, nº6).

Nulidades dos actos processuais – artº118º a 123º

Nulidades insanáveis e nulidades sanáveis

Os vícios formais do acto processual, isto é, o seu desajuste relativamente ao

modelo estabelecido na lei de processo, produzem efeito de nulidade ou de

mera irregularidade.

Os vícios de substância, ou erros de julgamento, não produzem tais efeitos;

são impugnáveis, como veremos mais tarde, pela via do recurso.

O efeito regra da violação ou da inobservância das disposições da lei

processual penal é a irregularidade, cujo regime será adiante explicado.

O efeito de nulidade é excepcional.

Com efeito, o artº118º, nº1, prescreve que a nulidade precisa de ser

expressamente cominada na lei. É uma consequência do princípio da

58
Sobre faltas, comunicação da impossibilidade de comparecer, justificação e sanção aplicável, interessa ver
os seguintes acórdãos: Rel. Coimbra, de 30.05.01, na CJ, T3, pag.50 (justificação); Rel. Porto, de 12.01.94,
na CJ, T1, pag.252 (comunicação); Rel. Coimbra, de 20.10.99, na CJ, T4, pag.65 (prova da imprevisibilidade
do motivo da falta); Rel. Porto, de 07.10.98, na CJ, T4, pag.230 e Rel. Coimbra, de 26.06.96, na CJ, T3,
pag.55 (atestado médico; vinhetas); Rel. Coimbra, de 06.05.98, na CJ, T3, pag. 47 (justificação; atestado
médico); Rel. Lxª de 04.05.92, na CJ, T3, pag.220, e Rel. Porto, de 05.07.95, na CJ, T4, pag.222 (natureza da
sanção); e, finalmente, o AUJ de 30.04.91, no DR 1-A, de 25.10.91 (também sobre atestados médicos, que
contém doutrina actual: a de que não é exigível a indicação concreta da doença que afecta o faltoso, bastando
a descrição sumária do estado que impossibilita o doente de comparecer)

36
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

legalidade, colimado à finalidade de conservação e aproveitamento, tanto

quanto possível, dos actos praticados, a qual, por sua vez, constitui uma

expressão do princípio da economia processual.

Consequentemente, onde a lei prescreva, tão só, o efeito de nulidade, deverá

entender-se, por princípio, que o legislador se quis referir a nulidade sanável.

A ideia mais radical de inobservância das disposições da lei, isto é, a falta de

elementos substanciais do acto, que o tornam ineficaz, para todos os efeitos,

conduz à figura extrema da inexistência59.

Trata-se de figura com reduzido interesse prático, embora, esporadicamente, a

jurisprudência se socorra dela.

As nulidades repartem-se, conforme a sua gravidade, entre sanáveis ou

insanáveis.

As primeiras devem ser arguidas pelos interessados até determinada fase do

processo, sob pena de sanação; as segundas devem ser conhecidas e

declaradas oficiosamente em qualquer fase do processo, sem prejuízo do

efeito sanador do caso julgado sobre a decisão final60.

59
Como quando, p. ex., o julgamento é realizado por um juiz aparente (um juiz não investido dos seus
poderes de soberania) ou por um tribunal pertencente a outra jurisdição que não a penal, ou, ainda, quando é
proferida condenação com base numa acusação dirigida exclusivamente a um co-arguido (cfr., a este último
propósito, o ac. STJ de 24.06.92, in CJ, ano XVII, tomo 3, pag.49)
60
Segundo o TC, em seu acórdão de 28.03.2001, in DR 2ª série, de 22.05.2001, “não é inconstitucional o
artº119º, nº1, quando interpretado no sentido de que as nulidades, qualquer que seja a sua natureza, ficam
sanadas logo que se forme caso julgado”; em harmonia com este entendimento, o recente ac. STJ de
07.07.2005, in ITIJ 04P3992, julgou que a “decisão judicial com trânsito em julgado não se anula, como não
se declara a nulidade de actos dum processo que findou por decisão já tornada irrevogável”

37
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

São nulidades insanáveis61:

- a falta do número de juízes ou de jurados que devam constituir o

tribunal, ou a violação das regras legais relativas ao modo de

determinar a respectiva composição;

- a falta de promoção do procedimento criminal pelo Ministério Público,

nos termos do artº48º, bem como a sua ausência a actos relativamente

aos quais a lei exigir a sua comparência;

- a ausência do arguido ou do seu defensor, nos casos em que a lei exigir

a respectiva comparência62;

- a falta de inquérito ou de instrução, nos casos em que são obrigatórios;

- a violação das regras de competência do tribunal, sem prejuízo dos

casos em que a incompetência territorial ficou fixada, por não ter sido

deduzida em tempo, nos termos do artº32º, 2;

- o emprego de forma de processo especial fora dos casos previstos.

São nulidades sanáveis, além das que forem cominadas em locais

específicos:

61
Acerca de nulidades insanáveis, interessa conhecer a seguinte jurisprudência uniformizada: AUJ de
06.05.92, in DR 1-A, de 6.08.92, onde se julga que “não é insanável a nulidade da alínea a, do artº379º, CPP,
consistente na falta de indicação das provas que serviram para formar a convicção do tribunal, ordenada pelo
artº374º, nº2”; AUJ de 16.12.99, in DR, 1-A, de 6.01.2000, segundo o qual “integra a nulidade insanável da
alínea b, do artº119º, a adesão posterior do MºPº à acusação deduzida pelo assistente relativa a crimes de
natureza pública ou semi-pública e fora do caso previsto no artº284º, nº1
62
Cfr. ac. STJ de 29.04.03, ITIJ 03P756, onde se considera que não existe nulidade na realização de
audiência de julgamento de arguido que se ausentou, sem comunicar, da residência antes declarada e não foi,
por isso, pessoalmente notificado.

38
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- o emprego de uma forma de processo em vez da legalmente

determinada, sem prejuízo de que o emprego de forma especial fora dos

casos previstos constitui sempre nulidade insanável, como se disse;

- a ausência, por falta de notificação, do assistente e das partes civis, nos

casos em que a lei exige a sua comparência;

- a falta de nomeação do intérprete, nos casos em que é obrigatória a

nomeação;

- a insuficiência do inquérito ou da instrução e a omissão posterior de

diligências que pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da

verdade (a insuficiência do inquérito ou da instrução deve remeter-se à

omissão de diligências prescritas por lei como obrigatórias, sob pena de

entrar pela areia movediça da discricionariedade técnica do

investigador)63.

As nulidades sanáveis terão de ser arguidas, sob pena de caducidade do

direito de arguição e de consequente sanação do vício:

- tratando-se de nulidade de acto a que o interessado assista, antes que o

acto finde;

63
No AUJ de 23.11.205, tirado no recurso 2517/02-3ª, diz o Supremo: “A falta de interrogatório como
arguido, no inquérito, de pessoa determinada contra quem o mesmo corre, sendo possível a notificação,
constitui a nulidade prevista no art. 120.2.d do CPP [insuficiência de inquérito]»

39
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

- tratando-se de nulidade por falta de notificação do assistente ou das

partes civis, até cinco dias após a notificação do despacho que designar

dia para a audiência;

- tratando-se de insuficiência do inquérito ou da instrução, até o

encerramento do debate instrutório, ou, não havendo instrução, até

cinco dias após a notificação do despacho que tiver encerrado o

inquérito;

- logo no início da audiência, nas formas de processo especiais.

Além do decurso do prazo de arguição da nulidade, têm efeito de sanação os

seguintes factos (artº121º, nº1, 2 e 3):

- renúncia expressa à arguição por parte do interessado;

- aceitação, também expressa, por parte do interessado, dos efeitos do

acto anulável;

- prevalecimento, por parte do interessado, de faculdade a cujo exercício

o acto anulável se dirigia;

- comparecimento da pessoa não (ou irregularmente) convocada ou

notificada, ou renúncia ao comparecimento, nos casos em que essa

renúncia é válida, ressalvando-se o caso em que o não notificado ou

irregularmente notificado compareceu apenas para arguir a nulidade.

40
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

Salienta-se, de novo, que a renúncia à arguição e a aceitação dos efeitos

do acto só têm efeito de sanação se forem expressos, o que remete para a

distinção entre declaração expressa e declaração tácita estabelecida no

artº217º, 1, CC64.

Efeitos da declaração de nulidade – artº122º

As nulidades invalidam o acto em que se verificaram, bem como os que dele

dependerem e forem afectados por elas.

Na declaração de nulidade, a autoridade judiciária, especifica quais os actos

que são afectados e devem considerar-se, também, nulos, e determina, se

possível, a repetição do processado nulo.

Numa concretização do princípio da economia processual, o nº2 prescreve ao

juiz o aproveitamento possível de todos os actos que ainda puderem ser salvos

da declaração de nulidade, dissuadindo-o de tomar uma atitude drástica em

relação à totalidade dos actos afectados65.

O regime da nulidade das provas proibidas, a que se reporta o artº126º,

contém especialidades que serão abordadas no estudo das provas.

É esse o entendimento a retirar do nº3, do artº118º.

O artº379º contempla os casos de nulidade de sentença.

64
Código Civil
65
A este respeito, cfr. o ac. TC nº198/2004, de 24.03.2004, in DR 2ª série, onde se julgou que “não é
inconstitucional o nº1, do artº122º, no entendimento de que abre a possibilidade de ponderação do sentido das
provas subsequentes, não declarando a invalidade destas”

41
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

As nulidades da sentença, elencadas no nº1, não são de conhecimento oficioso

pelo tribunal que as praticou, devendo ser arguidas pelo interessado.

A arguição deve ser feita em recurso, sendo, neste caso, lícito ao tribunal

recorrido supri-las, reparando, em conformidade, a sentença, nos termos

aplicáveis do artº414º, nº4.

Nada obsta, por outro lado, a que o interessado argua a nulidade, nos termos

estabelecidos no artº120º, nº3, a66.

Mas, esta faculdade apenas interessa aos casos em que não há possibilidade

de recurso da decisão67.

O tribunal de recurso pode conhecer oficiosamente das referidas nulidades.

Irregularidades – artº123º

Qualquer violação ou inobservância da lei de processo penal não cominada

com o efeito de nulidade constitui, como se disse, mera irregularidade.

A irregularidade só tem efeito de invalidade quando for arguida pelos

interessados no próprio acto ou, não estando presentes, nos três dias seguintes

66
Cfr., a este respeito, o AUJ de 2.12.93, in DR 1-A, de 11.02.94, tirado anteriormente à introdução do nº2,
do artº379º, pela Lei 59/98, de 25/08, e que é do seguinte teor: “As nulidades de sentença enumeradas de
forma taxativa nas alíneas a e b, do artº379º não têm de ser arguidas, necessariamente, nos termos
estabelecidos na alínea a, do nº3, do artº120º, podendo sê-lo, ainda, em motivação de recurso para o tribunal
superior. Como se vê, este AUJ caducou, em virtude da alteração legislativa posterior, mas conserva alguma
actualidade, na medida em que remete para a possibilidade de arguição perante o tribunal que praticou a
nulidade e até ao momento referido na alínea a, do nº3, do artº120º.
67
P. ex. o acórdão da Relação, em recurso, nos termos da alínea d), do nº1, do artº400º, sendo certo que à
audiência em recurso é subsidiariamente aplicável o regime da audiência em 1ª instância (artº423º, 5) e que
ao acórdão em recurso é correspondentemente aplicável a teoria das nulidades e irregularidades da sentença
(artº425º, 4)

42
Quirino Soares
Juiz conselheiro jubilado

a contar daquele em que tiverem sido notificados para qualquer termo do

processo ou tiverem intervindo em algum acto nele praticado.

No entanto, a autoridade judiciária pode ordenar oficiosamente a reparação de

qualquer irregularidade, no momento em que da mesma tomar conhecimento,

quando a irregularidade possa afectar o valor do acto praticado.

Quanto às meras irregularidades, não vale, pois, em toda a sua plenitude, nem

a regra da arguição pelo interessado nem a do efeito de sanação, próprios das

nulidades sanáveis68.

O artº380º autoriza a correcção oficiosa de meras irregularidades da sentença.

68
Sobre a violação do artº349º, cfr. ac. STJ de 28.05.03, ITIJ 03P391, que a considera mera irregularidade;
sobre a inobservância do prazo fixado no artº373º, cfr. o ac. STJ de 15.10.97, ITIJ 97P1316, que a qualifica,
também, de mera irregularidade.

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