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1 – CONSULTA JURÍDICA
1. CONSULTA JURÍDICA
• Primeiro contacto com cliente – ver artigos 97º a 107º EOA (relações com os clientes);
• Não fazer esperar o cliente, não ter pressa na realização da reunião, tomar notas;
• Numa primeira consulta deve ser prestada uma mera informação jurídica – direitos e
deveres face ao direito aplicável – a aprofundar caso o cliente solicite o patrocínio;
• Caso se anteveja a necessidade de propor uma ação judicial, deve solicitar-se a descrição
dos factos, os documentos e os elementos de prova testemunhal, devendo também prever-
se uma nova reunião;
• Abordar o tema da confiança recíproca e salientar que a escolha do advogado deve
ser livre;
• Ter consciência da competência e disponibilidade para assumir o patrocínio;
• Esclarecer sobre o dever de sigilo profissional;
• Recusar o patrocínio em caso de conflito de interesses (artigo 99º EOA), não
constituição de provisão (artigo 103º nº 2 EOA), violação de deveres para com a
comunidade (artigo 90º EOA);
• Esclarecer sobre a possibilidade de o cliente poder beneficiar de proteção jurídica;
• Não garantir o resultado, pois a prestação de serviços de advogado implica uma
obrigação de meios e não uma obrigação de resultado.
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• Ter atenção aos formalismos legais de um eventual acordo (por exemplo, é necessária a
autenticação de documento particular, caso se pretenda que o acordo constitua título
executivo – artigos 703º nº 1 alínea b) e 707º do CPC).
2 – PETIÇÃO INICIAL
1. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PROCESSO CIVIL
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• e de prolação da decisão num prazo razoável.
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1.2) PRINCÍPIO DA IGUALDADE (Artigo 4.º do CPC)
As partes têm de ser tratadas de modo igual;
• Ambas as partes devem possuir os mesmos poderes, direitos, ónus e deveres;
• Cada uma das partes deve situar-se numa posição de plena igualdade perante a outra e
ambas devem ser iguais perante o Tribunal;
• Concretização do princípio da igualdade consagrado no artigo 13º da CRP;
• O Tribunal deve assegurar, durante todo o processo, um estatuto de igualdade substancial
das partes, designadamente no exercício de faculdades, no uso dos meios de defesa e na
aplicação de cominações ou de sanções processuais;
• Nem sempre é viável assegurar essa igualdade, pois em certos casos, não é possível
ultrapassar certas diferenças substanciais na posição processual das partes;
• Noutras hipóteses, não é possível afastar certas igualdades formais impostas pela lei.
• Devem ser respeitadas todas as situações de igualdade formal entre as partes
determinadas pela lei processual;
• Há que observar alguns preceitos que visam diretamente a igualdade formal entre as
partes (por exemplo, os artigos 50º nº 2 e 598º nº 2 do CPC);
• Mas não existe qualquer possibilidade de assegurar uma igualdade substancial entre as
partes;
• É ao Tribunal que compete garantir a igualdade das partes, auxiliando a parte necessitada
e não promovendo a desigualdade entre as mesmas;
• O Tribunal tem certos poderes instrutórios (por exemplo, os previstos nos artigos 436º nº
1 e 490º nº 1 do CPC) e inquisitórios (artigo 411º do CPC): quanto a estes últimos, resulta
do disposto no artigo 6º do CPC, que o Tribunal pode investigar e considerar os factos
instrumentais relevantes para a decisão da causa, mas o uso destes poderes instrutórios e
inquisitórios é orientado, não pela necessidade de obter a igualdade entre as partes, mas
pela de procurar proferir uma decisão de acordo com a realidade das coisas.
• Contudo, existem normas no CPC que podem consubstanciar uma violação deste
princípio, sendo estas as seguintes:
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· O artigo 466º do CPC: se a outra parte não estiver presente quando a parte
contrária pede para prestar declarações de parte, tem que se lhe dar conhecimento
dessa pretensão;
· O artigo 511º nº 1 do CPC: os autores só podem arrolar 10 testemunhas; os réus,
se for uma só contestação, só podem arrolar 10 testemunhas; mas se forem várias
contestações (uma de cada réu), cada réu pode arrolar 10 testemunhas; o Juiz pode
corrigir esta desigualdade ao abrigo do artigo 511º nº 4 do CPC.
1.3) PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO E OFICIOSIDADE (Artigo 5.º CPC)
«1 - Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir e aqueles em
que se baseiam as exceções invocadas.
2 - Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz:
a) Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa;
b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e
resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se
pronunciar;
c) Os factos notórios e aqueles de que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício
das suas funções.
3 - O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e
aplicação das regras de direito.»
Cabe às partes alegar os factos essenciais que integram a causa de pedir e aqueles em
que se baseiam as exceções, sob pena de já não o poderem fazer (PRECLUSÃO);
Este ónus não se restringe à indicação da causa de pedir ou do fundamento da exceção, ou
seja, aos factos essenciais: ele recai sobre todos os factos necessários à procedência da
ação ou da exceção, ou seja, sobre os factos principais;
Existem também os factos instrumentais, que se destinam a ser utilizados numa função
probatória e, por essa razão, não estão sujeitos a esse ónus, não estão sujeitos a preclusão;
Esses factos – os instrumentais – mesmo que sejam invocados nos articulados, podem
sempre ser alterados enquanto for possível requerer os meios de prova, precisamente por
resultarem da atividade probatória;
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Portanto, mesmo que a parte invoque um facto instrumental no seu articulado, ela não está
impedida de usar qualquer outro facto instrumental na demonstração do respetivo facto
principal.
O mesmo sucede quanto aos factos complementares que podem ser adquiridos durante a
instrução e discussão da causa, pelo que a omissão da alegação desses factos nos articulados
não implica qualquer preclusão, dado que o artigo 5º nº 3 do CPC, não concede qualquer
opção quanto ao momento da alegação desses factos, mas apenas a oportunidade de sanar
uma insuficiência na alegação da matéria de facto que só foi detetada na instrução e
discussão da causa.
O processo civil é regido, quanto à relevância da vontade das partes:
• Pelo princípio dispositivo, que assegura a autonomia das partes na definição dos fins que
procuram obter através da ação pendente, autonomia na definição dos fins prosseguidos
no processo;
• Pelo princípio da disponibilidade privada, que determina o domínio das partes sobre os
factos a alegar e os meios de prova a utilizar para conseguir aqueles objetivos, domínio
das partes sobre os meios para alcançar os fins.
Conjugação dos poderes do Tribunal e das partes relativamente à matéria de facto
relevante para a apreciação da causa:
❖ Factos essenciais: aqueles que integram a causa de pedir da ação ou o fundamento da
exceção e cuja falta determina a inviabilidade da ação ou da exceção; realizam uma função
constitutiva do direito invocado pelo autor ou da exceção deduzida pelo réu; sem eles não se
encontra individualizado esse direito ou exceção, pelo qual a falta da sua alegação pelo autor
determina a ineptidão inicial, por inexistência de causa a pedir (artigo 186º nº 1 e nº 2 alínea
a) do CPC); são aqueles que permitem individualizar a situação jurídica alegada na ação ou
na exceção.
❖ Factos instrumentais, probatórios ou acessórios: aqueles que indicam os factos
essenciais e que podem ser utilizados para a prova indiciária destes; destinam-se a ser
utilizados numa função probatória dos factos essenciais ou complementares; são utilizados
para realizar a prova indiciária dos factos principiais, isto é, esses factos são aqueles de cuja
prova se pode inferir a demonstração dos correspondentes factos principais; o âmbito de
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aplicação dos factos instrumentais coincide com a prova indiciária, pelo que esses factos não
possuem qualquer relevância na prova histórica ou representativa.
❖ Factos complementares ou concretizadores: são aqueles cuja falta de alegação não
constitui motivo de inviabilidade da ação ou da exceção; possibilitam, em conjugação com os
factos essenciais de que são complemento, a procedência da ação ou da exceção; sem eles a
ação ou exceção era julgada improcedente; são indispensáveis à procedência dessa ação ou
exceção, mas não integram o núcleo essencial da situação jurídica alegada pela parte.
Incumbe às partes alegar os factos essenciais que integram a causa de pedir ou que
fundamentam a exceção.
O Tribunal pode considerar os factos complementares que resultem da instrução e discussão
da causa, desde que a parte interessada manifeste vontade de deles se aproveitar e à parte
contrária tenha sido facultado, quanto a eles, o exercício do contraditório;
O Tribunal pode considerar, mesmo oficiosamente, os factos instrumentais que resultem da
instrução e julgamento da causa;
A disponibilidade objetiva vale quanto aos factos essenciais e aos factos complementares,
pois que o Tribunal não os pode considerar, quanto àqueles primeiros, se eles não forem
alegados pelas partes e, quanto a estes últimos, se a parte interessada não manifestar vontade
de se aproveitar deles;
Portanto, são os factos principais (essenciais e complementares ou concretizadores), que
estão sujeitos à disponibilidade das partes.
1.4) PRINCÍPIO DA GESTÃO PROCESSUAL (Artigo 6.º CPC)
«1 - Cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela lei às partes,
dirigir ativamente o processo e providenciar pelo seu andamento célere, promovendo
oficiosamente as diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação, recusando o que
for impertinente ou meramente dilatório e, ouvidas as partes, adotando mecanismos de
simplificação e agilização processual que garantam a justa composição do litígio em prazo
razoável.
2 - O juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos processuais
suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos necessários à regularização da
instância ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas partes, convidando
estas a praticá-lo.»
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Cabe ao Juiz um dever funcional vinculativo de providenciar pelo suprimento da falta de
pressupostos processuais sanáveis, de garantir o resultado do andamento célere do processo,
se for o caso, adotando mecanismos de simplificação e agilização processual com vista a em
prazo razoável o Tribunal decidir da justa composição do litígio;
Concretiza-se nos atos e momentos previstos nos artigos 590º e 591º do CPC;
Ver artigo 630º nº 2 do CPC (limites ao recurso de despachos proferidos no uso destes
poderes).
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O dever de cooperação das partes estende-se igualmente à área da prova - artigo 417º CPC,
estabelece, na sequência do direito do Tribunal à coadjuvação de outras entidades (artigo
206º nº 3 da CRP), que todas as pessoas, sejam ou não partes na causa, têm o dever de
prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for
perguntado, submetendo-se às inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e
praticando os atos que forem determinados;
Este dever de colaboração é independente da repartição do ónus da prova (artigos 342º a
345º do CC), isto é, vincula mesmo a parte que não está onerada com a prova.
A recusa da colaboração devida pela parte implica uma de duas consequências:
• Se a parte recusar a sua própria colaboração, o Tribunal aprecia livremente, para
efeitos probatórios, o valor desse comportamento (artigo 417º, nº 2, 1ª parte, do
CPC);
• Se a violação de dever de colaboração resultar da circunstância de a parte ter
culposamente tornado impossível a prova à contraparte onerada, o ónus da prova
inverte-se (artigo 417º, nº 2, in fine, do CPC e artigo 344º nº 2 do CC).
Como o dever de colaboração pode recair sobre a parte que não está onerada com a prova do
facto, esta inversão do ónus da prova pode implicar (artigo 414º do CPC e artigo 346º do
CC), uma decisão de mérito contra a parte à qual não cabia inicialmente a demonstração do
facto.
O dever de cooperação da parte também encontra expressão na ação executiva, se o
exequente tiver dificuldade em identificar ou localizar os bens penhoráveis do executado, o
Tribunal pode determinar que este preste todas as informações indispensáveis à realização da
penhora (artigo 750º do CPC).
Há um idêntico dever de colaboração do Tribunal para com as partes, que se desdobra
em:
Dever de esclarecimento, dever de o Tribunal se esclarecer junto das partes quanto às
dúvidas que tenha sobre as suas alegações, pedidos ou posições em juízo (artigo 7º nº 2 do
CPC), para evitar que a sua decisão tenha por base a falta de informação e não a verdade
apurada;
Dever de prevenção, dever de o Tribunal prevenir as partes sobre eventuais deficiências
ou insuficiências das suas alegações ou pedidos (convites a aperfeiçoamentos);
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Dever de consultar as partes, sempre que pretenda conhecer de matéria de facto ou de
direito sobre a qual aquelas não tenham tido a possibilidade de se pronunciarem (artigo 3º
nº 3 do CPC), porque, por exemplo, o Tribunal enquadra juridicamente a situação de
forma diferente daquela que é a perspetiva das partes ou porque esse órgão pretende
conhecer oficiosamente certo facto relevante para a decisão da causa;
Dever de auxiliar as partes na remoção das dificuldades ao exercício dos seus direitos ou
faculdades ou no cumprimento de ónus ou deveres processuais.
A violação destes deveres pode acarretar nulidades dos atos processuais.
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• Se as partes só quiserem testemunhas quanto a um facto, o Juiz pode ordenar uma
peritagem;
• Os limites são os factos trazidos pelas partes porque o Juiz não pode investigar factos
principais que não tenham sido alegados, tem de respeitar o objeto do processo;
• Dentro dos factos que as partes trazem o Juiz tem o poder-dever de fazer produzir os
meios de prova necessários para apurar a verdade.
Artigo 413º do CPC - Aquisição processual:
• O Tribunal tem de considerar todas as provas que foram trazidas ao processo;
• Mesmo que uma parte traga uma prova contra a sua pretensão, esta tem de ser
considerada pelo Juiz;
• Também aqui os limites são impostos pelos factos trazidos pelas partes e ainda pelos
temas da prova, mas estes podem ser alterados porque podem aparecer factos
supervenientes ou pode ser constatado em julgamento que aquele despacho dos temas
da prova, não definitivo, era insuficiente.
Artigo 415º do CPC – Contraditório:
• As partes têm o direito de se pronunciar sobre todos os meios de prova trazidos pela
outra parte;
• Em princípio, não são admitidas nem produzidas provas sem audiência contraditória
da parte a quem hajam de ser opostas (Exemplos: se surgir um documento novo, há
que notificar a outra parte para que ela se pronuncie sobre ele; as testemunhas
arroladas por uma das partes, podem ser inquiridas pela parte contrária sobre a mesma
matéria).
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Esta adequação da tramitação processual pelo Juiz está limitada pela exigência de um
processo equitativo, o Juiz tem de ser justo, tem de respeitar o princípio da igualdade;
Outro limite é a proteção da confiança, as partes não podem ser surpreendidas, pelo que o
Juiz não pode alterar as coisas sem avisar as partes previamente;
Este princípio concretiza-se por despacho pelo Juiz em que este dá a conhecer às partes
que vai alterar as regras de tramitação do processo;
O despacho referido apenas é recorrível se o Juiz violar o princípio da igualdade ou
do contraditório (artigo 630º nº 2 do CPC);
Este princípio surgiu devido à opção pela unidade da forma de processo comum, se essa
matriz não se adequar às especificidades da causa, ao Juiz caberá fazer as adaptações que
se imponham;
Pode tornar a forma processual mais complexa ou mais simples, ou apenas diversa,
consoante as especificidades concretas;
A adequação formal é particularmente recomendada ao Juiz quando a ação não tem
valor superior a metade da alçada da Relação (artigo 597º do CPC);
Há normas que preveem expressamente a flexibilização do processo, como os artigos
597º, 604º, 468º nº5 e 511º do CPC, que afastam algumas regras quando se trata de uma
ação de valor reduzido.
2.1. CABEÇALHO
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I. LEGISLAÇÃO RELEVANTE
CRP Artigo 110º nº 2: formação, composição, competência e
funcionamento dos órgãos de soberania
Artigo 209º nºs 1 e 3: categorias de tribunais que devem ou podem
existir na ordem jurídica portuguesa
Artigos 209º nº 4 e 213º: carácter excecional da admissibilidade de
tribunais militares com competência privativa para o julgamento de
certas categorias de crimes, de natureza estritamente militar e em
estado de guerra
Artigo 210º: organização hierarquizada dos tribunais comuns, ditos
judiciais, carácter residual da respetiva jurisdição, possibilidade de,
em primeira instância, haver tribunais judiciais de competência
específica e tribunais de competência especializada
Artigo 211º: possível existência de secções especializadas no
Supremo Tribunal de Justiça e nos Tribunais da Relação
Artigo 212º: âmbito da jurisdição administrativa e fiscal e
determinação do Supremo Tribunal Administrativo como órgão
superior da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais
Artigo 214º: âmbito da jurisdição do Tribunal de Contas e indicação
das suas competências fundamentais
Artigos 221º, 222º, 223º e 224º: âmbito da jurisdição do Tribunal
Constitucional, sua competência, sua composição, estatuto dos
respetivos juízes e organização
• Artigos 215º, 216º, 217º e 218º: estatuto dos juízes dos tribunais
judiciais e composição do Conselho Superior da Magistratura
• Artigos 219º e 220º: funções do Ministério Público, sua
autonomia, estatuto próprio e definição da Procuradoria-Geral da
República
Artigo 164º alínea c): limites ao legislador ordinário, as leis sobre
organização, funcionamento e processo do Tribunal Constitucional
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são da exclusiva competência da Assembleia da República
Artigo 165º nº 1 alínea p): leis sobre organização e competência dos
demais tribunais e do Ministério Público e estatuto dos respetivos
magistrados, bem como das entidades não jurisdicionais de
composição de conflitos, são passíveis de autorização pela
Assembleia da República ao Governo
LEI Nº 28/82 DE 15 DE NOVEMBRO – Lei Orgânica do Tribunal Constitucional
LEI Nº 98/97 DE 26 DE AGOSTO – Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas
LEI Nº 21/85 DE 30 DE JULHO – Estatuto dos Magistrados Judiciais
LEI Nº 47/86 DE 15 DE OUTUBRO – Estatuto do Ministério Público
LEI Nº 13/2002 DE 19 DE FEVEREIRO – Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
com destaque para o artigo 4º
DECRETO-LEI Nº 325/2003 DE 29 DE DEZEMBRO – Sede, Organização e Área de
Jurisdição dos Tribunais Administrativos e Fiscais
LEI Nº 15/2002 DE 22 DE FEVEREIRO – Código de Processo nos Tribunais Administrativos
- artigos 3º, 13º a 22º e 142º
DECRETO-LEI Nº 433/99 DE 26 DE OUTUBRO – Código de Procedimento e Processo
Tributário - artigos 12º, 14º, 279º e 280º
LEI Nº 100/2003 DE 15 DE NOVEMBRO – Código de Justiça Militar - artigos 108º a 117º
LEI Nº 101/2003 DE 15 DE NOVEMBRO – Estatuto dos Juízes Militares e dos Assessores
Militares do Ministério Público
LEI Nº 79/2009 DE 13 DE AGOSTO – Regula a forma de intervenção dos juízes militares e
dos assessores militares do Ministério Público junto dos tribunais administrativos
LEI Nº 67/2007 DE 31 DE DEZEMBRO – Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual
do Estado e Pessoas Coletivas de Direito Público
LEI Nº 36/2007 DE 14 DE AGOSTO – Regime de Organização e Funcionamento do
Conselho Superior da Magistratura
LEI Nº 62/2013 DE 26 DE AGOSTO – Lei de Organização do Sistema Judiciário (LOSJ) –
Versão mais recente Lei n.º 77/2021, de 23/11
DECRETO-LEI Nº 49/2014 DE 27 DE MARÇO – Regime Aplicável à Organização e
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Funcionamento dos Tribunais Judiciais (ROFTJ) – Versão mais recente Lei nº 77/2021, de
23/11 – Regulamenta a LOSJ
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – artigos 59º a 114º (competência e jurisdição), 296º (valor
da causa), 627º e seguintes (recursos)
II. TRIBUNAIS
Órgãos de soberania – artigos 110º nº 1 e 202º nº 1 da CRP
Dotados de independência – artigo 203º da CRP
• Interna – sem subordinação entre si, sem prejuízo das relações de hierarquia e
acatamento das decisões dos tribunais superiores (artigo 4º nº 1 do EMJ, artigos 4º
nº 1 e 22º da LOSJ);
• Externa – sem subordinação a outro poder, princípio da separação de poderes (artigo
111º nº 1 da CRP) e estando os demais poderes sujeitos às suas decisões (artigo 205º
nº 2 da CRP).
Compete-lhes administrar a justiça – composição de interesses dissonantes (artigo 202º
da CRP);
Em nome do povo – princípio da soberania popular (artigos 2º e 3º nº 1 da CRP e
artigo 2º da LOSJ);
Independência, inamovibilidade e irresponsabilidade dos Juízes – artigos 216º nºs 1
e 2 e 222º nº 5 da CRP, artigos 4º nº 1 e 6º do EMJ, artigos 4º, 5º e 6º da LOSJ, Lei
nº 67/2007 de 31 de dezembro;
Incompatibilidades dos juízes – artigo 13º do EMJ;
Existência de Conselhos Superiores - órgãos privativos de gestão e disciplina a quem
cabe a nomeação, colocação, transferência e promoção, bem como o exercício da ação
disciplinar em relação aos juízes das respetivas jurisdições.
NORMAS DA LOSJ IMPORTANTES A RETER:
• Independência (artigo 22º);
• Decisões obrigatórias e fundamentadas (artigo 24º);
• Audiências são públicas (artigo 25º);
• Acesso ao direito e tutela jurisdicional efetiva / decisão em prazo razoável (artigo
26º);
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• Ano judicial coincide com o ano civil (artigo 27º);
• Férias judiciais (artigo 28º);
• Categorias de tribunais (artigo 29º);
• Turnos (artigo 36º);
• Competência em razão da matéria, valor, hierarquia e território (artigos 37º, 40º, 41º,
42º e 43º);
• Competência fixa-se no momento da propositura da ação (artigo 38º);
• Proibição de desaforamento (artigo 39º);
• Alçadas (artigo 44º);
Supremo Tribunal de Justiça, que tem competência em todo o território nacional
(artigo 69º do CPC e artigos 45º e seguintes da LOSJ);
Tribunais da Relação, que são tribunais cuja área de competência territorial resulta
da agregação de comarcas (artigo 68º do CPC e artigos 32º, 67º e seguintes e artigo
73º da LOSJ - ações contra magistrados);
Tribunais de primeira instância, que são de competência genérica ou de
competência especializada (artigo 67º do CPC; artigos 79º e seguintes;
desdobramento, ver artigo 81º; ver artigo 82º e seguintes; tribunais de competência
territorial alargada, ver artigo 83º).
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IV. COMPETÊNCIA
INTERNACIONAL (Artigo 59.º do CPC)
Quando se verifique algum dos elementos de conexão (artigos 62º e 63º do CPC);
Quando as partes lhes tenham atribuído jurisdição (artigo 94º);
Quando se mostre prevista em regulamentos europeus - Regulamento (UE) nº
1215/2012, de 12 de dezembro e noutros instrumentos internacionais;
Quando as partes também celebram Pacto Privativo de Jurisdição, por via do qual
retiram competência a um ou a vários tribunais portugueses, atribuindo-a em exclusivo a
um ou vários tribunais estrangeiros (vide artigo 94º do CPC).
NACIONAL (Artigos 37.º e seguintes da LOSJ e artigos 60.º, n.º 2 e 64.º e seguintes do
CPC)
Em relação à jurisdição que lhes está atribuída, a repartição pelos diversos tribunais que a
integram, a ordem dos tribunais comuns assenta em quatro critérios de competência:
Matéria (Artigo 40.º da LOSJ)
· Tribunais de competência territorial alargada (ver também artigo 83.º)
· Tribunais de Comarca – Juízos de competência especializada
Valor (artigo 41º da LOSJ)
· Nas ações declarativas cíveis de processo comum sabe-se qual o tribunal
competente em face do valor da causa
· Juízos centrais cíveis (artigo 117º)
· Juízos locais cíveis (artigos 117º e 130º)
Hierarquia
· É o critério fundamental para efeitos de recurso
· Artigos 209º nº 1 alínea a) e 210º da CRP
· Artigos 42º e 44º da LOSJ – alçadas *
· Artigos 67º a 69º do CPC
*ALÇADA
“Limite do valor das causas dentro do qual o Tribunal julga sem admissibilidade de recurso
ordinário” (artigo 44º da LOSJ – Alçadas);
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Em matéria cível, a alçada dos tribunais da Relação é de € 30.000 e a dos tribunais de
primeira instância é de € 5.000;
Em matéria criminal não há alçada, sem prejuízo das disposições processuais relativas à
admissibilidade dos recursos (artigo 44º nº 2 da LOSJ).
A admissibilidade dos recursos por efeito das alçadas é regulada pela lei em vigor ao tempo
em que foi instaurada a ação (artigo 44º nº 3 da LOSJ)
Atenção há normas especiais: Artigo 6º ETAF - Alçada
A alçada dos tribunais tributários corresponde a um quarto da que se encontra
estabelecida para os tribunais judiciais de 1ª instância;
A alçada dos tribunais administrativos de círculo corresponde àquela que se encontra
estabelecida para os tribunais judiciais de 1ª instância;
A alçada dos tribunais centrais administrativos corresponde à que se encontra
estabelecida para os Tribunais da Relação.
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execução específica, ações relativas a hipotecas; havendo vários imóveis, deverá atender ao
imóvel de maior valor (artigo 70º nº 3 do CPC); não abrange: ações de anulação de contrato
de compra e venda de imóvel, ações de cumprimento de contrato em que se exige a entrega
de coisa imóvel, ações para o cumprimento de obrigações (71º do CPC).
Ações de responsabilidade contratual (artigo 71º nº 1 do CPC) - Domicílio do réu (regra)
mas o credor pode optar pelo lugar em que a obrigação deveria ser cumprida, quer tenha
sido contratual ou legalmente determinado (vide, por exemplo, os artigos 772º, 773º, 774º,
885º, todos do CC) – no caso do artigo 774º do CC (Obrigações pecuniárias): “Se a
obrigação tiver por objeto certa quantia em dinheiro, deve a prestação ser efetuada no lugar
do domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento”, desde que o réu seja pessoa
coletiva, ou desde que, situando-se o domicílio do credor na área metropolitana de Lisboa
ou do Porto, o réu tenha domicílio nessa mesma área.
VER: Lei nº 75/2013 de 12 de setembro (REGIME JURÍDICO DAS AUTARQUIAS
LOCAIS) – Anexo II
· Área metropolitana de Lisboa: Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas,
Oeiras, Sintra, Vila Franca de Xira, Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela,
Seixal, Sesimbra, Setúbal
· Área metropolitana do Porto: Santo Tirso, Trofa, Arouca, Oliveira de Azeméis, Santa
Maria da Feira, São João da Madeira, Vale de Cambra, Espinho, Gondomar, Maia,
Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Paredes.
Ações de responsabilidade civil extracontratual - Lugar onde o facto ocorreu (artigo
71º nº 2 do CPC), o que inclui os casos de culpa in contrahendo.
Divórcio e de separação de pessoas e bens (artigo 72º do CPC):
· Local do domicílio do autor - vide normas sobre domicílio (artigos 82º e 85º a 88º
do CC);
· Residência do autor – este conceito implica também a ligação a um lugar com
intenção de a ele permanecer ligado, ainda que de forma precária e não
necessariamente habitual;
Honorários (artigo 73º do CPC) - tribunal da causa na qual foi prestado o serviço,
devendo aquela correr por apenso a esta, exceto se a causa tiver corrido na Relação ou no
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Supremo Tribunal de Justiça, caso em que correrá no tribunal da comarca do domicílio
do devedor.
Questões marítimas – artigos 74º a 77º do CPC
Procedimentos cautelares e diligências antecipadas (artigo 78º do CPC)
Notificações avulsas (artigo 79º do CPC) - Tribunal em cuja área resida a pessoa a
notificar
Ações em é parte juiz ou parente (artigo 84º do CPC)
Execução fundada em sentença (artigos 85º e 90º do CPC)
Execução de sentença proferida por tribunais superiores (86º do CPC)
Execução por custas, multas e indemnizações (artigos 87º e 88º do CPC).
Nota: Há legislação especial a considerar consoante os casos concretos, por exemplo:
Menores - artigo 9º Regime Geral do Processo Tutelar Cível (Lei nº 141/2015 de 8 de
setembro) - Residência da criança quando o processo foi instaurado;
Insolvência e Recuperação - Artigo 7º CIRE;
Trabalho - artigos 13º a 19º Código de Processo do Trabalho;
Penal - Artigos 19º e seguintes do Código do Processo Penal.
21
Se o réu for uma pessoa coletiva tribunal da sede da administração principal de
pessoa coletiva, ou da sucursal, agência ou filial se a ação for dirigida contra esta, ou
se a administração principal for estrangeira (artigo 81º nº 2 do CPC);
Se forem vários réus e um só pedido tribunal do domicílio do maior número de
réus, se for igual, autor pode escolher (artigo 82º nº 1 do CPC);
Se forem vários pedidos independentes ou alternativos (haja um ou mais réus)
qualquer um dos tribunais que seja territorialmente competente, exceto se algum dos
pedidos implicar uma situação de incompetência de conhecimento oficioso (artigo
104º do CPC);
Se forem vários pedidos dependentes ou subsidiários (haja um ou mais réus)
tribunal competente para a apreciação do pedido principal (artigo 82º nº 3 do CPC).
ii) Matéria de execuções
Regra geral (artigo 89.º do CPC) : tribunal do domicílio do executado, podendo o
exequente optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando
o executado seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o domicílio do exequente na
área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha domicílio na mesma
área metropolitana.
Exceção: se a execução for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia
real tribunal do lugar onde a coisa se encontre ou o da situação dos bens onerados.
V. TRIBUNAIS
A) TRIBUNAIS DE PRIMEIRA INSTÂNCIA:
i. Juízos Centrais Cíveis (artigo 117.º LOSJ)
Preparação e julgamento das ações declarativas cíveis de processo comum (o que
exclui os processos especiais) de valor superior a € 50.000 (artigo 117º nº 1 alínea a) da
LOSJ), incluindo aquelas em que se verifique alteração do valor suscetível de determinar
a sua competência nos processos pendentes nos juízos locais cíveis ou de competência
genérica (artigo 117º nº 3 do CPC), o que constitui uma exceção à regra da perpetuatio
fori (artigo 38º nº 2 da LOSJ);
Preparação e julgamento dos procedimentos cautelares a que correspondam ações da sua
competência (artigo 117º nº 1 alínea c) da LOSJ);
22
Caso não exista outro juízo ou tribunal competente em matéria de execução, cabe-
lhes exercer as competências previstas no CPC, no âmbito das ações executivas de
natureza cível, incluindo os processos especiais, de valor superior a € 50.000 (artigo
117º nº 1 alínea b) da LOSJ);
Caso não exista juízo de comércio na comarca, é-lhes atribuída competência para
estas matérias, desde que sejam competentes em razão do valor (artigo 117º nº 2 da
LOSJ).
ii. Juízos Locais Cíveis (artigos 41.º, 117.º a contrario, 130.º, n.º 1 da LOSJ)
Competências para as causas que não sejam atribuídas a outros juízos ou tribunal de competência
territorial alargada (artigo 130º nº 1 da LOSJ), nomeadamente:
Preparação e julgamento das ações declarativas cíveis de processo comum de valor até
€ 50.000 (artigos 41º, 117º nº 1 alínea a), a contrario, da LOSJ);
Preparação e julgamento das ações declarativas cíveis de processo especial (artigo 117º
nº1 alínea a), a contrario, da LOSJ);
Preparação e julgamento dos procedimentos cautelares a que correspondam ações da
sua competência;
Caso não exista outro juízo ou tribunal competente em matéria de execução,
exercem as competências previstas no CPC no âmbito das ações executivas de natureza
cível de valor até € 50.000 (artigo 130º nº 2 alínea c) da LOSJ);
Caso não exista juízo de família e menores, cabe-lhes conhecer dos processos de
promoção e proteção (artigo 124º nº 5 da LOSJ);
Cumprir os mandatos, cartas, ofícios e comunicações que lhes sejam dirigidos pelos
tribunais ou autoridades competentes (artigo 130º nº 2 alínea e) da LOSJ);
Exercer as demais competências conferidas por lei (artigo 130º nº 2 alínea f) da LOSJ),
como, por exemplo, apreciar os recursos interpostos das sentenças proferidas nos
Julgados de Paz (artigo 62º da Lei dos Jugados de Paz).
iii. Juízos de Família e Menores – Artigos 122.º a 125.º da LOSJ, artigos 6.º e 7.º do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível (Lei n.º 141/2015 de 8 de setembro)
Preparar e julgar as ações e execuções por alimentos entre cônjuges e entre ex-
cônjuges (122.º/1/f)), bem como as execuções por alimentos relativas a menores e
filhos maiores (artigo 123º nº 1 alínea e) da LOSJ);
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Exercer as competências que a lei confere aos tribunais nos processos de inventário nos
casos de separação de pessoas e bens, divórcio, declaração de inexistência ou
anulação de casamento civil e nos casos especiais de separação de bens a que se aplica
esse regime (artigo 122º nº 2 da LOSJ);
Quando o juízo se encontre sediado em diferente município, a prática de atos urgentes é
assegurada pelos juízos de competência genérica, quanto às matérias relativas a
menores e filhos maiores, matéria tutelar educativa e de proteção (artigos 123º nº 4 e
124º nº 6 da LOSJ);
Nos processos em que se presuma a aplicação de medida de internamento, medida de
promoção ou proteção sem que haja acordo, o julgamento pertence a um tribunal
constituído pelo juiz, que preside, e por dois juízes sociais (artigo 125º nº 2 da LOSJ e
Decreto-Lei nº 156/78 de 30 de junho).
iv. Juízos de Trabalho (artigos 126.º a 127.º da LOSJ)
Conhecer, em matéria cível, das execuções fundadas nas suas decisões ou noutros
títulos executivos (artigo 126º nº 1 alínea m) da LOSJ);
Recursos das decisões das autoridades administrativas em processos de
contraordenação nos domínios laboral e da Segurança Social (artigo 126º nº 2 da
LOSJ).
v. Juízos de Comércio (artigo 128.º da LOSJ)
Conhecer não só das ações previstas no nº 1 e também da execução das suas decisões
(artigo 128º nº 3 da LOSJ);
Conhecer das impugnações dos despachos dos conservadores do registo comercial,
bem como das impugnações das decisões proferidas pelos conservadores no âmbito
dos procedimentos administrativos de dissolução e de liquidação de sociedades
comerciais (artigo 128º nº 2 da LOSJ);
Caso não existam na comarca, as suas competências são exercidas pelos juízos de
competência cível, de acordo com o critério do valor (artigo 117º nº 2 da LOSJ).
vi. Juízos de Execução (Artigo 129.º da LOSJ)
Competências previstas no CPC quanto às ações de execução de natureza cível, bem
como as execuções de sentenças proferidas por juízo criminal na parte em que
devam correr perante um juízo cível;
24
Não têm competência para as execuções:
· atribuídas ao tribunal de propriedade intelectual, ao tribunal da concorrência,
regulação e supervisão, ao tribunal marítimo, aos juízos criminais, na parte em
que não devam correr perante um juízo cível, aos juízos de família e menores, aos
juízos de trabalho e aos juízos de comércio (artigo 129º nº 2 da LOSJ);
· das decisões proferidas pelos diferentes tribunais relativas a custas, multas ou
indemnizações (artigo 131º da LOSJ).
vii. Juízos de Proximidade (Artigos 81.º, 82.º, 130.º, n.ºs 5 e 6 da LOSJ)
Audiências de julgamento dos processos criminais da competência do tribunal
singular (artigos 82º nº 4, 130º nº 5 alínea a) da LOSJ), exceto julgamentos em processo
sumário, e de natureza cível da competência dos juízos locais cíveis ou dos juízos de
competência genérica (artigos 82º nº 5 e 130º nº 5 alínea a) da LOSJ);
Audiências ou diligências processuais cuja realização seja determinada pelo juiz
titular ou pelo magistrado do Ministério Público, ouvidas as partes, quando daí
resultem vantagens para a aquisição da prova ou as condições de acessibilidade
dificultem gravemente a deslocação dos intervenientes processuais (artigo 82º nº 1 e 130º
nº 5 alínea b) da LOSJ);
Informações de carácter geral e processual, no âmbito dos tribunais sediados na
respetiva comarca, em razão do especial interesse nos atos ou processos, desde que
observadas as limitações previstas na lei para a publicidade do processo e segredo de
justiça (artigo 130º nº 6 alínea a) da LOSJ e artigo 44º nº 1 alíneas a) e b) do ROFTJ);
Receção de papéis, documentos e articulados destinados a processos que corram ou
tenham corrido termos em qualquer tribunal sediado na comarca - artigo 130º nº 6
alínea b) da LOSJ e artigo 44º nº 1 alínea c) do ROFTJ;
Diligências de audição com recurso a equipamento tecnológico que permita a
comunicação, por meio visual e sonoro, em tempo real, como as teleconferências
(artigo 130º nº 6 alínea c) da LOSJ e artigo 44º nº 1 alínea d) do ROFTJ);
Atos que venham a ser determinados pelos órgãos de gestão (artigo 130º nº 6 alínea d)
da LOSJ e artigo 44º nº 1 alínea e) do ROFTJ);
O nº 2 do artigo 80º da LOSJ qualifica os tribunais de primeira instância como tribunais
de competência genérica ou tribunais de competência especializada, o que os juízos de
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proximidade não são, não possuem uma competência delimitada em função da matéria,
do valor, da hierarquia e do território, pelo que nenhuma ação pode ser proposta nesses
juízos (ainda que aí possa ser apresentada), se isso acontecer, não se aplica o 558º do
CPC, porque este serve para a hipótese da petição inicial ser entregue ou dirigida a um
órgão com competência jurisdicional, logo, a proposição de uma ação num juízo de
proximidade equivale à apresentação num serviço administrativo, devendo ser recusada.
B) TRIBUNAIS DA RELAÇÃO
Os tribunais da Relação são, em regra, tribunais de segunda instância (nº 4 do artigo
210º da Constituição; nº 1 do artigo 67º da LOSJ);
Existem cinco Tribunais da Relação: Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora,
sendo a respetiva competência territorial definida por referência a agrupamentos de
comarcas (artigo 32º e Anexo I da LOSJ, Mapa II do ROFTJ);
Podem funcionar como primeira instância (artigo 73º da LOSJ).
26
C) SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ)
O STJ é o órgão superior da hierarquia dos tribunais judiciais, sem prejuízo da
competência própria do Tribunal Constitucional (nº 1 do artigo 210º da Constituição);
Tem sede em Lisboa (nº 2 do artigo 45º da LOSJ);
Competência territorial estende-se a todo o território nacional (nº 1 do artigo 43º da
LOSJ);
Competência valor e matéria:
Regra - Conhecer, em via de recurso, as causas cujo valor exceda a alçada dos
tribunais da Relação (nº 2 do artigo 42º da LOSJ), quer de acórdãos desses
tribunais (artigo 69º do CPC), quer de decisões de tribunais de primeira instância,
nos casos em que seja admitido recurso “per saltum” (artigos 671º e 678º do CPC)
– funcionam, neste caso, como segunda instância.
Também, em regra, só conhece de matéria de direito (artigo 46º da LOSJ, artigo
682º do CPC e artigo 434º do CPP).
27
Relação entre a sua competência e a dos tribunais judiciais : O STJ, através do
Acórdão Uniformizador de Jurisprudência nº 11/2007, de 24 de maio de 2007 (publicado
no DR, 1ª Série, nº 142, de 25/07/2007), declarou que: “No atual quadro jurídico, a
competência material dos julgados de paz para apreciar e decidir as ações previstas no
artigo 9.º, n.º 1, da Lei n.º 78/2001, de 13 de julho, é alternativa relativamente aos
tribunais judiciais de competência territorial concorrente.”
28
Quando há infração de regras de competência em razão do valor e da forma de processo,
do território e convencional.
É de conhecimento oficioso:
· sempre que haja infração das normas que definem o foro (artigo 104º do CPC,
artigos 70º e seguintes do CPC): situação dos bens, do cumprimento de obrigação,
incluindo aquelas que se destinem a efetivar a responsabilidade civil, dos
procedimentos cautelares, do julgamento dos recursos, das ações em que seja parte o
juiz, seu cônjuge ou parentes, das ações executivas fundadas em decisão proferida por
tribunais portugueses, das regras gerais aplicáveis às ações executivas;
· nos processos cuja decisão não seja precedida de citação do requerido (artigo 366º
nº1, 2ª parte e nº 6);
· nas causas que devam correr como dependência de outro processo, como a ação de
honorários, o incidente de habilitação;
· quando se verifique incompetência em razão do valor.
A incompetência relativa deve ser arguida pelo réu na contestação, podendo o autor
responder no articulado subsequente da ação ou, não havendo lugar a este, em
articulado próprio, sendo este o único caso justificado de resposta a exceção num
articulado com esse propósito exclusivo (artigo 103º nº 2 do CPC).
Pluralidade de réus: se a exceção for deduzida só por um, os outros são notificados
para, querendo, contesta.
Perante a decisão que a declare, cabe reclamação, com efeito suspensivo, para o
presidente da Relação respetiva, o qual decide definitivamente a questão (artigo 105º nº
4 do CPC).
A consequência da sua declaração é a remessa para Tribunal competente (artigo
105º nº 3 do CPC), mas sem extinguir a instância (artigo 278º nº 2 do CPC), como a
decisão transitada em julgado resolve definitivamente a questão da competência, mesmo
que esta tenha sido oficiosamente suscitada, esta decisão torna-se vinculativa para o
tribunal para o qual o processo é remetido (artigo 105º nº 2 do CPC).
Caso não seja declarada, não se pode voltar a discutir a questão, qualquer que seja o
fundamento alegado pela parte (artigo 105º nº 2 do CPC).
VII. CONFLITO DE JURISDIÇÃO (Artigo 109.º, n.º 1 do CPC)
29
Dois ou mais tribunais, integrados em ordens jurisdicionais diferentes, ou duas ou
mais autoridades, pertencentes a atividades do Estado, se arrogam (conflito
positivo) ou declinam (conflito negativo), o poder de conhecer da mesma questão;
Resolução - Tribunal de Conflitos (artigos 101º nº 2 e 110º do CPC) - tribunal ad hoc,
a quem cabe resolver conflitos quando, no âmbito do mesmo processo, surjam questões
entre
Entidades administrativas ou Tribunais Administrativos e Fiscais e Tribunais
Judiciais;
Tribunais Administrativos e Fiscais e o Tribunal de Contas;
Tribunal de Contas e os Tribunais Judiciais.
VER: Lei nº 91/2019, de 4 de setembro, artigo 209º nº 3 da CRP, artigos 101º e 110 do CPC,
artigo 62º da LOSJ, artigo 135º e seguintes do CPTA, nº 3 do artigo 1º da Lei nº 98/97, de
26 de agosto (Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas)
Resolução - Presidente do STJ - tem competência residual para resolver os conflitos
de jurisdição cuja apreciação não pertença ao Tribunal de Conflitos. Têm sido referidos
pela doutrina e jurisprudência os seguintes conflitos:
Entre o representante do MP junto do Juízo de Família e Menores e o Juiz
desse mesmo tribunal a respeito da competência para apreciar e decidir um
processo de autorização para a prática de ato pelo respetivo representante legal -
alienação de imóvel (artigo 1889º nº 1alínea a) do CC; artigo 2º nº 1 alínea b) do
Decreto-Lei nº 272/2001 de 13 de outubro);
Entre uma Conservatória de Registo Civil e um Tribunal Judicial quanto ao
conhecimento dos pedidos de prestação de alimentos formulados por filhos maiores
ou emancipados, ou a respeito do conhecimento do pedido de alteração do acordo de
atribuição do direito ao arrendamento da casa de morada de família, apresentado na
Conservatória e homologado pelo respetivo Conservador, no processo de divórcio
decretado por este (artigo 5º nº 1 alínea a) e b) e DecretoLei nº 272/2001 de 13 de
Outubro), vide Acórdão do Tribunal de Conflitos de 24/02/2005 – Proc. 013/04;
Entre um Julgado de Paz e um Tribunal Judicial, sendo os julgados de paz
considerados tribunais de uma ordem jurisdicional diferente das dos tribunais
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judiciais ou dos tribunais administrativos e fiscais, não cabendo ao Tribunal dos
Conflitos (vide Acórdão do Tribunal de Conflitos de 20/01/2010 – Proc. 026/09).
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ii. Determinação da competência nestes casos:
REGULAMENTO (EU) 1215/2012 DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012 , relativo à competência judiciária,
ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial.
· É lei especial perante as normas reguladoras da competência internacional (artigos 62º, 63º e
94º do CPC).
· Prevalece sobre a regulamentação nacional.
ESTIPULAÇÕES CONVENCIONADAS, aplicam-se em detrimento das regras do regulamento geral,
porém só valem quando o regulamento permitir.
Aplicar-se-ão:
1.º) As estipulações convencionadas se forem válidas;
2.º) Só se não as houver é que se aplica o regulamento geral da EU;
3.º) E só depois deste é que se chega às normas do Código de Processo Civil.
Se, segundo as regras do regulamento, os tribunais competentes são portugueses, mas existe um
pacto que estabelece também que são os portugueses, será esta segunda regra a prevalecer, desde
que o pacto seja válido e será válido se for permitido.
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· Segurança social;
· Arbitragem.
Âmbito subjetivo - Artigo 6º nº 1 - é o requerente residir num estado-membro da EU
(Em Portugal o critério é o da residência habitual e vem regulado entre os artigos 82º a 88º do
CC). Se não residir, aplicar-se-ão as regras de cada país que, no caso de Portugal, serão as
regras do CC.
Há casos em que o regulamento continua a ser aplicado independentemente da
residência do requerido por se verificarem certas condições que decorrem das
regras do regulamento.
A.2) Regras do Regulamento
Há que atentar a três princípios fundamentais:
1º - O réu tem domicílio ou sede num estado-membro deve ser demandado nesse estado-membro
(artigo 4º nº 1).
2º - Só pode ser demandado noutro, quando se aplicar alguns dos critérios do regulamento (artigo
5º nº1) e aí autor pode optar pelo estado em que demanda o réu.
3º - Se o réu não tiver domicílio num estado-membro, rege o direito interno (artigo 6º nº 1) com
exceções (porque nestes casos rege o regulamento):
· ação proposta pelo consumidor (artigo 18º);
· competências exclusivas (artigo 24º);
· competência convencional (artigo 25º).
33
domicílio ou o estado do sítio do cumprimento da obrigação, sendo que este segundo vai
depender da natureza do contrato em causa:
· Se é um contrato de compra e venda é o lugar da entrega dos bens;
· Se é um contrato de prestação de serviços é o lugar dessa prestação.
Em matéria extracontratual (artigo 7º nº 2): é competente o tribunal do local onde
ocorreu o facto danoso, mas o autor pode escolher entre propor a ação no estado da
residência do réu ou no estado em que ocorreu o facto danoso, se estes não coincidirem.
Exploração de sucursal (artigo 7.º nº 5): em que é competente o tribunal da situação
do estabelecimento.
No caso de pluralidade de demandados (artigo 8º): sendo possível que tenham
residência em estados distintos - pode-se propor a ação em qualquer um desses
estados, desde que haja uma conexão, entre as causas de pedir, para evitar decisões
inconciliáveis.
Em matéria de seguros (artigo 10.º): o tribunal competente é do domicílio do
tomador de seguro.
Em matéria de relações de consumo (artigo 17.º): o tribunal competente é o do
domicílio do consumidor.
Casos de competência exclusiva (Artigo 24.º):
É irrelevante o domicílio do réu. Nestes casos não há um critério alternativo, tendo as ações
de ser obrigatoriamente propostas nos estados-membros cuja competência resulta da
aplicação do artigo 24.º.
Caso de direitos reais sobre imóveis e arrendamento : o tribunal competente é o do
estado da situação do bem;
Caso for de sociedades: o critério será o do local da sede dessa sociedade;
Em matéria de registos públicos: será competente o estado desses registos;
Em matéria de marcas e direitos análogos: o estado competente é o estado do registo.
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artigo 25º remete para a legislação nacional, pelo que há que ver se um pacto é válido, face à
legislação interna.
Em princípio, um pacto convencionado valerá se for permitido pela legislação nacional.
Em princípio porque no nº 4 o regulamento faz algumas restrições - casos que, segundo a lei
portuguesa, não seriam permitidos, porém apesar de algumas leis nacionais permitirem, o
regulamento barra esses pactos.
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Ações que versam sobre direitos reais, sociedades, registos públicos, execuções sobre
imóveis ou insolvência são de competência exclusiva dos tribunais portugueses, o que
significa que Portugal não reconhecerá uma decisão de outro tribunal que julgue estas
matérias;
Esta competência exclusiva só tem aplicação nos casos que não puderem ser abrangidos
no artigo 24º Regulamento 1215/2012.
Esta competência é independente do domicílio do réu.
36
O nº 3 estabelece que o pacto de competência tem como efeito a competência vinculativa
para as partes, sendo esta tão obrigatória como a que deriva da lei.
MAS
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ESPÉCIES DE ACÇÕES DECLARATIVAS (ARTIGO 10º Nº 2 DO CPC)
A) Ações declarativas de simples apreciação:
· Bastam-se com a decisão do Juiz que se pronuncia quanto ao direito aplicável, sem ser
necessário executá-lo
· O autor pede ao Tribunal que declare a existência ou inexistência dum direito ou dum
facto jurídico
· Exemplo: se há uma disputa entre vizinhos por uma parte do terreno, basta que o
Tribunal declare a quem pertence o terreno em causa; é uma ação declarativa de simples
apreciação; diferente será o caso em que o A está a ocupar o terreno do B porque aí este
segundo precisará de uma ação executiva para realizar o seu direito
B) Ações declarativas de condenação:
· Visam condenar o réu na prestação duma coisa ou dum facto a que o autor tem direito.
C) Ações declarativas constitutivas
· Alteram a ordem jurídica, isto é, alteram as situações jurídicas das partes em conformidade
com um direito potestativo do autor
· Exemplos:
Ações de divórcio ou de reconhecimento de paternidade
Ações de anulação ou nulidade de contratos, podem ser de simples apreciação ou
constitutivas
Ação constitutiva altera a ordem jurídica
Ação de simples apreciação apenas reconhece um direito
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vizinho, enquanto réu, a ter o ónus de fazer prova do seu direito; se o réu não provar o
seu direito, o Tribunal vai julgar a ação procedente a favor do autor
Nas ações constitutivas não vale esta regra especial, pois normalmente cada parte tem a
sua história e conta-a ao Tribunal apoiando-se em provas (também podem existir ações
em que não se consegue provar nada e o Tribunal acaba por não acreditar em nenhuma
das versões)
Esta regra do ónus da prova é fundamental porque nestes casos vai perder a ação a parte
que tinha o ónus da prova
Outra diferença: a regra é que existam dois articulados, a petição inicial e a
contestação, mas nas ações de simples apreciação negativa, há sempre lugar a réplica,
porque o autor tem de ter a oportunidade de se defender da prova apresentada pelo réu na
contestação
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dentro dos processos especiais, há processos de jurisdição voluntária (artigos 986º e
seguintes do CPC), com as seguintes características:
· o Juiz não decide de acordo com a lei, mas de acordo com a solução mais adequada
ao caso concreto
· não existe um verdadeiro litígio (exemplo: nos processos de menores o que importa é
saber se os interesses destes estão defendidos)
· uso de critérios de adequação e conveniência
· o Juiz tem poderes para investigar os factos, não tendo de se cingir aos factos
alegados pelas partes (princípio do inquisitório)
· atenuação da rigidez do caso julgado (artigo 988º do CPC) - o Juiz pode alterar
posteriormente a sua decisão, o que é fundamental nos processos de responsabilidades
parentais, pois o Juiz pode perceber que a mãe ou o pai têm melhores ou piores
condições do que as que foram alegadas em Tribunal - regra muito diferente face ao
processo comum, em que não é possível o recurso de uma sentença transitada em
julgado
não é obrigatório que as partes sejam representadas por um advogado (salvo na fase do
recurso)
não é possível recurso para o Supremo Tribunal de Justiça
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
O Juiz tem de começar por averiguar a existência dos pressupostos processuais
(requisitos de cuja verificação depende a apreciação do mérito da causa, questões prévias
que condicionam essa apreciação)
Se os pressupostos processuais estão corretos, se não ocorrem exceções dilatórias
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A falta dos mesmos deve ser suprida, devendo o Juiz fazê-lo ou convidar as partes a isso,
quando a sanação dependa de atos a praticar por estas (artigo 6º nº 2 do CPC)
Não sendo sanada a falta, geralmente o juiz absolverá o réu da instância, o que não
impedirá o autor de propor outra ação sobre o mesmo objeto (artigo 279º nº 1 do CPC)
O processo não chegará ao seu termo, não será proferida uma sentença, enquanto no
processo não forem tidos em conta determinados pressupostos processuais
Pressupostos processuais positivos: aqueles cuja verificação é essencial para que o Juiz
conheça do mérito da causa (personalidade judiciária, capacidade judiciária,
legitimidade, interesse processual, competência do Tribunal e o patrocínio judiciário)
Pressupostos processuais negativos: aqueles cuja verificação obsta a que o Juiz aprecie
o mérito da causa (litispendência, caso julgado, existência de compromisso arbitral)
41
previstas no artigo 980º do CC; as sociedades comerciais antes do registo da sua
constituição; o condomínio; os navios; as sucursais (artigos 13º e 14º do CPC)
Falta de personalidade judiciária:
A correção desta irregularidade apenas é possível nos casos de erro na identificação do
sujeito processual
Nos restantes casos o vício constitui uma exceção dilatória, prevista no artigo 577º alínea
c), que dá lugar à absolvição e extinção da instância, nos termos dos artigos 576º e 278º
nº1 alínea c), todos do CPC
Não é aplicável o disposto no artigo 278º nº 3 que permite ao Juiz não observar a
exceção, caso a pessoa por ela visada venha a ganhar a ação
É possível uma solução diferente se o demandando tiver falecido (artigo 351º nº 2 do
CPC citados os seus herdeiros, sendo possível suprir a irregularidade)
Em relação às sucursais ou agências, a falta de personalidade judiciária pode ser suprida
se a administração principal intervir no processo
Se a falta de personalidade judiciária se der por erro na identificação do sujeito também
pode haver correção, ou seja, é uma pessoa, mas identificámo-la como não sendo uma
pessoa (exemplos recorrentes: muitas pessoas demandam a Câmara Municipal, mas o que
tem personalidade jurídica é o Município, tratando-se de um mero erro de denominação;
há advogados que propõem a ação contra a herança indivisa em vez de propor contra os
herdeiros ou contra o cabeça-de-casal, sendo que só a herança jacente é que tem
personalidade judiciária).
42
Incapacidade judiciária e modos de suprimento:
Quem tem capacidade de exercício de direitos também tem capacidade judiciária
São incapazes os menores e os maiores acompanhados
Apesar de terem personalidade, podendo ser partes num processo, os menores e os
maiores acompanhados não têm capacidade para acompanhar o processo
São titulares de direitos, mas não têm capacidade para os exercer por si
i. OS MENORES (artigos 16º e 18º do CPC – artigos 123º a 129º do CC): devem ser
representados em juízo pelos progenitores e subsidiariamente pelo tutor, como forma
de suprir a sua incapacidade
Os menores são representados em juízo pelos seus pais, sendo necessário o acordo de
ambos para a propositura de ações (artigo 16º nº 2 do CPC)
Nas ações propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados (artigo
16º nº 3 do CPC)
Filhos menores de pais separados ou divorciados, ambos detentores de
responsabilidades parentais, são representados por ambos os progenitores (salvo casos
de inibição de exercício de responsabilidades parentais)
Aos menores que não têm representante porque não têm progenitores nem tutor,
nomeia-se um curador provisório (artigo 17º do CPC), que só vai agir enquanto o
Tribunal não designar um tutor definitivo
Se os pais dos menores em juízo não concordam entre si sobre o caminho a seguir, o
Tribunal nomeia curador especial (artigo 18º do CPC)
Em caso de impedimento ou incompatibilidade de representante, também há
nomeação de curador especial (a pessoa nomeada como curador especial do menor só
o será no processo concreto e não definitivamente)
O MP pode sempre intervir subsidiariamente, caso os representantes do incapaz não
deduzam oposição ou sempre que seja necessário para tutela dos direitos e interesses
do incapaz (artigos 21º e 23º do CPC)
Os menores podem estar por si em juízo nas ações em que estejam em causa os atos
ou negócios referidos no artigo 127º do CC, em que estão a ser discutidas ações
relativas a bens que o menor adquiriu com o produto do seu trabalho ou ações
43
relativas a atos próprios da sua vida corrente, sendo sempre necessário fazer essa
ponderação
ii. MAIORES ACOMPANHADOS - Lei nº 49/2018 de 14 de agosto: criou o regime
do maior acompanhado, que veio substituir os institutos da interdição e inabilitação,
tendo alterado diversos artigos do Código Civil e Código de Processo Civil (16º, 19º,
20º e 27º do CPC e os artigos 139º e 145º do CC)
Conforme o grau de incapacidade que alguém tiver, pode ser sujeito a representação
ou a acompanhamento por uma determinada pessoa, dependendo dos atos
Consoante a sentença do maior acompanhado podem surgir três situações:
Nunca tem capacidade judiciária, carece sempre de representação
Tem capacidade judiciária desde que esteja acompanhado e aí estão os dois na ação,
têm de ser ambos citados na ação
Não carece de qualquer acompanhamento em certos atos: tem capacidade judiciária
em alguns atos, mas pode estar sujeito a acompanhamento noutros
Os maiores acompanhados estão sujeitos a representação em juízo pelo acompanhante
(artigo 16º do CPC) ou pelo MP (artigos 21º e 23º do CPC)
Às pessoas afetadas por anomalia psíquica ou outro motivo grave, sem o estatuto de
maior acompanhado, deve ser nomeado curador provisório (artigo 17º do CPC)
Se o maior acompanhado não carece de representação, mas tem de ser acompanhado
em alguns atos, se as ações respeitam a esses atos sujeitos, então devem nelas intervir
conjuntamente com o acompanhante, prevalecendo a vontade deste, em caso de
conflito (artigo 19º do CPC)
É possível suprimir a incapacidade judiciária através da intervenção ou citação dos
representantes ou acompanhantes, espontaneamente, a requerimento da contraparte ou
oficiosamente (artigos 27º e 28º do CPC)
Se o réu aparece a contestar e dessa contestação o Juiz percebe que ele é menor ou
maior acompanhado, manda citar os representantes ou acompanhantes, devendo estes
dizer se ratificam os atos já praticados no processo ou não, em caso afirmativo, os
atos são aproveitados, em caso negativo, o processado é anulado, concedendo-se o
benefício de dois meses para propor nova ação (artigo 27º do CPC)
44
Se o menor tiver todo o interesse em propor aquela ação, mas os pais não
concordarem, não pode colocar a ação por si, mas pode pedir ao MP que o represente
ao abrigo do artigo 23º do CPC (o MP tem sempre este papel de agir quando os
representantes legais falham)
Consequências da falta de capacidade judiciária - Exceção dilatória, artigo 577º
alínea c), gera a absolvição e extinção da instância, artigos 576º e 278º alínea c) do
CPC
O autor é quem tem o interesse em demandar: quem vai beneficiar com a procedência da
ação, ou seja, quem retira uma utilidade da procedência da ação
O réu é quem tem interesse em contradizer: quem terá prejuízo resultante da procedência
da ação
A legitimidade afere-se pela relação jurídica, tal como o autor a configura na
petição inicial e, caso haja dúvidas, o critério legal é: são os sujeitos da relação
jurídica material controvertida, tal como configurada pelo autor
Há casos em que a lei indica quem tem legitimidade, como é o caso da lei do seguro
obrigatório, ou quando a lei diz que é a sociedade que deve ser demandada
Consequências da ilegitimidade
A ilegitimidade de alguma das partes é uma exceção dilatória, prevista no artigo
577º alínea e), que gera absolvição e extinção da instância, nos termos do artigo
278º nº1 alínea d), 279º nº 2, todos do CPC
Este vício não é suscetível de sanação: terá de ser proposta nova ação pela pessoa
certa ou contra a pessoa certa LEGITIMIDADE PLURAL
45
Quanto à sua natureza, a pluralidade de partes pode dar origem:
ao LITISCONSÓRCIO, há uma pluralidade de partes, mas unicidade quanto à relação
material controvertida; ou
à COLIGAÇÃO, existe não só uma pluralidade de partes, mas também diversidade de
relações materiais controvertidas
Vários autores demandam várias pessoas, mas não podem fazê-lo arbitrariamente;
Regra geral: se o autor ou autores só demandarem algumas pessoas e não todos os
envolvidos, só é conhecida a relação jurídica na parte que interessa às pessoas
sujeitas no processo (exemplo: vários lesados num acidente de viação e só dois desses
lesados é que propuseram a ação, o Tribunal só conhecerá da indemnização desses dois)
Exceções: pode a lei ou o negócio permitir que a decisão conheça de todo o direito em
causa, se a lei ou o negócio permitir que o direito seja exercido por um só ou que a
obrigação comum seja exigida de um só dos interessados, bastando que um deles
intervenha para assegurar a legitimidade
Exemplos:
no caso de compropriedade, basta que um dos comproprietários reivindique o prédio de
terceiro, pois se a ação for julgada procedentes, o prédio é entregue a todos os
comproprietários, mas se a ação não for julgada procedente, os interessados que não
estiveram na ação podem vir a propor nova ação contra o terceiro) faz sentido concluir
que o terceiro tem interesse em chamar todos à primeira ação, de forma a não estar
sujeito a várias ações, fica o assunto arrumado na primeira ação;
nas obrigações solidárias uma vez que o cumprimento pode ser exigido a apenas um
devedor ou por apenas um credor;
nas obrigações indivisíveis, três pessoas compraram um quadro e apenas um propõe
uma ação para exigir a entrega desse quadro, se a ação for julgada procedente vai valer
para os outros dois que não pediram o quadro, fica a relação jurídica resolvida para todos,
mas se a ação for julgada improcedente, os outros dois que não estão vinculados a essa
decisão podem propor nova ação com o mesmo pedido contra o devedor do quadro.
46
(3.2.2) O Litisconsórcio Necessário (Artigos 33º do CPC)
O litisconsórcio plural imposto pela lei, contrato ou pela natureza da relação jurídica
(exemplos: artigos 34º do CPC, 535º, 419º nº 1 e 2091 nº 1 do CC)
Se for obrigatória a intervenção dos vários interessados na relação controvertida, a falta de
qualquer dele é motivo de ilegitimidade
LEI:
O artigo 34º prevê as ações que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos os
cônjuges (aquelas das quais pode resultar a oneração ou a perda de bens comuns, ou que
tenham por objeto a casa de morada de família, mesmo que só pertença a um deles, ou que
envolvam atos de administração ordinária que se podem repercutir no património do outro
cônjuge);
Em vez de ser proposta por ambos os cônjuges, pode a ação ser instaurada por um deles
com o consentimento do outro
Se o cônjuge não der o seu consentimento para a propositura da ação, a falta pode ser
judicialmente suprida, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo
29º, nos termos do artigo 34º nº 2 do CPC, encontrando-se processo de consentimento,
no caso de recusa, regulado no artigo 1000º do CPC
Devem ser propostas contra ambos os cônjuges as ações emergentes de facto praticado
por ambos, as ações emergentes de facto praticado por um deles, mas em que pretenda
obter-se decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro, e ainda as
ações compreendidas no nº 1, nos termos do artigo 34º nº 3 do CPC Verifica-se,
portanto, a situação de litisconsórcio necessário passivo quando a ação diz respeito a
um facto praticado por ambos os cônjuges, quando respeita a dívidas comunicáveis,
quando da ação possa resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos possam ser
alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos, incluindo as
ações que digam respeito à casa da morada de família
O artigo 535º CC prevê que se a prestação for indivisível com pluralidade de
devedores, só de todos os obrigados o credor só pode exigir o cumprimento da prestação,
salvo se estiver sido estipulada solidariedade ou esta resultar da lei
O artigo 419º nº 1 CC estabelece que, pertencendo a vários titulares, o direito de
preferência só pode ser exercido em conjunto
47
O artigo 2091 nº 1 CC) diz respeito a direitos relativos à herança que só podem ser
exercidos por todos os herdeiros
No âmbito de um contrato é possível as partes fixarem que, em caso de litígio, a ação
seja proposta contra todos os contraentes, estabelecendo um litisconsórcio necessário
imposto pelo clausulado
Pode ser imposto pela natureza da relação jurídica, em certas situações, a não
vinculação de um dos interessados leva a que a situação não fique resolvida para
todos (exemplo: quando está em causa a nulidade de um negócio jurídico, se o negócio
for nulo para apenas alguns, o efeito útil não se produz porque existem pessoas para quem
o contrato continua válido; divisão de coisa comum, se certa divisão não valer para todos
os envolvidos, perderá o seu efeito; constituição de servidão de passagem ou de uma
escritura, a decisão da ação só terá efeito útil se estiverem todas as pessoas a que respeita a
relação jurídica.
Consequências da preterição de litisconsórcio necessário
Artigo 577º alínea e) do CPC - exceção dilatória, mas sanável, mediante a intervenção do
interessado em falta
O Tribunal irá convidar a parte a chamar o interveniente em falta
No caso de esse convite não ser cumprido, haverá absolvição da instância - o artigo 278º
nº 1 alínea d) do CPC, por ilegitimidade
Se, pelo contrário, a parte chamar à ação o interveniente em falta, o processo prossegue
Artigo 261º do CPC - Possibilidade de chamar a juízo o interveniente em falta nos 30
dias seguintes ao trânsito em julgado da decisão de absolvição da instância por
ilegitimidade por não estar em juízo determinada pessoa, renovando a ação.
48
lesados, haverá vários pedidos diferentes referentes aos danos que cada autor teve, havendo
uma coligação desses pedidos numa mesma ação)
Há autores que defendem que o que distingue a coligação do litisconsórcio não é uma
questão de existirem vários pedidos, mas várias relações jurídicas que por alguma razão estão
na mesma ação
A coligação é permitida quando:
A causa de pedir seja a mesma na sua essencialidade, não é idêntica, porque se for
exatamente a mesma será um caso de litisconsórcio
Os pedidos formulados estejam numa relação de prejudicialidade, a decisão de um
dos pedidos pode influenciar a decisão de outro
Os pedidos formulados estejam numa relação de dependência, a procedência de um
dos pedidos está dependente da procedência de outro (exemplo: se não se declarar a
validade de um contrato, não se pode exigir o seu cumprimento)
A decisão dependa da apreciação dos mesmos factos, casos em que os pedidos tenham
por base os mesmos factos, mesmo que estes não integrem a causa de pedir
A decisão dependa da apreciação das mesmas regras jurídicas
Se invoque uma relação cartular quanto a um e a relação subjacente quanto a outro
Obstáculos à coligação (Artigo 37º do CPC)
Para ser possível coligar, os pedidos não podem ter uma forma processual
diferente, mas se houver interesse relevante ou quando a apreciação conjunta das
pretensões seja indispensável para a justa composição do litígio, o Juiz pode aceitar
julgar na mesma ação pedidos com formas de processo diferentes, isto é, juntar na
mesma forma processual mais solene, ao abrigo do princípio da adequação formal
Não é possível a coligação que ofenda as regras da competência em razão da
nacionalidade, da matéria e da hierarquia
O Juiz pode recusar a coligação, mesmo quando se verifiquem os requisitos, por
considerar a mesma inconveniente para os objetivos do processo (exemplo: um
pedido muito complexo que poderá levar a que outro mais simples fique demasiado
demorado)
Consequências da inadmissibilidade da coligação (Artigo 38º do CPC)
49
Na falta de conexão ou no caso de inconveniência, deve ser dada oportunidade ao autor
ou autores de escolherem qual o que pedido que pretendem que prossiga
Se não o fizer, há uma exceção dilatória que gera absolvição do réu da instância quanto a
todos os pedidos, por aplicação dos artigos 577º alínea f) e 278º alínea e) do CPC
Nos casos em que os pedidos exigem formas processuais distintas ou nos casos de
incompetência do Tribunal só devem seguir os pedidos que correspondam à forma
indicada e para a apreciação dos quais o Tribunal seja competente
Em ambas as situações, os réus devem ser absolvidos da instância relativamente aos
pedidos sobrantes.
50
d) DETERMINAR O VALOR DA ACÇÃO (Artigos 296º a 310º do CPC)
A toda a causa deve ser atribuído um valor certo, expresso em moeda legal, o qual
representa a utilidade económica imediata do pedido
O VALOR DA CAUSA RELEVA PARA:
Determinar o Tribunal competente para julgar a ação (artigo 66º do CPC, artigos 117º e
130º da LOSJ)
Determinar a forma do processo de execução (artigo 550º nº 1 alínea d) do CPC)
Determinar a relação da causa com a alçada do Tribunal e a possibilidade de recurso
(artigo 629º do CPC)
Cálculo das custas - ver Regulamento das Custas Processuais (RCP), Decreto-Lei nº
34/2008, de 26 de fevereiro, na redação atual, artigo 11º - O valor tributário, para efeitos
de cálculo da taxa de justiça, corresponde ao valor da causa determinado de acordo com
as regras previstas nas leis processuais, pelo que o valor para efeito de custas será o valor
processual determinado com base no disposto nos artigos 296º a 310º do CPC
Efeitos do disposto nos artigos 468º nº 5 do CPC (perícia - nas ações de valor não
superior a metade da alçada da Relação, a perícia é realizada por um único perito,
aplicando-se o disposto no artigo 467º)
Efeitos do disposto no artigo 511º nº 1 do CPC (rol de testemunhas - nas ações de valor
não superior à alçada do Tribunal de 1ª instância, o limite do número de testemunhas é
reduzido para metade)
Efeitos do disposto no artigo 597º do CPC (termos posteriores aos articulados - nas ações
de valor não superior a metade da alçada da Relação, findos os articulados, sem prejuízo
do disposto no nº 2 do artigo 590º, o Juiz, consoante a necessidade e a adequação do ato
ao fim do processo, pode praticar atos diversos)
Efeitos do disposto no artigo 604º nº 5 (alegações orais na audiência final - nas ações de
valor não superior à alçada do Tribunal de 1ª instância, os períodos para as alegações e as
réplicas são reduzidos para metade)
A indicação do valor da causa:
Compete às partes, sendo um dos requisitos obrigatórios da petição inicial, sob pena de
recusa do seu recebimento pela secretaria (artigos 552º nº 1 alínea f) e 558º nº 1 alínea e)
do CPC)
51
Não basta que conste do formulário para apresentação da peça processual via Citius (em
caso de desconformidade entre o conteúdo do formulário e o conteúdo do ficheiro anexo,
prevalece a indicação constante do formulário – artigo 7º nº 2 da Portaria nº 280/2013, de
26 de agosto, na redação atual)
CRITÉRIOS A SEGUIR (artigo 299.º do CPC):
na determinação do valor da causa deve atender-se ao momento em que a ação é
proposta, exceto quando haja reconvenção ou intervenção principal, caso em que o valor
do pedido formulado pelo réu ou pelo interveniente é somado ao do autor, desde que
deste sejam distintos, com produção de efeitos quanto aos atos e termos posteriores, nos
termos do artigo 530º nº 3 do CPC (não se considera distinto o pedido que pretenda, para
o réu ou interveniente, o mesmo efeito jurídico ou a mera compensação de créditos)
nos processos de liquidação ou naqueles em que a utilidade do pedido só se define com o
decurso dos seus trâmites, o valor inicialmente indicado vai sendo corrigido à medida que
o processo forneça os elementos necessários (artigo 299º nº 4 do CPC)
Situações em que a fixação do valor da causa deve ser efetuada antes do despacho
saneador ou da sentença:
Sempre que a alteração do valor da causa implique a incompetência relativa do Tribunal,
deverá o Juiz fixá-lo assim que os elementos do processo lhe permitam decidir ou uma
vez realizadas as diligências indispensáveis para o efeito (artigos 104º e 308º do CPC)
O Tribunal mantém a sua competência quando seja oficiosamente fixado à causa um
valor inferior ao indicado pelo autor (artigo 310º nº 3 do CPC)
Exemplos de valores processuais:
Ações de despejo – a renda de dois anos e meio, acrescido do valor das rendas em dívida à
data da propositura da ação ou o da indemnização requerida, consoante o que for superior
(artigo 298º nº 1 do CPC)
Ações de divisão de coisa comum – o da coisa que se pretende dividir (artigo 302º nº 2 do
CPC)
Ação de impugnação pauliana – valor do ato impugnado, determinado pelo preço ou
estipulado pelas partes (artigo 301º nº 1 do CPC aplicável analogicamente)
52
Nota: há quem considere defensável a aplicação do critério consagrado no artigo 297º nº
1 do CPC, sendo o valor da causa determinado pelo valor do crédito pretendido acautelar
através dessa ação
Processos de insolvência – artigos 15º, 301º a 304º do Código da Insolvência e da
Recuperação de Empresas (CIRE), que é legislação especial a considerar
Ações para verificação ulterior de créditos ou de outros direitos (artigo 146º do CIRE), o
valor da causa é o do crédito ou bem em questão (a taxa de justiça devida pelos
autores/reclamantes/credores, e parte contrária que conteste, é a da alínea a) da Tabela I
anexa ao RCP)
Inventários – o valor é o da soma do valor dos bens a partilhar ou, quando este não seja
determinado, o da relação de bens apresentada no serviço de finanças (artigo 302º nº 3 do
CPC); tratando-se de um valor que apenas se define na sequência do processo e se sedimenta
no momento da partilha, cabe corrigir tal valor, nos termos do artigo 299º nº 4, do CPC
Ações sobre o estado de pessoas ou interesses imateriais – o equivalente à alçada da
Relação e mais 0,01€ (artigo 303º do CPC conjugado com o artigo 44º da LOSJ)
Nota: não versam sobre interesses imateriais as ações intentadas por entidades de gestão
coletiva constituídas e mandatadas para representação dos produtores fonográficos em
matérias relacionadas com a cobrança de direitos em que os pedidos formulados visam
exclusivamente direitos de carácter patrimonial, resumindo-se a utilidade económica
imediata daqueles aos montantes pecuniários peticionados, ou seja, o recebimento pela
autora das quantias correspondentes às remunerações (licenças) que a ré alegadamente
não pagou (sendo a emissão da fatura que comprova o licenciamento), remunerações
essas que têm expressão nas tabelas tarifárias que, segundo a autora, se encontravam em
vigor nos anos em causa, a que acrescem as indemnizações peticionadas
Processos de divórcio por mútuo consentimento , previstos nos artigos 1775º, 1778º-A e
1779º nº 2 do Código Civil e artigo 994º do CPC, sejam, os processos inicialmente intentados
no Tribunal, sejam os remetidos pela Conservatória do Registo Civil - o valor é o da ação de
divórcio, que, sendo uma ação sobre o estado das pessoas, tem o valor fixado no artigo 303º
do CPC (30.000,01 €), ainda que, por exemplo, no caso previsto no artigo 1778º-A do
Código Civil, o processo de divórcio por mútuo consentimento apenas deva seguir para ser
53
proferida decisão sobre as responsabilidades parentais ou sobre o destino da casa de morada
de família
Notas:
Apesar de se tratar duma ação com um pedido complexo, o legislador quis expressamente
qualificá-la como divórcio por mútuo consentimento independentemente de o Juiz ter de
decidir uma ou todas as questões que são objeto de acordo na ação tradicional de divórcio por
mútuo consentimento e, por conseguinte, atenta a natureza do processo, o valor da causa e as
custas devidas correspondem à ação de divórcio
Noutra perspetiva, há quem defenda que as custas são as devidas pelo divórcio e por cada
uma das questões que o Juiz tem de conhecer e que correspondem às consequências do
divórcio não acordadas pelos cônjuges
Logo, cada consequência que deva ser fixada pelo Juiz, porque não foi apresentado acordo,
deve ser tributada como incidente, justificando as questões “incidentais” uma tributação
autónoma, designadamente no que concerne à taxa de justiça. Assim, não beneficiando de
isenção ou apoio judiciário, a parte que pretender, por exemplo, a atribuição da casa de
54
morada de família ou a prestação de alimentos deverá comprovar o pagamento da taxa de
justiça devida relativamente ao incidente em causa
Notas:
Mas há quem defenda que, pretendendo-se a alteração da pensão de alimentos, o valor da causa é
sempre o quíntuplo do valor anual da pensão de alimentos pretendida
Em regra, estes processos não se encontram isentos de custas, apenas se verificando uma isenção
objetiva quando visam a aplicação das medidas de promoção e proteção indicadas na alínea f) do
nº 2 do artigo 4º do RCP - As custas nos processos das crianças ficam a cargo dos pais ou
55
representantes legais (pais, padrinhos civis, tutores e/ou curadores – artigos 124º, 1586º, 1878º nº
1, 1921º nº 1, e 7º nº 1 da Lei nº 103/2009 de 11 de Setembro) de harmonia com o disposto no
artigo 527º do CPC e no artigo 11º nº 2 da Portaria nº 419- A/2009 de 17 de abril
56
Recursos - artigo 296º nº 1 do CPC e no artigo 12º nº 2 do RCP: para a determinação do
valor do recurso releva o valor da sucumbência, a qual se mede pela utilidade económica
imediata que se obtém ou em que se decai na ação (artigo 296º nº 1 do CPC).
· Atento o disposto no artigo 12º nº 2 1ª parte do RCP, nos recursos, quando o valor da
sucumbência for determinável, será esse o valor do recurso, desde que o recorrente o
indique no requerimento de interposição do recurso
· Mas, conforme previsto na segunda parte do nº 2 do mesmo artigo, o valor do recurso
corresponderá ao valor da ação em duas situações:
o se o recorrente, apesar do valor da sucumbência ser determinável, não o indicar
o ou se o valor da sucumbência não for determinável
2.1) Narração
(1) REQUISITOS
(1.1) DE FORMA – artigos 133º nº1 e 147º do CPC
Escrita em língua portuguesa – artigo 133º nº 1 do CPC
Em regra, organizada de forma articulada (por artigos) – artigo 147º CPC
Excepções: quando não for um advogado a intervir / na parte correspondente à matéria de
direito
57
Junção de comprovativo do pagamento da taxa de justiça ou junção de decisão de
deferimento de apoio judiciário
Não esquecer que no cabeçalho da petição inicial há de constar:
o Tribunal e juízo competente para onde o sistema irá remeter a mesma
a identificação das partes (nome, domicílio ou sede do autor ou autores e do réu ou réus)
a forma do processo
Segue-se
a descrição das razões de facto, que consiste numa exposição da causa de pedir
a indicação das razões de direito que fundamentam a ação ou seja
a história que leva a propor a ação – artigo 552º nº 1 alínea d) do CPC
Exemplo: numa ação emergente de um acidente de viação, o autor terá de o descrever,
contando a história do que aconteceu, e terá de indicar as razões de direito que sustentam o
pedido
A matéria de facto é a mais importante, a mais relevante porque:
se errarmos nos factos podemos não ter a possibilidade de os corrigir
a matéria de direito não vincula o Juiz, que pode alterá-la ou corrigi-la – artigo 5º nº 3 do
CPC
o Juiz deve resolver todas as questões suscitadas pelas partes, não podendo ocupar-se de
outras, salvo se a lei permitir ou impuser o seu conhecimento oficioso – artigo 608º nº 2,
parte final, do CPC
No entanto, a alegação da matéria de direito não deixa de constituir um ónus:
o autor deve fazer, no mínimo, a indicação da norma jurídica ou do princípio jurídico que
entende ser aplicável, sob pena de não poder depois arguir a nulidade da sentença que
venha a ser proferida, sem prévia audição das partes, com fundamento jurídico que elas
não tenham anteriormente considerado (neste sentido, Prof. Lebre de Freitas)
direito e factos não devem estar misturados, sendo que normalmente estão separados por
títulos ou capítulos, mas tal não constitui uma obrigação, o importante é que a redação da
petição inicial permita individualizar a matéria de facto da matéria de direito
facilita o papel do Juiz na leitura do articulado e facilita na audiência prévia ou na
audiência final
58
Não obstante, ao enunciar o direito, pode ser necessário referir os factos já alegados em
primeiro lugar, mas tal não poderá considerar-se incorreto, porque se estará apenas a
mencionar novamente os mesmos factos e não a apresentá-los pela primeira vez
(2) FACTOS:
Factos essenciais, que individualizam a causa de pedir para o efeito da conformação do
objeto do processo, são aqueles sem os quais não compreenderíamos a petição, o pedido,
aqueles sem os quais o Juiz não pode decidir, por não saber o que aconteceu, aqueles cuja
falta dá origem à ineptidão da petição inicial:
Impõe-se o ÓNUS DE ALEGAÇÃO (os factos essenciais têm de ser invocados pelas
partes para o Juiz os conhecer), sob pena de PRECLUSÃO (não podem ser alegados
posteriormente):
− Na petição inicial – artigo 5º nº 1 e 552º nº 1 alínea d) do CPC
- Na contestação, relativamente à matéria de exceção – artigo 572º alínea c) do CPC
− E também se impõe na reconvenção – artigo 583º nº 1 e 552º nº 1 alínea d) do CPC
− A sua omissão gera ineptidão da petição inicial ou a nulidade da exceção no caso da
contestação).
Factos complementares, que são os que completam ou concretizam a causa de pedir
sendo necessários. Para a sua procedência, por pormenorizarem a situação, mas não são
necessários para compreender a petição, acrescem aos factos essenciais, preenchendo a
factispécie normativa
Factos instrumentais, servem de apoio à formação da convicção dos outros factos, são
indiciários de outros factos, estão por trás de outros factos, pormenorizam, explicitam ou
particularizam factos essenciais já alegados (alegações fácticas genéricas, imprecisas ou
dúbias) (Exemplos de factos instrumentais que resultam da instrução da causa: o rasto de
travagem que permite calcular a velocidade a que o condutor ia; a falta de consumos de
água durante cinco anos para provar que uma pessoa não vive numa certa casa; estes
factos podem ser conhecidos pelo juiz, mas não têm necessariamente de ser alegados)
NÃO HÁ ÓNUS DE ALEGAÇÃO, o Juiz pode conhecer por si um facto instrumental e
por isso NÃO HÁ PRECLUSÃO (Artigo 5º nº 2 do CPC)
59
Se for algo que uma testemunha diz, por exemplo, só poderá ser considerado se for um
facto instrumental que resulte da instrução da causa
Exemplos de identificação de factos essenciais, complementares e instrumentais:
i. Ação de impugnação pauliana (artigos 610º e seguintes do CC)
Factos essenciais: os que respeitam à alienação que gera diminuição da garantia
primordial
Factos complementares: os relativos à natureza não pessoal do ato, à determinação da
data de constituição do crédito, à determinação da data do ato impugnado, à
impossibilidade ou agravamento da impossibilidade de se obter o ressarcimento do
crédito, à má-fé dos intervenientes
Factos instrumentais: factos destinados a explicar a data de constituição do crédito,
perante a alegação imprecisa de que o mesmo é anterior ao ato impugnado, factos
destinados a dar conteúdo efetivo à alegação de que o transmitente agiu com intenção de
prejudicar o credor.
ii. Denúncia de arrendamento para habitação própria (artigos 1101º e 1102º do
CC)
Factos essenciais: os relativos à necessidade do senhorio
Factos complementares: os relativos à titularidade do imóvel, o senhorio não tem casa
própria ou arrendada há mais de um ano que satisfaça a sua necessidade
Factos instrumentais: os destinados a explicar a alegação vaga de que, por razões
familiares, o senhorio precisa do locado para nele habitar
iii. Efetivação de responsabilidade civil emergente de acidente
Factos essenciais: os relativos à ocorrência do acidente
Facto complementares: os relativos aos danos resultantes do acidente, nexo de
causalidade, ilicitude, culpa
Factos instrumentais: factos destinados a precisar o excesso de velocidade
iv. Ação de anulação de negócio por erro sobre os motivos (artigo 252º do CC)
Factos essenciais: os relativos à explicitação do erro
Facto complementares: os relativos ao reconhecimento por acordo da essencialidade do
motivo
Factos instrumentais: os relativos à intenção de enganar
60
2.3. Conclusão/Pedido
(1) A Causa de Pedir e a formulação do pedido
Depois da alegação de facto e de direito deve ser formulado o PEDIDO
REGRA: Deve ser certo, preciso e exigível, o Juiz tem de perceber qual é a pretensão,
não pode ser “peço que o réu seja condenado a pagar o que o Tribunal entender ser de
justiça”.
Se o pedido não for certo, preciso, exigível e não estiver previsto em nenhuma
exceção, é ilegal: haverá uma absolvição da instância, porque um pedido mal formulado
consubstancia um vício formal, exceção dilatória inominada, porque não vem prevista
expressamente no artigo 278º do CPC Havendo absolvição da instância, encerra-se o
processo sem chegar a ser conhecido o mérito da ação (o réu só é absolvido naquele
processo, pelo que o autor pode repetir o pedido noutro processo)
Só haverá absolvição da instância se o vício não puder ser corrigido – princípio da gestão
processual, segundo o qual o Juiz deve convidar a parte a suprir as irregularidades dos
articulados, nos termos do artigo 590º do CPC
O pedido é fundamental porque:
conforma o objeto do processo, condiciona o conteúdo da decisão de mérito, com que o
Tribunal lhe responderá: o Juiz, na sentença, deve resolver todas as questões que as partes
tenham submetido à sua apreciação, não podendo ocupar-se de outras (artigo 608º nº 2 do
CPC)
o Juiz e não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedir
(artigo 609º nº1 do CPC), sob pena de nulidade da sentença (artigo 615 nº 1 alíneas d) e
e) do CPC)
EXCEPÇÕES à regra da formulação de pedido certo, preciso e exigível.
61
Quando a escolha da prestação pertença ao devedor, a circunstância de não ser alternativo
o pedido não obsta a que se profira uma condenação em alternativa - VER artigo 543º do
CC (obrigações alternativas)
Exemplos: A pede que o B seja condenado a X ou a Y. Situações em que o B (réu) é
devedor de obrigações alternativas e a escolha cabe ao réu ou a um terceiro, mas o B
ainda não cumpriu nenhuma. Nessa situação, o A pede ao juiz para condenar réu nas duas
e o B cumpre a que entender cumprir, por força de contrato ou de lei. Mas se a obrigação
em causa não é alternativa, esse pedido já não será admissível. O tribunal convidará o A a
aperfeiçoar o pedido, escolhendo o pedido que melhor lhe aprouver, eliminando o outro,
ou então tornando-o subsidiário. Se o A não corrigir, haverá absolvição da instância por
esta se tratar de uma exceção dilatória inominada.
ii. ARTIGO 554º DO CPC - PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS
Podem formular-se pedidos subsidiários. Diz-se subsidiário o pedido que é apresentado
ao Tribunal para ser tomado em consideração somente no caso de não proceder um
pedido anterior.
A oposição entre os pedidos não impede que sejam deduzidos nos termos do número
anterior; mas obstam a isso as circunstâncias que impedem a coligação de autores e réus.
O autor deduz um primeiro pedido, mas para a hipótese de o Tribunal não o julgar
procedente, deduz um segundo pedido, este subsidiário ao primeiro, o pedido subsidiário
só será considerado se o pedido principal não for procedente
Esta é uma cumulação que é sempre aceite porque o nº 2 do artigo 554º do CPC não
exige que os pedidos sejam compatíveis entre si para que possam ser apreciados
62
apreciação da procedência ou não do pedido principal, uma vez que se trata de uma
decisão sobre uma exceção perentória e o juiz deverá começar pela apreciação das que
têm natureza preclusiva, como é o caso da caducidade.
· Por outro lado, o facto preclusivo atinente à caducidade do direito de ação (e referido ao
pedido subsidiário) poderá e deverá ser apreciado numa ordem lógica de precedência de
conhecimento, por uma questão de economia processual, e pelas razões que estão
subjacentes à admissibilidade dos pedidos subsidiários, porquanto o efeito é o de
precludir toda a indagação da situação controvertida, dispensando averiguar a sua
existência.
Pode o autor deduzir cumulativamente contra o mesmo réu, num só processo, vários
pedidos que sejam compatíveis, se não se verificarem as circunstâncias que impedem a
coligação.
Nos processos de divórcio ou de separação sem consentimento do outro cônjuge é
admissível a dedução de pedido tendente à fixação do direito a alimentos.
Requisitos substantivos
· Os pedidos têm de ser compatíveis, não se podem contradizer. Esta compatibilidade é
avaliada do ponto de vista do direito substantivo, pelo que, por exemplo, o autor não
pode pedir a anulação do contrato e ao mesmo tempo o seu cumprimento;
· Não se verificarem as circunstâncias que impedem a coligação. Os obstáculos à
coligação vêm no artigo 37º que, embora preveja a coligação de partes, também é
aplicável à coligação de pedidos. Não é possível coligar pedidos de formas diferentes
ou que cuja competência para conhecer pertença a juízos diferentes.
Requisitos formais
· Quanto à forma, o Juiz pode considerar que as diferenças não são suficientemente
relevantes e adotar o processo comum para ambos, nos termos do artigo 37º nº 2 do
CPC.
63
· Sendo possível, ao pedido menos solene é aplicável o processo previsto para o
pedido mais solene.
· Se, por exemplo, se tratar de uma ação de divórcio e de uma ação de insolvência,
não podem ser tramitadas em conjunto.
· Quando há problemas de competência internacional ou em razão da matéria,
nacionalidade ou hierarquia também não é possível cumular os pedidos.
Em suma, os requisitos para a cumulação de pedidos são três: (i) Compatibilidade
substantiva (artigo 555º do CPC); (ii) Uniformidade ou compatibilidade em razão da
forma do processo (artigo 37º nºs 1, 2 e 3 do CPC); e (iii) Uniformidade da competência
internacional do Tribunal ou em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia
(artigo 37º nº 1 do CPC).
Consequências da dedução de pedidos incompatíveis
· Exceção dilatória que tem como consequência a ineptidão da petição inicial
· Nesse caso, sempre que seja possível corrigir, o Juiz convidará a parte a
aperfeiçoar o pedido
· A forma de o fazer será escolher um dos pedidos, eliminando o pedido considerado
incompatível
· Se o Tribunal só for competente para um dos pedidos, se forem cumulados dois
pedidos que envolvam competências diferentes, haverá um vício de forma que
corresponde a uma exceção dilatória
· Se o Juiz não conseguir compatibilizar os dois, vai conhecer o pedido que tem a
forma correta e absolverá da instância o segundo pedido (artigos 577º e 278º do
CPC)
Não esquecer: a cumulação de pedidos é diferente da coligação e do litisconsórcio!
· Na cumulação de pedidos - o A deduz dois pedidos contra o B
· Na coligação - o A deduz um pedido contra o B e o C deduz outro pedido
também contra o B, sendo estes pedidos diferentes, mas podem juntar-se numa
mesma ação, há coligação de autores, mas também pode haver coligação de réus
· No litisconsórcio, A e B deduzem a mesma ação contra C, também é possível
litisconsórcio na parte dos réus
iii. ARTIGO 556º DO CPC – PEDIDOS GENÉRICOS
64
É permitido formular pedidos genéricos nos casos seguintes:
a) Quando o objeto mediato da ação seja uma universalidade, de facto ou de direito;
b) Quando não seja possível determinar, de modo definitivo, as consequências do facto
ilícito, ou o lesado pretenda usar da faculdade que lhe confere o artigo 569º do
Código Civil;
c) Quando a fixação do quantitativo esteja dependente de prestação de contas ou de
outro ato que deva ser praticado pelo réu.
Nos casos das alíneas a) e b) do número anterior, o pedido é concretizado através de
liquidação, nos termos do disposto no artigo 358º, salvo, no caso da alínea a), quando o
autor não tenha elementos que permitam a concretização, observando-se então o disposto
no nº 7 do artigo 716º.
Nos acidentes de viação, por exemplo, o autor não sabe muito bem quanto é que vai ter
de prejuízo
O autor terá de instaurar a ação para não correr o prazo de prescrição, mas faz um pedido
genérico, pedindo que o réu seja condenado a pagar o que mais tarde se vier a liquidar
(alínea b) do nº 1 do artigo 556º do CPC)
Nesses casos, o réu pode ser condenado no montante dos prejuízos que vier a ser
liquidado posteriormente
Depois de conhecer todos os danos, o autor, coloca um incidente de liquidação para
apurar os danos até à abertura da discussão em primeira instância (artigo 358º nº 1 do
CPC)
Também há um pedido genérico quando envolve universalidades de facto ou de direito,
(alínea a) do nº 1 do artigo 556º do CPC), isto é, quando o autor pede que seja entregue
um rebanho de ovelhas, uma biblioteca ou uma herança
Ou quando a fixação do quantitativo dependa de prestação de contas ou de outro ato de
liquidação a ser praticado pelo réu (alínea c) do nº 1 do artigo 556º do CPC)
iv. ARTIGO 557º DO CPC - PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS
Tratando-se de prestações periódicas, se o devedor deixar de pagar, podem
compreender-se no pedido e na condenação tanto as prestações já vencidas como as que
se vencerem enquanto subsistir a obrigação.
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Pode ainda pedir-se a condenação em prestações futuras quando se pretenda obter o
despejo de um prédio quando findar o arrendamento e nos casos semelhantes em que a
falta de título executivo na data do vencimento da prestação possa causar grave prejuízo
ao credor.
A determinação do pedido faz-se mediante o simples cálculo aritmético do seu
quantitativo total, fixando a sentença a parte que, à data em que é proferida, for já líquida,
isto é, a respeitante às prestações já vencidas
Há que compatibilizar o artigo 610º com o artigo 557º, ambos do CPC: o artigo 557º do
CPC parece que só pode ser aplicado a casos excecionais, e o artigo 610º do CPC parece
alargar bastante esse âmbito O legislador não foi claro naquilo que pretendia com o
artigo 610º do CPC;
Situações em que o autor formulou bem o pedido (pediu a condenação do réu no
pagamento de uma obrigação que já se venceu), mas o réu contesta (não nega a existência
da obrigação, mas alega que esta ainda não se encontra vencida)
Se no decorrer do processo a prova vier a mostrar que a obrigação ainda não se venceu, o
que o juiz faz, em vez de absolver a instância por inexigibilidade do pedido, condena o
réu a pagar no momento certo, ou seja, quando a obrigação se tornar exigível
Exemplo: Se o A diz que quer despejar ao B porque o contrato acabou, mas o B prova
que o dito contrato só termina dali a um ano, então o juiz condena o B a sair nessa altura,
quando realmente chegar ao fim do contrato
Solução criada para que se possa aproveitar o processo que já foi feito até aqui, uma vez
que o autor fez uma formulação correta do pedido
Já se o autor fizer deliberadamente um pedido para o futuro que não caiba nos
requisitos do artigo 557º do CPC, haverá absolvição da instância
66
Objetivas - São os casos de ALTERAÇÃO DO PEDIDO E DA CAUSA DE PEDIR no
decurso da ação
O pedido e a causa pedir podem ser alteradas por acordo das partes (artigo 264.º do
CPC):
O pedido ou a causa de pedir podem ser alterados ou ampliados a qualquer momento, em
1ª ou 2ª instância, desde que a alteração ou ampliação não perturbem inconvenientemente
a instrução, discussão e julgamento do pleito
Depende da apreciação do Juiz, que pode recusar a alteração se esta representar um
prejuízo para a instância (Exemplo: já estava tudo pronto para julgar a causa e depois as
partes pretendem uma mudança radical que implicará ouvir outras testemunhas, avaliar
novos meios de prova, entre outros)
Qualquer alteração do pedido que implique a alteração da competência do Tribunal não é
admissível
Na falta de acordo das partes (artigo 265º do CPC): Pode haver alteração ou ampliação da
causa de pedir em consequência de confissão feita pelo réu e aceita pelo autor, sendo que esta
alteração tem de ser feita num prazo máximo de 10 dias a contar da confissão
O autor pode reduzir o pedido em qualquer altura
O autor pode ampliar o pedido até ao encerramento da discussão em 1ª instância, se esta
alteração corresponder ao desenvolvimento ou se for consequência do pedido primitivo
(Exemplos: na petição inicial o autor pede que o réu seja condenado no pagamento de
uma indemnização, mas não pede também o pagamento dos respetivos juros, caso em que
pode, até ao encerramento da discussão em 1ª instância, ampliar o pedido para que este
passe a englobar também os juros devidos; caso em que os danos que o réu causou ao
autor se vão agravando ao longo do processo, deve ser visto como uma consequência do
pedido primitivo)
Alteração simultânea de pedido e causa de pedir - Artigo 265º nº 6 - Não se pode, com
esta alteração, provocar uma convolação para relação jurídica diversa da controvertida,
isto é, não se pode numa ação de divórcio alterar o pedido e a causa de pedir de modo que
se passe para a discussão de uma dívida, por exemplo)
Em suma:
67
É possível alterar o pedido
Por acordo, salvo se perturbar a instrução ou o julgamento da causa
Se se tratar de uma redução
Se for o desenvolvimento ou a consequência do inicial – até ao encerramento da
discussão.
É possível alterar a causa de pedir
Por acordo, salvo de perturbar a instrução ou o julgamento da causa
Se for resultado de confissão do réu aceite pelo autor
É possível alterar tanto o pedido como a causa de pedir
Desde que verificados os requisitos acima referidos e desde que não implique a
convolação para relação jurídica diversa da controvertida
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Nos casos de cumulação de causas de pedir ou pedidos substancialmente incompatíveis, o
que pode ser sanado por escolha de um dos pedidos ou de uma das causas de pedir –
artigo 6º nº 2 do CPC
A ineptidão deve ser conhecida no saneador ou na sentença (artigos 200º nº 2 e 196º do
CPC), levando ao indeferimento liminar (artigo 590º nº 1 do CPC) ou à absolvição da
instância (artigos 200º, 577º alínea b) e artigo 278º alínea b) do CPC)
Em qualquer dos casos o autor pode propor nova petição inicial (artigo 560º do CPC)
2.4. Juntada
69
Consiste na representação e assistência técnica das partes por profissionais de foro que
conduzem técnica e juridicamente o processo, mediante a prática de atos processuais
adequados e respeitando as regras legais
Os profissionais a quem são conferidos poderes de representação são os advogados (artigo
12º da LOSJ) e os solicitadores (artigo 15º da LOSJ)
Existem ações em que o PATROCÍNIO JUDICIÁRIO É OBRIGATÓRIO (Artigos 40º e 58º
do CPC), porque:
os interesses das partes são melhor acautelados por profissionais, que dispõem de
conhecimentos técnico-jurídicos que não estão ao alcance dos litigantes, sendo necessário
conhecer o Direito aplicável e as regras processuais
apenas os profissionais conseguem atuar com a serenidade desinteressada necessária para
ajuizar objetivamente as situações e ponderar racionalmente os direitos e deveres das
partes
a adequada e competente condução processual das ações contribui para a boa
administração da justiça
Existem ações em que O PATROCÍNIO JUDICIÁRIO NÃOÉ OBRIGATÓRIO (Artigo 42º
do CPC conjugado, por exemplo, com o artigo 986º nº 4 do CPC) Nestes casos podem as
partes pleitear por si ou ser representadas por advogados, advogados-estagiários ou
solicitadores.
70
Artigo 49º do CPC - Em casos de urgência, o patrocínio judiciário pode ser exercido
a título de gestão de negócios
MAS a parte pode optar por não atribuir o mandato judicial e assumir as
consequências:
Artigo 41º do CPC – Se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a
constituição, o Juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, determina a sua
notificação para o constituir dentro de certo prazo, sob pena de o réu ser absolvido
da instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa
Artigo 42º do CPC – Nas causas em que não seja obrigatória a constituição de
advogado, podem as próprias partes pleitear por si ou ser representadas por
advogados estagiários ou por solicitadores
71
A procuração forense é efetivamente o instrumento deste mandato:
Deve conter a declaração de que o respetivo outorgante dá poderes forenses para agir em
juízo
Não inclui poderes de representação extrajudicial, que não tenham a ver com a condução
da lide, como por exemplo, a resolução de contratos, que é necessariamente um ato que
não se insere no pleito e pressupõe a atribuição de poderes de representação específicos
para esse efeito
É limitada a um processo (apesar de o mandatário estar livre para praticar os atos que
bem entender dentro do processo, de forma a atingir o fim que o seu cliente pretende)
É diferente da representação voluntária geral para a prática de atos jurídicos, em que se
exigem poderes específicos e há acentuado controlo por parte do mandante
Formalidades das Procurações Forenses
O Decreto-Lei nº 267/92 de 28 de novembro afastou a necessidade de intervenção
notarial nas procurações forenses
O Decreto-Lei nº 342/91 de 14 de setembro afastou a necessidade de intervenção
notarial nos substabelecimentos
O mandatário deve verificar a identidade e poderes, mas não tem de fazer constar a
forma dessa verificação
Não carece de declaração expressa de aceitação do mandato por parte do
mandatário, que pode aceitar por mero comportamento concludente
Elementos que devem constar das Procurações Forenses
a) Pessoa singular
Identificação do Mandante: Nome Completo, Naturalidade, Estado Civil, Profissão,
NIF, Residência habitual/Domicílio profissional
Identificação do Mandatário: Nome profissional, Cédula profissional, NIF, Domicílio
profissional, Poderes conferidos
b) Pessoa coletiva
Identificação do Mandante: Nome, Firma ou Designação Social, Tipo de Pessoa
Coletiva (Sociedade por Quotas, Associação, etc.), Sede, NIPC, Capital Social, Nome
Completo e morada do(s) representante(s), com poderes para o ato (dados que devem ser
conferidos pelo mandatário, por consulta da certidão permanente válida);
72
Identificação do Mandatário: O mesmo indicado quanto às pessoas singulares.
73
Se esse prazo não for cumprido: todos os atos praticados pelo mandatário
ficam sem efeito, sendo este condenado em custas e, se tiver agido
culposamente, numa indemnização dos prejuízos a que tenha dado causa
Se o vício resultar de excesso de mandato: participação da ocorrência ao Conselho
Distrital da Ordem dos Advogados
74
(6) Revogação e renúncia ao mandato (Artigos 1170º a 1173º do CC, Artigo 47º do CPC,
Artigo 47º do CPC)
1- A revogação e a renúncia do mandato devem ter lugar no próprio processo e são notificadas
tanto ao mandatário ou ao mandante, como à parte contrária.
2- Os efeitos da revogação e da renúncia produzem-se a partir da notificação, sem prejuízo do
disposto nos números seguintes; a renúncia é pessoalmente notificada ao mandante, com a
advertência dos efeitos previstos no número seguinte.
3- Nos casos em que seja obrigatória a constituição de advogado, se a parte, depois de notificada
da renúncia, não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias:
a) Suspende-se a instância, se a falta for do autor ou do exequente;
b) O processo segue os seus termos, se a falta for do réu, do executado ou do requerido,
aproveitando-se os atos anteriormente praticados;
c) Extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer ação, se a falta
for do requerente, opoente ou embargante.
4- Sendo o patrocínio obrigatório, se o réu, o reconvindo, o executado ou o requerido não
puderem ser notificados, é nomeado oficiosamente mandatário, nos termos do n.º 3 do artigo
51.º.
5- O advogado nomeado nos termos do número anterior tem direito a exame do processo, pelo
prazo de 10 dias.
6- Se o réu tiver deduzido reconvenção, esta fica sem efeito quando for dele a falta a que se
refere o n.º 3; sendo a falta do autor, segue só o pedido reconvencional, decorridos que sejam 10
dias sobre a suspensão da ação.
(7) Caducidade do mandato
Artigos 1174º a 1177º do CC
Por morte do mandante ou do mandatário
Por sentença de acompanhamento do mandante ou do mandatário
Nos processos de insolvência – com a declaração de insolvência do mandante (Artigo 110º do
CIRE)
(8) Competências dos Advogados Estagiários (artigo 196º EOA + 40.º, n.º 2, 42.º e 58.º, n.º 3
do CPC)
75
1 - Concluída a primeira fase do estágio, o advogado estagiário pode, sempre sob orientação do
patrono, praticar os seguintes atos próprios da profissão:
a) Todos os atos da competência dos solicitadores;
b) Exercer a consulta jurídica.
2 - O advogado estagiário pode ainda praticar os atos próprios da profissão não incluídos no
número anterior, desde que efetivamente acompanhado pelo respetivo patrono.
O Advogado Estagiário só não pode praticar todos os atos próprios de Advogado na
eventualidade de não estar acompanhado pelo respetivo Patrono.
MINUTAS
A- (Minuta para procuração forense, PESSOA SINGULAR, poderes gerais, a adaptar)
PROCURAÇÃO
………………………………………………….., solteira, maior, portadora do cartão de cidadão
nº ……………….., emitido pela República Portuguesa, válido até …………., contribuinte fiscal
nº ………………, residente na ……………………..………….., constitui sua bastante
procuradora a Exma. Sra. Dra. ………………………, advogada da sociedade de advogados
……………………………………………….., com escritório em
………………………………………………………………..…………, a quem confere os mais
amplos poderes forenses gerais, podendo solicitar e obter junto de qualquer entidade, pública ou
privada, todas as informações e documentos necessários para o exercício do mandato forense,
pelo que, nos termos do disposto no RGPD (Regulamento (EU) 2016/679 do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 27/04/2016), autoriza, no estrito âmbito do presente mandato, que os
seus dados pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim como comunicados por terceiros à
aqui mandatária.
Lisboa, ... de ............... de ....
(assinatura)
76
………………………………………………….., solteira, maior, portadora do cartão de cidadão
nº ……………….., emitido pela República Portuguesa, válido até …………., contribuinte fiscal
nº ………………, residente na ……………………..………….., constitui sua bastante
procuradora a Exma. Sra. Dra. ………………………, advogada da sociedade de advogados
……………………………………………….., com escritório em
………………………………………………………………..…………, a quem confere os mais
amplos poderes forenses gerais e ainda poderes forenses especiais para confessar, desistir ou
transigir, podendo solicitar e obter junto de qualquer entidade, pública ou privada, todas as
informações e documentos necessários para o exercício do mandato forense, pelo que, nos
termos do disposto no RGPD (Regulamento (EU) 2016/679 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 27/04/2016), autoriza, no estrito âmbito do presente mandato, que os seus dados
pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim como comunicados por terceiros à aqui
mandatária.
Lisboa, ... de ............... de ....
(assinatura)
77
amplos poderes forenses gerais, podendo solicitar e obter junto de qualquer entidade, pública ou
privada, todas as informações e documentos necessários para o exercício do mandato forense,
pelo que, nos termos do disposto no RGPD (Regulamento (EU) 2016/679 do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 27/04/2016), autoriza, no estrito âmbito do presente mandato, que os
seus dados pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim como comunicados por terceiros à
aqui mandatária.
Lisboa, … de …………… de ….
A Administração
(assinaturas e carimbo)
78
pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim como comunicados por terceiros à aqui
mandatária.
Lisboa, … de …………… de ….
A Administração
(assinaturas e carimbo)
79
para o exercício do mandato forense, pelo que, nos termos do disposto no RGPD (Regulamento
(EU) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27/04/2016), autoriza, no estrito
âmbito do presente mandato, que os seus dados pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim
como comunicados por terceiros à aqui mandatária.
Lisboa, … de …………… de ….
A Administração
(assinaturas e carimbo)
80
A Advogada
(assinatura e carimbo)
81
seus dados pessoais possam ser fornecidos a terceiros, assim como comunicados por terceiros à
aqui mandatária.
Lisboa, ... de ............... de ....
(assinatura)
82
Artigo 529º do CPC – As custas processuais abrangem
Taxa de justiça – artigo 530º do CPC
Encargos com o processo – artigo 532º do CPC
Custas de parte – artigo 533º do CPC
83
O Juiz pode determinar, a final, a aplicação dos valores de taxa de justiça constantes
da tabela I-C do RCP, às ações e recursos que revelem especial complexidade
Nos processos cuja taxa seja variável, a taxa de justiça é liquidada no seu valor
mínimo, devendo a parte pagar o excedente, se o houver, a final
Nas causas de valor superior a € 275 000, o remanescente da taxa de justiça é
considerado na conta a final, salvo se a especificidade da situação o justificar e o Juiz
de forma fundamentada, atendendo designadamente à complexidade da causa e à conduta
processual das partes, dispensar o pagamento
Quando o processo termine antes de concluída a fase de instrução, não há lugar ao
pagamento do remanescente
Artigo 7º do RCP – Regras especiais
Processos especiais: tabela I, salvo os casos expressamente referidos na tabela II
Recursos: tabela I-B
Processos de expropriação (em caso de recurso da decisão arbitral ou recurso
subordinado): tabela I-A
Incidentes e procedimentos cautelares, procedimentos de injunção, procedimentos
europeus de injunção de pagamento, procedimentos anómalos e execuções: tabela II
Execuções por custas, multas ou coimas: tabela II
Procedimentos de injunção e procedimentos europeus de injunção de pagamento
que sigam como ação: devida taxa de justiça pelo autor e pelo réu no prazo de 10 dias
após distribuição, descontando-se a que já houver sido paga nos termos do nº 4 do artigo
7º do RCP
Incidentes de especial complexidade: possibilidade de taxa superior dentro dos limites
da tabela II
84
As entidades com isenções subjetivas podem perdê-las, ficando responsáveis pelo
pagamento, nos casos de manifesta improcedência do pedido, desistência do pedido ou se
ficarem totalmente vencidas
Algumas isenções estão condicionadas à decisão final do processo e podem ficar sem efeito
As isenções não abrangem os reembolsos à parte vencedora a título de custas de parte
MOMENTO DO PAGAMENTO DA TAXA DE JUSTIÇA?
PRIMEIRA ou ÚNICA PRESTAÇÃO (artigo 145º do CPC e artigo 14º nº 1 do RCP)
Na 1ª Intervenção, até ao momento da prática do ato:
Autor – Petição inicial
Réu – Contestação
Recorrente – Alegações
Recorrido – Contra-Alegações
Exequente – Requerimento executivo
Executado – Embargos (Oposição à execução / Oposição à penhora)
ATENÇÃO:
Artigo 145º nºs 2 e 3 do CPC – a comprovação de pagamento de taxa de justiça
inferior à devida equivale a falta de comprovação, mas não implica necessariamente
recusa da peça processual
O pagamento deve ser comprovado nos termos do artigo 9º da Portaria nº 280/2013
de 26 de agosto
(4) Dispensa do pagamento prévio
O responsável pelo prévio pagamento da taxa de justiça ou de outra quantia devida a
título de custas, de multa ou outra penalidade deve indicar, em campo próprio dos
formulários de apresentação de peça processual constantes do sistema informático de
suporte à atividade dos tribunais, a referência que consta do documento único de
cobrança (DUC), encontrando-se dispensado de juntar ao processo o respetivo
documento comprovativo do pagamento
A comprovação do prévio pagamento é efetuada automaticamente por comunicação
entre o Sistema de Cobranças do Estado, o sistema informático de registo das custas
processuais e o sistema informático de suporte à atividade dos tribunais
SEGUNDA PRESTAÇÃO – Artigo 14º nº 2 do RCP
85
A segunda prestação da taxa de justiça deve ser paga no prazo de 10 dias a contar da
notificação para a audiência final, devendo o interessado entregar o documento
comprovativo do pagamento ou comprovar a realização desse pagamento no mesmo
prazo
Caso não o faça a secretaria notifica o interessado para, no prazo de 10 dias, efetuar o
pagamento, acrescido de multa de igual montante, mas não inferior a 1 UC nem superior
a 10 UC
Se no dia da audiência final ou da realização de qualquer outra diligência probatória não
tiver sido junto ao processo o documento comprovativo do pagamento da segunda
prestação da taxa de justiça e da multa ou da concessão de benefício do apoio judiciário,
ou não tiver sido comprovada a realização do pagamento da segunda prestação da taxa de
justiça, o tribunal determina a impossibilidade de realização das diligências de prova que
tenham sido ou venham a ser requeridas pela parte em falta
Nos casos em que não haja lugar a audiência final, não sendo dispensada a segunda
prestação nos termos do artigo seguinte, esta é incluída na conta de custas final
Quando se trate de causa que não importe a constituição de mandatário e o ato seja
praticado diretamente pela parte, só é devido o pagamento após notificação de onde
conste o prazo de 10 dias para efetuar o pagamento e as cominações a que a parte fica
sujeita caso não o efetue
Artigo 14º-A do RCP - Não pagamento da segunda prestação
Não há lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça nos seguintes
casos:
a) (Revogada);
b) Ações que não comportem citação do réu, oposição ou audiência de julgamento;
c) Ações que terminem antes de oferecida a oposição ou em que, devido à sua falta, seja
proferida sentença, ainda que precedida de alegações;
d) Ações que terminem antes da designação da data da audiência final;
e) Ações administrativas em que não haja lugar a audiência final;
f) Ações administrativas que tenham sido suspensas no âmbito da seleção de processos com
andamento prioritário, salvo se o autor requerer a continuação do seu próprio processo; g)
Processos de jurisdição de menores;
86
h) Processos de jurisdição voluntária, em matéria de direito da família;
i) Processos emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional terminados na fase
contenciosa por decisão condenatória imediata ao exame médico;
j) Processos tributários, no que respeita à taxa paga pelo impugnante, em caso de desistência
no prazo legal após a revogação parcial do ato tributário impugnado.
DISPENSA DO PAGAMENTO PRÉVIO – ARTIGO 15º DO RCP
1 - Ficam dispensados do pagamento prévio da taxa de justiça:
a) O Estado, incluindo os seus serviços e organismos ainda que personalizados, as Regiões
Autónomas e as autarquias locais, quando demandem ou sejam demandados nos tribunais
administrativos ou tributários, salvo em matéria administrativa contratual e pré-contratual e
relativas às relações laborais com os funcionários, agentes e trabalhadores do Estado; b)
(Revogada.)
c) (Revogada.)
d) O demandante e o arguido demandado, no pedido de indemnização civil apresentado em
processo penal, quando o respetivo valor seja igual ou superior a 20 UC; e) As partes nas
ações sobre o estado das pessoas;
f) As partes nos processos de jurisdição de menores.
2 - As partes dispensadas do pagamento prévio de taxa de justiça, independentemente de
condenação a final, devem ser notificadas, com a decisão que decida a causa principal, ainda
que suscetível de recurso, para efetuar o seu pagamento no prazo de 10 dias.
BASE TRIBUTÁVEL – ARTIGO 11º DO RCP
A base tributável para efeitos de taxa de justiça corresponde ao
valor da causa, com os acertos constantes da tabela I
e fixa-se de acordo com as regras previstas na lei do processo respetivo
Ver artigos 296º a 310º do CPC: releva o valor indicado no momento da propositura da
ação, não obstante poder este ser corrigido a final pelo Juiz
87
i) De todas as despesas por este pagas adiantadamente; ii) Dos custos com a concessão de apoio
judiciário, incluindo o pagamento de honorários; iii) (Revogada.) iv) (Revogada.)
b) Os reembolsos por despesas adiantadas pela Direcção-Geral dos Impostos;
c) As diligências efetuadas pelas forças de segurança, oficiosamente ou a requerimento das
partes, nos termos a definir por portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas
áreas da administração interna e da justiça;
d) Os pagamentos devidos ou pagos a quaisquer entidades pela produção ou entrega de
documentos, prestação de serviços ou atos análogos, requisitados pelo juiz a requerimento ou
oficiosamente, salvo quando se trate de certidões extraídas oficiosamente pelo tribunal;
e) As compensações devidas a testemunhas;
f) Os pagamentos devidos a quaisquer entidades pela passagem de certidões exigidas pela lei
processual, quando a parte responsável beneficie de apoio judiciário;
g) As despesas resultantes da utilização de depósitos públicos;
h) As retribuições devidas a quem interveio acidentalmente no processo;
i) As despesas de transporte e ajudas de custo para diligências afetas ao processo em causa.
2- Os valores cobrados ao abrigo do número anterior revertem imediatamente a favor das
entidades que a eles têm direito.
Ver também os artigos 17º (remunerações fixas) e 18º (despesas de transporte) do RCP
QUEM PAGA OS ENCARGOS? (Artigos 20º e 24º do RCP)
Os encargos são pagos pela parte requerente ou interessada
Quando a parte requerente ou interessada beneficie de isenção de custas ou de apoio
judiciário, as despesas para com terceiros são adiantadas pelo Instituto de Gestão
Financeira e das Infraestruturas da Justiça, I. P.
Se ambas as partes tirarem proveito da diligência ou se não for possível determinar quem
foi a parte interessada na diligência que deu origem aos encargos, são estes repartidos por
ambas
Se forem requeridas diligências manifestamente dilatórias e desnecessárias, os encargos
são pagos por quem as requereu
COMO E QUANDO SÃO PAGOS OS ENCARGOS? (Artigo 20.º do RCP)
88
Imediatamente ou no prazo de 10 dias a contar da notificação do despacho que
ordene a diligência, determine a expedição ou cumprimento de carta rogatória ou
marque a data da audiência de julgamento
A secretaria emite guia para pagamento
SE NÃO FOR EFECTUADO O PAGAMENTO? (Artigos 23º e 24º do RCP)
O não pagamento dos encargos nos termos fixados no n.º 1 do artigo 20.º implica a não
realização da diligência requerida
A parte que não efetuou o pagamento pontual dos encargos pode, se ainda for oportuno,
realizá-lo nos cinco dias posteriores ao termo do prazo previsto no n.º 1 do artigo
20.º, mediante o pagamento de uma sanção de igual valor ao montante em falta, com o
limite máximo de 3 UC
À parte contrária é permitido pagar o encargo que a outra não realizou, solicitando
guias para o depósito imediato nos cinco dias posteriores ao termo do prazo referido no
número anterior
No final, os encargos são imputados na conta de custas da parte ou partes que foram
nelas condenadas, na proporção da condenação
(6) As custas de parte (Artigos 529.º, n.º 4 e 533.º do CPC, e artigos 3.º, 25.º e 26.º do RCP)
Universo das despesas que cada parte efetua com vista ao impulso processual, bem
como as demais necessárias ao desenvolvimento do processo
Na exata proporção do seu vencimento, as partes têm direito a ser compensadas pela
parte contrária das despesas que suportaram
Trata-se do reembolso de taxas de justiça e encargos
E de compensação de despesas com honorários e despesas do seu mandatário (inclui o
agente de execução)
COMO OBTER O PAGAMENTO DAS CUSTAS DE PARTE?
Artigo 25º do RCP - Nota justificativa
1 - Até 10 dias após o trânsito em julgado ou após a notificação de que foi obtida a totalidade do
pagamento ou do produto da penhora, consoante os casos, as partes que tenham direito a custas
de parte remetem para o tribunal, para a parte vencida e para o agente de execução, quando
89
aplicável, a respetiva nota discriminativa e justificativa, sem prejuízo de esta poder vir a ser
retificada para todos os efeitos legais até 10 dias após a notificação da conta de custas.
2 - Devem constar da nota justificativa os seguintes elementos:
a) Indicação da parte, do processo e do mandatário ou agente de execução;
b) Indicação, em rubrica autónoma, das quantias efetivamente pagas pela parte a título de taxa de
justiça;
c) Indicação, em rubrica autónoma, das quantias efetivamente pagas pela parte a título de
encargos ou despesas previamente suportadas pelo agente de execução;
d) Indicação, em rubrica autónoma, das quantias pagas a título de honorários de mandatário ou
de agente de execução, salvo, quanto às referentes aos honorários de mandatário, quando as
quantias em causa sejam superiores ao valor indicado na alínea c) do n.º 3 do artigo 26.º;
e) Indicação do valor a receber, nos termos do presente Regulamento.
3 - O patrocínio de entidades públicas por licenciado em direito ou em solicitadoria com funções
de apoio jurídico equivale à constituição de mandatário judicial, para efeitos de compensação da
parte vencedora a título de custas de parte.
4 - Na Acão executiva, a liquidação da responsabilidade do executado compreende as quantias
indicadas na nota discriminativa, nos termos do número anterior.
Não se trata de ter direito à totalidade das despesas mas apenas
▪ Do reembolso de taxas de justiça e encargos
▪ De compensação de despesas com honorários
▪ Despesas do seu mandatário (inclui o agente de execução)
Relativamente aos honorários do mandatário - Artigo 26º nº 3 alínea c) do RCP – a
parte tem direito a 50% do somatório das taxas de justiça pagas pela parte vencida
e pela parte vencedora, para compensação da parte vencedora face às despesas com
honorários do mandatário judicial. De notar que:
Não são contabilizadas multas, de penalidades ou de taxa sancionatória e do valor do
agravamento pago pela sociedade comercial nos termos do nº 6 do artigo 530º do Código
de Processo Civil e do nº 3 do artigo 13º do RCP
A parte que não tenha constituído mandatário e/ou na ausência de agente de execução,
não tem direito às custas de parte previstas nas alíneas c) e d) do nº 3 do artigo 26º do
RCP
90
COMO PEDIR O PAGAMENTO DAS CUSTAS DE PARTE? Ver ainda os artigos 30º,
31º, 32º e 33º da Portaria nº 419-A/2009 de 17 de abril
Prazo para efetuar o pagamento das custas de parte? 10 dias (artigo 31º nº 1 do RCP
e artigo 28º nº 1 da Portaria nº 419-A/2009 de 17 de abril). Não há norma específica para
a conta de custas de parte, pelo que será de aplicar o regime da conta de custas do
Tribunal
91
5 - A parte não pode ser simultaneamente condenada, pelo mesmo ato processual, em multa e
em taxa sancionatória excecional.
6 - Da condenação em multa, penalidade ou taxa sancionatória excecional fora dos casos
legalmente admissíveis cabe sempre recurso, o qual, quando deduzido autonomamente, é
apresentado nos 15 dias após a notificação do despacho que condenou a parte em multa,
penalidade ou taxa.
Artigo 28º do RCP – Multas – Pagamento
1 - Salvo disposição em contrário, as multas são pagas no prazo de 10 dias após o trânsito em
julgado da decisão que as tiver fixado.
2 - Quando a multa deva ser paga por parte que não tenha constituído mandatário judicial ou
mero interveniente no processo, o pagamento só é devido após notificação por escrito de
onde constem o prazo de pagamento e as cominações devidas pela falta do mesmo.
3 - Não sendo paga a multa após o prazo fixado, a respetiva quantia transita, com um
acréscimo de 50 %, para a conta de custas, devendo ser paga a final.
4 - Independentemente dos benefícios concedidos pela isenção de custas ou pelo apoio
judiciário ou do vencimento na causa, as multas são sempre pagas pela parte que as motivou.
O trânsito em julgado ocorre em 15 dias (artigos 644º nº 2 alínea e) e artigo 638º nº 1 do
CPC)
(8) Meios de pagamento (Artigos 17º, 18º, 19º, 20º, 21º, 22º da Portaria nº 419-A/2009 de 17
de abril)
Possibilidade de:
Emissão de DUC para autoliquidação de taxa de justiça
Emissão de DUC para autoliquidações diversas nos casos de:
Complemento de taxas de justiça
· Nos procedimentos de injunção
· Nas reconvenções ou intervenção principal com pedido distinto do autor – artigo 530º nºs
2 e 3 do CPC Quando a secretaria confirma que se trata de um grande litigante
Depósitos autónomos
Multas – Artigo 25º da Portaria nº 419-A/2009 de 17 de abril
Apoio judiciário – Pagamento faseado
92
Atos avulsos - Artigo 9º do RCP
As TAXAS podem ser revalidadas – Artigo 14º nº 7 do RCP
As TAXAS que não foram usadas podem ser reembolsadas – Artigo 14º nº 8 do RCP e
Artigo 23º-A da Portaria nº 419A/2009 de 17 de abril - Os pedidos de reembolso do valor de
DUC não utilizado são efetuados por via eletrónica, através de funcionalidade
disponibilizada na Área de Serviços Digitais dos Tribunais, acessível no endereço eletrónico
https://tribunais.org.pt.
93
Artigo 8º B – Prova da insuficiência económica
· A Portaria nº 1085-A/2004 de 31 de agosto, fixou os critérios de prova e de apreciação da
insuficiência económica para a concessão da proteção jurídica
· PESSOAS SINGULARES: Artigo 3º - Documentos relativos ao rendimento; Artigo 4º -
Documentos relativos aos ativos patrimoniais
· PESSOAS COLECTIVAS: Exigem-se documentos referentes ao rendimento (Artigo 14º)
e documentos referentes ao ativo e ao passivo (Artigo 15º)
Artigo 8º C – Vítimas de violência doméstica
iv. Isenções
Artigo 9º - Estão isentos de impostos, emolumentos e taxas os requerimentos, certidões e
quaisquer outros documentos pedidos para fins de proteção jurídica
v. Pedido
Existem modelos ou formulários próprios da Segurança Social (Mod. PJ 1/2018 – DGSS;
Mod. PJ 1/2018 – DGSS; Apoio Judiciário EU; todos em www.seg.social.pt – cópias em
anexo no final desta apresentação)
Pode ser apresentado nos serviços da Segurança Social, nas Lojas do Cidadão e outros
locais onde exista um departamento da Segurança Social
Pode ser apresentado antes de ser intentada uma ação judicial ou depois de ser intentada
(consoante se trate do autor ou do réu, abrangendo-se também os casos de superveniência
da insuficiência económica)
Prazos
Artigo 38º – aplicam-se as normas do CPC relativas à contagem de prazos
Deve ser pedido antes da primeira intervenção processual (exceção: insuficiência
económica superveniente, caso em que deve ser pedido antes da primeira intervenção
processual que ocorra após o conhecimento da insuficiência económica)
Prazo para a propositura da ação em caso de proteção jurídica com nomeação de
patrono: Artigo 33º – 30 dias seguintes à notificação da nomeação (prorrogável)
O pedido de nomeação de patrono só interrompe o prazo processual em curso (por
exemplo, para a contestação), quando for formulado na pendência da ação e
comprovada nos autos a sua formulação
94
A ação considera-se proposta na data em que for apresentado o pedido de nomeação
de patrono – Artigo 33º nº 4
95
A quebra de relação de confiança (o apoio judiciário afasta o princípio base de livre
escolha do advogado o que pode aumentar o risco da quebra de confiança)
O pedido de escusa apresentado na pendência do processo, interrompe o prazo que estiver
em curso, com a junção aos respetivos autos de documento comprovativo do referido
pedido, aplicando-se o disposto no nº 5 do artigo 24º
96
(…)
4 - O apoio judiciário mantém-se para efeitos de recurso, qualquer que seja a decisão sobre
a causa, e é extensivo a todos os processos que sigam por apenso àquele em que essa
concessão se verificar, sendo-o também ao processo principal, quando concedido em
qualquer apenso.
2 - Decorrido o prazo referido no número anterior sem que tenha sido proferida uma decisão,
considera-se tacitamente deferido e concedido o pedido de proteção jurídica.
a) Quando o pedido tiver sido apresentado na pendência de ação judicial, o tribunal em que
a causa está pendente solicita à Ordem dos Advogados que proceda à nomeação do
patrono, nos termos da portaria referida no n.º 2 do artigo 45.º;
b) Quando o pedido não tiver sido apresentado na pendência de ação judicial, incumbe ao
interessado solicitar a nomeação do patrono, nos termos da portaria referida no n.º 2 do
artigo 45.º
97
4 - O tribunal ou, no caso referido na alínea b) do número anterior, a Ordem dos Advogados
deve confirmar junto dos serviços da segurança social a formação do ato tácito, devendo
estes serviços responder no prazo máximo de dois dias úteis.
(…)
2. Por essa razão, no dia 04 de setembro de 2019, a autora apresentou na Segurança Social um
pedido de proteção jurídica na modalidade de dispensa de taxa de justiça e demais encargos
com o processo, conforme comprovativo que se junta, nos termos e para os efeitos do disposto
na Lei nº 34/2004 de 29 de julho, na sua redação atual (doc. ….).
3. Até à presente data, a autora não foi notificada de qualquer decisão ou despacho da
Segurança Social, no âmbito do procedimento administrativo correspondente a esse seu pedido
de proteção jurídica.
4. Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 25º da referida lei, o prazo para a conclusão do
procedimento administrativo e decisão sobre o pedido de proteção jurídica é de 30 dias, é
contínuo, não se suspende durante as férias judiciais e, se terminar em dia em que os serviços
da segurança social estejam encerrados, transfere-se o seu termo para o 1º dia útil seguinte.
98
5. E, nos termos do disposto no nº 2 do mesmo artigo, decorrido o prazo referido no número
anterior sem que tenha sido proferida uma decisão, considera-se tacitamente deferido e
concedido o pedido de proteção jurídica.
7. O que legitima a apresentação em juízo da presente petição inicial, com recurso ao dito
benefício, devendo a mesma prosseguir a sua normal tramitação, nos termos legais, de acordo
com o disposto no nº 3 do artigo 25º da mesma Lei.
(…)
99
Formulário para Pessoas Coletivas
100
Formulário para Pessoas Singulares (UE)
101
2.5. Requerimento Probatório
(1) Função e objeto das provas
Artigo 341º do CC - As provas demonstram a realidade dos factos alegados
Artigo 410º do CPC - A instrução tem por objeto os temas da prova enunciados ou,
quando não tenha de haver lugar a esta enunciação, os factos necessitados de prova
O objeto da prova são os factos que interessam à decisão da causa
Os meios de prova devem apenas incidir sobre os temas da prova fixados pelo Juiz em
despacho
A prova não incide sobre factos que estejam fora desse campo, por isso o despacho de
fixação dos temas da prova é importante: por regra o Juiz não permite que os advogados
fujam a estes temas, classificando os meios probatórios que o fazem como inadmissíveis
Artigo 411º do CPC - PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO
O Juiz tem poderes para fazer todas as diligências necessárias para apurar a verdade
102
O Juiz tem liberdade para utilizar os meios de prova que entender, desde que lícitos
(exemplo: se as partes só arrolarem testemunhas quanto a um facto, o Juiz pode ordenar
uma perícia)
Os limites são os factos trazidos pelas partes, porque o Juiz não pode investigar factos
principais que não tenham sido trazidos pelas partes, tem de respeitar o objeto do
processo
Mas dentro dos factos que as partes trazem, o Juiz tem o poder-dever de fazer produzir
os meios de prova necessários para apurar a verdade
Artigo 413º do CPC - PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL
O Tribunal tem de considerar todas as provas que foram trazidas ao processo
Mesmo que uma parte traga, por lapso, uma prova que é contra a sua pretensão, esta
tem de ser considerada pelo Juiz
Sempre com os limites impostos pelos factos trazidos pelas partes
Os temas da prova também são um limite, mas estes podem ser alterados porque
podem aparecer factos supervenientes ou pode ser constatado em julgamento que
aquele despacho dos temas da prova, não definitivo, era insuficiente
Artigo 415º do CPC - PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
As partes têm o direito de se pronunciar sobre todos os meios de prova requeridos
pela outra parte
Em princípio, não são admitidas nem produzidas provas sem audiência contraditória
da parte a quem hajam de ser opostas
Se surgir um documento novo, há que notificar a outra parte de que aquele documento
foi trazido para que ela se pronuncie sobre ele
As testemunhas arroladas por uma das partes, podem ser também inquiridas pela parte
contrária
Na perícia deve permitir-se que a contraparte esteja presente
Na constituição do grupo de peritos, a parte tem sempre a possibilidade de nomear
uma pessoa da sua confiança
Depois de feita a peritagem, a parte é notificada e pode pronunciar-se sobre a perícia
A parte tem de ter sempre a oportunidade de se pronunciar sobre um meio de prova
requerido pela sua contraparte
103
FACTOS QUE NÃO CARECEM DE PROVA
Artigo 412º do CPC – O Juiz tem o dever de investigar todos os factos e tem de
tomar em consideração todas as provas que são produzidas no processo, mas há
factos que não carecem de prova:
Factos notórios - factos que toda a gente conhece ou tem a possibilidade de
conhecer, facto tido como sendo de conhecimento geral na sociedade onde o
ordenamento jurídico vigora (exemplo: António Costa é o primeiro-ministro)
Factos que o Juiz tem conhecimento devido ao exercício das suas funções, se
os quiser considerar o Juiz tem de convocar as partes para que se possam
pronunciar sobre estes, de modo a evitar decisões surpresa; não pode, no entanto,
servir-se dos seus conhecimentos pessoais (se o Juiz assiste a uma agressão e
depois que tem um processo sobre essa agressão, não pode dar como provados os
factos a que assistiu, não deixa de ser necessário produzir prova sobre os mesmos,
o exercício das funções corresponde apenas ao que viu no processo)
104
Regra geral (Artigo 342º do CC) – A repartição do ónus da prova depende de se tratar de
um facto constitutivo, impeditivo, modificativo ou extintivo do direito alegado
O autor tem de provar os factos constitutivos do direito que invoca, quem invoca
um direito tem de provar os factos que fundamentam esse mesmo direito (artigo 342º
nº 1 do CC)
O réu tem de provar os factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
contra si invocado (artigo 342º nº 2 do CC)
Podem não ser exatamente o réu ou o autor nestes papéis, interessa é saber quem é
que invoca o direito e contra quem a invocação é feita
No caso de um pedido reconvencional, já será o réu a ter de provar os factos
constitutivos do direito que aí invoca
Artigo 342º nº 3 do CC, em caso de dúvida, consideram-se que os factos são
constitutivos
Regras especiais: Segundo o artigo 343º do CC, existem três casos especiais de ónus da
prova:
N. º 1: as ações de simples apreciação ou declaração negativa, é o réu que tem de
fazer prova dos factos que fundam o direito em causa; invertem-se os papéis, é
uma autêntica inversão do ónus da prova, porque passa a ser o réu a ter de invocar os
factos constitutivos do seu direito; e o autor é que invoca os factos modificativos,
impeditivos ou extintivos; parte-se do princípio que é mais fácil provar que algo
existe do que provar algo que não existe (juízo a fazer quando se tenta distribuir o
ónus da prova: em regra, faz-se prova dos factos positivos)
N.º 2: as ações de caducidade e prescrição, é o réu que tem de provar o prazo de
prescrição ou de caducidade; a caducidade e a prescrição têm de ser provadas por
quem as pretende fazer valer; esta regra não é propriamente especial, não afasta a
regra geral, antes a confirma, são factos extintivos e geralmente é o réu que tem de
provar os factos extintivos
N.º 3: as ações onde se discutem direitos sujeitos a condição ou a termo, o ónus da
prova depende de essa condição ou termo ser
suspensiva: é o autor que tem de provar que o termo ou condição suspensiva se
verificou
105
resolutiva: é o réu que tem de provar o termo ou condição resolutiva se verificou,
este último é um facto extintivo (exemplo: as partes acordaram que o contrato
seria resolvido se, entretanto, uma delas casasse, quem tem de provar a
verificação desse casamento é quem tem interesse na extinção do direito que
estava sob condição)
A INVERSÃO DO ÓNUS DA PROVA
Segundo o artigo 344.º do CC – as regras invertem-se nos casos de:
recurso a presunção legal: há uma presunção legal quando se permite que de um
facto conhecido se retire um facto desconhecido com base na lei; as presunções legais
ilidíveis fazem com que o ónus da prova transite para a pessoa contra quem a
presunção opera (exemplo: incumprimento contratual presume-se culposo); também
há presunções judiciais, que são as retiradas pelo Juiz conhecedor das regras da vida
(exemplo: do facto de ter morrido o filho da autora, o Juiz retira que ela sofreu um
grande desgosto por causa da experiência da vida); o artigo 344º do CC apenas se
refere às presunções legais
dispensa ou liberação do ónus da prova: factos notórios (artigo 412º nº 1 alínea b)
do CPC)
casos assim convencionados quando os direitos são disponíveis : as partes
convencionam que em caso de litígio, quem tem de provar determinado facto é uma
das partes; essa convenção é contrária às regras do ónus da prova e tem limites
previstos no artigo 345º do CC; se o Juiz verificar que essa inversão torna
excessivamente difícil a uma das partes o exercício de um direito, a convenção é nula;
também será nula a convenção pela qual as partes invertam o ónus da prova de um
direito indisponível
casos em que a parte contrária torne impossível a obtenção de prova : o nº 2 do
artigo 344º do CC estabelece que há inversão do ónus da prova, quando a parte
contrária tiver culposamente tornado impossível a prova ao onerado, sem prejuízo das
sanções que a lei de processo mande especialmente aplicar à desobediência ou às
falsas declarações
de um modo geral, sempre que a lei o determine
106
(4) Valor da prova
A prova pode ser considerada
a) PLENÍSSIMA – indestrutível (apenas invocáveis vícios da vontade), não pode ser posta
em causa se há um documento que tem força de prova pleníssima, ele é, em princípio,
indestrutível só não o será se se provar que, por exemplo, esse documento foi obtido
mediante coação a única maneira de contrariar a prova pleníssima é invocar vícios da
vontade, o que significa que apesar de se conseguir provar de forma pleníssima aquele
facto, é possível que não tenha essa força, se se provar, por exemplo, que os peritos foram
coagidos, sob ameaça, a fazer aquele relatório pericial. Um exemplo de prova pleníssima
é uma escritura pública em que o réu confesse um facto que lhe seja desfavorável,
pois o notário verificou e a pessoa confessou um facto desfavorável num documento
autêntico a força desta prova só pode ser afastada provando-se que a pessoa estava sob
vício da vontade ou que era falsificado (isto, seguindo-se a doutrina que defende esta
possibilidade, pois há opiniões divergentes)
b) PLENA – destruída pela prova em contrário, havendo um meio de prova que tenha
força probatória plena que determine uma certa versão dos factos, este só será afastado se
se provar que aconteceu a situação inversa (exemplo: uma presunção ilidível que vale
como certa até prova em contrário)
c) BASTANTE – sujeita à livre apreciação do Juiz, destruída pela dúvida sobre a
existência do facto (exemplo: depoimento de uma testemunha que explica como
aconteceu uma situação, é prova bastante de que é essa a factualidade a ter em conta, mas
basta que a outra parte consiga criar a dúvida ao Juiz sobre aquele depoimento, para que
o Tribunal tenha de decidir entre aquela versão e a dúvida levantada, o Juiz acredita se
quiser, não acredita se não quiser, e basta uma dúvida para não valer, o Juiz tem liberdade
de valorar)
d) COMPLEMENTAR – não tem valor se desacompanhada de outra prova (exemplo:
uma testemunha depôs num processo e o seu depoimento ficou gravado, se depoimento
for apresentado noutro processo que não esse primeiro, a gravação sozinha não chega)
AS PROVAS VALEM FORA DO PROCESSO ONDE FORAM PRODUZIDAS?
107
Artigo 421º do CPC - Valor extraprocessual das provas - os depoimentos e perícias
produzidos num processo com audiência contraditória da parte podem ser invocados
noutro processo contra a mesma parte
Limites:
N.º 1: O primeiro processo oferece garantias inferiores às do segundo, os
depoimentos e perícias produzidos no primeiro só valem no segundo como
princípio de prova, isto é, prova complementar (exemplo: o depoimento numa
uma providência cautelar)
N.º 2: Quando o primeiro processo tiver sido anulado, na parte relativa à produção
de prova que se pretende invocar.
108
Artigo 370º do CC, presunção de autenticidade, presume-se que o documento provém de
autoridade ou oficial público, quando estiver subscrito pelo autor com assinatura
reconhecida por notário ou com o selo do respetivo serviço
Mas esta presunção pode ser ilidida mediante prova em contrário, ou pode ser excluída
pelo Tribunal quando a falta de autenticidade seja manifesta
Em caso de dúvida, pode ser ouvida a pessoa a quem o documento é atribuído
Artigo 371º do CC, os documentos escritos autênticos fazem prova plena das
declarações da entidade pública emitente do documento e da produção das declarações
dos outorgantes que nele são atestadas como objeto da perceção direta por essa entidade
pública
Artigo 372º do CC, essa prova pode ser contrariada através da demonstração da
falsidade ideológica ou material do documento, através do incidente de falsidade previsto
nos artigos 446º e seguintes do CPC (incidente adiante melhor referido)
ii. Documentos autenticados
São os documentos particulares quando confirmados pelas partes perante entidades
dotadas de poderes públicos conferidos por lei (artigo 363º nº 3 do CC)
Têm a mesma força probatória dos documentos autênticos, isto é, provam plenamente
que foram produzidas as declarações que deles constam (artigo 377º do CC)
Esta força probatória pode ser contrariada do mesmo modo que é contrariada a prova que
resulta dos documentos autênticos: para a afastar tem de se demonstrar que não
corresponde à verdade, para o que deve ser deduzido um incidente de falsidade,
demonstrando que o documento não foi feito à frente do notário ou que ele foi enganado
Notar, contudo, que o documento particular autenticado não substitui o documento
autêntico quando a lei o exija para a validade de um certo ato
iii. Documentos particulares – os restantes documentos
Os documentos escritos sem os requisitos de origem respeitantes aos documentos
autênticos
Artigos 373º a 375º do CC, os documentos escritos particulares devem ser assinados
pelo seu autor
A autoria da letra e da assinatura tem-se por verdadeira, quando reconhecida ou não
impugnada pela parte contra quem o documento é apresentado
109
Mas quando impugnadas, tem o apresentante do documento provar que são verdadeiras
Se forem notarialmente reconhecidas, tem a parte impugnante que demonstrar a sua
falsidade
Artigo 376º do CC, os documentos particulares cuja autoria esteja reconhecida (nos
termos das normas anteriores), têm a mesma força probatória dos documentos autênticos
(nº 1), isto é, provam que foram produzidas as declarações que dele constam
Para os documentos particulares terem a mesmo força que os autênticos, a parte contra
quem é apresentado o documento aceita que foi emitido por quem o assina
Nos documentos autênticos não é preciso aceitar que foi emitido pelas pessoas que
intervieram
A lei ainda faz referência à “autoria da letra e da assinatura” exigindo que, tanto o texto
como a assinatura, sejam escritos pelas pessoas que figuram no documento como tendo
assinado, porém, isto hoje acaba por ser apenas para assinatura já que normalmente o
texto não é feito à mão, é tudo feito a computador
Se um advogado à petição inicial um documento particular e a contraparte não contestar a
veracidade desse documento, então esse documento terá eficácia plena, como um
documento autêntico
Se, pelo contrário, a contraparte impugnar, terá de se provar que as assinaturas são
verdadeiras para que o documento tenha força probatória plena
Essa impugnação pode ser feita pela contestação dos factos diretamente ou por
desconhecimento
A contraparte tanto pode declarar que a assinatura é falsa, como pode simplesmente dizer
que não sabe se a assinatura é verdadeira
Aqui já não se trata de um incidente de falsidade, mas de uma impugnação
Isto porque não se estão a por em causa documentos autênticos que exigem uma outra
tramitação
Artigo 378º do CC - o valor probatório do documento particular pode ser ilidido, se tiver
sido assinado em branco, mostrando-se que nele se inseriram declarações divergentes do
ajustado com o signatário ou que o documento lhe foi subtraído
Outras regras sobre prova documental (artigos 380º a 387º do CC)
i. Fotocópias de documentos escritos:
110
Fazem prova plena do documento que reproduzem, mas basta a parte contra quem foram
apresentadas, impugnar a sua exatidão, para passarem a ter força probatória bastante,
estando sujeitas à livre apreciação da prova pelo Juiz (ver também o artigo 368º do CC,
sobre as reproduções mecânicas)
Se a parte contrária não puser em causa a autenticidade da fotocópia, ela vale como sendo
o documento que reproduz, podendo este ser um documento autêntico, autenticado ou
particular
Se a parte contrária disser que se trata de uma montagem porque conhece o original ou
simplesmente declarar que não sabe se é verdadeira, para que a parte que apresentou a
fotocópia tenha de provar a sua veracidade, a forma mais simples de mostrar a veracidade
é juntar o documento original
Uma vez impugnada, a autenticidade da fotocópia está sujeita à livre apreciação da prova
pelo
Juiz
Exceção: se for uma fotocópia de um documento arquivado numa repartição pública ou
uma pública-forma, terá força probatória plena, a menos que se faça um incidente de
falsidade (artigos 386º a 387º do CC)
ii. Documentos eletrónicos
Elaborados mediante processamento eletrónico de dados (fax ou e-mail, por exemplo)
artigo 2º alínea a) do Decreto-Lei nº 290-D/99 - têm a força probatória de um documento
particular quando lhe seja aposta uma assinatura eletrónica qualificada, certificada por
uma entidade certificadora credenciada
É equivalente a um documento assinado à mão em que o notário reconhece a assinatura
como verdadeira
A validade só se pode afastar através de incidente falsidade, o que é mais grave porque
envolve uma entidade que certificou aquela assinatura
As cópias destes documentos têm o valor das fotocópias o Quando nestes documentos
não é aposta uma assinatura certificada, os mesmos têm força probatória bastante,
estando sujeitos à livre apreciação da prova (um simples email, que não tem assinaturas
reconhecidas fica sujeito à livre apreciação do Juiz)
111
O que é que os documentos provam afinal?
Os documentos autênticos, autenticados ou particulares, não tendo sido posta em causa a
sua autenticidade e a sua genuinidade, provam que foram emitidas as declarações que
deles constam
Artigo 358º nº 2 do CC – Declarações que não são meras declarações de vontade,
consistindo em declarações de ciência (por exemplo: que foi praticado determinado facto,
como o recebimento ou o pagamento de uma quantia), os factos relatados só resultarão
provados de forma pleníssima, se essa declaração consistir numa confissão extrajudicial
feita à parte contrária
Artigo 358º nº 4 do CC – Declarações feitas a pessoa terceira, terão força probatória
bastante (exemplo: se a confissão resultar de uma conversa com um terceiro, os factos
relatados estarão sujeitos à livre apreciação pelo Juiz)
É sempre possível demonstrar que essa declaração está ferida de um vício de vontade que
poderá determinar a sua nulidade e anulabilidade
Quando é exigida prova documental?
Factos que só podem ser provados por documento (Artigo 363.º do CC) - quando a lei
exigir como forma de declaração negocial documento autêntico, autenticado ou
particular, este não pode este ser substituído por outro meio de prova ou por outro
documento que não seja de força probatória superior (exemplos: compra e venda de
imóvel, exige-se escritura)
Se o documento apenas for exigido para prova da declaração, pode ser substituído por
confissão, devendo constar de documento de igual ou superior valor probatório se for
uma confissão extrajudicial, como resulta do nº 2
Quando devem ser apresentados os documentos? (Artigos 423º a 425º do CPC)
Os documentos podem ser juntos aos articulados onde constam os factos que o
documento visa provar, ou podem ser apresentados até 20 dias antes da audiência
de julgamento (mediante o eventual pagamento de multa)
Depois desses momentos, só se podem juntar documentos supervenientes, tendo de
alegar-se e fazer prova da superveniência
Isto se surgirem documentos supervenientes objetiva ou subjetivamente ou cuja necessidade
de junção é superveniente
112
Possibilidade de requerer ao Juiz para proceder à notificação do possuidor do
documento para a sua junção aos autos em prazo fixado
Só com causa legítima pode haver recusa (violação da reserva da vida privada ou de
dever de sigilo)
Em caso de recusa injustificada:
Apreensão do documento
Condenação em multa
A recusa é apreciada livremente como meio de prova (o Juiz pode retirar da recusa o
indício de que se ele não quer juntar o documento é porque o facto alegado pelo outro é
verdadeiro). Haverá inversão do ónus de prova
E se o documento oferecer dúvidas quanto à sua genuinidade ou veracidade?
Artigos 444º e 445º do CPC - é possível deduzir incidentes (o ónus da prova da
genuinidade corre pelo apresentante do documento)
impugnação da letra e assinatura do documento particular
impugnação da exatidão da reprodução mecânica
declaração de desconhecimento da veracidade da letra e assinatura de documento
particular
É também possível a ilação da autenticidade ou da força probatória do documento
através do incidente de Falsidade de documento - Artigos 446º a 450º do CPC - nos
casos de:
Falta de autenticidade do documento presumido pela lei como autêntico
Falsidade de documento
Subscrição de documento particular por pessoa que não sabia ou não podia ler sem
intervenção notarial
Subtração e preenchimento abusivo de documento particular assinado em branco
113
Artigos 393º e 395º do CC - situações em que não é possível o uso de prova por
testemunhas há quatro situações de inadmissibilidade:
1) Declarações negociais que, por disposição legal ou por estipulação das partes,
tenham de ser reduzidas a escrito ou necessitem de ser provadas por escrito (artigo
393º nº 1 do CC)
Não se pode provar através de testemunhas quando a lei exige ou as partes acordaram que
determinado ato tem de ser provado por documentos (exemplo: a lei exige uma escritura
para fazer prova de uma compra e venda de um imóvel, pelo que não podem as partes
visar provar a compra e venda através de testemunhas)
No entanto, pode provar-se por testemunhas: que essas declarações foram produzidas
verbalmente, visando a declaração de nulidade ou o abuso de direito da exigência de
forma; factos que interessem à interpretação das declarações – pessoas que conhecem a
verdade real da pessoa que emitiu a declaração, isto se a declaração não for clara ou há
uma omissão que precisa ser objeto de uma integração; a existência de vícios na
formação da vontade, a falsidade do documento escrito
Pelo que, apesar de as testemunhas não poderem ser usadas para provar factos que têm de
ser provados por documento, podem-no ser para provar aspetos relacionados com o
documento, e não o ato em si
Nos termos do artigo 367º do CC, quando o documento tenha desaparecido ou tenha sido
destruído deverá ocorrer a sua reforma, sendo admissível a prova testemunhal do seu
conteúdo (tem de se propor uma ação comum para reconstruir o documento, demandado
os envolvidos no documento para o reconstruir conforme a memória das testemunhas,
ficando a ação parada à espera do desfecho deste segundo processo)
2) Não se podem provar através de testemunhas factos provados plenamente por
documento ou por qualquer outro meio de prova com força probatória plena (artigo
393º nº 2 do CC)
Não pode haver prova testemunhal contra factos que já estão provados por outros meios,
seja documento ou confissão, salvo as situações em que a lei admite a ilação dessa prova
(incidente de falsidade de documentos)
3) Quanto à prova de convenções contrárias ou adicionais a documentos autênticos ou
documentos particulares e à prova de acordo simulatório, a prova testemunhal não
114
é prova bastante, podendo apenas valer como prova complementar, mas esta
restrição não é aplicável a terceiros que não tenham intervindo na convenção
Artigo 394º nº 1 do CC - não se pode provar por testemunhas acordos contrários ou
complementares a documentos autênticos ou autenticados
Artigo 394º nº 2 do CC – o mesmo vale para os acordos simulatórios e para o negócio
dissimulado, quando invocados pelos simuladores (nos negócios simulados, quando a
simulação é arguida pelo próprio simulador, ele está proibido de fazer prova testemunhal)
A lei refere-se a uma inadmissibilidade de prova testemunhal nestes casos, mas, quer a
doutrina quer a jurisprudência, têm feito uma interpretação restritiva da norma no sentido
de estabelecer que é proibido fazer essa prova só com testemunhas, mas podem ser
usadas como princípio de prova
Ou seja, é preciso a testemunha mais outro meio de prova ou então só um meio de prova
não testemunhal
Tem-se optado por esta interpretação porque a proibição legal é algo demasiado exigente
e sentiu-se a necessidade de a atenuar
Não é uma proibição absoluta, é relativa
Esta questão só se coloca quando é o próprio simulador, porque se for um terceiro que
não tenha intervindo na convenção, já não tem essa limitação
4) Relativamente à prova de convenções extintivas de relações obrigacionais que:
por disposição legal ou por estipulação das partes tenham de ser reduzidas a escrito
ou necessitem de ser provadas por escrito
ou que constem de documento ou outro meio de prova com força probatória plena a
prova testemunhal não é prova bastante, podendo apenas valer como prova
complementar
Artigo 395º do CC - não é possível provar por testemunhas os factos extintivos dos atos
que têm de ser provados com documentos (exemplo: se um contrato de compra e venda
tem de ser por documento, não pode ser provado por testemunhas, mas também não se
pode provar um acordo no sentido de que o pagamento é por compensação ou remissão)
O que não se pode provar através de testemunhas são acordos extintivos e não atos
extintivos
115
A proibição da prova testemunhal nestes casos está limitada aos acordos que extinguem o
contrato e não aos factos extintivos
Para provar o cumprimento da obrigação, isto é, que já pagou, pode ser por testemunhas
Tal como na restrição anterior, a doutrina e a jurisprudência entendem que, apesar de
haver essa proibição, a testemunha pode fazer início de prova ou prova complementar
desses acordos
No fundo, a prova por testemunhas não é absolutamente proibida, é relativamente
proibida
Qual é o valor da prova testemunhal?
Artigo 396º do CC - a prova testemunhal é livremente apreciada pelo Tribunal, tendo
força probatória bastante
O Juiz levará em linha de conta os factos que abonam ou, pelo contrário, abalam a
credibilidade do depoimento, quer por afetarem a razão de ciência invocada pela
testemunha, quer por diminuírem a fé que ela possa merecer, e no confronto com as
outras provas produzidas
Quem pode ser testemunha?
Artigo 495º do CPC - têm capacidade para depor como testemunhas todos aqueles que
tiverem aptidão mental para depor sobre os factos que constituam objeto de prova,
sendo que incumbe ao Juiz verificar a capacidade natural das pessoas arroladas como
testemunhas, com vista a avaliar da admissibilidade e da credibilidade do respetivo
depoimento
Não podem ser testemunhas:
As partes (artigo 496º do CPC)
Os seus representantes
O Juiz que não tenha sido declarado impedido (artigos 115º nº 1 alínea h) e 499º nº 1
do CPC)
Quem não tiver aptidão física ou mental para testemunhar sobre os factos sujeitos
aprova
Quem pode recusar ser testemunha?
Artigo 417º nº1 do CPC – todos têm o dever de prestar depoimento, mas podem
recusar-se a testemunhar:
116
Os parentes próximos elencados no artigo 497º nº 1 do CPC
Os vinculados a segredo profissional, de funcionário público e segredo de Estado,
artigo 497º nº 3 do CPC
Onde são inquiridas as testemunhas?
Regra - Artigo 500º do CPC - na audiência final, presencialmente ou por
conferência
Exceções
Produção antecipada de prova (artigo 419º e 420º do CPC) – Quando a pessoa se vai
ausentar para o estrangeiro ou está numa fase terminal, pode pedir-se que deponha antes,
de forma que o seu depoimento fique registado
Por meio tecnológico (artigo 502º do CPC) – a inquirição por meio tecnológico é a
inquirição por teleconferência, em que tem de se assegurar a verificação da identidade da
pessoa, de forma que o Juiz tenha a segurança de que quem está a depor é a pessoa que
foi indicada
Carta rogatória (artigo 172º do CPC) – quando não há meio tecnológico possível e a
pessoa que se pretende que deponha reside noutro País, faz-se um pedido para as
autoridades desse país registarem o depoimento
Carta precatória (artigo 172º do CPC) – quando é dentro do mesmo País, mas os meios
tecnológicos não servem por alguma razão
Na residência ou sede dos serviços (artigo 503º nº 1 do CPC) – certas pessoas
importantes (o Presidente da República e os agentes diplomáticos estrangeiros), gozam da
prerrogativa de ser inquiridos na sua residência ou na sede dos respetivos serviços.
Depoimento por escrito (artigos 503 nº 2 e 518º do CPC) – certas pessoas (um rol mais
alargado do que no caso anterior), gozam da prerrogativa de depor por escrito.
No domicílio profissional de um dos mandatários (artigo 517º do CPC) – essa
inquirição exige o acordo das partes
Quando são indicadas / arroladas as testemunhas?
Regra: Com os articulados (artigos 552º, 572º, 583º, 584º e 588º do CPC)
É possível alterar ou aditar o rol de testemunhas:
117
Artigo 598º do CPC - O rol de testemunhas pode ser aditado ou alterado na audiência
prévia e até 20 dias antes da audiência final, nesse caso, é notificada a parte contrária
para usar, querendo, de igual faculdade no prazo de 5 dias
Artigo 510º do CPC (conjugado com o artigo 508º nºs 1 e 3 do CPC) - Posteriormente
podem ser substituídas testemunhas:
· no caso de impossibilidade definitiva ou temporária para depor
· no caso de não notificação ou de não comparecimento, por motivo legítimo, ou sem
motivo, se não for encontrada
Pode o Juiz ouvir testemunhas que não tenham sido arroladas pelas partes? (Artigo
526º do CPC)
O Juiz tem o dever de ordenar a notificação para depor de qualquer pessoa que não
tenha sido proposta pelas partes como testemunha, quando haja, no decurso da
ação, razões para presumir que tem conhecimento de factos importantes para a boa
decisão da causa
Exemplo: durante um depoimento, a testemunha responde “isso não sei porque não vi,
mas o meu tio viu e sabe”, o Juiz pode chamar o tio a depor, ou os advogados podem
requerer que o tio seja chamado a depor
O que acontece se as testemunhas faltarem?
A falta não determina o adiamento da audiência (ver artigo 508º do CPC)
A parte pode substituí-la ou requerer o adiamento da sua inquirição se não existir
um impedimento definitivo
Mas, só se pode adiar uma vez - artigo 509º do CPC - salvo acordo das partes
A testemunha faltosa, sem justificação, deve ser condenada em multa, salvo se o
adiamento não tiver esse motivo, e pode ser mandada comparecer sob custódia (artigo
417º do CPC)
Quantas testemunhas pode cada uma das partes arrolar? (Artigo 511º do CPC)
Limite máximo de 10 testemunhas por parte que apresente articulado autónomo
Nas ações de valor não superior à alçada da 1ª Instância, o limite é reduzido a
metade
Se três partes apresentarem o mesmo articulado, só há um articulado autónomo, logo só
podem apresentar 10 testemunhas na mesma
118
Em caso de reconvenção, também têm o mesmo limite de 10 testemunhas,
relativamente à matéria da reconvenção
Há casos excecionais: atendendo à natureza e extensão dos temas de prova, o Juiz pode
admitir a ultrapassagem desse limite - Ver também os artigos 552º nº 6, 572º alínea d),
588º nº 5, todos do CPC
Deve indicar-se se as testemunhas são a notificar ou a apresentar:
Se forem a apresentar não são notificadas, mas pode pedir-se na secretaria um aviso
para entregar às testemunhas (artigo 251º nº 2 do CPC)
O rol pode ser alterado na audiência prévia e até 20 dias antes da audiência final (artigo
598º do CPC)
119
considerado provado para aquele que confessou e não provado para os outros. É a mesma
questão que surge na contestação e impugnação de factos feita por um dos réus.
Há professores que consideram que isso até seria uma baixa de consideração por
parte do Tribunal, visto que ia considerar o mesmo facto como provado para uns
réus e não para outros.
Assim sendo, há necessidade de uma interpretação corretiva do nº 2 artigo 353º do
CC, quanto ao litisconsórcio voluntário
Isto está revogado tacitamente pelo regime da revelia e da contestação do CPC
A regra é então a de que a confissão isolada de um litisconsorte não deve ser
considerada eficaz
Ou seja, tanto no litisconsórcio necessário como no voluntário é preciso que todos
confessem, para que a confissão seja considerada eficaz
A confissão de factos feita por mandatário nos articulados é eficaz?
O mandatário não pode confessar em depoimento, salvo se tiver poder expresso para tal
(artigo 45º nº 2 do CPC)
Mas nos articulados tem de ter alguma liberdade, sendo que apenas para confessar o
pedido é que precisa de uma procuração de poderes especiais
Em caso de confissão, mesmo nos articulados, a parte pode depois retificar desde que não
tenha ainda sido expressamente aceite pela contraparte (artigo 46º do CPC)
Inadmissibilidade / Ineficácia da confissão
Artigo 354º do CC - a confissão não faz prova contra o confitente:
Se for declarada insuficiente por lei – quando se exige prova documental, sendo a
existência do documento um requisito ad substantium, como a exigência de escritura para
prova de contrato de compra e venda de imóvel
Se recair sobre factos proibidos – são factos que a lei não reconhece (exemplo, sendo
barriga de aluguer, não pode confessar sobre isso ou sobre filhos nascidos de incesto, se a
lei proíbe, não pode haver confissão sobre eles)
Se recair sobre factos relativos a direitos indisponíveis (exemplo: processos de
divórcio)
Se o facto confessado for impossível ou notoriamente inexistente.
Modalidades da confissão - Artigos 355º e 356º do CC
120
Confissão judicial (dentro do processo)
Confissão extrajudicial (fora do processo)
Escrita (por documento)
Oral (por depoimento de parte)
Expressa (admissão expressa na contestação, por exemplo)
Tácita (exemplo: não contestação)
Espontânea (nos articulados)
Provocada (surge num depoimento de parte ou em prestações de informações ou
esclarecimentos de parte)
Características da declaração confessória (Artigo 357º do CC)
Tem de ser inequívoca, salvo as exceções previstas na lei (artigo 314º do CC, artigos 567º
e 574º nº 2 do CPC)
É indivisível, artigo 360º do CC, não pode ser “confesso, só se aceitarem x ou então só
confesso parte”, a parte contrária não pode apenas usar a confissão na parte que lhe for
mais proveitosa
O que vale a confissão (força probatória)? (Artigos 358º, 360º e 361º do CC)
A confissão judicial escrita tem força probatória pleníssima (artigo 358º nº 1 do CC), a
única forma de afastar a confissão que é feita nos articulados, é demonstrando que
aquelas declarações estão feridas de um vício da vontade que poderá determinar a sua
nulidade ou anulabilidade, nos termos do artigo 359º do CC, através de ação própria
A confissão judicial oral tem força probatória bastante, o Juiz aprecia-a livremente e
só lhe dá valor se quiser, porque o depoimento de parte tem de ser reduzido a escrito e só
a partir daí terá força pleníssima, se o Juiz não a regista por escrito, depois não há essa
força, ficando-se pelo valor de prova bastante, o Juiz pode não pedir a redução a escrito
quando a confissão não é inequívoca, por exemplo, sendo que nesse caso tem de avaliar a
confissão juntamente com as outras provas do processo
A confissão extrajudicial escrita vê a sua força probatória variar consoante o tipo de
documento (artigo 358º nº 2 do CC), a força probatória de que foi emitida é a do tipo de
documento onde está inserida, a força probatória dos factos confessados é pleníssima,
se feita à parte contrária, e bastante, se feita a terceiro (artigo 358º nºs 2 e 4 do CC)
A confissão extrajudicial oral tem força probatória bastante (artigo 358º nº 3 do CC)
121
Pode a confissão ser retirada? Artigo 465º nº 1 do CPC
Quem confessa nunca pode voltar atrás – irretratabilidade da confissão
Princípio da aquisição processual – artigo 413º do CPC – uma vez produzidos, os
meios de prova já não podem ser retirados, devendo ser considerados pelo Tribunal na
decisão sobre a matéria de facto
Exceção: a confissão em articulado, quando feita pelo mandatário do confitente, pode ser
retirada ou retificada enquanto a parte contrária não a aceitar expressa e
especificadamente (artigos 46º e 465º nº 2 do CPC)
122
Redução a escrito/assentada? - artigo 463º do CPC - quando haja confissão, o
depoimento deve ser reduzido a escrito, a confissão não é a única finalidade do
depoimento de parte, o Juiz pode valorar como meio de prova bastante o seu
comportamento, não sendo favorável a ela, a parte pode não confessar, mas pode
contradizer-se ou até mudar de história, neste caso, não tem força probatória pleníssima,
mas pode ser valorado pelo Juiz, tendo como tal força bastante
ii. DECLARAÇÕES DE PARTE (Artigo 466º do CPC)
Prestação de depoimento a pedido da própria parte, podendo esse pedido ser formulado
até ao início das alegações orais
De resto, aplica-se a estas declarações as regras relativas ao depoimento de parte, e
têm força probatória bastante quer seja favorável ou não para a parte
123
(5.5) Prova Pericial
Intermediação dum perito que, pelos seus conhecimentos especializados,
permite ao Tribunal apreender a realidade de um facto em todo o seu alcance (artigos 388.º a
389.º do CC e artigos 467.º a 489.º do CPC)
Quem realiza a perícia?
Em regra, é feita por estabelecimento ou serviço adequado ou por um perito
nomeado pelo Juiz, devendo, em princípio, ser respeitado o acordo das partes sobre a
indicação do perito
Entre a instituição e um perito, deve ser escolhida a instituição que pode ser pública
ou particular
No caso de acordo das partes, o Juiz deve avaliar a idoneidade do perito
Quanto aos custos, as partes têm de adiantar o pagamento, caso contrário não se faz a
peritagem, são normalmente enquadrados na taxa de justiça e assumem a regra das custas,
sendo que uma parte pode acabar por pagar tudo, mas as partes adiantam a meias, porque só
no fim é que se sabe quem é que vai pagar as custas, isto mantém- se mesmo que seja o Juiz a
determinar a peritagem
É colegial ou interdisciplinar, por determinação do Juiz ou a requerimento de qualquer das
partes
Nas ações de valor não superior a metade da alçada da Relação as perícias são singulares
(artigo 468º nº 5 do CPC)
É aplicável aos peritos, com as necessárias adaptações, o regime de impedimentos e
suspeições que vigora para os Juízes, havendo ainda causas de dispensa do exercício da
função de perito
O perito não está numa das situações destas listas, tem o dever legal de cooperar
Pode ser sancionado com multa no caso de recusar de forma injustificada
O perito pode alegar que não tem disponibilidade, mas entre o Juiz e os peritos isto resolve-
se
Objeto da perícia, sobre o que incide a perícia?
Artigos 474º a 477º CPC e artigo 389º CC - a perícia apenas pode ser relativa a factos
articulados pelas partes o objeto da perícia, quando determinada oficiosamente, é fixado
pelo Juiz, após audição das
124
Partes sobre esse objeto quando requerida por uma das partes, é fixado pelo Juiz, sob
proposta da parte requerente e ouvida
A contraparte que poderá ampliar essa proposta o Juiz entrega ao perito um guião que é
normalmente editado pela parte que requer, podendo o Juiz acrescentar mais factos ou a
outra parte também, normalmente a prova é produzida por perguntas que o Juiz faz ao
perito
Tramitação da perícia? Artigos 478º a 486º do CPC Pode haver uma segunda perícia?
Artigos 487º e 488º do CPC – pode haver uma segunda perícia determinada
oficiosamente, a todo o tempo ou a requerimento de qualquer das partes, nos dez dias
após o conhecimento do resultado da primeira perícia, podendo também pedir
esclarecimentos adicionais, o objeto será o mesmo, não pode intervir na segunda perícia
perito que tenha intervindo na primeira, se a primeira perícia foi colegial a segunda
também será, com o mesmo número de peritos
O que vale o resultado da perícia - valor da prova pericial?
Artigo 489º do CPC e artigo 389º do CC - tanto a primeira como a segunda perícia serão
apreciadas livremente pelo Tribunal, juntamente com as restantes provas que forem
produzidas sobre os factos que delas são objeto
Não tem de haver qualquer prevalência dos resultados da segunda perícia sobre os da
primeira e, embora aquela se destine a corrigir a eventual inexatidão dos resultados desta,
os resultados de ambas são valorados segundo a livre convicção do Juiz
Existe um dever especial de fundamentação no caso de não ser seguida a opinião pericial
125
É a inspeção pelo Juiz (acompanhado ou não de técnico) de coisas ou pessoas, a fim de
esclarecer qualquer facto com interesse para a decisão da causa, podendo deslocar-se ao local
ou mandar proceder à reconstituição dos factos
Pode ser requerida pelas partes ou determinada oficiosamente
O Juiz pode determinar que a inspeção seja feita apenas por um técnico, desde que este seja
por si designado
Nesses casos, deve ser feito um relatório para ser entregue ao Juiz e esta já será uma inspeção
não judicial, visto que o Juiz não vai ao local, mas antes uma VERIFICAÇÃO NÃO
JUDICIAL QUALIFICADA – Artigo 494º do CPC
Segundo o Professor Lebre de Freitas, mais não se trata do que uma perícia
oficiosamente ordenada, com um só perito e sem a possibilidade de alargamento pelas
partes do respetivo objeto nem de reclamações contra o relatório apresentado
O que for observado tem de ser documentado
Da diligência de inspeção é lavrado auto em que se registam todos os elementos úteis
observados, podendo ser tiradas fotografias para serem juntas aos autos
O Juiz não pode dar como provada uma coisa que não registou
A inspeção tem força probatória bastante, podendo ser livremente apreciada pelo
Tribunal, nos termos do artigo 391º do CC
Esta questão é controversa, porque o Juiz observa, regista, mas depois tem o direito a
verificar que se tinha enganado, foi esta a ratio do legislador
Isto vale como bastante quer seja o Juiz ou técnico a fazer
Isto também é bom porque o local pode alterar-se entre o facto em análise e o Juiz ir lá
Se fosse prova pleníssima ficava sempre vinculado àquilo que tivesse sido registado
Tribunal Judicial da Comarca de ….. - Juízo Local Cível de ….. - Juiz ….. Processo nº …
126
………………………………….……………………………….….., Autora nos autos supra
identificados, vem expor e requerer o seguinte:
3º Ao invés, vieram as testemunhas arroladas pelos Réus afirmar que as patologias têm origem
nos problemas existentes no prédio contiguo;
a) Uma inspeção judicial ao imóvel dos autos e ao prédio contiguo, devendo o Tribunal ser
acompanhado de perito em engenharia civil;
3. Que técnicas construtivas devem ser utilizadas para eliminar as patologias existentes na casa
da A. e qual o custo das mesmas?
E.D.
O Advogado
127
Juízo Local Cível de … – Juiz 1
Proc. nº …
………… réus nos autos à margem identificados em que é autora ……….., notificados do
requerimento da autora com a referência Citius …, vêm expor e requerer o seguinte:
Os réus concordam com a autora, na medida em que igualmente consideram que, das declarações
de parte e dos depoimentos já prestados em audiência, conjugados com os documentos juntos aos
autos, resultam dúvidas quanto às patologias existentes e, sobretudo, quanto às causas das
mesmas e soluções adequadas à sua erradicação.
Os réus entendem ser adequado ultrapassar estas divergências através da realização de uma
perícia, que permita apurar a verdade e a prolação de uma decisão justa.
Tendo em conta o exposto, os réus requerem a V. Exa., se digne determinar a realização de uma
perícia singular, por perito a designar pelo Tribunal, devendo a mesma abranger a casa dos autos
e a casa contígua (do vizinho do lado).
Quanto ao objeto da perícia, entendem os réus que o Senhor Perito que vier a ser nomeado,
deverá responder ao indicado pela autora e ainda aos seguintes quesitos:
3. Existe alguma anomalia nas paredes pelo interior, nas zonas que apresentam anomalias
pelo exterior, de acordo com o relatório no relatório que constitui o documento 27 junto à petição
inicial?
A advogada, constituída
128
Exemplo de REQUERIMENTO PROBATÓRIO formulado no FINAL DE UMA
CONTESTAÇÃO:
(…)
Requerimento probatório:
Declarações de parte:
Requer a prestação de declarações de parte, a prestar pelo réu ……. quanto à matéria constante
dos artigos 25. a 88. desta contestação;
Prova testemunhal:
(…)
(…)
Requerimento probatório:
Prova documental:
− Os documentos juntos;
129
− Requer a notificação da Ré para juntar aos autos o processo interno completo sobre o sinistro
em causa (artigo 429º do CPC).
Prova testemunhal:
(…)
3 – A INSTÂNCIA
1. COMEÇO, DESENVOLVIMENTO E EXTINÇÃO DA INSTÂNCIA
Começo da instância – artigo 259º do CPC – coincide com a propositura da ação – logo
que apresentada a petição inicial, nos termos do artigo 144º nºs 1 e 7 do CPC
Estabilidade da instância – artigo 260º do CPC – citado o réu, a instância deve manter-se
quanto às pessoas, pedido e causa de pedir, salvo exceções legais
Modificação subjetiva da instância
Artigos 261º do CPC (ver incidentes da instância – artigos 316º e seguintes do CPC –
casos de preterição de litisconsórcio e casos de efetivação de direito de regresso)
Artigos 262º e 263º (ver incidentes da instância – artigos 351º e seguintes do CPC – casos
de sucessão legal e de habilitação de adquirente ou cessionário)
Modificação objetiva da instância - artigos 264º e 265º do CPC (casos de alteração do
pedido e da causa de pedir)
Suspensão da instância – artigos 269º a 276º do CPC
Óbito ou extinção de uma parte – a suspensão cessa com a habilitação (artigos 270º e
276º nº 1 alínea a) do CPC)
130
Ações de constituição obrigatória de advogado, por óbito ou impossibilidade deste
(artigo 269º nº 1 alínea b) do CPC);
Ações sem constituição obrigatória de advogado, por óbito ou impossibilidade do
representante legal do incapaz, salvo se houver mandatário constituído (artigo 269º
nº 1 alínea b) do CPC); a suspensão cessa nos termos do disposto nos artigos 271º nºs 1 e
2 e 276º nº 1 alínea b), nºs 3 e 4 do CPC
Por ordem do Tribunal (artigo 272º nºs 1 e 2 do CPC), a suspensão cessa com o
julgamento da causa prejudicial (artigo 276º nº 1 alínea c) do CPC); se a decisão desta
fizer desaparecer o fundamento da causa suspensa, esta é julgada improcedente (artigo
276º nº 2 do CPC)
Por acordo das partes - ver artigo 272º nº 3 do CPC – períodos que na totalidade não
excedam 3 meses e desde que não implique adiamento da audiência final – a suspensão
cessa com o decurso do prazo acordado
Nos casos previstos na lei, ver artigo 273º do CPC, por exemplo, a suspensão cessa com
a cessação do incidente ou circunstância a que a lei confere efeito suspensivo
Durante a suspensão – artigo 275º do CPC
Só se praticam validamente atos urgentes que visem evitar dano irreparável
Os prazos judiciais não correm
No caso de suspensão por óbito ou extinção da parte, a suspensão inutiliza a parte do
prazo que tiver decorrido anteriormente
Pode haver desistência ou transação
Não são prejudicados atos de instrução e diligências preparatórias da audiência final
Extinção da instância – artigos 277º a 291º do CPC
Julgamento (casos de absolvição da instância – artigos 278º e 279º do CPC)
Compromisso arbitral (as partes acordam que a causa seja decidida por árbitros – artigo
280º do CPC)
Deserção (falta de impulso por mais de 6 meses – pode haver renovação – artigos 281º e
282º do CPC)
Desistência, confissão e transação – Artigos 283º a 291º do CPC
131
Desistência do pedido extingue o direito, é livre, podendo ou não prejudicar a
reconvenção; desistência da instância faz cessar o processo, depois da contestação
depende de aceitação do réu
Os representantes podem desistir, confessar ou transigir dentro dos limites dos seus
poderes
Litisconsórcio voluntário, pode haver desistência, confissão ou transação limitada ao
interesse de cada um
Litisconsórcio necessário, a desistência, confissão ou transação só produzem efeitos
quanto a custas seguindo-se o nº 2 do artigo 528º do CPC (redução de 50%)
Não pode haver desistência, confissão ou transação quando estão em causa direitos
indisponíveis, mas pode haver desistência (só desistência) nas ações de divórcio e de
separação de pessoas e bens
Fazem-se por documento autêntico ou particular ou termo no processo, mas são atos
que podem ser declaradas nulos e ou anulados; a homologação não obsta a posterior
ação de declaração de nulidade e ou anulação ou a revisão de sentença; se a nulidade
e ou anulabilidade provierem de falta de poderes, haverá lugar a notificação para
ratificação
132
determinar, na audiência prévia, após debate com as partes, a adequação, simplificação e
agilização do processo, a programação dos atos a realizar na audiência final, após audição
dos mandatários (artigo 591º nº 1 alíneas e) e g) do CPC)
agendar tentativa de conciliação das partes quando estas o requeiram e quando considere
oportuno (artigo 594º nº 1 do CPC)
proferir o despacho saneador por escrito quando a complexidade das questões a decidir
assim o exijam (artigo 595º nº 2 do CPC)
alterar a ordem de produção da prova na audiência final (artigos 602º e 604º nº 8 do CPC)
Numa vertente temporal:
fase inicial do processo (“uma pequena parte do tempo do juiz dedicado a uma gestão
processual inicial num processo, pode salvar grandes quantidades de tempo mais tarde”)
artigo 590º do CPC (“gestão inicial do processo”) e artigo 591º do CPC (“audiência
prévia”) principal âmbito de aplicação prática, é na gestão inicial do processo (com
exceção dos casos de despacho liminar obrigatório), que o Juiz tem o primeiro contacto
com o processo, devendo efetivar este dever nos termos legais e espaço de atuação que
lhe é permitido
Mas o Juiz não deve assumir um carácter paternalista e providenciar pela supressão de
toda e qualquer inércia processual das partes - Ver Acórdão do STJ, de 20-09-2016,
Processo nº 1742/09.0TBBNV-H.E1.S1, in www.dgsi.pt (um réu faleceu e a autora juntou
certidão de habilitação, nada mais requerendo; o Tribunal declarou deserta a instância e
extinguiu a mesma, por faltar a promoção do incidente de habilitação; cabe às partes o ónus
do impulso processual, nada podia o Tribunal promover no âmbito da gestão processual, pois
a inércia processual das partes produz consequências negativas para elas, só havendo lugar à
desvalorização do princípio da sua autorresponsabilização, mediante a intervenção tutelar,
assistencial ou corretiva do Tribunal, quando a lei o preveja, e não é o caso - Artigo 6º nº 1
do CPC: “sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela lei às partes”)
Prof. Lebre de Freitas: “A partir da propositura da ação cabe ao Juiz providenciar pelo
andamento do processo, mas podem preceitos especiais impor às partes o ónus de impulso
subsequente, mediante a prática de determinados atos cuja omissão impeça o prosseguimento
da causa”
No exercício deste dever:
133
O Juiz deve manter a sua imparcialidade intocável
Está assegurada a possibilidade de as próprias partes requererem a substituição do Juiz,
por suspeitarem que o julgador possa não ser imparcial
Está proibido de sugerir às partes qualquer ferramenta de ataque ou de defesa
Está sujeito ao dever de respeito pelo princípio do contraditório e da proibição das
decisões-surpresa
Os poderes de gestão processual (quer na sua vertente material, quer na sua vertente
formal) sempre estarão limitados constitucionalmente pelo estabelecido no artigo 20º nº 4
da CRP, pois devem ter como finalidade última, a obtenção de uma decisão em prazo
razoável e mediante processo equitativo
3. ATOS PROCESSUAIS
(1) Forma de entrega
a) Entrega por transmissão eletrónica de dados – artigo 144º nº 1 e nº 10 do CPC;
Portaria nº 280/2013 de 26 de agosto – artigos 1º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º,
14º; obrigatória nos processos com mandatário constituído; nos casos em que os
mandatários não possam usar esta forma, podem usar as demais (nºs 8 e 7 do artigo 144º
do CPC); em caso de desconformidade entre a peça e o formulário, prevalece o
formulário, ainda que omisso
b) Entrega na secretaria - Artigo 144º nº 7 alínea a) do CPC; Vale como data da prática do
ato a da entrega; Exigência de duplicados – artigo 148º do CPC
c) Entrega por correio registado - Artigo 144º nº 7 alínea a) do CPC; Vale como data da
prática do ato a do registo postal; Exigência de duplicados – artigo 148º do CPC
d) Entrega por telecópia - (legislação que regulamenta a telecópia - fax) e artigo 144º nº 7
alínea c) do CPC; vale como data da prática do ato a da expedição
e) Entrega por via eletrónica (e-mail) - Artigo 144º nº 7 alínea d) do CPC; vale como data
da prática do ato a da expedição
Outras notas a reter:
Data da prática do ato consoante a forma de entrega
Peritos e outros intervenientes processuais sem mandatários, aplica-se o nº 7 do artigo
144º do CPC
134
Com os articulados, deve comprovar-se ou juntar-se o comprovativo do pagamento
da taxa de justiça – artigos 145º, 530º, 552º nº 7 do CPC, artigo 1º nº 6 alínea d) e artigo
9º da Portaria nº 280/2013 de 26 de Agosto
Se após o envio das peças processuais se detetarem erros / lapsos – há possibilidade de
proceder à retificação – artigos 146º do CPC e 249º do CC
Forma dos articulados - artigo 147º do CPC
(2) Distribuição
O que é e para que serve: artigo 203º do CPC – repartição do serviço com igualdade
Atos sujeitos a distribuição: artigos 206º e 207º do CPC – têm de ter todos os requisitos
externos, o que se verifica com a Portaria nº 280/2013 de 26 de agosto
Como e quando se faz a distribuição: artigos 204º e 208º do CPC
Publicação: artigo 209º do CPC; artigos 1º nº 1 alínea f), 16º e 18º da Portaria nº
280/2013 de 26 de agosto
Erro: artigo 210º do CPC
Retificação: artigo 211º do CPC
Espécies: artigo 212º do CPC
(4) Prazos
135
(4.1) Regime legal
Os prazos processuais podem ser – artigo 139º do CPC:
Perentórios quando extinguem o direito de praticar o ato
Dilatórios quando diferem para determinado momento a possibilidade de praticar o
ato ou o início da contagem do prazo
Os prazos processuais estão sujeitos ao regime previsto nos artigos 138º a 143º do CPC
À contagem dos prazos processuais ou fixados pelos Tribunais aplicam-se as regras
previstas nos artigos 278º, 279º e 296º do CC
Os prazos processuais legalmente definidos não podem ser encurtados
Em matéria de prazos civis, o tempo e a sua repercussão nas relações jurídicas regem-se
pelo disposto nos artigos 296º a 333º do CC
Prazos de prescrição e caducidade, aplica-se, respetivamente, o regime constante dos
artigos 300º a 327º e 328º a 333º do CC
(4.2) Modalidades de prazo
a) Prazo legalmente fixado (previsto na lei)
b) Prazo judicialmente fixado (por despacho judicial)
c) Prazo supletivo legal – artigo 149º do CPC - Na falta de disposição especial, é de 10
dias o prazo para as partes requererem qualquer ato ou diligência, arguirem nulidades,
deduzirem incidentes ou exercerem qualquer outro poder processual
É também é de 10 dias o prazo para a parte responder ao que for deduzido pela parte
contrária (artigo 149º do CPC)
Regra geral, o prazo para qualquer resposta conta-se sempre da notificação do ato a
que se responde (artigo 149º nº 2 do CPC).
(4.3) Suspensão e interrupção do prazo (Artigo 138º, 269.º e seguintes e 275.º e 276.º do
CPC, e artigos 296.º a 333.º do CC)
Na suspensão o processo fica paralisado e volta à sua tramitação normal a partir daquele
ponto
A interrupção provoca o reinício completo do prazo (volta à estaca zero)
136
(4.4) Justo impedimento
Na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em
que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr - alínea b) do artigo 279º do CC
O prazo fixado em semanas, meses ou anos, a contar de certa data, termina às 24 horas do dia
que corresponda, dentro da última semana, mês ou ano, a essa data; se no último mês não
137
existir dia correspondente, o prazo finda no último dia desse mês (alínea c) do artigo 279º do
CC)
Quando o prazo para a prática do ato processual terminar em dia em que os Tribunais
estiverem encerrados, transfere-se o seu termo para o primeiro dia útil seguinte – artigo 138º
nº 2 do CPC (dias de tolerância de ponto equiparados a feriados (artigo 138º nº 3 do CPC)
Os prazos são contínuos suspendendo-se nas férias judiciais, salvo nos processos urgentes e
se forem iguais ou superiores a 6 meses (artigo 138º nº 1 do CPC)
As férias judiciais decorrem de 22 de dezembro a 3 de janeiro, do Domingo de Ramos à
segunda-feira de Páscoa e de 16 de julho a 31 de agosto (artigo 28º da LOSJ)
O Juiz pode determinar por despacho fundamentado e ouvidas as partes, a suspensão do
prazo processual, de acordo com o disposto no artigo 269º nº 1 alínea c) do CPC
O prazo processual marcado pela lei é prorrogável nos casos nela previstos
Havendo acordo das partes, o prazo é prorrogável por uma vez e por igual período (artigo
141º do CPC)
Prazo dilatório seguido de prazo perentório - contam-se como um só - artigo 142º do CPC
(5) Citação
(5.1) Contexto
Depois da entrada da petição inicial há a distribuição (sorteio para que se saiba qual é o Juiz
que vai conduzir o processo)
Depois da distribuição é necessário avisar o réu de que há uma ação contra ele
Ato de chamar o réu pela primeira vez à ação chama-se citação (A partir daí diz-se que
ele é notificado e não citado)
ARTIGO 219º Nº 1 DO CPC - a citação tem como finalidade dar conhecimento ao réu de
que foi proposta uma ação contra ele, de modo a possibilitar a sua defesa
ARTIGO 227º DO CPC - O conteúdo da citação é a petição inicial e informação sobre
como e quando deve o réu defender-se, mencionando o tribunal em que corre o processo e,
ainda, as cominações da revelia;
Tripla função:
138
i. transmissão de conhecimento
ii. convite para a defesa
iii. constituição do réu como parte
Não sendo requerida pelo autor expressamente outra modalidade de citação, deve a
secretaria proceder à citação por via postal – artigo 231.º, n.º 1 do CPC a contrário
sensu.
i. Por transmissão eletrónica de dados – artigos 225.º, n.º 2, alínea a) e 219.º, n.º 5 do
CPC
ii. Por via postal
a) Carta recebida
Artigo 228º nº 1 do CPC - carta registada com aviso de receção para a morada indicada
na petição inicial
Se assinado pelo próprio – está citado
Se não está ninguém no local - é deixado aviso para que seja levantada em 8 dias no
posto de correios - artigo 228º nº 5 do CPC
Se assinado por pessoa que se encontre na residência ou local de trabalho - assinado por
outra pessoa - artigos 228º a 230º e 233º do CPC
o O funcionário deve proceder à identificação do terceiro a quem a carta foi entregue
(nº 3)
o Deve adverti-lo do dever de pronta entrega (nº 4)
o Posteriormente é enviada uma carta registada para o citando, nos termos do artigo
233º do CPC, sem aviso de receção, já que apenas serve para assegurar que a pessoa
soube que foi citada, artigo 225º nº 4 do CPC
o A citação em pessoa diversa é equiparada a citação pessoal, presumindo-se feita
(mera presunção ilidível), o legislador só admite que o aviso de receção seja assinado
139
por terceiros que vivam com a pessoa a citar ou estejam no seu local de trabalho, não
pode ser um vizinho que estava por lá a passar (artigo 228º nº 5 do CPC)
iii. Por agente de execução ou funcionário judicial (artigos 231.º a 234.º do CPC)
Recorre-se a esta modalidade de citação nos casos de:
De frustração da citação por via postal
Quando o autor o requeira na petição inicial, nos termos do artigo 231.º, n.º 1 e n.º
8 do CPC
O agente de execução ou funcionário judicial vai entregar a citação ao réu e explicar-lhe
como se deve defender, fazendo-lhe chegar os mesmos documentos exigidos pelo artigo 227º
do CPC
O local desta citação pode ser a morada da sua casa ou do local de trabalho
O nº 10 estabelece ainda a possibilidade de o citando ser convocado por aviso postal para
comparecer na secretaria judicial a fim de aí se proceder à citação
140
Citando não se encontra no local de residência ou no trabalho
a) Citação com hora certa - artigos 232º e 234º - marca-se um dia e uma hora para a
citação, devendo o funcionário ou agente encontrar a pessoa mais indicada para fazer essa
marcação e entregar-lhe uma nota
b) Se não houver essa pessoa, é afixado aviso com as informações - artigo 232º nº 1 do
CPC
c) Se o citando não comparecer no dia e hora certa - artigo 232º nº 2 alínea b) do CPC
- citação feita na pessoa que estiver em melhor condições para transmitir ao citando
d) Se não existir nenhuma pessoa, afixa-se aviso de que a pessoa foi citada e manda-se
uma carta registada a informar da citação, afixação feita na presença de duas
testemunhas, nos termos do nº 4 na mesma norma
e) Se o citando recusar a citação perante um agente de execução ou funcionário
judicial é considerado citado, ao contrário da citação por via postal (maior confiança
nestes funcionários face aos dos correios)
f) No caso do citando estar “incapacitado” a citação é feita num curador provisório,
nos termos do artigo 234º do CPC. O agente ou funcionário fica com a ideia de que o
citando não compreende o ato de citação, limita-se a informar o Juiz de que a pessoa
não tem condições para receber a citação e isso pode ter duas consequências:
· o Juiz acredita e pede informações sobre os familiares para nomear um curador
provisório
· ou, tendo dúvidas, ordena diligências para apurar a situação
Nota: esta citação só é feita por funcionário judicial quando o autor o requeira ou quando
não exista solicitador disponível nas comarcas do Tribunal da Relação, nos termos do
artigo 231º nº 9 do CPC; atualmente é raro ser um funcionário do Tribunal a fazer estas
citações
141
Artigos 237º e 238º do CPC, a citação por mandatário é feita por contacto pessoal e aplica
se o disposto para as citações feitas por agente de execução, tendo 30 dias para ser feita
Apenas pode ser levada a cabo, uma vez frustrada uma diligência de citação, sendo que o
requerimento não é admissível quando esteja em curso uma diligência de citação, a menos
que se trate da diligência da citação edital e sobrevenha o conhecimento do paradeiro do réu
(Prof. Lebre de Freitas)
v. Edital
Desconhecimento do paradeiro do citando
Devem ser realizadas previamente as diligências referidas no artigo 236º do CPC (a
secretaria do Tribunal deve tentar recolher informações a cerca do último paradeiro
conhecido ou residência do réu, junto de quaisquer serviços e por intermédio das bases
de dados da segurança social, da AT e do IMT)
É feita por afixação de edital e publicação de anúncio na última residência conhecida da
pessoa a citar
A citação considera-se feita no dia da publicação desse anúncio (artigo 240º nº 1 do
CPC, há ainda lugar à publicação do edital numa página informática de acesso público,
de acordo com os artigos 1º nº 6 alínea h) e 24º da Portaria nº 280/2013 de 26 de
Agosto)
Incerteza das pessoas a citar, por exemplo, se se quiser propor uma ação a propósito de
uma herança e não se tiver conhecimento de todos os herdeiros, propõe-se a ação contra
todos e estes vão ser citados desta forma
POR VIA ELETRÓNICA - artigo 219º nº 5 do CPC (existe hoje uma plataforma
disponibilizada pelo Estado onde as pessoas coletivas - artigo 246º nº 2 do CPC - se
podem inscrever e fornecer este tipo de informações para facilitar a citação)
POR VIA POSTAL - artigo 246º nºs 2, 3 e 4 do CPC
Carta registada com aviso de receção, o funcionário dos correios tem de se assegurar
de que quem recebe a citação e assina o aviso de receção é um trabalhador da empresa,
142
independentemente das suas funções, mas não tem de ser um diretor ou responsável,
basta que trabalhe para a pessoa coletiva a citar, não se incluem, no entanto, os
funcionários em regime de outsourcing (a lei é menos exigente do que com as pessoas
singulares, pois as pessoas coletivas estão sujeitas a uma organização que não existe nas
pessoas singulares)
No caso de o funcionário recusar a assinatura do aviso de receção ou o recebimento
da carta – artigo 246º nº 3 do CPC – a pessoa coletiva considera-se citada; o
funcionário dos correios deve lavrar nota da ocorrência e devolver a citação ao Tribunal
No caso de a carta ser devolvida por outro motivo qualquer, por exemplo, o
estabelecimento comercial estar fechado, é enviada uma segunda carta para a sede ou
local de funcionamento normal, que é colocada na caixa de correio, visto que já não
requer assinatura, e a pessoa coletiva considera-se citada, nos termos dos artigos 246º nº
4, 230º nº 2 e 229º nº 5 do CPC
REGULAMENTO CE Nº 1393/2007 - como deve ser citada uma pessoa residente noutro
país da UE, que tem autoridades para fazerem as citações de residentes no estrangeiro; a
pessoa é citada na língua portuguesa e é advertida que se quiser pode pedir uma tradução
CONVENÇÃO DE HAIA DE 15 DE NOVEMBRO DE 1965 - vigora para os países
aderentes, o autor terá de juntar uma tradução à petição inicial que vai acompanhar a citação
Não existindo convenção aplicável Citação por carta registada com aviso de receção,
por intermédio de consulado, por carta rogatória ou por edital, sendo seguida esta
ordem
143
Mas, o artigo 226º nº 1 do CPC, estabelece que nos casos da citação edital e urgente é
requerida ordem do Juiz
Além destas situações o Juiz ainda intervém quando é necessário nomear curador
especial
144
Citação após a morte do citando ou extinção da pessoa coletiva
O citando não teve conhecimento do ato por facto de que não é culpado
Consequências da falta de citação:
Nulidade de todo o processado após a apresentação da petição inicial e, em princípio,
terá de se repetir a citação: não será repetido se for o próprio citando a arguir a falta de
citação, porque aí já tem conhecimento do processo, pelo que não será necessário ser
citado
Se o citando intervier no processo espontaneamente sem arguir a falta de citação,
considera-se o vício sanado
Litisconsórcio necessário, a falta de citação de uma das partes importa a nulidade de
tudo o que tiver sido processado depois das citações, porque a nulidade estende-se a todo
o processo, levando a que todo o processo seja anulado
Litisconsórcio voluntário, nada se anula, mas até à marcação da data da audiência final
o autor pode requerer que o réu em falta seja citado de modo a aproveitar-se o mesmo
processo; se a audiência já tiver sido marcada, o réu que não foi citado é absolvido da
instância e o autor, querendo, propõe nova ação contra o réu que não foi citado
Artigo 191º do CPC - a citação é nula se for deficiente, por falta das formalidades
prescritas pela lei
Só há nulidade da citação se a irregularidade prejudicar a defesa do citado (um pequeno
erro que em nada prejudica a defesa do réu não irá gerar a nulidade da citação, não pode ser
um formalismo sem interesse, tem de ser algo grave ao ponto de diminuir os direitos de
defesa do citado)
A nulidade da citação tem de ser arguida no prazo da contestação, pelo que, quando
termina o prazo para contestar, já não se pode arguir a nulidade da citação
Se a citação foi edital ou não foi indicado o prazo para a defesa, a nulidade da citação
pode ser arguida aquando da primeira intervenção
O Tribunal não pode conhecer estas irregularidades oficiosamente, tem de ser o réu a
alegar, excetuando os casos previstos no artigo 196º do CPC
145
Se for indicado um prazo superior de defesa, valerá esse prazo, pelo que, se em vez de 30
forem indicados 45 dias, por exemplo, a defesa deve ser admitida dentro desse prazo
MAS o autor pode fazer citar novamente o réu em termos regulares , o que é importante
se for indicado um prazo completamente desproporcional, como 5 anos (caso contrário valerá
esse prazo)
(6) Dilações
Após citação, o prazo da contestação é de 30 dias - artigo 569º do CPC (ação de processo
comum)
Há fatores a considerar que podem modificar o prazo para apresentar a contestação
POSSIBILIDADE DE EXISTIREM DILAÇÕES - ARTIGO 245º DO CPC
Prazo em que ainda não começa a contar o prazo para a contestação / defesa, e pode
ser:
5 dias quando a citação é feita em pessoa diversa do réu
5 dias quando o réu tenha sido citado longe da comarca onde pende a ação
15 dias quando o réu haja sido citado numa ilha e a ação foi proposta no continente
ou numa ilha diferente ou o inverso
30 dias quando o réu tenha sido citado no estrangeiro ou haja sido uma citação edital
Estas dilações podem acrescer umas às outras
Quando há VÁRIOS RÉUS conta para todos o prazo que começou a correr em
último lugar – artigo 569º nº 2 do CPC (se algum beneficiar de uma dilação, os restantes
irão aproveitar essa data)
Possibilidade de PRORROGAÇÃO DO PRAZO - Artigo 569º nºs 4, 5 e 6 do CPC
O Juiz pode prorrogar o prazo do MP quando este careça de informações que não
pode obter dentro do prazo legal para a contestação
O Juiz pode entender que ocorreu motivo ponderoso que impediu o réu e o seu
mandatário de organizar normalmente a sua defesa, podendo por isso prorrogar o
prazo legal para a contestação
O Juiz decide no prazo de 24 horas
146
(7) Notificação judicial avulsa
Matéria regulada, nomeadamente nos artigos 256º, 257º, 258º e 79º do CPC, no artigo 9º
nº 1 do RCP.
A notificação judicial avulsa é um procedimento integrado por uma sucessão de atos
jurídicos praticados em juízo
Consiste numa interpelação com força probatória de documento autêntico, para
obtenção de diversos efeitos jurídicos
Destina-se, em regra, à comunicação a outrem de determinado facto, por via
judicial, podendo também destinar-se a revogar mandato ou procuração – artigo 258º
do CPC
São exemplos de situações em que se justifica a notificação judicial avulsa, as seguintes:
interrupção do prazo de prescrição extintiva ou aquisitiva (artigo 323º nº 4 do CC)
exercício extrajudicial do direito de preferência (artigo 416º do CC)
interpelação do devedor (artigo 805º nº 1 do CC)
anatocismo de juros (artigo 560º nº 1 do CC)
notificação da cessão de créditos (artigo 583º nº 1 do CC)
interpelação admonitória (artigo 808º do CC)
notificação do arrendatário nos termos do disposto no artigo 9º nº 7 alínea a) do
NRAU)
notificação especial para revogação de mandato ou procuração (artigo 258º do
CPC e 1170º do CC)
As notificações avulsas dependem de despacho prévio que as ordene (artigo 256º CPC)
As notificações avulsas não admitem oposição, devendo os direitos respetivos ser
exercidos nas ações próprias (257º nº 1 do CPC)
As notificações avulsas são requeridas no Tribunal em cuja área resida a pessoa a
notificar (artigo 79º do CPC)
A notificação judicial avulsa caracteriza-se pelo contacto pessoal do agente de execução,
designado pelo requerente ou pela secretaria, ou por oficial de justiça, com a própria
pessoa a notificar, pelo que lhe subjaz o pressuposto da proximidade geográfica do
notificando, sendo esse o critério determinante da competência, sob pena, aliás, da
inviabilidade prática da realização da diligência de notificação
147
Assim, o Tribunal competente para a tramitação da notificação judicial avulsa é o
Tribunal da residência do notificando
A circunstância de existir uma pluralidade de notificados não permite afastar a norma
especial do artigo 79º do CPC, cabendo não esquecer que a notificação judicial avulsa é
um ato judicial que não se inscreve em qualquer processo pendente e não configura uma
ação declarativa, em que existam partes ou pedido
Pelo que, ainda que se pretenda a notificação judicial avulsa para o mesmo fim de várias
pessoas residentes em circunscrições diversas, a notificação deve ser requerida separada
e autonomamente em cada uma dessas circunscrições
Não pode ser requerida num mesmo Tribunal a notificação judicial avulsa de notificados
que não tenham sede / residência na circunscrição desse Tribunal
Pela mesma ordem de razões, inexiste competência do Tribunal Português para a
notificação dos notificados com sede ou residentes no estrangeiro, uma vez que a própria
norma de competência interna territorial a afasta (artigo 79º do CPC), cabendo reiterar
que não se está no âmbito de uma ação judicial
Não há, assim, lugar à notificação nos termos previstos no Regulamento 1393/2007 do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de novembro, e da Convenção de Haia
As notificações judiciais avulsas estão sujeitas ao pagamento de taxa de justiça (artigo 9º
nº 1 do RCP)
Do despacho de indeferimento cabe recurso até à Relação (artigo 257º nº 2 do CPC)
A incapacidade de facto para receber a notificação judicial avulsa inviabiliza a mesma
4 – CONTESTAÇÃO
1. PRAZO
Na ação de processo comum, o prazo para a apresentação da contestação é de 30 dias,
podendo, em certas circunstâncias, ser prorrogado
Quando termine em dias diferentes o prazo para a defesa por parte de vários réus, a
contestação de todos ou de cada um deles pode ser oferecida até ao termo do prazo que
começou a correr em último lugar
148
Atenção às ações de processo especial, que podem prever prazos diferentes para
apresentação de defesa
2. REQUISITOS ESSENCIAIS
Artigo 571º nº 1 e 2 do CPC – Na contestação cabe: a (i) defesa por impugnação e a (ii)
defesa por exceção
Impugnação de factos direta – o réu nega a veracidade de todos ou alguns factos da petição
inicial
Impugnação de factos indireta – o réu conta uma versão diferente dos factos
Impugnação de factos por desconhecimento – o réu alega desconhecer os factos ou alguns
dos factos da petição inicial
Se o facto for diretamente relacionado com o réu e ele disser que desconhece, considera-
se esse facto confessado (isto para os factos que se consideram que o réu tinha obrigação
de conhecer, pelo que uma defesa de impugnação por desconhecimento é ineficaz nestes
casos)
Consideram-se para este efeito não só o facto praticado pelo réu ou com a sua
intervenção, mas também o ato de terceiro perante ele praticado, ou o mero facto ocorrido
na sua presença, e ainda o conhecimento de facto ocorrido na sua ausência;
diferentemente, se se tratar de um facto que se admite que não seja do conhecimento do
réu, já será uma impugnação admissível
150
Esta modalidade de defesa é muitas vezes usada pelas seguradoras que alegam que
desconhecem determinados danos alegados pelo autor
Desta forma, a impugnação de factos por desconhecimento pode ser operante ou
inoperante
Assim, há que ter cuidado quando se alega desconhecimento sobre certo facto, uma vez
que, tratando-se de facto pessoal ou do qual o réu deva ter conhecimento, tal
corresponderá a uma confissão do mesmo
Só se não for facto do conhecimento pessoal ou do qual o réu deva ter conhecimento, é
que equivale a impugnação – artigo 574º nº 3 do CPC
Especial cuidado ao utilizar este expediente de defesa, confirmando-se sempre que o réu
não deveria ou poderia ter conhecimento desse facto
Pode ler-se no CPC Anotado do Prof. José Lebre de Freitas: «Constitui facto pessoal
ou de que o réu deva ter conhecimento, não só o facto praticado por ele ou com a
sua intervenção, mas também o ato de terceiro perante ele praticado (incluindo a
declaração escrita que lhe seja endereçada), ou o mero facto ocorrido na sua
presença, e ainda o conhecimento de facto ocorrido na sua ausência (…).
Pretendendo-se com a expressão “de que o réu deva ter conhecimento” cobrir todos
os casos em que, pela natureza do factos e das circunstâncias concretas em ele se
produziu, o juiz deva entender, segundo o seu prudente arbítrio, usado em conformidade
com as regras da experiência, que a parte dele teve conhecimento, tal expressão mais não
estabelece do que a presunção de que determinado facto, não consistente em ato praticado
pela própria parte, lhe é pessoal, isto é, caiu no âmbito das suas perceções, pelo que, em
lugar de exprimir segundo membro duma dicotomia de conceitos, fundado num dever
ético de conhecimento, vem apenas reforçar o conceito de facto pessoal.»
Ou seja, há que verificar muito bem com o réu se aquele facto não chegou, realmente, ao
seu conhecimento ou se, tendo em conta as circunstâncias concretas, ele não deveria ter
conhecimento desse facto, antes de recorrer a este expediente de defesa
Impugnação de direito – o réu não discorda dos factos, mas discorda da qualificação
jurídica apresentada pelo autor
151
4. ÓNUS DE IMPUGNAÇÃO
O réu tem o ónus de impugnação, porque os factos que o réu não impugne consideram-
se admitidos por acordo, neste caso acordo tácito
O réu pode limitar-se a dizer que os factos alegados pelo autor são falsos ou indicar alguns
artigos da petição inicial que impugna
Não significa isto que haja um ónus de impugnação especificada, como acontecia
anteriormente, ou seja, não tem de se impugnar expressamente facto a facto, mas mantém-se
o dever de tomar uma posição clara, frontal e concludente quanto aos factos alegados pelo
autor, sob pena de o réu até poder ser considerado litigante de má-fé, por aplicação do artigo
542º nº 2 alíneas a) e b) do CPC
À cautela, o que se aconselha é, depois de deduzir a impugnação mais específica aos factos
alegados pela parte contrária, se inclua, no fim de qualquer contestação, um artigo dizendo
que se impugnam todos os factos que não tenham sido expressamente admitidos pelo réu –
desta forma fica acautelada a possibilidade de, pela leitura da contestação, o Juiz ter dúvidas
se efetivamente foi impugnado ou não certo facto
Exceções ao ónus de impugnação: não será considerado o acordo tácito quando o réu
não contestar:
Factos que devam ser provados por documento escrito como casamento ou a morte que
têm se ser sempre comprovados
Factos relativos a direitos indisponíveis porque quando se trata de direitos indisponíveis,
nada pode ser admitido por acordo, tudo tem de ser apurado
Factos física ou legalmente impossíveis porque mesmo que o réu não impugne não são
verdadeiros (exemplo: “o autor ontem foi a Marte e voltou”)
Factos não impugnados em contestação apresentada pelo MP ou defensor oficioso
quando representa incapaz ou ausente nos termos do artigo 23º do CPC
Factos impugnados por outro réu (no caso de pluralidade de réus, não há qualquer
dispensa do ónus de impugnar, pelo que, diversamente do que acontece na revelia (artigo
568º alínea a), não aproveita ao não impugnante a impugnação feita por outro réu)
Este ónus de impugnação é para os factos, não para o direito, pois é o Juiz que aplica o
direito e não está sujeito ao que é alegado pelas partes (artigo 5º nº 3 do CPC)
152
5. DEFESA POR EXCEÇÃO
Cfr. Artigos 572º alínea c), 576º, 577º e 278º nº 1 alínea e) e nº 3 do CPC
Defesa indireta que, sem pôr em causa a realidade dos factos alegados como causa de
pedir, nem o efeito jurídico que o autor deles pretende extrair, consiste na alegação de
factos novos dos quais se retira que o Tribunal em que a ação foi
Exceções dilatórias
São de natureza processual
Correspondem à inobservância de pressupostos processuais
Obstam a que o Tribunal conheça do mérito da causa (artigo 576º nº 2 do CPC)
O réu invoca vícios do processo
O artigo 577º do CPC prevê uma lista exemplificativa de exceções dilatórias
Levam à absolvição da instância
Exceções peremptórias
Dizem respeito a matéria substantiva, correspondem à invocação de factos que impedem,
modificam ou extinguem direito invocado pelo autor (artigo 576º nº 3 do CPC)
Levam à absolvição do pedido
As exceções peremptórias podem ser:
a) Impeditivas - têm como efeito impedir o direito do autor (autor alega que contrato foi
celebrado verbalmente, enquanto o réu alega que o contrato tinha de ter sido celebrado
por documento autêntico por imposição legal)
b) Modificativas - modificam o direito do autor e podem manifestar-se no plano da sua
oponibilidade ou no da possibilidade do seu exercício (autor alega que o réu deve 200 e o
réu alega um facto novo que prova que ele apenas deve 50)
c) Extintivas - extinguem o direito do autor, isto é, o réu não nega o direito do autor, mas
prova que este já não o tem (réu vem alegar caducidade ou prescrição)
Como se distingue a impugnação de direito da exceção peremptória?
Na exceção peremptória incluem-se factos novos donde se retira uma razão de direito
Na impugnação de direito o réu limita-se a invocar argumentos de direito
153
6. CONSEQUÊNCIAS DAS EXCEÇÕES
154
pendente a outra ação e na primeira já haver sentença transitada em julgado na
outra ação – artigo 580º do CPC
O artigo 581º do CPC estabelece os requisitos da litispendência e do caso julgado
O artigo 582º do CPC estabelece em que ação deve ser deduzida a litispendência
Peremptórias:
Levam à absolvição do réu do pedido formulado pelo autor, por força dos artigos
576º nº 3 e 571º nº 2 in fine do CPC, aquele réu nunca mais poderá ser demandado por
aquele pedido e pela sua respetiva causa de pedir, visto que o mérito da causa foi
apreciado pelo Juiz
Conhecimento das exceções:
São, em regra, de conhecimento oficioso, o Tribunal não está sujeito às alegações das
partes e, portanto, à alegação do réu, no que respeita à indagação, interpretação e
aplicação da norma de direito - Artigo 578º do CPC
Em regra, as exceções dilatórias são do conhecimento oficioso, exceto quando se trate
de incompetência absoluta decorrente de violação de pacto privativo de jurisdição ou da
preterição de Tribunal arbitral voluntário ou da incompetência relativa nos casos não
abrangidos pelo disposto no artigo 104º do CPC (Artigo 579º do CPC)
O Tribunal conhece oficiosamente das exceções peremptórias cuja invocação a lei
não torne dependente da vontade do interessado
155
Nulidade ou abuso de direito)
A impugnação de direito, artigo 5º nº 3 do CPC
As exceções dilatórias, artigo 577º do CPC
A contestação nas ações de simples apreciação negativa:
Artigo 343º nº 1 do CC - na maior parte das contestações, o réu só tem de se defender
Mas, como nas ações de simples apreciação, é o réu que tem de alegar a causa de pedir
de que tem aquele direito, então, em vez de se defender, o réu vai alegar os factos
constitutivos do seu direito É o réu que tem de provar a existência do direito
Invertem-se aqui os papéis no sentido em que a contestação será uma espécie de petição
inicial, como consequência da inversão do ónus da prova
Esta particularidade existe porque as normas de distribuição do ónus da prova revestem
natureza substantiva, o que significa que se aplicam independentemente da posição ativa ou
passiva que os pretensos titulares do direito e do correspondente dever ocupam na relação
processual
8. RECONVENÇÃO
(8.1) Admissibilidade
156
2. Quando o pedido respeita à indemnização por benfeitorias ou despesas relativas à
coisa cuja entrega se pretende, o que significa que se, por exemplo, o autor exigir o fim
de um arrendamento e o despejo de um imóvel, o réu pode fazer um pedido
reconvencional em que diz que se for despejado quer uma indemnização pelas melhorias
3. Para efetivar a compensação
4. Para obter o mesmo efeito jurídico que é pretendido pelo autor, como o divórcio ou a
disputa de propriedade sobre um prédio
Se a reconvenção não se enquadrar num destes casos em que a lei a admite, estaremos
perante uma situação de inadmissibilidade legal da reconvenção, o que constitui uma
exceção dilatória inominada, por referência aos artigos 577º e 278º nº 1 alínea e) do
CPC
Atenção: mesmo nos 4 casos referidos, há dois impedimentos à reconvenção (artigo 266º
nº 3 do CPC), pois não é admissível a reconvenção quando:
o pedido reconvencional corresponda a forma processual diferente
quando o Tribunal seja absolutamente incompetente
Artigo 93º do CPC: é competente, para a reconvenção, o Tribunal da ação, desde que
tenha competência em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia, sob pena de
absolvição da instância do reconvindo
Artigo 93º nº 2 do CPC: caso, com a reconvenção, o Tribunal deixe de ser competente em
razão do valor, o processo deve ser remetido, oficiosamente, para o Tribunal competente
Também será possível ao réu requerer a intervenção de terceiros no pedido
reconvencional, para se associar a ele ou ao reconvindo, a menos que o Tribunal considere
que há inconveniente grave na instrução, discussão e julgamentos conjuntos – terá de ser
proferido despacho fundamentado de absolvição da instância de quem não seja parte
primitiva na ação – artigo 266º nºs 4 e 5 do CPC
157
Exceto se o pedido estiver dependente de a ação ser procedente (exemplo: o rendeiro que
quer receber as benfeitorias se for despejado, se o despejo não proceder, ele já não vai sair da
casa, então já não tem interesse pedir o valor das benfeitorias)
A reconvenção pode ser inepta, como a petição inicial, mas a consequência da ineptidão não
é a nulidade de todo o processo, mas a nulidade circunscrita da própria reconvenção, com a
consequente absolvição do reconvindo da instância reconvencional
9. REVELIA
Na ação de processo comum, o prazo para contestação é de 30 dias depois da citação
Há alguns fatores a considerar que podem modificar o prazo:
a possibilidade de existirem dilações
158
quando há vários réus conta para todos o prazo que termine em último lugar
há possibilidade de prorrogação do prazo
a suspensão nas férias judiciais
a possibilidade de invocação de justo impedimento
a possibilidade de apresentar a contestação nos primeiros três dias úteis após o término do
prazo, mediante o pagamento de uma multa
A citação constitui o réu, em regra, no ónus de contestar, se não apresentar qualquer defesa,
constitui-se ele numa situação de revelia
Artigos 566º e seguintes do CPC
Se o réu não intervier no processo estamos perante uma revelia absoluta
Se o réu intervier no processo, mas não contestar, é uma revelia relativa (por
exemplo, o réu limita-se a juntar a procuração do seu mandatário judicial, aceita os
factos, mas discorda do direito)
Consequências da revelia
a) REVELIA OPERANTE (Artigo 567º nº 1 do CPC): confissão dos factos alegados
pelo autor, consideram-se provados todos os factos articulados pelo autor na petição
inicial, ou seja, trata-se de uma consequência probatória
b) REVELIA INOPERANTE:
Artigo 568º alínea a) do CPC: casos em que há mais do que um réu, basta que um
conteste para que os outros aproveitem da sua contestação e os factos por esse
impugnados não serão dados como provados contra os que não apresentaram contestação
Artigo 568º alínea b) do CPC: se o réu for incapaz, maior acompanhado ou menor, a
sua revelia é inoperante e deve o MP ser citado nos termos dos artigos 21º e 568º alínea
b) do CPC Também há citação do MP no caso do ausente
A revelia também não opera em caso de citação edital sem qualquer intervenção (só
vale para a revelia absoluta e não para a revelia relativa, a citação edital oferece poucas
garantias e então salvaguardasse os casos em que o réu não teve mesmo conhecimento da
ação
Artigo 568º alínea c) do CPC: factos que não podem ser confessados, por estarem em
causa direitos indisponíveis, como nas ações de divórcio ou de paternidade em que tem
efetivamente de se provar os factos que fundamentam o pedido. Não basta o possível pai
159
não deduzir oposição para se considerar que o é, tem de se fazer um teste de paternidade
que prove este facto
Artigo 568º alínea d) do CPC: a revelia não opera relativamente a factos cuja prova
exija documento escrito
A revelia também é inoperante relativamente a factos física ou legalmente impossíveis
ou notoriamente inexistentes (exemplo: não se pode dar por provado que o autor foi a
Marte só porque não há contestação)
Tramitação processual em caso de revelia
a) Nos casos de revelia operante
Factos articulados pelo autor na petição inicial considerados como provados
O Tribunal verifica a regularidade da citação (artigo 566º do CPC – apenas nos casos de
revelia absoluta porque nos casos de revelia relativa o possível vício estará suprido já que
o réu interveio
O Juiz só pode anular a citação e ordenar nova citação se detetar irregularidades de
conhecimento oficioso
A irregularidade é do conhecimento oficioso se estiver prevista no artigo 196º do CPC,
que remete para o nº 2 do artigo 191º do CPC, que prevê a falta de citação, citação edital
indevida e falta de indicação de prazo para defesa
Se não houver hipótese de a citação ser anulada porque não há irregularidades que possa
conhecer, o Juiz profere despacho considerando confessados os factos e concedendo o
prazo de 10 dias a cada um dos advogados para alegações escritas de direito (artigo 567º
nº 2 do CPC)
Se o Juiz verifica que os factos estão presentes, mas a petição está incompleta, profere
despacho para aperfeiçoamento (artigo 590º nºs 2 alínea b) e nº 4 do CPC)
Se a parte aceita este convite e faz nova petição inicial, o Juiz notifica novamente o réu, o
que até pode gerar uma contestação deixando de estar em revelia
Se o autor não corrige a petição, perderá a ação porque o Juiz já considerou que a petição
é insuficiente ou deficiente
O Juiz verifica a existência de exceções dilatórias, pelo que pode haver também lugar a
um despacho pré saneador para suprimento de exceções dilatórias (despacho de
suprimento, mas de requisitos processuais e não de factos)
160
Findo o prazo para a as alegações escritas, haverá prolação da sentença, a qual pode ser
sob forma simplificada O réu é notificado da sentença, nos termos do artigo 249º nº 2
e nº 5 do CPC
b) Nos casos de revelia inoperante
Os factos não são considerados confessados, pelo que o processo segue a tramitação
processual normal
Se apenas existir o réu não contestante o processo prossegue para a fase de condensação
que será muito mais abreviada e depois há julgamento para se fazerem prova dos factos
Caso existam outros réus contestantes, o processo segue a tramitação normal após ter sido
verificada a regularidade da citação nos casos de revelia absoluta
5 – RÉPLICA
A réplica é o último articulado previsto no CPC (ressalvada a possibilidade muito restrita
de apresentação de articulados supervenientes).
A possibilidade de apresentação de réplica é excecional, dado que está limitada aos casos em
que o réu deduz reconvenção.
Não é possível utilizar a réplica para responder às exceções deduzidas na contestação
(embora haja quem entenda que sim – há diversa doutrina e jurisprudência sobre o tema).
Assim como não é possível aproveitar a réplica para alterar ou ampliar a causa de pedir
e/ou o pedido, sendo a alteração da causa de pedir apenas admissível em consequência da
confissão feita pelo réu e aceite pelo autor (artigo 265º do CPC).
A réplica está prevista no artigo 584º do CPC e é admitida:
a) QUANDO O RÉU DEDUZ PEDIDO RECONVENCIONAL, para defesa do autor
perante a reconvenção (ainda a propósito da reconvenção, há que salientar que a
compensação de créditos pode ser tratada em sede de pedido reconvencional, sempre que
o crédito do réu excede o crédito do autor e o réu pretende o reconhecimento do seu
crédito; mas se o crédito do réu for inferior ou igual ao do autor, terá o mesmo de ser
invocado por exceção - artigo 847º do CC; há também que considerar a competência do
Tribunal para questões reconvencionais - artigo 93º do CPC - e o facto de alguns
processos especiais não admitirem pedido reconvencional).
161
b) NAS ACÇÕES DE SIMPLES APRECIAÇÃO NEGATIVA, para impugnação de
factos constitutivos alegados pelo réu e para alegação de factos impeditivos ou extintivos
dos factos por ele alegados (artigo 584º do CPC) – como nos casos de propriedade plena /
servidões.
Exemplo - na petição inicial o autor pede: Deve o autor ser declarado proprietário pleno do
prédio rústico composto por terra arvense de sequeiro, vinha pastagem, pinhal, mato e um
barracão, sito no lugar da Frieira, a confrontar …, com a área de 7.179 hectares, inscrito na
respetiva matriz predial da freguesia de …, sob o artigo x …, com exclusão de outrem, sem
quaisquer ónus de servidões de passagem ou caminho público. O réu contesta invocando a
existência de servidão de passagem. O autor pode apresentar réplica.
ATENÇÃO: artigo 103º nº 2 do CPC, articulado equivalente a réplica: o autor não pode
replicar quanto a exceções peremptórias, mas o legislador veio dar a possibilidade ao
autor de replicar quanto a exceções de conhecimento oficioso (incompetência relativa), no
prazo de 10 dias.
Outros aspetos:
O prazo da réplica é de 30 dias - Artigo 585º do CPC, havendo possibilidade de
prorrogação deste prazo – Artigo 586º do CPC.
Estrutura da réplica – Segue as regras da contestação e pode ser aproveitada para
responder às exceções (Artigo 552º nº 6 do CPC).
Tendo havido reconvenção e não havendo réplica - Artigo 574º, ex-vi artigo 587º nº
1, ambos do CPC, factos admitidos por acordo (revelia do reconvindo).
A réplica é sempre notificada ao réu (Artigo 221º do CPC).
6. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Ver textos de apoio + minuta.
7. PROCEDIMENTOS CAUTELARES
162
decisão provisória (providência cautelar), que acautele um determinado direito, de modo que
a demora do processo principal não o torne inútil
As providências cautelares são consideradas como um direito à tutela jurisdicional efetiva
pois, enquanto medidas de natureza sumária e urgente, visam antecipar ou garantir o efeito
útil do reconhecimento de um direito (“acautelar o efeito útil da ação” – Artigo 2º nº 2 do
CPC), evitando possíveis prejuízos que possam advir em consequência da demora natural e
inevitável de um processo judicial
A tutela cautelar coloca frequentemente em crise o direito de defesa e ao contraditório,
porque:
há casos em que, havendo contraditório, a tutela cautelar deixa de fazer sentido (exemplo:
o arresto)
pela urgência e natureza da necessidade de tutela, não há tempo para o contraditório
prévio
Tutela cautelar concebida para, em princípio, durar apenas pelo período necessário até
que seja proferida uma decisão definitiva na ação principal – Artigo 364º nº 1 do CPC
i. SUMMARIA COGNITIO: rapidez e urgência implica o aligeirar da exigência da prova,
bastando uma apreciação sumária da existência de um direito que necessita de ser
acautelado - Artigo 365º nº 1 do CPC
ii. DEPENDÊNCIA: dependem de uma ação principal cujo objeto é a própria situação
acautelada ou tutelada - Artigo 364º nº 1 do CPC
iii. EFICÁCIA RELATIVA: a decisão do procedimento cautelar não produz qualquer efeito
de caso julgado na respetiva ação principal, surtindo efeitos somente até ser proferida
uma decisão definitiva na ação principal – Artigo 364º nº 4 do CPC
iv. PROIBIÇÃO DE REPETIÇÃO: sendo julgada injustificada ou tendo caducado, esse
facto preclude a possibilidade de ser intentado um novo procedimento cautelar idêntico
(partes, pedido e causa de pedir) – Artigos 362º nº 4 do CPC
v. CONDICIONAMENTO DA PROVIDÊNCIA À PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO: devido
ao risco inerente ao estado de incerteza quanto à existência do direito que o requerente se
arroga titular, poderá o juiz fazer depender o decretamento da providência cautelar da
imposição de prestação de uma caução – Artigos 374º nº 2 e 376º nº 2 do CPC
163
vi. SUBSTITUIÇÃO DA PROVIDÊNCIA POR CAUÇÃO: procura proteger o requerido
contra o decretamento injustificado de providências cautelares, prevendo a lei a
possibilidade de substituir a providência por caução – Artigo 368º nº 3 do CPC
vii. MODIFICABILIDADE / SUBSTITUIÇÃO / REVOGAÇÃO: podem ser modificadas,
substituídas ou revogadas se se verificar uma alteração das condições de facto ou de
direito que estiveram na base do seu decretamento, sendo que o tribunal não está adstrito
à providência cautelar requerida – Artigos 372º nº 1 alínea b) e 376º nº 3 do CPC
164
O Contraditório: as providências cautelares podem ser decretadas:
Com contraditório prévio
Sem contraditório prévio
165
i. Pedido do requerente nesse sentido – não pode ser por decisão oficiosa do Tribunal
ii. A matéria adquirida no procedimento cautelar deve permitir ao Tribunal formar uma
convicção segura quando à existência do direito acautelado
iii. A natureza da providência deve ser adequada à realização da composição
definitiva do litígio
(3.1) Restituição provisória da posse (Artigos 377º a 379º do CPC e artigo 1279º do CC)
Providência antecipatória e acessória de uma ação principal possessória ou de
reivindicação, destinada a restituir a posse em casos de esbulho violento
Dispensa de prova do periculum in mora
Dispensa de contraditório (artigo 378º do CPC)
Possibilidade de requerer a inversão do contencioso (artigo 376º nº 4 do CPC)
(3.2) Suspensão de deliberações sociais (Artigos 380º a 383º do CPC e 60º nº 1 do CSC
(legitimidade passiva)
(3.3) Alimentos provisórios (Artigos 384º a 387º do CPC e artigo 2007º do CC)
166
(3.4) Arbitramento de reparação provisória (Artigos 388º a 390º do CPC)
(3.5) Arresto (Artigos 391º a 396º do CPC e artigos 619º a 622º do CC)
Providência cautelar conservatória que consiste numa apreensão judicial de bens cujo
valor seja suficiente para assegurar a satisfação patrimonial do direito de crédito
indiciariamente existente, sendo entregues a um depositário à ordem do Tribunal
O periculum in mora traduz-se no perigo de dissipação do património do devedor
Dispensado no caso do artigo 396º nº 3 do CPC
Gera ineficácia de atos dispositivos relativos aos bens arrestados, nos termos aplicáveis à
penhora (artigo 622º nº 1 do CC)
167
O periculum in mora traduz-se no receio de extravio, ocultação ou dissipação de bens ou
documentos
Dispensado nos arrolamentos especiais do 409º do CPC.
Artigo 15º
1- Vencido e não pago o crédito hipotecário ou não cumpridas as obrigações que originaram a
reserva de propriedade, o titular dos respetivos registos pode requerer em juízo a apreensão do
veículo e do certificado de matrícula.
Artigo 21º
1- Se, findo o contrato por resolução ou pelo decurso do prazo sem ter sido exercido o direito de
compra, o locatário não proceder à restituição do bem ao locador, pode este, após o pedido de
cancelamento do registo da locação financeira, a efetuar por via eletrónica sempre que as
condições técnicas o permitam, requerer ao tribunal providência cautelar consistente na sua
entrega imediata ao requerente.
2- Com o requerimento, o locador oferece prova sumária dos requisitos previstos no número
anterior, exceto a do pedido de cancelamento do registo, ficando o tribunal obrigado à consulta
do registo, a efetuar, sempre que as condições técnicas o permitam, por via eletrónica.
168
3- O tribunal ouvirá o requerido sempre que a audiência não puser em risco sério o fim ou a
eficácia da providência. 4 - O tribunal ordenará a providência requerida se a prova produzida
revelar a probabilidade séria da verificação dos requisitos referidos no n.º 1, podendo, no
entanto, exigir que o locador preste caução adequada.
5 - A caução pode consistir em depósito bancário à ordem do tribunal ou em qualquer outro meio
legalmente admissível. 6 - Decretada a providência e independentemente da interposição de
recurso pelo locatário, o locador pode dispor do bem, nos termos previstos no artigo 7.º
7 - Decretada a providência cautelar, o tribunal ouve as partes e antecipa o juízo sobre a causa
principal, exceto quando não tenham sido trazidos ao procedimento, nos termos do n.º 2, os
elementos necessários à resolução definitiva do caso. 8 - São subsidiariamente aplicáveis a esta
providência as disposições gerais sobre providências cautelares, previstas no Código de Processo
Civil, em tudo o que não estiver especialmente regulado no presente diploma.
III– A nomeação de administrador judicial provisório pode ser alvo de deferimento mesmo após
decisão anterior contrária assim se apure, por qualquer meio, a alteração das circunstâncias
factuais que presidem ao apuramento daqueles respetivos pressupostos.
169
Artigo 209º
Sem prejuízo das providências cautelares previstas na lei de processo, pode o autor requerer das
autoridades policiais e administrativas do lugar onde se verifique a violação do seu direito a
imediata suspensão de representação, recitação, execução ou qualquer outra forma de exibição de
obra protegida que se estejam realizando sem a devida autorização e, cumulativamente, requerer
a apreensão da totalidade das receitas.
Artigo 31º
Proibição provisória
1- Quando haja receio fundado de virem a ser incluídas em contratos singulares cláusulas gerais
incompatíveis com o disposto no presente diploma, podem as entidades referidas no artigo 26.º
requerer provisoriamente a sua proibição.
2- A proibição provisória segue, com as devidas adaptações, os termos fixados na lei processual
para os procedimentos cautelares não especificados.
1- Sempre que haja violação ou fundado receio de que outrem calesão grave e dificilmente
reparável do direito de propriedade industrial ou de segredo comercial, pode o tribunal, a pedido
do interessado, decretar as providências adequadas a: a) Inibir qualquer violação iminente; ou
2- O tribunal exige que o requerente forneça os elementos de prova para demonstrar que é titular
do direito de propriedade industrial ou do segredo comercial, ou que está autorizado a utilizá-lo,
e que se verifica ou está iminente uma violação.
170
3- As providências previstas no n.º 1 podem também ser decretadas contra qualquer
intermediário cujos serviços estejam a ser utilizados por terceiros para violar direitos de
propriedade industrial ou segredos comerciais.
6- A pedido da parte requerida, as providências decretadas a que se refere o n.º 1 podem ser
substituídas por caução, sempre que esta, ouvido o requerente, se mostre adequada a assegurar a
indemnização do titular.
3 - Para efeitos do disposto nos números anteriores, o tribunal exige que o requerente
forneça todos os elementos de prova razoavelmente disponíveis para demonstrar que é titular do
direito de propriedade industrial ou do segredo comercial, ou que está autorizado a utilizá-lo, e
171
que se verifica ou está iminente uma violação. 4 - Ao presente artigo é aplicável o disposto nos
artigos 341.º a 343.º
8 – INCIDENTES DA INSTÂNCIA
São ocorrências inseridas na tramitação de uma causa, alguém assume na causa a posição de
parte principal ou a posição de parte acessória
São atos atípicos eventuais que perturbam o andamento normal do processo, originam maior
complexidade da ação, entravam, atrasam a ação
A intervenção deve ser diminuída e restringida aos casos em que há mesmo interesse em
intervir digno de tutela jurídica, porque esse interesse é um obstáculo ao andamento da ação
Disposições processuais gerais - Artigos 292º a 295º do CPC - salientando-se os
seguintes aspetos
172
• Finda a produção de prova há lugar a alegações orais e decisão escrita, à qual são
aplicáveis as regras das sentenças - artigo 607º do CPC (fundamentação)
I. Cabe ao tribunal de primeira instância fixar o valor da causa, estando vedado aos tribunais de
recurso usarem as faculdades previstas no art.º 306.º do Código de Processo Civil.
II. Caso o valor da causa não seja fixado no despacho saneador, na sentença, ou em despacho
proferido incidentalmente sobre o requerimento de interposição de recurso, deve a parte
interessada arguir a nulidade, provocando despacho recorrível. III. Se a parte interessada não
concordar com o valor fixado pelo juiz à causa deve suscitar o respetivo incidente.
173
3. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS – MODIFICAÇÕES SUBJETIVAS
INTERVENÇÃO PRINCIPAL - Há três tipos de modificações subjetivas da instância
através da intervenção principal, consoante a legitimidade de quem intervém
i. Principal: Alguém que intervém com estatuto de parte principal e que invoca um direito
paralelo ou igual ao das partes primitivas, alguém se associa a quem já é autor ou réu na
causa
ii. Acessória: Alguém vai intervir num estatuto diminuído, com menos poderes processuais,
não para invocar um direito próprio, mas para auxiliar uma das partes na medida em que
invoca um direito subordinado, dependente do que está em juízo, na titularidade da parte
principal que se pretende auxiliar
iii. Oposição: Há um terceiro que intervém também com um estatuto reforçado de parte
principal mas intervém não para se associar a uma das partes, mas para entrar em colisão
ou conflito com ambas as partes que estão no processo, alguém invoca a titularidade da
relação material controvertida discutida entre autor e réu, o interveniente entra em colisão
frontal com ambas as partes, não se associa a uma contra a outra, choca com os interesses
de ambas as partes principais
Depois há que distinguir estas várias formas de intervenção, consoante elas sejam:
a) ESPONTÂNEAS - é o terceiro que se apresta a deduzir uma pretensão em juízo de sua
própria iniciativa (Artigos 311º a 315º do CPC)
b) PROVOCADAS - é uma das partes que chama o terceiro (Artigo 316º nº 1 do CPC)
Situação de litisconsórcio necessário (artigos 33º e 35º do CPC) é diferente de todas as
outras situações.
Exemplo: A, B e C celebram um CPCV com D; Este entra em incumprimento definitivo;
Só o A intenta ação a pedir o sinal em dobro; Não pode, senão o litígio não fica
definitivamente composto; Incidente de intervenção principal provocada (litisconsórcio
necessário ativo);
Exemplo: J e M intentam ação contra S, pedindo que sejam reconhecidos como
proprietários de prédio sito em Lisboa, que dizem não fazer parte do acervo da herança
174
que S herdou conjuntamente com os seus irmãos; tratando-se de herança indivisa; os
irmãos têm de ser chamados (artigo 2091º do CC direitos relativos a herança indivisa só
por todos e contra todos); litisconsórcio necessário passivo;
Situação de litisconsórcio voluntário (artigos 32º e 35º do CPC)
175
confronto do réu de uma ação de regresso conexa com o objeto do litígio e que corre
entre as partes primitivas.
· O Juiz faz apreciação prudencial e casuística da seriedade, o juiz tem “a faca o queijo
na mão” para dizer não aqui nenhum direito de regresso.
· Rejeição liminar irrecorrível (exemplo: o réu indica diversos devedores no estrangeiro
que não se conseguem citar, delonga do processo, daí as regras deste incidente, 60
dias para as citações, se não se conseguir concretizar as mesmas, o processo segue
contra os citados e os não citados saem da ação.
· Acessória do Ministério Público: Artigo 325º do CPC - Representação dos ausentes e
incapazes; nos processos de acompanhamento de maior, em que o MP não tenha sido
o requerente, este defende o beneficiário.
· Assistência: Artigos 326º a 332º do CPC.
Oposição espontânea – Artigos 333º a 337º do CPC
· Exemplo: Construtora M intenta ação contra P e pede que seja reconhecida a sua
propriedade sobre imóvel e a sua restituição livre e devoluto; vem uma Igreja requerer
a sua intervenção como opoente – oposição – invocando contrato de arrendamento de
20 anos (a oposição destina-se a permitir a participação de um terceiro que é titular de
uma situação subjetiva incompatível com aquela que é alegada pelo autor e pode ser
total ou parcial, consoante o confronto da situação subjetiva alegada pelo opoente
com aquela que o autor pretende fazer valer; tem em vista a economia e celeridade
processual).
· Oposição provocada – Artigos 338º a 341º do CPC
· Só se admite quando o opoente que declara que está disposto a satisfazer a prestação e
só não o faz por desconhecer a verdadeira identidade do credor, nestes casos o réu que
lança mão desta oposição tem de consignar o valor da quantia devida, consigna a
prestação à ordem do tribunal, para evitar manobras dilatórias.
· Embargos de terceiro – Artigos 342º a 350º do CPC
· Exemplo: A, maior, vive em casa dos pais e está cheio de dívidas. Saí de casa, para
morada desconhecida. Um credor move execução contra A, indicando como
habitação permanente de A a casa dos pais e nomeando à penhora o recheio desta
casa. Os pais, confrontados com a penhora, podem deduzir embargos de terceiro.
176
4. HABILITAÇÃO – Artigos 351.º a 357.º do CPC
POR SUCESSÃO (varia consoante já exista ou não Escritura Notarial de Habilitação /
Processo Simplificado de Habilitação da Conservatória do Registo Civil)
DE CESSIONÁRIO (cessão de créditos / cessão de posição contratual)
NOTA IMPORTANTE: ver o Decreto-lei nº 42/2019 de 28 de Março, que estabelece um
regime simplificado para a cessão de créditos em massa, que entrou em vigor em 01/07/2019
1) O valor fixado no despacho saneador, nos processos de liquidação é, ou pode ser, provisório,
podendo ser corrigido quando e se o processo fornecer elementos que impliquem que o valor
deva ser outro;2) O incidente de liquidação destina-se a concretizar, em objeto ou quantidade,
uma condenação genérica;
II-O tribunal de primeira instância não deve condenar “no que se vier a liquidar em execução de
sentença”, porque tal correspondia ao estabelecido no art. 661.º, n.º 2 do C.P.C. na redação
anterior à entrada em vigor do Dec.Lei n.º 38/2003 de 8/3, mas antes “no que vier a ser
liquidado” no incidente de liquidação, que o mesmo diploma legal reconfigurou nos art.s 378.º e
ss do C.P.C. pretérito, eliminando simultaneamente o enxerto declarativo de prévia liquidação de
177
sentença pelo tribunal, no quadro da ação executiva, que até então vinha estabelecido nos art.s
806.º a 810.º do C.P.C..
III-Sendo a presente execução instaurada no âmbito da vigência do NCPC e tendo havido uma
condenação genérica, nos termos atualmente estabelecidos no art. 609.º, n.º 2 do C.P.C.), a
sentença só constitui título executivo após liquidação no processo declarativo, sem prejuízo da
imediata exequibilidade da parte que seja líquida (art. 706.º n.º 6 do C.P.C.).
IV-Estando em causa, uma liquidação do valor do capital das prestações vincendas, acrescido
dos juros, de “prémios de seguro vida” vincendos e “issj”, que também aparecem na
contabilização feita pelo exequente, por referência ao “plano financeiro” que juntou em anexo ao
requerimento executivo, a liquidação, no caso concreto, deveria ser deduzida mediante incidente
de liquidação, apresentado no processo de declaração, cuja instância extinta se renova (art.s 358º,
359º e 360º do C.P.C. vigente), pelo que a sentença não constitui título executivo nessa parte (art.
704.º n.º 6 “a contrario” do C.P.C.).
V-Em consequência, deve o juiz indeferir liminarmente o requerimento executivo, por ser
manifesta a falta de titulo executivo.
Outras notas: os incidentes estão sujeitos a custas / prévio pagamento de taxa de justiça (VER:
Regulamento das Custas Processuais)
178
9. FASE INTERMÉDIA DO PROCESSO
1. DESPACHO PRÉ-SANEADOR
Intervenção ativa do Juiz, que ainda não tomou conhecimento do processo (exceto nos casos
do artigo 226º nº 4 do CPC)
Juiz pode indeferir liminarmente a petição inicial, o que tem de ocorrer antes da contestação,
pois se já houver contestação, as causas de indeferimento são apreciadas no despacho
saneador – artigo 595º nº 1 alíneas a) e b) do CPC; o despacho de indeferimento da petição
inicial é sempre recorrível - artigo 629º nº 3 alínea c) do CPC
O despacho pré-saneador está revisto no artigo 590º nº 2 do CPC e visa:
Remover obstáculos de natureza processual, como o suprimento de exceções dilatórias -
artigo 6º nº 2 do CPC
O aperfeiçoamento fáctico dos articulados – artigo 590º nº 4 e artigos 6º e 7º do CPC
A junção de documentos para permitir decisão no saneador – 590º nº 2 c) do CPC
É um despacho vinculado
Dever de gestão do processo a cargo do Juiz, relacionado com o artigo 6º e 7º do CPC
2. AUDIÊNCIA PRÉVIA
Deve ser convocada, para um dos 30 dias seguintes à conclusão das diligências subsequentes
ao pré-saneador (artigo 591º nº 1 do CPC)
Delimitação daquilo que é verdadeiramente essencial para a plena compreensão do litígio e
sua justa composição
É inadiável (artigo 591º nº 3 do CPC)
Programação da audiência final (datas, sessões, etc.)
Meio essencial para operarem os princípios da cooperação, contraditório e oralidade,
privilegia o contacto entre o Juiz e as partes
Implica estudo duplo do processo e custo acrescido para as partes com deslocações ao
Tribunal
Fins da audiência prévia:
179
Artigo 591º do CPC: debate para suprir eventuais insuficiências ou imprecisões na
factualidade alegada
O Juiz expõe, no diálogo com as partes, as dificuldades detetadas, promovendo, através
da oralidade, o esclarecimento e a correção, expurgando o essencial do acessório
Pode ser marcada só para os fins das alíneas a), b), d), f) e g) do nº 1 do 591º do CPC,
podendo só servir para atrasar o processo
Regime regra devia ser o do artigo 597º do CPC (para ações de valor não superior a metade
da alçada da Relação) - findos os articulados, o Juiz opta por marcar a audiência prévia ou
proferir despacho saneador
Questões que podem ser colocadas a propósito da audiência prévia:
Nas outras ações, a obrigatoriedade da audiência prévia conflitua com a adequação
formal? Com o previsto no 593º nº 2 b) do CPC? Em que o Juiz pode dispensar? E as
partes podem requerer que seja convocada?
Obrigatoriedade da gravação - artigo 591º nº 3 e nº 4 do CPC - mas se as partes
concordarem dispensa-se a gravação e tudo fica em ata? Sim, porque a sua realização e
conteúdos são documentados em ata se assim for requerido ou ordenado (artigo 155º nº 7
do CPC)
Artigo 594º nº 4 do CPC – frustrando-se a conciliação, devem ficar consignadas em ata as
soluções sugeridas pelo Juiz e os fundamentos que justificam a persistência do litígio (e
sigilo profissional - artigo 92º do EOA?)
Artigo 595º nº 2 do CPC – saneador é ditado para a ata - Identificação do objeto do litígio
e temas da prova na audiência prévia são apenas gravados, a menos que seja ordenada a
transcrição - artigo 155º nº 5 do CPC - o Juiz na audiência final tem de ouvir a gravação?
Outros aspetos:
Adequação formal, a simplificação ou agilização do processo
Alteração dos requerimentos probatórios (artigo 598º nº 1 do CPC)
Programação dos atos da audiência final, número de sessões e duração
Não se realiza quando o processo deve findar com o saneador por procedência de exceção
dilatória, as questões já tenham sido debatidas nos articulados, tenha sido dispensada pelo
Juiz
180
Artigo 593º nº 2 do CPC, a parte pode pedir para reclamar, ainda que seja só a
reclamação da programação dos atos da audiência final
Identificação do objeto do litígio (assunto / causa de pedir) e os temas da prova (base
factual sobre a qual a prova irá incidir) ver artigo 410º do CPC
Artigo 597º do CPC, nas ações de valor não superior à alçada da Relação, findos os
articulados, o Juiz pode optar pela audiência prévia ou saneador, o Juiz dispensa o
saneador nas causas de maior simplicidade
Nas ações com valores superiores a 15 mil euros, a audiência prévia é obrigatória
Artigo 592º nº 1 do CPC - situações em que não há audiência prévia: ações não
contestadas e revelia inoperante, o Juiz não está dispensado do saneador, caso não use a
adequação formal; ações findas no saneador com conhecimento de exceção dilatória
10 – ARTICULADOS SUPERVENIENTES
181
Nos 10 dias posteriores à notificação da data designada para a realização da
audiência final, quando não se tenha realizado a audiência prévia
E na audiência final, se os factos ocorrerem, ou a parte dele teve conhecimento em data
posterior às anteriormente referidas (artigo 596.º do CPC)
Artigo 588º nº 4 do CPC - Despacho liminar; Provas oferecidas com o articulado e resposta
(esta no prazo de 10 dias)
Em caso de não impugnação, os factos consideram-se admitidos por acordo (artigo 574º
nº 1 do CPC), exceto nos casos do nº 2 do 574º do CPC
Artigo 596º do CPC - factos constituem tema de prova
182
“Resquícios” – Artigo 611º do CPC, atendibilidade na sentença de factos que se
produzam posteriormente à proposição da ação;
Artigo 729º alínea g) do CPC, oposição à execução pode fundar-se em factos
supervenientes
183
Portanto, a suspensão da instância é possível, mas desde que não implique o adiamento
da audiência final (artigo 272º nº 4 do CPC), tudo atendendo aos princípios de economia
processual e celeridade
Se as partes convencerem o Juiz de que a transação só depende de uma garantia, de uma
ratificação de um órgão social, por exemplo, o Juiz pode suspender, mas sem marcar
nova data
Se depois o acordo não se consumar e tiver de ser marcada nova data – litigância de má-
fé (alínea d) do nº 2 do artigo 542º do CPC)
Contudo - artigo 273º do CPC – suspensão em caso de mediação
184
- Ver o Acórdão do TRG, Processo 532/17.1T8VCT.G1, de 15-02-2018
II. Nestas circunstâncias, a Exma. Mandatária, não estando ainda munida de documento
comprovativo do impedimento legítimo alegado, deve convencer o Juiz da seriedade do motivo
invocado com vista ao adiamento da diligência, sem prejuízo de posteriormente, no mais curto
prazo ou logo que possível, remeter o documento justificativo da sua ausência, não lhe sendo
exigível que o faça com aquela comunicação.
Mas se a marcação não foi por acordo com os mandatários, a falta constitui motivo de adiamento
(artigo 603º nº 1 do CPC)
4. DISCIPLINA DA AUDIÈNCIA
Artigo 599º do CPC - a audiência decorre perante Juiz singular
A regra geral é a de que a prova se produza em audiência
185
Exceção - Artigo 600º do CPC - para as ações de responsabilidade civil que carecem de
exame para determinação dos danos que envolve mais de três meses, pois nestes casos o
autor pode pedir a realização da audiência, sem prejuízo do disposto no artigo 609º nº 2 do
CPC (o Juiz condena no que vier a ser liquidado em execução de sentença)
Quem comanda a audiência final é o Juiz - Artigo 602º do CPC
Poderes para tornar útil e breve a discussão e para assegurar a justa decisão da causa
Dirige os trabalhos e assegura o cumprimento da programação definida − Mantém a
ordem
Toma providências para que se desenvolva com elevação e serenidade
Exorta advogados e ministério público a abreviarem requerimentos, inquirições,
instâncias e alegações, retira a palavra
Pede esclarecimentos quanto às questões obscuras e duvidosas
Sequência dos atos
Comparecer pontualmente e aguardar a chamada
Cumprimentar os advogados da parte contrária e também esta (dever de correção e
urbanidade, educação)
Promover ou manifestar abertura para uma troca de impressões com a parte contrária
sobre possibilidade de acordo
Se não for possível o acordo, avança-se para a sala de audiência, onde não há lugares
marcados, mas o cliente deve ir e pode sentar-se ao lado do advogado (inconvenientes:
perturbação e possíveis declarações de parte, pois neste caso não convém que esteja na
sala antes de prestar declarações)
A parte deve comparecer, até porque se as testemunhas não veem a parte, não gostam
5. ATOS DA AUDIÊNCIA
(1) Artigo 604º nº 2 do CPC – tentativa de conciliação
(2) Artigo 604º nº 3 do CPC – produção de prova (mas há que ver se antes disso há lugar a
resposta a exceções do último articulado admissível (artigo 3º nº 4 do CPC), pedir a palavra logo
no início, se o Tribunal não a conceder para esse efeito
186
i. Depoimentos de parte (artigos 452º e seguintes do CPC): a parte presta juramento e o
interrogatório é efetuado pelo Juiz, os advogados só pedem esclarecimentos, se resultar em
confissão ou se o depoente narrar factos ou circunstâncias que impliquem indivisibilidade da
confissão, o depoimento é reduzido a escrito (assentada), pelo que fica registado na ata,
sendo a redação incumbência do Juiz
ii. A seguir, prova por declarações de parte (se já tiver sido requerida, artigo 466º do CPC)
iii. Exibição de reproduções cinematográficas ou registos fonográficos
iv. Esclarecimentos verbais dos peritos (artigo 484º do CPC), os peritos apresentaram
relatório, mas podem as partes requerer que compareçam na audiência final para prestar
esclarecimentos ou o Juiz pode determinar essa comparência
v. Inquirição de testemunhas (artigo 500º do CPC), ver artigo 512º do CPC sobre o
juramento (postura, sem óculos de sol, bonés, mãos nos bolsos, pastilhas elásticas); ver artigo
513º do CPC sobre a razão de ciência; usar de palavras percetíveis, sem artifícios ou
sugestões; a contra instância da parte contrária - artigo 516º do CPC - para completar ou
esclarecer o depoimento, o advogado da parte contrária deve tentar desacreditar a mesma,
levá-la a cair em contradição, se se exceder, devemos intervir; o Juiz não deve permitir o
tratamento da testemunha com hostilidade, desprimor, deve assegurar a tranquilidade da
testemunha (artigo 95º do EOA – tratamento com urbanidade); artigos 518º e 519º do CPC
(depoimentos por escrito)
Artigo 526º do CPC - inquirição oficiosa por parte do Juiz de testemunha não arrolada - É
possível mas tem de haver meios de prova, não pode ser forma de suprir tal falta
Podem ser juntos documentos em audiência - artigos 423º e 424º do CPC
No decorrer da produção de prova testemunhal pode surgir a necessidade de:
uma acareação (artigo 523º do CPC)
deduzir incidente de contradita (artigos 521º e 522º do CPC)
impugnar documentos (artigos 444º e seguintes do CPC)
uma inspeção judicial (artigo 490º do CPC)
Atenção:
Artigo 604º nº 8 do CPC – o Juiz pode alterar a ordem de produção de prova e pode
determinar a audição simultânea de testemunhas
As pessoas ouvidas não podem ausentar-se sem autorização – Artigo 606º nº 5 do CPC
187
(3) Alegações finais orais – artigo 604º nº 5 do CPC
13 – SENTENÇA
Ler textos de apoio disponibilizados no Moodle.
14 - RECURSOS
1. QUESTÕES PRÉVIAS
Antes de entrar nas questões relativas à tramitação dos recursos, há que ter em atenção o
seguinte:
188
Este CPC estabelece medidas sancionatórias quanto a comportamentos dilatórios,
nomeadamente através das normas limitativas do direito ao recurso quanto a meras decisões
interlocutórias (artigo 630º do CPC), pois dos despachos interlocutórios só será
admissível recurso se:
este tiver por fundamento a violação dos princípios da igualdade e do contraditório
a nulidade cometida tiver influência no julgamento do mérito, por contender com a
aquisição processual e admissibilidade de meios de prova
O interessado só pode arguir a nulidade da sentença que seja mesmo ininteligível e, cabendo
recurso da decisão final, as nulidades são suscitadas no recurso, na alegação de recurso, e o
Juiz aquo pronuncia-se antes da subida do recurso, suprindo as nulidades, se for o caso
No que respeita a decisões sobre competência territorial, o meio impugnatório é a reclamação
(em vez do recurso) para o Presidente do Tribunal Superior (artigo 105º nº 4 do CPC)
Suprimiram-se as reclamações por nulidades e os pedidos de aclaração ou reforma,
vigorando agora o disposto no artigo 615º do CPC
Ação Declarativa Comum – Recursos: a decisão considera-se transitada em julgado logo
que não seja suscetível de recurso ordinário ou de reclamação (artigo 628º do CPC)
Transitada em julgado, a sentença produz os seus efeitos (artigos 619º a 626º do CPC) –
CASO JULGADO
Regras gerais em matéria de recursos – Artigos 627º a 643º do CPC
A reter ainda a norma geral prevista no artigo 218º do CPC (novo recurso - mesmo
relator)
2. ESPÉCIES
i. Recursos Ordinários (anteriores ao trânsito em julgado) - Espécies:
3. EFEITO
189
Apelação
4. MODO DE SUBIDA
Apelação
6. RECORRIBILIDADE
As decisões que não se mostrem excluídas por natureza (artigo 630º do CPC) são
recorríveis desde que:
A causa tenha valor superior à alçada do tribunal de que se recorre (Tribunais da Relação:
€ 30.000,00; Primeira Instância: € 5.000,00 – artigo 44º da LOSJ); e
A decisão impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da
alçada desse tribunal, atendendo-se, em caso de fundada dúvida acerca do valor da
sucumbência, somente ao valor da causa (artigo 629º nº 1 do CPC)
Exceções:
Artigo 629º nºs 2 e 3 do CPC
Dupla conforme (artigo 671º nº 3 do CPC): Sem prejuízo dos casos em que o recurso é
sempre admissível, não é admitida revista do acórdão da Relação que confirme, sem voto
190
de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente, a decisão proferida na 1ª
instância, salvo nos casos previstos no artigo seguinte.
Ou seja, vigora o princípio da irrecorribilidade quanto aos acórdãos que confirmem,
sem voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente, a decisão proferida
na 1ª instância.
Recusa ou despacho que não admite o recurso – pode dar lugar a Reclamação (artigo
643º do CPC)
7. ESTRUTURA DO PROCESSO
I - INTERPOSIÇÃO (artigos 637º nº 1 e 638º do CPC)
• Endereço
• Cabeçalho
• Valor
191
a) Se visar a decisão sobre a matéria de facto deve o recorrente obrigatoriamente
especificar, sob pena de rejeição (artigo 640º do CPC)
o Os concretos pontos de facto que considera incorretamente julgados
o Os concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele
realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa
da recorrida (n.º 2)
o A decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de facto impugnadas
b) Se visar a decisão sobre a matéria de direito as conclusões devem indicar (artigo 639º nº
2 do CPC)
o As normas jurídicas violadas
o O sentido com que, no entender do recorrente, as normas que constituem fundamento
jurídico da decisão deviam ter sido interpretadas e aplicadas
o Invocando-se erro na determinação da norma aplicável, a norma jurídica que, no
entendimento do recorrente, devia ter sido aplicada
❖ Pedido
De salientar ainda:
O disposto no artigo 652º do CPC - Função do relator
A possibilidade de reclamação para a conferência nos nºs 2 e 5 da referida norma
O disposto no artigo 660º do CPC (efeitos da impugnação de decisões interlocutórias)
O disposto no artigo 662º do CPC - modificação da decisão de facto (nº 1); produção
de prova, renovação (nº 2); na própria Relação (nº 3)
No âmbito do recurso de APELAÇÃO, a 2ª instância tem poderes em sede de
reapreciação da matéria de facto impugnada, podendo anular a decisão recorrida, com
vista ao alcance da verdade material
192
Quanto ao recurso de REVISTA, de salientar que o STJ só tem poderes de cognição
sobre a matéria de Direito (artigo 674º do CPC)
Podem também existir APELAÇÕES PARA O STJ, de decisões de 1ª instância
proferidas pelas Relações (artigo 974º do CPC)
Estes traços são gerais, para a ação declarativa comum, embora se apliquem a muitas ações
especiais (não podendo, contudo, descurar-se o regime processual próprio das ações
especiais)
Para além disso, há casos de IRRECORRIBILIDADE e RECORRIBILIDADE previstos
no CPC, passando a citar-se alguns exemplos:
IRRECORRIBILIDADE RECORRIBILIDADE
119.º n.º 5 116º nº 5
123.º 150º nº 5
129º al. c) 257º nº 2
226º nº 5 542º nº 3
370º nº 2 559º nº 2
569º nº 6 617º nº 2
590º nº 7 901º
595º nº 4 1081º nº 3
605º nº 1
617º nº 1
725º nº 2
812º nº 7
988º nº 2
999º
155º nº 5
630º nº 2
370º nº 1
511º nº 4
193
15 – PROCESSO EXECUTIVO
Ver notas da Formadora.
194