Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Conjunto de peças apresentadas por uma e outra parte para servir à instrução e
julgamento de uma questão.
Conflito de interesses: só surge a partir do momento em que as normas jurídicas não são
respeitadas – casos em que o devedor não satisfaz a prestação devida ao credor ou em que um
individuo se apropria ou danifica a coisa pertencente a outrem.
Nos sistemas primitivos, uma das forças utilizadas para que as pessoas respeitassem as
normas jurídicas era através do emprego de força e mais propriamente autodefesa ou
ação direta.
Art. 1º C.Proc.C: proíbe a autodefesa determinando que a ninguém é lícito o recurso à força
com fim na realização ou assegurar o próprio direito, salvo os casos referidos na lei.
− Art. 1277º
− Art. 1037º/2
O Estado obriga-se a conceder ao titular do direito
− Art. 1125º/2
violado a reintegração efetiva do seu direito – através dos
− Art. 1133º/2
tribunais (as decisões destes são obrigatórias para todas as
− Art. 1188º/2
entidades públicas e privadas, além de prevalecerem sobre as
de quaisquer outras autoridades – art. 205º/2 CRP).
Capítulo I – Conceito, Natureza e Importância do Processo Civil
1. Alguns princípios e deveres estruturantes do processo civil
A. Garantia do acesso aos tribunais – art. 2º/1
A proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter a decisão judicial.
Como sabemos, nem todos tem capacidade económica para suportar os custos das ações; por
isso, é imprescindível que eliminemos esses obstáculos económicos – publicação da lei que
regula o acesso ao direito e aos tribunais de forma a possibilitar a consulta jurídica e o apoio
judiciário a favor de quem se encontre em situação de insuficiência económica.
Quando o direito de uma pessoa é violado por outra, e estamos perante um conflito de
interesses, o tribunal só pode resolver esse conflito se os interessados lhe pedirem – petição
inicial.
Aqui, as partes dispõem do processo e cabe ao juiz controlar a observância das normas
processuais e proferir a decisão acerca do conflito de interesses que determinou a proposição
da ação.
Art. 9º - o tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada a deduzir oposição.
O juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação – art.
608º/2.
A sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso o que se pedir –
art. 609º/1.
Se o réu, depois de notificado, não impugnar os fatos articulados pelo autor na petição inicial,
consideram-se admitidos por acordo – art. 574º/2
Às partes cabe fazerem o ónus da prova dos fatos que constituem fundamento da ação ou da
defesa – art. 342º CC.
O juiz pode requisitar informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias – art. 436º/1
Pode ainda determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento –
art. 452º/1
O tribunal pode ordenar a realização de segunda perícia, desde que seja necessária – art.
487º/2.
O tribunal pode inquirir uma pessoa não oferecida como testemunha – art. 526º/1
Todos os fatos levados a tribunal por uma das partes tem de ter direito ao contraditório – a
outra parte tem direito a contradizer os fatos apresentados.
O réu tem de ser citado para contestar a ação e é lhe proporcionado a oportunidade de se
defender – art. 569º/1 (é através desta ação, que se dá o cumprimento deste princípio).
Este princípio permite que cada uma das partes deduza as suas razoes, ofereça as suas provas,
controle as provas dos adversários.
O juiz deve observar e fazer cumprir o princípio do contraditório salvo casos de manifestação
desnecessário sobre decidir questões de direito ou de fato – art. 3º/3.
Só nos casos excecionais previstos na lei se podem tomar providências contra determinada
pessoa sem que esta seja previamente ouvida – art. 3º/2.
O preceito refere-se às providências cautelares que em alguns casos podem ser decretadas
sem prévia audição do requerido (art. 366º/1 e art. 393º/1) sendo que nestes casos, o
princípio do contraditório será observado em momento ulterior e em que se dá ao requerido a
possibilidade de se defender.
Ambas as partes devem ser consideradas como detentoras dos mesmos direitos e oneradas
com os mesmos deveres e em que se encontram numa posição de plena paridade entre si e
perante o tribunal – igualdade de posições como sujeitos processuais.
Art. 4º: o tribunal deve assegurar, ao longo de todo o processo, um estatuto de igualdade
substancial das partes, designadamente no exercício de faculdade, no uso de meios de defesa
e na aplicação de cominações ou de sanções processuais.
E. Princípio da cooperação
O referido dever de cooperação tem como limites os que vem consagrados no art. 417º/3
O art. 32º/8 CRP determina a nulidade de todas as provas obtidas mediante tortura, coação,
ofensa da integridade física ou moral da pessoa, intromissão abusiva na vida privada, no
domicílio na correspondência ou nas telecomunicações.
Sempre que alguma das partes alegue com justificação que está com dificuldade em obter
documento ou informação necessários ao processo, o juiz deve providenciar pela remoção do
obstáculo – art. 7º/4.
Todas as pessoas, mesmo que não sejam partes na causa, tem o dever de prestar a sua
colaboração para a descoberta da verdade ao responder ao que lhes for perguntado – art.
417º/1 – e os que se recusarem são condenados em multa imposta pelo art. 417º/2. Quando
esta recusa é proveniente de uma parte e se torna inviável a realização da diligencia prevista
através da utilização de meios coercitivos, o tribunal apreciará livremente o valor da recusa
para efeitos probatórios (ex: investigação de paternidade em que o pai se recusa a sujeitar-se a
um exame hematológico).
Para além disso, o tribunal pode inspecionar coisas ou pessoas – art. 490º/1. Pode ainda
inquirir uma pessoa que não foi oferecida como testemunha se houver razões para presumir
que essa pessoa tem conhecimento de fatos importantes para a boa decisão da causa – art.
526º/1.
A lei impõe em alguns casos que o juiz tenha o dever de convidar as partes a suprir deficiências
ou imprecisões na exposição da matéria de fato – art. 590º. A omissão deste dever constitui
nulidade nas circunstâncias previstas no art. 195º.
O art. 130º proíbe a realização de atos inúteis e o art. 131º determina que os atos processuais
têm a forma que melhor corresponda ao fim que visam atingir.
O juiz deve começar por não admitir que sejam praticados atos inúteis – art. 130º.
Este dever justifica que ao juiz sejam atribuídos poderes que realmente lhe permitam obstar a
essa prática dilatória com a finalidade de agilizar a justa solução do conflito.
Nos casos do art. 193º, no caso de erro na forma de processo ou no meio processual, é
permitido a anulação apenas dos atos que não possam ser aproveitados, e o juiz deve corrigir
oficiosamente o erro na qualificação do meio processual utilizado pela parte.
É admissível a retificação de erros de cálculo ou de escrita – art. 146º/1. Por sua vez, o seu nº2
permite algumas limitações, o suprimento ou correção de vícios ou omissões puramente
formais de atos praticados.
O juiz tem de programar após a audição dos mandatários, os atos a realizar na audiência final,
no âmbito da audiência prévia – art. 591º/1/g.
Findo os articulados, o juiz pode determinar a junção de documentos com vista a permitir a
apreciação de exceções dilatórias – art. 590º/2/c.
O juiz pode adquirir a inquirição de testemunhas para além do limite previsto – art. 511º/4.
Pode ainda ordenar a apensação de ações, a requerimento de qualquer das partes – art. 267º.
O juiz pode aplicar uma taxa de justiça sancionatória quando a ação, oposição, requerimento
seja manifestamente improcedente e a parte não tenha agido com a prudência ou diligência
devida – art. 531º.
A parte tem o dever de não formular pretensão ou oposição cuja falta de fundamente devia
conhecer, de não alterar a verdade dos fatos e de não omitir fatos relevantes para a decisão da
causa.
Quando se consegue o dever de cooperação, a omissão grave de tal dever constitui igualmente
litigância de má fé. Para que se considere litigância de má fé devemos saber que uma das
partes atuou com dolo ou com negligência grave, para além de se exigir que o litigante tenha
consciência de que não lhe assistia razão.
A defesa convicta de uma perspetiva jurídica dos fatos diversa daquela que a decisão judicial
acolhe a litigância censurável a despoletar a atuação da norma sancionatória.
A parte não deve ser condenada sem que o juiz dê previamente cumprimento ao princípio do
contraditório.
Exige-se o dever de correção a todos quantos intervêm no processo, contém uma referência
especial ao dever de urbanidade que se impõe nas relações entre advogados e magistrados.
O EOA determina que os advogados, no exercício da sua profissão, devem proceder com
urbanidade, nomeadamente para com os colegas, magistrados, árbitros… - art. 95º da Lei nº
145/2015, de 9/9. Este diploma no seu art. 110º/1, determina que o advogado deve exercer o
patrocínio dentro dos limites da lei e da urbanidade sem prejuízo do dever de defender
adequadamente os interesses do seu cliente.
O art. 9º conjuntamente com o art. 150º diz respeito à manutenção da ordem nos atos
processuais. Nestes deve ser mantida a ordem competindo ao magistrado que a eles presida
tomar as providências necessárias contra quem perturbar a sua realização.
Devemos ter em conta um especial dever de urbanidade nas relações entre os mandatários
judiciais e os funcionários que assenta na circunstância de os advogados gozarem de um
peculiar estatuto funcional que os considera indispensáveis na administração da justiça.
Este dever impõe ainda às partes intervenientes no processo que não usem, nos seus escritos
ou alegações orais – art. 9º/2.
Ao juiz é imposto o dever de fazer a devida comunicação aos advogados e por sua vez a
secretaria deve fazer a comunicação às partes e demais intervenientes.
O cumprimento do dever de correção impõe que as pessoas não tenham de esperar muito
tempo pelo início das diligências programadas sem que sejam elucidadas a tal respeito. Se não
houver comunicação implica a dispensa automática dos intervenientes processuais – art.
151º/7.
Se for omitido o dever de comunicar aos intervenientes presentes para a diligência a razão do
seu atraso, dentro dos 30 minutos posteriores à hora designada para o seu início, as pessoas
têm a possibilidade de se ausentarem legitimamente – não significa que estão dispensados da
intervenção.
São as normas contidas no Código do Processo Civil que regula, todo o percurso da ação até
ser proferida a sentença.
A ação, cujos trâmites são os que constam do Código de Processo Civil destina-se à realização
efetiva do direito substantivo contido no Código Civil. O direito processual apenas indica os
meios para obter a decisão naquele caso concreto, e não regula os conflitos substanciais de
interesses suscitados entre os particulares.
As normas de processo civil são de aplicação imediata (as respetivas leis não atribuem nem
retiram direitos) sempre a que lei é alterada.
Para além disto tudo, é uma norma de direito público porque regula o exercício de uma função
do Estado representado pelos tribunais que são órgãos de soberania. Entre as partes e o
Estado existe uma relação de subordinação em que o Estado é revestido do seu ius imperii –
explica a força vinculativa de que gozam as decisões judiciais.
O direito processual civil serve um interesse púbico quando impede o recurso à justiça privada
e assegura a paz social e a segurança dos bens.
Quando surge um conflito que se torna necessário dirimir, não se confronta apenas os
interesses das partes, mas também o interesse público que diz respeito à paz social.
Por último, a ação constitui o meio próprio para se alcançar a tutela adequada aos direitos
previstos na lei substantiva, e é evidente que o deficiente conhecimento das normas
processuais pode comprometer o êxito de pretensão deduzida por quem propõe uma ação.
Com as reformas que o CPC teve, tem se procurado assegurar a prevalência da justiça material
sobre a justiça formal que torna menos graves as consequências derivadas do conhecimento
defeituoso do direito processual.
Não existe nenhum sistema em que seja possível eliminar as consequências da falta de
conhecimento das normas processuais – ónus de alegar (art. 639º e 281º/2), ónus de
impugnação (art. 574º).
3. Espécies de ações
3.1 Ações executivas
Ações em que o credor requer as providencias adequadas à realização coativa de uma
obrigação que lhe é devida – art. 10º/4.
É invocada a falta de cumprimento de uma obrigação expressa na sentença ou constante
de documento (título executivo).
O credor/exequente requer a reintegração do direito violado ou ainda a aplicação de
sanções pela violação do direito.
O título executivo é a sentença condenatória – sentença que condena no cumprimento de
qualquer obrigação – conjuntamente com outros documentos – art. 703º
O art. 705º equipara as sentenças aos despachos e quaisquer outras decisões que
condenem no cumprimento de uma obrigação
Para ser exequível, a sentença deve já ter transitado em julgado, salvo se o recurso contra
ela interposto tiver efeito meramente devolutivo – art. 704º/1
A execução pode ser para pagamento de quantia certa (art. 724º e ss), para entrega de
coisa certa (859º e ss) e para prestação de fato (art. 868º e ss).
Exemplo:
Francisco considera-se proprietário de um determinado imóvel por este lhe ter sido
vendido por António. Por sua vez, Gonçalo diz-se proprietário desse imóvel alegando que
o comprou ao mesmo António. Na ação que o Francisco propõe, pede que o tribunal
declare que é ele o proprietário do imóvel em questão.
Se o autor, após o reconhecimento da existência ou não do direito, não pretende mais que
a declaração formal dessa existência ou não do direito – ação de simples apreciação.
Ação de condenação: o autor pretende não só que seja declarado o seu direito violado pelo
réu, mas que este também seja condenado à reintegração desse mesmo direito, através da
realização de uma determinada prestação ou através de uma atitude de abstenção ou omissão
– art. 10º/2/b. Esta ação pressupõe uma prévia declaração da existência do direito, porém o
tribunal não fica por aqui e emite ainda uma ordem destinada a reintegrar o direito violado.
Exemplo:
Incumprimento de uma obrigação – o credor pretende que o tribunal depois de Esta decisão é exequível
declarar a existência do seu direito e o respetivo incumprimento, condene o réu à – se a decisão não for
realização da prestação devida e à indemnização pelos danos causados cumprida, o autor passa a
dispor de um título
executivo – art. 703º/1/a
Se, além do reconhecimento da existência dos eu direito, o autor requer que se ordene ao
réu a realização de uma prestação – ação de condenação.
Ação constitutiva: o autor pretende obter um efeito jurídico novo que vai alterar (constituição,
modificação ou extinção) a esfera jurídica do réu, independentemente da sua vontade – art.
10º/2/c. Este novo efeito jurídico apenas depende da decisão do tribunal que a proferirá desde
que se verifique os pressupostos. São um meio adequado ao exercício de certos direitos
potestativos1. O autor não pede a realização de qualquer prestação, mas apenas a produção de
certos efeitos jurídicos que não exigem o concurso da vontade do réu
Exemplos:
4. Procedimentos cautelares
4.1 Razão da sua existência
Art. 2º/2 – garante o direito de acesso aos tribunais e atribui ao titular de um direito, a
possibilidade de propor a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo e a prevenir ou reparar
a sua violação. Esta ação demora um período de tempo +/- longo, pois esse tempo é suscetível
de acarretar consequências tais que a decisão que vier a ser proferida já não tem nenhum
efeito útil.
O reconhecimento da existência de um direito pode demorar tanto tempo que a decisão acaba
por perder o efeito prático
Procedimentos cautelares (art. 362º e ss): emanação duma providência que, até à última
alteração do CPC, era sempre provisória ou interina (está destinada a durar somente enquanto
não se profere a decisão definitiva na ação principal).
Pode, porém, criar um estado de perigo – expor o titular do direito a danos irreparáveis
Adelino da Palma Carlos2 – procedimento que se destina a evitar um prejuízo grave que
ameaça um direito subjetivo tão iminente que não pode esperar pela solução final de uma
ação declarativa instaurada, exige ainda a adoção de medidas urgentes depois de um exame
breve durante o qual o juiz tem de convencer-se apenas da probabilidade da existência do
direito.
Exemplo:
Esta providência visa garantir um direito
O devedor está a dissipar os seus bens, e por
isso, se torna necessário pôr fim a essa
situação para que o credor não veja como
Existem alguns casos em que se procura uma inútil a sentença condenatória que lhe vier a
ser favorável, por nessa altura, já se encontrar
decisão provisória rápida por ser a única
exaurido o património do devedor.
maneira de evitar certo perigo – atribuição de
2
Opinião
alimentos provisórios (se o requerente esperar pela decisão definitiva, arriscar-se-ia a morrer
de fome antes de a ver proferida).
Pretende-se evitar o prejuízo da demora inevitável da ação, sendo que atualmente em certos
casos esta decisão pode ser considerada como solução definitiva que torna desnecessária a
instauração da ação principal nos casos em que é decretada a inversão do contencioso.
Providências antecipatórias
Art. 15º/1 do Decreto-Lei nº 54/75, de 24/2: vencido ou não pago o crédito hipotecário ou não
cumpridas as obrigações que originaram a reserva de propriedade, o titular dos respetivos
registos pode requerer em juízo a apreensão do veículo e do certificado de matrícula.
Art. 21º do Decreto-Lei nº 149/95, de 24/7 prevê a providência cautelar de entrega judicial nos
seguintes termos: se findo o contrato por resolução ou pelo decurso do prazo sem ter sido
exercido o direito de compra, o locatário não proceder à restituição do bem ao locador e este
pode após o pedido de cancelamento do registo de locação financeira requerer ao tribunal
providência cautelar consistente na sua entrega imediata ao requerente.
Sabemos que quando é decretada uma providência cautelar, ela em princípio é provisória, pois
apenas dura até ser proferida a decisão definitiva na ação principal – art. 364º/1. Então
procura-se garantir a utilidade e a eficácia da decisão definitiva a proferir na ação principal.
− Requerente da providência
− Elemento constitutivo da providência requerida
− Se faltar não há razão para não propor logo a ação e aguardar a
respetiva decisão
A ameaça deste elemento autoriza o tribunal a apreciar preliminarmente uma relação jurídica
substancial.
Quando o procedimento cautelar é dependente da causa principal, esta terá por fundamento o
direito cautelado; ou seja, a providência deve ter como objeto acautelar o interesse jurídico
que se pretende ver reconhecido na ação principal.
Nem o julgamento da matéria de fato nem a decisão final proferida no procedimento cautelar,
tem qualquer influencia no julgamento da ação principal – art. 364º/4.
O procedimento pode ser requerida antes de ser proposta a ação principal – preliminar – ou já
depois de ser instaurar a ação principal – incidente.
Justificativa do Professor
Aberto dos Reis – se as providências cautelares podem funcionar em
benefício de um direito aparente, por maioria de razão podem ser postas ao serviço dum
direito real, dum direito já reconhecido.
Procedimento requerido antes: o processo é apensado ao da ação principal logo que esta
esteja proposta. Se esta ação ocorrer noutro tribunal é remetido para aí o apenso e o juiz da
ação fica com exclusiva competência para os termos subsequentes à remessa (art. 364º/2.) –
razão pela qual que a identificação do procedimento cautelar preliminar deve ser referida pelo
autor quando propuser a ação principal.
o Este “tipo” de procedimento fica sujeito à distribuição, e a ação principal vai à distribuição.
o Não está sujeito à distribuição, pois terá de correr como apenso da ação principal – art.
364º/3.
4.6 Inversão do contencioso e consolidação da decisão 3
Para entendermos, não podemos perder de vista que o procedimento cautelar exige uma
maior celebridade e tem de ter uma estrutura mais simplificada e mais rápida. Por isso, o juiz
não tem a mesma exigência quanto à prova acerca da existência e da violação do direito do
requerente, pois o tribunal não emite um juízo definitivo (apenas provisório).
Sendo assim, será suficiente para que se possa decretar a providência cautelar a probabilidade
da existência do direito – art. 365º/1 e art. 368º/1.
Não se exige a prova completa sobre a existência da situação jurídica, pois essa exigência não
seria compatível com a celeridade própria da providência cautelar, para além de constituir
uma repetição da prova que seria exigida na ação principal. Contudo, isso muda de figura se o
requerente solicitar a inversão do contencioso e o juiz do procedimento cautelar adquirir a
convenção segura acerca da existência do direito que tem de ser acautelado – estamos
perante um juízo mais profundo e em que o juiz terá de formar a convicção segura do direito
que a providência se destina a acautelar.
3
Está incompleto (ver manual pg. 43-47)
Exige-se que a inversão do contencioso seja requerida
Quando a providência decretada não passa de uma decisão provisória que dura até ser
proferida a decisão definitiva da ação principal, o procedimento cautelar não tem autonomia.
Se não for proposta a ação declarativa dentro dos prazos a que alude o preceito, o
procedimento caduca – não interfere na caducidade da ação.
Caso especial: arresto – fica sem efeito nas situações previstas no art. 373º, mas também se
obtida na ação de cumprimento sentença com trânsito em julgado, o credor não promover
execução dentro dos 2 meses subsequentes – art. 395º.
Não se admite, na dependência da mesma causa, a repetição de providência que tenha sido
julgada injustificada ou tenha caducado – art. 362º/4.
A caducidade da providência cautelar pede que seja requerida providência idêntica, mas nada
impede que o requerente intente nova providência com o fim de acautelar riscos de lesão
diferentes daqueles que invocou na providência frustrada.
Responde ainda se a providência for considerada injustificada por falta do direito acautelado
ou falta de fundamento para ser decretada.
Arresto: segundo o art. 621º CC, se este for julgado injustificado ou caducado, o requerente é
responsável pelos danos causados ao arrestado quando não tenha agido com a prudência
normal.
O juiz pode, sempre que achar conveniente, tornar a concessão da providência dependente da
prestação de caução adequada pelo requerente – art. 374º/2.
Já sobre os casos dos alimentos provisórios, o requerente só responde pelos danos causados
se tiver atuado de má fé – art. 387º. Tendo em atenção que não se restituirá nenhum alimento
provisório recebido – art. 2007º/2 CC.
Essa urgência faz com que os prazos processuais não se suspendem durante as férias judiciais –
art. 138º/1, in fine. Para além disso, os procedimentos cautelares devem ser decididos, em 1º
instância, num prazo máximo de 2 meses, ou se o requerido não tiver sido citado (casos
previstos nos art. 366º/1, 378º e 393º/1), de 15 dias – art. 363º/2.
Em casos excecionais, o art. 3º/2 diz que é possível tomarem-se providências contra
determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida.
Nos casos dos procedimentos cautelares, a summaria cognitio diz que é possível ser decretada
providências cautelares em prévia audição do requerido, ou que seja mesmo proibida a
audição do requerido – restituição provisória da posse (art. 378º CPC, art. 1279º CC), arresto
(art. 393º/1).
O art. 366º/1 diz que existem situações em que a providência pode ser decretada sem a
audiência do requerido, mas que só acontecerá se essa formalidade puser em risco o fim ou
eficácia da providência requerida.
As exceções que acabamos de relatar, devem ser proporcionais aos valores subjacentes às
finalidades que se pretendem acautelar com a situação de exceção.
Apenas permite que a contraparte não seja previamente ouvida, já que num momento
posterior será dado oportunidade ao requerido de se defender.
4.10 Processamento
O processo inicia-se por um requerimento com a exposição dos fatos e termina o requerente
por formular a sua pretensão.
A petição oferecerá ao requerente, prova sumária do direito ameaçado – art. 365º/1. E com
esta petição (inicial), o requerente oferece o rol de testemunhas (não pode apresentar mais de
5 testemunhas segundo o art. 294º/1) e requere os outros meios de prova – art. 293º/1.
Os depoimentos prestados antecipadamente ou por carta são gravados nos termos do art.
422º e segundo o art. 294º/2.
A audiência final é sempre gravada e apenas deve ser assinalados na ata o início e o termo de
cada depoimento, informação, esclarecimento, requerimento e respetiva resposta – art.
155º/1.
Finda a produção da prova, cada um dos advogados pode fazer uma breve alegação oral sendo
imediatamente proferida decisão por escrito aplicando-se o disposto no art. 607º - art. 295º.
A lei impõe ao juiz que justifique os motivos da sua decisão sobre a matéria de fato.
A providência cautelar pode ser recusada pelo tribunal quando o prejuízo que dela resulta para
o requerido exceda consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar – art.
368º/2.
O requerido deve ser notificado pessoalmente com a cominação prevista na lei penal para o
caso de desobediência.
A aplicação desta sanção, não preclude a possibilidade de serem desencadeadas medidas civis
adequadas à realização coerciva da providência.
4.12 Recursos
A decisão que decrete a inversão do contencioso só é recorrível em conjunto com o recurso da
decisão sobre a providência requerida, sendo que a decisão que indefira a inversão é
irrecorrível – art. 370º/1.
As decisões proferidas nos procedimentos cautelares não cabe recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça, exceto os casos em que o recuso é sempre admissível – art. 370º/2.
Quando o requerido não tiver sido ouvido antes do decretamento da providência, é-lhe lícito
na sequência da notificação prevista no art. 366º/6:
Recorrer do despacho que a decretou quando ela não devia ter sido deferida
Deduzir oposição quando pretende alegar fatos ou produzir meios de prova não tidos em
conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos da providência – art. 367º e
368º.
O requerido pode impugnar a decisão que tenha invertido o contencioso – art. 372º/2.
Nos casos em que a providência foi decretada sem a prévia audição do requerido este pode:
Recurso do despacho que decretou a providência cautelar se entender que a decisão ano
devia ter sido no sentido do decretamento da providência
Oposição quando alega fatos ou produz meios de prova que não foram tidos em conta
pelo tribunal e que podem afastar os fundamentos da providência ou determinar a sua
redução.
4
Exceção ao princípio do contraditório – art. 3º/1 e 415º/1
Requisitos: qualquer sócio pode requerer que seja suspensa a Sócio – aquele que já o era no
deliberação social sempre que a sua execução lhe possa causar momento da deliberação impugnada,
dano apreciável – art. 380º/1. O regime de inversão do se ainda conservar essa qualidade no
contencioso é aplicável à suspensão das deliberações sociais – momento da impugnação. Já não o é,
art. 376º/4. Para propor ou intervir na ação têm legitimidade se no momento em que foi tomada a
aqueles que teriam legitimidade para a ação de nulidade ou deliberação, já tinha perdido essa
qualidade
anulação das deliberações sociais – art. 382º/2. Para além da
legitimidade, a deliberação tem de ser contrária à lei e ainda
tem de resultar da sua execução, dano apreciável. A suspensão das deliberações sociais
impõe que a providência se restrinja às deliberações ainda não executadas – se a
deliberação já foi executada, não poderemos requerer a sua suspensão.
Fixação dos alimentos. Desde quando são devidos. Não restituição: os alimentos devem
ser fixados em prestações mensais exceto em algumas situações em que se fixa em
prestações diferentes como em géneros alimentares – art. 2005º CC. Os alimentos
provisórios são fixados pelo tribunal a requerimento do alimentado, ou se este for de
menor, oficiosamente – art. 2007º CC. Quando o alimentando é menor, o tribunal pode
fixar os alimentos provisórios mesmo que não tenham sido requeridos pelo seu legal
representante – exceção ao princípio dispositivo (art. 3º) como as situações previstas no
art. 913º/7. Segundo o art. 2007º/2 CC não se pode restituir alimentos provisórios
recebidos procurando evitar-se que o receio pela restituição leve o necessitado a deixar de
pedir esses alimentos. São devidos a partir do 1º dia do mês subsequente à data da
dedução do respetivo pedido – art. 386º/1.
Requisitos: o requerente deve provar que existe a probabilidade séria de existir o seu
direito a tal indemnização. Depois, terá de invocar a situação de necessidade em que se
encontra por causa dos danos sofridos – se referir o fato lesivo, seja morte ou lesão
corporal, terá de mostrar que ficou numa situação que não lhe permite satisfazer as suas
necessidades elementares ou que o dano sofrido é suscetível de pôr seriamente em causa
o seu sustento ou habitação. Para além disso, e por ser uma providência cautelar, teremos
que provar o periculum in mora. O lesado termina o seu requerimento pedindo que lhe
seja arbitrada pelo tribunal uma reparação provisória indicando uma quantia certa sob a
forma de renda mensal – art. 388º nº1.
o Garantia patrimonial. Relação entre arresto e penhora: o credor que tiver receio de
perder a garantia patrimonial do seu crédito, pode requerer o arresto de bens do devedor
– art. 619º nº1 CC. Procura-se preservar a garantia patrimonial do credor, ou seja, quando
o devedor não cumprir as suas obrigações pecuniárias, o credor tem o direito de promover
a execução dos seus bens – por isso este tem todo o interesse em que o devedor não
aliene os bens suscetíveis de garantir o pagamento da importância em dívida (providência
de carácter preventivo). São passiveis de arresto os bens penhoráveis e os animais de
companhia (segundo o Lei nº8/2017, de 3 de Março), e por sua vez, não são passiveis de
arresto, os bens absolutamente ou totalmente impenhoráveis – art. 736º. O art. 822º CC
diz que o exequente adquire pela penhora o direito de ser pago com preferência a
qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (nº1) e determina que se os
bens do executado tiverem sido previamente arrestados, a anterioridade da penhora
reporta-se à data do arresto (nº2). Quando os bens estão arrestados, converte-se o arresto
em penhora e faz-se no registo predial o respetivo averbamento – art. 762º. Os atos de
disposição dos bens arrestados são ineficazes em relação ao requerente do arresto – art.
622º CC.
o Tribunal competente: a ação deve ser instaurada no tribunal onde ocorre a ação principal,
sempre que o arresto for intentado como incidente – art. 364º nº3. Quando o arresto for
requerido como preliminar, é competente tanto o tribunal onde deverá ser proposta a
ação principal como o do lugar onde os bens se encontram – art. 78 nº1, al. a). o arresto
pode ser dependência de uma ação declarativa ou de uma ação executiva.
o Caducidade: o arresto fica sem efeito, não só nas situações previstas no art. 373º, mas
também no caso de, obtida na ação de cumprimento sentença com trânsito em julgado, o
credor insatisfeito não promover execução dentro dos 2 meses subsequentes, ou ainda,
se, promovida a execução, o processo ficar sem andamento durante mais de 30 dias, por
negligência do exequente – art. 395º. Este procedimento cautelar está excluído do âmbito
da inversão do contencioso, visto que a sua natureza não é adequada à composição
definitiva do litígio – art. 369 nº1. O valor do procedimento é determinado pelo montante
do crédito que se pretende garantir – art. 304º nº3, al. e).
5.7 Arrolamento
Definição: dependência da ação à qual interessa a especificação dos bens ou a prova da
titularidade dos direitos relativos às coisas arroladas – art. 403º nº2
Sua finalidade. Comparação com o arresto: quando existe receio (justo) de extravio,
ocultação ou dissipação de bens móveis ou imóveis, ou de documentos, podemos requerer
o arrolamento deles – art. 403º nº1.
− Arresto: utilizamo-lo para assegurar a garantia patrimonial do credor. O
requerente apenas pretende garantir o seu crédito à custa de alguns bens.
− Arrolamento: pretende evitar-se o extravio, ocultação ou dissipação de certos
bens. O requerente defende o se direito a determinados bens.
Legitimidade: o arrolamento pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse
(jurídico) na conservação dos bens ou dos documentos – art. 404º nº1. Este terá de invocar
o seu direito aos bens que pretende preservar ou então a necessidade de utilização de
certo documento. Os credores não têm legitimidade para requerer o arrolamento, apenas
nos casos em que haja lugar à arrecadação da herança (art. 404 nº2) é que podem
requerer o arrolamento. Qualquer dos cônjuges quando se trata de uma ação de
separação judicial de pessoas e bens, pode requerer o arrolamento de bens comuns ou
dos bens próprios que sejam administrados pelo outro cônjuge – art. 409 nº1.
Decisão: o requerente faz prova sumária do direito relativo aos bens e dos fatos em que
fundamenta o receio do seu extravio ou dissipação. Se o direito relativo aos bens
depender de ação proposta ou a propor, o requerente tem de convencer o tribunal da
provável procedência do pedido correspondente – art. 405º nº 1. Nos casos das ações de
divórcio, a proposta de ação já constitui um perigo para a conservação dos bens sob a
administração do outro cônjuge; por isso, o requerente não necessita de provar que há
justo receio de extravio ou ocultação. O requerido é citado e pode deduzir oposição no
prazo de 10 dias – art. 293º. O juiz decreta as providências, se tiver a convicção de que
sem o arrolamento o interesse do requerente corres grandes riscos – art. 405º nº2. No
despacho, nomeamos logo um depositário (possuidor dos bens) e um avaliador que não
precisam estar no juramento – art. 405º nº3.
5
Pode se aplicar o regime de inversão do contencioso – art. 376º nº4
6. Interpretação das leis processuais. Valor da equidade.
O Código do Processo Civil não contém nenhuma disposição que defina critérios especiais para
a interpretação das próprias normas, ou seja, o intérprete terá de se socorrer daqueles
princípios gerais que regem a interpretação das leis.
Toda a norma que não esteja em harmonia com eles e constitua exceção, não deve ser
ampliada. E o tribunal não está subordinado aos critérios normativos fixados na lei se puder
julgar segundo a equidade (art. 4º CC).
7. Integração de lacunas
Segundo o art. 8º CCivil, o tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou
obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos fatos em litígio.
Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos, e
na falta destes, a situação deve ser resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria
se tivesse que legislar dentro do espírito do sistema – art. 10º CCivil.
Na falta de normas transitórias, será de aplicação imediata a nova lei processual não só às
ações que sejam instauradas posteriormente à sua entrada em vigor, mas também aos atos
que houverem de ser praticados nas ações ainda não terminadas
O princípio consagra-se no art. 136º nº1 que determina que a forma dos diversos atos
processuais é regulada pela lei que vigore no momento em que são praticados.
Leis sobre o formalismo processual: a forma dos diversos atos processuais é regulada pela
lei que vigore no momento em que são praticados – art. 136º nº1. Princípio: aplicação
imediata da nova lei tanto nas ações futuras como nas pendentes. A forma de processo
aplicável determina-se pela lei vigente à data em que a ação é proposta – art. 136º nº2.
Leis sobre recursos: recursos são os meios de impugnação das decisões judiciais,
proporcionando à parte vencida requerer a reapreciação da causa por um tribunal
superior.
− Admissibilidade do recurso: a nova lei que venha admitir recurso quando a anterior
não o admitia, não se aplica às decisões já proferidas.
− Tramitação: a nova lei têm aplicação imediata, não só aos recursos que futuramente
sejam interpostos em ações pendentes, mas também aos recursos que já estão a
decorrer.
Quando a nova lei nega o recurso, nos casos em que pela anterior era admitido, não se
aplica às decisões anteriores, se o recurso já tiver sido interposto. Caso esse não tenha
sido interposto, existe a propensão da doutrina no sentido de considerar a não aplicação
da lei nova às decisões que admitiam recurso no momento em que foram proferidas.
Leis sobre alçadas: limite do valor das causas dentro do qual o tribunal julga sem
admissibilidade de recurso ordinário. Atualmente o processo comum segue forma única –
art. 548º - logo não sofre qualquer alteração nos casos em que é alterada a alçada (art.
136º nº2). O valor da alçada no momento em que a ação foi proposta determina a
admissibilidade do recurso.
− Tribunal da relação: 30 000€
− Tribunal de primeira instância: 5 000€
Lei sobre as provas: tem como função a demonstração da realidade dos fatos – art. 341º
CCivil. Meios que o tribunal se serve para demonstrar a realidade dos fatos controvertidos
que interessam à decisão da causa. As normas podem constituir direito probatório
material – determina os meios de prova admissíveis e fixa o respetivo valor – ou direito
probatório formal – modo de produção das provas em juízo, determinando os atos a
praticar para a sua utilização (aplicação imediata). Relativamente às novas normas de
direito probatório material que dizem respeito a determinados fatos aplica-se o princípio
tempus regit actum.
Leis sobre prazos judiciais: prazo é o espaço de tempo compreendido entre dois
momentos: o inicial e o final. O prazo é legal quando é marcado pela lei e judicial quando é
fixado pelo juiz no decurso da causa.
− Prazo dilatório: define a possibilidade da prática de um ato, assim como o início ou a
continuação da contagem de outro prazo (ex: art. 242º nº2)
− Prazo perentório: extingue o direito à prática do ato respetivo, salvo o caso de justo
impedimento – evento não imputável à parte nem aos seus representantes que obste
à prática atempada do ato e a parte que alegar justo impedimento oferece logo a
respetiva prova (art. 140º nº1).
− Prazo cominatório: estabelecem uma ameaça e em que a sua inobservância
desencadeia uma sanção – art. 423º nº2 (exemplo).
O ato pode ser praticado dentro dos 3 primeiros dias úteis subsequentes ao termo do
prazo, ficando a sua validade dependente do pagamento imediato da multa:
Se este ato for praticado pelo advogado da parte sofrerá um novo agravamento se a multa não
for paga de modo imediato e espontâneo.
Se o ato for praticado diretamente pela parte, em ação que não importe a constituição do
mandatário, o pagamento da multa só é devido após notificação efetuada pela secretaria na
qual se prevê um prazo de 10 dias para o referido pagamento – art. 139º nº7.
O disposto no art. 297º CCivil é extensivo aos prazos processuais por força do nº3 do mesmo
preceito.
Capítulo II – Formas de processo
1. Forma especial − Art. 878º e ss. CPC
− Código Civil
Aplica-se aos casos expressamente designados na lei − Divórcio por mútuo consentimento
Os processos especiais não seguem apenas um modelo − Prestação de caução (art. 906º)
único, pois existe uma grande variedade de processos − Direito de preferência
− Justificação da ausência (art. 881º e ss)
especiais, consoante o tipo de providências que o autor se − Interdições e inabilitações (art. 891º)
propõe alcançar quando instaura a ação – art. 878º e ss. − Divisão de coisa comum (art. 925º)
Só tem aplicação nos casos expressamente previstos na − Execução por alimentos (art. 933º)
lei, ou seja, se nenhum dos processos especiais se aplicar − Prestação de contas (art. 941º)
− Revisão de sentenças estrangeiras (art. 978º)
àquilo que o autor pretende, aplicar-se-á o processo
− Processos de jurisdição voluntaria (art. 986º)
comum.
Regulam-se pelas disposições que lhe são próprias e pelas
disposições gerais e comum – art. 549º nº1 e art. 130º-545º (normas gerais).
2. Processo comum
2.1 Distinção entre processo declaratório e executivo
Processo declaratório – destina-se a retirar do poder judicial, a declaração da vontade da
lei no caso em apreço. Aqui o autor pede ao tribunal que declare a solução para o caso que
é submetido à sua apreciação.
Exemplo:
Exemplo:
Se o devedor (B) não cumpre voluntariamente a decisão proferida pelo tribunal, A pode
propor uma ação executiva, para obter, através da penhora e posterior venda dos bens do
faltoso, o cumprimento da prestação em que foi condenado.
A toda a causa deve ser atribuído um valor certo (em moeda legal) que representa a
utilidade económica imediata do pedido
Usa-se esse valor para determinar a competência do tribunal, a forma de processo de
execução comum e a relação da causa com a alçada do tribunal
Este valor é fixado segundo as regras previstas no presente diploma e no Regulamento das
Custas Processuais.
Antes de fixar o valor da causa, a parte terá de indagar primeiramente se ao caso se aplica
algum dos critérios especiais enunciados; se não se aplicar, o valor da causa terá de ser
encontrado por aplicação das regras gerais:
Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, esse é o valor da
causa
Cumulando-se na mesma ação vários pedidos, o valor da causa é a soma dos valores
de todos eles
Nos casos de pedidos alternativos, o valor da causa é o pedido de maior valor
Nas ações de despejo, o valor é o da renda de dois anos e meio (e junta-se o valor das
rendas em dívida ou da indemnização requerida) – multiplica-se por 30 a renda
mensal
Nos processos referentes a contratos de locação financeira, o valor é o equivalente ao
da soma das prestações em dívida até ao fim do contrato (junta-se os juros
moratórios vencidos)
Nas ações de alimentos definitivos e nas de contribuição para as despesas domésticas,
o valor é o quíntuplo da anuidade correspondente ao pedido – multiplica-se o
montante mensal por 5 anuidades (60)
Nas ações de prestação de contas, o valor é o da receita bruta ou da despesa
apresentada (se for superior).
Art. 303º: fixa o valor das ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais 6
– valor equivalente à alçada da Relação e mais 0,01€
Art. 44º, nº1 da Lei nº62/2013, de 26 de agosto – fixou que, em matéria cível,
a alçada dos tribunais da Relação é de 30 000€.
6
Ações que visam alcançar um interesse não patrimonial
Como estas ações têm sempre o mesmo valor, de €30 000,001, conseguimos que da sentença
se recorra até ao Supremo Tribunal de Justiça.
O art. 299º dispõe sobre o momento a que se deve atender-se para a determinação do valor:
3.2 Características
Princípio do inquisitório: o tribunal pode investigar livremente os fatos, coligir provas,
ordenar inquéritos e recolher informações convenientes – art. 986º nº2. O juiz dispõe de
um largo poder de iniciativa na recolha dos fatos que interessam para a decisão e pode
servir-se das provas que lhe pareçam mais convenientes. Esta sua atividade (inquisitória)
prevalece sobre as atividades dispositivas das partes.
Critério de julgamento: o tribunal não está sujeito a critérios de legalidade escrita e deve
antes adotar a solução que julgue mais conveniente e oportuna – art. 987º. O juiz não
está vinculado à observância rigorosa do direito aplicável, e tem liberdade de se subtrair a
esse enquadramento rígido e de proferir a decisão que lhe pareça mais equitativa (este
funciona como um árbitro). O juiz procurará encontrar a solução que serve melhor para o
caso concreto em vez de obedecer cegamente às normas legais – equidade.
Livre modificabilidade das decisões: as resoluções podem ser alteradas sem prejuízo dos
efeitos já produzidos com fundamento em circunstâncias supervenientes que
justifiquem a sua alteração – art. 988º nº1. Nestes casos, as decisões proferidas não
ganham força de caso julgado e por isso, podem ser alteradas desde que se modifiquem as
circunstâncias que determinaram essas decisões. Após se proferir a sentença, fica
esgotado o poder jurisdicional do juiz – art. 613º.
4.1 Pressupostos
Pode se requerer o decretamento das providências concretamente adequadas a evitar a
consumação de qualquer ameaça ilícita e direta à personalidade física e moral do ser
humano – art. 878º
Os direitos de personalidade são direitos subjetivos absolutos que se destinam a
preservar a integridade física e moral da pessoa:
− Direito à vida
− Direito à integridade física
− Direito à liberdade
− Direito à saúde
− Direito ao bom nome
− Direito à honra
− Direito ao repouso essencial à existência física
4.2 Processo
Quando se apresenta o requerimento com o oferecimento das provas, se não houver
motivos para o seu indeferimento liminar, o tribunal designa imediatamente dia e hora
para a audiência, que se deve realizar num dos 20 dias subsequentes – art. 879º nº1.
Com o requerimento são oferecidas logo as provas e o tribunal designa imediatamente a
audiência.
A contestação é apresentada na própria audiência e, se se mostrar compatível com o
objeto do litígio, o tribunal procurará conciliar as partes – art. 879º nº2.
Na falta de alguma das partes, o tribunal ordena a produção de prova e decide por
sentença – art. 879º nº3.
Na falta de conciliação, procede-se à prova e terminada, logo é proferida sentença com
fundamentação sucinta, como o impõe a necessidade de ser célere.
A sanção pecuniária compulsória está prevista no art. 829º-A CCivil – execução específica
que constitui um meio de coerção destinado a assegurar o cumprimento da obrigação
imposta ao requerido ao estabelecer antecipadamente a sanção para o incumprimento.
Segundo o art. 879º nº5, pode se proferir uma decisão provisória, irrecorrível e sujeita a
posterior alteração ou confirmação no próprio processo.
Se o réu não tiver sido ouvido antes da decisão provisória, pode contestar no prazo de 20
dias.
Pressupostos processuais
Positivos A sua verificação é essencial para que o juiz Exemplos: personalidade jurídica,
conheça o mérito da causa capacidade jurídica, legitimidade,
interesse processual, competência
do tribunal e patrocínio judiciário
Negativos A sua verificação obsta para que o juiz Exemplo: litispendência, caso
aprecie o mérito de causa julgado e existência de
compromisso arbitral
A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida – art. 66º nº1
CCivil – e termina com a morte – art. 68º nº1 CCivil.
O titular ou titulares da herança ainda não foram determinados, porque a herança ainda não
foi aceita. Sendo assim, a ação deve ser intentada por ela ou contra ela, visto que à herança
jacente estende o art. 12º, al.a) a personalidade judiciária – é a própria herança jacente a
verdadeira parte e não qualquer sucessível.
São constituídos por bens cujo titular não está determinado e trata-se de uma massa
patrimonial que necessita de que seja definido o seu titular. Logo, a lei estabelece um regime
jurídico cuja representação possibilita uma atuação eficaz – art. 26º. Ex: doações e deixas
testamentárias a nascituros – art. 952º e art. 2033º nº2, al.a) CCivil.
O art, 13º nº1 estende a personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações de uma pessoa coletiva – se a ação proceder de fatos por elas praticados.
São entidades que apenas são órgãos de administração local e que em princípio não
deviam ter personalidade judiciária – pois não subordinados à administração central – porém
quando está em causa fatos por elas praticados, podemos demandar e ser demandadas.
O nº2 do mesmo artigo, prevê os casos em que o fato foi praticado pela administração
principal sedeada no estrangeiro – obrigações contraídas por um português ou estrangeiro
domiciliado em Portugal.
2. Capacidade judiciária
Aptidão para adquirir direitos e para os exercer.
Capacidade judiciária
A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal ou pela tutela – art. 124º e art.
1921º CCivil.
Os menores são representados em juízo pelos pais e em que é necessário que ambos estejam
de acordo para propor a ação – art. 16º nº2. Porém se houver desacordo, qualquer um deles
pode requerer ao tribunal competente para a causa a resolução do conflito – art. 18º nº1. Já se
o desacordo surgir no decurso do processo, qualquer um dos pais (no prazo de realização do
1º ato afetado pelo desacordo) pode requerer que o juiz da causa providencie sobre a forma
de o incapaz ser nela representado. Depois de o juiz receber o requerimento de um dos pais e
ouvir o outro e o Ministério Público, decide em função do interesse do menor e pode atribuir a
representação a um dos pais, o MP ou pode designar um curador especial – art. 18º nº3.
Nas ações propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados – art. 16º nº3.
A sentença fixa, sempre que possível, a data do começa da incapacidade e designa ainda o
tutor – art. 901º.
A interdição é total – o interdito é considerado totalmente inapto para governar a sua pessoa e
bens.
Dos inabilitados
Indivíduos cuja anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira, não é
tão grave que justifique a sua
interdição – art. 152º CCivil
É decretada em ação especial – art. 891º-905º. A sentença designa o curador e especifica os
atos que devem ser autorizados ou praticados por este – art. 901º nº1 e nº2.
A incapacidade judiciária destas pessoas é suprida através do curador que o assiste, nos atos
que dizem respeito à administração do seu património – art. 153º nº1 e art. 154º nº1 CCivil.
Os inabilitados podem intervir em todas as ações em que sejam partes, porém essa
intervenção fica subordinada à orientação do curador que prevalece no caso de divergência –
art. 19º nº1 e nº2.
O inabilitado, representado pelo curador, pode intervir em todas as ações em que seja parte e
deve ser citado quando tiver a posição de réu – art. 19º nº1. Se este não for citado verifica-se
fundamento para a anulação do processado – art. 187º, al.a).
A lei dá ao incapaz uma segunda oportunidade de defesa, a cargo do MP, sempre que este não
deduzirem oposição – o MP é citado e corre novamente o prazo para a contestação.
Quanto este defender o autor, será nomeado um defensor oficioso – art. 21º nº2 – que
desempenha o papel que o MP desempenharia.
Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não
existisse – art. 27º nº2.
Se não ratificar, fica sem efeito o processado a partir do momento em que a falta se verificou e
renova-se os prazos para a prática dos atos atingidos.
Quando houver necessidade de fazer intervir um menor em causa pendente em que não há
acordo entre os pais; qualquer um deles pode requerer a suspensão da instância até resolução
do desacordo pelo tribunal da causa, que deve decidir no prazo de 30 dias – art. 18º nº5.
− A parte tem legitimidade como autor (se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu)
− A partem tem legitimidade como réu (se for ela quem juridicamente se pode opor à
pretensão do autor)
Se as partes forem ilegítimas, a decisão que vier a ser proferida sobre o mérito da causa, não
teria efeito – não podiam vincular os verdadeiros titulares da relação jurídica litigiosa.
Art. 30º nº1: define a legitimidade servindo-se do critério do direto interesse que a
parte pode ter em demandar ou contradizer.
É necessário que as partes tenham interesse direto em demandar ou contradizer.
Exemplo:
O pai pode ter interesse em que seja paga ao seu filho, de maioridade, uma importância
que lhe é devida por determinada pessoa. No entanto não tem legitimidade para propor a
adequada ação contra o devedor, em substituição do filho – não tem interesse direto.
Exprime a imagem de várias pessoas que no − Existe uma pluralidade de partes e uma
mesmo processo civil, estão do mesmo lado. pluralidade de pedidos
Nem sempre a intervenção de terceiros dá − Diversidade de partes e de relações jurídicas
origem a um litisconsórcio, pois é necessária a materiais em litígio.
formação de uma pluralidade de partes − Permite-se a coligação de autores contra um ou
principais – não existe litisconsórcio no caso vários réus e permite-se que a um autor
demande conjuntamente vários réus por
da assistência, pois o assistente é parte
pedidos diferentes (quando a causa a pedir é a
acessória (art. 326º e ss.)
mesma) – art. 36º nº1.
Litisconsórcio voluntário: o autor e o réu − O autor pode demandar vários réus por pedidos
podem, apenas, intervir no processo sendo diferentes nos seguintes casos
que a pluralidade de partes não é obrigatória. − Causa de pedir: ato ou fato jurídico de onde
Litisconsórcio necessário: exige-se a emerge a pretensão deduzida pelo autor – art.
intervenção de todos os interessados. 581º nº4 – e tem de ser a mesma e única.
− A coligação é voluntária e a falta de alguma das
vítimas na ação não determina a ilegitimidade
da outra.
Litisconsórcio voluntário
− Relação de prejudicialidade: a decisão de um
Aqui os sujeitos não tem necessariamente que pode influir na decisão do outro
intervir na ação, sendo que só intervêm se assim o − Relação de dependência: o conhecimento de
um deles só pode ter lugar no caso de se
desejarem. A ação pode ser intentada por todos
verificar a procedência do outro.
os interessados ou contra todos eles:
− Permite-se a coligação quando não se verifica
▫ Podem os vários interessados decidir nenhum dos obstáculos previstos no art. 37.
propor a ação conjuntamente
▫ Pode o autor propor a ação contra vários réus
▫ Pode o autor ou o réu promover a intervenção de terceiros – depois de proposta a
ação
Nas obrigações solidárias, o credor pode em vez de propor a ação apenas contra um,
demandar conjuntamente os devedores – art. 517º nº1 CCivil.
Nas obrigações conjuntas, o credor que intente a ação apenas contra um dos diversos
devedores, só poderá obter decisão respeitante à sua quota-parte da dívida – art. 32º nº1.
Litisconsórcio necessário
Art. 33º nº1: o litisconsórcio é necessário quando a lei ou o negócio jurídico exige a
intervenção de todos os interessados na relação controvertida – pode ser legal ou
convencional.
Devem ser propostas, as ações de que possam resultar a perda ou oneração de bens que só
por ambos podem ser alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos
por ambos os cônjuges ou por um deles com o consentimento do outro – art. 1717º CCivil.
Litisconsórcio necessário ativo: a ação pode ser instaurada por um dos cônjuges
com o consentimento do outro. Sem o consentimento do cônjuge pode-se suprir
judicialmente aplicando-se o disposto no art. 29º - art. 34º nº2.
Litisconsórcio necessário passivo: a ação, que emerge de fatos praticados por
ambos, deve ser proposta contra ambos os cônjuges – art. 34º nº3.
Quando duas ou mais pessoas efetuam um depósito, podem convencionar que a coisa só pode
ser levantada por todos os depositantes em conjunto – a ação deve ser proposta por todos os
depositantes da ação em que se pede a restituição da coisa depositada.
Existe a possibilidade de ser formulado um pedido principal contra aquele que se considera ser
o provável devedor, e um pedido subsidiário contra um outro suposto devedor – art. 39º.
Este pedido é apresentado ao tribunal para ser tomado em consideração somente no caso de
não proceder o pedido anterior – art. 554º.
o Lado ativo: situações em que dois autores se associam, propondo a ação na qual o
primeiro se formula o pedido principal e o segundo o pedido eventual – um dos
autores só será tido como titular da relação material controvertida se for reconhecido
que o outro não tem essa qualidade.
o Lado passiva: o autor demanda determinado réu a título principal e, invocando dúvida
(fundamentada) sobre quem é o titular passivo da relação material controvertida,
deduz pedido subsidiário contra outro réu.
Exemplo:
Num acidente de viação em cadeia, o lesado que tenha dúvidas sobre qual dos dois
veículos será o responsável pelo acidente, pode propor uma ação de indemnização contra
uma companhia aérea e, subsidiariamente, contra a seguradora do dono do outro veículo.
Art. 31º - qualquer um desses indivíduos tem legitimidade para sustentar esse
interesse se violado, e se dessa violação ficou com prejuízos.
Art. 303º nº3 – estabelece que o valor destas ações corresponde ao do dano invocado, com
limite máximo do dobro da alçada do Tribunal da Relação.
5. Interesse processual
Pressupõe que é inevitável recorrer à via judicial por não restar ao indivíduo outro modo
de satisfazer a sua pretensão.
Se faltasse este pressuposto processual, a ação que viesse a ser proposta seria inútil, pois
de nada serviria.
Pretende-se evitar que as pessoas sejam chamadas a juízo sem nenhuma razão, e evitar
que os tribunais sejam sobrecarregados com atividade, que, por desnecessária, não
aproveitaria a ninguém.
O autor precisa de convencer que, na situação concreta, o seu direito necessita da tutela
judicial que solicita.
A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresenta a contestação –
a partir daí depende da aceitação do réu, pois este pode ter interesse em que seja
proferida decisão de mérito para ver resolvida a questão do processo (art. 286º nº2).
Nos casos em que a citação depende de prévio despacho judicial e, se da petição inicial
resultar falta de interesse processual, o juiz deve indeferi-la liminarmente (não ordena a
citação). Se a falta do pressuposto for reconhecida no despacho saneador, o juiz deve abster-
se de conhecer o mérito de causa, absolvendo o réu da instância – art. 278º, al.e).
Se, no momento de proferir a sentença se verificar que a obrigação ainda não é exigível, a
única sanção pela falta de interesse processual traduzir-se-á na condenação do vencedor no
pagamento das custas e dos honorários do advogado do réu – art. 610 nº3 e art. 535º.
5. Patrocínio Jurídico
Assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro.
Normalmente, as partes têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e
devem ser representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para o fazer.
Art. 40º: obrigação de constituição de advogado em casos previstos nesse artigo.
É exercido plenamente pelos advogados, e limitadamente pelos advogados estagiários e
solicitadores.
Não se confunde com a assistência técnica aos advogados previstos no art. 50º.
5.2 Mandato
O advogado é indispensável à administração da justiça e deve ter comportamento público e
profissional adequado à dignidade e responsabilidades da função que exerce.
Todas as ações com valor de 5 000€ ou inferior podem ser representadas por solicitadores sem
recurso ordinário – acontece o mesmo com as ações executivas com valor inferior a 30 000€.
Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado pela parte por meio de
mandato judicial.
− Pode ser conferido por meio de instrumento público ou particular, nos termos do
Código do Notariado e da legislação especial (art. 43º-a). Pode ainda ser conferido por
declaração negocial da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no
processo (art. 43-b).
É a partir da notificação que se produzem os efeitos da revogação e da renúncia – art. 47º nº2.
A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar, sob pena de o gestor ser
condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte contrária. Se
não ratificar, os atos praticados pelo gestor ficam sem efeito.
Se o vício não for sanado dentro do prazo fixado, o juiz proferirá despacho de
absolvição do réu da instância – falta do autor
A defesa apresentada pelo réu fica sem efeito – falta do réu.
Se a falta de advogado constituído se verificar na fase de recurso, o processo não tem
seguimento.
Quando se reconhece que o mandatário da parte teve responsabilidade pessoal e direta nos
atos pelos quais se revelou a má fé na causa, devemos dar conhecimento do fato à Ordem dos
Advogados ou à Câmara dos Solicitadores – art. 545º.
Exemplo:
A ação foi proposta no tribunal cível e o juiz considera que a mesma deve correr no tribunal
administrativo por ser de natureza administrativa a questão em litígio.
Sendo que, este conflito só pode surgir entre dois ou mais tribunais da mesma ordem jurídica
– art. 109º nº2.
o Estes conflitos são resolvidos, pelo Supremo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal dos
Conflitos – art. 110º nº1.
▫ Conflitos de jurisdição: resolvidos por um dos dois, sendo que o Tribunal
de Conflitos resolve conflitos suscitados entre as autoridades e os tribunais
administrativos ou entre os tribunais judiciais e qualquer dos
administrativos. Os outros conflitos de jurisdição são resolvidos pelo STJ.
▫ Conflitos de competência: resolvidos pelo presidente do tribunal de
menor categoria que exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito.
o São solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição
sobre as autoridades em conflito – art. 110º nº2.
o Não existe conflito enquanto forem suscetíveis de recurso as decisões proferidas sobre
a competência – art. 109º nº3.
o Tribunal da Relação: competente para conhecer os conflitos de competência do
respetivo tribunal ou entre algum deles e um tribunal de competência territorial
alargada sediado nesta área.
o Mesmo antes de se ter gerado o conflito de jurisdição, pode vir a ser fixado
definitivamente o tribunal competente, em que essa fixação pertence ao STJ ou ao
Tribunal de Conflito.
7. competência internacional
A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a
competência dos tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de
situações que, apesar de possuírem, na perspetiva do ordenamento
português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras, apresentam
igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.
O facto que serve de causa de pedir a ação foi praticado em território português –
princípio da causalidade (os tribunais portugueses são internacionalmente competentes
para a propositura da ação quando o fato desta tiver sido praticada em território
português)
Exemplo:
Sabendo que nas ações constitutivas a causa de pedir é o fato concreto que se invoca para
obter o efeito pretendido – art. 581º nº4 – os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes para a ação de divórcio proposta por um dos cônjuges
com fundamento na prática de adultério cometido pelo outro em território português.
O direito invocado não pode tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta em
território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura da
ação no estrangeiro – princípio da necessidade (a competência é atribuída aos tribunais
portugueses quando o direito invocado pelo autor só possa tornar-se efetivo por meio de
ação proposta em Portugal).
Competente: Tribunal da Relação da área em que esteja domiciliada a pessoa contra quem se
pretende fazer valer a sentença – art. 979º (raros casos em que a ação começa neste tribunal e
não no tribunal de 1º instância).
Exemplo:
O pacto de jurisdição só é valido quando se verificam alguns pressupostos (art. 94º nº3):
7
Direitos de que o titular pode livremente dispor (indisponíveis – subtraídos à livre disponibilidade das partes: casamento,
filiação…)
8. Competência interna
As leis de organização judiciária determinam quais as causas que são da competência dos
tribunais e das secções dotados de competência especializada – art. 64º.
Lei nº62/2013
− Os tribunais judiciais têm competência para as causas que não são atribuídas a outra
ordem jurisdicional (art. 40º nº1)
− Esta lei estabelece as causas que competem às secções de competência especializada
dos tribunais de comarca ou aos tribunais de competência territorial alargada (art. 40º
nº2)
Princípio da especialização
Resposta: ação declarativa de condenação, pois exige a prestação de uma coisa, prevendo a
violação de um direito, direito esse que o Bruno tinha de a obra ser feita como estava prevista
no contrato (obra finalizada).
2. Carlos pretende instaurar contra Diana e Esmeralda uma ação para exercer a preferência na
compra de um imóvel, alegando que era arrendatário do mesmo (art. 1091º CC)
Resposta: neste caso, não temos documentos probatórios que provam o nosso direito de
preferência – por isso não é simples apreciação. Por isso, é uma ação declarativa constitutiva –
pedir ao tribunal que haja uma mudança na ordem jurídica (de arrendatário para proprietário)
8. Na sequência de um acidente de viação, A intenta contra B uma ação judicial na qual pede
uma indemnização pelos danos sofridos, no valor de 15 000€.
10. Adriana pretende obter a fixação de uma pensão de alimentos para o seu filho menor
Gustavo.
11. Inês, na qualidade de proprietária, remeteu a Lucinda uma carta registada a comunicar que
estavam em dívida 3 meses de renda. Na ausência de resposta pretende dar entrada com ação
em Tribunal.
Forma do Processo
1. Em 2016 António divorciou-se de Maria. Por sentença judicial, a guarda do filho menor,
João, foi atribuído à mãe. Agora, pretende o pai obter a guarda da criança para si.
2. Carlos, herdeiro de Maria, que foi socia da sociedade Totax, Lda, pretende liquidar a quota
que esta tinha na referida sociedade.
3. Fernando, na posse de um cheque de 7 000€, que resulta do preço da venda de uma mota a
Guilherme, pretende instaurar uma ação declarativa de condenação contra o devedor.
6. Carla e Zacarias, a viver em união de facto, adquiriram um prédio rústico com o objetivo de
semear/plantar espécies hortícolas para consumo. Em agosto de 2018 separaram-se
definitivamente. Suponha que Carla pretende por termo à indivisão do prédio.
7. Ana separada de facto de Horácio há mais de 1 ano pretende divorciar-se, ao que este se
opõe terminantemente, alegando que o casamento é “para toda a vida”.
9. Joana casada com João pretende que este lhe dê 25% do seu rendimento mensal para
acorrer às despesas domésticas.
Resposta: os seus herdeiros devem sucedê-lo na ação – Marta e João – pois trata-se de um
incidente de habilitação de herdeiros, desde que apresentem a certidão de óbito. Logo, os
herdeiros assumem a qualidade de parte na ação – art. 12º-a CPC.
2. Torpe, Unipessoal Lda, sociedade por quotas, tem um crédito litigioso sobre ABB, SA, cujo
processo corre termos no Tribunal de Anadia. Entretanto, o único sócio da Torpe, Lda, João,
morre. Deixa herdeiro seu único filho Manuel.
Resposta: o único sócio falece, mas como Manuel – que precisa fazer parte da ação – sucede
ao pai, a sociedade mantém a personalidade judiciária.
3. Fernando quer interpor uma ação judicial contra a agência do Banco CreditoMais, sita em
Coimbra, no Tribunal de Coimbra. A sede do Banco, de acordo com o seu estatuto social, é no
Porto.
Resposta: art. 13º nº1 CPC – ação judicial contra a agência em Coimbra, pois esta tem
personalidade judiciária para ser demandada a ação.
Resposta: a comissão de festas não tem personalidade jurídica pois não é uma associação;
porém tem personalidade judiciária (art. 12º-b), então pode fazer parte da ação (contra a
comissão toda). Os 5 membros tem responsabilidade solidária – todos tem a responsabilidade
de pagar a sua parte.
5. Armando conseguiu acionar e mandar citar a Xavex, Lda, sociedade com 3 sócios que, na
realidade, nunca foi registada nem tem contrato constitutivo. A Xavex, Lda, nunca alegou falta
de personalidade judiciária, embora isso tivesse ficado demonstrado no processo.
Resposta: art. 12º-d – não tem personalidade jurídica, mas tem personalidade judiciária. Esta
sociedade não tem personalidade jurídica pois não tem contrato registado no conservatório.
6. Januário, menor de idade, com 17 anos, tem um negócio de compra e revenda de peças de
roupa. Xavier comprou-lhe 550€ de vestuário. Desde 2015 que não lhe paga. Januário quer
instaurar contra ele uma ação judicial.
Resposta: Januário tem de ter um representante (art. 16º nº2 – neste caso são os pais) pois
não tem capacidade judiciária (é menor de idade). Aqui está em causa a capacidade de exercer
direitos)
c) Suponha que a dívida tinha sido contraída apenas por A, destinando-se a ocorrer aos
encargos normais da vida familiar, mas que A e B estavam casados no regime de separação de
bens?
2. A,B e C são comproprietários8 do prédio X. A propõe contra B, uma ação de divisão de coisa
comum.
Resposta: A deve propor uma ação de divisão de coisa comum contra os dois.
8
Casal junto em união de fato adquirem uma propriedade e em que esta é de ambos (50% para cada um )
Exame Época Recurso 2016/2017
Grupo I
No dia 13 de março de 2017, Rita, solteira, residente em Coimbra, dirigia-se para Braga
no seu veículo automóvel. No centro da cidade, Daniel que conduzia a sua viatura de marca
Porshe, sai da sua faixa de rodagem e foi embater no seu veículo, que de imediato chamou a
autoridade policial competente.
A Seguradora “MKE”, com quem Daniel tinha o contrato de seguro automóvel, tem
sede em Lisboa.
a) Qual o tipo de ação que deve ser instaurada por Rita contra Daniel?
Segundo o art. 10º nº2, as ações declarativas podem ser de simples apreciação,
condenação ou constitutivas, e neste caso concreto deparamo-nos com uma ação declarativa
de condenação – art. 10º nº3-b) CPC.
Resposta: O art. 296º diz-nos que a toda a causa deve ser atribuída um valor certo em
dinheiro, e o art. 297º completa ao dizer que se pela ação se pretender obter qualquer quantia
certa em dinheiro, é esse o valor da causa, sendo que neste caso é de €31 000 – art. 297º com
remissão para o 302º nº1.
Sendo que a ação só pode ser proposta no Tribunal Judicial da Comarca de Braga
(71º) e foi proposta no Tribunal da Relação de Coimbra, este pedido fere as regras de
competência previstos no art. 96º e 99º CPC. Logo, o Tribunal aplica a incompetência absoluta
(99º) e absolve o réu da instância.
d) Considerando que foi Rita, aluna de Solicitadoria, que redigiu e assinou a petição
inicial, aprecie a legalidade e eventuais consequências jurídicas da sua atitude.
Sendo que a causa tem o valor de €31 000, e o valor mínimo para que haja recurso
para o Tribunal da Relação é de €50 000,01, ele é obrigado a constituir advogado nos termos
do art. 40º nº1-a) com remissão para o art. 44º nº1 LOSJ. Sendo obrigatória a constituição de
mandatário, o juiz oficiosamente determina a obrigação de constituição dentro de um prazo
certo sob pena de o ser absolvido (41º).
Grupo II
Na contestação, Daniel invoca que foi Rita quem saiu da faixa de rodagem e foi
embater no seu veículo automóvel de marca Porsche. Pedindo igualmente o pagamento de
€50 000 de indemnização para reparar o seu veículo.
a) Qual o tipo de defesa invocado por Daniel? E como deveria articular a defesa na
contestação?
Resposta: Daniel invoca a defesa por impugnação ou por exceção (571º), sendo que neste caso
Daniel invoca as exceções.
b) Qual o último dia de prazo para contestar, considerando que foi a mãe de Daniel
quem recebeu a citação, por carta postal, no dia 14 de dezembro, uma sexta-feira.
Resposta: O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da citação (569º nº1).
Acresce-se mais 5 dias, pois não foi o próprio réu a receber a carta (foi a mãe) sendo
este o primeiro prazo a ser contado (245º nº1-a)).
O prazo começa-se a contar no dia seguinte à receção da carta (569º nº1) –
15/12/2022. Sendo que no dia 22 desse mês se iniciam as férias judiciais, o prazo termina
31/01/2023.
Contudo, o réu ainda pode aumentar o prazo até 3 dias com o pagamento de multa
(139º nº5), terminando o prazo assim no dia 03/02/2023.
Resposta: Como a ação é proposta contra a companhia de seguros, não será o Daniel a
apresentar a reconvenção.
Sendo assim, Rita não pode reagir contra a contestação porque não existe
reconvenção.
O autor só pode propor uma replica (novo articulado) quando se supuser uma
reconvenção.
Resposta: Sim pode. Segundo o art. 490º nº1, o tribunal sempre que julgue conveniente por
sua iniciativa ou requerimento das partes, e sempre tendo em conta a intimidade da vida
privada e familiar, pode inspecionar coisas ou pessoas com o fim de se esclarecer sobre algo
que interesse à decisão da causa.
Resposta: Segundo o art. 466º nº1, Daniel pode. Contudo o caso concreto diz que Daniel quer
que Rita deponha logo segundo o art. 552º nº2 não pode, pois para ele pedir é necessário que
seja logo na petição inicial.
Exame Época Normal 2017/2018
Grupo I
Resposta: À luz do art. 10º nº1, as ações podem ser declarativas ou executivas. Ao abrigo do
nº2 as ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou constitutivas: a)
as ações de simples apreciação pretendem obter unicamente a declaração da existência ou
inexistência de um direito ou fato; b) as ações de condenação exigem a prestação de uma
coisa ou de um fato em que se pressupõe ou prevê a violação de um direito; c) as ações
constitutivas autorizem uma mudança na ordem jurídica existente (art. 10º nº1-a),b),c) CPC).
Nesta situação deve ser intentada uma ação declarativa de condenação uma vez
que o autor pretende que o juiz reconheça a violação de um direito e, consequentemente,
condene a ré a eliminar os defeitos verificados na obra.
Quanto à forma de processo, dispõe o art. 546º nº1 que o processo pode ser
comum ou especial. O processo especial aplica-se aos casos previstos na lei, motivo pelo qual o
processo comum tem carácter subsidiário. Neste caso, para esta ação não está prevista
qualquer forma de processo especial, aplica-se o processo comum. Nos termos do art. 548º
nº1 o processo comum de declaração segue forma única.
Resposta: À luz dos arts. 296º nº1 e 297º nº1, a toda a causa deve se atribuir um valor certo,
expresso em moeda legal e se pela ação se pretender obter qualquer quantia certa em
dinheiro, esse é o valor da causa.
No caso concreto, aplica-se o disposto no art. 301º nº1 que nos diz que quando a
ação tiver por objeto a apreciação do cumprimento de um ato jurídico, atendemo-nos ao valor
do ato determinado pelo preço ou estipulado pelas partes.
Por último, quanto à competência em razão de matéria, a ação deve ser julgada
pelo tribunal da comarca referente ao tribunal competente (Aveiro), que a sua comarca é na
própria cidade de Aveiro (Anexo II LOSJ) e segundo o art. 68º nº2-e) o tribunal competente
tem sede em Aveiro.
Resposta: Estamos perante um caso de incompetência absoluta por infração das regras de
competência em razão de hierarquia (art. 96-a)) – devia propor a ação num tribunal de 1º
instância, e propôs no STJ. Esta incompetência pode ser arguida pelas partes (foi o articulado).
Resposta: António não poderá redigir o articulado, pois falamos de uma ação cujo valor
(€6 000) ultrapassa o valor da alçada (€5 000,01) o que significa que António terá de constituir
obrigatoriamente mandatário à luz do art. 40º nº1-a) CPC com remissão para o 44º nº1 LOSJ.
Se não cumprir, o juiz oficiosamente determina a sua notificação para o constituir dentro de
prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância (art. 41º CPC).
Para além disso, a petição é recusada, pois o autor não indica o domínio profissional
do mandatário judicial (art. 558º nº1-c) CPC).
f) Quais os meios de prova que o autor poderia apresentar e qual o momento da sua
apresentação?
Resposta: O autor poderia apresentar quatro tipos de provas: a) prova documental, junção aos
autos do contrato de empreitada e de outros pareceres técnicos respeitantes à concretização
da empreitada (art. 423º); b) prova pericial, dado que no caso se verifica a necessidade da
perceção de fatos que exigem o conhecimento de fatos técnicos em que o juiz não possui (art.
467º); c) prova por inspeção judicial, mediante exame de moradia (art. 490º); d) prova
testemunhal (art. 495º).
Grupo II
Suponha que Ana Rita foi citada pelo Tribunal Judicial da Comarca de Leiria, através de
carta registada com aviso de receção para contestar a ação declarativa de condenação
motivada contra ela.
Quando termina o prazo para deduzir a contestação, sabendo que a Ré foi citada no
seu local de trabalho em Coimbra e que o aviso de receção foi assinado pela sua mãe no dia 1
de março de 2018.
Resposta: A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (219º/1).
No caso concreto, a Ré considera-se citado no dia em que a sua mãe assinou o aviso
de receção – 01/03/2018.
A Ré tem 30 dias para apresentar a contestação a contar da citação – art. 569º nº1.
A este prazo podem acrescer-se os prazos dilatórios previstos no art. 245º: a) tem
direito a mais 5 dias pois o aviso de receção foi assinado por outra pessoa; b) tem mais 5 dias
pois a Ré foi citada fora da área da comarca sede do tribunal onde prende a ação. Logo, Ana
Rita tem direito a 10 dias de prazo dilatório (245º/4).
Grupo III
A empresa “Boas Obras, Ldª” apresentou requerimento de injunção contra João,
pedindo o pagamento da quantia total de €9 000, a título de capital devido pelo não
pagamento de fatura relativa a fornecimento de material elétrico.
João foi notificado em 1 de fevereiro de 2018 para vir pagar uma quantia pedida,
acrescida da taxa de justiça já paga pelo requerente, ou deduzir oposição à pretensão da
demandante.
Resposta: No prazo de 5 dias, o secretário judicial notifica o requerido, por carta registada com
aviso de receção, para em 15 dias pagar ao requerente a quantia pedida acrescida da taxa de
justiça (neste caso já paga) – art. 12º nº1 DL nº 269/98, de 1 de setembro.
Sendo assim, o prazo como começa a contar no dia seguinte (art. 4º Diploma
Preambular), começou dia 2 de fevereiro de 2018. Ele termina dia 16/02/2018, porém João
ainda tem 3 dias úteis com o pagamento de multa (139º/5) – 19/02/2018.
Resposta: a ação declarativa é uma ação em que o autor procura que o tribunal declare a
solução para um determinado caso, e este o fará com fundamento no direito civil em que
declara a existência ou não do direito invocado (10º/2) – exemplo: Francisco considera-se
proprietário de um determinado imóvel por este lhe ter sido vendido por António. Por sua vez,
Gonçalo diz-se proprietário desse imóvel alegando que o comprou ao mesmo António. Na ação
que o Francisco propõe, pede que o tribunal declare que é ele o proprietário do imóvel em
questão. Enquanto isso a ação executiva é uma ação em que o credor requer as providências
adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida.
Grupo II
Rita Unipessoal, Ldª, com sede em Coimbra, apresentou uma ação especial para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato contra Joana Unipessoal, Ldª,
com sede na Lousã, pedindo o pagamento da quantia de €6 000, a título de capital pelo não
pagamento de uma fatura, a pagar em Coimbra, no dia 12/10/2020. Joana Unipessoal, Ldª foi
citada em 09/11/2020.
Resposta: Estamos perante uma ação declarativa mais simplificada, uma vez que não tem o
tradicional prazo de 30 dias (569º/1), mas sim 20 dias pois ultrapassa o valor da alçada do
tribunal de 1º instância - €5 000 (1º/2 DL nº 269/98, de 1/09 com remissão para o art. 44º/1
DL nº 62/2013, de 26/08).
A contagem do prazo ocorre nos termos do CPC com uma exceção – não existe
dilação/prazo dilatório, ou seja, os prazos previstos no art. 245º não se aplicam a estes casos
(art. 4º Diploma Preambular). Sendo assim, aos 20 dias não se acresce mais nenhum
independentemente de ter sido o próprio a receber, ter sido terceiro, ter sido identificado em
comarca diferente.
À luz do art. 279º-b) CCivil, a contagem dos prazos começa no dia seguinte à
receção da citação – 10/11/2020. Estes são contínuos e suspendem-se nas férias judiciais
(22Dez -03Jan) – art. 138º/1 CPC com remissão para o 28º LOSJ. Se o prazo terminar num dia
em que o tribunal se encontre encerrado, transfere-se para o dia útil seguinte (nº2) – Sábado,
Domingo ou Feriado.
Sendo assim o prazo termina dia 29/11/2020, mas à luz do nº2 do art. 138º como o
prazo termina a um domingo, ele transfere-se para o dia útil seguinte – 30/11/2020.
Contudo, o autor tem ainda à sua disposição 3 dias úteis subsequentes ao termo do
prazo dependentes do pagamento de uma multa (art. 139º nº5) – 3/12/2020.
Resposta: À luz do art. 3º/4, as provas são oferecidas na audiência podendo cada parte
apresentar até 5 testemunhas (o valor da causa ultrapassa os €5 000). Sendo que por cada fato
só se pode apresentar 3 testemunhas (nº5).
Grupo III
José, solteiro, maior, residente em Coimbra, sofreu um acidente de viação no dia
01/01/2015, na Rua dos Combatentes, em Coimbra. Na sequência de tal acidente ficou
impossibilitado de trabalhar durante 15 dias, tendo tido um prejuízo de €500, ficou com o seu
veículo inutilizado, cujo valor patrimonial era à época de €20 000, e sofreu danos não
patrimoniais no valor de €10 000. O veículo automóvel do outro condutor, António, solteiro,
maior, residente em Leiria, tinha seguro válido da Companhia de Seguros XX, SA, com sede em
Lisboa. A Companhia de Seguros XX, SA, não assumiu a responsabilidade de António pelo
acidente. Inconformado, José instaurou, em 30.11.2020, ação pedindo o pagamento de todos
os seus danos.
Resposta: À luz do art. 10º/1 as ações podem ser declarativas ou executivas. Ao abrigo do nº2
as ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou consecutivas: a) as
de simples apreciação pretendem obter unicamente a declaração de existência ou não de um
direito; b) as de condenação exigem a prestação de uma coisa ou fato, pressupondo (neste
caso concreto) a violação de um direito; c) as consecutivas autorizam uma mudança na ordem
jurídica existente.
Nesta situação deve ser instaurada uma ação declarativa de condenação, uma vez
que o autor pretende que o juiz reconheça a violação de um direito e, consequentemente,
condene o réu a eliminar os defeitos verificados na obra – pagamento de uma indemnização
pelos danos causados.
Quanto à forma de processo, dispõe o art. 546º nº1 que o processo pode ser
comum ou especial. O processo especial aplica-se aos casos previstos na lei, motivo pelo qual o
processo comum tem carácter subsidiário. Neste caso, para esta ação não está prevista
qualquer forma de processo especial então aplica-se o processo comum. Nos termos do art.
548º nº1 o processo comum de declaração segue forma única.
Resposta: No caso concreto o autor é o José e a ré é a Companhia de Seguros XX, SA por força
da Lei do Contrato de Seguro nos seus arts. 137º e 138º transfere a responsabilidade –
abrange as pessoas que tem seguro de responsabilidade civil válido – para a companhia de
seguros. O António é uma “mera” testemunha.
Por último, pede-se ao tribunal que sejam pagos os danos causados pelo acidente de
viação, tanto patrimoniais como não patrimoniais. Ou seja, o pedido feito era o valor
indemnizatório que resulta do fato da impossibilidade de o trabalhador/autor puder exercer a
sua atividade profissional, os danos patrimoniais provocados nesse acidente no veículo no
valor de €20 000 e os danos não patrimoniais no valor de €10 000.
Reposta: O valor da causa é €30 500 (10 000+20 000+500) nos termos do art. 296º e 297º/1/2.
Competência em razão de território – a ação deve ser proposta em Coimbra, pois ela
destina-se a efetivar a responsabilidade civil baseada em fato ilícito (acidente de viação) que
ocorreu em Coimbra (art. 71º nº2 CPC).
Competência em razão do valor – esta ação compete aos juízos locais cíveis, dado
que o seu valor de causa é inferior a €50 000 (art. 117º nº1-a) LOSJ e 130º).
d) Quando termina o prazo para o réu contestar, sabendo que o réu foi citado na sua
residência/sede e que o aviso de receção da carta registada com AR foi assinado pelo próprio
no dia 07/12/2020.
Resposta: A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (art. 219º nº1 CPC).
A citação postal considera-se feita no dia em que se mostre assinado o aviso de
receção, neste caso assinada pelo próprio Réu, e começa-se a contar o prazo no dia seguinte à
receção da citação – 08/12/2020.
Com isto, o Réu tem direito a 25 dias para contestar sendo que o prazo é continuo e
apenas se suspende durante as férias judicias (22Dez -3Jan); terminaria assim no dia
14/01/2021.
Além disto, o réu dispõe ainda de 3 dias úteis com o pagamento imediato de multa
(art. 139º nº5) – pode contestar até dia 17/01/2021. Porém como terminaria num dia em que
o tribunal se encontra fechado, passa para o dia útil imediatamente seguinte – 18/01/2021
(art. 138º nº2 CPC).
Resposta: À luz do art. 552º nº7 CPC, o autor juntamente com a petição inicial deve apresentar
o comprovativo do pagamento de taxa de justiça.
Resposta: Na contestação, o réu pode utilizar dois mecanismos de defesa: a) defesa por
impugnação quando pretende contradizer os fatos articulados na petição; b) defesa por
exceção quando alega fatos que obstam à apreciação do mérito da causa (art. 571º nº2),
sendo que podem ser dilatórias ou perentórias nos termos do arts. 576º e 577º CPC.
Um exemplo para defesa por impugnação – o autor vem dizer que circula na faixa
mais à direito, contudo a companhia de seguros diz que em função da travagem ele circula na
faixa do meio.
g) Defendendo-se o réu por exceção, pode o autor replicar? Se sim, de que modo e
qual o prazo? Se não, quando o autor pode responder à exceção deduzida?
Resposta: À luz do art. 613º CPC, se houver um erro na sentença, é lícito mediante
requerimento da parte que o juiz possa corrigir essas eventuais deficiências.
Resposta: O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que
a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição – vigora aqui o princípio do pedido (art. 3º nº1) e por isso o objeto do
processo está limitado pelo pedido que é feito pelas partes.