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Direito Processual Civil

 Conjunto de atos que conduzem a um determinado resultado


 Sequência de atos destinados à justa composição, por um órgão imparcial de
autoridade, de um litígio, ou seja, conflito de interesses

Quando isto diz respeito a interesses privados ou


particulares – domínio do processo civil

 Conjunto de peças apresentadas por uma e outra parte para servir à instrução e
julgamento de uma questão.

Conflito de interesses: só surge a partir do momento em que as normas jurídicas não são
respeitadas – casos em que o devedor não satisfaz a prestação devida ao credor ou em que um
individuo se apropria ou danifica a coisa pertencente a outrem.

Desencadeia a necessidade de proceder reintegração do direito violado (domínio do


direito civil)

 Nos sistemas primitivos, uma das forças utilizadas para que as pessoas respeitassem as
normas jurídicas era através do emprego de força e mais propriamente autodefesa ou
ação direta.

Inadequado às exigências sociais hodiernas, pois isso contribuiria para


criar o caos na sociedade onde fosse consentido.

Art. 1º C.Proc.C: proíbe a autodefesa determinando que a ninguém é lícito o recurso à força
com fim na realização ou assegurar o próprio direito, salvo os casos referidos na lei.

Art. 336º CC:

 É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito


 A ação direta pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa, na
eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito
Admite-se a ação direta em condições muito restritas em que se exige a verificação de
requisitos:

 Existência de um direito próprio


 Impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais
 Que seja indispensável o recurso à força para evitar a inutilização pratica do direito
 Que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo
 Que a ação direta não sacrifique interesses superiores aos que o agente visa realizar ou
assegurar

Art. do CC que admitem

− Art. 1277º
− Art. 1037º/2
O Estado obriga-se a conceder ao titular do direito
− Art. 1125º/2
violado a reintegração efetiva do seu direito – através dos
− Art. 1133º/2
tribunais (as decisões destes são obrigatórias para todas as
− Art. 1188º/2
entidades públicas e privadas, além de prevalecerem sobre as
de quaisquer outras autoridades – art. 205º/2 CRP).
Capítulo I – Conceito, Natureza e Importância do Processo Civil
1. Alguns princípios e deveres estruturantes do processo civil
A. Garantia do acesso aos tribunais – art. 2º/1

A proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter a decisão judicial.

Como sabemos, nem todos tem capacidade económica para suportar os custos das ações; por
isso, é imprescindível que eliminemos esses obstáculos económicos – publicação da lei que
regula o acesso ao direito e aos tribunais de forma a possibilitar a consulta jurídica e o apoio
judiciário a favor de quem se encontre em situação de insuficiência económica.

Lei nº 47/2007 de 28 de Agosto

B. Princípio dispositivo em confronto com o princípio do inquisitório – art. 5º

Quando o direito de uma pessoa é violado por outra, e estamos perante um conflito de
interesses, o tribunal só pode resolver esse conflito se os interessados lhe pedirem – petição
inicial.

O tribunal terá de obedecer a regras que constam no Código do Processo Civil.

Aqui, as partes dispõem do processo e cabe ao juiz controlar a observância das normas
processuais e proferir a decisão acerca do conflito de interesses que determinou a proposição
da ação.

Cabe aos litigantes a iniciativa da ação e o impulso necessário ao seu prosseguimento.

Art. 9º - o tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada a deduzir oposição.

O juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação – art.
608º/2.

A sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso o que se pedir –
art. 609º/1.

Se o réu, depois de notificado, não impugnar os fatos articulados pelo autor na petição inicial,
consideram-se admitidos por acordo – art. 574º/2

Às partes cabe fazerem o ónus da prova dos fatos que constituem fundamento da ação ou da
defesa – art. 342º CC.

Não é permitido a confissão, desistência ou transação quanto em causa estão direitos


indisponíveis – art. 289º/1

Relativamente ao princípio do inquisitório – art. 411º - o juiz está incumbido de realizar ou


ordenar todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do
litígio, quanto aos fatos de que lhe é lícito conhecer.
O juiz deve suprir a falta de pressupostos processuais cujas sanação seja possível determinar a
prática dos atos necessários à regularização da instância – art. 6º/1/2.,

O juiz deve adotar a tramitação processual adequada às especificidades da causa e adotar o


conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir – art. 547º.

O juiz pode requisitar informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias – art. 436º/1

Pode ainda determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento –
art. 452º/1

O tribunal pode ordenar a realização de segunda perícia, desde que seja necessária – art.
487º/2.

O tribunal pode inquirir uma pessoa não oferecida como testemunha – art. 526º/1

C. Princípio do contraditório – art. 3º/1

Todos os fatos levados a tribunal por uma das partes tem de ter direito ao contraditório – a
outra parte tem direito a contradizer os fatos apresentados.

O réu tem de ser citado para contestar a ação e é lhe proporcionado a oportunidade de se
defender – art. 569º/1 (é através desta ação, que se dá o cumprimento deste princípio).

Este princípio permite que cada uma das partes deduza as suas razoes, ofereça as suas provas,
controle as provas dos adversários.

O juiz deve observar e fazer cumprir o princípio do contraditório salvo casos de manifestação
desnecessário sobre decidir questões de direito ou de fato – art. 3º/3.

Só nos casos excecionais previstos na lei se podem tomar providências contra determinada
pessoa sem que esta seja previamente ouvida – art. 3º/2.

O preceito refere-se às providências cautelares que em alguns casos podem ser decretadas
sem prévia audição do requerido (art. 366º/1 e art. 393º/1) sendo que nestes casos, o
princípio do contraditório será observado em momento ulterior e em que se dá ao requerido a
possibilidade de se defender.

O princípio do contraditório pode ser considerado como emanação do princípio da igualdade


das partes.

D. Princípio da igualdade das partes – art. 4º

Ambas as partes devem ser consideradas como detentoras dos mesmos direitos e oneradas
com os mesmos deveres e em que se encontram numa posição de plena paridade entre si e
perante o tribunal – igualdade de posições como sujeitos processuais.

O princípio da igualdade das partes e o princípio do contraditório estão intimamente


associados em que o segundo deriva do primeiro – ambos os princípios derivam do princípio
do Estado de direito.

Art. 4º: o tribunal deve assegurar, ao longo de todo o processo, um estatuto de igualdade
substancial das partes, designadamente no exercício de faculdade, no uso de meios de defesa
e na aplicação de cominações ou de sanções processuais.
E. Princípio da cooperação

Os magistrados, na condução e intervenção do processo, devem cooperar entre si


concorrendo para se obter a justa composição do litígio .- reciprocidade nas relações em que
se estabelece entre as partes e entre estas e o tribunal impondo-se ainda a terceiros.

O juiz, em qualquer altura, pode ouvir as partes, seus representantes ou mandatários,


convidando-os a fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de fato – art. 7º/2.

O referido dever de cooperação tem como limites os que vem consagrados no art. 417º/3

O art. 32º/8 CRP determina a nulidade de todas as provas obtidas mediante tortura, coação,
ofensa da integridade física ou moral da pessoa, intromissão abusiva na vida privada, no
domicílio na correspondência ou nas telecomunicações.

Sempre que alguma das partes alegue com justificação que está com dificuldade em obter
documento ou informação necessários ao processo, o juiz deve providenciar pela remoção do
obstáculo – art. 7º/4.

Todas as pessoas, mesmo que não sejam partes na causa, tem o dever de prestar a sua
colaboração para a descoberta da verdade ao responder ao que lhes for perguntado – art.
417º/1 – e os que se recusarem são condenados em multa imposta pelo art. 417º/2. Quando
esta recusa é proveniente de uma parte e se torna inviável a realização da diligencia prevista
através da utilização de meios coercitivos, o tribunal apreciará livremente o valor da recusa
para efeitos probatórios (ex: investigação de paternidade em que o pai se recusa a sujeitar-se a
um exame hematológico).

O dever de cooperação impõe-se não só às partes, mas também a todas as pessoas.

Se a parte contrária tiver culposamente tornado impossível a prova ao onerado, inverte-se o


ónus da prova – art. 417º/2, in fine. A parte que tiver omitido gravemente o dever de
cooperação pode ainda ser considerado como litigante de má fé e então é condenado a multa
– art. 542º/1/2/c

O tribunal pode determinar a prestação de informações pelos serviços administrativos nos


casos contemplados no art. 418º/1. Pode ainda requerer de qualquer das partes requisitar
informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias – art. 436º/1. Pode ainda determinar a
realização de perícia colegial – art. 468º/1/a

Para além disso, o tribunal pode inspecionar coisas ou pessoas – art. 490º/1. Pode ainda
inquirir uma pessoa que não foi oferecida como testemunha se houver razões para presumir
que essa pessoa tem conhecimento de fatos importantes para a boa decisão da causa – art.
526º/1.

A lei impõe em alguns casos que o juiz tenha o dever de convidar as partes a suprir deficiências
ou imprecisões na exposição da matéria de fato – art. 590º. A omissão deste dever constitui
nulidade nas circunstâncias previstas no art. 195º.

F. Princípio da economia processual


Procurar obter o máximo resultado da atividade processual desenvolvida – procura-se que
com o menor esforço processual possível, se alcance a resolução do máximo de litígios.

Pretende-se, por isso, reduzir o número de processos e evitar os atos e formalidades


desnecessários.

O art. 130º proíbe a realização de atos inúteis e o art. 131º determina que os atos processuais
têm a forma que melhor corresponda ao fim que visam atingir.

Relativamente aos custos da concretização deste princípio, as responsabilidades do vencido


não abrange os atos e incidentes supérfluos nem diligências e atos – art. 534º/1. Já o nº2
determina quais os atos e incidentes que devem reputar-se supérfluos.

G. Dever de gestão processual – art. 6º

O juiz depois de receber a pretensão processual é obrigado a dirigir ativamente o processo e a


providenciar pelo seu andamento célere – deve promover oficiosamente as diligências
necessárias ao normal prosseguimento da ação.

Atribuímos ao juiz a direção do processo e impõe-lhe o dever de organizar o trabalho do


tribunal por forma a que o litígio termine por uma resolução justa com a celebridade possível.

O juiz deve começar por não admitir que sejam praticados atos inúteis – art. 130º.

Este dever justifica que ao juiz sejam atribuídos poderes que realmente lhe permitam obstar a
essa prática dilatória com a finalidade de agilizar a justa solução do conflito.

Nos casos do art. 193º, no caso de erro na forma de processo ou no meio processual, é
permitido a anulação apenas dos atos que não possam ser aproveitados, e o juiz deve corrigir
oficiosamente o erro na qualificação do meio processual utilizado pela parte.

É admissível a retificação de erros de cálculo ou de escrita – art. 146º/1. Por sua vez, o seu nº2
permite algumas limitações, o suprimento ou correção de vícios ou omissões puramente
formais de atos praticados.

O juiz tem de programar após a audição dos mandatários, os atos a realizar na audiência final,
no âmbito da audiência prévia – art. 591º/1/g.

Findo os articulados, o juiz pode determinar a junção de documentos com vista a permitir a
apreciação de exceções dilatórias – art. 590º/2/c.

O juiz pode adquirir a inquirição de testemunhas para além do limite previsto – art. 511º/4.
Pode ainda ordenar a apensação de ações, a requerimento de qualquer das partes – art. 267º.

O juiz pode aplicar uma taxa de justiça sancionatória quando a ação, oposição, requerimento
seja manifestamente improcedente e a parte não tenha agido com a prudência ou diligência
devida – art. 531º.

Segundo o art. 630º/2, não é admissível o recurso das decisões de simplificação ou de


agilização processual salvo se contenderem com os princípios da igualdade e do contraditório
com a aquisição processual de fatos ou com a admissibilidade de meios probatórios.
H. Dever da boa fé processual – art. 8º

Convicção de agir ou de ter um comportamento conforme aos princípios da justiça e da


lealdade que a cada um se impõem nas suas relações com as outras pessoas.

As regras da boa fé devem estar presentes em todas as relações jurídicas nomeadamente na


formação dos contratos – art. 227º CC.

Quando a parte infringe este dever, incorre em responsabilidade como litigante de má fé em


que pode ser condenada em multa e em indemnização à parte contrária – art. 542º/1.

A má fé processual considera como requisitos reveladores da sua existência não apenas do


dolo, mas também a culpa grave que designa por negligência grave – art. 542º/2.

A parte tem o dever de não formular pretensão ou oposição cuja falta de fundamente devia
conhecer, de não alterar a verdade dos fatos e de não omitir fatos relevantes para a decisão da
causa.

Quando se consegue o dever de cooperação, a omissão grave de tal dever constitui igualmente
litigância de má fé. Para que se considere litigância de má fé devemos saber que uma das
partes atuou com dolo ou com negligência grave, para além de se exigir que o litigante tenha
consciência de que não lhe assistia razão.

A defesa convicta de uma perspetiva jurídica dos fatos diversa daquela que a decisão judicial
acolhe a litigância censurável a despoletar a atuação da norma sancionatória.

A parte não deve ser condenada sem que o juiz dê previamente cumprimento ao princípio do
contraditório.

I. Dever de recíproca correção – art. 9º

Todos os intervenientes no processo devem agir em conformidade com um dever de recíproca


correção.

Exige-se o dever de correção a todos quantos intervêm no processo, contém uma referência
especial ao dever de urbanidade que se impõe nas relações entre advogados e magistrados.

O EOA determina que os advogados, no exercício da sua profissão, devem proceder com
urbanidade, nomeadamente para com os colegas, magistrados, árbitros… - art. 95º da Lei nº
145/2015, de 9/9. Este diploma no seu art. 110º/1, determina que o advogado deve exercer o
patrocínio dentro dos limites da lei e da urbanidade sem prejuízo do dever de defender
adequadamente os interesses do seu cliente.

O art. 9º conjuntamente com o art. 150º diz respeito à manutenção da ordem nos atos
processuais. Nestes deve ser mantida a ordem competindo ao magistrado que a eles presida
tomar as providências necessárias contra quem perturbar a sua realização.

Devemos ter em conta um especial dever de urbanidade nas relações entre os mandatários
judiciais e os funcionários que assenta na circunstância de os advogados gozarem de um
peculiar estatuto funcional que os considera indispensáveis na administração da justiça.

Este dever impõe ainda às partes intervenientes no processo que não usem, nos seus escritos
ou alegações orais – art. 9º/2.
Ao juiz é imposto o dever de fazer a devida comunicação aos advogados e por sua vez a
secretaria deve fazer a comunicação às partes e demais intervenientes.

O cumprimento do dever de correção impõe que as pessoas não tenham de esperar muito
tempo pelo início das diligências programadas sem que sejam elucidadas a tal respeito. Se não
houver comunicação implica a dispensa automática dos intervenientes processuais – art.
151º/7.

Se for omitido o dever de comunicar aos intervenientes presentes para a diligência a razão do
seu atraso, dentro dos 30 minutos posteriores à hora designada para o seu início, as pessoas
têm a possibilidade de se ausentarem legitimamente – não significa que estão dispensados da
intervenção.

2. Caracteres do direito processual civil


As normas do processo civil contém trâmites – traçam o caminho que deve ser percorrido até
se alcançar a resolução do conflito. A sua resolução é obtida pela aplicação das regras que
ditam o direito ao ser proferida a decisão pelo tribunal.

São as normas contidas no Código do Processo Civil que regula, todo o percurso da ação até
ser proferida a sentença.

A ação, cujos trâmites são os que constam do Código de Processo Civil destina-se à realização
efetiva do direito substantivo contido no Código Civil. O direito processual apenas indica os
meios para obter a decisão naquele caso concreto, e não regula os conflitos substanciais de
interesses suscitados entre os particulares.

As normas de processo civil são de aplicação imediata (as respetivas leis não atribuem nem
retiram direitos) sempre a que lei é alterada.

Para além disto tudo, é uma norma de direito público porque regula o exercício de uma função
do Estado representado pelos tribunais que são órgãos de soberania. Entre as partes e o
Estado existe uma relação de subordinação em que o Estado é revestido do seu ius imperii –
explica a força vinculativa de que gozam as decisões judiciais.

O direito processual civil serve um interesse púbico quando impede o recurso à justiça privada
e assegura a paz social e a segurança dos bens.

Quando surge um conflito que se torna necessário dirimir, não se confronta apenas os
interesses das partes, mas também o interesse público que diz respeito à paz social.

Por último, a ação constitui o meio próprio para se alcançar a tutela adequada aos direitos
previstos na lei substantiva, e é evidente que o deficiente conhecimento das normas
processuais pode comprometer o êxito de pretensão deduzida por quem propõe uma ação.
Com as reformas que o CPC teve, tem se procurado assegurar a prevalência da justiça material
sobre a justiça formal que torna menos graves as consequências derivadas do conhecimento
defeituoso do direito processual.

Não existe nenhum sistema em que seja possível eliminar as consequências da falta de
conhecimento das normas processuais – ónus de alegar (art. 639º e 281º/2), ónus de
impugnação (art. 574º).

3. Espécies de ações
3.1 Ações executivas
 Ações em que o credor requer as providencias adequadas à realização coativa de uma
obrigação que lhe é devida – art. 10º/4.
 É invocada a falta de cumprimento de uma obrigação expressa na sentença ou constante
de documento (título executivo).
 O credor/exequente requer a reintegração do direito violado ou ainda a aplicação de
sanções pela violação do direito.
 O título executivo é a sentença condenatória – sentença que condena no cumprimento de
qualquer obrigação – conjuntamente com outros documentos – art. 703º
 O art. 705º equipara as sentenças aos despachos e quaisquer outras decisões que
condenem no cumprimento de uma obrigação
 Para ser exequível, a sentença deve já ter transitado em julgado, salvo se o recurso contra
ela interposto tiver efeito meramente devolutivo – art. 704º/1
 A execução pode ser para pagamento de quantia certa (art. 724º e ss), para entrega de
coisa certa (859º e ss) e para prestação de fato (art. 868º e ss).

3.2 Ações declarativas


O autor procura que o tribunal declare a solução para um determinado caso, e este o fará com
fundamento no direito civil em que declara a existência ou não do direito invocado

Exemplo:

Francisco considera-se proprietário de um determinado imóvel por este lhe ter sido
vendido por António. Por sua vez, Gonçalo diz-se proprietário desse imóvel alegando que
o comprou ao mesmo António. Na ação que o Francisco propõe, pede que o tribunal
declare que é ele o proprietário do imóvel em questão.

Ação de simples apreciação: visam obter unicamente a declaração da existência ou não de um


direito ou fato – art. 10º/2/a CPC. Basta isso para satisfazer o autor, sendo que a ação foi
proposta para pôr termo a uma situação de incerteza (tem de ser objetiva). Estas ações
constituem um meio de prevenir litígios – função preventiva.
Positivas Negativas O autor requer que seja declarado
que o direito não existe

O autor pretende que o tribunal


declare a existência do direito

Pretende-se obter a declaração de


inexistência de um direito de outrem com a
finalidade de pôr termo a uma situação de
incerteza capaz de causar insatisfação ou
dano apreciável ao autor – art. 343º/1 CC

 Se o autor, após o reconhecimento da existência ou não do direito, não pretende mais que
a declaração formal dessa existência ou não do direito – ação de simples apreciação.

Ação de condenação: o autor pretende não só que seja declarado o seu direito violado pelo
réu, mas que este também seja condenado à reintegração desse mesmo direito, através da
realização de uma determinada prestação ou através de uma atitude de abstenção ou omissão
– art. 10º/2/b. Esta ação pressupõe uma prévia declaração da existência do direito, porém o
tribunal não fica por aqui e emite ainda uma ordem destinada a reintegrar o direito violado.

Exemplo:

Incumprimento de uma obrigação – o credor pretende que o tribunal depois de Esta decisão é exequível
declarar a existência do seu direito e o respetivo incumprimento, condene o réu à – se a decisão não for
realização da prestação devida e à indemnização pelos danos causados cumprida, o autor passa a
dispor de um título
executivo – art. 703º/1/a

 Se, além do reconhecimento da existência dos eu direito, o autor requer que se ordene ao
réu a realização de uma prestação – ação de condenação.

Ação constitutiva: o autor pretende obter um efeito jurídico novo que vai alterar (constituição,
modificação ou extinção) a esfera jurídica do réu, independentemente da sua vontade – art.
10º/2/c. Este novo efeito jurídico apenas depende da decisão do tribunal que a proferirá desde
que se verifique os pressupostos. São um meio adequado ao exercício de certos direitos
potestativos1. O autor não pede a realização de qualquer prestação, mas apenas a produção de
certos efeitos jurídicos que não exigem o concurso da vontade do réu

Exemplos:

 Ação de divórcio – art. 1781º e 1794º CC


1  Ação
Poder conferido a uma pessoa de introduzir uma alteração na esfera de investigação
jurídica de paternidade
de outras pessoas ou
sem a cooperação
destas. maternidade
 Ação em que o pedido de servidão de
passagem é formulado pelo dono de um
prémio encravado – art. 1550º CC
 Ação de impugnação pauliana – art. 610º e
616º/4 CC
Todas as ações (constitutivas) visam o reconhecimento da existência ou não de um direito

 Se, além do reconhecimento do direito invocado, o autor pretender a produção de um


certo efeito jurídico (constituição de uma nova relação, modificação ou extinção de uma
relação anterior – ação constitutiva.

4. Procedimentos cautelares
4.1 Razão da sua existência
Art. 2º/2 – garante o direito de acesso aos tribunais e atribui ao titular de um direito, a
possibilidade de propor a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo e a prevenir ou reparar
a sua violação. Esta ação demora um período de tempo +/- longo, pois esse tempo é suscetível
de acarretar consequências tais que a decisão que vier a ser proferida já não tem nenhum
efeito útil.

O reconhecimento da existência de um direito pode demorar tanto tempo que a decisão acaba
por perder o efeito prático

Procedimentos cautelares (art. 362º e ss): emanação duma providência que, até à última
alteração do CPC, era sempre provisória ou interina (está destinada a durar somente enquanto
não se profere a decisão definitiva na ação principal).

A demora do julgamento final é um fato normal que é impossível de remover

Pode, porém, criar um estado de perigo – expor o titular do direito a danos irreparáveis

Adelino da Palma Carlos2 – procedimento que se destina a evitar um prejuízo grave que
ameaça um direito subjetivo tão iminente que não pode esperar pela solução final de uma
ação declarativa instaurada, exige ainda a adoção de medidas urgentes depois de um exame
breve durante o qual o juiz tem de convencer-se apenas da probabilidade da existência do
direito.

Exemplo:
Esta providência visa garantir um direito
O devedor está a dissipar os seus bens, e por
isso, se torna necessário pôr fim a essa
situação para que o credor não veja como
Existem alguns casos em que se procura uma inútil a sentença condenatória que lhe vier a
ser favorável, por nessa altura, já se encontrar
decisão provisória rápida por ser a única
exaurido o património do devedor.
maneira de evitar certo perigo – atribuição de

2
Opinião
alimentos provisórios (se o requerente esperar pela decisão definitiva, arriscar-se-ia a morrer
de fome antes de a ver proferida).

Pretende-se evitar o prejuízo da demora inevitável da ação, sendo que atualmente em certos
casos esta decisão pode ser considerada como solução definitiva que torna desnecessária a
instauração da ação principal nos casos em que é decretada a inversão do contencioso.

4.2 Classificação quanto à sua finalidade


Como já sabemos os procedimentos cautelares ou visam assegurar os resultados da ação, ou
antecipar a realização do direito que eventualmente possa vir a ser reconhecido.

Podemos requerer a providência conservatória ou antecipatória adequada a assegurar a


efetividade do direito ameaçado – art. 362º/1.

Providências antecipatórias

Providências conservatórias Visam manter a situação de fato anterior


por forma a prevenir uma alteração que
Visam obstar a que se verifiquem se antevê como prejudicial – arresto,
prejuízos ocasionados pela demora da arrolamento, embrago de obra nova
decisão definitiva – alimentos provisórios

4.3 Providências cautelares especificadas e


não especificadas

− Restituição provisória de posse (art.


377º-379º)
− Suspensão de deliberações sociais (art. É necessário preencher seguintes
380º-383º) pressupostos:
− Alimentos provisórios (art. 384º-387º)
− Arbitramento de reparação provisória − Probabilidade séria da existência do
(art. 388º-390º) direito
− Arresto (art. 391º-396º) − Fundado receio da sua lesão
− Embargo de obra nova (art. 397º-402º) − Falta de providência cautelar
− Arrolamento (art. 403º-409º) especificada que previna o caso
concreto
− Que o prejuízo resultante da
providência não exceda o valor do dano
que com ela se pretenda evitar.
o Não contemplam todas as situações
possíveis.
o Para acautelar um risco de lesão não especialmente prevenido naquelas disposições legais
e pode ser requerida uma providência cautelar comum que seja adequada à situação
concreta.
A lei define várias providências cautelares específicas, mas na impossibilidade de prever todas
as situações que as possam desencadear, admite a possibilidade de ser requerida uma
providência cautelar diferente das previstas no Código, uma providência cautelar comum.

Só pode ser requerida quando a situação não for


suscetível de ser acautelada por alguma das
providências que se encontram tipificadas na lei –
Art. 362º/1: pode ser decretada se art. 362º/3.
além de existir a aparência do direito,
haja fundado receio de que outrem Só poderá lançar-se mão de providência cautelar
cause lesão grave e dificilmente comum se não houver providência cautelar
reparável a esse direito. especificada que seja adequada à situação concreta.

Impõe-se ao juiz que se recuse a


decretar a providência quando o
prejuízo dela resultante para o
requerido exceda consideravelmente o
dano que com ela o requerente
pretende evitar – art. 368º/2.
4.4 Procedimentos cautelares previstos em legislação avulsa
Constam da legislação avulsa com os seguintes objetivos:

 Apreensão de veículo automóvel

Art. 15º/1 do Decreto-Lei nº 54/75, de 24/2: vencido ou não pago o crédito hipotecário ou não
cumpridas as obrigações que originaram a reserva de propriedade, o titular dos respetivos
registos pode requerer em juízo a apreensão do veículo e do certificado de matrícula.

 Entrega da coisa objeto de locação financeira

Art. 21º do Decreto-Lei nº 149/95, de 24/7 prevê a providência cautelar de entrega judicial nos
seguintes termos: se findo o contrato por resolução ou pelo decurso do prazo sem ter sido
exercido o direito de compra, o locatário não proceder à restituição do bem ao locador e este
pode após o pedido de cancelamento do registo de locação financeira requerer ao tribunal
providência cautelar consistente na sua entrega imediata ao requerente.

 Medidas cautelares em processo de insolvência

Art. 31º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas prevê que havendo


justificado receio da prática de atos de má gestão, o juiz oficiosamente ou a pedido do
requerente, ordena as medidas cautelares que se mostrem necessárias ou convenientes para
impedir o agravamento da situação patrimonial do devedor. Estas medidas podem consistir na
nomeação de um administrador judicial provisório com poderes exclusivos para a
administração do património do devedor ou para assistir o devedor nessa administração (art.
31º/2).

4.5 Carácter Instrumental (e em princípio) provisório


Procura defender-se o titular do direito contra os prejuízos que lhe podem advir em
consequência da normal demora da decisão definitiva.

Sabemos que quando é decretada uma providência cautelar, ela em princípio é provisória, pois
apenas dura até ser proferida a decisão definitiva na ação principal – art. 364º/1. Então
procura-se garantir a utilidade e a eficácia da decisão definitiva a proferir na ação principal.

Se falta o periculum in mora, falta a necessidade de composição provisória e a providência não


pode ser decretada.

− Requerente da providência
− Elemento constitutivo da providência requerida
− Se faltar não há razão para não propor logo a ação e aguardar a
respetiva decisão

A ameaça deste elemento autoriza o tribunal a apreciar preliminarmente uma relação jurídica
substancial.
Quando o procedimento cautelar é dependente da causa principal, esta terá por fundamento o
direito cautelado; ou seja, a providência deve ter como objeto acautelar o interesse jurídico
que se pretende ver reconhecido na ação principal.

Exemplo: a providência cautelar em que se pede a prestação de alimentos provisórios será


dependente da ação de alimentos definitivos.

Nem o julgamento da matéria de fato nem a decisão final proferida no procedimento cautelar,
tem qualquer influencia no julgamento da ação principal – art. 364º/4.

4.6 O procedimento cautelar pode ser preliminar ou incidente da ação


“a providência tem uma vida necessariamente limitada: só dura enquanto não é proferida a
decisão final?”

Exceto se for decretada a inversão do contencioso, o procedimento cautelar é dependência da


ação que tenha por fundamento o direito acautelado e pode ser instaurado como preliminar
ou como incidente da ação declarativa ou executiva – art. 364º/1.

O procedimento pode ser requerida antes de ser proposta a ação principal – preliminar – ou já
depois de ser instaurar a ação principal – incidente.

Justificativa do Professor
Aberto dos Reis – se as providências cautelares podem funcionar em
benefício de um direito aparente, por maioria de razão podem ser postas ao serviço dum
direito real, dum direito já reconhecido.

Procedimento requerido antes: o processo é apensado ao da ação principal logo que esta
esteja proposta. Se esta ação ocorrer noutro tribunal é remetido para aí o apenso e o juiz da
ação fica com exclusiva competência para os termos subsequentes à remessa (art. 364º/2.) –
razão pela qual que a identificação do procedimento cautelar preliminar deve ser referida pelo
autor quando propuser a ação principal.

o Este “tipo” de procedimento fica sujeito à distribuição, e a ação principal vai à distribuição.

É a partir daqui que se designa a secção, instância e o tribunal


em que o processo há de ocorrer ou o juiz que há de exercer as
funções de relator (art. 203º).

o Não está sujeito à distribuição, pois terá de correr como apenso da ação principal – art.
364º/3.
4.6 Inversão do contencioso e consolidação da decisão 3

Exceção à regra contida no art. 364º/1.

Os procedimentos cautelares podem deixar de depender da ação se for decretada a inversão


do contencioso – pode consolidar-se como composição definitiva do litígio e, por isso, o
requerente fica dispensado de propor a ação respetiva.

O juiz na decisão que decrete a providência, pode dispensar o requerente do ónus de


propositura da ação principal se a matéria adquirida no procedimento lhe permitir formar
convicção segura acerca da existência do direito acautelado.

Para entendermos, não podemos perder de vista que o procedimento cautelar exige uma
maior celebridade e tem de ter uma estrutura mais simplificada e mais rápida. Por isso, o juiz
não tem a mesma exigência quanto à prova acerca da existência e da violação do direito do
requerente, pois o tribunal não emite um juízo definitivo (apenas provisório).

Sendo assim, será suficiente para que se possa decretar a providência cautelar a probabilidade
da existência do direito – art. 365º/1 e art. 368º/1.

Apreciação sumária da existência do direito

Não se exige a prova completa sobre a existência da situação jurídica, pois essa exigência não
seria compatível com a celeridade própria da providência cautelar, para além de constituir
uma repetição da prova que seria exigida na ação principal. Contudo, isso muda de figura se o
requerente solicitar a inversão do contencioso e o juiz do procedimento cautelar adquirir a
convenção segura acerca da existência do direito que tem de ser acautelado – estamos
perante um juízo mais profundo e em que o juiz terá de formar a convicção segura do direito
que a providência se destina a acautelar.

A dispensa só é possível desde que se verifique 3 requisitos – art. 369º.

 A matéria de fato aprovada no procedimento cautelar tem de permitir ao juiz adquirir a


convicção segura acerca da existência do direito acautelado
 Resultado de o requerente não se ter limitado a apresentar prova sumária do
direito que se arroga – foi além do que se pede no art. 365º/1 para uma decisão
provisória
 A natureza da providência decretada tem de ser adequada à realização da composição
definitiva do litígio
 Nem sempre a providência é de molde à composição definitiva do litígio. O art.
376º/4 diz que o regime de inversão do contencioso é aplicável á restituição
provisória da posse, à suspensão de deliberação social, aos alimentos provisórios;
estando logo excluídas providências de cariz conservatório como o arresto e o
arrolamento

3
Está incompleto (ver manual pg. 43-47)
 Exige-se que a inversão do contencioso seja requerida

4.7 Caducidade da providência decretada


Se o requerido propuser ação destinada a impugnar a existência do direito invocado pelo
requerente e a ação for julgada procedente – a providência decretada caduca (art. 371º/3).

Se o direito acautelado estiver sujeito a caducidade, esta interrompe-se com o pedido de


inversão e então reinicia-se a contagem do prazo a partir do trânsito em julgado da decisão
que negue o pedido (art. 369º/3) – mesmo após o pedido de inversão do contencioso o direito
continua a estar sujeito a caducidade.

Quando a providência decretada não passa de uma decisão provisória que dura até ser
proferida a decisão definitiva da ação principal, o procedimento cautelar não tem autonomia.

O procedimento cautelar extingue-se quando a providência caducar se (segundo o art.


373º/1):

 O requerente não propuser a ação da qual a providência depende dentro de 30 dias


 Depois de proposta a ação, o processo estiver parado mais de 30 dias por negligência do
requerente
 A ação principal vier a ser definitivamente julgada improcedente
 O réu for absolvido da instância e o requerente não propuser nova ação em tempo de
aproveitar os efeitos da proposição anterior – art. 279º/2
 O direito que o requerente pretende acautelar se tiver extinguido

Se não for proposta a ação declarativa dentro dos prazos a que alude o preceito, o
procedimento caduca – não interfere na caducidade da ação.

Caso especial: arresto – fica sem efeito nas situações previstas no art. 373º, mas também se
obtida na ação de cumprimento sentença com trânsito em julgado, o credor não promover
execução dentro dos 2 meses subsequentes – art. 395º.

Não se admite, na dependência da mesma causa, a repetição de providência que tenha sido
julgada injustificada ou tenha caducado – art. 362º/4.

A caducidade da providência cautelar pede que seja requerida providência idêntica, mas nada
impede que o requerente intente nova providência com o fim de acautelar riscos de lesão
diferentes daqueles que invocou na providência frustrada.

4.7 Responsabilidade do requerente


Se a providência caducar por factos imputáveis ao requerente ou se esta for considerada
injustificada, o requerente responde pelos danos culposamente causados ao requerido quando
este não age com a prudência normal – art. 374º/1.
Se o requerente não chegar a propor a ação principal ou se negligenciar o seu andamento,
responde pelos danos causados.

Responde ainda se a providência for considerada injustificada por falta do direito acautelado
ou falta de fundamento para ser decretada.

Arresto: segundo o art. 621º CC, se este for julgado injustificado ou caducado, o requerente é
responsável pelos danos causados ao arrestado quando não tenha agido com a prudência
normal.

O juiz pode, sempre que achar conveniente, tornar a concessão da providência dependente da
prestação de caução adequada pelo requerente – art. 374º/2.

A responsabilidade do requerente depende da culpa – agiu ou não com a prudência normal


(art. 374º/1).

Já sobre os casos dos alimentos provisórios, o requerente só responde pelos danos causados
se tiver atuado de má fé – art. 387º. Tendo em atenção que não se restituirá nenhum alimento
provisório recebido – art. 2007º/2 CC.

4.8 Urgência dos procedimentos cautelares


O juiz deve dispensar a prévia audiência do requerido quando verificar que a citação pessoal
deste não é viável.

O fato das diligências necessárias à confirmação da ausência do requerido serem um processo


muito lento, iria pôr em risco a urgência do processo e os prazos previstos no art. 363º/2.

Essa urgência faz com que os prazos processuais não se suspendem durante as férias judiciais –
art. 138º/1, in fine. Para além disso, os procedimentos cautelares devem ser decididos, em 1º
instância, num prazo máximo de 2 meses, ou se o requerido não tiver sido citado (casos
previstos nos art. 366º/1, 378º e 393º/1), de 15 dias – art. 363º/2.

4.9 Contraditório do requerido


O princípio do contraditório diz que cada uma das partes é chamada a deduzir as suas razões e
oferecer as suas provas, controlar as provas do adversário e discretear sobre o valor e
resultados de uns e outros.

Em casos excecionais, o art. 3º/2 diz que é possível tomarem-se providências contra
determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida.

Nos casos dos procedimentos cautelares, a summaria cognitio diz que é possível ser decretada
providências cautelares em prévia audição do requerido, ou que seja mesmo proibida a
audição do requerido – restituição provisória da posse (art. 378º CPC, art. 1279º CC), arresto
(art. 393º/1).

O art. 366º/1 diz que existem situações em que a providência pode ser decretada sem a
audiência do requerido, mas que só acontecerá se essa formalidade puser em risco o fim ou
eficácia da providência requerida.

As exceções que acabamos de relatar, devem ser proporcionais aos valores subjacentes às
finalidades que se pretendem acautelar com a situação de exceção.

Apenas permite que a contraparte não seja previamente ouvida, já que num momento
posterior será dado oportunidade ao requerido de se defender.

4.10 Processamento
O processo inicia-se por um requerimento com a exposição dos fatos e termina o requerente
por formular a sua pretensão.

No caso dos procedimentos cautelares, a citação do requerente depende de prévio despacho


judicial – art. 226/4/b.

O juiz tem a oportunidade de indeferir liminarmente a petição, quando o pedido for


improcedente ou ocorra exceções dilatórias insanáveis de que o juiz deva conhecer
oficiosamente.

 Indeferimento liminar – julgamento antecipado acerca do mérito

É sempre admissível recurso para a Relação – art. 629º/3/c


Justifica-se a sua utilização quando “a
improcedência da pretensão for tão evidente
que se torna inútil qualquer instrução e
A citação edital nunca tem lugar, pois se não for possível discussão posterior – quando o procedimento
citar o requerido pessoalmente, o juiz deve dispensar a do processo, não tenha razão alguma de ser,
audiência do mesmo – art. 366º/4. Esta citação é seja desperdício manifesto da atividade judicial
substituída por notificação quando o requerido já tenha
sido citado para a causa principal – art. 366º/2, in fine.

O tribunal não está adstrito à providência concretamente requerida e é aplicável à cumulação


de providências cautelares a que caibam formas de procedimento diversas – art. 376º/3. Este
não está vinculado a decretar a medida cautelar concretamente requerida, podendo decretar
antes a providência cautelar que julgue mais adequada ao caso concreto – exceção ao
princípio do dispositivo do art. 609º. Para tomar essa decisão, o tribunal só precisa servir-se
dos fatos articulados pelas partes, sem prejuízo pelos fatos instrumentais que resultem da
instrução da causa – art. 5º/2.
A lei exige que aos pedidos não correspondam tramitações processuais manifestamente
incompatíveis e que haja interesse relevante na cumulação – art. 37º/2.

A petição oferecerá ao requerente, prova sumária do direito ameaçado – art. 365º/1. E com
esta petição (inicial), o requerente oferece o rol de testemunhas (não pode apresentar mais de
5 testemunhas segundo o art. 294º/1) e requere os outros meios de prova – art. 293º/1.

Os depoimentos prestados antecipadamente ou por carta são gravados nos termos do art.
422º e segundo o art. 294º/2.

A audiência final é sempre gravada e apenas deve ser assinalados na ata o início e o termo de
cada depoimento, informação, esclarecimento, requerimento e respetiva resposta – art.
155º/1.

Finda a produção da prova, cada um dos advogados pode fazer uma breve alegação oral sendo
imediatamente proferida decisão por escrito aplicando-se o disposto no art. 607º - art. 295º.

A lei impõe ao juiz que justifique os motivos da sua decisão sobre a matéria de fato.

A providência cautelar pode ser recusada pelo tribunal quando o prejuízo que dela resulta para
o requerido exceda consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar – art.
368º/2.

4.11 Garantia penal da providência


Incorre na pena do crime de desobediência qualificada todo aquele que infrinja a providência
cautelar decretada, sem prejuízo das medidas adequadas à sua execução coerciva – art. 375º.

O requerido deve ser notificado pessoalmente com a cominação prevista na lei penal para o
caso de desobediência.

A aplicação desta sanção, não preclude a possibilidade de serem desencadeadas medidas civis
adequadas à realização coerciva da providência.

4.12 Recursos
A decisão que decrete a inversão do contencioso só é recorrível em conjunto com o recurso da
decisão sobre a providência requerida, sendo que a decisão que indefira a inversão é
irrecorrível – art. 370º/1.

Esta irrecorribilidade encontra justificação no fato de a decisão do juiz assentar num


pressuposto positivo cuja apreciação se pode considerar discricionária – art. 369º/1 – sendo
que o juiz aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção acerca de cada fato.

As decisões proferidas nos procedimentos cautelares não cabe recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça, exceto os casos em que o recuso é sempre admissível – art. 370º/2.

Quando o requerido não tiver sido ouvido antes do decretamento da providência, é-lhe lícito
na sequência da notificação prevista no art. 366º/6:
 Recorrer do despacho que a decretou quando ela não devia ter sido deferida
 Deduzir oposição quando pretende alegar fatos ou produzir meios de prova não tidos em
conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos da providência – art. 367º e
368º.

O requerido pode impugnar a decisão que tenha invertido o contencioso – art. 372º/2.

Nos casos em que a providência foi decretada sem a prévia audição do requerido este pode:

 Recurso do despacho que decretou a providência cautelar se entender que a decisão ano
devia ter sido no sentido do decretamento da providência
 Oposição quando alega fatos ou produz meios de prova que não foram tidos em conta
pelo tribunal e que podem afastar os fundamentos da providência ou determinar a sua
redução.

O juiz decide da manutenção, redução ou revogação da providência anteriormente


decretada em que cabe recurso desta decisão – art. 372º/3.

5. Procedimentos cautelares específicos


5.1 Restituição provisória da posse – art. 377º-379º
 Posse: Art. 1251º CC – poder que se manifesta quando alguém atua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real. Já o art.
1277º CC determina que o possuidor que for perturbado ou esbulhado pode manter-se
por sua própria força e autoridade nos termos do art 336º. Um dos requisitos para o uso
da força é a impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos. Se o possuidor
que for esbulhado com violência tem o direito de ser restituído provisoriamente à sua
posse sem audiência do esbulhador (art. 1279º CC).
− Esbulho: pressupõe a privação total
ou parcial da posse
− Perturbação: comportamento em
que é alterado o gozo e exercício do
direito.
 Perda da posse por esbulho de forma violenta:
neste caso, o possuidor pode pedir que seja restituído provisoriamente à sua posse
alegando que constituem a posse, esbulho e a violência – art. 377º CPC (apenas prevê a
situação de esbulho nos casos em que este tenha sido levado a cabo com violência). Ao
solicitar a restituição provisória da posse, o requerente tem apenas de alegar os fatos que
constituem a posse, esbulho e violência – art. 377º. Não nos basta alegar que temos a
posse do bem, devemos alegar os fatos que sejam suscetíveis de caracterizar o exercício
do direito em que a posse se traduz e acabaremos por pedir a restituição provisória da
posse do bem. Se o juiz reconhecer que de facto o requerente tinha a posse do bem e foi
esbulhado dela violentamente, ordenará a restituição sem citação nem audiência do
esbulhador4 – art. 378º - sendo que esta decisão deve ser proferida no prazo máximo de
15 dias (art. 363º/2, in fine). A restituição provisória da posse depende de uma ação de
restituição definitiva da posse e segue a forma do processo comum, pois foi eliminada do
número dos processos que seguem a forma especial. A ação de restituição de posse
caduca se não for intentada dentro do ano subsequente ao fato de turbação ou esbulho ou
do conhecimento dele quando tenha sido praticado a ocultas. O tribunal competente é
aquele em que deva ser proposta a ação principal – art. 78º/1/c.

 Casos de esbulho sem violência ou de perturbação da posse: nestes casos, o possuidor


pode requerer um procedimento cautelar comum – art. 379º. Se este tiver receio de ser
perturbado ou esbulhado por outrem, pode requerer que aquele que o ameaça seja
intimado para se abster de lhe fazer agravo sob pena de multa e responsabilidade pelo
prejuízo que causar – art. 1276º CC. A restituição provisória da posse só deve ser requerida
nas situações em que houve esbulho violento do bem possuído; nos casos em que isto não
ocorreu não haverá lugar a este procedimento cautelar especificado, mas sim um
procedimento cautelar comum (ouve-se o requerido se este não puser em causa o fim ou
eficácia da providência – art. 366º/1). Ao solicitar este último procedimento, o requerente
tem de alegar os fatos que constituem os respetivos requisitos sem esquecer os que
tendem a evidenciar a situação de periculum in mora. Já sabemos que como não houve
esbulho violento, não haverá restituição provisória da posse, porém o requerente pode
limitar-se a pedir que o requerido se abstenha da prática de certos atos ameaçadores ou
perturbadores da posse.

 Dúvidas quanto à qualificação como providência cautelar especificada: para o requerente


obter a restituição do bem não precisa alegar e provar que corre
Professor Alberto dos Reis – a
um risco, basta alegar e provar a posse, o esbulho e violência
restituição provisória de posse não é
(cabe a este o ónus de alegar e provar os requisitos desta rigorosamente uma providência
providência). Por ser decretada a providência ser sem ouvido o cautelar, e é sem dúvida uma
esbulhador, já se pôs em causa a sua conformidade com a Lei providência preventiva e
Fundamental – sanção contra o requerido. O regime de inversão conservatória, mas não é uma
do contencioso é aplicável com as devidas adaptações, à providência cautelar porque lhe falta
restituição provisória da posse – art. 376º/4. O valor do a característica do periculum in mora.
procedimento cautelar é determinado pelo valor da coisa
esbulhada – art. 304º/3/b.

5.2 Suspensão de deliberações sociais


 Deliberações passíveis de suspensão: art. 380º/1: é permitido requerer a suspensão da
execução de quaisquer deliberações sociais que sejam contrárias à lei, aos estatutos ou ao
contrato. As deliberações das associações ou sociedades são anuláveis quando sejam
contrárias à lei – art. 177º CC e art. 58º CSC. Também são alunáveis as deliberações da
assembleia dos condomínios contrárias à lei ou a regulamentos anteriormente aprovados
– art. 1433º CC. O sócio, se quiser contrariar estas deliberações, pode propor uma ação
declarativa pedindo a respetiva anulação; porém antes de ser proferida a sentença a
declarar a nulidade, ela poderia vir a ser executada e causar danos apreciáveis.

4
Exceção ao princípio do contraditório – art. 3º/1 e 415º/1
 Requisitos: qualquer sócio pode requerer que seja suspensa a Sócio – aquele que já o era no
deliberação social sempre que a sua execução lhe possa causar momento da deliberação impugnada,
dano apreciável – art. 380º/1. O regime de inversão do se ainda conservar essa qualidade no
contencioso é aplicável à suspensão das deliberações sociais – momento da impugnação. Já não o é,
art. 376º/4. Para propor ou intervir na ação têm legitimidade se no momento em que foi tomada a
aqueles que teriam legitimidade para a ação de nulidade ou deliberação, já tinha perdido essa
qualidade
anulação das deliberações sociais – art. 382º/2. Para além da
legitimidade, a deliberação tem de ser contrária à lei e ainda
tem de resultar da sua execução, dano apreciável. A suspensão das deliberações sociais
impõe que a providência se restrinja às deliberações ainda não executadas – se a
deliberação já foi executada, não poderemos requerer a sua suspensão.

 Prazo: o prazo para instaurar o procedimento cautelar é de 10 dias contados a partir da


data da assembleia em que as deliberações foram tomadas, relativamente aos sócios que
nela participaram. Se os sócios não estiveram presentes nem foram regularmente
convocados para a assembleia, o prazo inicia-se na data em que tiveram conhecimento das
deliberações tomadas – art. 380º/1/3. Se tiver sido decretada a inversão do contencioso, o
prazo para a propositura da ação só se inicia com a notificação da decisão judicial que haja
suspendido a deliberação ou com o registo da decisão obrigatório – art. 371º/1. Se a
requerida alegar que o prazo foi ultrapassado, deverá apresentar o ónus da prova do fato
– art. 343º/2 CC.

 Processamento: o requerimento deve ser instruído com cópia da ata em que as


deliberações foram tomadas – art. 380º/2. Se a lei dispensar a reunião da assembleia, a
cópia da ata é substituída por documento comprovativo da deliberação. Esta cópia é um
elemento essencial de prova, e o sócio pode pedir que lhe seja fornecida num curto prazo
de 24 horas; se lhe for recusado esse direito, é a requerida citada com a cominação de que
a contestação não será recebida sem vir acompanhada da cópia ou do documento em falta
– art. 381º/1. Se não for recebida a contestação, a requerida ficará na situação de revelia –
art. 567º e 568º. A partir da citação, não é lícito à requerida executar a deliberação
impugnada enquanto não for julgada em 1º instância o pedido de suspensão – art. 381º/3.
O juiz pode deixar de suspender a deliberação, se o prejuízo resultante seja superior ao
que deriva da execução – art. 381º/2. O valor do procedimento cautelar é determinado
pela importância do dano – art. 304º/3/c.

5.3 Alimentos provisórios


 O que deve entender-se por alimentos: a lei não tem em vista apenas a necessidade de
ordem alimentar, mas também as necessidades relativas à habitação, vestuário, e quando
se trata de menores abrange ainda a instrução e educação – engloba tudo o que contribui
para a subsistência da pessoa (art. 2003º CC – alimentos definitivos; porém enquanto não
for fixada esta prestação, o tribunal concede alimentos provisórios – art. 2007º CC). O
tribunal de direito a alimentos pode requerer a fixação da quantia mensal que deva
receber enquanto não houver pagamento da 1º prestação definitiva – art. 384º.
 Pessoas vinculadas à prestação de alimentos e a medida destas: o direito a alimentos
surge das relações de parentesco, união, matrimonial e união de facto – art. 2009º, 2015º
e 2020º CC. Este direito não é penhorável e não pode ser nem renunciado nem cedido –
art. 2008º CC. Isto não pode acontecer pois os alimentos destinam-se a assegurar a
sobrevivência da pessoa necessitada e teríamos de transferir para o Estado o dever de
acudir a situação pessoal do necessitado o que levaria a um encargo público. O credor dos
alimentos pode não pedir os alimentos provisórios ou então depois de obter uma decisão
judicial que lhos conceda, pode não pedir as prestações vencidas e não pagas (significa que
o credor dos alimentos conseguiu sobreviver sem as prestações), não pode é renunciar às
prestações futuras; por isso se quiser ser destituído do valor, assina um documento em
que se compromete a não pedir (futuramente) alimentos ao ex-cônjuge ou a qualquer
familiar que tem o dever de lhos prestar. Os alimentos serão proporcionais aos meios de
quem prestá-los e à necessidade de quem os receber – art. 2004º CC. Porém se acontecer
de quem pagar não consegue cobrir todas as necessidades do credor, terá de ser pedida a
importância em falta a outra das pessoas obrigadas por lei, e em último caso este dever
compete ao Estado através da Segurança Social.

 Fixação dos alimentos. Desde quando são devidos. Não restituição: os alimentos devem
ser fixados em prestações mensais exceto em algumas situações em que se fixa em
prestações diferentes como em géneros alimentares – art. 2005º CC. Os alimentos
provisórios são fixados pelo tribunal a requerimento do alimentado, ou se este for de
menor, oficiosamente – art. 2007º CC. Quando o alimentando é menor, o tribunal pode
fixar os alimentos provisórios mesmo que não tenham sido requeridos pelo seu legal
representante – exceção ao princípio dispositivo (art. 3º) como as situações previstas no
art. 913º/7. Segundo o art. 2007º/2 CC não se pode restituir alimentos provisórios
recebidos procurando evitar-se que o receio pela restituição leve o necessitado a deixar de
pedir esses alimentos. São devidos a partir do 1º dia do mês subsequente à data da
dedução do respetivo pedido – art. 386º/1.

 A providência cautelar: a demora normal do processo é um grande problema, pois o que


está em causa é a sobrevivência das pessoas necessitadas da prestação de alimentos. Para
evitar o periculum in mora, a lei coloca ao alcance do necessitado a possibilidade de
requerer o estritamente necessário à sua subsistência enquanto não for decidida a ação de
alimentos definitivos já proposta ou a propor. Se depois de fixados os alimentos definitivos
e ainda se encontrar pendente a providência cautelar que atribuiu alimentos provisórios,
deve ser julgada extinta a respetiva instância por inutilidade superveniente da lide – art.
277º/e. O requerente dos alimentos provisórios responderá pelos danos causados com a
caducidade da providência se tiver agido de má fé – art. 387º.

 Processamento: o tribunal competente para o procedimento cautelar é aquele em que se


propôs a ação principal – art. 78º/1/c. O requerente pode formular o seu pedido contra
uma das pessoas previstas no art. 2009º CC. Quando o juiz recebe a petição de alimentos
provisórios, pode designar logo o dia do julgamento – art. 385º/1. As partes são advertidas
que devem comparecer pessoalmente na audiência ou nela se fazer representar por
procurador com poderes especiais para transigir – art. 385º/1. É na própria audiência de
julgamento que o requerido apresentará a contestação ou oferecerá os respetivos meios
de prova. Se o requerido não comparecer nem se fizer representar, não só torna
impossível a transação, mas também inviabiliza a apresentação da contestação – isto tem
como efeito serem considerado admitidos os fatos alegados pelo requerente (art. 366º/5).
O incumprimento da decisão tem as consequências de ordem penal previstas no art. 375º.
O regime de inversão do contencioso é aplicável aos alimentos provisórios – art. 376º/4. O
valor do procedimento cautelar é determinado pelo valor da mensalidade pedida
multiplicada por 12 – art. 304º/3/a.

5.4 Arbitramento de reparação provisória


 Finalidade da providência: só foi incluído no CPC a partir da reforma que passou a vigorar
em 1997. Como dependência da ação de indemnização fundada em morte ou lesão
corporal, os lesados podem requerer o arbitramento de quantia certa sob a forma de
renda mensal como reparação provisória do dano – art. 388º nº1. Esta providência visa
evitar o periculum in mora – pois temos de considerar a demora da decisão a proferir
nestas ações que pode pôr em risco a subsistência do lesado. Segundo o art. 495º nº3 CC,
podem requerer esta providência não só os lesados, como aqueles que exigem alimentos
ao lesado e ainda aqueles a quem o lesado os prestava em cumprimento de uma
obrigação legal.

 Requisitos: o requerente deve provar que existe a probabilidade séria de existir o seu
direito a tal indemnização. Depois, terá de invocar a situação de necessidade em que se
encontra por causa dos danos sofridos – se referir o fato lesivo, seja morte ou lesão
corporal, terá de mostrar que ficou numa situação que não lhe permite satisfazer as suas
necessidades elementares ou que o dano sofrido é suscetível de pôr seriamente em causa
o seu sustento ou habitação. Para além disso, e por ser uma providência cautelar, teremos
que provar o periculum in mora. O lesado termina o seu requerimento pedindo que lhe
seja arbitrada pelo tribunal uma reparação provisória indicando uma quantia certa sob a
forma de renda mensal – art. 388º nº1.

 Processamento: aplicam-se as normas que regulam os alimentos provisórios, com algumas


adaptações – art. 389º nº1. Quando se recebe o requerimento marca-se logo o dia do
julgamento e em que as partes advertidas devem comparecer pessoalmente ou se fazer
representar por procurador com poderes especiais para transigir – art. 385º nº1. A
contestação deve ser apresentada de imediato e a falta dela faz com que os fatos alegados
pelo requerente se considerem admitidos pelo requerido – art. 574º nº2. Se for
apresentada uma contestação, o juiz procurará que as partes cheguem a um acordo, sendo
que se isso não for possível, será ordenada a produção da prova em que o juiz decide por
sentença proferida oralmente fundamentada – art. 385º nº2 e nº3. A quantia mensal que
for decidida deve ser para o indispensável para ressarcir os danos causados. Se na ação
principal não for arbitrada qualquer reparação ou for atribuída reparação inferior à que foi
provisoriamente estabelecida, o juiz deve condenar o requerente a restituir tudo o que for
devido – art. 390 nº2 – desvio do princípio dispositivo. Procura-se atribuir ao lesado o
pagamento antecipado de uma certa importância por conta da indemnização a que se
julga com direito. Se esta providência cautelar vier a caducar, o requerente deve restituir
todas as prestações recebidas – art. 390º nº1 e art. 473º e ss CC. O valor do procedimento
cautelar é determinado pelo valor da mensalidade pedida multiplicando por doze – art.
304º nº3 al. a).
5.5 Arresto
Definição: apreensão judicial dos bens, à qual são aplicáveis as disposições relativas à penhora
– art. 391º nº2.

o Garantia patrimonial. Relação entre arresto e penhora: o credor que tiver receio de
perder a garantia patrimonial do seu crédito, pode requerer o arresto de bens do devedor
– art. 619º nº1 CC. Procura-se preservar a garantia patrimonial do credor, ou seja, quando
o devedor não cumprir as suas obrigações pecuniárias, o credor tem o direito de promover
a execução dos seus bens – por isso este tem todo o interesse em que o devedor não
aliene os bens suscetíveis de garantir o pagamento da importância em dívida (providência
de carácter preventivo). São passiveis de arresto os bens penhoráveis e os animais de
companhia (segundo o Lei nº8/2017, de 3 de Março), e por sua vez, não são passiveis de
arresto, os bens absolutamente ou totalmente impenhoráveis – art. 736º. O art. 822º CC
diz que o exequente adquire pela penhora o direito de ser pago com preferência a
qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (nº1) e determina que se os
bens do executado tiverem sido previamente arrestados, a anterioridade da penhora
reporta-se à data do arresto (nº2). Quando os bens estão arrestados, converte-se o arresto
em penhora e faz-se no registo predial o respetivo averbamento – art. 762º. Os atos de
disposição dos bens arrestados são ineficazes em relação ao requerente do arresto – art.
622º CC.

o Requisitos: o requerente deve deduzir os fatos que tornam provável a existência do


crédito e justificam o receio invocado – art. 392º nº1. Deve alegar fatos que se forem
provados, são reveladores da provável existência do crédito e do justificado receio de que
venha a perder a garantia patrimonial. Porém, o não basta o receio subjetivo, o receio tem
de ser justificado e para isso deve basear-se em fatos concretos (ex: atos do devedor que
conduziram ou estão em vias de conduzir a uma situação em que o valor dos seus bens se
tornará insuficiente para cobrir o passivo). O requerente ainda deve relacionar os bens a
apreender de forma que sejam devidamente identificados.

o Tribunal competente: a ação deve ser instaurada no tribunal onde ocorre a ação principal,
sempre que o arresto for intentado como incidente – art. 364º nº3. Quando o arresto for
requerido como preliminar, é competente tanto o tribunal onde deverá ser proposta a
ação principal como o do lugar onde os bens se encontram – art. 78 nº1, al. a). o arresto
pode ser dependência de uma ação declarativa ou de uma ação executiva.

o Decisão e sua impugnação: o arresto é decretado sem audiência da parte contrário


(inobservância do princípio do contraditório) desde que se mostrem preenchidos os
requisitos legais – art. 393º nº1. A prova produzida oralmente deve ser registada para
possibilitar ao requerido exercer posteriormente o contraditório. Embora o arrestado não
tenha sido ouvido antes de ser decretada a providência cautelar, pode impugnar a decisão
depois de ter sido notificado pessoalmente – art. 366º nº6. E pode fazer isso através do
recurso ou da oposição – art. 372º nº1
− Recurso: quando entender que a decisão não se justifica. Aqui o recorrente não
impugna a prova produzida, mas entende que partindo desses fatos a decisão não
podia ser aquela.
− Oposição: quando quiser alegar e provar fatos que invalidem os fundamentos da
decisão ou determinem a sua redução. Pretende-se que o tribunal reaprecie a
matéria de fato e para isso terá de alegar novos elementos, pois até então o
tribunal apenas havia tido em conta os fatos que foram alegados pelo requerente.

o Caducidade: o arresto fica sem efeito, não só nas situações previstas no art. 373º, mas
também no caso de, obtida na ação de cumprimento sentença com trânsito em julgado, o
credor insatisfeito não promover execução dentro dos 2 meses subsequentes, ou ainda,
se, promovida a execução, o processo ficar sem andamento durante mais de 30 dias, por
negligência do exequente – art. 395º. Este procedimento cautelar está excluído do âmbito
da inversão do contencioso, visto que a sua natureza não é adequada à composição
definitiva do litígio – art. 369 nº1. O valor do procedimento é determinado pelo montante
do crédito que se pretende garantir – art. 304º nº3, al. e).

5.6 Embargo de obra nova


 Embargo judicial e embargo extrajudicial: o interessado pode requerer a imediata
suspensão de uma obra, trabalho ou serviço novo que julgue ser ofensivo do seu direito de
propriedade ou de outro direito real ou pessoa de gozo – art. 397 nº1.
− Embargo judicial: requer o embargo ao tribunal
− Embargo extrajudicial: o próprio interessado realiza diretamente o embargo,
notificando verbalmente duas testemunhas, o dono da obra e se este faltar o
encarregado ou quem o substituir. Terá de requerer, posteriormente dentro de 5
dias, a sua ratificação judicial, pois se não o fizer o embargo perderá o efeito – art.
397º nº2 e nº3.

 Requisitos: a ofensão ao direito do requerente tem de ser consequência da obra, trabalho


ou serviço novo. Ou seja, não poderão fundamentar o embargo nas obras que não seja
suscetíveis de ofender qualquer direito em causa, ou ainda em obras que não são novas. A
ocorrência do requisito “obra nova não concluída” deve se verificar no momento da
apresentação do requerimento a que alude o art. 397º nº1, ou na ocasião da notificação
verbal do nº 2 do mesmo artigo.

 Prazo: o prazo para requerer o embargo judicial é de 30 dias e conta-se a partir do


momento em que o requerente tenha tido conhecimento da lesão do seu direito.
Relativamente ao embargo extrajudicial, o prazo é o mesmo (30 dias), porém, e como já se
referiu, ficará sem efeito se a sua ratificação não for requerida no prazo de 5 dias.

 Processamento: depois de decretado o embargo, é lavrado o auto no qual se descreverá o


estado da obra e a sua medição – art. 400º nº1. O auto é assinado pelo funcionário que o
lavre e pelo dono da obra ou por quem a dirige. Quando o dono da obra não possa ou não
queira assinar, intervêm as duas testemunhas – art. 400º nº2. Se o embargado continuar a
obra sem autorização, o embargante pode requerer que seja destruída a parte inovada –
art. 402º nº1 – e se o embargado não o fizer dentro do prazo fixado, promove-se a
execução no estado em que se encontrava.
 Autorização para dar continuidade à obra: só é legalmente possível nas situações
previstas no art. 401º. Em qualquer um dos casos deve ser oferecida caução para garantir
as despesas relativas à demolição da obra – art. 911º. O embargo da nova obra é
dependente da ação principal em que se pede a demolição da obra 5. O valor do
procedimento cautelar é determinado pelo prejuízo que se quer evitar – art. 304º nº3, al.
d).

5.7 Arrolamento
Definição: dependência da ação à qual interessa a especificação dos bens ou a prova da
titularidade dos direitos relativos às coisas arroladas – art. 403º nº2

 Sua finalidade. Comparação com o arresto: quando existe receio (justo) de extravio,
ocultação ou dissipação de bens móveis ou imóveis, ou de documentos, podemos requerer
o arrolamento deles – art. 403º nº1.
− Arresto: utilizamo-lo para assegurar a garantia patrimonial do credor. O
requerente apenas pretende garantir o seu crédito à custa de alguns bens.
− Arrolamento: pretende evitar-se o extravio, ocultação ou dissipação de certos
bens. O requerente defende o se direito a determinados bens.

 Legitimidade: o arrolamento pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse
(jurídico) na conservação dos bens ou dos documentos – art. 404º nº1. Este terá de invocar
o seu direito aos bens que pretende preservar ou então a necessidade de utilização de
certo documento. Os credores não têm legitimidade para requerer o arrolamento, apenas
nos casos em que haja lugar à arrecadação da herança (art. 404 nº2) é que podem
requerer o arrolamento. Qualquer dos cônjuges quando se trata de uma ação de
separação judicial de pessoas e bens, pode requerer o arrolamento de bens comuns ou
dos bens próprios que sejam administrados pelo outro cônjuge – art. 409 nº1.

 Decisão: o requerente faz prova sumária do direito relativo aos bens e dos fatos em que
fundamenta o receio do seu extravio ou dissipação. Se o direito relativo aos bens
depender de ação proposta ou a propor, o requerente tem de convencer o tribunal da
provável procedência do pedido correspondente – art. 405º nº 1. Nos casos das ações de
divórcio, a proposta de ação já constitui um perigo para a conservação dos bens sob a
administração do outro cônjuge; por isso, o requerente não necessita de provar que há
justo receio de extravio ou ocultação. O requerido é citado e pode deduzir oposição no
prazo de 10 dias – art. 293º. O juiz decreta as providências, se tiver a convicção de que
sem o arrolamento o interesse do requerente corres grandes riscos – art. 405º nº2. No
despacho, nomeamos logo um depositário (possuidor dos bens) e um avaliador que não
precisam estar no juramento – art. 405º nº3.

 Como se faz o arrolamento: quando se trata de documentos, o arrolamento faz-se em


termos semelhantes, mas em que não há a necessidade de avaliação – art. 406º nº4. O
valor do procedimento cautelar é determinada pelo valor dos bens arrolados – art. 304º
nº3, al. f).

5
Pode se aplicar o regime de inversão do contencioso – art. 376º nº4
6. Interpretação das leis processuais. Valor da equidade.
O Código do Processo Civil não contém nenhuma disposição que defina critérios especiais para
a interpretação das próprias normas, ou seja, o intérprete terá de se socorrer daqueles
princípios gerais que regem a interpretação das leis.

Na interpretação das leis processuais devemos procurar conciliar o interesse da retidão e do


progresso da ordem jurídica, bem como o interessa da certeza do direito e da segurança do
comércio jurídico com o princípio da obediência ao poder legitimamente constituído.

O processo está impregnado por um conjunto de princípios gerais.

Toda a norma que não esteja em harmonia com eles e constitua exceção, não deve ser
ampliada. E o tribunal não está subordinado aos critérios normativos fixados na lei se puder
julgar segundo a equidade (art. 4º CC).

7. Integração de lacunas
Segundo o art. 8º CCivil, o tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou
obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos fatos em litígio.

Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos, e
na falta destes, a situação deve ser resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria
se tivesse que legislar dentro do espírito do sistema – art. 10º CCivil.

8. Aplicação das leis processuais no tempo


Art. 12º CCivil – a lei só dispõe para o futuro Serão respeitados os atos já
praticados no processo pendente
no momento em que a nova lei
A nova lei não tem eficácia retroativa. entrou em vigor.

Na falta de normas transitórias, será de aplicação imediata a nova lei processual não só às
ações que sejam instauradas posteriormente à sua entrada em vigor, mas também aos atos
que houverem de ser praticados nas ações ainda não terminadas

Duas razões fundamentais:


 O direito processual é um ramo do direito público, e acima dos interesses privados estão
os interesses superiores da coletividade. Segundo Alberto dos Reis, quando se publica uma
lei nova, isso significa que o Estado considera a lei anterior imperfeita e defeituosa para a
administração da justiça.
 Atendendo à natureza adjetiva ou instrumental do direito processual, as suas normas não
regulam o conflito de interesses entre os particulares, pois este é regulado pelo direito
subjetivo. É com base neste direito que o juiz julga procedente ou improcedente o pedido
formulado pelo autor.

O princípio consagra-se no art. 136º nº1 que determina que a forma dos diversos atos
processuais é regulada pela lei que vigore no momento em que são praticados.

9. Casos especiais de aplicação das leis no tempo


 Leis sobre a competência do tribunal: a competência é a parcela de jurisdição que cabe a
cada um dos tribunais. As leis sobre a competência definem os critérios que hão de servir
para delimitar a jurisdição de cada tribunal. Regra: aplicação imediata da nova lei, apenas
para as ações futuras; para as ações pendentes, aplica-se a lei vigente no momento em
que foram propostas.

 Leis sobre o formalismo processual: a forma dos diversos atos processuais é regulada pela
lei que vigore no momento em que são praticados – art. 136º nº1. Princípio: aplicação
imediata da nova lei tanto nas ações futuras como nas pendentes. A forma de processo
aplicável determina-se pela lei vigente à data em que a ação é proposta – art. 136º nº2.

 Leis sobre recursos: recursos são os meios de impugnação das decisões judiciais,
proporcionando à parte vencida requerer a reapreciação da causa por um tribunal
superior.
− Admissibilidade do recurso: a nova lei que venha admitir recurso quando a anterior
não o admitia, não se aplica às decisões já proferidas.
− Tramitação: a nova lei têm aplicação imediata, não só aos recursos que futuramente
sejam interpostos em ações pendentes, mas também aos recursos que já estão a
decorrer.

Quando a nova lei nega o recurso, nos casos em que pela anterior era admitido, não se
aplica às decisões anteriores, se o recurso já tiver sido interposto. Caso esse não tenha
sido interposto, existe a propensão da doutrina no sentido de considerar a não aplicação
da lei nova às decisões que admitiam recurso no momento em que foram proferidas.

A nova lei que altera a admissibilidade de recurso, é de aplicação imediata a todas as


decisões que venham a ser proferidas nas causas pendentes.

 Leis sobre alçadas: limite do valor das causas dentro do qual o tribunal julga sem
admissibilidade de recurso ordinário. Atualmente o processo comum segue forma única –
art. 548º - logo não sofre qualquer alteração nos casos em que é alterada a alçada (art.
136º nº2). O valor da alçada no momento em que a ação foi proposta determina a
admissibilidade do recurso.
− Tribunal da relação: 30 000€
− Tribunal de primeira instância: 5 000€

 Lei sobre as provas: tem como função a demonstração da realidade dos fatos – art. 341º
CCivil. Meios que o tribunal se serve para demonstrar a realidade dos fatos controvertidos
que interessam à decisão da causa. As normas podem constituir direito probatório
material – determina os meios de prova admissíveis e fixa o respetivo valor – ou direito
probatório formal – modo de produção das provas em juízo, determinando os atos a
praticar para a sua utilização (aplicação imediata). Relativamente às novas normas de
direito probatório material que dizem respeito a determinados fatos aplica-se o princípio
tempus regit actum.

 Leis sobre prazos judiciais: prazo é o espaço de tempo compreendido entre dois
momentos: o inicial e o final. O prazo é legal quando é marcado pela lei e judicial quando é
fixado pelo juiz no decurso da causa.
− Prazo dilatório: define a possibilidade da prática de um ato, assim como o início ou a
continuação da contagem de outro prazo (ex: art. 242º nº2)
− Prazo perentório: extingue o direito à prática do ato respetivo, salvo o caso de justo
impedimento – evento não imputável à parte nem aos seus representantes que obste
à prática atempada do ato e a parte que alegar justo impedimento oferece logo a
respetiva prova (art. 140º nº1).
− Prazo cominatório: estabelecem uma ameaça e em que a sua inobservância
desencadeia uma sanção – art. 423º nº2 (exemplo).

O ato pode ser praticado dentro dos 3 primeiros dias úteis subsequentes ao termo do
prazo, ficando a sua validade dependente do pagamento imediato da multa:

 Se o ato for praticado no 1º dia, a multa é fixada em 10% da taxa de justiça


correspondente ao processo com o limite máximo de meia UC.
 Se o ato for praticado no 2º dia, a multa é fixada em 25% da taxa de justiça com o
limite máximo de 3 UC
 Se o ato for praticado no 3º dia, a multa é fixada em 40% da taxa de justiça com o
limite máximo de 7 UC.

Se este ato for praticado pelo advogado da parte sofrerá um novo agravamento se a multa não
for paga de modo imediato e espontâneo.

Se o ato for praticado diretamente pela parte, em ação que não importe a constituição do
mandatário, o pagamento da multa só é devido após notificação efetuada pela secretaria na
qual se prevê um prazo de 10 dias para o referido pagamento – art. 139º nº7.

O prazo processual é continuo suspendendo-se durante as férias judiciais, salvo se a sua


duração for igual ou superior a 7 meses ou se tratar de casos de extrema importância (como os
procedimentos cautelares) – art. 138º.
Alteração dos prazos

 Se a nova lei veio encurtar um prazo perentório ou cominatório, deve aplicar-se


imediatamente aos prazos que já estiverem em curso, mas só se conta a partir da entrada
em vigor da nova lei – a não ser que pela lei antiga falte menos tempo para o prazo acabar.
 Se a nova lei torna mais longo um prazo perentório ou cominatório, é também aplicável
imediatamente aos prazos que já estiverem em curso, mas conta-se o período de tempo
decorrido no domínio da lei antiga.
 Quando a nova lei torna mais longo um prazo dilatório, adota-se a mesma solução.
 Se a nova lei encurtar o prazo dilatório, aplica-se imediatamente aos prazos em curso,
porém, se com a nova lei o prazo já se tiver esgotado, a dilação deve considerar-se finda
no momento da entrada em vigor da nova lei.

O disposto no art. 297º CCivil é extensivo aos prazos processuais por força do nº3 do mesmo
preceito.
Capítulo II – Formas de processo
1. Forma especial − Art. 878º e ss. CPC
− Código Civil

 Aplica-se aos casos expressamente designados na lei − Divórcio por mútuo consentimento
 Os processos especiais não seguem apenas um modelo − Prestação de caução (art. 906º)
único, pois existe uma grande variedade de processos − Direito de preferência
− Justificação da ausência (art. 881º e ss)
especiais, consoante o tipo de providências que o autor se − Interdições e inabilitações (art. 891º)
propõe alcançar quando instaura a ação – art. 878º e ss. − Divisão de coisa comum (art. 925º)
 Só tem aplicação nos casos expressamente previstos na − Execução por alimentos (art. 933º)
lei, ou seja, se nenhum dos processos especiais se aplicar − Prestação de contas (art. 941º)
− Revisão de sentenças estrangeiras (art. 978º)
àquilo que o autor pretende, aplicar-se-á o processo
− Processos de jurisdição voluntaria (art. 986º)
comum.
 Regulam-se pelas disposições que lhe são próprias e pelas
disposições gerais e comum – art. 549º nº1 e art. 130º-545º (normas gerais).

2. Processo comum
2.1 Distinção entre processo declaratório e executivo
 Processo declaratório – destina-se a retirar do poder judicial, a declaração da vontade da
lei no caso em apreço. Aqui o autor pede ao tribunal que declare a solução para o caso que
é submetido à sua apreciação.

Exemplo:

Se o tribunal declara que A é titular de um determinado direito de crédito e condena B a


efetuar a prestação correspondente, estamos no domínio de uma ação declarativa.

 Processo executivo – pretende-se a realização coativa dessa vontade da lei.

Exemplo:

Se o devedor (B) não cumpre voluntariamente a decisão proferida pelo tribunal, A pode
propor uma ação executiva, para obter, através da penhora e posterior venda dos bens do
faltoso, o cumprimento da prestação em que foi condenado.

2.2 Formas de processo comum


o Segundo o art. 548º, o processo de declaração segue forma única.
o Art. 552º nº1, al. c) – o autor é obrigado a indicar, na petição inicial, a forma do processo
o Deve também indicar o valor da causa – art. 552º nº1, al. f).

Importância da fixação do valor da ação – art. 296º

 A toda a causa deve ser atribuído um valor certo (em moeda legal) que representa a
utilidade económica imediata do pedido
 Usa-se esse valor para determinar a competência do tribunal, a forma de processo de
execução comum e a relação da causa com a alçada do tribunal
 Este valor é fixado segundo as regras previstas no presente diploma e no Regulamento das
Custas Processuais.

Antes de fixar o valor da causa, a parte terá de indagar primeiramente se ao caso se aplica
algum dos critérios especiais enunciados; se não se aplicar, o valor da causa terá de ser
encontrado por aplicação das regras gerais:

 Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, esse é o valor da
causa
 Cumulando-se na mesma ação vários pedidos, o valor da causa é a soma dos valores
de todos eles
 Nos casos de pedidos alternativos, o valor da causa é o pedido de maior valor

O art. 298º fixa critérios especiais:

 Nas ações de despejo, o valor é o da renda de dois anos e meio (e junta-se o valor das
rendas em dívida ou da indemnização requerida) – multiplica-se por 30 a renda
mensal
 Nos processos referentes a contratos de locação financeira, o valor é o equivalente ao
da soma das prestações em dívida até ao fim do contrato (junta-se os juros
moratórios vencidos)
 Nas ações de alimentos definitivos e nas de contribuição para as despesas domésticas,
o valor é o quíntuplo da anuidade correspondente ao pedido – multiplica-se o
montante mensal por 5 anuidades (60)
 Nas ações de prestação de contas, o valor é o da receita bruta ou da despesa
apresentada (se for superior).

 Art. 303º: fixa o valor das ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais 6
– valor equivalente à alçada da Relação e mais 0,01€

Art. 44º, nº1 da Lei nº62/2013, de 26 de agosto – fixou que, em matéria cível,
a alçada dos tribunais da Relação é de 30 000€.
6
Ações que visam alcançar um interesse não patrimonial
Como estas ações têm sempre o mesmo valor, de €30 000,001, conseguimos que da sentença
se recorra até ao Supremo Tribunal de Justiça.

O art. 299º dispõe sobre o momento a que se deve atender-se para a determinação do valor:

 Na determinação do valor da causa, devemos Exceto:


atender-nos ao momento em que a ação é proposta
− Pedido reconvencional
 O valor do pedido formulado pelo réu só é somado ao − Intervenção principal
valor do pedido formulado pelo autor quando os
Nestes casos, ao valor do pedido formulado pelo
pedidos sejam distintos – art. 530º nº3. Só produz
autor na petição inicial, soma-se o valor do
efeitos quanto aos atos e termos posteriores à pedido formulado pelo réu na reconvenção ou
reconvenção ou intervenção. pelo interveniente.

3. Processos de jurisdição voluntária – art. 986º e ss.


3.1 Distinção entre jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa
 Processos de jurisdição contenciosa: dirimem um conflito de interesses entre as partes. O
autor e o réu têm interesses conflituantes e, por isso, o autor pede ao tribunal que resolva
esse conflito proferindo a respetiva decisão em conformidade com a lei substantiva
aplicável ao caso – implica o exercício de uma atividade verdadeiramente jurisdicional.

 Processos de jurisdição voluntária: não existe um conflito de interesses a dirimir, mas


apenas um interesse fundamental que o juiz procura regular da forma mais conveniente e
oportuna – implica o exercício de uma atividade essencialmente administrativa. Ex: ação
de regulação do exercício das responsabilidades parentais propostas por um dos
progenitores contra o outro.

3.2 Características
 Princípio do inquisitório: o tribunal pode investigar livremente os fatos, coligir provas,
ordenar inquéritos e recolher informações convenientes – art. 986º nº2. O juiz dispõe de
um largo poder de iniciativa na recolha dos fatos que interessam para a decisão e pode
servir-se das provas que lhe pareçam mais convenientes. Esta sua atividade (inquisitória)
prevalece sobre as atividades dispositivas das partes.

 Critério de julgamento: o tribunal não está sujeito a critérios de legalidade escrita e deve
antes adotar a solução que julgue mais conveniente e oportuna – art. 987º. O juiz não
está vinculado à observância rigorosa do direito aplicável, e tem liberdade de se subtrair a
esse enquadramento rígido e de proferir a decisão que lhe pareça mais equitativa (este
funciona como um árbitro). O juiz procurará encontrar a solução que serve melhor para o
caso concreto em vez de obedecer cegamente às normas legais – equidade.
 Livre modificabilidade das decisões: as resoluções podem ser alteradas sem prejuízo dos
efeitos já produzidos com fundamento em circunstâncias supervenientes que
justifiquem a sua alteração – art. 988º nº1. Nestes casos, as decisões proferidas não
ganham força de caso julgado e por isso, podem ser alteradas desde que se modifiquem as
circunstâncias que determinaram essas decisões. Após se proferir a sentença, fica
esgotado o poder jurisdicional do juiz – art. 613º.

 Inadmissibilidade de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ): não é admissível


recurso para o STJ conforme o art. 988º nº2, pois este tribunal é um tribunal de revista e o
fundamento específico do recurso de revista é a violação da lei substantiva – quando não
está em causa esta violação não se admite recurso para o STJ. Porém este mesmo artigo
veio dar-nos a solução; só não é admissível recurso para este tribunal quando as
resoluções foram proferidas segundo critérios de conveniência, ao contrário, admite-se
recurso quando as questões decididas se fundamentam em critérios de estrita
legalidade.

4. Tutela da personalidade – 878º e ss.


Art. 70º Código Civil
Possibilita a obtenção de uma decisão
particularmente célere, que em tempo útil,
assegura a tutela efetiva do direito
fundamental de personalidade dos entes
singulares.

4.1 Pressupostos
 Pode se requerer o decretamento das providências concretamente adequadas a evitar a
consumação de qualquer ameaça ilícita e direta à personalidade física e moral do ser
humano – art. 878º
 Os direitos de personalidade são direitos subjetivos absolutos que se destinam a
preservar a integridade física e moral da pessoa:
− Direito à vida
− Direito à integridade física
− Direito à liberdade
− Direito à saúde
− Direito ao bom nome
− Direito à honra
− Direito ao repouso essencial à existência física

4.2 Processo
 Quando se apresenta o requerimento com o oferecimento das provas, se não houver
motivos para o seu indeferimento liminar, o tribunal designa imediatamente dia e hora
para a audiência, que se deve realizar num dos 20 dias subsequentes – art. 879º nº1.
 Com o requerimento são oferecidas logo as provas e o tribunal designa imediatamente a
audiência.
 A contestação é apresentada na própria audiência e, se se mostrar compatível com o
objeto do litígio, o tribunal procurará conciliar as partes – art. 879º nº2.
 Na falta de alguma das partes, o tribunal ordena a produção de prova e decide por
sentença – art. 879º nº3.
 Na falta de conciliação, procede-se à prova e terminada, logo é proferida sentença com
fundamentação sucinta, como o impõe a necessidade de ser célere.
 A sanção pecuniária compulsória está prevista no art. 829º-A CCivil – execução específica
que constitui um meio de coerção destinado a assegurar o cumprimento da obrigação
imposta ao requerido ao estabelecer antecipadamente a sanção para o incumprimento.
 Segundo o art. 879º nº5, pode se proferir uma decisão provisória, irrecorrível e sujeita a
posterior alteração ou confirmação no próprio processo.
 Se o réu não tiver sido ouvido antes da decisão provisória, pode contestar no prazo de 20
dias.

4.3 Regimes especiais


− Os recursos interpostos pelas partes devem ser processados como urgentes – art. 880º
nº1
− O prazo processual não se suspende durante as férias judiciais (em casos urgentes) – art.
138º nº1, in fine.
− A execução da decisão é efetuada oficiosamente – art. 880º nº2.
Capítulo III – Pressupostos Processuais

 Os juízes tem o dever de administrar a justiça, proferindo despacho ou sentença sobre as


matérias pendentes – art. 152º nº1.
O juiz profere a sentença
 Para que o juiz dê razão ao autor (para que a ação seja
julgada procedente), é necessário que a providência por si
requerida esteja em conformidade com determinada norma O tribunal conheceu o mérito da
de direito substantivo. causa ou proferiu decisão de fundo.
 O juiz tem de averiguar a existência dos pressupostos
processuais

Pressupostos processuais

▫ Requisitos cuja verificação depende a apreciação do mérito em causa.


▫ “questões prévias” ao conhecimento de fundo
▫ A falta destes pressupostos pode determinar a abstenção do juiz a conhecer o mérito e
por isso, tem de absolver o réu da instância – o juiz pode procurar suprir a falta deles
(art. 6º nº2)
▫ Não será proferida decisão sobre o mérito enquanto no processo não forem tidos em
conta determinados pressupostos processuais
▫ A grande maioria destes pressupostos é de conhecimento oficioso do tribunal – art.
577º e art. 578º.

Positivos A sua verificação é essencial para que o juiz Exemplos: personalidade jurídica,
conheça o mérito da causa capacidade jurídica, legitimidade,
interesse processual, competência
do tribunal e patrocínio judiciário
Negativos A sua verificação obsta para que o juiz Exemplo: litispendência, caso
aprecie o mérito de causa julgado e existência de
compromisso arbitral

1. Personalidade judiciária – art. 11º nº1


 Consiste na suscetibilidade de ser parte Partes: pessoas que requerem ou
 O processo exige duas partes em oposições contra as quais foi requerida a
opostas providência judiciária que se
▫ Autor, requerente ou demandante pretende alcançar através da ação.
▫ Réu, requerido ou demandado
 As partes devem ser identificadas logo na petição inicial – art 552º nº1 al.a)
 Outras pessoas podem intervir no processo quer em substituição ou ao lado das partes –
partes acessórias (ex: assistência – art. 326º).
 A personalidade judiciária é definida na lei segundo o critério da coincidência – quem tiver
personalidade jurídica tem (igualmente) personalidade judiciária (art. 11º nº2).

Quem tem personalidade judiciária?


− Pessoas singulares
− Pessoas coletivas (associações ou fundações)
− Sociedades a que seja reconhecida
− Associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais (art. 195º e art. 199º
CCivil)
− Sociedades civis (art. 980º CCivil)
− Sociedades comerciais antes da data do registo definitivo do contrato pelo qual se
constituem (art. 5º CSC)
− O condomínio resultante da propriedade horizontal (art. 1436º CCivil)
− Os navios, nos casos previstos em legislação especial

A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida – art. 66º nº1
CCivil – e termina com a morte – art. 68º nº1 CCivil.

Exceções – art. 12º CPC:

 Herança jacente – art. 2046º CCivil.

O titular ou titulares da herança ainda não foram determinados, porque a herança ainda não
foi aceita. Sendo assim, a ação deve ser intentada por ela ou contra ela, visto que à herança
jacente estende o art. 12º, al.a) a personalidade judiciária – é a própria herança jacente a
verdadeira parte e não qualquer sucessível.

 Patrimónios autónomos semelhantes

São constituídos por bens cujo titular não está determinado e trata-se de uma massa
patrimonial que necessita de que seja definido o seu titular. Logo, a lei estabelece um regime
jurídico cuja representação possibilita uma atuação eficaz – art. 26º. Ex: doações e deixas
testamentárias a nascituros – art. 952º e art. 2033º nº2, al.a) CCivil.

O art, 13º nº1 estende a personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações de uma pessoa coletiva – se a ação proceder de fatos por elas praticados.

São entidades que apenas são órgãos de administração local e que em princípio não
deviam ter personalidade judiciária – pois não subordinados à administração central – porém
quando está em causa fatos por elas praticados, podemos demandar e ser demandadas.

O nº2 do mesmo artigo, prevê os casos em que o fato foi praticado pela administração
principal sedeada no estrangeiro – obrigações contraídas por um português ou estrangeiro
domiciliado em Portugal.

1.1 Consequências da falta de personalidade


o em princípio é insanável – o tribunal deverá proferir despacho em que diz abster-se de
conhecer do pedido, absolvendo o réu da instância (art. 278º nº1, al.c))
o art. 14º - exceção

Quando a ação foi indevidamente


proposta contra a sucursal, a falta de
personalidade judiciária pode ser sanada
mediante a intervenção da administração
principal e a ratificação ou repetição do
processado.

2. Capacidade judiciária
 Aptidão para adquirir direitos e para os exercer.

Capacidade de gozo de Capacidade de exercício


direitos – capacidade de
adquirir direitos

A lei, pretendendo proteger a pessoa contra a sua


inexperiência ou
Normalmente todas as pessoas contra o seu deficiente
tem esta capacidade, no estado de saúde
entanto, por vezes a lei impõe mental, determina que
algumas restrições à sua não pode exercer por
capacidade de gozo. si os direitos de que é
titular.

 Art. 123º - incapacidade de menores


 Art. 139º - incapacidade de interditos
 Art. 153º - inabilitação

Capacidade judiciária

 Tem por base a capacidade de exercício de direitos – art. 15º nº2


 Possuem plena capacidade judiciária quem possui total capacidade de exercícios de
direitos.
 Os interditos não tem qualquer capacidade de exercícios de direitos, logo não tem
capacidade judiciária – art. 139º CCivil.
 Existem casos em que esta capacidade lhes está limitada – casos das limitações à sua
capacidade de exercício dos direitos
− Menoridade: os jovens só quando atingem a maioridade é que adquirem plena
capacidade do exercício dos direitos e ficam habilitados a reger a sua pessoa e a
dispor dos seus bens (art. 130º CCivil). Segundo o art.127º, o menor com mais de
16 anos tem plena capacidade judiciária para litigar em ação em que estejam em
causa os bens que adquiriu pelo seu trabalho – os pais não tem poder sobre este
assunto (art. 1888º nº1, al.d) CCivil)
 Quem não tiver capacidade judiciária, só pode estar em juízo através dos seus
representantes legais.

2.1 Modos de suprimento da incapacidade judiciária


 Dos menores

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal ou pela tutela – art. 124º e art.
1921º CCivil.

Na constância do matrimónio, o exercício das responsabilidades parentais pertencem a ambos


os progenitores que devem ser exercidas de comum acordo – art. 1901º nº1 e 2º CCivil.

Os menores são representados em juízo pelos pais e em que é necessário que ambos estejam
de acordo para propor a ação – art. 16º nº2. Porém se houver desacordo, qualquer um deles
pode requerer ao tribunal competente para a causa a resolução do conflito – art. 18º nº1. Já se
o desacordo surgir no decurso do processo, qualquer um dos pais (no prazo de realização do
1º ato afetado pelo desacordo) pode requerer que o juiz da causa providencie sobre a forma
de o incapaz ser nela representado. Depois de o juiz receber o requerimento de um dos pais e
ouvir o outro e o Ministério Público, decide em função do interesse do menor e pode atribuir a
representação a um dos pais, o MP ou pode designar um curador especial – art. 18º nº3.

Nas ações propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados – art. 16º nº3.

 Dos interditos Incapacidade para governar a sua


pessoa ou administrar os seus bens
São lhe aplicados as disposições que regulam a
incapacidade por menoridade e fixam os meios de − Aplica-se às pessoas que por
anomalia psíquica, surdez-mudez
suprir o poder paternal – art. 139º CCivil.
ou cegueira se mostram incapazes
As interdições podem ser (e são) aplicadas a maiores – de governar suas pessoas e bens –
art. 138º CCivil
art. 138º nº2 e art. 139º CCivil.

É decretada em ação especial intentada com essa finalidade – art. 891º-905º.

A sentença fixa, sempre que possível, a data do começa da incapacidade e designa ainda o
tutor – art. 901º.

A interdição é total – o interdito é considerado totalmente inapto para governar a sua pessoa e
bens.

 Dos inabilitados
Indivíduos cuja anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira, não é
tão grave que justifique a sua
interdição – art. 152º CCivil
É decretada em ação especial – art. 891º-905º. A sentença designa o curador e especifica os
atos que devem ser autorizados ou praticados por este – art. 901º nº1 e nº2.

A incapacidade judiciária destas pessoas é suprida através do curador que o assiste, nos atos
que dizem respeito à administração do seu património – art. 153º nº1 e art. 154º nº1 CCivil.

A assistência depende da autorização do curador para certos atos de disposição de bens


praticados pelos inabilitados – art. 153º nº1 CCivil.

Os inabilitados podem intervir em todas as ações em que sejam partes, porém essa
intervenção fica subordinada à orientação do curador que prevalece no caso de divergência –
art. 19º nº1 e nº2.

O inabilitado, representado pelo curador, pode intervir em todas as ações em que seja parte e
deve ser citado quando tiver a posição de réu – art. 19º nº1. Se este não for citado verifica-se
fundamento para a anulação do processado – art. 187º, al.a).

2.2 Nomeação do representante legal


Por vezes, o incapaz não tem representante legal na altura em que se pretende propor uma
ação em seu nome, se esse processo (de nomear um representante legal) não compadecer
com a urgência dessa nomeação, nomear-se-á um curador provisório – art. 17º.

Se a questão da incapacidade judiciária surgir no momento da citação, por se ter verificado a


impossibilidade de o citando a receber, o incapaz será representado na ação por um curador
especial – art. 20º.

Verifica-se que é necessário nomear um curador provisório sempre que no decurso do


processo se verificar a falta de acordo dos progenitores – art. 18º nº2 – ou quando os
interesses do menor são opostos aos interesses do representante legal (ex: quando o
representante legal concorre com o incapaz à herança – art. 9º nº1 Regime Jurídico do
Processo de Inventário).

2.3 Defesa do incapaz pelo Ministério Público


Se o incapaz ou o seu representante legal não deduzir oposição, cabe ao MP a defesa dele –
art. 132º nº1 e art. 21º nº1.

A lei dá ao incapaz uma segunda oportunidade de defesa, a cargo do MP, sempre que este não
deduzirem oposição – o MP é citado e corre novamente o prazo para a contestação.

Quanto este defender o autor, será nomeado um defensor oficioso – art. 21º nº2 – que
desempenha o papel que o MP desempenharia.

Cessa a representação do MP logo que seja constituído mandatário judicial do ausente ou do


incapaz – art. 21º nº3.
2.4 Sanação da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação

Sanadas mediante a intervenção ou citação do representante legítimo ou do


curador do incapaz – art. 27º nº1.

Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não
existisse – art. 27º nº2.

Se não ratificar, fica sem efeito o processado a partir do momento em que a falta se verificou e
renova-se os prazos para a prática dos atos atingidos.

− Se a irregularidade consiste na preterida por um dos pais, ratifica-se o processo


anterior quando o preterido não disser nada dentro do prazo fixado
− Quando há desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou renovação dos atos,
será decidido em conformidade com o disposto no art. 18º - art. 27º nº3

Quando houver necessidade de fazer intervir um menor em causa pendente em que não há
acordo entre os pais; qualquer um deles pode requerer a suspensão da instância até resolução
do desacordo pelo tribunal da causa, que deve decidir no prazo de 30 dias – art. 18º nº5.

3. Legitimidade das partes

O autor é titular do direito e que o réu é o sujeito da obrigação.

− A parte tem legitimidade como autor (se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu)
− A partem tem legitimidade como réu (se for ela quem juridicamente se pode opor à
pretensão do autor)

Se as partes forem ilegítimas, a decisão que vier a ser proferida sobre o mérito da causa, não
teria efeito – não podiam vincular os verdadeiros titulares da relação jurídica litigiosa.

 Art. 30º nº1: define a legitimidade servindo-se do critério do direto interesse que a
parte pode ter em demandar ou contradizer.
 É necessário que as partes tenham interesse direto em demandar ou contradizer.
Exemplo:

O pai pode ter interesse em que seja paga ao seu filho, de maioridade, uma importância
que lhe é devida por determinada pessoa. No entanto não tem legitimidade para propor a
adequada ação contra o devedor, em substituição do filho – não tem interesse direto.

 o interesse significa utilidade para o autor e prejuízo para o réu.


 o interesse em demandar se exprime pela utilidade derivada da procedência da ação e
o interesse em contradizer pelo prejuízo que dessa procedência advenha.

3.1 Pluralidade de partes


 a ação é proposto por vários autores ou contra vários réus
 pluralidade ativa ou passiva (consoante fica do lado dos autores ou dos réus)
 pode ser mista quando a ação é instaurada por vários autores contra vários réus
 pode ser inicial quando acontece no momento em que é proposta a ação, ou pode formar-
se em momento posterior (ex: intervenção de terceiros, espontânea ou provocada)
 pode dar origem a litisconsórcios ou a coligações

 Exprime a imagem de várias pessoas que no − Existe uma pluralidade de partes e uma
mesmo processo civil, estão do mesmo lado. pluralidade de pedidos
 Nem sempre a intervenção de terceiros dá − Diversidade de partes e de relações jurídicas
origem a um litisconsórcio, pois é necessária a materiais em litígio.
formação de uma pluralidade de partes − Permite-se a coligação de autores contra um ou
principais – não existe litisconsórcio no caso vários réus e permite-se que a um autor
demande conjuntamente vários réus por
da assistência, pois o assistente é parte
pedidos diferentes (quando a causa a pedir é a
acessória (art. 326º e ss.)
mesma) – art. 36º nº1.
 Litisconsórcio voluntário: o autor e o réu − O autor pode demandar vários réus por pedidos
podem, apenas, intervir no processo sendo diferentes nos seguintes casos
que a pluralidade de partes não é obrigatória. − Causa de pedir: ato ou fato jurídico de onde
 Litisconsórcio necessário: exige-se a emerge a pretensão deduzida pelo autor – art.
intervenção de todos os interessados. 581º nº4 – e tem de ser a mesma e única.
− A coligação é voluntária e a falta de alguma das
vítimas na ação não determina a ilegitimidade
da outra.
Litisconsórcio voluntário
− Relação de prejudicialidade: a decisão de um
Aqui os sujeitos não tem necessariamente que pode influir na decisão do outro
intervir na ação, sendo que só intervêm se assim o − Relação de dependência: o conhecimento de
um deles só pode ter lugar no caso de se
desejarem. A ação pode ser intentada por todos
verificar a procedência do outro.
os interessados ou contra todos eles:
− Permite-se a coligação quando não se verifica
▫ Podem os vários interessados decidir nenhum dos obstáculos previstos no art. 37.
propor a ação conjuntamente
▫ Pode o autor propor a ação contra vários réus
▫ Pode o autor ou o réu promover a intervenção de terceiros – depois de proposta a
ação

Nas obrigações solidárias, o credor pode em vez de propor a ação apenas contra um,
demandar conjuntamente os devedores – art. 517º nº1 CCivil.

Nas obrigações conjuntas, o credor que intente a ação apenas contra um dos diversos
devedores, só poderá obter decisão respeitante à sua quota-parte da dívida – art. 32º nº1.

Litisconsórcio necessário

Todos os interessados devem demandar ou ser demandados.

A falta de qualquer dos interessados é fundamento de ilegitimidade dos que intervieram a


ação.

Art. 33º nº1: o litisconsórcio é necessário quando a lei ou o negócio jurídico exige a
intervenção de todos os interessados na relação controvertida – pode ser legal ou
convencional.

Devem ser propostas, as ações de que possam resultar a perda ou oneração de bens que só
por ambos podem ser alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos
por ambos os cônjuges ou por um deles com o consentimento do outro – art. 1717º CCivil.

 Litisconsórcio necessário ativo: a ação pode ser instaurada por um dos cônjuges
com o consentimento do outro. Sem o consentimento do cônjuge pode-se suprir
judicialmente aplicando-se o disposto no art. 29º - art. 34º nº2.
 Litisconsórcio necessário passivo: a ação, que emerge de fatos praticados por
ambos, deve ser proposta contra ambos os cônjuges – art. 34º nº3.

Quando duas ou mais pessoas efetuam um depósito, podem convencionar que a coisa só pode
ser levantada por todos os depositantes em conjunto – a ação deve ser proposta por todos os
depositantes da ação em que se pede a restituição da coisa depositada.

Litisconsórcio subsidiário ou eventual

Existe a possibilidade de ser formulado um pedido principal contra aquele que se considera ser
o provável devedor, e um pedido subsidiário contra um outro suposto devedor – art. 39º.

Este pedido é apresentado ao tribunal para ser tomado em consideração somente no caso de
não proceder o pedido anterior – art. 554º.

Acontece quando existem muitas dúvidas sobre se a titularidade da relação material


controvertida pertence a um ou a outro sujeito. Acontece em casos em que o credor
desconhece a qualidade jurídica em que o réu interveio no ato ou contrato que irá ser objeto
de discussão na ação.

Pretende evitar-se a necessidade de propor duas ações e de haver o risco de decisões


contraditórias.

o Lado ativo: situações em que dois autores se associam, propondo a ação na qual o
primeiro se formula o pedido principal e o segundo o pedido eventual – um dos
autores só será tido como titular da relação material controvertida se for reconhecido
que o outro não tem essa qualidade.

o Lado passiva: o autor demanda determinado réu a título principal e, invocando dúvida
(fundamentada) sobre quem é o titular passivo da relação material controvertida,
deduz pedido subsidiário contra outro réu.

Exemplo:

Num acidente de viação em cadeia, o lesado que tenha dúvidas sobre qual dos dois
veículos será o responsável pelo acidente, pode propor uma ação de indemnização contra
uma companhia aérea e, subsidiariamente, contra a seguradora do dono do outro veículo.

3.2 Modo de sanar a ilegitimidade


 Fala-se em ilegitimidade dos casos, naqueles em que se verifica divergências entre as
pessoas identificadas pelo autor e que foram realmente chamadas a juízo.
 Constitui uma exceção dilatória – art. 576º e art. 577º, al.e).
 O juiz deve abster-se de conhecer o pedido e absolver o réu da instância – art. 278º
nº1, al.a).
 A ilegitimidade plural verifica-se em alguns casos de litisconsórcio necessário.
 É sanável mediante a intervenção espontânea ou provocada, da parte cuja falta gera
esse vício – art. 261º.
 É admissível até 30 dias depois de transitar em julgado, o despacho que pôs termo ao
processo.
 Admitindo o chamamento da pessoa em falta, a instância extinta considera-se
renovada – art. 261º nº2.

4. Legitimidade para a tutela de interesses difusos


Art. 31º: é atribuído ao MP, às associações e fundações, e ao próprio cidadão (no gozo dos
seus direitos civis e políticos), legitimidade para propor e intervir nas ações e procedimentos
cautelares destinados à defesa dos vários interesses aí mencionados.

A legitimidade assente no exercício do direito de ação popular consagrado na CRP e


regulado na Lei nº 83/95, de 31 de agosto
Interesses difusos: interesses cuja titularidade pertence a todos e a cada um dos membros de
uma comunidade ou de um grupo, mas que não são suscetíveis de apropriação por qualquer
um desses membros. Dizem respeito a pessoas não individualmente determinadas.

− Por serem difusos, dificultam a identificação de quem os pode invocar (legitimidade


processual).

Art. 31º - qualquer um desses indivíduos tem legitimidade para sustentar esse
interesse se violado, e se dessa violação ficou com prejuízos.

Art. 303º nº3 – estabelece que o valor destas ações corresponde ao do dano invocado, com
limite máximo do dobro da alçada do Tribunal da Relação.

5. Interesse processual
 Pressupõe que é inevitável recorrer à via judicial por não restar ao indivíduo outro modo
de satisfazer a sua pretensão.
 Se faltasse este pressuposto processual, a ação que viesse a ser proposta seria inútil, pois
de nada serviria.
 Pretende-se evitar que as pessoas sejam chamadas a juízo sem nenhuma razão, e evitar
que os tribunais sejam sobrecarregados com atividade, que, por desnecessária, não
aproveitaria a ninguém.
 O autor precisa de convencer que, na situação concreta, o seu direito necessita da tutela
judicial que solicita.
 A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresenta a contestação –
a partir daí depende da aceitação do réu, pois este pode ter interesse em que seja
proferida decisão de mérito para ver resolvida a questão do processo (art. 286º nº2).

Ações de condenação e Ações constitutivas Ações de simples apreciação


ações executivas
A violação do direito do O direito potestativo Torna-se difícil concluir pela existência do
autor que está na sua correspondente não é interesse em agir.
origem, evidencia daqueles que pode ser São ações que ainda não se verificou
claramente a necessidade exercido por simples qualquer violação do direito e que o autor
de pedir ao tribunal a declaração de vontade apenas propõe a ação para pôr termo a uma
reintegração do direito do respetivo titular. situação de incerteza ou dúvida – esta dúvida
violado – o autor tem tem de ser objetivo e fundamentada em fatos
interesse em propor a concretos.
ação. Devem verificar-se dois requisitos para que
haja interesse processual – objetividade e
gravidade.
4.1 Consequências da falta de interesse processual
A falta de qualquer pressuposto processual constitui exceção dilatória.

Nos casos em que a citação depende de prévio despacho judicial e, se da petição inicial
resultar falta de interesse processual, o juiz deve indeferi-la liminarmente (não ordena a
citação). Se a falta do pressuposto for reconhecida no despacho saneador, o juiz deve abster-
se de conhecer o mérito de causa, absolvendo o réu da instância – art. 278º, al.e).

Se, no momento de proferir a sentença se verificar que a obrigação ainda não é exigível, a
única sanção pela falta de interesse processual traduzir-se-á na condenação do vencedor no
pagamento das custas e dos honorários do advogado do réu – art. 610 nº3 e art. 535º.

Se a inutilidade da lide surgir em momento posterior à propositura da ação, a instância deve


ser declarada extinta – art. 277º, al.e).

5. Patrocínio Jurídico
 Assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro.
 Normalmente, as partes têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e
devem ser representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para o fazer.
 Art. 40º: obrigação de constituição de advogado em casos previstos nesse artigo.
 É exercido plenamente pelos advogados, e limitadamente pelos advogados estagiários e
solicitadores.

Só os advogados com inscrição em vigor na Ordem dos Advogados


podem praticar atos próprios da advocacia – Lei nº 49/2004, 24 de agosto

Define o sentido e o alcance dos atos próprios dos


advogados e solicitadores e tipifica o crime de
procuradoria ilícita.

 Não se confunde com a assistência técnica aos advogados previstos no art. 50º.

5.1 Constituição obrigatória do advogado


▫ Causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário
− Causas da competência dos tribunais de 1º instância. A admissibilidade de recurso
ordinário resulta da conjugação do valor da ação com o da alçada do tribunal de que
se recorre e ainda com o valor da sucumbência – art. 629º nº1.
− É admissível recurso ordinário nos casos em que o valor da ação é superior ao da
alçada do tribunal de que se recorre, quando o valor em que a parte decaiu é também
superior a metade dessa mesma alçada.
▫ Causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor
− Causas em que é sempre admissível recurso quaisquer que sejam aqueles valores.

▫ Recursos e causas propostas nos tribunais superiores


− Existem casos em que as causas são propostas no Tribunal da Relação e funciona como
tribunal de 1º instância. Ex: ações propostas diretamente nos tribunais superiores –
indemnização contra magistrados (art. 967º) e revisão de sentença estrangeira (art.
978º).

Nos tribunais superiores, é sempre obrigatória a constituição de advogado, quer para a


propositura das ações nos casos em que têm o seu início no Tribunal da Relação, quer nos
casos em que as causas sobem ao tribunal superior pela via do recurso. Porém, mesmo nestes
casos, as partes podem, por si próprio, fazer requerimentos que não envolvam questões de
direito – art. 40º nº2.

5.2 Mandato
O advogado é indispensável à administração da justiça e deve ter comportamento público e
profissional adequado à dignidade e responsabilidades da função que exerce.

Todas as ações com valor de 5 000€ ou inferior podem ser representadas por solicitadores sem
recurso ordinário – acontece o mesmo com as ações executivas com valor inferior a 30 000€.

Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado pela parte por meio de
mandato judicial.

− Pode ser conferido por meio de instrumento público ou particular, nos termos do
Código do Notariado e da legislação especial (art. 43º-a). Pode ainda ser conferido por
declaração negocial da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no
processo (art. 43-b).

− O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e


termos do processo principal e respetivos incidentes (art. 44º nº1).

− Já o mandato forense, é o mandato judicial conferido para ser exercido em qualquer


tribunal, mesmo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz (art 2º da Lei
nº 49/2004, de 24 de agosto)

− O Decreto-Lei nº 267/92, de 28 de novembro, dispensou a intervenção notarial nas


procurações passadas a advogados para a prática de atos que envolvam o exercício do
patrocínio judiciário.

− A eficácia do mandato depende da aceitação, que pode ser manifestada no próprio


instrumento público ou em documento particular (art. 44º nº4). Esta aceitação pode
ser expressa ou pode resultar do comportamento que o mandatário assumiu.
− Os mandatários judiciais podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto e
desistir do pedido ou da instância (art. 45º nº2) – poder de disposição sobre direitos
alheios; por isso, a lei exige que o mandatário só os possa praticar quando munido de
procuração que individualize a causa e o autorize expressamente a fazê-lo.

− O mandatário pode desistir livremente do recurso interposto, sem necessidade de


procuração com poderes especiais – não existe disposição de um direito material.

− Substabelecimento: transferência total ou parcial para outro advogado, dos poderes


que lhe foram conferidos.

 É feito pela mesma forma de procuração.

 Pode ser com reserva ou sem reserva de poderes.

Há uma pluralidade de mandatários.


Implica a exclusão do anterior mandatário – art.
Em qualquer altura o primeiro 44º nº3.
mandatário poderá reassumir os
O mandatário põe termo ao mandato que
poderes de representação e
anteriormente lhe foi conferido pela parte.
patrocínio
Tem de haver prévia autorização do mandante
para que se proceda à total transferência de
poderes

5.3 Revogação e renúncia do mandato


O mandato pode ser revogado pela parte que concedeu os poderes, ou pode ser renunciado
pelo advogado que recebeu o mandato. Estas ações devem ter lugar no próprio processo e são
notificadas tanto ao mandatário ou ao mandante – art. 47º nº1.

É a partir da notificação que se produzem os efeitos da revogação e da renúncia – art. 47º nº2.

Nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, depois de notificada a renuncia, se


não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias: a) suspende-se a instância(falta do autor);
b) o processo segue os seus termos aproveitando-se os atos anteriormente praticados( falta do
réu); c) extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer ação
(falta do requerente).

 Se o autor faltar e não se constituir novo mandatário, instância fica suspensa e


considerada mais tarde como deserta – art. 281º nº1.
 Se o réu faltar, não se pode suspender a instância e o processo segue os seus trâmites
5.4 Patrocínio a título de gestão de negócios
Em casos urgentes, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão de negócios –
art.49º nº1.

Uma pessoa assume a direção de


negócio alheio no interesse e por
conta do respetivo dono – art. 464º
CCivil.

Supõe a falta de procuração ou mandato (nulidade da procuração ou mandato).

É moralmente louvável e representa uma intromissão não autorizada na esfera jurídica de


outrem e que em alguns casos pode trazer prejuízos ao titular – art. 466º CCivil.

A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar, sob pena de o gestor ser
condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte contrária. Se
não ratificar, os atos praticados pelo gestor ficam sem efeito.

5.5 Falta ou irregularidade do mandato. Consequências.


Se a parte não constituir advogado, quando o é obrigatório, o tribunal pode, oficiosamente ou
a requerimento da parte contrária, notificá-la para o constituir dentro do prazo certo – art.
41º. Nos casos em que isso não é obrigatório, a parte pode se representar, mas não pode
inquirir as testemunhas nem alegar – viola o princípio da igualdade das partes.

 Se o vício não for sanado dentro do prazo fixado, o juiz proferirá despacho de
absolvição do réu da instância – falta do autor
 A defesa apresentada pelo réu fica sem efeito – falta do réu.
 Se a falta de advogado constituído se verificar na fase de recurso, o processo não tem
seguimento.

5.6 Responsabilidade do mandatário


O advogado estagiário ou não, que por ação ou omissão, violar dolosa ou culposamente algum
dos deveres consagrados no EOA comete infração disciplinar.

Quando se reconhece que o mandatário da parte teve responsabilidade pessoal e direta nos
atos pelos quais se revelou a má fé na causa, devemos dar conhecimento do fato à Ordem dos
Advogados ou à Câmara dos Solicitadores – art. 545º.

6. Competência dos tribunais

 Parcela de jurisdição que é atribuída a cada um dos órgãos jurisdicionais.


 Fração do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal
6.1 Conflitos de jurisdição e de competência

Parcela do poder (jurisdição)


depois de fracionado entre os
Poder de julgar que é atribuído
diferentes tribunais
aos tribunais considerados no
seu conjunto – art. 202º CRP

Existem conflitos de jurisdição quando duas ou mais autoridades, pertencentes a diversas


atividades do Estado, ou dois ou mais tribunais, integrados em ordens jurisdicionais diferentes,
se arrogam ou declinam o poder de conhecer da mesma questão – art. 109º nº1.

Exemplo:

A ação foi proposta no tribunal cível e o juiz considera que a mesma deve correr no tribunal
administrativo por ser de natureza administrativa a questão em litígio.

 Conflito positivo: ambos os tribunais arrogam o poder de conhecer da mesma questão


 Conflito negativo: ambos se declinam desse poder – art. 109º nº1, in fine. Ex: um juízo
cível e um juízo de família de Lisboa, que pertencem a tribunais da mesma ordem
jurisdicional) se atribuem mutuamente a competência, negando a própria, para conhecer
de determinada questão.

Sendo que, este conflito só pode surgir entre dois ou mais tribunais da mesma ordem jurídica
– art. 109º nº2.

o Estes conflitos são resolvidos, pelo Supremo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal dos
Conflitos – art. 110º nº1.
▫ Conflitos de jurisdição: resolvidos por um dos dois, sendo que o Tribunal
de Conflitos resolve conflitos suscitados entre as autoridades e os tribunais
administrativos ou entre os tribunais judiciais e qualquer dos
administrativos. Os outros conflitos de jurisdição são resolvidos pelo STJ.
▫ Conflitos de competência: resolvidos pelo presidente do tribunal de
menor categoria que exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito.

o São solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição
sobre as autoridades em conflito – art. 110º nº2.
o Não existe conflito enquanto forem suscetíveis de recurso as decisões proferidas sobre
a competência – art. 109º nº3.
o Tribunal da Relação: competente para conhecer os conflitos de competência do
respetivo tribunal ou entre algum deles e um tribunal de competência territorial
alargada sediado nesta área.
o Mesmo antes de se ter gerado o conflito de jurisdição, pode vir a ser fixado
definitivamente o tribunal competente, em que essa fixação pertence ao STJ ou ao
Tribunal de Conflito.

o Se o Tribunal da Relação decidir que um tribunal é incompetente em razão da matéria


ou da hierarquia, para conhecer de certa causa, o STJ decide, no recurso que vier a ser
interposto, qual o tribunal competente. Neste caso, o MP é ouvido e no tribunal que
for declarado competente não pode voltar a suscitar-se a questão da competência.

6.2 Modalidades de competência


 Competência interna: repartição, entre os Esta questão coloca-se ao autor no
diversos tribunais portugueses, do poder de momento em que pensa instaurar a ação,
julgar, subdividindo-se (art. 60º nº2): sendo que este terá de saber então onde
deve propô-la (determinar o tribunal
− Competência em razão da matéria competente para proferir a respetiva
− Competência em razão do valor da decisão)
causa
− Competência em razão da hierarquia judiciária
− Competência em razão do território

 Competência internacional: atribuição do poder de julgar aos tribunais portugueses,


no seu conjunto, em face aos tribunais estrangeiros. Esta questão só surge quando a
causa revela alguma conexão com outra ordem jurídica estrangeira.

7. competência internacional
A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a
competência dos tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de
situações que, apesar de possuírem, na perspetiva do ordenamento
português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras, apresentam
igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.

 Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando se verifica


algum dos elementos de conexão referidos no art. 62º e 63º.

7.1 Fatores de atribuição da competência internacional


Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando (art. 62º):
 A ação pode ser proposta em tribunal português As ações relativas a direitos reais ou
segundo as regras de competência territorial pessoais de gozo sobre imoveis
estabelecidas na lei portuguesa – princípio da devem ser propostas no tribunal da
coincidência (é atribuída competência situação dos bens.
internacional aos tribunais portugueses, quando a
ação deve ser proposta em Portugal segundo as regras de competência territorial – art.
70º)

 O facto que serve de causa de pedir a ação foi praticado em território português –
princípio da causalidade (os tribunais portugueses são internacionalmente competentes
para a propositura da ação quando o fato desta tiver sido praticada em território
português)

Exemplo:

− Ação de divórcio de um casal italiano residente em Portugal

Sabendo que nas ações constitutivas a causa de pedir é o fato concreto que se invoca para
obter o efeito pretendido – art. 581º nº4 – os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes para a ação de divórcio proposta por um dos cônjuges
com fundamento na prática de adultério cometido pelo outro em território português.

 O direito invocado não pode tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta em
território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura da
ação no estrangeiro – princípio da necessidade (a competência é atribuída aos tribunais
portugueses quando o direito invocado pelo autor só possa tornar-se efetivo por meio de
ação proposta em Portugal).

Exemplo (dificuldade apreciável):

− Situação em que existisse um conflito armado ou de corte de relações diplomáticas


com o país cujos tribunais seriam competentes

7.2 Competência exclusiva dos tribunais portugueses


Os tribunais portugueses são exclusivamente competentes (art. 63º):

 Matéria de direitos reais sobre imóveis e de arrendamento de imóveis situados em


território português
 Matéria de validade da constituição ou de dissolução das sociedades ou de outras pessoas
coletivas que tenham a sua sede em Portugal
 Matéria de validade de inscrições em registos públicos conservados em Portugal
 Matéria de execuções sobre imóveis situados em território português
 Matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em Portugal ou de
pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em território português
A jurisdição portuguesa, além de não permitir que a causa seja submetida à jurisdição de outro
país, também não aceita a revisão e confirmação da sentença estrangeira que ao caso diz
respeito.

Competente: Tribunal da Relação da área em que esteja domiciliada a pessoa contra quem se
pretende fazer valer a sentença – art. 979º (raros casos em que a ação começa neste tribunal e
não no tribunal de 1º instância).

7.3 Pactos de jurisdição


Os tribunais portugueses são ainda competentes internacionalmente nos termos do art. 94º -
as partes convencionam qual a jurisdição competente para dirimir determinados litígios desde
que a relação controvertida tenha conexão com mais de uma ordem jurídica.

 Pacto atributivo: o pacto concede competência a um tribunal ou a vários tribunais


portugueses
 Pacto privativo: o pacto retira a competência a um ou a vários tribunais portugueses e
a atribui exclusivamente a um ou a vários tribunais estrangeiros.

Exemplo:

− As partes atribuem a competência ao tribunal de Lisboa.

Aqui estão a celebrar um pacto de jurisdição (atribui competência a um tribunal


português), e ao mesmo tempo, celebram um pacto de competência interna designando o
tribunal competente de entre os tribunais portugueses.

O pacto de jurisdição só é valido quando se verificam alguns pressupostos (art. 94º nº3):

▫ O pacto só pode dizer respeito a um litígio sobre direitos disponíveis 7 (alínea a)


▫ A eleição do foro só é válida se for aceite pela lei do tribunal designado (alínea b)
▫ Tem de ser justificado por um interesse sério de ambas as partes ou de uma delas,
desde que não envolva inconvenientemente grave para a outra (alínea c)
▫ É proibido o pacto de jurisdição que recaia sobre matéria da exclusiva competência
dos tribunais portugueses (alínea d)
▫ Tem de resultar de um acordo expresso escrito (alínea e)

7
Direitos de que o titular pode livremente dispor (indisponíveis – subtraídos à livre disponibilidade das partes: casamento,
filiação…)
8. Competência interna

 A jurisdição reparte-se pelos diferentes tribunais segundo a matéria, o valor da causa, a


hierarquia judiciária e o território – art. 60º nº2.
 Fixa-se no momento em que a ação se propõe, e são irrelevantes as modificações de fato
que ocorrem posteriormente – art. 38º nº1 e nº2 Lei nº 62/2013

8.1 Competência em razão da matéria


São da competência dos tribunais judiciais, as causas que não são atribuídas a outra ordem
jurisdicional – art. 64º.

As leis de organização judiciária determinam quais as causas que são da competência dos
tribunais e das secções dotados de competência especializada – art. 64º.

Lei nº62/2013

− Os tribunais judiciais têm competência para as causas que não são atribuídas a outra
ordem jurisdicional (art. 40º nº1)
− Esta lei estabelece as causas que competem às secções de competência especializada
dos tribunais de comarca ou aos tribunais de competência territorial alargada (art. 40º
nº2)

Princípio da especialização

− É vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função


da matéria do litígio, pois a especificidade das normas que
integram os diversos ramos do Direito é muito vasto

− Os tribunais de comarca são de competência genérica e de competência especializada


(art. 80º nº2) e desdobram-se em juízos a
 Central cível
criar por decreto-lei que podem ser de
 Local cível
competência especializada, genérica e de  Central criminal
proximidade (art. 81º e art. 130º)  Local criminal
− O poder jurisdicional é repartido pelos  Local de pequena criminalidade
diversos tribunais considerados no mesmo  Instrução criminal
plano, sem que entre eles exista uma  Família e menores
qualquer relação hierárquica ou de  Trabalho
subordinação  Comércio
− Os tribunais judiciais são órgãos de  Execução
soberania com competência para
administrar a justiça (art. 202º nº1 CRP)
− As decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas
e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades

8.2 Competência em razão do valor


As leis de organização judiciaria estabelecem quais as causas em razão do seu valor que se
inserem na competência da instância central ou local – art. 66º.

A incompetência em razão do valor da causa é sempre do conhecimento oficioso do tribunal –


art. 104º nº2.

 Distinção entre a competência do juízo central cível e o juízo local cível


− As ações de valor superior a 50 000€ são da competência do juízo central cível
− As ações de valor inferior a 50 000€ são da competência do juízo local cível
Exercícios
Tipologia da ação
1. António, construtor civil, celebrou com Bruno um contrato de empreitada. Tendo em conta
que António não cumpriu o acordado, Bruno pretende instaurar-lhe uma ação judicial pedindo
uma indemnização pelos prejuízos sofridos, no valor de 65 000€.

Resposta: ação declarativa de condenação, pois exige a prestação de uma coisa, prevendo a
violação de um direito, direito esse que o Bruno tinha de a obra ser feita como estava prevista
no contrato (obra finalizada).

2. Carlos pretende instaurar contra Diana e Esmeralda uma ação para exercer a preferência na
compra de um imóvel, alegando que era arrendatário do mesmo (art. 1091º CC)

Resposta: neste caso, não temos documentos probatórios que provam o nosso direito de
preferência – por isso não é simples apreciação. Por isso, é uma ação declarativa constitutiva –
pedir ao tribunal que haja uma mudança na ordem jurídica (de arrendatário para proprietário)

O arrendatário tem direito de preferência: compra e venda ou doação em cumprimento do


local arrendado há mais de 2 anos; celebração de novo contrato de arrendamento em caso de
caducidade do seu contrato por ter cessado o direito ou terem findado os poderes legais de
administração com base nos quais o contrato fora celebrado.

3. Fernando é proprietário de um imóvel no valor de 250 000€, o qual foi abusivamente


ocupado por Guilherme, que para tanto destruiu a vedação e arrombou a porta de casa.
Fernando instaura contra Guilherme uma ação para reconhecimento do seu direito de
propriedade e ressarcimento pelos danos sofridos que ascendem à quantia de 3 500€.

Resposta: ação declarativa de simples condenação – reconhecer o direito de propriedade – e


ação declarativa de condenação – violação de um direito.

4. Henrique instaura contra Inácia uma ação de reivindicação de um imóvel no valor de


120 000€.

Resposta: ação declarativa de simples apreciação – reconhecimento do direito de propriedade.


Neste caso o imóvel já pertence a Henrique.

5. Ana instaura contra Berto uma ação de divórcio.

Resposta: ação declarativa constitutiva.


6. A celebrou com B um contrato promessa de compra e venda de um imóvel no valor de
229 000€ o qual foi incumprido por este último. A, promitente-comprador, requer a execução
especifica do referido negocio-jurídico.

7. A instaura uma ação de investigação da paternidade

8. Na sequência de um acidente de viação, A intenta contra B uma ação judicial na qual pede
uma indemnização pelos danos sofridos, no valor de 15 000€.

9. A EDP pretende o pagamento da dívida de Fernanda relativa a 2 faturas no valor de 450€.

Resposta: ação declarativa de condenação.

10. Adriana pretende obter a fixação de uma pensão de alimentos para o seu filho menor
Gustavo.

Resposta: ação declarativa de condenação – art. 10º nº3 al. b).

11. Inês, na qualidade de proprietária, remeteu a Lucinda uma carta registada a comunicar que
estavam em dívida 3 meses de renda. Na ausência de resposta pretende dar entrada com ação
em Tribunal.

Resposta: ação declarativa de condenação

Forma do Processo
1. Em 2016 António divorciou-se de Maria. Por sentença judicial, a guarda do filho menor,
João, foi atribuído à mãe. Agora, pretende o pai obter a guarda da criança para si.

Resposta: Lei 141/2015, de 8 de setembro – regula o processo de fixação de poderes parentais


(forma de processo especial)

2. Carlos, herdeiro de Maria, que foi socia da sociedade Totax, Lda, pretende liquidar a quota
que esta tinha na referida sociedade.

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 1068º e ss. CPC

3. Fernando, na posse de um cheque de 7 000€, que resulta do preço da venda de uma mota a
Guilherme, pretende instaurar uma ação declarativa de condenação contra o devedor.

Resposta: forma de processo comum


4. Henrique celebrou um contrato promessa escrito com Isabel. Esta não cumpriu o
prometido.

Resposta: forma de processo comum

5. Berta pretende requere a interdição da sua mãe por anomalia psíquica

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 891º CPC

6. Carla e Zacarias, a viver em união de facto, adquiriram um prédio rústico com o objetivo de
semear/plantar espécies hortícolas para consumo. Em agosto de 2018 separaram-se
definitivamente. Suponha que Carla pretende por termo à indivisão do prédio.

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 925º CPC.

7. Ana separada de facto de Horácio há mais de 1 ano pretende divorciar-se, ao que este se
opõe terminantemente, alegando que o casamento é “para toda a vida”.

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 931º CPC

8. Suponha agora que Ana e Horácio estão de acordo em se divorciar.

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 994º CPC.

9. Joana casada com João pretende que este lhe dê 25% do seu rendimento mensal para
acorrer às despesas domésticas.

Resposta: forma de processo especial segundo o art. 992º CPC.

Pressupostos processuais – Personalidade e Capacidade Judiciária


1. António era o A de uma ação judicial contra Berto, que se encontrava pendente no Tribunal
de Coimbra. Entretanto morre. Deixa viúva a sua mulher, Marta, e órgão de pai seu filho, João.

Resposta: os seus herdeiros devem sucedê-lo na ação – Marta e João – pois trata-se de um
incidente de habilitação de herdeiros, desde que apresentem a certidão de óbito. Logo, os
herdeiros assumem a qualidade de parte na ação – art. 12º-a CPC.

2. Torpe, Unipessoal Lda, sociedade por quotas, tem um crédito litigioso sobre ABB, SA, cujo
processo corre termos no Tribunal de Anadia. Entretanto, o único sócio da Torpe, Lda, João,
morre. Deixa herdeiro seu único filho Manuel.
Resposta: o único sócio falece, mas como Manuel – que precisa fazer parte da ação – sucede
ao pai, a sociedade mantém a personalidade judiciária.

3. Fernando quer interpor uma ação judicial contra a agência do Banco CreditoMais, sita em
Coimbra, no Tribunal de Coimbra. A sede do Banco, de acordo com o seu estatuto social, é no
Porto.

Resposta: art. 13º nº1 CPC – ação judicial contra a agência em Coimbra, pois esta tem
personalidade judiciária para ser demandada a ação.

4. Henrique forneceu 15 000€ de bebidas à Comissão de Organização de Festas de São


Estevinho, em Redondo. Quer acionar judicialmente os cinco membros que compõe a referida
Comissão por falta de pagamento.

Resposta: a comissão de festas não tem personalidade jurídica pois não é uma associação;
porém tem personalidade judiciária (art. 12º-b), então pode fazer parte da ação (contra a
comissão toda). Os 5 membros tem responsabilidade solidária – todos tem a responsabilidade
de pagar a sua parte.

5. Armando conseguiu acionar e mandar citar a Xavex, Lda, sociedade com 3 sócios que, na
realidade, nunca foi registada nem tem contrato constitutivo. A Xavex, Lda, nunca alegou falta
de personalidade judiciária, embora isso tivesse ficado demonstrado no processo.

Resposta: art. 12º-d – não tem personalidade jurídica, mas tem personalidade judiciária. Esta
sociedade não tem personalidade jurídica pois não tem contrato registado no conservatório.

6. Januário, menor de idade, com 17 anos, tem um negócio de compra e revenda de peças de
roupa. Xavier comprou-lhe 550€ de vestuário. Desde 2015 que não lhe paga. Januário quer
instaurar contra ele uma ação judicial.

Resposta: Januário tem de ter um representante (art. 16º nº2 – neste caso são os pais) pois
não tem capacidade judiciária (é menor de idade). Aqui está em causa a capacidade de exercer
direitos)

Legitimidade, Interesse Processual e Patrocínio Judiciário


1. A e B, recém-casados, no regime da comunhão de adquiridos, compraram a C diversos
eletrodomésticos, no valor de 20 000€, tendo ficado de os pagar depois da lua-de-mel. Porém,
como gastaram todas as suas economias na referida viagem, não têm agora como pagar os
ditos eletrodomésticos. Ao saber desta notícia, C intenta de imediato a competente ação
judicial contra o cônjuge marido, A.

a) Aprecie a legitimidade ativa e passiva


b) E se a dívida tivesse sido contraída apenas por B e se destinasse a ocorrer aos encargos
normais da vida familiar?

c) Suponha que a dívida tinha sido contraída apenas por A, destinando-se a ocorrer aos
encargos normais da vida familiar, mas que A e B estavam casados no regime de separação de
bens?

Resposta: a) situação de legitimidade passiva: interesse em contradizer é do casal que são


prejudicados pela ação. A ação deve ser proposta contra ambos os cônjuges (art. 34º nº1 e
nº3) e deriva de um fato praticado por ambos os cônjuges.

2. A,B e C são comproprietários8 do prédio X. A propõe contra B, uma ação de divisão de coisa
comum.

Resposta: A deve propor uma ação de divisão de coisa comum contra os dois.

3. A instaura contra B e C, casados em separação de bens, ação de despejo da sua casa de


morada de família.

a) Aprecie a legitimidade ativa e passiva

b) Quid iuris se o A não constituir advogado?

4. A, domiciliado em Viseu, celebra com B, com domicílio na Guarda, um contrato de mútuo,


pelo qual o primeiro mutuou ao segundo a quantia de 19 000€, sendo C residente em
Munique, o fiador deste último. Na data agendada para o pagamento do referido mútuo, B
nada paga, e ainda divulga entre os amigos que tal contrato nunca tinha existindo. A propõe a
competente ação judicial contra B.

a) Aprecie a legitimidade ativa e passiva

b) B, que nega a dívida, tem interesse processual em intervir?

c) Poderá C intervir na ação?

8
Casal junto em união de fato adquirem uma propriedade e em que esta é de ambos (50% para cada um )
Exame Época Recurso 2016/2017

Grupo I
No dia 13 de março de 2017, Rita, solteira, residente em Coimbra, dirigia-se para Braga
no seu veículo automóvel. No centro da cidade, Daniel que conduzia a sua viatura de marca
Porshe, sai da sua faixa de rodagem e foi embater no seu veículo, que de imediato chamou a
autoridade policial competente.

Rita para reparar a sua viatura despendeu €31 000.

A Seguradora “MKE”, com quem Daniel tinha o contrato de seguro automóvel, tem
sede em Lisboa.

A Seguradora não assumiu a culpa do seu segurado.

A 1 de julho de 2017, Rita propõe contra Daniel, no Tribunal da Relação de Coimbra,


uma ação pedindo o pagamento de todos os danos eu ela suportou em virtude do acidente.

a) Qual o tipo de ação que deve ser instaurada por Rita contra Daniel?

Resposta: Rita pretende a prestação de uma coisa – indemnização – e prevê-se a violação de


um direito – choque entre os carros.

Segundo o art. 10º nº2, as ações declarativas podem ser de simples apreciação,
condenação ou constitutivas, e neste caso concreto deparamo-nos com uma ação declarativa
de condenação – art. 10º nº3-b) CPC.

b) Qual o valor da ação?

Resposta: O art. 296º diz-nos que a toda a causa deve ser atribuída um valor certo em
dinheiro, e o art. 297º completa ao dizer que se pela ação se pretender obter qualquer quantia
certa em dinheiro, é esse o valor da causa, sendo que neste caso é de €31 000 – art. 297º com
remissão para o 302º nº1.

c) Qual o tribunal competente?

Resposta: A competência em razão de território diz-nos que o tribunal competente é o de


Braga, pois foi lá que ocorreu o acidente (art. 71º nº2).

Relativamente à competência em razão de valor, ela pertence à instância local uma


vez que o valor da ação é inferior a €50 000 (art. 117º nº1-b) LOSJ com remissão para o art.
130º nº2-a) da mesma Lei). Com base no Anexo II, o tribunal competente situa-se na Comarca
de Braga e na própria cidade de Braga segundo o art. 71º nº2-c) do DL nº 49/2014.

Sendo que a ação só pode ser proposta no Tribunal Judicial da Comarca de Braga
(71º) e foi proposta no Tribunal da Relação de Coimbra, este pedido fere as regras de
competência previstos no art. 96º e 99º CPC. Logo, o Tribunal aplica a incompetência absoluta
(99º) e absolve o réu da instância.
d) Considerando que foi Rita, aluna de Solicitadoria, que redigiu e assinou a petição
inicial, aprecie a legalidade e eventuais consequências jurídicas da sua atitude.

Resposta: Está aqui em causa o patrocínio jurídico (40º).

Sendo que a causa tem o valor de €31 000, e o valor mínimo para que haja recurso
para o Tribunal da Relação é de €50 000,01, ele é obrigado a constituir advogado nos termos
do art. 40º nº1-a) com remissão para o art. 44º nº1 LOSJ. Sendo obrigatória a constituição de
mandatário, o juiz oficiosamente determina a obrigação de constituição dentro de um prazo
certo sob pena de o ser absolvido (41º).

Representa também uma exceção dilatória que tem como consequência a


absolvição do réu de instância (577º-h)).

e) Contra quem deve ser instaurada a ação judicial?

Resposta: Este caso concreto insere-se na legitimidade passiva (30º).

Nos casos de acidente de viação, existe uma transferência de responsabilidade (DL


nº 72/2008, art. 137º) em que apesar de o Daniel ser o responsável, é transferida a
responsabilidade para a Seguradora. Sendo assim, a ação é instaurada contra a Seguradora
(réu) e o Daniel aparece como testemunha.

Grupo II
Na contestação, Daniel invoca que foi Rita quem saiu da faixa de rodagem e foi
embater no seu veículo automóvel de marca Porsche. Pedindo igualmente o pagamento de
€50 000 de indemnização para reparar o seu veículo.

a) Qual o tipo de defesa invocado por Daniel? E como deveria articular a defesa na
contestação?

Resposta: Daniel invoca a defesa por impugnação ou por exceção (571º), sendo que neste caso
Daniel invoca as exceções.

As exceções podem ser dilatórias ou perentórias (576º º1), em que as primeiras


obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e dão lugar à absolvição da instância ou à
remessa do processo para outro tribunal (576º nº2) aplicando-se neste pedido a ilegitimidade
do autor da ação (Rita) (577-e)).

b) Qual o último dia de prazo para contestar, considerando que foi a mãe de Daniel
quem recebeu a citação, por carta postal, no dia 14 de dezembro, uma sexta-feira.

Resposta: O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da citação (569º nº1).

Acresce-se mais 5 dias, pois não foi o próprio réu a receber a carta (foi a mãe) sendo
este o primeiro prazo a ser contado (245º nº1-a)).
O prazo começa-se a contar no dia seguinte à receção da carta (569º nº1) –
15/12/2022. Sendo que no dia 22 desse mês se iniciam as férias judiciais, o prazo termina
31/01/2023.

Contudo, o réu ainda pode aumentar o prazo até 3 dias com o pagamento de multa
(139º nº5), terminando o prazo assim no dia 03/02/2023.

c) Poderá Rita reagir contra os fatos articulados na contestação. Em caso afirmativo,


em que termos?

Resposta: Como a ação é proposta contra a companhia de seguros, não será o Daniel a
apresentar a reconvenção.

Sendo assim, Rita não pode reagir contra a contestação porque não existe
reconvenção.

O autor só pode propor uma replica (novo articulado) quando se supuser uma
reconvenção.

d) Suponha que na contestação e pedida uma inspeção ao veículo de Rita. Poderá


constar do articulado este pedido?

Resposta: Sim pode. Segundo o art. 490º nº1, o tribunal sempre que julgue conveniente por
sua iniciativa ou requerimento das partes, e sempre tendo em conta a intimidade da vida
privada e familiar, pode inspecionar coisas ou pessoas com o fim de se esclarecer sobre algo
que interesse à decisão da causa.

e) Daniel esqueceu-se na contestação de requerer o depoimento de Rita. Poderá fazê-


lo em momento posterior?

Resposta: Segundo o art. 466º nº1, Daniel pode. Contudo o caso concreto diz que Daniel quer
que Rita deponha logo segundo o art. 552º nº2 não pode, pois para ele pedir é necessário que
seja logo na petição inicial.
Exame Época Normal 2017/2018
Grupo I

António, residente em Leiria, celebrou em setembro de 2017, um contrato de


empreitada com a empresa “Boas Obras, Ldª” com sede em Aveiro, cujo objeto era a
realização de obras de reparação do telhado e pintura da fachada da sua moradia, pelo preço
global de €6 000.

Em virtude da deficiente concretização da empreitada, assim que surgiram as


primeiras chuvas em dezembro de 2017, começaram a surgir fissuras e infiltrações nas paredes
da moradia.

a) Que tipo de ação deve ser instaurada e qual a forma de processo.

Resposta: À luz do art. 10º nº1, as ações podem ser declarativas ou executivas. Ao abrigo do
nº2 as ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou constitutivas: a)
as ações de simples apreciação pretendem obter unicamente a declaração da existência ou
inexistência de um direito ou fato; b) as ações de condenação exigem a prestação de uma
coisa ou de um fato em que se pressupõe ou prevê a violação de um direito; c) as ações
constitutivas autorizem uma mudança na ordem jurídica existente (art. 10º nº1-a),b),c) CPC).

Nesta situação deve ser intentada uma ação declarativa de condenação uma vez
que o autor pretende que o juiz reconheça a violação de um direito e, consequentemente,
condene a ré a eliminar os defeitos verificados na obra.

Quanto à forma de processo, dispõe o art. 546º nº1 que o processo pode ser
comum ou especial. O processo especial aplica-se aos casos previstos na lei, motivo pelo qual o
processo comum tem carácter subsidiário. Neste caso, para esta ação não está prevista
qualquer forma de processo especial, aplica-se o processo comum. Nos termos do art. 548º
nº1 o processo comum de declaração segue forma única.

b) Qual o valor da causa?

Resposta: À luz dos arts. 296º nº1 e 297º nº1, a toda a causa deve se atribuir um valor certo,
expresso em moeda legal e se pela ação se pretender obter qualquer quantia certa em
dinheiro, esse é o valor da causa.

No caso concreto, aplica-se o disposto no art. 301º nº1 que nos diz que quando a
ação tiver por objeto a apreciação do cumprimento de um ato jurídico, atendemo-nos ao valor
do ato determinado pelo preço ou estipulado pelas partes.

c) Qual o tribunal competente para conhecer o mérito da causa?

Resposta: Relativamente à competência em razão de território, como é uma ação destinada a


exigir o cumprimento de obrigações, deveria ser no domicílio do réu (Leiria) – art. 71º nº1.
Contudo como falamos de uma pessoa coletiva (“Boas Obras, Ldª”), a ação pode ser proposta
no tribunal da sede da empresa (Aveiro) – art. 81º nº2.
Quanto à competência em razão de hierarquia, a ação compete aos tribunais de 1º
instância (art. 67º CPC e arts. 33º, 42º e 80º LOSJ).

A competência em razão de valor da causa permite-nos saber que, pelo valor de


€6 000, são os juízos locais cíveis que tem competência neste caso concreto (art. 117º nº1-a)
LOSJ com remissão para o 66º CPC).

Por último, quanto à competência em razão de matéria, a ação deve ser julgada
pelo tribunal da comarca referente ao tribunal competente (Aveiro), que a sua comarca é na
própria cidade de Aveiro (Anexo II LOSJ) e segundo o art. 68º nº2-e) o tribunal competente
tem sede em Aveiro.

d) Suponha que o articulado foi dirigido ao Supremo Tribunal de Justiça. Qual a


consequência jurídica da incompetência do Tribunal.

Resposta: Estamos perante um caso de incompetência absoluta por infração das regras de
competência em razão de hierarquia (art. 96-a)) – devia propor a ação num tribunal de 1º
instância, e propôs no STJ. Esta incompetência pode ser arguida pelas partes (foi o articulado).

A incompetência absoluta implica a absolvição do réu da instância (99º nº1), e se ela


for decretada depois de findos os articulados, as partes podem aproveitar-se desde que o
autor requeira, no prazo de 10 dias a contar do trânsito em julgado da decisão (nº2).

e) António insiste que pretende redigir, assinar e entregar o articulado no Tribunal.


Poderá fazê-lo?

Resposta: António não poderá redigir o articulado, pois falamos de uma ação cujo valor
(€6 000) ultrapassa o valor da alçada (€5 000,01) o que significa que António terá de constituir
obrigatoriamente mandatário à luz do art. 40º nº1-a) CPC com remissão para o 44º nº1 LOSJ.
Se não cumprir, o juiz oficiosamente determina a sua notificação para o constituir dentro de
prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância (art. 41º CPC).

Para além disso, a petição é recusada, pois o autor não indica o domínio profissional
do mandatário judicial (art. 558º nº1-c) CPC).

f) Quais os meios de prova que o autor poderia apresentar e qual o momento da sua
apresentação?

Resposta: O autor poderia apresentar quatro tipos de provas: a) prova documental, junção aos
autos do contrato de empreitada e de outros pareceres técnicos respeitantes à concretização
da empreitada (art. 423º); b) prova pericial, dado que no caso se verifica a necessidade da
perceção de fatos que exigem o conhecimento de fatos técnicos em que o juiz não possui (art.
467º); c) prova por inspeção judicial, mediante exame de moradia (art. 490º); d) prova
testemunhal (art. 495º).

Relativamente ao momento em que deve apresentar estas provas, o autor pode


apresentá-las logo na petição inicial (552º/2 e 423º/1), na audiência prévia (598º/1); até 20
dias antes da realização da audiência final (598º/2 e 423º/2). Só se admite, após o limite
temporal relatado anteriormente, provas documentais cuja apresentação não foi possível até
ao momento (423º/3).

Grupo II
Suponha que Ana Rita foi citada pelo Tribunal Judicial da Comarca de Leiria, através de
carta registada com aviso de receção para contestar a ação declarativa de condenação
motivada contra ela.

Quando termina o prazo para deduzir a contestação, sabendo que a Ré foi citada no
seu local de trabalho em Coimbra e que o aviso de receção foi assinado pela sua mãe no dia 1
de março de 2018.

Resposta: A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (219º/1).

A citação postal considera-se feita no dia em que se mostre assinado o aviso de


receção, considerando-se feita na pessoa do citando (228º/1). Contudo, há luz do art. 233º
ainda se envia pelo agente de execução ou pela secretaria, no prazo de dois dias úteis, carta
registada ao citando.

No caso concreto, a Ré considera-se citado no dia em que a sua mãe assinou o aviso
de receção – 01/03/2018.

A Ré tem 30 dias para apresentar a contestação a contar da citação – art. 569º nº1.

A este prazo podem acrescer-se os prazos dilatórios previstos no art. 245º: a) tem
direito a mais 5 dias pois o aviso de receção foi assinado por outra pessoa; b) tem mais 5 dias
pois a Ré foi citada fora da área da comarca sede do tribunal onde prende a ação. Logo, Ana
Rita tem direito a 10 dias de prazo dilatório (245º/4).

À luz do art. 142º, quando um prazo perentório se segue a um prazo dilatório, os


dois prazos contam-se como um só – 40 dias para apresentar a sua contestação.

O prazo começa a contar-se no dia seguinte à citação (569º/1) – 02/03/2018. O


prazo decorre continuadamente, suspendendo apenas nas férias do Tribunal (22Dez – 3Jan),
Domingo de Ramos à Sexta-Feira Santa e no verão (16Jul – 31Ago) – art. 138º º1 CPC com
remissão para o art. 28º LOSJ.

O prazo terminaria dia 10/04/2018, contudo de 25 de março a 30 de março, o


Tribunal encontrava-se encerrado, então o prazo terminou efetivamente a 16/04/2018.
Contudo, para além do prazo constado anteriormente, pode se acrescentar mais três dias úteis
subsequentes ao termo do prazo dependente do pagamento de uma multa (139º/5) – nesse
caso o prazo poderia prolongar-se até 20/04/2018.

Grupo III
A empresa “Boas Obras, Ldª” apresentou requerimento de injunção contra João,
pedindo o pagamento da quantia total de €9 000, a título de capital devido pelo não
pagamento de fatura relativa a fornecimento de material elétrico.

João foi notificado em 1 de fevereiro de 2018 para vir pagar uma quantia pedida,
acrescida da taxa de justiça já paga pelo requerente, ou deduzir oposição à pretensão da
demandante.

1. Qual o tribunal competente para a apresentação e tramitação do procedimento de


injunção?

Resposta: Criou-se o Balcão Nacional de Injunções para assegurar a tramitação do


procedimento de injunção (art. 1º Portaria nº 220 -A/2008, de 4 de março).

O requerimento de injunção é apresentado, na secretaria do tribunal do lugar do


cumprimento da obrigação ou no domicílio do devedor (art. 8º DL nº 269/98, de 1 de
setembro).

2. Até que data pode João pagar ou vir deduzir oposição?

Resposta: No prazo de 5 dias, o secretário judicial notifica o requerido, por carta registada com
aviso de receção, para em 15 dias pagar ao requerente a quantia pedida acrescida da taxa de
justiça (neste caso já paga) – art. 12º nº1 DL nº 269/98, de 1 de setembro.

Sendo assim, o prazo como começa a contar no dia seguinte (art. 4º Diploma
Preambular), começou dia 2 de fevereiro de 2018. Ele termina dia 16/02/2018, porém João
ainda tem 3 dias úteis com o pagamento de multa (139º/5) – 19/02/2018.

3. Como se processa a apresentação de prova no caso de ocorrer a oposição?

Resposta: art. 15º, 16º, 17º DL nº 269/98, de 1 de setembr

Exame Época Normal 2020/2021


Grupo I
Distinga sucintamente e exemplifique:

a) ação declarativa de ação executiva

Resposta: a ação declarativa é uma ação em que o autor procura que o tribunal declare a
solução para um determinado caso, e este o fará com fundamento no direito civil em que
declara a existência ou não do direito invocado (10º/2) – exemplo: Francisco considera-se
proprietário de um determinado imóvel por este lhe ter sido vendido por António. Por sua vez,
Gonçalo diz-se proprietário desse imóvel alegando que o comprou ao mesmo António. Na ação
que o Francisco propõe, pede que o tribunal declare que é ele o proprietário do imóvel em
questão. Enquanto isso a ação executiva é uma ação em que o credor requer as providências
adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida.

b) audiência prévia de audiência final

Resposta: a audiência prévia é uma diligência judicial, ocorrida na fase do saneamento do


processo judicial, na qual participam o juiz e os mandatários das partes processuais; enquanto
isso, a audiência final é o momento em que se reúnem o tribunal, as partes, os mandatários e
os intervenientes necessários para a produção de prova para que se possam realizar os atos
necessários à descoberta da verdade.

Grupo II
Rita Unipessoal, Ldª, com sede em Coimbra, apresentou uma ação especial para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato contra Joana Unipessoal, Ldª,
com sede na Lousã, pedindo o pagamento da quantia de €6 000, a título de capital pelo não
pagamento de uma fatura, a pagar em Coimbra, no dia 12/10/2020. Joana Unipessoal, Ldª foi
citada em 09/11/2020.

a) Qual o último dia para Joana Unipessoal, Ldª contestar?

Resposta: Estamos perante uma ação declarativa mais simplificada, uma vez que não tem o
tradicional prazo de 30 dias (569º/1), mas sim 20 dias pois ultrapassa o valor da alçada do
tribunal de 1º instância - €5 000 (1º/2 DL nº 269/98, de 1/09 com remissão para o art. 44º/1
DL nº 62/2013, de 26/08).

A contagem do prazo ocorre nos termos do CPC com uma exceção – não existe
dilação/prazo dilatório, ou seja, os prazos previstos no art. 245º não se aplicam a estes casos
(art. 4º Diploma Preambular). Sendo assim, aos 20 dias não se acresce mais nenhum
independentemente de ter sido o próprio a receber, ter sido terceiro, ter sido identificado em
comarca diferente.

À luz do art. 279º-b) CCivil, a contagem dos prazos começa no dia seguinte à
receção da citação – 10/11/2020. Estes são contínuos e suspendem-se nas férias judiciais
(22Dez -03Jan) – art. 138º/1 CPC com remissão para o 28º LOSJ. Se o prazo terminar num dia
em que o tribunal se encontre encerrado, transfere-se para o dia útil seguinte (nº2) – Sábado,
Domingo ou Feriado.
Sendo assim o prazo termina dia 29/11/2020, mas à luz do nº2 do art. 138º como o
prazo termina a um domingo, ele transfere-se para o dia útil seguinte – 30/11/2020.

Contudo, o autor tem ainda à sua disposição 3 dias úteis subsequentes ao termo do
prazo dependentes do pagamento de uma multa (art. 139º nº5) – 3/12/2020.

b) No caso de ser apresentada contestação, como se processa a apresentação de


prova?

Resposta: À luz do art. 3º/4, as provas são oferecidas na audiência podendo cada parte
apresentar até 5 testemunhas (o valor da causa ultrapassa os €5 000). Sendo que por cada fato
só se pode apresentar 3 testemunhas (nº5).

c) Algumas das partes pode requerer a gravação da audiência final?

Resposta: Referentemente às ações declarativas a audiência final é sempre gravada (155º/1);


contudo estas ações (AECOP) tem uma limitação presente no art. 3º/3 DL nº 269/68, de 1/09 –
nas ações que admitem recurso ordinário (ultrapassa a alçada do tribunal de 1º instância), as
partes podem requerer a gravação da audiência.

Grupo III
José, solteiro, maior, residente em Coimbra, sofreu um acidente de viação no dia
01/01/2015, na Rua dos Combatentes, em Coimbra. Na sequência de tal acidente ficou
impossibilitado de trabalhar durante 15 dias, tendo tido um prejuízo de €500, ficou com o seu
veículo inutilizado, cujo valor patrimonial era à época de €20 000, e sofreu danos não
patrimoniais no valor de €10 000. O veículo automóvel do outro condutor, António, solteiro,
maior, residente em Leiria, tinha seguro válido da Companhia de Seguros XX, SA, com sede em
Lisboa. A Companhia de Seguros XX, SA, não assumiu a responsabilidade de António pelo
acidente. Inconformado, José instaurou, em 30.11.2020, ação pedindo o pagamento de todos
os seus danos.

a) Que tipo de ação deve ser instaurada e qual a forma do processo?

Resposta: À luz do art. 10º/1 as ações podem ser declarativas ou executivas. Ao abrigo do nº2
as ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou consecutivas: a) as
de simples apreciação pretendem obter unicamente a declaração de existência ou não de um
direito; b) as de condenação exigem a prestação de uma coisa ou fato, pressupondo (neste
caso concreto) a violação de um direito; c) as consecutivas autorizam uma mudança na ordem
jurídica existente.

Nesta situação deve ser instaurada uma ação declarativa de condenação, uma vez
que o autor pretende que o juiz reconheça a violação de um direito e, consequentemente,
condene o réu a eliminar os defeitos verificados na obra – pagamento de uma indemnização
pelos danos causados.

Quanto à forma de processo, dispõe o art. 546º nº1 que o processo pode ser
comum ou especial. O processo especial aplica-se aos casos previstos na lei, motivo pelo qual o
processo comum tem carácter subsidiário. Neste caso, para esta ação não está prevista
qualquer forma de processo especial então aplica-se o processo comum. Nos termos do art.
548º nº1 o processo comum de declaração segue forma única.

b) Indique os sujeitos, a causa a pedir e o(s) pedido(s) de tal ação.

Resposta: No caso concreto o autor é o José e a ré é a Companhia de Seguros XX, SA por força
da Lei do Contrato de Seguro nos seus arts. 137º e 138º transfere a responsabilidade –
abrange as pessoas que tem seguro de responsabilidade civil válido – para a companhia de
seguros. O António é uma “mera” testemunha.

Relativamente à causa a pedir é sobre o acidente de viação e o fato de a companhia


de seguros não se ter responsabilizado pelo acidente.

Por último, pede-se ao tribunal que sejam pagos os danos causados pelo acidente de
viação, tanto patrimoniais como não patrimoniais. Ou seja, o pedido feito era o valor
indemnizatório que resulta do fato da impossibilidade de o trabalhador/autor puder exercer a
sua atividade profissional, os danos patrimoniais provocados nesse acidente no veículo no
valor de €20 000 e os danos não patrimoniais no valor de €10 000.

c) Qual o valor da causa e qual o tribunal competente para conhecer o mérito da


causa?

Reposta: O valor da causa é €30 500 (10 000+20 000+500) nos termos do art. 296º e 297º/1/2.

Relativamente à competência dos tribunais, devemos ter em conta alguns fatores:

Competência em razão de território – a ação deve ser proposta em Coimbra, pois ela
destina-se a efetivar a responsabilidade civil baseada em fato ilícito (acidente de viação) que
ocorreu em Coimbra (art. 71º nº2 CPC).

Competência em razão de hierarquia – compete aos tribunais de 1º instância


conhecerem os recursos das decisões (art. 67º CPC com remissão para o 42º e 44º LOSJ).

Competência em razão do valor – esta ação compete aos juízos locais cíveis, dado
que o seu valor de causa é inferior a €50 000 (art. 117º nº1-a) LOSJ e 130º).

Por último, competência em razão de matéria – Coimbra insere-se na comarca de


Coimbra (Anexo II LOSJ) e o tribunal competente tem sede em Coimbra (art. 75º nº2-c) DL nº
49/2014, 27/03).

d) Quando termina o prazo para o réu contestar, sabendo que o réu foi citado na sua
residência/sede e que o aviso de receção da carta registada com AR foi assinado pelo próprio
no dia 07/12/2020.

Resposta: A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (art. 219º nº1 CPC).
A citação postal considera-se feita no dia em que se mostre assinado o aviso de
receção, neste caso assinada pelo próprio Réu, e começa-se a contar o prazo no dia seguinte à
receção da citação – 08/12/2020.

O prazo perentório para a apresentação da contestação é de 20 dias – art. 1º nº2 DL


nº 269/98, 1/09. Sendo que neste caso, ainda se acrescenta 5 dias de dilação, pois o réu foi
citado fora da área da sua comarca – art. 245º nº1-b) CPC.

Com isto, o Réu tem direito a 25 dias para contestar sendo que o prazo é continuo e
apenas se suspende durante as férias judicias (22Dez -3Jan); terminaria assim no dia
14/01/2021.

Além disto, o réu dispõe ainda de 3 dias úteis com o pagamento imediato de multa
(art. 139º nº5) – pode contestar até dia 17/01/2021. Porém como terminaria num dia em que
o tribunal se encontra fechado, passa para o dia útil imediatamente seguinte – 18/01/2021
(art. 138º nº2 CPC).

e) Qual o momento processual para o autor e o réu juntar o documento comprovativo


do pagamento da taxa de justiça e/ou benefício de apoio judiciário?

Resposta: À luz do art. 552º nº7 CPC, o autor juntamente com a petição inicial deve apresentar
o comprovativo do pagamento de taxa de justiça.

Enquanto o réu, também deve apresentar juntamente da petição inicial, sabendo


que se estiver a aguardar decisão sobre a concessão de benefício de apoio judiciário, apenas
necessita apresentar o respetivo requerimento (art. 570º nº1).

f) Considerando o articulado apresentado pelo autor (alínea b), quais as modalidades


de defesa que o réu poderia utilizar?

Resposta: Na contestação, o réu pode utilizar dois mecanismos de defesa: a) defesa por
impugnação quando pretende contradizer os fatos articulados na petição; b) defesa por
exceção quando alega fatos que obstam à apreciação do mérito da causa (art. 571º nº2),
sendo que podem ser dilatórias ou perentórias nos termos do arts. 576º e 577º CPC.

Um exemplo para defesa por impugnação – o autor vem dizer que circula na faixa
mais à direito, contudo a companhia de seguros diz que em função da travagem ele circula na
faixa do meio.

Exemplo de defesa por exceção – dirigir a petição inicial a um tribunal


incompetente.

g) Defendendo-se o réu por exceção, pode o autor replicar? Se sim, de que modo e
qual o prazo? Se não, quando o autor pode responder à exceção deduzida?

Resposta: A réplica é um articulado em que os autores respondem a um pedido


reconvencional – art. 584º CPC. Contudo este artigo diz expressamente que a réplica apenas se
usa para responder reconvenções, não exceções.
Já não é na fase dos articulados que se pode responder às exceções, mas sim na
audiência prévia nos termos do art. 591º nº1-b) CPC.

h) existindo algum erro de escrita na sentença, o que podem as partes fazer?

Resposta: À luz do art. 613º CPC, se houver um erro na sentença, é lícito mediante
requerimento da parte que o juiz possa corrigir essas eventuais deficiências.

i) Qual a consequência jurídica caso o Juiz condene em quantidade superior ao pedido


formulado pelo autor na petição inicial?

Resposta: O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que
a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição – vigora aqui o princípio do pedido (art. 3º nº1) e por isso o objeto do
processo está limitado pelo pedido que é feito pelas partes.

Quando assim não ocorre, a sentença é nula – exemplo: pede-se o pagamento


indemnizatório de €30  500, o juiz condena em €40  000, a sentença é nula.

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