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Introdução

O QUE É O DIREITO PROCESSUAL CIVIL?


Direito processual civil não pode, desde logo, confundir-se com os vários direitos subjetivos, pois não
se trata de um direito subjetivo/substantivo, como é caso, por exemplo, do direito das obrigações, do direito
da família e dos menores ou do direito comercial.
Assim, o direito processual civil trata antes de saber e regular como é que todos os vários direitos subjetivos
podem garantidos e efetivados através de órgãos jurisdicionais – os tribunais -, ou seja, como é que estes
direitos podem ter uma tutela efetiva, em caso de conflito de interesses.

Sendo que as pessoas (atores de relações sociais que são objeto de várias disciplinas jurídicas) têm e
disputam entre si múltiplos conflitos de interesses (económicos, pessoais, familiares, sucessórios, etc.), é
inevitável que, por vezes, surjam conflitos de interesses que não possam ser NATURALMENTE resolvidos -
ou seja, SEM LITÍGIO -, exigindo assim à ordem jurídica do Estado que disponha de meios e mecanismos
para se proceder à sanação desses conflitos.
O direito, como sabemos, é um sistema de normas de conduta, isto é, é um conjunto de normas primárias
(normas imperativas, proibitivas e permissivas) do direito material/substantivo, que visam pautar a atuação
dos sujeitos jurídicos de acordo com determinados princípios e valores sociais próprios.
❖ Porém, para que essas normas primárias de condutas se revistam de juridicidade elas carecem
da possibilidade de coativamente serem feitas respeitar. Assim, toda a norma primária de conduta
é garantida pela respetiva norma secundária sancionatória, que se aplica no caso de violação da
primeira.

Ora, a violação da norma de conduta acontece quando outrem atua de forma a afetar a integridade de uma
situação jurídica que é tutelada pelo direito. Posto isto, e sem prejuízo dos casos em que é permitida a ação
direta, o titular da situação jurídica/interesse que se encontra juridicamente tutelado pode recorrer aos tribunais
a fim de, ao procurar assegurar a satisfação do seu interesse, desencadear o mecanismo de garantia da norma
de conduta violada.
NOTA: nem só a efetiva e consumada violação dessas normas leva os sujeitos de direito privado a
recorrer aos tribunais. Também a prevenção da violação podem justificar o recurso aos meios judiciais.
Em todos os casos, o recurso aos tribunais postula a aplicação de normas instrumentais (que integram o
direito adjetivo) que regulem as atuações dos sujeitos de direito privado e dos tribunais tendentes à
concretização jurisdicional do direito substantivo
Com isto se conclui que:

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❖ O direito processual civil diz respeito ao conjunto de normas e princípios que tendem à
concretização jurisdicional do direito substantivo, no âmbito do direito público. Sendo que o
“Processo Civil” constitui o seu específico campo de aplicação.

D.to Processual Civil → (aplica-se ao) Processo Civil


❖ O direito processual civil é assim o conjunto de normas reguladoras do processo civil.

O direito processual civil, segundo Paulo Pimenta, é o conjunto das normas que regulam os mais diversos
aspetos da atuação das partes e do tribunal, no propósito da concretização jurisdicional do direito que se quer
fazer valer.
Em suma, este ramo do direito é integrado pelas regras jurídicas que regulam o processo civil.

Resultando o processo civil da necessidade de se resolver certo tipo de conflitos de interesses nas relações
entre iguais (critério da posição das partes na relação jurídica – não é a qualidade dos sujeitos que determina
se estamos perante um conflito de direito público ou direito privado, mas a sua posição subjetiva relativa).

Poder Jurisdicional – consiste na fração do poder estadual que é atribuAsída aos tribunais (estaduais ou
arbitrais, institucionalizados ou não institucionalizados) ou a certos entes materialmente administrativos (ex.:
conservatória do registo civil) para decidir um conflito de interesses, de forma independente e imparcial, com
base no Direito.
Para resolver os litígios que surgem dos conflitos de interesses entre as pessoas impôs-se um sistema de
justiça pública, o que implicou assim a proscrição do exercício da jurisdição por órgãos ou entidades que
sejam estranhos ao poder do Estado.

Posto isto, o art. 1.º do CPC determina que:

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Ora, se a ninguém é lícito o recurso à força (salvo nos casos e nos limites expressamente previstos na lei)
como forma de realizar ou garantir o próprio direito, então será necessário fornecer aos titulares desses
direitos subjetivos meios que se mostrem adequados à reintegração, à tutela adequada desse seu direito ou
interesse legalmente protegido que foi ou poderá vir a ser ofendido.
Quanto à discussão acerca manutenção/consolidação, nestas situações de justiça privada, do status quo que
resulta do exercício da autodefesa:

• Enquanto alguns autores entendem que tais situações não podem subsistir de per si, devendo ser sempre
homologadas ou ratificadas por decisão judicial;

• O CURSO (Dr. Remédio Marques) entende que somente nos casos em que a lei o determina é que o
interessado deve recorrer ao tribunal para que este aprecie se a autodefesa foi ou não utilizada dentro
dos limites da lei.

De resto, nos casos em que a justiça privada não seja permitida (que é a esmagadora maioria), a garantia
jurisdicional dos direitos e interesses confere a possibilidade ao alegado titular ativo dos mesmos de lançar
mão e pôr em movimento o aparelho sancionatório estadual, a fim de:

• No caso de violação do direito ou interesse, reintegrar a situação correspondente ao direito subjetivo


ou interesse difuso;
• No caso de ameaça de violação, prevenir a consumação da agressão ou ofensa aos seus direitos ou
interesses legítimos.

Para isso, determina o art. 2.º do CPC:

O direito de acesso aos tribunais decorre da circunstância de o monopólio da coação física legítima só poder
brotar do Estado, a ele pertencendo a realização dos direitos e demais posição jurídicas, através dos tribunais.
Ora, o Estado detém o monopólio do exercício da função jurisdicional, isto é, o poder de resolver
determinado conflito de interesses, exercendo essa função através dos tribunais. Reconhece-se, portanto, aos
cidadãos o DIREITO DE AÇÃO:

NOTA:
A parte final deste preceito legal ressalva os casos de autotutela, isto é, de exercício da justiça privadas que
estejam expressamente previstos na lei e no respeito pelos limites por ela impostos. No entanto, esta é uma
EXPRESSÃO DESAJUSTADA, uma vez que o art. 336.º do CCivil (de epígrafe “Ação Direta”) permite o
exercício da autodefesa e da autotutela de todos os direitos e interesses, se e quando não haja a possibilidade
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de recorrer tempestivamente aos meios judiciais, de modo a obstar à sua violação, perda ou inutilização prática,
desde, claro, que esse exercício seja feito no respeito pelos princípios da proporcionalidade e da adequação.
Direito de Ação (Actio) – consiste no direito de desencadear, perante o Estado, um conjunto sucessivo de atos
(um trâmite processual) que visa um determinado resultado, no caso, a solução para dado conflito de
interesses.
Ou seja, trata-se aqui do dever de o Estado colocar à disposição dos cidadãos órgãos jurisdicionais
– tribunais -, os quais, através de um trâmite, ou seja, através de uma sequência de atos, e no respeito pelos
princípios jurídicos fundamentais do processo, terminam o processo através de um ato final- a setença- pelo
qual consideram procedente ou improcedente a pretensão processual respetiva. É assim um direito exercido
contra o Estado. O Estado tem a obrigação de, através da receita pública dos impostos, colocar à disposição
dos cidadaos estas instituições que são os tribunais.
Direito de ação é, portanto, o direito que o titular ativo do direito subjetivo violado tem de reclamar
perante o tribunal uma providência judiciária reparadora do seu direito subjetivo violado. Esta função
jurisdicional não é desencadeada ex officio pelos tribunais, tendo antes de ser requerida pelo titular do
respetivo direito:

A função de “dizer o direito” (iuris dictio) pressupõe: um terceiro imparcial e a existência de certas
garantias, tais como de inamovibilidade, de imparcialidade, de independência e de irresponsabilidade para o
órgão judicial decidente.
A iuris dictio consuma-se com o proferir de despachos, sentenças e acórdãos.

AÇÃO DECLARATIVA

É o meio pelo qual o sujeito reclama em tribunal uma providência judiciária reparadora:
- Do seu direito subjetivo ou interesse legítimo violado,
- Ou do reconhecimento de um direito absoluto,
- Ou ainda o exercício de certo direito potestativo.
Na sequência da interposição de uma ação declarativa em tribunal, através da apresentação da petição inicial:
Autor - é designado por autor aquele que intenta a ação declarativa em tribunal
Réu – aquele contra quem a ação é intentada (o qual poderá defender-se da acusação através da
apresentação da contestação)

AÇÃO EXECUTIVA

É o meio de, por meios coercitivos, assegurar a realização EFETIVA da prestação devida.

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PROCEDIMENTOS CAUTELARES

Consistem no requerimento de medidas judiciais provisórias.

❖ Ora, a ação declarativa, a ação executiva e os procedimentos cautelares são todos eles ações e
procedimentos cuja instauração, desenvolvimento e conclusão se submetem a normas próprias e
específicas, as quais regulam os mais diversos aspetos da atuação das partes envolvidas e do
tribunal → O conjunto dessas normas constitui o Direito Processual Civil.
E como vimos supra, O direito processual civil é assim o conjunto de normas reguladoras do processo civil.

PROCESSO CIVIL – CONCEITO


Sendo o direito processual civil o conjunto de regras jurídicas que regulam o processo civil, interessa então
perceber o conceito de processo civil.
O termo «processo» designa, no seu sentido vulgar, uma sequência de fenómenos/atos (atos humanos ou
factos naturais) dirigida a um resultado. Ora, no campo do direito mantém-se este sentido do termo, mas,
no caso, os atos dessa sequência são factos jurídicos, maxime atos jurídicos. Assim:
Processo Civil – diz respeito à sequência de atos jurídicos (das partes, do tribunal e até de terceiros
intervenientes) ordenados para alcançar um fim – a sentença-, que coloca termo litígio, resolvendo-o.

• O STJ veio definir processo como uma «organização normativa de atos, cuja essência é a constituição
do caminho global tendente à solução de diferendos e ao respeito pelos valores e interesses legítimos».
• Já Castro Mendes definiu “processo” como a sequência de atos jurídicos destinados à justa
composição de um litígio, mediante a intervenção de um órgão imparcial de autoridade, o tribunal
(maxime, o juíz).

De modo direto: o direito processual civil visa tutelar as posições ou situações jurídicas subjetivas, os
interesses legalmente protegidos e os interesses difusos, no âmbito do direito privado, isto é, no âmbito de
relações jurídicas entre iguais.
Porém, indiretamente, o fim do processo civil é, em última instância, a paz social e segurança jurídica.
1- assegurar a paz social, através da resolução de conflitos de interesses por uma entidade que os resolve
de forma autocompositiva, justa, imparcial.

2- Segurança jurídica, porque com uma sentença o titular do direito subjetivo tem meios coercitivos
para a fazer cumprir, se não houver cumprimento voluntário da mesma. Ora, em última instância,
quando a decisão formar caso julgado, o réu já não poderá a voltar interpor mais nenhum recurso, não
se poderá voltar a decidir, em instância nenhuma, aquilo que fora decidido e que formou caso julgado.

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AUTOTUTELA (ou autodefesa)

Como vimos já, o art. 1.º, apesar de, no geral, proscrever o exercício da justiça privada, isto é, da autotutela,
permite alguns casos excecionais de exercício da autodefesa, ou seja, ressalva os casos expressamente
previstos da lei e que observem os limites por ela impostos.
Autotutela – é a forma mais primitiva de resolver conflitos de interesses, pressupondo que umas das partes
em conflito imponha a sua própria solução para o mesmo. Recorre-se, assim, ao uso da força para resolver um
conflito de interesses que tem de ser resolvido no momento, por não haver a possibilidade de recorrer
tempestivamente a um tribunal para obter uma resolução para aquele conflito de interesses.

Como vimos já, o art. 1.º do CPC, apesar de, no geral, proscrever o exercício da justiça privada, isto é, da
autotutela, permite alguns casos excecionais de exercício da autodefesa, ou seja, ressalva os casos
expressamente previstos da lei e que observem os limites por ela impostos.
Ou seja, O art. 1.º, n.º1, in fine do CPC prevê estas válvulas de escape que permitem a resolução de um conflito
de interesses com recurso à força, através do uso da força, quando a situação, pela sua própria natureza e
pelas circunstâncias, assim o exigir, desde que no respeito pelos princípios da proporcionalidade e da
adequação.

O próprio Código Civil prevê estas situações no seu art. 336.º:

Que casos são esses em que se admite a auto-defesa no quadro da justiça privada?
Ação Direta – art. 336.º do CC
Legítima Defesa – art. 337.º do CC

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Estado de Necessidade – art. 339.º do CC
Exceção de Não Cumprimento – art. 428.º/1 do CC
Direito de Retenção – art. 754.º e ss. Do CC

AUTOCOMPOSIÇÃO
É o meio através do qual as partes em litígio, ainda que com auxílio de terceiros, terminam ou previnem um
litígio, fazendo recíprocas concessões. A autocomposição do litígio ocorre, portanto, quando as duas partes
se ajustam para solucionar o conflito em questão, sito é, para chegarem a acordo. Este “acordo”- ao qual,
do ponto de vista do procedimento técnico-processual, se dá a designação de “contrato de transação” –
pressupõe, então, que haja perdas de ambas as partes, isto é, uma relativamente às posições que ambas as
partes assumiam do início do litígio.
A autocomposição dá-se através do processo de mediação.

HETEROCOMPOSIÇÃO
É o meio pelo qual um terceiro imparcial – o juiz - resolve o conflito de interesses e decide a solução para o
mesmo, determinando a sua resolução.
Na heterocomposição, juiz tem de se motivar objetivamente, isto é, de forma objetiva e imparcial, perante
as provas, documentos e relatórios periciais de que dispõe, tendo assim de determinar objetivamente qual
dos interesses conflituantes é prevalecente.
Nesta cadeira de Direito Processual Civil I, vamos estudar precisamente os trâmites processuais subjacentes
à heterocomposição de conflitos de interesses entre sujeitos/partes que se encontram numa situação jurídica
subjetiva de igualdade/paridade.

HETEROTUTELA
Neste caso, o juiz compõe o conflito na medida em que exista apenas um único interesse em conflito. Assim,
embora tenha de manter a imparcialidade no modo de obtenção da decisão, o juiz tem de se motivar
subjetivamente, tomando partido por aqueles que são os melhores interesses, isto é, por aqueles que o juiz
definir e determina como sendo os melhores interesses para o parte (única) cujos interesses se visa tutelar. Ou
seja, o juiz, motivando-se subjetivamente (mas ainda de forma imparcial) terá de decidir qual a melhor solução
para o interesse que ali está em jogo.
Ex.: processos de regulação de responsabilidade parentais, em que o único conflito em interesse é o da criança,
e não dos pais. Ou seja, o único interesse aqui em litígio é o da criança, não havendo partes (autor e réu) ou
adversários.

Objeto do processo – Pedido + Causa de Pedir (têm ambos de ser narrados na petição inicial).
**Todas as ações judiciais têm um objeto, que é composto, então, pelo pedido e pela causa de pedir:

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Pedido- são os efeitos jurídicos que o(s) autor(es) pretendem obter através do exercício do direito de
ação perante os tribunais.
Causa de Pedir – São as ocorrências da vida real, isto é, os factos que sustentam e que alicerçam, na
perspetiva do autor, o pedido.

NOTA:
O Dr. Remédio Marques não concorda com a ideia do processo civil como um mero instrumento ao serviço
dos direitos subjetivos, mas antes postula o processo civil como um pré-efeito da definição e conformação dos
direitos fundamentais: A forma como as leis processuais são construídas, isto é, o seu regime jurídico é
decisivo para a afirmação e defesa dos direitos substantivos.
Por exemplo: Em caso de urgência, em que se prove a eminente possibilidade de agressão à personalidade
física ou moral, o juiz pode emitir, em 24 horas, uma providencia, que impeça, no momento, essa agressão a
um direito fundamental → nestas circunstâncias o direito processual civil é autónomo perante o direito
substantivo, sendo mesmo uma garantia deste.

Fontes do Direito Processual Civil


Antes do 1.º código do processo civil (1876), o direito processual civil e as suas matérias encontravam-se
reguladas no 3.º Livro das Ordenações do reino:
- Ordenações Afonsinas
- Ordenações Manuelinas
- Ordenações Filipinas
Depois, na época do liberalismo, o direito processual civil foi objeto de regulamentação, sucessivamente na:
1.º - Reforma Judiciária (1832)
2.º - Nova Reforma Judiciária (1836)
3.º - Novíssima Reforma Judiciária (1841)

1.º Código do Processo Civil – 1876 (em vigor até 1939)


Nascido da iniciativa espontânea de Alexandre Seabra. Caracterizado:
- Pelo formalismo, associado a uma rigidez das regras relativas ao processo ordinário.
- No qual vigorava o Princípio do Dispositivo (Princípio da Disponibilidade das partes), que atribuía
às partes o poder de conduzir o processo.
- Exigia a redução a escrito da totalidade dos depoimentos das partes, das testemunhas e dos peritos
(o que implicava uma enorme lentidão no decorrer do processo).

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2.º Código do Processo Civil – 1939
Caracterizado:
- Neste segundo CPC o princípio do inquisitório afirmou-se na sua plenitude

* «Pese embora o atual processo penal português se norteie pelo princípio acusatório, o princípio do inquisitório não foi
liminar ou integralmente rejeitado pelo legislador nacional.

A fase de inquérito criminal (investigação criminal) apresenta natureza inquisitória, pois é dominada por um órgão
estatal próprio (o Ministério Público), responsável pela direção do inquérito (artigo 263.º n.º 1 do Código de
Processo Penal - CPP), a quem compete praticar os atos e diligências de investigação e de recolha de prova, bem como
proferir (ou não) acusação.» *

- Abolição do regime de redução a escrito dos depoimentos.

3.º Novo Código do Processo Civil - 2015

ESPÉCIES DE AÇÕES

Quanto ao objeto…

De acordo com o critério do objeto da ação (isto é, a forma de tutela requerida relativamente ao bem jurídico
que se pretende proteger), o art. 10.º do CPC distingue entre:

• Ações Declarativas, que podem ser:

o De simples apreciação (positiva ou negativa)

o De condenação

o Constitutivas

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• Ações Executivas

Ações Declarativas
As ações declarativas destinam-se a compor o conflito de interesses através da declaração, pelo tribunal, da
solução concreta do litígio, da declaração daquele da situação real que sustenta a pretensão do autor (causa de
pedir), tal como ela resulta do pedido. → Neste tipo de ações, a declaração da solução constitui o ponto de
chegada da atividade jurisdicional.

Ações Executivas
As ações executivas visam, por seu turno, tal como estabelece o n.º4 do art. 10.º do CPC, obtenção, pelo
credor, das providências adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida.
Ou seja, têm em vista a obtenção das providências adequadas à reparação efetiva do direito ou interesse
violado”, realizando-o coercitivamente, através, em ultima ratio, do recurso à força pública (de forma a
reconstituir, in natura ou por equivalente, as posições jurídicas subjetivas do exequente), ou seja, através da
agressão ao património do devedor executado.
Nestas ações, a declaração do direito subjetivo ou a declaração de qualquer posição jurídica subjetiva plasmada
num título executivo, constitui apenas o ponto de partida da atividade do tribunal: a ação executiva não traduz,
assim, o direito a obter o resultado útil dessa atividade, mas apenas o direito de exigir ao órgão judiciário
competente o exercício daquela atividade.
A ação executiva como um mecanismo de garantia de direitos e interesses legalmente protegidos.

Sentença condenatória (anterior) → será o título executivo.


A decisão condenatória limita-se a condenar, não obrigando, em si mesma, ao cumprimento do que foi
sentenciado. Ficando-se, assim, dependente do cumprimento voluntário da sentença. -> Por este motivo, terão
de existir mecanismos coativos que permitam a realização efetiva daquilo que consta nessa sentença, caso não
haja um cumprimento voluntário → Esse meio de efetivação da sentença condenatória é a “Ação Executiva”.
Requerimento executivo – junta à sentença condenatória, o título executivo, pedindo ajuda ao Estado
para, através do património do devedor, a dívida ser paga/satisfeita.
Garantia do credor – é o património do devedor (apreendendo-se bens que integram o património do
devedor).

A ação executiva permite, assim, que se reintegrem os direitos ainda violados, mesmo após uma sentença
judicial que visava pôr termo à violação do direito subjetivo, ou interesse.

AÇÕES DECLARATIVAS – SUBESPÉCIES

❖ De SIMPLES APRECIAÇÃO (art. 10.º/ 4/ a) CPC)

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Nestas, o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência de um direito ou dum facto jurídico.
Ou seja, recorre-se à ação de simples apreciação quando o autor quer apenas que se declare que ele é titular
(ou não) de um direto subjetivo, ou que ele é (ou não) responsável por um determinado facto.
Para desencadear estas ações de simples apreciação declarativa é preciso que se verifique uma real carência
de tutela judiciária, de tutela jurisdicional efetiva. Assim a admissibilidade destas ações declarativas de
simples apreciação encontra-se subordinada à verificação da existência da necessidade ou carência de tutela
judiciária = interesse em agir, por parte do autor.
A este tipo de ações está subjacente um pressuposto processual que têm, neste âmbito, uma autonomia
relevante – o interesse em agir por parte do autor, interesse em propor e fazer prosseguir uma ação de simples
apreciação positiva ou negativa. → Isto é, tem de demonstrar, na petição inicial, que há uma situação de
incerteza real, objetiva em relação à qual haja uma controvérsia que tem de ser definida.

Assim, com estas ações não se pede que o tribunal condene o réu na realização de uma qualquer prestação.
Apenas se pretende obter do tribunal uma decisão que ponha fim a uma situação de incerteza jurídica
objetiva perante uma posição jurídica atual (ou perante factos prejudiciais de situações jurídicas atuais, ou
factos intimamente conexionados com tais situações jurídicas), declarando então que um determinado facto
juridicamente relevante ou um determinado direito existe ou não.
Ações de simples apreciação negativa → coloca-se com maior acuidade o problema da repartição do encargo
da prova dos fundamentos do pedido do autor e da defesa do réu.
Posição do curso:
- Ao autor cabe a prova da inexistência do facto ou direito que este nega (ónus da alegação da causa
de pedir);
- Ao réu caberá, portanto, a prova do facto constitutivo dessa situação (que este afirma existir). Assim,
se o réu quiser afirmar a existência da situação jurídica (que o autor pretende ver negada) – art. 343.º/1 CC-
, e não somente a falta de prova da inexistência dessa situação, deve formular um pedido reconvencional:
→ Tendo esse pedido reconvencional sido julgado procedente, isto é, se o réu conseguir, de
facto, provar a existência da situação jurídica alegada na reconvenção, então a ação de simples apreciação
negativa é julgada improcedente.
→ Se, pelo contrário, o autor não conseguir provar a inexistência do facto, e o réu, por sua vez,
também não conseguir provar o facto constitutivo da situação por ele alardeada, então a ação de simples
apreciação negativa deve ser julgada improcedente.
Esta é uma ação de rara utilização.

❖ CONSTITUTIVAS (art. 10.º/ 4/ c) CPC)

As ações declarativas constitutivas visam «autorizar uma mudança na ordem jurídica existente», isto é, são
aquelas que, quanto ao seu fim, visam mudar a ordem jurídica existente entre as partes (por vezes, com
eficácia erga omnes, e não apenas inter partes).
Ou seja, através da ação constitutiva, exercem-se direitos potestativos.

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POR EXEMPLO: o autor pede ao tribunal que, com determinado fundamento, este declare a dissolução, por
divórcio, do seu casamento com a ré. No caso de a sentença resultante da interposição de uma ação declarativa
constitutiva - sendo uma sentença de procedência - ter um efeito extintivo, trata-se na mesma de uma ação
declarativa constitutivo na medida em que altera a situação jurídica que existe entre as partes.

Neste caso, o tribunal já não se encontra limitado pela situação de direito ou de facto pré-existente (como
sucede nos casos das ações declarativas de simples apreciação e de condenação).
1) Há um pedido de alteração das situações jurídicas das partes;
2) o juiz, por meio da sentença, cria situações jurídicas entre elas:
constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres → os quais, embora se
fundem na situação jurídica anterior das partes, só nascem com a própria sentença.

Para além disso, para que haja lugar a uma ação constitutiva, é necessário que se esteja perante um direito
potestativo de ação judicial.

❖ CONDENATÓRIAS (art. 10.º/ 4/ b) CPC)

A ação declarativa de condenação visa «exigir a prestação de uma coisa ou de um facto, pressupondo ou
prevendo a violação de um direito». Ou seja, têm por fim exigir a prestação de uma coisa ou dum facto, no
pressuposto de estar a ser violado ou ser iminente a violação de um direito.
Nestas ações, portanto, o autor arroga-se na titularidade de um direito, que afirma estar a ser violado, ou cuja
violação é previsível, e pretende não apenas que o órgão judiciário declare a existência ou ameaça dessa
violação, mas também que condene o réu a (possibilidades):
- Pagamento de quantia certa
- Entrega de coisa certa
- Prestação de facto (positivo ou negativo)
Nestas ações, o pedido visa reclamar:
- A restauração do statu quo ante
- Reparação por equivalente
- A adoção de medidas adequadas, por parte do réu, tendentes a evitar a consumação da violação, ou a
repetição dessa violação no futuro.
o Note-se: que somente as ações condenatórias (e algumas constitutivas que importam condenações
implícitas) podem ser seguidas da propositura de ações executivas, baseadas nas sentenças
condenatórias nelas emitidas (que servem de «título executivo»).
Assim, a ação de condenação, sem prejuízo de o tribunal dever ainda emitir o juízo declarativo que subjaz nas
ações declarativas, pretende que o tribunal também – e fundamentalmente – condene o réu, em consequência
daquele juízo declarativo, na prestação de uma coisa ou um facto.

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Pressuposto lógico destas ações: violação de um direito, ou previsão de violação de um direito (não é,
portanto necessário) que a violação esteja consumada à data do recurso a juízo ou mesmo aquando da sentença)
– neste último caso (em que tem lugar uma previsão da violação do direito), a ação condenatória dá lugar a
uma intimação ao réu para que se abstenha de o violar.

Eficácia Irradiante das ações de condenação


As ações de condenação são a forma de tutela jurisdicional civil declarativa dotada de maior eficácia, porque
inclusivamente têm subjacente a possibilidade (ulterior) de realização forçada ou coativa da prestação a que
foi condenado réu.
Estas ações visam:
- Eliminar os efeitos da violação já consumada no passado de direitos ou posições jurídicas: a sentença
condenatória forma um título executivo que permite obter a utilidade prevista no direito substantivo
(restituição in natura), ou obter a sua utilidade por equivalente (indemnização).
- Impedir a efetivação da violação de que é ameaçado o autor
- Impedir a sua repetição no futuro.

Condenações Especiais
Estas resultam da forma como o pedido ou pedidos tenham sido formulados (pelo autor ou pelo réu, neste
último caso na reconvenção).

❖ Condenações Genéricas
Pedidos genéricos – art. 556.º CPC
A condenação genérica há-de referir-se a uma quantidade indeterminada. Sendo que o objeto da condenação
pode assim referir-se a:
➔ Uma universalidade de facto (uma biblioteca, um rebanho de ovelha, um enxame de abelhas, etc.)
➔ Uma universalidade de direito (uma herança indivisa).
➔ Uma coisa composta funcional (m estabelecimento comercial ou industrial).
Assim, quando se pede a entregue dessa unidade, não é necessário descrever e caracterizar, individualmente,
cada um dos elementos dessa universalidade de facto ou de direito.

A al. b) do n.º1 do art. 556.º do CPC dá ainda conta dos casos em que a condenação genérica se pode
materializar numa indemnização, cujos danos a ressarcir ainda não estejam determinados («quando ainda
não seja possível determinar, de modo definitivo, as consequências do facto ilícito»).
Permite-se, assim, que o autor venha a pedir a condenação do réu no que se vier a liquidar em execução da
sentença.

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❖ Pedidos Subsidiários – art. 545.º CPC
Nos casos das condenações em pedido subsidiário, há uma cumulação objetiva de pedidos, em que, para
além do pedido principal, formulam-se pedidos subsidiários, em que a condenação no pedido subsidiário
apenas ocorre na eventualidade de o objeto principal do processo ser julgado improcedente, ou seja, se foi
julgado o improcedente o pedido principal, e portanto ainda satisfazer, nem que seja apenas em parte, o
interesse do autor.

❖ Condenações em prestações vincendas – art. 557.º CPC


Estamos aqui a falar de condenações destinadas ao futuro (condenações in futurum).
Tratando-se de prestações periódica, deixando o devedor de as pagar, o credor pode vir a exigir as prestações
já vencidas, juntamente com aquelas que se venham a vencer no futuro.
Exemplo: no caso em que se pretenda obter o despejo de um prédio no momento em que findar o contrato de
arrendamento, caso o senhorio (credor) não possa dispor de título executivo extrajudicial, a lei permite a
emissão de uma condenação ao pagamento das rendas após o prazo para o despejo, caso este não seja
cumprido.
Das aulas teóricas:

• Condenações genéricas → art. 556.º CPC

Art. 556.º, n.º1, al. a):


universalidade de facto – um rebanho de ovelhas, um enxame de abelhas, etc.
No caso de um vizinho roubar um enxame de abelhas a outro → o autor formula um pedido genérico de
entrega do enxame de abelhas -> isto é um pedido genérico, porque em rigor o autor deveria pedir a entrega
de cada uma das abelhas individualmente, tinha de pedir e descrever cada um dos animais. Todavia, como os
animais formam um todo, e são tratados unitariamente, quando se pede a entregue dessa unidade, não é
necessário descrever e caracterizar, individualmente, cada um dos elementos dessa universalidade de facto.
Assi, o autor pede a condenação do réu na entrega de todo o enxame, na entrega daquela universalidade de
facto, composto por muitos elementos individualizados → a condenação, neste caso, é uma condenação
genérica.

Art. 556.º, n.º1, al. b):


Num acidente de trabalho ou de carro, se a culpa não for do lesado (do trabalhador ou condutor), sendo a culpa
do dano decorrente do facto ilícito imputável ao empregador ou a outro condutor, o lesado não tem
imediatamente noção, nem consegue sequer em poucos meses quantificar todos os danos de natureza
patrimonial e não patrimonial que sofreu e ainda virá a sofrer (normalmente ficam com sequelas que implicam
muitas terapias, medicamentos, exames, que se prolongam durante muito tempo) – a pessoa lesada só saberá
quantificar os danos muitos anos depois.
Seja contra quem seja intentada a ação, o prazo para intentar a ação é de 3 anos (não havendo crime) → em
3 anos não é possível ao lesado quantificar exatamente o montante dos danos decorrentes daquele facto ilícito.
Aquilo que sobre tudo não se consegue quantificar logo são as sequelas do acidente. Ele pede que o lesante
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ou a companhia de seguros seja condenado a pagar-lhe uma quantia, mas NÃO DIZ QUANTO, pede apenas
que o juiz condene o réu a pagar quantia que será quantificada em momento posterior.
Condenação genérica → indemnização que irá ser quantificada posteriormente.

• Condenações específicas → indemnização pelos danos que já conseguiu especificar e quantificar


Se não houver autocomposição, isto é, quando não chegam a acordo quanto à liquidação do dano que consta
da sentença, o lesado vai reabrir o processo e vai formular um pedido de liquidação (art. 360.º CPC).

• Condenações no futuro – 557.º/2 CPC («Pedido de prestações vincendas»)


Exemplos:
Obrigações de alimentos dos pais para com os filhos -> é uma obrigação que resulta da lei (é uma obrigação
não autónoma, pois não resulta da livre vontade das partes). Imaginemos que o pai foi condenado a prestar
alimento à criança no montante de 300euros, mas que não tem realizado a prestação nos últimos 12 meses →
pede-se indemnização por “incidente de incumprimento”, no caso, da obrigação de alimento.
Caso do senhorio/arrendatário – é um contrato de prestação duradoura. Quando se pede a condenação de
despejo, faz-se também pedido condenatório das rendas vencidas e ainda das rendas vincendas, as rendas até
que aquele inquilino saia da casa, pois ele estará a ocupar a casa até sair de lá, ficando o senhorio prejudicado
com a ocupação da casa pelo inquilino (entre a data da condenação e a data do efetivo despejo, da efetiva
desocupação do prédio).

• Pedidos subsidiários- nos casos das condenações em pedido subsidiário, há uma cumulação objetiva
de pedidos, formulam-se pedidos subsidiários, em que a condenação no pedido subsidiário apenas
ocorre na eventualidade de o objeto principal ser julgado improcedente, ou seja, se foi julgado o
improcedente o pedido principal, e portanto ainda satisfazer, nem que seja apenas em parte, o interesse
do autor.
Ou seja, se o juiz considerar o pedido principal improcedente, ao menos que condene o réu a outra coisa
qualquer, por exemplo, a pagar o montante de todos os meses pela ocupação que ele tem feito do terreno do
autor).

PROCEDIMENTOS CAUTELARES
Atividade jurisdicional cautelar - Arts. 362.º e ss. CPC

Se se trata de uma atividade jurisdicional cautelar significa que não é autónoma, não é independente face à
atividade jurisdicional condenatória. Assim se conclui que os procedimentos cautelares integram a atividade
jurisdicional que vive à sombra de outras sequencias de atos (ações) principais, dependendo delas.
Os procedimentos cautelares têm assim a função de:

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• Prevenir/evitar os perigos que, antes da propositura de uma ação (principal) ou durante o tempo em
que esta se encontre pendente, possam comprometer a efetividade dos resultados dessa ação principal
(alcançar a pretensão deduzida na ação);
• Regular provisoriamente um dado conflito de interesses até ser lograda a composição de interesses.
De forma sucinta, os procedimentos cautelares, no âmbito de outra(s) ação principal, visam evitar danos e
prejuízos futuros, antecipando determinados efeitos (negativos) das decisões judiciais, com o objetivo
principal de ver assegurada a efetivação do direito do autor da ação principal, quando e se for preferida a
ação condenatória do réu.
O arresto do património é a providência cautelar mais típica.

• Há procedimentos cautelares tipificados/nominados na lei → têm uma tramitação cautelar


especifica;

• E os que não estão especificamente previstos → seguem a tramitação/procedimento cautelar


comum → que se rege pelos artigos 365.º, 366.º e 367.º CC. (tutela cautelar geral).

Providências cautelares – são uma tutela meramente cautelar, e não uma tutela definitiva, para assegurar
a afetividade de um direito, de uma pretensão que se quer fazer valer no âmbito da ação principal (art. 361.º/1
CPC).
As providencias cautelares não têm necessariamente de ser requeridas antes das ações principais, mas
também podem ser requeridas na pendência da ação principal de que dependem.
Em suma:
❖ Não vale, nem vigora, no nosso ordenamento jurídico, um princípio da tipicidade taxativa das
providências cautelares.
Ora, por um lado, consagrou-se um conjunto de providencias cautelares expressamente tipificadas na lei
processual → providências cautelares nominadas/específicas, com funções: conservatórias ou
antecipatórias.
Procedimentos Cautelares Especificados – arts. 377.º e ss. CPC
São providencias cautelares nominadas, cuja tramitação está especificada na lei:
1. Restituição provisória da posse
2. Suspensão de deliberações sociais
3. Alimentos provisórios
4. Arbitramento de reparação provisória
5. Arresto
6. Embargo de obra nova
7. Arrolamento
Por outro lado, a lei processual civil consagra um procedimento cautelar comum/geral para as restantes
providências cautelares, para todas as outras que estão fora do elenco das providências cautelares
especificadas, que preveem uma tramitação cautelar especifica para cada um dos casos supracitados.

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Art. 362.º CPC
Na pendencia de uma ação declarativa condenatória (que é ação principal) → o credor pode requerer ao juiz
o decretamento de uma providência cautelar de arresto das contas/património do devedor, pelo credor.
Permite conservar algum património do réu, que poderá vir a ser condenado no pagamento de certa quantia
ao autor. Assim, mantém-se, até à possível condenação, a única garantia que o credor tem – o património.

• São instrumentais e dependentes em relação às ações principais, porque se forem instauradas antes
das ações principais a ação principal tem de ser instaurada em regra no prazo de 30 dias a partir do
decretamento da providencia cautelar (art. 373.º/1/b) CPC).

• Urgência na tramitação das providencias cautelares (urgência dos procedimentos cautelares)–


significa que a secretaria judicial e os agentes de execução tem de dar sempre prioridade e preferência
à tramitação das providencias cautelares relativamente às restantes ações, porque está em causa o risco
de o requerente perder a efetividade da tutela que visa satisfazer o seu interesse ou direito juridicamente
tutelado.

Requisitos (cumulativos) para decretamento de uma providência cautelar:

❖ Periculum in mora

❖ “Fumus boni juris”

❖ Proporcionalidade/adequação da providência

FUMUS BONI JURIS


Art. 368.º/1/1ª parte CPC → fumus boni júris
O juiz tem de ficar convencido da probabilidade séria da existência do direito subjetivo que o requerente
queira acautelar.
Não basta um juízo probabilístico superficial (mero convencimento) → tem de haver, isto é, o juiz tem de
convencer-se de uma probabilidade séria. – art. 368.º/1/ 1ª parte.

PERICULUM IN MORA
Para além disso, tem ainda de se mostrar suficientemente fundado/justificado o receio da lesão desse direito.
– art. 368.º/1/ in fine do CPC.
Está preenchido este requisito quando se concluir que se o juiz não decretar a providência, a demora da
tramitação principal pode deitar tudo a perder, causando lesão do direito e um prejuízo irremediável e
irreversível ao requerente.

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PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE (em sentido amplo)
Art. 368.º/2 CPC
A providência requerida não pode causar, ao requerido, um prejuízo excessivamente superior ao dano que
com ela se pretende evitar.
Tem de estar preenchido o requisito da proporcionalidade nas suas 3 dimensões essenciais:
- Adequação
- Necessidade
- Proporcionalidade em sentido estrito
Art. 368.º/3 CPC → caso não haja proporcionalidade em sentido amplo (em todas as suas 3 dimensões) da
providência cautelar, mesmo estando verificados os outros dois requisitos (fumus boni juris + periculum in
mora), então ela será indeferida e pode ser substituída por caução adequada, a pedido do requerido, sempre
que a caução oferecida (ouvido o requerido) se mostre suficiente para prevenir a lesão ou repará-la
integralmente.
Se as circunstâncias do caso forem tais que a adequação da providencia requerida não ocorra, pode o juiz
decretar outra providencia cautelar que se mostre adequada, pode decretar uma providencia diferente daquela
que foi concretamente requerida.

TIPOS DE PROVIDÊNCIAS CAUTELARES

❖ Providencia cautelar conservatória


Através da providência cautelar conservatória, o requerente apenas quer manter o statu quo, isto é, o estado
das coisas. Não quer que, durante a pendencia da ação principal, as coisas se alterem.
Exemplo: o arresto, o arrolamento → em que esta em causa a titularidade do domínio sobre uma coisa - até
se definir o que é o “quê” e “de quem” arrestam-se os patrimónios para que ninguém altere a situação que se
verifica no momento até se determinar tudo, até ao final da ação principal.
Exemplos :

- O arresto
- O arrolamento

❖ Providencia cautelar antecipatória


Visam tentar antecipar os efeitos que se tinham em vista produzir com a ação principal (a qual pode demorar
mesmo anos até terminar, até haver uma sentença/decisão judicial transitada em julgado).
Visam uma tutela antecipatória satisfativa da pretensão do requerente.

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Exemplos:

- Os alimentos provisórios (art. 384.º CPC) - até que a ação de alimentos chegue ao fim pode demorar muitos
anos, no entanto o requerente precisa dos alimentos logo no momento em que os requere (para pagar as
propinas, a habitação, as despesas de alimentação, etc). Pode pedir se a antecipação da tutela cautelar, fixando-
se, antecipadamente, um montante meramente provisório a título de alimentos.
- Restituição provisória da posse (art. 377.º a 379.º CPC) – também os possuidores em nome alheio podem
defender a posse (caso do inquilino que é posto na rua pelo senhorio, quando o contrato ainda está em vigor,
sem justa causa -> se este inquilino agir mediante uma ação principal de restituição da posse, a sentença final
pode demorar até mais de 1 ano →o que acontece é que o senhorio, passados 11 meses, pode emitir, com um
mês, uma oposição à renovação do contrato de arrendamento de forma lícita → isto faria ir por terra toda a
efetividade da ação principal, mesmo que ganhasse a ação principal 1 ano mais tarde, pois nessa altura já
contrato foi licitamente resolvido.

Ora, nestes casos deve requerer-se a restituição provisória da posse (providencia cautelar), na pendencia da
ação de restituição definitiva da posse (ação principal).

❖ Providencias mistas

- Embargo de obra nova (Art. 397.º CPC) – aquelas situações em que por exemplo um vizinho começa a
fazer um desaterro para construir uma casa, mesmo ao lado da casa de outra pessoa, pondo em risco os
alicerces da casa do vizinho. Aqui, o vizinho pode reagir através de uma ação principal, pedindo ao juiz que
condene o reu a cessar as obras por não estarem a cumprir as regras de segurança das obras, mas esta ação
pode demorar tanto tempo que quando for decidida, já os trabalhos fizeram ruir a sua casa → Pode requerer
uma providencia cautelar, que neste caso será simultaneamente conservatória e antecipatória: pois o
requerente pretende que se mantenha tudo na situação em que está (que não se façam mais alterações no local,
para não haver mais ou novos estragos/danos), e ainda visa que com a providencia requerida se parem, de
imediato, as obras que estão a decorrer (sendo que esse era o efeito que se visava com a ação principal).

Providencias Cautelares Autossuficientes

As providencia cautelares vivem, em princípio, à sombra de ações principais já propostas ou a serem


imediatamente interpostas, não gozam de autonomia, estão na dependência das ações principais. →
TODAVIA, nem sempre é assim: há situações em que as providencias são autossuficientes, na medida em que
o requerente pede que essa autossuficiência seja determinada. São providencias cautelares em que o requerente
da mesma não tem depois de propor a ação cautelar se a providencia cautelar requerida for decretada.
PORQUÊ? Porque, haverá providencias cautelares que se forem decretadas satisfazem plenamente o
interesse do requerente, obtêm completamente a tutela satisfativa do seu interesse, não sendo necessária
mais nenhuma ação, pois o seu interesse/a sua pretensão já ficou satisfeita só com o decretamento da
providencia cautelar.

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– art. 369.º CPC

Se o juiz formar convicção segura acerca da existência do direito acautelado do requerente da providencia
cautelar, decretando, portanto, a providencia requerida e dispensando o autor de propor a ação principal (a
providencia cautelar vai como que “servir” de ação principal, em que a pretensão do requerente fica
completamente satisfeita com o decretamento da providencia cautelar), pode haver inversão do contencioso
em que aquele que era aqui réu tem 30 dias para propor, ele próprio (que antes era réu e agora aparece na veste
de autor) uma ação autónoma em que pede que o direito acautelado daquele que anteriormente era autor seja
destruído, para impugnar a existência do direito acautelar. → Só tem lugar esta inversão do contencioso
quando se trate de providencias cautelares antecipatórias. E nas mistas na dimensão em que seja
antecipatória.
Assim, a expressão “inversão do contencioso” é aplicável quando o ex-requerido (antigo réu da providencia
cautelar que foi decretada e que satisfez por completo a pretensão do requerente/autor), tendo perdido a
providência cautelar, fizer surgir uma ação autónoma, no prazo de 30 dias, com a pretensão de impugnar o
direito subjetivo que foi acautelado na providencia cautelar, a qual tem de se tornar definitiva.

Como se impugna um procedimento cautelar?


Impugna-se através de 2 meios:
- Oposição ao decretamento da providencia cautelar
Aqui, a oposição é dirigida ao próprio juiz que proferiu a decisão, pelo que pode requerer que se tomem em
conta factos que não foram tomadas em consideração - ocorre um reexame, uma reapreciação da decisão.
- Recurso da providência cautelar (para um juiz de um tribunal hierarquicamente superior).
O objeto do recurso, aqui, só pode ser a decisão recorrida (não pode ser toda a realidade fáctica que esteve na
base da providencia cautelar). Há uma reanálise apenas dos concretos pontos da decisão recorrida (esta
impugnação é mais restrita).
Pode recorrer-se com base em:
Erro quanto à matéria de facto (quanto aos factos provado/não provados);
Erro quanto a qualificações jurídicas, quanto a matéria de direito (“in judicando”)
Assim, os réus que perdem a providência cautelar devem:
1.º - Opor-se à decisão de decretamento da providencia da cautelar, perante o mesmo juiz, pedindo-lhe que
decida de nova, com base noutros factos.
2.º - Só se, mesmo depois da oposição, o juiz mantiver aquela decisão, é que se recorre da providência cautelar
(meio de recurso de apelação).

Qual é a garantia da efetividade da providencia cautelar?


A garantia esgota-se com o próprio decretamento e efetivação da diligencia (ex.: quando é decretado o arresto
ou o arrolamento) – há providencias que são, portanto, autoexecutivas.

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Há outras que podem não o ser, pelo facto do requerido não cumprir o dever de prestar, de fazer ou não fazer
a que foi condenado pelo decretamento da providencia cautelar. – São aquelas que carecem a execução
voluntaria do requerido. Ora, se não houver cumprimento voluntario, como pode reagir o requerente da
providencia cautelar? Qual é a garantia da providência neste caso?
❖ Art. 375.º CPC - «Garantia penal da providência» – aplica-se a parte geral do regime jurídico do
direito penal, porque estará em causa um crime de desobediência qualificada.
Nesse caso, o requerente pode decidir avançar com a queixa crime, se assim o entender.

Art. 375.º/2ª parte CPC – ou então, o requerente pode desencadear um processo executivo, pois já tem um
título executivo, que é a providencia cautelar que foi decretada, para que ocorra uma execução coerciva. Ao
executado é aplicada uma sanção pecuniária compulsória.
Se, já depois de o juiz do processo executivo já o ter condenado na prestação dessa sanção pecuniária
compulsória, o executado continuar a não cumprir com aquilo a que foi condenado, penhoram-se bens ao
individuo.
EM SUMA…
A garantia da efetividade da providencia cautelar é: por um lado, uma garantia penal e cível, pelo outro.

► Competência territorial dos tribunais no âmbito dos procedimentos cautelares (onde devem ser requeridas
as providencias cautelares) → Artigo 78.º do CPC.

Pressupostos processuais – São os requisitos de cuja verificação depende o conhecimento da pretensão


material formulada, do mérito da ação. Ou seja, são as circunstâncias ou requisitos necessários (cuja
verificação é necessária) para o juiz, então, se poder debruçar sobre o fundo ou mérito da causa.
São, portanto, os requisitos que têm de estar previamente preenchidos para que o tribunal possa apreciar o
mérito da causa.
Condições sem as quais o juiz não pode analisar o mérito da causa, não pode analisar se os direitos subjetivos,
se as pretensões substantivas invocadas pelo autor existem ou não existem, e em que medida é que existem.
Isto é, sem as quais o juiz não pode analisar o fundo ou o mérito da causa, não pode apreciar a pretensão do
autor.
➔ Ou seja, na falta de um ou vários pressupostos processuais, o juiz vai absolver o réu da instância.
O juiz extingue a instância, isto é, a relação jurídico-processual, sendo que, ao extingui-la, o réu é
absolvido da instância.
o A instância é a situação jurídico-processual através da qual se estabelece a relação triangular
entre as partes do processo e o tribunal, durante a pendência de ação – para a ação proceder e ser aceite,
isto é, poder ser conhecida pelo tribunal competente, há uma séria de requisitos/circunstâncias que têm
necessariamente de se verificar (são os pressupostos processuais).
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Pressupostos processuais relativos ao Tribunal

• Competência:
▪ Competência Interna
▪ Competência Internacional

Pressupostos processuais relativos às partes

• Legitimidade processual

• Personalidade judiciária (quem é que pode ser autor e quem pode ser réu?)

• Capacidade judiciária (só que tiver capacidade de exercício de direitos é que tem capacidade
judiciária)
Exemplo: um menor, na grande maioria das vezes não tem capacidade de exercício de direitos; uma sentença
judicial que tenha decretado acompanhamento do maior, que concretamente possa limitar a capacidade
judiciaria do maior acompanhado, necessitando do acompanhante

• Patrocínio judiciário – só é obrigatório no âmbito de algumas ações, expressamente previstas


no CPC.

COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS

A competência interna traduz-se na fração do poder jurisdicional atribuída aos tribunais portugueses. Fração
esta que é exercitada por um específico tribunal – o tribunal competente.

Sendo um determinado litígio da competência dos tribunais portugueses, ou seja, tendo uma ação de ser
proposta em Portugal, há depois que verificar qual o tribunal português concretamente competente para julgar
determinada ação.
Duas grandes ordens jurisdicionais em Portugal:
o Ordem de jurisdição dos tribunais administrativos e fiscais – litígios de direito público.
o Ordem dos tribunais judiciais – litígios de direito privado → é a que vamos estudar em DPCI

O poder jurisdicional está polarizado/dividido por muitos órgãos jurisdicionais.

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Em função da matéria do litígio/conflito de interesses

Art. 64.º CPC + art. 40.º LOSJ - Os tribunais judiciais têm competência material residual.
Nem sempre é fácil aplicar o artigo 64.º CPC, ou seja, nem sempre é fácil dizer se um determinado conflito
de interesses é um conflito de direito privado ou um conflito de direito público, porque a mais das vezes
o legislador não o indicou expressamente, quando se trata de matéria de direito público ou privado.
Temos de questionar:
O litigo em causa é da competência do: Tribunal administrativo e fiscal? Tribunal de contas? Tribunal
necessário? Tribunal constitucional? Tribunal geral da União Europeia? Tribunal de Justiça da União
Europeia? Órgão Jurisdicional Internacional?
Se não for de nenhum dos acimas indicados, então, tendo os tribunais judiciais competência material residual,
residualmente será da competência dos tribunais judiciais.

Em função do território
Concluindo-se pela competência do tribunal judicial para o concreto litígio, há ainda que aferir qual é o
específico tribunal judicial competente para aquele concreto litígio, à luz de vários critérios atributivos de
competência → pois existem imensos, variadíssimos tribunais judiciais.

CRITÉRIOS DE COMPETÊNCIA
4 critérios atributivos de competência interna dos tribunais judiciais, que cumulativamente têm de estar
verificados:

• Competência em razão da matéria


• Competência em razão do território
• Competência em razão do valor da causa
• Competência em razão da hierarquia

Competência em razão da matéria – art. 64.º/2 LOSJ


O artigo 65.º CPC remete-nos para o artigo 40.º/2 LOSJ.

Tribunais de 1.ª instância, cuja competência é determinada em razão da matéria – designam-se: «juízos dos
tribunais de comarca». No âmbito dos tribunais judiciais de 1.ª instância, em sede de competência em razão
da matéria. A ponderação a fazer respeita à existência de tribunais de competência especializada (cuja
competência é expressamente conferida por lei) e de tribunais de competência genérica, que dispõem de
competência residual.

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TRIBUNAIS DE COMPETÊNCIA ESPECIALIZADA compreendem:

► Juízos de competência especializada (artigo 81.º/3 LSOJ)


► Tribunais de competência territorial alargada (art. 83.º LSOJ)

- Juízos de competência especializada


Artigos 117.º a 130.º LOSJ.
► Juízos centrais cíveis
Competência para preparar e julgar as ações declarativas cíveis, cuja causa tenha valor superior a 50.000€.
Competência para exercer, no âmbito das ações executivas de natureza cível de valor superior a 50.000€, as
competências previstas no CPC, em circunstâncias não abrangidas pela competência de outro juízo ou tribunal.
► Juízos centrais criminais
► Juízos de Instrução criminal
► Juízos de família e menores
► Juízos de trabalho
► Juízos de comércio
► Juízos de Execução

- Tribunais de competência territorial alargada


A sua competência não é só atribuída em razão da matéria dos litígios, é também em razão do território, porque
eles têm competência na totalidade do território português (tirando os tribunais marítimos e os de execução
de penas).
1. Tribunal da propriedade intelectual - Artigo 111.º LOSJ
2. Tribunal da concorrência, regulação e supervisão – Artigo 112.º
3. Tribunal Marítimo – Artigo 113.º
4. Tribunal de execução de penas – Artigo 114.º
5. Tribunal Central de instrução criminal – Artigo 116.º (*este não nos interessa*).

O “denominador comum” dos juízos de competência especializada e dos tribunais de competência territorial
alargada é que ambos são tribunais de competência especializada – São órgãos jurisdicionais dos tribunais
judiciais que só apreciam e julgam certos litígios, com exclusão de quaisquer outros.

A especificidade e a complexidade de certas e determinadas causas justificam, de facto, a existência de


tribunais e de juízos de competência especializada, isto é, vocacionados para a apreciação de certas matérias.

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TRIBUNAIS DE COMPETÊNCIA GENÉRICA
Já vimos, nos termos do artigo 64.º CPC e do artigo 40.º/1 da LOSJ, os tribunais de competência genérica
têm uma competência residual, uma vez que a sua intervenção só ocorre quando a causa não seja da
competência de nenhum dos tribunais de competência territorial alargada, nem de nenhum dos juízos de
competência especializada.
É no artigo 130.º da LOSJ que se encontra a previsão relativa aos tribunais de competência genérica, segundo
Dr. Paulo Pimenta.
Poder-se-ia pensar que, como a competência dos tribunais de competência especializada é delimitada em
função da matéria, isto levaria a concluir que os juízos locais cíveis seriam tribunais de competência
material residual: tudo o que não pertencesse à competência material de outro juízo de competência
especializada pertenceria à competência material do juízo local cível.
A verdade é que, sob um ponto de vista técnico, a opção de qualificar os juízos locais cíveis como juízos de
competência especializada não deixa de ser discutível (eles são incluídos nos tribunais de competência
especializada no artigo 81.º/3/b) da LOSJ), dado que a competência residual desses juízos depende não apenas
da matéria, mas também do valor e da forma de processo.
Em concreto: decorre do disposto nos art. 117.º, n.º 1, al. a), e 130.º, n.º 1, que um processo declarativo cível
de valor igual ou inferior a € 50 000,00 ou que siga, qualquer que seja o seu valor, a forma de processo
especial é da competência do juízo local cível (tal como antes era da competência da instância local), sendo
assim evidente que a competência deste juízo não é delimitada em função da matéria.
Até porque o artigo 130.º/1, in fine da LOSJ é expresso quando explicita que estes tribunais “possuem
competência (…) quando as causas não sejam atribuídas a outros juízos ou tribunal de competência
territorial alargada”.

Competência em razão da hierarquia


Ao contrário do que se verifica com a competência em razão da matéria (a qual respeita, diga-se, à disposição
horizontal dos tribunais), a competência interna em razão da hierarquia contende com a disposição vertical
dos mesmos.
A competência em razão da matéria é estabelecida para efeitos de recurso das decisões dos vários tribunais
judiciais (art. 42.º/1 LOSJ).
No fundo, a hierarquia significa apenas poder ter-se um órgão jurisdicional que possa revogar, total ou
parcialmente, uma decisão proferida por um outro órgão jurisdicional.

► TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA


► TRIBUNAIS DE 2.ª INSTÂNCIA
► S UPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA
► Na base da hierarquia estão os tribunais de 1.ª instância.
Tribunais judiciais de primeira instância → são, em regra, os tribunais de comarca.

❖ Plenitude de jurisdição – compete aos tribunais de primeira instância (aos tribunais de comarca).

3 exceções à regra da plenitude de jurisdição:


1. AÇÕES DE INDEMNIZAÇÃO CONTRA MAGISTRADOS (do MP ou juízes)

Ações de indemnização decorrentes de danos causados às partes no exercício das funções de julgador, do juiz
de segunda instância.
Parte-se do princípio da irresponsabilidade dos juízes, mas se estes praticam crimes no exercício das suas
funções, terão de ser julgados.
É intentada no tribunal hierarquicamente superior – no STJ.

2. ATOS ILÍCITOS PRATICADOS POR UM JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA no exercício das suas funções.

Ações contra ilícitos praticados por juízes de primeira instância no exercício das suas funções – esta ação
propõe-se no tribunal de segunda instancia (tribunal da relação) hierarquicamente superior.

3. SENTENÇAS ESTRANGEIRAS QUE SEJAM PROVENIENTES DE TRIBUNAIS NÃO PERTE NCENTES A EMS DA UNIÃO
EUROPEIA

Arts. 978.º e ss. CPC – necessidade de revisão de sentenças estrangeiras


Propõe-se a revisão das sentenças estrangeiras nos tribunais de 2.ª instância do local onde se pretendem
impugnar essas sentenças – esta sentença de revisão é uma ação declarativa.
No âmbito desta revisão de sentenças estrangeiras, o Tribunal da Relação que proceder a essa revisão, não vai
analisar os factos, não vai rever o mérito do que está decidido, apenas vai fiscalizar o cumprimento dos
requisitos do artigo 980.º do CC – não se aprecia o mérito da sentença estrangeira (não se vai reexaminar os
factos).
A sentença estrangeira só servirá de título executivo se a ela estiver apensa o acórdão do Tribunal da Relação
que procede à fiscalização da primeira (da Relação competente), que confirme a sentença estrangeira
Artigos 36.º e 42.º do Regulamento n.º 1215/2012 → Nas sentenças executivas provenientes de outros
Estados-Membros para outro Estado-Membro da União Europeia não há uma sentença judicial prévia, um
processo judicial prévio, há apenas alguns formalismos a cumprir, mas não há um processo judicial (ao
contrário do que sucede com as sentenças provenientes de Estados não pertencentes à União Europeia).
Convenção de Lugano (sobre reconhecimento e execução de decisões em matéria civil e comercial) – são
parte os Estados-Membros da União Europeia + Suíça, Noruega, Islândia e Licheinstein → não há
reconhecimento automático, pois é necessário que a parte (proveniente de um daqueles 4 países) que queira
intentar uma ação executiva contra a outra parte - que tenha sede ou domicílio num Estado-Membro da União

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Europeia -, requeira e obtenha, junto do tribunal de 1.ª instância do lugar da execução uma «Declaração de
Exequator» (declaração executoriedade).

TRIBUNAIS DE 2.ª INSTÂNCIA


► Hierarquicamente a seguir, temos os tribunais de 2.ª Instância ou Tribunais da Relação.
Tribunais de segunda instância → Tribunais da Relação.
Estes têm competência para:
a. conhecer dos recursos interpostos de decisões proferidas pelos tribunais de 1.ª instância, cujo valor
da causa exceda a alçada dos tribunais de primeira instância (art. 42.º/2 LOSJ + art. 68.º/2 CPC).
b. Conhecer certos recursos e causas que por lei lhe sejam atribuídos (art. 68.º/1 CPC).
Tribunal de Segunda instância só vai reapreciar concretos pontos de facto e/ou de direito que a decisão de
primeira instância julgou (tendo alguma das partes perdido a causa: ou o autor ou o réu).
Ora, o recurso versa sobre a decisão recorrida, sendo que objeto do recurso não é todo o litígio, mas apenas
a parte da sentença que foi recorrida.
E também não é a toda a sentença de primeira que é objeto de recurso, só apenas alguns segmentos de factos
ou de direito da sentença (que o recorrente tem de identificar). Assim, o Tribunal da Relação que conhece do
recurso vai reapreciar, reexaminar, reponderar esses concretos pontos de facto ou de direito, julgando-os
procedentes ou improcedentes.

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


► No topo da hierarquia judiciária encontramos o Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O STJ tem competência para:
a. conhecer dos recursos interpostos das decisões proferidas pelas Relações, ou seja, pelos tribunais de
segunda instância (art. 69.º/1 CPC + art. 42.º/2 LOSJ), quando o valor da respetiva causa
exceda/ultrapasse a alçada das Relações.
b. Conhecer, ainda, certas causas e recursos que lhe são especificamente atribuídas por lei (art. 69.º/1
CPC).

Competência em razão do valor da causa


A competência interna em razão do valor da causa releva no âmbito das ações declarativas cíveis de processo
comum e determina a intervenção dos juízos centrais cíveis no confronto com os juízos locais cíveis.
Alçada – corresponde ao valor da causa até ao qual um tribunal julga, sem que a parte que tenha perdido
possa interpor recurso ordinário para o tribunal hierarquicamente superior. Quando a causa excede esse valor,
passa a haver possibilidade de recurso da decisão proferida pelo tribunal que julgou a questão.
Do confronto da alínea a) do n.º 1 do artigo 170.º LOSJ com o n.º 1 do artigo 130.º LOSJ resulta que, à luz do
critério do valor da causa:

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❖ As ações declarativas cíveis comuns de valor superior a € 50.000 são da competência dos juízos
centrais cíveis.
Como podemos aqui concluir, os juízos centrais cíveis têm uma dupla competência (estabelecida com base
em dois critérios): competência em razão da matéria e competência em razão do valor da causa.

❖ As ações declarativas cíveis comuns cujo valor seja igual ou inferior a € 50.000 devem ser instauradas
nos juízos locais cíveis
->Isto é assim, por articulação entre o disposto no artigo 42.º LOSJ e no artigo 117.º/1/a) LOSJ, pois o
artigo 42.º LOSJ diz-nos que a lei determina a competência, em razão de valor, entre os juízos centrais cíveis
e juízos locais cíveis. Ora, e se os juízos centrais cíveis, por força do que determina o artigo 117.º/1/al. a) da
LOSJ, decidem as causas de valor superior a 50.000 €, então, por exclusão de partes, os juízos locais cíveis
decidirão as causas de valor igual ou inferior a 50.000€.
➔ Note-se: este critério só vale relativamente aos processos declarativos comuns.
Quanto aos processos declarativos especiais, a determinação do tribunal competente deverá fazer-se
segundo outros critérios: em particular o critério da competência em razão da matéria (aqui
estabelecendo-se o confronto entre tribunais de competência especializada e tribunais de competência
genérica).
Cada comarca corresponde à área territorial do distrito: em cada comarca existe, em regra, 1 juízo central cível
(exceto: Porto e Lisboa, em que há 2) e vários juízos locais cíveis (em função do número de litígios –
estatísticas).

Valor da causa → exprime os interesses económicos que o autor pretende fazer valer, ou seja, o valor
atribuído à causa representa a utilidade económica imediata do pedido – art. 296.º/1 CPC

Art. 44.º/1 LOSJ:


Alçada dos tribunais de 1.ª instância – 5.000€
Alçada dos tribunais da Relação – 30.000€

Outro requisito relativamente recurso da decisão ao valor da causa é a sucumbência – temos de saber qual o
decaimento (a perda) de cada uma das partes.
❖ Sucumbência – o autor tem de perder em mais de metade da alçada da primeira instância (1/2 da
alçada da primeira instância = 2500€).
Exemplo:
O autor pede ao tribunal que condene o réu no pagamento de 8.000€. Porém, o tribunal apenas condena o réu
no pagamento de 6.000€:
- O autor ganha em 6.000€
- O autor perde em 2.000€ → pela questão da sucumbência, este valor não é suficiente para que o autor
possa interpor recurso, pois teria de perder em mais de metade da alçada da primeira instância, ou seja, em
mais de 2500€.
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❖ No caso de haver reconvenção por parte do réu (quando o réu contra-ataca), tem de se somar ao valor
do pedido do autor, o valor da reconvenção do réu. A utilidade económica das duas ações tem de ser
somada. → Isto faz aumentar o valor da ação.

Competência em razão do território


Artigos 70.º e ss. do CPC
Art. 43.º/1 LOSJ – o STJ exerce jurisdição em todo o território nacional.
Art. 43.º/2 LOSJ – Tribunais da relação têm competência, em regra, na área das respetivas circunscrições.
*
Art. 43.º/3 LOSJ – Os tribunais judiciais de comarca possuem, em regra competência na área territorial das
respetivas comarcas. *
O n.º 4 alude quanto à hipótese de haver tribunais com jurisdição sobre mais do que uma comarca (que são os
tribunais de competência territorial alargada*).
* DL n.º 49/2014 – RLOSJ (Regulamenta a Lei de Organização do Sistema Judiciário)

Critérios de localização do concreto litígio no espaço geográfico territorial português:


- Critérios de proximidade objetos do litígio, meios de prova e o julgador
- Citérios de previsibilidade

A localização do litígio há de depender do tipo de litígio, da natureza do litígio, natureza esta que se retira da
petição inicial, mais especificamente do objeto do processo tal como o autor da ação o apresenta.
Objeto do processo:
Pedido- são os efeitos jurídicos que o(s) autor(es) pretendem obter através do exercício do direito de
ação perante os tribunais.
Causas de pedir - São as ocorrências da vida real, isto é, os factos da vida real que sustentam e que
alicerçam o pedido, na perspetiva do autor.

Elementos de conexão que ligam o litígio a um concreto local do território português


a. Domicílio do reu
b. Domicílio do autor
c. Lugar do cumprimento das obrigações
d. Lugar onde o facto ilícito foi praticado
e. Lugar onde os danos do facto ilícito se produziram
f. Local onde a pessoa morreu
g. Local onde o bem imóvel cujos direito reais em litígio está localizado
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É o CPC, nos artigos 70.º a 90.º, que fixa então os fatores que determinam em cada caso, o tribunal
territorialmente competente:

FORO REAL
As ações relativas a:
- Direitos reais ou pessoais de gozo sobre imóveis
- Divisão de coisa comum
- Despejo
- Preferência
- Execução específica sobre imóveis
- Ações de reforço, substituição, redução e expurgação de hipotecas
→ Devem ser propostas no tribunal da situação dos bens (i.e. da localização dos bens em causa) – art. 70.º
CPC.

FORO OBRIGACIONAL
A ação destinada a:
- Exigir o cumprimento de obrigação,
- Exigir a indemnização pelo não cumprimento ou pelo cumprimento defeituoso
- A resolução do contrato por falta de cumprimento
→ Devem ser propostas no tribunal de domicílio do réu, podendo o credor optar pelo tribunal do lugar
onde a obrigação deveria ser cumprida: (a) quando o réu seja pessoa coletiva ou (b) quando, situando-se o
domicílio do credor na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o réu tenha domicílio na mesma área
metropolitana (art. 71.º/1 CPC)
Art. 71.º/2 CPC – estabelece que a ação destinada a efetivar a responsabilidade civil baseada em facto ilícito
ou fundada no dever do risco → deve ser instaurada no tribunal correspondente ao lugar onde o facto ilícito
ocorreu.

FORO DO AUTOR
Estabelece que as ações de divórcio e de separação de pessoas e bens devem ser instauradas no tribunal do
domicílio ou da residência do autor (art. 72.º CPC).

FORO CONEXIONAL
Segundo o qual a ação de honorários de mandatários judiciais ou técnicos deve ser proposta no tribunal da
causa em foi prestado o serviço, devendo aquela correr por apenso a esta (art. 73.º/1 CPC).

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➔ Note-se, porém, que o foro conexional não tem aplicação quando o mandato judicial ou a assistência
técnica hajam ocorrido num tribunal ou num juízo de competência especializada, pois estes estão
vocacionados para julgar questões próprias, pelo que são incompetentes para simples ações de dívidas,
como as de honorários.

FORO GERAL
Também designado “foro do réu”.
Segundo o qual é competente o tribunal do domicílio do réu, em todos os casos não previstos nos artigos
anteriores ou em disposições especiais (artigo 80.º CPC).

FORO EXECUTIVO
Segundo o qual, as sentenças proferidas por tribunais portugueses são executadas nos próprios autos, sendo a
execução tramitada de forma autónoma (art. 85.º/1 CPC + art. 626.º CPC).
Para as execuções baseadas em títulos extrajudiciais, é competente o tribunal do domicílio do executado,
podendo o exequente optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deveria ser cumprida, quando o
executado seja pessoa coletiva ou quando, situando-se domicílio do exequente na área metropolitana de
Lisboa ou do Porto, o executado tenha domicílio na mesma área metropolitana (art. 89.º/1 CPC).

❖ A competência territorial é, em regra, de conhecimento provocado – ou seja, não pode o juiz


conhecer oficiosamente.
Artigo 103.º/1 CPC –> regime regra da arguição.

Conhecimento oficioso da incompetência– artigo 104.º/1 do CPC


Mas há vários casos em que o juiz pode e deve, mesmo que o réu não suscite a questão da incompetência,
conhecer oficiosamente, nesta questão da incompetência relativa. → São, portanto, os casos previstos no artigo
104.º/1 do CPC

Consequências se o tribunal se declarar incompetente em razão do território – o processo é remetido para o


tribunal competente, nos termos do artigo 105.º/3 CPC («o processo é remetido par ao tribunal
competente»).
❖ Nestas situações, não é necessário voltar a propor uma nova ação, isto é, não se invalida a
tramitação já feita no tribunal incompetente, ela simplesmente é remetida para o tribunal competente
e continua nele.

Ora, até aqui vimos critérios legais acerca da competência territorial.

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Sucede que, em determinadas situações, as partes são admitidas a estipular, entre elas, a competência territorial
do tribunal.

«Competência Convencional» - Art. 95.º CPC


Sucede que, em determinadas situações, as partes são admitidas a estipular, entre elas, a competência territorial
do tribunal. Tratam-se, portanto, de situações em que as partes podem pactuar/estipular questões de
competência, isto é, relativamente ao tribunal competente para conhecer e decidir eventuais litígios entre as
partes.

 As partes não podem, por vontade delas, celebrar, isto é, convencionar livremente pactos de atribuição de
competências relativamente à competência em razão da matéria, da hierarquia e do valor da causa, uma
vez que as respetivas regras não podem ser afastadas por vontade das partes (artigo 95.º/1, 1.ª parte do CPC).

✓Assim, a competência convencional só pode, portanto, atingir a competência em razão do território


(artigo 95.º/1, 2.ª parte do CPC).

 E, mesmo assim, são estabelecidas exceções, sendo que as parte só podem convencionar quanto à
competência em razão do território nos casos que não são de conhecimento oficioso (excetuam-se,
assim, os que estão previstos no artigo 104.º do CPC) - artigo 95.º/1, in fine do CPC
Isto porque, como vimos, no âmbito dos casos previstos no artigo 104.º do CPC, a incompetência em razão
do território deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal.
Por fim, é de notar que estas convenções de competências têm de respeitar os requisitos exigidos pelo artigo
95.º, n.º 2 do CPC.

Estamos perante uma questão de competência internacional dos tribunais quando o litígio a apreciar tem
pontos de contacto, elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras. Ou seja, uma questão
litigiosa pode, face a determinado elemento subjetivo ou objetivo seu, estar em contacto com mais do que uma
ordem jurídica.
Quando isto sucede, o juiz português tem também de analisar se o seu tribunal é, ou não, internacionalmente
competente, ou seja, nestes casos, torna-se necessário determinar os limites da competência internacional dos
tribunais de cada um dos Estados envolvidos.

Elementos de conexão
a. Residência do demandado (réu) ser no estrangeiro.
b. Sede ou domicílio do demandado no estrangeiro.
c. Lugar da execução do contrato ser no estrangeiro.
d. Lugar da celebração do contrato ou da angariação ser no estrangeiro.
e. O lugar da entrega da coisa ou da prestação dos serviços ser no estrangeiro.
f. O lugar da morte da pessoa, cuja herança tem bens em Portugal, ser no estrangeiro.
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Com efeito, a cada Estado corresponde, quer em matéria de legislação, quer em matéria de jurisdição, uma
área de intervenção relativamente restrita.
➔ Posto isto, há que determinar quais os critérios atributivos de competência internacional dos
tribunais portugueses.

1. Antes de se verificar qual é o tribunal português competente para julgar uma causa, o primeiro passo
a tomar consiste em fixar a competência internacional dos tribunais portugueses (determinar se os
tribunais portugueses têm competência internacional em face dos estrangeiros).
Note-se que a competência internacional dos tribunais portugueses deve ser considerada em bloco, isto é,
relativamente ao seu conjunto. Assim: ou os tribunais portugueses têm todos competência internacional, ou
não têm.

2. Assim, se tal competência se confirmar, o passo seguinte é apurar o tribunal internamente


competente (qual tribunal português competente).

Fontes normativas onde se encontram os elementos de conexão


Isto é, os elementos que nos permitem determinar qual o elemento de conexão relevante no caso concreto,
para estabelecer a ponto entre o litígio o local, de forma a saber se o local é em Portugal.

• Artigo 59.º CPC


«Sem prejuízo do que se encontrar estabelecido em regulamentos europeus (regulamentos da UE) e em
outros instrumentos internacionais (tratados e convenções internacionais), os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes quando se verifique algum dos elementos de conexão referidos nos artigos
62.º e 63.º, ou quando as partes lhe tenham atribuído competência nos termos do artigo 94.º»
Assim, só somos remetidos para os artigos 62.º e 63.º do CPC, se e quando a fonte normativa que regula esta
questão não seja um regulamento da União Europeia ou uma convenção internacional. Aqueles artigos
aplicam-se, portanto, a título subsidiário.

Há muitos regulamentos da União Europeia que têm eficácia direta e imediata nos ordenamentos jurídicos
dos Estados-Membros, os quais prevalecem sobre a lei nacional (lei em sentido amplo), havendo até autores
que defendem que estes prevalecem sobre as próprias Constituições Estaduais.

❖ REGULAMENTO (UE) n.º 1215/2012, de 12 de dezembro


Artigo 4.º - Lança-se mão deste regulamento, desde logo, quando a pessoa demanda (contra quem se queira
propor a ação) tenha domicílio ou residência num Estado-Membro da UE. – Esta é a regra.
Regras especiais alternativas – artigo 7.º

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N.º 1
a) Em matéria contratual → tribunal do lugar onde foi ou deva cumprida a obrigação em questão.

N.º 2
Em matéria extracontratual → perante o tribunal do luar onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso.
Este n.º 2 do artigo 7.º do referido regulamento europeu tem sugerido e dado origem a múltipla
jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (obrigatória para todos os Estados-Membros),
em sede de pedidos de reenvio prejudicial, no sentido de que os autores (lesados) tanto podem instaurar a ação
perante os tribunais do lugar da prática do facto ilícito, como perante os tribunais do local da ocorrência do
dano.

❖ Artigo 62.º CPC


● Princípio da coincidência – Alínea a)

O critério previsto na alínea a) do artigo 62.º do CPC radica no princípio da coincidência, isto é, a competência
internacional dos tribunais portugueses resulta da circunstância de a ação dever ser proposta em Portugal
segundo as regras da competência interna territorial estabelecidas na lei portuguesa, que constam dos artigos
70.º e ss. do CPC.
Assim, conseguindo localizar o litígio em Portugal, à luz das regras de competência territorial fixadas na lei
portuguesa, nos artigos 70.º e ss. do CPC, então por maioria de razão, mesmo que esse litígio tenha pontos de
contacto com ordenamentos jurídicos estrangeiros, os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes.
Neste caso, pode dizer-se que, por força da coincidência entre a competência territorial e competência
internacional, os tribunais portugueses podem julgar quaisquer ações que devam ser propostas em Portugal,
segundo a aplicação das regras daquela competência interna.
Só lançamos mão do artigo 62.º do CPC se o réu tiver sede ou domicílio:
o Fora de um Estado-Membro da União Europeia
o Fora dos países abrangidos pela Convenção Internacional de Lugano (desde que não seja: Suíça,
Noruega, Islândia e Lichtenstein).

● Princípio da causalidade – Alínea b)

Segundo o princípio da causalidade, pode atribuir-se competência aos tribunais portugueses, quando o litigo
é transfronteiriço, se “tiver sido praticado em território português o serve de causa de pedir na ação, ou algum
dos factos que a integram”.

Causa de pedir – são os factos jurídicos e ocorrências da vida real subsumíveis a uma norma, que sustentam
e alicerçam o pedido formulado ao juiz pelo autor.

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Os tribunais portugueses têm, portanto, competência internacional sempre que o facto que serve de causa de
pedir (ou algum dos factos que integram a causa de pedir) na ação tenha sido praticado em território nacional.
Exemplo: um contrato em que o lugar do cumprimento é no Brasil (o réu tem domicílio no Brasil), mas esse
contrato foi celebrado em Portugal e houve um ou outro ato de início de execução do contrato ocorrido em
Portugal. → Neste caso, não poderíamos ir pela alínea a), pois o lugar do domicílio do réu é no Brasil e o lugar
do cumprimento do contrato também, pelo que só poderíamos ir pela alínea b).

● Princípio da necessidade – Alínea c)

A alínea c) do artigo 62.º atribui competência internacional aos tribunais portugueses com base no chamado
princípio da necessidade, o que se traduz em os tribunais portugueses assumirem competência internacional,
no âmbito de um determinado litígio, quando:
o O direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta num tribunal português
o Ou quando a propositura da ação no estrangeiro constitua apreciável dificuldade para o autor.
Sendo que, para tanto, continua a ser necessário verificarem-se alguns elementos de contacto (de natureza real
ou material) com o território português (por mais pequenos que sejam), por exemplo, nem que seja pela
nacionalidade do autor (ser cidadão português, ser uma empresa portuguesa) – “desde que entre o objeto do
litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real” (artigo
62.º/c), in fine do CPC).

“Quando a propositura da ação no estrangeiro constitua apreciável dificuldade para o autor”.


➔ Tem, nestes casos, de tratar-se de uma situação em que as instituições judiciarias, embora
formalmente existente, de facto, não estão a funcionar no país estrangeiro. Ou seja, quando a pessoa
quer intentar uma ação contra uma empresa desse país, o litígio é localizado nesse país (todos os
elementos de conexão principais se localizam lá), mas os tribunais competentes desse país para
conhecer dessa ação não estão a funcionar ou não estão funcionais.
Exemplos: países em guerra civil onde os autores têm de propor as ações; países que não estão em guerra
civil, mas tiveram cataclismos naturais (terramotos, tsunamis, inundações, etc.) e, durante meses, as
instituições judiciarias deixaram de funcionar.
Em suma: este princípio designa-se de princípio “da necessidade” precisamente porque o autor não tem outra
hipótese razoável senão intentar a ação perante o tribunal português, mesmo que nada de relevante no litigio
o liga ao território português, há uma necessidade ponderosa de intentar a ação perante os tribunais
portugueses.

Quando os litígios envolvam matérias de:


- Divórcio
- Separação Judicial de pessoas e bens
- Regulação do exercício das responsabilidades parentais
Os tribunais competentes nestas matérias estão previstos no Regulamento (CE) 2201/2003.
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Ora, o regime do artigo 62.º do CPC significa que, nas hipóteses nele elencadas, a ação pode ser proposta
nos tribunais portugueses, no entanto, não é forçoso que tal aconteça.
Já no caso do artigo 63.º do CPC, este preceito define a competência exclusiva dos tribunais portugueses, o
que significa que, nos casos aí previstos, a respetiva ação tem de ser proposta nos tribunais portugueses. Sendo
que o eventual desrespeito por esta imposição legal implicará que qualquer decisão proferida por tribunal
estrangeiro em matéria que contenda com o artigo 63.º não seja reconhecida (nem em Portugal, nem noutro
Estado-Membro).

❖ Princípio da consensualidade – artigo 94.º CPC

No plano da competência internacional é ainda de referir o artigo 94.º do CPC que consagra um princípio da
consensualidade (ou da vontade das partes), nos termos do qual se admite que as partes atribuam aos tribunais
portugueses competência (internacional) para determinadas questões – pacto atributivo de jurisdição –, ou os
privem de tal competência – pacto privativo de jurisdição.
o Relativamente ao ordenamento jurídico nacional, só tem sentido celebrar um pacto atributivo de
jurisdição quando os tribunais portugueses não tenham já competência internacional para a questão,
segundo o disposto nos artigos 62.º e 63.º do CPC (sob pena de tal pacto ser meramente redundante).

o Por seu turno, a celebração de um pacto privativo de jurisdição apenas se justifica na medida em que
os tribunais portugueses tenham competência internacional para a questão, à luz do disposto no artigo
62.º do CPC (isto porque, relativamente ao regime estabelecido no artigo 63.º CPC, por se tratar de
situações em que a competência dos tribunais portugueses é exclusiva, é vedado às partes a
possibilidade de celebrarem um pacto privativo, dado, portanto, o caráter exclusivo dessa
competência).

Imunidade de jurisdição
Há casos de imunidade de jurisdição perante os tribunais portugueses: é o que ocorre com Estados
estrangeiros, Organizações Internacionais (OIs) – ONU, UE, Banco Central Europeu, etc. – e certas pessoas
humanas (embaixadores, consoles e chefes de Estado). Assim, só têm imunidade quando os litígios forem
resultantes de atos de soberania em que essas organizações, Estados ou pessoas tiverem intervenção.

Consequências da falta de competência internacional do tribunal português


A violação das regras de competência internacional dos tribunais portugueses → gera incompetência
absoluta (artigo 96.º/al. a) CPC).
Forma de sanar a incompetência absoluta (a nível interno) – pedir a remessa do processo para o tribunal
competente (artigo 99.º/2 do CPC).
❖ Porém, se o vício é a incompetência absoluta internacional, o disposto no n.º 2 do artigo 99.º não
pode operar, sendo que, nesses casos, o processo termina com a absolvição do réu da instância.
❖ O artigo 577.º CPC determina, a título exemplificativo, como exceção dilatória, a incompetência quer
absoluta, quer relativa do tribunal – al. a).

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COMPETÊNCIA DAS PARTES
Artigo 11.º CPC
Personalidade judiciária – consiste na suscetibilidade de ser parte – autor ou réu (artigo 11.º/1 CPC).
❖ Ser “parte” significa, portanto, ser demandante ou demandado em juízo.
Ora, o n.º 2 do mesmo artigo vem estabelecer uma equiparação, segundo a qual: quem tiver personalidade
jurídica tem personalidade judiciária.
Estabelece-se aqui, portanto, uma equiparação entre personalidade judiciária e personalidade jurídica. Nos
termos do artigo 66.º/1 do CC, a personalidade jurídica das pessoas singulares adquire-se no momento
completo e com vida. Já a personalidade jurídica das pessoas coletivas adquire-se com o registo definitivo.
Porém, o contrário já não é verdade, pois pode haver entes aos quais a lei atribui personalidade judiciária, mas
que não têm personalidade jurídica.

O artigo 12.º do CPC vem atribuir personalidade judiciária a vários entes que não são dotados de
personalidade jurídica (extensão da personalidade judiciária):
✓ Herança jacente (artigo 2046.º do CC) e os patrimónios autónomos semelhantes
✓ Associações sem personalidade jurídica (e as comissões especiais)
✓ Sociedade civis
✓ Sociedades comerciais até à data do registo definitivo (se só a partir do registo definitivo a sociedade
comercial tem personalidade jurídica, então antes disso não tem personalidade jurídica, mas tem
personalidade judiciárias).
✓ Condomínio resultante da propriedade horizontal
✓ Navios (nos casos previstos em legislação especial).

Artigo 13.º CPC prevê ainda a atribuição de personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais,
delegações ou representações (de determinada pessoa coletiva), em dois casos:
1. Se a ação derivar de um facto por elas praticado (n.º 1)
2. Se a ação respeitar a facto praticado pela administração principal de uma pessoa coletiva sediada no
estrangeiro, quando esteja em causa uma obrigação contraída com um português, ou com um
estrangeiro domiciliado em Portugal.

A falta de personalidade judiciária é a falta de um pressuposto processual.


A falta deste pressuposto processual gera uma exceção dilatória (artigo 577.º/c) CPC).
➔ Artigo 576.º CPC – as exceções dilatórias são aquelas que impedem/obstam a que o tribunal conheça
do mérito a causa → dando lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para o tribunal
competente. A absolvição da instância traduz-se no termino do processo, sendo o réu absolvido da

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instância (e não do pedido), pois aquela relação jurídica processual termina, sem conhecimento do
mérito da causa.

➔ O artigo 577.º CPC determina, a título exemplificativo, como exceção dilatória a falta de
personalidade judiciária de alguma das partes – al. c).

Ora, a falta de personalidade judiciária, em regra, não é sanável, a não ser na situação específica do
artigo 14.º do CPC (em que a falta de personalidade judiciária das sucursais, agências, filiais,
delegações ou representações pode ser sanda mediante a intervenção da administração principal e a
ratificação ou repetição do processo).
Não sendo sanável, isto tem com consequência a absolvição do réu da instância.

Artigo 15.º CPC


Capacidade judiciária – consiste na suscetibilidade/idoneidade de estar, por si, em juízo (artigo 15.º/1 CPC).
O nº 2 do referido preceito legal prescreve que a “capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade
de exercício de direitos”. Ou seja, isto significa que a capacidade judiciária decorre da capacidade jurídica
(capacidade para o exercício de direitos) prevista no artigo 67.º CC.
** Capacidade jurídica consiste na idoneidade para se ser sujeito de relações jurídicas (a regra é a dos 18 anos
– maioridade – artigos 122.º + 123.º do CC).
Assim, para litigar em processo, não basta ter personalidade judiciária. É ainda necessário que a parte possa
estar, por si própria, em juízo, isto é, sem carecer de qualquer representação.
Dada a repercussão dos atos tomados no âmbito da propositura de uma ação na esfera jurídica da parte, as
respetivas decisões (tomadas também nesse âmbito) implicam que a parte possa dispor livre e autonomamente
da sua esfera jurídica, ou seja, que tenha capacidade para o exercício de direitos.
➔ Portanto: ou a parte pode estar, por si, em juízo, ou não pode.
Quando a parte não possa estar, por si própria, em juízo, então a sua intervenção judicial deverá fazer-se
através de representação legal, nos termos do artigo 16.º do CPC, ficando assim suprida a sua incapacidade.

Quem é que não tem capacidade judiciária?


MENORES

Ora, da conjugação do artigo 123.º do CC com o artigo 15.º/2 do CPC resulta que o menor não tem
capacidade judiciária.
No caso dos menores, se as responsabilidades parentais competirem a ambos (pai e mãe) será necessário
estarem os dois, em juízo, como representantes legais do menor. Para além disso, é necessário o acordo de
ambos para a propositura da ação.

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Na falta deste acordo, o artigo 18.º/1 do CPC determina que pode qualquer dos deles (o pai ou a mãe) requerer
ao tribunal competente a resolução do conflito. Ou seja, tem de se ajuizar, no juízo de família de menores (da
comarca onde reside o menor) um pedido de suprimento do consentimento.
Este desacordo também pode surgir no decurso da ação (artigo 18.º/2 CPC), caso este em que:
a. Se atribuirá poder representativo apenas a um deles
b. Ou até a nenhum deles, designando curador especial,
c. Ou conferir a representação ao MP.

MAIORES ACOMPANHADOS

Os maiores acompanhados só não terão capacidade jurídica e, consequentemente, capacidade judiciária, para
o exercício daqueles direitos em que a sentença judicial que decreta o acompanhamento do maior determina
representação. No fundo, só há acompanhamento e, portanto, falta de capacidade judiciária, para aquilo que a
sentença judicial exigir.
Assim, se o direito que o maior acompanhado quer acautelar mediante uma ação judicial estiver abrangido
pela sentença judicial de acompanhamento, então ele terá de estar representado, em juízo, pelo seu
representante legal.
Portanto, e nos termos do artigo 19.º/1 do CPC, os “maiores acompanhados que não estejam sujeitos a
representação podem intervir em todas as ações em que sejam parte e devem ser citados quando tiverem a
posição de réus”. Ou seja, a sentença de acompanhamento pode não atingir o litígio material que ali está a ser
litigado, tendo, neste caso, o maior acompanhado plena capacidade judiciária (sendo ele o citado, e não o
representante).
Já o n.º 2 faz referência aos atos do maior que, por força da sentença judicial, estejam sujeitos a
autorização, de acordo com o qual, a “intervenção do maior quanto a atos sujeitos a autorização fica
subordinada à orientação do acompanhante, que prevalece em caso de divergência”.

Falta de capacidade judiciária vs. Irregularidade de representação


Ambas são exceções dilatórias.
Porém, a irregularidade na representação, que se coloca sobretudo no que toca às pessoas coletivas e que
está prevista no artigo 25.º do CPC, pressupõe que quem está a propor a ação ou a ser demandado tem
capacidade judiciária, simplesmente não está a ser devidamente representado em juízo.
Note-se, como sabemos, a capacidade jurídica das pessoas coletivas (capacidade para o exercício de direitos
está limitada pelo princípio da especialidade do fim). Ora, no caso das pessoas coletivas não se trata, em
rigor, de um problema de representação legal, mas antes um problema de representação em juízo, pois a pessoa
coletiva necessita de ter uma pessoa física que a represente – normalmente são os administradores ou os
gerentes que as representam.
Ora, nos termos do artigo 27.º do CPC, a incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são
sanadas mediante a intervenção ou a citação do representante legítimo do incapaz. Assim, ao abrigo do
disposto no artigo 28.º/1 CPC, logo que se aperceba, o juiz irá, oficiosamente e a todo o tempo, proceder à
regularização da instância.
39
Outras distinções:
- Falta de autorização ou de deliberação (artigo 29.º CPC) – nestes casos, é designado prazo dentro
do qual o representante deverá obter a respetiva autorização ou deliberação (exigida por lei).
EM SUMA: a falta de capacidade judiciária é sanável (a falta de personalidade judiciária é que não, a não ser: artigo
14.º CPC).

Artigos 30.º e ss. do CPC


Nos termos do artigo 30º/1 do CPC:

• O autor é parte legítima – quando tem interesse direto em demandar.


• O réu é parte legítima – quando tem interesse direto em contradizer.
O n.º 2 do artigo 30.º do CPC vem esclarecer em que situações é que se considera existir interesse em
demandar, ou seja, estabelece e define o alcance do “interesse” de que resulta a legitimidade:

Interesse em demandar = utilidade derivada da procedência da ação.


Assim, o autor é parte legítima sempre que a procedência da ação (previsivelmente) lhe venha a conferir uma
vantagem, benefício ou utilidade.
Interesse em contradizer = utilidade derivada de contradizer pelo prejuízo que da procedência da ação advenha.
O réu é parte legítima sempre que se preveja que a procedência da ação lhe venha, previsivelmente, a causar
uma desvantagem ou prejuízo.

 Ora, nos termos do artigo 30.º/3 do CPC, são considerados titulares do interesse (em demandar ou
em contradizer), que é o interesse relevante para o efeito da legitimidade, os sujeitos da relação material
controvertida tal como ela é configurada pelo autor.

Assim, sabemos que alguém é titular na relação material controvertida, isto é, que alguém tem legitimidade
processual no âmbito de um processo judicial, quem for parte/sujeito na relação material controvertida tal
como é configurada pelo autor.
EM SUMA: a “legitimidade”, enquanto pressuposto processual, consiste numa posição concreta da parte
perante uma causa. Portanto, pode dizer-se que a legitimidade não é uma qualidade pessoal do sujeito, mas
antes uma “qualidade posicional” da parte face à ação, ao litígio que se discute.
O artigo 30.º/3 CPC fornece um critério subsidiário quanto à determinação da legitimidade das partes,
segundo o qual, sem prejuízo de disposição legal em contrário, a legitimidade apura-se pela relação
controvertida, tal como ela é configurada pelo autor na petição inicial.

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Ação Popular – artigo 31.º CPC
Lei n.º 83/95 – o legislador criou este mecanismo processual para assegurar a legitimidade processual de quem
pretenda defender interesses metaindividuais, transindividuais, que não são individualmente apropriáveis
(para a defesa e tutela de interesses difusos).

Intervenção de terceiros (Artigos 311.º e ss. e artigo 320.º CPC) – pode ser:
• Intervenção espontânea (artigo 311.º CPC)
• Intervenção provocada (artigo 316.º CPC) - quando o juiz, oficiosamente, cita um terceiro.
Artigo 320.º CPC – valor da causa quanto ao chamado.

Pluralidade de interessados/de partes


A questão da pluralidade de partes pode ocorrer no âmbito de duas figuras:
1. Litisconsórcio
2. Coligação

DISTINÇÃO: LITISCONSÓRCIO vs. COLIGAÇÃO


Para a Escola de Lisboa

• Coligação
Quando há coligação numa situação de pluralidade de partes, em que às várias partes correspondem vários
pedidos, diferentes entre si (artigo 36.º/1 CPC):
- Vários autores contra um só réu
- Um autor contra vários réus

• Litisconsórcio
Quando à pluralidade de partes corresponde um só pedido (um pedido unitário).
EM SUMA: Para a escola de Lisboa a diferença está na unicidade de pedidos ou na pluralidade de pedidos formulados
pelo autor contra vários réus, ou pelos vários autores contra um réu.

Para a Escola de Coimbra (Antunes Varela)

• Litisconsórcio – quando há uma pluralidade de partes e uma única relação material controvertida.

• Coligação – quando há uma pluralidade de partes e várias relações materiais controvertidas.

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Litisconsórcio
No litisconsórcio há um pedido feito por várias partes e/ou contra várias partes – a esta pluralidade de partes
corresponde a contitularidade na mesma relação material controvertida.
No litisconsórcio há, assim:
A. Pluralidade de partes
B. Um único pedido

➢ Litisconsórcio voluntário (ou facultativo) – artigo 32.º CPC

Aqui, são vários os titulares da relação material controvertida, mas a lei não exige a intervenção de todos, nem
a relação material controvertida reclama, pela sua natureza, a intervenção de todos. Depende assim da vontade
das partes. Em suma, no litisconsórcio voluntário, a pluralidade de partes resulta da vontade do ou dos
interessados,
Exemplo:
Situação em que há vários comproprietários do mesmo prédio comum e este está a ser ocupado ilicitamente
por terceiro – há a necessidade de defender aqui a compropriedade. Questão: qualquer dos comproprietários
pode propor a ação de reivindicação, ou têm de ser todos? Resposta: qualquer um dos comproprietários pode
propor a ação de reivindicação contra terceiros, mas podem todos querer ser co-autores. → A presença de
todos é indiferente, bastando que um deles proponha a ação, sendo que a procedência da ação irá aproveitar a
todos.
Ora, o litisconsórcio é, em regra, voluntário.

Artigo 39.º CPC – Pluralidade subjetiva subsidiária

Ou seja, formula-se um pedido principal contra um réu e o mesmo pedido, a título subsidiário, para outro réu
(caso se venha a concluir que é este outro réu que é o sujeito da relação controvertida).
São casos em que autor não tem a certeza sobre quem seja efetivamente o réu, isto é, em casos de dúvida
fundamentada sobre o sujeito da relação material controvertida.
Exemplo:
Numa ação de investigação da paternidade em que a mãe não tem a certeza de quem é verdadeiramente o pai
biológico, intenta a ação contra dois sujeitos: formula o pedido principal de estabelecimento da paternidade
em relação ao senhor B e, simultaneamente, lança mão da norma do artigo 39.º do PC, isto é, deduz
subsidiariamente o mesmo pedido de estabelecimento da paternidade contra o senhor C. Caso se apure que
afinal o senhor B não é o sujeito da relação material controvertida (no caso: a existência de relações sexuais
fecundantes), então vai apurar-se em relação ao reu C o mesmo pedido → Há aqui um litisconsórcio
subsidiário (do ponto de vista subjetivo), mas que é voluntário, a fim de evitar a propositura de duas ações
diferentes de investigação da paternidade.
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➢ Litisconsórcio necessário (ou forçoso) – artigo 33.º CPC

Corresponde a uma pluralidade de partes obrigatória, não dependendo, assim, da livre e simples vontade dos
interessados. Devem, portanto, estar em juízo todos os interessados na relação material controvertida, sob
pena de ilegitimidade – artigo 33.º/1 CPC.
Ora, a obrigatoriedade da presença simultânea de todos os interessados pode resultar da lei, de um negócio
(convenção) ou até da natureza da relação controvertida.
o Litisconsórcio necessário legal – artigo 33.º/1 + artigo 35.º CPC
Aqui, é a própria lei que impõe a pluralidade de partes, o litisconsórcio necessário deriva de
uma exigência da lei.
O artigo 34.º do CPC regula autonomamente diversos casos de litisconsórcio necessário legal,
resultantes do casamento.

o Litisconsórcio necessário convencional – artigo 33.º/1 CPC + artigo 35.º CPC


Quando a pluralidade das partes é determinada por estipulação dos interessados.

o Litisconsórcio necessário natural – artigo 33.º/2 CPC


Quando a intervenção de todos os interessados se mostre necessária para que a decisão a obter
produza o seu efeito útil normal. Ora, o efeito útil normal das sentenças em termos de
legitimidade processual, é poderem regular definitivamente a situação concreta das partes em
relação ao pedido formulado. No fundo, exige-se o litisconsórcio natural para a boa decisão da
ação (este é residual, só se recorre quando a própria lei ou as partes já não o preveja).
Exemplos:
3 irmãos são comproprietários de um prédio. Ora, um desses comproprietários pode, a qualquer momento,
pedir a divisão da coisa comum (sair da indivisão da coisa). Neste caso, se o irmão que quer pedir a divisão
da coisa apenas citar na ação um dos outros irmãos (comproprietários), atenta a relação jurídica controvertida
(a divisão da coisa), não faz sentido que a ação de divisão de coisa comum seja proposta só contra um dos três
comproprietários. → Há um litisconsórcio necessário natural.

Ações que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos os cônjuges
– artigo 34.º CPC
É um caso de litisconsórcio necessário legal. Aqui, é a própria lei processual que reclama a obrigatoriedade.
Devem ser propostas por ambos os cônjuges (ou por um deles com consentimento do outro), as ações que
digam respeito à:
- Perda ou oneração de bens que só por ambos os cônjuges possam ser alienados;
- Ou perda de direitos que só por ambos os cônjuges possam ser exercidos.

Violação do litisconsórcio necessário


Implica a ilegitimidade da parte que litigue desacompanhada (artigo 33.º/1, in fine CPC).

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Coligação de autores e de réus
Artigos 36.º e ss. CPC
Corresponde a uma pluralidade de pedidos, com uma pluralidade de partes, ou seja, é quando ocorre a
propositura de várias ações, por várias pessoas diferentes, mas em que há uma identidade da causa de pedir,
ou uma relação de prejudicialidade/dependência entre os vários pedidos (em que há a apreciação dos
mesmos factos em todas elas), ou seja, a procedência dos vários pedidos depende da apreciação dos mesmos
factos, ou da interpretação das mesmas regras jurídicas.
Ou seja, são formulados vários pedidos diferentes por várias partes e/ou contra várias partes.
Na coligação há, assim:
A. Pluralidade de partes
B. Pluralidade de pedidos

REQUISITOS OBJETIVOS
A. Pode haver coligação quando seja a mesma e única a causa de pedir que sustenta os diferentes pedidos
formulados.
B. Quando os pedidos, apesar de diferentes, estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de
dependência.
C. Quando a procedência dos pedidos dependa essencialmente da apreciação dos mesmos factos, da
interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de cláusulas de contratos perfeitamente
análogas, apesar de serem diferentes as causas de pedir (artigo 36.º/2 CPC).
D. Quando os pedidos formulados contra os diversos réus se fundem na invocação da obrigação cartular,
quanto a uns, e da respetiva relação subjacente, quanto a outros (artigo 36.º/3 CPC).

Pode ser:
Coligação ativa – vários autores a deduzir vários pedidos, contra um ou contra vários réus.
Coligação passiva – um ou vários autores a deduzir vários peidos contra vários réus.

Obstáculos à coligação – artigo 37.º CPC


Têm ainda de se verificar os requisitos exigidos na norma do artigo 37.º do PC para que seja válida a coligação.

Este pressuposto processual tem uma característica especial, pois não está mencionado no CPC.
Existe interesse em agir (interesse processual) quando há uma situação de carência de tutela jurídica,
jurisdicional. A falta deste pressuposto processual dá igualmente lugar a uma exceção dilatória (artigo 577.º
CPC onde diz “entre outras”).
Ou seja, o interesse em agir consiste na indispensabilidade de o autor recorrer a juízo para satisfação da sua
pretensão.

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≠ legitimidade processual, porque o interesse direto em demandar e em contradizer refere-se ao objeto da
lide, ao conteúdo material da pretensão.
Enquanto que o interesse em agir respeita ao interesse no próprio processo, no recurso à via judicial.

► Ora, a qualificação do interesse em agir como pressuposto processual assenta na preocupação de evitar
ações inúteis.

► Falta de interesse em agir → é insanável, devendo o juiz absolver o réu do pedido. O tribunal deve
averiguar se é possível concluir pela improcedência da ação, pois se concluir pela improcedência da ação,
então deve absolver o réu do pedido (e não somente da instância) – artigo 278.º/3 CPC: “o fundo deve
prevalecer sobre a forma”.

Está regulado nos artigos 40.º e ss. do CPC.


O pressuposto do patrocínio judiciário obrigatório implica que, em determinadas ações, as partes estejam
representadas por advogado (os advogados estagiários, os solicitadores e as próprias partes podem fazer
requerimentos em que se não levantem questões de direito – artigo 40.º/2, in fine CPC).
O advogado é um profissional forense que tem a responsabilidade de conduzir técnica e processualmente a
lide, em nome e em representação do respetivo constituinte.
Note-se, o patrocínio judiciário apenas constitui um pressuposto processual quando seja obrigatório, ou seja,
quando é imposto por lei.

Casos de constituição obrigatória de advogado – artigo 40.º/1 CPC:


a) Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário.
Alçada – Valor até ao qual o tribunal decide sem admissibilidade de recurso.
Nos casos em que o valor da causa seja inferior à alçada do tribunal que profere a sentença, então a decisão
do juiz do tribunal em causa será a última decisão sobre o litígio em causa, pois não há admissibilidade de
mais recursos.
Alçada dos tribunais de 1.ª instância – 5.000€ (artigo 44.º/1 LOSJ)
Assim → Se o valor da ação for até 5.000€, isso significa que o valor da ação não supera o valor da alçada,
pelo que, nesse caso, o patrocínio judiciário não é obrigatório.
b) Nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor - artigo 629.º/2 e 3
CPC.
c) Nos recursos e nas causas que sejam propostas nos tribunais superiores, o patrocínio judiciário é
sempre obrigatório.

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RAZÕES POR QUE PODE SER OBRIGATÓRIO O PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
1. Exige-se, nos casos previstos na lei, o patrocínio judiciário, pois as partes devem dispor de um conjunto
de conhecimento jurídicos que lhes permitam atuar com lucidez, clarividência e perfeito conhecimento
das consequências dos atos que pratiquem. Assim, a necessidade de domínio dos conhecimentos
jurídicos é uma das razões deste pressuposto processual enquanto tal.

2. Outra razão prende-se com o seguinte: mesmo que as partes fossem, todas elas, providas de
conhecimentos jurídicos, ainda assim teria utilidade a intervenção de um terceiro, porque é bom que
entre os litigantes, entre as partes em conflitos existam terceiros que sirvam de “intermédio” /de
mediadores entre as partes, de forma a criarem a serenidade e a objetividade necessárias para o normal
decurso do processo judicial.

Falta de patrocínio judiciário (quando obrigatório) → o réu é absolvido da instância.


Já quando for o réu a não constituir advogado, sendo obrigatório, esclarece o artigo 41.º do CPC que o juiz
convida-o a constituir advogado.
Na circunstância de, mesmo assim, não constituir advogado, apesar de a consequência regra da falta de
pressuposto processual ser a absolvição do réu da instância, a verdade é que, neste caso, a defesa ficaria sem
efeito, pois se bastasse simplesmente não constituir advogado para que fosse absolvido o réu da instância,
então ele simplesmente não constituiria advogado. → Assim, a solução neste caso é que, mesmo que o réu
conteste, tudo se passa como se ele não contestasse – assim determina o artigo 41.º, in fine CPC.

Os meios alternativos de resolução de controvérsias/litígios


Está em causa meios alternativos aos Tribunais Judiciais. A jurisdição, o poder jurisdicional:
(1) não traduz uma reserva de juiz estadual, pois a Constituição (artigo 209º/2 da CRP) e a lei
ordinária permitem a criação de tribunais arbitrais, como também,
(2) Não constitui um sistema fechado, visto que permite novas formas de composição de conflitos à
margem da intervenção e da decisão de um juiz imparcial. De entre estas avulsa a mediação.

1. Arbitragem/Tribunais Arbitrais (Lei nº 63/2011)

É o que se designa por justiça privada na origem. As partes é que escolhem o juiz e no final as sentenças
que resultem desta justiça privada têm o mesmo valor das decisões proferidas por tribunais do Estado.
No final da sequência há uma decisão que vincula e tem de ser cumprida pelas partes. Se não for cumprida a
parte que ganha pode usar essa sentença e nos tribunais do Estado executa-a. Normalmente é uma
arbitragem ad hoc/não institucionalizada (o tribunal cria-se pelas partes para aquele concreto litígio,
quando acabar o litígio o poder extingue-se), mas muitas vezes é institucionalizada (existe um centro de
arbitragem sob a forma jurídica de associação de direito privado com um tribunal disponível para apreciar e
julgar litígios que os dois litigantes queiram submeter, já pré-existe e vai continuar a existir após o litígio se
extinguir).

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► Só podem decidas, no âmbito da arbitragem, questões/litígios respeitantes a interesses de natureza
patrimonial (os interesses têm natureza patrimonial quando as partes possam celebrar transação sobre o
direito controvertido, isto é, quando possam chegar a acordo quanto a essa matéria) – artigo 1.º/ 1 e 2da Lei
da Arbitragem Voluntário.
► É, ainda, necessário que as partes tenham chegado a acordo quanto a essa forma de resolução do
conflito – acordo este que toma a designação de «Convenção de Arbitragem».

Art.1º nº3 da LAV - a convenção de arbitragem pode ter por objeto um litigo que já existe ou litígios atuais
ou futuros.

• Compromisso arbitral – litígios já existentes à data da celebração da convenção de arbitragem.


• Cláusula compromissória – litígios futuros e eventuais (maioria)

Tipos de Arbitragem
• Voluntária
• Necessária → Há litígios que só podem ser resolvidos, por via de tribunais arbitrais, não havendo outra
possibilidade.
Exemplos:
Arbitragem desportiva – Tribunal Arbitral do Desporto
Arbitragem em matéria de expropriação por utilidade pública – são árbitros que avaliam o valor do prédio.
Litígios em matéria de direitos de autor ou direitos conexos – a sociedade portuguesa de autores, que faz a
cobrança de direitos autores, relativamente a músicas que passam em locais públicos, como bares ou
discotecas, depois repassa uma parte deste valor aos autores, de acordo com os critérios de representatividade
dos autores.
Exemplo: Imaginem, o Tony carreira diz que não está contente com a sociedade portuguesa de autores
que no ano passado SÓ LHE PAGOU 20.000€, achando que tem direito a mais, porque a música dele passou
mais vezes, por lei terá de recorrer a um tribunal arbitral.

Arbitragem ad hoc VS. Arbitragem institucionalizada


Arbitragem Ad hoc: o tribunal constitui-se quando uma das partes que subscreveu uma convenção de
arbitragem com a outra, inicia o litígio, dizendo que quando o litígio for resolvido, o tribunal arbitral extingue-
se.
Arbitragem Institucionalizada: Pressupõe que já existe um tribunal arbitral, cuja autorização de
funcionamento foi emitida pelo Governo e que tem uma lista de juízes árbitros que as partes podem escolher.
Quando alguma das partes recorre a esse tribunal, todas as regras processuais já estão estabelecidas.

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Nota: A arbitragem institucionalizada pode ser voluntária ou necessária, basta que as partes tendo de resolver
o litigo através de arbitragem necessária, escolham como tribunal arbitral uma instituição já estabelecida pelo
governo.

2. Julgados de paz (Lei nº 78/2011, atualizada em 2013)


São tribunais do Estado, mas integram uma organização judiciária diferente.
A previsão da existência dos julgados de paz está consagrada no 209º/1 CRP.
São tribunais do Estado especializados para julgar certas matérias (os conflitos de direito privado enumerados
no artigo 9º da Lei 78/2011 e só estes com exclusão de quaisquer outros), até certo valor (até 15 mil euros) e
em determinado território (artigo 4º/1 da Lei 78/2001), cuja organização, funcionamento e recrutamento de
juízes é diferente da organização dos outros tribunais do Estado (judiciais, administrativos e fiscais e
militares). Os juízes destes tribunais têm contratos a termo certo, não frequentam a escola dos juízes - centro
de estudos judiciários -, entram através de concurso público.
Não são verdadeiros tribunais, porque não são órgãos jurisdicionais. Um órgão jurisdicional é um órgão que
aprecia um conflito de interesses de forma imparcial, onde um juiz ou juíza julga de forma imparcial e
independente e irresponsável, não podendo ser responsabilizado civilmente criminalmente pelas decisões que
toma.
São tribunais de 1ª instância e a eventual impugnação das suas decisões são dirigidas aos tribunais do
Estado de 1ª instância.

Princípios
 Princípio da simplicidade
 Informalidade
 Princípio da Oralidade – os depoimentos das testemunhas, bem como os depoimentos das partes não são
reduzidos a escrito, mas podem ser gravados.
 Princípio da economia processual – a tramitação da ação proposta, apreciada e julgada nos julgados de
paz, tem um formalismo muito simples.

Mediação
No âmbito da mediação ocorre a convocação de uma reunião entre autor e réu, para explicar às duas partes,
que elas se quiserem podem usar um mediador, jurista que trabalha nos julgados de paz, para tentarem
aproximar as posições antagónicas das duas partes, tentando resolver amigavelmente o conflito.
Não havendo vontade de recorrer à mediação, o mediador redige uma ata concluindo que as partes não querem
aceder a um mecanismo de resolução amigável do litígio e informa o juiz, notificando o réu para contestar a
petição.
Depois do réu apresentar a contestação, o juiz marca a audiência em que as partes prestam os seus
depoimentos e no final da audiência, os advogados das partes fazem alegações orais sobre aquilo que o juiz
deverá decidir. Posteriormente, juiz diz logo se absolve o réu do pedido ou informa as partes que serão
notificadas até ao dia x, da decisão da sentença.

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Na lei dos julgados de paz, há um conjunto de normas a partir do artigo 30.º, sobre quem é o mediador e como
se faz a mediação.
Mediação – forma de autocompor um litígio, terminando o litígio mediante acordo, amigavelmente, sendo
que esta autocomposição é um processo em que um terceiro imparcial, o mediador, ajuda as partes mediante
recíprocas concessões a terminarem o litígio amigavelmente.
De notar que o mediador não é um juiz, porque o juiz impõe uma decisão, condena ou absolve, depois de se
convencer da veracidade dos factos ao passo que o mediador apenas lima arestas, isto é, tenta baixar o nível
afetivo das partes, a sua animosidade. O mediador não dita sentenças, apenas tenta pacificar as partes.
O mediador não pode fazer sugestões de solução às partes, sendo que a lei portuguesa proíbe o mediador
de fazer sugestões. O mediador não tem essa competência para propor soluções, a sua atividade limita-se a
servir de ponte entre as partes.
≠ Diferentemente, o conciliador, no âmbito da conciliação, já pode em Portugal sugerir possíveis soluções,
através das quais o litígio pode terminar amigavelmente.
A atividade do conciliador é mais proativa do que a atividade do mediador.

Se os julgados de paz são tribunais e o titular deste órgão se chama juiz de paz, a pronúncia de um juiz de paz
tem o valor de sentença igual a uma sentença de um tribunal de 1ª instância.

Para executar estas ações proferidas pelos julgados de paz, estas são executadas no juízo de execução (tribunal
judicial) da comarca onde o julgado de paz funciona.
Valor máximo das ações em julgados de paz → 15.000€
A competência dos julgados de paz é optativa ou exclusiva, em relação as matérias previstas no art.º 9º da Lei
78/2001?
É optativa, na sequência de um acórdão do STJ, que veio uniformizar as dúvidas existentes em acórdãos
divergentes do STJ ou das Relações, sobre a mesma questão fundamental de direito, no domínio da mesma
ordem jurídica. Quem se apresentar como autor, pode determinar o local jurisdicional ou julgado de paz, onde
pretende ver o seu litígio, apreciado e julgado.
Alguns autores, são contra esta solução porque o acórdão decidiu que a competência seria optativa, ao
contrário daquilo que se retira do disposto sobre esta matéria no código de processo civil.

3. Mediação (Lei nº 29/2013)

Ocorrendo um conflito de interesses, os litigantes usam estruturas de autocomposição do respetivo litígio, ou


seja, o resultado é produto do poder de autodeterminação da vontade consensual dos litigantes, das
pretensões a compor, sendo esse resultado é obtido com o auxílio de terceiros auxiliares, os mediadores.
A mediação é, portanto, uma solução amigável e concertada de resolução do conflito de interesses entre os
litigantes. O artigo 2º daquela lei define mediação e mediador.
O mediador recebe as propostas dos litigantes, potencia o sucesso da negociação, assiste as partes na tentativa
de lograr um consenso, estimula o diálogo entre as partes e tenta harmonizá-las.

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➔ O mediador não pode propor soluções às partes, pois isso seria quebrar o princípio da independência
e da imparcialidade, ele não pode sugerir ou impor uma decisão aos mediados, devendo apenas
auxiliá-los a comunicar entre si e questioná-los, investigando as questões a fundo no sentido de ajudar
os mediados a criar e avaliar as opções que proporcionem um acordo justo, equitativo, duradouro, que
represente o livre exercício da sua vontade.
O mediador não é, portanto, um juiz – ele não decide, não julga o conflito de interesses. É um terceiro
imparcial e independente, desprovido de poderes de imposição às partes de uma decisão vinculativa e que
apenas as auxilia a alcançarem um acordo final. A mediação é uma forma que promove a autocomposição.

Princípios Processuais Fundamentais


• Princípio do direito do acesso à jurisdição
É o princípio segundo o qual todos têm direito à ação para defender direitos subjetivos, interesses difusos ou
quaisquer outras posições subjetivas – artigo 20º CRP.
Ora, o direito de acesso aos tribunais engloba o direito de ação e o direito de defesa, a exercer perante tribunais
independentes e imparciais.
O conjunto das várias garantias constitucionais no âmbito processual constitui o chamada direito à jurisdição.

o Subprincípio do pedido: O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que ação
pressupõe a não ser nos casos em que a parte o peça. Não se pode desencadear uma ação
oficiosamente.
o Subprincípio da prossecução processual: Como se forma o objeto do processo?
Direito de defesa
O direito de acesso aos tribunais não radica apenas no autor, mas também no réu. → O réu pode deduzir
pedidos contra o autor, e se o fizer tem lugar a figura da “reconvenção”, perante a qual, em inversão de
posições processuais, o réu (reconvinte) é autor e o autor do pedido primitivo (reconvindo) é réu.

• Princípio do dispositivo (princípio da disponibilidade das partes) – artigo 5º CPC


No liberalismo significava que as partes punham e dispunham da sequência e o juiz era uma mera figura
passiva que só tinha que julgar. Já não é assim!
A configuração atual deste princípio está consagrada no artigo 5º CPC: às partes cabe alegar apenas os factos
essenciais. Todavia, existem ainda os factos complementares ou concretizados (5º/2/b) e ainda os factos
instrumentais que podem ser alegados, mas não têm de o fazer (não são obrigatórios, mas são obrigatórios os
factos essenciais).

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Como se sabe quais os factos essenciais? Teremos de olhar para a norma jurídica ou contratual que prevê o
direito subjetivo e identificar imediatamente quais são as ocorrências da vida real previstas em abstrato nessa
norma ou em concreto nesse contrato que permitem exercitar este direito subjetivo.
Ou seja, são os factos previstos na norma. Quanto à sentença: 607º/4 CPC.

• Princípio da cooperação e da boa fé processual


Se o juiz não entender o que a parte narrou, ele deve convidar a parte a apresentar uma nova petição onde
esclareça os pontos que o juiz reputa como obscuros. É um despacho-convite.
O fim é a descoberta da verdade processual, como é que os factos aparecem na convicção do julgador. Trata-
se da cooperação do autor com o tribunal, do réu com o tribunal, do tribunal para com as partes e a
cooperação de terceiros que não são partes com o tribunal. Exemplos: artigos 429º, 430º e 432º CPC.

• Princípio do inquisitório (artigo 411º CPC)


Determina que o juiz (oficiosamente) dirige ativamente o processo, providencia oficiosamente pela prática e
realização das diligências necessárias à normal tramitação e tenta sanar os pressupostos processuais.
Não significa o reforço do arbítrio do juiz, pelo contrário. O juiz não pode conhecer os factos que não tenham
sido alegados na petição.
o Subprincípio da adequação formal – Significa que o juiz pode alterar a sequência (sendo, portanto,
uma exceção ao princípio da legalidade processual/do tramite), se entender que as circunstâncias do
caso concreto podem dispensar algum ou alguns atos dessa sequência, em nome da celeridade.
o Subprincípio da gestão processual (artigo 6º CPC) – O juiz não altera a sequência, o juiz está é a
praticar/programar os atos (p. ex., audiência) de uma sequência inalterada em colaboração com as
partes, de forma expedita.

• Princípio da equidade
De acordo com o artigo 20.º/ CRP, todos têm direito a um processo equitativo.

• Princípio da igualdade de armas – artigo 4.º CPC


As partes (autor e réu) devem, ao longo de todo o processo, desde a petição inicial até a última decisão não
suscetível de recurso ordinário, ser tratadas à luz do estatuto de igualdade substancial – artigo 4.º CPC.
Em que sentido? Devem ter os mesmos ónus, deveres processuais, faculdades processuais. Isto é assim ainda
que do ponto de vista económico haja desigualdade entre as partes.
P. ex.: nº de testemunhas (é o mesmo para os autores e para o réu), junção de documentos (as partes têm limites
temporais até aos quais podem juntar documentos), sanções (devem atingir, se for o caso de mau
comportamento processual, quer o autor quer o réu).

• Princípio do contraditório (artigo 3º/3 CPC)

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O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo (desde a petição até à decisão final
insuscetível de recurso ordinário), o princípio do contraditório, não podendo decidir qualquer questão sem
que as partes tenham tido a oportunidade, de antes da decisão (seja interlocutória ou final), de tentar
influir nessa decisão.
Ou seja, o princípio do contraditório significa que o tribunal, antes de proferir as suas decisões, deve ouvir a
acusação e a defesa e que estas devem ter a possibilidade de se pronunciarem sobre as atuações ou condutas
processuais realizadas pela contraparte (como, por exemplo, em matéria de prova).

• Proibição das decisões surpresa


Antes do juiz decidir algo com que as partes não contariam porque não alegaram essas circunstâncias, o juiz
deve alertá-las para essa possibilidade de ele decidir uma certa questão formal ou de fundo/substância num
certo sentido não alegado pelas partes.

Em matéria da produção de prova

• Princípio da continuidade da audiência


Uma vez iniciada não deve ser interrompida, exceto por razões excecionais. Há contacto com as provas pelo
que não deve haver discrepâncias temporais na determinação da vontade do juiz.

• Princípio da imediação
O contacto direto e imediato do julgador como a fonte da prova. Nas videoconferências há imediação, mas é
menos intensa.

• Princípio da oralidade
O conteúdo/teor do depoimento (perguntas e respostas) não é reduzido a escrito.

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