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Dr.ª Sandra Passinhas
No entanto desde 1966 a realidade alterou-se bastante, sendo que, a União de Facto, por
exemplo, ganhou nos dias de hoje uma relevância que não existia.
Porém o legislador, com a Lei 7/2001 veio qualificar a união de facto como uma figura
familiar, mas não a qualificou, ainda assim, como uma fonte de relações familiares.
O legislador não quis enquadrar a união de facto na figura de relação familiar, mas
como uma relação parafamiliar → são conexas com relações de família, estão equiparadas a elas
para determinados efeitos ou são condição de que dependem, em certos casos, os efeitos que a lei atribui à
relação conjugal e às relações de parentesco, afinidade e adoção.
Em abono da opinião de que a união de facto não é uma relação de família para a
generalidade dos efeitos pode alegar -se que o art. 1576.º CCiv apenas considera relações
de família as que resultam das “fontes” que estão aí mencionadas.
Em abono da resposta positiva, pode alegar -se que o art. 9.º da Carta dos direitos
fundamentais da união europeia usou a expressão “direito de constituir família” com o
sentido propositado de abranger novas formas de constituir família que emergiam nos
estados membros.
❖ A Dr.ª Sandra passinhas concorda que não se trata de uma verdadeira relação
familiar, mas antes de uma relação parafamiliar.
❖ Já o Dr. Guilherme Oliveira, nas lições, já tem uma posição mais recetiva
quanto à aceitação da união de facto enquanto relação familiar.
Dr.ª Sandra Passinhas critica a formulação do art. 1576.º, pois a adoção só é decretada
por sentença judicial, sendo depois fonte do surgimento de uma relação familiar.
CASAMENTO
É a fonte das relações familiares matrimoniais, que liga os cônjuges entre si.
Em Portugal, há duas modalidades de casamento – art. 1587.º CC:
Casamento Civil – art. 1615.º e ss. CC
Quanto à sua celebração pode ser celebrado de 2 formas:
• na Conservatória (celebração tradicional)
Casamento Católico
Só quem tiver capacidade para casar civilmente pode celebrar casamento católico. Mesmo
quem quer casar catolicamente tem de ir ao registo civil buscar uma declaração de que
tem capacidade para realizar casamento civil, servindo assim de autorização para se poder
casar catolicamente. A definição está no código canónico.
Há pessoas que podem casar civilmente, mas não podem casar catolicamente (ex:
divorciados, não batizados, homossexuais, etc)
Estes são institutos diferentes, e não meras formas de celebração diferentes.
PARENTESCO
ADOÇÃO
Porém, se filho ainda não tiver completado a sua formação profissional no momento em
que atinge a maioridade, então mantém-se a obrigação de alimentos (art. 1880.º CC).
Art. 1905.º CC –
O processo de regulação das responsabilidades parentais não se encerra, não transita em
julgado até ao dia da maioridade.
No dia em que o filho faz 18 anos – encerra-se o processo. Ora, se o jovem nesse momento
ainda não tiver concluído os estudos e o pai deixar de lhe pagar os alimentos, como filho
tem direito a eles por força do art. 1880.º, então o filho teria de propor uma ação judicial
contra o pai. → isto é uma situação indesejável:
1.º porque temos um jovem a interpor uma ação contra o pai, com o qual mantém uma
relação familiar frágil (se assim não fosse, o pai não deixaria de pagar alimentos ao filho).
2.º o percurso normal dos jovens hoje em dia é o de prosseguir estudos depois do
secundário.
Posto isto, o legislador, em 2015, veio estender a eficácia da sentença ou acordo → essa
sentença ou acordo, nestes casos, não cessa aos 18 anos (quando atinge a maioridade),
mas sim aos 25 anos.
Ora, neste caso, se o pai entender que há razões suficientemente fundadas para não pagar
os alimentos ao filho (porque o filho inscreve-se todos os anos no 1.º ano da faculdade e
nunca faz as cadeiras, porque o filho trabalha ao mesmo tempo que estuda e consegue
pagar os estudos sozinho, etc.), tem de ser o próprio pai a ter a iniciativa processual para
requerer a cessação da obrigação de alimentos.
Regra – enquanto não terminar a escolaridade
Quid Juris se a pessoa tiver + de 25 anos (40 anos, por exemplo) divorciou-se, descobriu
que tinha uma doença mental e que não podia trabalhar. → pode pedir alimentos aos
progenitores. - Art. 2009.º do CC lista que nos diz as pessoas obrigadas a alimentos.
CASAMENTO
O noivado, juridicamente, é uma promessa de casamento – art. 1591.º CC
Ora, esta promessa de casamento pode terminar num casamento ou pode não vir a ser
cumprida: ou porque algum dos nubentes se arrependeu ou porque algum deles morreu.
Por um lado, temos um negócio que produz efeitos jurídicos, a promessa de celebrar um
contrato. Por outro lado, temos a liberdade de não cumprir e não manter até ao fim essa
vontade de celebrar casamento.
RESTITUIÇÕES
Não sendo cumprida a promessa de casamento, por algum dos motivos supracitados:
1- Art. 1593.º CC «Restituições no caso de morte» → o nubente sobrevivo pode
ficar com os bens que eram do nubente falecido, mas, nesse caso, perde o direito
de exigir os bens que, por sua parte, lhe tenha feito.
2- Art. 1592.º CC «Restituições, nos casos de incapacidade e de retração» → tem
de se restituir aquilo que se recebeu do outro ou de terceiro que lhe tenham sido
feitas na virtude do casamento ou na expectativa deste. Ex.: anel de noivado
oferecido pelo noivo; vestido de casamento oferecido pela mãe do noivo, etc.
INDEMNIZAÇÕES
Indemnizar – tornar indemne, isto é, sem dano.
Art. 1594.º - Indemnizações que aqui estão previstas:
- Despesas feitas na expectativa/previsão do casamento
- Obrigações contraídas na previsão do casamento
Ex.: Vestido ou fato de noivado, algum sinal que tenham dado à quinta/local onde iria
ocorrer o casamento.
Uma das questões mais complexas que surge neste âmbito é saber, exatamente, o que é
que significa a primeira parte do n.º1 do art. 1594.º: “se algum dos contraente romper a
promessa sem justo motivo”.
O que é um justo motivo? Neste artigo, a referência a justo motivo serva apenas para
efeito de uma “justa repartição das despesas”. O justo motivo tem aqui uma função
quase “punitiva”/sancionatória, pelo não cumprimento daquilo a que se obrigou, pelo que
se a causa do inadimplemento não for forte o suficiente, nem justificar à luz das
circunstancias concretas de cada caso, a parte que romper a promessa sem esse justo
motivo terá de pagar as despesas já contraídas na expectativa do casamento.
Assim, o “justo motivo” consistirá sempre num comportamento culposo da outra parte,
que o fará querer romper com a sua promessa de comportamento (traição, quebra da
confiança drástica, etc.)
Em termos de escolha, o noivo(a) pode sempre escolher casar ou não casar, e é aí que está
protegida a sua liberdade de escolha. Ora, a partir do momento em que decide casar e faz
uma promessa de casamento, já está fora do âmbito da tutela da sua liberdade de escolha,
uma vez que a escolha já foi feita. Daí para a frente já o promitente que rompe com a sua
promessa sem justo motivo é já considerado “inadimplente”, porque uma das partes não
está aqui a cumprir com aquilo que se obrigou – casar.
Casamento Civil
Casamento Católico
CASAMENTO CIVIL
O casamento, enquanto ato (=celebração do casamento), tem 3 momentos:
1. Momento das formalidades preliminares
2. Momento da celebração do casamento
3. Momento do registo do casamento
FORMALIDADES PRELIMINARES
Ida dos dois nubentes à conservatória (ou então pode ir só um, desde que com procuração)
→ para fazer uma declaração para casamento, ou seja, vão dizer ao Estado português
que querem constituir família (trata-se de uma verdadeira mudança do estado civil).
Esta é uma declaração verbal/oral → pelo que a conservatória (o seu funcionário) recebe
a declaração verbal, dá algumas explicações e depois inicia o processo para casamento.
Processo para casamento → Neste processo, o conservador vai executar/exercer
diligências: vai verificar se as partes do casal podem casar (capacidade matrimonial →
impedimentos absolutos) e se podem, de facto, casar uma com a outra (impedimentos
relativos).
Autorização para casa: ao executar todas as diligências necessárias, se o funcionário da
conservatória não encontrar nenhuma incapacidade, nenhum impedimento ao casamento
→ vai autorizar o casamento, podendo ter de, em algumas situações, proferir um despacho
de autorização.
Estas formalidades preliminares devem ser realizadas 6 meses antes da celebração
casamento.
O casamento civil não é um processo demorado, e pode ser realizado em qualquer
conservatória do país.
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
REGISTO DO CASAMENTO
FORMALIDADE PRELIMINARES
Ministro de culto – vai ficar com uma cópia do assento de casamento, mas vai também
enviar um assento de casamento para o registo civil.
REGISTO DO CASAMENTO
No casamento civil normal, o registo é feito, como vimos supra, por inscrição.
Aqui, – casamento civil sob forma religiosa – o registo é feito por transcrição. Ou seja,
o conservador vai indicar quem foi o ministro de culto que celebrou o casamento a A e a
B, no dia x, no local y. – Art. 52.º CRCivil + art. 187.º - A e C do CReg.C
CASAMENTO CATÓLICO
Este é um instituto diferente do casamento civil (não se podem confundir).
O casamento católico é simultaneamente regulado pela lei civil e pela lei canónica.
FORMALIDADE PRELIMINARES
Na prática, funciona mais ou menos ou quase da mesma maneira que o casamento civil,
porque diz-nos desde logo, o art. 1596.º que só pode celebrar casamento católico quem
tiver capacidade matrimonial exigida na lei civil, ou seja, só pode celebrar casamento
católico quem tiver autorização do Estado para tal.
Assim, as formalidades preliminares do casamento civil também têm lugar no casamento
católico.
Por seu turno, também sabemos que Igreja católica exige requisitos que o Estado
português não exige:
- Não haver um divórcio no histórico de nenhum deles
- Têm de ser ambos batizados
- Tem de ser um casal heterossexual
- Têm de ter convicção religiosa e querer educar os filhos na religião católica.
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
Celebra-se de acordo com o código do direito canónico.
REGISTO DO CASAMENTO
Casamento católico - pode ter uma celebração tradicional ou uma celebração sob forma
religiosa.
Em termos de efeitos, ambos os casamentos valem exatamente o mesmo.
Quando falamos que o casamento civil e católico são institutos diferentes, estamos a
referir-nos à constituição do casamento, e não quanto aos seus efeitos: os requisitos da
capacidade e do consentimento são diferentes consoante estejamos a falar de um
casamento civil ou de um casamento católico. Sendo um casamento validamente
celebrado, os efeitos serão todos os mesmos (até porque o divórcio é possível quer para
o casamento civil quer para o católico).
Outra diferença:
• Quem casa catolicamente primeiro, não pode depois casar civilmente (porque já
é casado).
• O inverso já não verdadeiro, ou seja, quem casa civilmente primeiro pode depois
casar catolicamente, porque o casamento católico dá algo aos católicos que o
casamento civil não dá – o casamento católico é um sacramento. Assim quem
casa civilmente primeiro, pode depois casar catolicamente para ir buscar à religião
católica o sacramento.
Efeitos:
Art. 1588.º → efeitos do casamento católico – aplicam-se os mesmos efeitos que ao
casamento civil
Art. 1618.º CC → aceitação dos efeitos do casamento – norma imperativa
Art. 1577.º CC: Efeitos pessoais + Efeitos patrimoniais
Nesta cadeira apenas vamos estudar os efeitos pessoais.
Casamento Católico
Concordata entre a República Portuguesa e a Santa Sé de 2004
- 3 dias para o Padre mandar o assento de casamento à conservatória
Artigo 15.o
1 — Celebrando o casamento canónico, os cônjuges assumem por esse mesmo facto, perante a Igreja,
a obrigação de se aterem às normas canónicas que o regulam e, em particular, de respeitarem as suas
propriedades essenciais.
2 — A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vínculo
matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes
incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio.
Cânone 1057, 2 → o casamento como ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por
pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de constituírem o
matrimónio. ≠ art. 1577 do CC.
Quando os casados saem da igreja, esse casamento por eles celebrados é um casamento
válido, MAS… a estabilidade do casamento só se adquire com a consumação (com as
relações sexuais completas) → se não houver consumação, pode haver lugar a dispensa
do casamento rato e não consumado.
“rato” - ratificado (foi dada a vontade dos nubentes)
Se virmos o can. 1055, faz parte da própria definição de casamento faz parte a procriação
– é um dos elementos essenciais do casamento católico.
Aqui, o casamento religioso pode surgir como uma faculdade alternativa na forma de
celebração, ou como alternativa como instituto diferente. Para os católicos em Portugal
o sistema de casamento civil é facultativo, sendo-o na segunda modalidade, porque o
podem escolher entre um casamento civil e um casamento católico, e até podem escolher
primeiro um casamento civil e depois um casamento católico.
EM SUMA: para os católicos há a possibilidade de escolher entre 2 institutos: o instituto
do casamento civil, ou entre o instituto do casamento católico.
Para aqueles que pertencem a uma comunidade ou igreja radicada no nosso país →
sistema de casamento civil facultativo na primeira modalidade, porque eles podem
escolher apenas entre forma de celebração: tradicional ou religiosa (e não como
alternativa em termos de instituto).
Para quem professe uma religião que não esteja radicada no nosso país ou não professe
nenhuma religião → sistema de casamento civil obrigatório.
Casamento Civil
Requisitos de fundo do casamento civil:
Consentimento (vontade)
Capacidade
Já falamos sobre a questão da capacidade (dos impedimentos matrimoniais).
Caráter pessoal do consentimento
Art. 1619.º CC – dita que o casamento é um ato pessoal e a vontade do casamento tem
de ser expressa, em princípio, pessoalmente.
Relevância prática:
Se ele for um mero núncio → tem necessariamente de celebrar o casamento, seja em que
circunstancias for (mesmo que descubra que a noiva não é nem tem o passado que o noivo
pensava que tinha, mas é uma pessoa completamente maluca).
Não há uma resposta a esta pergunta, mas Drª Sandra Passinhas entende que o
representante deveria ser um verdadeiro representante.
Mas, por outro lado, quando pensamos no contexto histórico da representação associamos
a uma verdadeira situação de impossibilidade de um dos noivos, em que ele apenas
necessita de ter alguém que transmita a vontade dele. → Todavia não há, de facto, uma
resposta a esta questão, a doutrina discute.
Perfeição do Consentimento
1. Significa que não haja divergência entre a vontade e a declaração
Art. 1635.º CC → o casamento é anulável por falta de vontade, quando o casamento tenha
sido simulado (al. d) ) → casamento simulado é aquele em que haja recusa da comunhão
de vida. Aquele em que há declaração, mas não há vontade efetiva/real. → são anuláveis.
Liberdade do consentimento
2. Seja desculpável
Significa que qualquer pessoa teria sido enganada naquelas circunstâncias.
Já vimos que o dolo não releva autonomamente/diretamente, mas releva indiretamente,
ou seja, porque torna o erro desculpável.
3. Se mostre que sem aquele erro, razoavelmente, o casamento não teria sido
celebrado
Essencialidade do erro - Quando se mostre que sem o erro o casamento não teria sido
celebrado.
Temos aqui de fazer um juízo objetivo: “se mostre que sem ele, RAZOAVELMENTE,
o casamento teria sido celebrado”.
Outro requisito (de criação jurisprudencial):
4. Propriedade do erro
Que o erro seja próprio, ou seja, significa que o erro não corresponda a nenhuma falta de
requisitos legais → o erro tem de ser verdadeiramente da pessoa que se enganou.
COAÇÃO MORAL
O casamento civil também pode ser anulado por coação moral, nos termos do art. 1638.º
CC.
05.11.2020
O artigo 1627.º CC consagra o Princípio «pas de nullité sans texte» - Ora, ao contrário do
que sucede no direito comum, no direito da família não há nulidades tácitas, apenas
nulidades expressas. Por esta razão, devem considerar-se válidos todos os casamentos
relativamente aos quais não se verifique algumas das causas de inexistência ou
anulabilidade ESPECIFICADAS na lei.
Inexistência
Razões de ter surgido este regime:
1. Ora, o regime da anulabilidade, que até certa época era o único que vigorava, não
se mostrava adequado aos casamentos portadores de vícios considerados mais
graves (na época: casamento celebrado entre duas pessoas do mesmo sexo, em
que faltasse a declaração de vontade dos nubentes ou de algum deles, etc).
É muito contestada - há quem diga que não existem negócios inexistentes. Mas a nossa
lei prevê a inexistência quanto ao casamento - é como se nunca tivesse sido celebrado.
❖ Art. 1628.º CC - casamento celebrado por quem não tem competência funcional
para o ato.
Por exemplo: Os casamentos de etnia cigana são inexistentes juridicamente - para o Estado
português, não são casados. Eventualmente estão numa união de facto, mas o estado civil não se
altera - mesmo que haja a convicção de tal.
Atenção ao art. 1629.º -> o que se entende por “funcionário de facto” → no caso de
ignorância dessa circunstância pelos nubentes, no momento da celebração, então os
nubentes não são prejudicados, sendo o casamento válido na mesma.
A única especificidade que opera em relação aos efeitos dos casamentos urgentes é que os que forem
celebrados sem precedência do processo preliminar, consideram-se sempre contraídos no regime da
separação de bens. – art. 1720.º, n. º1, al. a) CC
Anulabilidade
Art. 1631.º CC → os casos de anulabilidade são EXCLUSIVAMENTE os previstos neste
artigo.
- Impedimentos Dirimentes
A anulabilidade não opera ipso iure, pois por força do artigo 1632.º CC a anulabilidade
do casamento não pode ser invocada para qualquer que seja o efeito, judicial ou
extrajudicial, enquanto não for reconhecida por sentença judicial em ação
especialmente intentada para esse fim.
LEGITIMIDADE
Art. 1639.º - anulação fundada em impedimento dirimente
• Cônjuges
• Qualquer parente dos cônjuges na linha reta ou até ao quarto grau da linha
colateral
• Herdeiros
• Adotantes dos cônjuges
• Ministério Público (porque estão em causa interesses dos cônjuges e suas famílias
e também o interesse público)
Aqui a anulabilidade foi estatuída no interesse particular de um dos cônjuges, pelo que a
anulação só pode ser requerida/proposta por esse cônjuge.
PRAZOS
Artigos 1643.º a 1646.º CC
Casamento Putativo
Há situações em que a anulação do casamento pode levar tempo e o casal em causa já
assumiu uma série de compromissos.
• Os terceiros vão acreditar naquele casamento, reputando-o como válido.
Com o casamento a casa de Bernardo passa a ser dos dois. Ora, passado algum tempo,
Ana descobre um longo cadastro criminal de Bernardo – incluindo violência doméstica -
e também que tinha já um casamento noutro país do qual tinha três filhos. Pedindo Ana a
anulação do casamento, se aplicássemos o 1639.º (porque a existência de um casamento
anterior não dissolvido constitui impedimento dirimente absoluto, nos termos do artigo
1601.º, al. c)) destruíam-se todos os efeitos. Mas estando de boa fé, pode salvar os efeitos
do casamento até à sentença - recorrendo a efeitos putativos.
➔ Ana, vítima de erro, poderia pedir por força do casamento putativo, a manutenção
dos efeitos do casamento.
Isto porque desde 2008, o 1790.º CC tem um novo regime relativo à partilha. Havendo
divórcio, a partilha segundo o regime de comunhão de adquiridos - 1721.º CC e ss.:
É, portanto, preferível para a Ana ir pela via da anulação do casamento, de forma a poder
beneficiar do regime do casamento putativo (com a anulação do casamento. → Já para
Bernardo, seria preferível ir pelo divórcio.
A sentença de anulação diz que se considera o casamento anulado - voltam a ser solteiros
e faz-se então a partilha quanto aos bens.
Exemplo 2: Ana e Bernardo têm uma casa e dois filhos: a casa vale 300.000€. Quando
Ana morre, a primeira partilha que se faz é a partilha conjugal - os filhos acabam por ter
direito a muito pouco. Bernardo fica com 150.000€ a que tem direito da casa (metade),
sendo que em relação aos 150.000€ dela é que se abre a sucessão para os filhos.
EFEITOS PESSOAIS
• Surgimento de deveres conjugais – art. 1672.º CC
- Dever de Respeito
- Dever de Fidelidade
- Dever de Coabitação
- Dever de Cooperação
- Dever de Assistência
Para além destes efeitos pessoais há um princípio, o qual também pode ter esta conotação
pessoal - Princípio da Igualdade dos cônjuges (regulado no art. 1671.º CC e no art.
36.º/3 CRP).
Diz-nos o artigo 1671.º que o casamento se baseia na igualdade dos cônjuges.
Os cônjuges têm ainda o dever de acordar sobre a orientação da vida em comum. Note-
se, a lei apenas obriga os cônjuges a acordar sobre a orientação da vida em comum,
ficando de fora a vida pessoal, a vida privada de ambos os cônjuges.
O casamento não limita os direitos de personalidade.
Os cônjuges podem, efetivamente, estar em desacordo sobre alguns pontos da orientação
da vida familiar. Ora, em princípio, o nosso direito recusa a intervenção judicial. No
âmbito das relações pessoais entre os cônjuges, o nosso código permite que o conflito
entre os cônjuges seja decidido pelo tribunal apenas em três casos:
1. Desacordo sobre a fixação ou alteração da residência da família (art. 1673.º/3 CC)
2. Sobre o nome próprio ou os apelidos dos filhos (art. 1875.º/2 CC)
3. E sobre questões de particular importância relativas ao exercício das
responsabilidades parentais (art. 1901.º/2 CC).
Admite-se a intervenção e decisão judicial neste caso, porque são casos em que é
especialmente necessária ou urgente a solução do conflito.
À parte destes casos, o desacordo deve ser resolvido dentro da família, pelos próprios
cônjuges – faz-se apelo ao sentido de responsabilidade dos cônjuges e à sua capacidade
de autorregulamentação da família.
• Art. 1677.º e ss. CC - cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos
(antes a mulher perdia o nome de família para adotar o do marido - noutros países
que não Portugal). Mas pode acrescentar apelidos do outro - até ao máximo de
dois.
Tem sido pacificamente aceite que acrescentar inclui o intercalar – por exemplo:
Imaginemos que a Ana Silva e o Rui Dias casam e decidem que querem fazer um nome
de família, e, portanto, decidem que cada um quer acrescentar o nome do outro, ou seja:
Ana Silva Dias e Rui Dias Silva. Ora, isto não é um nome de família. Posto este tipo de
situações já não e controvertido, tem sido pacificamente aceite que este “acrescentar” seja
intercalar, ou seja, a Ana pode acrescentar o apelido do Rui e este pode, por sua vez,
intercalar os apelidos ficando “Rui Silva Dias”.
• No caso de viuvez, em que um dos cônjuges morre, o outro não perde o direito ao
nome. Não pode é acrescentar o nome de um novo casamento que viesse a
contrair. Em Portugal não se admite a acumulação de nomes de vários casamentos.
Dever de Respeito
Vertente positiva: interesse no outro.
Ex.: antes de 2008, a vítima do divórcio tinha de ser indemnizada pelo cônjuge que fosse
declarado único ou principal culpado. Havia uma senhora casada com um médico que
viajava várias vezes ao Brasil, durante 2 semanas e sozinho. Ela pediu o divórcio com
base na violação do dever de fidelidade. E vem pedir ele o divórcio a partir do momento
que ela tinha dito aquelas coisas dele ao pedir o divórcio. O tribunal considerou que o
facto de o marido tirar férias sem a mulher demonstrava uma total falta de interesse da
parte do marido - os momentos de qualidade do casal são passados nas férias. Considerou
ainda que para ele ter direito ao respeito dela, teria também de se dar ao respeito.
Assim, o cônjuge que não fala com o outro, não mostra o mínimo de interesse por estes
nem pela família que com ele constituiu, não respeita a personalidade do outro conjuge,
violando assim o dever de respeito.
‣ Casos em que não há ofensa direta, mas há prejuízo para a imagem do casal.
o Ex.: uma senhora do casal tinha sido apanhada a roubar no Intermarché -
e o marido passou a ser conhecido no trabalho pelo ato da mulher. Fica
ofendido na sua integridade moral. | Quando o marido é bêbado ou
drogado.
Dever de fidelidade
O dever de fidelidade obriga cada um dos cônjuges a não ter relações sexuais consumadas
com pessoa que não seja o seu cônjuge (caso contrário incorre-se em adultério).
Adultério:
Para além do elemento objetivo constituído pela prática de relações sexuais consumadas,
o adultério supõe ainda um elemento subjetivo, que se traduz na intenção ou, pelo menos,
consciência de violar o dever de fidelidade.
Assim, não haverá violação do dever de fidelidade se o cônjuge que teve relações sexuais
com terceira pessoa que só o fez, por exemplo, coação.
Por sua vez, nem só as relações sexuais consumadas constituem violação do dever de
fidelidade → uma tentativa de adultério constitui violação deste dever.
Ex.: relações sexuais com outra pessoa, ficar horas no chat com outra pessoa depois do
jantar todos os dias, partilha de fotografias, swing, etc. são violações deste dever?
O casal pode conformar o cumprimento dos deveres conjugais. Podem dizer que o
dever de fidelidade abrange a prática de swing, desde que os dois saibam, por exemplo.
O conceito anterior era o de adultério - e era definido legalmente com referência a relações
sexuais.
Estes acordos não estão sujeitos a forma e podem ser livremente revogados.
O dever de fidelidade implica uma limitação da liberdade sexual -> limitação negativa
à liberdade sexual dos cônjuges.
Dever de coabitação
É um dever que tem um sentido técnico, pois coabitar implica, necessariamente 3 coisas:
1. Comunhão de leito
2. Comunhão de mesa
3. Comunhão de habitação
COMUNHÃO DE LEITO
Significa ter relações sexuais – no sentido de ser uma relação orientada para a intimidade
conjugal.
Na comunhão de leite também temos uma limitação da liberdade sexual dos cônjuges,
mas agora é uma limitação positiva.
Ou seja, enquanto que no caso do dever de fidelidade há uma limitação negativa da
liberdade sexual dos cônjuges (não podem os cônjuges ter relações sexuais com mais
ninguém, a não ser entre os dois), no caso da comunhão de leito, no âmbito do dever de
coabitação, essa liberdade já é positiva, no sentido em que há um dever de se ter relações
sexuais com o outro cônjuge, deve ter intimidade sexual com o outro cônjuge.
COMUNHÃO DE MESA
Significa haver uma economia doméstica, comum.
Cada um dos cônjuges pode contrair dívidas, mas, em termos mais graves, cada um dos
cônjuges pode contrair dívidas que responsabilizem também o outro cônjuge.
COMUNHÃO DE HABITAÇÃO
Significa ter uma residência ou uma sede de família (esta dimensão do dever de
coabitação, já está hoje mais ultrapassada, como veremos abaixo).
Exemplo : A tem uma moradia na Figueira da Foz, onde vive. Entretanto os filhos vão
para a Universidade de Coimbra, sendo que A costuma sempre passar uns dias na casa
que o filho tem em Coimbra, onde estuda para ajudar com as tarefas de casa. Entretanto,
o marido de A reformou-se e estes já passam mais tempo em Coimbra do que na Figueira
da Foz.
Ora, neste caso, é difícil estabelecer-se e determinar qual é, afinal, a casa de família.
Hoje em dia, na verdade, devido a fenómenos como o LAT (Living Apart Together), pode
nem sequer haver casa de morada de família.
LAT («Living Apart Together») = casais, com relações sólidas e que querem assumir o
compromisso do casamento, mas que vivem em casas separadas (acontece muito nos
casos de “famílias recombinadas”). → isto não viola o dever de coabitação, na sua
dimensão de comunhão de habitação, por força do princípio da autonomia privada.
Dever de Assistência
Art. 1675.º CC e 1676.º do CC.
Tem um conteúdo patrimonial.
2. Quando o casal está separado (há uma separação de facto, mas ainda não
houve dissolução do casamento).
Quando os cônjuges estão separados, o dever de assistência corresponde à obrigação de
alimentos ao cônjuge (e não ao ex-cônjuge).
O dever de assistência, é um dever conjugal, é um dever na constância do matrimonio e
que se mantém enquanto se mantiver o matrimónio.
Ainda que só um dos cônjuges trabalhe fora de casa, temos na mesma os dois cônjuges a
contribuir para os encargos da vida familiar: um contribui com o salário, o outro com o
trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos filhos.
O problema é que – e isto está estatisticamente comprovado –as mulheres trabalham mais
que os homens. Em Portugal, as mulheres têm, em média, 3 horas diárias de trabalho a
mais que os homens, até porque têm muito mais trabalho doméstico. → Nestas situações,
pode haver uma contribuição maior de um dos cônjuges relativamente ao outro. E,
nesse caso, e se tal implicar um grande prejuízo para um dos cônjuges, pode haver depois
uma compensação em sede de divórcio (crédito compensatório).
❖ Dever de alimentos
É a forma de assistir o outro cônjuge no caso de haver separação de facto.
O artigo 2016.º-A, n.º 3 determina que o ex-cônjuge não tem direito a exigir a
manutenção do padrão de vida de que beneficiou na constância do casamento. → Ou seja,
depois do divórcio, o montante dos alimentos desce (ao contrário do que acontece na
constância do matrimónio, em que a Dr.ª Sandra Passinhas considera que a melhor
doutrina é aquela que determina o direito da manutenção do padrão de vida).
De qualquer das formas este direito aos alimentos é um direito temperado, porque os
alimentos dependem sempre (sempre) do encontro de dois fatores:
- Necessidades de quem pede
- Possibilidades de quem vai prestar os alimentos.
Quando há uma dissociação familiar (falando agora no caso de uma separação de facto,
por que no divorcio isto é claríssimo, dado que qualquer divorcio é fonte de
empobrecimento), esta é sempre fonte empobrecimento, daí que apesar de operar uma
manutenção do nível de vida, esta tem de ser temperada pelo fator “possibilidades de
quem presta alimentos”, ou seja, do cônjuge devedor.
Dissolução do Casamento
Formas de extinção do casamento
Invalidade
Vimos já que um casamento por:
- Ser anulado, se for um casamento civil
- Pode ser declarado nulo, se for um casamento católico.
Dissolução
Pode ser por:
- Divórcio
- Morte
• Na dissolução por morte, o casamento produziu a sua função (“até que a morte
nos separe”).
Havendo morte de um dos cônjuges, há lugar à partilha conjugal (art. 1689.º CC), e
simultaneamente há lugar à abertura da sucessão e à partilha do património do de
cujus.
Ora, o cônjuge é herdeiro, encontrando-se na primeira linha dos sucessíveis (art. 2133.º
CC).
DIVÓRCIO
Divórcio – é a dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou pelo conservador do
registo civil, a requerimento de um dos cônjuges ou dos dois, nos termos autorizados por
lei.
A alteração legislativa de 2008 veio alterar totalmente o paradigma do divórcio – Lei n.º
61/2008, de 31 de outubro.
Esta reforma do regime do divórcio traduziu-se:
- Num movimento de privatização
O que faz parte da intimidade do casal, fica na intimidade do casal, mesmo para efeitos
de divórcio. Portanto, aquilo que o casal não quiser contar, ninguém vai perguntar.
- Reconhecimento dos afetos (houve um efetivo reconhecimento do valor dos
afetos)
O ponto de partida foi: enquanto os cônjuges se sentirem bem e felizes, devem estar
casados. Porém, quando estes ou algum deles não se sentir feliz, quando o casamento já
não for fonte de felicidade e de realização pessoal, então qualquer um deles pode pedir o
divórcio. Portanto ninguém é obrigado a estar e a ficar casado contra a vontade.
EFEITOS DESTA REFORMA
Transformação do sistema que tínhamos anteriormente: sistema de divórcio-sanção.
Antes, o divórcio era uma sanção para a violação de deveres conjugais – se um dos
conjugais violava deveres conjugais e o outro podia pedir o divorcio, como forma de
sanção pela violação de um dever conjugal – o divorcio como uma sanção aplicável ao
cônjuge que violava os deveres conjugais.
Portanto, à luz desse regime, o cônjuge que violava o dever de fidelidade, por exemplo,
não podia pedir o divórcio (ainda que violasse esse dever por já não estar feliz no
casamento) – esse cônjuge não podia pedir o divórcio com base em “infelicidade”,
simplesmente por não querer mais estar vinculado àquela relação matrimonial.
Ora, o nosso legislador contrabalançava o regime do “divórcio-sanção” com aquilo que
se designava de “divórcio objetivo” – divórcio por causas objetivas. Por exemplo, por
uma separação de facto. Mas, note-se, a separação de facto tinha de existir há 3 anos.
Em 2008:
► Estabelece um sistema do divórcio “constatação da rutura do casamento”
(sistema objetivo de divórcio)
► Abolição a figura da declaração de culpa
► Abolição da aplicação de sanções patrimoniais associadas à declaração de culpa
LEGITIMIDADE
Qualquer dos cônjuges (seja qual for a situação em que se encontre).
O que acontecia anteriormente é que, na altura do divórcio, as pessoas faziam uma lista
de tudo o que tinha acontecido de mal no casamento, de forma a culpabilizar o outro.
Hoje, já não acontece este tipo de coisas, por termos um sistema de divórcio objetivo, de
“constatação da rutura do casamento”.
Modalidades de Divórcio
Artigo 1773.º CC – duas modalidades:
a. Divórcio por mútuo consentimento
b. Divórcio sem o consentimento do outro cônjuge (antigamente, era o “divórcio
litigioso” – continua a ser uma ação litigiosa, ação proposta por um dos cônjuges
contra o outro, mas o legislador quis abolir a expressão pejorativa “litigioso”).
► Divórcio por mútuo consentimento – é pedido por ambos os cônjuges, de comum
acordo e sem indicação da causa por que é pedido.
► Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges – é pedido por um dos cônjuges contra
o outro e com fundamento em determinada causa.
Mediação familiar
Artigo 1774.º do CC
A mediação familiar pode ter resultados muito positivos naquilo que é a transformação
do casal conjugal no casal parental.
Em Portugal, a mediação, por natureza, é voluntária.
Antes de se iniciar a mediação, os cônjuges devem ser informados da possibilidade de
recorrerem à mediação.
Al. e) – refere-se à convenção antenupcial. Caso exista convenção antenupcial, não será
necessário entregar qualquer documento, porque o conservador consegue aceder a ela no
sistema.
Ora, quanto aos acordos que têm os futuros ex-cônjuges de apresentar na conservatória
do registo civil: se não houver animais de companhia, têm de apresentar documento a
declarar que não têm quaisquer animais de companhia, se acordarem na não prestação de
alimentos, têm de apresentar documento a declarar que prescindem da prestação de
alimentos, etc.
Como este acordo diz respeito a menores, ele segue uma via diferente dos outros, ou seja:
1. O requerimento é entregue na conservatória do registo civil, juntamente com os
outros acordos.
2. De seguida, o conservador envia o acordo para o Ministério Público para que este
o aprecie.
3. O MP vai, em primeira e última análise, pronunciar-se sobre o acordo
apresentado, dizendo se concorda ou não:
a. Se concordar com o acordo → há homologação do acordo
b. Se não concordar:
Nota: se o procurador do MP tiver algumas questões que lhe suscitem dúvidas, pode
chamar a família, contudo, só deverá chamar a família quando realmente achar necessário,
não fazendo disso regra.
► Judicial
EM SUMA:
QUANDO É QUE HÁ DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO JUDICIAL?
1. Quando ambos os cônjuges estão de acordo quanto ao divórcio, mas não
alcançam os acordos complementares.
2. Quando os cônjuges apresentaram um acordo e este não é homologado pelo
conservador – e, portanto, em que há remessa (feita oficiosamente pelo
conservador) para o tribunal, nos termos do artigo 1778.º do CC.
3. Quando haja conversão do divórcio sem consentimento (intentado perante o
tribunal), em divorcio por mútuo consentimento.
21.11.2020
Ora, vimos já, o divórcio sem consentimento é o divórcio proposto por um dos cônjuges
contra o outro perante o tribunal, com base numa determinada causa (Qual é que é a
causa? → é quanto à questão da causa que a Dr. Sandra Passinha discorda da posição do
Dr. Guilherme de Oliveira).
A posição da Doutora Sandra Passinhas difere da posição do Dr. Guilherme de Oliveira quanto
ao divórcio sem consentimento.
Causa:
❖ Dr.ª Sandra Passinhas – a causa é a rutura do casamento.
Nós temos um sistema de divórcio «constatação da rutura do casamento» (≠ sistema de
divórcio «a pedido»), até porque o próprio artigo 1781.º do CC tem de epígrafe “rutura
do casamento”.
Artigo 1781.º CC
• Na alínea d) do artigo 1781.º do CC encontramos uma cláusula aberta que
estabelece como fundamento do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges
“quaisquer (…) factos que (…) mostrem a rutura definitiva do casamento”.
Quando se invoca a causa de rutura do divórcio, não basta invocar-se e provar-se a
violação de um determinado dever conjugar, tem antes de se provar que a consequência
dessa violação na relação matrimonial foi a rutura definitiva da mesma.
Exemplo: Quando um dos cônjuges trai o outro com uma terceira pessoa, a violação do
dever conjugal de fidelidade não é fundamento de divórcio, o fundamento de divorcio
aqui é a rutura que essa violação do dever de fidelidade causa.
No fundo, o que interessa aqui como causa que fundamenta o divórcio é o efeito que isso
teve na relação.
O nosso legislador apresentou 3 situações objetivas que tinham consagram histórica, isto
é, eram artigos já autónomos na nossa mesmo (mesmo quando o divórcio era um divórcio
com culpa – divórcio-sanção). São situações que tecnicamente, a serem provadas, geram
uma presunção inilidível de rutura.
• Alínea a): separação de facto por um ano consecutivo
► A separação de facto de ter ocorrido durante o prazo de um ano
► O ano tem de ser consecutivo (se, entretanto, houver reconciliação o decurso do prazo
do ano após a rutura, este termina de decorrer).
► O ano consecutivo tem de estar cumprido no início do processo judicial: quando se
propõe a ação já tem de existir separação de facto por um ano consecutivo.
Separação de facto (art. 1782.º CC) – há separação de facto quando não existe
comunhão de vida entre os cônjuges e há da parte de ambos, ou de um deles, o propósito
de não a restabelecer.
Ou seja, a separação de facto exige 2 requisitos:
1. Elemento objetivo – inexistência de comunhão de vida entre os cônjuges.
2. Elemento subjetivo – não haver da parte de nenhum dos cônjuges, ou de um
deles, a intenção de a restabelecer.
Artigo 1791.º CC
Como agora não declaração de culpa (não há um cônjuge declarado único ou principal
culpado), então podemos obter alguma vantagem através do artigo 1791.º do CC.
● Quando algum dos cônjuges recebe, na constância do casamento, algum benefício –
seja do outro cônjuge, seja de terceiro-, havendo divórcio, a pessoa pode pedir a
restituição desse benefício, aquilo que foi oferecido em função do casamentos, isto é, em
função do estado de casado.
Exemplo: sogra que tinha medo da nora e estava a “emprestar” (contrato de comodato) a
casa ao filho, à nora e aos filhos. Entretanto estes separam-se e o filho sai daquela casa,
mas a nora permanece lá. A agora ex-sogra pode pedir a perda de benefícios da ex-nora,
uma vez que a causa do contrato de comodato ainda não tinha cessado (a causa era para
a família viver, e ainda vivia lá uma família).
28.11.2020
CASA É ARRENDADA
Artigo 1105.º do CC → trata da transmissão da casa arrendada em caso de divórcio.
• Artigo 1068.º do CC → Comunicabilidade do contrato de arrendamento (na
prática, é importante saber quem é o arrendatário).
Nos termos do artigo 1105.º do CC, determina-se que, em caso de divórcio decidido por
acordo dos cônjuges, e incidindo o arrendamento sobre a casa de morada de família, então
os cônjuges podem optar:
• Pela transmissão do arrendamento
Se o arrendamento foi celebrado por um dos cônjuges e eles decidem que fica o outro
como arrendatário.
Há aqui uma conexão com o divórcio por mútuo consentimento, porque a casa de
morada de família, no divórcio por mútuo consentimento administrativo é um dos acordos
completares obrigatórios.
Assim, em caso de divórcio por mútuo consentimento:
- Ou as partes chegam a acordo quanto ao destino da casa de morada de família,
- Ou, se não chegarem a acordo, o processo passa a correr no tribunal, sendo
este quem vai decidir sobre a casa de morada de família.
Se, porém, as partes não chegarem a acordo, decide o tribunal: tribunal tem de decidir
sobre a transmissão ou a concentração de uma posição contratual – o n.º 2 do artigo 1105.º
do CC aponta aqui alguns fatores a ter em conta pelo tribunal: as necessidades de cada
um dos cônjuges, os interesses dos filhos e outros fatores relevante.
Posteriormente, o senhorio é oficiosamente notificado da decisão.
Só se podem aqui ter em conta única e exclusivamente estes dois fatores, pois trata-se de
uma situação de gravidade extrema: trata-se de um proprietário que tem um imóvel, que
é seu é próprio, e em que a lei determina que esse imóvel é dado de arrendamento ex-
cônjuge (imaginamos: pode ser o cônjuge que pediu o divórcio porque já arranjou outro
companheiro que fica na casa, que é própria do outro ex-cônjuge).
● Háquem diga (Dr. Leite de Campos) que esta norma é inconstitucional, por se trata de
uma expropriação por utilidade privada (o proprietário fica sem a coisa que lhe pertencia).
●A Doutora Sandra passinhas não considera que se trate de uma expropriação, uma vez
que não há uma privação da propriedade (o imóvel continua a pertencer ao seu
proprietário, apenas é constituído arrendamento sobre ele), e que o prejuízo que há para
o proprietário do imóvel é que ele, em vez de usar a coisa diretamente, em vez de retirar
utilidades diretas da coisa, ele vai retirar utilidades indiretamente, uma vez que receberá
os frutos do mesmo – a renda.
Assim, A Dr.ª Sandra Passinhas considera que a ofensa aqui é outra – no fundo, há aqui
uma ofensa pessoal, porque a casa é dele e nela vai ficar uma pessoa com quem ele
rompeu os laços.
De qualquer das formas, o artigo 1793.º consagra uma restrição ao direito de propriedade
(artigo 62.º da CRP). Ora, as restrições aos DLGs, por força do artigo 18.º da CRP, só
podem ter lugar quando:
- A restrição só pode ter lugar se visar tutelar um outro direito fundamental ou
interesse constitucionalmente protegido;
- A restrição feita ao DLG tem de ser proporcional ao fim visado.
► Guilherme de Oliveira: considera que esta restrição visa salvaguardar um outro
interesse constitucionalmente protegido: o interesse da família.
► Dr.ª Sandra Passinhas: considera que o ex-cônjuges, após dissolução do património por
divórcio, deixa de ser família (deixam de existir os laços de afinidade, há partilha apenas
dos bens que são comuns ao casal, há perda de benefícios, o direito a alimentos é
residual/mínimo → o próprio legislador quis que houvesse uma verdadeira rutura com o
ex-cônjuge). Assim:
● Quando há filhos – a norma do artigo 1793.º do CC não coloca nenhuma
dificuldade, porque neste caso, sim, há que proteger um interesse superior que
é o da família, e, portanto, a restrição mostra-se justificada.
● Quando não há filhos– ou seja, quando estamos apenas a falar de dois cônjuges,
então já não há aqui nenhum outro direito fundamental ou interesse
constitucionalmente protegido a salvaguardar, pelo que a restrição ao direito de
propriedade não se mostra justificada neste âmbito.
Ora, mesmo que se considere que, mesmo apos o divorcio, o ex-cônjuge continua a
considerar-se família e que, portanto, esta primeira condição imposta às restrições aos
DLGs continua a verificar-se, então a verdade é que ela acaba por cair no domínio do
requisito da proporcionalidade, porque, de acordo com o conceito geral de alimentos
do artigo 2003.º do CC, este englobam o “sustento, a alimentação e o vestuário” → Logo,
se o ex-cônjuge precisa de alimentos, o juiz não tem de lhe dar a casa própria do outro de
arrendamento, pois pode fixar-lhe uma prestação de alimentos superior, para que possa
pagar a renda de um outro imóvel, ficando o proprietário do imóvel com aquele bem que
é seu, respeitando-se o seu direito de propriedade.
N.º 2
Alimentos a ex-cônjuge
Arts. 2015.º e ss. do CC
«Alimentos» - estamos sempre a falar de uma prestação que uma das partes (o credor)
recebe de outra pessoa (o devedor de alimentos).
Artigo 2003.º - noção geral de alimentos → encontra vários desvios na nossa ordem
jurídica.
Os alimentos, por base, partem do equilíbrio entre:
- A necessidade do cônjuge que precisa de alimentos;
- Dos recursos/possibilidades do cônjuge que vai proceder à prestação de
alimentos.
CRÉDITO COMPENSATÓRIO
Artigo 1675.º CC.
Vimos que o dever conjugal de assistência tem duas vertentes:
1. Quando o casal está junto → Obrigação de contribuir para os encargos da
vida familiar.
2. Quando o casal está separado (ainda não houve divórcio, apenas separação
de facto) → obrigação de alimentos ao cônjuge (e não ao ex-cônjuge).
Artigo 1676.º CC
Contribuição para os encargos da vida familiar pode ser feita de duas formas:
• Através da partilha de proventos (rendas, salários, lucros, etc,) afetação de
recursos aos encargos.
• Pelo trabalho despendido na manutenção do lar e na educação dos filhos.
N.º 2
Se um dos cônjuges contribuir consideravelmente mais do que o outro para os
encargos da vida familiar, então, no divórcio, ele pode ter direito a um crédito
compensatório. → Não se trata apenas de contribuir mais, mas contribuir de uma forma
“consideravelmente superior”.
A lei considera que um dos cônjuges contribuiu consideravelmente mais para os encargos
da vida familiar, quando:
- Tenha renunciado de forma excessiva à satisfação dos seus interesses em
favor da vida em comum (designadamente, à sua vida profissional);
- E, com isso, tenha tido prejuízos patrimoniais importantes.
O legislador determinou, aqui, requisitos tão estritos que, a aplicarmos literalmente esta
norma nunca haveria lugar a crédito compensatório.
► Posição da Doutora Sandra Passinhas em relação a esta norma: há aqui uma diferença
entre aquilo que o legislador disse e aquilo que ele quis dizer. Ora, entende que o que o
legislador quis dizer, isto é, aquilo que o crédito compensatório visa é compensar as partes
pelo desequilíbrio agravado a que elas chegam no final da relação, por conta do
casamento.
N.º 3
Estabelece que este crédito apenas é exigível na dissolução do casamento/no momento da
partilha.
➔ A NÃO SER QUE vigore o regime da separação, ou seja:
- Se houver uma comunhão irá haver partilha de bens, sendo que, na
partilha dos bens, determina-se o pagamento deste crédito.
- Já se o regime for de separação de bens, não há partilha e, portanto, este
crédito tem de ser exigível numa ação autónoma para este fim.
RESIDÊNCIA ALTERNADA
No dia 4 de novembro de 2020 foi aprovada a Lei n.º 65/2020 (só entra em vigor em
janeiro de 2021) – veio alterar o código civil, alterando o artigo 1906.º, aditando dois
números.
Mesmo havendo residência alternada, pode haver fixação, pelo tribunal, dos
alimentos, porque muitos progenitores queriam residência alternada para não pagar
alimentos aos filhos. Assim, permite-se que a criança, nas duas casas onde vive, possa tr
um nível de vida semelhante.
Direito à audição da criança – a criança tem o direito a ser ouvido sobre com qual dos
progenitores quer viver (ela é ouvida, mas não é ela que decide).
Para além disso, a nossa ordem jurídica substituiu definitivamente a expressão “poder
paternal”.
Esta substituição terminológica operou porque se considerou que a expressão “poder”
poderia transmitir a ideia de uma certa objetivação da criança, ou que as responsabilidades
parentais se traduzissem numa autoridade.
As responsabilidades parentais duram, à partida, até à maioridade ou até à emancipação
do menor – artigo 1877.º CC.
O n.º 2 acrescenta ainda que os filhos devem obediência aos pais e estes devem, contudo,
de acordo com a maturidade dos filhos, ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares
importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.
Este artigo aplica-se sempre que haja uma única filiação estabelecida, tenha ela sido
estabelecida através de:
- Vínculo biológico
- Adoção
- PMA
Artigo 1906.º do CC
O artigo 1906.º estabelece a distinção entre questão de particular importância e atos da
vida corrente do menor.
Questões de particular importância – quanto a estas, ambos os progenitores decidem
sobre elas, exercem as responsabilidades parentais quanto a estas questões de particular
importância, nos mesmos termos em que o eram na constância do casamento.
Atos da vida corrente – são decididos pelo progenitor com quem a criança reside
habitualmente, ou ao progenitor com quem ele se encontra temporariamente, porém →
este último, ao exercer as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações
educativas mais relevantes, tal como elas são definidas pelo progenitor com quem o
filho reside habitualmente – assim determina imperativamente o artigo 1906.º/3 do CC.
Ou seja, o progenitor com quem o filho menor se encontre temporariamente não pode
contrariar as orientações educativas fundamentais da vida da criança incutidas pelo
progenitor com quem ela reside habitualmente.
O regime do artigo 1906.º/1 é imperativo, tanto que o n.º 2 deste mesmo preceito
determina que só se pode inibir ou retirar o exercício das responsabilidades parentais
quanto a atos da vida corrente a um progenitor através de decisão judicial e nunca por
acordo dos pais. Só o tribunal, através de decisão especialmente fundamentada, pode
determinar que o exercício em conjunto das responsabilidades parentais é contrário aos
interesses da criança.
Delegação do exercício das responsabilidades parentais relativas aos atos da vida corrente
– artigo 1906.º/4 do CC
Artigo 1906.º/6 (agora é o n.º 7) → o progenitor que não exerça, no todo ou na parte, as
responsabilidades parentais tem o direito de ser informado sobre o modo do seu exercício
(designadamente sobre a sua educação e as condições de vida do filho).
Exceção
O ónus da prova impende sobre o progenitor interessado em fazer valer a exceção.
Portanto, aplica-se a 1.ª parte do n.º 2 artigo 1905.º do CC, a não ser que:
▪ O processo de educação do filho ou formação profissional ficar concluído antes
de este completar os 25 anos de idade
▪ Se o processo de educação profissional tiver sido livremente interrompido pelo
filho
▪ Ou, ainda, se o obrigado à prestação de alimentos fizer prova da irrazoabilidade
da exigência de tal prestação (o ónus cabe ao devedor de alimentos).
EM SUMA
Até aos 18 anos o exercício das responsabilidades parentais inclui o dever de sustento e
termina com a maioridade ou emancipação do filho menor.
O dever de sustento dos filhos mantém-se, todavia, enquanto não terminar a sua formação
profissional.
Até aos 25 anos vale a decisão judicial ou o acordo alcançado e homologado na
menoridade quanto à prestação de alimentos.
A partir dos 25 anos o filho já tem de pedir alimento de maior ao progenitor!
- Se ainda estiver no âmbito da sua formação profissional, pede-os nos termos do
artigo 1880.º do CC;
- Se já tiver completado a sua formação profissional, pede nos termos gerais dos
artigos 2003.º e ss. CC.
O artigo 1794.º do CC estabelece, desde logo, uma remissão para as disposições gerais
relativas ao divórcio (contidas entre os artigos 1773.º e 1793.º-A).
Portanto, a separação de pessoas e bens:
- Pode ser por mútuo consentimento
- Se houver acordo quanto aos acordos complementares e eles forem
homologados, então a separação de pessoas e bens é requerida na
conservatória do registo civil e segue a via administrativa.
- Se não houver acordo quanto aos acordos suplementares então será uma
separação de pessoas e bens judicial, segue a via judicial (no tribunal).
- Sem consentimento do outro cônjuge
- Com fundamento na rutura definitiva (ou na separação de facto)
- Na alteração das faculdades mentais
- Na ausência do outro cônjuge por tempo não inferior a um ano
EFEITOS PATRIMONIAIS
Há igualmente partilha de bens nos mesmos termos em que o divórcio.
EFEITOS PESSOAIS
Artigo 1795.º-A CC: A separação de pessoa e bens não dissolve o vínculo conjugal,
mas extingue os deveres de coabitação e assistência, sem prejuízo de direito a
alimentos.
CESSA:
Dever de coabitação e, portanto:
- Comunhão de leito
- Comunhão de mesa
- Comunhão de habitação
Dever de assistência:
- Dever de contribuir para os encargos da vida familiar.
Dever de fidelidade
Porque quem está separado de pessoas e bens pode entrar numa união de facto.
MANTÉM-SE:
Dever de colaboração
Dever de fidelidade
Apesar de a epígrafe ser desta secção se referir a “separação judicial de pessoas e bens”,
o Dr. Guilherme de Oliveira e a Dr.ª Sandra Passinhas, referem-se sempre apenas a
“separação de pessoas e bens”, pois esta separação pode não ser judicial, podendo ser
apenas administrativa.
Artigo 1795.º-B do CC – a separação de pessoas e bens pode terminar através da:
o Reconciliação – artigo 1795.º- C
o Pela Dissolução do casamento (morte ou divórcio – art. 1795.º-D)
UNIÃO DE FACTO
Está regulada na Lei n.º 7/2001, de 11-05 -
Em Portugal, a união de facto é mesmo um “facto”, e não uma união civil registada (como
em alguns países). A nossa lei protege a união de facto enquanto tal, não podendo
inscrever a união de facto no registo civil (não há um estado civil “unido”).
A Lei n.º 7/2001 protege quem vive a União de Facto.
União de facto – é a situação jurídica de duas pessoas que, independentemente do sexo,
vivam em condições análogas às dos cônjuges há mais de dois anos – artigo 1.º/2.
Requisitos que têm de verificar-se para que haja situação análoga à dos cônjuges:
1. Coabitação
a. Comunhão de leito
b. Comunhão de mesa
c. Comunhão de habitação
Vimos já que “comunhão de habitação” significa ter uma residência ou uma sede de
família. E a sede de família, tecnicamente, é a casa de morada da família.
Vimos também que os cônjuges podem, na verdade, optar por viver em casas diferentes,
não se colocando em causa este dever e pressuposto conjugal. Ora, na união de facto há
efetivamente um maior grau de exigência quanto à sede de família, pois é um
fundamento da proteção dos unidos de facto.
2. Unidade
3. Exclusividade
Razões
Hoje em dia, e tendo em conta a forma de viver dos dias de hoje, a maior parte dos jovens
opta pela união de facto como uma forma de preparação para o casamento, ou então há
quem viva em União de Facto porque simplesmente não acreditam no casamento, ou não
acreditam no casamento com aquela pessoa, porque já foi casada uma vez e não pretende
casar outra vez, etc.. Há inúmeras razões que sustentam a opção do casal por este
expediente.
►A lei portuguesa exige uma estabilidade de dois anos para que a união de facto possa
ser protegida.
Artigo 2.º
A lei não atribui os efeitos da união de facto, isto é, são factos impeditivos da atribuição
de direitos ou benefícios:
Neste sentido: Dr. Guilherme de Oliveira considera que a união de facto é uma
relação familiar e não apenas uma relação parafamiliar, afastando-se assim do elenco do
artigo 1576.º do CC.
Dr. Pereira Coelho – considera que, quer o casamento quer a união de facto, baseiam-
se em facto, sendo que a grande diferença é a diferença sucessória.
➢ Dr.ª Sandra Passinhas – considera que a União de Facto é algo diferente do
casamento, devendo ser tutelada enquanto tal. *ler bibliografia neste sentido –
materiais de apoio*
Dissolução da união de facto
Artigo 8.º
A união de facto dissolve-se (n.º 1):
Alínea a) – por morte (com o falecimento de um dos membros).
Alínea b) – por rutura (isto é, por vontade de um dos membros).
Alínea c) – com o casamento de um dos membros
Artigo 8.º/2 – Quando a união de facto se extingue por rutura (n.º 1, al. b)) e o unido
quiser fazer valer algum direito, então ele tem de propor uma ação judicial, pedir para
declarar aquela união de facto, pelo que a prova do artigo 2.º necessita, nestes casos, desta
declaração judicial da existência da união de facto (mas isto é apenas em caso de rutura).
EFEITOS PESSOAIS
► Possibilidade de adotar (artigo 1979.º do CC - esta norma aplica-se à adoção
conjunta). A adoção pode ser:
- Singular, quando é feita por uma pessoa, individualmente, mesmo que seja casada ou
em unida de facto, sendo, para isso, necessário que o outro cônjuge dê consentimento.
- Conjunta, e, para isso, é necessário que aqueles que queiram adotar tenham mais de 25
anos, e é necessário que estejam casadas ou unidas de facto há mais de 4 anos.
EFEITOS PATRIMONIAIS
➔ Aqui não temos regimes de bens, não temos administração imperativa de bens,
não temos responsabilidade por dívidas, etc.
Na nossa ordem jurídica, temos no artigo 405.º do CC (princípio da liberdade contratual),
o princípio à luz do qual podemos aceitar que as partes celebrem contratos de
coabitação, mas o que acontece é que:
1) Estes contratos não podem alterar regras imperativas
2) E também não pode resultar daqui um casamento que não existe.
No entanto, não há nenhuma tradição em Portugal neste sentido, e isto está relacionado
com a especificidade da nossa união de facto – a nossa união de facto não é uma união
civil registada, não é um pacto civil de solidariedade.
Por exemplo: seria ilegal uma norma que dissesse que os dois seriam responsáveis por
qualquer dívida que um deles contraísse.
EM SUMA:
O que nós dizemos sobre os contratos de coabitação, é que são lícitos na nossa ordem
jurídica, dado que a mesma confere tutela aos mesmos.
➔ Assim, apesar de estes pactos e coabitação serem permitidos, a verdade é que teria
de ser vista a sua validade cláusula a cláusula, e talvez por isto não seja uma
tradição em Portugal celebrar pactos de habitação.
→ Alimentos:
No caso de morte, teremos um unido sobrevivo. Este, no âmbito da necessidade, terá
direito a alimentos da herança do falecido (nos termos do artigo 2020.º do CC).
A pergunta que se coloca aqui é se isto era um legado? Na opinião da Doutora Sandra
Passinhas, não há aqui um legado, porque o legado de origem legal, é uma deixa de
um bem determinado e concreto que a lei faz em vez do de cujus. Ora, neste caso, o de
cujus em vida não poderia ter feito esta deixa testamentária, porque o arrendamento não
é transmissível por morte. É um efeito que resulta da lei, não posso deixar em
testamento. A doutora rejeita a natureza de legado legal, porque não há aqui esta
fungibilidade entre a declaração de vontade de cujus e uma determinação legal, o de cujus
não poderia ter feito esta disposição.
O que temos aqui verdadeiramente é uma transmissão de arrendamento que opera por via
legal, por força do artigo 1106º, por remissão do artigo 5º/10 (e não um legado legal).
➢ Qual era a vantagem de qualificar este direito como um legado legal? É que
poderíamos aplicar as regras da indignidade sucessória, ou seja, imagine-se por
exemplo, uma situação em eu o de cujus foi morto pelo seu unido de facto, à luz
do direito das sucessões, essa pessoa é indigna de suceder, está afastada da
sucessão.
Exemplo:
Imaginemos que o senhor A vive em união de facto com a senhora B. o António tem um
filho, que é o Carlos, e é filho só dele. Quando o António morrer, e não houver testamento,
o Carlos vai herdar a casa do António (o filho vai herdar a casa do pai), só que a casa vem
onerada com o direito de uso e habitação pelo menos de 5 anos, e depois disso vem
onerada com o arrendamento – isto é imperativo, ou seja: senhor A nem sequer poderia
ter feito um testamento a dizer “não quero que a B fique na casa” nem que “quero que a
casa vá para o meu filho”.
O unido sobrevivo tem direito de uso exclusivo, pelo menos durante 5 anos ou então de
duração igual à união de facto.
Este mesmo período de 5 anos é um problema, porque imaginemos o
senhor A é pai de Carlos, e tem uma companheira há 2, 3 anos, agora ela
vai ficar lá 5 anos.
Depois arrendamento, e durante este tempo todo, direito de preferência na
alienação da coisa.
Outros efeitos da União de Facto vêm no artigo 3º nas alíneas e), f) e g): prestações por
morte e também das faltas ao trabalho (no caso de morte do unido).
E se a pessoa entrar numa nova união de facto, ou se casar? →O legislador não disse
nada a este respeito.
Doutora Sandra Passinhas entende que tudo o que tenha a ver com a casa de morada
de família, é, em sentido amplo, uma prestação alimentícia – artigo 2003.º do CC, e
por isso, este direito cessa nos termos em que cessa a obrigação de alimentos, nos termos
do artigo 2019.º do CC. Ou seja:
- Cessa se houver um casamento
- Cessa se houver uma nova união de facto,
- Ou então se se tornar indigno pelo seu comportamento moral.
► Não há nenhuma jurisprudência neste sentido.
Quanto às sucessões, o unido de facto pode ser herdeiro, mas apenas herdeiro
testamentário, pois não é herdeiro por força da lei.
Na opinião da Doutora, o direito de uso e habitação é um legado legal (imperativo),
porque é uma disposição por morte, que o unido poderia ter feito e não fez, mas fez o
legislador por ele, imperativamente – disposição de caráter sucessório embora de fonte
legal.
Antes de 2010, os direitos eram mais ou menos estes, mas o de cuius podia fazer
testamento a dizer que não queria que o unido gozasse do direito de uso e habitação.
ADOÇÃO
Está regulada nos artigos 1973º e ss. do CC.
Tem que ser entendida verdadeiramente como um instituto que cria uma relação
familiar, mas esta relação familiar visa a obtenção de um laço similar ao laço da filiação.
O vínculo que deve unir os adotados e os adotantes, não é um vínculo de sangue, é um
vínculo socio-afetivo, é o vínculo do afeto.
A adoção, regulada no Código Civil, regulamentada na Lei nº 143/2015, de 08/09, já foi
entretanto alterada.
Há uma outra Lei muito importante que é a Lei n.º 2/2016, de 29/02, que veio revogar
a Lei do casamento homossexual (Lei nº 9/2010), revogou o seu artigo 3º que dizia que
os casamentos homossexuais produziam os mesmos efeitos que os casamentos
heterossexuais, com exceção das normas relativas à adoção. Isso acabou, desde 2016,
nós podemos ter um casamento homossexual que fundamente uma adoção conjunta.
→ Não temos pais adotivos e pais afetivos, temos pais biológicos ou pais adotivos,
uma coisa ou outra.
A adoção visa, diz o artigo 1974º do CC, realizar o superior interesse da criança.
Sendo decretada quando:
a) Haja reais vantagens para o adotante;
b) Quando se funde em motivos legítimos;
c) Quando não envolva o sacrifício injusto para os outros filhos
d) E quando seja razoável supor que entre o adotante e o adotado se estabelecerá um
vínculo semelhante ao da filiação.
Aspetos importantes nesta norma:
i. Não há um direito a adotar: um casal que não possa ter filhos não tem um direito
de adotar; a adoção não visa arranjar filhos para pais, visa arranjar pais para uma
criança.
A parentalidade adotiva não é igual à parentalidade biológica, é mais exigente.
ii. Tem que se perceber que haja aqui um vínculo semelhante ao da filiação, tal como
prevê o artigo 1979.º do CC → em que temos quem pode adotar. Todos estes
requisitos estão relacionados com o facto de a relação aqui exigida ser de uma
verdadeira filiação (se não, em vez de parecer pai e filho, iria parecer avô e neto).
A adoção visa cumprir o superior interesse da criança e nada mais.
Quem poderá ser adotado?
Artigo 1980.º do CC – Quem pode ser adotado
Podem ser adotados as crianças que tenham sido confiadas ao adotante, mediante
confiança administrativa, ou medida de promoção e proteção da confiança com vista
a futura adoção – estas confianças administrativas ou judiciais estão reguladas na Lei
nº 147/99, de 01/09, que é a Lei da Proteção de crianças e jovens em perigo, é aqui
que encontramos as medidas.
Pode haver uma adoção do filho de cônjuge do adotante, esta é uma adoção especial
e que irá suportar requisitos especiais.
Hoje, em Portugal, desde a Lei 143/2015, só temos uma adoção, porque até 2015,
tínhamos duas modalidades da adoção: a adoção plena e a adoção restrita. → O nosso
legislador acabou com a adoção restrita, em 2015, e ficámos só com a adoção plena.
De facto, esta (adoção plena), tem como contraponto o apadrinhamento civil.
A Doutora Sandra Passinhas considera que esta é uma norma muito perigosa, uma
vez que 16 anos é uma idade em que há ainda pouca maturidade para se procurar a família
biológica, pelo menos os 18 anos seria a idade mais adequada.