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Aulas Teóricas Direito da Família e dos

Menores
Dr.ª Sandra Passinhas

Manual de Direito da Família, 2020 – Prof. Guilherme Oliveira


Art. 1576.º do CC:
Casamento, parentesco, afinidade e adoção → delimitação eventualmente taxativa da
lei sobre as relações de família. (este é um elenco aparentemente fechado).
Este preceito é pouco rigoroso, na medida em que confunde fontes das relações
familiares (casamento e adoção) com as próprias relações familiares (parentesco e
afinidade).

Casamento e Adoção → Dependem de atos jurídicos.


Parentesco e Afinidade → Não dependem de atos de atos jurídicos para se constituírem.

No entanto desde 1966 a realidade alterou-se bastante, sendo que, a União de Facto, por
exemplo, ganhou nos dias de hoje uma relevância que não existia.
Porém o legislador, com a Lei 7/2001 veio qualificar a união de facto como uma figura
familiar, mas não a qualificou, ainda assim, como uma fonte de relações familiares.
O legislador não quis enquadrar a união de facto na figura de relação familiar, mas
como uma relação parafamiliar → são conexas com relações de família, estão equiparadas a elas
para determinados efeitos ou são condição de que dependem, em certos casos, os efeitos que a lei atribui à
relação conjugal e às relações de parentesco, afinidade e adoção.

Em abono da opinião de que a união de facto não é uma relação de família para a
generalidade dos efeitos pode alegar -se que o art. 1576.º CCiv apenas considera relações
de família as que resultam das “fontes” que estão aí mencionadas.

Em abono da resposta positiva, pode alegar -se que o art. 9.º da Carta dos direitos
fundamentais da união europeia usou a expressão “direito de constituir família” com o
sentido propositado de abranger novas formas de constituir família que emergiam nos
estados membros.

❖ A Dr.ª Sandra passinhas concorda que não se trata de uma verdadeira relação
familiar, mas antes de uma relação parafamiliar.

❖ Já o Dr. Guilherme Oliveira, nas lições, já tem uma posição mais recetiva
quanto à aceitação da união de facto enquanto relação familiar.
Dr.ª Sandra Passinhas critica a formulação do art. 1576.º, pois a adoção só é decretada
por sentença judicial, sendo depois fonte do surgimento de uma relação familiar.
CASAMENTO

É a fonte das relações familiares matrimoniais, que liga os cônjuges entre si.
Em Portugal, há duas modalidades de casamento – art. 1587.º CC:
Casamento Civil – art. 1615.º e ss. CC
Quanto à sua celebração pode ser celebrado de 2 formas:
• na Conservatória (celebração tradicional)

• Outro local - onde os nubentes quiserem, desde que a conservatória aceite.

CASAMENTO CIVIL CELEBRADO SOB FORMA RELIGIOSA


Desde de 2001, com a lei da liberdade religiosa consagrou-se em PT o casamento civil
celebrado sob forma religiosa. É um casamento civil, para começar, só que celebrado de
forma semelhante às religiões praticadas em Portugal. Mas quanto aos requisitos e quanto
aos efeitos é um casamento civil.

Casamento Católico
Só quem tiver capacidade para casar civilmente pode celebrar casamento católico. Mesmo
quem quer casar catolicamente tem de ir ao registo civil buscar uma declaração de que
tem capacidade para realizar casamento civil, servindo assim de autorização para se poder
casar catolicamente. A definição está no código canónico.
Há pessoas que podem casar civilmente, mas não podem casar catolicamente (ex:
divorciados, não batizados, homossexuais, etc)
Estes são institutos diferentes, e não meras formas de celebração diferentes.

PARENTESCO

Há parentesco quando há uma relação de consanguinidade: descendentes ou progenitor


comum.
Cômputo dos graus – art. 1581.º CC
Quer na linha reta, quer na linha colateral, conta-se toda a gente EXCEPTO o progenitor.

• Os nossos pais são nossos parentes em 1.º grau, na linha reta.

• Os nossos irmãos são parentes de 2.º grau, na linha colateral.

• Tios – parentes no 3.º grau da linha colateral.


• Primos – parentes da linha colateral, no 4.º grau.
AFINIDADE

É a relação que existe entre o cônjuge e os parentes do outro conjuge.


A senhora A – sogra de Luísa – é afim ascendente, no 1.º grau, na linha reta.
D, filho de B (com quem Luisa se casou) – é afim de Luísa, na linha reta, no 1.º grau, na
sentido descendente.
C é cunhado de Luisa – afim no 2.º grau, na linha colateral.
O filho de E é sobrinho de B – afins de A n.º 3 grau, na linha colateral.
Afinidade não gera afinidade!
A afinidade liga um dos conjuges aos parentes do outro.
Duas formas de extinção do casamento:
- Morte → a afinidade não cessa.
- Divórcio → a afinidade cessa.
A afinidade cessa com a dissolução do casamento por divórcio, mas já não por
dissolução do casamento por morte.

Até 2008 a afinidade não se dissolvia com o divórcio. Explicação: Antigamente as


mulheres casavam muito cedo, entrando na vida dos maridos muito cedo, e quando havia
um divórcio já a pessoa fazia parte da familia há muitos muitos anos, sendo que,
consequentemente, estabeleciam-se relações de afinidade muito estreitas, daí não se
dissolverem as relações de afinidade com o divórcio.

ADOÇÃO

Na nossa ordem jurídica – arts. 1973.º e ss. do CC


Até à sentença judicial não existe adoção.
Lei 147/99 → Lei das Crianças e Jovens em Perigo
Lei 2/2016, 29 de Fev. → veio acabar com a proibição da adoção por homossexuais
Art. 1586.º → noção de adoção
O que se pretende com a adoção não é um mero instituto de cuidado, mas antes para dar
a possibilidade de um futuro ao adotado. O legislador estabelece alguns limites
(nomeadamente quanto às idades para adotar) neste âmbito, de forma a que se estabeleça
sempre uma adoção o mais semelhante possivel a uma relação familiar biológica, ao
vínculo familiar biológico.
O que está em causa é SÓ o INTERESSE DA CRIANÇA, e nunca de quem vai adotar.
A parentalidade adotiva é muito mais difícil do que a parentalidade biológica → por estes
motivos, os requisitos para a adoção são bastante restritos/apertados.

21, Out. 2020


Princípios Constitucionais
Características do direito da família
Características do direito familiar

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE DIREITO DA FAMÍLIA


Art. 36.º CRP – tem uma localização muito importante, porque se encontra integrado
dentro da categoria dos DLGs.

1. Direito de celebrar casamento em condições de igualdade


O art. 36.º também consagra uma garantia institucional, ou seja, o casamento como
instituição surge aqui como garantia institucional.
Mas não deve entender-se no sentido literal.
Esta garantia constitucional traduz-se no facto de ninguém poder ser impedido de casar,
de celebrar casamento, a não ser por razões socialmente relevantes, que correspondam a
interesses fundamentais e de ordem pública.
PERGUNTA QUE SAI MUITO – O que é que significa para cada um de nós este direito
à celebração do casamento?
Significa que eu (e todos) não posso ser impedida de casar, se não por razões socialmente
relevantes e por razões de ordem pública.
Regra para casarmos – regra da capacidade (art. 1596.º CC) → Quem é que tem
capacidade? Art. 1600.º CC
Só não podemos casar se tivermos um impedimento matrimonial.
Incapacidade matrimonial = impedimento ao casamento
Ora, o art. 36.º/1 da CRP, quando diz que todos têm direito a contrair casamento, está no
fundo a esclarece que os impedimentos ao casamento só podem ser estabelecidos se
disserem respeito a valores fundamentais da sociedade.
Impedimentos Dirimentes – arts. 1601.º e 1602
Impedimentos Impedientes – art. 1604.º
Os impedimentos dirimentes levam à → invalidade do casamento (na nossa ordem
jurídica à anulabilidade) – pois a nossa ordem jurídica consagra um princípio de favor ao
casamento.
Impedimentos dirimentes absolutos – impedem a celebração do casamento com
qualquer pessoa.
Art. 1601.º/c) -> é um impedimento dirimente absoluto o «casamento anterior não
dissolvido (católico ou civil), ainda que o respetivo assento não tenha sido lavrado no
registo civil».
Quanto a esta última parte, como em quase todo o direito português, o registo tem efeitos
MERAMENTE DECLARATIVOS, ou seja, é apenas condição de eficácia, mas nada tem
a ver com a validade do ato.

Impedimentos dirimentes relativos – impedem a celebração do casamento com


determinada pessoa.
- Parentesco na linha reta – ascendentes e descendentes (pais e filhos, avós e netos, etc).
- Relação anterior de responsabilidades parentais – tem sobre tudo a ver com as situações
em que há um padrasto ou madrasta que exerceram, anteriormente, responsabilidades
parentais. → Isto porquê? Porque é muito provável que aquele laço que gera o exercício
das responsabilidades parentais venha a criar vínculos afetivos parecidos com os da
filiação.
- parentesco no segundo grau da linha colateral – irmãos
- afinidade na linha reta – sogros, enteados, madrastas e padrastos (quando é que quero
casar e ainda tenho afins? Quando sou viúva).
- condenação anterior de um dos nubentes, como autor ou cúmplice, por homicídio (caso
da Rosa Grilo -> rosa grilo e o amante, Joaquim, já não poderão casar → têm um
impedimento dirimente relativo)
A doutrina constitucionalista, como é o caso de Rui Medeiros e Jorge Miranda, criticam
esta norma, alegando ser uma sanção desproporcionada por ser limitada no tempo.
Os impedimentos impedientes → não geram a anulabilidade do casamento, mas trazem
consequências patrimoniais aos cônjuges, ou pelo menos a um deles (art. 1631.º/al. a).
Os impedimentos impedientes também podem distinguir-se entre absolutos e relativos,
porém o legislador juntou todos no art. 1604.º do CC.
Estes também impedem o casamento – se o conservador se aperceber que existe um
pedimento impediente impede o casamento, e o processo morre ali. São impedimentos
jurídicos, mas sobretudo impedimentos práticos!
- Falta de autorização dos pais ou do tutor
Antes dos 16 -> incapacidade matrimonial -> impedimento dirimente absoluto
Entre os 16 e os 18 -> impedimento impediente (caso não haja autorização dos pais)
Os impedimentos impedientes têm uma particularidade – eles são suscetíveis de dispensa,
podem ser dispensados (art. 1609.º) → permite-se que o conservador ou até o Tribunal
possam dispensar o consentimento dos pais.
- Parentesco no 3.º gau da linha colateral – tios e sobrinhos (também é suscetível de
dispensa).
- Pronúncia do nubente pelo crime de homicídio doloso
No nosso processo penal, há a acusação pelo MP, e depois há uma fazer facultativa –
instrução – que é a que vai determinar se é ou não válida a acusação. Nesta fase pode
haver: despacho de pronuncia, em que se confirma a acusação, ou um despacho de não
pronuncia, em que não se confirma a acusação e arquiva-se o processo.
Ora, o que acontece é que, se houver uma acusação pelo MP e já houver uma pronúncia
a confirmar a acusação, há indícios fortes da pratica daquele crime, e em que dificilmente
o acusado será absolvido. Para além disso, pode acontecer a que a condenação demore
muito a acontecer, havendo hipóteses de se celebrar o casamento entretanto, pelo que a
pronuncia em si já constitui um impedimento impediente da celebração do casamento.
Sanções Especiais:
Art. 1649.º - impedimentos dirimentes
Art. 1650.º - impedimentos impedientes
Normalmente, o que acontece é que os cônjuges perdem a possibilidade de administrar
os bens do outro, de obter alguma vantagem patrimonial resultante do casamento com o
outro.
Quanto ao prazo internupcial – como vimos, só se pode impedir de casar se houver um
interesse fundamental de maior a proteger. Assim, a AR considerou que este “luto” entre
casamentos já não é, nos dias de hoje, um interesse social. → Foi revogado pela Lei
85/2019, de 03-09.

2. Direito de Constituir família


3. Competência da lei civil para regular os requisitos do casamento e da sua
dissolução independentemente da sua forma de celebração
Art. 1587.º CC – Casamento pode ser: Civil ou Católico
Em Portugal, um casamento civil e um casamento católico produzem exatamente os
mesmos efeitos. MAS…
art. 1625.º CC – os conhecimentos respeitantes à nulidade do casamento católico (…) é
reservado aos tribunais e às repartições eclesiásticas».
«nulidade» → requisitos para a celebração do casamento católico→ capacidade e
consentimento
No casamento católico, a regulação pertence ao direito canónico, o que parece estar em
desconformidade com a Constituição, que remete para a lei civil a competência de regular
os requisitos do casamento e da sua dissolução.
A doutrina considera que efetivamente o nosso legislador, quando celebrou a Concordata
com a Santa Sé e o protocolo adicional em 1997, já tinha sido alterada a Constituição em
1976, isto é, quando o legislador celebrou aquele protocolo adicional já se sabia do art.
1625.º do CC e ninguém “mexeu” ou regulou este aspeto, pelo que a doutrina considera
que aquilo que se quis foi:
- o Estado português regula os requisitos e os efeitos do casamento civil e de todos
os casamentos, com exceção daquilo que está obrigado a respeitar por força das
convenções internacionais (A Concordata com a Santa Sé é uma convenção
internacional que vigora na nossa ordem jurídica por força da constituição).
A doutrina considera, portanto, que não se quis criar aqui uma situação contra a
constituição.
Porém, em 2004 foi celebrada a nova Concordata com a Santa Sé, sendo reafirmada esta
possibilidade de regulação daqueles aspetos do casamento católico pertencer ao código
canónico.
Em 2009, há uma alteração ao art. 1626.º que trata dos efeitos das decisões canónicas
(declaram nulo ou dispensam). Ora, ao contrário do que acontecia antes, em que elas
vigoravam diretamente na nossa ordem jurídica, com esta alteração em 2009, para essas
decisões valerem na nossa ordem jurídica, passam a ser sujeitas a um processo de revisão
(tal como as outras sentenças estrangeiras).
Apesar deste princípio estar consagrado em termos aparentemente limitativos, o facto de
a lei ordinária abrir competência aos órgãos eclesiásticos, quer a validade do casamento
quanto aos requisitos (capacidade e consentimentos), quer quanto à extinção por dispensa
de casamento rato não consumado, não representa nenhuma contrariedade quanto à
Constituição.
**“dispensa do casamento rato e não consumado” – rato tem a ver com a
ratificação/consentimento
O casamento católico, quando termina a celebração, é um casamento validamente
celebrado, mas não é estável, uma vez que só se torna estável com a consumação, isto é,
é necessário que haja relações sexuais completas. Assim, se não houver consumação do
casamento, ele pode ser objeto de dispensa pelo papa (dispensa pontifícia) → forma de
extinção do casamento, que é típica e exclusiva do casamento católico. **

4. Direito à identidade pessoal


5. Direito ao livre desenvolvimento da personalidade
6. Direito dos cônjuges a um regime igualitário
7. Direito a um regime igualitário entre os filhos (dentro e fora do casamento)
O que é um filho nascido fora do casamento? Pode ser:
• Numa união de facto
• Entre pessoas que não vivem juntas (namorados, relação ocasional ou
extraconjugal)
É proibida a discriminação dos filhos nascidos fora do casamento.
Consagra-se uma proibição da discriminação em sentido formal – não podem ser
utilizadas expressões/designações discriminatórias (filho “bastardo”, “filho ilegítimo”,
etc), ou outras que não e limitem a mencionar o puro e mero facto do nascimento ter
ocorrido fora do casamento dos progenitores.
E ainda uma proibição da discriminação em sentido material – quando se diz que os
«filhos nascidos fora do casamento não podem, por esse motivo, ser objeto de qualquer
discriminação».
De acordo com dados estatísticos, em Portugal, temos mais paternidades a serem
estabelecidas por perfilhação do que por presunção da paternidade.
As relações de filiação são sempre apreciadas unilateralmente – em relação a quem é o
pai (porque, em regra, sabe-se quem é a mãe, não se sabe é quem é o pai).
Quando o pai morre, os filhos do mesmo que tenham nascido fora do casamento são
tratados, em termos sucessórios, exatamente do mesmo modo que os restantes. Os filhos
têm todos um tratamento igualitário.
O art. 1883.º -> estabelece uma diferenciação, porém não se configura como uma
discriminação.
8. Direito de pedir divórcio em qualquer casamento
Os casamentos civil e católico produzem todos os mesmos efeitos, mas quanto à fase de
dissolução:
Casamento civil e católico – dissolvem-se ambos por divórcio e por morte (art. 1688.º
CC).
Art. 1671.º CC- efeitos do casamento – diz-nos que o casamento se baseia na igualdade
de direito e deveres dos cônjuges.

9. Princípio da atribuição aos pais do direito-dever de dirigir a educação dos


filhos
Este princípio aborda a questão das RESPONSABILIDADES PARENTAIS
Uma vez estabelecida a maternidade ou a paternidade, produzem-se certos efeitos.
art. 1874.º e ss. - «Efeitos da filiação»
surgimento das responsabilidades parentais – esta expressão foi introduzida em 2008, em
que o legislador veio, desde logo, alterar em geral a expressão “poder paternal2 para
responsabilidades parentais.
Hoje em dia, em Portugal, não existe o “poder paternal” → antigamente, era sobre o pai
que impendia o poder-dever (poder funcional) da educação dos filhos, e a própria
expressão “paternal” parecia atribuir esse poder-dever àa figura do “pai”. Hoje já não é
assim.
Para além disso, o poder paternal era um “poder-dever”, um poder funcional, porém o
legislador quis vir dar mais enfase ao dever enquanto pais, do que ao poder em si, então
introduzir a expressão “Responsabilidades” – o que se quis acentuar foi a ideia de
responsabilidade dos pais em relação aos filhos.
As responsabilidades parentais são responsabilidades duram até à maioridade – cessam
com a maioridade.
Art. 1877.º e ss → Responsabilidades Parentais

Porém, se filho ainda não tiver completado a sua formação profissional no momento em
que atinge a maioridade, então mantém-se a obrigação de alimentos (art. 1880.º CC).
Art. 1905.º CC –
O processo de regulação das responsabilidades parentais não se encerra, não transita em
julgado até ao dia da maioridade.
No dia em que o filho faz 18 anos – encerra-se o processo. Ora, se o jovem nesse momento
ainda não tiver concluído os estudos e o pai deixar de lhe pagar os alimentos, como filho
tem direito a eles por força do art. 1880.º, então o filho teria de propor uma ação judicial
contra o pai. → isto é uma situação indesejável:
1.º porque temos um jovem a interpor uma ação contra o pai, com o qual mantém uma
relação familiar frágil (se assim não fosse, o pai não deixaria de pagar alimentos ao filho).
2.º o percurso normal dos jovens hoje em dia é o de prosseguir estudos depois do
secundário.
Posto isto, o legislador, em 2015, veio estender a eficácia da sentença ou acordo → essa
sentença ou acordo, nestes casos, não cessa aos 18 anos (quando atinge a maioridade),
mas sim aos 25 anos.
Ora, neste caso, se o pai entender que há razões suficientemente fundadas para não pagar
os alimentos ao filho (porque o filho inscreve-se todos os anos no 1.º ano da faculdade e
nunca faz as cadeiras, porque o filho trabalha ao mesmo tempo que estuda e consegue
pagar os estudos sozinho, etc.), tem de ser o próprio pai a ter a iniciativa processual para
requerer a cessação da obrigação de alimentos.
Regra – enquanto não terminar a escolaridade

Quid Juris se a pessoa tiver + de 25 anos (40 anos, por exemplo) divorciou-se, descobriu
que tinha uma doença mental e que não podia trabalhar. → pode pedir alimentos aos
progenitores. - Art. 2009.º do CC lista que nos diz as pessoas obrigadas a alimentos.

10. Direito-Dever dos pais de assegurarem a manutenção dos filhos


1º dever -> dever parental perante o filho
2.º dever -> Só depois vem o dever do Estado a certas garantias e prestações
11. Direito dos pais a terem os filhos consigo
Caso Liliana Gaspar – caso em que se percebe a intervenção que o Estado teve naquela
familia.
A separação só é efetuada quando a situação familiar já é muito muito grave.
A REGRA é a da inseparabilidade, e a atuação do Estado é sempre no sentido de
promover o convívio entre os filhos e os pais (a separação entre estes é de ultima ratio) –
coisa que não sucede, por exemplo, em Inglaterra.
12. Proteção da adoção
---//---
*os seguintes já não estão dentro da categoria dos DLGs pelo que já não gozam da força
jurídica conferida pelo art. 18.º da CRP, revestindo um caráter programático
13. Proteção da família
Art. 67.º CRP
A família está funcionalizada à realização dos interesses pessoais de cada um dos seus
membros – a família tem de nos proporcionar condições de autorrealização pessoal e de
satisfação pessoal, que não podem ser sacrificadas nunca em função da família como um
todo, como uma instituição.
Garantia institucional da família.
14. Proteção da maternidade e paternidade (proteção da filiação)
Art. 68.º CRP
Quanto ao estabelecimento da maternidade e da paternidade – aula prática
15. Direito da infância à proteção da sociedade e do Estado
Art. 69.º CRP
Mais uma garantia social
Direito a prestações por parte do estado – mas não se trata de direitos subjetivos (os
direitos subjetivos são os que estão consagrados no art. 36º CRP).

Caracteres do Direito da Família


1. Grande parte das normas do direito da família são imperativas.
As formas de casamento, assim como as formas de estabelecimento da filiação, entre
outras estão estabelecidas na lei, estão tipificadas na lei.
2. Outra característica típica do direito da família é a coexistência, na ordem jurídica
portuguesa, do direito estadual e do direito canónico quanto à disciplina do
direito matrimonial.

3. E ainda a afetação de certas questões de direito da família a tribunais de


competência especializada.
Que são os tribunais da família e menores ou os juízos de família e menores → esta
questão está hoje a ser muito debatida, porque estamos a querer deslocar a questão das
responsabilidades parentais para os tribunais criminais:
Ora, nem os tribunais criminais têm competência ou qualificações para resolver litígios
de família (a família é uma realidade muito complexa)…

Características dos direitos familiares pessoais


1. Fragilidade de garantia dos direitos familiares pessoais
Os direitos da família dão-nos titularidades ativas (p.ex.: os filhos têm direitos
relativamente aos progenitores). Mas o que acontece quando um membro da família não
cumpre com os seus deveres para com os titulares ativos correlativos?
Art. 1792.º CC → responsabilidade civil em sede de divórcio – o cônjuge lesado tem
o direito de pedir a reparação dos danos causados pelo outro cônjuge, nos termos gerais
da responsabilidade civil e nos tribunais comuns → isto significa que o legislador já
admite que facto de não haver garantia enquanto cônjuge, não significa que não haja
garantia enquanto lesado.
Apesar de não se tratar de uma responsabilidade civil entre cônjuges, é uma
responsabilidade civil entre lesante e lesado.
Encontramos aqui um desvio relativamente ao ponto de partida, pois o ponto de partida
era no sentido de os cônjuges não poderem exercer pretensões em relação ao outro (daí a
fragilidade da garantia), e hoje já temos esta garantia entre lesante e lesado.
O ponto de partida é a não garantia. Evolução no sentido de o legislador se intrometer no
casamento para assegurar a reparação de danos.
Porém, o nosso legislador é muito vago, porque, por exemplo, se calhar algumas
infidelidades justificarão uma indemnização – cabe aos Tribunais, em cada caso concreto,
verificar se foi violado um direito de personalidade.
2. Caráter relativo das relações familiares. Exceções
Art. 496.º do CC («Danos não patrimoniais») – trata da indemnização por danos não
patrimoniais
Nos n.ºs 2,3 e 4 → exceção: os familiares podem ter direito a uma indemnização própria,
por danos não patrimoniais, causados pela morte de um familiar. → esta é uma situação
em que a nossa ordem jurídica protege a família, naõ em termos relativos, mas em termos
absolutos.
Art. 495.º CC

3. Tipicidade dos direitos familiares pessoais


Relações familiares estão tipicamente definidas na lei, não podendo estas ser alteradas
pelos particulares.

28, Out. 2020

CASAMENTO
O noivado, juridicamente, é uma promessa de casamento – art. 1591.º CC
Ora, esta promessa de casamento pode terminar num casamento ou pode não vir a ser
cumprida: ou porque algum dos nubentes se arrependeu ou porque algum deles morreu.
Por um lado, temos um negócio que produz efeitos jurídicos, a promessa de celebrar um
contrato. Por outro lado, temos a liberdade de não cumprir e não manter até ao fim essa
vontade de celebrar casamento.
RESTITUIÇÕES
Não sendo cumprida a promessa de casamento, por algum dos motivos supracitados:
1- Art. 1593.º CC «Restituições no caso de morte» → o nubente sobrevivo pode
ficar com os bens que eram do nubente falecido, mas, nesse caso, perde o direito
de exigir os bens que, por sua parte, lhe tenha feito.
2- Art. 1592.º CC «Restituições, nos casos de incapacidade e de retração» → tem
de se restituir aquilo que se recebeu do outro ou de terceiro que lhe tenham sido
feitas na virtude do casamento ou na expectativa deste. Ex.: anel de noivado
oferecido pelo noivo; vestido de casamento oferecido pela mãe do noivo, etc.
INDEMNIZAÇÕES
Indemnizar – tornar indemne, isto é, sem dano.
Art. 1594.º - Indemnizações que aqui estão previstas:
- Despesas feitas na expectativa/previsão do casamento
- Obrigações contraídas na previsão do casamento
Ex.: Vestido ou fato de noivado, algum sinal que tenham dado à quinta/local onde iria
ocorrer o casamento.
Uma das questões mais complexas que surge neste âmbito é saber, exatamente, o que é
que significa a primeira parte do n.º1 do art. 1594.º: “se algum dos contraente romper a
promessa sem justo motivo”.
O que é um justo motivo? Neste artigo, a referência a justo motivo serva apenas para
efeito de uma “justa repartição das despesas”. O justo motivo tem aqui uma função
quase “punitiva”/sancionatória, pelo não cumprimento daquilo a que se obrigou, pelo que
se a causa do inadimplemento não for forte o suficiente, nem justificar à luz das
circunstancias concretas de cada caso, a parte que romper a promessa sem esse justo
motivo terá de pagar as despesas já contraídas na expectativa do casamento.
Assim, o “justo motivo” consistirá sempre num comportamento culposo da outra parte,
que o fará querer romper com a sua promessa de comportamento (traição, quebra da
confiança drástica, etc.)
Em termos de escolha, o noivo(a) pode sempre escolher casar ou não casar, e é aí que está
protegida a sua liberdade de escolha. Ora, a partir do momento em que decide casar e faz
uma promessa de casamento, já está fora do âmbito da tutela da sua liberdade de escolha,
uma vez que a escolha já foi feita. Daí para a frente já o promitente que rompe com a sua
promessa sem justo motivo é já considerado “inadimplente”, porque uma das partes não
está aqui a cumprir com aquilo que se obrigou – casar.

SISTEMA MATRIMONIAL PORTUGUÊS

Casamento Civil
Casamento Católico

CASAMENTO CIVIL
O casamento, enquanto ato (=celebração do casamento), tem 3 momentos:
1. Momento das formalidades preliminares
2. Momento da celebração do casamento
3. Momento do registo do casamento

FORMALIDADES PRELIMINARES

Ida dos dois nubentes à conservatória (ou então pode ir só um, desde que com procuração)
→ para fazer uma declaração para casamento, ou seja, vão dizer ao Estado português
que querem constituir família (trata-se de uma verdadeira mudança do estado civil).
Esta é uma declaração verbal/oral → pelo que a conservatória (o seu funcionário) recebe
a declaração verbal, dá algumas explicações e depois inicia o processo para casamento.
Processo para casamento → Neste processo, o conservador vai executar/exercer
diligências: vai verificar se as partes do casal podem casar (capacidade matrimonial →
impedimentos absolutos) e se podem, de facto, casar uma com a outra (impedimentos
relativos).
Autorização para casa: ao executar todas as diligências necessárias, se o funcionário da
conservatória não encontrar nenhuma incapacidade, nenhum impedimento ao casamento
→ vai autorizar o casamento, podendo ter de, em algumas situações, proferir um despacho
de autorização.
Estas formalidades preliminares devem ser realizadas 6 meses antes da celebração
casamento.
O casamento civil não é um processo demorado, e pode ser realizado em qualquer
conservatória do país.

CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

Art. 153.º CRegCivil


O casamento civil pode ser celebrado basicamente em qualquer sítio que as partes
queriam, e onde o conservador possa ir (aliás é um dever de ofício do conservador ir
celebrar o casamento onde os noivos querem): pode ser celebrado na própria
conservatória, numa quinta, na praia, num programa de televisão, etc. (isto, desde que
haja um conservador que se disponibilize a ir celebrar o casamento em qualquer desses
sítios).

REGISTO DO CASAMENTO

No âmbito do casamento civil, é também o conservador que regista o casamento. Ora, p


casamento civil pode ser registado de duas formas distintas:
Por Inscrição → Quando a entidade que regista é aquela que praticou o ato
(conservador que celebrou o casamento). Posteriormente à inscrição do casamento
no registo civil, depois o registo é averbado ao assento de nascimento.
Efeitos do registo: meramente declarativos. O registo é uma condição de eficácia perante
terceiros.
Por Transcrição → isto é no casamento civil sob forma religiosa (ver abaixo).

Casamento Civil sob forma religiosa


Lei da Liberdade Religiosa (art. 19.º)
Este é um casamento civil, mas é um casamento em que o Estado português concede a
religiões “radicadas em Portugal” a possibilidade que a celebração seja feita, não por um
conservador do registo civil, mas que seja feita por um ministro de culto dessa religião.
Nestes casos, o ministro de culto está a substituir a um oficial do Estado → pelo que está
sujeito a uma série de requisitos (ter nacionalidade portuguesa, ou residência em
portuguesa, tem que ser alguém que comprovadamente tenha competência/autoridade
para celebrar casamentos no seio da religião em causa).

FORMALIDADE PRELIMINARES

Diferenças relativamente ao casamento civil (sem ser sob forma religiosa):


Além da declaração para casamento é também necessário indiciar quem será o ministro
de culto (para que possa haver um controlo por parte do conservador).
Diligências a efetuar pelo conservador – aqui o conservador terá de se certificar que os
nubentes conhecem alguns preceitos fundamentais do nosso código civil. Assim, o
conservador tem de assegurar que os nubentes saibam:
Art. 1577.º CC → noção de casamento (com maior acentuação para o facto de se
tratar de uma “plena comunhão de visa”, isto é, de ser um casamento monogâmico,
no qual se proíbe a bigamia)
Art. 1600.º → Impedimentos
Art. 1671.º → Igualdade dos cônjuges
O conservador terá, portanto, de assegurar que as pessoas que vão celebrar o casamento
civil sob forma religiosa, conhecem os caracteres nucleares do casamento civil português.
Feito isto, vai autorizar o casamento → como não será ele a celebrar o casamento → tem
de emitir um certificado de autorização que vai para o ministro de culto.
Posteriormente, aquelas pessoas terão 6 meses para celebrar o casamento.
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

Ministro de culto – vai ficar com uma cópia do assento de casamento, mas vai também
enviar um assento de casamento para o registo civil.

REGISTO DO CASAMENTO

No casamento civil normal, o registo é feito, como vimos supra, por inscrição.
Aqui, – casamento civil sob forma religiosa – o registo é feito por transcrição. Ou seja,
o conservador vai indicar quem foi o ministro de culto que celebrou o casamento a A e a
B, no dia x, no local y. – Art. 52.º CRCivil + art. 187.º - A e C do CReg.C

O conservador deve fazer a transcrição no prazo de 2 dias após a celebração.

CASAMENTO CATÓLICO
Este é um instituto diferente do casamento civil (não se podem confundir).
O casamento católico é simultaneamente regulado pela lei civil e pela lei canónica.

FORMALIDADE PRELIMINARES

Na prática, funciona mais ou menos ou quase da mesma maneira que o casamento civil,
porque diz-nos desde logo, o art. 1596.º que só pode celebrar casamento católico quem
tiver capacidade matrimonial exigida na lei civil, ou seja, só pode celebrar casamento
católico quem tiver autorização do Estado para tal.
Assim, as formalidades preliminares do casamento civil também têm lugar no casamento
católico.
Por seu turno, também sabemos que Igreja católica exige requisitos que o Estado
português não exige:
- Não haver um divórcio no histórico de nenhum deles
- Têm de ser ambos batizados
- Tem de ser um casal heterossexual
- Têm de ter convicção religiosa e querer educar os filhos na religião católica.

Processo pré-matrimonial católico = paralelo ao do casamento civil

CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
Celebra-se de acordo com o código do direito canónico.

REGISTO DO CASAMENTO

Também ocorre por transcrição: O padre x, no dia x e no local x realizou o casamento a


A e a B.

Como se caracteriza o nosso sistema matrimonial? Caracteriza-se pela existência de dois


casamentos: o casamento civil e o casamento católico.

Casamento católico - pode ter uma celebração tradicional ou uma celebração sob forma
religiosa.
Em termos de efeitos, ambos os casamentos valem exatamente o mesmo.
Quando falamos que o casamento civil e católico são institutos diferentes, estamos a
referir-nos à constituição do casamento, e não quanto aos seus efeitos: os requisitos da
capacidade e do consentimento são diferentes consoante estejamos a falar de um
casamento civil ou de um casamento católico. Sendo um casamento validamente
celebrado, os efeitos serão todos os mesmos (até porque o divórcio é possível quer para
o casamento civil quer para o católico).
Outra diferença:

• Quem casa catolicamente primeiro, não pode depois casar civilmente (porque já
é casado).
• O inverso já não verdadeiro, ou seja, quem casa civilmente primeiro pode depois
casar catolicamente, porque o casamento católico dá algo aos católicos que o
casamento civil não dá – o casamento católico é um sacramento. Assim quem
casa civilmente primeiro, pode depois casar catolicamente para ir buscar à religião
católica o sacramento.
Efeitos:
Art. 1588.º → efeitos do casamento católico – aplicam-se os mesmos efeitos que ao
casamento civil
Art. 1618.º CC → aceitação dos efeitos do casamento – norma imperativa
Art. 1577.º CC: Efeitos pessoais + Efeitos patrimoniais
Nesta cadeira apenas vamos estudar os efeitos pessoais.

Quando falamos no “estado de casado”, o casamento tem duas características: unidade +


perpetuidade
UNIDADE – o facto de o casamento ser monogâmico, isto é, só podermos estar casados
com uma pessoa.
PERPETUIDADE – algo que tem vindo a mudar (a maioria dos casamentos tem vindo a
ser dissolvidos por divórcio). → daí que o Dr. Guilherme de Oliveira tenha optado pela
expressão «Vocação de Perpetuidade».
Casamento civil sob forma religiosa
O que muda é só quanto à forma de celebração, sendo que de resto mantém-se tudo igual.
Art. 19.º Lei da Liberdade Religiosa

Quais são as igrejas e comunidades radicadas no nosso país?


- Estão inscritas no Registo Nacional de Pessoas Coletivas Religiosas.
Quem é que se pode aí registar?
- As comunidades que tenham uma presença social organizada em Portugal há mais de
30 anos. Ou, não tendo, tem de ter uma presença social organizada noutro país há mais
de 60 anos.

Casamento Católico
Concordata entre a República Portuguesa e a Santa Sé de 2004
- 3 dias para o Padre mandar o assento de casamento à conservatória

O casamento católico é verdadeiramente um casamento religioso, não sendo só uma


diferente forma de celebração (é uma diferente forma de estar na vida).

Artigo 15.o
1 — Celebrando o casamento canónico, os cônjuges assumem por esse mesmo facto, perante a Igreja,
a obrigação de se aterem às normas canónicas que o regulam e, em particular, de respeitarem as suas
propriedades essenciais.
2 — A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vínculo
matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes
incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio.

Art. 16.º da concordata → relaciona-se com o nosso artigo 1625.º do CC.

Em Portugal, mesmo para o casamento católico, como já vimos, a capacidade é regulada


pelo direito civil. Por isso é que, por vezes, se diz que o nosso casamento católico não é
um autêntico casamento católico, mas antes um “casamento concordatário”, uma vez
que não vale o direito canónico em bloco, mas apenas o direito canónico que é aceite na
concordata e na concordata ficou definido que, quanto à capacidade para celebrar
casamento católico, é necessária a capacidade face ao direito civil.

Artigos dos Códigos do Direito Canónico (Cânones)

Cânone 1057, 2 → o casamento como ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por
pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de constituírem o
matrimónio. ≠ art. 1577 do CC.

No Casamento católico, são os nubentes que se entregam e se recebem mutuamente. Ou


seja, são os próprios nubentes que casam, o Padre só está a mediar o casamento.

No casamento católico não há dúvida nenhuma que estamos perante um verdadeiro


“pacto”, uma vez que são os próprios nubentes que manifestam a sua vontade e se casam.

Quando os casados saem da igreja, esse casamento por eles celebrados é um casamento
válido, MAS… a estabilidade do casamento só se adquire com a consumação (com as
relações sexuais completas) → se não houver consumação, pode haver lugar a dispensa
do casamento rato e não consumado.
“rato” - ratificado (foi dada a vontade dos nubentes)

Cân. 1055 — § 1. O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem


entre si o consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural
ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os baptizados foi
elevado por Cristo Nosso Senhor à dignidade de sacramento.

Se virmos o can. 1055, faz parte da própria definição de casamento faz parte a procriação
– é um dos elementos essenciais do casamento católico.

O casamento católico unilateral – caso em que só um dos nubentes se casa catolicamente,


por exemplo, por só ele ser batizado.

Em Portugal temos, desde logo, um sistema de casamento civil facultativo. Ou seja, em


geral, as pessoas podem escolher casar civilmente ou casar catolicamente (em França, por
exemplo, o casamento civil é obrigatório).

Sistema civil facultativo na segunda modalidade

Aqui, o casamento religioso pode surgir como uma faculdade alternativa na forma de
celebração, ou como alternativa como instituto diferente. Para os católicos em Portugal
o sistema de casamento civil é facultativo, sendo-o na segunda modalidade, porque o
podem escolher entre um casamento civil e um casamento católico, e até podem escolher
primeiro um casamento civil e depois um casamento católico.
EM SUMA: para os católicos há a possibilidade de escolher entre 2 institutos: o instituto
do casamento civil, ou entre o instituto do casamento católico.

Para aqueles que pertencem a uma comunidade ou igreja radicada no nosso país →
sistema de casamento civil facultativo na primeira modalidade, porque eles podem
escolher apenas entre forma de celebração: tradicional ou religiosa (e não como
alternativa em termos de instituto).

Para quem professe uma religião que não esteja radicada no nosso país ou não professe
nenhuma religião → sistema de casamento civil obrigatório.

Casamento Civil
Requisitos de fundo do casamento civil:
Consentimento (vontade)
Capacidade
Já falamos sobre a questão da capacidade (dos impedimentos matrimoniais).
Caráter pessoal do consentimento

Art. 1619.º CC – dita que o casamento é um ato pessoal e a vontade do casamento tem
de ser expressa, em princípio, pessoalmente.

Há um ligeiro desvio em relação a esta regra → a questão do procurador → art. 1620.º:


é lícito a um dos nubentes fazer-se representar por procurador na celebração do
casamento:
1. Tem de tratar-se de uma procuração com poderes especiais para o casamento
2. Tem de estar designado expressamente quem é o outro nubente
3. Tem de estar identificada/indicada a modalidade do casamento

O Procurador é verdadeiramente um procurador (que ajuda na formação da vontade do


representado) ou é apenas um núncio (que se limita a transmitir a vontade que já está
devidamente formada na pessoa do representado)?

Relevância prática:
Se ele for um mero núncio → tem necessariamente de celebrar o casamento, seja em que
circunstancias for (mesmo que descubra que a noiva não é nem tem o passado que o noivo
pensava que tinha, mas é uma pessoa completamente maluca).

Se ele for um verdadeiro representante → como ajuda a formar a vontade do representado,


pode decidir não casar, não emitir qualquer declaração de vontade (por entender que há
elementos que não permitem formar devidamente o consentimento a parte que o
representante representa).

Não há uma resposta a esta pergunta, mas Drª Sandra Passinhas entende que o
representante deveria ser um verdadeiro representante.
Mas, por outro lado, quando pensamos no contexto histórico da representação associamos
a uma verdadeira situação de impossibilidade de um dos noivos, em que ele apenas
necessita de ter alguém que transmita a vontade dele. → Todavia não há, de facto, uma
resposta a esta questão, a doutrina discute.

Inexistência por falta de declaração de vontade → art. 1628.º/ c)

Art. 1618.º/2 CC → consideram-se não escritas todas as cláusulas apostas numa


convenção antenupcial em que os nubentes pretendam mudar, quer os efeitos do
casamento, quer pretendam apor-lhe uma condição ou um termo.

Perfeição do Consentimento
1. Significa que não haja divergência entre a vontade e a declaração
Art. 1635.º CC → o casamento é anulável por falta de vontade, quando o casamento tenha
sido simulado (al. d) ) → casamento simulado é aquele em que haja recusa da comunhão
de vida. Aquele em que há declaração, mas não há vontade efetiva/real. → são anuláveis.

A ação de anulação só pode ser requerida pelo cônjuge.

Art. 1634.º CC - A declaração da vontade no ato da celebração constitui presunção de


que os nubentes quiseram contrair matrimonio e que a sua vontade não está viciada.

Liberdade do consentimento

Para que o consentimento seja livre:


• É necessário que haja uma vontade esclarecida, formada com exato
conhecimento das coisas
• Vontade formada com liberdade exterior, sem a pressão de violências ou
ameaças (sem coação).

O dolo não é fundamento autónomo de invalidade do casamento (a sedução é enganar o


outro). O dolus bónus é aceite pelo direito, pelo que o casamento não é anulável pelo
dolo, o dolo não é autonomamente relevante na validade do casamento.

Vícios da vontade que não são aceites na nossa ordem jurídica

ERRO – art. 1636.º CC


Requisitos:
1. Quando o erro recaia sobre qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge
Já ter sido preso
Ter sido casado
Ter filhos, etc.

2. Seja desculpável
Significa que qualquer pessoa teria sido enganada naquelas circunstâncias.
Já vimos que o dolo não releva autonomamente/diretamente, mas releva indiretamente,
ou seja, porque torna o erro desculpável.

3. Se mostre que sem aquele erro, razoavelmente, o casamento não teria sido
celebrado
Essencialidade do erro - Quando se mostre que sem o erro o casamento não teria sido
celebrado.
Temos aqui de fazer um juízo objetivo: “se mostre que sem ele, RAZOAVELMENTE,
o casamento teria sido celebrado”.
Outro requisito (de criação jurisprudencial):
4. Propriedade do erro
Que o erro seja próprio, ou seja, significa que o erro não corresponda a nenhuma falta de
requisitos legais → o erro tem de ser verdadeiramente da pessoa que se enganou.

COAÇÃO MORAL
O casamento civil também pode ser anulado por coação moral, nos termos do art. 1638.º
CC.

05.11.2020

Art. 1627.º CC - Validade dos casamentos

O artigo 1627.º CC consagra o Princípio «pas de nullité sans texte» - Ora, ao contrário do
que sucede no direito comum, no direito da família não há nulidades tácitas, apenas
nulidades expressas. Por esta razão, devem considerar-se válidos todos os casamentos
relativamente aos quais não se verifique algumas das causas de inexistência ou
anulabilidade ESPECIFICADAS na lei.

A validade depende da vontade/consentimento (vícios da vontade e falta de coincidência


entre declaração e vontade) e da capacidade (impedimentos - têm capacidade todos
aqueles em relação aos quais não se verifique algum dos impedimentos legais, art. 1600.o
CC).

Validade e não validade do Casamento Civil


Temos mais uma regra de favorecimento - regra do art. 1627.o CC
◦São válidos se não forem inexistentes e se não tiverem nenhuma causa de
invalidade (anulabilidade);

◦Não há casamentos nulos: ou são inexistentes ou anuláveis.

Ora, as referências que encontramos no código civil relativamente a “declaração de


nulidade do casamento” e a “casamento declarado nulo” visam exclusivamente o
casamento católico.

Art. 1625.º CC → o conhecimento das causas de nulidade dos casamentos católicos


cabe aos tribunais e às repartições eclesiásticas.

Inexistência
Razões de ter surgido este regime:
1. Ora, o regime da anulabilidade, que até certa época era o único que vigorava, não
se mostrava adequado aos casamentos portadores de vícios considerados mais
graves (na época: casamento celebrado entre duas pessoas do mesmo sexo, em
que faltasse a declaração de vontade dos nubentes ou de algum deles, etc).

Há vários regimes de anulabilidade, mas nem o mais severo (dos impedimentos


dirimentes) se mostra suficientemente severo para algumas situações. É que a
anulabilidade, ainda a de regime mais severo, não pode ser declarada pelo tribunal. –
art. 1632.º CC. Para além disso, só pode ser invocada por certo círculo de pessoas e dentro
de determinado prazo.

2. Outro motivo deve-se ao facto de os casamentos anuláveis, mesmo aqueles em


que o regime da anulabilidade é o mais severo, ainda produzem efeitos putativos.

É muito contestada - há quem diga que não existem negócios inexistentes. Mas a nossa
lei prevê a inexistência quanto ao casamento - é como se nunca tivesse sido celebrado.

❖ Art. 1628.º CC - casamento celebrado por quem não tem competência funcional
para o ato.
Por exemplo: Os casamentos de etnia cigana são inexistentes juridicamente - para o Estado
português, não são casados. Eventualmente estão numa união de facto, mas o estado civil não se
altera - mesmo que haja a convicção de tal.

Atenção ao art. 1629.º -> o que se entende por “funcionário de facto” → no caso de
ignorância dessa circunstância pelos nubentes, no momento da celebração, então os
nubentes não são prejudicados, sendo o casamento válido na mesma.

❖ Em que tenha faltado declaração de vontade. Não se trata da falta de vontade - e


sim falta de declaração.
❖ O casamento urgente que não tenha sido homologado

Quanto aos «casamentos urgentes» - art. 1622.º a 1624.º CC

A única especificidade que opera em relação aos efeitos dos casamentos urgentes é que os que forem
celebrados sem precedência do processo preliminar, consideram-se sempre contraídos no regime da
separação de bens. – art. 1720.º, n. º1, al. a) CC
Anulabilidade
Art. 1631.º CC → os casos de anulabilidade são EXCLUSIVAMENTE os previstos neste
artigo.

- Impedimentos Dirimentes

- Falta de vontade (não é a falta de declaração de vontade, mas a falta de vontade)

- Vício da vontade (erro-vício ou coação moral)


Art. 1634.º diz-nos que a declaração de vontade constitui presunção de que os nubentes quiseram
contrair o matrimónio e presunção de que não está viciada. Presume-se que a declaração está
isenta de erro e de coação - pelo que sou eu que terei de provar que estes estavam presentes
(inversão do ónus da prova).

- Casamento celebrados sem presença das testemunhas exigidas por lei.

A anulabilidade não opera ipso iure, pois por força do artigo 1632.º CC a anulabilidade
do casamento não pode ser invocada para qualquer que seja o efeito, judicial ou
extrajudicial, enquanto não for reconhecida por sentença judicial em ação
especialmente intentada para esse fim.

Pode obter-se a sanação da anulabilidade e a consequente validação do casamento (nas


hipóteses do art. 1633.º CC).

LEGITIMIDADE
Art. 1639.º - anulação fundada em impedimento dirimente
• Cônjuges
• Qualquer parente dos cônjuges na linha reta ou até ao quarto grau da linha
colateral
• Herdeiros
• Adotantes dos cônjuges
• Ministério Público (porque estão em causa interesses dos cônjuges e suas famílias
e também o interesse público)

Art. 1640.º - anulação fundada na falta de vontade


• Pode ser requerida pelos próprios cônjuges ou por quaisquer pessoas
prejudicadas com o casamento (sendo que só pode ser requerida a anulação pelo
cônjuge cuja vontade faltou – n.º2 do art. 1640.º CC).

Aqui a anulabilidade foi estatuída no interesse particular de um dos cônjuges, pelo que a
anulação só pode ser requerida/proposta por esse cônjuge.

Art. 1641.º - anulação fundada em vícios da vontade


• Pelo cônjuge que foi vítima do erro ou da coação.
Aqui a anulabilidade foi estatuída no interesse particular de um dos cônjuges, pelo que a
anulação só pode ser requerida/proposta por esse cônjuge.

Art. 1642.º - anulação fundada na falta de testemunhas


• Pelo Ministério Público

Aqui, a anulabilidade do casamento já fora estatuída no interesse público, pelo que só o


Ministério Público tem legitimidade ativa.

PRAZOS
Artigos 1643.º a 1646.º CC

Casamento Putativo
Há situações em que a anulação do casamento pode levar tempo e o casal em causa já
assumiu uma série de compromissos.
• Os terceiros vão acreditar naquele casamento, reputando-o como válido.

• Exemplo: Há um casamento em que o outro vem descobrir só ao fim de 10 anos coisas


relevantes que não sabia sobre a pessoa do outro, que se revelam fundamento de anulação.
Mas, entretanto, assumiram-se compromissos.
Ora, é para dar resposta a estas situações que se prevê o regime do casamento
putativo. Através deste, o casamento produz efeitos jurídicos para proteger aqueles que
de boa fé reputaram aquele casamento como válido.

Pressupostos para a produção de efeitos putativos:

1. É necessária a existência do casamento.


2. É preciso que o casamento tenha sido declarado nulo (só no caso dos casamentos
católicos) ou anulado → já sabemos que a invalidade do casamento não se produz
ipso iure, mas apenas com sentença judicial nesse sentido.
3. Boa fé dos cônjuges ou de algum deles.
Só há uma situação em que os efeitos putativos do casamento se produzem quando os
dois cônjuges estão de má fé: em relação aos filhos! Mesmo que ambos tenham contraído
o casamento de má fé, a presunção pater ist est aplica-se na mesma em relação aos filhos
nascidos do casamento, nos termos do art. 1827.º CC.
‣ Ex.: ambos estão de má fé e simulam um casamento. As crianças nascidas ficam
protegidas quanto ao funcionamento da presunção de paternidade - mesmo que ambos
saibam que o casamento tem um vício.

Vantagens da anulação do casamento


Exemplo 1: Ana e Bernardo casaram.
Quando casaram, Bernardo era rico e
tinha uma moradia que valia 1 milhão de
euros. A Ana não tinha nada. Casam na
comunhão geral de bens, regulado nos
art. 1732.º e ss. CC.

Com o casamento a casa de Bernardo passa a ser dos dois. Ora, passado algum tempo,
Ana descobre um longo cadastro criminal de Bernardo – incluindo violência doméstica -
e também que tinha já um casamento noutro país do qual tinha três filhos. Pedindo Ana a
anulação do casamento, se aplicássemos o 1639.º (porque a existência de um casamento
anterior não dissolvido constitui impedimento dirimente absoluto, nos termos do artigo
1601.º, al. c)) destruíam-se todos os efeitos. Mas estando de boa fé, pode salvar os efeitos
do casamento até à sentença - recorrendo a efeitos putativos.
➔ Ana, vítima de erro, poderia pedir por força do casamento putativo, a manutenção
dos efeitos do casamento.

Isto porque desde 2008, o 1790.º CC tem um novo regime relativo à partilha. Havendo
divórcio, a partilha segundo o regime de comunhão de adquiridos - 1721.º CC e ss.:

- São bens próprios aqueles que os cônjuges tinham na celebração do casamento


(ou seja, os que já tinham antes do casamento e que levaram para o casamento) + aqueles
que vierem a adquirir gratuitamente no casamento (por doação ou sucessão). Se formos
aplicar este regime, em caso de divórcio ela não teria direito à casa - seria um bem próprio
do Bernardo.

É, portanto, preferível para a Ana ir pela via da anulação do casamento, de forma a poder
beneficiar do regime do casamento putativo (com a anulação do casamento. → Já para
Bernardo, seria preferível ir pelo divórcio.

A sentença de anulação diz que se considera o casamento anulado - voltam a ser solteiros
e faz-se então a partilha quanto aos bens.
Exemplo 2: Ana e Bernardo têm uma casa e dois filhos: a casa vale 300.000€. Quando
Ana morre, a primeira partilha que se faz é a partilha conjugal - os filhos acabam por ter
direito a muito pouco. Bernardo fica com 150.000€ a que tem direito da casa (metade),
sendo que em relação aos 150.000€ dela é que se abre a sucessão para os filhos.

Quando falamos aqui em efeitos dos casamentos estamos a referir-nos a todos os


casamentos (casamento civil, casamento civil sob forma católica, casamento católico).
Eles produzem os mesmos efeitos na nossa ordem jurídica.

Ao contrário do que acontece com a fase da constituição da relação matrimonial, quanto


aos efeitos do casamento está tudo uniformizado para todos os casamentos.

Tipos de efeitos do casamento


❖ Efeitos pessoais → são os que vamos estudar aqui
❖ Efeitos Patrimoniais

EFEITOS PESSOAIS
• Surgimento de deveres conjugais – art. 1672.º CC
- Dever de Respeito
- Dever de Fidelidade
- Dever de Coabitação
- Dever de Cooperação
- Dever de Assistência

• Alterações ao nível do nome


• Efeitos ao nível da nacionalidade

Para além destes efeitos pessoais há um princípio, o qual também pode ter esta conotação
pessoal - Princípio da Igualdade dos cônjuges (regulado no art. 1671.º CC e no art.
36.º/3 CRP).
Diz-nos o artigo 1671.º que o casamento se baseia na igualdade dos cônjuges.

Os cônjuges têm ainda o dever de acordar sobre a orientação da vida em comum. Note-
se, a lei apenas obriga os cônjuges a acordar sobre a orientação da vida em comum,
ficando de fora a vida pessoal, a vida privada de ambos os cônjuges.
O casamento não limita os direitos de personalidade.
Os cônjuges podem, efetivamente, estar em desacordo sobre alguns pontos da orientação
da vida familiar. Ora, em princípio, o nosso direito recusa a intervenção judicial. No
âmbito das relações pessoais entre os cônjuges, o nosso código permite que o conflito
entre os cônjuges seja decidido pelo tribunal apenas em três casos:
1. Desacordo sobre a fixação ou alteração da residência da família (art. 1673.º/3 CC)
2. Sobre o nome próprio ou os apelidos dos filhos (art. 1875.º/2 CC)
3. E sobre questões de particular importância relativas ao exercício das
responsabilidades parentais (art. 1901.º/2 CC).

Admite-se a intervenção e decisão judicial neste caso, porque são casos em que é
especialmente necessária ou urgente a solução do conflito.
À parte destes casos, o desacordo deve ser resolvido dentro da família, pelos próprios
cônjuges – faz-se apelo ao sentido de responsabilidade dos cônjuges e à sua capacidade
de autorregulamentação da família.

– artigos 1677.º e ss.

• Art. 1677.º e ss. CC - cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos
(antes a mulher perdia o nome de família para adotar o do marido - noutros países
que não Portugal). Mas pode acrescentar apelidos do outro - até ao máximo de
dois.
Tem sido pacificamente aceite que acrescentar inclui o intercalar – por exemplo:
Imaginemos que a Ana Silva e o Rui Dias casam e decidem que querem fazer um nome
de família, e, portanto, decidem que cada um quer acrescentar o nome do outro, ou seja:
Ana Silva Dias e Rui Dias Silva. Ora, isto não é um nome de família. Posto este tipo de
situações já não e controvertido, tem sido pacificamente aceite que este “acrescentar” seja
intercalar, ou seja, a Ana pode acrescentar o apelido do Rui e este pode, por sua vez,
intercalar os apelidos ficando “Rui Silva Dias”.

• No caso de viuvez, em que um dos cônjuges morre, o outro não perde o direito ao
nome. Não pode é acrescentar o nome de um novo casamento que viesse a
contrair. Em Portugal não se admite a acumulação de nomes de vários casamentos.

• Já em caso de divórcio, ou de separação de pessoas e bens, cada um dos cônjuges


pode, em princípio, conservar os apelidos (artigo 1677.º-B/1 do CC). Porém, tal
manutenção depende, nos termos do artigo 1677.º-B/1, 2ª parte do CC:
o da autorização do ex-cônjuge;
o ou então de uma decisão judicial no sentido de autorizar essa manutenção.
Em ambas as situações pode haver um processo de privação judicial de uso do
nome. Tem de se provar que o uso lesa gravemente os interesses do outro cônjuge
ou da sua família.
Estão elencados no art. 1672.º CC - e levantam algumas questões, sobretudo doutrinais:
a. Quanto à taxatividade do elenco previsto no art. 1672.º CC

‣ Respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. São os deveres todos? Ou


podemos encontrar outros? Podemos dizer que não é taxativo aé porque se formos ao
artigo 1671.º do CC, aparece lá o dever de acordar sobre a orientação da vida familiar.
Também há quem diga que aquilo que está elencado no art. 1672.º é suficiente, pelo facto
de o dever de respeito ter uma importância residual, e caberem nele outros deveres.

Ex.: quando rebentou a crise, falou-se muito no dever de honestidade financeira - se


informar o outro da situação grave em que já estavam a viver. Este dever não está
especificado - mas enquadra-se no dever de respeito.

‣ Quando há um casamento civil sob a forma religiosa há a preocupação de o conservador


informar os cônjuges sobre estes, independentemente da religião que professem.

Dever de Respeito
Vertente positiva: interesse no outro.

Ex.: antes de 2008, a vítima do divórcio tinha de ser indemnizada pelo cônjuge que fosse
declarado único ou principal culpado. Havia uma senhora casada com um médico que
viajava várias vezes ao Brasil, durante 2 semanas e sozinho. Ela pediu o divórcio com
base na violação do dever de fidelidade. E vem pedir ele o divórcio a partir do momento
que ela tinha dito aquelas coisas dele ao pedir o divórcio. O tribunal considerou que o
facto de o marido tirar férias sem a mulher demonstrava uma total falta de interesse da
parte do marido - os momentos de qualidade do casal são passados nas férias. Considerou
ainda que para ele ter direito ao respeito dela, teria também de se dar ao respeito.

Assim, o cônjuge que não fala com o outro, não mostra o mínimo de interesse por estes
nem pela família que com ele constituiu, não respeita a personalidade do outro conjuge,
violando assim o dever de respeito.

Vertente negativa: não ofender (a integridade física e integridade moral)


Na vertente negativa do dever de respeito está em causa o dever de não ofender a
integridade física ou moral do outro cônjuge.

‣A integridade física do outro cônjuge


o Falamos da violência doméstica.

‣A integridade moral do outro cônjuge e do casal.


o Ex.: a senhora engravida e faz um aborto sem o marido saber. | ele
inscreve-se como dador de esperma sem ela saber. | decisão sobre uma
laqueação de trompas - é algo que cabe no planeamento familiar.

‣ Casos em que não há ofensa direta, mas há prejuízo para a imagem do casal.
o Ex.: uma senhora do casal tinha sido apanhada a roubar no Intermarché -
e o marido passou a ser conhecido no trabalho pelo ato da mulher. Fica
ofendido na sua integridade moral. | Quando o marido é bêbado ou
drogado.

Dever de fidelidade
O dever de fidelidade obriga cada um dos cônjuges a não ter relações sexuais consumadas
com pessoa que não seja o seu cônjuge (caso contrário incorre-se em adultério).

Adultério:
Para além do elemento objetivo constituído pela prática de relações sexuais consumadas,
o adultério supõe ainda um elemento subjetivo, que se traduz na intenção ou, pelo menos,
consciência de violar o dever de fidelidade.
Assim, não haverá violação do dever de fidelidade se o cônjuge que teve relações sexuais
com terceira pessoa que só o fez, por exemplo, coação.

Por sua vez, nem só as relações sexuais consumadas constituem violação do dever de
fidelidade → uma tentativa de adultério constitui violação deste dever.

Ex.: relações sexuais com outra pessoa, ficar horas no chat com outra pessoa depois do
jantar todos os dias, partilha de fotografias, swing, etc. são violações deste dever?
O casal pode conformar o cumprimento dos deveres conjugais. Podem dizer que o
dever de fidelidade abrange a prática de swing, desde que os dois saibam, por exemplo.
O conceito anterior era o de adultério - e era definido legalmente com referência a relações
sexuais.

Estes acordos não estão sujeitos a forma e podem ser livremente revogados.

O dever de fidelidade implica uma limitação da liberdade sexual -> limitação negativa
à liberdade sexual dos cônjuges.

Dever de coabitação
É um dever que tem um sentido técnico, pois coabitar implica, necessariamente 3 coisas:
1. Comunhão de leito
2. Comunhão de mesa
3. Comunhão de habitação

❖ “Coabitação” não surge aqui com o sentido leigo da palavra, de simplesmente


“viver juntos”.

COMUNHÃO DE LEITO
Significa ter relações sexuais – no sentido de ser uma relação orientada para a intimidade
conjugal.

Na comunhão de leite também temos uma limitação da liberdade sexual dos cônjuges,
mas agora é uma limitação positiva.
Ou seja, enquanto que no caso do dever de fidelidade há uma limitação negativa da
liberdade sexual dos cônjuges (não podem os cônjuges ter relações sexuais com mais
ninguém, a não ser entre os dois), no caso da comunhão de leito, no âmbito do dever de
coabitação, essa liberdade já é positiva, no sentido em que há um dever de se ter relações
sexuais com o outro cônjuge, deve ter intimidade sexual com o outro cônjuge.

COMUNHÃO DE MESA
Significa haver uma economia doméstica, comum.
Cada um dos cônjuges pode contrair dívidas, mas, em termos mais graves, cada um dos
cônjuges pode contrair dívidas que responsabilizem também o outro cônjuge.

COMUNHÃO DE HABITAÇÃO
Significa ter uma residência ou uma sede de família (esta dimensão do dever de
coabitação, já está hoje mais ultrapassada, como veremos abaixo).

A sede de família, tecnicamente, é a casa de morada da família. – artigo 1673.º CC.

Antes do novo regime do divórcio, os cônjuges tinham de morar na casa de morada da


família, e se não o fizessem não conseguiam cumprir o dever de coabitação. – Hoje, isto
está ultrapassado, só tendo relevância numa situação:
- Proteção da casa de morada -> o nosso regime de casa de morada estabelece que
para efeitos fiscais, quando haja uma qualquer dívida ao fisco (ao Estado), a casa de
morada de família pode seguir todo o processo executivo: pode ser penhorada (deixa de
poder ser transacionada no mercado), mas não pode ser vendida com vista ao pagamento
da dívida.

Exemplo : A tem uma moradia na Figueira da Foz, onde vive. Entretanto os filhos vão
para a Universidade de Coimbra, sendo que A costuma sempre passar uns dias na casa
que o filho tem em Coimbra, onde estuda para ajudar com as tarefas de casa. Entretanto,
o marido de A reformou-se e estes já passam mais tempo em Coimbra do que na Figueira
da Foz.
Ora, neste caso, é difícil estabelecer-se e determinar qual é, afinal, a casa de família.

Hoje em dia, na verdade, devido a fenómenos como o LAT (Living Apart Together), pode
nem sequer haver casa de morada de família.

LAT («Living Apart Together») = casais, com relações sólidas e que querem assumir o
compromisso do casamento, mas que vivem em casas separadas (acontece muito nos
casos de “famílias recombinadas”). → isto não viola o dever de coabitação, na sua
dimensão de comunhão de habitação, por força do princípio da autonomia privada.

Dever de Colaboração ou de Cooperação


Artigo 1634.º

«importa para os cônjuges a obrigação de socorro e auxílio mútuos e (+) de assumirem


em conjunto as responsabilidades inerentes à vida da família que fundaram».
- Dever de ajuda/auxílio ao outro cônjuge. -> no próprio quotidiano e não apenas
em casos urgentes.
- Dever de partilha das responsabilidades inerentes à vida familiar.

A diferença entre economia comum e união de facto é que:


- Na união de facto há comunhão de leito e de habitação, como no casamento.
- Na economia comum só há comunhão de mesa e habitação (não há comunhão
de leito) – exemplo das irmãs que vivem em economia comum.

Dever de Assistência
Art. 1675.º CC e 1676.º do CC.
Tem um conteúdo patrimonial.

Tem duas vertentes:


1. Quando o casal está junto
Quando os cônjuges estão juntos, o dever de assistência corresponde ao dever de
contribuição para os encargos da vida familiar.

2. Quando o casal está separado (há uma separação de facto, mas ainda não
houve dissolução do casamento).
Quando os cônjuges estão separados, o dever de assistência corresponde à obrigação de
alimentos ao cônjuge (e não ao ex-cônjuge).
O dever de assistência, é um dever conjugal, é um dever na constância do matrimonio e
que se mantém enquanto se mantiver o matrimónio.

Em 2008, com a reforma do regime do divórcio, o legislador acabou com a declaração de


culpa. Hoje, no divórcio, em Portugal, não existe declaração de culpa (não há cônjuge
culpado ou cônjuge principal culpado). → revogação tácita do artigo 1675.º/2 e 3 do
CC.

❖ Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar


Artigo 1676.º CC

Aqui a contribuição é proporcional às possibilidades de cada um dos cônjuges, ou seja, o


dever de contribuir é de acordo com as possibilidades de cada um.
Este dever pode ser cumprido de duas formas:
1. Pela afetação dos recursos (salários, proventos) aos encargos.
2. Pelo trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos filhos.

Ainda que só um dos cônjuges trabalhe fora de casa, temos na mesma os dois cônjuges a
contribuir para os encargos da vida familiar: um contribui com o salário, o outro com o
trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos filhos.

O problema é que – e isto está estatisticamente comprovado –as mulheres trabalham mais
que os homens. Em Portugal, as mulheres têm, em média, 3 horas diárias de trabalho a
mais que os homens, até porque têm muito mais trabalho doméstico. → Nestas situações,
pode haver uma contribuição maior de um dos cônjuges relativamente ao outro. E,
nesse caso, e se tal implicar um grande prejuízo para um dos cônjuges, pode haver depois
uma compensação em sede de divórcio (crédito compensatório).

❖ Dever de alimentos
É a forma de assistir o outro cônjuge no caso de haver separação de facto.

Artigo 2003.º CC – Noção de «Alimentos»


Alimentos – “tudo o que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário”.
Esta é a noção base de alimentos, que é uma noção muito limitada, que se refere ao
mínimo indispensável ao sustento, habitação e vestuário. → Ora, este mínimo
indispensável é um vetor de discussão e de divergência doutrinária.

No caso de se tratar de um menor, os alimentos compreendem também a instrução e


educação do alimentado (n.º 2 do art. 2003.º CC).

Artigo 2009.º CC – elenca as pessoas obrigadas a alimentos.


Artigos 2015.º e ss. do CC – Obrigação de alimentos

• Artigo 2015.º CC – obrigação de alimentos na constância do matrimonio.


Uma das perguntas que se coloca sobre o dever de alimentos na separação de facto é: qual
é o montante destes alimentos?

Diz-nos que, durante o casamento, os cônjuges são reciprocamente obrigados à prestação


de alimentos, nos termos do artigo 1675.º, ou seja, nos termos do dever de contribuição
para os encargos da vida familiar. → Parece que há aqui um dever de manutenção do
padrão de vida (pode ser entendido assim). No entanto, o artigo 2016.º-A, n.º 3
determina que o ex-cônjuge não tem direito a exigir a manutenção do padrão de vida de
que beneficiou na constância do casamento.

• Artigo 2016.º CC – Obrigação de alimentos entre ex-cônjuges, em caso de


divórcio.

O artigo 2016.º-A, n.º 3 determina que o ex-cônjuge não tem direito a exigir a
manutenção do padrão de vida de que beneficiou na constância do casamento. → Ou seja,
depois do divórcio, o montante dos alimentos desce (ao contrário do que acontece na
constância do matrimónio, em que a Dr.ª Sandra Passinhas considera que a melhor
doutrina é aquela que determina o direito da manutenção do padrão de vida).

De qualquer das formas este direito aos alimentos é um direito temperado, porque os
alimentos dependem sempre (sempre) do encontro de dois fatores:
- Necessidades de quem pede
- Possibilidades de quem vai prestar os alimentos.

Quando há uma dissociação familiar (falando agora no caso de uma separação de facto,
por que no divorcio isto é claríssimo, dado que qualquer divorcio é fonte de
empobrecimento), esta é sempre fonte empobrecimento, daí que apesar de operar uma
manutenção do nível de vida, esta tem de ser temperada pelo fator “possibilidades de
quem presta alimentos”, ou seja, do cônjuge devedor.

Dissolução do Casamento
Formas de extinção do casamento

Invalidade
Vimos já que um casamento por:
- Ser anulado, se for um casamento civil
- Pode ser declarado nulo, se for um casamento católico.
Dissolução
Pode ser por:
- Divórcio
- Morte
• Na dissolução por morte, o casamento produziu a sua função (“até que a morte
nos separe”).

Na invalidação, a relação jurídica extingue-se em consequência de um vício originário


do ato através do qual se constituiu. → Daí que a invalidação seja retroativa.

Pelo contrário, na dissolução a relação extingue-se em consequência de um ato ou facto


superveniente, a que a lei atribui o efeito de dissolução. → Daí a dissolução não operar
retroativamente.

Art. 1688.º do CC - Dissolve-se o casamento → extinguem-se (cessação das) as relações


pessoais e patrimoniais entre os cônjuges.

Havendo morte de um dos cônjuges, há lugar à partilha conjugal (art. 1689.º CC), e
simultaneamente há lugar à abertura da sucessão e à partilha do património do de
cujus.
Ora, o cônjuge é herdeiro, encontrando-se na primeira linha dos sucessíveis (art. 2133.º
CC).

DIVÓRCIO
Divórcio – é a dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou pelo conservador do
registo civil, a requerimento de um dos cônjuges ou dos dois, nos termos autorizados por
lei.
A alteração legislativa de 2008 veio alterar totalmente o paradigma do divórcio – Lei n.º
61/2008, de 31 de outubro.
Esta reforma do regime do divórcio traduziu-se:
- Num movimento de privatização
O que faz parte da intimidade do casal, fica na intimidade do casal, mesmo para efeitos
de divórcio. Portanto, aquilo que o casal não quiser contar, ninguém vai perguntar.
- Reconhecimento dos afetos (houve um efetivo reconhecimento do valor dos
afetos)
O ponto de partida foi: enquanto os cônjuges se sentirem bem e felizes, devem estar
casados. Porém, quando estes ou algum deles não se sentir feliz, quando o casamento já
não for fonte de felicidade e de realização pessoal, então qualquer um deles pode pedir o
divórcio. Portanto ninguém é obrigado a estar e a ficar casado contra a vontade.
EFEITOS DESTA REFORMA
Transformação do sistema que tínhamos anteriormente: sistema de divórcio-sanção.
Antes, o divórcio era uma sanção para a violação de deveres conjugais – se um dos
conjugais violava deveres conjugais e o outro podia pedir o divorcio, como forma de
sanção pela violação de um dever conjugal – o divorcio como uma sanção aplicável ao
cônjuge que violava os deveres conjugais.
Portanto, à luz desse regime, o cônjuge que violava o dever de fidelidade, por exemplo,
não podia pedir o divórcio (ainda que violasse esse dever por já não estar feliz no
casamento) – esse cônjuge não podia pedir o divórcio com base em “infelicidade”,
simplesmente por não querer mais estar vinculado àquela relação matrimonial.
Ora, o nosso legislador contrabalançava o regime do “divórcio-sanção” com aquilo que
se designava de “divórcio objetivo” – divórcio por causas objetivas. Por exemplo, por
uma separação de facto. Mas, note-se, a separação de facto tinha de existir há 3 anos.

Todavia, no regime do divórcio anterior havia a “declaração de culpa” – o tribunal


declarava qual o cônjuge único ou principal culpado (podia ser só um culpado, ou ambos
culpados, mas um o principal).

Em 2008:
► Estabelece um sistema do divórcio “constatação da rutura do casamento”
(sistema objetivo de divórcio)
► Abolição a figura da declaração de culpa
► Abolição da aplicação de sanções patrimoniais associadas à declaração de culpa

Sistema «constatação de rutura»


A rutura tem de existir – não é o tribunal que vai efetivar a rutura. Tem de se pedir ao
tribunal, no âmbito de uma ação de divórcio, que constate a rutura do casamente (fazendo-
se, para tal, prova disso). – Tem de se provar que já existiu essa rutura.
A rutura tem, portanto, de ser prévia, sendo que aquilo que o Tribunal vai fazer é tão-só
declarar/constatar a rutura já existente, porque não é o Tribunal que vai romper os laços
matrimoniais (tem que se provar que antes já se verificava a rutura).

LEGITIMIDADE
Qualquer dos cônjuges (seja qual for a situação em que se encontre).

• O fundamento para o divórcio é a rutura.


• Todavia, a violação de deveres conjugais é indício da rutura.
• Temos, portanto, um sistema de divórcio objetivo.

O que acontecia anteriormente é que, na altura do divórcio, as pessoas faziam uma lista
de tudo o que tinha acontecido de mal no casamento, de forma a culpabilizar o outro.
Hoje, já não acontece este tipo de coisas, por termos um sistema de divórcio objetivo, de
“constatação da rutura do casamento”.

Modalidades de Divórcio
Artigo 1773.º CC – duas modalidades:
a. Divórcio por mútuo consentimento
b. Divórcio sem o consentimento do outro cônjuge (antigamente, era o “divórcio
litigioso” – continua a ser uma ação litigiosa, ação proposta por um dos cônjuges
contra o outro, mas o legislador quis abolir a expressão pejorativa “litigioso”).
► Divórcio por mútuo consentimento – é pedido por ambos os cônjuges, de comum
acordo e sem indicação da causa por que é pedido.
► Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges – é pedido por um dos cônjuges contra
o outro e com fundamento em determinada causa.

Mediação familiar
Artigo 1774.º do CC
A mediação familiar pode ter resultados muito positivos naquilo que é a transformação
do casal conjugal no casal parental.
Em Portugal, a mediação, por natureza, é voluntária.
Antes de se iniciar a mediação, os cônjuges devem ser informados da possibilidade de
recorrerem à mediação.

Divórcio por mútuo consentimento


Regulado nos artigos 994.º e ss do CPC
Pode ser:
► Administrativo

Neste caso, tem de ser requerido na conservatória do registo civil.


Temos um divórcio administrativo quando os cônjuges consigam chegar a acordo sobre
as matérias elencadas no artigo 1775.º do CC. – Se os cônjuges conseguirem fazer com
que todo o processo de divórcio ocorra na conservatória do registo civil, tanto melhor,
pois é menos dispendioso e mais célere.
Para haver um divórcio administrativo, tem necessariamente de se verificar:
❖ Acordo fundamental quanto ao divórcio.

❖ Quatro acordos complementares:


1. Destino da casa de morada de família – art. 1775.º/1/d)
2. Alimentos ao futuro ex-cônjuge - art. 1775.º/1/c)
3. Acordo quanto ao exercício das responsabilidades parentais (ou decisão
judicial ou acordo homologado sobre o exercício das responsabilidades
parentais) - art. 1775.º/1/b)
4. Acordo sobre o destino dos animais de companhia (caso existam) - art.
1775.º/1/f)
Al. a) – fala em “relação especificada dos bens comuns”, e não em acordo, pois não se
trata de um acordo, mas antes de uma listagem dos bens comuns. O divorcio é
independente da partilha, os cônjuges podem estar divorciados (e, portanto, cessaram as
relações pessoais e pessoais entre si) e podem não fazer partilha.
Ou seja, a partilha não é condição para o divórcio: os cônjuges podem proceder à
dissolução do matrimonio, que os desvincula um em relação ao outro enquanto família,
mas podem continuar com a massa patrimonial indivisa (na prática, isto sucede com
frequência).
Esta solução legal é criticável: se a partilha não é essencial para o divórcio, porque é que
se tem de pôr aqui a relação dos bens comuns?! Não se trata de um acordo, é uma relação.

Al. e) – refere-se à convenção antenupcial. Caso exista convenção antenupcial, não será
necessário entregar qualquer documento, porque o conservador consegue aceder a ela no
sistema.
Ora, quanto aos acordos que têm os futuros ex-cônjuges de apresentar na conservatória
do registo civil: se não houver animais de companhia, têm de apresentar documento a
declarar que não têm quaisquer animais de companhia, se acordarem na não prestação de
alimentos, têm de apresentar documento a declarar que prescindem da prestação de
alimentos, etc.

Especificidades quanto ao acordo do exercício das responsabilidades parentais


Desde 2008, com o surgimento de uma regulamentação estrita quanto ao exercício das
responsabilidades parentais, num acordo para o exercício das responsabilidades parentais
deve constar:
- O local da residência do filho menor (com quem vai residir) – art. 1906.º/5 CC
- Estabelecer o tempo de convívio com o outro cônjuge (aquele com que não irá
residir)
- Fixar a prestação de alimentos do outro progenitor (normalmente fixa-se uma
parte fixa e uma parte variável).

Como este acordo diz respeito a menores, ele segue uma via diferente dos outros, ou seja:
1. O requerimento é entregue na conservatória do registo civil, juntamente com os
outros acordos.
2. De seguida, o conservador envia o acordo para o Ministério Público para que este
o aprecie.
3. O MP vai, em primeira e última análise, pronunciar-se sobre o acordo
apresentado, dizendo se concorda ou não:
a. Se concordar com o acordo → há homologação do acordo
b. Se não concordar:

Nota: se o procurador do MP tiver algumas questões que lhe suscitem dúvidas, pode
chamar a família, contudo, só deverá chamar a família quando realmente achar necessário,
não fazendo disso regra.

Ora, o conservador recebe os acordos complementares, procedendo à apreciação de todos


eles com exceção do acordo quanto às responsabilidades parentais: aceita ou não aceita
os acordos:
➔ Se não os aceitar, então o conservador convida os cônjuges a alterarem os
acordos. Ora, propondo a alteração do(s) acordo(s), se os cônjuges não o
alterarem, então o conservador remete o processo para o tribunal – art. 1778.º
CC
Nota: no divórcio sem consentimento, há tentativa de conciliação. No divórcio por mútuo
consentimento cujo processo foi remetido para tribunal pelo conservador, não há tentativa
de conciliação, pois se os cônjuges estão de mútuo acordo relativamente ao divórcio e se
não qualquer divergem entre eles sobre o assunto, então privilegia-se e convoca-se aqui
a questão da “privatização”.

► Judicial

Há um divórcio por mútuo consentimento judicial quando:


- Os cônjuges têm o acordo fundamental (eles querem divorciar-se);
- MAS falta algum dos acordos complementares (não cheguem a consenso
quanto a um ou alguns dos acordos complementares).
Ou seja, a falta de algum dos acordos complementares, ou a não homologação de algum
deles, justifica somente que o processo corra no tribunal, a fim de o juiz definir o regime
que os cônjuges não conseguiram estabelecer entre si.
➔ Nestes casos, requer-se um divórcio por mútuo consentimento no tribunal.
O tribunal decreta o divórcio (e não o conservador) e vai decidir sobre as questões
complementares relativamente às quais não haja acordo (aproveitando os acordos
quanto aos quais houve consenso).

EM SUMA:
QUANDO É QUE HÁ DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO JUDICIAL?
1. Quando ambos os cônjuges estão de acordo quanto ao divórcio, mas não
alcançam os acordos complementares.
2. Quando os cônjuges apresentaram um acordo e este não é homologado pelo
conservador – e, portanto, em que há remessa (feita oficiosamente pelo
conservador) para o tribunal, nos termos do artigo 1778.º do CC.
3. Quando haja conversão do divórcio sem consentimento (intentado perante o
tribunal), em divorcio por mútuo consentimento.

21.11.2020

Divórcio sem consentimento


Artigos 931.º e ss. CPC
É sempre judicial, porque é uma ação proposta por um dos cônjuges contra o outro, com
base numa determinada causa.
Audiência prévia (art. 1779.º CC - «tentativa de conciliação») → esta norma é
importante não para tentar conciliar os cônjuges, mas para tentar converter o divórcio sem
consentimento em divórcio com consentimento.

Ora, vimos já, o divórcio sem consentimento é o divórcio proposto por um dos cônjuges
contra o outro perante o tribunal, com base numa determinada causa (Qual é que é a
causa? → é quanto à questão da causa que a Dr. Sandra Passinha discorda da posição do
Dr. Guilherme de Oliveira).
A posição da Doutora Sandra Passinhas difere da posição do Dr. Guilherme de Oliveira quanto
ao divórcio sem consentimento.

Causa:
❖ Dr.ª Sandra Passinhas – a causa é a rutura do casamento.
Nós temos um sistema de divórcio «constatação da rutura do casamento» (≠ sistema de
divórcio «a pedido»), até porque o próprio artigo 1781.º do CC tem de epígrafe “rutura
do casamento”.
Artigo 1781.º CC
• Na alínea d) do artigo 1781.º do CC encontramos uma cláusula aberta que
estabelece como fundamento do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges
“quaisquer (…) factos que (…) mostrem a rutura definitiva do casamento”.
Quando se invoca a causa de rutura do divórcio, não basta invocar-se e provar-se a
violação de um determinado dever conjugar, tem antes de se provar que a consequência
dessa violação na relação matrimonial foi a rutura definitiva da mesma.
Exemplo: Quando um dos cônjuges trai o outro com uma terceira pessoa, a violação do
dever conjugal de fidelidade não é fundamento de divórcio, o fundamento de divorcio
aqui é a rutura que essa violação do dever de fidelidade causa.
No fundo, o que interessa aqui como causa que fundamenta o divórcio é o efeito que isso
teve na relação.

O nosso legislador apresentou 3 situações objetivas que tinham consagram histórica, isto
é, eram artigos já autónomos na nossa mesmo (mesmo quando o divórcio era um divórcio
com culpa – divórcio-sanção). São situações que tecnicamente, a serem provadas, geram
uma presunção inilidível de rutura.
• Alínea a): separação de facto por um ano consecutivo
► A separação de facto de ter ocorrido durante o prazo de um ano
► O ano tem de ser consecutivo (se, entretanto, houver reconciliação o decurso do prazo
do ano após a rutura, este termina de decorrer).
► O ano consecutivo tem de estar cumprido no início do processo judicial: quando se
propõe a ação já tem de existir separação de facto por um ano consecutivo.

Separação de facto (art. 1782.º CC) – há separação de facto quando não existe
comunhão de vida entre os cônjuges e há da parte de ambos, ou de um deles, o propósito
de não a restabelecer.
Ou seja, a separação de facto exige 2 requisitos:
1. Elemento objetivo – inexistência de comunhão de vida entre os cônjuges.
2. Elemento subjetivo – não haver da parte de nenhum dos cônjuges, ou de um
deles, a intenção de a restabelecer.

• Alínea b) – alteração das faculdades mentais do outro cônjuges


• Alínea c) – ausência, sem que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a
um ano.
LEGITIMIDADE – art. 1785.º do CC
o Alíneas a) e d) → qualquer dos cônjuges.
O divórcio agora já não tem de ser requerido pelo cônjuge vítima da violação dos deveres
conjugais (esta foi uma alteração significativa face ao regime anterior).
o Alíneas b) e c) → só pelo cônjuge que invoca a alteração das faculdades
mentais ou a ausência do outro.

Regulados nos artigos 1788.º CC e ss. do CC.


A dissolução do casamento por divórcio tem os mesmos efeitos jurídicos que a
dissolução por morte.

PRAZO A PARTIR DO QUAL SE PRODUZEM OS EFEITOS DO DIVÓRCIO – artigo 1789.º CC


➔ A partir da data do transito em julgado da respetiva sentença
➔ MAS… retrotraem-se à data da proposição da ação quanto às relações
patrimoniais entre os cônjuges.
Exceção – art. 1789.º/2 CC: Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no
processo, qualquer um dos cônjuges poderá requerer que os efeitos do divórcio
retroajam à data (que a sentença fixará) em que a separação de facto tenha começado.
Se notarmos, a norma do n.º 2 do artigo 1789.º fala em “processo” → Esta possibilidade
só é admitida no âmbito do divorcio sem consentimento do outro cônjuge, porque só
neste é que se vai fazer prova (na modalidade de divórcio por mútuo consentimento não
se faz prova de nada, uma vez que não há “intromissão” na forma e nas ocasiões que
acabaram por dar origem aquele divórcio, é uma forma de divórcio que não tem uma
causa de fundo, pelo que nada há a provar.
Ora, esta pode ser uma boa razão para não se aceitar a conversão do divórcio sem
consentimento de um dos cônjuges em divórcio por mútuo consentimento, no âmbito da
tentativa de conciliação, prevista no artigo 1779.º CC.
o Por exemplo, num caso em que, após ter sido interposto divórcio sem o
consentimento do outro cônjuge e, apesar de, na pendencia da ação, ambos
os cônjuges se quererem divorciar e, portanto, haver acordo quanto ao
divórcio, um deles ter de prosseguir a ação porque quer que nela fique
provada a data da separação de facto, por o outro cônjuge ter contraído
várias dívidas quando já estavam factualmente separados.
Data em que se produzem os efeitos
PARTILHA
Com o divórcio, cessam as relações pessoais, cessam as relações patrimoniais entre os
cônjuges e procede-se à partilha, caso os cônjuges decidam fazê-la.
A partilha não é obrigatória para o divórcio, não é pressuposto do divórcio. A partilha
é uma consequência da extinção da relação matrimonial por divórcio.
O que sucede é que, muitas vezes, os cônjuges, quando acordam no divorciam, acordam
na partilha, MAS isto é meramente opcional, ou seja, os cônjuges podem optar por não
realizar a partilha dos bens.

► Se os cônjuges estiverem de acordo quanto à partilha, ela pode ser realizada na


conservatória do registo civil (artigos 272.º-A e 272.º-C do DL 324/2007).
► Se não estiverem de acordo quanto à partilha (um deles quer partilhar e o outro não)
ou não estão de acordo quanto à listagem de bens comuns e bens próprios → a partilha
segue o processo de inventário.
Processo de inventário – processo especial para dividir património (quer por morte –
herança –, quer por divórcio) quando os cônjuges não estão de acordo quanto à partilha.
São as partes, ainda que estando desavindas quanto à partilha, podem escolher entre a
partilha no cartório notarial e no tribunal (duas entidades competentes para o processo
de inventário).
Art. 1790.º CC - «Partilha»
A posição da Doutora Sandra Passinhas difere da posição do Dr. Guilherme de Oliveira quanto à
questão da partilha.

Dr.ª Sandra Passinhas – Em caso de divórcio, a partilha faz-se segundo o regime da


comunhão de adquiridos.
Isto aplica-se a todos os casamentos.
➔ No regime da comunhão de adquiridos são bens comuns aqueles que são
adquiridos onerosamente na constância do casamento (ou seja, que resultaram do
esforço comum dos cônjuges).

Se os cônjuges se casaram, por exemplo, no regime de comunhão geral e o casamento


cumpre a sua função, isto é, dura até que a morte os separe, na dissolução da comunhão
conjugal respeita-se a autonomia das partes.
Se os cônjuges casaram num regime de comunhão mais forte do que o da comunhão de
adquiridos, mas o casamento se dissolveu (não cumprindo a sua função), então os
cônjuges vão partilhar aquilo que resultou do esforço comum, aquilo que ambos
adquiriram onerosamente na constância do casamento.
Dr. Guilherme de Oliveira – Tradicionalmente, o que interessava era o valor dos bens, e,
portanto, faziam-se contas e preenchiam-se os quinhões de cada um. ???
Já a Dr.ª Sandra Passinhas, hoje, sobretudo em função do novo regime de divórcio, cada
um fica com aquilo que é seu.

Problema do regime do artigo 1790.º CC


→ artigos de leitura facultativa para oral de melhoria!!
A Lei n.º 61/2008 mandou aplicar esta formulação do artigo 1790.º CC (esta forma de
repartição do património) a todos os processos de divórcio que entrassem no tribunal
depois do dia 30 de novembro de 2008.
Em termos isto significa que podemos ter um casamento celebrado segundo o regime da
comunhão geral de bens há 50 anos e este artigo 1790.º do CC vem determinar que, se
esse casal, hoje, se quiser divorciar então a partilha terá de ser feita como se tivessem
celebrado o casamento segundo o regime de comunhão de adquiridos.
Dr.ª Sandra Passinhas considera tal solução legal, importa pela lei 61/2008
INCONSTITUCIONAL → não considera a norma do artigo 1790.º CC em si mesma
inconstitucional, mas considera a norma da Lei 61/2008 que manda aplicar aquele artigo
a todos os processos de divórcio a partir de 2008, pois só deveria aplicar-se aos
casamentos celebrados depois de 2008.
Quando as pessoas casam em regime de comunhão geral não há uma expectativa de
partilha, há um direito atual no património de cada um. Ora, se os cônjuges exercem
legitimamente o seu direito potestativo ao divórcio, então a partilha deve ser feita de
acordo com aquilo que os cônjuges acordaram quando casaram.

Artigo 1791.º CC

Como agora não declaração de culpa (não há um cônjuge declarado único ou principal
culpado), então podemos obter alguma vantagem através do artigo 1791.º do CC.
● Quando algum dos cônjuges recebe, na constância do casamento, algum benefício –
seja do outro cônjuge, seja de terceiro-, havendo divórcio, a pessoa pode pedir a
restituição desse benefício, aquilo que foi oferecido em função do casamentos, isto é, em
função do estado de casado.
Exemplo: sogra que tinha medo da nora e estava a “emprestar” (contrato de comodato) a
casa ao filho, à nora e aos filhos. Entretanto estes separam-se e o filho sai daquela casa,
mas a nora permanece lá. A agora ex-sogra pode pedir a perda de benefícios da ex-nora,
uma vez que a causa do contrato de comodato ainda não tinha cessado (a causa era para
a família viver, e ainda vivia lá uma família).

Artigo 1792.º do CC - «Reparação de danos»


Fragilidade da garantia – o casamento é um contrato que geram deveres, sendo que a
violação desses deveres daria origem a uma responsabilidade contratual. Ora, nunca se
falou em responsabilidade contratual por violação dos deveres conjugais, porque,
historicamente, sempre se entendeu que, como estamos no âmbito de relações pessoais,
que há aqui uma fragilidade desta garantia. -> Sempre se entendeu não poder pedir-se
uma indemnização pela conjugação dos deveres conjugais, dado que a sanção para o seu
não cumprimento era o pedido do divórcio.
Havia antes uma figura da «indemnização pela dissolução do casamento».
Com a evolução das coisas, paulatinamente começou a reconhecer-se a fragilidade da
garantia, mas também a reconhecer-se que a pessoa não perde, ainda assim, os seus
direitos de personalidade, pelo que se começou a entender haver lugar uma
«responsabilidade civil extracontratual» quando um dos cônjuges ofende direitos de
personalidade de outrem.
Isto levantou outros problemas: as indemnizações fixadas pelos tribunais eram, nos
mesmos casos, isto é, em casos bastante semelhantes, completamente díspares.
São os tribunais que vão concretizar quando é que deve haver indemnizações e quando
não.

EM SUMA: a interpretação a fazer do artigo 1792.º do CC é a de que o cônjuge, ao


exercer o seu direito potestativo do divórcio (ao exercer a sua liberdade de desvinculação
do casamento) só tem de pagar alguma reparação se, efetivamente, tiver causado danos
ao outro, se tiver ofendido a sua integridade física ou outro direito de personalidade.
● n.º2

➔ Nunca fazer um divórcio em que a causa-fundamento seja a alteração das


faculdades mentais, porque, tal como a separação de facto, também se exige que
dure há pelo menos um ano consecutivo. Portanto, pede-se sempre com
fundamento em separação de facto e nunca com fundamento em alteração das
faculdades mentais, pois neste caso o nosso cliente irá ter de pagar uma
indemnização a título de reparação de danos não patrimoniais ao outro cônjuge,
nos termos do artigo 1792.º/2 do CC.
Esta ação de indemnização (prevista no n.º 1) é uma ação independe e autónoma, uma
vez que é interposta separadamente da ação de divórcio, nos tribunais comuns. → Isto só
não é assim no caso do n.º 2 em que o pedido de divórcio é feito com base na alteração
das faculdades mentais do outro cônjuge (neste caso, o cônjuge pode deduzir pedido de
indemnização pela dissolução do casamento, na própria contestação da ação de divórcio
– indemnização por atos lícitos – trata-se, verdadeiramente, de uma compensação).
Curiosamente, o legislador colocou o interesse dos animais em último na formulação
desta norma, num diploma que visou atribuir um estatuto jurídico aos animais de
companhia, que deixaram de se considerados “coisas”.
Esta norma levanta muitos problemas.

O tutor tem os deveres e as prorrogativas que tem o dono para o direito.


O problema é que esta é norma de divórcio, sendo que o nosso legislador não fez nenhuma
remissão na união de facto para esta norma (como fez para a casa de morada de família,
por exemplo), e também não se aplica aos casos de casais de namorados.

► Em suma: no divórcio por mútuo consentimento que é requerido junta da


conservatória do registo civil, as partes podem acordar sobre os animais de companhia
como elas quiserem, estabelecendo convívios, compensação, quem terá autoridade para
tomar decisões difíceis sobre o animal, etc. – vale aqui a autonomia privada, desde que o
conservador aceite o acordo apresentado.
► Não havendo acordo, o tribunal decide segundo o artigo 1973.º-A do CC

28.11.2020

Casa de morada de família


Artigo 1793.º do CC
Três situações possíveis:
1. Quando a casa é arrendada.
2. Quando a casa é própria do outro cônjuge.
3. Quando a casa é um bem comum.

CASA É ARRENDADA
Artigo 1105.º do CC → trata da transmissão da casa arrendada em caso de divórcio.
• Artigo 1068.º do CC → Comunicabilidade do contrato de arrendamento (na
prática, é importante saber quem é o arrendatário).

Nos termos do artigo 1105.º do CC, determina-se que, em caso de divórcio decidido por
acordo dos cônjuges, e incidindo o arrendamento sobre a casa de morada de família, então
os cônjuges podem optar:
• Pela transmissão do arrendamento
Se o arrendamento foi celebrado por um dos cônjuges e eles decidem que fica o outro
como arrendatário.

• Pela concentração do arrendamento


Se o contrato de arrendamento foi celebrado pelos dois cônjuges e estes decidem que,
após o divórcio, fica apenas um deles como arrendatário.

Há aqui uma conexão com o divórcio por mútuo consentimento, porque a casa de
morada de família, no divórcio por mútuo consentimento administrativo é um dos acordos
completares obrigatórios.
Assim, em caso de divórcio por mútuo consentimento:
- Ou as partes chegam a acordo quanto ao destino da casa de morada de família,
- Ou, se não chegarem a acordo, o processo passa a correr no tribunal, sendo
este quem vai decidir sobre a casa de morada de família.

Vimos, portanto, que as partes podem decidir pela transmissão ou concentração do


arrendamento. Ora, o senhorio não é ouvido neste âmbito, sendo as partes que decidem
e entregam o acordo ao conservador. Deste modo, uma vez homologado o acordo (se o
for), pelo juiz ou pelo conservador do registo civil, a decisão é comunicada
oficiosamente ao senhorio. → Temos aqui uma novação subjetiva do contrato que é
imposta ao senhorio.
➔ Através da novação objetiva opera-se a substituição da obrigação emergente de
um certo contrato, mantendo-se os respetivos sujeitos

Se, porém, as partes não chegarem a acordo, decide o tribunal: tribunal tem de decidir
sobre a transmissão ou a concentração de uma posição contratual – o n.º 2 do artigo 1105.º
do CC aponta aqui alguns fatores a ter em conta pelo tribunal: as necessidades de cada
um dos cônjuges, os interesses dos filhos e outros fatores relevante.
Posteriormente, o senhorio é oficiosamente notificado da decisão.

CASA É PRÓPRIA DE UM DOS CÔNJUGES


Artigo 1793.º do CC
N.º 1
Não tendo as partes chegado a acordo, um dos cônjuges tem de pedir o arrendamento,
sendo que o tribunal pode vai constituir este arrendamento entre as partes, ou seja,
constituir um dos ex-cônjuges em senhorio e outro em arrendatário. → Este é um
verdadeiro contrato de arrendamento.
O tribunal tem necessariamente de fixar uma renda, caso contrário não estará a constituir
um arrendamento.
Para o tribunal impor um inquilino ao ex-cônjuge tem de tomar em consideração:
a. As necessidades de cada um dos cônjuges
b. O interesse dos filhos do casal

Só se podem aqui ter em conta única e exclusivamente estes dois fatores, pois trata-se de
uma situação de gravidade extrema: trata-se de um proprietário que tem um imóvel, que
é seu é próprio, e em que a lei determina que esse imóvel é dado de arrendamento ex-
cônjuge (imaginamos: pode ser o cônjuge que pediu o divórcio porque já arranjou outro
companheiro que fica na casa, que é própria do outro ex-cônjuge).
● Háquem diga (Dr. Leite de Campos) que esta norma é inconstitucional, por se trata de
uma expropriação por utilidade privada (o proprietário fica sem a coisa que lhe pertencia).
●A Doutora Sandra passinhas não considera que se trate de uma expropriação, uma vez
que não há uma privação da propriedade (o imóvel continua a pertencer ao seu
proprietário, apenas é constituído arrendamento sobre ele), e que o prejuízo que há para
o proprietário do imóvel é que ele, em vez de usar a coisa diretamente, em vez de retirar
utilidades diretas da coisa, ele vai retirar utilidades indiretamente, uma vez que receberá
os frutos do mesmo – a renda.
Assim, A Dr.ª Sandra Passinhas considera que a ofensa aqui é outra – no fundo, há aqui
uma ofensa pessoal, porque a casa é dele e nela vai ficar uma pessoa com quem ele
rompeu os laços.

De qualquer das formas, o artigo 1793.º consagra uma restrição ao direito de propriedade
(artigo 62.º da CRP). Ora, as restrições aos DLGs, por força do artigo 18.º da CRP, só
podem ter lugar quando:
- A restrição só pode ter lugar se visar tutelar um outro direito fundamental ou
interesse constitucionalmente protegido;
- A restrição feita ao DLG tem de ser proporcional ao fim visado.
► Guilherme de Oliveira: considera que esta restrição visa salvaguardar um outro
interesse constitucionalmente protegido: o interesse da família.
► Dr.ª Sandra Passinhas: considera que o ex-cônjuges, após dissolução do património por
divórcio, deixa de ser família (deixam de existir os laços de afinidade, há partilha apenas
dos bens que são comuns ao casal, há perda de benefícios, o direito a alimentos é
residual/mínimo → o próprio legislador quis que houvesse uma verdadeira rutura com o
ex-cônjuge). Assim:
● Quando há filhos – a norma do artigo 1793.º do CC não coloca nenhuma
dificuldade, porque neste caso, sim, há que proteger um interesse superior que
é o da família, e, portanto, a restrição mostra-se justificada.
● Quando não há filhos– ou seja, quando estamos apenas a falar de dois cônjuges,
então já não há aqui nenhum outro direito fundamental ou interesse
constitucionalmente protegido a salvaguardar, pelo que a restrição ao direito de
propriedade não se mostra justificada neste âmbito.
Ora, mesmo que se considere que, mesmo apos o divorcio, o ex-cônjuge continua a
considerar-se família e que, portanto, esta primeira condição imposta às restrições aos
DLGs continua a verificar-se, então a verdade é que ela acaba por cair no domínio do
requisito da proporcionalidade, porque, de acordo com o conceito geral de alimentos
do artigo 2003.º do CC, este englobam o “sustento, a alimentação e o vestuário” → Logo,
se o ex-cônjuge precisa de alimentos, o juiz não tem de lhe dar a casa própria do outro de
arrendamento, pois pode fixar-lhe uma prestação de alimentos superior, para que possa
pagar a renda de um outro imóvel, ficando o proprietário do imóvel com aquele bem que
é seu, respeitando-se o seu direito de propriedade.

N.º 2

Apesar de o arrendamento ficar aqui sujeito às regras do arrendamento para habitação, o


tribunal tem aqui uma ampla possibilidade de modular o contrato.

CASA É UM BEM COMUM


O legislador cometeu um erro na formulação do artigo 1793.º/1 do CC quando diz que
que “pode o tribunal dar de arrendamento (…) a casa de morada de família, quer essa
seja comum quer própria do outro”. Isto está errado porque quando a casa é comum,
então não há nenhum contrato de arrendamento. Ora, se a casa for comum, aplica-se o
regime da compropriedade (em particular, o artigo 1406.º do CC), porque o artigo 1404.º
CC determina que as regras da compropriedade são aplicáveis a outras formas de
comunhão.
Qualquer dos comproprietários pode usar a coisa comum (no caso, a casa de família).
Numa situação de dissociação familiar, os cônjuges vão querer o uso exclusivo, isto é que
o uso que é comum passe a uso exclusivo de um deles. Ora, assim sendo, estabelece o
artigo 1406.º/1 do CC que, na falta de acordo sobre o uso da coisa comum, a qualquer
dos comproprietários é lícito servir-se dela.
Portanto, havendo acordo, este será sobre o uso exclusivo da casa: é aqui fulcral saber se
este é um uso exclusivo gratuito ou oneroso, pois se os cônjuges nada disserem ou
fixarem expressamente quanto ao facto de ser oneroso, então ele tem-se como gratuito.
Ou seja, os cônjuges têm de fixar expressamente no acordo que o uso exclusivo é oneroso
(no caso de o ser).

Destino dos animais de companhia – art. 1973.º-A do CC


Aqui a novidade e a introdução do bem-estar do animal.
É mais um assunto sobre o qual as partes têm a possibilidade de acordar, e, na falta de
acordo, decide o tribunal.

Alimentos a ex-cônjuge
Arts. 2015.º e ss. do CC
«Alimentos» - estamos sempre a falar de uma prestação que uma das partes (o credor)
recebe de outra pessoa (o devedor de alimentos).
Artigo 2003.º - noção geral de alimentos → encontra vários desvios na nossa ordem
jurídica.
Os alimentos, por base, partem do equilíbrio entre:
- A necessidade do cônjuge que precisa de alimentos;
- Dos recursos/possibilidades do cônjuge que vai proceder à prestação de
alimentos.

Quem tem direito a alimentos


Artigo 2009.º do CC – lista de pessoas obrigadas a alimentos:
Artigo 2009.º/1/a) do CC - «o cônjuge ou ex-cônjuge»
➔ Cônjuge está obrigado a alimentos na separação de facto (situações de dissociação
familiar)
➔ O ex-cônjuge está obrigado a alimentos no âmbito do divórcio

A lei não estabelece um limite para o ex-cônjuge estar obrigado a alimentos.


Os artigos 2015.º e ss. (Capítulo II - «Disposições especiais»)
O dever de alimentos após o divórcio, trata-se de uma subsistência do dever de assistência
– assistência pós conjugal.
Artigo 2016.º/1 do CC - consagra a regra: a regra é não haver dever de assistência, pois
cada cônjuge deve prover à sua subsistência, depois do divórcio.
Isto significa que, quem pede alimentos no divórcio, para além de ter de provar as suas
necessidades e as possibilidades de quem presta, tem de provar que não consegue prover
à sua subsistência.
Os alimentos podem ser negados por razões de equidade – artigo 2016.º/3 do CC.

Montante dos alimentos – artigo 2016.º-A do CC


O n.º 3 esclarece, desde logo, que o “cônjuge credor não tem o direito de exigir a
manutenção do padrão de vida de que beneficiou na constância do matrimonio”. Ou seja,
a este preceito subjaz a ideia fundamental de que o casamento não é um “seguro de vida”,
não é um meio de enriquecimento que se mantém, mesmo após o divórcio.
Porém, nada impede que ambas as partes acordem numa “indemnização”.
O artigo 2016.º- A, n.º 1 estabelece uma série de fatores/elementos a tomar em
consideração, visando-se, com isso, garantir uma subsistência condigna ao ex-
cônjuge, o que pode significar uma prestação acima do limiar mínimo.
*remissão para as aulas práticas*
► Duração do casamento (é diferente se o casamento durou 4 anos ou se durou 20 anos)
► Colaboração prestação à economia do casal
► Idade e estado de saúde dos cônjuges
► Qualificações profissionais e possibilidade de emprego
► Tempo que terão de dedicar, eventualmente, à criação dos filhos comuns
► Rendimentos e proventos
► Novo casamento ou união de facto (aqui, do cônjuge devedor de alimentos)
► Todas as circunstâncias que, de um modo geral, influam sobre as necessidades de quem
recebe os alimentos e a possibilidade de quem os presta

Duas balizas quanto ao montante dos alimentos


1. Montante mínimo indispensável (artigo 2003.º CC)
2. Não há direito à manutenção do padrão de vida (artigo 2016.º/3 CC), mas
Momento da cessação dos alimentos, mas há uma série de elementos elencados
no n.º 1 do artigo 2016.º-A que visam garantir uma subsistência condigna ao ex-
cônjuge.
Cessação da obrigação de alimentos
Artigo 2019.º do CC
Cessa o direito a alimentos quando:
• O alimentado contrair novo casamento;
• O alimentado iniciar união de facto;
• O alimentado se tornar indigno do benefício pelo seu comportamento moral.

Na obrigação de alimentos a cônjuge ou a ex-cônjuge:


- Ou é acordada pelas partes, no divórcio por mútuo consentimento administrativo
- Ou, na falta de acordo, o processo segue para a via judicial (divórcio por mútuo
consentimento judicial) onde o juiz:
a. Primeiro, tenta que as partes cheguem a acordo e homologa o acordo,
b. ou o próprio juiz decide em vez das partes aplicam as normas e os
critérios supramencionados.

CRÉDITO COMPENSATÓRIO
Artigo 1675.º CC.
Vimos que o dever conjugal de assistência tem duas vertentes:
1. Quando o casal está junto → Obrigação de contribuir para os encargos da
vida familiar.

2. Quando o casal está separado (ainda não houve divórcio, apenas separação
de facto) → obrigação de alimentos ao cônjuge (e não ao ex-cônjuge).

Artigo 1676.º CC
Contribuição para os encargos da vida familiar pode ser feita de duas formas:
• Através da partilha de proventos (rendas, salários, lucros, etc,) afetação de
recursos aos encargos.
• Pelo trabalho despendido na manutenção do lar e na educação dos filhos.

N.º 2
Se um dos cônjuges contribuir consideravelmente mais do que o outro para os
encargos da vida familiar, então, no divórcio, ele pode ter direito a um crédito
compensatório. → Não se trata apenas de contribuir mais, mas contribuir de uma forma
“consideravelmente superior”.
A lei considera que um dos cônjuges contribuiu consideravelmente mais para os encargos
da vida familiar, quando:
- Tenha renunciado de forma excessiva à satisfação dos seus interesses em
favor da vida em comum (designadamente, à sua vida profissional);
- E, com isso, tenha tido prejuízos patrimoniais importantes.
O legislador determinou, aqui, requisitos tão estritos que, a aplicarmos literalmente esta
norma nunca haveria lugar a crédito compensatório.

► Posição da Doutora Sandra Passinhas em relação a esta norma: há aqui uma diferença
entre aquilo que o legislador disse e aquilo que ele quis dizer. Ora, entende que o que o
legislador quis dizer, isto é, aquilo que o crédito compensatório visa é compensar as partes
pelo desequilíbrio agravado a que elas chegam no final da relação, por conta do
casamento.
N.º 3
Estabelece que este crédito apenas é exigível na dissolução do casamento/no momento da
partilha.
➔ A NÃO SER QUE vigore o regime da separação, ou seja:
- Se houver uma comunhão irá haver partilha de bens, sendo que, na
partilha dos bens, determina-se o pagamento deste crédito.
- Já se o regime for de separação de bens, não há partilha e, portanto, este
crédito tem de ser exigível numa ação autónoma para este fim.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS


Efeitos do divórcio relativamente ao exercício das responsabilidades parentais

O nosso legislador estabeleceu um regime de exercício das responsabilidades parentais


com base em dois vetores:
1. Quando os pais estão juntos
2. Quando os pais estão separados

Em sede de divórcio, o acordo sobre as responsabilidades parentais dos filhos menores


tem que regular 3 aspetos:
1. Com quem é que a criança reside
2. Prestação de alimentos do outro progenitor
3. Direitos de convívio com o outro progenitor

DETERMINAÇÃO DA RESIDÊNCIA DO FILHO MENOR


Artigo 1906.º/7 do CC (agora é o n.º 8)
Alienação parental – consiste em um dos progenitores ter comportamentos desviantes,
no sentido em são comportamentos que denigrem a imagem do outro progenitor junto da
criança, ou então que dificultam o exercício das responsabilidades parentais relativamente
à criança.
Esta é uma norma que visa impedir esses comportamentos desviantes, representa uma
“luta” contra os comportamentos de alineação parental.
Note-se, no entanto, que alguns destes comportamentos são justificados,
nomeadamente em casos de violência doméstica, sendo que a nossa prevê mesmo a
alienação da criança nesses contextos, no artigo 1906.º-A do CC.
Os juristas recusam os tratamentos unitário do conceito “alineação parental”.

RESIDÊNCIA ALTERNADA
No dia 4 de novembro de 2020 foi aprovada a Lei n.º 65/2020 (só entra em vigor em
janeiro de 2021) – veio alterar o código civil, alterando o artigo 1906.º, aditando dois
números.
Mesmo havendo residência alternada, pode haver fixação, pelo tribunal, dos
alimentos, porque muitos progenitores queriam residência alternada para não pagar
alimentos aos filhos. Assim, permite-se que a criança, nas duas casas onde vive, possa tr
um nível de vida semelhante.

Direito à audição da criança – a criança tem o direito a ser ouvido sobre com qual dos
progenitores quer viver (ela é ouvida, mas não é ela que decide).

PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS DO OUTRO PROGENITOR AO FILHO

CONVÍVIO COM O OUTRO PROGENITOR


Aniversários, Natal, férias do natal, do verão, da páscoa, feriados, aniversários dos
irmãos, etc.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES


PARENTAIS
A filiação é um vínculo jurídico.
A filiação estabelece-se apenas e só através das formas taxativamente previstas na lei.
Pode haver confiança da criança a uma terceira pessoa, sendo esta a sua representante
legal e quem vai exercer as responsabilidades parentais relativamente a ela. Porém,
empiricamente o normal é que exista um pai e uma mãe que exerçam as responsabilidades
parentais.
Assim, o exercício das responsabilidades parentais é o efeito mais importante do
estabelecimento da filiação.
O conceito das responsabilidades parentais foi um conceito adotado pelo legislador em
2008, pois a nova lei do divórcio é também a nova lei das responsabilidades parentais.

 Para além disso, a nossa ordem jurídica substituiu definitivamente a expressão “poder
paternal”.
Esta substituição terminológica operou porque se considerou que a expressão “poder”
poderia transmitir a ideia de uma certa objetivação da criança, ou que as responsabilidades
parentais se traduzissem numa autoridade.
As responsabilidades parentais duram, à partida, até à maioridade ou até à emancipação
do menor – artigo 1877.º CC.

Conteúdo das responsabilidades parentais


Artigo 1878.º/1 CC – determina que «compete aos pais, no interesse dos filhos:
• Velar pela segurança e saúde destes,
• Prover ao seu sustento
• Dirigir a sua educação
• Representá-los, ainda que nascituros
• E administrar os seus bens

O n.º 2 acrescenta ainda que os filhos devem obediência aos pais e estes devem, contudo,
de acordo com a maturidade dos filhos, ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares
importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.

➔ Este é o núcleo do que são as responsabilidades parentais.


A questão que aqui nos interessa é o facto de tanto o pai como a mãe terem o dever de
prover ao sustento dos filhos até ao termo do exercício das responsabilidades parentais.

Artigo 1880.º CC – «Despesas com os filhos maiores e emancipados»


A norma do artigo 1880.º do CC estabelece uma abertura relativamente ao que é dito do
artigo 1877.º do CC.
Este dever de sustento dos pais relativamente aos filhos maiores e emancipados é uma
obrigação que se mantém enquanto se mantiver a formação profissional dos filhos (logo,
isto vai para além dos 18 anos).

❖ Situação de União Familiar (pais estão juntos)


Este dever simplesmente cumpre-se através da contribuição para os encargos da vida
familiar.

❖ Situação de dissociação familiar


Esta obrigação cumpre-se através de uma prestação de alimentos.

Como se exercem as responsabilidades parentais

Quando os pais estão juntos


Artigos 1901.º a 1904.º CC

Artigo 1901.º CC - «Responsabilidades parentais na constância do matrimónio»


Artigo 1911.º CC – As disposições que regem o exercício das responsabilidades parentais
na constância do matrimónio (artigos 1901.º a 1904.º do CC) aplicam-se igualmente aos
casos em que ambos os progenitores vivem em condições análogas às dos cônjuges, por
força do n.º 1 do artigo 1911.º do CC.
Os exercícios das responsabilidades parentais é feito por ambos os cônjuges e as
responsabilidades parentais são realizadas de comum acordo.
O artigo 1902.º do CC estabelece uma presunção, de acordo com a qual «se um dos pais
praticar ato que integre o exercício das responsabilidades parentais, presume-se que este
age de acordo com o outro». Exceto nos casos em que a lei exige expressamente o
consentimento de ambos os progenitores ou se trate de um ato de particular importância.
Ora, o artigo 1902.º/1, in fine estabelece ainda que a falta de acordo entre os cônjuges
não é oponível a terceiro de boa fé.

Morte de um dos progenitores (artigo 1904.º CC)


Neste caso, o exercício das responsabilidades parentais caberá apenas ao cônjuge
sobrevivo (artigo 1904.º/1 do CC).
Casos em que a criança apenas tem um progenitor estabelecido
Lei 137/2015 veio acrescentar ao CC o artigo 1904.º-A.
Assim, quando a filiação se encontre estabelecida apenas quanto a um dos pais, as
responsabilidades parentais podem ser atribuídas, por decisão judicial, ao cônjuge ou
unido de facto deste. → Neste caso, as responsabilidades parentais serão exercidas em
conjunto.
N.º 4 → o exercício das responsabilidades parentais inicia-se e extingue-se antes da
maioridade ou emancipação APENAS POR DECISÃO JUDICIAL.
➢ O legislador veio abrir esta possibilidade de o cônjuge ou companheiro (unido de
facto) do único progenitor estabelecido poder exercer responsabilidades parentais.

Este artigo aplica-se sempre que haja uma única filiação estabelecida, tenha ela sido
estabelecida através de:
- Vínculo biológico
- Adoção
- PMA

Quando os pais estão separados (divórcio, separação judicial de


pessoas e bens ou declaração de nulidade ou anulação do casamento)
Artigos 1905.º e ss. do CC
Este regime aplica-se sempre que haja dissociação familiar.
► Por força do artigo 1909.º/1 do CC, aplica-se, nos casos de separação de facto, as
disposições relativas ao divórcio.
Nota: Na separação de facto ainda há casamento, mas há dissociação familiar.

► O Art. 1911.º/2 do CC manda aplicar o regime relativamente ao exercício das


responsabilidades parentais em caso de divórcio à situação de rutura da união de facto.

► O artigo 1912.º do CC – situação de dissociação familiar em que não há vida em


comum entre os progenitores.

Artigo 1906.º do CC
O artigo 1906.º estabelece a distinção entre questão de particular importância e atos da
vida corrente do menor.
Questões de particular importância – quanto a estas, ambos os progenitores decidem
sobre elas, exercem as responsabilidades parentais quanto a estas questões de particular
importância, nos mesmos termos em que o eram na constância do casamento.
Atos da vida corrente – são decididos pelo progenitor com quem a criança reside
habitualmente, ou ao progenitor com quem ele se encontra temporariamente, porém →
este último, ao exercer as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações
educativas mais relevantes, tal como elas são definidas pelo progenitor com quem o
filho reside habitualmente – assim determina imperativamente o artigo 1906.º/3 do CC.
Ou seja, o progenitor com quem o filho menor se encontre temporariamente não pode
contrariar as orientações educativas fundamentais da vida da criança incutidas pelo
progenitor com quem ela reside habitualmente.
O regime do artigo 1906.º/1 é imperativo, tanto que o n.º 2 deste mesmo preceito
determina que só se pode inibir ou retirar o exercício das responsabilidades parentais
quanto a atos da vida corrente a um progenitor através de decisão judicial e nunca por
acordo dos pais. Só o tribunal, através de decisão especialmente fundamentada, pode
determinar que o exercício em conjunto das responsabilidades parentais é contrário aos
interesses da criança.
Delegação do exercício das responsabilidades parentais relativas aos atos da vida corrente
– artigo 1906.º/4 do CC

Artigo 1906.º/6 (agora é o n.º 7) → o progenitor que não exerça, no todo ou na parte, as
responsabilidades parentais tem o direito de ser informado sobre o modo do seu exercício
(designadamente sobre a sua educação e as condições de vida do filho).

Situações de violência doméstica entre os progenitores


O artigo 1906.º-A do CC determina que se considera que o exercício em comum das
responsabilidades parentais pode ser julgado contrário aos interesses do filho:
a) Se for decretada medida de coação (atenção: ainda não é uma sentença) ou
aplicada pena acessória de proibição entre progenitores;
b) Ou estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência
doméstica e de outras formas de violência em contexto familiar.
O legislador não se refere a quaisquer sentenças ou decisões definitivas, pois basta que
haja o risco para que o tribunal possa considerar contrário ao interesse da criança o
exercício comum das responsabilidades parentais e proceder a uma restrição destas.

Já vimos que, quanto ao exercício das responsabilidades parentais, os progenitores vão


ter de acordar quanto a 3 pontos:
1. Residência da criança
2. O direito de convívio com o outro progenitor
3. Alimentos

ALIMENTOS DEVIDOS AO FILHO


Artigo 1905.º do CC - «Alimentos devidos ao filho»
Esta norma apresenta uma falha grave, porque o legislador parece ter-se esquecido que
os alimentos devidos ao filho e a forma de os prestar, para além de ser estabelecidos por
acordo dos pais, também o podem ser por sentença judicial.
► O n.º 2 do artigo 1905.º do CC veio estabelecer que, para efeitos do artigo 1880.º,
entende-se que se mantém para depois da maioridade (até que o filho complete 25 anos
de idade) a pensão fixada em seu benefício durante a menoridade).
Ou seja, o legislador veio aqui aumentar temporalmente a eficácia ou da decisão judicial
que fixe uma prestação de alimentos ou do acordo dos progenitores homologado.

Exceção
O ónus da prova impende sobre o progenitor interessado em fazer valer a exceção.
Portanto, aplica-se a 1.ª parte do n.º 2 artigo 1905.º do CC, a não ser que:
▪ O processo de educação do filho ou formação profissional ficar concluído antes
de este completar os 25 anos de idade
▪ Se o processo de educação profissional tiver sido livremente interrompido pelo
filho
▪ Ou, ainda, se o obrigado à prestação de alimentos fizer prova da irrazoabilidade
da exigência de tal prestação (o ónus cabe ao devedor de alimentos).

EM SUMA
Até aos 18 anos o exercício das responsabilidades parentais inclui o dever de sustento e
termina com a maioridade ou emancipação do filho menor.
O dever de sustento dos filhos mantém-se, todavia, enquanto não terminar a sua formação
profissional.
Até aos 25 anos vale a decisão judicial ou o acordo alcançado e homologado na
menoridade quanto à prestação de alimentos.
A partir dos 25 anos o filho já tem de pedir alimento de maior ao progenitor!
- Se ainda estiver no âmbito da sua formação profissional, pede-os nos termos do
artigo 1880.º do CC;
- Se já tiver completado a sua formação profissional, pede nos termos gerais dos
artigos 2003.º e ss. CC.

Separação judicial de pessoas e bens


❖ Está regulada nos artigos 1794.º e ss. do CC.
A separação de pessoas e bens consiste numa modificação da relação matrimonial,
numa modificação do estatuto matrimonial, e não numa extinção destas (como sucede
com o divórcio).
Ou seja, são casos em que os cônjuges decidem permanecer casados, o casamento/a
relação matrimonial subsiste, mas vão “afrouxar” o vínculo matrimonial.
Isto pode acontecer, por exemplo, no âmbito de um casamento católico em que os
cônjuges assumem o dever de não se divorciar.

O artigo 1794.º do CC estabelece, desde logo, uma remissão para as disposições gerais
relativas ao divórcio (contidas entre os artigos 1773.º e 1793.º-A).
Portanto, a separação de pessoas e bens:
- Pode ser por mútuo consentimento
- Se houver acordo quanto aos acordos complementares e eles forem
homologados, então a separação de pessoas e bens é requerida na
conservatória do registo civil e segue a via administrativa.
- Se não houver acordo quanto aos acordos suplementares então será uma
separação de pessoas e bens judicial, segue a via judicial (no tribunal).
- Sem consentimento do outro cônjuge
- Com fundamento na rutura definitiva (ou na separação de facto)
- Na alteração das faculdades mentais
- Na ausência do outro cônjuge por tempo não inferior a um ano

EFEITOS PATRIMONIAIS
Há igualmente partilha de bens nos mesmos termos em que o divórcio.
EFEITOS PESSOAIS

Artigo 1795.º-A CC: A separação de pessoa e bens não dissolve o vínculo conjugal,
mas extingue os deveres de coabitação e assistência, sem prejuízo de direito a
alimentos.
CESSA:
Dever de coabitação e, portanto:
- Comunhão de leito
- Comunhão de mesa
- Comunhão de habitação
Dever de assistência:
- Dever de contribuir para os encargos da vida familiar.
Dever de fidelidade
Porque quem está separado de pessoas e bens pode entrar numa união de facto.

MANTÉM-SE:
Dever de colaboração
Dever de fidelidade

Apesar de a epígrafe ser desta secção se referir a “separação judicial de pessoas e bens”,
o Dr. Guilherme de Oliveira e a Dr.ª Sandra Passinhas, referem-se sempre apenas a
“separação de pessoas e bens”, pois esta separação pode não ser judicial, podendo ser
apenas administrativa.
Artigo 1795.º-B do CC – a separação de pessoas e bens pode terminar através da:
o Reconciliação – artigo 1795.º- C
o Pela Dissolução do casamento (morte ou divórcio – art. 1795.º-D)

Conversão da separação em divórcio – artigo 1795.º -D do CC.


Já o artigo 1795.º-C do CC esclarece ainda que os cônjuges podem restabelecer a vida em
comum e o exercício pleno dos direitos e deveres conjugais, ou seja, podem a todo o
tempo proceder a uma reconciliação. Esta poderá, no entanto, ser judicial (caso a
separação de pessoas e bens tenha sido judicial) ou administrativa, pois leva novamente
à alteração do estatuto matrimonial.
A separação de pessoas e bens é muito mais grave do que a separação de facto, pois
há uma verdadeira alteração/modificação no estatuto matrimonial.
A separação de pessoas e bens é uma modificação no estatuto matrimonial, alterando o
estatuto pessoal dos cônjuges que deixam de estar casados, para passarem a terem o estado
civil “separados”. Em termos de procedimento e gravidade é como se fosse um divórcio,
só que os seus efeitos não são tão “fortes” quanto os efeitos do divórcio, pois há apenas
um “afrouxamento” do vínculo conjugal.

UNIÃO DE FACTO
Está regulada na Lei n.º 7/2001, de 11-05 -
Em Portugal, a união de facto é mesmo um “facto”, e não uma união civil registada (como
em alguns países). A nossa lei protege a união de facto enquanto tal, não podendo
inscrever a união de facto no registo civil (não há um estado civil “unido”).
A Lei n.º 7/2001 protege quem vive a União de Facto.
União de facto – é a situação jurídica de duas pessoas que, independentemente do sexo,
vivam em condições análogas às dos cônjuges há mais de dois anos – artigo 1.º/2.

Requisitos que têm de verificar-se para que haja situação análoga à dos cônjuges:
1. Coabitação
a. Comunhão de leito
b. Comunhão de mesa
c. Comunhão de habitação
Vimos já que “comunhão de habitação” significa ter uma residência ou uma sede de
família. E a sede de família, tecnicamente, é a casa de morada da família.
Vimos também que os cônjuges podem, na verdade, optar por viver em casas diferentes,
não se colocando em causa este dever e pressuposto conjugal. Ora, na união de facto há
efetivamente um maior grau de exigência quanto à sede de família, pois é um
fundamento da proteção dos unidos de facto.

2. Unidade
3. Exclusividade
Razões
Hoje em dia, e tendo em conta a forma de viver dos dias de hoje, a maior parte dos jovens
opta pela união de facto como uma forma de preparação para o casamento, ou então há
quem viva em União de Facto porque simplesmente não acreditam no casamento, ou não
acreditam no casamento com aquela pessoa, porque já foi casada uma vez e não pretende
casar outra vez, etc.. Há inúmeras razões que sustentam a opção do casal por este
expediente.

►A lei portuguesa exige uma estabilidade de dois anos para que a união de facto possa
ser protegida.

Artigo 2.º
A lei não atribui os efeitos da união de facto, isto é, são factos impeditivos da atribuição
de direitos ou benefícios:

• A idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união de facto. – al.


a)
Ou seja, só a partir dos 18 anos se pode reconhecer a união de facto, pois liga-se aqui à
capacidade nupcial (só a partir dos 16 anos têm capacidade nupcial).

• Demência notória e acompanhamento de maior (salvo se na sentença estiver


salvaguardada esta possibilidade). – al. b)
• Casamento não dissolvido – al. c)
Uma pessoa casada não pode viver em União de facto, desde logo, porque não está em
unidade ou exclusividade (tem um cônjuge). Salvo se tiver sido decretada a separação de
pessoas e bens.
Assim, uma pessoa separada de pessoas e bens pode entrar numa união de facto e
esta produzirá efeitos (artigo 2.º/ c) do diploma).

• Parentesco na linha reta ou no 2.º grau da linha colateral ou afinidade na linha


reta. – al. d)
Parentesco na linha reta – pais, filhos, avós, netos.
Parentesco no 2.º grau da linha colateral – irmãos
Afinidade na linha reta – genros, sogros, noras, madrastas, padrastos, enteados, etc.
• Condenação anterior de uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio
doloso ainda que não consumado contra o cônjuge do outro. – al. e)

Prova da união de facto


Artigo 2.º-A
De acordo com o n.º 1, na falta de disposição legal ou regulamentar que exija prova
documental específica, a união de facto prova-se por qualquer meio legalmente
admissível (prova testemunhal, por exemplo).
n.º 2 – pede-se o registo de nascimento para se saber se não está lá averbado nenhum
outro casamento, ou se eles não são irmãos, etc.
Ora, conclui-se, pela leitura do artigo 2.º-A que a prova da união de facto é simples.
No caso de morte de um dos membros da união de facto – n.º 4.
União de facto dissolvida por vontade – n.º 3

Efeitos da união de facto


Artigo 3.º
A grande diferença aqui é que o unido de facto não tem direitos acessórios em relação ao
falecido – enquanto um dos cônjuges é herdeiro do outro, os unidos de facto não são
herdeiros, ou seja, não constam da lista dos herdeiros.
Porém, o artigo 2020.º/1 CC esclarece que o membro sobrevivo da união de facto tem o
direito de exigir alimentos da herança do falecido → este cônjuge tem de provar a
existência de necessidade de alimentos; e a herança tem de ter bens que possam pagar
estes alimentos.

Neste sentido: Dr. Guilherme de Oliveira considera que a união de facto é uma
relação familiar e não apenas uma relação parafamiliar, afastando-se assim do elenco do
artigo 1576.º do CC.

Dr. Pereira Coelho – considera que, quer o casamento quer a união de facto, baseiam-
se em facto, sendo que a grande diferença é a diferença sucessória.
➢ Dr.ª Sandra Passinhas – considera que a União de Facto é algo diferente do
casamento, devendo ser tutelada enquanto tal. *ler bibliografia neste sentido –
materiais de apoio*
Dissolução da união de facto
Artigo 8.º
A união de facto dissolve-se (n.º 1):
Alínea a) – por morte (com o falecimento de um dos membros).
Alínea b) – por rutura (isto é, por vontade de um dos membros).
Alínea c) – com o casamento de um dos membros
Artigo 8.º/2 – Quando a união de facto se extingue por rutura (n.º 1, al. b)) e o unido
quiser fazer valer algum direito, então ele tem de propor uma ação judicial, pedir para
declarar aquela união de facto, pelo que a prova do artigo 2.º necessita, nestes casos, desta
declaração judicial da existência da união de facto (mas isto é apenas em caso de rutura).

Regime da União de Facto:


Em Portugal, a união de facto resulta da coabitação entre duas pessoas e a essa relação
de facto a ordem jurídica atribui determinados efeitos.
A união de facto vem descrita na Lei nº 7/2001, vem descrita como situação de duas
pessoas que, independentemente do sexo, vivam em condições análogas às dos
cônjuges, e esta lei apenas se aplica, quando vivam nestas condições, há mais de 2 anos.
Estas condições análogas às dos cônjuges implicam então a existência de coabitação (é a
comunhão de leito, mesa e habitação – já não é viver juntos) mais unidade e
exclusividade.

• A Lei 6/2001 de 11 de maio regula a proteção das pessoas que vivam em


economia comum (artigo 2º) – nesta situação, não há comunhão de leito (apenas
comunhão de mesa e habitação), apenas uma economia doméstica, mas não há
qualquer intimidade sexual que distingue a união de facto da economia comum.
A economia comum é pensada sobretudo para a situação dos afilhados e dos padrinhos
católicos, ou irmãos que ficam a viver juntas, etc.
O núcleo da economia comum é a atribuição da casa de morada comum, nos termos do
artigo 5.º e outros direitos (IRS, férias, etc.).
O que importa, aqui, é que a união de facto pressupõe esta situação de analogia com o
casamento.
A união de facto supõe esta condição de analogia com o casamento, não há aqui proteção,
na união de facto, por exemplo, de situações poliamorosas, tal como não existe no
casamento poliamoroso.
► Prova de união de facto – artigo 2º-A, alteração introduzida em 2010, veio facilitar a
prova da união de facto.

EFEITOS DA UNIÃO DE FACTO


Um pouco à semelhança do que fazemos para o casamento, podemos distinguir entre
efeitos pessoais e efeitos patrimoniais.

EFEITOS PESSOAIS
► Possibilidade de adotar (artigo 1979.º do CC - esta norma aplica-se à adoção
conjunta). A adoção pode ser:
- Singular, quando é feita por uma pessoa, individualmente, mesmo que seja casada ou
em unida de facto, sendo, para isso, necessário que o outro cônjuge dê consentimento.
- Conjunta, e, para isso, é necessário que aqueles que queiram adotar tenham mais de 25
anos, e é necessário que estejam casadas ou unidas de facto há mais de 4 anos.

 Relativamente à adoção, os unidos de facto tem os mesmos direitos que os casados


(artigo 7º da lei 7/2001). O que interessa é que estejam juntos há 4 anos, é o mínimo de
estabilidade que a lei exige para permitir a adoção conjunta.

Lei da nacionalidade – permite a aquisição da nacionalidade a quem viver em união de


facto com um português há mais de 3 anos (artigo 3.º/3 da Lei da nacionalidade) – não
é necessário que haja casamento.

Filhos – artigo 36º/4 CRP – Vale, igualmente neste âmbito, a proibição de


discriminação entre filhos nascidos dentro e fora do casamento.
Todavia, há uma diferença quanto à filiação: quando a mãe é casada, presume-se que o
pai da criança é o marido da mãe (presunção prevista no artigo 1826º - presunção pater
ist est), esta presunção não se aplica à união de facto, não se presume que o
companheiro da mãe seja o pai da criança.
Normalmente, o que teremos, num casal que vive em união de facto, será um
reconhecimento voluntário, ou seja, a paternidade estabelece-se por perfilhação, em que
o pai faz a declaração de perfilhação.

• A perfilhação é uma forma de estabelecimento da paternidade, ela tem que


corresponder à verdade biológica (não é a criação de uma relação de filiação),
porque senão ela será impugnável.
Exemplo: durante a gravidez, o casal vivia junto, mas eles zangaram-se e ele saiu de casa,
sendo que depois o pai não estava presente no dia do nascimento do bebé, não
reconhecendo a criança voluntariamente. → Temos então a outra forma de
estabelecimento da paternidade, que é através do reconhecimento judicial, através de uma
ação de investigação da paternidade. Nesta mesma ação ou também designada ação de
justificação, nós temos duas formas de fazer a prova:
- Através de testes biológicos (exames ADN);
- Caso não seja possível fazer os exames ADN, a nossa lei tem presunções
judiciais – quanto ao marido da mãe, a presunção é legal, resulta da lei. O que nós
temos aqui é uma presunção judicial, o efeito da mesma é inverter o ónus da prova
– 349º/350º - presunções legais (remete para o artigo 1826º) /351 do Código Civil.
Presunções Judiciais – aquelas que operam para o processo – 1871º - série de presunções
que operam numa ação de investigação da paternidade – 1871º/c).
Há uma diminuição da força destas presunções, mas esta, referente à vida em comum (c),
está aqui no meio caminho.
EM SÍNTESE: a paternidade de uma criança nascida no âmbito de uma união de facto
estabelece-se ou por reconhecimento voluntário (perfilhação) ou por reconhecimento
judicial – no caso de ser uma ação de investigação da paternidade, verifica-se a presunção
do artigo 1871º/c).
Ainda quanto aos filhos, interessa o artigo 1911/1 e 2 – na constância da união de facto
aplicam-se as mesmas regras que se aplica na constância do casamento (nº1); na rutura
da união de facto, aplicam-se as mesmas regras que se aplicam no divórcio (nº2).
Cumprimento do princípio constitucional – não há discriminação entre filhos nascidos
dentro ou fora do casamento, o que interessa é se os pais estão juntos ou separados.
Os casais que vivam em união de facto também podem recorrer a técnicas de procriação
medicamente assistida – Lei 32/2006 – 6º/1 – equipara-se os casados aos unidos de facto.
O que é que não há aqui do elenco dos efeitos pessoais? Não há desde logo, deveres
conjugais, não há deveres de assistência, de contribuir para os encargos da vida familiar,
não há direito a alimentos, em caso de separação de facto (uma das grandes diferenças
entre a união de facto e o casamento), não há relações de afinidade (para o direito), não
há alteração do nome.

EFEITOS PATRIMONIAIS
➔ Aqui não temos regimes de bens, não temos administração imperativa de bens,
não temos responsabilidade por dívidas, etc.
Na nossa ordem jurídica, temos no artigo 405.º do CC (princípio da liberdade contratual),
o princípio à luz do qual podemos aceitar que as partes celebrem contratos de
coabitação, mas o que acontece é que:
1) Estes contratos não podem alterar regras imperativas
2) E também não pode resultar daqui um casamento que não existe.
No entanto, não há nenhuma tradição em Portugal neste sentido, e isto está relacionado
com a especificidade da nossa união de facto – a nossa união de facto não é uma união
civil registada, não é um pacto civil de solidariedade.
Por exemplo: seria ilegal uma norma que dissesse que os dois seriam responsáveis por
qualquer dívida que um deles contraísse.
EM SUMA:
O que nós dizemos sobre os contratos de coabitação, é que são lícitos na nossa ordem
jurídica, dado que a mesma confere tutela aos mesmos.
➔ Assim, apesar de estes pactos e coabitação serem permitidos, a verdade é que teria
de ser vista a sua validade cláusula a cláusula, e talvez por isto não seja uma
tradição em Portugal celebrar pactos de habitação.

► Artigo 2019.º do CC (alteração de 2010) - norma sobre alimentos – a união de facto


tem este efeito patrimonial de fazer cessar este direito a alimentos que resulte de um
casamento anterior, portanto os alimentos devidos a ex-cônjuge cessam se o mesmo
(credor de alimentos) iniciar uma nova união de facto.

EXTINÇÃO DA UNIÃO DE FACTO – artigo 8º


Pode ocorrer por rutura ou por morte.
Em relação à dissolução da União de facto, não consideramos a alínea c) do mesmo artigo,
porque esperamos que se alguém casar que avise o outro. E daí esta dicotomia de extinção
da União de Facto.

EFEITOS PELA RUTURA:


A dissolução por rutura tem de ser judicialmente declarada, nos termos do artigo 8º/2,
quando se pretendam fazer valer direitos que dependam dela.
E, portanto, para além do pedido que se faz na ação, pede-se ao Tribunal que declare que
existiu uma União de facto e que, por exemplo, que se tem direito à proteção da casa de
morada de família – artigo 8º/2.
Quais são as consequências da rutura? Se houver filhos, a regulação do exercício de
responsabilidade parentais, é aplicada pelo artigo 1911º/2 do CC.

Proteção da casa de morada de família – artigo 4.º


Nos termos do artigo 4.º, e no que à casa de morada de família diz respeito, há uma
equiparação total da rutura da união de facto com o divórcio.
Atribuição da Casa de Morada de Família, em caso de rutura, suporta 3 hipóteses:
❖ Quando é arrendada – aplica-se o artigo 1105º do CC;
❖ Quando é própria de um dos cônjuges – aplica-se o artigo 1793º do CC – ou
seja, podemos ter um contrato de arrendamento criado pelo Tribunal.
❖ Quando a casa é comum – as partes irão celebrar um acordo de uso exclusivo
(não há contrato de arrendamento, porque “não se dá de arrendamento aquilo que
é nosso”), afastando as regras do artigo 1406º (compropriedade). Este acordo de
uso exclusivo pode ser oneroso (pagamento de uma compensação) ou gratuito.

EFEITOS POR MORTE :

→ Alimentos:
No caso de morte, teremos um unido sobrevivo. Este, no âmbito da necessidade, terá
direito a alimentos da herança do falecido (nos termos do artigo 2020.º do CC).

Temos aqui duas exigências cumulativas:


1) De um lado, que alguém precise de alimentos.
O Dr. Guilherme de Oliveira entende que aqui temos de proceder a uma analogia com o
artigo 2016º-A do CC: e, portanto, o montante dos alimentos tem de ser o montante que
permita uma vida digna (não corresponde ao artigo 2003.º do CC, mas antes aproxima-se
mais do artigo 2016.º-A do CC);
2) Por outro lado, temos de ter uma massa de herança que tenha bens suficientes
para pagar os alimentos. → Por sua vez, este direito caduca se não for exercido
no prazo de 2 anos, subsequente à morte.

→ Casa de morada de Família


artigo 5º da lei 7/2001.

 Se a Casa fosse arrendada


vale o artigo 5º/10, o qual manda aplicar o artigo 1106º do CC: neste caso, o
arrendamento transmite-se por morte.
A lei exige apenas que “as pessoas vivessem juntas, naquela casa, há mais de 1 ano” – e
neste caso o arrendamento transmite-se por morte.
A doutrina tem discutido qual a natureza deste direito, porque como estamos no
âmbito do direito sucessório, levantou-se a hipótese de termos aqui um legado
legal – o que é? As deixas testamentárias podem ser feitas a título de herança ou
a título de legado. A herança consiste numa quota de bens; já o legado consiste
num bem certo e determinado. A doutrina entende que a sede normal para
fazermos estas disposições é através do testamento.
O normal é deixarmos um legado no testamento, todavia sempre foram existindo na
nossa ordem jurídica, legados de origem legal.

A pergunta que se coloca aqui é se isto era um legado? Na opinião da Doutora Sandra
Passinhas, não há aqui um legado, porque o legado de origem legal, é uma deixa de
um bem determinado e concreto que a lei faz em vez do de cujus. Ora, neste caso, o de
cujus em vida não poderia ter feito esta deixa testamentária, porque o arrendamento não
é transmissível por morte. É um efeito que resulta da lei, não posso deixar em
testamento. A doutora rejeita a natureza de legado legal, porque não há aqui esta
fungibilidade entre a declaração de vontade de cujus e uma determinação legal, o de cujus
não poderia ter feito esta disposição.
O que temos aqui verdadeiramente é uma transmissão de arrendamento que opera por via
legal, por força do artigo 1106º, por remissão do artigo 5º/10 (e não um legado legal).
➢ Qual era a vantagem de qualificar este direito como um legado legal? É que
poderíamos aplicar as regras da indignidade sucessória, ou seja, imagine-se por
exemplo, uma situação em eu o de cujus foi morto pelo seu unido de facto, à luz
do direito das sucessões, essa pessoa é indigna de suceder, está afastada da
sucessão.

 Se a casa for própria do outro unido

A lei estabelece aqui uma proteção forte do unido – nesta situação:


► Em primeiro lugar, a lei confere um direito de uso e habitação (direito real regulado
nos artigos 1484º e ss. do CC): é um direito de uso, tecnicamente, mas quando o direito
incide sobre casa de morada, designa-se direito de habitação.
O que acontece é que o unido sobrevivo tem um: a) direito de uso do recheio da casa,
e b) direito da habitação da casa.
A lei protege o lar onde as pessoas viviam, um deles morreu, o outro mantém o direito de
uso do recheio e um direito de habitação da casa.
Mantém este direito por, no mínimo 5 anos, OU então por um período igual ao da
duração da união de facto. → Este é um direito gratuito, não há contrapartida por este
uso e habitação.
Exemplo concreto: se a união de facto durou por 2 anos, o direito de uso e habitação
subsiste durante 5 anos,; se durou 3 anos é por 5 anos; se a união de facto durou por 7
anos, o direito é por 7 anos, e assim sucessivamente.
► Quando termina este direito de uso e habitação, o unido sobrevivo tem direito a um
arrendamento da casa, nas condições gerais do mercado, sendo que não se houver
acordo quanto ao arrendamento, será o Tribunal decidir.
► Durante este tempo todo, o sobrevivo tem ainda um direito de preferência da
alienação do imóvel.
Em suma: tem um direito de uso e habitação; depois tem um direito de arrendamento, e
durante todo este tempo, tem um direito de preferência na alienação do imóvel.

Exemplo:
Imaginemos que o senhor A vive em união de facto com a senhora B. o António tem um
filho, que é o Carlos, e é filho só dele. Quando o António morrer, e não houver testamento,
o Carlos vai herdar a casa do António (o filho vai herdar a casa do pai), só que a casa vem
onerada com o direito de uso e habitação pelo menos de 5 anos, e depois disso vem
onerada com o arrendamento – isto é imperativo, ou seja: senhor A nem sequer poderia
ter feito um testamento a dizer “não quero que a B fique na casa” nem que “quero que a
casa vá para o meu filho”.

Na opinião da Doutora Sandra Passinhas, estas normas podem ser feridas de


inconstitucionalidade. Imaginemos que o senhor A, é pai de Carlos, de 12 anos, e o que
vai acontecer? A não casa com B, não casa legitimamente porque não quer que a B seja
sua herdeira. Mas o legislador quando fez este regime, pensou na hipótese “cor de rosa”,
caso Carlos fosse filho de ambos – portanto o pai morre e Carlos ficaria com a mãe.
O que é que acontece, quando o A morre, a senhor B pode pôr o filho, Carlos, fora de
casa, pois A tem o direito de uso e habitação exclusivo sobre ela.
A lei concedeu imperativamente ao unido um direito de uso e habitação exclusivo. →
Em certas circunstancias isto pode parecer inconstitucional: pois nas situações
supramencionadas, em concreto, o legislador protege mais o unido de facto do que
protegeria o cônjuge: é que então teria sido preferível para o A ter casado, e assim seriam
seus herdeiros: Beatriz (cônjuge) e Carlos, se fossem co-herdeiros, os dois tinham a
possibilidade de usar a casa.
COM ISTO, o legislador, nesta situação concreta, protege mais o unido do que protegeria
o cônjuge – isto é inverter a ordens de ideias que subjaz a cada uma das relações (há
um excesso de proteção).
Isto não quer dizer que a norma seja sempre inconstitucional, pode é resultar numa
inconstitucionalidade em certos casos concretos.
Carlos herda a propriedade, mas herda uma propriedade onerada. Depois a seguir vem o
direito de arrendamento, se não houver acordo quanto ao arrendamento é o Tribunal a
decidir, isto significa que o unido não vai ter nenhum interesse em chegar acordo (ele tem
um direito gratuito, de uso e habitação, logo o unido não tem nenhum interesse em
chegar a acordo, porque o filho (herdeiro) tem de propor uma ação judicial (tem de ter
iniciativa processual), depois o Tribunal vai decidir, e isto leva tempo ---- enquanto corre
a ação, o herdeiro recebe um bem mas não vai ter possibilidade de usufruir desse bem,
sofrendo grande prejuízo nesta situação.
E se houvesse crédito a um banco? Quem vai pagar o crédito é a massa da herança. Além
do mais, o herdeiro, se houvesse dinheiro ainda ia pagar o crédito, para casa onde ficaria
a senhora/senhor a morar.
Estamos a falar em situação patológicas, em que há litígio entre as partes.

 Se a casa for compropriedade dos dois

O unido sobrevivo tem direito de uso exclusivo, pelo menos durante 5 anos ou então de
duração igual à união de facto.
Este mesmo período de 5 anos é um problema, porque imaginemos o
senhor A é pai de Carlos, e tem uma companheira há 2, 3 anos, agora ela
vai ficar lá 5 anos.
Depois arrendamento, e durante este tempo todo, direito de preferência na
alienação da coisa.

→ Artigo 496º/1 do CC – trata da indemnização por danos não patrimoniais,


morais.
Na nossa ordem jurídica, só temos uma indemnização por danos não patrimoniais
graves – critério da gravidade.
O legislador quando fala de danos não patrimoniais, vai regular neste preceito o dano da
morte, mas não é o dano da morte à vítima, mas àqueles que lhe são próximos.
496º/2 – o legislador foi buscar o conjunto de lesados, o conjunto de herdeiros
legítimos (2133º) e, para isso, ficou de fora o unido de facto. → Esta questão foi
ao TC. O Tribunal considerou que o artigo 496º/2 não era constitucional, pois cabe
ao legislador determinar quais são os efeitos da união de facto e qual a medida de
equiparação que quer que tenha a união de facto com o casamento.
E, portanto, se o legislador no âmbito da sua margem de apreciação, entendia que
não seria de equiparar, isso só por si não violava a CRP.
Com esta dúvida, o legislador acrescentou o n.º 3 o artigo 496.º do CC (alteração
de 2010), se não há cônjuge, é porque podemos ter aqui um unido de facto a
receber estes danos não patrimoniais.

Outros efeitos da União de Facto vêm no artigo 3º nas alíneas e), f) e g): prestações por
morte e também das faltas ao trabalho (no caso de morte do unido).

Em caso de morte, o que é que fica de fora?


O Unido não é herdeiro legítimo (à luz do artigo 2133º do CC, este estabelece-nos os
herdeiros legítimos – alguém que vai ser chamado à herança, no caso de não haver
testamento –, isto é, elenco supletivo que a lei estabelece no caso de não haver
testamento).
Neste caso, teria de se fazer testamento, para poder deixar ao seu unido de facto, parte da
sua herança.
Nota importante: o herdeiro apenas pode vender a casa após os 5 anos? Não, pode
sempre vender a casa. o herdeiro tem sempre direito de preferência, quer durante o
período de uso e habitação, quer depois durante o arrendamento.
Atenção! Se vender a casa o unido sobrevivo não exercer direito de preferência, ele
continua a ter o seu direito de uso e habitação, e depois, direito de arrendamento, portanto
a casa é vendida com este ónus.
Diferença fundamental – usufruto é um direito de usar (retirar utilidades diretas da coisa)
e fruir (que consiste em retirar utilidades indiretas da coisa – por ex. arrendar) – o
usufrutuário pode usar a casa e retirar utilidades diretas, mas também pode fruir, cedendo
a casa para arrendamento, recebendo rendas.
Por sua vez, no direito de uso e habitação, não pode haver arrendamento, portanto só se
pode retirar utilidades diretas, tem necessariamente de usar a casa.
➔ O direito de uso e habitação é um direito de uso, substancialmente, e só permite
retirar utilidades diretas da casa, através do uso, na medida das necessidades da
pessoa e da sua família.

E se a pessoa entrar numa nova união de facto, ou se casar? →O legislador não disse
nada a este respeito.

Doutora Sandra Passinhas entende que tudo o que tenha a ver com a casa de morada
de família, é, em sentido amplo, uma prestação alimentícia – artigo 2003.º do CC, e
por isso, este direito cessa nos termos em que cessa a obrigação de alimentos, nos termos
do artigo 2019.º do CC. Ou seja:
- Cessa se houver um casamento
- Cessa se houver uma nova união de facto,
- Ou então se se tornar indigno pelo seu comportamento moral.
► Não há nenhuma jurisprudência neste sentido.
Quanto às sucessões, o unido de facto pode ser herdeiro, mas apenas herdeiro
testamentário, pois não é herdeiro por força da lei.
Na opinião da Doutora, o direito de uso e habitação é um legado legal (imperativo),
porque é uma disposição por morte, que o unido poderia ter feito e não fez, mas fez o
legislador por ele, imperativamente – disposição de caráter sucessório embora de fonte
legal.
Antes de 2010, os direitos eram mais ou menos estes, mas o de cuius podia fazer
testamento a dizer que não queria que o unido gozasse do direito de uso e habitação.

ADOÇÃO
Está regulada nos artigos 1973º e ss. do CC.
Tem que ser entendida verdadeiramente como um instituto que cria uma relação
familiar, mas esta relação familiar visa a obtenção de um laço similar ao laço da filiação.
O vínculo que deve unir os adotados e os adotantes, não é um vínculo de sangue, é um
vínculo socio-afetivo, é o vínculo do afeto.
A adoção, regulada no Código Civil, regulamentada na Lei nº 143/2015, de 08/09, já foi
entretanto alterada.

Há uma outra Lei muito importante que é a Lei n.º 2/2016, de 29/02, que veio revogar
a Lei do casamento homossexual (Lei nº 9/2010), revogou o seu artigo 3º que dizia que
os casamentos homossexuais produziam os mesmos efeitos que os casamentos
heterossexuais, com exceção das normas relativas à adoção. Isso acabou, desde 2016,
nós podemos ter um casamento homossexual que fundamente uma adoção conjunta.

→ Esta relação familiar constitui-se por sentença judicial.


A adoção tem várias fases: confiança com vista à adoção (não é a fase inicial do
processo – é considerada um período experimental, em que a margem de erro deveria
ser 0, e por vezes não é). Levar a criança para casa não significa que esteja constituído
o vínculo da adoção.

→ Não temos pais adotivos e pais afetivos, temos pais biológicos ou pais adotivos,
uma coisa ou outra.
A adoção visa, diz o artigo 1974º do CC, realizar o superior interesse da criança.
Sendo decretada quando:
a) Haja reais vantagens para o adotante;
b) Quando se funde em motivos legítimos;
c) Quando não envolva o sacrifício injusto para os outros filhos
d) E quando seja razoável supor que entre o adotante e o adotado se estabelecerá um
vínculo semelhante ao da filiação.
Aspetos importantes nesta norma:
i. Não há um direito a adotar: um casal que não possa ter filhos não tem um direito
de adotar; a adoção não visa arranjar filhos para pais, visa arranjar pais para uma
criança.
A parentalidade adotiva não é igual à parentalidade biológica, é mais exigente.
ii. Tem que se perceber que haja aqui um vínculo semelhante ao da filiação, tal como
prevê o artigo 1979.º do CC → em que temos quem pode adotar. Todos estes
requisitos estão relacionados com o facto de a relação aqui exigida ser de uma
verdadeira filiação (se não, em vez de parecer pai e filho, iria parecer avô e neto).
A adoção visa cumprir o superior interesse da criança e nada mais.
Quem poderá ser adotado?
Artigo 1980.º do CC – Quem pode ser adotado
Podem ser adotados as crianças que tenham sido confiadas ao adotante, mediante
confiança administrativa, ou medida de promoção e proteção da confiança com vista
a futura adoção – estas confianças administrativas ou judiciais estão reguladas na Lei
nº 147/99, de 01/09, que é a Lei da Proteção de crianças e jovens em perigo, é aqui
que encontramos as medidas.
Pode haver uma adoção do filho de cônjuge do adotante, esta é uma adoção especial
e que irá suportar requisitos especiais.
Hoje, em Portugal, desde a Lei 143/2015, só temos uma adoção, porque até 2015,
tínhamos duas modalidades da adoção: a adoção plena e a adoção restrita. → O nosso
legislador acabou com a adoção restrita, em 2015, e ficámos só com a adoção plena.
De facto, esta (adoção plena), tem como contraponto o apadrinhamento civil.

EFEITOS DA ADOÇÃO PLENA


Artigo 1986.º do CC - quando alguém é adotado, na adoção não temos só uns pais
que ganham um filho, temos uns avós que ganham netos, tios que ganham sobrinhos,
etc. – na adoção plena há esta integração da criança na família do adotante,
extinguindo-se as relações familiares entre o adotado e os seus ascendentes e
colaterais naturais.
Se o adotante estiver a adotar filho de cônjuge, há uma exceção, porque se um dos
cônjuges adota o filho do outro, mantém-se as relações entre o adotado e o cônjuge
do adotante e respetivos parentes porque aqui é necessário salvaguardar a primeira
relação familiar – exceção prevista no artigo 1986.º, nº3 do CC – manutenção de
alguma forma de contacto pessoal entre o adotado e algum elemento da família
biológica – os pais adotivos terão de consentir com esta manutenção e tal corresponda
ao superior interesse do adotado. Isto tem de ser uma coisa verdadeiramente
excecional, mas foi um escape que o nosso legislador arranjou para salvaguardar
determinadas situações.
Quando é que a criança é confiada?
Quando se encontrem seriamente comprometidos os vínculos afetivos próprios da
filiação; não basta este elemento afetivo, é necessário um elemento objetivo de uma
destas situações:
➢ Se a criança for filha de pais incógnitos ou falecidos;
➢ Se tiver havido consentimento prévio para adoção;
➢ Se os pais tiverem abandonado a criança;
➢ Se os pais, por ação ou omissão, mesmo por manifesta incapacidade devida a
razões de doença mental, puserem em perigo, a segurança, a saúdem a
formação ou o desenvolvimento pessoal;
➢ Se os pais da criança tiverem relevado manifesto desinteresse pelo filho, a
termos de comprometer seriamente a qualidade e continuidade daqueles
vínculos – 1978.º do CC.
Estas situações parecem-nos todas muito claras, mas podem não ser.
A jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), tem considerado
sempre que a criança nunca pode ser retirada aos pais biológicos por questões sociais
ou financeiras.
O facto de os pais porem em perigo gravemente a segurança, a saúde, a formação e o
desenvolvimento da criança, não pode ser causado só por uma questão de falta de meios
– porque nestes casos entende-se que o Estado tem de intervir e ajudar nesses meios.
O fundamento normal para uma criança ser confiada a outra família tem a ver com outas
questões. Por exemplo:
1) Os pais serem toxicodependentes e não conseguirem cuidar da criança
2) Os pais tiverem algum défice cognitivo,
3) A criança ter algum défice cognitivo e os pais não conseguirem cuidar dela, etc.
As nossas instituições nunca podem retirar uma criança aos seus pais, só porque estes não
têm condições económicas para tratar da criança.
Uma segunda questão tem a ver por exemplo, se os pais tiverem um estado de
incapacidade devido a razões de doença mental.
Em Portugal, somos muito limitativos na retirada das crianças.
► Não há lugar à revogação da adoção, quando se estabelece o vínculo, ele mantém-se
para sempre, assim como não se revoga a filiação. Não quer dizer que não haja inibição
das responsabilidades parentais – imaginemos que um dos progenitores adotantes abusa
sexualmente da criança, a adoção não se retira, fica inibido das responsabilidades
parentais, da mesma maneira que ficaria se fosse filho biológico.

Quando falamos da adoção, há dois requisitos que devemos conhecer:


✓ Consentimento para adoção – artigo 1981.º do CC
O consentimento das pessoas que estão aqui elencadas:
- O adotando maior de 12 anos, porque já tem a sua personalidade desenvolvida e
alguma autonomia;
- O cônjuge do adotante.
- Os pais do adotando, ainda que sejam menores (…)
- O ascendente, o colateral até ao 3.º grau ou do tutor, quando, tendo falecido os
pais do adotando, tenha este a seu cargo ou com ele viva.
O consentimento é prestado no Tribunal, perante o juiz.
Nos termos do artigo 1982.º/3 do CC, a mãe não pode dar o seu consentimento antes
de decorridas 6 semanas depois do parto – a mãe pode ter a criança, e querer dá-la
para adoção, mas ao tribunal a mãe só o pode dizer passadas 6 semanas. – Isto tem a
ver com o estado normal de perturbação resultante do parto. O consentimento é
renovável, não está sujeito a caducidade.
✓ Audição obrigatória – artigo 1984.º do CC
A lei exige que determinadas pessoas sejam ouvidas:
- Os filhos do adotante maiores de 12 anos
- E os ascendentes ou os irmãos maiores do progenitor falecido, se o adotando for filho
do cônjuge do adotante e o seu consentimento não for necessário.
Artigo 1987.º - “Depois de decretada a adoção, não é possível estabelecer a filiação
natural do adotado nem fazer a prova dessa filiação fora do processo preliminar de
casamento.”

Aqui era verdadeiramente um conflito entre um projeto de vida para a criança e o


estabelecimento dos laços biológicos. O legislador impede a prova da filiação natural.
Segredo de identidade – 1985.º identidade do adotante não pode ser revelada aos pais
naturais do adotado. Tal como a identidade dos pais biológicos da criança poderá não ser
revelada ao adotante- quem sabe são os conservadores do registo civil.
O adotado vai perder os seus apelidos de origem, e, se o adotante quiser,
excecionalmente, poderá modificar o nome próprio da criança.
Norma aprovada em 2015, que veio alterar substancialmente o regime da adoção – artigo
1990.º - A do CC – acesso ao conhecimento das origens.
➔ A lei 143/2015 quanto a este assunto que a criança tem este direito a partir dos
16 anos, e que entre os 16 e os 18 anos deve ainda beneficiar do apoio da
segurança social nesta sua pesquisa pelas origens biológicas.

A Doutora Sandra Passinhas considera que esta é uma norma muito perigosa, uma
vez que 16 anos é uma idade em que há ainda pouca maturidade para se procurar a família
biológica, pelo menos os 18 anos seria a idade mais adequada.

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