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CASAMENTO

Aula anterior – Estivemos a ver os requisitos de fundo

➢ Quanto ao consentimento/declaração de vontade


➢ Quanto à capacidade – Impedimentos matrimoniais (que vamos ver agora)

Casamento → compreende-se que haja interesses diferentes em matéria das


incapacidades/impedimentos matrimoniais, relativamente a outros contratos.

- Impedimentos matrimoniais

Há incapacidades que não há noutros contratos patrimoniais em geral. Por outro lado, há
incapacidades que existem noutros contratos que não existem nos casamentos.

Nota – Relativamente a TGDC

✓ Incapacidades de exercício → levam à anulabilidade


✓ Incapacidades de gozo → levam à nulidade

A incapacidade de casar é uma incapacidade de gozo (não pode ser titular dos direitos e
deveres derivados do casamento). Por isso, a consequência deveria ser a nulidade (de acordo
com a nota). Mas no casamento, não é assim. A incapacidade de gozo leva à anulabilidade do
casamento, apesar de terem um regime tão gravoso que mais parecem nulidades.

Nesta matéria do casamento, a lei leva tão a sério os casamentos que há processos anteriores à
sua celebração para apurar se as pessoas têm capacidade →processo preliminar de casamento,
que ocorre nas CRC para apurar se não existem incapacidades matrimoniais

A classificação dos impedimentos

• Dirimentes: invalidar o casamento


o Absolutos (art.1601º): impedimentos relativos a toda a gente
▪ Idade inferior a 16 anos
▪ Demência notória: demência clara do ponto de vista clínico. Mas há
demências que tem intervalos lúcidos, e se a pessoa casar, nesses
momentos, a lei considera que a pessoa não tem capacidade para
▪ Casamento anterior não dissolvido: Por exemplo, A quer casar com B,
mas B quer casar com C. No entanto, o casamento de A e B ainda não
está registado. A lei determina que a simples celebração de casamento
funciona como impedimento matrimonial.
B se for viúvo por C (morte presumida- art.115º/116º). A quer casar
com B mas, a morte presumida não dissolve o casamento. Contudo, B
pode casar novamente, considerando-se o casamento anterior
dissolvido. Porém, se C regressar, o casamento será dissolvido por
divórcio.

o Relativos (art.1602º): impedimentos relativos apenas a certas pessoas


▪ Parentesco na linha reta
▪ A relação anterior de responsabilidades parentais: (art.1903º/ 1904º e
1904º-A) - certas pessoas que não são os pais passam ser as
responsabilidades próprias dos pais; pessoas muito próximas dos pais
(madrasta, padrasto, etc.) Se tiver existido uma relação deste tipo no
passado, eles agora não podem casar
▪ Parentesco de 2º grau da linha colateral: relação entre irmãos
▪ Afinidade na linha reta (padrasto com enteada, p.ex)
▪ Alínea e): alguém mata o cônjuge de alguém com quem quer casar. O
homicídio tem que ser doloso, mas não tem que ser com dolo
específico de libertar o outro cônjuge

EX: Um senhor quer casar com uma jovem (é pai dela) mas a paternidade ainda não está
constituída/estabelecida juridicamente. A lei, nestes casos, mesmo não havendo paternidade,
permite no art.1603º que a prova da paternidade seja realizada na prova preliminar do
casamento. A prova de paternidade só funcionará para aquele efeito (impedir e/ou anular o
casamento)

Estes impedimentos dirimentes levam à anulabilidade do casamento

NOTA: O nubente é aquele que está a casar. Quando nos referimos ao momento da celebração
do casamento, o termo correto tecnicamente é o nubente. Depois de casados, referimo-nos a
cônjuges

• Impedientes: impedem o casamento (art. 1604º)


o Alínea a): Os indivíduos de 16 anos podem casar mediante autorização dos
pais ou tutor. A autorização pode ser suprida pelo conservador no RC (art.255º
a 257º C. Registo Civil)
E se o menor conseguir casar mediante uma falsificação da autorização dos
pais? O casamento continua válido, produzindo-se outro tipo de
consequências, previstas no art.1649º/1
o Al. c): parentesco no terceiro grau da linha colateral (tios os sobrinhos) +
consequências no caso da celebração do casamento – art.1650º
o Al. d): se as pessoas que agora estão a casar, tendo havido, anteriormente,
uma relação de acompanhamento ou de tutor e ?pupila?,
o Al. f):

Um dos impedimentos que não consta do CC é o apadrinhamento civil (espécie de adoção com
menos efeitos). Certas pessoas querem ter ao seu cuidado uma criança que está desprovida de
um meio familiar normal e em vez se constituir um processo de adoção, há a possibilidade de
fazer um apadrinhamento civil. A relação entre o padrinho e a afilhada também constitui um
impedimento (lei 103/2009, art.22º)

Todos os impedimentos impedem a celebração do casamento. Há alguns que levam, para além
disto, à invalidade do casamento (dirimentes). Há outros que são apenas impeditivos da
celebração do casamento. Se o conservador souber de impedimentos antes de celebrar o
casamento, o aquele não pode celebrar o casamento. No caso de ser celebrado o casamento,
este continuará a ser válido
→REQUISITOS DE FORMA

Formalidades iniciais/que antecedem o casamento:

- Processo preliminar de casamento: declaração para casamento, acompanhado de um


processo de instauração de casamento. Terminado o processo, o Conservador lavra um
despacho que autoriza o casamento. Se o casamento for casamento religioso, o conservador
envia o despacho para a entidade católica

Formalidades na celebração do casamento: Casamento civil é uma cerimónia pública; pode ser
celebrado por qualquer conservador

Formalidades posteriores ao casamento tem que ver com o registo do casamento. O registo
civil funciona como a prova admitida deste facto; ou seja, a única forma de provar o
casamento. Uma vez registado um casamento, esse facto fica plenamente provado, isto é, a
prova só pode ser destruída se se provar o facto em contrário (inexistência do facto sujeito a
registo). Tem que haver uma sentença judicial que comprove que não houve casamento

- Quanto ao registo do casamento: o efeito jurídico que resulta do registo do casamento é


diferente consoante estivermos num casamento civil ou católico. No casamento civil, o registo
é meio de prova enquanto que, no casamento católico, o registo é condição de eficácia civil.

FILIAÇÃO – sistema de filiação assenta na verdade biológica


→ Estabelecimento da maternidade

- 1º Forma estabelecimento da maternidade: identificação da mãe no registo de nascimento

-2º forma: para o caso de ter nascido uma criança e não ter ficado estabelecida a maternidade:
declaração de maternidade (mais tarde, aparece a mãe a declarar a sua maternidade) –
declaração posterior ao registo de nascimento. Está prevista no art. 1806º -- “salvo se”: este
nascimento que está a declarar, na altura do nascimento, era casada, fica automaticamente
estabelecida também a paternidade.

Ela declara que era mãe, na altura que teve o filho era casada, mas antes já havia um senhor
que perfilhava a criança. Se já havia uma perfilhação, quando ela vem declarar a maternidade,
faz nascer a celebração de paternidade- marido da mãe (2 pais possíveis). Para resolver esta
questão, tem de ser discutida em tribunal através de uma ação judicial (art.1824º CC). Não é só
mãe que pode declarar a maternidade. Qualquer pessoa (familiares próximos, diretor do
hospital, etc) —mas terá de ser ouvida a própria mãe por já ter passado mais de 1 ano
(art.1806º/2).

Saber qual a capacidade precisa de ter para que a declaração seja obvia? Parece que basta a
capacidade natural para entender a maternidade/parto; o que está a acontecer ao seu corpo,
etc.

Qual a forma exigida para fazer a declaração? Parece sugerir que deve ser feita uma declaração
do RC. Art. 129º CRC: mesmas formas que estão estabelecidas para a perfilhação no CC
(art.1853º)
• Termo lavrado em juízo: perante o juiz a pessoa declara que é o pai

Para a hipótese da maternidade, resultante da 1º e 2º formas, não ser verdadeira/ não


corresponder à verdade biológica– art.1807º- a lei permite uma impugnação da maternidade,
que pode ser proposta a todo o tempo e por todos.

-3º forma: Reconhecimento judicial da maternidade (ações de investigação de maternidade)

Estas ações de investigação são ações que são pensadas para tipicamente serem propostas
pelo filho contra a pretensa mãe e o pretenso pai.

O CC antes de falar do reconhecimento judicial fala da averiguação oficiosa da maternidade.

Ex: Nascimento, sendo que não foi reconhecida a mãe no registo de nascimento. Havendo uma
situação destas, o tribunal (art.1808º), por iniciativa das entidades publicas, a fim de que seja
averiguada a maternidade. O tribunal terá de investigar quem será a mãe da criança

• Tribunal não chega a resultado nenhum- processo arquivado


• Tribunal consegui chegar à possível mãe – chama a senhora para confirmar quem é a
mãe. Se ela confirmar, a maternidade fica estabelecida pela declaração de maternidade
(por ter lavrado em juízo). Se a mãe não confirmar, mas o Tribunal tem suspeitas que
ela é mesmo a mãe, remete para o MP para que este intente uma ação de investigação
da maternidade. Se provar-se que é verdade, então fica estabelecida a maternidade. A
averiguação oficiosa não é autonomamente uma forma de estabelecer a maternidade
(como se pode observar).
• Art.1809º: situações que a lei não permite a averiguação oficiosa
o Se já decorreram 2 anos sobre a data de nascimento, a lei desinteressa-se pela
averiguação oficiosa
o Já haver uma perfilhação (pai) e se a pretensa mãe forem parentes (pai e filha
ou irmãos). Nestas situações de incesto, não se quer averiguar. Para saber se
são parentes, tem de haver alguma investigação mínima. O que o tribunal não
pode fazer é instaurar uma ação de maternidade para o MP

Ação de investigação da maternidade (art.1814º e ss)

-- Quem pode propor uma ação de maternidade? (legitimidade ativa)

• O filho
• O marido da pretensa mãe (para as hipóteses em que a pretensa mãe era casada na
altura em que teve o filho) - art.1822º/2 CC
• Pretensa mãe (declaração mediante uma ação judicial, que é tecnicamente uma ação
de investigação da maternidade) - art.1824º CC
• Ministério Público, nos termos de uma averiguação oficiosa da maternidade –
art.1808º/4

-- PROVA: cabe ao autor da ação de investigação da maternidade provar os factos confirmativos


do seu direito (é o que decorre das regras gerais de distribuição do ónus da prova).

Como é que o filho faz prova?

➢ Através dos métodos científico-laboratoriais (art.1801º)


➢ Basta que o filho prove o parto (provando que x dia houve um parto e provando a
identidade da parturiente).
Se não conseguir fazer prova através destes métodos, a lei estabelece, no art.1816º/2, certas
presunções da maternidade que funcionam apenas no âmbito da investigação da maternidade.

➢ A pretensa mãe sempre tratou o filho como filho


➢ Reputado como filho perante o filho (fama)

Soma destes 3 (nome, tratado e fama) elementos: posse de estado de filho (juridicamente,
ainda não é filho, mas já tem a posse: exerce os poderes correspondentes ao exercício desse
direito).

A 2ª presunção: mãe deixa coisas escritas em que declara que é filho dela

Quando a lei estabelece uma presunção estas podem ser “eliminadas”, normalmente, se for
provado facto contrário (prova plena- se a mãe provar que não é a mãe). O nº3 diz que a
presunção será afastada se existirem dúvidas (prova bastante) - presunções mais fracas

--- PRAZOS: Art.1817º CC

Esta norma aplica-se também às ações de investigação da paternidade

A lei estabelece 2 momentos de prazos:

➢ Nº1: 10 anos após a maioridade (até aos 28 anos)


➢ + 3 anos a contar do conhecimento dos factos do nº3

Se o filho até aos 28 anos nunca teve ideia nenhuma de quem era a mãe. Só mais tarde, com
50 anos, é que se apercebe de algo (encontra papeis/ouve conversas, etc.). Para esta hipótese,
aparece o nº3 do art. 1817º, podendo a ação ser proposta nos 3 anos posteriores à ocorrência
dos factos previstos nas alíneas.

NOTA: O prazo que valia inicialmente era de 2 anos após a maioridade (até aos 20 anos). Este
prazo foi considerado inconstitucional por um órgão do TC (acórdão nº23/2006) que fixava o
prazo de 2 anos. Durante algum tempo não houve prazo, podendo-se propor ações de
investigação a todo o tempo. Só em 2009 foi fixado o novo prazo (lei 14/2009).

Quais argumentos usados para a existência dos prazos (a favor/contra)?

- A favor:

➢ Se não houvesse prazos, a pretensa mãe estaria sempre na insegurança com medo de
que o filho viesse propor uma ação contra ele (razões de proteção da segurança dos
pretensos pais). Talvez faça sentido em matéria patrimonial

➢ Os filhos que investigam a maternidade/paternidade muito tarde podem fazê-lo a


pensar na herança (evitar a caça tardia às fortunas). IDEIA de que os pais tem mais
dinheiro que os filhos. No CC de Macau (feito com base no nosso CC), a investigação só
permite o estabelecimento da maternidade sem efeitos patrimoniais.
→ ESTABELECIMENTO DA PATERNIDADE:
1. Presunção da paternidade
o Art.1826º CC: presunção consiste em presumir a paternidade do marido da
mãe, tendo sido concebido na constância do casamento da mãe

Casos de cessação da paternidade:

• Art.1828º: filho foi concebido antes do casamento. Se a mãe ou marido dela


declararem que o marido não é o pai, basta esta declaração para não funcionar a
presunção.

• Art.1829º: situações em que, embora a mãe fosse casada, na altura em que o filho foi
concebido, ela não coabitava com o marido (+ de 300 dias depois de terminado a
coabitação).
Quando se considera que cessou a coabitação dos cônjuges? Apenas nas 3 hipóteses
do nº2 do art. 1829º
o Divórcio a decorrer
o Ausência do marido (a partir da data que deixou de haver notícias)

--- Art.1830º: reinício da presunção da paternidade → inicia-se quando os cônjuges,


que estavam a divorciar-se, reconciliaram-se, o ausente regressou
--- Art.1831º: situações de renascimento
Ex: Já havia um processo de divorcio a correr, por isso, deixou de funcionar a presunção
de paternidade. Mas apesar do divórcio, houve algum relacionamento entre os
cônjuges entre o período de conceção do filho (no caso de se provar este
relacionamento ou se se provar que o filho beneficiou da posse de Estado)

✓ Art.1832º: a mulher casada declara que o marido não é o pai (a presunção da


paternidade pode renascer = previsto no nº6 do art.1832º)
o ≠ 1828º: a mulher casada ou o marido podem fazer cessar a presunção da
paternidade

A presunção da paternidade é apenas uma presunção, podendo ser ilidida/afastada mediante


prova em contrário. A paternidade pode ser afastada por ação de impugnação da paternidade-
arts.1838º e ss

Art. 1839º: A impugnação da paternidade pode ser feita por/pelo:

✓ Filho
✓ Mãe
✓ Presumido pai
✓ Verdadeiro pai – a lei só permite que este proponha a ação através do MP depois de
ser comprovada a viabilidade da ação (art.1841º)

O que o autor tem que provar?

Quando temos uma presunção, esta pode ser afastada se for provado o facto contrário ao facto
presumido. Art.1839º/2 – o impugnante não tem que provar que o marido da mãe não é o pai.
Apenas deve provar que é pouco provável que o marido da mãe não é o pai.
Para além disso, existe um regime especial de se tratar de filho concebido antes do casamento.
Neste caso, a presunção é mais frágil. Independentemente de qualquer prova, a mãe o marido
pode impugnar a paternidade do filho (art.1840º/1).

Prazos para impugnação da paternidade: art.1842º

➢ Também em relação a estes prazos há muita discussão relativas a questões de


constitucionalidade e razoabilidade da existência de prazos
o O filho tem o prazo de 10 anos após a maioridade (em tempos já foi de 1 ano)

2. Perfilhação (art.1949º e ss): ato através do qual um sujeito declara a sua paternidade.
Este ato não é uma declaração de vontade (ele não quer que se produzam efeitos) mas
sim declara um facto. É um ato jurídico de natureza não negocial – é uma declaração
de ciência

Características do ato de perfilhação

➔ Ato jurídico unilateral


o art.1857º CC - perfilhação de filho maior só produz efeitos se o aperfilhado der
o seu consentimento. Pode recusar mesmo que saiba que x é seu pai.
➔ Ato pessoal: tem efeitos pessoais e no sentido, em princípio, tem de ser feita
pessoalmente. Mas a lei admite que a perfilhação seja feita mediante procurador.
➔ Ato livre: a perfilhação deve ser um ato realizado em condições de liberdade (provir de
uma vontade esclarecida e livre)
+ o perfilhante é livre para perfilhar independentemente do consentimento de
terceiros (ex: se for casado, não está sujeito à autorização da mulher)
+ o perfilhante pode realizar se quiser perfilhar (o pai não está obrigado a
perfilhar)

Discute-se hoje se a perfilhação deve ser um ato livre neste sentido. Um pai que
sabe que é pai só perfilha se quiser? Hoje, tendo em conta os quadros dos
princípios da perfilhação entende-se que há um dever jurídico de perfilhar. Caso
contrário, incorre num incumprimento de uma obrigação que tem perante o
filho.
Enquanto for possível haver uma ação de investigação, podemos considerar que
há um dever de perfilhação. Se os prazos já passaram para recorrer, não
existindo este direito, também não haverá um dever (posição do Dr. Pereira
Coelho).

➔ Ato puro e simples: à perfilhação não pode ser aposta condição ou termo. (art.1852º CC)
➔ Irrevogabilidade: uma vez feita uma perfilhação, o perfilhante não se pode arrepender
e revogá-la (art.1858º CC). Mesmo quando a perfilhação seja feita através do
testamento, mesmo que este venha a ser revogado, aquela não atinge a perfilhação.

Aspetos que a lei estabelece para a perfilhação

1. Só será valida se for feita por pessoa com capacidade para perfilhar (art.1850º CC):
a. Se a pessoa tem uma doença grave, mas perfilha no momento/intervalo lúcido,
não há motivos para duvidar da seriedade da perfilhação pelo que deve ser
válida

2. A lei permite que seja perfilhada uma pessoa que não nasceu (art.1855º CC): válida se
for posterior à conceção e o perfilhante identificar a mãe
--- Art. 1856º - perfilhação de filhos que já faleceram: só produz efeitos favoráveis aos
descendentes do filho (o perfilhante não pode ganhar com isso – não beneficiará
patrimonialmente com isso)

FORMAS POSSIVEIS PARA FAZER PERFILHAÇÃO (previstas no art.1853º CC)

• Declaração prestada perante o funcionário do Registo Civil


• Por testamento
• Por escritura pública
• Por termo lavrado em juízo (durante um processo judicial a decorrer, o pai admite que
tem um filho)

Como pode ser atacada/destruída a perfilhação? (art. 1859º CC + art. 187)

✓ Art. 1859º CC → Através da impugnação da perfilhação por esta não corresponder à


verdade (perfilhante não é pai do perfilhado). É feita através de uma ação judicial
o Legitimidade ativa: Pode ser intentada pelo perfilhante, perfilhada, qualquer
pessoa que tenha interesse moral ou matrimonial naquela ação ou pelo MP ….
o Prazos: não há prazo, pode ser intentada a todo o tempo
o Prova: a pessoa que impugna tem que provar que a perfilhação não corresponde
à verdade (Regra). Mas, no nº3 do art. 1859º, basta a mãe e o filho impugnam a
perfilhação, tendo que ser o perfilhante a provar que coabitou com a mãe no
período que o filho foi concebido. Após provar-se essa última situação, a mãe
ou filho tem que provar que o perfilhante não é o pai

✓ Anulação da perfilhação (art.1860º + 1861º)


o Anulação por erro (nº2): o erro vicio só é relevante sob circunstâncias que
levaram o perfilhante a concluir que era pai
▪ Sujeitos a prazos: 1 ano
▪ Legitimidade: em regra, só pode ser proposta pelo errante/perfilhante
que foi coagido
o Anulação por incapacidade (art.1861º)

3. RECONHECIMENTO JUDICIAL DA PATERNIDADE

Quem pode intentar a ação de investigação da paternidade?

➢ Filho (Se for menor, terá de o fazer através de um representante)


➢ MP (no termo de uma averiguação oficiosa de paternidade)
Prova: Como o filho pode provar a paternidade?

➢ Métodos científico-laboratoriais (Testes de ADN) – Prova direta


Recusa por parte do pai significar uma impossibilitação de provar a paternidade, então
irá inverter-se o ónus da prova (presume-se que o que recusou é pai e, por isso, este
terá de provar que não o é – art.344º/2)

➢ O filho prova que quando foi concebido a mãe coabitou (relações sexuais) com o
investigado e prova que não houve mais ninguém (exclusividade)- Prova indireta

➢ Art.1871º CC -- Presunções de paternidade (só funcionam no âmbito de uma ação de


investigação)
o Alíneas a) e b): o pretenso pai reconheceu mais ou menos a paternidade do
filho (implícita paternidade) → resulta da posse de Estado + diário onde está
escrito que aquele era seu filho
o Alíneas c): base para presunção é a existência de união de facto ou tinha uma
relação íntima e duradouro com o pretenso pai (lei presume que existiu
exclusividade)
o Alínea d): relações entre os 2 e que essas relações só se deram por isto
o Alínea e): parece tornar inúteis as alíneas c) e d) uma vez que basta provar que
houve relações sexuais.
--- Podemos dizer que as alienas c) e d): presunções fortes, no caso da alínea e)
será uma presunção mais fraca
Esta presunções para serem ilididas não precisam de fazer prova em contrário
(desde que o pai lance dúvidas no juiz).

EFEITOS DA FILIAÇÃO (Art.1874º e ss)

➔ Disposições gerais (princípios gerais em matéria de filiação)


o Deveres de pais e filhos (deveres recíprocos): respeito, auxílio e assistência.
Dentro da assistência, cabe a prestação de alimentos e contribuir para os
encargos da vida familiar
Durante a menoridade, essas obrigações são dos pais perante os filhos, sendo
mais intensas e tem um conteúdo específico (responsabilidades parentais)

o Nome do filho: pode haver desacordo dos pais ao atribuir o nome próprio.
Nestes casos, o juiz pode decidir de acordo com os nomes que os pais
quereriam dar

o Se o filho não tiver a paternidade estabelecida (só tem a mãe) e a mãe for
casada, pode ser atribuído ao filho o apelido do marido da mãe, se ambos
declararem que é essa a sua vontade (padrasto e da mãe). Este apelido não
ficará para sempre, pois o filho, após atingir a maioridade, poderá requerer
que seja eliminado
Grande efeito da filiação: RESPONSABILIDADES PARENTAIS (arts. 1877º e ss)

- Expressão nova no nosso sistema (Lei 61/68—reforma do divórcio). Foi em 2008 que surgiu
esta expressão. Antes era o poder paternal.

→ O que estava mal na expressão anterior? A palavra poder acentuava que os pais tinham
direitos/poderes sobre os filhos, deixando de parte a ideia de que os pais também tinham
obrigações/deveres (poderes-deveres).

A palavra paternal pode significar do pai como pode cobrir “pai e mãe”. As pessoas podiam
ficar a pensar que o poder era apenas do pai.

O exercício das responsabilidades parentais dura quanto tempo? Os pais exercem as


responsabilidades parentais enquanto o filho for menor ou até quando for emancipado. Mas
não é assim sempre.

➢ Art. 1879º -- responsabilidades cessam antes de o filho ter 18 anos ou se emancipar


→pagamento de despesas. Em tudo o resto conservam as suas responsabilidades. Se
os filhos forem ricos (recebimento de uma herança), ou se já trabalharem (participação
de crianças em novelas, filmes, p.ex.) estará em posição de sustentar melhor as suas
despesas.

Art.1880º -- as responsabilidades parentais podem manter-se para lá dos 18 anos ou da


emancipação (despesas de sustento, segurança, saúde e educação). Só relativamente a estas
situações mencionadas (caso da representação, p.ex)

-----------------------------2 condições---------------------------------------
- Na medida em que seja razoável pedir
- Pelo tempo que seja normalmente necessário para que se complete a formação
profissional

Os pais são obrigados a suportar até quando? Art.1905º/2- casos de divórcio: até aos 25 anos
(presunção). O pai que está a pagar a pensão pode provar que o filho, antes dos 25 anos, já
completou a sua formação profissional.

Como é que as responsabilidades parentais são exercidas?

A relação entre os pais e os filhos não é uma relação equilibrada (desigual). Os pais têm
poderes sobre os filhos no interesse dos próprios filhos. (Art. 1878º/1).

Os filhos devem obediência aos pais (art.1878º/2) no seu próprio interesse, MAS os pais devem
ter em conta a evolução da maturidade dos filhos. O dever de obediência vai perdendo força
com o decorrer do tempo.

Quais as finalidades que presidem às Responsabilidades Parentais?

➔ Finalidade de proteção: os pais têm de proteger o filho. Quando este nasce é um ser
completamente indefeso e, por isso, tem que ser protegido
➔ Finalidade de promoção do desenvolvimento do filho: os pais devem preparar o filho
para ser uma pessoa autónoma.
Estas finalidades funcionam numa espécie de proporcionalidade inversa. Quanto mais se
protege, menos se promove o desenvolvimento do filho e vice-versa.

Que responsabilidades os pais têm em relação aos filhos?

Art.1878º -- Estabelece responsabilidades do tipo pessoal e patrimonial

➢ Responsabilidades de natureza pessoal: segurança, saúde, sustento, educação


➢ Responsabilidades de natureza patrimonial: representar os filhos, administrar os bens
dos filhos

Quanto à responsabilidade educativa, os pais educam os filhos (art.1885º), devendo


proporcionar uma instrução adequada, procurando respeitar às aptidões próprias dos filhos.

Art.1886º - Os pais podem dar uma educação religiosa aos filhos. A partir dos 16 anos, os filhos
atingem a “maioridade” relativamente À religião (idade da autonomia religiosa).

Os pais podem aplicar pequenos corretivos físicos? No Código de Seabra estava explicito que os
pais o pudessem fazer, de forma moderada. No CC não se faz referência a nada. Cada vez mais
está presente uma ideia de proteção dos filhos, mesmo em face da autoridade dos pais. No
Código Penal, há disposições (art. 152º e 152ºA) que punem a violência doméstica,
principalmente, os maus-tratos a menores.

Art.1887º → os pais não podem abandonar a casa paterna. É uma obrigação perante todas as
pessoas. O filho funciona como objeto.

Responsabilidade de sustento: pais devem sustentar os filhos. As despesas (obrigação de


alimentos) - art.2003º e ss. Se o alimentando for menor, nos alimentos não cabem apenas o
vestuário, também cabe despesas de instrução e educação

Responsabilidades de tipo patrimonial:

- Responsabilidade de representação: o filho não tem capacidade de exercício e, por isso, tem
que se fazer representados por alguém (art.1881º). Há factos na vida do filho que os pais não
podem representar os filhos. (art.1888º + art.1967º e ss).

CASOS

➢ Atos que só podem ser praticados pessoalmente pelo filho (ex: casamento,
perfilhação)

Os pais não podem fazer o que quiseres (art.1889 e art.1890º)

o Art.1889º → atos que os pais só podem realizar se tiverem autorização do


tribunal. Mas atualmente não é bem assim.
o DL 272/2001- competência autorizativa passou do juiz para o MP. Hoje é ao MP
que cabe autorizar os atos do art.1889º

Alínea a) do artigo → se os pais quiserem alienar ou onerar um bem do filho precisam de


autorização do MP. (venda de bens)

Se os pais quiserem comprar uma casa para o filho com o dinheiro deste (aquisição de bens em
nome do filho). Para aquisição não é necessária autorização do MP (art.1889º/2 CC)
NOTA: Alienar é transferir a propriedade; Oneração são atos que constituem direitos reais
limitados (mas não se transferem – direito de usufruto).

➢ Atos que o menor tenha o direito de praticar livremente (art. 127º CC)

➢ Atos sobre bens cuja administração não pertença aos pais (bens provenientes do seu
trabalho, p.ex.) – arts.1895º e ss e 1900º

No art.1895º/1 CC -> os pais são proprietários de os bens que o filho, enquanto menor, produza
por trabalho para os seus pais (atualmente não terá muita aplicação prática).

No nº2 diz que os pais devem dar parte dos bens produzidos ou compensá-lo do seu trabalho.

No art.1896º → O filho tem muitos apartamentos arrendados (advindos de uma herança). Os


rendimentos dos bens dos filhos revertem para o próprio filho. Apesar de ser assim, em princípio,
este artigo determina que os pais podem utilizar os rendimentos dos filhos para satisfazer as
despesas com saúde, educação, segurança dele + podem usar os rendimentos com outras
necessidades da vida familiar.

Até 1977, o regime era outro. Os pais tinham usufruto legal dos bens do filho. Os rendimentos
dos bens dos filhos pertenciam mesmo aos pais. ~

No direito civil patrimonial comum, sempre que alguém fica a administrar o património de outra
pessoa, é normal que o administrado tenha certas garantias. As 2 garantias fundamentais que
existem: (1) o administrador presta uma caução que fica cativa e que vai servir de garantia do
bom cumprimento das obrigações e (2) quando cessam as funções do administrador, este presta
contas da sua administração. Na administração do património alheio existem de forma limitada
estas garantias pois confia nos pais (dispensa das garantias) - art.1898 e 1899º

Art.1897º → o regime geral da RC – negligência (art.487º/2): os pais quando cumprem estas


obrigações de administrador, com que zelo eles devem atuar? A lei não exige o mesmo que o
art.487º/2. Os pais só tem que administrar os bens do próprio filho de acordo com que fariam
se os bens fossem deles.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS


Como se articulam as responsabilidades parentais entre os progenitores? Quais os problemas
que se colocam?

➢ Com quem é que o filho reside? (problema não se coloca se os pais viverem juntos, só
se coloca quando há divórcio, etc)
➢ Quem e em que montante paga os alimentos devidos aos filhos?
➢ Quem toma as decisões relativas ao filho?

Pais casados – art.1901º e 1902º

Pais viverem em união de facto – art.1911º/1 + 1901º e 1902º


Exercício das responsabilidades no caso de os pais serem casados (que se aplicam nos casos de
união de facto)

• Art.1901º - exercício da responsabilidade pertence a ambos os pais (igualdade dos


progenitores)
Este princípio da igualdade significa o quê? Os pais exercem as responsabilidades de
comum acordo, decisão tomada pelos dois (princípio da exigência de acordo). Como
este acordo muitas vezes é impraticável, no art.1902º, aligeira esta ideia. Se um dos pais
praticar ato que fazem parte das responsabilidades parentais sem consentimento do
outro, presume-se que está a agir de acordo com o outro (presunção pode ser ilidida
mediante prova em contrário). Esta presunção só não funciona nos casos previstos nesse
artigo, exigindo a intervenção de ambos:
o Ações judiciais propostas em nome do filho (art.16º CPC)
o Quando se tratar de ato de particular importância para o filho – possibilidade de
recorrer ao tribunal. Este vai tentar a conciliação dos pais. Se esta conciliação
não for obtida, o Tribunal irá ouvir o filho (princípio da audição do filho), e
depois decidirá

Exercício das responsabilidades no caso de os pais estarem separados

Quanto ao problema da residência do filho, o sistema clássico era de que o filho ficasse a viver
com um dos progenitores (art.1906º CC – espírito subjacente da norma é de que o filho será
confiado apenas a um dos progenitores). O outro progenitor tinha apenas o direito de visita
(direito de estar com o filho em certos momentos).

Todavia, hoje começou a falar-se de outra forma de atribuição da residência- o filho poderia viver
com os dois – chamada de residência alternada em que o filho vive alternadamente com um e
com outro.

Princípio do superior interesse da criança- há um debate desta nova modalidade de residência


(prós e contras)

Esta residência alternada não estava prevista na lei. No art.1906º, há números que manifestam
de alguma forma de acordo com esta modalidade. No nº8, manifesta que o filho deverá ter uma
grande proximidade com os progenitores.

Mais tarde, apareceu o Regime Geral Tutelar Cível (Lei 141/2015) que no seu art.40º, falava na
possibilidade de o filho passar a residir com ambos os progenitores, embora não desenvolvesse
o que isso significava.

Atualmente, com a Lei 65/2020, foi aditado um novo número que ao art.1906º, sendo que no
nº6 faz referência à residência alternada, independente do acordo dos pais sobre isso. É um
sistema cada vez mais praticado sobretudo em casos de divórcios, com filhos já adolescentes.

Além destes sistemas consagrados na lei, explicitamente, noutros países fala-se


noutros sistemas. Para evitar as deslocações do filho, este tem uma residência fixa e os pais é
que se alternam (birds next).

Relativamente à competência para a tomada de decisões, o art.1906º refere-se


principalmente a este problema. No seu nº1, quando haja que tomar uma decisão importante
para a vida do filho, deve ser tomada por ambos (principio da exigência de acordo).
Questões de particular importância: resulta das aplicações jurisprudências. Por exemplo, a
decisão sobre a sujeição do filho a uma intervenção cirúrgica arriscada; mudança de residência
radical (estrangeiro); o filho querer inscrever-se numa atividade desportiva arriscada; opção
religiosa.

Estas questões seriam raras, de acordo com a jurisprudência. Este critério da raridade não
parece ter muito fundamento. Quando consideramos atos de particular importância é para o
FILHOS.

Será de considerar de particular importância o filho passar a estudar em escola privada? Já


foi considerado que sim porque há mais gasto de dinheiro, mas seria para os pais. O critério da
despesa não deve ser considerados de particular importância.

Exige-se sempre o acordo sobre atos de particular importância?

Há situações em que a lei permite que o ato seja apenas praticado por um dos progenitores
(abando do princípio da exigência de acordo

1) Art.1906º/1, parte final: situações de urgência (intervenção cirúrgica urgente, o


único progenitor que está em condições de dar o consentimento, pode dá-lo
sozinho)

2) Art.1906º/2: se a lei exigisse que os pais chegassem a acordo poderia ser contrário
aos interesses do filho. É do interesse do filho que a decisão só seja tomada por
um. A lei dá exemplos deste tipo de situações:

a. Os progenitores dão-se tão mal que os pais estão proibidos de contacto


um com o outro.

b. Havendo um quadro de violência doméstica, estas decisões relativas a atos


de particular importância podem ser tomadas apenas por um dos
progenitores

REGRA: Tem de haver acordo dos progenitores.

Se não chegarem a acordo, a lei diz que as responsabilidades parentais devem ser tomadas nos
termos do matrimónio- os progenitores podem recorrer ao tribunal (art.1901º e 1902º).

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