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- Impedimentos matrimoniais
Há incapacidades que não há noutros contratos patrimoniais em geral. Por outro lado, há
incapacidades que existem noutros contratos que não existem nos casamentos.
A incapacidade de casar é uma incapacidade de gozo (não pode ser titular dos direitos e
deveres derivados do casamento). Por isso, a consequência deveria ser a nulidade (de acordo
com a nota). Mas no casamento, não é assim. A incapacidade de gozo leva à anulabilidade do
casamento, apesar de terem um regime tão gravoso que mais parecem nulidades.
Nesta matéria do casamento, a lei leva tão a sério os casamentos que há processos anteriores à
sua celebração para apurar se as pessoas têm capacidade →processo preliminar de casamento,
que ocorre nas CRC para apurar se não existem incapacidades matrimoniais
EX: Um senhor quer casar com uma jovem (é pai dela) mas a paternidade ainda não está
constituída/estabelecida juridicamente. A lei, nestes casos, mesmo não havendo paternidade,
permite no art.1603º que a prova da paternidade seja realizada na prova preliminar do
casamento. A prova de paternidade só funcionará para aquele efeito (impedir e/ou anular o
casamento)
NOTA: O nubente é aquele que está a casar. Quando nos referimos ao momento da celebração
do casamento, o termo correto tecnicamente é o nubente. Depois de casados, referimo-nos a
cônjuges
Um dos impedimentos que não consta do CC é o apadrinhamento civil (espécie de adoção com
menos efeitos). Certas pessoas querem ter ao seu cuidado uma criança que está desprovida de
um meio familiar normal e em vez se constituir um processo de adoção, há a possibilidade de
fazer um apadrinhamento civil. A relação entre o padrinho e a afilhada também constitui um
impedimento (lei 103/2009, art.22º)
Todos os impedimentos impedem a celebração do casamento. Há alguns que levam, para além
disto, à invalidade do casamento (dirimentes). Há outros que são apenas impeditivos da
celebração do casamento. Se o conservador souber de impedimentos antes de celebrar o
casamento, o aquele não pode celebrar o casamento. No caso de ser celebrado o casamento,
este continuará a ser válido
→REQUISITOS DE FORMA
Formalidades na celebração do casamento: Casamento civil é uma cerimónia pública; pode ser
celebrado por qualquer conservador
Formalidades posteriores ao casamento tem que ver com o registo do casamento. O registo
civil funciona como a prova admitida deste facto; ou seja, a única forma de provar o
casamento. Uma vez registado um casamento, esse facto fica plenamente provado, isto é, a
prova só pode ser destruída se se provar o facto em contrário (inexistência do facto sujeito a
registo). Tem que haver uma sentença judicial que comprove que não houve casamento
-2º forma: para o caso de ter nascido uma criança e não ter ficado estabelecida a maternidade:
declaração de maternidade (mais tarde, aparece a mãe a declarar a sua maternidade) –
declaração posterior ao registo de nascimento. Está prevista no art. 1806º -- “salvo se”: este
nascimento que está a declarar, na altura do nascimento, era casada, fica automaticamente
estabelecida também a paternidade.
Ela declara que era mãe, na altura que teve o filho era casada, mas antes já havia um senhor
que perfilhava a criança. Se já havia uma perfilhação, quando ela vem declarar a maternidade,
faz nascer a celebração de paternidade- marido da mãe (2 pais possíveis). Para resolver esta
questão, tem de ser discutida em tribunal através de uma ação judicial (art.1824º CC). Não é só
mãe que pode declarar a maternidade. Qualquer pessoa (familiares próximos, diretor do
hospital, etc) —mas terá de ser ouvida a própria mãe por já ter passado mais de 1 ano
(art.1806º/2).
Saber qual a capacidade precisa de ter para que a declaração seja obvia? Parece que basta a
capacidade natural para entender a maternidade/parto; o que está a acontecer ao seu corpo,
etc.
Qual a forma exigida para fazer a declaração? Parece sugerir que deve ser feita uma declaração
do RC. Art. 129º CRC: mesmas formas que estão estabelecidas para a perfilhação no CC
(art.1853º)
• Termo lavrado em juízo: perante o juiz a pessoa declara que é o pai
Estas ações de investigação são ações que são pensadas para tipicamente serem propostas
pelo filho contra a pretensa mãe e o pretenso pai.
Ex: Nascimento, sendo que não foi reconhecida a mãe no registo de nascimento. Havendo uma
situação destas, o tribunal (art.1808º), por iniciativa das entidades publicas, a fim de que seja
averiguada a maternidade. O tribunal terá de investigar quem será a mãe da criança
• O filho
• O marido da pretensa mãe (para as hipóteses em que a pretensa mãe era casada na
altura em que teve o filho) - art.1822º/2 CC
• Pretensa mãe (declaração mediante uma ação judicial, que é tecnicamente uma ação
de investigação da maternidade) - art.1824º CC
• Ministério Público, nos termos de uma averiguação oficiosa da maternidade –
art.1808º/4
Soma destes 3 (nome, tratado e fama) elementos: posse de estado de filho (juridicamente,
ainda não é filho, mas já tem a posse: exerce os poderes correspondentes ao exercício desse
direito).
A 2ª presunção: mãe deixa coisas escritas em que declara que é filho dela
Quando a lei estabelece uma presunção estas podem ser “eliminadas”, normalmente, se for
provado facto contrário (prova plena- se a mãe provar que não é a mãe). O nº3 diz que a
presunção será afastada se existirem dúvidas (prova bastante) - presunções mais fracas
Se o filho até aos 28 anos nunca teve ideia nenhuma de quem era a mãe. Só mais tarde, com
50 anos, é que se apercebe de algo (encontra papeis/ouve conversas, etc.). Para esta hipótese,
aparece o nº3 do art. 1817º, podendo a ação ser proposta nos 3 anos posteriores à ocorrência
dos factos previstos nas alíneas.
NOTA: O prazo que valia inicialmente era de 2 anos após a maioridade (até aos 20 anos). Este
prazo foi considerado inconstitucional por um órgão do TC (acórdão nº23/2006) que fixava o
prazo de 2 anos. Durante algum tempo não houve prazo, podendo-se propor ações de
investigação a todo o tempo. Só em 2009 foi fixado o novo prazo (lei 14/2009).
- A favor:
➢ Se não houvesse prazos, a pretensa mãe estaria sempre na insegurança com medo de
que o filho viesse propor uma ação contra ele (razões de proteção da segurança dos
pretensos pais). Talvez faça sentido em matéria patrimonial
• Art.1829º: situações em que, embora a mãe fosse casada, na altura em que o filho foi
concebido, ela não coabitava com o marido (+ de 300 dias depois de terminado a
coabitação).
Quando se considera que cessou a coabitação dos cônjuges? Apenas nas 3 hipóteses
do nº2 do art. 1829º
o Divórcio a decorrer
o Ausência do marido (a partir da data que deixou de haver notícias)
✓ Filho
✓ Mãe
✓ Presumido pai
✓ Verdadeiro pai – a lei só permite que este proponha a ação através do MP depois de
ser comprovada a viabilidade da ação (art.1841º)
Quando temos uma presunção, esta pode ser afastada se for provado o facto contrário ao facto
presumido. Art.1839º/2 – o impugnante não tem que provar que o marido da mãe não é o pai.
Apenas deve provar que é pouco provável que o marido da mãe não é o pai.
Para além disso, existe um regime especial de se tratar de filho concebido antes do casamento.
Neste caso, a presunção é mais frágil. Independentemente de qualquer prova, a mãe o marido
pode impugnar a paternidade do filho (art.1840º/1).
2. Perfilhação (art.1949º e ss): ato através do qual um sujeito declara a sua paternidade.
Este ato não é uma declaração de vontade (ele não quer que se produzam efeitos) mas
sim declara um facto. É um ato jurídico de natureza não negocial – é uma declaração
de ciência
Discute-se hoje se a perfilhação deve ser um ato livre neste sentido. Um pai que
sabe que é pai só perfilha se quiser? Hoje, tendo em conta os quadros dos
princípios da perfilhação entende-se que há um dever jurídico de perfilhar. Caso
contrário, incorre num incumprimento de uma obrigação que tem perante o
filho.
Enquanto for possível haver uma ação de investigação, podemos considerar que
há um dever de perfilhação. Se os prazos já passaram para recorrer, não
existindo este direito, também não haverá um dever (posição do Dr. Pereira
Coelho).
➔ Ato puro e simples: à perfilhação não pode ser aposta condição ou termo. (art.1852º CC)
➔ Irrevogabilidade: uma vez feita uma perfilhação, o perfilhante não se pode arrepender
e revogá-la (art.1858º CC). Mesmo quando a perfilhação seja feita através do
testamento, mesmo que este venha a ser revogado, aquela não atinge a perfilhação.
1. Só será valida se for feita por pessoa com capacidade para perfilhar (art.1850º CC):
a. Se a pessoa tem uma doença grave, mas perfilha no momento/intervalo lúcido,
não há motivos para duvidar da seriedade da perfilhação pelo que deve ser
válida
2. A lei permite que seja perfilhada uma pessoa que não nasceu (art.1855º CC): válida se
for posterior à conceção e o perfilhante identificar a mãe
--- Art. 1856º - perfilhação de filhos que já faleceram: só produz efeitos favoráveis aos
descendentes do filho (o perfilhante não pode ganhar com isso – não beneficiará
patrimonialmente com isso)
➢ O filho prova que quando foi concebido a mãe coabitou (relações sexuais) com o
investigado e prova que não houve mais ninguém (exclusividade)- Prova indireta
o Nome do filho: pode haver desacordo dos pais ao atribuir o nome próprio.
Nestes casos, o juiz pode decidir de acordo com os nomes que os pais
quereriam dar
o Se o filho não tiver a paternidade estabelecida (só tem a mãe) e a mãe for
casada, pode ser atribuído ao filho o apelido do marido da mãe, se ambos
declararem que é essa a sua vontade (padrasto e da mãe). Este apelido não
ficará para sempre, pois o filho, após atingir a maioridade, poderá requerer
que seja eliminado
Grande efeito da filiação: RESPONSABILIDADES PARENTAIS (arts. 1877º e ss)
- Expressão nova no nosso sistema (Lei 61/68—reforma do divórcio). Foi em 2008 que surgiu
esta expressão. Antes era o poder paternal.
→ O que estava mal na expressão anterior? A palavra poder acentuava que os pais tinham
direitos/poderes sobre os filhos, deixando de parte a ideia de que os pais também tinham
obrigações/deveres (poderes-deveres).
A palavra paternal pode significar do pai como pode cobrir “pai e mãe”. As pessoas podiam
ficar a pensar que o poder era apenas do pai.
-----------------------------2 condições---------------------------------------
- Na medida em que seja razoável pedir
- Pelo tempo que seja normalmente necessário para que se complete a formação
profissional
Os pais são obrigados a suportar até quando? Art.1905º/2- casos de divórcio: até aos 25 anos
(presunção). O pai que está a pagar a pensão pode provar que o filho, antes dos 25 anos, já
completou a sua formação profissional.
A relação entre os pais e os filhos não é uma relação equilibrada (desigual). Os pais têm
poderes sobre os filhos no interesse dos próprios filhos. (Art. 1878º/1).
Os filhos devem obediência aos pais (art.1878º/2) no seu próprio interesse, MAS os pais devem
ter em conta a evolução da maturidade dos filhos. O dever de obediência vai perdendo força
com o decorrer do tempo.
➔ Finalidade de proteção: os pais têm de proteger o filho. Quando este nasce é um ser
completamente indefeso e, por isso, tem que ser protegido
➔ Finalidade de promoção do desenvolvimento do filho: os pais devem preparar o filho
para ser uma pessoa autónoma.
Estas finalidades funcionam numa espécie de proporcionalidade inversa. Quanto mais se
protege, menos se promove o desenvolvimento do filho e vice-versa.
Art.1886º - Os pais podem dar uma educação religiosa aos filhos. A partir dos 16 anos, os filhos
atingem a “maioridade” relativamente À religião (idade da autonomia religiosa).
Os pais podem aplicar pequenos corretivos físicos? No Código de Seabra estava explicito que os
pais o pudessem fazer, de forma moderada. No CC não se faz referência a nada. Cada vez mais
está presente uma ideia de proteção dos filhos, mesmo em face da autoridade dos pais. No
Código Penal, há disposições (art. 152º e 152ºA) que punem a violência doméstica,
principalmente, os maus-tratos a menores.
Art.1887º → os pais não podem abandonar a casa paterna. É uma obrigação perante todas as
pessoas. O filho funciona como objeto.
- Responsabilidade de representação: o filho não tem capacidade de exercício e, por isso, tem
que se fazer representados por alguém (art.1881º). Há factos na vida do filho que os pais não
podem representar os filhos. (art.1888º + art.1967º e ss).
CASOS
➢ Atos que só podem ser praticados pessoalmente pelo filho (ex: casamento,
perfilhação)
Se os pais quiserem comprar uma casa para o filho com o dinheiro deste (aquisição de bens em
nome do filho). Para aquisição não é necessária autorização do MP (art.1889º/2 CC)
NOTA: Alienar é transferir a propriedade; Oneração são atos que constituem direitos reais
limitados (mas não se transferem – direito de usufruto).
➢ Atos que o menor tenha o direito de praticar livremente (art. 127º CC)
➢ Atos sobre bens cuja administração não pertença aos pais (bens provenientes do seu
trabalho, p.ex.) – arts.1895º e ss e 1900º
No art.1895º/1 CC -> os pais são proprietários de os bens que o filho, enquanto menor, produza
por trabalho para os seus pais (atualmente não terá muita aplicação prática).
No nº2 diz que os pais devem dar parte dos bens produzidos ou compensá-lo do seu trabalho.
Até 1977, o regime era outro. Os pais tinham usufruto legal dos bens do filho. Os rendimentos
dos bens dos filhos pertenciam mesmo aos pais. ~
No direito civil patrimonial comum, sempre que alguém fica a administrar o património de outra
pessoa, é normal que o administrado tenha certas garantias. As 2 garantias fundamentais que
existem: (1) o administrador presta uma caução que fica cativa e que vai servir de garantia do
bom cumprimento das obrigações e (2) quando cessam as funções do administrador, este presta
contas da sua administração. Na administração do património alheio existem de forma limitada
estas garantias pois confia nos pais (dispensa das garantias) - art.1898 e 1899º
➢ Com quem é que o filho reside? (problema não se coloca se os pais viverem juntos, só
se coloca quando há divórcio, etc)
➢ Quem e em que montante paga os alimentos devidos aos filhos?
➢ Quem toma as decisões relativas ao filho?
Quanto ao problema da residência do filho, o sistema clássico era de que o filho ficasse a viver
com um dos progenitores (art.1906º CC – espírito subjacente da norma é de que o filho será
confiado apenas a um dos progenitores). O outro progenitor tinha apenas o direito de visita
(direito de estar com o filho em certos momentos).
Todavia, hoje começou a falar-se de outra forma de atribuição da residência- o filho poderia viver
com os dois – chamada de residência alternada em que o filho vive alternadamente com um e
com outro.
Esta residência alternada não estava prevista na lei. No art.1906º, há números que manifestam
de alguma forma de acordo com esta modalidade. No nº8, manifesta que o filho deverá ter uma
grande proximidade com os progenitores.
Mais tarde, apareceu o Regime Geral Tutelar Cível (Lei 141/2015) que no seu art.40º, falava na
possibilidade de o filho passar a residir com ambos os progenitores, embora não desenvolvesse
o que isso significava.
Atualmente, com a Lei 65/2020, foi aditado um novo número que ao art.1906º, sendo que no
nº6 faz referência à residência alternada, independente do acordo dos pais sobre isso. É um
sistema cada vez mais praticado sobretudo em casos de divórcios, com filhos já adolescentes.
Estas questões seriam raras, de acordo com a jurisprudência. Este critério da raridade não
parece ter muito fundamento. Quando consideramos atos de particular importância é para o
FILHOS.
Há situações em que a lei permite que o ato seja apenas praticado por um dos progenitores
(abando do princípio da exigência de acordo
2) Art.1906º/2: se a lei exigisse que os pais chegassem a acordo poderia ser contrário
aos interesses do filho. É do interesse do filho que a decisão só seja tomada por
um. A lei dá exemplos deste tipo de situações:
Se não chegarem a acordo, a lei diz que as responsabilidades parentais devem ser tomadas nos
termos do matrimónio- os progenitores podem recorrer ao tribunal (art.1901º e 1902º).