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DIREITO DA FAMÍLIA E

MENORES I
AULAS PRÁTICAS

Professora Sandra Passinhas

Cátia Andrade
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1ª Aula – 30 de Setembro

- trazer sempre o Código Civil para as aulas!

RELAÇÕES FAMILIARES
- Princípio da taxatividade das relações familiares (o artigo 1576º do CC delimita o conceito de família)
- Há alguma mistura de conceitos:
a) casamento e adoção – institutos que dão origem à família
b) parentesco e afinidade – institutos que correspondem à família

O CASAMENTO
 Noção de casamento: artigo 1577º CC
- não há distinção quanto aos efeitos do casamento hétero ou homo sexual (exceto quanto à adoção)
- existem dois tipos de casamento: correspondendo a dois institutos diferentes!
Casamento Civil Casamento católico
Existem duas formas de celebração: Obedece para além dos requisitos do direito civil, aos
1) Convencional/tradicional: requisitos impostos pela própria Igreja,
1ªfase: formalidades preliminares; nomeadamente: os nubentes não podem ser
2ªfase: celebração do casamento; divorciados, têm de ser batizados, não podem ser
3ªfase: registo do casamento. homossexuais.
Desde 2001, com a Lei da Liberdade Religiosa passou a
existir:
2) Casamento civil sob a forma religiosa
- contem exatamente as mesmas fases, produz
os mesmos efeitos, só não é o mesmo sujeito
que o celebra. Isto é, o casamento é celebrado
(no que toca à celebração em si) segundo a
religião pretendida – artigos 1671º/2 e 1672º
do CC

- A dissolução do casamento só pode ocorrer:


1) por morte;
2) por divórcio (grande reforma do divórcio em 2008).

O pensamento alterou-se profundamente, antes havia uma declaração de culpa pelo divórcio, o qual
ficava sujeito a sanções pecuniárias, hoje há somente a constatação da falência do casamento em causa.

O PARENTESCO
Artigo 1578º CC – relação de sangue

» parentes em linha reta: artigo 1581º/1 CC


- os filhos são parentes em 1º grau aos pais
- os avós são parentes em 2º grau aos netos

» parentes em linha colateral: artigo 1581º/2 CC


- os irmãos são parentes em 2º grau
- os tios e sobrinhos são parentes em 3º grau
- os primos são parentes em 4º grau
Logo, na linha colateral não há parentesco em 1º grau (no Código de Seabra havia, atualmente não).

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- limites do parentesco – artigo 1582º CC: até ao 6º grau da linha colateral (netos dos nossos primos), “salvo
disposição em contrário”, como por exemplo: o artigo 2133º/d) CC para efeitos sucessórios reduz até ao 4º grau da
linha colateral.

A AFINIDADE
- corresponde aos parentes do conjugue (sogros, cunhados, etc)

A afinidade conta-se da mesma forma: por exemplo, entre a sogra e a nora estabelece-se uma afinidade de 1º grau.

Note-se que, a afinidade não gera afinidade. Por exemplo, o marido da cunhada não é familiar!

Nota: está errado dizer “parentes por afinidade”! Diz-se sim “família por afinidade”!

» Quando cessa afinidade?


Artigo 1585º CC
Não cessa por morte, mantém-se a afinidade.
Antes de 2008 também não cessava por divórcio. No entanto, não fazia muito sentido, pelo que, o legislador veio
atualizar. Esta realidade vem da questão sociológica, dadas as circunstâncias da época, os ex-sogros muitas vezes
faziam parte da família da mulher.
Hoje, havendo divórcio, os familiares poder afinidade cessam.

A ADOÇÃO
As relações de adoção são aquelas que à semelhança da filiação natural mas independentemente dos laços
de sangue que se estabelecem entre o adotante e o adotado ou entre um deles e os parentes do outro.
Por oposição ao parentesco natural, a adoção cria um parentesco legal, criado à semelhança daquele. Não
quer isto dizer que se trate de uma ficção legal, o que acontece é que a adoção assenta numa outra verdade. Uma
verdade sociológica ou afetiva distinta da verdade biológica em que se funda o parentesco.
A adoção visa criar um vínculo entre o adotante e o adotado à semelhança da filiação natural.
Esta questão – da semelhança com a filiação – está plasmada nestes artigos:
Artigo 1974º CC – o interesse da criança
Artigo 1979º/3 CC – quem pode adotar plenamente

Existem dois tipos de adoção:

ADOÇÃO PLENA ADOÇÃO RESTRITA


- A criança corta os laços com a família biológica (com a - A criança mantém os laços com a família biológica
família toda, podendo inclusive mudar de nome) - O adotado não é herdeiro como os outros filhos
- A adoção é irrevogável e passa o adotado a ser herdeiro biológicos
como os filhos biológicos

»»»»»NOVA LEGISLAÇÃO:
Lei nº143º/2015, de 8 de Setembro (novo regime jurídico)
Lei nº141/2015, de 8 de Setembro (aprovou o regime geral do processo tutelar cível – “Código do Processo Civil da
Família”)
Lei nº137º/2015, de 7 de Setembro (exercício das responsabilidades parentais)
Lei nº122/2015, de 1 de Setembro (alimentos de vivos a filhos maiores)

- A partir de agora (2015) só há adoção plena e, qualquer adotado a partir dos 16 anos de idade pode procurar os
pais biológicos (sendo que para isso, deve consultar o primeiro assento de nascimento e a Segurança Social tem o
dever de assistência ao jovem – esta nova previsão vai de encontro a valores constitucionalmente consagrados)
2
» Adoção por casais homossexuais é possível?
Sim, uma vez que existe ainda duas modalidades de adoção:
Adoção singular Adoção conjunta
Quer sejam hétero ou homossexuais . Uma vez que, são casados ou unidos de facto é
irrelevante esta questão.
Existe ainda a chamada co-adoção:
- adoção de filho do conjugue (não tem muita aplicação prática) – atualmente não faz muito sentido, uma vez que,
apenas é permita a adoção plena, que se traduz num corte com a família biológica do adotado. Nesta situação, o
adotado irá manter as relações com o conjugue e a família deste.

No caso de se tratar de uma criança que tem filiação estabelecida apenas com um pai/mãe, o tribunal pode atribuir
exercício de responsabilidade parental ao conjugue da mãe/pai – pode acontecer no caso dos casais homossexuais.
Se, porventura, a mãe/pai morre, o conjugue dotado de responsabilidade parental fica encarregue da criança,
contrariamente ao que sucedia antes, em que a criança era entregue aos avós.

RELAÇÕES PARAFAMILIARES
São relações que têm a semelhança da família, mas que na verdade não são família e, como tal, são
equiparadas para determinados efeitos (uma vez que, apresentam conexões com as relações familiares).

A – a união de facto (é semelhante ao casamento) – Lei nº7/2011, de 11 de Maio

B – a economia comum (ocorre, por exemplo, em casos de primas com uma certa idade e que são solteiras, ficarem
a viver juntas, em economia comum, partilham tudo como na união de facto, exceto a existência de união sexual) –
Lei nº6/2001, de 11 de Maio

C – o apadrinhamento civil – figura inspirada nos padrinhos do direito canónico, dirigindo-se sobretudo a crianças
institucionalizadas, mas que por qualquer motivo não são adotáveis (por exemplo, por terem mais de 10 anos ou
problemas de saúde). O apadrinhamento é um acordo entre o apadrinhado, os pais (se estiverem presentes) e o
padrinho, são estes que estabelecem quais os deveres e direitos específicos. Neste sentido, não há uma quebra com
a família biológica. Quem pode apadrinhar? Pessoas singulares, casais ou até mesmo uma família. Uma peculiaridade
é o facto de que o apadrinhamento é revogável, ao contrário da adoção., salvaguardando de certo modo os próprios
padrinhos. – Lei nº103/2009, de 11 de Setembro.

2ª Aula – 7 de Outubro

UNIÃO DE FACTO – Lei nº7/2001, de 11 de Maio


CASO PRÁTICO 1
Ana e Nuno conheceram-se e apaixonaram-se em 2011. Em Julho desse ano arrendaram uma casa e
passaram a viver juntos. Em Abril de 2014 tiveram uma criança e Ana deixou de trabalhar.
Em Setembro de 2015, o Nuno saiu de casa.
Quais os direitos de Ana?
A solução seria diferente se a casa fosse do Nuno?

RESOLUÇÃO
Em primeiro lugar, teríamos de explicar o que é a união de facto (começar sempre por aqui na resolução).
Ora a união de facto traduz-se num casal que vive junto em condições análogas às dos conjugues (isto é, comunhão
de leito, mesa e habitação, unidade e exclusividade*), há mais de 2 anos* (independentemente do sexo – artigos 7º e
3º).

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Daí aplicarmos no presente caso, a Lei nº7/2001 de 11 de Maio. Logo o regime é o que regula a união de
facto.
*NOTA – relativa à exclusividade: se houver um casamento, não pode haver uma união de facto, ou melhor, a
união de facto não é reconhecida. Isto é, se estivermos perante um situação em que A é casado com B e
simultaneamente vive com C há mais de 2 anos, esta “suposta união de facto” não é reconhecida, prevalecendo o
casamento.

*NOTA – relativa à questão do prazo de 2 anos: há união de facto a partir do momento em que estão a viver
juntos, no entanto, só produz efeitos e há regulação legal a partir dos 2 anos (e a partir dos 18 anos de idade!)

Regressando ao caso, estamos perante uma dissolução da união de facto, pelo que, se aplica o disposto no
artigo 8º/1/b), remetendo de seguida para o artigo 4º - proteção da casa de morada (que é a questão aqui em
causa). Ora, tratando-se de uma casa arrendada, aplica-se por remissão o artigo 1105º CC. Se, pelo contrário, se
tratasse de casa própria ou de uma das partes ou dos dois, aplica-se o artigo 1793º CC. Aqui temos a resolução do
caso.
Então, aplica-se o artigo 1105º CC, independentemente da vontade do senhorio.
Aqui teríamos de explicar muito bem a diferença de regimes – entre o artigo 1105º e o artigo 1793º do CC.
Não obstante, teria de se fazer prova da união de facto, como disposto no artigo 2º-A e, para além disso,
segundo o artigo 8º/2, teria de se fazer dois pedidos, um primeiro que declarasse a rutura da união de facto e um
segundo para pedir os direitos inerentes.

CASO PRÁTICO 2
Paulo e Rita vivem juntos desde Setembro de 2010 numa casa pertencente a Paulo e nunca tiveram filhos. A
semana passada, Paulo faleceu num acidente de viação.
No velório os pais de Paulo disseram a Rita que esta devia abandonar a casa o mais depressa possível. Rita
recusa, alegando que não tem para onde ir.
Quais são os direitos de Rita?

RESOLUÇÃO
Fundamento legal: artigo 1º/2 + 8º/1/a) + 3º/b) e c) + 3º/e), f) e g) da Lei nº7/2001 + 496º + 2020º + 1484º
do CC
Como vimos no caso anterior, primeiro começaríamos por explicar o que é a união de facto e identificar o
regime. De seguida, concluiríamos que nesta situação aplicar-se-ia o artigo 8º/1/a) – dissolução por morte.
Direitos da Rita:
1. Está aqui inerente ainda a questão da presença de Rita no funeral – artigo 3º/b) e c) tem falta justificada:
- alínea b) – remissão para o artigo 134º da Lei nº35/2014, de 20 de Junho;
- alínea c) – remissão para o artigo 249º e 251º do Código de Trabalho.
2. Segundo o artigo 3º/e), f) e g) tem direito a receber as prestações da Segurança Social (o artigo 6º remete para o
artigo anterior, sendo que esta igualação ocorreu em 2010, assim o unido de facto sobrevivo dirige-se à SS para pedir
essas prestações a que tem direito)

3. Segundo o artigo 496º do CC, tem direito ainda a indemnização por danos não patrimoniais resultantes da perda
do unido de facto. Ora, o nº2 deste artigo não refere o unido de facto, mas a partir de 2010 acrescentou-se essa
previsão no nº3.

4. Segundo o artigo 2020º do CC, tem direito a alimentos. Assim, a Rita pede o direito a alimentos de acordo com a
massa da herança do falecido. No artigo 2009º não refere o unido de facto.

Relativamente à casa, como ela era de Paulo, atendendo ao artigo 5º da lei, este prevê que seja constituído a
favor da Rita o direito real de habitação e o direito real ao recheio da mesma. Nos artigos 1484º e seguintes do CC
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estabelece-se o que é o direito real de uso e de habitação – é um direito limitado, pessoal e intransmissível. Este
direito dura no mínimo 5 anos. Todavia, se a união de facto tiver uma duração superior a 5 anos, este direito passa a
durar o mesmo número de anos da duração da união de facto.
Terminando este direito real, o unido sobrevivo em direito ao arrendamento da casa. Este arrendamento fica
sujeito ao regime do arrendamento (sendo que, os herdeiros do falecido, passam a ser senhorio da Rita).
Tem ainda direito de preferência sobre a venda da casa, se eventualmente os herdeiros do falecido estiverem
interessados em vendê-la.
Concluímos, assim, que este regime pretende assegurar o nível de vida e ambiente familiar do unido
sobrevivo.
Uma questão aqui pertinente é a de que na existência de filhos, eles são os herdeiros do unido falecido. Ora,
nesse caso, “a casa é dos adultos”, tratando-se da única exceção de prevalência face à filiação (ver melhor).

Aula – 14 de Outubro

CASAMENTO
A - sistema matrimonial
- Casamento religioso obrigatório
- Casamento civil subsidiário:
a. Religioso
b. Civil (para quem não pretende casar-se catolicamente)
- Casamento civil obrigatório (o casal só se podem casar civilmente – em frança é assim)
- Casamento civil facultativo (o casal pode escolher entre o casamento civil ou o casamento religioso)
a. 1ªmodalidade: casamento civil e depois o casamento religioso (a celebração é a única diferença, podem
escolher celebrações diferentes)
b. 2ªmodalidade escolhem um ou outro, sendo certo que os institutos são diferentes.

» Então em Portugal que sistema matrimonial existe?


A resposta encontra-se plasmada no artigo 1587º CC – duas modalidades de casamento.
O estado português conhece efeitos a dois tipos de casamentos, sendo que os efeitos a produzir são iguais nos dois
tipos.

Negócio efeitos
requisitos (casamento)

O casamento civil e o casamento católico são institutos diferentes.


- podemos casar civilmente e depois (por outros motivos posteriores) pode casar catolicamente (para realizar o
sacramento).
- mas quem casa catolicamente não casa posteriormente civilmente – não é necessário, porque o casamento
católico produz exatamente os mesmos efeitos.

» Porque dizemos que são diferentes?


Casamento católico vs Casamento civil
- no casamento católico: a própria igreja determina uma série de requisitos, por exemplo, o casal tem de ser
batizado; requisitos estes que se somam aos requisitos civis
- Artigo 1625º CC:
- Os casamentos católicos podem ser nulos enquanto que os casamentos civis só podem ser inexistentes ou
anuláveis.
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- “dispensa do casamento rato e consumado” – o rato é o acordo/consentimento das partes (ratificado) e
consumado que significa depois da relação sexual. A igreja valora a família, a procriação, e como tal, o casamento
embora seja válido, só se torna estável depois de consumado! Assim, se por algum motivo não se consumar o
casamento, os noivos voltam a ser solteiros e podem voltar a casar catolicamente.
- Concordata entre Portugal e a Santa Sé de 2004: o estado português deixa uma ampla margem aos tribunais
eclesiásticos.

Vemos, pois, que são instrumentos diferentes.

- Em 2001, com a aprovação da Lei 16/2001, lei da liberdade religiosa: artigo 19º/1 – casamento civil celebrado
perante um ministro de culto de uma igreja ou comunidade religiosa (artigo 37º - que tenha uma presença social
organizada em Portugal à mais de 30 anos ou se for de outros pais à mais de 60 anos – podemos consultar a sua lista
no Registo Nacional de pessoas coletivas religiosas) existente no nosso país.
Efetivamente, trata-se de um casamento civil.
Ainda que casados de forma religiosa, eles estão a celebrar um casamento civil.
Artigo 1577º (é um contrato entre duas pessoas e que a comunhão de vida é plena) + artigo 1600º + 1671º + 1672º
O CC mantém a distinção, sendo que o casamento religioso desta forma encontra-se previsto à parte do CC.

» O casamento português é um casamento civil facultativo na 2ª modalidade!


- para quem tiver uma religião radicada no nosso país, o sistema matrimonial funciona enquanto casamento civil
facultativo na 1ª modalidade, porque quem profere uma religião desse tipo casa civilmente, mas dentro deste pode
escolher a celebração de forma religiosa;
- para quem tiver uma religião não radicada no nosso pais ou não tenha religião, o sistema matrimonial é o sistema
de casamento civil obrigatório

» O que é necessário para casar? AS FORMALIDADES DO CASAMENTO


O casamento tem 3 fases:
1ª fase – formalidades preliminares – demora uma semana, é tudo informatizado – casar em portugal é muito fácil
 Declaração para casamento (artigo 135º Código do Registo Civil) – a declaração pessoal (é presencial)
 O conservador dá publicidade (artigo 140º CRC)
 O conservador realiza certas diligências: verifica se as pessoas em questão podem casar, se têm idade, se
podem casar uma com a outra (artigo 145º CRC)
 O conservador faz um despacho de autorização (artigo 144º CRC)
 Certificado de autorização (artigo 146º CRC)
Quem autoriza
No direito canónico as mulheres podem casar com 14 anos. Mas o direito civil exige os 16 anos. Vale o direito civil,
que prevalece sobre o direito canónico.
No casamento católico o certificado de autorização é levado ao padre e, de seguida, o Estado não quer saber do
resto, delegando na Igreja Católica. Este certificado tem validade de 6 meses.
Depois da celebração, o padre tem 3 dias para fazer a transcrição.
2ª fase – Celebração
 Casamento civil - a celebração é feita pelo próprio conservador – artigo 153º CRC
 Casamento católico – artigo 151º CRC
 Casamento sob a forma religiosa – artigo 19º da Lei da Liberdade Religiosa
3ª fase – Registo;
Depois de celebrado o casamento, há lugar a registo como condição de eficácia
No casamento civil há inscrição feita pelo conservador – inscrição (artigo 52º/2/e) e 180º CRC)
No casamento católico há transcrição – (artigo 53º e 167º e seguintes CRC)
No casamento civil sob forma religiosa – (artigo 53º e 187º-A CRC)

- No casamento católico há 4 padrinhos (mas só 2 é que assinam para efeitos de registo civil)
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- No casamento civil há só 2 testemunhas

O caso do casamento civil sob forma religiosa é um casamento civil, mas é celebrado não pelo conservador, mas
antes pelo ministro religioso. Os noivos têm de provar a religião e têm de identificar a pessoa com competência
específica para celebrar casamentos. O conservador tem de ser convencido que o ministro de culto tem
determinadas qualificações. Depois, o conservador tem de se assegurar que o casal sabe que está a casar civilmente!
O certificado de autorização é um certificado específico – verifica as condições do casal, credencia o ministro de
culto e especifica ainda que os noivos têm conhecimento das regras de casamento civil presente no CC. Este
certificado é enviado oficiosamente para o ministro de culto (o conservador envia-o para o ministro), vemos assim,
que o ministro vai somente substituir o conservador, pois o Estado português assegura-se que o ministro é uma
pessoa credenciada – evidencia um maior controlo da celebração deste tipo de casamento.

- TRAZER PARA A PROXIMA AULA A LEI DA LIBERDADE RELIGIOSA, A CONCORDATA, ETC…

CASO PRÁTICO 1
A e B são cidadãos chineses que casaram em Portugal há 3 anos segundo os rituais do casamento chinês:
prestaram a devida homenagem ao céu e à terra, aos familiares passados e aos deuses. Foi servido um chá com duas
sementes de lótus aos pais dos noivos, e os noivos fizeram a devida vénia um ao outro.
Separaram-se o mês passado. A vai ao escritório do advogado:
1º - quer o divórcio porque o marido a traiu;
2º - quer fica com a casa onde viviam embora o contrato de arrendamento esteja em nome do marido;
3º - está grávida de 7 meses.
O que é que lhe diria?

1º este casamento é valido? Produz efeitos na ordem jurídica portuguesa?


Este caso não é um casamento civil em forma religiosa uma vez que em nenhum momento se fala em ministro e
culto, registo civil, etc. Logo, o casamento não é válido e, como tal, não produz efeitos.
Neste sentido, diríamos a A que ela não precisaria do divórcio.

2º apesar de não ser casada, ela viveu durante 3 anos numa situação análoga à dos conjugues, daí que se possa
aplicar o regime jurídico da união de facto (artigo 1105º CC).

3º Face a este regime, permite alguma proteção a A. Pelo que, o arrendamento pode passar para seu nome.

4º Há o interesse do filho.
*nota: quando duas pessoas são casadas e nasce uma criança, a paternidade estabelece-se por presunção da lei.
Logo, no nosso caso, a paternidade terá de se fazer mediante perfilhação, se o mesmo não o fizer, terá de se
submeter a um processo judicial.

Independentemente da exuberância das cerimónias, não há casamentos privados! (como ocorre com os casamentos
ciganos).

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Aula – 21 de Outubro

INVALIDADE DO CASAMENTO (matéria muito importante para exame)


Artigo 1627ºCC

 O casamento católico pode ser nulo

 O casamento civil pode ser inexistente ou anulável


1. Casamentos inexistentes – artigo 1628ºCC
*Notas:
alínea b): casamentos urgentes – 1622ºCC – quando haja perigo de morte ou quando estejamos numa
situação iminente de parto
alínea d): remissão para o regime dos casamentos celebrados por procuração - artigos 1620º e 1621ºCC
– só um dos nubentes é que pode ser representado, nunca os dois! A própria procuração tem de conter
o nome do respetivo nubente, o dia, o local. Assim, o procurador somente está presente no dia da
celebração como representante de um dos nubentes. Coloca-se a questão de saber se é efetivamente
um representante ou apenas um núncio: Pereira Coelho defende que se trata de um representante (se
fossem meros núncios apenas lhes competiam a presencialidade do ato para o qual havia sido
designado, enquanto que como representante tem poder de escolha, na medida em que há
possibilidade de alteração de circunstâncias).
Há também procuração nos casamentos católicos! Tem raízes históricas, nos casamentos da realeza.
Alínea e): foi revogado – previa que os casamentos celebrados entre o mesmo sexo eram inexistentes

REGIME DA INEXISTÊNCIA:
a) Não produzem nenhum efeito jurídico;
b) pode ser invocada a todo o tempo;
c) pode ser invocado por qualquer interessado;
d) sem necessidade de uma ação judicial.

2. Casamentos anuláveis – 1631ºCC


Só nos casos previstos no artigo é que há anulabilidade!
*Nota: não existe previsão do dolo – vale aqui o princípio “en marriage trompe qui peut” – o dolo seria
aqui um artifício que levaria o outro a casar (sedução). No casamento o dolo não é vício da vontade.
Alínea a): temos dois tipos de impedimentos no casamento:
1. Os impedimentos dirimentes - artigos 1601º e seguintes CC - só estes afetam a validade do casamento, logo,
só estes geram anulabilidade do casamento - por sua vez, podem ser:
a) absolutos – impedimento de casar com qualquer pessoa – artigo 1601ºCC
»No artigo 1601º/a) fazer as seguintes remissões: 1639º, 1643., 1633/1/a)
b) relativos – impedimento de casar com determinadas pessoas – artigo 1602ºCC
Alínea d): o legislador entende que atentando-se contra o casamento, não deve poder casar a seguir (Jorge
Miranda considera esta norma inconstitucional por ser um impedimento sem tempo, tratando-se de uma pena
acessória)

2. Os impedimentos impedientes (não afetam a validade)

Causas de Anulabilidade
Artigo 1631º-B CC (fazer as remissões adequadas)
 “falta de vontade” remeter para os artigos: 1635º; 1640º e 1644º CC
- vontade viciada por erro: remissão para os artigos 1636º; 1641º e 1645º
Por erro temos de atender a 3 requisitos +1:
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1. Tem de recair sobre as qualidades essenciais do outro conjugue (exemplos: ter um filho de uma relação
anterior, ter cumprido pena, ter um defeito físico escondido, etc – já não é uma característica essencial a
sua condição sócio-económica)
2. Tem de ser desculpável
3. Sem o erro o casamento não teria acontecido
4. + requisito da propriedade: erro próprio – não se trata de um erro jurídico (com efeitos jurídicos)

EXEMPLO: A senhora Ana casou com um senhor angolano, José Silva. Entretanto veio-se a descobrir que quem casou
não foi o Sr. José Silva, mas antes o Sr. Luís Santos. Houve um erro na identificação da pessoa. Colocava-se a questão
de saber se se tratava de erro quanto à identidade física do conjugue? Não, porque ela casou fisicamente com o Sr.
que queria. O que se trata aqui é de um casamento inexistente, ele não produz nenhuns efeitos.

Então e o dolo não é relevante? É, mas apenas indiretamente. Porque apenas releva no erro (por exemplo,
falsificação do assento de nascimento, em que em vez de estar divorciado, colocou que estava solteiro).

 “coação moral” remeter para os artigos 1638º; 1641º e 1645º CC

REGIME DA ANULABILIDADE:
» Artigo 1641º: só o conjugue tem legitimidade para requerer a anulabilidade do casamento
» Artigo 1645º: no prazo de 6 meses
» Através de uma ação específica: ação de anulação
» O casamento anulado produz efeitos jurídicos (ao contrário do que ocorre no regime geral da
anulabilidade) – assim quer seja casamento civil ou católico, irão produzir-se os efeitos putativos.
Artigos 1647º e 1648º CC
 Quais os requisitos para se aplicar este regime? São 3 requisitos:
1. Que exista um casamento (não pode ser inexistente);
2. Que tenha sido declarado nulo ou anulado;
3. Que exista boa-fé de um dos conjugues
- O que é boa fé? Está no artigo 1648º/1 CC;
- Em que medida vamos proteger o conjugue de boa fé? Na medida do artigo 1647º/2 CC

EXEMPLO
ANA e BRUNO, casados em regime de comunhão geral de bens - B conta os seus 15 anos de prisão – A
requer a anulabilidade do casamento – ela está de boa fé, desconhecia da realidade – se A tem um
património de 50.000€ e B tem 100.000, ela vai beneficiar dos efeitos da comunhão geral de bens
(recebendo a sua metade).
Imaginemos agora que A e B somente se queriam divorciar - artigo 1790º CC. Na comunhão de adquiridos,
temos bens próprios (o que cada um tem) e bens adquiridos (o que se adquiriu no decurso do casamento), A
ficaria com os 50.000€ que levou para o casamento e B com os 100.000€, como não há bens adquiridos, não
se coloca a questão.
Assim, Ana ficaria mais beneficiada pelo pedido de anulabilidade do casamento do que pelo divórcio!
O casamento inválido seja católico ou civil, podem produzir efeitos putativos, permitem a que quem estiver
de boa fé, beneficiar dos efeitos do casamento.

Outro efeito putativo: 1827º, vale mesmo quando os dois nubentes estão de má fé – presunção de
paternidade (com o intuito de proteger os filhos)
(*Nota: fazer remissão do 1647º para o 1627º CC)

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Aula – 3 de Novembro

Breves notas soltas:

 Vimos anteriormente a invalidade do casamento civil;


 Can. 1073º e seguintes - Código de Direito Canónico, temos os impedimentos dirimentes em geral
 Can. 1083º e seguintes - impedimentos dirimentes em especial – idade da mulher para casar (14 anos)
 O que se aplica é a Concordata, em que o Estado português celebrou o acordo entre as normas a aplicar
relativas ao casamento, pelo que, nem todas as normas de direito canónico são aplicadas ao casamento
católico em Portugal, designadamente, não se aplicam as normas relativas à capacidade.
 Can. 1084º - a impotência: aqui temos de atender à natureza deste tipo de casamento.
 Can. 1085º -
 Can. 1086º - casamento entre um batizado e um não batizado – pode casar como casamento misto (1124º e
seguintes)
 Can. 1087º - os padres, freiras, etc.
Etc.

Há dois tipos de impedimentos:


1 – Impedimentos impedientes – o casamento é valido mas trazem consequências patrimoniais
Artigo 1604º CC
Alínea a) – pode a conservadora suprir essa falta de autorização dos pais – remissão para o artigo 1649º (que
tem um erro: “respetivo suprimento judicial”, quem tem competência para suprir o consentimento é o
conservador e não o juiz – esta alteração ocorreu em 2001, mas esqueceram-se de alterar o CC;
Alínea b) – prazo internupcial – remissão para o artigo 1605º CC e 1650º:
Depois de descasados, há um prazo em que não se pode voltar a casar: existem dois prazos, um para
o homem e outro para a mulher (esta “discriminação” tem por base o prazo de gravidez, mas pode encurta-
lo mediante apresentação de um atestado médico, sendo que encurta para 6 meses por motivos de moral
social)
Alínea c) - tios e sobrinhos – artigo 1609º/1/a) e 2 CC + artigo 1650º/2
2 – Impedimentos dirimentes – afetam a validade do casamento

CASAMENTO
O casamento é duas coisas: é um ato (ato de casar) e um estado (estar casado).

 Para o direito canónico:


- o casamento como ato – noção do ato de casamento (Can.1057º/2) + o casamento católico é um
sacramento (Can.1055º/2), é o ato pelo qual o homem e a mulher se entregam e recebem mutuamente, não
é o Padre que casa os nubentes, são eles que se entregam mutuamente no discurso (“prometo amar-te e
respeitar-te…”).
- o casamento como um estado (Can.1055º/1): por um lado, é ordenado ao bem dos cônjuges (serem
felizes), ordenado à procriação (daí: a impotência ser um impedimento, a consumação do casamento gerar a
estabilidade e indissociabilidade do casamento – a essência do casamento faz parte a procriação – fazer
remissão para o Can.1084; Can. 1142º); as propriedades do casamento: unidade/exclusividade;
indissolubilidade – Cans. 1141º a 1150º; dispensa do casamento rato e não consumado (relações sexuais
compeltas)

Para o casamento civil:


- o casamento como ato – noção constante no artigo 1577º CC – comunhão de vida (remissão para os
artigos 1672º, 1601º/c), 1773º - dissolução do casamento, por morte ou por divórcio, ainda está presente a
ideia de que o casamento é para toda a vida, se se dissolver por morte, o casamento cumpriu a sua função);

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ato – como contrato; o negócio jurídico é um negócio solene de celebração; enquanto ato é um negócio pelo
qual se interessam o Estado e as Igrejas (na sua celebração);
- o casamento como estado – duas características: unidade (não admitimos poligamia) e casamento
tendencialmente perpétuo (eterno)

ESQUEMA SOBRE A REGULAMENTEÇÃO DO CASAMENTO CATÓLICO:

1. Quanto à promessa de casamento: vale os artigos 1591º CC e seguintes e vale o Can.1062º


2. Quanto aos requisitos de fundo do casamento católico:
2.1. Quanto à capacidade: vale o artigo 1596º CC e o Can.1085º
2.2. Quanto ao consentimento: vale as regras do direito canónico por força do artigo 1625º CC
2.3. Quanto ao ato de casamento:
2.3.1. Quanto às formalidades preliminares – regulam ambas, o direito civil e o direito canónico (o
Padre vai apreciar se reúnem as condições)
2.3.2. Quanto à celebração – só vale o direito canónico – Can. 1108º
2.3.3. Quanto ao registo – o assento do casamento católico transfere para o registo civil (lei civil e
lei canónica)
2.4. Quanto às causas de nulidade e registo das ações – artigos 1625º 1626º do CC
2.5. Quanto aos efeitos do casamento católico (= ao casamento civil) – artigo 1588º CC
2.6. Dissolução do casamento católico: por morte; dispensa do casamento rato e não consumado
(específico); divórcio – há divórcio dos casamentos católicos mas só produz efeitos nos casamentos
civis.
2.7. Can. 1095º - estas pessoas não podem dar consentimento para o matrimonio – vício do casamento
(pode pedir-se a nulidade desses casamentos) – esta alínea veio trazer uma grande amplitude para
declarar a nulidade dos casamentos, a própria Igreja abriu o leque das situações que cabem nestes
critérios.
»Nota: o novo Papa veio instituir que estes processos sejam mais céleres e gratuitos, os critérios
mantém-se.

PROMESSA DE CASAMENTO
- diz respeito ao pedido de casamento: quando ficam noivos

Caso prático sobre a promessa de casamento


A Ana e o Bruno começaram a namorar em Agosto de 2011. Em Janeiro de 2015, o Bruno pediu Ana em casamento,
que aceitou. Em Outubro de 2015, o Bruno desistiu do casamento para seguir uma carreira religiosa.
Quid iuris quanto, ao valioso anel de noivado que o Bruno deu à Ana?
Quid iuris quanto às roupas de enxoval, também valiosas dadas pela mãe do Bruno?
Quid iuris quanto às despesas que Ana havia tido: 2500€ com o vestido e 3.000€ com a quinta?

As normas respeitantes à promessa de casamento aplicam-se aos dois tipos de casamento.


Em primeiro lugar, a violação da promessa de casamento não gera execução específica.
Em segundo lugar, dá lugar às obrigações de restituição (considera-se as coisas materiais, no nosso caso, o anel e o
enxoval) – 1592º
Em terceiro lugar, segundo o artigo 1591º, a exposição humilhante a que fica o noivo não é tutelada por
indemnizações por danos morais. Não há porque o legislador entende que ninguém deve ser obrigado a casar. Pelo
que, só existe indemnização por danos patrimoniais, quer com as despesas feitas, quer das obrigações contraídas
(1594º).
Aqui temos de verificar se o motivo do Bruno é um justo motivo.
» Justo motivo: estamos perante uma questão que é controversa. A verdade é que há aqui uma despesa
para um casamento que não se realizou e que, independentemente do motivo, quem deve ser onerado com as

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despesas é quem rompeu com o casamento. O facto de ele querer seguir a atividade religiosa não consideramos ser
um justo motivo, porque o legislador já tutela esta opção de vida, na medida em que, prevê a opção de casar ou não
(há uma completa liberdade). A questão aqui nem se prende com os motivos, aqui tem que ver com as despesas que
foram efetuadas.
De todo o modo, a resposta a dar parte da consideração que fizermos quanto a este motivo, há quem
entenda que é um justo motivo e há quem entenda que não.

O prazo para exigir judicialmente as indemnizações é de um ano, de acordo com o previsto no artigo 1595º CC.

NOTA: a matéria dos impedimentos é muito questionada pelo Dr. Pereira Coelho nas orais.

Aula – 10 de Novembro

Efeitos do casamento
Efeitos pessoais e patrimoniais
Aqui só estudamos os efeitos pessoais:
1. Constituir família;
2. Alterações no direito ao nome e nacionalidade;
3. Surgimento de um conjunto de direitos e deveres para os conjugues

 Relativamente as alterações do nome – artigo 1677º CC


- Mantém os seus mas pode acrescentar apelidos do conjugue até ao máximo de dois apelidos.
- Acrescentar pode ser pôr no fim ou intercalar: isto é importante porque até 2001 os conservadores não
intercalavam. A lei foi alterada e hoje vigoram as duas possibilidades
- Na dissolução por morte e por divórcio:
a) Viuvez – 1777º-A – o viúvo pode manter, até voltar a casa e quando casar se o quiser manter (tem de
fazer uma declaração). Mas se decidir manter – 1677º/2 no segundo casamento não pode acrescentar nome do
segudo marido.
b) No caso de divórcio: artigo 1677º-B: após o divórcio a manutenção do nome depende de autorização do
marido. Se ele não der o consentimento pode o tribunal pode autorizar (por motivos atendíveis ex: reputação
profissional criada com aquele nome) – 1677º-B/1.
Em todos estes casos em que se usa o nome, pode haver privação judicial, quando a pessoa que usa o
nome o faz mau uso do nome (escândalo financeiro/sexual) - 1677º-C

Direitos e deveres do casamento:


Artigo 1672º CC: coabitação, cooperação, assistência, fidelidade
- Acordar sob a vida em comum: artigo 1671- norma imperativa. É um dever de acordar, os nubentes
devem fazer um esforço sério para procurar acordo.
Relativamente as orientações da vida em comum:
» Estas são orientações sob a gestão de recursos (por exemplo: comprar casa/poupar), o seu percurso de
vida;
» Planeamento familiar: filhos, quantos, quanto;
» Repartições de funções: atividades domésticas/finanças/tomar conta de crianças;
» Decisão sobre a residência da família (cidade, pais, sempre aqui ou não).

Neste contexto, fica de fora tudo o que é pessoal: amigos, opiniões, roupa que querem vestir.

Quanto a escolha da profissão- artigo 1677º-D


Consagra o princípio da liberdade do exercício da profissão. Não obstante, isto não significa que a
escolha da profissão não possa em algum caso “violar” um direito conjugal.
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Sobre isto, a natureza pergunta: qual é a natureza destes acordos?
São negócios jurídicos que:
 Não são suscetíveis de execução específica;
 São revogáveis unilateralmente por qualquer um dos cônjuges, a qualquer tempo (e isto demonstra que
estes tem pouca força).
-quando mudaram as circunstâncias de facto que fundaram a decisão.
-quando mudaram a avaliação que qualquer um deles faça sobre esses factos.
(pergunta de oral)

Deveres dos cônjuges:


O artigo 1672º enumera o dever de respeito: é um dever residual (tudo o que não couber nos outros
deveres entra no dever de respeito). Um dos deveres que hoje em dia esta muito em voga e que cabe dentro deste é
o direito de transparência sobre a situação financeira do outro.

O dever de respeito tem uma vertente negativa e uma vertente positiva:


a) Vertente negativa: implica não fazer
-não ofender a integridade física do outro (violência doméstica/ obrigar o outro a abortar.
-não ofender a integridade moral do outro (ridiculização em publico/ o facto de uma mulher grávida
abortar sem o conhecimento do conjugue/o facto do marido ser dador de esperma sem a mulher saber /não pode
introduzir no lar filhos extraconjugais (depende do consentimento do conjugue 1883º CC)

Para além disto, apesar de todos estes casos são situações de despeito ao outro, mas muitas das vezes há
comportamentos que não ofendem diretamente ao cônjuge, mas enquanto conjugue enquanto casado com ela
(ex: comportamento impróprio; ex: o marido dela é bêbado; viciado no jogo)

b) Vertente positiva: fazer


1. Interessar-se pelo outro e pela família que construíram juntos (pelos problemas).
2. Dever de coabitação -comunhão de leito, mesa e habitação
Leito: existe a obrigações de ter relações sexuais (se não tiver relações sexuais depois há
consequências: neste contexto, o débito sexual é uma limitação a liberdade sexual)
Mesa: esta corresponde a economia comum (frigorifico e armários).
Habitação: rigorosamente, não obriga a que os conjugues vivem juntos (LAT). Existe que haja uma
sede familiar.
Artigo 1673º. Pergunta da doutrina: só pode existir uma ou duas casas de família? A partida, só pode existir uma,
mas podem haver situações em que há mais do que uma casa de família (casa na figueira e em Coimbra por causa
dos filhos).

3. Dever de fidelidade – no seu núcleo duro significa não ter relações sexuais com terceiros que não seja o
seu cônjuge.
Neste sentido, também temos uma limitação a liberdade sexual (no livro fala muito sobre o adultério- é
um conceito técnico (que não nos interessa porque é insuficiente porque vai muito para além do
conceito técnico) - relações sexuais consumadas com pessoa do sexo oposto que não seja o seu cônjuge.
O casamento traz-se duas limitações a liberdade sexual.
- Positiva - dever de ter relações sexuais com o cônjuge
- Negativa - não ter relações sexuais com outro sem ser o cônjuge

Para além disto, importa dizer que todos os deveres conjugais são modelados pelos cônjuges (ex: swing).

4. Dever de colaboração - é o dever de colaborar – artigo 1674ºCC

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*O dever de colaboração não se confunde com o dever de assistência- artigo 1675ºCC. O dever de
assistência e um dever de cariz económico e tem duas vertentes.
- Quando vivem juntos: dever de contribuir para os encargos da vida familiar - artigo 1676ºn1: contribuir
proporcionalmente. Contribuir para os encargos não é só dar dinheiro, mas também ficar em casa a tomar conta dos
filhos e da casa.
- Se estão separados de facto (quando um sai de casa): dever de alimentos (provisórios- que só com o
divórcio se tornam definitivos): Artigo 1675º 2 (in fine) e 3: estas coisas já não existem, consideram estas normas
tacitamente revogadas

Compensação financeira: requisitos estritos do artigo 1676º: momento da partilha ou em ação autónoma.

Aula – 24 de Novembro

DEVERES DOS CÔNJUGES


- Elencados no artigo 1672º CC
1. Dever de respeito com a vertente negativa (não ofender) e a vertente positiva (se preocupar com o outro)
2. Dever fidelidade (o grande núcleo é: “não ter relações sexuais com terceiros”)
3. Dever de coabitação (comunhão de leito, de mesa, de economia comum, de habitação)
4. Dever de colaboração
5. Dever de assistência (duas dimensões: se vivem juntos; se vivem separados)
+1671º (acordar sobre as orientações da vida em comum)

ALIMENTOS
OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS ENTRE OS CÔNJUGES - alimentos provisórios
Artigo 1675º: o dever de assistência compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir para
os encargos da vida familiar.
Artigo 2015º (obrigação alimentar relativamente aos cônjuges): na vigência da sociedade conjugal, os
cônjuges são reciprocamente obrigados à prestação de alimento, nos termos do artigo 1675º. Na separação de
facto, o direito a alimentos é igual à contribuição dos encargos familiares.
» ver artigo 2003º (noção geral)

Situação prática: Ac. TRE, de 1 de Fevereiro de 2007 - “a título provisório… o regime da sua fixação segue critérios de
conveniência e não de estrita legalidade, sendo destinado a vigorar, apenas, durante a pendência da ação de
divórcio, em eu o cônjuge não é obrigado à prestação de alimentos como qualquer outro obrigados, mas antes como
pessoa que contraiu pelo casamento o dever de constituir com o outro cônjuge….”
Outros:
Ac. TRP, de 24 de Novembro de 2009
Ac. TRP, de 15 de Dezembro de 2005

Duas notas sobre esta questão:


- integra o dever de assistência (um dever conjugal)
- manutenção do padrão de vida

OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS ENTRE EX-CÔNJUGES – alimentos definitivos


- Todos os deveres cessam com o divórcio, exceto o dever de assistência, muito embora fique comprimido.

Artigo 1775º - requerimento e instrução do processo na conservatória do registo civil (com o acordo sobre a
prestação de alimentos ao cônjuge que deles careça)
Artigo 931º e 932º CPC (quando é o juiz a decidir)
- divórcio sem consentimento

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Artigos 933º e seguintes CPC (da execução especial para alimentos – relativo a todos os pedidos de alimentos e não
somente aos cônjuges)

O artigo 2016º e 2016º-A tratam da obrigação de alimentos entre ex-cônjuges:


- Princípio novo e basilar no nosso ordenamento jurídico (2008): cada cônjuge deve prover à sua
subsistência, depois do divórcio – princípio da auto-subsistência. Este princípio tem consequências práticas muitos
importantes: a questão probatória!
Antes:
 Cabia ao requerente dos alimentos o ónus da prova das suas necessidades e de que o requerido tem
possibilidades de os prestar (artigo 342º/1);
 Cabendo ao requerido o ónus da prova das circunstâncias que poderão justificar a não atribuição do direito a
alimentos (artigo 342º/2).

Com a introdução deste princípio, o requerente tem de provar que não consegue prover à sua subsistência!
Designadamente que, em virtude da sua idade ou das suas condições de saúde, não tem capacidade para reiniciar ou
iniciar o exercício de uma qualquer atividade profissional.

Quem tem direito a alimentos?


Artigo 2016º - qualquer dos cônjuges tem direito a alimentos, independentemente do tipo de divórcio (antes isto era
uma sanção de culpa pelo divórcio)
Todavia, por razões manifestas de equidade, o direito a alimentos pode ser negado – as razões manifestas de
equidade têm, pois, de consistir em circunstâncias de acentuada relevância que tornem imperioso, segundo o sentir
social, o afastamento daquele dever de solidariedade/dever assistencial: tal como a existência de uma nova relação
por exemplo.
O tribunal deve dar prevalência a qualquer obrigação de alimentos relativamente a um filho do cônjuge devedor
sobre a obrigação emergente do divórcio em favor do ex-cônjuge – artigo 2016º-A/2

Qual o montante desses alimentos?


Artigo 2016º-A/3 – o cônjuge credor não tem direito de exigir a manutenção do padrão de vida de que beneficiou na
constância do matrimónio (vs. Artigo 1675º)
Então qual esse valor? A regra geral constante do artigo 2003? Não! A resposta encontra-se no artigo 2016º-A (o
legislador conjuga um afastamento do padrão de vida e um afastamento do mínimo de existência, pautando-se num
intermédio)
*nota: “um novo casamento ou união de facto” refere-se a quem presta os alimentos; pois segundo ao artigo 2019º,
se se referisse ao alimentado, esse direito cessava!

Quando cessam?
Artigo 2019º
*não há limite temporal

A filosofia do direito neste âmbito sofreu grandes alterações: o casamento funda-se numa relação afetiva,
pelo que, não faz sentido divorciar se se aplicasse encargos patrimoniais. A ideia é a de que as pessoas são
livres e têm direito a refazer a sua vida.

O direito a alimentos não tem caráter imutável:


Os alimentos podem igualmente ser alterados se as circunstâncias determinantes da sua fixação se modificarem,
podendo ser reduzidos ou aumentados (artigos 2012º CC e 619º/2 CPC). O que significa que, mesmo no acordo
determinem que prescindem de alimentos, não significa que não os possam vir a pedir mais tarde!

»situação peculiar: dívidas contraídas depois do divórcio, que fazem com o valor monetário disponível reduza.

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Como se prestam?
Artigo 2005º: os alimentos devem ser fixados em prestações pecuniárias mensais, salvo se houver acordo ou
disposição legal em contrário, ou se ocorrerem motivos que justifiquem medidas de exceção.
» rejeição do pagamento em capital, una tantum – clean break (pagar um montante global de uma vez –
vai contra o espírito do direito a alimentos)

Aula – 1 de Dezembro

Artigo 1773º CC
Há duas modalidades de divórcio:
1. Divórcio por mútuo consentimento
2. Divórcio sem consentimento do ouro cônjuge
O que as distingue é que na primeira modalidade os dois querem o divórcio, enquanto que na segunda
apenas um o quer.

→ No divórcio por mútuo consentimento temos - artigo 1773º/2:


a) via administrativa: o divórcio é requerido na conservatória
b) via judicial

Decorre de um acordo entre os cônjuges.


Se houver os três acordos podem seguir a via administrativa; caso contrário, têm de seguir a via judicial.

Em primeira linha, pela via administrativa, podem dirigir-se à conservatória, desde que se observe um
acordo quanto ao divórcio e acordos relativos a matérias complementares (acordo sobre os alimentos;
acordo sobre a casa de morada; acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais).

Pela via judicial, querem o divórcio, mas não conseguem acordar relativamente às matérias
complementares, pelo que recorrem ao tribunal.
Em termos processuais o divórcio por mútuo consentimento (via judicial) está regulado nos artigos 994º e
seguintes do CPC. Pelo que, aqui o juiz vai tentar celebrar os acordos a que não tinham chegado. Se não o
conseguir, o próprio juiz vai decidir sobre essas matérias – quais os critérios de decisão do juiz (fundamento
legal):
- casa morada de família – 1793º ou 1105º CC;
- quanto aos alimentos – artigo 2016º e seguintes do CC;
- exercício das responsabilidades parentais – artigo 1906º e seguintes do CC.

Quando chegam à via judicial? Três situações:


1. Quando os cônjuges querem o divórcio mas não chegam a acordo relativamente às matérias
complementares;
2. Quando os cônjuges querem o divórcio e apresentaram acordos que não foram homologados (ou pelo
conservador ou pelo MP), o processo chega ao tribunal oficiosamente – artigo 1778º
3. Quando começa sem consentimento (um dos cônjuges propõe o divorcio contra o outro), mas
entretanto no decurso do processo, o juiz consegue a conversão do divórcio sem consentimento em
divórcio por mútuo consentimento

Artigo 1775º
Alínea a): não fala em acordo, mas antes “relação especificada dos bens comuns” – aqui o legislador quis
tornar independente a questão da partilha (podem divorciar-se, mas não fazer a partilha), sendo que, pediu
um elenco dos bens e a sua caraterização. Na prática, os conservadores tendem a aceitar mais do que uma

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relação especificada. Estes “acordos” não são vinculativos. Acaba por se tratar de um documento que tem
de ser entregue juntamente com os papéis do divórcio.
Relativamente à alínea b), a certidão da sentença judicial vem em primeiro lugar, porque é o mais comum
acontecer.
Relativamente à alínea e), não é preciso entregar a certidão da escritura porque está informatizado.

Artigo 1774º - trata da mediação familiar (esta norma antigamente, era uma norma em que se previa uma
tentativa de conciliação dos cônjuges)
A mediação familiar é fundamental – pretende-se que consigam chegar a acordo o mais depressa e melhor
possível (sobretudo relativamente às responsabilidades parentais). A mediação é voluntária, trata-se de um
serviço público. Quando se utiliza este serviço, identifica-se nos acordos o recurso à mediação familiar,
porque tem efeitos para execução especial.

Tendo os acordos, o conservador tem de analisar os primeiros dois acordos, verificando se aqueles
satisfazem os interesses dos cônjuges e das crianças caso existam.
Relativamente ao acordo das responsabilidades parentais, este é remetido para o Ministério Público. O MP,
por sua vez, homologa-o e remete-o para a conservatória.

1ªquestão: Qual o poder de investigação que o MP tem? O MP não tem contacto direto com os pais e a
criança, apenas vê os papéis. Hoje em dia, está claro que o MP pode fazer as averiguações que entender.
Sendo certo que demora tempo. Daí que se aconselha a que se regule primeiramente as responsabilidades
parentais.
Só o MP é que decide. O conservador não tem qualquer jurisdição sobre esse assunto.

Se chegarem a acordo relativamente às responsabilidades parentais e o MP não homologar, deve por sua
vez, aconselhar a reformular o mesmo.
Nos termos do artigo 1778º - remessa para o tribunal – quando os pais não concordam com a decisão do
MP. O processo é remetido oficiosamente pela conservatória.
O tribunal vai receber o requerimento e os acordos (não homologados, basta que haja um para que não
seja possível o divórcio por via administrativa).

O conservador só aceita o requerimento de divórcio, se este vier acompanhado dos acordos!

Na via judicial só se exige o acordo quanto ao divórcio. Hoje em dia, o pressuposto do divórcio por mútuo
consentimento é a existência de acordo quanto ao divórcio. Antes de 2008 só havia o divórcio administrativo, o que
significa que, se estivessem de acordo quanto ao divórcio mas não quanto a um outro acordo complementar, tinham
de seguir a via litigiosa!

» Exercício das responsabilidades parentais após o divórcio – artigo 1906º CC:


O que é preciso estabelecer? – o conteúdo do acordo do exercício das responsabilidades parentais:
1) Residência do menor;
2) Direito de visita do progenitor não residente – o padrão é um fim-de-semana de 15 em 15 dias (porque o
fim-de-semana é considerado tempo de qualidade); decidirem sobre os feriados, férias escolares,
aniversário da criança, natal, passagem de ano, páscoa;
3) Os alimentos devidos ao menor – só aqui falamos destes alimentos!!! Estão integrados neste acordo.

Atualmente temos um modelo simples – o nosso legislador veio dividir relativamente à criança entre:
a) Questões de particular importância (apresentação de uma queixa-crime; viajar de avião; escolher a
escola/colégio; etc);
b) Assuntos da vida corrente (a que horas se deita; quantas vezes come fast food por semana; etc).

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Quando estamos a falar de responsabilidades parentais, temos de partir do princípio de que os pais são
titulares das responsabilidades parentais. Em caso de divórcio, vamos ter de dividir o exercício das responsabilidades
parentais – artigo 1906º - decidem os dois relativamente às questões de particular importância; decide o progenitor
com quem a criança reside relativamente aos assuntos da vida corrente.

*NOTA: já não se fala no regime de guarda partilhada, guarda conjunta!

Artigo 1906º/3 – limitação do direito de visita:


Quem está a cumprir o direito de visita tem de respeitar as orientações educativas relevantes (decide dos
assuntos da vida corrente, mas tem esta limitação).

Artigo 1906º/4 – “pode delegar”


Esta norma é muito complexa.
O legislador veio permitir os atos de assuntos da vida corrente por outros (isto veio resolver, o problema
das madrastas e dos padrastos; dos avós – que acabam por ir buscar e levar a criança à escola, jantam ou almoçam
juntos, ajudam nos trabalhos de casa, etc).

Coloca-se a questão de saber se é mesmo imperativo que sejam os dois a decidir sobre as questões de particular
importância! Ou podem chegar a acordo, determinando que apenas um deles fica encarregue dessas decisões?
Por exemplo: nos casos de um dos pais estiver preso ou numa viajem longa?
O nº2 do artigo 1906º diz- que não – imperatividade deste artigo! Não podem chegar a acordo relativamente a isto.
O que se pretende é o não afastamento dos progenitores da criança! Pelo que, só o juiz pode determinar tal coisa.

E se não houver acordo relativamente às responsabilidades parentais?


Artigo 1906º/5 – grande inovação: o tribunal vai promover e aceitar acordos dos cônjuges e se tiver que decidir a
residência, vai promover aquele que se mostrar mais disponível para potencializar as relações com o progenitor e a
sua família. Por exemplo, se ficar com a mãe, deve potencializar o contacto com o pai e a família do pai: levando a
criança a ver o pai, os avós, tios e primos.

» Comportamentos de alienação parental: tratam-se de comportamentos que o progenitor enceta para


afastar o outro progenitor da criança.
Nestes casos, o tribunal considera que um deles boicotou a relação com o outro ex-cônjuge e, como tal,
transfere a responsabilidade parental para este último.
Em termos práticos, os tribunais têm muita dificuldade em determinar quando há efetivamente alienação
parental, porque por vezes, pode até aquele progenitor ter razão para o fazer! Vejamos: nos casos em que a mãe foi
vítima de violência doméstica, é natural que esta encete comportamentos de modo a evitar o contacto do filho com
o pai. Nestes casos, é difícil decidir, pelo que essa decisão – retirar a criança de um dos progenitores – é feita
somente pelo interesse da criança e não como sanção.

Quanto à residência – o direito de visita:


Quando há uma separação, a criança para além de ter pouco tempo com o pai (utilizamos o pai, porque é o mais
comum acontecer), vai deixar de estar tanto com os avós, tios e primos, daí que se promova a residência com o
progenitor que potencialize isto.

Os tribunais entregam as crianças às mães porque em 85% dos casos, os pais deixam de se importar com os filhos.
Deixam inclusive de pagar o direito a alimentos. O padrão normal do divórcio é este: a mãe fica com a casa e com
os filhos.

Quanto à residência alternada:


A residência alternada traduz-se em uma semana passada na casa da mãe e outra no pai.
Nos atos da vida corrente decide o progenitor com quem a criança está naquela semana.
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Nas questões de particular importância decidem os dois.

Curiosidade: o que acontece é que muitos pais querem residência alternada para não pagarem direito a alimentos!
Há tribunais que mesmo com residência alternada estabelecem pensão de alimentos. Sobretudo quando um dos
progenitores tem mais possibilidades económicas que o outro, de modo a equilibrar o estilo de vida da criança.

» O próprio legislador evidencia a tendência para que a criança fique apenas com uma residência

Ora, a residência alternada pode ser determinada pelo tribunal?


É complicado! Porque um dos requisitos da residência alternada é os pais se darem bem.
No entanto, não entendemos que se deva impor modos de vida, pelo que, tal deva estar ao critério dos pais.

Alimentos devidos ao menor:


a) Alimentos fixos;
b) Alimentos variáveis (atividades extracurriculares – estas se não tiver o consentimento do que presta o
direito a alimentos, não fica obrigado a participar em tal despesa; despesas de educação; despesas de saúde
– há muitos problemas na concretização da despesa, pois é difícil haver acordos e prever esses valores)

» Quando o progenitor não paga o direito a alimentos, o que acontece?


Existe um fundo de garantia de alimentos a menores! Este fundo tem uma natureza difícil de se entender,
uma vez que:
- substitui o progenitor e fica sub-rogado
- o fundo só paga aquilo que o pai estava obrigado a pagar
Aqui coloca-se o problema da natureza deste fundo!
É que, se a criança X tinha direito a 300€/mês e a criança Y tinha direito a 100€/mês, com o fundo
elas vão continuar a receber o mesmo – mas não está aqui em causa uma desigualdade social?
Ora, este fundo não é nenhuma segurança social, o que se pretende é que tudo se mantenha igual.
Para além disso, o juiz somente pode pedir ao fundo o valor fixo (daí que se aconselhe sempre a não
estipular valores variáveis, para evitar conflitos)

Aula – 9 de Dezembro
(completou-se

- no artigo 1779º haverá sempre uma tentativa de conciliação; caso contrário o juiz tenta a conversão

→ Divórcio sem consentimento – artigo 1781º CC


Epígrafe - rutura do casamento
– o sistema de divórcio-rutura vem constatar a rutura da relação conjugal – significa que há uma opção muito clara
do nosso legislador.

Em termos teóricos temos 4 tipos de divórcio:


1. Divórcio por razões subjetivas – antes de 2008 - apenas o cônjuge vítima podia pedir o divórcio;
2. Divórcio por razões objetivas;
2.1. Divórcio-rutura – é o nosso sistema - o projeto conjugal falhou, o que interessa para o tribunal é
constatar a rutura do casamento – assim, mesmo que um deles queira a manutenção do casamento, o
tribunal decreta o divórcio
- não basta pedir o divórcio, é preciso mostrar factos ao tribunal de que aquele casamento falhou
3. Divórcio a pedido (“o repúdio”) – basta pedir o divórcio (sistema vigente em Espanha)

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Até 2008 tínhamos dois modelos teóricos:
- por razões subjetivas – estrutura do divórcio-sanção (violação de deveres conjugais – um dos cônjuges era
culpabilizado pelo divórcio)
- por razões objetivas – o divórcio não funcionava como sanção, mas continha em parte esse caráter (por exemplo:
um dos cônjuges tinha um problema psicológico, ou viviam separados há 3 anos; ou havendo ausência sem noticias –
aqui não havia violação dos deveres conjugais – no entanto, mesmo não sendo por razões subjetivas, o tribunal
decretada o divórcio culpabilizando um dos cônjuges)

Agora, quando há uma rutura do casamento, qualquer um dos cônjuges pode pedir o casamento.

*Curiosidade: antigamente, havia um prazo de um ano para a caducidade de pedir o divórcio (se houve uma traição
– e há um perdão, mesmo que não perdoasse, passado um ano já não podia pedir o divórcio). Hoje já não é assim.
De todo o modo, a rutura do casamento é fácil de provar – não dormem juntos, não saem juntos, não passam férias
juntos, cada um trata de si (sinais de desvinculação).

A partir de 2008, eliminaram-se as declarações de culpa e as sanções acessórias. Com isto, fez-se uma “limpeza” nos
tribunais do vexame a que se sujeitavam os cônjuges, expondo a sua vida intima.

Artigo 1781º CC – são fundamento:


Devemos ler da seguinte forma:
- em primeiro lugar, uma “cláusula geral” constante da alínea d)
- e só depois, alguns exemplos de fundamento – alíneas a), b), e c) (que correspondem às antigas causas objetivas do
regime anterior)
*Nota: relativamente à alínea a), o prazo de 1 ano tem de estar decorrido antes da propositura da ação

 Sugestão de leitura do artigo 1781º da professora:


O fundamento do divórcio é sempre a rutura do divórcio (é o que diz a epigrafe, é o que diz a alínea d).
O que está em causa é em termos processuais – o ónus da prova:
- se nós tivermos no âmbito das alíneas a), b) e c) presumimos a rutura do casamento, basta provar
os factos e o tribunal presume a rutura
- nos outros casos é necessário provar a rutura (a prova é mais exigente, mas relativamente fácil de o
fazer)

 Relativamente à alínea a), a separação de facto vem definida no artigo 1782º:


- elemento objetivo – não existir comunhão de vida entre os cônjuges (= não haver coabitação entre
os cônjuges (comunhão de leito, mesa e habitação);
- elemento subjetivo – um deles ou os dois não o quer restabelecer

*Desde 2008 é mais ou menos pacífico entre os tribunais que pode haver separação de facto com pessoas
a viver na mesma casa (“é como se fossem transparentes”)

 Relativamente à alínea b), a alteração das faculdades mentais:


- o nosso legislador em 2008, tomou uma decisão em termos de responsabilidade (artigo 1792º/2) –
regra de indemnização por danos, que veio separar a indemnização por danos do divórcio. Pelo que,
na ação do divórcio, pode haver pedido reconvencional a pedir indemnização dos danos não
patrimoniais causados ao cônjuge que não queria a separação.
Assim, aconselha-se a que opte antes por provar a rutura ou recorrer à alínea a).

O artigo 1785º - legitimidade: qualquer um dos cônjuges


*Nota: os herdeiros podem continuar a ação de divórcio, mas somente para efeitos patrimoniais (o
direito ao divórcio não passa pela morte)
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Em termos processuais, a tramitação do divórcio sem mútuo consentimento decorre nos termos dos
artigos 931º e seguintes do CPC.

EFEITOS DO DIVÓRCIO
- Artigos 1778º e seguintes

O legislador não distingue, mas há efeitos do divórcio diferentes consoante seja um divórcio com o sem
mútuo consentimento.
O princípio geral é do artigo 1788º - tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte (com
várias exceções)

Artigo 1789º - data em que produz efeito o divórcio: trânsito em julgado da sentença, retroagindo
relativamente às relações patrimoniais à propositura da ação.
Artigo 1789º/2 – o legislador permite que os efeitos do divórcio retrotraem há separação de facto – se esta
estiver provada no processo (num processo judicial, no divórcio sem consentimento, pois a prova da separação de
facto só se faz neste tipo de divórcio – todavia, tal não é pacífico na doutrina e na jurisprudência)
*Nota: na situação em que ambos queiram o divórcio, mas haja interesse em provar a separação de facto
(a pedido reconvencional, por exemplo por causa de credores), não pode haver reconversão do divórcio sem mútuo
consentimento para mútuo consentimento – porque o mecanismo só funciona nos tribunais.
Artigo 1790º - norma que regula a partilha: esta norma significa que em caso de divórcio, a partilha faz-se
segundo o regime da comunhão de adquiridos.
Note-se que, só vale para os casos em que o casamento foi realizado numa comunhão mais forte que a
comunhão de adquiridos (aquilo que foi adquirido onerosamente no casamento)! Isto porque, há uma falência do
casamento, pelo que, só se vai dividir aquilo que foi adquirido pelo resultado do esforço comum.
Artigo 1791º - norma com muita importância prática! Tem que ver com os benefícios que os cônjuges
adquiriram por causa do casamento – as prendas de casamento (por exemplo: uma doação de um terreno)!
Artigo 1792º - norma muito contestada pela APAV – em termos técnicos faz sentido, deixando espaço aos
tribunais. Até 2008, apurávamos dois danos na altura do divórcio: a dissolução do casamento e os danos pela
violação dos deveres conjugais. Quando o tribunal decretava o divórcio (com um cônjuge culpado), o outro tinha
direito a uma indemnização pelo divórcio (por danos não patrimoniais – assegurando, por um lado, uma segurança
financeira). A partir de 2008, a indemnização resultante do divórcio deixa de ser decidida num processo de família e
menores, passando para a secção civil, em que aparecem nas vestes de lesante e lesado. De todo o modo, coloca-se
em causa as questões dos danos referidos, mas a verdade é que os tribunais se encontram muito agarrados à ideia
da indemnização do regime anterior a 2008.
Na prática, no caso das vítimas de violência doméstica, dificilmente partem para uma nova ação para
obterem a indemnização!
Artigo 1793º (casa própria) - remissão para o 1105º (casa arrendada)
+ efeitos (que já vimos)
Artigo 2016º e seguintes – alimentos entre ex-cônjuges (já vimos)
Artigo 1676º/2 – crédito compensatório (dever de assistência – já vimos)

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FILIAÇÃO
- A relação filial é a mais importante das relações de parentesco, pois é aquela que produz mais efeitos.

PATERNIDADE (com vínculo biológico):


Em Portugal só há três formas de paternidade:
1. Estabelecimento por presunção pate ris est (a lei presume – artigo 1826º)
- quando a mãe é mulher casada - a paternidade estabelece-se por presunção (esta presunção pode ser
afastada por mera declaração da mãe);
2. Estabelecimento por reconhecimento
- quando a mãe não é mulher casada
2.1. Reconhecimento voluntário (o pai reconhece voluntariamente – designa-se de perfilhação);
2.2. Reconhecimento judicial – ação para a investigação da paternidade
2.3. Averiguação oficiosa da paternidade (o MP chama a mãe, pergunta quais são os pretensos pais,
posteriormente há lugar a teste de ADN – se der positivo: ou o pai perilha ou há lugar a ação para
investigação da paternidade) – pelo que, a averiguação oficiosa não é um modo de estabelecimento,
mas um meio.

A. Se a mãe for casada:


Artigo 1826º CC – presume-se que o filho nascido ou concebido na constância do casamento presume-se que tem
como pai o marido da mãe (presunção legal/do legislador).
“concebido” - concebido antes do casamento ou concebido no casamento, mas nasce depois da extinção do
casamento
Como sabemos se foi concebida na constância do matrimónio? Remete-nos para o período legal de
conceção – artigo 1798º CC – trata-se de uma fixação legal, pelo que tem o valor que tem.

Este critério diz-nos que:


Vejamos: a criança nasceu a 9 de Dezembro e, a gravidez mais curta correspondeu a 6 meses (180 dias) – concebido
a 9 de Junho; e a gravidez mais longa correspondeu a 10 meses (300 dias) – concebido a 9 de Fevereiro - concebido.
Assim: a criança só pode ter sido concebida entre os 10 meses e os 6 meses antes de nascer – o período de
conceção corresponde aos 120 dias, isto é, os primeiros 120 dias dos 300 últimos dias que antecedem o nascimento
(entre Fevereiro e Junho).

1827º - a presunção mantém-se mesmo que o casamento tenha sido declarado nulo ou anulável – efeito putativo.

“Situação das mães incógnitas” – quando a mãe era casada, mas tinha outro relacionamento e desse resultava uma
gravidez (contexto histórico) – na altura, não havia como contornar a presunção da paternidade. Assim, o pai
registava a criança sozinho e a mãe “era incógnita”, para que a criança tivesse o nome do pai.
Em 2001, é introduzido o artigo 1832º, veio permitir à mulher casada fazer a declaração de que o marido não é o pai
da criança – afastando a presunção de paternidade por mera declaração (assim, no registo, fica somente o nome da
mãe, e o nome do pai fica em branco, sendo que posteriormente, o pai vem reconhecer voluntariamente).

O que acontece quando o marido da mãe não é o pai da criança?


Ora, a filiação estabeleceu-se por presunção, pelo que o pai tem de propor uma ação de impugnação da
paternidade.

Na maternidade, a mãe pode dizer:


- não sabe quem é o pai e nunca poderá saber (inseminação artificial);
- não sabe quem é, mas desconfia que seja A, B ou C
- não sabe quem é
Assim, a criança tem a maternidade estabelecida, mas não tem paternidade.

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Aqui, o conservador tem de informar o Ministério Público que nasceu uma criança que não tem
paternidade estabelecida, e este, por sua vez, irá proceder a uma averiguação oficiosa da paternidade (o teste de
ADN sendo proposto pelo MP é gratuito, sendo que geralmente tem um custo de 500€, daí que haja todo o interesse
em deixar chegar a este ponto – no entanto, este procedimento dura cerca de 1 ano).
Se o teste de ADN der positivo, o pai fica a saber e, geralmente, o estabelecimento da paternidade é feito
voluntariamente, perfilhando-o (pois só há três formas de o fazer). Caso contrário, propõe-se ação em tribunal para
que se proceda a uma investigação da paternidade, levando a um estabelecimento da paternidade por
reconhecimento judicial – atenção que, esta ação não é uma forma de estabelecimento da perfilhação! Mas antes,
uma forma indireta de chegar à forma de estabelecimento por reconhecimento judicial.

Exemplo: Caso ESMERALDA

- ver artigos 1864º, 1865º

Casos em que não é admitida a averiguação oficiosa da paternidade – 1866º:


1. Se já passaram 2 anos depois do nascimento
2. Casos de incesto (pais, filhos, irmãos, sogros, genros e noras): não há averiguação oficiosa da paternidade,
ou seja, o MP não se intromete oficiosamente – há uma ideia de respeito pela privacidade das pessoas. Não
significa que não venha a ser estabelecida, mas não oficiosamente.

B. Se a mãe for solteira: estabelecimento da paternidade


Artigo 1869º
A paternidade só pode ser estabelecida por ação especialmente intentada para o efeito! Para alterar o
estabelecimento da paternidade, para efeitos do registo civil, mediante ação especialmente intentada!
Estas ações são intentadas pelo menor (filho contra o pai), sendo certo que o filho é sempre representado,
ou pela mãe ou pelo Ministério Público.
Assim, tem de fazer a prova – temos duas vias de prova:
1. Prova biológica: a prova é feita através de exames de sangue – artigo 1801º
- na ação, o Autor pede ao tribunal que ordene o pai a realizar o teste de ADN, no entanto, ninguém é
obrigado a fazê-lo, por ser inconstitucional. No entanto, tal é contornável por que se entende que há uma
violação de um dever processual por parte do pai, recusando-se a colaborar com o tribunal, pelo que, o
tribunal vai valorar livremente essa prova, sendo que poderá considerar que o pai é efetivamente pai
biológico daquela criança
2. Presunções judiciais: 1871º, elenca uma série de factos que a verificarem-se invertem o ónus da prova, assim, se a
criança provar esses factos, é o pai que fica com o ónus de provar que não é o pai!

FACTOS:
Alínea a) - quando houver posse de estado: é a presunção mais forte
a posse de estado é composta por três elementos cumulativos:
1º o pai trata a criança como filho;
2º o pai reputa (faz acreditar) a criança como filho;
3º o público reputa a criança como filha daquele homem.
Exemplo: empregada que engravida do filho do patrão; este não teve mais filhos nem casou e reputava a criança
como sua filha, enviando-lhe inclusive dinheiro.

Alínea b) – há uma confissão escrita

Alínea c) – se houve uma união de facto – é uma presunção judicial de paternidade

Alínea e) – é presunção mais fraca – a pessoa que tenha tido relações no período legal de conceção (esta presunção
é muito fácil de ilidir)
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Questão de orais:
Estas presunções – 1871º - são presunções judiciais! De fazer prova numa ação de investigação de paternidade (filho
contra o pai). Pelo que provado estes factos, o pai tem o ónus da prova (tendo que refutar essas presunções.
*não confundir com a presunção do 1826º - esta é uma presunção legal que opera automaticamente!

Artigo 1873º - remete para os artigos 1817º (prazos para propositura da ação), 1819º e 1821º (um filho menor tem
direito a alimentos provisórios desde a propositura da ação)

Reconhecimento voluntário da filiação


Estamos a falar da perfilhação.
Encontra-se reguladas nos artigos 1849º e seguintes.

Artigo 1849º - ato pessoal e livre (não é muito livre – coloca-se a questão de saber se há ou não um direito
a perfilhar ou não perfilhar? O Dr. Pereira Coelho entende que há um dever de perfilhar no sentido de evitar a ação
judicial. Nos EUA, está a decorrer um processo em que o pai não queria ter filhos, ela mentiu, deixando de tomar a
pilula – este veio pedir ao tribunal um aborto financeiro – em que ele não quer reconhecer o filho, pelo que não quer
ter encargos financeiros com o mesmo – coloca-se aqui em causa a autonomia privada do pai vs da mãe)
A perfilhação é reconhecer o vínculo biológico que existe.

Artigo 1853º - pode fazer-se no registo civil, no testamento, por escritura pública ou por termo lavrado em juízo (no
teste de ADN – via judicial)

Artigo 1857º – os adultos também podem ser perfilhados, é válida mas é necessário o seu consentimento

Artigo 1858º - a perfilhação é irrevogável.


Mas pode acontecer que:
1) haja um vício da vontade (a pessoa está errada);
2) a declaração de vontade não corresponde à verdade biológica;
3) haja um vício na própria declaração da vontade – artigo 1860º (por coação)
pedido de anulação – ação de anulação - referente à declaração (erro ou coação)
impugnação da perfilhação – ação de impugnação

Aula – 16 de Dezembro

NOTAS PARA O EXAME:


Aula de dúvidas – dia 15 de Janeiro (sexta-feira, de manhã)
As notas saem mais de uma semana depois do dia do exame da época normal
Ler o Código!

A PRESUNÇÃO DE PATERNIDADE É ABSOLUTA OU ILIDÍVEL?


É ILIDÍVEL!
1ª situação – a própria mãe afasta a presunção (uma vez que esta é automática) – 1832º - por declaração
2ª situação – se a mãe não afasta a presunção, o pai da criança vai ser o marido da mãe – ora se este não o for, a
única forma de “renunciar a paternidade” é através da impugnação (mediante uma ação judicial própria).
Isto porque, a perfilhação é um negócio jurídico, contém declarações de vontade no reconhecimento da
paternidade:
- quando há vícios na declaração (isto é, quando não corresponde à verdade biológica)
 Anulação ≠ Impugnação

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Artigo 1838º diz-nos que a paternidade estabelecida por via da presunção não pode ser impugnada de nenhuma
outra forma, a não ser mediante a ação de impugnação da paternidade.
Artigo 1839º/2 – o Autor deve provar que a paternidade é manifestamente improvável, logo não tem de convencer
que o pai é outro, mas antes que, dificilmente, ele mesmo pode ser o pai. Para tal, deve apresentar
argumentos/provas.
Artigo 1839º – quem tem legitimidade para propor a ação de impugnação da paternidade:
i) O marido da mãe;
ii) A mãe;
iii) O filho;
iv) O Ministério Público em determinadas condições – artigo 1891º - a requerimento de quem se declarar pai
do filho se o tribunal considerar viável o pedido (o que significa que, o Ministério Público tem aqui um
papel de mediador - esta abertura é apenas aparente, dado o prazo curtíssimo de que se dispõe para tal,
prazo esse de 2 meses). Logo, a legitimidade para o próprio pai lançar mão
*Nota: o próprio pai (não está no elenco porque as relações familiares querem-se estáveis, assim o
legislador fechou este elenco)

Artigo 1842º - prazos:


i) 3 anos – pelo marido da mãe e pela mãe
ii) 10 anos depois da maioridade (26 ou 28 anos) – filho
*Nota: esta questão foi muito discutida! Inclusive pelo tribunal constitucional.

Porque é que o pai biológico quer estabelecer a paternidade?


O registo só pode ser apagado mediante ordem judicial. Para efeitos de registo, o pai biológico tem de vir ao tribunal
requerer sempre a declaração de que X não é pai e que se cancele o registo, para que este fique em branco e
posteriormente o pai biológico faça a perfilhação (Artigo 1848º/1)

ESTABELECIMENTO DA MATERNIDADE

É muito semelhante ao esquema da paternidade.

Como se pode estabelecer a maternidade?


1. Pode haver uma indicação da mãe;
2. Pode haver declaração;
3. Reconhecimento judicial através de uma ação de investigação;
4. Averiguação oficiosa

Artigo 1815º - se a linha da mãe estiver preenchida não é possível colocar lá outro nome

Artigo 1796º/1 – quem faz o parto


*Nota: problema das barrigas de aluguer – o nosso ordenamento não reconhece esta situação;

O que se regista é o nascimento! Dá-se a conhecer ao Estado o nascimento de mais um cidadão. Quando declaramos
o nascimento, indica-se quem é a mãe.
Imagine-se agora que só se declara o nascimento e já não se indica a mãe (por exemplo: mãe do filho do Ronaldo)

Artigo 1803º e seguintes:


a) Maternidade por indicação – declara-se o nascimento da criança e indica-se quem é a mãe
- qualquer pessoa pode declarar o nascimento e indicar a mãe
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Artigo 1804º - se nasceu há menos de 1 ano, a maternidade considera-se estabelecido
Artigo 1805º - se nasceu há mais de 1 ano, a mãe vai declarar que é a mãe de modo a confirmar a indicação
Artigo 1806º - se o registo estiver em branco, pode vir declarar que é a mãe

Se não corresponder à verdade biológica, pode a todo o tempo ser impugnada pela mãe verdadeira, pelo filho, etc.
por meio de uma ação de impugnação de maternidade – artigo 1807º

Artigos 1814º e seguintes - investigação da maternidade
O filho propõe a ação contra a mãe, provando (1816º/1) que nasceu da pretensa mãe. A prova deve fazer-se através
de exame biológico ou através de presunção.

Quais as presunções judiciais? Ou seja, que invertem o ónus da prova (a mãe tem de ilidir esta presunção):
- quando o filho tiver sido reputado como filho (posse de estado)
- quando houve um documento escrito, em que declara inequivocamente a sua maternidade

Os prazos para a propositura da ação (que se aplica por remissão legal à paternidade) – artigo 1817º
i) Prazo de 10 anos – quando o filho tenha 26 ou 28 anos
*as mesmas questões constitucionais foram suscitadas. No entanto, aqui é mais grave.
1817º/2 – exceções aos prazos

Artigo 1868º - averiguação oficiosa remete para averiguação oficiosoa da maternidade


1873º - remete para os artigo da ação de investigação da maternidade
1821º - diz-nos que quando se é proposta uma ação de investigação o juiz pode… exemplo: o Toy – remete para o
artigo 2007º/2 (os alimentos provisórios não são restituíveis)

Artigo 1822º - quando a linha do pai está preenchida e há um efeito legal incompatível com esse preenchimento:
→ Exemplo do filho do Cristiano Ronaldo: o jogador estabeleceu a paternidade por perfilhação; imagine-se
que o filho encontrou o contrato entre o pai e mãe e decide instaurar uma ação de investigação da maternidade. No
entanto, a mãe é casada, pelo que, estando preenchida a linha do pai há aqui um problema, porque a mãe traz
consigo o marido, e como tal, a presunção de paternidade.
Vão os 4 a tribunal – vamos ver se a mulher é efetivamente mãe da criança e de seguida, averigua-se quem
é o pai da criança! Uma destas duas vai ser impugnada: a perfilhação ou a presunção!
Se não se fizer prova, quem prevalece é o marido da mãe!

Qual o efeito mais importante do estabelecimento da filiação? As responsabilidades parentais


 1874º e seguintes
Os filhos estão sujeitos às responsabilidades parentais até atingirem a maioridade.
Artigo 1878º - conteúdo das responsabilidades parentais:
“prover ao seu sustento” - em muitos casos os pais não vivem com os filhos e têm de lhes prestar
alimentos; aqui o sustento não corresponde ao mínimo indispensável (é muito mais amplo)
Artigo 1880º - no momento em que atingir a maioridade mas não tiver concluído a sua formação
profissional, continuam obrigados a prover ao seu sustento (não há um limite de idade); se essa
formação não estiver a correr bem, tem de se atender caso a caso!
Artigo 1905º - alimentos em caso de divórcio dos pais:
Nº1 – houve aqui um esquecimento do legislador: não há sempre acordo dos pais, pelo que pode
haver decisão judicial
Nº2 – norma nova (2015): “para efeitos do disposto no artigo 1880º, entende-se que se mantem
para depois da maioridade, até que complete os 25 anos de idade… salvo se o respetivo processo de
educação tiver sido concluído antes dessa data, por livre vontade…”
*inverte o ónus da prova (se o obrigado a prestar alimentos provar a irrazoabilidade)

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Isto não significa que, depois dos 25 anos não tenham direito a alimentos! Aí recorre-se ao artigo
1880º.
E os filhos mais velhos (40 anos por exemplo) em que estão divorciados ou solteiros e precisem de
ajuda, os pais estão obrigados a dar a ajuda indispensável, nos termos dos artigos 2003º e seguintes.

Como se exercem as responsabilidades parentais? No regime do casamento e no regime do divórcio:

Responsabilidades parentais no regime do casamento Responsabilidades parentais no regime do divórcio


- no casamento (artigos 1901º e seguintes) - divórcio (artigos 1905º e seguintes)
- união de facto (artigo 1911º) - separação de facto (artigo 1909º)
- rutura da união de facto (artigo 1911º/2)
- os pais nunca viveram juntos (artigo 1912º)

Para o legislador o que é importante é se os pais estão ou não juntos! Se os pais estão separados é
irrelevante que tipo de separação é essa! Daí que embora haja uma diferenciação entre filhos nascidos dentro e fora
do casamento propriamente dita, essa diferenciação não nasce numa descriminação dos filhos, mas antes numa
distinção de situações.

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