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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2015.0000317763

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0002659-24.2013.8.26.0358, da Comarca de Mirassol, em que é apelante A.V.F.J.Z.
(JUSTIÇA GRATUITA), é apelado W.S.Z.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, por maioria de
votos, vencida a 3ª Juíza que declara.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALEXANDRE


LAZZARINI (Presidente), THEODURETO CAMARGO E LUCILA TOLEDO.

São Paulo, 12 de maio de 2015.

Alexandre Lazzarini
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 12526
Apelação nº 0002659-24.2013.8.26.0358
Comarca: Mirassol (2ª. Vara Judicial)
Juiz(a): Flavio Artacho
Apelante: A.V.F.J.Z.
Apelado: W.S.Z.

CASAMENTO. ANULAÇÃO. DEFEITO FÍSICO


IRREMEDIAVEL. IMPROCEDÊNCIA. APELAÇÃO NÃO
PROVIDA. M.V.

A r. sentença (fls. 41/43), cujo relatório adota-se, julgou


improcedente “ação de anulação de casamento”, movida pela apelante contra o seu
marido (apelado), pois entendeu que ausente a hipótese do art. 1.557, III (defeito físico
irremediável), do Código Civil. Honorários advocatícios arbitrados em R$ 800,00,
respeitada a Lei n. 1060/50.

Apela a autora sustentando que há prova suficiente de que o réu


não tem condições da prática da conjunção carnal, razão pela qual caracterizada a
hipótese de erro essencial quanto a pessoa, nos termos do art.1.557, III, do CC. Pede o
provimento da apelação e, assim, a anulação do casamento.

O réu não apresentou suas contrarrazões (fl. 57).

Recurso regularmente processado.

É o relatório.

I) O casamento das partes foi celebrado em 22/12/2012 (fl. 10).


II) Afirma a autora (apelante) que ainda é virgem, trazendo dois
atestados médicos a respeito, tendo em vista a incapacidade do réu para a prática do ato
sexual.
Todavia, importante destacar que os dois atestados médicos
(firmados pelo mesmo médico) que junta informam que o hímen não apresenta ruptura,
mas destaca que é complacente (fls. 11 e 12).
O réu, por sua fez, nega o fato, apontando a responsabilidade da
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ausência de ato sexual à autora, afirmando ter a potência coeundi, ou seja, que é capaz
da prática da conjunção carnal. Para tanto, traz exame laboratorial que aponta que seu
testosterona é normal.

III) Posteriormente, o réu informa que nada tem a opor a anulação


do casamento (fls. 32/33).
A autora pede somente a prova oral (fl. 39).

IV) Embora a anulação do casamento não tenha mais os


requisitos de obstáculo que existiam no Código Civil de 1916, ainda, pelas
consequências maiores que o divórcio, não se admite a simples concordância.
A prova oral, por exemplo, é muito útil para as hipóteses de erro
essencial quanto a identidade, honra e boa fama (CC, art. 1.557, I), todavia, é ela
meramente suplementar para a hipótese de defeito físico irremediável (CC, art. 1.557,
III), ou seja, a impotência coeundi, onde se exige a perícia, inclusive pelo fato de que
ela pode decorrer de aspectos psicológicos ou físicos, ou ambos.
Não bastasse isso, não se pode deixar de anotar que a manutenção
da virgindade da autora pode decorrer, também, da recusa do seu marido em cumprir o
dever de prestar o débito conjugal (recusa da prática do ato sexual), que não é hipótese
de anulação, mas de, eventualmente, de quebra do dever do casamento.
Note-se que a autora, em sua apelação, sequer sustenta
cerceamento de defesa, de modo que efetivamente não pretende fazer qualquer outra
prova.
Por isso, reitera-se, a r. sentença está correta ao julgar
improcedente a ação, diante das exigências de anterioridade e desconhecimento do fato
que justifica a anulação do matrimônio.

V) Outras considerações são desnecessárias, razão pela qual a r.


sentença é mantida, inclusive nos termos do art. 252 do Regimento Interno do Tribunal
de Justiça de São Paulo (“Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar
os fundamentos da decisão recorrida quando, suficientemente motivada, houver de
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mantê-la”).

VI) Na hipótese de apresentação de embargos de declaração


contra o presente acórdão, ficam as partes intimadas a se manifestar, no próprio recurso,
a respeito de eventual oposição ao julgamento virtual, nos termos do art. 1º da
Resolução n. 549/2011 do Órgão Especial deste Eg. Tribunal de Justiça, entendendo-se
o silêncio como concordância.

Pelo exposto, nego provimento à apelação.

ALEXANDRE LAZZARINI
Relator
(assinatura eletrônica)
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VOTO 13472
APELAÇÃO Nº 0002659-24.2013.8.26.0358
COMARCA: MIRASSOL / 2ª VARA CÍVEL
APTE.: A. V. F. J. Z.
APDO.: W. S. Z.
REL: DES. ALEXANDRE LAZZARINI (VOTO 12526)

DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE

Respeitosamente divergi do Eminente

Relator Desembargador Alexandre Lazzarini, que

negou provimento à apelação interposta contra

sentença que julgou improcedente o pedido de

anulação de casamento.

A apelante propôs a presente ação

objetivando a anulação de casamento. Sustenta que

o casamento não foi consumado em razão da

impotência do apelado.

Em sua defesa, o apelado disse que

ambos não estavam preparados para o matrimônio.

Alega que “se por um lado o requerido não conduziu

o relacionamento com diálogos, ajuda de


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profissionais especializados, com intuito de

melhorar o relacionamento no que concerne pratica

e o exercício do ato sexual, por outro lado a

autora também desincumbiu, tendo em vista a

reversibilidade no tocante as condições de saúde

apresentadas pelo requerido, que são

exclusivamente de origem emocional, pois o mesmo

apresenta um quadro de ansiedade, que interfere

sem sombra de dúvidas na hora do ato sexual”

(fl.20). Salienta que a autora “levou à risca o

cumprimento das obrigações de caráter religioso,

por ser evangélica” guardou sua virgindade, mesmo

namorando por um ano e sete meses (fl.21).

Ora, pouco importa se o hímen da autora

é complacente, pois o próprio réu admite que ela

era virgem antes do casamento (fl. 22) e que não

houve conjunção carnal entre os cônjuges, mesmo

depois do casamento. Os atestados de fls. 11/12

confirmam a alegação da autora de que ela

continuou virgem.

O índice normal (fl. 28) de


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testosterona não quer dizer que o homem não seja

impotente. Existem vários outros fatores que podem

interferir para a impotência sexual masculina.

Aliás, vale lembrar que em sua contestação o réu

afirmou que ele “apresenta um quadro de ansiedade,

que interfere sem sombra de dúvidas na hora do ato

sexual”.

Além disso, o réu manifestou “que

devido à realidade dos fatos, já que nunca

aconteceu o casamento de fato, assim, ausente, se

não o principal, mas um dos principais requisitos

do casamento. Desta forma, o casamento entre ambos

nunca existiu. Pois mediante o problema físico

irremediável, continuar juntos seria buscar um

erro ainda maior, já que iria se desaguar em

traições e casos ocorrentes na sociedade atual, o

que jamais seria solução para quaisquer das

partes. Assim sendo, declara não se opor” à

anulação do casamento. (fls. 32/33) (g.n.).

Desse modo, entendo que há motivo

suficiente para anular o matrimônio que não se


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consumou pela impotência “coeundi” devidamente

confessada pelo réu (problema físico irremediável

fl. 33).

Pelo meu voto, dava provimento ao

recurso, para anular o casamento realizado entre

as partes.

LUCILA TOLEDO
3ª Juíza
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes


assinaturas digitais:

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g. g. ia ão
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1 4 Acórdão ALEXANDRE ALVES LAZZARINI 154B0DF
s Eletrônicos
5 8 Declara LUCILA TOLEDO PEDROSO DE 1573313
ções de Votos BARROS

Para conferir o original acesse o site:


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0002659-24.2013.8.26.0358 e o código de confirmação da tabela acima.

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