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Registro: 2022.0000257716
ACÓRDÃO
ANA ZOMER
Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Apelantes: A. T. C. P. e M. M.
Apelado: O Juízo
Voto nº 257
Vistos.
vez que a ambas foi entregue o mesmo status, sem qualquer hierarquia apriorística
(em abstrato); o Eminente Ministro relator, ao julgar o caso concreto que balizou a
repercussão geral, não deixa dúvidas quanto a essa isonomia:
Confira-se:
Código Civil.
Outro entendimento não teria albergue frente à Constituição
Federal de 1988, que trouxe um conceito jurídico de família exemplificativo,
considerando as inúmeras alterações nas relações humanas que, via de consequência,
mereciam a ampliação do rol, como anteriormente sublinhado.
In casu, a negativa do oficial do Registro Civil das Pessoas
Naturais e de Interdições e Tutelas baseou-se no não preenchimento de requisitos
previstos no Provimento de nº 63, CNJ, e entendendo não ser possível a lavratura do
ato pretendido na esfera administrativa, sem que houvesse intervenção judicial (fls.
107/108). De fato, o artigo 17, do Provimento de nº 63, CNJ exige a declaração, com
firma reconhecida, do diretor técnico da clínica, centro ou serviço de reprodução
humana em que foi realizada a reprodução assistida, indicando que a criança foi
gerada por reprodução assistida heteróloga, assim como o nome dos beneficiários.
Malgrado, no caso em comento, o que se busca é o reconhecimento ao registro da
maternidade socioafetiva do menor A. M. P., o que deve, sem quaisquer
questionamentos, se sobrepor ao aspecto burocrático das fórmulas acima pontuadas.
Da detida análise do todo, vislumbro que a mãe biológica M.
M., casou-se com A. T. C. P. em 28/11/2018, e antes do matrimônio conviveram em
união estável desde os idos anos de 2.009 (fls. 11/12). Do relacionamento vivenciado
nasceu outro filho, que já se encontra registrado em nome de ambas as genitoras.
Assim, não se pode privilegiar a discriminação da filiação, a permitir que A. M. P.,
filho das recorrentes, e irmão de H. M. P., não tenha, tal como esse, os nomes de suas
mães em seu registro civil. Deve, pois, ser permitido que o infante tenha registrado, o
nome, e sobrenome das duas mães em seu assento civil. Mas, não só. Imperioso que
se proceda ao reconhecimento de seus ascendentes, tais como avôs, avós, e assim por
diante, o dará à criança a fundamental e salutar certeza de pertencimento às famílias
estendidas que, desde sua concepção, como bem retratado nos autos, lhe
proporcionam troca de carinho, amor, amparo, segurança, afeto, sentimentos que, à
evidência, se suplantam questões burocráticas.
Como já observou o C. STJ: “Mister observar a
imprescindibilidade da prevalência dos interesses dos menores sobre quaisquer
outros, até porque está em jogo o próprio direito de filiação, do qual decorrem as
mais diversas consequências que refletem por toda a vida de qualquer indivíduo”.
(REsp 889852 / RS, Recurso Especial nº 2006/0209137-4. Relator Ministro Luis
Felipe Salomão. Quarta Turma. Data do Julgamento: 27/04/2010. Data da
Publicação: 10/08/2010). E ainda: “Os conceitos legais de parentesco
e filiação exigem uma nova interpretação, atualizada à nova dinâmica social, para
atendimento do princípio fundamental de preservação do melhor interesse da
criança” (REsp 1608005 / SC, Recurso Especial nº 2016/0160766-4. Relator
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Terceira Turma. Data do Julgamento:
14/05/2019).
Perfilhada esta exegese, ressalte-se que a E. Corregedoria
Geral da Justiça, nos pareceres de nºs 336/2014-E e 355/2014-E, posicionou-se no
sentido de que, se o reconhecimento de filho por vínculo biológico não exige
qualquer comprovação por documentação, seria discriminatório reivindicar um
procedimento judicial para o reconhecimento de filho por socioafetividade. Por fim,
entendeu necessário prestigiar a boa-fé das partes interessadas, a igualdade de
filiação e os princípios da afetividade e dignidade da pessoa humana, privilegiando-
se assim, a efetiva lavratura do assento de nascimento de filhos de casais
homoafetivos, com a mínima intervenção estatal.
Nesta esteira, impedir o reconhecimento da filiação
socioafetiva na via administrativa, implicaria em inegável afronta à vedação da
discriminação da filiação em virtude da natureza prevista no § 6º, do art. 227, da CF;
se o filho biológico pode ser reconhecido voluntariamente, mediante simples
declaração - desacompanhada de qualquer prova - feita perante o oficial de registro
civil, o mesmo direito, nas mesmas condições, deve ser concedido ao filho
socioafetivo.
Como bem pontuado pelo Parecer proferido pela D.
Procuradoria Geral de Justiça (fls. 127/129): “(...) Pelo princípio do superior
interesse da criança e tendo em vista que as requerentes são casadas desde 2018 (fl.
11), antes mesmo de a criança ter sido concebida, depreende-se que elas possuem o
desejo de criar o filho, mostrando-se razoável garantir o registro de nascimento em
nome de ambas, a fim de refletir a realidade socioafetiva demonstrada (...).”
Destarte, DOU PROVIMENTO ao recurso, para determinar
ANA ZOMER
Relatora