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PETIÇÃO INICIAL

Art. 319 do CPC

AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CRUZ ALTA

ARLINDO COSTA, brasileiro, solteiro, taxista, inscrito no CPF


049.449.057-09, não possui e-mail, residente e domiciliado no
endereço Rua São Francisco, Nº 193, Bairro Centro, na cidade
de Ijuí/RS, CEP 98.700-000 telefone número (55) 98145-6679;
por sua procuradora signatária, com endereço profissional na
Rua Benjamin Constant, nº 608, na cidade de Ijuí/RS, fone (55)
99116-1915, onde pretende receber intimações; vem,
respeitosamente, ajuizar

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE cumulada com


RETIFICAÇAÕ DO REGISTRO CIVIL, em face de

AMÉLIA COSTA, brasileira, casada, do lar, documentos de


identidade desconhecidos, residente e domiciliada no endereço
Rua Érico Veríssimo, Bairro Assis Brasil, nº 1400, na cidade de
Cruz Alta/RS, CEP 97.700-000, não possui e-mail, número de
telefone desconhecido; pelos fatos e fundamentos jurídicos e
legais a seguir expostos

I. DOS FATOS.

O Autor conheceu a genitora Sandra, mãe da ré, em uma de suas corridas


devido a seu trabalho como taxista. Logo, com o decorrer do tempo se estabeleceu
um relacionamento casual, nunca tendo o autor, de fato, criado laços duradouros e
afetivos com esta.
Após certo tempo, Sandra lhe comunicou que estava grávida e que ele seria o
pai da criança. Aceitou a paternidade de boa-fé, arcou com os custos do parto e
posteriores pagamentos quando solicitado. Porém, nunca tendo contato com a
genitora e a suposta filha.
Na data de 30/01/2021, sendo pressionado pela genitora, Arlindo acaba por
registrar a ré como sua filha, pois acreditava que ele era, de fato, o pai da criança.
No momento, Sandra expressa sua gratidão ao ato dizendo que era isso que
desejava do Autor.
O Autor, desconfiado com o ocorrido, entra em contato com a irmã de Sandra,
a Sra. Joana, questionando acerca da real paternidade da infante e descobre que a
menina é filha de outro relacionamento da genitora.
Passado determinado tempo, Arlindo não teve notícias de ambas, tanto mãe
quando filha, sendo ele procurado apenas para pagamento de pensão alimentícia.
Alegando a mãe da ré que tal pagamento deveria ser efetivado, pois era obrigação
do Autor como verdadeiro pai da infante e portanto, não podendo fugir de tal
obrigação. Nunca lhe ocorreu o descumprimento do dever, motivado pelo fato de ter
registrado a ré como sua filha, demonstrando pleno interesse na paternidade.
Diante de todo o esclarecido, entende-se que o Autor foi induzido em erro
para realizar o registro da infante e sendo assim, possui interesse na realização do
exame de DNA a fim de esclarecer suas dúvidas sobre a paternidade.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS E LEGAIS.

Importante reiterar que o Autor, no momento do registro, acreditava ser ele o


pai biológico da Ré. Em nenhum momento registrou a Ré sabendo que não era seu
pai. Evidente, portanto, o erro e o vício no consentimento, o que torna possível o
presente pedido, posto que presentes a legitimidade e o interesse de agir.

Afastada, portanto, a limitação esculpida no art. 1.609 do Código Civil,


aplicável apenas nos casos em que a parte, espontaneamente, mesmo sabendo da
inexistência do vínculo, reconhece como seu, filho alheio.
A hipótese tratada nos presentes autos é justamente oposta, pois o Autor
acreditava ser realmente o pai biológico da ré.

O artigo 1.604 do Código Civil ressalva que “ninguém pode vindicar estado


contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou
falsidade do registro”, justamente o caso em tela.

Tal preceito é no sentido que deve prevalecer a verdade real sobre a formal,
de modo que o reconhecimento voluntário não inibe o seu exercício pelo
perfilhante, que por defeito do ato jurídico, quer por não espelhar a verdade. Trata-
se de irrevogabilidade vitanda que impede a retração pura e simples do ato, mas
não a sua anulação por meio de decisão judicial (artigos 1º da Lei
nº 8.560/92, 1.604 do Código Civil de 2002 e 113 da Lei de Registros Públicos).

Conforme doutrina do operoso magistrado JORGE LUIS COSTA BEBER (in


“Ação negatória de paternidade aforada por pai registral ou reconhecido
judicialmente”, Revista da AJURIS, nº 73, Porto Alegre, p.202), a norma jurídica
precisa ir ao encalço dos avanços científicos relacionados com a matéria familiar,
sobretudo no campo da genética,  verbis:
“A identificação digital genética do DNA constitui valiosíssimo
recurso na distribuição da justiça, rápida e justa,
possibilitando considerável economia de tempo e dinheiro.
Destarte, diante da certeza que dimana do exame científico
pelo sistema DNA, reconhecida tanto na doutrina como na
jurisprudência, não vejo como manter, em sede de ações
declaratórias negativas, tanto da paternidade como da
maternidade, o pensamento jurídico vigente a mais de oitenta
anos atrás, época em que foi promulgado o vetusto Código
Civil Brasileiro. (...) É que, na verdade, não há como continuar
sustentando uma aparente verdade, em desfavor de uma
prevalente verdade biológica; No caso concreto, o que houve,
foi uma declaração de vontade não correspondente ao
verdadeiro ato volitivo do pai registral, pois agiu de modo
contrário ao que certamente agiria se conhecesse, na época
do registro, a verdade sobre a concepção; Interessa ao
Estado manter uma formalidade registral falsa (mesmo que
por erro) em detrimento de uma verdade biológica? Acredito
que não”.
Portanto, no caso sob exame, o que houve, foi uma declaração de vontade
não correspondente ao verdadeiro ato volitivo do pai registral, ora Autor, pois agiu
de modo contrário ao que agiria se conhecesse, na época do registro, a verdade
sobre a concepção.

III. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA


A concessão antecipada da tutela provisória de urgência em caráter
antecedente, “inaudita altera pars”, com fundamento no artigo 300, § 2º do novo
Código de Processo Civil, tem por escopo proteger circunstâncias como a exposta
nesta exordial. E também é evidente a intenção do legislador, de estabelecer no
mencionado artigo, a possibilidade de se antecipar os efeitos da tutela pretendida:
“Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.
§ 2. A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.”
O “fumus boni iuris” versa na perspectiva do direito citado e se justifica na
medida em que se aferem as argumentações ora deduzidas ao direito aplicável ao
caso e às provas documentais pré-constituídas. O “periculum in mora” se
caracteriza como uma condição muito importante para a concessão da medida
liminar, pois é indispensável que o autor comprove o perigo de dano ou reparação
de dano, aqui atribuído ao fato de que o autor não mais tem a obrigação de arcar
com a pensão alimentícia por não ser o genitor da menor, ocasionando
conseguinte risco de que, vindo a se tornar inadimplente com este dever, seja
obrigado a satisfazer o compromisso sendo obrigado a abrir mão da sua própria
liberdade.
Deste modo, faz-se mais que necessária a concessão da medida cautelar de
exoneração da pensão alimentícia em favor do demandante, antes da citação das
partes, pois a demora acarretará danos patrimoniais irreparáveis ao autor da ação.
Concebendo, o Douto Magistrado, que neste presente momento inicial, não
há elementos que evidenciem a probabilidade do direito, requer, tão logo produzida
prova suficiente para tanto, a concessão da tutela provisória de urgência
antecipada no curso do processo, tendo em vista tratar-se de medida benéfica à
parte, ainda que o seu deferimento se dê, tão somente por ocasião da sentença
final, a teor do que dispõe o art. 1012, V do CPC/15.

IV. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

A parte autora é economicamente hipossuficiente, não podendo arcar com as


custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios e periciais sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família. Assim, faz jus ao benefício da
gratuidade de justiça, forte no art. 98 do CPC, o que desde já requer.

Junta aos autos comprovantes de renda, bem como Declaração de


Hipossuficiência assinada.

V. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.

A parte autora manifesta interesse na realização da audiência preliminar de


conciliação.

VI. DAS PROVAS.

Requer demonstrar o alegado por meio de todas as provas em direito


admitidas, especialmente a prova pericial, qual seja o exame laboratorial, por meio
de DNA, para confirmação de ausência de liame biológico.

VII. DOS PEDIDOS.

Diante do exposto, requer:

a) A designação de audiência de conciliação para data posterior à


divulgação do resultado do exame de DNA, com a intimação pessoal
das partes com antecedência de vinte dias e advertência de que o
não-comparecimento ou a falta de justificativa implicará ato
atentatório à dignidade da justiça (CPC, art. 334, parágrafo 8);

b) A citação da parte ré, para, querendo, contestar o pedido, sob


pena de ser considerado revel e presumidas verdadeiras as
alegações de fato formuladas pela parte autora (CPC, arts. 334 e
335);

c) Seja determinada a realização do exame pericial necessário ao


esclarecimento da paternidade, em especial o genético (DNA), com
o fornecimento de material por parte dos envolvidos na presente
demanda;

d) A intimação do representante do Ministério Público para


acompanhar o presente feito;

e) Ao final seja julgado procedente o pedido declarando a


inexistência de paternidade, com a consequente retificação do
registro de nascimento da ré.

VIII. DOS REQUERIMENTOS.

Ante ao exposto, Requer:

a) A citação da ré para, querendo, contestar no prazo legal, sob


pena de revelia, e ao final, aguarda a procedência da ação, com a
consequente declaração de que o Autor não é pai biológico da Ré;

b) A intimação do Ministério Público;

c) Condenação da ré, na pessoa de sua representante legal, no


pagamento das custas processuais, verbas honorárias na forma do
art. 20 do CPC e demais encargos;
d) A designação de Audiência de tentativa de conciliação, nos
termos do art. 319, VII do CPC;

e) O deferimento do benefício da Assistência Judiciária Gratuita.

IX. DO VALOR DA CAUSA.

Dá-se à causa o valor de R$ 954,00 (novecentos e cinquenta e quatro reais),


para fins meramente fiscais.

Nesses termos, pede deferimento.

Ijuí, 04 de março de 2023.

Advogado(a) – OAB

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