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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUÍZ (A) DE

DIREITO DA 2ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE


MAUÁ/SP

Processo nº ________

WENDEL GABRIEL DE SOUZA ALVES, brasileiro, menor


impúbere, inscrito no CPF/MF nº 528.149.778-22, representado por sua
genitora BIANCA GABRIEL DOS SANTOS, brasileira, solteira, portadora da
Cédula de Identidade RG nº 53.299.092-4 SSP/SP e do CPF/MF nº
414.275.588/92, não possui e-mail, ambos residentes e domiciliados à Rua
Santos Ferreira de Freitas, nº 137, Jardim Ipê, Mauá/SP, por intermédio de seu
advogado que ao final subscreve, vem à presença de Vossa Excelência,
apresentar sua CONTESTAÇÃO EM AÇÃO NEGATÓRIA DE
PATERNIDADE C/C RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL movida por
LUAN DE SOUZA ALVES, o que faz pelos fundamentos de fato e de direito a
seguir dispostos.

BREVE SÍNTESE

Trata-se de Ação Negatória de Paternidade, cumulada com


retificação de registro civil, que, diferentemente do que foi narrado na inicial:

 NÃO HÁ QUALQUER PROVA QUE EVIDENCIE


ERRO OU VÍCIO DE CONSENTIMENTO NO
REGISTRO E;
 HÁ VÍNCULO SOCIOAFETIVO ENTRE O PAI E A
CRIANÇA QUE IMPEDE A NULIDADE DO
REGISTRO.

Como passa a demonstrar.

MÉRITO DA CONTESTAÇÃO

A Contestante impugna todos os fatos articulados na inicial o que


se contrapõem com os termos desta contestação, esperando a
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO PROPOSTA, como passa a demonstrar.

DA ANULAÇÃO DO REGISTRO

Pelo princípio da proteção à criança e visando o melhor interesse


do menor, a legislação brasileira previu que o registro civil de um filho é
irrevogável, nos termos do Código Civil:

Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do


casamento é irrevogável e será feito:
I- no registro do nascimento;
II- por escritura pública ou escrito particular, a ser
arquivado em cartório;
III- por testamento, ainda que incidentalmente
manifestado;
IV- por manifestação direta e expressa perante o juiz,
ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e
principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se
ele deixar descendentes.
Art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem
mesmo quando feito em testamento.

Assim, conforme entendimento majoritário do Superior Tribunal


de Justiça, o simples resultado de exame genético não tem o condão de por si só
permitir a anulação do registro, uma vez que:

 Não há qualquer prova do erro ou vício de


consentimento;

 Existe vínculo afetivo entre o pai e a criança.

Impedindo a nulidade do registro civil do menor, como passa a


demonstrar.

DA AUSÊNCIA DE ERRO OU VÍCIO DE CONSENTIMENTO

A possibilidade de contestar a paternidade e o registro pode


ocorrer EXCLUSIVAMENTE quando houver vício de consentimento:

Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que


resulta do registro de nascimento, salvo provando-se
erro ou falsidade do registro.

O que não ficou demonstrado no presente caso, uma vez que não há
qualquer elemento que evidencie que o Autor não tivesse conhecimento da
verdadeira filiação da criança.

DO VÍNCULO AFETIVO

O Autor conviveu com a criança na posição de pai por mais de 3


(três) anos, exercendo sua função paterna perante a escola, nos afazeres
domésticos e perante a sociedade a tal ponto da criança hoje o reconhecer como
figura paterna, tanto se faz verdade que a criança chama por seu pai durante a
semana.

Tal afastamento está agredindo psiquicamente a criança, ainda por


ser tratar de uma criança especial, pois possui TEA, conforme laudo medico
anexado a esta contestação.

Não menos importante, ressaltasse que tal desconfiança em


relação à paternidade nasceu recentemente com o termino do casal, ao contrario
do narrado na inicial.

Como prova deste vínculo, requer a juntada das fotos do Autor


com a criança.

Portanto, resta evidenciado o vínculo familiar exercido pelo Autor,


que não pode ser apagado do registro psicológico da criança. Nesse sentido, o
posicionamento do STJ é no sentido de caber ao Autor a prova de inexistência
do vínculo familiar, além do hipotético erro alegado:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. DIREITO DE


FAMÍLIA. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE
COMBINADA COM ANULATÓRIA DE REGISTRO DE
NASCIMENTO.(...) FILIAÇÃO. DIREITO
PERSONALÍSSIMO. ART. 2º, §§ 4º E 6º, DA LEI Nº 8.
(...) INSTRUÇÃO PROBATÓRIA.
IMPRESCINDIBILIDADE. REGISTRO.
RECONHECIMENTO ESPONTÂNEO. ERRO OU
FALSIDADE. SOCIOAFETIVIDADE. PRESENÇA. ÔNUS
DO AUTOR. ART. 373, I, CPC 2015. 1. (...) 6. A
averiguação da presença de socioafetividade entre as
partes é imprescindível, pois o laudo de exame genético
não é apto, de forma isolada, a afastar a paternidade. 7. A
anulação de registro depende não apenas da
ausência de vínculo biológico, mas também da
ausência de vínculo familiar, cuja análise resta
pendente no caso concreto, sendo ônus do autor
atestar a inexistência dos laços de filiação ou
eventual mácula no registro público. 8. Recurso
especial provido. (REsp 1664554/SP, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 05/02/2019, DJe 15/02/2019)

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO


DE REGISTRO CIVIL. (...) REGISTRO CIVIL DE FILHO
COM A CIÊNCIA DE QUE INEXISTIA VÍNCULO
BIOLÓGICO. ATO VOLUNTÁRIO E CONSCIENTE.
REGISTRO IMODIFICÁVEL. AUSÊNCIA DE ERRO OU
DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. REGISTRO CIVIL DE
FILHA SOB A CONVICÇÃO DE QUE EXISTIA VÍNCULO
BIOLÓGICO. CONFIGURAÇÃO DE ERRO
SUBSTANCIAL. REGISTRO IMODIFICÁVEL,
TODAVIA, DIANTE DA CONFIGURAÇÃO DE
RELAÇÃO PATERNO-FILIAL SOCIOAFETIVA.
RELAÇÃO AMOROSA E AFETUOSA. CONVIVÊNCIA
PÚBLICA E DURADOURA POR LONGO PERÍODO. (...)6-
A ciência prévia e inequívoca acerca da inexistência de
vínculo biológico entre o pai e filho impede a modificação
posterior do registro civil do menor, por se tratar de ato
realizado de forma voluntária, livre e consciente,
inexistente qualquer espécie de erro ou de vício de
consentimento apto a macular a declaração de vontade
inicialmente manifestada. Inteligência do art. 1.604 do
CC/2002.7- O registro civil de nascimento de filha
realizado com a firme convicção de que existia vínculo
biológico com o genitor, o que posteriormente não se
confirmou em exame de DNA, configura erro substancial
apto a, em tese, modificar o registro de nascimento, desde
que inexista paternidade socioafetiva, que prepondera
sobre a paternidade registral em atenção à adequada tutela
dos direitos da personalidade dos filhos. 8- Hipótese em
que, a despeito do erro por ocasião do registro,
houve a suficiente demonstração de que o genitor
e a filha mantiveram relação afetuosa e amorosa,
convivendo, em ambiente familiar, por longo
período de tempo, inviabilizando a pretendida
modificação do registro de nascimento.9- Recurso
especial conhecido e parcialmente provido. (REsp
1698716/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 11/09/2018, DJe
13/09/2018)

Assim, inexistente qualquer provas acerca do alegado erro, prova


que competia ao Autor, bem como, evidenciado vínculo afetivo entre ambos,
manifestamente improcedente a presente demanda.

DO EXAME REALIZADO

Causa estranheza ao Contestante o exame juntado a esta ação, eis que


há época o Autor estava impossibilitado de se locomover devido a uma lesão, e
em nenhum momento foi visitar a criança, tampouco outra pessoa o retirou do
lar materno.

Desta maneira, requer desde já seja realizada a perícia em um


laboratório credenciado por esse juízo para assim sanar qualquer tipo de
duvidas a cerca da paternidade.
DA JUSTIÇA GRATUITA

Conceda Vossa Excelência, aos Requeridos, o benefício da justiça


gratuita, assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei
13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes, uma vez que se constitui em pessoa
pobre e carente, tendo firmado para tanto a inclusa declaração de pobreza, face
à impossibilidade em arcar com a custa e despesas processuais, sem que, com
isso, prejudique seu próprio sustento, bem como de sua família.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer:

A TOTAL IMPROCEDÊNCIA da presente demanda;

A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a


realização do exame DNA junto a um laboratório que goze de
confiança deste juízo;

Subsidiariamente, a realização do estudo psicossocial para que seja


avaliado socioafetividade da paternidade;

A condenação do Autor ao pagamento de honorários advocatícios nos


parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC;

Nestes termos,
pede deferimento.

Mauá, 15 de fevereiro de 2019.


MICHEL OLIVEIRA REALE
OAB/SP 407.365

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