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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS

DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE ...

PAI, brasileiro, solteiro, desempregado, portador do RG


nº, inscrito no CPF sob o, residente e domiciliado na e FILHA, brasileira, menor impúbere,
representada por sua genitora MÃE, brasileira, solteira, desempregada, portadora do RG nº,
inscrita no CPF sob o nº, residente e domiciliada na Rua, vêm através de seu advogado,
procuração anexa, perante Vossa Excelência propor:

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE C.C. ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL


DE NASCIMENTO

de maneira consensual, pelos fatos e fundamentos a seguir


expostos.
PRELIMINARMENTE

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Requer a Vossa Excelência que seja deferido o benefício


da Gratuidade de Justiça aos requerentes, com fulcro na lei 1.060/50, com as alterações
introduzidas pela Lei 7.510/86, por não terem condições de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, conforme atestado de pobreza
anexo.

DOS FATOS

MM. juiz, informam o Sr. namorou com a Srta. por cerca


de quatro meses e o relacionamento terminou, tendo em vista que não deu certo como casal,
porém, ocasionalmente ainda “ficavam juntos”.

Após algum tempo, a mãe da requerente procurou o


demandante para informar que estava grávida e que ele seria o pai da criança.

A Srta. não quis que o requerente acompanhasse sua


gestação, auxiliando a criança somente após o nascimento desta com a compra de produtos de
higiene pessoal e vestuário, e ainda incluiu esta plano de saúde de seu pai.

O nascimento de X ocorreu em Junho de 20XX e em


Janeiro deste ano a Srta. Y procurou o requerente para que realizassem um exame de DNA,
uma vez que não teria certeza de que ele seria o pai.

Após a realização do exame, em anexo, ficou comprovado


que o Sr. não é o pai de ..., não possuindo qualquer vínculo genético com a mesma.

Cabe ressaltar que, por conta desta dúvida, logo depois


sanada, as partes acordam e entram com essa demanda conjuntamente a fim de que o nome do
Sr. X deixe de constar no registro da menor.
Cumpre desde já informar que a Srta. MÃE deseja que a
demanda seja resolvida o mais rapidamente, tendo em vista que deseja ingressar com ação de
investigação de paternidade contra aquele que acredita ser o pai biológico de sua filha.

DO DIREITO

Além de não haver qualquer tipo de vínculo afetivo entre


os requerentes, está devidamente comprovado que não se trata de pai e filha biológicos.

Sendo assim, tendo em vista que não é o pai biológico, o


requerente, por medida de Justiça, requer a negatória de paternidade, assim como a outra
requerente, FILHA, que, representada por sua genitora, não deseja manter o nome de quem
não seja seu pai.

Nos termos do art. 1.609, do Código Civil, o


reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e irretratável, não sendo
possível invalidar o estado de filho por mero capricho, mas apenas nas hipóteses em que se
comprove que o pai registral foi induzido a erro ou coagido em sua manifestação de vontade.

Ocorre que o requerente invoca justamente ter incidido em


erro, acreditando na genitora da criança, que depois reconheceu seu erro, tanto que apresenta
tal medida judicial em consenso.

Legítimo o interesse do requerente PAI, pois, na avaliação


subjetiva das consequências do seu ato, a dignidade da pessoa, principalmente da criança, não
se mostra abalada pela busca da verdade, que inclusive, é de seu interesse, ou para não
perpetuar uma dúvida, que certamente refletirá no relacionamento dos requerentes, ou para
lhe possibilitar que é seu verdadeiro pai.

Nesse sentido:

Ação negatória de paternidade – Improcedência –


Inconformismo – Acolhimento – Pretensão sustentada
com base no vício de consentimento – Autor que
reconheceu espontaneamente a paternidade, acreditando
na afirmação da genitora – Busca pela verdade real que
não pode ser afastada - Dignidade da pessoa que diz
com uma relação de parentesco natural ou ficta, mas
desde que represente a expressão da verdade ou da
vontade da parte – Sentença reformada - Recurso
provido. (APELAÇÃO N°: 994.07.120061-0 -
APELANTES: MINISTÉRIO PUBLICO e TSdS -
APELADOS: NVGdS (REP. PELA GENITORA VGdS) -
COMARCA: VIC.CARVALHO/GUARUJÁ - JUIZ
PROLATOR: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS
BLANCO PERES)

Nesse sentido, entendimento do E. Superior Tribunal de


Justiça:

"O reconhecimento espontâneo da paternidade somente


pode ser desfeito quando demonstrado vício de
consentimento, isto é, para que haja possibilidade de
anulação do registro de nascimento de menor cuja
paternidade foi reconhecida, é necessária prova robusta no
sentido de que o 'pai registrai' foi de fato, por exemplo,
induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto".
(Terceira, Turma, REsp 1022763/RS, Rel. Min. Nancy
Andrigui, julgado em 18/12/2008).

Também decidiu o TJ-SE:

Civil - Ação negatória de paternidade cumulada com


anulação de registro civil - DNA excludente de
paternidade - Registro realizado sob vício de
consentimento - Impossibilidade de reconhecimento de
paternidade sócio afetiva - Decisão mantida. I -
Configurado o vício de consentimento por parte do
apelado, que registrou a criança pensando que era sua
filha, caracterizado está o impedimento ao reconhecimento
da paternidade sócio afetiva; II- Recurso conhecido e
desprovido. (TJ-SE - AC: 2012201346 SE, Relator:
DESA. MARILZA MAYNARD SALGADO DE
CARVALHO, Data de Julgamento: 09/04/2012,
2ª.CÂMARA CÍVEL)

Outra decisão nesse mesmo sentido foi proferida pelo TJ-


DF:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO NEGATÓRIA


DE PATERNIDADE C/C ANULAÇÃO DE REGISTRO
CIVIL. EXAME DE DNA. VERDADE REAL.
SENTENÇA REFORMADA. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO AUTORAL. 1. É DIREITO DA CRIANÇA
CONHECER SUA VERDADEIRA ORIGEM. "SEGUE
DAÍ QUE A AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE,
A EXEMPLO DA DE INVESTIGAÇÃO, ATENDE NÃO
APENAS AO INTERESSE DO PAI, MAS TAMBÉM
DOS FILHOS, INTERESSADOS QUE SÃO DA
VERDADEIRA PATERNIDADE, FATO QUE OS IRÁ
MARCAR PARA O RESTO DA VIDA, COM
REFLEXOS, INCLUSIVE, NA PERSONALIDADE."
APC Nº 2001.05.1.004460-5, REL. DES. JAIR SOARES,
DJU 12/06/2002. 2. RECURSO PROVIDO.

(TJ-DF - AC: 70930220018070004 DF 0007093-


02.2001.807.0004, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS
SANTOS, Data de Julgamento: 28/03/2005, 3ª Turma
Cível, Data de Publicação: 21/06/2005, DJU Pág. 102
Seção: 3)

Vejamos o entendimento na doutrina:


“Deste modo, o assento de nascimento é passível de
anulação, por meio de sentença com trânsito em julgado,
podendo ser postulada pelo pai ou pelo filho, sempre que
não espelhar a verdade biológica, prestigiando-se, assim, a
verdade real nas relações de filiação. Entendimento
contrário importa em violação ao ideal constitucional de
que as relações de parentesco baseiem-se na verdade e não
mais em ficções jurídicas” (Regina Beatriz Tavares da
Silva, Reflexões sobre o reconhecimento da filiação
extramatrimonial, Revista dos Tribunais, vol. 1, jan./mar.
2000, p.p. 73-6).

E mais:

“Não há como manter um vínculo jurídico estabelecido de


forma presumida ou por indícios, sem qualquer respaldo
probatório. Não havendo vínculo de qualquer ordem entre
pai e filho – a não ser uma sentença que afirma um fato
que não existe -, essa inverdade jurídica não pode
prevalecer. Quem não é pai, nem afetivo nem biológico,
não é pai. A justiça precisa curvar-se a essa verdade, ainda
que acabe eventualmente sem genitor. Essa situação, por
mais lastimável que seja, não pode ser solucionada pelo
judiciário.” (DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das
Famílias. 9ª edição revista, atualizada e ampliada. Editora
Revista dos Tribunais, pg. 407).

Destarte, tanto a jurisprudência quanto a doutrina,


entendem que se deve existir sempre a busca da verdade real.

Assim sendo, considerando que não há vinculo sanguíneo


e nem afetivo, além da vontade das partes, é justo e imperioso que se negative a paternidade,
bem como, seja retirado o nome do requerente PAI de todos os documentos da requerente
Alice.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requerem os autores o seguinte de Vossa


Excelência:

1. Que a presente demanda seja julgada


TOTALMENTE PROCEDENTE, declarando a negativa
de paternidade entre os autores;
2. A expedição do competente mandado para
averbação junto a certidão de nascimento da menor para as
devidas retificações;
3. A realização de novo exame de DNA entre os
autores, caso Vossa Excelência entenda necessário;
4. A concessão do benefício de assistência
Judiciária Gratuita nos termos requeridos;
5. A manifestação do Digníssimo Promotor, na
função de custus legis.

Protestam provar o alegado por todos os meios de provas


admitidos em direito, depoimento pessoal da genitora, provas testemunhais, pericia, juntada
de documentos e demais que se fizerem necessárias, e que desde já ficam requeridas.

Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins


fiscais.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, data.

ADVOGADO
OAB

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