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Exmo. Sr. Dr.

Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Família da Comarca de Caxias


do Sul-RS:

Processo : 010/1.15.0000123-0
Espécie : Investigação de Paternidade
Autora : Emília Silva
Réu : João Rosa

João Rosa, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, por seu procurador infrafirmado, vem perante V. Exa. interpor o
presente recurso de APELAÇÃO contra a sentença proferida, requerendo seja o
mesmo recebido em ambos os efeitos e enviado ao Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul com as anexas razões, tudo nos termos do art.
513 e seguintes do Código de Processo Civil.

N. termos,
p. deferimento.

Caxias do Sul – RS, 10 de Setembro de 2015.

Rodrigo Zanella Kelly Ferraz Oliveira


OAB/RS xx.xxx OAB/RS xx.xxx
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

Processo : 010/1.15.0000123-0
Espécie :Investigação de Paternidade
Comarca :Caxias do Sul – RS
Vara : 2ª Vara Cível de Família
Apelante : João Rosa
Apelado : Emília Silva

Razões de recurso de Apelação

Colenda Câmara:

Eminentes Julgadores:

Emília Silva, menor com 15 anos de idade, representada por


sua mãe Emiliana Silva, ajuizou ação de investigação de paternidade contra João
Rosa, sustentando que é sua filha, fruto de relacionamento eventual entre este e
a mãe de Emília.
O Apelante é casado há 40 anos com Júlia Rosa, com quem
possui três filhos e convivem harmonicamente.

José Silva, marido de Emiliana, registrou a Emília como sua


filha, embora soubesse que não é seu pai biológico. Cabe ressaltar que a menor
sempre morou com sua mãe e o pai registral, e, que portanto, não possui
relacionamento com o seu pai biológico.

A relação sócioafetiva com o pai registral é de conhecimento


público, sendo mencionado em jornais, na coluna social (aniversário, primeira
comunhão...), como pai de Emília. O pai registral também consta como pai de
Emília perante a escola da mesma e perante o plano de saúde que este paga
para ela. Tão forte é o vínculo criado entre o pai registral e a filha que nunca se
ajuizou ação negatória de paternidade, mesmo sabendo que este não era o
verdadeiro pai biológico.
Realizado exame de DNA, por determinação judicial, a perícia
atribuiu a paternidade biológica de Emília a João Rosa.

A sentença julgou procedente a ação em virtude do exame de


DNA realizado.
Diante do breve relato, apresentamos as razões do recurso,
conforme segue.

1. DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA:

É neste contexto que no caso em análise podemos verificar a


existência da paternidade socioafetiva, pois os laços de paternidade havidos
entre a menor, autora, e o seu pai registral é de conhecimento público, sendo
fundado este vínculo afetivo em sentimentos estabelecidos entre o pai e filha.
Tanto isto é notório que o pai registral da menor se fez presente em todos os
momentos importantes da vida dela, como na escola, festa de 15 anos,
aniversários, coluna social, entre outros. Porém se tratando da relação com o pai
biológico, esta inexiste, pois somente com a ação de investigação de
paternidade, é que menor teve conhecimento de existir um outro pai.

A filiação socioafetiva, segundo lição de Maria Berenice Dias,


é a filiação que resulta na posse de estado de filho, constituindo modalidade de
parentesco civil de “outra origem”, com fundamento no art. 1.593 do Código Civil,
sendo esta origem o afeto. Nesse sentido, ensina a Jurista que:
“[…] A filiação socioafetiva corresponde à verdade aparente e decorre do direito à
filiação. A necessidade de manter a estabilidade da família, que cumpre a sua
função social, faz com que se atribua um papel secundário à verdade biológica.
Revela a constância social da relação entre pais e filhos, caracterizando uma
paternidade que existe não pelo simples fato biológico ou por força de presunção
legal, mas em decorrência de uma convivência afetiva.”

Ainda mais, segundo FARIAS e ROSEVELT, a filiação


socioafetiva tem como escopo o afeto, sendo pai aquele que ocupa e
desempenha a função de pai, dando carinho, afeto, educação e amor,
demonstrando assim ato de vontade, cimentada, cotidianamente e publicamente
o vínculo paterno filial.
Neste sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul tem se posicionado:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


PATERNIDADE CUMULADA COM ANULAÇÃO DE
REGISTRO CIVIL. DISPUTA DA PATERNIDADE ENTRE O
AUTOR E O PAI REGISTRAL. NEGATIVA DE SUBMISSÃO
AO EXAME DE DNA. PREVALENCIA DA PATERNIDADE
SOCIOAFETIVA. PRELIMINAR. A impressão manifestada
pelo magistrado na sentença, sobre a semelhança física entre
autor - pretenso pai biológico - e o menor demandado,
reforçada por outras provas, firmando convicção de
procedência da ação, não constitui nulidade do julgado ao
fundamento de se basear em "impressões pessoais".
Preliminar rejeitada. MÉRITO. A recusa dos demandados -
pai registral e criança investigada - em se submeter a exame
de DNA, pleiteado pelo autor para ver declarada sua
paternidade sobre o infante, pode constituir presunção da
paternidade, mas não o suficiente para ensejar sua
declaração se a manifesta relação sócio afetiva existente
entre o pai registral e a criança está demonstrada na
prova dos autos - estudo social e prova testemunhal -.
Posse de estado de filho caracterizada, independente da
presumida paternidade biológica. Recurso acolhido para
ensejar a improcedência da ação. REJEITARAM A
PRELIMINAR E PROVERAM APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº
70043391887, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em
14/12/2011)

Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇÃO


CÍVEL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. FILIAÇÃO
SOCIOAFETIVA. A inexistência de filiação biológica entre o
autor e o menor/réu, demonstrada na ação negatória de
paternidade, esbarra na filiação socioafetiva entre os
litigantes, evidenciada nos autos, onde a criança tem no
pai registral seu verdadeiro pai, estruturando sua
personalidade na crença desta paternidade, assim
demonstrado no processo, ensejando a improcedência da
ação. EMBARGOS INFRINGENTES ACOLHIDOS, POR
MAIORIA. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Embargos Infringentes
Nº 70041008814, Quarto Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho,
Julgado em 10/06/2011)

Diante disso, é o pai registral que mantêm o mais puro grau de


afetividade com a filha, estando estabelecida esta relação pai-filha de acordo
com a sua vontade.

2. Ato juridico Perfeito

Pelo exposto, requer seja conhecido e provido o presente


recurso de apelação a fim de reconhecer a prevalência da paternidade
sócioafetiva sobre a paternidade biológica, reformando a sentença para julgar
improcedente a demanda, condenando o apelado aos ônus da sucumbência.

Caxias do Sul – RS, 10 de Setembro de 2015.

Rodrigo Zanella Kelly Ferraz Oliveira


OAB/RS xx.xxx OAB/RS xx.xxx

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