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em face de CHRIS ROCK (filho dos de cujus), brasileiro, solteiro, engenheiro, portador do RG.
_________e CPF ____________, com endereço eletrônico
chris@todomundoodeiaochris.com.br; residente e domiciliado na Rua _____________, nº
____ – Bairro __________ - Cidade ____________ - SP e DREW ROCK (filho dos de cujus),
brasileiro, casado, analista de TI, portador do RG. _________ e CPF ____________, com
endereço eletrônico drew@drew.com.br; residente e domiciliado na Rua _____________, nº
____ – Bairro __________ - Cidade ____________ - SP, em razão do falecimento de JULIUS
ROCK, brasileiro, casado, motorista, RG __________ e CPF __________, falecido em
07/07/2010, conforme documentos pessoais e certidão de óbito anexos (doc.....) e ROCHELLE
ROCK, brasileira, casada, vendedora, RG ____________ e CPF __________, falecida em
08/08/2016, conforme documentos pessoais e certidão de óbito anexos (doc.....), pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas:
1 – DOS FATOS
Desde os 04 anos de idade a requerente passou a residir com os de cujus e seus filhos em
razão dos seus pais biológicos não terem condições financeiras para arcar com as despesas de
sua educação e sustento, visto que já eram pais de 08 filhos e viviam em condições de extrema
pobreza.
Aos 13 anos de idade, a requerente que até então chamava os de cujus de tios, pediu
permissão a ambos para chama-los de pai e mãe em virtude de já possuir pleno discernimento
e entender que ambos a criavam como se sua filha fosse. Os de cujus ficaram extremamente
felizes com o pedido, autorizando imediatamente a alteração da forma de tratamento que a
requerente utilizava cotidianamente.
Em ___ de __________ de 2005, a requerente deu à luz a 2 filhos gêmeos, conforme certidões
de nascimento anexas (doc ......). Na época, a requerente solicitou ao pai dos seus filhos que no
momento do registro das crianças o pai apresentasse a certidão de nascimento do de cujus e
pleiteasse que fizesse constar no registro de ambas as crianças o sobrenome “Souza” que
pertencia ao seu pai socioafetivo. O cartório acatou a solicitação, conforme podemos
demonstrar das próprias certidões de nascimento dos filhos da requente. Naquele momento o
pai socioafetivo da requerente ainda era vivo e ficou muito feliz com o fato do cartório ter
autorizado constar seu sobrenome nas certidões de nascimento de seus netos socioafetivos.
Os fatos podem ser provados por fotos da convivência familiar entre a requerente, os
requeridos e os de cujus (doc .......), por testemunhos pessoais e pela própria não oposição dos
requeridos, filhos dos de cujus, a presente ação.
2 – DO DIREITO
O art. 1.593 do Código Civil prevê que o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem.
Observe que o legislador ao mencionar “outra origem” abriu um leque de possibilidades de
reconhecimento de parentesco que não resulte apenas da consanguinidade ou adoção,
possibilitando o reconhecimento de filiação socioafetiva.
Além disso, o art. 227, § 6º da Constituição Federal de 1988 e o art. 1.596 do Código Civil
estabelecem que não poderá haver discriminação entre filhos havidos ou não dentro de um
casamento ou por adoção, trazendo proteção do ordenamento jurídico a todos os filhos,
independentemente de sua origem.
“Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta
ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou
outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação.
A jurisprudência acima ainda esclarece em seu inteiro teor que embora não se trate do
instituto da adoção post mortem, deverá ser adotado esse instituto por analogia para
reconhecer a filiação socioafetiva.
Para reforçar o entendimento dos requisitos da filiação socioafetiva e fazer essa analogia com
a adoção post mortem, o eminente Desembargador Enéas Costa Garcia do Tribunal de Justiça
de São Paulo traz em seu julgado a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme
teor abaixo:
A paternidade socioafetiva realiza a própria dignidade da pessoa humana por permitir que um
indivíduo tenha reconhecido seu histórico de vida e a condição social ostentada, valorizando,
além dos aspectos formais, como a regular adoção, a verdade real dos fatos.
A posse de estado de filho, que consiste no desfrute público e contínuo da condição de filho
legítimo, restou atestada pelas instâncias ordinárias.
(STJ - REsp 1500999/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 12/04/2016, DJe 19/04/2016).
O entendimento previsto na jurisprudência acima sobre o reconhecimento da filiação
socioafetiva já encontrava seu fundamento no próprio Superior Tribunal de Justiça, conforme
relatado abaixo:
“3. A filiação socioafetiva, por seu turno, ainda que despida de ascendência genética, constitui
uma relação de fato que deve ser reconhecida e amparada juridicamente. Isso porque a
parentalidade que nasce de uma decisão espontânea, frise-se, arrimada em boa-fé, deve ter
guarida no Direito de Família.” (STJ - REsp 1087163/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe 31/08/2011).
Pelos fatos expostos nessa inicial, verificamos que resta inquestionável a posse do estado de
filha pela requerente e a decisão espontânea dos de cujus em assumir publicamente a
responsabilidade e guarda da requerente, tratando-a como se filha fosse, permitindo a ela
inclusive o tratamento reservado a eles como pais, passando a requerente a chama-los e trata-
los como pai e mãe e recebendo todo o respeito, amor, cuidados e carinho destinados pelos
pais aos filhos.
A parte Autora é pessoa pobre na acepção do termo e não possui condições financeiras para
arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento,
razão pela qual desde já requer o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº
1060/50 e consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, verbis:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do novo CPC/2015, o pedido de
gratuidade da justiça pode ser formulado por petição simples e durante o curso do processo,
tendo em vista a possibilidade de se requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os
benefícios da justiça gratuita, ante a alteração do status econômico.
Para tal benefício, parte Autora junta declaração de hipossuficiência e comprovante de renda,
os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judicias sem comprometer sua
subsistência, conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem
a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o
pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus, parte Autora, ao
benefício da gratuidade de justiça:
Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do requerente, sendo suficiente a
"insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários
advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:
"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em renda
familiar ou faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda
mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito que é proprietário
de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de
viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito
tenha que comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus bens,
liquidando-os para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)
Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e pelo artigo 98 do CPC,
requer seja deferida a gratuidade de justiça parte Autora.
Ante o exposto, considerando que a pretensão da autora encontra fundamento no art. 227, §
6º, da Constituição Federal, assim como no art. 1.593 do Código Civil e art. 26 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, REQUER:
os benefícios da justiça gratuita, uma vez que a requerente se declara pobre no sentido
jurídico do termo, conforme declaração anexa;
a citação dos requeridos para verificar se têm interesse na conciliação, mediante realização de
audiência de conciliação ou de mediação, conforme art. 319, inciso VII do Código de Processo
Civil;
a citação dos requeridos para que, querendo, ofereça resposta no prazo legal sob pena de
revelia;
que seja julgado procedente os pedidos da ação para declarar a filiação socioafetiva post
mortem em favor da requerida (filha socioafetiva de Julius Rock e Rochelle Rock), produzindo
todos os efeitos legais;
a inclusão dos nomes dos pais socioafetivos no seu registro civil em substituição ao nome dos
pais biológicos, procedendo inclusive a alteração do sobrenome da requerente;
Provará o que for necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em especial
pela juntada de documentos (anexos) e oitiva de testemunhas.
Termos em que
pede deferimento
Petição elaborada pela advogada Erica Dias de Souza (@eds_peticoes). Elaboramos petições
cíveis e contratos específicos para o seu caso.