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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO

ANTONIA RENATA DE OLIVEIRA


DANIELE DA SILVA FIGUEIREDO
LUIZA VALENTINA PANISSON

ANÁLISE: O PRINCÍPIO DA MONOGAMIA E A DECISÃO PROFERIDA PELA 2ª


VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES EM SENTENÇA QUE RECONHECEU A
UNIÃO POLIAMOROSA EM 29/08/2023.

SOLEDADE/RS - 09/2023
1. TEMÁTICA: O PRINCÍPIO DA MONOGAMIA E A DECISÃO PROFERIDA
PELA 2ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES EM SENTENÇA QUE
RECONHECEU A UNIÃO POLIAMOROSA EM 29/08/2023.

“Justiça reconhece união poliamorosa no Estado do Rio Grande do Sul

“O que se reconhece aqui é uma única união amorosa entre três pessoas: um homem
e duas mulheres, revestidas de publicidade, continuidade, afetividade e com o
objetivo de constituir uma família e de se buscar a felicidade”. Com esse entendimento
o Juiz da 2ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Novo Hamburgo, Gustavo
Borsa Antonello, reconheceu a união estável poliafetiva de um homem e duas
mulheres entendendo que, mesmo não sendo uma família composta nos modelos
tradicionais, não deve ficar à mercê da proteção do Estado. Uma das mulheres está
grávida e foi concedido que, após o nascimento do filho, conste o nome dos três no
registro de nascimento.

Na ação, a família poliamorosa narra que buscava a declaração judicial de união


estável desde 2013. A sentença, proferida nessa segunda-feira (28/8), considerou
que a relação afetiva dos três autores é permeada pela afetividade, contínua e
duradoura, sendo notoriamente reconhecida por amigos e familiares, incluindo
postagens em redes sociais. Para garantir a tutela de união estável, dois autores que
eram casados requereram a dissolução do casamento, por meio de divórcio, para
imediato reconhecimento, por sentença, da relação poliamorosa entre os três
envolvidos.

Sentença
Ao proferir a decisão, o magistrado determinou que fica reconhecida a união
poliamorosa, a contar de 1º/10/13, entre os autores do processo. Após, transitada em
julgado a decisão, será expedido mandado ao Registro Civil de Pessoas Naturais para
a averbação da sentença de divórcio e também do reconhecimento da união
poliamorosa. Foi determinado, após nascimento do filho, que o registro de nascimento
deverá constar o nome das duas mães e do pai, além dos ascendentes, valendo como
documento hábil ao exercício de direito.

"Inequívoco que a afetividade permeia a relação jurídica constituída entre os autores,


como também pode ser percebido nos relatos em juízo dos três requerentes,
chamando à atenção a serenidade, a emoção e o entusiasmo ao se referirem à
gestação e à chegada do filho", afirmou o magistrado.”

O processo tramita em segredo de justiça.” Carvalho, Fabi. Souza, Rafaela. Justiça


Reconhece União Poliamorosa. TJRS, 2023. Disponível em: Justiça reconhece união
poliamorosa - Tribunal de Justiça - RS (tjrs.jus.br)

A decisão proferida pelo juiz da 2ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Novo


Hamburgo é uma inovação jurídica, dentro de sua sentença o juiz reconhece união
poliamorosa para que ao nascimento da criança envolvida conste em seu registro o
nome das duas mães e do pai, bem como de seus ascendentes. Com justificativa que
se pode extrair da notícia, o magistrado alega que ficou constatado que a relação se
constitui como uma união estável, mesmo não sendo a moldes das uniões
convencionais, mas a relação dos três e permeada de afeto e é de conhecimento de
todos que os rodeiam. Os efeitos dessa decisão se não for “derrubada” caso seja
recorrida, serão além do pedido pelas partes, o reconhecimento da união para que
possar ser registrado o nome dos três pais na certidão de nascimento da criança, mas
sim numa esfera da sociedade motivará indivíduos que vivem em situações similares
a requererem a união estável e com ela todos os seus efeitos legais.

2. DECISÃO SOBRE A TEMÁTICA: UNIÃO POLIAMOROSA


i)

ii) Ementa: APELAÇÃO. UNIÃO ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO.


RECONHECIMENTO. PARTILHA. "TRIAÇÃO". ALIMENTOS PARA EX-
COMPANHEIRA E PARA O FILHO COMUM. Viável reconhecer união estável
paralela ao casamento. Precedentes jurisprudenciais. Caso em que restou
cabalmente demonstrada a existência de união estável entre as partes,
consubstanciada em contrato particular assinado pelos companheiros e por 03
testemunhas; e ratificada pela existência de filho comum, por inúmeras
fotografias do casal junto ao longo dos anos, por bilhetes e mensagens
trocadas, por existência de patrimônio e conta-bancária conjunta, tudo a
demonstrar relação pública, contínua e duradoura, com claro e inequívoco
intento de constituir família e vida em comum. Reconhecimento de união
dúplice que impõe partilha de bens na forma de "triação", em sede de
liquidação de sentença, com a participação obrigatória da esposa formal.
Precedentes jurisprudenciais. Ex-companheira que está afastada há muitos
anos do mercado de trabalho, e que tem evidente dependência econômica,
inclusive com reconhecimento expresso disso no contrato particular de união
estável firmado entre as partes. De rigor a fixação de alimentos em prol dela.
Adequado o valor fixado a título de alimentos em prol do filho comum,
porquanto não comprovada a alegada impossibilidade econômica do
alimentante, que inclusive apresenta evidentes sinais exteriores de riqueza.
APELO DO RÉU DESPROVIDO. APELO DA AUTORA PROVIDO. EM
MONOCRÁTICA. (SEGREDO DE JUSTIÇA) - DECISÃO MONOCRÁTICA -
(Apelação Cível, Nº 70039284542, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em: 23-12-2010). Assunto: 1.
ALIMENTOS PROVISÓRIOS. CRITÉRIO PARA SUA FIXAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE PRESTÁ-LOS. FALTA DE PROVA. INCOMPROVADA
. ÔNUS DA PROVA. A QUEM INCUMBE. RENDIMENTOS DO
ALIMENTANTE. PROVA. VALOR. EX-COMPANHEIRA. COMPANHEIRA.
NECESSIDADE. COMPROVADA. CÔNJUGES COM NOVA FAMILIA.
EFEITOS. 2. UNIÃO ESTÁVEL DÚPLICA OU PARALELA.
RECONHECIMENTO. REQUISITOS. VIABILIDADE. CABIMENTO. PROVA
DOCUMENTAL. VALOR. PARTILHA DE BENS. CRITÉRIO. MEAÇÃO OU
TRIAÇÃO. DIVISÃO ENTRE ESPOSA, COMPANHEIRA E COMPANHEIRO.
TRIAÇÃO. CABIMENTO. DIVISÃO EM TRÊS PARTES. 3. PARTILHA DE
BENS. FORMA. MEAÇÃO OU TRIAÇÃO. 4. COMPANHEIRO CASADO.
CASAMENTO FORMAL. 5. PROVA DOCUMENTAL. BILHETE E
MENSAGEM. VALORIZAÇÃO. 6. TEORIA DO PORTANOVA. RUI
PORTANOVA. . Jurisprudência: APC 70034908848 APC 70014248603 APC
70027512763 AGI 70023968720 AGI 70024001620 AGI 70028262806
CONCLUSÃO N.37 DO CETJRS [0]

3. POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO

Os tribunais superiores, o STF e o STJ, entendem que pessoas que praticam poliamor
estão praticando concubinato (relação entre homens e mulheres impedidos de casar),
ou seja, dois casamentos. Por isso, não geraria direitos. Segundo tribunais
superiores, a Constituição conferiu proteção jurídica ao casamento e à união estável,
e a legislação civil só ressalva duas hipóteses para o reconhecimento jurídico do
concubinato: quando há separação de fato ou quando a pessoa se envolve de boa-
fé, sem saber que o outro era casado.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88) houve uma abertura do


significado do termo família, o legislador constituinte passou a denominar família não
só a de origem matrimonial, mas também a da união estável e a constituída por um
apenas dos pais e seus descendentes.

Ainda está muito no começo, as decisões que analisaram o poliamor, mesmo sendo
concedida ou negada no primeiro grau, recorrendo se tem o desprovimento em
relação, ou seja o Tribunal Superior não esta concedendo essa união, até o presente
momento. Agora cabe analizar essa decisão proverida no âmbito do Estado do Rio
Grande do Sul, para verificar quais serão os novos pensamentos sobre a temática.

4. ANÁLISE

i) Por Antonia Renata de Oliveira

No tocante da decisão que concedeu o poliamor no Rio Grande do Sul, cabe analisar
que não é reconhecido pelo sistema jurídico como parte do Direito Civil. Os efeitos
jurídicos patrimoniais são normais para qualquer relacionamento, seja no casamento
ou na união estável.

Com o tempo o conceito de família, na evolução histórica e social vem sendo


ampliado, passando a englobar todas as formas de convivência que se estruturam a
partir de um comprometimento amoros nessa modalidade, o que prevalece é o afeto.
Na sociedade antiga, a família era um meio de procriação, não havia qualquer tipo de
afeto entre os cônjuges.

A decisão que concedeu o poliamor no Rio Grande do Sul, foi proverido pelo juiz
Gustavo Borsa Antonello, que se baseado no reconhecimento de uma única união
amorosa entre três pessoas: um homem e duas mulheres, revestida de publicidade,
continuidade, afetividade e com o objetivo de constituir uma família e de se buscar a
felicidade", como proveriu na sua decisão.
Em um primeiro momento, eles tentaram o registro em cartório sem a judicialização,
mas o pedido foi recusado pelo tabelionato. O homem e a mulher que já estavam
casados precisaram se divorciar para fazer esse pedido. Agora, com a decisão
judicial, os cartórios devem ser obrigados a aceitar o registro. Assim, os três estarão
casados.

ii) Por Daniele da Silva Figueiredo

O conceito contemporâneo de entidade familiar é diversificado e possui como base


os laços afetivos. Desse modo, as variadas formas de expressar o amor merecem ser
tuteladas pelo direito das famílias.

Sendo assim, as uniões homoafetivas, assim como as demais entidades familiares,


possuem como fundamento primário o afeto. Portanto, “dividem-se alegrias, tristezas,
sexualidade, afeto, solidariedade, amor..., enfim, projetos de vida. Por isso, não é
crível, nem admissível, que lhes seja negada a caracterização como entidade
familiar." (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 64).

No entanto, as uniões poliamorosas que também se afastam do modelo convencional


ditado pela sociedade são vítimas da exclusão de direitos e da omissão do legislador,
ficando marginalizadas e invisíveis.

A decisão proferida pelo juiz da 2ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Novo


Hamburgo se trata de inovação jurídica, pois se contrapõe as decisões que ao longo
dos anos vem sendo proferidas. O fato de que agora (com essa decisão em questão)
pode-se reconhecer união poliamorosa gera efeitos na esfera civil que por analogia
serão os mesmos da união estável juridicamente tutelada.

Por fim, conclui-se que a decisão acompanha o mesmo pensamento que levou a
legalização das uniões homoafetivas como entidade familiar, e que se trata de ponta
pé inicial para mudança do ordenamento jurídico, no que tange a criação de um novo
instituto familiar e a sua tutela jurídica.

iii) Luiza Valentina Panisson


O STF rejeitou reconhecimento de duas uniões estáveis simultâneas, tendo em vista
que para a maioria dos ministros, a validade das duas uniões acabaria
caracterizando a bigamia, tipificada como crime no Código Penal.Por maioria de
votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou ilegítima a existência paralela
de duas uniões estáveis, ou de um casamento e uma união estável, inclusive para
efeitos previdenciários. O Plenário negou provimento ao Recurso Extraordinário
(RE) 1045273, com repercussão geral reconhecida, que envolve a divisão da
pensão por morte de um homem que tinha união estável reconhecida judicialmente
com uma mulher, com a qual tinha um filho, e, ao mesmo tempo, manteve uma
relação homoafetiva durante 12 anos.

A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte: "A preexistência de casamento ou


de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723,
parágrafo 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao
mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do
dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional
brasileiro".

Tendo como impedimento, segundo o ministro Alexandre de Moraes, o fato de haver


uma declaração judicial definitiva de união estável impede o reconhecimento, pelo
Estado, de outra união concomitante e paralela. Ele observou que o STF, ao
reconhecer a validade jurídico-constitucional do casamento civil ou da união estável
por pessoas do mesmo sexo, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132,
não chancelou a possibilidade da bigamia, mas sim conferiu a plena igualdade às
relações, independentemente da orientação sexual.

O ministro ressaltou que o Código Civil (artigo 1.723) impede a concretização de união
estável com pessoa já casada, sob pena de se configurar a bigamia (casamentos
simultâneos), tipificada como crime no artigo 235 do Código Penal. Assinalou, ainda,
que o artigo 226, parágrafo 3º, da Constituição Federal se esteia no princípio de
exclusividade ou de monogamia como requisito para o reconhecimento jurídico desse
tipo de relação afetiva.
REFERÊNCIAS

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. AC n.


70039284542. 8ª Câmara Cível. Relator: Des. Rui Portanova. Diário da Justiça
Eletrônico, 11 jan. 2011. Disponível em: https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-
solr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa. Acesso em: 25
setem. 2023.
Jurisprudência. Jusbrasil, 2023. Disponível em: Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-
SP - Agravo Interno Cível: Agt Xxxxx-33.2018.8.26.0000 SP Xxxxx-
33.2018.8.26.0000 | Jurisprudência (jusbrasil.com.br). Acesso em: 20 setem. 2023.
https://ibdfam.org.br/artigos/1645/O+reconhecimento+das+uni%C3%B5es+poliafetiv
as+pelo+ordenamento+jur%C3%ADdico+brasileiro+e+os+efeitos+decorrentes+da+
dissolu%C3%A7%C3%A3o+inter+vivos
https://www.jusbrasil.com.br/noticias/artigo-poliamor-e-negado-pelo-supremo-e-pelo-
stj-por-regina-beatriz-tavares-da-silva/3101342
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=457637&ori=1

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