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JACOBINA/BAHIA
2022
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TARSILA CARVALHO GONÇALVES
JACOBINA/BA
2022
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Historicamente a sociedade humana se desenvolveu apoiando-se na convenção
do matrimônio, o que, durante muito tempo, determinou a função a ser exercida por
homens e mulheres dentro do convívio social. A importância da família, bem como, do
casamento é tão expressiva que podemos encontrar na Carta Magna Brasileira
dispositivos que confirmam a sua proteção.
Diz o art. 226, caput, da Constituição Federal de 1988 que “a família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado” e, mais a frente, nos §§ 1º e 2º: “o
casamento é civil e gratuita a celebração” e que “o casamento religioso tem efeito civil,
nos termos da lei”.
Ademais, o Código Civil, em seu título III, artigo 1.723, caput, consagra ainda
que “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo
de constituição de família”.
Ainda, a Autora diz que a relação não pode ser efêmera, circunstancial, devendo
a relação ser prolongada no tempo, residindo nesse aspecto a durabilidade e a
continuidade do vínculo. Já o último requisito, a intenção de constituir família tem se
tornado cada vez mais difícil de ser comprovado, haja vista a possibilidade de que para
uma das pessoas da relação, o vínculo não passe senão de “namoro qualificado”.
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Nesse sentido, para Maria Berenice Dias, só se pode afirmar que a união estável
inicia de um vínculo afetivo, tendo em vista que o envolvimento acaba transbordando o
limite privado e as duas pessoas começam a ser identificadas no meio social como um
par, tornando o relacionamento uma unidade. O casal transforma-se em universalidade
única que produz efeitos pessoais com reflexos de ordem patrimonial, daí serem a vida
em comum e a mutua assistência apontadas como seus elementos caracterizadores.
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Nessa toada, o réu M.A.B rechaçava integralmente a pretensão veiculada
afirmando que antes da celebração do casamento o casal nunca ostentou status de
entidade familiar. Encerrada a fase instrutória, o juiz de primeiro grau julgou procedente
o pedido de P.A de O.B para reconhecer a existência da união estável, bem como, a
divisão dos bens, julgando improcedente, entretanto, o pedido de pagamento do
“aluguel” do imóvel. Ambas as partes interpuseram recurso de apelação, sendo que o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro entendeu que o pedido da Autora era descabido,
conferindo provimento ao apelo do réu.
Por fim, oferecidas as contrarrazões, P.A de O.B manejou ainda recurso especial
adesivo, contraposto por M.A.B, havendo provimento para a análise do recurso especial
(e-STJ, fls. 951). A decisão final do Ministro Marco Aurélio Bellizze considerou que
seria inviável o reconhecimento da união estável, julgando improcedente o pedido de
reconhecimento e dissolução c/c partilha do imóvel adquirido.
Em seu voto, o Ministro destaca que as provas trazidas aos autos foram
incapazes de demonstrar a intenção de constituir família, eis que essas apenas
comprovam a intenção do casal de realizar tal ato apenas no futuro. Dessa forma, para
que fosse considerada como existente a união estável a intenção teria que se configurar
no momento presente e durante toda a convivência, sendo irrelevante, portanto, a
coabitação quando considerada de forma isolada.
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propriedade em que passaram a residir tempos depois, é impossível não reconhecer que
a partir dessa data não estaria configurado o objetivo de constituir família.
Isto é, com a realização do pedido de casamento, bem como a sua aceitação pela
parte autora, entende-se que a expectativa do casal passou a ser investida de affectio
maritalis, assim, mesmo que inicialmente a relação tenha sido a de “namoro
qualificado”, em determinado momento da relação, mais precisamente, a partir do
noivado, combinado com a convivência pública, contínua e duradoura, restou
completamente configurada a união estável, motivo pelo qual o pedido da parte autora
deve ser considerado procedente, mesmo que a fixação da data inicial da união seja
diversa daquela pretendida na exordial.
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REFERÊNCIAS