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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE

CAMAÇARI - BA

Processo nº XXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

Carmem Fernanda da Silva, brasileira, maior, capaz, solteira convivendo em união


estável, arquiteta, sem endereço eletrônico, portadora da carteira de identidade
n.º xxxxxxx-xx, expedida pela SSP/BA, inscrito (a) no CPF n.º xxx.xxx.xxx-xx ,
residente e domiciliada na Rua Adelina De Sá, Centro, Camaçari-BA, cep 42-800-
000 nº xx, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por intermédio dos
seus Advogados que esta subscrevem, procuração em anexo, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 335 e 343
do Código de Processo Civil, apresentar:

CONTESTAÇÃO

em face da Ação de Reconhecimento e Dissolução de União Estável c/c partilha de


bens proposta por Alenta de Almeida, já qualificado nos autos do processo em
epígrafe, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Instruída com a pertinente declaração de hipossuficiência em anexo, claro se configura a


impossibilidade da ré em arcar com despesas judiciárias, pelo que se requer os benefícios da
justiça gratuita nos termos do art. 98 e seguintes da Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo
Civil) e art. 5º, LXXIV da Constituição Federal, em razão da reclamante ser pobre na acepção
jurídica do termo.
2. DA TEMPESTIVIDADE

O art. 335, I do CPC prevê o prazo de 15 dias para contestar a contar da data da audiência
de conciliação. A audiência ocorreu no dia XX/XX/XXXX, data do início da contagem do prazo,
sendo seu prazo final o dia XX/XX/XXXX.

Tempestiva, pois, a presente contestação

3. DA PRELIMINAR – IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

Importante aduzir que a Autora alega que os bens mencionados foram conquistados por
esforço comum do casal durante a convivência de ambos em união estável, contudo, essa união
nunca existiu e, por consequência disso, os bens citados não devem ser partilhados, tendo em
vista que foram comprados pela Requerida.

Assim, o demandado requer a alteração do valor da causa, tendo em vista que os bens não
integram a demandada apresentada e dessa forma, o valor da causa deve ser modificado para o
montante de R$00,00 ().

4. DA REVOGAÇÃO DA TUTELA

Compulsando os autos, é possível constatar que fora deferido o pedido liminar para
permitir que a Autora pedisse para repartir os bens igualmente deixado pela requerida até a
solução do processo, ante a verossimilhança das alegações.

No entanto, a mencionada liminar deverá ser revogada, uma vez que, conforme
extensamente suscitado e comprovado nos autos, a Autora e a requerida não possuíam união
estável comprovada.

Desse modo, tendo em vista que não está comprovado nos autos a existência de união
estável e ante a notória má-fé da Autora ao tentar esconder fatos necessários, a fim de induzir o
juízo ao erro para conceder a tutela antecipada para o partilhamento do imóvel, de rigor a
imediata revogação da tutela concedida.

5. DA BREVE SÍNTESE DOS FATOS

A requerente postula a dissolução da União Estável que alega ter mantido com a reque-
rida, argumentando que a convivência teve início no mês de outubro de 2012, quando passaram
a morar juntas.

Sustenta ainda que adquiriram em comum acordo um imóvel no valor de R$ 290.000 (du-
zentos e noventa mil reais), bem como a mobília do imóvel no valor de R$ 60.000 (sessenta mil
reais) e um automóvel avaliado em R$ 35.000 (trinta e cinco mil reais).

A requerente argumenta que, devido à suposta união estável e acordo mútuo, a partilha
desses bens deve ser feita de forma igualitária.

Tais pretensões, todavia, não podem prosperar, como diante será provado nos autos.

6. DA REALIDADE DOS FATOS

Ao contrário das alegações da requerente, é importante destacar que a convivência entre


as partes não pode ser devidamente caracterizada como uma união estável. Na verdade, o rela-
cionamento entre elas era, de maneira mais precisa, um namoro. Embora tenham compartilhado
uma residência e vivido juntas, elas o fizeram como namoradas e não preencheram os requisitos
necessários para constituir uma união estável.

7. DO MÉRITO

7.1 DA INEXISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL


A Constituição Federal reconhece, no artigo 226, § 3º, a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, reconhecendo o seu status de núcleo familiar e equiparando
este instituto ao do casamento civil e digna de proteção do Estado.

Da mesma forma, o Código Civil, no artigo 1.723, “caput” reconhece como entidade familiar
a união estável entre homem e mulher, estabelecendo, para esse fim, certos requisitos para a
sua constituição, quais sejam, a convivência pública, contínua e duradoura estabelecida com o
objetivo de constituição de família.

Inclusive, traz a jurisprudência o seguinte entendimento:

Pedido de reconhecimento e dissolução de união estável, cumulada com


partilha de bens. Ausência de demonstração dos requisitos necessários. União
estável que se caracteriza pela convivência pública, contínua, duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família (CC, art. 1.723). Provas
documentais insuficientes e, inclusive, em sentido contrário à pretensão da
autora. Testemunhas que corroboram a ausência da relação com tal propósito.
Versão da autora que não repercute em qualquer outro elemento de prova nos
autos ausência do propósito de constituir família impede o reconhecimento da
entidade familiar e configura o relacionamento como mero namoro, que se
distingue da união estável pelo grau de comprometimento dos envolvidos.
Sentença mantida. Recurso desprovido.
(TJSP; Apelação Cível XXXXX-12.2012.8.26.0322; Relator (a): Ana Romanhole
Martucci; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Foro de Lins - 12 Vara
Cível; Data do Julgamento: 20/02/2014; Data de Registro: 21/02/2014)

Ainda, traz o r. Acórdão proferido nos autos do recurso de Apelação N.° XXXXX-
12.2012.8.26.0322, o seguinte entendimento:

"[...] a existência de um relacionamento amoroso ou afetivo não é suficiente


para a configuração da união estável, que exige o desígnio da constituição de
família e, portanto, depende da comunhão plena de vida. O namoro assim se
diferencia da união estável, pois neste não há referido propósito
entre as partes."

Portanto, no exame minucioso deste caso, torna-se notável a ausência dos requisitos
fundamentais necessários para a caracterização de uma união estável. Essa lacuna deve-se ao
fato de que, em nenhum momento, a requerente conseguiu demonstrar de maneira convincente
que as partes agiam como se casadas fossem, ou que tinham intenções claras e palpáveis de
estabelecer uma família em comum.

Importante ressaltar que, em uma ação dessa natureza, cabia à requerente o ônus de
provar a existência da união estável, conforme dispõe o artigo 373 do Código de Processo Civil
de 2015. No entanto, mesmo diante desse ônus, a requerente falhou em apresentar provas que
corroborassem sua alegação.

Em última análise, com base na escassez de evidências e na falta de comprovação da união


estável por parte da requerente, é legítimo concluir que o relacionamento existente entre a
requerente e a requerida não transcendeu os limites de um namoro convencional.

7.2 DA PARTILHA DE BENS

Como já destacado, a requerente não conseguiu comprovar de forma satisfatória a


existência de uma união estável. Dessa forma, não há fundamentação jurídica que respalde uma
divisão igualitária dos bens com base em uma união estável inexistente.

Além disso, os bens em questão estão registrados em nome da requerida, e a requerente


não apresentou evidências que respaldem sua contribuição financeira para a aquisição desses
bens.

Dado que a requerente não trouxe à tona qualquer evidência ou documentação que
comprove sua contribuição financeira ou de outra natureza para a aquisição dos bens em
questão, não há fundamento legal para pleitear uma divisão igualitária dos mesmos. A ausência
de prova de contribuição em relação à aquisição dos bens em nome da requerida fortalece a
alegação de que a requerente não tem direito a 50% dos mesmos.

Portanto, a falta de prova substancial de contribuição da requerente para a aquisição dos


bens, juntamente com a não comprovação da existência da união estável, respalda a
argumentação de que a requerente não possui direito a uma divisão igualitária dos bens. Nesse
contexto, a alegação da requerente de que deve ser beneficiada com 50% dos bens carece de
fundamento legal e fático, de acordo com o Artigo 373 do CPC de 2015.

8. DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer a Vossa Excelência, o que adiante se segue:

a) Seja deferida a justiça gratuita em favor do Requerido, nos termos do artigo 98, “caput” e §
1º do CPC, por este não ter condições de arcar com as custas do processo sem que haja prejuízo
do seu próprio sustento ou de sua família;

b) Seja indeferido o pedido de reconhecimento da União Estável, conforme argumentos


colacionados, indeferindo-se, assim, a partilha dos bens mencionados pela parte Autora. Caso
seja reconhecida a constituição da união estável, o que não se espera, que não se considerem
os bens mencionados, posto que não tiveram provas suficientes por parte do Requerido;

c) A procedência total desta contestação, pelos fatos acima aduzidos, indeferindo-se todos os
pedidos autorais;

d) Seja condenada a parte contrária ao pagamento das custas processuais, bem como dos
honorários advocatícios em todas as fases do processo, quer seja primeira instância ou na fase
recursal, no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor total da condenação, nos termos
do artigo 85, “caput” e parágrafos 1º e 2º do Código de Processo Civil.

e) E, finalmente, a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a


documental, o depoimento pessoal do Requerido e tudo o mais que se fizer necessário à
completa elucidação e demonstração dos fatos articulados nesta inicial, inclusive com a oitiva
de testemunhas que oportunamente serão arroladas.

Termos em que,

Pede juntada e Deferimento.

Local, data.
ADVOGADO

OAB/UF nº

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