Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DA FAMÍLIA E

SUCESSÕES DA COMARCA DE SÃO CARLOS - SP


   

PROCESSO Nº 1002102-70.2016.8.26.0566
Ação de Divórcio Litigioso cc. Guarda e Alimentos
 

TIAGO MULLER COTRIM, brasileiro, casado,


desempregado, portador do RG n° 30.151.197-4 SSP/SP e do CPF/MF nº
223.920.978-01, (e-mail: lauro.cotrim@gmail.com), residente e domiciliado na
Alameda das Jacutingas, s/nº (Chácara Carolina), antiga Rua 9, Chácara 5,
Quadra 1 - Estância Balneária Concórdia - Prolongamento, na cidade de São
Carlos, Estado de São Paulo, CEP 13560-000, por seus advogados,que
assinam digitalmente (mandato incluso nos autos), com escritório na Rua
Episcopal, 1456, 7º andar, sala 705, Centro, cidade de São Carlos/SP, CEP
13560-570, onde recebem intimações (e-mail: ro.grazigallo@gmail.com),vem,
respeitosamente, à honrosa presença de Vossa Excelência, com fundamento
no artigo 336 do NCPC, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

à ação de DIVÓRCIO LITIGIOSO CC. GUARDA E ALIMENTOS, que lhe move


IANE CRISTINA MOMESSO COTRIM, brasileira, casada, do lar, portadora do
RG n° 33.407.315-7 e do CPF/MF n° 220.951.918-70, (e-mail desconhecido),
residente e domiciliada na Rua Sebastião de Sampaio Osório, n° 467, Bairro
Parque Paraíso, na cidade de São Carlos, Estado de São Paulo, CEP 13.562-
120, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I. PRELIMINARMENTE:

O requerido postula os benefícios da Assistência Judiciária


Gratuita por ser pobre na acepção jurídica do termo, conforme declaração
anexa aos autos, já que o custo do presente processo, dado o seu valor
econômico, expresso no valor atribuído para efeitos fiscais, é suficiente para
implicar-lhe sérias consequências patrimoniais. Ademais, o requerido não
possui condições de arcar com o ônus da ação em detrimento do próprio
sustento, atendendo também ao preceituado nos incisos XXXV e LXXIV do
artigo 5º da Constituição Federal, bem como nos artigos 98 a 102 do NCPC,
que estendem aos necessitados o acesso ao Poder Judiciário.

II. DOS FATOS:

1. Em síntese, alega a requerente, em sua petição inicial, ter


convivido com o requerido, em regime de união estável, durante os anos de
2010 a 2012, e com ele ter constituído matrimônio, em data de 28/07/2012,
sob o regime da comunhão universal de bens, sendo que do casamento entre
os nubentes adveio um filho, menor de idade.

2. A requerente alega, ainda, que viveu em harmonia com o


requerido até o nascimento do filho, época em que passaram a ter constantes
desentendimentos, o que culminou na separação de fato do casal em
janeiro/2016. Por essa razão, a autora recorre ao Poder Judiciário através
desta ação, almejando o divórcio, assim como a regulamentação da guarda e o
arbitramento de 01 (um) salário mínimo a ser pago pelo requerido, a título de
prestação alimentícia, ao menor.

3. O Nobre Magistrado, por sua vez, deferiu a antecipação da


tutela, para o fim de fixar a guarda provisória do menor em favor da
requerente, além de determinar os alimentos provisórios no limite de 30% dos
rendimentos líquidos do requerido, caso esteja ele empregado, com registro em
carteira, e 50% (cinquenta por cento) do salário mínimo vigente, caso o
requerido esteja desempregado ou exercendo atividade informal.

4. Na data de 26/04/2016, fora realizada a audiência de


tentativa de conciliação, a qual restou parcialmente frutífera nos seguintes
itens: 1) conversão do divórcio litigioso em consensual; 2) nome de solteira a
que voltará a usar a cônjuge virago; 3) renúncia da pensão alimentícia de
ambos os cônjuges (um para com o outro); 4) guarda do menor que ficará aos
cuidados da mãe; 5) dias e horários das visitas paternas; 6) partilha do bem
imóvel na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada um dos cônjuges,
quando de sua venda; 7) partilha dos bens móveis.

5. Não obstante o acordado pelas partes por ocasião da


audiência de tentativa de conciliação, restam, ainda, pendentes de julgamento
as seguintes questões: 1) definição de percentual a ser pago pelo requerido ao
filho, a título de pensão alimentícia; 2) pagamento das prestações
remanescentes do financiamento do imóvel; 3) possibilidade de entrega do
menor, nos dias de visita, a ser feita a familiares próximos e de confiança do
requerido, além da entrega concedida a este.

6. Assim, no que tange aos assuntos pendentes de julgamento,


o requerido expõe abaixo as razões de sua defesa com a certeza de que a
pretensão da requerente não irá prosperar, por estar desprovida de qualquer
amparo fático ou legal. Por isso, o requerido contesta e impugna as alegações
ofertadas pela requerente, o que faz a seguir.

7. Antes de adentrar no mérito da questão propriamente dita,


em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa, o requerido
deseja apenas elucidar a Vossa Excelência uma questão que, a seu ver, é de
suma importância para a solução da lide, e para que sejam afastadas de uma,
vez por todas, as falaciosas e mentirosas alegações da autora, no que tange às
condutas do requerido e de sua família.

8. Realmente, Excelência, no início de vida em comum, o


comportamento da requerente foi aceitável, muito graças à tolerância e
paciência do requerido. Entretanto, logo após o nascimento do menor, em
agosto de 2012, houve a ruptura da vida conjugal, tendo em vista o
comportamento destemperado da requerente que levava aos constantes
desentendimentos do casal. A requerente passou a agredir o requerido
verbalmente, e de maneira constante e injustificada, dirigindo-lhe impropérios,
e agressões morais, inclusive negligenciando as obrigações domésticas e
recusando-se ao cumprimento dos deveres conjugais.

9. A habitualidade das agressões verbais tornou insuportável a


vida em comum do casal ante a quebra dos deveres matrimoniais, acarretando
na insustentabilidade da vida a dois, uma vez que o requerido, da mesma
forma como alega a requerente, também vivia infeliz.

10. Há que se dizer, ainda, que a requerente mente ao afirmar


que foi ameaçada pelo requerido e sua família, tendo sido obrigada a se retirar
do lar em que ambos conviviam. Também não é verdadeira a alegação de que a
mãe e irmã do requerido desarrumaram a casa da requerente, na ocasião de
sua saída do lar, ofendendo-a com palavras de baixo calão. Na verdade, a
desarrumação da casa era rotineira e de responsabilidade exclusiva da
requerente que, como dito acima, negligenciava o cumprimento das obrigações
domésticas. A situação da residência era exatamente a deixada pela requerida,
não tendo sido alterada pelo requerido ou por sua família, que se limitaram a
retirar seus bens do local, o mesmo fazendo a requerente. Ademais, no direito,
tudo o que se alega deve ser provado, e, conforme é possível verificar nos
autos, as alegações da requerida não estão amparadas por quaisquer provas,
não merecendo acolhimento.

11. E não é só! Faz-se necessário trazer à baila que o requerido


e sua família são pessoas honestas, íntegras e possuem um nome a zelar e não
se prestariam a um papel desses como afirma mentirosamente a requerente.
Não ameaçaram a requerente e não a agrediram física ou moralmente como
falaciosamente alega, sendo uma mentira que tenham afirmado que ela corre
risco de morte, caso retorne à residência que tanto negligenciou.
12. O requerido e sua família têm plena consciência de que
atos como os inventados pela requerente, em nada resolveriam o problema, e,
ao contrário, gerariam ainda mais infortúnios para ambas as partes. Ocorre
que a requerente, numa tentativa desesperada de dramatização, tenta, a
qualquer custo, imputar culpa ao requerido pelo fracasso da união afetiva,
apenas na tentativa de sensibilizar Vossa Excelência e, assim, poder tirar o
máximo de proveito da situação.

13. Por outro lado, a requerente deve ter o máximo de cautela


ao imputar graves acusações, como as proferidas nos autos, às pessoas, de
um modo geral, sem antes constituir um mínimo de prova, pois corre um
enorme risco de arcar com as consequências de uma ação, na esfera criminal,
pelo cometimento de crime contra a honra.

14. Contudo, esclareça-se, Excelência, que o requerido não


tem a intenção em travar batalhas judiciais com a requerida, mas sentiu-se,
ante as infundadas acusações, no dever de defender a si e a sua família,
trazendo aos autos a sua versão, como maneira de demonstrar o seu esforço
em manter os laços matrimoniais que um dia jurou honrar durante toda uma
vida.

15. A verdade é que o requerido não desejava o divórcio, e


sempre fez o possível para contentar a requerente e fazer suas vontades,
mesmo com o pouco que tinha; esforço esse em vão já que a requerente, por
sua vez, nunca demonstrou reciprocidade de sentimentos e nem mesmo
reconheceu quaisquer investidas do requerido em agradá-la.

16. Prova disso é que o requerido, para casar com a


requerente, viu-se obrigado por ela a financiar um imóvel, assumindo, desde o
início, o pagamento do total das parcelas, o que fez através da ajuda e boa
vontade de entes familiares - já que a requerente nunca trabalhou, e,
portanto, nunca teve meios de assumir a metade dos valores das parcelas.

17. Todavia, ao invés de reconhecer os esforços do requerido -


após o enlace matrimonial, diante das enormes dificuldades financeiras
enfrentadas pelo casal, agravadas ainda pelo desemprego de ambos - a
requerente passou a ofendê-lo constantemente com insinuações depreciativas
e xingamentos, além de, no fim da relação, não lhe dar quaisquer satisfações
acerca de seus passeios (inclusive noturnos), que, no mais, apenas serviam
para deixá-lo cada vez mais deprimido.

18. É de suma importância esclarecer, ainda, Excelência, que,


conforme se verifica da certidão anexa aos autos, o regime de casamento
adotado pelo casal fora o da comunhão universal de bens. Insta dizer que esta
fora a outra condição imposta pela requerente para aceitar o pedido de
casamento do requerido, que - pelo fato de gostar muito da requerente -
acabou, mesmo que a contragosto, submetendo-se a esta situação. Ora, tal
exigência feita pela requerente ao requerido, no mínimo, causa estranheza, já
que hoje em dia o regime de casamento adotado pelos casais é o da comunhão
parcial de bens (sic). No mais, desnecessário tecer maiores considerações a
esse respeito, para não tornar o embate enfadonho e cansativo.
19. Feitas as necessárias considerações, no intuito de
subsidiar o DD. Juízo acerca da real situação pela qual atravessou o
requerido, é que este passa a atacar os pontos em que as partes controvertem.

20. O casal possui em comum, um imóvel perfeitamente


descrito e caraterizado na matrícula de n° 122.538 do CRI local, cuja descrição
está contida da petição inicial, imóvel no qual atualmente reside a requerente
e o filho do casal, conforme o acordado na audiência de tentativa de
conciliação.

21. Contudo, é de suma importância esclarecer que o referido


imóvel encontra-se financiado pela Caixa Econômica Federal, cujo contrato de
financiamento é o de n° 1.5555.0200.188-1 (conforme faz prova o recibo de
pagamento anexo), informação esta que, aliás, fora omitida pela requerente em
sua petição inicial. Vale ressaltar que, até a presente data, foram pagas
71/360 parcelas (restando ainda 289 parcelas a serem quitadas), num valor
total, a saldar, de aproximadamente R$ 49.964,95 (quarenta e nove mil,
novecentos e sessenta e quatro reais e noventa e cinco centavos), de acordo
com a projeção dos valores mencionados no contrato, e constantes do recibo
anexo. Destaque-se que tais valores vêm sendo pagos INTEGRALMENTE pelo
requerido.

22. Diante de tais fatos, o requerido requer a Vossa


Excelência: 1º) que seja decretada a partilha igualitária das prestações do
financiamento pagas até a separação de fato do casal, ocorrida em janeiro de
2016; 2º) após a separação de fato, todavia, requer, desde já, o requerido seja
declarada a cessação da comunicabilidade até então existente, para os
efeitos patrimoniais, devendo os valores pagos, a título de financiamento para
a constituição e administração do patrimônio em comum, bem como os
impostos a ele inerentes, ser partilhados na proporção da contribuição
realizada por cada cônjuge, por questão de justiça e razoabilidade, e apurados
em liquidação de sentença.

23. No que tange aos percentuais fixados, em sede de tutela


antecipada, para pagamento das prestações alimentares, o requerido informa
a Vossa Excelência que nada tem a opor em relação aos percentuais
arbitrados. Vale dizer que o requerido, inclusive, buscou realizar acordo com a
requerente no sentido de tornar definitivos os limites fixados pela decisão
judicial, o que não foi por ela aceito, por desejar, injustamente, o percebimento
de 01 (um) salário mínimo, com o qual o requerido não tem como arcar, pois,
como sabido, encontra-se desempregado.

24. Mais uma vez, abrindo um parêntese, é possível verificar a


ganância da requerente, que, mesmo residindo com o menor no imóvel
adquirido exclusivamente com recursos do requerido e ajuda de sua família,
sem se importar em pagar quaisquer despesas de financiamento, e sem pagar
quaisquer valores a título de alugueres ao requerido pelo usufruto do imóvel,
ainda assim, deseja mais, não se contentando com os percentuais arbitrados
judicialmente em sede liminar.

25. Por derradeiro, o requerido pleiteia a Vossa Excelência que


a entrega do menor, nos dias de visita, possa ser feita também a familiares
próximos e de confiança do mesmo, além da entrega a ele já concedida, tendo
como justificativa o fato de que está morando em local afastado da cidade,
sendo viável que pessoas próximas à criança, quais sejam, os avós paternos e
a tia/madrinha desta, possam dirigir-se até a residência da genitora para
buscá-la, entregando-a, logo em seguida, aos cuidados de seu pai. Vale dizer
que a requerente também fora irredutível em relação a esse pedido, sem
apresentar um justo motivo para a sua negativa.

26. No mais, demonstrado está que as alegações da autora são


descabidas e totalmente despropositais e, por isso, o requerido, desde já,
requer a TOTAL IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO.

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

- Do Bem Imóvel Financiado:

Com relação ao pedido de declaração da cessação da


comunicabilidade a partir da data da separação de fato, ocorrida em janeiro de
2016, para os efeitos patrimoniais, devendo os valores pagos, a título de
financiamento para a constituição e administração do patrimônio em comum,
ser partilhados na proporção da contribuição realizada por cada cônjuge, por
questão de justiça e razoabilidade, e apurados em liquidação de sentença,
tem-se abaixo o amparo dos seguintes julgados:

TJ-DF - APELAÇÃO CÍVEL APC 20050110166613 DF (TJ-DF). Data de


publicação: 04/09/2007. Ementa: PROCESSO CIVIL E CIVIL.
ALEGAÇÃO DE JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO CONFIGURADA.
PARTILHA DE BENS. REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL.
OBSERVÂNCIA À DATA DA SEPARAÇÃO DE FATO DO CASAL.
FINANCIAMENTO DO IMÓVEL. INCOMUNICABILIDADE DOS
VALORES PAGOS DE FORMA EXCLUSIVA POR UM DOS
CÔNJUGES. RAZOABILIDADE. 1. NÃO HÁ QUE SE FALAR EM
JULGAMENTO EXTRA PETITA QUANDO HÁ NÍTIDA CORRELAÇÃO
ENTRE A SENTENÇA E OS PEDIDOS E CAUSA DE PEDIR. 2.
DECRETADO O DIVÓRCIO, NADA MAIS JUSTO DETERMINAR A
PARTILHA DOS BENS AMEALHADOS NA CONSTÂNCIA DO
CASAMENTO SOB O REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL, ATÉ
MESMO PELA PRESUNÇÃO DE MÚTUO ESFORÇO PARA A
FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO. TODAVIA, A PARTIR DA
SEPARAÇÃO DE FATO DO CASAL, CESSA A COMUNICABILIDADE
ATÉ ENTÃO EXISTENTE, PARA OS EFEITOS DE DIREITOS
PATRIMONIAIS. 3. IN CASU, OS VALORES PAGOS, A TÍTULO DE
FINANCIAMENTO DO IMÓVEL DEVEM SER PARTILHADOS NA
PROPORÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO REALIZADA POR CADA
CÔNJUGE, REVELANDO-SE A ÉPOCA DA EFETIVA SEPARAÇÃO
DO CASAL, POR ELEMENTAR QUESTÃO DE JUSTIÇA E
RAZOABILIDADE. 4. APELO DA REQUERIDA PARCIALMENTE
PROVIDO. RECURSO ADESIVO DO REQUERENTE PREJUDICADO.
TJ-RS - Apelação Cível AC 70058222472 RS (TJ-RS) Data de
publicação: 07/02/2014. Ementa: DISSOLUÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS E DÍVIDAS. GUARDA
COMPARTILHADA. DESCABIMENTO. 1. A união estável é regida pelo
regime da comunhão parcial de bens, e, comprovada a entidade
familiar e sua ruptura, imperiosa a partilha igualitária de todos
os bens amealhados a título oneroso na constância da vida marital,
devendo a partilha contemplar os bens de propriedade do casal
existentes no momento da ruptura da vida conjugal, isto é, não podem
ser partilhados bens que estejam em nome de terceiros ou cuja
propriedade seja controvertida, nem bem que tenha sido alienado na
constância da vida marital. 3. Se o veículo Celta foi adquirido na
constância da união, correta a partilha igualitária das
prestações do financiamento pagas até a separação fática do
casal. 4. Considerando que a ré renunciou apenas aos bens móveis,
correta a divisão igualitária das dívidas contraídas na
constância da união e devidamente comprovadas nos autos. 5.
Estando a filha menor sob a guarda da genitora desde a separação do
casal, e se esta vem atendendo satisfatoriamente todas as suas
necessidades, então descabe estabelecer guarda compartilhada,
mormente pelo elevado grau de animosidade que cerca os genitores.
Recurso parcialmente provido. (Apelação Cível Nº 70058222472,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio
Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 03/02/2014).

Dessa maneira, a cessação da comunicabilidade é medida que


se impõe, tendo em vista que o requerido não pode arcar com o débito
contraído por conta do financiamento, enquanto a requerente dele usufrui sem
se obrigar ao pagamento de qualquer contraprestação.

- Dos Alimentos ao Filho Menor:

Os alimentos são fixados em proporção à necessidade do


alimentando e à possibilidade do alimentante, atentando-se para a condição
econômico-financeira das partes.

A obrigação de prestar alimento ao filho menor deriva do


poder/dever familiar e incumbe a ambos os genitores, devendo cada qual
contribuir na medida de sua capacidade.

Frise-se que o sustento do filho é responsabilidade de ambos


os genitores, e, nesse sentido, não há nenhuma justificativa plausível sobre
impossibilidade da autora em contribuir com a manutenção do menor, tendo
em vista ser uma pessoa saudável e jovem.

Assim, os alimentos devem ser fixados em quantidade que o


pai, ora requerido, suporte, tendo em vista sua condição atual de
DESEMPREGO, sendo certo que a quantia ora fixada deverá ser
complementada pela genitora, atendendo assim as necessidades do filho
menor.

No tocante à matéria ora examinada, o requerido apenas


busca ser amparado pelo que reza o ordenamento jurídico vigente, em seu
Código Civil Brasileiro/2002, conforme o que se transcreve a seguir:
“Art. 1694. (...)

§1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades


do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

Ainda nesse sentido, destaca-se o trecho produzido em meio


eletrônico de autoria de Rubens de Almeida Arbelli, o qual ensina que:

“Ao contrário do que muitos pensam, não existe uma regra aritmética
na fixação dos alimentos, estes variam de acordo com o princípio da
razoabilidade ou proporcionalidade, ou seja, os alimentos devem ser
fixados na proporção das necessidades de quem pede e das
possibilidades de quem deve. Este princípio está insculpido no
parágrafo primeiro do artigo 1.694 do novo Código Civil”. (ARBELLI,
Rubens de Almeida. A obrigação alimentícia dos ascendentes,
descendentes e colaterais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 28,
30/04/2006 [Internet].

Também invoca o requerido, em seu favor, o artigo 1.699 do


Código Civil Brasileiro/2002, que assim pronuncia:

“Art. 1699.Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na


situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe,
poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias,
exoneração, redução ou majoração do encargo”.

Ainda, o ordenamento jurídico atual é rico acerca do tema ora


tratado. Sobre o tema, traz-se a seguinte transcrição:

“Tratando-se de revisional de alimentos, necessária prova


inequívoca da alteração da possibilidade do alimentante e/ou
necessidade do alimentado”. (Parecer do Ministério Público do Estado
do Rio Grande do Norte, 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de
Parnamirim; proc. nº 1.485/02; Ação Revisional de Alimentos; Autor:
Sigismundo Ferreira da Silva; Réus: Steve Kruger Oliveira da Silva e
Maria Libiane Ferreira da Silva).

Ademais, é sabido que a Lei Maior impõe esforços de ambos os


pais no sustento dos filhos menores, cabendo mencionar que, no caso dos
autos, com a ocorrência do divórcio, a autora não ficou em nenhuma hipótese
desamparada e sem assistência, tendo em vista que, conforme já dito,
atualmente reside no imóvel de propriedade do casal. Nesse aspecto, há ainda
que se reforçar o argumento de que a autora não tem contribuído com
quaisquer valores para o pagamento das prestações mensais do financiamento
do imóvel. Também não pagará ao requerido quaisquer alugueres pelo
usufruto do patrimônio adquirido, pelos motivos acima salientados.

- Da Regulamentação das Visitas:

Como dito acima, o requerido pleiteia a Vossa Excelência que a


entrega do menor, nos dias de visita, possa ser feita também a familiares
próximos e de confiança do mesmo, além da entrega a ele já concedida, tendo
como justificativa o fato de que está morando em local afastado da cidade,
sendo viável que pessoas próximas à criança, quais sejam, os avós paternos e
a madrinha (tia), possam dirigir-se até a residência da genitora para buscá-la,
entregando-a, logo em seguida, aos cuidados de seu pai. Vale dizer que a
requerente também fora irredutível em relação a esse pedido, sem apresentar
um justo motivo para a sua negativa.

Com efeito, o direito de visita não é uma obrigatoriedade legal,


e sim uma responsabilidade dos pais quanto à questão afetiva e emocional da
criança e do adolescente. Nesse ínterim, o direito de visita deve ser realizado
espontaneamente, onde os pais devem estar cientes da importância de sua
presença na formação de seus filhos.

A doutrina pátria corrobora do seguinte entendimento:

“ (...) não são poucos os pais renitentes nas concessões de visitas,


tomando-as como meio exclusivo de satisfação íntima da outra parte,
contra a qual alimentam mágoas que reclamam compensação.
Transformam o direito em paixão e os filhos em instrumentos de
revide, cercando-lhes o contato e a comunicação efetivos. Os juizes
insistem na tentativa de os convencer da absoluta necessidade desse
intercurso. Quem lida com problemas psicológicos sabe que a
introdução da figura paterna ou materna, quando deficiente ou
precária, conduz a desajustamento na área da sexualidade”.(PELUSO,
1983: p. 30)

Dessa maneira, quando não se estabelece acordo entre os pais


durante o processo do estudo social, compete aos magistrados o julgamento
do regime do direito de visita, extensível aos parentes próximos, e a sua
regulamentação de acordo com o interesse e bem-estar da criança, levando em
consideração sua idade, seu relacionamento e afetividade.

Na verdade, a formação da criança e do adolescente depende


do diálogo estabelecido no âmbito familiar, o qual permite a compreensão
entre pais e filhos quanto as suas diferenças, resguardando os interesses e
direitos, com alternativas e soluções de seus problemas.

O pátrio poder será exercido, em igualdades de condições pelo pai e


pela mãe, na forma que dispuser a legislação cível, assegurado a
qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer a
autoridade judiciária competente para a resolução da divergência
(ECA Art. 21, p.15)

O Estatuto da Criança e do Adolescente proclama que o bem-


estar do menor deve sobrepujar a quaisquer outros interesses juridicamente
tutelados. Ressalte-se que o requerido vem cumprindo com todos os seus
deveres de pai, amparando a criança.

É bom lembrar que o objetivo da visita, dentre outros, é


fortalecer os laços de amizade entre pais e filhos, enfraquecidos pela separação
dos genitores, cabendo ao juiz interferir nessa regulamentação ou na guarda
dos filhos, quando houver desacordo entre os pais do menor. Nesse sentido:

ECA – MENOR – REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – PREVALÊNCIA


DE SEU INTERESSE. Não há regras rígidas para disciplinar o direito
de visita do pai ao filho, devendo sempre sobrelevar o interesse do
menor. A regulamentação de visitas do pai aos filhos menores deve
ser feita de modo adequado, em horário compatível aos seus
interesses (deles, menores). (Apelação Cível n° 000.258.503-2/00, 4ª
Câmara Cível do TJMG, Ubá, Rel. Des. Hyparco Immesi. j.
16.05.2002, un.).

Com efeito, na ausência de um acordo entre as partes quanto


à retirada do menor do lar materno para as visitas ao pai, e tendo em vista que
a falta de regulamentação sobre a questão, vem levando a excessos cometidos
pela requerente, a fixação de parâmetros ao exercício do direito de visita
paterno, extensível aos familiares próximos, mostra-se indispensável, para que
o interesse e bem-estar do menor não seja, de modo algum, afetado.

Portanto, a tese levantada pelo requerido encontra amparo


legal, jurisprudencial e doutrinário, sendo legítima e necessária, merecendo,
pois, a proteção da tutela jurisdicional do Estado.

IV. DO PEDIDO:

Diante do exposto e por tudo o mais que dos autos consta, na


certeza de ter justificado os motivos pelos quais a ação deverá ser julgada
improcedente, o requerido requer a Vossa Excelência:

a) a intervenção do Digníssimo Representante do Ministério Público, em


conformidade com a lei processual, para que se manifeste a respeito;

b) a concessão dos benefícios da gratuidade da Justiça, uma vez que o


requerido é pessoa pobre na acepção jurídica da palavra, conforme prescreve a
lei nos incisos XXXV e LXXIV do artigo 5º, da Constituição Federal, e artigos
98 a 102 do Novo Código de Processo Civil;

c) o acolhimento desta contestação, com a TOTAL IMPROCEDÊNCIA da


petição inicial, ressalvados e homologados os termos da conciliação parcial a
que as partes chegaram em audiência, para que:

1º) seja decretada a partilha igualitária das prestações do financiamento pagas


até a separação de fato do casal, ocorrida em janeiro de 2016;

2º) seja declarada a cessação da comunicabilidade, após a separação de fato,


até então existente, para os efeitos patrimoniais, devendo os valores pagos, a
título de financiamento para a constituição e administração do patrimônio em
comum, bem como os impostos a ele inerentes, ser partilhados na proporção
da contribuição realizada por cada cônjuge, por questão de justiça e
razoabilidade, e apurados em liquidação de sentença;

3º) seja reconhecida a escusa legítima do requerido, ante as suas dificuldades


financeiras anteriormente declinadas, ficando ele desobrigado do pagamento
da pensão nos moldes pretendidos pela requerente, devendo, ao final, ser
confirmada a medida liminar, para o fim de fixar a prestação alimentícia no
limite de 30% dos rendimentos líquidos do requerido (= rendimentos brutos
subtraídos somente os descontos obrigatórios como imposto de renda,
previdência social e FGTS) inclusive sobre 13º salário, férias, horas extras e
demais verbas remuneratórias, e com a exclusão de eventuais verbas de
caráter indenizatório, caso esteja ele empregado, com registro em carteira, e
50% (cinquenta por cento) do salário mínimo vigente, caso o requerido esteja
desempregado ou exercendo atividade informal;

4º) que a entrega do menor pela requerente, nos dias de visita, possa ser feita
também aos familiares próximos e de confiança do requerido, quais sejam, os
avós paternos e a tia/madrinha da criança, além da entrega a ele já
concedida;

d) a aplicação do instituto da compensação de valores, caso necessário;

e) ao final, seja expedido o competente formal de partilha do bem objeto da


lide, bem como, a expedição do mandado de averbação junto ao Oficial de
Registro Civil competente;

f) seja aplicado o disposto no art. 347 do Novo Código de Processo Civil;

g) seja permitido ao Sr. Oficial de Justiça, o cumprimento das diligências em


que for encarregado, com as prerrogativas do art. 212, § 2º do Novo Código de
Processo Civil;

h) seja decretada a condenação da requerente ao ônus de sucumbência e


demais despesas processuais, inclusive, honorários advocatícios, esse último
segundo o prudente arbítrio de Vossa Excelência;

i) Protesta e requer o requerido pela produção de todas as provas em Direito


admitidas, sem exceção, que se fizerem necessárias ao desate da lide;

j) Por fim, requer que todas as publicações referentes a este processo sejam
divulgadas na imprensa oficial em nome dos advogados: Rosangela Graziele
Gallo (OAB/SP n° 247.867), Kamila Fabiano Rodrigues (OAB/SP n.º 259.180),
Izadora Regina Struziato Fontana (OAB/SP n° 323.553) e Lauro Teixeira
Cotrim (OAB/SP n° 107.701);

Termos em que, pede deferimento.

São Carlos, 12 de maio de 2016.

ROSANGELA GRAZIELE GALLO


OAB/SP n° 247.867

KAMILA FABIANO RODRIGUES


OAB/SP nº 259.180

IZADORA REGINA STRUZIATO FONTANA


OAB/SP nº 323.553
LAURO TEIXEIRA COTRIM
OAB/SP n° 107.701

Você também pode gostar