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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _VARA CÍVEL DA

CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF.


(pular 5 linhas)
NOME COMPLETO, brasileiro, estado civil, profissã o, filiaçã o, portador do RG n. SSP/XX e
inscrito no CPF sob o nº XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado no endereço, bairro,
cidade, estado, CEP, telefone (61) XXXX-XXXX, com correio eletrô nico, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de sua advogada, com
procuraçã o em anexo, fundamentada no artigo 319 do Có digo de Processo Civil, propor a
presente
AÇÃO DE RESOLUÇÃO CONTRATUAL COM A RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS
em face das empresas NOME COMPLETO, com sede na Capital de Sã o Paulo, localizada no
endereço, nº XXX, CEP, bairro, cidade, estado, telefone (11) XXXX-XXXX, com correio
eletrô nico, inscrita no CNPJ/MF sob o nº XX.XXX.XXX/0001-XX e na Junta Comercial do
Estado de Sã o Paulo sob o NIRE nº XX.XXX.XXX.XXX e NOME COMPLETO, com sede na
Capital de Sã o Paulo, localizada no endereço, nº, CEP, bairro, cidade, estado, telefone (11)
XXXX-XXX, com correio eletrô nico, inscrita no CNPJ/MF sob o nº XX.XXX.XXX/0001-XX e na
Junta Comercial do Estado de Sã o Paulo sob o NIRE nº XX.XXX.XXX.XXX, pelas razõ es de fato
e de direito a seguir aduzidas
I. DOS FATOS
O promitente comprador NOME COMPLETO (PARTE AUTORA) adquiriu um imó vel na
planta da promitente VENDEDORA da empresa NOME COMPLETO (PRIMEIRA
REQUERIDA), bem como da empresa NOME COMPLETO (SEGUNDA REQUERIDA), na
qualidade de INCORPORADORA conforme có pia do contrato de promessa de compra e
venda anexado nos autos.
O imó vel sobre o qual foi desenvolvido o empreendimento foi adquirido em 10 de outubro
de 2010, de forma parcelada, com data prevista para início da entrega das unidades em 01
de março de 2013. O apartamento está localizado no endereço, bairro, Brasília - DF, CEP. O
empreendimento é composto por quatro blocos, possuindo 270 unidades residenciais.
A unidade residencial adquirida pelo COMPRADOR foi a de numeraçã o D505 com á rea
construída de 83,00 m², nos termos do Memorial de Incorporaçã o e Convençã o do
Condomínio, registrado no Cartó rio do Xº Ofício do Registro de Imó veis do Distrito Federal,
recebendo este empreendimento a matrícula nº xxx.
Em que pese todos os esforços do requerente em cumprir sua obrigaçã o contratual alguns
motivos de ordem financeira fizeram com o mesmo nã o tivesse condiçõ es de continuar
adimplindo as parcelas da compra do imó vel, principalmente diante da crise financeira que
abalou o país nesse período, piorando consideravelmente sua situaçã o financeira.
Assim, diante da falta de pagamento das prestaçõ es relativas a compra do imó vel em
questã o, o autor recebeu uma notificaçã o extrajudicial, em 10 de dezembro de 2017,
informando-o sobre a rescisã o do contrato de promessa de compra e venda, conforme
documento anexado.
Neste documento foi solicitado ao requerente uma conta bancá ria para devoluçã o dos
valores pagos relativos ao contrato, bem como o agendamento para a assinatura do
instrumento particular e quitaçã o.
Frise-se que o autor atendeu prontamente à s solicitaçõ es, porém esse encontro nunca
ocorreu, como também nunca houve qualquer depó sito do valor correspondente aos
pagamentos realizados em sua conta.
Conforme a tabela fornecida pelas empresas rés, em anexo, o autor realizou o pagamento
de vá rias parcelas do contrato totalizando o valor de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil
reais).
Contudo, esse valor merece ser atualizado, conforme a tabela descriminada abaixo,
totalizando um valor de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais).
Cumpre informar que, o contrato de promessa de compra e venda foi rescindido por parte
das empresas requeridas, sob o fundamento de inadimplência das parcelas referentes a
compra do imó vel, devendo a parte requerente ser ressarcido dos valores já pagos.
Reconhecendo a necessidade de reembolso das parcelas já pagas, o autor, em 12 de março
de 2018, recebeu um outro documento assinado pelas requeridas formalizando a rescisã o
do contrato de promessa de compra e venda do imó vel, conforme documento em anexo.
Neste instrumento particular de distrato visando a quitaçã o, formulado pelas requeridas, a
parte autora aceitava a título de devoluçã o de parte da quantia pagas, o valor de R$
50.200,00 (cinquenta mil e duzentos reais e setenta), em três parcelas, vencendo a primeira
em 26/04/2018 e, as seguintes em 26/05/2018 e 26/06/2018. Como consta no
documento, os valores deveriam ser depositados em conta corrente, o que nã o ocorreu.
Nã o bastasse o transtorno ocasionado pela situaçã o fá tica e passado este longo período, a
parte autora sem receber qualquer depó sito por parte das requeridas nas datas firmadas,
tentou, ainda, por inú meras vezes estabelecer contato com as empresas por e-mail, a fim de
que fosse cumprido o acordo extrajudicial firmado entre as partes. Mas, apó s essas
tentativas, a parte requerente percebeu que as requeridas nã o tinham a intençã o de
ressarci-lo de forma amigá vel, tendo entã o que recorrer ao Poder Judiciá rio, submetendo
essa questã o à apreciaçã o deste Douto Juízo em busca da restituiçã o dos valores pagos e o
que lhe sã o devidos.
II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
A parte autora é pessoa pobre na acepçã o do termo e nã o possui condiçõ es financeiras para
arcar com as custas processuais e honorá rios advocatícios sem prejuízo do pró prio
sustento, razã o pela qual desde já requer o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados
pela Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, in verbis:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas,
as despesas processuais e os honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do novo CPC/2015, o pedido
de gratuidade da justiça pode ser formulado por petiçã o simples e durante o curso do
processo, tendo em vista a possibilidade de se requerer em qualquer tempo e grau de
jurisdiçã o os benefícios da justiça gratuita, ante a alteraçã o do status econô mico.
Para tal benefício, parte Autora junta declaraçã o de hipossuficiência e comprovante de
renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judiciais sem
comprometer sua subsistência, conforme clara redaçã o do Có digo de Processo Civil de
2015:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petiçã o, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus, parte Autora, ao
benefício da gratuidade de justiça:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE
FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa que
milita em prol da autora que alega pobreza. Benefício que não pode ser recusado de plano sem fundadas razões.
Ausência de indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e despesas sem prejuízo do próprio
sustento e o de sua família. Recurso provido. (TJ-SP 22234254820178260000 SP 2223425-48.2017.8.26.0000,
Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento: 17/01/2018, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
17/01/2018)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a inexistência de elementos que evidenciem a falta
dos pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça. Recurso provido. (TJ-SP
22259076620178260000 SP 2225907-66.2017.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, 22ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 07/12/2017)

A assistência de advogado particular nã o pode ser parâ metro ao indeferimento do pedido:


AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA.
COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS PRESENTES. 1. Incumbe ao Magistrado aferir os
elementos do caso concreto para conceder o benefício da gratuidade de justiça aos cidadãos que dele
efetivamente necessitem para acessar o Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de
hipossuficiência. 2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, não há impedimento para a concessão do benefício de
gratuidade de Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de advogado particular. 3. O pagamento inicial
de valor relevante, relativo ao contrato de compra e venda objeto da demanda, não é, por si só, suficiente para
comprovar que a parte possua remuneração elevada ou situação financeira abastada. 4. No caso dos autos, extrai-
se que há dados capazes de demonstrar que o Agravante, não dispõe, no momento, de condições de arcar com as
despesas do processo sem desfalcar a sua própria subsistência. 4. Recurso conhecido e provido. (TJ-DF
07139888520178070000 DF 0713988-85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2018)

Assim, considerando a demonstraçã o inequívoca da necessidade da parte Autora, tem-se


por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao benefício.
Cabe destacar que o a lei nã o exige atestada miserabilidade do requerente, sendo suficiente
a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorá rios
advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:
"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou
faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com boa renda mensal, seja merecedora do
benefício, e que também o seja aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter
acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus
bens, liquidando-os para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria
de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razõ es, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituiçã o Federal e pelo artigo 98 do
CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça parte Autora.
B. DA APLICAÇÃO DO CDC
A parte autora adquiriu o imó vel na planta, com intençã o ser esse imó vel a sua futura
moradia. Mas, com o passar do tempo, a parte autora nã o teve condiçõ es de arcar com as
prestaçõ es. Diante disso, houve a rescisã o do contrato por inadimplência do adquirente, o
que é possível no nosso ordenamento jurídico. Contudo, diante desse rompimento
contratual, e pela clá usula específica em contrato, o que se esperava pela parte requerente
era a devoluçã o daquelas prestaçõ es já pagas, com retençã o de 10% (dez por cento) a título
de ressarcir os gastos da incorporadora.
Diante da compra e venda do imó vel na planta, realizada entre as partes, configura uma
relaçã o de consumo propriamente dita, sendo disciplinada pelo Có digo de Defesa do
Consumidor – CDC, que dispõ e em seus arts. 2º e 3º, estabelecem, ainda, em seu art. 6º, VIII,
a inversã o do ô nus, com a finalidade de atribuir uma maior proteçã o ao consumidor e
facilitar o acesso à justiça, in verbis:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo.

Nos termos do art. 3º do Có digo de Defesa do Consumidor:


Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Art. 6º Sã o direitos bá sicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
(...)

No caso dos autos, a relaçã o existente entre as partes é regulada pelo Có digo de Defesa do
Consumidor, tendo em vista a qualidade de consumidora da requerente ( CDC, art. 2º) e de
fornecedora de produto da requerida ( CDC, art. 3º).
Assim, como a resoluçã o é de um contrato de promessa de compra e venda firmado entre
as partes a parte requerente visa com a presente demanda a devoluçã o do valor das
prestaçõ es pagas, aplicando o Có digo de Defesa do Consumidor, devendo a parte autora
maior proteçã o por ser a parte mais vulnerá vel e hipossuficiente dessa relaçã o.
C. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Com o intuito de garantir o equilíbrio dessa relaçã o de consumo existente entre o
consumidor e o vendedor/fornecedor de serviço ou produto, devido a sua natural
vulnerabilidade daquele em face deste, foi estabelecido meios e mecanismos legais para
que o consumidor possa se beneficiar da inversã o do ô nus garantindo a defensa dos seus
direitos.
Ainda, na Carta Maior é assegurada a proteçã o ao consumidor, devido a sua
hipossuficiência técnica e financeira diante do fornecedor, conforme está disposto em seu
artigo 5º, XXXII e, artigo 170, V, vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...)
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
(...)

Resta claro, no caso em comento, a relaçã o de consumo entre o promitente autor


(promitente comprador) e das empresas rés (promitente vendedor), de modo que o
consumidor requer a inversã o do ô nus probató rio, dada a vulnerabilidade dele em face das
empresas/vendedoras.
D. DA RESCISÃO DO CONTRATO POR CULPA DO COMPRADOR – DEVOLUÇÃO
IMEDIATA DOS VALORES PAGOS
Ainda há que se falar que o ordenamento jurídico prevê a possibilidade de rescisã o do
contrato de promessa de compra e venda de imó vel na planta seja por culpa do comprador,
seja por culpa da construtora/incorporadora.
Há entendimento, nesta mesma esteira, que o comprador pode solicitar o distrato de
compra e venda do imó vel, ainda na planta e a qualquer tempo antes da entrega das chaves,
e em caso de inadimplência das parcelas do financiamento do imó vel o direito de rescisã o é
dado a empresa, com devoluçã o imediata das parcelas pagas pelo promitente comprador, a
fim de que nã o haja enriquecimento ilícito por parte da vendedora.
O Có digo de Defesa do Consumidor – CDC proíbe o confisco dos valores pagos, tendo o
adquirente o direito de reaver os valores pagos, mesmo que este esteja inadimplente.
Diante disso, o valor deve ser restituído ao autor, respeitando ainda o que dispõ e o artigo
53 do Có digo de Defesa do Consumidor, vejamos:
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como
nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a
perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução
do contrato e a retomada do produto alienado.

E, ainda segundo o STJ, apó s as repetidas demandas envolvendo a compra e venda de


imó vel, a 2ª seçã o editou a sú mula 543, em 26/08/2015, regulamentando como deve ser a
decisã o judicial sobre a rescisã o nos contratos de compra e venda de imó veis. A propó sito,
veja-se:
“Súmula nº 543 do STJ - Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel
submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo
promitente comprador – integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou
parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento”.

Ainda, a Corte Superior fixa o percentual de retençã o em 10% dos valores pagos, conforme
se vê das razõ es abaixo:
(...) O percentual de retenção estabelecido pela sentença (10% dos valores recebidos pela requerida) afigura-se
adequado, pois cobre suficientemente as despesas administrativas do contrato e não prejudica sobremaneira o
adquirente. A despeito, pois, da insurgência da ré, não vejo como elevar ainda mais o percentual de retenção a
que faz jus. O montante, como visto, coaduna-se com a jurisprudência deste Tribunal acerca do tema, e serve de
maneira suficiente ao custeio das despesas da alienante com a venda. (e-STJ, fls. 483)

Neste sentido, a Corte Superior assentou o entendimento no REsp 1132943 de que é


abusiva e ilegal a clá usula de distrato decorrente de compra e venda de imó veis que prevê a
retençã o integral ou substancial das parcelas pagas pelo adquirente, por configurar
vantagem exagerada do fornecedor.
Respeitá veis precedentes jurisprudenciais nã o destoam desse raciocínio ora perfilhado,
senã o vejamos:
CIVIL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. RESCISÃO. DEVOLUÇÃO DE PARCELAS PAGAS. PROPORCIONALIDADE. CC,
ART. 924. I - A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça está hoje pacificada no sentido de que, em caso de
extinção de contrato de promessa de compra e venda, inclusive por inadimplência justificada do devedor, o
contrato pode prever a perda de parte das prestações pagas, a título de indenização da promitente vendedora
com as despesas decorrentes do próprio negócio, tendo sido estipulado, para a maioria dos casos, o quantitativo
de 10% (dez por cento) das prestações pagas como sendo o percentual adequado para esse fim. II - E tranquilo,
também, o entendimento no sentido de que, se o contrato estipula quantia maior, cabe ao juiz, no uso do
permissivo do art. 924 do Código Civil, fazer a necessária adequação”. (STJ; AgRg no REsp nº 244.625/SP; Relator
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro; Julgado em 9/9/01).
CIVIL. DIREITO CIVIL, IMOBILIÁRIO E DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.
ARREPENDIMENTO DOS ADQUIRENTES. RESCISÃO. CONSEQUÊNCIA. CLÁUSULA PENAL. RETENÇÃO. PARCELAS DO
PREÇO. ADIMPLEMENTO NO CURSO DO NEGÓCIO. DEVOLUÇÃO. IMPERATIVO LEGAL. DECOTE DE DESPESAS
ADMINISTRATIVAS. POSSIBILIDADE. CLÁUSULA PENAL. MODULAÇÃO. COMISSÃO DE CORRETAGEM.
RESSARCIMENTO. PRETENSÃO. PRESCRIÇÃO. PRAZO TRIENAL. PRETENSÃO VOLVIDA A RESSARCIMENTO DE
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA ( CC, ART. 206, § 3º, INCISO IV). PRAZO. TERMO A QUO. DATA DO PAGAMENTO
INDEVIDO. IMPLEMENTO. AFIRMAÇÃO. TESE FIRMADA PELO STJ SOB O FORMATO DO ARTIGO 1040 CPC/2015)
(REsp nº 1.551.956-SP). APELAÇÃO. DESPROVIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS RECURSAIS.
MAJORAÇÃO DA VERBA ORIGINALMENTE FIXADA. APELO FORMULADO SOB A ÉGIDE DA NOVA CODIFICAÇÃO
PROCESSUAL CIVIL ( NCPC, ART. 85, §§ 2º E 11).
1. A promessa de compra e venda de imóvel em construção que enlaça em seus vértices pessoa jurídica cujo
objeto social está destinado à construção e incorporação de imóvel inserido em empreendimento imobiliário e
pessoa física destinatária final de apartamento negociado qualifica-se como relação de consumo, pois se emoldura
linearmente na dicção dos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor, devendo os dissensos derivados do
negócios serem resolvidos à luz das premissas normativas firmados por esse estatuto legal.
2. O efeito imediato da rescisão do compromisso de compra e venda motivada por iniciativa do promitente
comprador no exercício do arrependimento ínsito ao negócio é a restituição dos contratantes ao estado em que
se encontravam antes da entabulação do negócio, modulados os efeitos do distrato em conformidade com a
inadimplência do adquirente, que ensejara a frustração do negócio, determinando que seja responsabilizado por
eventuais prejuízos advindos de sua conduta ao alienante.
3. De acordo com o preceituado pelo artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor, são nulas de pleno
direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam
obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em franca desvantagem ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou equidade, presumindo-se exagerada, na forma do disposto no § 1º, inciso III, desse mesmo dispositivo, a
vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
4. O STJ, sob a ótica da legislação de consumo, há muito firmara entendimento segundo o qual o
compromissário comprador de imóvel que não mais reúne condições econômicas de suportar os encargos do
contrato tem o direito de rescindir o contrato, sendo legítima a retenção de parte do valor pago a título de
despesas administrativas realizadas pela promitente vendedora em percentual oscilante entre 10% e 25% do
valor pago, o qual deverá ser fixado à luz das circunstâncias do caso, sendo legítimo ao Juiz agastar o percentual
contratualmente previsto quando se mostrar oneroso ou excessivo para o consumidor.
5. Rescindida a promessa de compra e venda antes da entrega do imóvel negociado e não tendo a construtora
experimentado outros prejuízos derivados da inadimplência além das despesas administrativas que tivera com a
formalização e distrato do contrato, a multa rescisória avençada em percentual incidente sobre as parcelas
integrantes do preço já pagasafigura-se onerosa e abusiva por vilipendiar a comutatividade do contrato e,
desvirtuando-se da sua destinação, transmudar-se em fonte de incremento patrimonial indevido, legitimando que
seja revisada e fixada em 10% do valor das prestações pagas pelo adquirente.
6. A modulação dos efeitos da rescisão da promessa de compra e venda por ter emergido da desistência culposa
do promissário adquirente consubstancia simples consequência do desfazimento do negócio, estando debitado
ao juiz o dever de, aferindo a excessividade da cláusula penal, revê-la até mesmo de ofício, pois, afinado com os
princípios da boa-fé objetiva e com a função social do contrato que se qualificam como nortes da novel
codificação, o novel legislador civil estabelecera a mitigação da cláusula penal como medida imperativa, e não
como faculdade ou possibilidade ( CC, art. 413).
7. Emergindo a pretensão de repetição de valor da alegação de que o promissário comprador fora instado a verter,
no momento da contratação, importes aos quais não estava obrigado, à medida que, segundo defendido, a
comissão de corretagem proveniente da intermediação do negócio deveria ser suportada pela promissária
vendedora, que, transmitindo-a ao adquirente, experimentara locupletamento indevido, está sujeita ao prazo
prescricional trienal por se emoldurar linearmente na preceituação inserta no artigo 206, § 3º, inciso IV, do Código
Civil.
8. O termo inicial do prazo prescricional da pretensão de ressarcimento do locupletamento indevido é a data em
que houvera o alegado desembolso indevido, pois traduz e consubstancia o momento em que houvera a violação
ao direito daquele que vertera o importe de forma indevida, determinando a germinação da pretensão, ainda que
tenha o vertido derivado de promessa de compra e venda, pois o reembolso do indevidamente despendido não
guarda nenhuma vinculação ou dependência quanto às obrigações derivadas do contrato.
9. A pretensão somente germina com a violação do direito, consoante emerge da teoria da actio nata que restara
incorporada pelo legislador civil ( CC, art. 189), resultando que, ocorrido o dispêndio reputado indevido, resultando
em incremento patrimonial desguarnecido de causa legítima por parte daquele ao qual fora destinado, a
prescrição do prazo para aviamento da ação destinada à perseguição do reembolso do vertido se inicia no
momento em que houvera o desembolso, pois traduz o momento em que houvera a violação do direito.
10. O Superior Tribunal de Justiça, no exercício da competência constitucional que lhe é assegurada de ditar a
derradeira palavra na exegese do direito federal infraconstitucional e velar pela uniformidade da sua aplicação,
firmara tese, sob a égide do procedimento do julgamento de recursos repetitivos ( CPC/1973, art. 543-C;
CPC/2015, art. 1040), no sentido de que incide a prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores
pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnica-imobiliária, ou atividade congênere,
nos termos do art. 206, § 3º, inciso IV, do Código Civil (REsp nº 1.551.956).
11. Considerando que a comissão de corretagem fora direcionada ao corretor que, fomentando o serviço que lhe
estava afetado, viabilizara o alcance do resultado intermediado, o montante vertido pelo promissário comprador
não integra o valor que lhe deve ser restituído em razão da desistência do compromisso de compra e venda,
porquanto prestados e exauridos, não podendo a comissão de corretagem ser assimilada como parte integrante
do montante despendido, pois vertida ao intermediário, e não à alienante, não podendo ser agregada à
composição devida aos promissários compradores.
12. Editada a sentença e aviados os apelos sob a égide da nova codificação processual civil, o desprovimento dos
apelos implica a majoração dos honorários advocatícios imputados à parte originalmente sucumbente e, ao
mesmo tempo, a fixação de honorários em seu favor em razão do desprovimento do apelo da parte contrária que
se sagrara originalmente vencedora, observado os limites e parâmetros para mensuração da verba ( NCPC, art. 85,
§§ 2º e 11).
13. O novo estatuto processual contemplara o instituto dos honorários sucumbenciais recursais, cuja imputação
demanda a apreensão do ocorrido na resolução do recurso, podendo sobejar, inclusive, situação em que,
conquanto vencedora sob a ótica do direito material, restara a apelante vencida no recurso que manejara, por ter
sido desprovido, determinando sua sujeição a verba honorária coadunada com os serviços desenvolvidos pelo
patrono da parte contrária após a edição da sentença ( NCPC, arts. 85, §§ 2º e 11).
14. Apelações conhecidas e desprovidas. Preliminar rejeitada. Maioria. Julgamento realizado na forma do artigo
942, § 1º, do NCPC. (TJDFT Acordão 1026002, 20150710176043APC, 0017165-48.2015.8.0007 – Res. 65 CNJ, 1ª
Turma Cível, Relator Hector Valverde, Relator Designado Teófilo Caetano. Publicado no DJE 14/07/2017. Pag.: 412-
433).
CIVIL. DIREITO CIVIL. CONTRATO DE PROMESS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO. DESISTÊNCIA.
CLÁUSULA PENAL SOBRE O VALOR PAGOS. TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA.
1 - Rescindido o contrato de promessa de compra e venda de imóvel por desistência do promitente comprador, as
partes retornam ao estado anterior. Os valores pagos devem ser restituídos com retenção do valor da cláusula
penal pelo promitente vendedor.
2 - A cláusula que estabelece a retenção de percentual sobre o valor total do contrato, abusiva, subtrai do
consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, colocando-o em desvantagem exagerada, em afronta aos
artigos 51, II, e 53, do CDC, aplicáveis à hipótese.
3 - A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se o valor for manifestamente excessivo, tendo em
vista a natureza e a finalidade do negócio (art. 413, CC).
4 - "Na hipótese de resolução contratual do compromisso de compra e venda por simples desistência dos
adquirentes, em que postulada, pelos autores, a restituição das parcelas pagas de forma diversa da cláusula penal
convencionada, os juros moratórios sobre as mesmas serão computados a partir do trânsito em julgado da
decisão." (REsp 2007/0199309-7, Min. Aldir Passarinho Jr., 2ª Seção, DJe 03/09/2008).5 - Apelação provida em
parte.
(TJDFT, Acórdão n.871924, 20140111295415APC, Relator: JAIR SOARES, Revisor: JOSÉ DIVINO, 6ª TURMA CÍVEL,
Data de Julgamento: 03/06/2015, Publicado no DJE: 09/06/2015. Pág.: 287).
DIREITO CIVIL, IMOBILIÁRIO E DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.
ARREPENDIMENTO DO ADQUIRENTE. RESCISÃO. MATERIALIZAÇÃO. CONSEQUÊNCIA. CLÁUSULA PENAL.
APLICAÇÃO. RETENÇÃO. PARCELAS DO PREÇO. ADIMPLIMENTO NO CURSO DO NEGÓCIO. DEVOLUÇÃO.
IMPERATIVO LEGAL. DECOTE DE DESPESAS ADMINISTRATIVAS. POSSIBILIDADE. DISPOSITIVO PENAL. MODULAÇÃO.
COMISSÃO DE CORRETAGEM. RESSARCIMENTO. PRETENSÃO. PRESCRIÇÃO. PRAZO TRIENAL. PRETENSÃO VOLVIDA
A RESSARCIMENTO DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA ( CC, ART. 206, § 3º, INCISO IV). PRAZO. TERMO A QUO.
DATA DO PAGAMENTO INDEVIDO. IMPLEMENTO. AFIRMAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. INCIDÊNCIA. TERMO
INICIAL. EFETIVO PREJUÍZO. DATA DO DISTRATO.
1. O efeito imediato da rescisão do compromisso de compra e venda motivada por iniciativa do promitente
comprador no exercício do arrependimento ínsito ao negócio é a restituição dos contratantes ao estado em que se
encontravam antes da entabulação do negócio, modulados os efeitos do distrato em conformidade com a
inadimplência do adquirente, que ensejara a frustração do negócio, determinando que seja responsabilizado por
eventuais prejuízos advindos de sua conduta ao alienante.
2. De acordo com o preceituado pelo artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor, são nulas de pleno
direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam
obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em franca desvantagem ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou equidade, presumindo-se exagerada, na forma do disposto no § 1º, inciso III, desse mesmo dispositivo, a
vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
3. O STJ, sob a ótica da legislação de consumo, há muito firmara entendimento segundo o qual o compromissário
comprador de imóvel que não mais reúne condições econômicas de suportar os encargos do contrato tem o
direito de rescindir o contrato, sendo legítima a retenção de parte do valor pago a título de despesas
administrativas realizadas pela promitente vendedora em percentual oscilante entre 10% e 25% do valor pago, o
qual deverá ser fixado à luz das circunstâncias do caso, sendo legítimo ao Juiz agastar o percentual
contratualmente previsto quando se mostrar oneroso ou excessivo para o consumidor.
4. Rescindida a promessa de compra e venda antes da conclusão e entrega do imóvel negociado e não tendo a
construtora experimentado outros prejuízos derivados da inadimplência além das despesas administrativas que
tivera com a formalização e distrato do contrato, a multa rescisória avençada em percentual incidente sobre o
valor do negócio afigura-se onerosa e abusiva por vilipendiar a comutatividade do contrato e, desvirtuando-se da
sua destinação, transmudar-se em fonte de incremento patrimonial indevido, legitimando que seja revisada e
fixada em 10% do valor das prestações efetivamente pagas pelo adquirente.
5. A modulação dos efeitos da rescisão da promessa de compra e venda por ter emergido da desistência culposa
do promissário adquirente consubstancia simples consequência do desfazimento do negócio, estando debitado ao
juiz o dever de, aferindo a excessividade da cláusula penal, revê-la até mesmo de ofício, pois, afinado com os
princípios da boa-fé objetiva e com a função social do contrato que se qualificam como nortes da novel
codificação, o novel legislador civil estabelecera a mitigação da cláusula penal como medida imperativa, e não
como faculdade ou possibilidade (NCC, art. 413).
6. Emergindo a pretensão de repetição de valor da alegação de que o promissário comprador fora instado a verter,
no momento da contratação, importes aos quais não estava obrigado, à medida que, segundo defendido, a
comissão de corretagem proveniente da intermediação do negócio deveria ser suportada pela promissária
vendedora, que, transmitindo-a ao adquirente, experimentara locupletamento indevido, está sujeita ao prazo
prescricional trienal por se emoldurar linearmente na preceituação inserta no artigo 206, § 3º, inciso IV, do Código
Civil.
7. O termo inicial do prazo prescricional da pretensão de ressarcimento do locupletamento indevido é a data em
que houvera o alegado desembolso indevido, pois traduz e consubstancia o momento em que houvera a violação
ao direito daquele que vertera o importe de forma indevida, determinando a germinação da pretensão, ainda que
tenha o vertido derivado de promessa de compra e venda, pois o reembolso do indevidamente despendido não
guarda nenhuma vinculação ou dependência quanto às obrigações derivadas do contrato.
8. A pretensão somente germina com a violação do direito, consoante emerge da teoria da actio nata que restara
incorporada pelo legislador civil ( CC, art. 189), resultando que, ocorrido o dispêndio reputado indevido, resultando
em incremento patrimonial desguarnecido de causa legítima por parte daquele ao qual fora destinado, a
prescrição do prazo para aviamento da ação destinada à perseguição do reembolso do vertido se inicia no
momento em que houvera o desembolso, pois traduz o momento em que houvera a violação do direito.
9. A atualização monetária se qualifica como simples instrumento destinado a assegurar a intangibilidade da
obrigação, resguardando sua identidade no tempo mediante o incremento do seu valor nominal com índice de
correção apurado desde que fora fixada e até sua efetiva liquidação ante sua sujeição à ação da inflação, que
redunda em mitigação da sua real e efetiva expressão pecuniária.
10. Apelações conhecidas e parcialmente providas. Unânime.
( Acórdão n.863288, 20130111573882APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 22/04/2015, Publicado no DJE: 05/05/2015. Pág.: 194).
DIREITO CIVIL, IMOBILIÁRIO E DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.
ARREPENDIMENTO DO ADQUIRENTE. RESCISÃO. CONSEQUÊNCIA. CLÁUSULA PENAL. PERCENTUAL DE PARCELAS
DO PREÇO. RETENÇÃO. ADIMPLIMENTO NO CURSO DO NEGÓCIO. DEVOLUÇÃO. IMPERATIVO LEGAL. FORMA.
PARCELA ÚNICA. CUMULAÇÃO COM RETENÇÃO DAS ARRAS. IMPOSSIBILIDADE. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. BIS IN
IDEM. COMISSÃO DE CORRETAGEM. PRETENSÃO DE REPETIÇÃO. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. PRAZO
PRESCRICIONAL. TRIENAL ( CC, ART 206, § 3º, IV). AÇÃO AJUIZADA APÓS O TRANSCURSO DO PRAZO
PRESCRICIONAL. RECONHECIMENTO. PEDIDO CONTRAPOSTO. RITO ORDINÁRIO. INADMISSIBILIDADE. AFIRMAÇÃO.
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO. AUSÊNCIA. PRECLUSÃO. RENOVAÇÃO DA ARGUIÇÃO EM APELAÇÃO. NÃO
CONHECIMENTO. ACOLHIMENTO PARCIAL DOS PEDIDOS. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PROPORÇÃO. MODULAÇÃO.
1.A entabulação de promessa de compra e venda com a previsão da satisfação de arras pelo promissário
adquirente enseja a incorporação ao negócio da possibilidade de arrependimento, resultando que, desistindo do
aperfeiçoamento da aquisição, sua manifestação, traduzindo inadimplemento contratual por frustrar a efetivação
do objeto almejado, determina a rescisão do contrato e legitima a retenção, pela promissária vendedora, das arras
vertidas, que, sob essa moldura, adquirem a natureza de arras penitenciais por punirem o adquirente pelo
arrependimento que manifestara ( CC, art. 420).
2.O efeito imediato da rescisão do compromisso de compra e venda motivada por iniciativa do promitente
comprador no exercício do arrependimento ínsito ao negócio é a restituição dos contratantes ao estado em que se
encontravam antes da entabulação do negócio, modulados os efeitos do distrato em conformidade com a
inadimplência do adquirente, que ensejara a frustração do negócio, traduzindo a repetição do que destinara ao
promitente vendedor, além das arras, corolário lógico e primário do desfazimento do contrato, não assistindo ao
alienante suporte para reter qualquer importância que lhe fora destinada além das arras vertidas.
3.As arras penitenciais destinam-se a compor os prejuízos inerentes ao arrependimento manifestado pelo
adquirente, não se afigurando juridicamente tolerável que, além da sua perda, o alienante, valendo-se de previsão
contratual, retenha qualquer importe que as extrapole a título de indenização, pois suficientes a esse desenlace e
diante da inferência de que a retenção consubstanciaria bis in idem, fomentando o locupletamento ilícito da
vendedora por auferir, sob essa moldura, dupla compensação motivada pelo mesmo fato jurídico - rescisão da
promessa de compra e venda motivada pela inadimplência do promissário adquirente.
4.De acordo com o preceituado pelo artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor, são nulas de pleno
direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam
obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em franca desvantagem ou seja, incompatíveis com a
boa-fé ou equidade, presumindo-se exagerada, na forma do disposto no § 1º, inciso III, desse mesmo dispositivo, a
vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
5.Emergindo a pretensão de repetição de valor da alegação de que o promissário comprador fora instado a verter,
no momento da contratação, importes aos quais não estava obrigado, à medida que, segundo defendido, a
comissão de corretagem proveniente da intermediação do negócio deveria ser suportada pela promissária
vendedora, que, transmitindo-as ao adquirente, experimentara locupletamento indevido, está sujeita ao prazo
prescricional trienal por se emoldurar linearmente na preceituação inserta no artigo 206, § 3º, inciso IV, do Código
Civil.
6.O termo inicial do prazo prescricional da pretensão de ressarcimento do locupletamento indevido é a data em
que houvera o alegado desembolso indevido, pois traduz e consubstancia o momento em que houvera a violação
ao direito daquele que vertera o importe de forma indevida, determinando a germinação da pretensão, ainda que
tenha o vertido derivado de promessa de compra e venda, pois o reembolso do indevidamente despendido não
guarda nenhuma vinculação ou dependência quanto às obrigações derivadas do contrato.
7.A pretensão somente germina com a violação do direito, consoante emerge da teoria da actio nata que restara
incorporada pelo legislador civil ( CC, art. 189), resultando que, ocorrido o dispêndio reputado indevido, resultando
em incremento patrimonial desguarnecido de causa legítima por parte daquele ao qual fora destinado, a
prescrição do prazo para aviamento da ação destinada à perseguição do reembolso do vertido se inicia no
momento em que houvera o desembolso, pois traduz o momento em que houvera a violação do direito.
8.O distrato do contrato de promessa de compra sob o prisma da desistência do promissário adquirente não obsta
nem encerra óbice para que, formalizado o distrato, resida em juízo com o escopo de debater as cláusulas
contratuais que nortearam o desfazimento do vínculo, notadamente a cláusula penal convencionada, à medida
que, conquanto resolvido o negócio, seus efeitos se irradiaram, legitimando que o convencionado seja debatido e,
se o caso, modulado, notadamente porque o eventual acolhimento da pretensão é passível de produzir o resultado
almejado no espectro fático.
9.O fato de as partes terem firmado distrato, pondo termo às obrigações assumidas no compromisso de compra e
venda anteriormente firmado, não retira do consumidor a possibilidade de discutir suas cláusulas, não havendo
que se falar em violação a ato jurídico perfeito, que é fruto de manifestação de vontade lícita, aperfeiçoado e
consumado de acordo com a lei vigente ao tempo em que se efetuou, tornando-se imune à incidência de nova
regulação legal, derivando que, tratando-se de negócio bilateral, e não sendo caso de superveniência de novel
legislação a irradiar efeitos sobre os seus termos, não há que se invocar proteção ao ato jurídico perfeito como
óbice ao exame das suas disposições.
10.A modulação dos efeitos da rescisão da promessa de compra e venda por ter emergido do inadimplemento
culposo do promissário adquirente consubstancia simples consequência do desfazimento do negócio, estando
debitado ao juiz o dever de, aferindo a abusividade da cláusula penal, revê-la até mesmo de ofício, pois, afinado
com os princípios da boa-fé objetiva e com a função social do contrato que qualificam-se como nortes da novel
codificação, o novel legislador civil estabelecera a mitigação da cláusula penal como medida imperativa, e não
como faculdade ou possibilidade (NCC, art. 413).
11.Rescindida a promessa de compra e venda por culpa do promissário adquirente, redundando na recuperação
dos direitos derivados da unidade negociada pela promitente vendedora, e modulados os efeitos da rescisão, a
previsão contratual que pontua que a devolução das parcelas vertidas pelo adquirente se dará de forma parcelada
caracterizara-se como iníqua e onerosa, vilipendia a comutatividade da avença e deixa o promitente comprador
em condição de inferioridade, desequilibrando a equação contratual e desprezando, em suma, o princípio que está
impregnado no arcabouço normativo brasileiro que assegura a igualdade de tratamento aos ajustantes e repugna
o locupletamento ilícito, determinando que seja infirmada e assegurada a imediata devolução, em parcela única,
do que ser repetido ao adquirente desistente (artigo 51, IV e parágrafo 1o, II e III).
12.O STJ, sob a ótica da legislação de consumo e em julgamento de recurso representativo de controvérsia
pacificou o seguinte entendimento segundo o qual: "Para efeitos do art. 543-C do CPC: Em contratos submetidos
ao Código de Defesa do Consumidor, é abusiva a cláusula contratual que determina a restituição dos valores
devidos somente ao término da obra ou de forma parcelada, na hipótese de resolução de contrato de promessa de
compra e venda de imóvel, por culpa de quaisquer contratantes. Em tais avenças, deve ocorrer a imediata
restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao
desfazimento."
13.Elucidada e refutada questão alusiva à inadmissibilidade de pedido contraposto em sede de contestação
aduzida no bojo de ação cognitiva submetida ao procedimento comum ordinário através de decisão interlocutória
acobertada pela preclusão, a questão, restando definitivamente resolvida, é impassível de ser reprisada na
apelação, uma vez que o instituto da preclusão, afinado com o objetivo teleológico do processo, resguarda que
marche rumo à resolução do conflito de interesses que faz seu objeto, impedindo a renovação de matérias já
decididas ( CPC, art. 473).
14.Apurado que o autor sagrara-se vencedor em mais da metade das pretensões formuladas, agregado ao fato de
que a pretensão condenatória aviada pela parte ré restara refutada por ter sido formulada sob a forma de pedido
contraposto, essa resolução implica o reconhecimento da sucumbência parcial, devendo cada parte arcar com os
ônus sucumbenciais na proporção de seu decaimento, a fim de serem conformados ao preceituado pelo legislador
processual ( CPC, art. 21).
15.Apelação do autor conhecida e parcialmente provida. Apelação da ré parcialmente conhecida e, nessa parte,
desprovida. Maioria. (TJDFT, Acórdão n.782849, 20130110486766APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, Revisor:
SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 09/04/2014, Publicado no DJE: 05/05/2014. Pág.: 131).

Conclui-se que é devido ao autor o ressarcimento dos valores das parcelas já pagas
referente ao contrato de promessa de compra e venda pactuado com as rés, mesmo em
caso de rescisã o do contrato por culpa exclusiva do comprador, sendo possível à
construtora ou incorporadora reter somente a parte do valor pago para ressarcir as
despesas administrativas.
E. DA CLÁUSULA PENAL ESTABELECIDA EM CONTRATO
O percentual do que foi pago pelo adquirente a ser restituído pela incorporadora nos casos
de distrato e resoluçõ es é o limite da clá usula penal compensató ria, conforme acordo
pactuado entre as partes, anexado, na Clá usula 12, pará grafo § 1º.
O percentual de retençã o que consta no contrato de promessa de compra e venda assinado
por ambas as partes foi de 10% (dez por cento) dos valores pagos, a título de
ressarcimento pelo adimplemento e resoluçã o do contrato.
Tratando especificamente do quantum a ser restituído ao promitente comprador, o art. 67-
A da Lei 4.591/1964 estabelece, como regra geral, tanto nos casos de resoluçã o por
inadimplemento quanto nos casos de distrato, que a clá usula penal compensató ria nã o
pode ser maior que 25% das quantias pagas devidamente atualizadas pelo mesmo índice
do contrato.
As alteraçõ es decorrentes da Lei 13.786/2018 nã o deve alcançar essa demanda, já que há
um contrato anterior norteando as obrigaçõ es recíprocas e como será o procedimento no
caso de desfazimento do contrato por inadimplência do adquirente ou por atraso de
entrega do imó vel pela incorporadora.
Ressalte-se que a clá usula penal firmada entre a parte requerente e parte requerida em
contrato é de retençã o de 10% (dez por cento) dos valores pagos como forma de ressarcir
os eventuais gastos da incorporadora decorrentes do empreendimento, chamada de
clá usula penal.
Assim, a restituiçã o, ao promitente comprador foi avençada em clá usula específica, pelas
partes, das quantias pagas.
Deveras, a base de cá lculo, para do total extrair os descontos, é a somató ria dos valores
pagos diretamente ao incorporador, atualizados desde cada desembolso pelo mesmo índice
contratual.
F. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
Manifesta-se a parte autora sobre seu interesse na realizaçã o de audiência de conciliaçã o
ou mediaçã o, nos termos do art. 319, VII do CPC.
III. DOS PEDIDOS
Diante de tais circunstâ ncias, o autor passou a ter o direito de receber os valores pagos
referente as prestaçõ es da compra do imó vel e nã o ressarcidas, e nã o encontrando outra
saída para reaver os valores pagos indevidamente, vem à presença de V. Exa. para requerer
o deferimento de todos os pedidos que se seguem.
Isto posto, o autor vem à presença de Vossa Excelência para requerer:
A) A total procedência dos pedidos, com a resoluçã o do contrato de promessa de compra e
venda entre as partes e, ainda, condenar as rés a restituir os valores das prestaçõ es pagas,
totalizando um valor de R$ XX (XX mil reais), conforme tabela anexada com os valores
corrigidos monetariamente;
B) Fixar a retençã o de 10% (dez por cento) do valor pago a título de clá usula penal
conforme pactuado pelas partes, conforme a clá usula 12, § 1º do contrato de promessa de
compra e venda;
C) A inversã o do ô nus da prova, conforme o art. 6º, inciso VIII, do Có digo de Defesa do
Consumidor, devido a relaçã o consumerista entre as partes, com a finalidade de atribuir
uma maior proteçã o ao consumidor/autor e facilitar o acesso à justiça;
D) A citaçã o das Rés para, querendo, comparecerem à audiência de conciliaçã o, nos termos
do art. 319, VII do CPC, na qual a parte autora concorda em participar, e responderem no
prazo legal, sob pena de sofrer os efeitos da revelia;
E) O cadastramento da advogada subscritora da presente, para recebimento de futuras
publicaçõ es;
F) A concessã o do benefício da justiça gratuita, por ser a parte autora pessoa sem condiçõ es
de arcar com as custas, honorá rios advocatícios e demais despesas processuais, sem
prejuízo ao sustento pró prio e de sua família, consoante declaraçã o anexa;
G) A condenaçã o das rés ao pagamento das custas e demais despesas processuais, bem
como dos honorá rios advocatícios no importe de até 20% do valor da causa.
Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,
especialmente pelos documentos juntados e pelo depoimento pessoal das partes.
Dá -se a causa o valor de R$ XX (XX reais), nos termos do inciso II do artigo 292 do Novo
Có digo de Processo Civil.
Termos em que pede deferimento.
Brasília/DF, DATA.
_____________________________________
ADVOGADO
OAB/DF
Petição elaborada pela Dra. Taysa Dornfeld de A. Mendes. Elaboro peças cíveis para o
seu caso concreto, sob medida e com pontualidade. (contato@direitoremoto.com)

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