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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO PARANOÁ, BRASÍLIA/DF.

Processo n.º 0700862-31.2023.8.07.0008

LUCIMARA MARQUES SILVA, já qualificada nos autos do processo em epígrafe na condição de


Requerida, por intermédio dos advogados subscritores, vem apresentar CONTESTAÇÃO, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos.

I. DA TEMPESTIVIDADE

Saliente-se, desde já, a tempestividade da presente Contestação. Certificada a audiência de conciliação (id.
168489969), começou a fluir o prazo de 15 (quinze) dias para apresentação da Defesa/Contestação.

Interposto, dies ad quem, se perfaz a tempestividade do aviamento da Contestação.

II. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA


Considerando que a Requerida é hipossuficiente na forma da lei, requer os benefícios da justiça gratuita
conforme declaração anexa.

III. BREVE SÍNTESE DA DEMANDA


Ajuizada Ação Monitória perante este r. juízo, a Autora (Requerente) alega que formalizou instrumento,
qual seja – contrato de prestação de serviços – com a Ré (Requerida).
Ademais, sustenta que através do instrumento em espeque, gerou-se as notas promissórias apontadas
na Inicial. A despeito disso, as provas juntadas na Inicial são insuficientes para comprovar cabalmente os valores
apontadas, tampouco a veracidade do título executivo extrajudicial.
Ressalta a Requerente, que na tentativa de resolver a celeuma e litígio, socorreu-se ao Judiciário para
satisfazer a presumida obrigação.

IV. DA PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA DA REQUERIDA


Excelência, em que pese a Requerente alegar a fortuita prestação dos serviços, nota-se que na
instrução processual não fora apontando e demonstrado o aludido pacto – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS. De igual forma, a mesma instrução se sustenta, tão somente, no título executivo com a suposta
assinatura da Requerida.
Sobremaneira, é consabido que não subsiste presunção (relativa ou absoluta) no Direito Brasileiro que
viabilize a cobrança indevida, lastreada em hipótese não comprovada de título executivo extrajudicial formado
unilateralmente.
Portanto, a ilegitimidade passiva ad causam é patente, vez que: i) não fora apresentado pela
Requerente o aludido CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS; e ii) a Requerente não provou nos autos
que o presumido título executivo extrajudicial foi demarcado pela Requerida.
Desta feita, requer deste r. Juízo, o acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva, com a
consequente extinção do processo sem resolução do mérito, nos moldes do art. 485, VI do CPC.

V. DO FUNDAMENTO E DO DIREITO
Subsidiariamente, a luz do art. 326 do CPC, não reconhecida a preliminar suscitada, vez que, in casu,
a Requerida não possui nenhum tipo de vínculo ao suposto título de crédito, não podendo assim a Requerente
exigi-lo; passa a demonstrar os fundamentos de direito em vista da plenitude de defesa.
O título apresentado pela Requerente é completamente inverídico, pois, além de não acompanhar o
pacto supostamente formalizado, não traz outros elementos que possam corroborar com a sua narrativa.
Nesse sentido, a nota promissória carece dos elementos extrínsecos essenciais a sua validade.
Frisa-se, a Requerida não possui nenhum tipo de vinculação ao título de crédito ora impugnado.
Para tanto, em virtude do princípio da adstrição e congruência (arts. 141 e 492 do CPC), o magistrado
deve decidir dentro dos limites objetivados pelas partes. Tal exposto é remansoso na atual jurisprudência:
“Ementa. Apelação Cível. Ação anulatória de título de crédito e cancelamento de protesto c/c indenização por
danos morais. Nota promissória. Assinatura falsa do emitente. Requisito essencial não preenchido. I.
Considera-se válida a nota promissória nos termos do artigo 75 da Lei Uniforme de Genébra, quando dela
constar a correta denominação; promessa de pagar valor determinado; nome do beneficiário; data de
emissão e assinatura do emitente. A ausência dos requisitos extrínsecos essenciais retira a validade da
nota promissória. II. Princípio da congruência. Observância. Consoante o princípio da adstrição e
congruência (artigos 141 e 492, do CPC), o magistrado deve decidir a lide dentro dos limites objetivados
pelas partes, não podendo proferir sentença de forma extra, ultra ou infra petita. No caso em apreço, o juízo
a quo julgou o pedido de declaração da nulidade da nota promissória em questão e cancelamento do protesto
junto ao Cartório de Protesto de Títulos, sendo-lhe defeso, sob pena de proferir sentença extra petita, analisar a
existência e validade do negócio jurídico subjacente fora da ação própria para esse fim. III. Protesto indevido.
Negativação indevida do nome do requerente. Ato ilícito. Configuração do dever de reparação dos danos
morais. In casu, restando comprovada a falsificação da assinatura do requerente/apelante na nota
promissória, indevido o protesto do título, trazendo consequências nocivas pelo lançamento de seus
dados pessoais junto aos órgãos de restrição creditícia. Restam colmatados, portanto, todos os aspectos
delimitadores do dever indenizatório do dano moral. Apelação cível conhecida e desprovida.”. Tribunal de Justiça
de Goiás TJ-GO - Apelação Cível: 0371539-55.2013.8.09.0103 MINAÇU.”. Grifou-se.

Na esteira deste entendimento, é dever e ônus do credor de demonstrar a veracidade da assinatura do


beneficiário acostado no título:
“EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO - EXECUÇÃO DE NOTA PROMISSÓRIA - ALEGAÇÃO DE ASSINATURA
FALSA - ÔNUS DA PROVA. Quando o emitente de um título de crédito alega que a assinatura aposta no
mesmo não é de seu próprio punho, o ônus de provar a autenticidade desloca-se, automaticamente, para
o suposto credor, por força da norma expressa no art. 389, II, CPC. O ônus da prova acerca da veracidade
da assinatura do beneficiário constante do título é de quem porta e apresenta o documento, ou seja, quem
apresentou o título à execução.”. Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC
10394150091673001 MG. Grifou-se.

Destarte, requer a improcedência do pedido da Requerente, posto que careceu de provar o fato constitutivo
do direito, objeto desta Ação (art. 373, I do CPC).

DA PERÍCIA GRAFOTÉCNICA
Na mesma atoada da veracidade da assinatura constante no título executivo, em busca da verdade real,
a assinatura acostada no referido título destoa daquela que consta no documento de identificação da Requerida
(vide doc. anexo de identidade). Por conseguinte, ainda que os grifos elaborados possam ser distinguidos a olho
nu, requer ao D. Magistrado a realização de perícia grafotécnica na forma do art. 465 e ss. do CPC.

DA COBRANÇA INDEVIDA E DO DEVER DE INDENIZAR


Tanto o CDC (art. 42, par. único) quanto o Código Civil (arts. 186, 187 e art. 940) estabelecem que a
cobrança indevida é passível da sua devolução em dobro. Ambos diplomas salientam que a ocorrência de danos
a outrem implica a sua obrigação de repará-lo, caracterizando o dano in re ipsa1.
Conjuntamente, colaciona-se aos autos que a Requerida teve o seu nome negativado nos órgãos de
proteção ao crédito – SERASA (docs. anexos), pela dívida que não contraiu.
Acerca do tema, além do que prevê o Colendo STJ, este R. TJDFT possui jurisprudência pacificada, senão
vejamos2:
 Acórdão 1274224, 07066356620198070018, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, 4ª Turma Cível,
data de julgamento: 12/8/2020, publicado no DJE: 28/8/2020.
 Acórdão 1274667, 07164793420198070020, Relator: ARNALDO CORRÊA SILVA, 2ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento: 17/8/2020, publicado no DJE: 27/8/2020.
 Acórdão 1273047, 07201994820198070007, Relator: CESAR LOYOLA, 2ª Turma Cível, data de
julgamento: 12/8/2020, publicado no DJE: 26/8/2020.
 Acórdão 1271473, 07176255220198070007, Relator: ASIEL HENRIQUE DE SOUSA, 3ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento: 4/8/2020, publicado no DJE: 26/8/2020.

1
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/dano-moral-in-re-
ipsa201d
2
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/dano-moral-no-tjdft/cadastro-de-
inadimplentes/manutencao-indevida-de-inscricao-em-cadastro-de-inadimplentes
 Acórdão 1273186, 07329049620198070001, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, data de
julgamento: 12/8/2020, publicado no DJE: 24/8/2020.

Portanto Vossa Excelência, como medida de inteira justiça, requer provido pedido de condenação oriundo
do incontroverso dano suportado, condenando a Requerente ao valor de R$ 3.160,25 (três mil, cento e sessenta
reais e vinte e cinco centavos).
Por derradeiro, requer do mesmo modo que a Requerente cesse toda e qualquer cobrança abusiva em
nome da Requerida, com a retirada e/ou exclusão do nome da Requerida nos órgãos de proteção ao crédito, bem
como venha se abster de futuras cobranças sobre o mesmo fato, sob pena de multa pecuniária arbitrada pelo D.
Juízo.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Constatada e julgada a vertente casuística pelo D. Magistrado, requer a condenação da Requerente pela
litigância de má-fé (art. 81 e ss. do CPC), tendo em vista a demanda despótica que altera a verdade dos fatos,
provocando incidente manifestadamente infundado.

VI. DOS PEDIDOS


Antes o exposto, requer:
a) Acolhida e provida o presente aviamento da Contestação;
b) Concessão dos benefícios da justiça gratuita, ante a alegação comprovada de que a Requerida é
hipossuficiente, conforme os preceitos do art. 5º, LXXIV da CF/88 e 98 e ss. do CPC;
c) Que a presente demanda seja julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE com o reconhecimento das
preliminares e julgamento do processo sem julgamento de mérito, nos moldes do art. 485, VI do CPC;
d) Caso diverso seja o entendimento de V. Exa, requer o julgamento improcedente no mérito, diante dos
motivos de fato e de direito supramencionados, atendida a fundamentação sobre: i) perícia grafotécnica;
ii) cobrança indevida e o dever de indenizar; e iii) litigância de má-fé;
e) A condenação da autora ao pagamento das custas e honorários sucumbências, de acordo com o artigo
85, § 2º do CPC.

Termos em que pede e espera deferimento.


Brasília, 03 de setembro de 2023.

TATIANA PASSOS ANDRAUS


OAB/DF N.º 39.671

ANTÔNIO FILIPE DE ARAÚJO MONTEIRO


OAB/DF N.º 45.698

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