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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE ____/SP

Processo nº XXXX

Controle nº XXXX

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO,


neste ato representando os ofendidos, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, nos termos do artigo 600 do Có digo de Processo Penal, apresentar RAZÕES
DE APELAÇÃO, requerendo seu regular processamento, com a remessa dos autos a
instâ ncia recursal competente, independentemente de preparo.

Termos em que,
Pede deferimento.
Sã o Paulo, data.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

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RAZÕES DE APELAÇÃO

Apelante: XXXX

Apelados: XXXX e XXXX

Processo nº XXXX

Xª Vara Criminal da comarca de XXX

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara,

I. DOS FATOS

XXXX e XXXX foram denunciados como incursos nas penas


do artigo 1º, inciso I, alínea “a”, da Lei Federal nº 9.455/1997 porque, no dia XX de abril
de XXXX, por volta das 14h, na Rua XXXX, constrangeram o entã o adolescente de 15 anos
de idade, XXXX XXXX, com emprego de violência e grave ameaça, causando-lhe intenso
sofrimento físico e psíquico com o fim de obter informaçã o.

Os réus foram citados (fls. 246 e 253) e ofereceram defesa


preliminar (fls. 210/211 e 220/223).

A denú ncia foi recebida em XX de julho de XXXX pelo MM.


Juízo da Xª Vara criminal de XXXX/SP (fls. 225).

A Defensoria Pú blica formulou pedido de habilitaçã o como


assistente de acusaçã o (fl. 302), patrocinando o interesse do ofendido, o que foi deferido
pelo MM. Juízo a quo (fl. 324).

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Durante a instruçã o foram ouvidas a vítima (fl. 380/381),
três testemunhas de acusaçã o (fls. 382, 383/384 e 385/386), além de duas testemunhas
de defesa (fls. 387 e 434/435), e somente um dos réus foi interrogado (fls. 456/457).

Encerrada a instruçã o, o representante do Ministério


Pú blico, em seus memoriais orais, pugnou pela procedência da açã o penal e,
consequentemente, pela condenaçã o dos acusados nos termos da denú ncia, enquanto
que a defesa dos acusados postulou pela absolviçã o por falta de provas.

A seguir, o MM. Juízo exarou sentença absolvendo os


acusados nos seguintes termos:

“VISTOS etc.,

XXXX e XXXX, qualificados nos autos, estão sendo processados por


infração ao disposto no artigo 1º, inciso I, letra ‘a’, da Lei nº
9.455/1997 porque, no dia XX de abril de XXXX, por volta das
14h30min., na Rua XXXX, no bairro da XXX, nesta cidade e comarca
de XXX, constrangeram o adolescente XXXX, de 15 anos de idade,
com emprego de violência e grave ameaça, consistente em tapas,
socos, pontapés e coronhadas com um revólver e, ainda não
satisfeitos, deu choques elétricos na barriga com fio sem capa e
engatilhou a arma em sua boca, sempre o ameaçando de morte,
causando-lhe intenso sofrimento físico e mental com o fim de obter
informações, sendo que as agressões duraram cerca de 45 minutos e
somente cessaram quando o adolescente desmaiou.
Oferecida e recebida a denúncia, os réus foram citados e
apresentaram resposta, sobrevindo audiência de instrução, debates
e julgamento.
Em alegações finais, enquanto o representante do Ministério
Público opinou pela procedência da denúncia, as Defesas pugnaram
pela absolvição, preliminarmente, o acusado XXXX pugnou pelo
interrogatório por carta precatória e a redesignação de audiência
de instrução.
Relatados no essencial. DECIDO.
Inicialmente, entendo inviável a redesignação da audiência, assim
como a realização do interrogatório do réu XXXX, como pretende
sua Defensora constituída. Outrossim, o atestado médico juntado
nesta oportunidade autoriza a falta ao trabalho, não se justificando
sua ausência para esta audiência para a qual já se encontrava
devidamente intimado.

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No mérito, a materialidade da infração penal imputada aos
réus restou comprovada por meio dos laudos exame de corpo
de delito de fls. 12 e 168, avaliação audiológica de fl. 142, ficha
de atendimento ambulatorial fls. 300/301, todos indicando a
ocorrência de lesão corporal de natureza leve.
No tocante à autoria, verifica-se que o réu XXXX, nesta
oportunidade, negou a prática delitiva, aduzindo que estava em
patrulhamento pela XXXX, quando ao avistar a viatura a vítima
correu, sendo abordado em seguida. Segundo o réu, ainda, com o
menor nada foi encontrado, sendo ele levado ao Hospital
Universitário por estar passando mal. Já o réu XXXX deixou de
comparecer à audiência para hoje designada, deixando de lado a
oportunidade que lhe abria para manifestar sua autodefesa.
Assim, apreciadas autoria e materialidade, passo à análise dos
argumentos expendidos pelas partes, em cotejo com a prova
produzida sob o crivo do contraditório.
E, em tal contexto, tenho que a ação penal é improcedente.
Cumpre esclarecer, inicialmente, que a versão hoje apresentada
pelo acusado XXXX não é digna de fé, até porque destoa da
versão que apresentou quando ouvido na Vara da Infância e
Juventude desta comarca, oportunidade em que afirmou que o
menor foi entregue ao responsável, após ter sido socorrido (fls.
54).
Entretanto, se de um lado apresentasse mentirosa a versão do
réu, por outro, as contradições, incoerências e omissões
constantes dos depoimentos das testemunhas de acusação
também não autorizam a prolação de uma sentença
condenatória com a necessária certeza que a medida requer.
Com efeito, do confronto do depoimento do menor XXXX (fls.
380/381) com o de seu cunhado XXXX (fls. 383/384) e com o de
seu irmão XXXX (fls. 385/386) extrai-se que cada qual
apresenta uma versão para o fato, e todas elas diversas da que
apresentaram anteriormente, notadamente as constantes do
caderno processual utilizado pela Defensora Pública com
atuação na Vara da Infância e Juventude para instruir a
representação criminal que deu origem ao presente feito.
Não se olvide que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo,
neste ato atuando na peculiar posição de Assistente de
Acusação, fez juntar aos autos documentos que apontam para
o cometimento de irregularidades (e mesmo crime) por parte
dos réus, o que não extrai do órgão Ministerial a obrigação de
fazer prova escorreita e límpida da acusação como forma de
autorizar a prolação de um decreto condenatório, com a necessária
certeza que a medida requer.

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III – Dispositivo. Ante o exposto, e pelo mais dos autos consta, JULGO
IMPROCEDENTE A AÇÃO PENAL para ABSOLVER XXXX e XXXX,
qualificados nos autos, da imputação de infringência ao disposto no
artigo 1º, inciso I, letra ‘a’, da Lei nº 9.455/1997, fazendo-o com
fundamento no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal,
tudo conforme fundamentação acima.
 Após o trânsito em julgado, lancem-se os nomes dos réus no
Rol de Culpados e, se o caso, extraiam-se guias de recolhimento e
cumpra-se o disposto no parágrafo 2º do artigo 201 do Código de
Processo Penal.
 Houve a renúncia ao direito de recorrer por parte da
Acusação e da Defesa (ante a manifestação expressa de XXXX e
XXXX).
 Pelo Meritíssimo Juiz foi proferida a seguinte decisão:
VISTOS etc., HOMOLOGO a renúncia ao direito de recorrer (pelo que
o trânsito em julgado deste decisum ocorrerá nesta data, ou seja,
em 9 de dezembro de 2013).
 Procedam-se as anotações e as comunicações necessárias,
inclusive ao Setor de Armas, se preciso, e posteriormente, arquive-se
o processo.
 Decisão Publicada em audiência, saem as partes presentes
intimadas.” (grifo nosso)

Inconformada com a sentença absolutó ria, a Defensoria


Pú blica interpô s recurso de apelaçã o (fl. 463), mas, em despacho sintético, o MM. Juízo a
quo, entendendo que nã o havia legitimidade do assistente de acusaçã o, negou
seguimento ao recurso (fl. 464).

A Defensoria Pú blica interpô s, entã o, recurso em sentido


estrito pela admissibilidade do recurso de apelaçã o (fl. 467/484), que foram julgados
procedentes pela Xª Câ mara de Direito Criminal do E. Tribunal de Justiça de Sã o Paulo
(fls. 514/519).

Assim, foi aberta vista dos autos para a Defensoria Pú blica


apresentar as razõ es de apelaçã o, o que faz neste ato com o fim de reformar a sentença
exarada em primeiro grau para condenar os réus nos termos da denú ncia.

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II. BREVE HISTÓRICO DE CASOS DE TORTURA/VIOLÊNCIA POLICIAL ENVOLVENDO
OS RÉUS XXXX

O caso ora versado nos presentes autos é apenas um dos


muitos casos dos quais a Defensoria Pú blica tomou conhecimento envolvendo o réu
XXXX.

Em novembro de XXX, percebendo a recorrência de


denú ncias de agressõ es de policiais militares contra adolescentes que davam entrada na
Vara da Infâ ncia e Juventude, o Nú cleo Especializado em Cidadania e Direitos Humanos
da Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo passou a acompanhar os problemas que
envolviam violência policial na comarca de XXXX/SP.

Nesse contexto, foram reunidos, entre outros, os seguintes


casos envolvendo o réu XXXX:

1) XXXX (fls. 03 e ss.): também com denú ncias de tortura


durante a abordagem policial pelos réus deste processo, gerando o processo nº XXX
perante a Vara da Infâ ncia e Juventude apó s denú ncias do jovem e de sua genitora;

2) XXXX e XXXX: caso de tortura perpetrada pelos Policiais


Militares que veio a ser noticiada nos autos do processo nº XXX de apuraçã o de ato
infracional perante a Vara da Infâ ncia e Juventude desta comarca, e posteriormente no
Pedido de Providências nº XXX perante a Vara da Infâ ncia e Juventude também desta
comarca;

3) XXXX: também com denú ncias de tortura durante


abordagem realizada na residência do adolescente, contando também, com denú ncias de
flagrante forjada por trá fico de drogas;

3) XXXX e XXXX: também envolvem situaçõ es de tortura


perpetrada pelos policiais militares réus deste processo, no qual foi noticiado, inclusive,
o uso de uma garrafa de cerveja quebrada para seviciar os jovens. A denú ncia foi
arquivada, pois as testemunhas têm medo de represá lias por parte dos envolvidos;

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4) XXXX: notícias com relatos de agressã o por esta mesma
equipe de policiais, sendo que se trata de jovem com rebaixamento mental;

5) XXXX: notícias de que este jovem foi agredido por


policiais da Tá tica. Referiu ao policial que lhe bateu intensamente como “quebra ossos”,
que seria o apelido do sargento Adriano entre seus pares;

6) XXXXX: morto pela equipe liderada pelo sargento Adriano


com quatro tiros do abdô men, apesar da versã o de que houve confronto policial à
distâ ncia (notícia de jornal).

A violência policial é um tema bastante sensível e que gera


grandes preocupaçõ es nos dias atuais: segundo dados da Secretaria de Segurança
Pú blica, em média 500 pessoas sã o mortas por policiais em serviço somente no Estado
de Sã o Paulo todos os anos. Os elevados nú meros despertam a necessidade de aná lise
rigorosa de tais ocorrências. A atuaçã o legalista e exaustiva dos atores do sistema de
Justiça nessa seara é, portanto, crucial.

Ademais, a sociedade brasileira há tempos mostra-se


preocupada com tal problemá tica, razã o pela qual, inú meras sã o as reportagens e
pesquisas que visam trazê-la à luz das autoridades (vide o caso que repercutiu
nacionalmente no ano de 2013, o do pedreiro Amarildo, torturado e morto por policiais
da UPP da favela da Rocinha no Rio de Janeiro/RJ).

Todavia, quando a violê ncia já nã o mais pode ser


evitada, caberá ao judiciá rio puni-la, també m como forma de aprendizado
à queles que de alguma forma poderiam vir a praticá -la.

Vale lembrar que a Constituiçã o Federal prevê os direitos


fundamentais à vida e a integridade física e psíquica (artigo 5º). Prevê, ademais, o
repudio à prá tica da tortura (artigo 5º, III e XLIII), fora as disposiçõ es de leis específicas,
como a Lei nº 9.455/1997.

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Além disso, o Brasil é signatá rio de duas Convençõ es
internacionais específicas sobre o tema: (i) a Convenção Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada em 10 de
dezembro de 1984 pela Assembleia Geral das Naçõ es Unidas (internalizada no Brasil
pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991); (ii) e a Convenção Interamericana
para Prevenir e Punir a Tortura, adotada em 09 de dezembro de 1985 pela
Assembleia Geral da Organizaçã o dos Estados Americanos (internalizada no Brasil pelo
Decreto nº 98.386, de 09 de dezembro de 1989).

Em todos os documentos há a obrigaçã o do Estado brasileiro


de efetivamente prevenir e responsabilizar criminalmente quando agentes pú blicos
incorram em tal prá tica.

Oportuno destacar o Relató rio da entidade Human Rights


Watch (HRW) publicado em 29 de janeiro de 2015 que analisou a proteçã o aos direitos
humanos em 90 países, o qual aponta que entre janeiro de 2012 a junho de 2014, o
centro de ouvidoria nacional do HRW no Brasil recebeu 5.431 denú ncias de tortura,
crueldade, desrespeito ou tratamento degradante – cerca de 181 reclamaçõ es por mês.
As denú ncias sã o de todo o país e foram feitas por um serviço de atendimento telefô nico
disponibilizado pela organizaçã o.

A diretora da entidade para o Brasil, Maria Laura Canineu,


declarou que "A tortura é herança da impunidade. O fato de agentes saberem que
não serão punidos propicia que [a tortura] permaneça e este problema é crônico. É
a sensação absoluta de impunidade".

A nossa Constituiçã o, dita cidadã , ao erigir a cidadania e a


dignidade da pessoa humana dentre os fundamentos do Estado Democrá tico de Direito,
impõ e ao Estado brasileiro o dever de coibir prá ticas abusivas, como a tortura, por parte
de seus agentes pú blicos, com a devida responsabilizaçã o criminal dos mesmos,
garantindo assim o fim da impunidade e a efetiva defesa da cidadania e da dignidade da
pessoa humana.

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II. DA MATERIALIDADE DO CRIME DE TORTURA

O delito ora imputado aos réus se caracteriza pela conduta


de “constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental”, “com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou de terceira pessoa” (artigo 1º, inciso I, alínea “a”, da Lei Federal nº
9.455/1997). Trata-se, pois, de crime material, consuma-se com o sofrimento físico ou
psíquico efetivamente perpetrado contra a vítima.

Da aná lise das provas produzidas nos autos, resta


plenamente comprovada a materialidade do crime de tortura perpetrada pelos réus
contra o entã o adolescente Dener Henrique de França no dia XX de abril de XXXX.

Primeiramente, deve-se recordar que no dia XX de abril de


XXXX, um dia apó s os fatos, o adolescente compareceu perante o Ministério Pú blico de
XXX e, acompanhado de sua genitora XXXX, prestou declaraçõ es ao Promotor de Justiça
descrevendo pormenorizadamente o desenrolar dos fatos, contando as violências a que
foi submetido durante a abordagem policial, o fato de ter sido levado para um barraco
no fim do beco e as violências que foi submetido nesse local pelos réus deste processo.

Instaurado o procedimento apurató rio nº XXXX na Vara da


Infâ ncia e Juventude, foi determinada a realizaçã o de exame de corpo de delito (fl. 08),
que foi realizado no dia XX de abril de XXXX (fls. 12).

No laudo correspondente, o perito descreve (fl. 12) a


existência de “Escoriações discretas no pescoço e hemiface direita. Otoscopia:
perfuração pequena e recente com hiperemia ao redor da mesma na membrana
timpânica direita. Refere hipoacusia desde a agressão”. O laudo conclui afirmando ser
necessá rio exame complementar direto em 60 dias, a fim de atestar a permanência e
gravidade das lesões verificadas.

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O exame complementar foi realizado no dia XX de março de
XXX, quase dois anos depois do dia dos fatos (fls. 168), e o perito atestou a “Ausência
de perfuração timpânica em ambos os ouvidos atualmente e nega hipoacusia.” Por fim,
afirma o perito, “Concluo que a vítima sofreu lesões de natureza LEVE.”.

O laudo complementar responde negativamente ao quesito


sobre a origem das lesõ es (se teriam sido produzidas por meio de veneno, fogo,
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel), mas tal nã o tem relevâ ncia
tomada por si só , uma vez que o perito nã o tem todos os elementos para constatar a
existência da tortura. O laudo serve para constatar a existência ou nã o de lesõ es físicas,
enquanto que a relaçã o de causalidade entre a conduta do agente e o resultado
naturalístico, isto é, se resta caracterizado ou nã o o crime de tortura, compõ e o
julgamento da pró pria causa e é de competência exclusiva do Juiz de Direito na
apreciaçã o do conjunto probatório.

Importa salientar que o perito descreveu a existência de


escoriações recentes no pescoço e “perfuração pequena e recente com hiperemia ao
redor da mesma na membrana timpânica direita”, mas a ú nica situaçã o causal
relatada nos presentes autos que poderia ter provocado tais escoriaçõ es descritas no
laudo pericial foram as agressões perpetradas pelos réus deste processo e descritas
na inicial acusatória.

Ademais, no mesmo sentido sã o as conclusõ es aferidas no


exame realizado no dia XX de março de XXX, por iniciativa da XXX, quando o adolescente
XXXX realizou avaliaçã o audioló gica na Associaçã o Terapêutica de Estimulaçã o Auditiva
e Linguagem – ATEAL (fls. 141/142) em que a fonoaudió loga XXXX (CRF 14.451)
atestou:

“Parecer audiológico
OD: Perda auditiva mista [ilegível] freq.. 250hz à 8khz, grau
leve (500 hz e 2khz), configuração plana.

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06: Perda auditiva mista [ilegível] freq.. de 250hz à 8khz,
grau leve (x500hz, 1 e 2khz), config. Plana.” (grifo nosso)

Mas nã o é só .

Os depoimentos prestados tanto pela vítima, como pelas


testemunhas de acusação vã o todos no mesmo sentido de estar plenamente
configurada a materialidade do crime de tortura contra o adolescente XXXX.

Primeiramente, a pró pria vítima, XXXX, em depoimento


prestado no dia seguinte aos fatos, XX de abril de XXXX, perante o Ministério Pú blico
de Jundiaí afirmou (fls. 03/04):

“Que em seguida outros dois policiais se aproximaram do


declarante e perguntaram seu nome, no que este respondeu, e o
policial (1) disse ‘é você mesmo’; Que então foram levando o
declarante para um beco próximo, passando em frente da casa da
avó do declarante; Que nesse momento XXX chamou pela avó, no
que o policial lhe deu um tapa na orelha, dizendo que ‘não tem
avó aqui não’; Que então os policiais chamaram pelo irmão do
declarante, XXXX, que havia aparecido na janela com a avó, e este
foi até a rua; Que então os policiais levaram-nos para o fundo do
beco, e o policial 1 falou que não precisava de XXX, mandando o
outro policial (2) levá-lo para junto do XXX; Que então o policial 1
levou-o para um barraco localizado no fim do beco, e disse
‘agora já era’; Que o policial 2 também veio ao barraco e
fechou a porta; Que o policial 1 disse ‘agora você vai morrer’, e
começou a descascar o fio elétrico; Que o policial 2 passou a
dar tapas nas orelhas do declarante e então lhe apertou o
pescoço, momento em que o declarante tentou tirar as mãos do
policial de seu pescoço e este passou a lhe dar tapas no rosto,
dizendo que não era para reagir; Que o declarante deitou no
chão, quase sem fôlego, e o policial 2 disse ao outro que o menor
estava desmaiando; Que então o policial 1, que acabara de
descascar o fio elétrico, disse ‘então vou mijar na cara dele’, e o
declarante levantou e sentou-se numa cama; Que o policial 2
segurou os braços do declarante para trás e mandou-o deitar-se, e
então o policial 1 pegou o fio elétrico e passou a dar choques na
barriga e depois nos dedos do declarante; Que então os policiais
levantaram o declarante e colocaram-no próximo da parede, com
as mãos para trás, e o policial 2 passou a bater com sua cabeça
na parede; Que em seguida o policial 1 mandou XXXX abrir a

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boca, engatilhou o revólver e colocou-o na boca do declarante;
Que o policial 2 passou a dar socos na barriga do declarante,
que perdeu o fôlego e caiu no chão; Que então colocaram o
declarante na cama e abaixaram sua calça, o policial 2 segurou
seus braços enquanto o policial 1 pegou um cortador de unhas
e disse ‘vou cortar seu saco’; Que ao apertar o cortador de
unhas o declarante começou a chorar, quando então o policial 2
apertou uma almofada em seu rosto por alguns instantes; Que
então mandaram o declarante levantar-se, subir as calças e
encostar na parede com as mãos para trás; Que nesse momento
entrou no barraco um dos outros dois policias (3), e o policial 1
passou a bater na cabeça do declarante com seu revólver, e
então abriu a porta e disse para o declarante ir saindo na
frente, e ficaram os três procurando drogas no barraco;” (grifo
nosso)

Em depoimento prestado perante o MM. Juízo a quo, na fase


de instruçã o processual, no dia XX de julho de XXXX, mais de 4 (quatro) anos depois
dos fatos, a vítima confirmou coerentemente o relato das violências a que fora
submetido pelos réus (380/381):

“que eu estava na casa da minha avó quando eu sai apareceu uma


viatura eles desceram e perguntaram como eu chamava, perguntou
meu nome eu disse e começou a bater na frente de todo mundo;
que eles me bateram na frente da minha irmã, meu sobrinho que
estava no colo, minha finada vó, meu cunhado e meu irmão XXX;
que eles me bateram no meio da rua; que minha irmã disse para
eles pararem, pois iria filmar tudo, que eles falaram para ela sair
dali, pois eles seriam presos e levariam meu sobrinho para um
orfanato; que eles me levaram para um barraco no fim da viela
e deixaram meu irmão sentado na frente da viatura; que eles
fecharam a porta e não deixaram ninguém mais entrar ou sair; que
eles são os dois XXXX; que eles me bateram de todas as formas,
que XXXX mais moreno engatilhou o revólver e colocou na
minha boca; que eles me bateram pois queriam saber quem riscou
o carro da polícia; que eles descascaram um fio de tomada de
força e me deram um monte de choques, trataram minha mão
em cima da minha cabeça colocou um travesseiro na minha boca
para eu não gritar e apertaram meu pênis com um alicate de
cortar unha; que eles bateram minha cabeça por várias vezes na
parede e jogaram um monte de psicológico em mim, que iriam
matar todo mundo da minha família e depois me liberaram; que

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eles abriram a porta do barraco e me mandaram sair e ‘eu sai meu
bambo’;” (grifo nosso)

A testemunha XXXX, genitora da vítima, afirmou (fls. 382)


que “na data do fato estava trabalhando e não presenciou nada do que aconteceu, apenas
ficou sabendo quando sua filha ligou que lhe disse que seu filho foi abordado e o levaram”.

A testemunha XXXX, por sua vez, disse (fl. 383):

“sou cunhado da vítima e eu vi no momento em que ele estava


abordado, que na data do fato minha esposa saiu pra jogar o lixo e
eu sai atrás dela, pois ela estava demorando; que ela saiu sozinha
deixando meu filho dentro de casa; que vi o momento em que
minha esposa estava querendo entrar na frente dos policiais
que estavam batendo no meu cunhado; acho que eram em torno
de 4 policiais, mas somente um moreno que estava batendo na
vítima; que isso ocorreu na frente da casa do meu primo, onde eles
fizeram uma roda para ninguém ver o que estava acontecendo; que
eles falaram para mim e minha esposa sair, pois iriam ‘forjar a
gente’ com drogas e que iríamos todos presos; que minha esposa
chegou a filmar o que estava acontecendo, mas minha filha quebrou
o aparelho celular; que os meus dois filhos ficaram dentro de casa;
que como eles mandaram nós saímos de lá e minha esposa foi ligar
para a mãe dele, que eu não vi o XXXX no local em nenhum
momento, somente após eles irem embora; que vi o momento em
que eles levaram XXX em um barraco lá no fundo, que a casa
do meu primo é uma casa depois da minha, ouvi o barulho de
tapas sendo desferido em XXXX (...); quem estava batendo em XXX
era o XXX, moreno; (...); eles arrastaram em um corredor, no fundo;
que XXX morava comigo e com minha esposa, na minha casa; que
XXXX apareceu em casa somente depois que ele foi em frente da
viatura, que ele chegou em casa cambaleando e desmaiou; que
vi meu cunhado XXX caído no quintal, mas não cheguei perto, eu
não socorri; os policiais já tinham ido embora quando ele estava
desmaiado chegou os primos, as tias e acho que foram eles que
levou XXX para o hospital; que quem o socorreu foi algum dos
parentes dele; que ao voltar do hospital ele foi para a casa da mãe
dele; (...); que o rosto do XXXX estava vermelho, pelos tapas que
ele levou, mas não estava machucado;” (grifo nosso)

Já XXXX e XXXX (fl. 385), irmã o da vítima, indica afirmou:

“que na data do fato estava na casa da minha vó; que eu vi o


momento em que o PM XXX apareceu na janela e apontou a

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arma para mim e mandou eu sair para fora; que ele mandou
eu sentar perto da quadrinha em cima da minha mão; que ele
estava em frente do barraco de minha irmã; que ele foi abordado
por três ou quatro policiais; eu fiquei o tempo todo sentado;
que não vi que eles bateram no meu irmão; que somente vi o meu
irmão sendo trazido pelos policiais, desmaiado e colocado na
viatura; vi que os policiais estavam batendo no meu irmão, acho
que os policiais PM trouxe meu irmão de volta, mas não me lembro;
que falei na Vara da Infância e Juventude que minhas irmãs viram
os policiais dando choques e batendo no meu irmão XXX; que XXX
desmaiou e os policiais levaram para o hospital; (...); que não sei
o motivo que os policiais fizeram isso com meu irmão XXX, o local
já foi ponto de tráfico, mas não é mais; que minha irmã XXXX
não quis depor na vara da Infância e nem na delegacia, pois
ela ficou com muito medo; (...); que toda a atividade dos
policiais, desde o momento da abordagem até eles soltarem
XXXX, durou cerca de uma hora; sei que alguém filmou, mas não
sei se era o momento em que eles estavam batendo ou não, mas não
vi a filmagem; eu vi XXX, o moreno, batendo no meu irmão;
apareci na janela da casa da minha vó, mas não apareci na rua, que
eu era menor na época e por isso nem fui ver o que estava
acontecendo; que foi só então que ele mandou eu sair e sentar na
calçada; não sei a diferença de pistola ou arma, por isso não sei o
tipo de arma que o XXXX me apontou; que a distância de onde
eu estava sentado e do local onde levaram meu irmão era
cerca de 30 ou 40 passos, mas não vi nada do que estava
acontecendo com meu irmão;” (grifo nosso)
Como visto, Excelências, os relatos sã o coerentes entre si, e
pequenas incongruências em poucos detalhes sã o normais quando se trata da memó ria
humana, ainda mais se considerarmos que estes relatos foram feitos 4 (QUATRO) ANOS
APÓ S OS FATOS.

No que tange à caracterização do crime de tortura, no


entanto, os relatos são plenamente coerentes entre si.

XXX estava na frente da casa de sua avó , quando foi


abordado pelos policiais réus deste processo. Nada de ilícito foi encontrado com ele, mas
os policiais já procuravam pelo seu nome e quando ele se apresentou, foi tratado com
violência e truculência. Vá rias pessoas na rua viram o episó dio, inclusive seu cunhado e
sua irmã que ali residem.

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Seu irmã o, XXXX, nã o viu esta parte pois estava no interior
da casa da avó . Chegou a olhar pela janela, momento em que foi ameaçado pelos réus
com uma arma; acabou sendo chamado pelos réus para acompanhá -los na diligência.

Logo apó s, XXXX foi conduzido pelos réus até o fundo de um


beco, entrando num barraco junto com os dois réus. Nesse momento, XXX foi espancado
em vá rias regiõ es do corpo, tomou choques elétricos e foi ameaçado com uma arma em
sua boca.

Esta versão encontra-se em TODOS OS DEPOIMENTOS


PRESTADOS, tanto pela vítima, quanto pelas testemunhas, nã o apenas em sede da
instruçã o deste processo (fls. 380/381, 382, 383/384 e 385/386), como nos autos do
procedimento apurató rio na Vara da Infâ ncia e Juventude (cf. depoimentos de fls. 20, 53,
134, 139 e 140).

Por outro lado, Excelências, as testemunhas de defesa pouco


elucidaram sobre os fatos.

XXXX, policial militar que se encontrava no local dos fatos


junto com os réus deste processo no momento da abordagem do adolescente XXX, em
seu depoimento perante o MM. Juízo a quo (fl. 387), afirmou:

“faz tempo que houve a ocorrência dos fatos, e não me recordo dos
fatos, que trabalhei algumas vezes com a equipe do Sargento XXX e
não me lembro de nenhuma ocorrência em relação a vítima XXX;
que não me lembro de ocorrência de um menor que passou mal e foi
levado ao hospital”.

Já XXXX, policial militar que também se encontrava no local


dos fatos junto com os réus deste processo, em depoimento prestado perante o MM.
Juízo a quo (fls. 434/435), afirmou:

“O depoente é Policial Militar e conhece os acusados. Recorda-se


que no dia dos fatos mencionados na denúncia o depoente era o
motorista da viatura e presenciou a abordagem do
adolescente, mencionada na denúncia, que era suspeito da
prático de tráfico de entorpecente. Não sabe por qual motivo o

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referido adolescente ‘passou mal’ e acabou sendo socorrido pelo
depoente e os demais policiais mencionados na denúncia. Acredita
que o adolescente tenha ‘fingido passar mal’ para ‘esconder algo
grande que estaria por perto do local da abordagem’. Não se
recorda se foi preciso fazer uso de força física contra o adolescente,
pois pelo que se lembra ele foi abordado e logo em seguida
começou a ‘passar mal’. Pelo que se recorda não houve
resistência a abordagem, sendo que o depoente permaneceu
próximo da viatura, enquanto a ‘revista pessoal’ foi feita pelos
outros policiais (...) Pelo que se recorda a abordagem se deu na
calçada e o depoente parou a viatura em frente. Pode ser que tinha
alguma ‘ ruela ou beco’, mas a abordagem foi feita na calçada. Logo
após o adolescente passar mal foi conduzido pelo depoente e demais
policiais ao Pronto Socorro, sendo que a equipe acompanhou o
atendimento médico dele. O adolescente ‘apenas desfaleceu,
tendo mal súbito’, sendo que não havia lesões corporais. Salvo
engano o adolescente passou pelo médico e liberado em seguida.
Não se recorda se o responsável legal pelo adolescente esteve no
hospital ou se o menino foi levado até os responsáveis. Não se
recorda se tinham familiares do adolescente no local da
abordagem, mas havia pessoas nas proximidades que
presenciaram a abordagem. O depoente e os réus já conheciam o
adolescente, que tinha uma forte ligação com traficantes. Aquele
bairro o tráfico de drogas é dominado por membros de uma família,
sendo que o adolescente é membro daquela família, que tem pessoas
condenadas pela pratica de tráfico de droga. Acredita que no dia
não foi encontrado nenhum objeto ilícito na posse do
adolescente. O encarregado da viatura era o Sargento da equipe,
XXXX. Pelo que se recorda a abordagem foi toda na via pública e o
adolescente não foi levado para nenhum ‘barraco’. Não se recorda
de quem foi a iniciativa de fazer a abordagem do adolescente. A
abordagem se deu porque o adolescente já é conhecido nos meios
policiais e se encontrava nas imediações de um local que seria ‘
ponto de venda de entorpecente’”.

Assim, enquanto o XXXX afirmou nada saber sobre os fatos, o


policial militar XXXX endossou a versã o apresentada pelos réus do processo: que
abordaram o adolescente e nada de ilícito foi encontrado com ele, que haviam pessoas
nas proximidades, mas nã o se recorda de terem levado o adolescente para um barraco.
Sobre o motivo do socorro do adolescente no hospital, afirma simplesmente que ele
“passou mal”.

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O réu XXXX, policial militar réu deste processo, em
depoimento prestado perante o MM. Juízo a quo (fls. 457), afirmou:

“Na data do fato, por volta das 13 horas, estava em patrulhamento


pela XXX, próximo a quadra, quando o menor ao visualizar a
viatura, tentou correr e quando abordado em revista pessoal
nada de ilícito com ele foi encontrado; que colocamos ele do
nosso lado na viatura e ele começou a passar mal e até
perguntamos se tinha alguém em casa para responsabilizar-se por
ele, disse que não havia ninguém; que não ingressamos em sua
residência; que socorremos de pronto para o H.U.; que já foi
condenado mas estou recorrendo em segunda instância, pelo art.
299 do Código Militar, em razão de posse de entorpecente no
interior da viatura”.

Por um lado, Excelência, a prova produzida contra os


acusados é robusta e nã o deixa dú vidas quanto ao que de fato ocorreu, em via pública e
na presença de outras pessoas, quando o adolescente avistou a viatura dos policiais se
aproximando. A testemunha XXXX, se recorda de estar no local com a equipe do Sgt.
XXXX, mas nã o se recorda do ocorrido.

Já o testemunho de XXX, é esclarecedor e contradiz


totalmente o interrogató rio do réu XXXX. Ele nã o só se recorda da abordagem, como diz
o motivo pelo qual o abordaram: em suas palavras, admite conhecer a vítima e acredita
que o adolescente fingiu ter tido um "mal sú bito" como subterfú gio para ocultar “algo
grande” pró ximo ao local da abordarem.

É categó rico ao afirmar que a vítima não reagiu e que a


abordagem se deu na calçada, permanecendo pró ximo da viatura, pontos em que o Sld.
XXXX afirma o contrário, que o adolescente tentou correr e que a abordagem se deu
ao seu lado na viatura, e sã o unanimes em afirmar que nada de ilícito foi encontrado
na abordagem.

Ressaltamos, Excelência, que o pró prio MM. Juízo a quo,


ainda que tenha proferido sentença absolutó ria, desconfiou da versã o apresentada pelo
réu quando afirmou (fl. 454): “a versão hoje apresentada pelo acusado XXXX não é

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digna de fé, até porque destoa da versão que apresentou quando ouvido na Vara da
Infância e Juventude desta comarca, oportunidade em que afirmou que o menor foi
entregue ao responsável, após ter sido socorrido (fls. 54).” (cf. depoimentos prestados
pelos réus no procedimento apurató rio, fls. 106 e 107).

Ante o exposto, resta plenamente comprovada a


materialidade do crime de tortura previsto no artigo 1º, I, alínea “a”, da Lei federal nº
9.455/1997.

III. DA AUTORIA DO CRIME DE TORTURA

Nã o menos duvidosa é a autoria do crime de tortura


praticado contra o jovem.

Inicialmente, cumpre salientar que quando o adolescente


XXXX compareceu ao Ministério Pú blico para relatar o episó dio de tortura do qual foi
vítima, nã o ficou registrada a identificaçã o de seus algozes.

Posteriormente, a Defensoria Pú blica oficiante na Vara da


Infâ ncia e Juventude informou o MM. Juízo da Infâ ncia e Juventude o nú mero da viatura
que trazia os policiais que efetuaram a abordagem da vítima (fls. 23/24).

O MM. Juízo encaminhou ofício ao Xº Batalhã o de Polícia


Militar do Interior, que respondeu, informando os policiais ocupantes da viatura (fls.
33).

À fl. 34 e verso, há o Relató rio de Serviço Motorizado da


Polícia Militar, com a identificaçã o do Sgt. XXX e SdPM XXX, réus deste processo, que
relatam que “Das 14:37 às 15:12 – condução de XXX Rua XXX – XXX, vítima de mau
súbito”.

Ouvidos durante o procedimento apurató rio na Vara da


Infâ ncia, XXXX e XXXX confirmaram a abordagem do adolescente XXX no dia dos fatos,

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mas negaram a prá tica criminosa (fls. 106 e 107). No mesmo sentido foi a defesa
preliminar apresentada pelos mesmos (fls. 210/211 e 220/223).

Em sede de interrogató rio durante a instruçã o processual, o


réu XXXX também confirmou a abordagem do adolescente, embora tenha negado a
prá tica delitiva.

O adolescente, por sua vez, por diversas vezes descreveu as


características físicas de seus algozes (fls. 03/04 e 53), que se coadunam com as dos réus
deste processo.

Desse modo, é induvidosa a autoria do delito versado nestes


autos.

V. DOS PEDIDOS

Assim, de todo evidente que a prova produzida nos autos é


manifestamente coesa e só lida para sustentar condenação nos moldes propostos pela
denú ncia. Requer-se, portanto, com base no artigo 387 do Có digo de Processo Penal, seja
a presente açã o penal julgada PROCEDENTE para condenar os acusados pelo
cometimento do delito previsto no artigo 1º, inciso I, alínea “a”, da Lei nº 9.455/1997,
que define o crime de tortura.

A pena-base deve ser fixada acima do mínimo, visto estarem


presentes circunstâ ncias negativas constantes do artigo 59 do Có digo Penal. O jovem já
(i) sofria perseguiçã o dos réus antes do cometimento do delito. Ademais, (ii) praticaram
o crime no interior de um barraco, impedindo que se defendesse e que tivesse a

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companhia de um responsá vel legal. Por fim, o acusado (iii) negaram a prá tica delituosa,
o que revela nã o estarem arrependidos, além do desconhecimento a respeito do papel
que devem cumprir na sociedade. Por isso, a pena-base deve ser elevada em 2/3 (dois
terços).

Outrossim, estã o presentes também circunstâ ncias


agravantes, como a reincidência dos réus XXXX e XXXX (fls. 16, apenso FA).

Do mesmo modo, devem incidir na dosimetria da pena as


causas de aumento de pena previstas na lei que tipifica o crime de tortura, quais
sejam:

- aumento de 1/3 (um terço) em razã o dos réus


ocuparem cargos públicos quando do cometimento da infraçã o (art. 1º, § 4º, I, da Lei
nº 9.455/1997);

- aumento de 1/3 (um terço) em razã o da vítima ser


adolescente quando do cometimento da infraçã o, circunstâ ncia conhecida dos acusados
(art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997);

Além disso, os acusados devem iniciar o cumprimento de


pena no regime fechado (art. 1º, § 7º, da Lei nº 9455/1997).

Nesses termos,

Pede deferimento.

Sã o Paulo, data.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

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