COMARCA DE ____/SP
Processo nº XXXX
Controle nº XXXX
Termos em que,
Pede deferimento.
Sã o Paulo, data.
Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX
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RAZÕES DE APELAÇÃO
Apelante: XXXX
Processo nº XXXX
Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
I. DOS FATOS
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Durante a instruçã o foram ouvidas a vítima (fl. 380/381),
três testemunhas de acusaçã o (fls. 382, 383/384 e 385/386), além de duas testemunhas
de defesa (fls. 387 e 434/435), e somente um dos réus foi interrogado (fls. 456/457).
“VISTOS etc.,
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No mérito, a materialidade da infração penal imputada aos
réus restou comprovada por meio dos laudos exame de corpo
de delito de fls. 12 e 168, avaliação audiológica de fl. 142, ficha
de atendimento ambulatorial fls. 300/301, todos indicando a
ocorrência de lesão corporal de natureza leve.
No tocante à autoria, verifica-se que o réu XXXX, nesta
oportunidade, negou a prática delitiva, aduzindo que estava em
patrulhamento pela XXXX, quando ao avistar a viatura a vítima
correu, sendo abordado em seguida. Segundo o réu, ainda, com o
menor nada foi encontrado, sendo ele levado ao Hospital
Universitário por estar passando mal. Já o réu XXXX deixou de
comparecer à audiência para hoje designada, deixando de lado a
oportunidade que lhe abria para manifestar sua autodefesa.
Assim, apreciadas autoria e materialidade, passo à análise dos
argumentos expendidos pelas partes, em cotejo com a prova
produzida sob o crivo do contraditório.
E, em tal contexto, tenho que a ação penal é improcedente.
Cumpre esclarecer, inicialmente, que a versão hoje apresentada
pelo acusado XXXX não é digna de fé, até porque destoa da
versão que apresentou quando ouvido na Vara da Infância e
Juventude desta comarca, oportunidade em que afirmou que o
menor foi entregue ao responsável, após ter sido socorrido (fls.
54).
Entretanto, se de um lado apresentasse mentirosa a versão do
réu, por outro, as contradições, incoerências e omissões
constantes dos depoimentos das testemunhas de acusação
também não autorizam a prolação de uma sentença
condenatória com a necessária certeza que a medida requer.
Com efeito, do confronto do depoimento do menor XXXX (fls.
380/381) com o de seu cunhado XXXX (fls. 383/384) e com o de
seu irmão XXXX (fls. 385/386) extrai-se que cada qual
apresenta uma versão para o fato, e todas elas diversas da que
apresentaram anteriormente, notadamente as constantes do
caderno processual utilizado pela Defensora Pública com
atuação na Vara da Infância e Juventude para instruir a
representação criminal que deu origem ao presente feito.
Não se olvide que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo,
neste ato atuando na peculiar posição de Assistente de
Acusação, fez juntar aos autos documentos que apontam para
o cometimento de irregularidades (e mesmo crime) por parte
dos réus, o que não extrai do órgão Ministerial a obrigação de
fazer prova escorreita e límpida da acusação como forma de
autorizar a prolação de um decreto condenatório, com a necessária
certeza que a medida requer.
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III – Dispositivo. Ante o exposto, e pelo mais dos autos consta, JULGO
IMPROCEDENTE A AÇÃO PENAL para ABSOLVER XXXX e XXXX,
qualificados nos autos, da imputação de infringência ao disposto no
artigo 1º, inciso I, letra ‘a’, da Lei nº 9.455/1997, fazendo-o com
fundamento no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal,
tudo conforme fundamentação acima.
Após o trânsito em julgado, lancem-se os nomes dos réus no
Rol de Culpados e, se o caso, extraiam-se guias de recolhimento e
cumpra-se o disposto no parágrafo 2º do artigo 201 do Código de
Processo Penal.
Houve a renúncia ao direito de recorrer por parte da
Acusação e da Defesa (ante a manifestação expressa de XXXX e
XXXX).
Pelo Meritíssimo Juiz foi proferida a seguinte decisão:
VISTOS etc., HOMOLOGO a renúncia ao direito de recorrer (pelo que
o trânsito em julgado deste decisum ocorrerá nesta data, ou seja,
em 9 de dezembro de 2013).
Procedam-se as anotações e as comunicações necessárias,
inclusive ao Setor de Armas, se preciso, e posteriormente, arquive-se
o processo.
Decisão Publicada em audiência, saem as partes presentes
intimadas.” (grifo nosso)
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II. BREVE HISTÓRICO DE CASOS DE TORTURA/VIOLÊNCIA POLICIAL ENVOLVENDO
OS RÉUS XXXX
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4) XXXX: notícias com relatos de agressã o por esta mesma
equipe de policiais, sendo que se trata de jovem com rebaixamento mental;
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Além disso, o Brasil é signatá rio de duas Convençõ es
internacionais específicas sobre o tema: (i) a Convenção Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada em 10 de
dezembro de 1984 pela Assembleia Geral das Naçõ es Unidas (internalizada no Brasil
pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991); (ii) e a Convenção Interamericana
para Prevenir e Punir a Tortura, adotada em 09 de dezembro de 1985 pela
Assembleia Geral da Organizaçã o dos Estados Americanos (internalizada no Brasil pelo
Decreto nº 98.386, de 09 de dezembro de 1989).
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II. DA MATERIALIDADE DO CRIME DE TORTURA
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O exame complementar foi realizado no dia XX de março de
XXX, quase dois anos depois do dia dos fatos (fls. 168), e o perito atestou a “Ausência
de perfuração timpânica em ambos os ouvidos atualmente e nega hipoacusia.” Por fim,
afirma o perito, “Concluo que a vítima sofreu lesões de natureza LEVE.”.
“Parecer audiológico
OD: Perda auditiva mista [ilegível] freq.. 250hz à 8khz, grau
leve (500 hz e 2khz), configuração plana.
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06: Perda auditiva mista [ilegível] freq.. de 250hz à 8khz,
grau leve (x500hz, 1 e 2khz), config. Plana.” (grifo nosso)
Mas nã o é só .
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boca, engatilhou o revólver e colocou-o na boca do declarante;
Que o policial 2 passou a dar socos na barriga do declarante,
que perdeu o fôlego e caiu no chão; Que então colocaram o
declarante na cama e abaixaram sua calça, o policial 2 segurou
seus braços enquanto o policial 1 pegou um cortador de unhas
e disse ‘vou cortar seu saco’; Que ao apertar o cortador de
unhas o declarante começou a chorar, quando então o policial 2
apertou uma almofada em seu rosto por alguns instantes; Que
então mandaram o declarante levantar-se, subir as calças e
encostar na parede com as mãos para trás; Que nesse momento
entrou no barraco um dos outros dois policias (3), e o policial 1
passou a bater na cabeça do declarante com seu revólver, e
então abriu a porta e disse para o declarante ir saindo na
frente, e ficaram os três procurando drogas no barraco;” (grifo
nosso)
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eles abriram a porta do barraco e me mandaram sair e ‘eu sai meu
bambo’;” (grifo nosso)
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arma para mim e mandou eu sair para fora; que ele mandou
eu sentar perto da quadrinha em cima da minha mão; que ele
estava em frente do barraco de minha irmã; que ele foi abordado
por três ou quatro policiais; eu fiquei o tempo todo sentado;
que não vi que eles bateram no meu irmão; que somente vi o meu
irmão sendo trazido pelos policiais, desmaiado e colocado na
viatura; vi que os policiais estavam batendo no meu irmão, acho
que os policiais PM trouxe meu irmão de volta, mas não me lembro;
que falei na Vara da Infância e Juventude que minhas irmãs viram
os policiais dando choques e batendo no meu irmão XXX; que XXX
desmaiou e os policiais levaram para o hospital; (...); que não sei
o motivo que os policiais fizeram isso com meu irmão XXX, o local
já foi ponto de tráfico, mas não é mais; que minha irmã XXXX
não quis depor na vara da Infância e nem na delegacia, pois
ela ficou com muito medo; (...); que toda a atividade dos
policiais, desde o momento da abordagem até eles soltarem
XXXX, durou cerca de uma hora; sei que alguém filmou, mas não
sei se era o momento em que eles estavam batendo ou não, mas não
vi a filmagem; eu vi XXX, o moreno, batendo no meu irmão;
apareci na janela da casa da minha vó, mas não apareci na rua, que
eu era menor na época e por isso nem fui ver o que estava
acontecendo; que foi só então que ele mandou eu sair e sentar na
calçada; não sei a diferença de pistola ou arma, por isso não sei o
tipo de arma que o XXXX me apontou; que a distância de onde
eu estava sentado e do local onde levaram meu irmão era
cerca de 30 ou 40 passos, mas não vi nada do que estava
acontecendo com meu irmão;” (grifo nosso)
Como visto, Excelências, os relatos sã o coerentes entre si, e
pequenas incongruências em poucos detalhes sã o normais quando se trata da memó ria
humana, ainda mais se considerarmos que estes relatos foram feitos 4 (QUATRO) ANOS
APÓ S OS FATOS.
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Seu irmã o, XXXX, nã o viu esta parte pois estava no interior
da casa da avó . Chegou a olhar pela janela, momento em que foi ameaçado pelos réus
com uma arma; acabou sendo chamado pelos réus para acompanhá -los na diligência.
“faz tempo que houve a ocorrência dos fatos, e não me recordo dos
fatos, que trabalhei algumas vezes com a equipe do Sargento XXX e
não me lembro de nenhuma ocorrência em relação a vítima XXX;
que não me lembro de ocorrência de um menor que passou mal e foi
levado ao hospital”.
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referido adolescente ‘passou mal’ e acabou sendo socorrido pelo
depoente e os demais policiais mencionados na denúncia. Acredita
que o adolescente tenha ‘fingido passar mal’ para ‘esconder algo
grande que estaria por perto do local da abordagem’. Não se
recorda se foi preciso fazer uso de força física contra o adolescente,
pois pelo que se lembra ele foi abordado e logo em seguida
começou a ‘passar mal’. Pelo que se recorda não houve
resistência a abordagem, sendo que o depoente permaneceu
próximo da viatura, enquanto a ‘revista pessoal’ foi feita pelos
outros policiais (...) Pelo que se recorda a abordagem se deu na
calçada e o depoente parou a viatura em frente. Pode ser que tinha
alguma ‘ ruela ou beco’, mas a abordagem foi feita na calçada. Logo
após o adolescente passar mal foi conduzido pelo depoente e demais
policiais ao Pronto Socorro, sendo que a equipe acompanhou o
atendimento médico dele. O adolescente ‘apenas desfaleceu,
tendo mal súbito’, sendo que não havia lesões corporais. Salvo
engano o adolescente passou pelo médico e liberado em seguida.
Não se recorda se o responsável legal pelo adolescente esteve no
hospital ou se o menino foi levado até os responsáveis. Não se
recorda se tinham familiares do adolescente no local da
abordagem, mas havia pessoas nas proximidades que
presenciaram a abordagem. O depoente e os réus já conheciam o
adolescente, que tinha uma forte ligação com traficantes. Aquele
bairro o tráfico de drogas é dominado por membros de uma família,
sendo que o adolescente é membro daquela família, que tem pessoas
condenadas pela pratica de tráfico de droga. Acredita que no dia
não foi encontrado nenhum objeto ilícito na posse do
adolescente. O encarregado da viatura era o Sargento da equipe,
XXXX. Pelo que se recorda a abordagem foi toda na via pública e o
adolescente não foi levado para nenhum ‘barraco’. Não se recorda
de quem foi a iniciativa de fazer a abordagem do adolescente. A
abordagem se deu porque o adolescente já é conhecido nos meios
policiais e se encontrava nas imediações de um local que seria ‘
ponto de venda de entorpecente’”.
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O réu XXXX, policial militar réu deste processo, em
depoimento prestado perante o MM. Juízo a quo (fls. 457), afirmou:
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digna de fé, até porque destoa da versão que apresentou quando ouvido na Vara da
Infância e Juventude desta comarca, oportunidade em que afirmou que o menor foi
entregue ao responsável, após ter sido socorrido (fls. 54).” (cf. depoimentos prestados
pelos réus no procedimento apurató rio, fls. 106 e 107).
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mas negaram a prá tica criminosa (fls. 106 e 107). No mesmo sentido foi a defesa
preliminar apresentada pelos mesmos (fls. 210/211 e 220/223).
V. DOS PEDIDOS
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companhia de um responsá vel legal. Por fim, o acusado (iii) negaram a prá tica delituosa,
o que revela nã o estarem arrependidos, além do desconhecimento a respeito do papel
que devem cumprir na sociedade. Por isso, a pena-base deve ser elevada em 2/3 (dois
terços).
Nesses termos,
Pede deferimento.
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