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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 633.441 - PE (2020/0334855-1)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


IMPETRANTE : YURI AZEVEDO HERCULANO
ADVOGADO : YURI AZEVEDO HERCULANO - PE028018
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : ADRIANO MANOEL DA SILVA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
EMENTA

HABEAS CORPUS . HOMICÍDIO. BUSCA E APREENSÃO.


DEFESA QUE NÃO DEMONSTROU QUE O CUMPRIMENTO DO
MANDADO JUDICIAL OCORREU EM ENDEREÇO DIVERSO DO
DECLINADO. DILIGÊNCIA POLICIAL REALIZADA SOB O
SENSO COMUM DE RAZOABILIDADE. ORDEM DE HABEAS
CORPUS DENEGADA.
1. Ao cumprirem o mandado judicial de busca e apreensão, os
Policiais dirigiram-se ao endereço com as características gerais
indicadas no documento. Todavia, no local, descobriu-se tratar de casa
geminada compartilhada entre o Paciente, sua mãe e seu irmão. E, não
obstante a prova acostada a este feito demonstrar que no prédio havia
três portas frontais distintas, o Impetrante deixou de refutar na inicial a
informação dos Agentes que cumpriram a diligência de que portas
traseiras das unidades de habitação comunicavam-se. Em outras
palavras, se por um lado fotos externas do imóvel foram inseridas na
petição inicial, por outro a Defesa deixou de anexar na peça imagens
internas ou croquis da construção que permitissem concluir que se
tratam de endereços de fato distintos – ônus que lhe competia.
2. Assim, no caso pressupõe-se que no imóvel –
independentemente de haver compartimentação que distinga os locais de
residência do Paciente, sua mãe e seu irmão – há cômodos internos que
se comunicam contiguamente. A Defesa, ao não juntar aos autos
imagens internas da construção que confirmassem inequivocamente ser
óbvia a constatação de que no local havia três habitações de fato
independentes, não logrou êxito em comprovar sua alegação de que os
Policiais realizaram diligência em endereço diverso do declinado no
mandado judicial de busca e apreensão.
3. É razoável admitir que os Agentes, durante o cumprimento
do mandado de busca e apreensão, e buscando dar a devida efetividade à
diligência, não poderiam presumir que se tratavam efetivamente de
moradias autônomas. Precedente da Suprema Corte dos Estados Unidos,
no ponto, citado no voto-vista do Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ: United States v. Leon, 468 U.S. 897 (1984), em que foi admitida
a exceção da boa-fé em razão de a atuação policial ter-se dado em
conformidade com o senso comum de razoabilidade, e sob a confiança
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na legalidade dessa atuação. Deliberou-se, na oportunidade, que a
exclusionary rule teria lugar somente na hipótese de má conduta
policial, com a finalidade manifesta de violar a Constituição.
4. Ordem de habeas corpus denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, prosseguindo o julgamento, após o voto vista do Sr. Ministro
Rogerio Schietti Cruz denegando a ordem, sendo acompanhado pelos Srs. Ministros
Antonio Saldanha Palheiro e Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da
1ª Região), a retificação de voto da Sra. Ministra Relatora no mesmo sentido e o voto
do Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior concedendo a ordem, por maioria, denegar a
ordem, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Rogerio
Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro e Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Vencido o Sr.
Ministro Sebastião Reis Júnior.
Brasília (DF), 23 de novembro de 2021 (Data do Julgamento)

Ministra LAURITA VAZ


Relatora

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HABEAS CORPUS Nº 633.441 - PE (2020/0334855-1)
IMPETRANTE : YURI AZEVEDO HERCULANO
ADVOGADO : YURI AZEVEDO HERCULANO - PE028018
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : ADRIANO MANOEL DA SILVA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de habeas corpus , com pedido liminar, impetrado em favor de ADRIANO
MANOEL DA SILVA contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco proferido no
HC n. 0004815-31.2019.8.17.0000 (fls. 109-120).
Consta dos autos que o Magistrado singular deferiu representação de busca e
apreensão domiciliar em desfavor do Paciente (fls. 28-32), decretando a custódia do Investigado, que
veio a ser posteriormente denunciado e pronunciado pela suposta prática dos crimes previstos no art.
121, § 2.º, incisos II e IV, do Código Penal e no art. 2.º da Lei n. 12.850/2013 (fls. 20-27).
Consoante a denúncia, o Acusado seria um dos responsáveis pelo assassinato do então
Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Santa Maria do Cambucá/PE.
A ação delituosa teria ocorrido quando a vítima, ao parar seu veículo na frente da
casa de sua namorada, foi alvejada por diversos disparos de arma de fogo, supostamente efetuados pelo
Paciente e outro acusado.
Ainda conforme a denúncia, no decorrer das investigações, foi revelada a existência de
uma organização criminosa voltada para o tráfico de drogas, associação para o tráfico e homicídios
contra os desafetos dos integrantes da organização, chefiada, em tese, pelo Paciente e pelo corréu (fl.
21).
Em anterior impetração perante a Corte a quo , a Defesa postulou, em suma, a nulidade
da decisão de busca e apreensão e a ilegalidade da diligência, sendo o writ denegado na origem (fls.
72-78). Impetrado habeas corpus nesta Corte, a ordem foi parcialmente conhecida e denegada, por
maioria de votos, em acórdão por mim relatado (HC 428.369/PE , DJe 03/10/2019).
A Defesa manejou novo writ perante o Tribunal a quo , alegando fato novo na decisão
de pronúncia.
A ordem foi denegada nos termos do acórdão de fls. 109-120, cuja ementa é de
seguinte teor:

"HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. REITERAÇÃO DE PEDIDO ANTERIOR.


ALEGAÇÃO DE FATO NOVO EM DECISÃO DE PRONÚNCIA. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE ILEGALIDADE NA DILIGÊNCIA DE BUSCA E APREENSÃO.
CASAS GEMINADAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
DENEGAÇÃO DA ORDEM.

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1. Não se admite a reiteração de pedido de habeas corpus relativamente às
mesmas partes, mesma causa de pedir e pedidos, salvo se houver alteração fática que
justifique uma nova apreciação.
2. Na hipótese, o impetrante trouxe decisão de pronúncia como prova de
suposta alteração fática que comprovaria a ilegalidade da diligência de busca e
apreensão impugnada.
3. Desde o primeiro HC já estava explícito que a busca e apreensão teria sido
realizada em casas geminadas, e a meu ver o teor da decisão de pronúncia só ratificou
que de fato as residências compartilhavam a mesma estrutura, alvenaria e telhado,
pertencendo a mesma família do denunciado Adriano, inclusive o aparelho apreendido
durante a diligência era de propriedade do próprio paciente.
4. Ordem denegada. "

Daí o presente mandamus , no qual o Impetrante aduz que, no julgamento do referido


HC 428.369/PE, a questão da ilicitude da diligência de busca e apreensão deixou de ser conhecida por
não ter o Tribunal a quo apreciado a matéria.
Contudo, aduz que, com o advento da decisão de pronúncia, "onde consta a
transcrição do depoimento do agente policial responsável pela diligência e a análise do magistrado de
piso sobre o mesmo " (fl. 11), não há mais controvérsia nos autos sobre a forma como fora realizada a
diligência de busca e apreensão, restando, somente, a análise acerca de sua licitude. Nesse passo,
assinala que "não há mais que se falar em supressão de instância, para julgamento pelo E. STJ " (fl.
11).
Prossegue sustentando, em suma, a nulidade da diligência de busca e apreensão.
Assevera que a diligência teria sido realizada em endereço diverso do especificado no mandado
judicial (fl. 12).
Também argumenta que a ausência do Auto Circunstanciado afronta a regra prevista
no art. 245, § 7.º do Código de Processo Penal, por se tratar de "documento administrativo que tem por
função exatamente o registro da forma como foi materializada a diligencia de busca, servindo,
portanto, para controle de sua licitude " (fl. 12).
Invoca o voto vencido proferido pelo Ministro Sebastião Reis Júnior no julgamento
do referido HC 428.369/PE. Ressalta que "o voto do Ministro, contudo, foi divergente, unicamente
porque a maioria entendeu não ser o caso de conhecimento da matéria, uma vez que o Tribunal
Estadual não teria a apreciado – o que, conforme esboçado anteriormente, não é mais o caso " (fl. 17).
Requer, em liminar, a suspensão do trâmite do processo. No mérito, postula a
declaração de ilegalidade da diligência de busca e apreensão, declarando-se, consequentemente, a
ilicitude da prova nela obtida.
Pleiteia a intimação prévia para a sustentação oral (fl. 18).
A liminar foi indeferida (fls. 130-132).
Informações às fls. 137-143, 151-158, 165-289 e 291-310.

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O Ministério Público Federal opinou pela não concessão da ordem (fls. 311-315).
É o relatório.

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VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


Registro, inicialmente, que, no julgamento do HC 428.369/PE, impetrado em favor do
ora Paciente, destaquei que, sob pena de indevida supressão de instância, seria descabida a apreciação
da controvérsia relativa à extrapolação dos limites espaciais do mandado de busca e apreensão.
De fato, no julgamento atacado naquele mandamus , o Tribunal de origem havia
afirmado que tal ilegalidade não ficara "sobejamente demonstrada, demandando tal discussão em
incursão detalhada no acervo fático-probatório, sobretudo, pela necessidade de consulta ao
depoimento do delegado de polícia constante da mídia anexa ".
Contudo, verifica-se que, apreciando nova impetração, a Corte estadual se manifestou
sobre a controvérsia, tornando viável, desta vez, a análise da questão.
Pois bem.
A Defesa alega, em suma, que a busca e apreensão determinada pelo Magistrado
singular foi realizada em endereço diferente daquele indicado na decisão. Requer, assim, a declaração
de ilicitude da prova derivada dessa medida.
Extrai-se do acórdão atacado que (fls. 117-119; grifos diversos do original):

"Com base nos julgados acima citados, verifico que o primeiro habeas
corpus impetrado junto ao TJPE não vislumbrou a demonstração inequívoca de que a
diligência de busca e apreensão tenha extrapolado os limites nela delimitados por
adentrar em residências geminadas, expondo a impossibilidade, via HC, de acessar a
mídia do depoimento da autoridade policial para que se obtivessem informações mais
detalhadas sobre a questão, ressaltando que uma incursão mais detalhada no acervo
fático-probatório seria incompatível com o rito de natureza sumária do mandamus.
Nessa acepção, o impetrante renova o pleito de nulidade da diligência
através do presente remédio constitucional, justificando que à época do primeiro
habeas corpus a única prova que demonstrava a ilegalidade da busca e apreensão
seria o depoimento da autoridade policial constante de mídia digital. Contudo,
defende que na decisão de pronúncia restou consignado o que foi dito pelo delegado,
comprovando assim a existência da citada invalidade.
Para tanto trouxe transcrição da citada decisão nos seguintes termos:

'Igualmente, não obstante a alegação de que o mandado fora


cumprido em residência diversa daquela constante do mandado de busca e
apreensão, entendo ter se tratado de mera irregularidade, porquanto, de
acordo com o que fora dito pelo Delegado e confirmado no plano fático, a
casa em que foi encontrado o aparelho celular era geminada, ou seja, uma
residência simétrica que compartilhava com sua vizinha a mesma estrutura,
alvenaria e telhado, as quais pertenciam à mesma família do denunciado
Adriano, tanto que o telefone fora encontrado na casa vizinha, de seu irmão.'

Pois bem, conforme foi aventado pelo parecer da Procuradoria, é cediço que

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não se admite a reiteração de pedido de habeas corpus relativamente às mesmas
partes, mesma causa de pedir e pedidos, salvo alteração fática que justifique uma nova
apreciação.
[...]
Na hipótese, o impetrante trouxe à baila decisão de pronúncia como prova de
suposta alteração fática que comprovaria a ilegalidade da busca e apreensão.
Discordo.
Desde o primeiro HC já estava explícito que a busca e apreensão teria sido
realizada em casas geminadas, e a meu ver o teor da decisão de pronúncia só ratificou
que de fato as residências compartilhavam a mesma estrutura, alvenaria e telhado,
pertencendo a mesma família do denunciado Adriano, inclusive o aparelho apreendido
durante a diligência era de propriedade do próprio paciente.
Do contexto analisado, não se depreende, ao meu ver, que a decisão de
pronúncia trazida à baila comprova a existência de ilegalidade na citada busca e
apreensão.
Na verdade, não vislumbro irregularidade que dê ensejo a concessão da
ordem aqui pleiteada.
Assim sendo, em resumo, considero que as circunstâncias apresentadas não
evidenciam, no momento, irregularidade na busca e apreensão efetivada, a ensejar a
caracterização do constrangimento ilegal noticiado na inicial.
Diante do exposto, conheço do habeas corpus e voto pela denegação da
ordem. "

Como se percebe, o Tribunal de origem, ao rechaçar a tese de nulidade arguida,


assinalou que "o teor da decisão de pronúncia só ratificou que de fato as residências compartilhavam a
mesma estrutura, alvenaria e telhado, pertencendo a mesma família do denunciado Adriano, inclusive o
aparelho apreendido durante a diligência era de propriedade do próprio paciente " (sem grifos no
original).
Contudo, após a análise da manifestação do Juízo singular na decisão de pronúncia,
transcrita no acórdão atacado, e acostada às fls. 34-71, não há como deixar de acolher o pleito
defensivo.
É certo que, conforme a jurisprudência desta Corte, a existência de mero erro material
entre o endereço declinado no mandado de busca e apreensão e o local em que a medida foi
implementada, não acarreta qualquer nulidade, desde que a diligência tenha sido, de fato, realizada no
endereço do investigado .
A propósito:

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A LEI


DE LICITAÇÕES. ILICITUDE DA PROVA OBTIDA COM A BUSCA E APREENSÃO.
ALTERAÇÃO DO NÚMERO DO APARTAMENTO DO INVESTIGADO DEFERIDA
PELO JUÍZO. MEDIDA CUMPRIDA NA VALIDADE DO MANDADO ANTERIOR
QUE CONTINHA O ENDEREÇO CORRETO DO ALVO. COAÇÃO ILEGAL
INEXISTENTE.
1. No caso dos autos, a busca e apreensão foi realizada quando ainda se
encontrava válido o anterior mandado contendo o endereço correto do recorrente,
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tendo o magistrado singular deferido a mudança no número do seu apartamento
depois de implementada a medida, o que afasta a ilicitude das provas obtidas.
2. Eventual desconformidade entre o verdadeiro número do apartamento em
que realizada a busca e apreensão e aquele constante do respectivo mandado não seria
suficiente para macular a diligência, tratando-se, na verdade, de evidente erro
material, já que a medida foi implementada no efetivo endereço do investigado, local
em que foram encontrados objetos e documentos de sua propriedade e que teriam
relação com a prática criminosa em apuração. Precedente.
3. Recurso desprovido " (RHC 85.100/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe 25/08/2017).

"PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. FRUSTRAÇÃO DE DIREITO
ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA. ALEGAÇÃO DE ILICITUDE DAS
PROVAS OBTIDAS COM BUSCA E APREENSÃO. SUPOSTA DEFLAGRAÇÃO DA
AÇÃO PENAL COM PROVA ILÍCITA. PEDIDO DE TRANCAMENTO. INEQUÍVOCO
ERRO MATERIAL NA INDICAÇÃO DO ENDEREÇO OBJETO DA MEDIDA.
IRRELEVÂNCIA. DILIGÊNCIA REALIZADA NO ENDEREÇO CORRETO.
AUSÊNCIA DE NULIDADE. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
I - O trancamento da ação penal por meio do habeas corpus é medida
excepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívoca comprovação
da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou nos
casos de ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito,
inclusive, quando a prova anteriormente colacionada for considerada ilícita.
II - É firme a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça no sentido de
que não causa nulidade a ocorrência de inequívoco erro material na indicação do
endereço alvo da medida cautelar, na decisão judicial que defere representação por
busca e apreensão, se a diligência for realizada no endereço correto dos investigados.
III - Na hipótese, o juiz de primeira instância pretendia autorizar e, de fato,
autorizou a medida cautelar de busca e apreensão na residência dos recorrentes.
Entretanto, por erro material, foi outro o endereço listado no r. decisum de piso, o que
não impediu a autoridade policial de levar a cabo a medida no endereço correto,
cumprindo a sua finalidade.
IV - Não havendo nos autos prova pré-constituída de que a busca e apreensão
teria sido realizada também no endereço erroneamente indicado, como afirmou a
defesa, e não sendo o recurso em habeas corpus compatível com diligências
probatórias, não há como reconhecer qualquer ilegalidade, no ponto.
Recurso ordinário desprovido " (RHC 84.520/PA, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 20/06/2017, DJe 30/06/2017)

Entretanto, não é o que ocorreu no caso concreto.


Ao deferir a representação de busca e apreensão (fls. 28-32), nos autos do processo n.
0000240-55/2016.8.17.1270, o Juízo de primeiro grau especificou os endereços em que a medida
deveria ser realizada. Veja-se (fl. 33):

"O Dr. SOLON OTÁVIO DE FRANÇA, Juiz de Direito da Vara única da


Comarca de Santa Maria do Cambucá/PE, em virtude de lei, etc.
MANDA ao Senhor(a) Oficial (a) de Justiça encarregado da diligência, ou a
autoridade policial competente, que em cumprimento a Decisão deste juízo, e conforme
solicitação, sob as penas da Lei, dirija-se ao local indicado ou onde lhe for apontado,
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jurisdição desta Comarca ou contígua, e depois de preenchidas todas as formalidades
legais, proceda ao abaixo descrito:

PROCEDA A BUSCA E APREENSÃO, nas residências abaixo:


1) Rua do Cruzeiro, nº 279, casa de cor rosa, segunda casa a esquerda, centro,
nesta;
2) Sitio Baixio de baixo, nas proximidades do Bar de Joana, uma casa de cor
verde clara, com uma garagem. "

Na decisão de pronúncia (fls. 34-71), ao rechaçar a alegação de ilegalidade no


cumprimento da medida de busca e apreensão, o Magistrado de primeiro grau assinalou que (fl. 43;
grifos no original ):

"Igualmente, não obstante a alegação de que o mandado fora cumprido em


residência diversa daquela constante do mandado de busca e apreensão, entendo ter se
tratado de mera irregularidade, porquanto, de acordo com o que fora dito pelo
Delegado e confirmado no plano fático, a casa em que foi encontrado o aparelho
celular era geminada, ou seja, uma residência simétrica que compartilhava com sua
vizinha a mesma estrutura, alvenaria e telhado, as quais pertenciam à mesma família
do denunciado Adriano, tanto que o telefone fora encontrado na casa vizinha, de seu
irmão. "

Como se percebe, o Magistrado afirma tratar-se, no caso, de mera irregularidade,


assinalando que o aparelho celular do Paciente foi apreendido em uma casa geminada, isto é,
"residência simétrica que compartilhava com sua vizinha a mesma estrutura, alvenaria e telhado, as
quais pertenciam à mesma família do denunciado Adriano ", mas, na conclusão, foi expresso ao
afirmar que "o telefone fora encontrado na casa vizinha, de seu irmão " (fl. 43).
Vale ressaltar que o fato de uma casa ser geminada (duas ou mais construções
compartilhando o mesmo telhado e parede) não significa, necessariamente, tratar-se de uma residência
única – e, no caso, não era –, sem divisões internas e entradas independentes, de modo que se pudesse
permitir a realização de diligências nas duas moradias.
Reitere-se que o próprio Juiz , no trecho acima transcrito, afirmou que o celular do ora
Paciente foi apreendido em uma residência simétrica "compartilhada com sua vizinha ", e que o
aparelho "fora encontrado na casa vizinha, de seu irmão ", ou seja, a medida cautelar foi cumprida em
mais de uma residência, tanto que o aparelho foi localizado em unidade habitacional diversa da que
reside o Acusado, embora contígua.
Nesse contexto, não vejo outra solução a não ser declarar a nulidade da diligência de
busca e apreensão, que resultou na apreensão do aparelho celular do Paciente, porquanto recolhido na
casa de seu irmão, em endereço diverso do constante no mandado judicial.
Ante o exposto, CONCEDO PARCIALMENTE a ordem de habeas corpus para,

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cassando a decisão de pronúncia, declarar a nulidade da diligência de busca e apreensão no que diz
respeito, tão somente, ao celular do Paciente, bem como as provas dela derivadas, a serem aferidas pelo
Juiz singular, que também deverá analisar a viabilidade do prosseguimento da ação penal à luz de
outras provas eventualmente existentes.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2020/0334855-1 PROCESSO ELETRÔNICO HC 633.441 / PE


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00002240420168171270 00048153120198170000 0501701330028201611


2240420168171270 48153120198170000 501701330028201611 5393031

EM MESA JULGADO: 24/08/2021

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : YURI AZEVEDO HERCULANO
ADVOGADO : YURI AZEVEDO HERCULANO - PE028018
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : ADRIANO MANOEL DA SILVA (PRESO)
CORRÉU : IVSON PEREIRA FERREIRA BARBOSA
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). YURI AZEVEDO HERCULANO, pela parte PACIENTE: ADRIANO MANOEL DA
SILVA
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ADONIS CALLOU DE ARAÚJO SÁ, SUBPROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Laurita Vaz concedendo parcialmente a ordem, pediu vista
antecipada o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz. Aguardam os Srs. Ministros Sebastião Reis
Júnior, Antonio Saldanha Palheiro e Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região).

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VOTO-VISTA

O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ:


Os fatos estão bem delineados no relatório da Ministra Laurita
Vaz. Cinge-se a controvérsia a definir se é ilícita a apreensão do celular do réu,
em casa com características gerais especificadas em mandado de busca,
mas que, posteriormente, se descobriu ser geminada e dividida em unidades
para habitação, também, do irmão e da mãe do investigado.

Diante da exploração de informações contidas no referido


aparelho, foi revelado o crime de homicídio que vitimou José Jorge de Lima,
bem como a existência de organização criminosa e a participação de outros
indivíduos no delito. Com lastro nos dados obtidos, o Juiz deferiu, ainda,
interceptações nos terminais telefônicos dos suspeitos, o que confirmou a
existência de bando atuante no tráfico de drogas e na execução de homicídios.

Após votar a Ministra Relatora, pela concessão da ordem, pedi


vista antecipada.

Existe regra positivada na Carta Magna de 1988, de


inadmissibilidade no processo de provas obtidas por meios ilícitos.
Entretanto, não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias
que se revistam de caráter absoluto e parece correto afirmar que o art. 5°,
LVI, da CF está sujeito a interpretação, principalmente porque o dispositivo
nem sequer conceituou o que seriam provas ilícitas.

O sistema norte-americano, precursor do exclusionary rule


(Boyd vs. US, julgado em 1886), inspirou o ordenamento jurídico pátrio e
possui elaborada doutrina sobre teorias (fruits of the poisonous free) e
exceções ao princípio da exclusão (independente source, inevitable discorery,
good faith exception etc.) que constituem verdadeira fonte de direito
comparado em nossas decisões judiciais.

O direito estadunidense não permite o uso, em contexto


criminal, de dados coletados por meio de conduta inconstitucional (em nível
federal, a regra foi consagrada em 1914, no caso Weeks v. Estados Unidos) e
considera inadmissíveis as evidências derivadas de provas ilícitas. A concepção
do Fruit of the Poisonous Trees foi estabelecida em 1920, na decisão do caso
Silverthorne Lumber Co. v. Estados Unidos. Ainda, a Suprema Corte traz
importantes ressalvas à regra de exclusão, como as teorias da: a) Fonte
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Independente, segundo Wong Sun v. United States, 1963; b) Descoberta
Inevitável, segundo Nix v. Williams, 1984; c) Descontaminação, segundo
United States v. Ceccolini, 1978; d) Boa-Fé, segundo United v. Leon, 1984 e,
ainda e) Expectativa Legítima e Pessoal, segundo Rakas v. Illinois, 1978.

Os tribunais brasileiros, há bastante tempo, utilizam soluções


extraídas do direito comparado para a exclusão da prova ilícita. Ao menos
uma das exceções ao exclusionary rule foi adotada pela jurisprudência pátria
sem regulamentação legal expressa, qual seja, a teoria da independent
source, admitida em julgamento do Supremo Tribunal Federal, no bojo do
RHC n. 90.376/RJ, em 3/4/2007, sob relatoria do Ministro Celso de Mello.

O Supremo Tribunal Federal, também antes da Lei n.


11.690/2008, decidiu:
"Se o que ensejou o início das investigações [...] foram
denúncias recebidas por agentes de polícia, cujos
depoimentos constituem prova autônoma e não
contaminada pela prova viciada, torna-se inquestionável a
licitude da persecução criminal. A prova ilícita,
caracterizada pela escuta telefônica, não sendo a única ou a
primeira produzida no procedimento investigatório, não
enseja desprezarem-se as demais que, por ela não
contaminadas e dela não decorrentes, formam o conjunto
probatório" (STF, 2ª Turma, HC n. 74081/SP, Rel. Min.
Maurício Corrêa, DJU de 13/7/1997).

Podemos, ainda, citar a menção à doutrina estrangeira no HC n.


69.912-0/RS, DJe de 25/3/1994, de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence.

O Superior Tribunal de Justiça, no HC 3.982/RJ (STJ, Rel.


Min. Adhemar Maciel), julgado em 5/12/1995, assentou:

[...] O inciso LVI do art. 5º da Constituição, que fala que


'são inadmissíveis as provas obtidas por meio ilícito', não
tem conotação absoluta. Há sempre um substrato ético a
orientar o exegeta na busca de valores maiores na construção
da sociedade. A própria Constituição Federal brasileira, que é
dirigente e programática, oferece ao juiz, por meio da
'atualização constitucional' (verfassungsaktualisierung), base
para o entendimento de que a cláusula constitucional invocada é
Documento: 2089816 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/02/2022 Página 13 de 8
Superior Tribunal de Justiça
relativa. A jurisprudência norte-americana, mencionada em
precedente do Supremo Tribunal Federal, não é tranquila.
Sempre é invocável o princípio da 'razoabilidade'
(reasonableness). O 'princípio da exclusão das provas
ilicitamente obtidas' (exclusionary rule) também lá pede
temperamentos.”
A jurisprudência pátria admite, ainda, o uso da prova
ilícita em benefício do réu. A gravação ambiental de conversa por um dos
interlocutores e sem o conhecimento do outro é aceita pelo Superior
Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal (v.g.: RE n. 583937 QO-RG,
julgado pelo Tribunal Pleno, em 19/11/2009). Atualmente, após as mudanças
da Lei n. 13.964/2019, o tema tem suscitado divergências, inclusive no âmbito
do Tribunal Superior Eleitoral. No RE n. 1040515, a matéria de repercussão
geral será decidida sob a perspectiva do processo eleitoral.

Todas essas hipóteses evidenciam que o art. 5°, LVI, da CF


não é inflexível e que sua aplicação em determinadas situações é atividade
complexa e deve ser feita, inclusive, à luz do princípio da proporcionalidade.

O Código de Processo Penal não esgota as possibilidades de


interpretação das regras de exclusão e, com a reforma de 2008, apenas algumas
ressalvas foram incluídas no art. 157, parágrafo único, do CPP, mas com
redação equívoca.

Assim, entendo possível, mesmo sem texto legal expresso,


considerar a exceção da boa-fé (good faith exception) para reduzir o alcance
aparente do art. 5°, LVI, da CF, levando-se em conta o escopo da garantia,
de conferir integridade à atividade persecutória, de limitar o poder de coerção
do Estado, de proteger determinados direitos fundamentais dos que lhe estão
sub-rogados, de afastar as práticas abusivas durante a investigação criminal e
de dissuadir sua reiteração (deterrent effect). Todas essas finalidades
sinalizam repúdio à má conduta de agentes estatais e quando esta não
existe, o caso demanda cuidadosa análise do julgador.

Se as autoridades não têm conhecimento de que violam norma


legal ou constitucional de direito material e acreditam, de forma escusável e de
acordo com o senso comum de razoabilidade, que sua atuação está calcada na
legalidade, a evidência obtida não merece ser considerada ilícita e nem ser
suprimida do processo.

É difícil traçar a linha entre erros escusáveis e aqueles que


apenas parecem ser escusáveis. Também há riscos em ampliar
Documento: 2089816 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/02/2022 Página 14 de 8
Superior Tribunal de Justiça
demasiadamente o alcance da exceção, que precisa ser abordada com bastante
equilíbrio. A boa-fé, por isso, não pode ser aferida a partir de crenças ou de
análise da pureza de intenção de agentes estatais, que dificilmente irão
confessar práticas abusivas. É preciso buscar o padrão de razoabilidade
objetiva.

Delineia-se oportuno enfatizar a vasta jurisprudência desta


Corte Superior sobre a ilicitude de ingresso em domicílio sem autorização
judicial (e a invalidade das provas daí produzidas), quando a ação policial é
motivada por mera intuição, sem cautelas devidas e sob assertiva, não
amparada em elementos concretos, de que a casa parecia ser um local de
realização de crime.

No julgamento do HC n. 598.051/SP, de minha relatoria, a


Sexta Turma desta Corte, à unanimidade, também propôs inédita abordagem
sobre o controle do alegado consentimento do morador para o ingresso em sua
casa.

Os debates e o raciocínio desenvolvidos pelo colegiado servem


de diretriz para o reconhecimento da good faith exception, quando também se
deve exigir, em termos de standard probatório, fundadas razões, verificáveis
de modo objetivo (elementos externos), que denotem, consoante uma diretriz
de senso comum e de bom senso, que agentes estatais acreditavam, de forma
razoável, em atuação legal e legítima, sem incidir em erros óbvios ou
ignorância indesculpável, com a confiança justificada de que não
atentavam contra garantias do suspeito.

É preciso identificar erro factual ou jurídico e que outro


profissional bem treinado se comportaria de igual modo, nas mesmas
circunstâncias. Não estamos aqui, portanto, a "esquentar" uma prova ilícita, em
espécie de raciocínio de que os fins justificam os meios, mas verificando que
funcionários públicos não agiram grosseira ou deliberadamente de modo
inconstitucional e que, por isso, de acordo com o escopo do art. 5°, LVI, da
CF, não pode existir a severa sanção da supressão das evidências criminosas.

Existem outras regras na Constituição de 1988 que também


parecem inflexíveis, como a da imunidade material outorgada aos membros
do Congresso Nacional, prevista no art. 53 da CF, mas que a atual
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal interpreta de forma restritiva, por
considerar indispensável, para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu
papel constitucional de garantir o livre exercício das funções, que haja relação
de causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo.
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Superior Tribunal de Justiça

A exceção à cláusula constitucional em apreço foi


construída pela jurisprudência; não há regulamentação expressa em lei. Por
maioria, a Corte máxima do Brasil compreendeu que as imunidades teriam o
objetivo de evitar perseguições políticas, e não isentar os deputados e
senadores da prática de crimes contra a administração da justiça ou a
administração pública.

A aplicação do art. 5°, LVI, da CF também pode ser orientada


pela captação de seu objetivo. Ninguém, em sã consciência, afirmará que a
confissão obtida mediante tortura é válida, independentemente de suas
circunstâncias ou do crime perpetrado. Entretanto, há situações em que a
problemática se mostra bastante complexa, pois nem sequer é simples
identificar conduta ilegal.

A Suprema Corte dos EUA admitiu a exceção da boa-fé no ano


de 1984, no caso United States v. Leon. O réu foi preso em decorrência de
depoimento de informante. Expediu-se mandado e agentes ingressaram na sua
residência, onde apreenderam droga. A defesa alegou que não havia causa
provável para a busca e apreensão, e a tese foi acolhida pelo juiz. Diante de tal
decisão, o advogado requereu a exclusão da prova. Considerou-se, contudo,
que a aplicação da exclusionary rule somente tem lugar quando a violação da
Quarta Emenda ocorre de forma deliberada, o que não era o caso, pois a
polícia confiava na legalidade de sua atuação. Acrescentou-se que a
finalidade da regra é impedir a má-conduta policial, mas não aquela lastreada na
boa-fé, de acordo com o senso comum de razoabilidade. Depois disso, a
teoria foi aplicada em outros julgados.

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal também usa o princípio


da boa-fé quando, por exemplo, aplica a Teoria do Juízo Aparente e valida
provas, em inquérito ou em processo penal, produzidas sob o erro escusável de
competência do juízo que acreditava ter atribuição para autorizá-las. Veja-se:
"Esta Suprema Corte tem endossado, com base na teoria do juízo aparente, a
possibilidade de ratificação de atos processuais praticados por juízo
aparentemente competente ao tempo de sua prática. Precedentes" (RHC n.
198.182 AgR, Rel. Ministra Rosa Weber, 1ª T., DJe 11/6/2021)

Também se admite o encontro fortuito de objetos, não


especificados no mandado de busca e apreensão domiciliar, relacionados a
crime diferente daquele que está sob investigação. Doutrinariamente, chama-se
essa situação de serendipidade. Confira-se:
[...] As provas colhidas ou autorizadas por juízo
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aparentemente competente à época da autorização ou produção
podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser
considerado incompetente, ante a aplicação no processo
investigativo da teoria do juízo aparente. Precedentes: HC
120.027, Primeira Turma, Rel. p/ Acórdão, Min. Edson Fachin,
DJe de 18/02/2016 e HC 121.719, Segunda Turma, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe de 27/06/2016 [...] Nas interceptações
telefônicas validamente determinadas é passível a ocorrência da
serendipidade, pela qual, de forma fortuita, são descobertos
delitos que não eram objetos da investigação originária.
Precedentes: HC 106.152, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber,
DJe de 24/05/2016 e HC 128.102, Primeira Turma, Rel. Min.
Marco Aurélio, DJe de 23/06/2016 [...]
(HC 137438 AgR, Relator(a): Luiz Fux, Primeira Turma, DJe
19/6/2017).

No HC n. 81260-1/ES, julgado pelo Tribunal Pleno do


Supremo Tribunal Federal, DJe 19/4/2002, aceitou-se, em situação de
inobservância de competência constitucional absoluta, a validade de
interceptação telefônica autorizada por Juízo Federal (e os elementos de prova
dela decorrentes) que acreditava supervisionar investigações de crimes de
interesse da União e, após descobrir incompetência superveniente, encaminhou
os autos para a Justiça Estadual.

Assim, a existência de previsão legal não é pressuposto para


a interpretação restritiva do art. 5°, LVI, da CF, mas é importante ressaltar
que o Anteprojeto de Lei n. 4.850/2016 pretende modificar o Código de
Processo Penal para explicitar, em nova redação do art. 157, § 1°, III, do CPP,
a possibilidade de afastamento da ilicitude quando "o agente público houver
obtido a prova de boa-fé ou por erro escusável, assim entendida a existência ou
inexistência de circunstância ou fato que o levou a crer que a diligência estava
legalmente amparada".

Dito isso, passo à resolução do caso concreto.

O paciente, em tese, mediante emprego de arma de fogo, teria


ceifado a vida do Presidente da Câmara da Vereadores de sua cidade. A
mulher que estava com a vítima no momento do atentado reconheceu o
suspeito, fato que levou a autoridade policial, em 11/5/2017, a requerer sua
prisão preventiva e a busca domiciliar, em residências na cidade e na área rural.

O Juiz autorizou a polícia civil a realizar a diligência para a


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busca de "armas de fogo ou munições [...] no interior da residência, [...], bem
como de objetos outros necessários à prova do crime em epígrafe" (fl. 31).
Confira-se a especificação do local, na zona rural (fl. 33): Sítio Baixio de
baixo, nas proximidades do bar da Joana, uma casa de cor verde clara
com uma garagem.

No dia 19/5/2016, a diligência foi cumprida e apreendeu-se o


aparelho celular de propriedade do réu e o de seu irmão. À época, não se
aventou a invasão ao domicílio de outrem.

Em 27/7/2017, policial prestou depoimento em audiência de


instrução e julgamento, quando narrou que o endereço especificado no
mandado judicial referia-se a uma casa geminada, dividida em unidades onde
o paciente, seu irmão e sua genitora compartilhavam a mesma estrutura de
alvenaria e de telhado.

A testemunha esclareceu que o réu foi monitorado no mesmo


local, por alguns dias, o que permitiu, com êxito, o cumprimento das
diligências no Sítio Baixio de baixo, nas proximidades do bar da Joana, em casa
que, posteriormente, se descobriu ser geminada, simétrica e repartida em
duas ou três divisões, com entradas independentes, mas portas traseiras que
se comunicavam. Os policiais não adentraram a casa que existia em frente à
residência geminada, que pertencia ao próprio investigado (e onde armas de
fogo estavam guardadas), porque não havia respaldo legal para tanto. Veja-se o
depoimento:
42'40'':Testemunha: Na mesma diligência foi pedida a
prisão e foi pedida as buscas, agente monitorou ele alguns
dias e conseguiu lograr êxito tanto na prisão quanto nesse
cumprimento de buscas, que foi onde foram apreendidos os
celulares. Advogado: Além dos celulares foi localizada alguma
outra coisa, como entorpecente, arma?
Testemunha: Não, não. Foi apreendido os celulares e salvo
engano eu acho que o carro dele. Só que, uma coisa que a gente
não sabia e só veio saber depois, que ele mantinha, não era
conhecimento da gente até então, ele mantinha uma casa,uma
espécie de um barraco na frente dessa casa de onde a gente fez,
que era casa, uma casa conjugada, é a casa da mãe dele, a casa
aonde ele fica, a casa do irmão, é tudo junto. Só que tinha uma
casa na frente dessa casa, uma espécie de um barraco, que é na
mesma região, na área onde ele morava, e a gente só veio saber
disso depois. E também nós não tínhamos respaldo legal, o
mandado de busca eram específicos para aquelas residências. E
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era exatamente lá que guardavam as armas, mas só soubemos
disso depoise possivelmente depois da prisão dele deram cabo
desses armamentos.
Advogado: As buscas foram autorizadas em mais de uma
residência, o senhor se recorda em qual dessas residências
foram apreendidos os celulares dele?
Testemunha: É como eu digo, não sei precisar porque eram
residências que eram geminadas, ele fala muito nas conversas,
enfim, que ficava muito com o pai e com a mãe, com a irmã, com
os pais, mas como eram geminados... eu tenho convicção[?]que
era a casa dele mesmo. Porque eram coisa que era coladinho, é
como se fosse uma grande casa repartida em duas, três divisões.
Advogado: Entradas independentes?
Testemunha: Entradas independentes, mas enfim, portas
traseiras que se comunicavam é.... e foi apreendido na casa dele,
estava ele, estava o irmão, os celulares... com ele.
Os defensores juntaram, à fl. 14, fotografias do local da
diligência. Esclareceram que o celular de propriedade do réu foi encontrado na
parte da casa pintada de branco, com porta de entrada independente, e que
o lugar era o domicílio do irmão do suspeito, não abrangido pelo mandado.
Não consta do habeas corpus a imagem da parte de trás da residência, onde o
policial que conduziu a diligência narrou existirem portas traseiras que se
comunicavam.

A Suprema Corte dos EUA enfrentou questão similar no


julgamento do caso Maryland v. Garrison, 480 US 79 (1987). Investigadores
obtiveram e executaram mandado de busca contra o suspeito McWebb e "nas
instalações conhecidas como apartamento do terceiro andar da Park Avenue,
2036", em busca de entorpecentes e apetrechos relacionados. A polícia
acreditou razoavelmente que havia apenas um apartamento nas
instalações descritas, mas na verdade o terceiro andar foi dividido em duas
unidades de habitação, uma ocupada por McWebb e outra por Garrison.
Antes de os agentes adentrarem o local ocupado por McWebb, eles
encontraram heroína e outros apetrechos, o que serviu de lastro à condenação.

Decidiu-se que havia mandado válido para todo o terceiro andar.


O exame externo do prédio e as investigações não levavam a crer que no
endereço existiam dois apartamentos e que Garrison habitava um deles. Seis
policiais encontraram McWebb e usaram sua chave para entrar no corredor do
primeiro andar e abrir a porta trancada no topo da escada para o terceiro andar.
Assim que avançaram no vestíbulo do terceiro andar, eles encontraram
Garrison, que estava parado no corredor. Eles podiam ver o interior de uma
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unidade à esquerda e de outra à direita, pois as portas de ambos estavam
abertas. Somente depois que o local foi invadido e a heroína e demais itens
ilícitos foram encontrados, alguns agentes perceberam que o terceiro andar
continha dois apartamentos. Assim que souberam do fato, interromperam a
diligência. Todos os profissionais acreditavam razoavelmente estar revistando o
apartamento de McWebb.

Para o Tribunal americano, a execução do mandado não violou


os direitos do réu sob a Quarta Emenda. A falha em realizar a apreensão em
unidade não habitada pelo suspeito era objetivamente compreensível,
pois os fatos que ensejaram a autorização do meio de prova não sugeriam
nenhuma distinção entre o apartamento de McWebb e outra instalações
do terceiro andar. Quer as premissas descritas no mandado sejam
interpretadas como o terceiro andar inteiro ou como o apartamento de
McWebb, a atuação estatal foi consistente com um esforço razoável para
determinar e identificar o local a ser revistado.

Consoante se observa nos presentes autos, houve especificação,


na autorização judicial, da casa objeto do mandado de busca e apreensão,
que tem uma parte pintada de verde claro. As duas portas diferentes e a pintura
de parte da construção, com a cor branca, não parecem indicar que o local
continha outras residências independentes uma da outra, não acessadas pelo
réu, uma vez que, segundo o testemunho policial, foi lá que monitoraram o
suspeito, antes da diligência, e que encontraram o celular de sua propriedade.

A casa era dividida em ambientes habitados pelo irmão e pela


mãe do réu, os quais compartilhavam a mesma estrutura, alvenaria e
telhado. Ainda, existiam portas traseiras que se comunicavam e antena de
televisão única. O suspeito tinha trânsito pela casa, tanto que, repito, foi
observado no local e mantinha seu celular, um item que está sempre a mão do
usuário, na unidade de seu irmão. Uma visão externa da propriedade não
permite a conclusão de que cada porta equivalia a uma residência
independente, com cozinha, banheiro e sala de estar próprios.

A polícia agiu por erro escusável. Os agentes invadiram o


endereço respaldados por autorização judicial. Pode-se dizer que até mesmo
o suspeito e os seus defensores iniciais na ação penal não consideravam a
possibilidade de má-conduta estatal, pois somente um ano depois delinearam a
tese ilicitude da prova. O imóvel descrito no mandado não era somente verde,
uma parte dele estava pintada de branco, e tinha portas que, à vista da largura
da estrutura e de suas características, não sugeria a existência de várias casas
independentes no local. Não se verifica devassa arbitrária da polícia, tanto que
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os agentes fizeram diligências anteriores para visualizar o suspeito na
construção e não adentraram a habitação que ficava em frente, onde eram
guardadas as armas de fogo, tudo a denotar a confiança justificada, aferida
consoante um padrão de razoabilidade objetiva, de que atuaram sem o
propósito de violar normas legais ou garantias individuais.

Assim, a busca e apreensão não merece ser considerada ilícita e


nem ser extraída do processo.

À vista do exposto, peço vênia à emitente relatora, Ministra


Laurita Vaz, para denegar o habeas corpus.

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RETIFICAÇÃO DE VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Eminentes pares, conforme já detalhadamente esclarecido tanto no que relatei
anteriormente quanto no judicioso voto-vista proferido pelo eminente Ministro ROGERIO SCHIETTI, a
Defesa pretende seja reconhecida a nulidade de busca e apreensão concretizada nos Autos n.
0000240-55/2016.8.17.1270, ao argumento, em suma, de que a diligência ocorrera em endereço diverso
do especificado no mandado judicial .
O mandado, expedido por determinação do Juiz de primeiro grau, assim pormenorizou os
endereços para a medida (fl. 33; sem grifos no original):

"O Dr. SOLON OTÁVIO DE FRANÇA, Juiz de Direito da Vara única da Comarca de Santa Maria do Cambucá/PE, em virtude de
lei, etc.
MANDA ao Senhor(a) Oficial (a) de Justiça encarregado da diligência, ou a autoridade policial competente, que em cumprimento
a Decisão deste juízo, e conforme solicitação, sob as penas da Lei, dirija-se ao local indicado ou onde lhe for apontado, jurisdição desta Comarca
ou contígua, e depois de preenchidas todas as formalidades legais, proceda ao abaixo descrito:

PROCEDA A BUSCA E APREENSÃO, nas residências abaixo:


1) Rua do Cruzeiro, nº 279, casa de cor rosa, segunda casa a esquerda, centro, nesta;
2) Sitio Baixio de baixo, nas proximidades do Bar de Joana, uma casa de cor verde clara, com uma garagem. "

Na decisão de pronúncia (fls. 34-71), ao não reconhecer ilegalidade no cumprimento da medida de busca e apreensão, o Magistrado Singular

consignou o que se segue (fl. 43; grifos diversos do original):

"[...] não obstante a alegação de que o mandado fora cumprido em residência diversa daquela constante do mandado de busca e
apreensão, entendo ter se tratado de mera irregularidade, porquanto, de acordo com o que fora dito pelo Delegado e confirmado no plano fático, a
casa em que foi encontrado o aparelho celular era geminada, ou seja, uma residência simétrica que compartilhava com sua vizinha a mesma
estrutura, alvenaria e telhado, as quais pertenciam à mesma família do denunciado Adriano, tanto que o telefone fora encontrado na casa vizinha,
de seu irmão. "

Constata-se que somente quando do cumprimento da diligência os Agentes Estatais observaram que o imóvel, embora partilhasse "a mesma

estrutura, alvenaria e telhado ", era repartido internamente para que pudessem residir, com certa separação, o irmão e a mãe do Investigado.

A despeito do voto que proferi na sessão de 24/08/2021, no qual concedi a ordem de habeas corpus para anular a diligência – quando concluí que

não se tratava de residência única –, nova reflexão sobre o contexto em que ocorreu o cumprimento do mandado motivou-me a alterar minha compreensão anterior.

Embora a Defesa alegue que a Polícia não se dirigiu à morada correta, de fato o endereçamento constante no mandado judicial indica imóvel

compartilhado com sua mãe e seu irmão , sob o detalhamento "Sitio Baixio de baixo, nas proximidades do Bar de Joana, uma casa de cor verde clara, com uma garagem " (fl.

12). O Impetrante, a propósito, não infirma essa circunstância. Ao contrário. Na própria petição inicial reproduz fragmento do testemunho da Autoridade Policial, do qual

concluo tratar-se do mesmo endereço . Confira-se (fls. 13-14; sem grifos no original):

"42’40’’:
Testemunha: Na mesma diligência foi pedida a prisão e foi pedida as buscas, agente monitorou ele alguns dias e conseguiu lograr
êxito tanto na prisão quanto nesse cumprimento de buscas, que foi onde foram apreendidos os celulares.
Advogado: Além dos celulares foi localizada alguma outra coisa, como entorpecente, arma?
Testemunha: Não, não. Foi apreendido os celulares e salvo engano eu acho que o carro dele. Só que, uma coisa que a gente não
sabia e só veio saber depois, que ele mantinha, não era conhecimento da gente até então, ele mantinha uma casa, uma espécie de um barraco na
frente dessa casa de onde a gente fez, que era casa, uma casa conjugada, é a casa da mãe dele, a casa aonde ele fica, a casa do irmão, é tudo
junto. Só que tinha uma casa na frente dessa casa, uma espécie de um barraco, que é na mesma região, na área onde ele morava, e a gente só veio
saber disso depois. E também nós não tínhamos respaldo legal, o mandado de busca eram específicos para aquelas residências. E era exatamente
lá que guardavam as armas, mas só soubemos disso depois e possivelmente depois da prisão dele deram cabo desses armamentos.
Advogado: As buscas foram autorizadas em mais de uma residência, o senhor se recorda em qual dessas residências foram
apreendidos os celulares dele?
Testemunha: É como eu digo, não sei precisar porque eram residências que eram geminadas, ele fala muito nas conversas, enfim,
que ficava muito com o pai e com a mãe, com a irmã, com os pais, mas como eram geminados...eu tenho convicção[?] que era a casa dele mesmo.
Porque eram coisa que era coladinho, é como se fosse uma grande casa repartida em duas, três divisões...
Advogado: Entradas independentes?
Testemunha: Entradas independentes, mas enfim, portas traseiras que se comunicavam é....e foi apreendido na casa dele, estava
ele, estava o irmão, os celulares...com ele.
Advogado: Foram apreendidos celulares dos parentes dele também?
Testemunha: também ."

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Superior Tribunal de Justiça
E, não obstante o esclarecimento de que no prédio há três portas frontais distintas (o que é corroborado pelas fotografias inseridas na petição

inicial – fl. 14), o Impetrante deixou de refutar na exordial (independentemente de quaisquer esclarecimentos fáticos que tenha sustentado oralmente quando do julgamento

da causa pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça) a informação dos Policiais – à qual se atribui a presunção de legitimidade – de que, no local, portas traseiras

comunicavam-se . Em outras palavras, se por um lado fotos externas do imóvel foram adicionadas na petição inicial, por outro a Defesa deixou de anexar na peça imagens

internas ou croquis da construção que permitissem concluir categoricamente que se tratam de endereços de fato distintos – ônus que lhe competia.

Assim, no caso pressupõe-se que no imóvel – independentemente de haver compartimentação que distinga os locais de residência do Paciente, seu

irmão e sua mãe –, há cômodos internos que se comunicam contiguamente. E, por isso, é razoável admitir que os Agentes , durante o cumprimento do mandado de busca e

apreensão, e buscando dar a devida efetividade à diligência, não poderiam presumir que se tratavam de moradias autônomas .

Dessa forma, a Defesa, ao não juntar aos autos imagens internas da construção – que demostrassem inequivocamente ser óbvia a constatação de

que no local havia três habitações de fato independentes –, não logrou êxito em comprovar sua alegação de que os Policiais realizaram diligência em endereço diverso do

declinado no mandado de busca e apreensão (ônus do qual não se desincumbiu, reitere-se).

Dessa forma, reajusto o dispositivo que proferi na assentada de 24/08/2021 para DENEGAR a ordem de habeas corpus .

É como voto.

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HABEAS CORPUS Nº 633.441 - PE (2020/0334855-1)

VOTO VENCIDO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Senhora Presidente e


Relatora, peço vênia para divergir, e o faço tendo em vista as razões por mim expostas por ocasião do
julgamento do HC n. 428.369/PE.

É como voto.

Documento: 2089816 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/02/2022 Página 24 de 8
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2020/0334855-1 PROCESSO ELETRÔNICO HC 633.441 / PE


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00002240420168171270 00048153120198170000 0501701330028201611


2240420168171270 48153120198170000 501701330028201611 5393031

EM MESA JULGADO: 23/11/2021

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ELAERES MARQUES TEIXEIRA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : YURI AZEVEDO HERCULANO
ADVOGADO : YURI AZEVEDO HERCULANO - PE028018
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : ADRIANO MANOEL DA SILVA (PRESO)
CORRÉU : IVSON PEREIRA FERREIRA BARBOSA
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento após o voto vista do Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz
denegando a ordem, sendo acompanhado pelos Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro e Olindo
Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), a retificação de voto da Sra. Ministra
Relatora no mesmo sentido e o voto do Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior concedendo a ordem, a
Sexta Turma, por maioria, denegou o habeas corpus, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro e Olindo Menezes
(Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Vencido o
Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior.

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