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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 292.119 - AM (2014/0078544-4)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


IMPETRANTE : JOSÉ RIBAMAR COSTA SOARES
ADVOGADO : JOSÉ RIBAMAR COSTA SOARES
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
PACIENTE : A F P (PRESO)

EMENTA

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. EXPLORAÇÃO SEXUAL E ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
ALEGAÇÃO DE QUE A VÍTIMA POSSUÍA MAIS DE 14 (CATORZE) ANOS NA
DATA DO FLAGRANTE. REVOLVIMENTO DE MATERIAL
FÁTICO-PROBATÓRIO INCABÍVEL NA VIA ELEITA. AUTOS QUE
REVELAM QUE OS ATOS FORAM PRATICADOS DIVERSAS VEZES ANTES
DE A VÍTIMA COMPLETAR 14 (CATORZE) ANOS. PEDIDO DE
RECONHECIMENTO DE POSSIBILIDADE DE ABSORÇÃO DO DELITO DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL PELO DELITO DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
EXISTÊNCIA DE CONCURSO ENTRE OS DELITOS. ILEGALIDADE NA
DOSIMETRIA DA PENA. EXISTÊNCIA. OFENSA À SÚMULA 444/STJ.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de
não admitir a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de
cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe
de 11/9/2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC
117.268/SP, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a
Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também
passaram a repudiar a utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento do
recurso adequado (v.g.: HC 284.176/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe
de 2/9/2014; HC 297.931/MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
DJe de 28/8/2014; HC 293.528/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de
4/9/2014 e HC 253.802/MG, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, DJe de 4/6/2014).
II - Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a utilização de
habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o
não conhecimento do presente recurso ordinário como habeas corpus
substitutivo. Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante ilegalidade apta a
gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de
ofício.
III - Não se vislumbra a possibilidade de acolhimento do pleito referente à
desconstituição do delito de estupro de vulnerável, ao argumento de que a vítima já
possuiria 14 anos de idade à época dos fatos, porquanto tal pedido revela imprescindível
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necessidade de reexame do material fático-probatório dos autos, procedimento que, a
toda evidência, mostra-se incompatível com a estreita via do writ. De qualquer forma,
da análise do acórdão reprochado, tem-se que os atos foram praticados diversas vezes
antes mesmo de a vítima completar 14 (catorze) anos.
IV - O delito de exploração sexual de vulnerável permite o concurso de crimes
quando a conduta é praticada mediante violência, razão pela qual o agente também pode
responder pelo delito de estupro de vulnerável, não havendo se falar, portanto, em
absorção daquele crime por este.
V - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base" (Súmula 444/STJ).
Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida de ofício para redimensionar as penas do paciente, para 7
(sete) anos de reclusão, pelo delito de exploração sexual, e 10 (dez) anos de reclusão,
pelo delito de estupro de vulnerável, totalizando 17 anos de reclusão, mantidos os
demais termos da condenação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Gurgel de Faria, Newton Trisotto
(Desembargador Convocado do TJ/SC) e Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador
convocado do TJ/PE) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 05 de maio de 2015 (Data do Julgamento).

Ministro Felix Fischer


Relator

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RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de habeas


corpus substitutivo de recurso especial, com pedido liminar, impetrado em benefício de A. F.
P., em face de v. acórdão proferido pelo eg. Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,
nos autos da Revisão Criminal n. 2012.001621-3.
Para evitar tautologia, adoto, como relatório, o seguinte excerto do parecer
exarado pela d. Procuradoria-Geral da República, às fls. 99-104:

"Ao que se obtém dos autos, o paciente fora condenado à pena de 21 anos
de reclusão, pela prática dos crimes previstos no artigo 244-A, do ECA (exploração
sexual), e no artigo 217-A, do CP (estupro de vulnerável), em concurso material, nos
termos da sentença de fls. 19/26.
Interposta apelação pela defesa, veio ela a ter seu provimento negado pela
Corte amazonense, nos termos do acórdão de fls. 72/78, que espelha a seguinte ementa:
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
AUSÊNCIA DE AUTORIA E MATERIALIDADE, PRETENSÃO DE
ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. DECISÃO MANTIDA
POR SEUS JURÍDICOS FUNDAMENTOS.
1. Não há que se falar em ausência de provas para a
condenação, quando do conjunto probatório constante nos autos, ficou
demonstrada a materialidade e autoria do crime de estupro de vulnerável.
2. Ação delitiva do réu suficientemente demonstrada pela
prova dos autos.
3. Provas colhidas harmônicas entre si e condizentes com o
resultado do processo.
4. Na hipótese, a majoração da pena-base restou
devidamente fundamentada pelas circunstâncias judiciais previstas no art.
59, do CPB.
Recurso conhecido e improvido, em consonância com
parecer do Ministério Público. (fl. 72)

Sobreveio, então, o trânsito em julgado da sentença condenatória, tendo a


defesa, em seguida, ajuizado revisão criminal voltada para a absolvição do paciente,
ação esta que veio a ser julgada improcedente pelo Tribunal estadual, por meio de
acórdão assim ementado:

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. REVISÃO


CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL E EXPLORAÇÃO SEXUAL
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DE CRIANÇA E ADOLESCENTE. MATÉRIA DEVIDAMENTE
DEBATIDA NO PROCESSO DE ORIGEM. PRETENSÃO DE REEXAME
DO CONJUNTO PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE.
INOCORRÊNCIA.
1. A revisão criminal não se presta ao reexame de provas,
devendo ser manejada apenas na hipótese de flagrante ilegalidade ou
equívoco, ou seja, em caso de sentença condenatória contrária ao texto de
lei ou à prova dos autos, fundada em provas falsas, ou ainda, quando
sobrevêm novos elementos hábeis a inocentar o Requerente ou se
descobertas circunstâncias que autorizem ou determinem a diminuição
especial da pena do peticionário.
2. No caso em exame, tem-se a existência de dois delitos
autônomos, na medida em que para a ocorrência do crime de estupro não
se mostrou necessária a exploração sexual da vítima menor, ou seja,
aquele teria se consumado independentemente da contraprestação
financeira ofertada ao infante, quadro esse que apenas confirma a
inexistência de conflito aparente de normas a reclamar a aplicação do
princípio da consunção.
3. O argumento de impossibilidade de utilização do laudo de
conjunção carnal como meio prova - pelo fato de ter sido elaborado por
perito não oficial e inexistirem exames laboratoriais específicos - deve
malograr, tendo em vista que o perito que subscreveu o laudo, em
verdade, era oficial, consoante depreende-se do documento de fls. 35.
Portanto, inexistem invalidades formais ou materiais a serem levantadas
contra o laudo pericial elaborado em conformidade com o estabelecido
pelo caput do artigo 159 do Código de Processo Penal.
4. Não se percebe quaisquer desconformidades entre o juízo
condenatório firmado em desfavor do peticionário, ao contrário,
verifica-se que a sentença e o acórdão estão em perfeita sintonia com os
elementos colhidos ao longo da instrução probatória, os quais se
revelaram suficientes para formar convicção firme e segura acerca da
culpabilidade do agente pelos fatos que lhe foram imputados.
5.Revisão criminal improcedente. (fls. 38/39)

Daí o ajuizamento do presente writ, no qual o impetrante reitera a


argumentação desenvolvida no recurso de apelação e na ação revisional. Sustenta, nesse
passo, que a vítima possuiria, à época dos fatos, mais de 14 anos de idade, circunstância
esta que descaracterizaria o crime de estupro de vulnerável. Afirma, num segundo
momento, quanto ao crime de exploração sexual, que inexistem provas suficientes para
a condenação, bem assim que este delito teria sido absorvido pelo crime de estupro" (fls.
99-101).

A liminar foi indeferida às fls. 54-56.

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As informações foram prestadas às fls. 67-95.
A d. Procuradoria-Geral da República, em parecer de fls. 99-104,
manifestou-se pelo não conhecimento do writ ou, caso conhecido, pela sua denegação.
É o relatório.

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EMENTA

PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
EXPLORAÇÃO SEXUAL E ESTUPRO DE
VULNERÁVEL. ALEGAÇÃO DE QUE A VÍTIMA
POSSUÍA MAIS DE 14 (CATORZE) ANOS NA
DATA DO FLAGRANTE. REVOLVIMENTO DE
MATERIAL FÁTICO-PROBATÓRIO INCABÍVEL
NA VIA ELEITA. AUTOS QUE REVELAM QUE
OS ATOS FORAM PRATICADOS DIVERSAS
VEZES ANTES DE A VÍTIMA COMPLETAR 14
(CATORZE) ANOS. PEDIDO DE
RECONHECIMENTO DE POSSIBILIDADE DE
ABSORÇÃO DO DELITO DE EXPLORAÇÃO
SEXUAL PELO DELITO DE ESTUPRO DE
VULNERÁVEL. EXISTÊNCIA DE CONCURSO
ENTRE OS DELITOS. ILEGALIDADE NA
DOSIMETRIA DA PENA. EXISTÊNCIA. OFENSA
À SÚMULA 444/STJ. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.
I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso
firmou orientação no sentido de não admitir a
impetração de habeas corpus substitutivo ante a
previsão legal de cabimento de recurso ordinário (v.g.:
HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de
11/9/2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli,
DJe de 1º/8/2014 e RHC 117.268/SP, Rel. Min. Rosa
Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a
Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção,
e, desse modo, também passaram a repudiar a
utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento
do recurso adequado (v.g.: HC 284.176/RJ, Quinta
Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC
297.931/MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC 293.528/SP,
Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de
4/9/2014 e HC 253.802/MG, Sexta Turma, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014).
II - Portanto, não se admite mais, perfilhando esse
entendimento, a utilização de habeas corpus
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substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação
que implica o não conhecimento do presente recurso
ordinário como habeas corpus substitutivo.
Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante
ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal,
recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de
ofício.
III - Não se vislumbra a possibilidade de
acolhimento do pleito referente à desconstituição do
delito de estupro de vulnerável, ao argumento de que a
vítima já possuiria 14 anos de idade à época dos fatos,
porquanto tal pedido revela imprescindível necessidade
de reexame do material fático-probatório dos autos,
procedimento que, a toda evidência, mostra-se
incompatível com a estreita via do writ. De qualquer
forma, da análise do acórdão reprochado, tem-se que
os atos foram praticados diversas vezes antes mesmo
de a vítima completar 14 (catorze) anos.
IV - O delito de exploração sexual de vulnerável
permite o concurso de crimes quando a conduta é
praticada mediante violência, razão pela qual o agente
também pode responder pelo delito de estupro de
vulnerável, não havendo se falar, portanto, em absorção
daquele crime por este.
V - É vedada a utilização de inquéritos
policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base" (Súmula 444/STJ).
Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida de ofício para redimensionar as
penas do paciente, para 7 (sete) anos de reclusão, pelo
delito de exploração sexual, e 10 (dez) anos de
reclusão, pelo delito de estupro de vulnerável,
totalizando 17 anos de reclusão, mantidos os demais
termos da condenação.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: O presente habeas


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corpus não merece ser conhecido.
Isto porque a Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no
sentido de não admitir a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de
cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de
11/9/2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC
117.268/SP, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 13/5/2014), sendo que as Turmas que integram
a Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, passando a repudiar a utilização
desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado (v.g.: HC 284.176/RJ,
Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC 297.931/MG, Quinta Turma,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC 293.528/SP, Sexta Turma, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e HC 253.802/MG, Sexta Turma, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014).
Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a utilização de
habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o não
conhecimento da impetração. Por tal razão, pois, deixo de conhecer do presente recurso
ordinário como habeas corpus substitutivo.
Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante ilegalidade apta a gerar
constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de ofício.
Passo, assim, a analisar o presente writ, a fim de verificar tal possibilidade.
Como visto, pretende o impetrante a concessão da ordem em favor do
paciente, a fim de desconstituir o delito de estupro de vulnerável, porquanto a vítima possuiria
mais de 14 anos à época do flagrante. Requer, alternativamente, o reconhecimento da
possibilidade de absorção do delito de exploração sexual pelo delito de estupro.
Inicialmente, no que tange ao pleito de desconstituição do delito de estupro de
vulnerável, ao argumento de que a vítima já possuiria 14 anos de idade à época dos fatos, não
se vislumbra a possibilidade de acolhimento do pleito, porquanto tal pedido revela
imprescindível necessidade de reexame do material fático-probatório dos autos, procedimento
que, a toda evidência, mostra-se incompatível com esta estreita via do writ.
De toda sorte, não se vislumbra a ocorrência de flagrante ilegalidade, uma vez
que, conforme consignado no v. acórdão de apelação, "compulsando os autos e levando em
consideração o depoimento da vitima, bem como outras provas em juízo, ficou

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devidamente comprovado que os atos libidinosos contra a vitima praticados, foram
ocorridos por diversas vezes, antes mesmo da vítima ter completado 14 (quatorze) anos,
sendo cessado apenas com a descoberta pela polícia e prisão do acusado, no dia do
flagrante" (fl. 75), de forma que não há como ser afastada, no restrito espectro de cognição
do mandamus, a tipicidade da conduta.
Passo, então, a analisar a possibilidade de absorção do delito de
exploração sexual, pelo delito de estupro de vulnerável, capitulado no art. 217-A do
Código Penal.
Assim o fazendo, verifico que melhor sorte não socorre o impetrante.
Sobre o tema, transcrevo importante lição de Guilherme de Souza Nucci, in
Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, Ed. Forense, pg. 728, acerca do tipo
penal em comento, in verbis:

"Análise do núcleo do tipo: submeter (subjugar, dominar moralmente) é o


verbo nuclear, cujo objeto é a prostituição (realização de ato sexual mediante paga, em
caráter habitual) ou exploração sexual (tirar proveito de ato sexual). O destinatário da
submissão é a criança ou o adolescente. Menciona-se, primeiramente, a prostituição, que
significa entregar-se à devassidão e à corrupção moral, relacionando-se sexualmente
com alguém em troca de dinheiro ou outra vantagem. Cuida-se de conduta visivelmente
habitual, exigindo regularidade. Não se pode sustentar haver prostituição se, em uma
única ocasião, alguém se relaciona sexualmente em troca de alguma recompensa. Por
outro lado, a exploração sexual não exige esse caráter duradouro. O agente que se
vale de criança ou adolescente, obrigando-o, por domínio moral, à prática da
prostituição ou de atos sexuais isolados, porém lucrativos, encaixa-se nesse tipo
penal. O mesmo se diga do autor que, valendo-se de fraude ou engodo, consegue levar
o menor à prática sexual. Se o domínio for físico, ou envolva menor de 14 anos, pode
haver concurso com estupro."

Dessarte, assentada a possibilidade de concurso de crimes, não há se falar em


possibilidade de absorção do delito de exploração sexual pelo delito de estupro de vulnerável.
Contudo, no que tange à dosimetria da pena, verifico a ocorrência de
flagrante ilegalidade, a ensejar a concessão da ordem de ofício.
Como cediço, deve-se ressaltar que "Não é viável, na via estreita do habeas
corpus, o reexame dos elementos de convicção considerados pelo magistrado
sentenciante na avaliação das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código
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Penal", porquanto "O que está autorizado é apenas o controle da legalidade dos critérios
utilizados, com a correção de eventuais arbitrariedades" (HC 123210/RJ, Segunda
Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 4/11/2014).
Em outras palavras, a via do writ somente se mostra adequada para a análise
da dosimetria da pena se não for necessário um exame aprofundado do conjunto probatório, e
se se tratar de flagrante ilegalidade, o que verifico ocorrer na hipótese.
Transcrevo, inicialmente, o que ficou consignado por ocasião da prolação da r.
sentença condenatória:

"Atendendo as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código


Penal, no que se refere à culpabilidade, a conduta do deve ser tida como de grande
reprovabilidade, eis que a vítima é uma criança de 11 (onze) anos, essa conduta pode
macular a vítima para resto da vida. No que se refere aos antecedentes, tecnicamente é
primário, eis que não houve trânsito em julgado da sentença condenatória da 2o Vara
de Manicoré. A conduta social não é das melhores, eis que muitos meninos freqüentam a
sua casa. Verifico que a personalidade do réu está voltada a prática de crimes sexuais
contra menores, consta que o réu já fora condenado por esse crime num processo da
2o Vara de Manicoré. As circunstâncias são desfavoráveis, eis que a vítima é pobre
sendo fácil ser explorada sexualmente, eis que o réu possui condição financeira
privilegiada para o interior do Estado do Amazonas. Os motivos estão relacionados a
lascívia. As conseqüências são graves, eis que afeta a pessoa da vítima no início da
adolescência. No que se refere ao comportamento da vítima, em nada colaborou, por ser
uma criança.
"Após análise das circunstâncias judiciais, sopesando uma a uma, fixo a
pena-base em 09 (nove) anos de reclusão.
[...]
Atendendo as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código
Penal, no que se refere à culpabilidade, a conduta do deve ser tida como de grande
reprovabilidade, eis que levou um menor para dentro de sua casa. No que se refere aos
antecedentes, tecnicamente é primário. A conduta social demonstra ser reprovável. A
personalidade do agente é voltada a prática de crimes sexuais contra menores, eis que
já fora condenado por exploração sexual num processo da 2a Vara de Manicoré - AM.
As circunstâncias são desfavoráveis, eis que a vítima é uma criança de apenas 11 (onze)
anos. Os motivos estão relacionados a satisfação da lascívia do réu. As conseqüências
são graves, eis que afeta a pessoa da vítima no início da adolescência, causando
repercussões no convívio familiar, escolar e para a sociedade. No que se refere ao
comportamento da vítima, em nada facilitou, eis que é uma criança.
Após análise das circunstâncias judiciais, sopesando uma a uma, fixo a
pena-base em 12 (doze) anos de reclusão" (fl. 23).

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Pois bem, da leitura da r. sentença condenatória, no que tange à dosimetria da
pena, verifica-se que o d. Juízo de primeira instância explicita a ausência de trânsito em julgado
da ação penal considerada para elevação da pena-base do paciente.
No entanto, dispõe a Súmula 444/STJ, que "É vedada a utilização de
inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base."
Sob tal contexto, tenho que a ordem merece ser concedida de ofício, para
reduzir as penas impostas ao paciente, para 7 anos, pelo delito de exploração sexual, e 10
anos, pelo delito de estupro de vulnerável, totalizando 17 anos de reclusão, mantidos os
demais termos da condenação.
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus.
Concedo a ordem de ofício, todavia, para redimensionar as penas do
paciente, para 7 (sete) anos, pelo delito de exploração sexual, e 10 (dez) anos, pelo delito de
estupro de vulnerável, totalizando 17 anos de reclusão, mantidos os demais termos da
condenação.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2014/0078544-4 PROCESSO ELETRÔNICO HC 292.119 / AM


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0522010 20120010022 20120016213 522010

EM MESA JULGADO: 05/05/2015


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO JOSÉ GISI
Secretário
Bel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : JOSÉ RIBAMAR COSTA SOARES
ADVOGADO : JOSÉ RIBAMAR COSTA SOARES
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS
PACIENTE : A F P (PRESO)

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a Dignidade Sexual - Estupro de vulnerável

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido e concedeu "Habeas Corpus" de
ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Gurgel de Faria, Newton Trisotto (Desembargador
Convocado do TJ/SC) e Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE)
votaram com o Sr. Ministro Relator.

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