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Base legal: Artigo 581, inciso IV do Có digo de Processo Penal.

Identificando a peça: "caso o magistrado, ao final da primeira fase do procedimento do


tribunal do jú ri, profira uma decisão de pronúncia, contra essa decisã o cabe Recurso em
Sentido Estrito."
Palavra má gica: Decisão de pronúncia.
Exemplo de identificaçã o de peça: “XI EXAME:“(...) Finda a instruçã o probató ria, o juiz
competente, em decisã o devidamente fundamentada, decidiu pronunciar Jerusa pelo
crime apontado na inicial acusató ria. O advogado de Jerusa é intimado da referida decisã o
para apresentar a peça cabível".
DAS POSSÍVEIS QUESTÕES PRELIMINARES A SEREM ARGUIDAS
Assim como nas demais peças, deve-se buscar preliminares e mérito. As questõ es
preliminares sã o aquelas que nã o observam aspectos formais de determinado ato
processual, gerando, invariavelmente, nulidade.
Para fins de organizaçã o, é recomendá vel abordar neste tó pico todas as questõ es
preliminares que possam gerar nulidade. Isso facilita a resoluçã o pelo examinador.
DAS TESES DE MÉRITO
No caso do recurso em sentido estrito contra decisã o de pronú ncia, as teses de mérito
guardam relaçã o com as hipó teses que podem ensejar decisã o de: a) impronú ncia (art. 414
do CPP); b) absolviçã o sumá ria (art. 415 do CPP); c) ou desclassificaçã o (art. 419 do CPP).
Destaca-se que eventuais teses subsidiá rias podem consistir no afastamento de
qualificadoras e/ou causas de aumento de pena.
DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS:
Como estamos no â mbito dos recursos, é obrigató rio formular pedido de REFORMA e
PROVIMENTO.
Ainda, deve-se formular pedido específico para cada uma das teses, de forma
pormenorizada.
Exemplo 01: Se sustentou tese de mérito referente ao crime impossível, é necessá rio, ao
final, formular pedido expresso para este seja reconhecido e, consequentemente,
requerendo a admissã o da atipicidade da conduta do acusado, conforme artigo 17 do CP.
Exemplo 02: Se sustentou alguma preliminar que possa ensejar nulidade, deve-se, ao final,
formular pedido expresso no sentido de que seja declarada esta nulidade.

Agora, vamos à prática:


Vou compartilhar com vocês a peça processual de RESE que caiu no meu exame de ordem,
(XXVIII).
O caso:
Túlio Vacinado da Silva, nascido em 01/01/1996, primário, começa a namorar Joaquina, jovem que recém
completou 15 anos. Logo após o início do namoro, ainda muito apaixonado, é surpreendido pela informação de
que Joaquina estaria grávida de seu ex-namorado, o adolescente João, com quem mantivera relações sexuais.
Joaquina demonstra toda a sua preocupação com a reação de seus pais diante desta gravidez quando tão jovem e,
em desespero, solicita ajuda de Túlio para realizar um aborto. Diante disso, no dia 03/01/2014, em Porto Alegre,
Túlio adquire remédio abortivo cuja venda era proibida sem prescrição médica e o entrega para a namorada, que,
de imediato, passa a fazer uso dele. Joaquina, então, expele algo não identificado pela vagina, que ela acredita ser
o feto. Os pais presenciam os fatos e levam a filha imediatamente ao hospital; em seguida, comparecem à
Delegacia e narram o ocorrido. No hospital, foi informado pelos médicos que, na verdade, Joaquina possuía um
cisto, mas nunca estivera grávida, e o que fora expelido não era um feto. Após investigação, no dia 20/01/2014,
Túlio vem a ser denunciado pelo crime do Art. 126, caput, c/c. o Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, perante
o juízo do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Alegre/RS, não sendo oferecido qualquer instituto despenalizador,
apesar do reclamo defensivo. A inicial acusatória foi recebida em 22/01/2014. Durante a instrução da primeira fase
do procedimento especial, são ouvidas as testemunhas e Joaquina, assim como interrogado o réu, todos
confirmando o ocorrido. As partes apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a conclusão do feito
para decisão. Antes de ser proferida decisão, mas após manifestação das partes em alegações finais, foram
juntados aos autos o boletim de atendimento médico de Joaquina, no qual consta a informação de que ela não
estivera grávida no momento dos fatos, a Folha de Antecedentes Criminais de Túlio sem outras anotações e um
exame de corpo de delito, que indicava que o remédio utilizado não causara lesões na adolescente. Com a juntada
da documentação, de imediato, sem a adoção de qualquer medida, o magistrado proferiu decisão de pronúncia
nos termos da denúncia, sendo publicada na mesma data, qual seja, 18 de junho de 2018, segunda-feira, ocasião
em que as partes foram intimadas. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado (a) de
Túlio, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes.
A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição, considerando-se que todos os dias de segunda
a sexta-feira são úteis em todo o país.

PADRÃO DE RESPOSTA:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚ RI DA COMARCA DE PORTO ALEGRE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Processo n º...
TÚLIO VACINADO DA SILVA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu
procurador infra-assinado, com procuraçã o em anexo, vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com base no
artigo 581, IV, do Có digo de Processo Penal.
Por oportuno, requer seja recebido o recurso e procedido o juízo de retrataçã o, nos termos
do artigo 589 do Có digo de Processo Penal. Caso mantida a decisã o, requer os autos sejam
submetidos, já com as inclusas razõ es, ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio Grande do Sul, 25/06/2018.
Advogado...
OAB... _________________________________________________
EGRÉ GIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Autos n º...
Recorrente: Tú lio Vacinado da Silva
Recorrido: Ministério Pú blico.
RAZÕES AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
COLÊ NDA CÂ MARA CRIMINAL
I) OS FATOS
O recorrente foi pronunciado por tentativa de aborto, conforme artigo 126, caput, c/c
artigo 14, II, ambos do Có digo Penal, vez que comprara remédio abortivo a fim de que sua
namorada fizesse uso. Na audiência de instruçã o foram ouvidas as testemunhas e Joaquina,
assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As partes apresentaram
alegaçõ es finais orais, e o juiz determinou a conclusã o do feito proferindo, apó s, decisã o de
pronú ncia, sendo as partes intimadas da decisao em 18/06/2018.
II) O DIREITO
a) DAS QUESTÕES PRELIMINARES
• DA PRESCRIÇÃO
Considerando que o réu foi pronunciado com fundamento no artigo 126 c/c 14, II do CP, a
pena má xima para este delito seria de 04 anos que, com base no artigo 109, IV do CP,
prescreveria em 08 anos. Todavia, o réu, na data dos fatos, era menor de 21 anos, já que
nasceu em 01/01/1996, e os fatos foram praticados em 03/01/14, ocasiã o em que o prazo
prescricional será diminuído pela metade, perfazendo em 04 anos, conforme artigo 115 do
CP. À vista disso, uma vez que entre a data do recebimento da denú ncia, 22/01/2014 e a
decisã o confirmató ria de pronú ncia, 18/06/2018, passaram-se mais de quatro anos. Desta
forma, a extinçã o da punibilidade do réu deve ser reconhecida, conforme artigo 107, inciso
IV do CP e art. 415, inciso IV do CPP, nã o havendo responsabilidade penal a ser imputada
ao recorrente.
• DA NULIDADE POR AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DE PROPOSTA DE SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO
Considerando que o crime imputado ao recorrente possui pena prevista de 01 a 04 anos, é
possível a proposta de suspensã o condicional do processo. De acordo com o Art. 89 da Lei
nº 9.099/95, independente de o crime ser ou nã o de menor potencial ofensivo, ainda que
doloso contra a vida, em sendo a pena mínima prevista de até 01 ano, preenchidos os
demais requisitos legais, cabível a proposta de suspensã o condicional do processo.
No caso, Tú lio era primá rio e nã o respondia a qualquer outra açã o penal, nã o havendo
motivaçã o razoá vel para que nã o fosse oferecida a proposta do instituto despenalizador.
Com a suspensã o condicional do processo, sequer haveria que se falar em instruçã o e
pronú ncia, entã o deveria ser anulada a decisã o de pronú ncia, encaminhando-se os autos ao
Ministério Pú blico para manifestaçã o sobre a proposta do benefício.
• DA NULIDADE POR INFRINGÊNCIA AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
Apó s as alegaçõ es finais das partes, foram juntados documentos aos autos relevantes para
o julgamento da causa, tendo o magistrado, de imediato, sem dar vistas à s partes, proferido
decisã o de pronú ncia considerando a documentaçã o apresentada. Diante disso, houve
violaçã o ao princípio da ampla defesa e do contraditó rio, já que a defesa nã o teve acesso a
provas que foram acostadas ao procedimento.
b) DAS QUESTÕES DE MÉRITO
• DO CRIME IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO
O recorrente foi denunciado com incurso nas sançõ es previstas dos artigos 126, caput c/c
artigo 14, II, ambos do CP, acusado de comprar substâ ncia abortiva a fim de que sua
namorada fizesse uso. Supostamente, com a intençã o de matar o feto, sendo apó s,
pronunciado nestes termos.
Entretanto, houve informaçã o da equipe médico hospitalar que, na verdade, a namorada do
recorrente nunca esteve grá vida, e que apenas possuía um cisto que fora expelido para
fora. Logo, não se tratava de um feto. Diante desse argumento que fundamenta a tese do
crime impossível por ineficá cia absoluta do objeto, nã o há que se falar em tentativa de
aborto, vez que inexistia bem jurídico a ser tutelado.
Portanto, de acordo com o artigo 17 do Có digo Penal, a conduta do recorrente é atípica, nã o
incidindo a responsabilizaçã o pela tentativa, devendo este ser absolvido com fulcro no
artigo 415, III do Có digo de Processo Penal.
III) DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Ante o exposto, requer seja provido o recurso com a reforma da decisã o, a fim de que:
a) seja declarada extinta a punibilidade do réu, conforme artigo 107, IV, do CP;
b) seja declarada a nulidade pelo nã o oferecimento da suspensã o condicional do processo,
em observâ ncia ao artigo 89 da lei 9.099/95;
c) seja reconhecida a nulidade da decisã o de pronú ncia, posto que violado o contraditó rio e
ampla defesa, previstos no artigo 5º, LV da CRFB/88;
d) seja o réu absolvido, com fulcro no artigo 415, III, do CPP)
e) seja o réu impronunciado, caso haja dú vidas acerca da materialidade do delito, de forma
subsidiá ria.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio Grande do Sul, 25/06/2018.
Advogado...
OAB...
______________________________________________________
O gabarito oficial da FGV com relação a essa peça, vocês encontram em:
https://dpmzos25m8ivg.cloudfront.net/631/394444_GABARITO%20JUSTIFICADO%20-
%20DIREITO%20PENAL.pdf

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