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Caderno elaborado pelo aluno ERIC CORREIA LIMA (ATBD 2017 - manhã) tendo como base as aulas ministradas

pelo professor Marcelo Amaral Bezerra na disciplina Direito Processual Civil II – Processo de execução.

O presente caderno contém todas as aulas dadas pelo professor na disciplina de Processo Civil II no ano letivo de 2016.
Há soma do conteúdo dado em aula com informações retiradas diretamente de alguns livros de processo civil. O andamento
do conteúdo e a sua colocação nas provas pode variar de um ano para o outro, bem como o tipo de conteúdo dado. É
aconselhável estudar este caderno conjuntamente com algum livro para procurar possíveis divergências doutrinárias e, além
disso, buscar sempre a opinião do professor, que deverá ser considerada como a correta.

Dicas para ser aprovado: a) Ser objetivo e não escrever muito, escrevendo a resposta buscada pelo professor; b) Não perder
tempo transcrevendo a integralidade do texto dos dispositivos da lei; c) Elaborar uma lista de dúvidas e solucioná-las antes de
fazer as provas, fazendo as questões de provas anteriores; d) Dominar a matéria antes de fazer a prova, pela leitura repetida
deste material e de outros livros; e) Começar a estudar o conteúdo bem antes da véspera da prova, de preferência, logo após a
primeira aula; f) Não inovar com teses jurídicas absurdas, buscando a simples solução para o caso concreto, ou seja, “não
procurar chifre em cabeça de cavalo”); g) Ir em todas as aulas; h) Tomar cuidado com as questões objetivas; j) Tomar cuidado
com a mudança de conteúdo do antigo CPC para o novo código, pois nem sempre nas aulas isso estará claro.

4 provas – O conteúdo delas dependerá do professor e do andamento da matéria

1ª prova (Teoria geral da execução): Partes e sujeitos do processo de execução; competência para processar e julgar o cumprimento de
sentença; competência para a execução de título extrajudicial; determinação e cumprimento dos atos executivos; cumulação de execuções;
execução das obrigações alternativas; execução de obrigações sujeitas a condição ou a termo; prescrição da execução de título judicial;
inadimplemento do devedor; os diferentes tipos de títulos executivos (judiciais e extrajudiciais); requisitos dos títulos executivos; execução
provisória (regras, competência, carta de sentença, caução); responsabilidade patrimonial; fraude à execução.

2ª prova (Cumprimento de sentença): Liquidação de sentença; cumprimento de sentença – obrigação de fazer (procedimento, medidas
de apoio, tipo de prestação); meios de oposição ao cumprimento de sentença (impugnação e simples petição); efeito suspensivo na
impugnação; cumprimento de sentença – obrigação de não fazer; cumprimento de sentença – obrigação de entrega de coisa; cumprimento
de sentença – pagar quantia certa; protesto do título judicial; cumprimento de sentença em prestação alimentar.

3ª prova (Execução de título extrajudicial): Execução de obrigação de fazer; execução de obrigação de não fazer; execução de
obrigação de entrega de coisa (certa ou incerta); execução de quantia certa contra devedor solvente; penhora; expropriação de bens
(adjudicação; alienação por iniciativa particular; leilão judicial); satisfação do crédito (levantamento do dinheiro); meios de oposição
do devedor no processo de execução (embargos à execução, objeção de pré-executividade); execução de alimentos em título extrajudicial;
execução de quantia certa contra devedor insolvente.

4ª prova (Tutela cautelar e procedimentos especiais): Tutela de urgência cautelar (conceito, espécies, requisitos, características,
procedimento, tipos de medidas cautelares); procedimentos especiais de jurisdição contenciosa (ação de consignação em pagamento;
ação de oposição; ação de exigir contas; ações possessórias; embargos de terceiro; ação de divisão e demarcação; ação monitória);
procedimentos especiais de jurisdição voluntária (notificação, interpelação e protesto).

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Processo civil II – Processo de execução

O processo de execução se divide em dois: Execução de título judicial e extrajudicial. Visa o processo de execução a
satisfazer o credor usando para isso o patrimônio do devedor. É baseado em sentença (decisão judicial, pode ser uma decisão
interlocutória), portanto (título judicial) ou título extrajudicial (um cheque, por exemplo). Se temos uma sentença, não se
faz um novo processo, ele apenas continua (fase do cumprimento ou execução da sentença). Dentro do processo, temos a fase
de conhecimento, e após a sentença, se ela não for cumprida voluntariamente pelo devedor, passaremos a uma segunda fase
dentro do mesmo processo, que é a fase de execução. O processo civil é sincrético, com duas fases (uma de conhecimento,
onde é publicada a sentença, e se for preciso, de fase executiva).

Título judicial -> Não há um novo processo, mas uma fase de cumprimento da sentença. Há fase de conhecimento.

Título extrajudicial -> Há um processo de execução sem fase de conhecimento.

Quando o título executivo (o documento que embasa a fase de execução) é a sentença (ou a decisão judicial), dizemos que o
título executivo é judicial, e em regra o processo de execução é uma fase do processo já aberto. No caso do cheque, não temos
um processo de conhecimento, porque a lei dá ao cheque eficácia de título executivo. Não preciso promover uma ação de
cobrança do cheque. Se alguém deu um cheque sem fundo, e a pessoa foi ao banco e viu que não tem fundos, amanhã já pode
entrar com um processo de execução (não é nesse caso, fase de execução). O cheque é título executivo extrajudicial porque
não passou pelo Judiciário. Quem emitiu o cheque será citado para em 3 dias para pagar o cheque. Não será citado para
contestar, mas para pagar. O juiz leva em consideração que quem emitiu o cheque realmente deve o dinheiro. Surge um
processo autônomo de execução. O exequente fará uma petição inicial e anexará o documento indispensável (o cheque, que é
o título executivo) e pedirá a citação do réu para pagar o cheque. Se pagar em 3 dias, extingue a execução, mas tem que pagar
honorários e custas. Se ele não pagar em três dias, o credor indicará o carro do devedor à penhora. O carro será levado a leilão
e usado para pagar o credor. No título executivo extrajudicial, há um processo de execução autônomo.

Se porventura for uma sentença, já havia um processo anterior, e portanto teremos uma fase de cumprimento da sentença ou
processo de execução da sentença. Sendo título executivo extrajudicial, ou uma fase de cumprimento da sentença, o conceito
do professor Cândido Dinamarco serve para definir e determinar a execução civil.

Conceito de processo de execução: Conjunto de atos estatais através de que, com ou sem concurso da vontade do devedor
(e até contra ela), invade-se seu patrimônio para a custa dele, realizar-se o resultado fático desejado concretamente pelo
direito objetivo material. (definição de Cândido Dinamarco).

Partes e sujeitos do processo de execução (art. 778 e 779 do CPC)

Elementos necessários do processo de execução, segundo H. Theodoro:

I – subjetivos: as partes, credor (exequente) e devedor (executado); o juiz, ou o órgão judicial, e seus auxiliares;

II – objetivos: a prova do direito certo, líquido e exigível do credor, representada, obrigatoriamente, pelo título executivo; os
bens do devedor, passíveis de execução.

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1) Legitimidade ativa (originária e superveniente, art. 778 do CPC): Quem pode promover a execução é o exequente
(que tem legitimidade ativa, seria em princípio o “autor” da execução). Não é adequado, entretanto, falar em autor ou réu
no processo de execução, pois pode confundir o juiz em relação ao papel do autor ou do réu no processo de conhecimento
anterior. O exequente pode mesmo ter sido o réu na ação de conhecimento. Diz o art. 778: “Art. 778. Pode promover a
execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo”. A legitimação das partes, na maioria das vezes, será extraída
do próprio conteúdo do título. Ex.: “B” foi condenado a pagar 100 mil reais para “A” por conta de sentença, não tendo
cumprido a obrigação no prazo estipulado pela sentença. O legitimado ativo originário é “A”, reconhecido na sentença (título
executivo). Pode “A” promover a execução. Se diz que a legitimidade ativa do exequente é originária neste caso, pois surgiu
com o título. Quando o juiz condenou o devedor a pagar 100 mil, surgiu a legitimidade ativa originária do credor. Originou-
se quando determinada pela sentença, lá estava o nome do exequente. É a sentença também que traz o nome do “B” como
devedor. No exemplo do cheque (título extrajudicial), a legitimidade ativa também seria originária. Ex.: “A” colocou “B”
como credor no cheque. Consta no título que “A” pagará a quantia de 100 mil reais. Quem é o portador reconhecido como
credor no título executivo (cheque) é “A”. A legitimidade originária surgiu quando surgiu o título.

Legitimidade ativa originária -> É preciso ver o nome que está no título executivo, para saber quem é o legitimado ativo
originário. Surge com o nome que está primeiramente no título. Decorre do conteúdo do próprio título executivo.

Legitimidade ativa superveniente -> Surge posteriormente ao nascimento do título executivo, depois do título. Corresponde
às situações jurídicas formadas posteriormente à criação do título e que se verificam nas hipóteses de sucessão, tanto mortis
causa como inter vivos

A questão da legitimidade extraordinária ou anômala (art. 778, § 1º, I do CPC): Segundo o inciso I do § 1º do art. 778,
pode promover a execução forçada: I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei. Aqui não temos uma hipótese de
legitimidade ativa superveniente, nem originária. Na verdade, este artigo prevê uma legitimidade extraordinária (ou
anômala). O MP pode até promover execução civil, mas apenas nos casos previstos em lei. Se a lei não disser nada, não
pode. Este artigo será aplicado apenas se a lei de direito material determinar que o MP pode promover a execução. Ex.: Art.
16 da lei 4.717 de 65, que trata da ação popular (Art. 16. Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença
condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução, o representante do Ministério
Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave). Ex.: Sou autor e promovi uma ação popular,
tendo o réu sido condenado a pagar 100 mil reais. Ganhei esta ação, e em 60 dias não promovi a execução. Neste caso, se
passar dos 60 dias e eu ou um terceiro não promovermos a execução, o MP deve, por força do art. 16, sob pena de falta grave,
promover a execução da sentença. O MP não é o credor reconhecido no título, mas a lei dá a ele a possibilidade de promover
a execução da sentença condenatória proferida na ação popular se em 60 dias eu ou terceiro não promover a execução. Se não
houvesse o art. 16, o MP não poderia promover esta execução. Se a lei abre uma exceção dizendo que neste caso, ele pode
promover a execução, ele também tem legitimidade. Como dissemos, o MP não tem nem legitimidade ativa superveniente,
neste caso, pois a legitimidade já existe pela lei de 65, ou por outras leis que assim considerarem. A legitimidade é anômala,
pois o MP executará direito que compete a um terceiro, e ninguém pode pleitear direito alheio, mas nesse caso se permite
a ele que faça a execução. O MP litigará em nome próprio na defesa de direito alheio. Vejam, o MP só pode promover a

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execução se for sentença condenatória. Se porventura alguém deveria me pagar 100 mil reais e não pagou, e digamos que o
título seja um cheque, o MP não pode promover a execução.

Pergunta que já foi feita em prova: Ontem saí na rua e colidi com o carro do Ministério Público (o órgão), e o MP propôs
uma ação de conhecimento contra mim, porque eu não paguei. Fui condenado pelo procedimento comum, através de uma
sentença condenatória, a pagar 48 mil reais. Não paguei voluntariamente. Quem pode promover a execução contra mim?
Alguém poderia dizer que o MP poderia promover a execução, de acordo com o art. 778, § 1º, I, na qualidade de legitimado
ativo superveniente, mas está errado. A resposta correta é que o MP pode promover a execução de acordo com o caput do art.
778, pois faz isso na qualidade de legitimado ativo originário, pois consta na sentença o seu nome como devedor condenado.

Relembrando a finalidade do processo de execução e a aula anterior: Busca a execução responsabilizar o patrimônio do
devedor, para às custas deste, satisfazer o credor do ponto de vista do concreto do direito reconhecido pelo título executivo.
A execução visa retirar mesmo contra a vontade do devedor, o patrimônio dele, transformar em dinheiro e fazer o que o credor
receba o que tem direito. O legitimado ativo é exequente, e o legitimado passivo é executado. Tanto o autor quanto o réu da
ação de conhecimento podem ser o exequente ou o executado. Ex.: Propus uma ação contra “B”, e ele foi condenado a pagar
100 mil reais. Sou o autor da ação e “B” é réu. Se “B” não pagou voluntariamente os 100 mil reais, sou o autor da ação e sou
o credor reconhecido no título executivo (o exequente), e tenho legitimidade ativa originária. Pode acontecer o contrário. Ex.:
Propus ação contra “B”, e perdi a ação, e “B” apresentou um pedido que foi acolhido. Neste caso, fui condenado a pagar 30
mil reais, perdi a ação e fui condenado a 30 mil. Quem possui legitimidade originária é o credor (B), reconhecido como tal no
título executivo. Foi o réu na ação de conhecimento, mas é o exequente no processo de execução. Não serve então, usar o
termo autor da execução e réu da execução (pois estas figuras podem ser tanto o réu quanto o autor da ação de conhecimento).

Legitimidade ativa superveniente (art. 778, § 1º, II, III e IV do CPC): Este tipo de legitimidade se caracteriza pelo fato de
estranhos à formação do título tornarem-se, depois do surgimento do título, sucessores do credor. Esta sucessão pode se dar
antes ou depois de proposta a execução, sendo que os fatores que determinam essa sucessão podem ser decorrentes de fato
natural (morte) ou ato inter vivos (contrato, por exemplo). Ex.: Propus uma ação contra “B”, e ele foi condenada a pagar 100
mil reais. Hoje promoverei na qualidade de legitimado ativo originário (exequente) a execução contra “B”. Acontece que
acabo morrendo, mas meus herdeiros adquiriram a legitimidade ativa (que não é mais originária, mas é superveniente, pois
brota e surge supervenientemente à formação do título). Os meus filhos só adquiriram legitimidade ativa em razão da minha
morte. Se eu fosse vivo eles não poderiam promover a execução da sentença contra “B”. Como eu morri, eles pegarão o título
executivo, mostrarão a certidão de óbito e que são herdeiros, tendo adquirido a legitimidade ativa superveniente à formação
do título, e poderão executar “B”. Outro exemplo: Alguém foi condenado a pagar 5 mil reais por uma sentença do juiz. O
credor iria entrar com a fase executiva logo mais, mas morreu. A legitimidade nesse caso é superveniente, pois é posterior ao
surgimento do título. Se o credor originário não morreu, os filhos não terão legitimidade ativa. Outras pessoas podem adquirir
a legitimidade, mas não será originária, pois na sentença o nome de quem morreu estava lá. Se o autor da ação morreu na fase
de conhecimento, os filhos tomarão o lugar e será proferida uma sentença condenando o réu a pagar a quem se habilitou como
herdeiro. Os meus filhos terão, nesta hipótese, legitimidade ativa originária (o nome deles aparece como sendo os credores
na sentença). Se morri na fase de conhecimento ou antes de abrir a fase de conhecimento, quem adquiriu legitimidade
originária foi quem estava no processo de conhecimento. Outro ex.: Eu faleci e meus filhos tem um cheque meu, nominal,

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a legitimidade dos filhos é ativa superveniente, juntarão eles a certidão de óbito, e promoverão a execução contra “B” (que
emitiu o cheque). Os três filhos formarão um litisconsórcio ativo necessário. Digamos que um dos meus filhos é amigo de
“B”. Temos 100 mil reais, e um desses filhos disse que não quer o dinheiro, pois é amigo de “B”. Se é um litisconsórcio ativo
necessário, como os filhos farão para promover a ação contra B, se um deles é amigo e não quer promover a ação? Veremos
esta resposta logo mais, mas adianto que os filhos podem promover a ação, mesmo com a discordância de um dos irmãos.

É bom que se diga que a sucessão do exequente na legitimidade ativa superveniente nestes casos, se opera de modo automático,
e independe do consentimento do executado (§ 2º do art. 778: A sucessão prevista no § 1º independe de consentimento do
executado). O executado não precisa concordar com a mudança de exequente. Nada disso depende da sua vontade.

As hipóteses de legitimidade ativa superveniente encontram-se previstas no art. 778, § 1º do CPC: § 1º Podem promover a
execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário:

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante
do título executivo: Espólio é o patrimônio deixado pelo falecido, enquanto não ultimada a partilha entre os sucessores, o
conjunto de bens e direitos do falecido. O espólio pode, segundo o CPC, atuar em juízo, devendo ser representado pelo
inventariante ou pela totalidade dos herdeiros (Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: VII - o espólio,
pelo inventariante. § 1º Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o
espólio seja parte). O espólio poderá promover execução, por exemplo, quando já proposta ela pelo falecido, e ainda não feita
a partilha, o espólio, como conjunto de bens indivisos, substitui o morto no polo ativo da execução. Quando estiver acabada
a partilha, quem promoverá a execução são os herdeiros, cada um por si, como detentores do título executivo. Dissemos que
o espólio é representado pelo inventariante (o que nao exclui a participação dos herdeiros como litisconsortes facultativos).
Sendo destituído o inventariante, com a substituição por um inventariante dativo (e estando em curso a execução), todos os
herdeiros deverão se habilitar no processo para regularizar a representação do espólio. Sendo omisso o inventariante (não
promovendo a execução, por exemplo) qualquer herdeiro pode tomar a iniciativa da ação executiva.

Herdeiro é aquele que sucede ao autor da herança, a título universal, recebendo o patrimônio indiviso, ou uma quota ideal
dela (ainda não individualizada). Sucessor na redação da lei tem significado de legatário, que sucede o falecido a título
singular, tendo ganhado por testamento algum bem específico e individualizado. O sucessor singular tem apenas o direito de
exigir a entrega da coisa legada, só podendo propor execução depois que os herdeiros lhe fizerem a entrega do título executivo
deixado pelo morto em legado. Os sucessores universais, por sua vez, logo no momento da morte assumem legitimidade para
atuar em juízo (art. 1.784 do CC, princípio da saisine). Os herdeiros, como condôminos, podem agir em juízo, mas a benefício
da comunhão. Quem representa o espólio é o inventariante. O espólio, os herdeiros e o legatário apenas ganham legitimidade
em razão de causa mortis (morte do falecido), que era legitimado originário. Se eu, legitimado originário ativo ainda estou
vivo, outra pessoa pode até promover a execução, mas apenas por ato inter vivos (no caso de cessão, por exemplo). No caso
do inciso II, o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor serão legitimados, sempre que pela morte for transmitido o
direito do título executivo.

Toda vez que alguém morre, os sucessores entram na posse dos bens de quem faleceu, e fazem isso pelo droit de saisine.
Ninguém entra com ação para tomar posse dos bens do pai que morreu, é o princípio da saisine que transfere automaticamente

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a posse dos bens do morto. O problema é que o sucessor que está na posse dos bens não pode aliená-los, pois apenas o
proprietário pode fazer isso. Para o herdeiro se tornar claramente proprietário, e o conjunto de bens indiviso do falecido (o
espólio) ser individualizado com justiça para todos os herdeiros, deve entrar com ação de inventário e partilha. Digamos
que existam 4 irmãos, e eu sou um deles. Entraremos com a ação e levaremos os três carros, os 300 mil reais que restaram.
Estes bens serão inventariados em juízo, e após isso, o juiz irá partilhar estes bens entre os herdeiros. Nesta ação, a primeira
coisa que o juiz faz é nomear um inventariante (que é aquele que representará o conjunto de bens deixados pelo falecido em
juízo). O espólio é trazido para ser partilhado. Relembrando o art. 75 do CPC: “Serão representados em juízo, ativa e
passivamente: VII - o espólio, pelo inventariante”. No exemplo anterior, digamos que eu, um dos irmãos, percebi que os 300
mil reais, eram na verdade, um cheque sem fundos. Neste meio tempo em que está aberta a ação de inventário e partilha (e
o espólio continua existindo, como conjunto de bens indivisos, sem saber cada herdeiro o que terá para si), quem promoverá
a execução do título extrajudicial contra a pessoa que deu o cheque é o espólio, representado pela pessoa do inventariante.

Se ainda não foi proposta a ação de inventário e partilha, a situação é diferente. Ex.: O meu pai deixou 300 mil reais em
um cheque sem fundos. Deveríamos abrir o inventário, mas não abrimos, e queremos promover a execução do cheque. Neste
caso, se não está aberto o inventário, posso dizer que há espólio? Sim, há, mas não há inventariante. Quem representa o espólio,
neste caso, é a totalidade dos irmãos que, em litisconsórcio necessário ativo promoverão a ação executiva contra quem emitiu
o cheque sem fundo. Se houver um irmão que não queira promover a execução, eu e meu segundo irmão promoveremos a
execução, e pediremos para intimar o terceiro irmão, pois o litisconsórcio é necessário, e o dinheiro também é dele. Se
ainda assim ele não comparecer, o litisconsórcio está formado, embora ele não tenha comparecido. O juiz receberá os 300 mil
reais e o irmão que não quis promover a ação tem direito à sua parte, pois é herdeiro, embora não queira o dinheiro. Se o irmão
que não concordou não comparecer, a ação prossegue, pois ele foi intimado e não quis entrar. Detalhe, só terei de ter
litisconsórcio se houver mais de um herdeiro e o inventário não tiver sido aberto por inexistir ação de inventário e partilha.

Demos o exemplo que o inventariante foi o irmão, eu ou qualquer um dos irmãos. Ao abrir a ação, o juiz chama e pergunta
quem pode ser nomeado inventariante. Se nenhum dos irmãos quer ser nomeado inventariante, o espólio será representado
por um inventariante dativo, nomeado pelo juiz (um estranho à relação processual). Quando o inventariante for dativo, e
como a princípio ele não conhece o meu pai, para ele tanto faz se quem emitiu o cheque pagará os 300 mil ou não. Por isso,
obrigatoriamente deverá haver a intimação de todos os herdeiros do falecido. O espólio promoverá a execução,
representado pelo inventariante dativo, devendo ser requerida a intimação dos filhos do falecido, para que eles possam
acompanhar a movimentação no processo em que o espólio representado pelo inventariante atuará até a obtenção dos 300 mil
reais. Se o inventariante não for dativo, é porque um dos herdeiros foram nomeados como inventariante, e não se precisa
intimar os demais irmãos, pois se presume que este irmão tenha interesse no processo.

Ação de inventário e partilha já aberta -> Quem promove a execução é o espólio representado pelo inventariante;

Inventariante -> Representa o espólio em juízo. Geralmente é um dos filhos do falecido. Sendo um dos filhos, não é necessário
que se intime os outros irmãos no processo em que o espólio é parte (a presunção é de que o filho é interessado na causa);

Inventariante dativo -> Alguém nomeado para atuar como inventariante quando os irmãos não querem estar nessa posição.
Existindo inventariante dativo, todos os irmãos devem ser intimados no processo (75, § 1º);

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Ação de inventário e partilha não aberta -> Quem promove a execução é o espólio, representado pelos irmãos, em
litisconsórcio necessário ativo (só se houver mais de um herdeiro). Se um dos irmãos não quiser atuar na causa e discordar da
ação, nada impede que ela seja proposta, basta intimar o irmão no processo (pois o litisconsórcio é necessário).

III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos: A primeira diferença
em relação ao inciso II: Naquele inciso, o ato é causa mortis. Aqui, o ato é inter vivos. O cessionário é aquele que recebeu
um crédito de outra pessoa (um título executivo). É o beneficiário da transferência negocial de um crédito por ato inter vivos,
oneroso ou gratuito. Cedente é quem transferiu o crédito. Ex.: Eu tenho um cheque de 200 mil de “B”, que está sem provisão
de fundos. Devo, coincidentemente, 200 mil reais para “A”. Como cedente, eu cederei o cheque como pagamento à “A” (que
é o cessionário). Estou cedendo o cheque, e quando eu cedê-lo, ao fazer isso terei de fazer um contrato de cessão, para que
quando “A” proponha a ação contra “B”, demonstre que tem legitimidade, podendo ser o exequente. Eu sou o cedente, e ele
é o cessionário. Estou cedendo meus direitos creditícios. Eu sou o legitimado ativo originário, e cedi meu crédito para a
cessionária, que toma a posição de legitimado ativo superveniente.

Para que haja a transferência negocial do crédito é preciso que a isso não se oponha a natureza da obrigação, a lei ou a
convenção entre as partes (art. 286 do CC). De modo geral, a maioria dos créditos é passível de cessão. Os que não são
passíveis são exceção. Ex.: Obrigações personalíssimas; Benefícios da previdência social.

É ônus imposto ao exequente demonstrar e provar a cessão de crédito. O cessionário do crédito já em execução não
depende da concordância do devedor para assumir a posição do exequente (o que está cedendo o crédito). Ao contrário do
que se passa no processo de conhecimento (onde o cessionário não pode ingressar em juízo sem a concordância da parte
contrária, pelo art. 109, § 1º do CPC), o cessionário do crédito já em execução não depende de concordância do executado
para assumir a posição de exequente (destacando que é apenas no caso de execução em andamento). Isso porque o § 2º do
art. 778 diz que nos casos de sucessão na legitimidade ativa previstos no § 1º (entre estes, por cessão de crédito), a sucessão
independe do consentimento do executado.

IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional: Sub-rogado é quem pagou a dívida de outra pessoa,
assumindo todos direitos, ações e garantias do credor primitivo contra o devedor principal e seus fiadores (art. 349 do CC). É
a pessoa que substituiu o credor primitivo, por ter pago o crédito, passando a ter um título executivo em relação ao devedor.
Segundo o professor, sub-rogação ocorre quando alguém paga uma quantia em adiantamento e tem o direito de receber esta
quantia de volta de outrem. Ex.: Eu vou promover uma ação contra “B”, que será a execução de um cheque de 200 mil reais.
Neste caso, eu pagarei custas pro Estado. 200 mil reais é o pedido principal, e paguei 580 reais de custas. “B” será citado para
pagar em três dias 200 mil reais, mais 580 reais de custas e o juiz fixou em 10% os honorários advocatícios. Quem está
promovendo a execução é o credor do título executivo. Eu sou sub-rogado, pois adiantei o valor das custas para o Estado e
posso exigir o valor que paguei.

A sub-rogação legal é aquela em que o pagamento é feito por um terceiro interessado na relação jurídica (art. 346 do CC).
Ex.: Fiador que pagou a dívida do afiançado. O fiador se sub-roga no direito do credor satisfeito (que recebeu o dinheiro).
Resumindo, o fiador ganha um título executivo e pode executá-lo para reembolsar o valor gasto.

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Na sub-rogação convencional o pagamento é feito por terceiro não interessado (art. 347 do CC). Duas hipóteses: a) O
terceiro não interessado paga o credor primitivo, e este último transfere a este terceiro todos os seus direitos (347, I); b) O
terceiro não interessado empresta ao devedor o valor que ele precisa para pagar a dívida, sob a condição de ficar o dador do
empréstimo sub-rogado nos direitos do credor primitivo satisfeito (347, II). Segundo o art. 348: “Na hipótese do inciso I do
artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito”.

Legitimação da massa falida, do condomínio e da herança jacente: O CPC se omitiu a esse respeito, mas se entende que
se o espólio como universalidade pode figurar, estas outras figuras também podem figurar na execução. Suas representações
caberão ao administrador judicial (art. 75, V), ao administrador ou síndico (art. 75, XI) e ao curador (art. 75, VI).

2) Legitimidade passiva (art. 779 do CPC): Vejamos quem é o executado. É bom esclarecer antes que responsabilidade e
dívida são coisas diferentes. O devedor comum tem as duas coisas (a dívida e a responsabilidade). Mas em outros casos, não
temos devedor, só temos responsável. O art. 735 do CPC português de 2013, onde se afirma, no nº 1, que “estão sujeitos à
execução todos os bens do devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei substantiva, respondem pela dívida
exequenda”. No nº 2 se acrescenta que, “nos casos especialmente previstos na lei, podem ser penhorados bens de terceiro,
desde que a execução tenha sido movida contra ele”.

Art. 779. A execução pode ser promovida contra:

I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo: Se for execução de sentença (título judicial), o executado será o
vencido no processo de conhecimento e será identificado pela leitura da decisão exequenda. O autor da ação de
conhecimento também pode ser executado, pois quando não é acolhido seu pedido, é condenado a pagar honorários e custas
(sucumbência). Se a execução for de título extrajudicial, será sempre legitimado passivo aquele que figurar no documento
negocial como devedor. Ex.: No cheque aparecerá o nome do devedor (ele é que assinou o cheque). Na sentença aparecerá o
nome do credor, mas também do devedor. O próprio título reconhece o devedor.

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor: Tudo que falamos para a figura do credor, no caso do espólio
representado pelo inventariante, se aplica aqui. O exequente proporá a ação executiva contra o espólio, geralmente
representado pelo inventariante. O art. 75, VII, diz: Serão representados em juízo, ativa e passivamente, o espólio,
representado pelo inventariante. Se o inventariante for dativo, deverão os sucessores, legatários ou herdeiros, serem
intimados, e aí estes poderão acompanhar a defesa ou a oposição à execução. Pode o exequente propor a execução contra os
herdeiros, se não existir ação de inventário e partilha aberta (não há inventariante). Neste caso haverá litisconsórcio necessário
passivo. Acabada a partilha, cada herdeiro será executado individualmente. Detalhe:

A execução pode ocorrer até o montante da herança. Ex.: Deixei um único bem para meus três filhos. O credor propõe a
ação contra meus filhos (os herdeiros, pois não havia ainda inventário), por conta de um crédito de 100 mil reais, e ele vai
penhorar o bem que era de minha propriedade, um carro que vale 100 mil reais. Só tenho esse carro. O máximo que o exequente
poderá tirar dos meus filhos é 100 mil reais.

III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo: Temos casos
de assunção de dívida por terceiro e cessão de débito. Se o credor pode ceder o seu título executivo, o mesmo não ocorre
com o devedor. A cessão de dívida é exceção. Aqui é necessário que exista o consentimento do credor. O CC, no art. 299

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vai na mesma linha. No art. 778, falamos da legitimidade ativa, sendo que o § 2º dizia que não havia a necessidade do
consentimento do devedor para a mudança de exequente. Na legitimidade passiva, o novo devedor pode assumir a qualidade
de executado, desde que o credor assim permita. Essa permissão precisa ser por escrito e expressa. Ex.: Digamos que eu
deva 200 mil reais para “A”. “B” deve para mim 200 mil reais. Quero fazer com que “B” seja o novo devedor de “A”. Tentarei
pagar “A” com o título executivo de “B”. Ocorre que “A” diz que não gostaria que “B” fosse devedor, pois considera que “B”
não tem patrimônio suficiente para pagar a quantia e é mal pagador. Neste caso, não posso obrigar “A” a aceitar que “B” seja
o novo devedor. Para que o novo devedor assuma a legitimidade passiva, só se “A” aceitar.

IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial: Sabe-se que a caução pode ser real ou fidejussória. A real é
representada por algum direito real de garantia. A fidejussória é garantia pessoal, representada pela fiança ou aval. A fiança
pode ser extrajudicial, ou convencional (é contrato, por exemplo, assinado pelo devedor e por duas testemunhas) ou judicial
(por ato processual, o fiador judicial presta no curso do processo garantia pessoal ao cumprimento da obrigação de uma das
partes). No caso de fiador judicial, para ser executado não é necessário que tenha o seu nome na sentença condenatória, pode
ser uma simples decisão interlocutória que reconheça a alguém o poder de exigir a obrigação dele (art. 515, I). O fiador judicial
é executado com título judicial, não é o caso desse artigo, que trata de um título executivo extrajudicial.

Após ter pago a dívida na execução, o fiador terá ação regressiva contra o devedor, sub-rogando-se nos direitos do credor
primitivo e podendo executar o afiançado (CC, art. 832) nos próprios autos, conforme o § 2º do art. 794: § 2º O fiador que
pagar a dívida poderá executar o afiançado nos autos do mesmo processo. O fiador não precisa abrir um novo processo de
execução contra o devedor. Pagou a dívida, sub-rogou-se nos direitos do credor originário e nos próprios autos do mesmo
processo em que pagou a dívida chamará o devedor para que lhe pague.

Fiador -> se sub-roga nos direitos do credor originário -> tem ação regressiva contra o devedor originário -> executará o
devedor nos mesmos autos do processo em que pagou a dívida.

Quando o fiador (extrajudicial ou judicial) for executado, ao indicar bens seus à penhora, ele pode, antes de mais nada, utilizar
do benefício de ordem, para nomear à penhora primeiro os bens do devedor originário. O devedor originário não é parte
na execução do fiador, mas a lei dá essa possibilidade. Antes de ter os seus bens levados à leilão, pode o fiador fazer com que
o exequente leve os bens do devedor primeiro. A previsão é do art. 794, caput: Art. 794. O fiador, quando executado, tem o
direito de exigir que primeiro sejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, livres e desembargados,
indicando-os pormenorizadamente à penhora. O fiador tem direito de indicar os bens do devedor primeiro.

§ 1º Os bens do fiador ficarão sujeitos à execução se os do devedor, situados na mesma comarca que os seus, forem
insuficientes à satisfação do direito do credor: Exercendo o benefício de ordem, primeiro serão indicados à penhora os bens
do devedor. Se faltar algum bem para executar o crédito, o fiador indicará os seus próprios bens. Sendo o crédito totalmente
pago, termina a execução do credor originário contra o devedor. Primeiro, os bens do devedor. Depois, os do fiador.

§ 3º O disposto no caput não se aplica se o fiador houver renunciado ao benefício de ordem. Um contrato pode ser um título
executivo, quando assinado pelo devedor e por duas testemunhas, por exemplo. Digamos que neste contrato seja estabelecida
fiança. Se o fiador deste contrato for chamado a pagar quando necessário, e pagar a dívida, sub-roga-se nos direitos do credor,
e nos próprios autos pode executar o devedor. Como dizemos anteriormente, pode o fiador utilizar o benefício de ordem, mas

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pode não utilizar. Ex.: O próprio contrato pode estabelecer a renúncia, ou o contrato nada diz e o fiador ainda assim paga, não
querendo indicar os bens do devedor à penhora primeiramente. Se o contrato disser que o fiador renunciou ao benefício de
ordem, é óbvio que ele não poderá indicar bens do devedor à penhora. O fiador será executado e pagará tudo, mas terá sempre
o direito de regresso contra o devedor.

Benefício de ordem (vale em fiança judicial ou convencional, art. 794) -> O fiador, quando executado, indica à penhora
primeiramente os bens do devedor (art. 794) -> Pode ou não ser utilizado, o contrato pode dizer que há renúncia ou ela não
ser exercida (§ 3º) -> Mesmo sendo exercido, faltando bens ao devedor, serão penhorados os bens do fiador (§ 1º).

Abaixo continuamos com a explicação dos últimos incisos do art. 789, que tratam dos legitimados passivos na execução.

V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito: Pode ser executado aquele que ofereceu
como garantia real bem próprio para assegurar o cumprimento de obrigação de outra pessoa. A fiança judicial, com
garantia real (penhor, hipoteca) entra aqui. O bem dado em garantia real fica vinculado ao pagamento do débito, serve para
pagar. Preferencialmente é esse bem que será penhorado. A responsabilidade desse titular do bem limita-se ao valor da coisa
dada em garantia. Tanto no inciso V quanto no próximo (o VI) não temos devedores, mas pessoas que respondem com seus
bens (responsáveis), ou seja, pessoas que possuem responsabilidade, mas não possuem a dívida (quem a possui e contraiu é o
devedor). Podem ser executados, mas não são devedores.

VI - o responsável tributário, assim definido em lei: O sujeito passivo da obrigação tributária pode ser o contribuinte (quando
deve pagar por conta do fato gerador) ou o responsável tributário (quando não é contribuinte, mas deve pagar por conta de
disposição de lei). O responsável tributário não é contribuinte, mas por lei deve satisfazer a dívida.

Competência para processar e julgar a execução de título judicial (art. 516 e § único do CPC)

Teremos que dividir a execução civil em execução de título judicial e de título extrajudicial para analisar a competência.

Quando o título executivo é judicial (sentença, em regra a sentença proferida no processo civil): Essa sentença é
necessariamente condenatória? Nem sempre. É possível mesmo executar uma sentença declaratória, em relação aos honorários
advocatícios, por exemplo, ou uma sentença constitutiva e uma sentença mandamental, desde que se tenha aspectos
condenatórios com algo que possa ser executado.

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição: O juiz da ação é o juiz da execução. Esta é a regra geral,
posta no inciso II do art. 516. Ex.: Entrei com uma ação contra “A”. Ele foi condenado pelo juiz da segunda vara cível a pagar
100 mil reais. Transitou em julgado a sentença. Onde promoverei a execução? Em regra, o juiz do processo de conhecimento
é o juiz da execução. Vou fazer uma petição pedindo para o juiz da 2 vara cível intimar “A” na pessoa do seu advogado para
pagar 100 mil reais. Se pagar o dinheiro, nem entramos na execução, ele cumpre voluntariamente. Se não pagar, no próprio
requerimento, já vou indicar alguns bens que ele possui à penhora. Receberei os 100 mil reais. Começaremos a fase de
cumprimento forçado da sentença. O juiz que promoverá a intimação, a penhora, etc, é o juiz da ação de conhecimento.

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É claro que pode ocorrer que o juiz do processo de conhecimento não seja mais o mesmo. Pode ser qualquer juiz que ocupa o
lugar do antigo juiz, que trabalha, no exemplo acima, na segunda vara cível. Não se trata da pessoa daquele juiz que
trabalhou especificamente naquela ação de conhecimento, mas do cargo de juiz daquela vara cível.

I - os tribunais, nas causas de sua competência originária: Neste caso, a competência é originária dos tribunais, com ações
que nascem lá desde a fase de conhecimento. Nesse caso, o tribunal da ação é o tribunal da execução. Ex.: A execução de
acórdão proferido na ação rescisória. O juiz do tribunal da ação (ex.: o da primeira câmara cível do TJ-RS) é o juiz da execução.

Em alguns casos, o tribunal pode ter a competência para julgar a ação e não ter a competência para processar a
execução. É o que acontece quando a sentença for estrangeira (primeiro temos que homologar, claro). Ex.: “A” reside em
Pelotas, e “B” reside em Pelotas, e colidiram o carro na Argentina, tendo sido “A” condenado a pagar 100 mil reais. Trarei ao
Brasil e levarei ao STJ essa sentença estrangeira para que ela seja homologada. Por força do art. 109, X, da CF, competente é
a Justiça Federal de 1º grau, para os casos em que o STJ homologar a sentença estrangeira. Devidamente homologada a
sentença, promoverei a sua execução na JF de Pelotas. É o que veremos no inciso III.

III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira
ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo: No caso do inciso II é a sentença, a decisão proferida no processo civil.
Tratamos aqui, porém, de outros quatro títulos executivos (sentença penal condenatória, sentença arbitral, sentença estrangeira
e acórdão proferido pelo Tribunal marítimo), que não podem seguir a ideia de que o juiz da ação é o juiz da execução, e
veremos o porquê.

No caso de sentença penal condenatória, é bom saber que ela também é título executivo na órbita civil, pois torna certo o
dever de reparar, civilmente, o dano provocado pelo delito. Terão apenas os exequentes que promover a liquidação do quantum
a indenizar (CPC, art. 509). Por isso, não há interesse em propor ação civil indenizatória contra o réu condenado na esfera
penal. Quem promoverá a execução é o juízo cível competente, pois essa sentença penal trará também uma indenização cível,
ou pelo menos a determinação que houve um prejuízo na ordem civil. Será competente para a execução o juízo que seria
competente para a ação condenatória, caso tivesse que ser ajuizada. Ex.: Alguém furtou 5 televisores, totalizando 25 mil reais
de dano. Pego a sentença condenatória penal transitada em julgado e promovo o processo de execução. Um juiz da vara
criminal não pode conhecer da execução na ordem civil. Tanto é que o juiz da orbita civil conhecerá da sentença penal
condenatória como título executivo, não para prender o réu, mas para ressarcir o exequente do dano.

No caso de acórdão de tribunal marítimo, é o juízo cível que é competente.

No caso de sentença arbitral, é necessário sempre um juiz estatal para executá-la, em uma das varas cíveis do foro onde
ocorreu a arbitragem. A execução caberá ao juízo civil que teria competência para julgar a causa, se originariamente tivesse
sido submetida ao Poder Judiciário, em lugar do juízo arbitral (art. 516, III). Ex.: Fiz um negócio com “A”. Neste contrato, eu
disse que pago a “A” 100 mil reais, e ele fará um muro de determinadas dimensões. “A” faz o muro, e eu não pago os 100 mil
reais. Ele promove a ação contra mim. O juiz da ação é o da execução, em regra. Só que neste contrato que fizemos, eu disse
para “A” que o Judiciário é moroso, e seria bom eleger um árbitro, e “A” concorda. Não paguei o dinheiro, e “A” promoveu
a ação em que eu seria condenado a pagar os 100 mil reais. O árbitro é “C”, que proferiu a sentença, que transitou em julgado
e me condenou a pagar 100 mil reais. Poderia ser promovida a execução pelo árbitro? Não pode, pois a execução é um conjunto

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de atos estatais (e o árbitro não é funcionário do Estado). Proferida a sentença pelo juízo arbitral, “A” pode promover a
execução no juízo cível competente, numa das varas cíveis, e o juiz intimará para pagar a dívida em 15 dias (pois o título
executivo é judicial, é uma sentença que condenou ao pagamento de uma quantia certa).

No caso de sentença estrangeira (inclui-se aqui a sentença arbitral estrangeira), o juiz da ação também não é o da execução.
Quem homologa é o STJ. Quem promove a execução é o juízo cível competente (art. 109, X da CF), que é a Justiça Federal
de 1º grau. É importante destacar que no caso de título extrajudicial estrangeiro, não se precisa da sua homologação
pelo STJ, ele pode ser diretamente executado no juízo cível competente. O título extrajudicial formado em outro país é
exequível no Brasil, e sua execução não se sujeita a homologação, podendo ser requerida diretamente em nossa justiça comum.
Em nenhuma hipótese, portanto, haverá exequatur para carta rogatória executiva. No caso da sentença arbitral estrangeira
submete-se, segundo a Lei nº 9.307/1996, art. 35, ao mesmo regime homologatório das sentenças judiciais estrangeiras,
devendo ser homologada pelo STJ.

Sentença arbitral estrangeira -> homologada pelo STJ, como a sentença estrangeira normal;

Título extrajudicial estrangeiro -> pode ser diretamente executado, sem homologação.

Relembrando a aula de ontem: Vimos as regras do art. 516 e a competência para a execução fundada em título judicial. A
regra maior está no inciso II (o juiz da ação é o da execução), e a regra do inciso I na execução de ações originárias em tribunal.
No caso de sentença estrangeira (inciso III), quem homologa ela é o STJ, e quem julga a execução é a JF, por força do art.
109, X. Sentença arbitral, acórdão de tribunal marítimo e sentença penal condenatória seguem a regra do inciso III (executa-
se no juízo cível competente, de acordo com as regras ordinárias de competência do processo civil).

Competência opcional para o cumprimento da sentença. Mais 3 opções para o exequente (§ único, art. 516): Parágrafo
único: Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do
local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou
de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. O § único do art. 516 flexibiliza
as regras de competência do inciso II (o juiz da ação é o juiz da execução, onde havia uma ação originária em tramitação
em juízo de primeiro grau, e nela se formou o título executivo) e do inciso III do 516 (as situações em que não havia processo
cível antecedente responsável pela formação do título (sentença penal, sentença arbitral e sentença e decisão interlocutória
estrangeiras). Pode o exequente, por meio de requerimento endereçado ao juízo de origem, que determinará a remessa dos
autos, optar por 3 juízos (além de, sendo o inc. II, poder executar de acordo com a regra geral – o juiz da ação é o da execução):

a) pelo juízo do atual domicílio do executado;

b) pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução;

c) pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer.

Ex: “A” foi condenado a me pagar 100 mil reais pelo juiz da 3 vara cível da comarca de pelotas. Posso promover a execução,
segundo o inciso II do art. 516, na 3 vara cível da comarca de pelotas. Ocorre que eu sei que “A” mora em POA. Posso optar
por promover a execução no juízo do domicílio do executado, em alguma das varas cíveis de lá (nesse caso, o juiz da ação
não é o da execução, aplica-se a regra do § único do art. 516 e não a do inciso II). Outro exemplo para a hipótese de aplicação

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do § único do art. 516 ao inciso III: “A” foi condenado penalmente em Pelotas, e posso promover a execução em Pelotas, ou
no atual domicílio do executado (mora em POA). Sei que ele possui ainda bens a serem penhorados (3 apartamentos) em
Arroio Grande. Posso promover a execução em Arroio Grande, pois os bens sujeitos à expropriação estão lá.

Ainda, digamos que “A” foi condenado a uma obrigação de fazer (fazer um muro). Nessa ação, eu não quero que ele devolva
o dinheiro, mas faça o muro. Ele foi condenado a fazer o muro em minha casa de Rio Grande. Ganhei a ação em Pelotas, ele
foi condenado a fazer o muro. Promoverei no domicílio dele (Rio Grande) a execução da sentença. Lá é que ele tem a obrigação
de cumprir a sentença, fazendo o muro (como diz o parágrafo único do 516, lá é o juízo do local onde deve ser executada a
obrigação de fazer ou de não fazer). É bom que se diga que é só nos casos de obrigação de fazer ou não fazer. Se a ação
for para entregar uma coisa, terei de promover a execução aqui (onde foi proferida a sentença) ou no domicílio do executado.

Outro exemplo de aplicação do parágrafo único do 516: “A” foi condenado a pagar 100 mil reais. Quem julgou a ação foi o
juiz da vara cível de Pelotas. Posso promover a execução ali mesmo (Pelotas, pela regra do II do art. 516) ou no domicílio
dele (Jaguarão, pela regra do § único do art. 516) ou em Pedro Osório, onde os bens dele estão (também pela regra do parágrafo
único do art. 516). Se eu promover em Pelotas, a fase executiva segue nesta própria ação. Se promover em Jaguarão, onde ele
mora, não abrirá um novo processo. Apresentarei uma petição (um requerimento) informando que em Pelotas, na 3 vara cível
está aberto um processo, direi quem é o executado, quem é o exequente, qual o valor tenho a executar, e terei que provar que
“A” mora em Jaguarão, tirando uma certidão da casa em que ele vive, e que seu domicílio é em Jaguarão, para mostrar ao juiz
que ele é competente. Esse juiz pedirá ao juiz da 3 vara cível Pelotas que envie o processo inteiro a Jaguarão. Depois que o
juiz receber o processo, intimará “A” para pagar o processo em 15 dias. Preciso provar que o executado está domiciliado no
lugar. Se eu quiser propor a ação em Pedro Osório, também precisarei provar que a execução irá para lá por ele realmente
possuir três apartamentos lá, e aí prossegue a fase executiva frente a outra comarca.

Competência para execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 781 do CPC): Já vimos que os títulos
executivos judiciais tem como regra geral de competência a ideia de que o juiz da ação é o juiz da execução. Quando o título
é extrajudicial (cheque, por exemplo), é bom lembrar das competências gerais do processo civil. E é por isso que, segundo o
professor, em regra, o juízo competente seria o do domicílio do executado. Ex.: Fiz um contrato com “B”, assinado por
duas testemunhas. Eu moro em Pelotas, “B” mora em Rio Grande, e o contrato foi feito em Pelotas. Eu tinha obrigação de
pagar 10 mil reais, mas não paguei. Onde “B” promoverá a ação executiva? Em Pelotas, pois é onde eu, executado, moro.

Verifica-se primeiro a competência da lei material extravagante, e depois se vai para as opções do art. 781.

Em caso de título executivo não encontrado no CPC e com regulação específica por legislação extravagante, quem determina
a competência é sempre a lei de direito material. No caso do cheque, a competência é a lei do cheque que traz (é o juízo do
local do pagamento). Não aplicamos as regras de competência do CPC. Se na lei do cheque não houvesse a competência
determinando o local, poderia ser o domicílio do devedor (a regra do art. 781). Ocorre que não serve dizer que a regra geral é
o juízo do domicílio do executado, pois o art. 781 do CPC traz vários juízos competentes para a execução de título extrajudicial,
com várias hipóteses além do juízo do domicílio do executado. Vejamos:

Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente, observando-se o seguinte:
Nas regras que regulam o juízo competente, veremos as regras de competência de qualquer ação, inclusive da ação executiva.

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Os parágrafos do art. 781 trazem variadas possibilidades de opção ao credor. O professor disse que a regra geral era o foro de
domicílio do executado (como na execução de título judicial temos também uma regra geral e várias possibilidades), mas
como também acontece na execução de título judicial, temos várias opções além desta regra geral:

I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação
dos bens a ela sujeitos: A opção é do credor, do exequente. Segundo o professor, a execução de título extrajudicial será
promovida, primeiramente, de acordo com as regras da competência estabelecidas em leis de direito material. Depois, à
escolha do credor, no local onde os bens estão, ou no domicílio do executado ou no foro eleito pelo título (caso em que a
competência será relativa). Segundo H. Theodoro, o credor pode optar por qualquer destes juízos. A opção é apenas dele.

II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles: Ex.: O devedor tem domicílio
em Pelotas, em Jaguarão e Arroio Grande, a escolha também é do credor. Evidentemente, se o credor promover a execução,
precisa provar que o devedor tem mais de um domicílio ou tem os bens sujeitos à expropriação em outro lugar, ou que ele está
domiciliado neste lugar. Digamos que “B” tenha promovido a execução de um contrato assinado por “A” e duas testemunhas.
Esse contrato determinava que “A” faria um muro e “B” pagaria 100 mil reais. “B” pode promover a execução no domicílio
de “A”. Precisa provar que ele está domiciliado naquela cidade. É fácil provar, basta pedir uma certidão da CEEE, para ver se
ele tem conta de luz naquele local. Se porventura “B” promover a execução no local onde “A” possui bens, pedirá uma certidão
do cartório de registro de imóveis, que apresentará uma certidão dizendo que ele possui 5 imóveis na comarca de Pedro Osório,
por exemplo. Quem deve provar é o exequente (“B”) e se “A” tem prova em contrário, pode apresentar.

III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado
ou no foro de domicílio do exequente: No caso de o domicílio do executado ser incerto ou desconhecido, o exequente tem a
opção de promover a execução em seu próprio domicílio (e aí pedirá a citação por edital) ou no lugar onde encontrarem o
executado. Quando o exequente não sabe onde está domiciliado o devedor, e essa é a opção trazida para acelerar a execução.

IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de qualquer deles, à escolha
do exequente: Trata-se de hipótese de litisconsórcio passivo, em que o exequente poderá escolher, dentre os diversos
domicílios dos executados, o que lhe é mais conveniente. Ex.: Temos quatro devedores solidários. Um mora em AG, outro
em Bagé, outro em Pelotas e outro em POA. Posso promover a execução no foro de qualquer um deles, em qualquer destas
cidades, é minha opção, eu, credor. São vários devedores com diferentes domicílios. A escolha é do exequente. Está se
utilizando a regra do domicílio do executado, é que se trata de mais de um domicílio.

V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao
título, mesmo que nele não mais resida o executado: É preciso ter bastante atenção, pois “o local em que ocorreu o fato que
deu origem ao título” não é o lugar em que o título surgiu. Eu posso ter assinado um título (um contrato, por exemplo) em
uma cidade, e mesmo assim essa cidade não ser o foro do lugar em que se praticou o ato ou o local em que ocorreu o fato que
deu origem ao título. Ex.: Contratei “A” para fazer um muro. O contrato foi assinado em Pelotas, mas o fato que originou esse
contrato foi um muro a ser feito em Rio Grande. Posso promover a ação executiva em Pelotas (o domicílio do réu) ou Rio
Grande (o fato que deu origem ao título, que foi o muro, aconteceu em Rio Grande). Resumindo, Rio Grande é “o lugar em
que ocorreu o fato que deu origem ao título”.

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Determinação e cumprimento dos atos executivos (art. 782 do CPC)

Agora não interessa se os atos executivos são do cumprimento de uma sentença (título judicial) ou cumprimento da execução
de um título extrajudicial. Havendo execução de título judicial ou extrajudicial, a determinação e o cumprimento dos atos
executivos sempre se dá da mesma forma.

Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos executivos, e o oficial de justiça os cumprirá: A
competência para decidir sobre o cabimento dos atos executivos é do juiz. O cumprimento dos atos é que caberá ao oficial
de justiça. Ex.: Atos como a penhora, o arresto, o sequestro, o depósito, a remoção dos bens apreendidos, etc. Atos realizados
por outros serventuários: guarda dos bens penhorados, avaliação, leiloamento, etc.

§ 1º O oficial de justiça poderá cumprir os atos executivos determinados pelo juiz também nas comarcas contíguas, de fácil
comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana: O oficial de justiça, neste caso, não precisará de carta
precatória. Isso serve para dar mais agilidade à execução. Ex.: Há uma execução que está tramitando em POA, e por
determinação do juiz, a citação e a penhora deverão ser feitas em Gravataí, região metropolitana da comarca de POA. O
próprio oficial de justiça pode se dirigir a Gravataí e efetuar a citação. São comarcas contíguas. Se não fosse assim, o juiz da
comarca de POA deveria pedir através de uma carta precatória, para que o juiz da comarca de Gravataí emitisse uma ordem
de mandado de citação, o que demoraria muito.

§ 2º Sempre que, para efetivar a execução, for necessário o emprego de força policial, o juiz a requisitará: Não está escrito
que “o oficial de justiça requisitará: Quem requisita é o juiz, por isso o oficial de justiça deve comunicar ao juiz que precisará
de força policial, e o juiz a requisitará. Quem cumprirá o ato executivo acompanhado de força policial é o oficial de justiça.

Dúvida do professor: Consoante estabelecia o art. 222, alínea “d”, do CPC/1973 “a citação será feita pelo correio, para
qualquer comarca do País, exceto: nos processos de execução”. Não existia então citação pelo correio no processo de
execução. Hoje, em razão do art. 247 (que não proíbe expressamente a citação por correio), se admite citação pelo correio no
processo de execução, da mesma forma como ocorre a citação no processo de conhecimento? Sabemos que o juiz determina
os atos e o OJ os cumpre, conforme o art. 782. No caso do art. 247, quem determina é o juiz, mas é o correio que cumpre
(mesmo indo teoricamente contra o art. 782)?

§ 3º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes: Trata-
se de mais um meio coercitivo para compelir o executado a cumprir a obrigação, conferindo maior efetividade à execução.
Esta inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes, em princípio, apenas se aplicaria à execução de títulos
extrajudiciais. Ocorre que o § 5º diz que ela também pode ser aplicada à execução de título judicial (§ 5º O disposto nos
§§ 3º e 4º aplica-se à execução definitiva de título judicial), quando esta for definitiva (não se permite esta inclusão no caso
de execução provisória, portanto).

§ 4º A inscrição será cancelada imediatamente se for efetuado o pagamento, se for garantida a execução ou se a execução
for extinta por qualquer outro motivo: Se for efetuado o pagamento da dívida, ou se for garantida a execução, ou se a
execução for extinta por qualquer motivo, a inscrição deverá ser cancelada, pois não haverá mais motivo para existir.

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Cumulação de execuções (art. 780 do CPC)

Quando ocorre cumulação de execuções, a execução é só uma, mas existem vários títulos. Aqui é necessário esquecer a
cumulação de ações do processo de conhecimento, pois são coisas diferentes. O que acontece aqui é a cumulação de ações
executivas, o que é diferente de cumulação de ações de conhecimento. Ex.: “A” pagou uma dívida que tinha comigo com um
cheque sem fundos de 20 mil reais. Curiosamente, há 1 mês atrás, ele também tinha dado a mim um cheque, de 10 mil reais,
sem provisão de fundos. Cumularei duas ações executivas relacionadas a dois títulos extrajudiciais. Não estou cumulando
ações de conhecimento, mas ações executivas. Outro ex.: “A” foi condenado a pagar 30 mil reais a “B”, pois fizeram um
contrato em que “A” estava obrigado a dar dinheiro e “B” deveria fazer o muro. “B” fez o muro e não recebeu o dinheiro,
tendo processado “A” (ação de conhecimento) e conseguido a condenação de pagar quantia certa. Em outra sentença, “A”
também foi condenado, mas dessa vez por acidente de veículo, tendo sido condenado a pagar 10 mil reais a “B”. “B” pode
cumular as duas execuções de título judicial. Não é necessário que “B” consiga a penhora do carro de “A” em uma ação
executiva e em outra ação penhore outro bem dele. Estes dois títulos judiciais poderão ser executados em um só procedimento
executivo. Mas novamente, “B” não está cumulando duas ações de conhecimento. A fase de conhecimento já terminou em
processos diferentes. “B” está na fase executiva, de cumprimento da sentença, e utilizou o art. 780. Nada impede que uma
ação proposta por “B” (a que “A” foi condenado a pagar 30 mil reais pelo muro tenha tramitado na 1 vara cível da comarca
de Pelotas) e a outra ação, do acidente de veículo, tenha tramitado na 2 vara cível, pois não haverá incompatibilidade de
competência do juízo. Também não há incompatibilidade nos procedimentos (são execuções de título judicial, que obrigam a
pagar quantia certa, com mesmo procedimento, e além disso, é o mesmo devedor).

Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o
mesmo e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento: Ninguém “deve” cumular. O
exequente “pode”, então só cumulará se quiser. A vantagem de cumular as execuções é a de que há menos gasto e mais
celeridade. É sempre uma faculdade do exequente, se quiser ele pode propor execuções separadas e autônomas.

Em relação à parte que fala “ainda que fundadas em títulos diferentes”, posso cumular títulos diferentes dentro da mesma
classificação. Ex.: Posso cumular a execução de um documento particular (contrato) assinado pelo devedor e duas testemunhas
(título extrajudicial) e de um cheque (título extrajudicial). Embora sejam títulos extrajudiciais, são diferentes dentro da
classificação de títulos extrajudiciais (e é dessa diferença que fala o art. 780 fala “ainda que fundadas em títulos diferentes”).
A cumulação de execuções tem requisitos. Na falta de um dos requisitos (mesma competência, mesmo devedor e mesmo
procedimento), não é possível cumular as execuções. Ex.: Tentar cumular a execução de um cheque e de uma sentença.

Vejamos os 4 requisitos da cumulação de execuções:

1) Mesmo credor: O credor precisa ser o mesmo, não sendo permitida a “coligação de credores” (reunião numa só execução
de credores diferentes com base em títulos diferentes). Exceção: execução do devedor insolvente. É possível, porém
litisconsórcio ativo, quando o título executivo dá o crédito a mais de uma pessoa (existem vários credores, mas o crédito é um
só, contra o mesmo devedor).

2) Mesmo devedor: As execuções reunidas devem ser dirigidas ao mesmo executado. Admite-se o litisconsórcio passivo,
mas não se aceita “coligação de devedores”. Exceção: se um só contrato é garantido por fiança de uma pessoa e por hipoteca

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de bem de outra, a identidade do devedor principal, permitirá que a execução cumule os vários coobrigados num só processo,
embora cada um deles responda por títulos diferentes e por valores diversos.

3) Mesma competência do juiz: O juízo deve ser competente para executar os títulos executivos cumulados.

4) Mesmo procedimento: Não é permitido cumular execução relacionada com obrigação de dar com uma execução de
obrigação de fazer, pois o procedimento de cumprimento de sentença dessas duas obrigações é diferente. Como foi dito acima,
não é possível cumular execução de título judicial com de título extrajudicial.

A cumulação indevida de execuções deverá ser questionada em sede de impugnação ou de embargos à execução.

Execução das obrigações alternativas (art. 800 do CPC)

Neste tipo de obrigação, o devedor pode liberar-se por meio de prestações diferentes, ficando a escolha ou arbítrio do credor
ou do devedor (CC, art. 252). Não existindo pretensão em uma das prestações, não há o requisito da certeza no título judicial.
Por isso, a sentença que impõe obrigação alternativa cria um incidente na abertura do processo executivo destinado a realizar
a "concentração da obrigação alternativa", que é um pressuposto indispensável para abrir a execução (CPC, art. 800). Uma
obrigação é alternativa quando temos a conjunção “ou”. Ex.: “Ou” me paga 10 mil “ou” entrega um livro. Há uma
alternativa, e como dissemos, a escolha pode depender do credor ou do devedor. Alguém terá de escolher. Mas cuidado, nem
sempre quando há a conjunção “ou” a obrigação é alternativa. A prova da OAB usou esta conjunção, mas não como se
fosse uma obrigação alternativa. Me dê o livro, ou se não for possível dar o livro, quero 10 mil reais. Era neste caso uma
obrigação sucessiva e subsidiária. Primeiro quero o livro, se não for possível quero o dinheiro. Se o “ou” trouxer sucessão,
a obrigação não é alternativa. No primeiro caso, há duas possibilidades de cumprir a obrigação alternativamente.

Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, esse será citado para exercer a opção e realizar
a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato: Quando a escolha couber
ao devedor, ele será citado, para que se não estiver estipulado outro prazo no título, na lei ou no contrato, escolher uma das
prestações e cumpri-la em 10 dias. Escolherá a opção e a satisfará no prazo de 10 dias. Quando diz em “lei ou em contrato”,
é no título executivo, pois para promover a execução é indispensável que haja um título executivo, judicial ou extrajudicial.
Havendo outro prazo (proveniente da lei ou do contrato) o prazo será outro que não 10 dias. Quando se fala em contrato, o
código quis exemplificar. Não se trata apenas de contrato, mas do documento particular, assinado pelo devedor e por duas
testemunhas, por exemplo, que é título executivo. Não havendo outro prazo na lei ou contrato, o prazo será o legal, de 10 dias.

§ 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo determinado: Não realizando o devedor a escolha
no prazo devido, será esta faculdade transferida para o credor (art. 800, § 1º), que, feita a escolha por manifestação nos autos,
dará prosseguimento à execução, observando o rito adequado à natureza da prestação escolhida (quantia certa, entrega de
coisa, obrigação de fazer etc). Ex.: O devedor foi citado para no prazo de 10 dias escolher entregar ou um código de processo
civil ou um livro. Citado, o devedor não exerceu a opção. Não está se devolvendo a opção ao credor. Citado o devedor, não
cumpre voluntariamente com a obrigação (entregar o livro ou o código). Passados os 10 dias, o juiz determina que o credor
diga qual objeto será escolhido. O credor escolheu o código, e pedirá que se expeça mandado de busca e apreensão.

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§ 2º A escolha será indicada na petição inicial da execução quando couber ao credor exercê-la: No caput, a escolha da
obrigação alternativa competia ao devedor. Se o contrato, ou o título não disser nada, art. 252 do CC põe que competirá ao
devedor a escolha (Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou).

Quando a escolha competir ao credor, ele a fará na petição inicial da execução de título extrajudicial, conforme o § 2º do
art. 800 e o inciso II do art. 798, que assim coloca: Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: II - indicar: a) a
espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada. No requerimento de execução de
título extrajudicial, pedirá o credor a citação do devedor, para que no prazo de 10 dias entregue o bem que ele, credor, escolheu.

Na petição inicial (requerimento) da ação executiva -> no caso de execução de título extrajudicial

Na petição inicial da ação de conhecimento e no requerimento de execução -> no caso de execução de título judicial

Execução de obrigações sujeitas a condição ou termo (art. 514 do CPC)

Art. 514. Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o cumprimento da sentença dependerá de
demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo. Estamos falando de obrigações que estão sujeitas à
condição suspensiva ou sujeitas à termo. Aqui não poderia ser condição resolutiva, pois essa extingue a obrigação. A
condição suspensiva refere-se a evento futuro e incerto. O termo é o momento também futuro, mas certo, em que o ato
jurídico deve produzir seus efeitos. “Termo” aqui é prazo.

Não ocorrendo a condição ou o termo previstos na sentença, não se pode exigir a obrigação (título inexigível), impedindo-
se o acesso à execução, já que o título executivo precisa ser exigível. (Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-
se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível e Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não
satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo). Ex.: Assinei uma nota promissória (título
extrajudicial), e vocês são os credores. No dia 30 de abril eu disse que vou pagar 10 mil reais (há termo, há prazo). Se vocês
quiserem hoje receber os 10 mil reais, não receberão, não poderão executar, pois eu tenho até o dia 30 para pagar, e essa nota
promissória não venceu. Se eu não pagar no dia 30 de abril, dia 31 vocês já podem promover a execução, porque ocorreu o
termo, o vencimento do título. Para que eu possa promover a execução é necessário que o título seja exigível, e um título que
ainda não venceu, estando sujeito a termo, ainda não pode ser exigível. A mesma coisa ocorre com a condição. Se o título
executivo estiver sujeito à condição, e a condição não ocorreu, não pode-se promover a execução, pois falta a exigibilidade.
Ex.: Vocês foram condenados a me pagar 10 mil reais se por acaso formarem-se em direito (condição suspensiva). Ainda não
posso exigir o pagamento, pois ninguém ainda se formou. A dívida é certa, para efeitos de execução, mas está sujeita à
condição. Se a condição não for cumprida, nunca será exigível. Título, seja judicial ou extrajudicial, tem que ser exigível.

Não ocorrência da condição suspensiva e do vencimento do termo -> falta do requisito da exigibilidade do título.

Cabe ao exequente provar a ocorrência do termo ou da condição. No exemplo acima, bastaria provar que a nota
promissória venceu em 30 de abril ao entrar com a execução em 31 de abril. Se for necessário provar a condição, é necessário,
no exemplo acima, provar que os alunos se formaram (pedindo uma certidão dos bacharéis em direito de dezembro de 2017,
com o funcionário do colegiado, por exemplo). O prazo sempre é mais fácil de demonstrar, enquanto a condição é mais

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difícil. Se não comprovar a ocorrência, tenho o título, mas não posso exigir em razão de não ter comprovado a ocorrência da
condição ou do termo.

No título judicial, haverá intimação do devedor para que no prazo de 15 dias cumpra a execução. Será intimado pelo DJ na
pessoa do seu advogado. Essa intimação é do requerimento apresentado pelo credor. No título extrajudicial, o prazo para
cumprir a execução (3 dias) corre a partir da citação, não correndo na forma do art. 239 do CPC (a partir da juntada dos autos
do mandado devidamente cumprido).

Prescrição da execução de título judicial (arts. 924, 925 e 921 do CPC)

Existem duas prescrições sucessivas e distintas: a) Uma para a pretensão condenatória; b) Outra para a pretensão executiva.
Por isso, não conta-se o prazo de prescrição do título executivo a partir da citação no processo de conhecimento. São
prescrições independentes. Tanto é assim que, transformado o procedimento em executivo, admite-se, entre as defesas
possíveis contra o cumprimento da sentença transitada em julgado, a exceção de prescrição, desde que superveniente ao
título judicial (CPC, art. 525, § 1º, VII). Assim, não se pode falar que o prazo da prescrição da execução é interrompido
quando há a citação inicial do processo de conhecimento. O efeito interruptivo da propositura da ação de conhecimento perdura
até o trânsito em julgado da sentença que encerra a fase cognitiva do procedimento complexo. A partir daí nasce a pretensão
executiva, cujo prazo prescricional é novo (embora seja em quantidade, igual ao prazo da prescrição da ação condenatória, de
acordo com a súmula 150 do STF).

No caso de sentença ilíquida, o prazo de prescrição da execução não começará a fluir, pois não é possível em princípio
viabilizar o cumprimento da sentença em virtude da iliquidez do título. O título está incompleto. Apenas a partir do fim da
liquidação (art. 509 a 512) se começará a contar o prazo prescricional da execução.

Súmula n. 150 do STF: “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”. A regra geral de prazo é 10 anos
(de acordo com o caput do art. 205 do CC). O tempo de prescrição da ação pode, porém, variar. Ex.: Foi proferida uma
sentença que transitou em julgado e passaram-se 10 anos, o credor ficou inerte. Prescreveu a execução.

Suspensão da execução e a prescrição intercorrente (art. 921, 924, 925 e súmula n. 150 do STF): Estes dispositivos abaixo
são importantes para a prescrição intercorrente na execução de obrigação de pagar quantia certa.

Art. 921. Suspende-se a execução: III - quando o executado não possuir bens penhoráveis.

§ 1º Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se suspenderá a
prescrição. § 2º Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam encontrados
bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos. § 3º Os autos serão desarquivados para prosseguimento da
execução se a qualquer tempo forem encontrados bens penhoráveis. § 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem
manifestação do exequente, começa a correr o prazo de prescrição intercorrente. § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no
prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.

Art. 924. Extingue-se a execução quando: V - ocorrer a prescrição intercorrente. Art. 925. A extinção só produz efeito quando
declarada por sentença.

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Tendo sido suspensa a execução por falta de bens penhoráveis (art. 921, III), teremos uma suspensão que durará 1 ano,
sendo que durante este período também estará suspenso o prazo de prescrição do título executivo (§ 1º do art. 921). Passado
este período de 1 ano, os autos do processo de execução serão arquivados (§ 2º do 921) e neste instante (passado um ano da
suspensão do processo), se não houver manifestação do exequente, começará a correr o prazo da prescrição intercorrente
(§ 4º do 921). O prazo para prescrição do título executivo é o mesmo da prescrição da ação de conhecimento (Súmula n. 150,
STF). Ao final do prazo da prescrição intercorrente o juiz ouvirá as partes no prazo de 15 dias, e se não houver comprovação
de motivo para suspensão\interrupção do prazo, a prescrição será decretada de ofício e a execução será extinta (§ 5º do 921)..
Ex.: “A” entrou com a ação de conhecimento, e conseguiu que condenassem “B” a pagar 20 mil reais. Na hora da execução,
“B” não tinha bens penhoráveis, e ela foi suspensa. Passou 1 ano, e “B” continuou sem bens. Nesse momento “A” não se
manifestou e começou a contar o prazo para a prescrição intercorrente. Passaram-se 10 anos (o prazo da ação). O juiz chamou
os dois e declarou a prescrição do título executivo. Na prescrição intercorrente a prescrição ocorre mesmo com a ação aberta.
Se o devedor não tiver bens à penhora, a ação prescreverá em 10 anos.

Surgindo bens penhoráveis no patrimônio do executado durante o tempo em que o título ainda não foi prescrito, os autos serão
desarquivados e a execução retomada (§ 3º do 921).

Dizemos que este procedimento da prescrição intercorrente está relacionado à execução de quantia certa, pois a execução fica
suspensa por falta de bens penhoráveis – penhora é aplicada na execução de quantia certa. Mas essa prescrição não é cabível
apenas na execução de quantia certa, mas também nas outras espécies de execuções. Já falamos que toda pretensão (seja
condenatória ou seja executória) pode sofrer prescrição. Seja judicial ou extrajudicial o título, a execução prescreve no
prazo que prescreve a ação de conhecimento, e para isso bastará a suspensão do processo de execução por tempo suficiente
para que se configure a prescrição intercorrente. Ex.: O locador, depois de obter sentença de despejo, deixa de promover a
desocupação do prédio locado, mantendo a relação de locação por mais de 10 anos. Não poderá, obviamente, requerer a
expedição do mandado depois de prazo tão longo. Para recuperar a posse do imóvel, terá de ajuizar nova ação de despejo,
porquanto a pretensão de exigir cumprimento para a primitiva sentença terá se extinguido por força da prescrição da pretensão
executiva não exercida em prazo hábil após o trânsito em julgado do título judicial.

Inadimplemento do devedor (art. 786 do CPC)

Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada
em título executivo. Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não
retira a liquidez da obrigação constante do título: Já foi dito o exequente precisa ter o crédito documentalmente comprovado
(o título executivo com certeza e liquidez), e que além disso, este crédito, este título executivo deve ser exigível (a obrigação
deve ter sido descumprida), e para isso é necessário que tenha ocorrido o inadimplemento da obrigação por parte do devedor.

Considera-se devedor inadimplente o que não cumpriu, na forma e no tempo devidos, o que lhe competia segundo a
obrigação estabelecida pela sentença ou pelo título extrajudicial. Este inadimplemento do devedor resulta de um
comportamento de inércia culposa. Basta a inércia culposa, não se necessita do dolo. Pouco importa a intenção do devedor.
Se ele tem intenção de pagar, que venda o carro antes de ser condenado, pague ou venda antes de ser proposta a ação. Se

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porventura pretende o devedor alegar que a intenção sua (o dolo) é pagar, pouco importa. Se o devedor silenciou-se ou omitiu-
se ou mesmo se esqueceu de pagar no prazo correto, temos culpa, e com a culpa o devedor pode promover a execução. Não
adianta dizer para o juiz que a intenção é das melhores. Não preciso ter o dolo do devedor. Basta que ele não cumpra a
obrigação no prazo estipulado pelo título executivo. No outro dia o credor poderá promover a execução, e aí o devedor será
citado para pagar não só o valor principal, mas custas e honorários advocatícios.

Os diferentes tipos de títulos executivos

Já vimos que para a execução prosseguir é necessário um documento indispensável à propositura da ação executiva, seja a
ação autônoma de execução (título extrajudicial), seja uma fase de cumprimento da sentença (título judicial). É necessário
para chegarmos aos atos executivos que o exequente possua ou um título executivo judicial ou um título executivo
extrajudicial. Há muito existe um preceito romano que diz “Nulla executio sine titulo”. Nenhuma execução ocorrerá sem
título executivo. Se eu não tiver um título, precisarei promover uma ação de conhecimento, para que surja uma sentença
condenatória que transitará em julgado, e aí terei um título executivo judicial para poder promover a execução. Sem título,
não há execução admitida.

A maneira mais fácil de distinguir os dois tipos de títulos é a seguinte: Título judicial, passou na mão do Judiciário;
Extrajudicial, não passou pela mão do Judiciário, mas a lei dá eficácia de título executivo, produzindo efeitos pela simples
demonstração da existência do documento. O título extrajudicial variará de país para país. Tem que ter cuidado, porém, pois
esse critério é insuficiente. Os títulos executivos judiciais não decorrem apenas de decisões de agentes investidos nas funções
judiciais, pois as decisões de árbitros também são considerados títulos executivos judiciais. O melhor é dizer que o título
judicial é aquele que passou por um órgão julgador (pode ser do Judiciário, do juízo arbitral ou uma sentença estrangeira
devidamente homologada). Para H. Theodoro, título judicial é aquele oriundo de um processo judicial. Todos passaram por
um órgão jurisdicional. Nenhum título extrajudicial passou pela mão de órgãos julgadores, entretanto. Todos surgiram no
seio de agentes privados

Como dito, o título judicial pode não ser sentença. A antecipação dos efeitos da tutela, por exemplo, é uma decisão
interlocutória e pode ser um título executivo judicial. Tanto é decisão interlocutória que da decisão que antecipa os efeitos da
tutela cabe agravo de instrumento. Não é uma sentença, antecipa os efeitos da sentença. Mas cuidado, pois o juiz pode, de
certo modo “antecipar os feitos práticos da tutela” na própria sentença, mas não há antecipação de tutela, não se trata de
decisão interlocutória. Depende em que momento foi proferida a decisão, se com a sentença ou antes da sentença. Ex.: Propus
uma ação e pedi antecipação dos efeitos da tutela. O juiz proferiu sentença. Na verdade, não há decisão interlocutória. Se eu
quiser recorrer dessa decisão, o recurso será apelação, pois se trata de sentença.

Títulos executivos judiciais (art. 515): Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
os artigos previstos neste Título: Antes de tudo, é bom dizer que todos os títulos judiciais têm a característica da coisa
julgada, o que torna seu conteúdo imutável, e limita o campo das impugnações.

I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa: O título judicial costuma ser uma sentença condenatória, este é o maior exemplo, o mais

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conhecido. Ex.: Fizemos um contrato em que eu não deveria fazer uma parede. Eu fiz a parede. Descumpri o contrato. Vocês
promoverão uma ação pedindo que eu desfaça o muro. Na verdade, a execução da obrigação de não fazer é um fazer. Como
foi descumprida a obrigação, será necessário demolir a parede. Outro exemplo: Fui condenado a entregar um quadro de um
pintor famoso. Vocês compraram o quadro e eu não paguei. Tenho dez dias para entregar o quadro. Se não entregar o quadro,
vocês pedirão ao juiz para que eu entregue o quadro, e não entregando o devedor, seja expedido mandado de busca e apreensão.

Qualquer decisão proferida no processo civil que reconhece “a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa” é título judicial, geralmente com caráter condenatório. Com isso, entram na categoria, além da
sentença, as decisões interlocutórias, as decisões monocráticas do relator, os acórdãos dos tribunais e a decisão que
concede a antecipação dos efeitos da tutela. Todo ato decisório que impõe uma obrigação a ser cumprida por uma parte em
favor da outra entra aqui, seja a sentença, decisão interlocutória ou acórdão. É o conteúdo do ato, e não a forma que interessa.

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial: Segundo o art. 487, III do CPC, haverá resolução de mérito e são
formas de autocomposição a homologação de: a) reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na
reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Não se trata aqui apenas da
sentença propriamente dita, mas também da decisão interlocutória, pois a autocomposição pode ser parcial (há decisão
interlocutória) ou total, e sendo parcial não irá pôr fim ao processo. Prevalece a vontade das partes, o juiz apenas chancela o
acordo de vontade dos interessados. A autocomposição aqui é judicial, ou seja, submetida ao crivo do juiz. Se ele a homologar,
teremos uma sentença ou decisão interlocutória homologatória, também passível de ser executada. O conteúdo dessa
autocomposição pode variar: Pode dar justificativa para uma execução por quantia certa, para entrega de coisa, ou de obrigação
de fazer ou não fazer.

§ 2º do art. 515: A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que
não tenha sido deduzida em juízo: Embora tenha surgido a autocomposição de uma ação que já está em juízo, pode-se trazer
outras pessoas de fora da ação para fazê-la, e ela ainda continua com caráter judicial em razão da homologação do juiz.

III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza: Há um negócio jurídico civil (a
transação, arts. 840 a 850 do CC), sendo que para reforçar a eficácia da espécie, se judicializa este negócio, se homologa este
acordo que se deu fora do âmbito judicial para lhe conferir força executiva. Da mesma forma, se fizermos um acordo fora do
Judiciário e levarmos ao juízo para homologar, no momento que for homologado, adquiriremos um título executivo judicial.
Pouco importa que tenha ação em curso. A homologação é judicial mas o acordo e o contrato é extrajudicial, diferente do
que ocorre no inciso II, onde o acordo se dá e surge no âmbito do Judiciário, de um processo.

IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título
singular ou universal: Formal de partilha é a carta de sentença extraída dos autos de inventário, com as formalidades legais,
para título e conservação do direito do interessado, a favor de quem ela foi passada. Nos pequenos inventários ou arrolamentos,
quando o quinhão resultante da sucessão hereditária não ultrapasse cinco salários mínimos, “o formal de partilha poderá ser
substituído por certidão (art. 655, parágrafo único). O formal e a certidão de partilha são institutos de direito civil. Quando a
pessoa promove uma ação de inventário e partilha, segue a ação até o final, onde haverá a partilha de bens. Foram trazidos
todos bens para dentro da ação e foram inventariados. Ex.: Três veículos do mesmo valor, da mesma marca e do mesmo ano

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serão inventariados. Neste caso, cada herdeiro ficará com um veículo, mas estes veículos ainda se encontram no nome do
falecido. No inventário se divide os bens. Cada herdeiro ficará com um veículo, mas os três veículos são de propriedade do
meu pai. Eu terei uma forma de receber o bem, através do formal ou certidão de partilha. O formal e a certidão de partilha
são então, documentos retirados dos autos do inventário para que possa ocorrer a transferência do bem inventariado. Ex.:
Adquiri o carro do meu pai. Provarei que o carro é meu com o formal ou certidão de partilha. O interessado adquire a
propriedade do bem com o registro, ou com a entrega do bem mediante a apresentação do formal ou da certidão de partilha.

A força executiva do formal ou da certidão de partilha atua “exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos
sucessores a título singular ou universal”, conforme a redação do próprio artigo analisado. A forma da execução dependerá
da natureza dos bens do exequente: se for soma de dinheiro, observar-se-á procedimento da execução por quantia certa; se for
outro tipo de bem, adotar-se-á o rito de execução para entrega de coisa, certa ou incerta, etc.

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão
judicial: Pode se originar de sentença ou outra decisão interlocutória proferida acerca das contas apuradas nos autos. Este
crédito do serventuário, no CPC 73 era título extrajudicial. Somente os créditos adquiridos pelos auxiliares da justiça durante
a tramitação do processo é que assumem a forma de título judicial, quando participam da conta dos autos aprovada por decisão
do juiz. Os emolumentos das serventias notariais ou de registro continuam sendo cobráveis como título executivo extrajudicial,
mas já não dependem mais de aprovação judicial, basta que o próprio notário expeça certidão relativa aos valores devidos
pelos atos por ele praticados (art. 784, XI). Um exemplo de aplicação desse artigo: Aprendemos que toda vez que a parte
requer uma prova que depende de pagamento, quem tem que pagar é quem requer, em regra. Requeri uma prova pericial,
nomearam o professor de matemática, que receberá para fazer o cálculo (4 salários mínimos). Quem pediu sou eu, quem
adianta sou eu. Quando o juiz determinar que o perito fará o laudo, determinará que em regra eu preciso pagar antes da
apresentação do laudo. Isso em regra. Posso não pagar, e o perito trabalhar. Digamos que ele tenha entregado o laudo mesmo
sem o meu pagamento. Ele possui um título judicial contra mim, que tenho a obrigação de pagar a verba pericial. O juiz
decidiu isso através de uma decisão interlocutória, que pode ser executada no curso da ação de conhecimento. Se o perito não
executar o título e eu (que requeri a perícia) ganhar a ação e a sentença transitar em julgado, o meu adversário foi condenado
a pagar as custas, honorários e despesas processuais. Ele deve, em virtude da sucumbência, pagar as despesas do processo, ou
seja, deve 4 mil reais para o perito, que pode escolher contra quem proporá a execução, pois tem dois títulos (a sentença que
condenou o vencido, que não requereu a perícia a pagar as despesas processuais e a decisão interlocutória que disse que o
vencedor requereu a perícia deve pagar). Pode promover contra mim, que sou autor, mas não será com base na sentença, mas
na decisão interlocutória, pois eu fui quem pedi a perícia. Se eu, vencedor da ação, pagar, me sub-rogo nos direitos creditícios
do devedor. Quem perde a ação paga todas as despesas processuais.

Medidas preparatórias especiais (§ 1º do art. 515): § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível
para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. Nas hipóteses do VI ao IX do art. 515
(sentença penal condenatória; sentença arbitral; sentença estrangeira homologada; decisão interlocutória estrangeira, após
concedido exequatur), não é possível cumprir a obrigação prevista no título judicial imediatamente após a decisão a ser
executada. O cumprimento da sentença dependerá da instauração de um novo processo (com petição inicial, citação do
devedor). Não será possível continuar o feito em curso nos mesmos autos (como é nos demais títulos arrolados no art. 515).

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A execução deverá ser precedida de liquidação, se o título for ilíquido. A sentença penal é sempre ilíquida. As decisões
proferidas em juízo arbitral, as sentenças estrangeiras homologadas e as decisões interlocutórias estrangeiras após a concessão
de exequatur podem, entretanto, serem líquidas (não haverá liquidação, bastará apresentar memória de cálculo quando o credor
requerer a execução). O devedor será citado para em 15 dias cumprir a obrigação ou para acompanhar os atos de liquidação,
e quando estes acabarem, deverá cumprir a obrigação, sendo que se descumprir seguirão os atos executivos.

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado: O art. 91, I do CP diz que a condenação tem o efeito de "tornar
certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime". A reparação pode ocorrer por meio da restituição do bem objeto
do delito mas também pelo ressarcimento de um valor equivalente aos prejuízos suportados pela vítima. Enquanto a
responsabilidade civil pode existir sem a responsabilidade penal, a penal sempre acarreta a civil. O réu condenado pelo
crime sempre deve indenizar. Para ser possível executar civilmente a sentença penal, é preciso que a sentença criminal seja
definitiva, tenha transitado em julgado (não cabe execução provisória de sentença penal condenatória), e a vítima deve
preliminarmente promover a liquidação quando necessário. O art. 387, IV do CPP prevê que a sentença penal conterá a
indenização mínima devida ao ofendido. Apesar disso, o ofendido continua com o direito de promover a liquidação, não está
limitado ao valor previsto na sentença penal. Existindo valor na sentença, porém, é possível executar sem promover liquidação.
Afora essa opção, sempre pode o credor não esperar a sentença penal e promover uma ação cível (ex delicto), onde terá uma
sentença condenatória civil, sem precisar da sentença penal condenatória transitada em julgado.

VII - a sentença arbitral: A sentença arbitral, em regra, não precisa ser homologada, conforme o art. 31 da lei 9.307 "A
sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder
Judiciário, e sendo condenatória, constitui título executivo". Como vimos antes, entretanto, a competência para executar a
sentença arbitral sempre será do Poder Judiciário (art. 515, VII), pois a execução é um conjunto de atos estatais. Ressalte-
se que quando a sentença arbitral for estrangeira, terá de ser homologada pelo STJ para ser executada no Brasil.

VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça: Também temos uma sentença, mas é a sentença
estrangeira que foi nacionalizada pela homologação do STJ. Antes da homologação, as decisões de tribunais estrangeiros
(sejam decisões interlocutórias, sejam sentenças) não tem eficácia no Brasil e nem podem ser executadas. Esta sentença é
título executivo judicial. É claro que neste caso que a competência é da Justiça Federal de 1º grau. Quem homologa é o STJ.

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de
Justiça: Temos aqui uma decisão vinda de tribunal estrangeiro, mas não é sentença, é decisão interlocutória, desde que
concedida a carta de execução para a execução desta decisão interlocutória por parte do STJ. Neste caso, esta decisão é título
executivo judicial. Em razão da concessão da carta rogatória, passou a ser título judicial nacionalizado por força do STJ. Para
cumprir este pedido da autoridade estrangeira aqui no Brasil, o STJ expedirá exequatur (uma carta de execução), e se
processará a execução do título judicial. Segundo H. Theodoro, o exequatur é uma autorização, e uma ordem de cumprimento
do postulado na carta rogatória. Concedido o exequatur, a carta rogatória é remetida ao Juízo Federal de 1º grau competente
para cumprimento, que seguirá o procedimento de execução dos títulos judiciais. Uma vez cumprida, ou verificada a
impossibilidade de cumprimento, o juiz federal a devolverá ao STJ, para que a remeta ao país de origem.

Sentença arbitral -> não precisa ser homologada;

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Sentença e decisão interlocutória estrangeira -> precisam ser homologadas;

Sentença penal condenatória -> precisa promover liquidação e precisa ter transitado em julgado;

Sentença arbitral estrangeira -> precisa ser homologada.

A exequibilidade das decisões proferidas em sede de tutela provisória (art. 519): Art. 519. Aplicam-se as disposições
relativas ao cumprimento da sentença, provisório ou definitivo, e à liquidação, no que couber, às decisões que concederem
tutela provisória. Consolidada a decisão proferida a título de tutela provisória, pela sua manutenção na sentença de mérito, o
respectivo cumprimento será feito como execução definitiva. Por outro lado, executam-se as decisões cautelares ou
antecipatórias segundo as regras do cumprimento provisório de sentença, enquanto conservarem seu caráter de tutela
provisória. Serão executadas definitivamente as decisões já incorporadas na resolução do mérito da causa principal.

Concedida a tutela provisória, cautelar ou antecipada, teremos a sua efetivação imediata. Vejamos: Art. 297. O juiz poderá
determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória. Parágrafo único. A efetivação da
tutela provisória observará as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.

Lembrando que é indispensável para promover a execução que o exequente possua o documento (o título executivo). Se ele
for extrajudicial, temos uma ação autônoma de execução. Eu exequente farei uma petição inicial e anexarei obrigatoriamente
o título executivo extrajudicial. Se eu não anexar, o juiz mandará emendar a petição inicial, se não anexar, se extinguirá a
execução. Se o título for judicial, há processo em curso. Terminou a fase de conhecimento do processo que originou o título
e passaremos à fase de cumprimento da sentença. Não se esqueçam que embora se utilize o termo “fase de cumprimento da
sentença”, no art. 515 do CPC, o inciso I que trata do primeiro título executivo judicial não diz que é uma sentença, mas
fala em “decisão”. Em regra, a decisão é uma sentença, mas pode não ser. A decisão que antecipa os efeitos da sentença é
sentença? Não, é uma decisão interlocutória que foi proferida antes da sentença, e mesmo assim é passível de execução. É
verdade que a execução não será definitiva. Pode acontecer que a sentença ao final da ação revogue aquela decisão
interlocutória que antecipou os efeitos da sentença. O inciso I do art. 515 não fala em sentença exatamente porque dentro do
termo decisão podemos compreender uma sentença, que ou é título executivo judicial ou outra decisão que antecipe os efeitos
da sentença.

Títulos executivos extrajudiciais (art. 784 do CPC; art. 24 do Estatuto da OAB): Os títulos extrajudiciais ainda não
passaram pela mão dos órgãos judiciários, do juiz. Na verdade, é melhor dizer que títulos extrajudiciais são aqueles que não
surgiram da atividade de algum juízo, seja arbitral ou judicial. É bom lembrar que a sentença arbitral não passou pela mão de
um órgão judicial, e ainda assim é título executivo judicial. Basta que embora não tenha passado pela mão do poder judiciário,
tenha sido proferida por algum juízo, seja arbitral, judicial ou até mesmo estrangeiro (desde que devidamente homologada).
O título extrajudicial não passou pela mão de nenhum juízo. O cheque, por ex., é extrajudicial, pois o Brasil adotou um
critério legislativo que colocou o cheque como título extrajudicial para dar mais movimentação e estimular o seu uso.

Requisitos (certeza, liquidez, exigibilidade, art. 786 do CPC): Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor
não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo. Parágrafo único. A necessidade de
simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título. Todos
os títulos executivos, judiciais ou extrajudiciais, necessitam de exigibilidade, certeza e liquidez. Ex.: Eu assinei um título

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de crédito (nota promissória, por ex.), onde ficou determinado que eu pagaria para vocês até o dia 30 de abril o valor de 100
mil reais, vocês tem uma nota promissória. Até o dia 30 de abril eu posso voluntariamente resgatar essa nota (pagando os 100
mil reais). No dia 2 de maio, por exemplo, poderá ser promovida a execução, pois aí já existirá exigibilidade. Serei citado para
pagar em 3 dias, acrescido de juros, correção monetária, custas processuais e honorários advocatícios.

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque: Cada título é regulado pela lei própria de
direito material. Em relação aos títulos cambiários, é necessária a exibição do título executivo original, não se aceita fotocópia.
Estando o título em outro processo em que não é possível desentranhar, a jurisprudência admite a execução por certidão. De
modo geral, os títulos de crédito tem como essencial o elemento assinatura (do emitente e dos coobrigados). No caso da
duplicata e da letra de câmbio, é necessário o aceite do sacado. Se você não tem título executivo, só pode promover uma ação
de conhecimento cobrando aquele título de crédito, mas é uma ação de cobrança e não de execução, pois o título de executivo
não possui o requisito do aceite do sacado. Os outros títulos do inciso I não necessitam de aceite, nem protesto. O cheque não
precisa ser protestado e nem precisa do aceite do devedor.

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor: Documento público é aquele feito por algum
ente público. É aquele elaborado perante qualquer órgão público. A escritura pública já é um documento público. Ex.: Me
dirijo a um órgão público, onde é feito um documento e eu assino este documento, estou dando ao órgão público um título
executivo extrajudicial. Fui na secretaria de finanças para pagar impostos. Fui atendido pelo estagiário, que está exercendo
funções públicas. Ele diz para eu assinar dizendo que tenho a dívida. Assinei uma confissão de dívida, e é título executivo
extrajudicial, pois eu o fiz a pedido de um ente público. É um documento público assinado pelo devedor. Dei à prefeitura um
título extrajudicial. A qualquer momento a prefeitura poderá promover a execução.

III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas: O contrato é título executivo extrajudicial,
desde que tenha a assinatura do devedor e de duas testemunhas, mas cuidado com essas duas testemunhas, pois elas não
podem ser apenas pro forma. Ex.: Fui ontem ao Banco do Brasil, sentei-me ao lado da gerência, estava eu e mais duas pessoas
sentadas nas cadeiras. Queria abrir uma conta de cheque especial, com um limite de 10 mil reais. Movido pela necessidade,
eu assinarei o contrato. Para ser título extrajudicial, seria necessário que duas testemunhas assinassem junto. Eu não li o
contrato, as pessoas não presenciaram o contrato, apenas assinaram. O banco não tem o título executivo extrajudicial, pois os
próprios desembargadores, ministros, etc passam por isso. As testemunhas são estritamente pro forma, e ainda que haja a
assinatura não há título. Não é apenas a forma do que as testemunhas colocaram que interessa. A jurisprudência é pacífica no
sentido de que o contrato bancário, ainda que assinado pelo devedor e mais 2 testemunhas não é título executivo em razão de
as testemunhas não testemunharem nada e assinar formalmente. O banco pode promover a ação de cobrança. Nos contratos
bancários, as testemunhas são sempre pro forma. Como vou saber se este contrato que eu entendo que sejam as testemunhas
meramente formais, é um título executivo ou não? Apenas pela jurisprudência. Quem lê este inciso friamente diz que o contrato
bancário é título executivo. Nenhum dos livros dirá que o contrato de cheque especial não é título executivo.

IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública,
pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal: Instrumento de transação: É

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bem verdade que o título executivo judicial também pode ser um instrumento de transação homologado pelo judiciário. Mas
este instrumento do inciso IV não se dá frente a uma ação. Não há necessidade de homologação do juiz. Em razão disso, é um
título executivo extrajudicial. Na verdade, houve até repetição do que havia sido trazido pelo inciso II (a escritura pública ou
outro documento público assinado pelo devedor). O instrumento de transação é um documento particular, alguns dirão. Mas
se o advogado público ou o MP assinar, será um documento público assinado pelo devedor. Seja o instrumento particular ou
não, mas se for referendado pelo defensor, advogado ou membro do MP, ou conciliador ou mediador, temos título executivo
extrajudicial. No que tange aos advogados dos transatores, a melhor jurisprudência considera que precisa ser no mínimo 2
advogados. Quando trata o art. 784 do instrumento de transação, diz “referendado pelo MP”, então pode ser um promotor
público, ou “pela defensoria pública”, um defensor público, ou um advogado público, um mediador etc.

V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução:
Este contrato que é título executivo extrajudicial não precisa ser assinado pelo devedor ou duas testemunhas, se não estaria
previsto no inciso II. É título executivo, pois há uma garantia que acompanha o contrato. É assinado só pelas partes, estando
garantido por algum direito real de garantia (hipoteca, penhor, anticrese) ou por caução fidejussória (a prestação de fiança
extrajudicial). Este contrato em que houve caução, fiança por terceiro, é título executivo? É, em razão da fiança. Se porventura
não houvesse a caução fidejussória, ele não seria um título executivo, ou talvez fosse se fosse assinado pelo devedor e duas
testemunhas. Um contrato garantido pela hipoteca, mesmo que assinado apenas pelas partes, é título extrajudicial. O que será
indicado à penhora é o próprio bem dado em garantia. O que dá força executiva a este contrato são as garantias que o
acompanham, e não a assinatura das testemunhas.

VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte: Senhores, o legislador resolveu por bem colocar o contrato de seguro de
vida em razão da morte do segurado, visto que se tem caráter alimentar. Se porventura o meu pai deixou um contrato de seguro
de vida com uma seguradora, faleceu, se eu tivesse de promover uma ação de conhecimento, teria de sobreviver às custas de
alguém. Neste caso, para a celeridade estar presente, eu que sou o beneficiário posso promover a execução do contrato de
seguro em razão da morte do meu pai. Se a seguradora não pagou o prêmio, promoverei a execução e a seguradora será citada
para pagar em 3 dias o estipulado pelo contrato de seguro. Este contrato precisa ser de seguro de vida e resultar a morte.
Se resultar a incapacidade, já não é título executivo extrajudicial, mas um contrato comum. Terei de promover ação, obter a
sentença e promover a execução do título judicial. Não se inclui aqui o seguro obrigatório.

VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio: Foro é a pensão anual, certa e invariável, que o enfiteuta paga ao senhorio
direto pelo direito de usar, gozar e dispor do imóvel objeto do direito real de enfiteuse. Laudêmio é a compensação devida ao
senhorio direto pelo não uso do direito de preferência quando o enfiteuta aliena onerosamente o imóvel foreiro. Os senhores
talvez não tenham aprendido o contrato de enfiteuse. Se encontrava no CC 1916. No CC atual, não existe mais. Porque o CPC
novo colocou o crédito decorrente de foro e laudêmio? Estes contratos não são feitos atualmente, mas existem alguns ainda
em vigor pelo antigo CC. Ex.: Para quem conhece a cidade de Petrópolis, era uma cidade que era de Dom Pedro. Toda a cidade
é da família tradicional, da monarquia brasileira. Há um contrato de enfiteuse. O senhorio direto (que é a família de Orleans
e Bragança) são proprietários da cidade. No contrato de enfiteuse, permito que alguém faça uma casa, onde a pessoa utilizará
a minha terra. Eu sou o senhorio direto e B é o enfiteuta. Ele construirá a sua casa no meu terreno. Ele terá que me pagar 10
reais por ano. Não é um contrato de locação. Se ele nunca pagou os 10 reais, eu tenho um crédito e um título executivo

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extrajudicial. O crédito do foro. E do laudêmio? Se ele quiser vender a sua casa, sem problema, mas precisa oferecer para
mim, eu que sou o senhorio direto. Ele é obrigado a oferecer para mim, tenho preferência. Se ele não oferecer a casa pra mim,
pode vender para outra pessoa, mas terá que pagar o valor que chamamos de laudêmio. Por não ter dado o direito de
preferência, terá que pagar o valor estipulado no título executivo extrajudicial.

VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais
como taxas e despesas de condomínio: O crédito decorrente de aluguel é título executivo extrajudicial, desde que
documentalmente comprovado. Comprovo documentalmente através de um contrato de locação. Por isso a exigência é
documentalmente comprovada. Quando digo que possuo crédito ao ponto de ensejar diretamente a execução preciso
comprovar por escrito documentalmente que existe este crédito. Precisarei apresentar o contrato de locação. Alguém pode
dizer que trabalha na imobiliária e nunca viu uma execução de aluguel. Geralmente o proprietário entra com uma ação de
cobrança, é condenado a pagar e surge o título judicial.

O que comprova o aluguel é o contrato. Ele comprova documentalmente o aluguel. E o título executivo extrajudicial é um
documento. Por isso, ninguém promove a execução do contrato de aluguel, pois o contrato de aluguel pela lei de locações
precisa ter o prazo de 30 meses. Eu posso, proprietário, executar o aluguel documentalmente comprovado pelo contrato. Terei
que executar 30 mil reais. A pessoa está devendo 30 meses. Não posso apenas executar 1 mil reais? Está me devendo 1 mês
apenas. Não posso executar, pois o valor do contrato é 30, não posso dividir, ainda que eu queira, o valor do título executivo.
É a mesma coisa que ter um cheque de 5 mil reais e querer executar 2,5 mil. Há possibilidade de parcelar este valor, mas a
possibilidade não é do credor, mas do devedor. Quando proposta a execução o devedor pode pedir para parcelar a dívida em
6 parcelas (se a dívida fosse de 30 mil, o devedor pede para parcelar em 6 parcelas de 5mil).

Se o inquilino deve 4 mil reais apenas (embora o valor seja 30 mil), não posso promover a execução pedindo 4 mil reais. Se
acontecer isso, o executado se oporá à execução, pois deve apenas 4 mil reais. Por isso os proprietários promovem ação de
cobrança, ganham título judicial e executam o título. O título tem valor de 30 mil reais, e quero apenas 4 meses de aluguel. Se
porventura eu não me importar de que a pessoa viva na casa que alugo sem pagar nada, ela me deve 30 mil reais, promovo a
execução do aluguel. Ele será citado para pagar em 3 dias 30 mil reais.

Encargos acessórios são de obrigação do inquilino (pagamento de taxas de condomínio). Pode-se promover execução do
pagamento das taxas, do aluguel etc. O inquilino paga os alugueis, mas nunca pagou o condomínio. Eu vou pagar o
condomínio. Posso promover contra o inquilino a cobrança dos valores de condomínio ou encargos acessórios.

Relembrando a aula anterior: no caso do contrato com a Caixa econômica federal, que é empresa pública, temos um contrato
particular feito com um ente que tem personalidade jurídica de direito privado. Não é um documento público. É um documento
particular assinado pelo devedor e duas testemunhas, que também não é um título executivo. É o proprietário que promove a
execução no inciso XVIII.

IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei: Estes títulos executivos são feitos na forma da lei pelo próprio fisco.
Ex.: certidões da dívida ativa. É claro que a execução deverá ser proposta pelo fisco (a execução fiscal). Pode acontecer que
no fazer o título estejam faltando requisitos legais para o conteúdo do título. Nestes requisitos é que a parte poderá se defender

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afim de não ter que pagar a dívida apresentada pelo fisco. É uma certidão trazida pelo próprio fisco em razão da lei, mas a lei
exige aspectos formais que devem ser corroborados pelo fisco. Se esses aspectos formais não estiverem presentes no título, a
execução não pode prosseguir.

X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva


convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas: Quem pode promover a execução
é o condomínio, contra o condômino. Ex.: Ontem teve reunião de condomínio e ficou estipulado que pintaríamos o edifício.
Todos concordaram. A obrigação de pagar é de cada um dos condôminos (cada um deve pagar 3 mil reais). Está estipulado
na assembleia, com uma ata assinada por todos presentes. Apenas, de 30 condôminos, 20 pagaram. O condomínio deverá
promover a execução com base na ata da assembleia contra os outros 10 condôminos. Temos um documento comprovando a
existência do débito (despesas de condomínio, sejam extraordinárias ou ordinárias, desde que documentalmente provadas pela
ata da assembleia). A ata da assembleia ou a convenção condominial precisam ser trazidas como documento que comprova
o crédito (e o débito).

XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas
pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei: A jurisprudência já atribuía este documento a natureza
de título executivo, que na verdade trata de serviços notariais. Estes títulos, ao serem apresentados, precisam ser apresentados
conforme estipula a lei que trata dos valores dos referidos títulos. Não é um notário que dirá, mas a lei diz quais normas que
regulamentam a situação, e em razão da expedição destes atos os notários promoverão a execução. Toda vez que se busca um
ato notarial, se paga antes, por isso este artigo tem pouca aplicabilidade, mas se não houver o pagamento pode haver a
execução.

XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva: Não posso criar outros títulos.
O próprio inciso XII diz que leis extravagantes poderão criar outros títulos executivos. Um dos exemplos é o Estatuto da OAB,
que no art. 24 declara que é título executivo extrajudicial o documento particular de contratação de honorários advocatícios
assinado pelo devedor. Alguns dirão que o contrato assinado por 2 testemunhas já é título executivo, mas na verdade o contrato
de contratação de honorários geralmente é assinado apenas por 1 pessoa.

§ 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a
execução: Não há litispendência.

§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados:
O título executivo judicial estrangeiro só adquire eficácia em nosso território depois de homologado pelo STJ (CF, art. 105).
Quando, porém, se tratar de título extrajudicial proveniente de outros países, seus efeitos serão produzidos aqui
independentemente de homologação.

§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de
sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.

Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de
obter título executivo judicial.

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Retomando: Requisitos do título executivo. Certeza, exigibilidade e liquidez (art. 783 e 786 do CPC): Diz o art. 786: A
execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça (inadimplemento) a obrigação certa, líquida e exigível
consubstanciada em título executivo. Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito
exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título. Aula passada vimos títulos executivos extrajudiciais, e
acabamos com o contrato assinado pelo devedor no que tange aos honorários advocatícios, previsto no art. 784 (todos os
demais títulos aos quais por disposição expressa a lei atribuir força executiva). Trata-se de qualquer título executivo.
Qualquer lei pode criar um título executivo extrajudicial, basta que o legislador queira. O exemplo que demos: o contrato de
honorários advocatícios assinado somente pelo devedor (não por 2 testemunhas, pois se assim fosse cairíamos no inciso do
CPC que fala que o contrato assinado por 2 testemunhas é título extrajudicial). O Estatuto da OAB, no art. 24 diz que o
contrato assinado apenas pelo devedor é título executivo extrajudicial. Eu, advogado, possuo um título, desde que tenha feito
um contrato por escrito e assinado pelo devedor. Não é necessário ter 2 testemunhas. Se outra lei for trazida e determinar um
outro documento como título executivo, terá força de título por força do art. 784, inciso XII do CPC.

Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Vimos
que para promover a execução é necessário o título executivo. Para que este título seja documento que pode embasar a
execução, precisa apresentar três requisitos. Se faltar um dos requisitos, nulla executio sine titulo. Ex.: Passo um cheque sem
provisão de fundos e sem valor. Ainda que eu pudesse promover a execução, eu seria citado para pagar o valor do cheque,
mas não há como pagar pois não há valor. Falta o requisito da liquidez (é a quantia ou o objeto devido frente ao título
executivo). Uma sentença não pode condenar alguém a não pagar um número certo. A sentença pode ter vários valores. A
sentença pode ter condenado a entregar um livro. Há liquidez. Não poderia a sentença condenar alguém a entregar nada, ou
qualquer coisa.

Quando o título for extrajudicial é fácil dar liquidez. Quando a sentença não tem valor é que há problema. Sabemos que o
pedido deve ser certo. O problema é que algumas vezes não é possível quantificar o pedido. Ex.: Houve um dano moral, vou
pedir a indenização por dano moral, mas não sei o reflexo que este dano teve na minha vida. Estou fazendo concurso público
e alguns concursos telefonam para algumas pessoas. Alguma pessoa disse que cometi o crime de furto. Esta notícia surgiu em
razão desta afirmação. Promoverei a ação de indenização, mas não sei qual foi o reflexo do dano moral. Também fiquei
sabendo que uma das notas dadas foi ruim, pois disseram que sou ladrão. Não sei se reprovarei no concurso por este motivo.
Se porventura se isso acontecer, mesmo que a pessoa seja condenada a pagar o dano moral, terei que apurar o dano moral. A
ofensa refletiu no concurso. Pedirei que o juiz na sentença que condenou a parte a ressarcir o dano moral, venha posteriormente
(na fase de liquidação da sentença) a dar valor a sentença. A sentença que condenou a ressarcir o dano moral não deu valores,
pois fatos novos iriam acontecer, e neste fato novo o dano moral deverá ser trazido em compensação pela reprovação. A
sentença nasceu ilíquida, apenas sabemos que João da Silva foi condenado. Embora a sentença seja ilíquida, e ainda não posso
promover a execução contra o rapaz, terei de promover um incidente processual entre a fase de conhecimento e a fase
executiva, este incidente se chama liquidação de sentença. O juiz após os fatos apresentados dará valor a sentença, e ela será
certa, liquida e exigível. Possuindo os requisitos, posso promover a execução. Já possuía o título, mas faltava um requisito.

Um título executivo é certo quando existe. Basta mostrar sua existência para provar a certeza. Isso em regra, pois há um artigo
do CPC que podemos utilizar aqui. Em regra preciso apresentar o título executivo original. Ex.: Promoverei a execução de um

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cheque. Preciso juntar o cheque. Não pode ser um xerox autenticado? Não. A certeza é dada pela apresentação do original,
em regra. Digo em regra porque há um artigo do NCPC que excetua esta regra (Art. 425. Fazem a mesma prova que os
originais: § 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou de documento relevante à instrução do
processo, o juiz poderá determinar seu depósito em cartório ou secretaria.) Isto se a cópia do título for digitalizada. No caso
de título original, o juiz pode determinar o depósito. Em regra, preciso apresentar o título executivo. Pode o juiz determinar o
depósito do título enquanto tramita a ação. Qualquer processo pode ter um documento retirado pelas partes
(desentranhamento).

O título executivo também não pode estar sujeito à uma condição (que não ocorreu) ou a prazo (que ainda não chegou ao
vencimento). Ex.: Uma nota promissória que vence no dia 30 de maio, com 20 mil reais. Tenho a certeza, a liquidez, mas falta
exigibilidade. Se vocês não pagarem até 30 de maio, promoverei a execução, pois haverá exigibilidade.

Certeza: “Ocorre a certeza em torno de um crédito quando, em face do título não há controvérsia sobre sua existência”.

Liquidez: “Há liquidez quando é determinada a importância da prestação”.

Exigibilidade: “Há exigibilidade quando o seu pagamento não depende de termo ou condição, nem está sujeito a outras
delimitações. Assim sendo, é necessário que o título executivo seja completo (os três requisitos são cumulativos)”.

Execução provisória (art. 520, 521, 522 do CPC)

Só cabe execução provisória para títulos judiciais, nunca com títulos extrajudiciais. Diz o art. 520: Art. 520. O cumprimento
provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o
cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: A execução provisória se dá da mesma forma que a execução
definitiva. Cabe a execução provisória quando interposto recurso contra a sentença (contra decisão), desprovido de efeito
suspensivo (recurso recebido apenas no efeito devolutivo). A execução provisória se faz da mesma forma que a execução
definitiva. Existem, porém, algumas regras próprias porém para a execução provisória. A execução provisória pode ser
modificada, pois só cabe execução provisória quando o título for sentença (quando houver título executivo judicial). Não
existe execução provisória de título extrajudicial.

Quando o título for judicial, vimos que se trata, em regra, da decisão proferida no processo civil. No caso da sentença penal
condenatória, ela precisa ter transitado em julgado, por expressa previsão do art. 515, inc. VI (não há como fazer execução
provisória de sentença penal condenatória). Como diz o CPC, a decisão proferida no processo civil que determina obrigação
de pagar, entregar coisa, de fazer ou não fazer, é título executivo judicial (art. 515, I), não falando a redação da lei que necessita
ter ocorrido o trânsito em julgado do título executivo judicial. Se houver um trânsito em julgado deste título judicial, a
execução será definitiva. Será provisória a execução quando essa decisão judicial estiver pendente de recurso recebido apenas
no efeito devolutivo. Ex.: Propus contra vocês uma ação de alimentos. O juiz condenou ao pagamento de 10 mil reais. Vocês
não pagam. Não transitou em julgado ainda essa decisão. O juiz proferiu sentença condenando a pagar alimentos. Vocês
promoveram o recurso de apelação, mas pelo § 1º, inciso II, do art. 1.012, a sentença que condena ao pagamento de alimentos
não é dotada de efeito suspensivo. A regra do recurso de apelação é que seja recebido em ambos os efeitos. Se a apelação

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fosse recebida com o efeito suspensivo, não poderia promover a execução definitiva nem a provisória, e o efeito suspensivo
suspende os efeitos da sentença. Foi recebido o recurso, por se tratar de ação de alimentos, apenas com o efeito devolutivo.
Posso executar provisoriamente, fazendo da mesma forma que a execução definitiva. Se não houvesse a possibilidade de
executar provisoriamente os alimentos, teríamos que um contexto terrível: a ação de alimentos já demorou a tramitar, se o
recurso demorar a tramitar, pode a ação demorar 2 anos, mais 2 anos de recurso, e a criança ficará 4 anos sem comer. Se fosse
recebido no efeito suspensivo, mesmo com o credor ganhando o recurso, ficaria 4 anos sem se alimentar e estaria morto.

Sentença penal condenatória e títulos extrajudiciais -> Não é possível executar provisoriamente.

Outros títulos judiciais -> Podem ser executados provisoriamente, pois o art. 515 não menciona que é preciso ter o trânsito
em julgado da decisão judicial.

A execução definitiva, cabe, portanto, quando se executa um título judicial transitado em julgado (art. 523), ou um título
extrajudicial, em regra. É aquela execução “em que o credor tem sua situação reconhecida de modo imutável, decorrente da
própria natureza do título em que se funda a execução”. É a regra do processo de execução.

A execução provisória, por sua vez, cabe apenas com títulos executivos judiciais, quando pendente recurso recebido com
apenas efeito devolutivo (art. 520), e com título extrajudicial, enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos
embargos do executado (ver súmula 317, STJ), quando recebidos com efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, III). É a exceção. Há
a possibilidade de que o recurso seja provido e que se reconheça que não existe o crédito do credor, tudo pode ser modificado.

A questão dos recursos recebidos apenas no efeito devolutivo (art. 995): Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia
da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida
poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Quando houver efeito suspensivo no
recurso, a lei dirá, ou a decisão judicial estabelecerá. Não sendo assim, apenas há efeito devolutivo e é possível executar
provisoriamente. Todos os recursos que ordinariamente não suspendem a eficácia dos julgados podem excepcionalmente
adquirir a força suspensiva, por decisão do relator, no tribunal, nas condições estipuladas pelo parágrafo único do art. 995.

O agravo de instrumento, por exemplo, em regra, não obsta ao andamento do processo nem suspende a execução da medida
impugnada, salvo nos casos do art. 1.019, I (quando o relator dá efeito suspensivo ao agravo de instrumento).

A apelação, em regra, tem efeito suspensivo. Os casos de apelação sem efeito suspensivo, que, por isso, permitem a execução
provisória, acham-se enumerados no art. 1.012, § 1º, relativos às seguintes sentenças: de homologação da divisão ou da
demarcação de terras (inciso I); de condenação a pagar alimentos (inciso II); de extinção sem resolução de mérito ou que
julga improcedentes os embargos opostos à execução (inciso III); de julgamento procedente do pedido de instituição de
arbitragem (inciso IV); de confirmação, concessão ou revogação da tutela provisória (inciso V); de decretação da interdição
(inciso VI). Segue o art. 1.012: “§ 2º Nos casos do § 1º (onde a apelação não tem efeito suspensivo), o apelado poderá
promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença. § 3º O pedido de concessão de efeito
suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido
entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II -
relator, se já distribuída a apelação. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o

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apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de
dano grave ou de difícil reparação”. A apelação devolverá ao tribunal apenas “o conhecimento da matéria impugnada”, e
por isso, a apelação pode não abranger toda a extensão da matéria tratada na condenação (art. 1.013, caput). Sendo apenas
parcial a impugnação do apelante, ainda que recebido o recurso em ambos os efeitos, poderá a parte não impugnada ser
executada, uma vez seja possível separá-la da outra. Isso porque “consideram-se no julgado tantas sentenças quanto são os
artigos distintos”, e a parte não recorrida será considerada transitada em julgado.

Regras da execução provisória:

1) Toda execução provisória corre por conta e risco do exequente (inciso I do art. 520): I - corre por iniciativa e
responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido.
Claro, a execução é provisória. Pode haver reforma da sentença. Se o executado sofreu algum dano com a execução
provisória, como o exequente sabia que havia possibilidade de reforma, deverá ressarcir os danos sofridos pelo devedor.
Vejam, se houver algum prejuízo, nos próprios autos da execução provisória eles serão apurados e aquela caução prestada
pelo exequente será objeto de pagamento ao executado que sofreu os prejuízos com os atos da execução provisória. A caução
serve exatamente para garantir que haja ressarcimento do prejuízo decorrente da execução provisória.

Se a sentença for reformada pelo provimento do recurso, caberá ao exequente fazer o ressarcimento, restituindo os bens e
valores expropriados e indenizando os prejuízos ocorridos pela privação dos bens no tempo em que prevaleceu a execução
provisória. Se os bens estiverem em poder de terceiros, o dever de devolver se transformará em indenização de todas as perdas.
Na execução provisória, portanto, se houver necessidade de pagar alguma coisa com o processo, será o exequente que terá de
pagar para a execução provisória funcionar. Isso porque ele só executa provisoriamente se quiser. Assim, não corre por conta
e risco do executado os atos executivos. Ex.: O juiz nomeará um perito. Quem paga o perito é o exequente. Se reformarem a
decisão, e a execução provisória não ter valido nada, e o exequente pagou a perícia, não terá ele valor a ser buscado em relação
à parte contrária. Precisa o exequente ter em mente que pode haver a reforma da sentença, e volta-se ao status quo ante. Ex.:
Fui condenado a pagar 10 mil e entregar um óculos. Executaram-me, buscando os 10 mil e o óculos. Na execução provisória,
o exequente expropriou os óculos e levantou o valor de 10 mil. Recebi a notícia que foi reformada a sentença, mas que preciso
pagar os 10 mil reais, houve apenas a determinação de que devolvessem o meu óculos. Todas as despesas da execução
provisória no que tange à entrega do óculos são por conta do exequente. O exequente precisará apenas devolver o óculos.

2) A execução provisória fica sem efeito, havendo reforma da sentença, com a consequente restituição das partes ao
estado anterior (inciso II e III do art. 520): II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto
da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos. A decisão que
anula ou reforma o título provisório tem eficácia ex tunc. O executado deve estar, sempre que possível, do modo que estava
antes de ter se sujeitado a execução de um título inexistente. Se a sentença no grau de recurso for confirmada, a execução se
transforma em definitiva. Como dito, para haver ressarcimento não necessariamente se precisa retirar o bem do terceiro que o
adquiriu. O CPC diz: “não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro
direito real eventualmente já realizada” (art. 520, § 4º). O executado sempre terá o direito à reparação dos prejuízos causados

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ao executado. Se os bens foram vendidos na execução provisória para terceiros, eles continuam com os bens (e se indeniza o
valor deles), se o credor ficou com eles, deverá devolvê-los in natura.

Sendo a sentença parcialmente reformada, a execução fica sem efeito apenas na parte que teve conteúdo modificado
ou anulado. É a orientação do inciso III do art. 520: “III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou
anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução”. No exemplo dos 10 mil reais e do óculos, a sentença
foi modificada apenas em parte. Eu, sendo exequente, havia executado provisoriamente e levantado o dinheiro e o óculos. A
apelação foi parcialmente provida, determinando que o óculos não deveria ter sido executado, mas que os 10 mil eram devidos.
Passarei à execução definitiva dos 10 mil (prossegue) e devolverei o óculos.

3) Necessidade de prestação de garantia para levantamento de dinheiro ou alienação do bem quando haver
possibilidade de dano (inciso IV do art. 520): IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem
transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao
executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

Não se permite, em regra, na execução provisória o levantamento da importância nem a alienação do bem importado. Na
verdade, até se permite, mas com a prestação de caução. Em qualquer execução, se alguém quiser levar a leilão o bem do
devedor penhorado, terá de prestar caução (ressarcir o valor do bem que foi vendido ou que levantei o valor). Em regra para
promover provisoriamente a execução é obrigatória a prestação de caução (real ou fidejussória).

Precisarei avisar o cliente: “Você quer executar provisoriamente? Se quiser, terá de dar um bem em garantia real ou pedir
um fiador. Se você não quiser prestar caução, promoveremos a execução, e o senhor não poderá levantar a quantia depositada
nem pedir a alienação do bem em leilão, pois caso venha a trazer um prejuízo, não tem como ressarcir, pois não há caução”.
A execução provisória deste cliente, então, pode ir até a venda do bem ou, se prestar caução, a execução provisória se faria da
mesma forma que a definitiva, chegando-se a expropriar o bem. O momento para prestar a caução é antes da ordem judicial
de levantamento do dinheiro ou da alienação do bem do executado Ex.: Vocês foram condenados a pagar 100 mil reais. Ainda
há recurso de apelação dotado de efeito devolutivo. Eu quero receber os 100 mil reais, e pra isso quero vender o carro de vocês
por 100 mil. Se eu fizer isso sem prestar caução, tenho chance de causar um dano, pois pode ser que o tribunal reforme a
sentença, dizendo que vocês não me devem mais nada, e eu precisarei devolver os 100 mil reais, e pode ser que eu já tenha
gastado esse dinheiro, situação em que não seria possível retornar ao status quo ante. O juiz só deverá deixar, então, que eu
levante os 100 mil reais ou venda o carro se eu prestar caução idônea, e farei isso hipotecando a minha casa, por exemplo. Se
reformarem a decisão e disserem que eu não devo nada, vocês estão garantidos pela minha casa. Quem responde pelos
prejuízos é quem resolveu promover a execução provisória. Para o juiz estipular caução, a parte deverá comprovar que pode
ressarcir o suposto devedor.

Dito isto, prestada a caução e sendo o bem alienado, quem o adquiriu não será prejudicado, a alienação será perfeita e caberá
ao exequente indenizar o executado. Ademais, a caução pode ser arbitrada de ofício pelo juiz, sem necessidade de
requerimento, pois é uma imposição legal, sendo claro, ouvido o executado.

Casos de dispensa de caução (art. 521 do CPC): Para promover a execução provisória e levantar quantia ou alienar os bens,
é em regra, necessário prestar caução. Já falamos isso. O próprio art. 520, no inciso IV diz isso. A caução serve para que se

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ressarça o prejuízo causado pelos atos de alienação ou levantamento do dinheiro, caso haja reforma da sentença. Se reformaram
a decisão, preciso devolver o que peguei. Esta é a regra. Eu, exequente, desde que queira alienar os bens ou levantar o dinheiro
dentro da execução provisória, terei de prestar caução. Esta regra geral da obrigatoriedade de prestação de caução para levantar
ou alienar possui exceções, previstas no art. 521:

Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que: Vejam bem, a caução poderá
ser dispensada, não necessariamente deverá. O juiz analisará, mas de forma geral dispensará.

I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem: No caso de alimentos, o exequente não precisa
prestar caução, pois ocorreria falta de acesso à execução para o pobre. Ex.: Pedi alimentos a “B”. Ele foi condenado a pagar
os alimentos, mas não está pagando. No caso da ação de alimentos, o recurso de apelação é recebido apenas no efeito
devolutivo. Eu, que sou filho, posso executar provisoriamente. “B”, que quando citado para pagar, deverá depositar os mil
reais. O que não havia pago voluntariamente, foi pago. Se eu utilizar o art. 520, inciso IV, terei de prestar caução, mas como
prestarei caução se não tenho dinheiro nem para comer? Eu não tenho carro, preciso de alimentos, pois moro com minha mãe,
nem tenho nada de valor, claramente não há como prestar caução. Teria de conseguir um bem para levantar os mil reais e
poder comer. Claro que há a possibilidade de prestar caução fidejussória (pedirei para um amigo ser fiador), mas isso não
ocorre porque meus amigos são pobres.

II - o credor demonstrar situação de necessidade: No caso dos alimentos, já é uma situação de necessidade. O legislador
abriu a possibilidade para casos que, ainda que não sejam de alimentos, possibilitam risco de vida ao credor (estado de
necessidade). É uma situação semelhante à tutela de urgência. Cabe ao exequente provar a condição de necessidade.

III - pender o agravo do art. 1.042: São os agravos que cabem contra decisão que inadmite recurso especial ou
extraordinário. Não é necessária a prestação de caução em razão de provavelmente não serem recebidos ou providos os
recursos especial ou extraordinário nesta fase, há pouca chance de que a sentença seja reformada.

IV - a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos
repetitivos: O que se leva em consideração é que provavelmente a caução será dispensada pelo fato de que o tribunal superior
tem grandes chances de manter a decisão. Há grande chance de que a decisão recorrida seja mantida. O que a lei quis dizer é
que o executado pode querer ganhar tempo se defendendo da execução como forma de apenas prolongar o juízo de valor. Isso
quer dizer que provavelmente a decisão será mantida em seu mérito. Em sendo a decisão mantida, a parte não pode promover
a execução para ganhar tempo, pois a execução provisória será inclusive disposta a levantar o depósito em dinheiro. Se
porventura a súmula do STF ou STJ é no sentido de manter a decisão, vamos dispensar a caução. É injusto pedir caução
sabendo que, se o tribunal aplicar a súmula do STF ou STJ, a decisão será mantida. Então, não se exigirá caução. Se não há
súmula, mas tem casos repetitivos, é apenas uma questão de tempo que o recurso siga a mesma orientação dos casos repetitivos.

Parágrafo único do 521. A exigência de caução será mantida quando da dispensa possa resultar manifesto risco de grave
dano de difícil ou incerta reparação: Vimos que nos incisos do art. 521 o CPC trouxe as hipóteses em que se dispensa a
caução. Depois, o parágrafo único diz que a caução pode ser exigida, mesmo nas hipóteses previstas no art. 521. Como
dissemos quando comentamos o caput, a caução pode ser dispensada, não deve necessariamente sempre ser dispensada. O

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requisito para manter a caução é a possibilidade de que se cause grave dano, de difícil ou incerta reparação. As reais
chances de êxito do recurso interposto devem ser levadas em conta para se manter a caução. Pergunta: E se as duas pessoas
puderem sofrer o grave dano, em uma ação de alimentos? O juiz deverá ter bom senso para entender quem sofrerá o maior
dano. Digamos que no caso do autor da ação de alimentos, se prestar caução, corre riscos de morrer, o que é um dano de
impossível reparação. Mas no caso do executado, o dano que poderá sofrer talvez seja bem menor. Entre a vida de uma pessoa
e o bolso de outra, ataca-se o patrimônio (o bolso). É preciso ponderar. É claro que a caução está para evitar a falta de reparação.
Se porventura pode-se ainda assim causar um grave dano ao executado, a caução deve ser mantida pelo juízo.

Outras regras relativas à execução provisória (§§ 1º, 2º, 3º, 4º, 5º do art. 520 do CPC):

§ 1º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525:
Em já havendo a execução provisória, a forma que tem o executado para se opor a esta execução de título judicial (e só serve
para título judicial, aliás a execução provisória só serve para esses títulos) é a impugnação, por força do § 1º. Ex.: Havia
recurso recebido em ambos os efeitos, e mesmo assim o exequente promoveu a execução provisória. Por erro, o juiz aceitou
a execução, ordenando que a parte fosse intimada para pagar os 10 mil reais em 15 dias. A parte obviamente não pagará os 10
mil reais, afinal o recurso foi recebido em ambos os efeitos. A parte poderá impugnar a execução provisória em razão de não
ser possível executar provisoriamente na existência de recurso pendente com efeito suspensivo. Qualquer outro motivo
previsto no art. 525 pode justificar a impugnação.

§ 2º A multa (de 10 %) e os honorários (de 10%) a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório
de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa: Na sentença que condena ao pagamento de quantia certa (e apenas
nesse tipo de obrigação), em sede de execução provisória, é cabível que o juiz aplique a multa de 10% e 10% de honorários
(prevista no § 1º do art. 523), mesmo que a execução seja apenas provisória. A referência aqui é aquela multa de 10% e mais
10% de honorários, quando o executado não cumpre a prestação em execução de quantia certa no prazo estipulado pelo
juiz. Coincide o tratamento dado à execução provisória com o tratamento dado à definitiva, neste caso, pois atrasando o
executado o pagamento da prestação (não cumprindo a obrigação no prazo estipulado), tanto na execução provisória quanto
na definitiva, incidirá esta multa. Ex.: Se a colega, por sentença ou decisão ter de me pagar 10 mil reais, promoverei a execução
provisória, com carta de sentença. Como a colega saberá que estarei executando provisoriamente? Farei um requerimento
(Exmo. Sr. Juiz de direito da vara que condenou a pagar 10 mil reais, intime a colega, para querendo, pague em 15 dias de
forma voluntária a execução provisória). Antes de indicar um bem a penhora, trago a colega para pagar em 15 dias. Ela será
intimada. Se ela pagar os 10 mil reais em 15 dias, não prossegue a execução. Cumpriu voluntariamente com a decisão que era
título executivo judicial pendente de recurso. Se porventura ela não cumprir voluntariamente os 15 dias, enseja sobre os 10
mil reais uma multa de 10%, e aí na execução provisória, já que ela não cumpriu voluntariamente, não é mais 10 mil que deve,
mas 11 mil. Então agora pedirei a penhora da sua moto para receber 11 mil reais. Se ela fez seguir a execução, pagará uma
multa. Se pagar, não tem multa e acaba a execução. Sendo provido o recurso, ficarão prejudicados a multa e os honorários
pagos pelo executado. O exequente deverá devolver os respectivos valores, se já os levantou durante a execução provisória.

Poderia ocorrer que a colega, intimada para pagar os 10 mil reais, pagasse apenas 5 mil reais. Neste caso, cumpriu
voluntariamente parte da decisão que ensejou a execução provisória. Se mais tarde a execução se transformar em execução

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definitiva, ela ainda me deve mais cinco mil em cima dos outros 5 mil que ficou faltando, teremos mais 10%. Serão 5,500
reais. A multa incidirá apenas na parte que não foi paga voluntariamente (5 mil, 50%).

Não cumpriu uma parte da execução -> multa incidente apenas ao valor que não foi pago.

Obrigação de pagar quantia certa -> multa incide sobre o valor em 10% e sobre o valor dos honorários em 10%

Obrigação de dar coisa, fazer ou não fazer -> multa incide apenas sobre os honorários. Não há multa sobre o valor.

§ 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será
havido como incompatível com o recurso por ele interposto: Poderia ocorrer o seguinte: “B” pagou 10 mil, cumpriu
voluntariamente a obrigação resultante da execução provisória, mas ao mesmo tempo recorreu com apelação. Ou seja, pagou
(cumpriu a prestação) e recorreu (dizendo que não deve o valor que pagou). Não estaria “B” aceitando tacitamente o conteúdo
dito na sentença, ocasionando preclusão lógica no tocante ao recurso? Não. O § 3º determina que não há preclusão neste caso.
Isso porque “B” pagou o valor apenas para se livrar da multa de 10% e 10% sobre honorários na execução provisória. Não há
preclusão lógica entre voluntariamente pagar o aparentemente devido e ao mesmo tempo recorrer. Se fosse em outra situação,
a primeira coisa que o recorrido diria é que o recurso está prejudicado por conta da preclusão lógica. Apenas haveria
preclusão lógica se o recorrente pagasse a prestação sem sequer estar na posição de executado provisório, pois aí não
teria que temer uma possível multa, já que não haveria execução provisória e a ameaça da multa.

§ 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da
alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos
prejuízos causados ao executado: Quando se diz “restitui-se ao estado anterior”, ou por exemplo, “devolva o veículo e o
dinheiro”, se quer dizer que se deve indenizar a pessoa que sofreu o prejuízo. Não sou obrigado a retirar o carro de quem
comprou ele no leilão, a venda foi perfeita e válida, não é possível desfazê-la. A moto ou o carro já teve a propriedade
transferida. O que o executado terá direito será o correspondente prejuízo indenizado, no valor equivalente. Se o bem que o
exequente conseguiu provisoriamente estiver na posse do próprio exequente, deverá este devolvê-lo.

§ 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no
que couber, o disposto neste Capítulo: Os arts. 520 a 522 do CPC, em princípio, regulam a execução provisória de obrigação
de pagar quantia certa. O próprio § 5º porém é expresso ao dizer que esses artigos se aplica, no que couber, à execução
provisória de sentença que condena à obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa. Se a decisão ou sentença condenou à entrega
de coisa ou à fazer ou não fazer, e quero executar provisoriamente, posso utilizar subsidiariamente, “no que couber”, as
disposições que regulam a execução provisória de quantia certa.

Uma coisa é certa que não posso determinar nas obrigações de fazer, não fazer ou dar coisa: A multa de 10% sobre o
valor a ser pago, que só existe em razão da execução de quantia certa. Na execução de obrigação de fazer, não fazer e entrega
de coisa, não terei valoração ainda, e a execução é para entregar algo. Na verdade, multa sobre os honorários existirá (10%
sobre o valor deles), mas multa de 10% não. Se a parte não entregar a coisa, pedirei ao juiz que expeça mandado de busca e
apreensão. Não há penhora também, pois basta uma ordem judicial para que a coisa seja entregue.

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Revendo a aula anterior: Vimos que no art. 520 do CPC a execução provisória se faz da mesma forma que a execução
definitiva. Utilizo a execução provisória apenas quando o título executivo for sentença (decisão judicial). Quando ele for
extrajudicial, a execução será sempre definitiva. Por exemplo, o crédito de foro e laudêmio também é execução definitiva
(pois é título extrajudicial). Quando o título executivo é judicial, a execução pode ser provisória (caput do art. 520).

Cabe execução provisória quando a decisão (que é o título executivo judicial) está pendente de recurso (provavelmente de
apelação, mas poderá ser agravo de instrumento) recebido apenas no efeito devolutivo. O agravo de instrumento, por
exemplo, costuma ser recebido apenas no efeito devolutivo. Se a decisão interlocutória, que antecipou os efeitos da sentença,
está pendente de recurso apenas no efeito devolutivo, eu credor, posso promover a execução provisória. Neste caso, posso
promover a execução provisória, pois pode ser que o tribunal possa reformar a decisão. Se reformar a decisão, volta-se ao
estado anterior, como se não houvesse a execução provisória. Se eu exequente causei prejuízo ao executado, já que a execução
corria por minha conta e risco, devo ressarcir o executado. Quem pagará este prejuízo sou eu, o exequente, através da caução
(garantia que eu prestei para levantar dinheiro ou alienar os bens do executado), caução essa real ou fidejussória. Se alguém
aceitar seu meu fiador, prestará uma garantia ao executado, ou eu mesmo prestarei com uma hipoteca, por ex.

A vantagem de promover a execução provisória é adiantar os atos da execução definitiva. Se o recurso não for provido, a
execução provisória se transformará em execução definitiva. Se eu quiser ir adiantando os atos executivos, pois tenho quase
certeza que a sentença não será modificada, promovo a execução provisória, sou obrigado a prestar caução, pois a sentença
será mantida. No momento que ela for mantida e transitar em julgado, a execução torna-se definitiva, e pedirei ao juiz que
retire o encargo da caução (hipoteca). Se a decisão for recebida em ambos os efeitos, não é possível nenhuma hipótese de
execução, pois o efeito suspensivo suspende os efeitos da sentença, e um dos efeitos da sentença é a possibilidade de execução.

Procedimento da execução provisória (art. 520). Competência (lugar da execução). Carta de sentença e seus requisitos
(art. 522): Diz o art. 522 que o cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente.
Em que lugar farei a execução provisória, qual é o juízo competente? É o juízo em que tramitava a ação que condenou o
executado e de onde saiu o recurso interposto por ele. Se a decisão proferida estiver sob recurso, ele será analisado em POA,
no tribunal (recurso de apelação), e terei de requerer ao cartório a expedição de carta de sentença. Esta carta de sentença é
uma cópia tirada antes do recurso ser enviado ao tribunal. Tiraremos cópias pelo menos do título executivo, para saber o que
eu poderei executar provisoriamente, e de outras peças importantes. O processo irá em grau de recurso para o tribunal e
ficaremos com uma “cópia” do processo, dos principais atos (a carta de sentença). Não teremos todos os atos processuais,
teremos algumas cópias dos atos que se encontram no processo que foi enviado para POA. Lá será processado o recurso,
enquanto aqui segue a execução provisória da decisão recebida apenas no efeito devolutivo.

O condenado terá 15 dias para interpor o recurso de apelação. Em 15 dias haverá intimação para que o credor, que busca
executar provisoriamente, responda ao recurso com as contrarrazões. Após isso, os autos irão para o tribunal. A princípio,
tenho 30 dias para conseguir fazer a carta de sentença e promover a execução provisória, mas pode ser que o executado recorra
em um prazo menor que os 15 dias máximos. Digamos que o devedor recorra em 5 dias, o credor terá 5 dias para tirar a cópia
do processo, somado com mais 5 dias, que é o prazo que ele usou para contrarrazoar. Depois disso, o juiz remeterá a apelação
para o tribunal. Veremos depois como posso pegar as cópias para a carta de sentença se o recurso subir antes de eu retirá-las.

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É preciso avisar o cliente da necessidade de prestação de caução, pois sem ela a execução provisória só vai até uma certa
etapa. Se o cliente não quiser prestar caução, esperaremos o trânsito julgado, nesse caso, para promover a execução a definitiva.
Se o meu cliente disser “não quero promover a execução provisória”, e depois mudar de ideia, não é problema. Digamos que
o recurso tenha ido para POA, e o meu cliente, depois de ter chegado o recurso, disse “quero a execução provisória agora”.
Eu direi a ele que terá de se requerer a carta de sentença, e precisarei ser pago para ir como advogado até POA, onde pedirei
para ser extraído dos autos a carta de sentença, na secretaria do tribunal. Abrirão o processo, tirarão cópias, e faremos uma
carta de sentença. Enquanto o recurso está tramitando em POA, pode-se conseguir a carta de sentença. Há 30 dias, portanto,
apenas para não se causar prejuízo financeiro ao cliente, pois é bem mais barato tirar as cópias aqui na cidade, mas posso
executar provisoriamente a qualquer momento até o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente: O procedimento
da execução provisória é o mesmo da execução definitiva (art. 520). Haverá a necessidade de se requerer a execução
provisória por meio de petição dirigida ao juiz competente, e é preciso que se formem autos próprios, apartados, formado por
cópias feitas pelo exequente tiradas dos autos principais. Basta a extração de cópias das peças do processo. É isso que
denominamos carta de sentença. Ex.: Todo processo está em POA. Este processo, para ir para lá, demorou no mínimo 30
dias. 15 para recorrer, 15 para apresentar contrarrazões. Ainda teve a intimação, o juiz analisou as peças. 30 dias com o
processo na mão do juiz. Depois, este processo vai para o tribunal, juntamente com a apelação. Como vou executar em Pelotas
esta sentença? Tenho o prazo de 30 dias para retirar deste processo que ainda não foi para POA, estes documentos, para formar
a tal carta de sentença. Na verdade, será feito um outro “processo” (não é outro processo, mas uma espécie de cópia, em autos
apartados), parecido com o anterior (a carta de sentença). A capa é idêntica. O processo original irá para POA, para análise do
recurso, e aqui na comarca de Pelotas promoverei a execução provisória nos autos da carta de sentença, enquanto no tribunal
analisa-se o recurso. Não posso fazer a execução provisória nos próprios autos originais? Não, porque os autos irão para POA.
Quando voltarem os autos originais, e houver o trânsito em julgado da decisão, a execução provisória se transformará em
execução definitiva. Se eu, exequente prestei caução, posso pedir ao juiz que me devolva a caução prestada, pois não há
possibilidade de grave dano a ser ressarcido. O tribunal confirmou que o executado deve pagar 10 mil reais.

Os requisitos da carta de sentença estão postos no art. 522:

Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Parágrafo único.
Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade
poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: Quando vocês pedirem a cópia dos atos
executivos que formarão a carta de sentença, farão um xerox, uma cópia comum. Se vocês quiserem o próprio cartório pode
autenticar, mas é pago. É claro que a quantia do cartório judicial é mais barata que a de um extrajudicial. Se quiserem, podem
ir no cartório extrajudicial. Se não tiver dinheiro para ir no cartório, eu que sou advogado posso autenticar as peças,
facultado pelo parágrafo único do art. 522. Estou fazendo isso como advogado, não como representante da parte. Se eu sei
que as peças são retiradas do processo e não falsificadas, sei que como advogado posso autenticá-las sob minha
responsabilidade, e formar a carta de sentença para dar prosseguimento a execução provisória.

São necessárias na carta de sentença as seguintes peças, segundo os incisos do art. 522:

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I - decisão exequenda: É o próprio título executivo. Pode ser uma decisão interlocutória que tenha antecipado os efeitos da
sentença ou mesmo uma sentença, recebidos ambos no efeito devolutivo, pois sabemos que não se executa título extrajudicial
provisoriamente. Pedirei cópia da decisão exequenda, e esta cópia que estou retirando do processo, como os autos irão para
POA, terei de autenticar como verdadeiras. Tenho três maneiras para autenticar. 1) Levando a um cartório extrajudicial; 2)
Levando ao cartório judicial, dentro do foro e o agente cartorário as autenticará; 3) Como advogado, autenticar tais cópias em
nome próprio, mas a responsabilidade pessoal será minha. Não poderei dizer que a cópia é falsa, pois a culpa será minha.

II - certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo: O recurso precisa ser dotado apenas de efeito
devolutivo. Sou obrigado a juntar a certidão que mostre que o recurso tem apenas efeito devolutivo. Por isso, a execução
provisória só existe se o devedor interpôs recurso com efeito estritamente devolutivo. Se o devedor não interpor recurso, a
execução será definitiva, pois haverá trânsito em julgado. Para que eu possa executar provisoriamente, eu vou requerer a cópia
da certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo. Me dirigirei ao cartório da Comarca de Pelotas
e pedirei (se o processo estiver no tribunal de POA, pedirei no cartório do TJ) uma certidão que dirá o seguinte (certifico que
foi interposto recurso de apelação contra a decisão de número tal, por exemplo). Esta certidão, que estará acompanhando a
carta de sentença, demonstra ao juiz da comarca (o juiz da ação, onde será feita a execução provisória) que existe um recurso
cabível. Estou provando que o recurso que está em POA foi recebido apenas no efeito devolutivo. Se eu não tivesse esta
decisão o juiz não teria como saber que o recurso foi recebido com efeito devolutivo. A certidão serve para determinar que
houve um recurso interposto, mas que foi recebido apenas no efeito devolutivo. Se a certidão for original, eu não preciso
autenticar, mas se for uma cópia, é necessário. Diz o professor que se o exequente não requerer esta certidão, não é ainda
assim motivo para o juiz indeferir de plano a execução provisória. Aproveita-se o ato. O juiz quando receber a carta de
sentença deverá requerer ao exequente que emende a carta de sentença. Se eu, exequente esqueci de fazer isso em Pelotas,
terei de ir no cartório do TJ-RS e pegar esta certidão para prosseguir nos atos executivos. Se ainda assim o cartorário disser
na certidão que há ambos os efeitos no recurso, o juiz indeferirá a execução, pois há efeito suspensivo, inevitavelmente.

III - procurações outorgadas pelas partes: Trata-se de tanto a cópia da procuração dada ao advogado do exequente quanto a
cópia da procuração dada ao advogado do executado. Vejam, é preciso a procuração de todas as partes (exequente e
executado). Futuramente receberá a notícia da execução o advogado que prossegue patrocinando a causa do cliente.

IV - decisão de habilitação, se for o caso: Em havendo o falecimento de qualquer das partes, deve-se comprovar a sucessão.
Vocês aprenderão comigo o procedimento especial de jurisdição contenciosa que se chama habilitação. É uma ação que se
promove para se tomar parte em outra ação. Ex.: Meu pai propôs uma ação contra “B”, onde está cobrando 10 mil reais. No
curso da ação de conhecimento, meu pai morre. Teremos de abrir um inventário. Eu posso juntamente com meus irmãos me
habilitar no processo. O processo não pode prosseguir com um morto, sem sucessão processual. Para se ter uma ideia, até os
poderes dados pelo advogado ao meu pai não existem mais, pois acabaram com a morte. Estamos (eu e meus irmãos) tomando
a posição de autor no processo, e continuamos como substitutos que promovem a ação contra “B”. Provavelmente “B” será
condenado a pagar 10 mil reais a nós. Se o pai não morreu, não há habilitação, e quem continua promovendo a execução
provisória é o meu pai. Se tiver ocorrido habilitação, junta-se obrigatoriamente a decisão de habilitação na carta de sentença.
Outro exemplo: Propus ação contra o colega, uma ação de cobrança. No curso dessa ação, eu morro. Alguém tomará o meu
lugar, pois se trata do único dinheiro que eu tenho. Meus filhos ocuparão o meu lugar, e há substituição de uma das partes.

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Meus filhos precisarão promover um processo de habilitação (se habilitarão ao meu crédito). No caso de execução provisória,
como meus filhos demonstrarão que são os exequentes? Através da decisão de habilitação que acompanhará a execução
provisória. A decisão de habilitação demonstra a legitimidade do habilitado.

V - facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para demonstrar a existência do crédito: Pode ser
qualquer outra peça. As quatro primeiras peças são obrigatórias (inciso I a IV). Se por acaso temos o xerox das peças, nós,
com a carta de sentença, promoveremos a execução provisória. Eu exequente, posso, entretanto, anexar outras peças. As
primeiras peças são obrigatórias, mas posso anexar outros documentos facultativamente, se eu quiser, como é o caso dos
documentos relativos à quantificação do valor da obrigação e a eventual transferência do crédito. Ex.: A decisão determinou
que a “C” pague 10 mil reais, mas essa decisão está em grau de recurso e já passou-se 4 meses, ainda não se decidiu o recurso.
Executarei provisoriamente “C”. Vou até POA fazer a carta de sentença, e já há um valor superior, pois passaram-se 4 meses
e quero corrigir os 10 mil reais. Apresentarei uma memória de cálculo discriminada para chegar como cheguei a 10.890
reais. Este documento facultativo é necessário para a demonstração da atualização do título executivo. Se eu não juntar, “C”
será intimado para pagar só 10 mil, de acordo com a memória de cálculo comum. Podemos juntar facultativamente qualquer
outra peça, do processo, ou se for o caso de apresentar atualização, posso também não retirar do processo e juntar à carta de
sentença, facultativamente qualquer outra peça que seja necessária à execução. Não juntarei à petição inicial, pois isso não
interessa à execução. O que interessa é a decisão exequenda, pois é estipulada pela lei.

Revendo a aula anterior: Execução provisória (art. 520, 521 e 522) e carta de sentença: Execução provisória cabe só em
um caso, quando a decisão que é título executivo judicial está pendente de recurso, recebido apenas no efeito devolutivo. Isso
está no caput do art. 520. Se não foi recebido no efeito suspensivo, foi só recebido no efeito devolutivo. Como não há efeito
suspensivo, não se suspende o efeito da sentença, e pode haver a execução provisória. A sentença publicada e ainda não
transitada em julgado pode ter efeitos, mesmo com recurso. Isso no caso de apelação, pois o recurso especial e extraordinário
é recebido apenas no efeito devolutivo. Ex.: Fui condenado a pagar 100 mil reais. Vocês recorrem, e o recurso é recebido
em ambos os efeitos. Não posso executar, nem provisoriamente nem definitivamente (apenas quando houver o trânsito em
julgado). O recurso foi julgado hoje e foi decidido que mantiveram a decisão recorrida. Vocês continuam a dever 100 mil
reais, mas consideram que há ofensa a lei federal. Entra-se com um recurso ordinário, não houve trânsito em julgado, portanto.
O presidente do tribunal analisará a admissibilidade do recurso ordinário. Poderei executar provisoriamente a sentença, pois
o recurso ordinário é recebido apenas no efeito devolutivo. Posso até levantar o dinheiro e requerer ao juiz que se venda o
bem penhorado que está garantindo a execução, mas terei de prestar caução. A caução serve para garantir ao executado que
caso venha a ser reformada a sentença, eu tenha condição de ressarcir os prejuízos que o executado sofreu com a execução.

A execução corre por conta e risco do exequente. Se reformarem a sentença, volta-se ao estado anterior não significa dizer
que se desfará o leilão que foi feito. Quem comprou o carro, por exemplo, continua sendo proprietário do carro, mas precisarei
pagar os prejuízos que causei, se for o exequente. Se levantei o dinheiro, preciso ressarcir o prejuízo do executado
provisoriamente. Para não prejudicar terceiros, não é desfeito o ato de alienação, o exequente é que depositará o dinheiro
que corresponde ao valor do bem alienado.

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Para promover a execução da decisão que está pendente de recurso no tribunal, precisarei fazer carta de sentença, que é um
documento feito pelo requerente, que anexará cópias de documentos do processo original, sejam obrigatórios ou facultativos.
Documentos obrigatórios são os indispensáveis à composição da carta de sentença (precisamente 3, mas podem ser 4 se
ocorrer morte, onde será necessária a habilitação). Se formará a carta aqui em Pelotas enquanto o recurso está no tribunal.
Teremos uma espécie cópia do processo, com a cópia de alguns atos processuais (não todos, alguns). Nesta carta de sentença,
neste processo de menor volume, seguirão os atos da execução provisória, no juízo da ação e da execução (primeiro grau),
enquanto o tribunal está decidindo nos autos principais o recurso que está pendente. Esta carta de sentença deve ser
apresentada pelo exequente. Deverá se dirigir ao processo e conseguir no mínimo três documentos (pode ser mais se for
necessária a habilitação, ou mesmo outro documento facultativo que se torne obrigatório): a) Decisão exequenda; b) Certidão
de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; c) Procurações outorgadas pelas partes.

Pergunta 1: Quando promovi a execução provisória, fiz um requerimento para o juiz para intimar o executado provisoriamente
para que cumpra a sentença no prazo de 15 dias. O colega teve 15 dias para cumprir a sentença. Vamos supor que a sentença
seja condenando a pagar 100 mil reais. Ele cumpre voluntariamente dentro de 15 dias. Ele pode cumprir voluntariamente com
a decisão, pagando integralmente o valor e recorrer ao mesom tempo? Ele interpôs o recurso e pagou. Ele pode sim, recorrer,
e não há preclusão lógica nem contradição. O problema é que a execução provisória se dá da mesma forma que a execução
definitiva, de modo que se o executado não pagar em 15 dias a quantia de 100 mil reais, serão acrescidos 10% de multa e 10%
de honorários advocatícios. Se o colega não pagar, me deverá 120 mil reais. Aumentou 20% num prazo de 15 dias. O executado
quer pagar, portanto, apenas para ficar tranquilo em relação à multa, é por isso que paga. Tem 100 mil reais mas não tem 120.
Se ele pagar, ainda que de forma provisória paga só 100. Ele pensa com razão que se não pagar e o recurso dele não tiver
sucesso, e a execução provisória se converter em definitiva, deverá 120 mil reais, o que é pior. Ele pode recorrer e pagar,
portanto. O colega que pagou não está dizendo que está de acordo com o determinado na sentença, pois não está de acordo,
promoveu o recurso. Pagou apenas para se ver livre da multa e dos honorários advocatícios. Já que possuía os 100 mil reais,
depositou, e se porventura for confirmada a sentença, os 100 mil irão para o exequente mesmo, mas se for reformada a
sentença, os 100 mil voltam para o executado. Não há preclusão lógica.

Pergunta 2: Vocês estudaram o recurso de apelação recebido apenas no efeito devolutivo. O executado entrou com recurso
de apelação com efeito estritamente devolutivo. Em regra, a apelação tem efeito suspensivo. Imagine qualquer caso em que a
apelação é recebido apenas no efeito devolutivo (art. 1.012, § 1º). Vou interpor a apelação no juízo de primeiro grau, e esta
será remetida ao juízo de 2º grau sem juízo de admissibilidade, como ordena o art. 1.010. O juiz de primeiro grau, pelo novo
CPC, não analisa o juízo de admissibilidade. No CPC anterior, havia juízo de admissibilidade no primeiro grau. Para quem
pedirei a certidão de interposição do recurso? No sistema antigo, o exequente poderia pedir para o juiz da comarca de
Pelotas, pois ele recebia o recurso e tinha o poder para declarar que o recebia apenas no efeito devolutivo ou se no suspensivo
também, ou poderia pedir para o cartório de Pelotas. Espero uns 30 dias, para fazer as razões e as contrarrazões, e aí poderei
pedir a certidão de interposição de recurso. O agente cartorário dirá que certifica que o recurso foi recebido em ambos os
efeitos. Se eu não tiver esta certidão de interposição do recurso, não poderei promover a execução. Parece ao professor que se
pode pedir ao juiz de primeiro grau declarar os efeitos em que se receberá o recurso. Não estará ele julgando a admissibilidade,
apenas estará declarando o efeito em que está recebendo o recurso. Parece a ele, que, salvo melhor juízo, o correto seria o

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juiz receber o recurso e declarar em qual efeito recebeu o recurso (quando manda intimar o recorrido para oferecer
contrarrazões), e aí o agente cartorário poderá expedir a certidão. O exequente iria ao agente cartorário e pediria para
expedir a certidão, com base na declaração do juiz que recebeu o recurso e estipulou que o mesmo foi recebido no efeito
meramente devolutivo. O agente cartorário não pode decidir o efeito em que o recurso será recebido. A declaração do juiz
serve apenas para que o agente cartorário possa expedir a certidão.

No CPC anterior, o juiz colocava que recebeu o recurso em tal ou tal efeito, e intimou o recorrido para contrarrazoar, e para
executar provisoriamente, se o juiz não declarou, caberia embargos declaratórios, por omissão do juiz. O juiz era obrigado a
dizer os efeitos do recurso. Quando o juiz não dissesse, se entendia que o recurso era recebido de acordo com a sua regra geral
(ambos os efeitos, no caso da apelação). Quando o juiz não queria ambos os efeitos, deveria dizer expressamente “recebo
apenas no efeito devolutivo”. Ocorre que agora, no atual CPC, o juiz não tem o condão de proferir juízo de admissibilidade.
A certidão sempre precisará ser do cartório, com ato do agente cartorário. A dúvida é: O cartório é o de Pelotas ou é a
Secretaria do Tribunal que dará a certidão? Para dificultar mais, no art. 1.012, se traz os casos em que a apelação não tem
efeito suspensivo, e o parágrafo quarto diz que “Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator
se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de
dano grave ou de difícil reparação”. Ou seja, mesmo que o recurso interposto não tenha efeito suspensivo em princípio,
o relator poderá dar efeito suspensivo. Peço a certidão em Pelotas ou para o relator que pode dar efeito suspensivo? Se
o relator der efeito suspensivo a execução provisória não será possível. Ou poderia fazer o seguinte: Se porventura juntei a
certidão do recurso não dotado de efeito suspensivo e o relator der o efeito suspensivo, a parte contrária é que deve vir
alegar que a execução não pode ser promovida, pois esta decisão foi dada antes da reforma do relator. O executado é que
terá que juntar outra certidão dizendo que o relator recebeu o recurso também no efeito suspensivo. Evidentemente aí houve
uma lacuna, pois quando trataram dos recursos, não pensaram na execução provisória. O professor acredita que a
jurisprudência seguirá considerando que se o juiz não declarar nada, o recurso será recebido em ambos os efeitos, e
pedirei a certidão no cartório de Pelotas, mas é controverso, pois o juiz não precisa dizer nada. O juiz de primeiro grau,
embora não tenha a possibilidade de controlar a admissibilidade da apelação, poderá para o professor, declarar os efeitos em
que recebe a apelação. Ele declarará o que a lei diz, pois não pode dar efeito suspensivo para a apelação, precisa aplicar o
1.012 (em regra, são ambos os efeitos). Poderei executar provisoriamente até que o relator receba o recurso em ambos
os efeitos. Se porventura a apelação for recebida apenas no efeito devolutivo, como a ação de alimentos, o juiz deverá
especificar, pois a ação de alimentos não está na regra geral de que há efeito suspensivo na apelação.

Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo,
cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: Senhores, na carta de
sentença, essas cópias deverão ser anexadas apenas se os autos do processo não forem eletrônicos. Se forem eletrônicos os
autos, já se encontram lá (na internet) os documentos que farão parte da carta de sentença. Se não forem eletrônicos o exequente
pedirá cópia, autenticará os documentos com o advogado por sua responsabilidade ou irá ao cartório.

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Responsabilidade patrimonial (art. 789 do CPC)

Como se dá a responsabilidade patrimonial? Eu, executado, respondo pelas minhas dívidas com o meus patrimônio, os meus
bens, presentes e futuros. Os bens passados não. Os advogados tentavam interpretar essa regra da seguinte maneira:
Presentes os bens em qual época? Na época da constituição da obrigação ou na época da execução?

Na verdade, é evidente que o executado responde com os bens presentes na época da propositura da ação executiva, e com
os bens futuros (que vierem a ser adquiridos). Ex.: Alguém vendeu o carro hoje, quando passou o cheque, mas a ação executiva
foi proposta apenas depois. A execução será suspensa, se não existirem bens a serem executados. Esta regra está presente no
art. 789: Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações,
salvo as restrições estabelecidas em lei.

Eu respondo com todos meus bens, mas se a lei disser que por exemplo, o depósito em caderneta de poupança, no valor de até
40 salários mínimos é impenhorável, respondo com meus bens presentes e futuros, mas a minha poupança não (será
impenhorável). A própria lei restringe a penhorabilidade de alguns bens. Se não houver essa restrição, desde que meus
bens sejam presentes ou eu venha a adquirir futuramente esses bens, poderão ser executados.

Se eu for casado em comunhão total de bens, metade dos bens que eu tenho são da minha mulher, então se eu vendi um
carro que valia 20 mil reais, entrego 10 para o credor e 10 para minha mulher.

Fraude à execução (arts. 792, I; 774, I e 828 do CPC)

Conceito: Ocorre quando já existe ação, de conhecimento ou executiva, em juízo, do credor contra o devedor, exigindo o
cumprimento de obrigação insatisfeita. É regulada pelo direito processual civil, pois invoca a prestação jurisdicional.

Quem frauda a execução o faz com a finalidade de levar o devedor à insolvência, para que ele não consiga pagar o que
deve. Ex.: Promovi uma ação de conhecimento para que vocês sejam condenados a pagar o reparo do acidente de carro (24
mil reais). Já propus a ação, vocês foram citados, apresentarão contestação esta semana, e eu abro o jornal e vejo que vocês
estão vendendo o único bem que possuem para garantir o pagamento da dívida. Vocês pensam da seguinte forma: O professor
propôs uma ação contra nós. Temos o carro no valor de 30 mil reais. Ele está pedindo a indenização de 24 mil reais. Antes
que ele ganhe a ação, venderemos o carro. Quando ele ganhar a ação, teremos de pagar 24 mil, mas já vendemos o carro e
sumimos com o dinheiro. Tínhamos um carro, mas para fraudar a execução (vejam que a ação é apenas de conhecimento
ainda, não de execução), procuram cair em estado de insolvência para futuramente não efetuar o pagamento voluntário nem
obrigatório. Isto é fraude à execução. Os senhores estão fraudando a prestação jurisdicional, impossibilitando que o crédito
seja satisfeito, mas por que fraudando a execução? Estão atentando também contra a dignidade do Judiciário. Fraudaram à
mim e a prestação jurisdicional. O Estado perdeu 5 anos julgando esta ação para que vocês não efetuassem o pagamento.

A fraude à execução é regulada pelo processo civil, pois é instituto de direito público em razão da prestação da tutela
jurisdicional. Digo isso porque se porventura não houver ação em curso, a fraude não é à execução. Se não há ação em curso
e não se invocou a prestação jurisdicional, a fraude é contra credores, contra particulares. A fraude contra credores não é
regulada pelo processo civil, mas pelo direito civil, pois frauda credores, não frauda a prestação jurisdicional. Não há ainda

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ação em curso. Não foi invocada ainda a tutela jurisdicional. Não posso dizer, então, que a fraude contra credores, regulada
pelo direito civil é instituto de direito público, é instituto de direito privado pois busca, se é que é verdade, fraudar apenas os
credores com característica de direito particular, privado.

A fraude contra credores só é encontrada no CC. A ação que faz com que se anule a fraude contra credores se chama ação
revocatória, ou ação pauliana. Vem desde a época do direito romano pela criação desta ação pelo jurisconsulto Paulo. Essa
ação busca revogar o negócio realizado entre duas pessoas que buscou levar uma delas ao estado de insolvência. Ex.: Eu,
professor, fiz um contrato com “A”, no qual fiquei devendo 30 mil reais para “A”. Ao mesmo tempo, tenho um carro que vale
50 mil reais, mas é meu único bem capaz de saldar dívidas. Venderei este carro de 50mil reais para meu amigo “B”, e depois
pegarei o dinheiro e darei para “B”, que guardará e depois me devolverá. “A” poderá promover a ação pauliana, buscando
desfazer a alienação do carro do professor com “B”, e precisará provar a intenção fraudulenta dos dois (por se tratar de fraude
contra credores). Se porventura a fraude é contra credores, preciso primeiro, o terceiro, promover ação contra ambos que
fraudaram, e revogar o negócio jurídico para deixar o bem na propriedade do antigo dono. Depois disso, é preciso promover
ação para penhorar o carro que foi de propriedade do professor por um tempo e voltou para propriedade da colega. Precisarei
provar o ânimo de fraudar das duas pessoas envolvidas, o conluio, por isso é difícil que se configure concretamente a
fraude contra credores, ao contrário da fraude à execução.

Na fraude à execução não há a necessidade de demonstrar a vontade de fraudar, então é mais fácil de ser configurada,
pois se presume que o adquirente do bem tem conhecimento de que a ação está em curso ou de que os bens do vendedor
podem responder pela execução. Como o terceiro saberá disso e porque a presunção existe? Eu, autor da ação (de
conhecimento ou executiva) terei de registrar no registro competente que estou promovendo uma ação contra tal pessoa (no
caso do exemplo, no CRVA). Assim, a pessoa que for comprar o carro e estiver de boa-fé saberá que poderá estar fraudando
a execução ao comprar o carro. A presunção é juris tantum (relativa), podendo ser afastada por prova em contrário.

Por isso é bom que advogados não avisem quando promoverão ações judiciais de cobrança, já que o devedor e réu poderá
tomar conhecimento e buscar se desfazer do seu patrimônio com a finalidade de fraudar o credor ou a execução.

Fraude contra credores -> instituto de direito civil, regulado pelo CC, onde o fraudador busca deixar o devedor insolvente,
fraudando o crédito do credor. É preciso provar o ânimo de fraudar dos envolvidos no negócio

Fraude à execução -> instituto de direito público, regulado pelo CPC, onde o fraudador frauda a própria tutela jurisdicional,
e atenta contra a dignidade da justiça. Não é necessário provar o ânimo de fraudar, se extrai este de uma presunção legal

Ato atentatório à dignidade da justiça (art. 774, I): Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta
comissiva ou omissiva do executado que: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e
meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora; IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais; V
- intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de
sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus.

Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor
atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo,
sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material.

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Esta sanção não diz respeito à fraude em frente ao credor, mas da fraude ao judiciário. Quem recebe o valor da multa é o
exequente e não o Judiciário. É evidente que ao Judiciário ter a sua prestação jurisdicional demorada, a dignidade da instituição
é afetada. A multa é até o montante de 20% sobre o valor do débito atualizado. Toda vez que o juiz decretar fraude à execução,
terá de obrigatoriamente ouvir ambas as partes, pois esta presunção é relativa. Estou demonstrando que fiz o registro no
CRVA, mas pode ser que o registro tenha sido feito mesmo de forma errônea. Se porventura alguém adquiriu o registro feito
de forma errônea, prova que não tinha como saber que o bem era objeto de processo, e não tinha conhecimento. A presunção
admite, dizemos, prova em contrário. Não há fraude à execução, quando se afasta a presunção.

Revendo a aula anterior: Vimos na aula passada, que a fraude à execução é instituto de processo civil. Existe no direito civil
o instituto da fraude contra credores. Esta fraude está prevista no CC. Para que eu, credor, possa pedir ao juiz que decrete uma
fraude contra este credor, eu terei que promover uma ação revocatória (pauliana) contra a pessoa que vendeu (o devedor que
caiu no estado de insolvência) e contra o adquirente deste bem, provando o ânimo de fraudar. É prevista esta ação no CC,
onde se prevê a possibilidade de revogação do negócio entre essas duas pessoas que quiseram fraudar o credor, e o credor
conseguir anular esta venda, o bem volta de novo para a propriedade do devedor, onde poderá ser promovida uma execução e
ser pedida a penhora deste bem. Se eu credor não fizer isso, quando eu pedir a penhora, não haverá bens a serem penhorados,
pois o devedor vendeu antes todos seus bens e caiu no estado de insolvência.

Eu poderia aqui falar erroneamente que o devedor foi à falência. Não é. Quando alguém vai à falência, precisa ser empresário.
O devedor civil é devedor insolvente. É uma situação parecida, pois ambos não tem condições de pagar suas dívidas, mas
não é a mesma coisa. Insisto nisso pois aprenderemos a execução por quantia certa contra devedor insolvente, e se ele for
comerciante, vai à falência. O devedor insolvente é o devedor civil. Para que juridicamente eu seja declarado insolvente, o
juiz precisa declarar isso por sentença. Hoje, eu não sou insolvente, pois ninguém pediu uma ação me cobrando algo ou
pedindo que eu seja declarado insolvente. O juiz precisa declarar o estado de insolvência por sentença. Eu próprio, sendo
devedor, posso pedir a minha própria insolvência (autoinsolvência).

Vejam, na fraude contra credores, eu me torno um devedor insolvente, mas ainda não há ação em curso. Como não há ação,
essa fraude é definida pelo direito civil, sendo necessário promover a ação revocatória (pauliana), onde se visa desconstituir
o negócio feito entre ambos os fraudadores do credor. Anula-se a fraude e o bem volta à propriedade do devedor, podendo o
credor promover a ação de conhecimento ou de execução. Na fraude à execução temos instituto de direito público, processual
civil. Ex.: Eu, réu da ação de conhecimento cometo fraude à execução. Estou devendo mil reais para “B”, e “B” promove uma
ação contra mim. Eu fui citado para contestar em 15 dias, a ação procede, e o juiz está com os autos conclusos para proferir a
sentença, e sei disso. Sei que devo pagar mil reais para B, tenho dois bens, uma casa que eu vivo, impenhorável, e três carros,
penhoráveis. Somando o valor dos três carros tenho 1milhão e 200 mil reais. Se o juiz está para proferir a sentença me
condenando, eu sei disso, o que vou fazer? Venderei o carro para outras três pessoas. Pego o dinheiro, e dou para o meu filho,
para um amigo colocar na poupança, etc. Digo para que apenas cuidem o dinheiro, pois ele ainda será meu. Fui condenado, e
“B” promoverá o cumprimento da sentença. Vai passar 15 dias e ele terá de indicar um bem a penhora, pois eu não pagarei
até o final dos 15 dias. Eu menti dizendo que usei o dinheiro para pagar dívidas. Estou claramente fraudando a execução, pois
cometi um atentado à dignidade da justiça, havia uma ação em curso cobrando o dinheiro. A diferença é que quando vendi os
três carros havia uma ação em curso por parte de B. Não é necessário que seja proferida a sentença para que se configure a

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fraude à execução. Se houver ação em curso, de conhecimento ou execução, se configura esta modalidade. Se não houver ação
em curso, haverá fraude contra credores.

No exemplo acima, frente à fraude à execução, o juiz mandará penhorar os três carros. Embora o contrato feito com as três
pessoas para alienar os três carros produza efeito entre as partes, não produz efeitos em relação à execução proposta por
“B”. Se eu cair em estado de insolvência, esta venda dos três carros não produz efeitos na execução, é ineficaz. Os três carros
serão penhorados. E as três pessoas prejudicadas? As três pessoas que compraram o carro poderão promover uma ação contra
o fraudador pedindo de volta o dinheiro e a indenização por descumprimento contratual, isto se estiverem de boa-fé, claro.
Se as três pessoas se interessaram de boa-fé pelos carros, não tendo como saber que o devedor cairia em estado de insolvência,
eu, devedor, enganei quem comprou os carros, pois eu sabia que os meus carros responderiam pela dívida. Para evitar que a
fraude à execução cause prejuízo ao terceiro de boa-fé, como vamos dizer que essas pessoas tem culpa? Quem tem culpa é o
devedor que vendeu sem avisar que futuramente os bens poderiam ser penhorados. Eu devo tomar algumas atitudes, para
que as três pessoas que compraram o carro não possam alegar pela boa-fé na compra do bem que responderá pela execução
(caso em que incidirá a presunção legal de fraude). Veremos quais são essas atitudes:

Art. 792. A alienação ou oneração de bens é considerada fraude à execução:

Vejam, é alienação, oneração ou doação. Qualquer forma utilizada para fraudar a execução é passível de oneração. Poderia
ter vendido o bem ou colocar uma cláusula de impenhorabilidade, não interessa. Ou poderia até transformá-lo em bem de
família. O devedor fez isso apenas para que quando se ganhasse a ação não se tivesse nada a penhorar.

I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do
processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver;

Neste caso, o credor está promovendo uma ação em que o devedor tem entregar uma coisa móvel ou imóvel. Vamos dar o
exemplo de coisa imóvel. Ex.: Se eu quero ver configurada a fraude à execução, (eu, credor, e já autor da ação) sou obrigado
a registrar que há uma ação contra o devedor, já proposta, em curso, no registro imobiliário. Se eu tenho um bem passível de
penhora, preciso registrar que há uma ação em curso do credor contra o devedor. Quem registra, neste caso, é o credor. A
obrigação de registrar é do credor. Se ele não fizer isso, não quer dizer que não houve fraude à execução, porém. É apenas
para se tenha uma forma mais fácil de provar a fraude à execução, para criar uma presunção legal de que existe a fraude,
presunção que já vimos que admite prova em contrário. A fraude à execução poderá ser provada por outros meios, mas esse
do registro é o mais fácil. Feito o registro, qualquer um que for comprar o bem não poderá alegar boa-fé, pois tudo estava
registrado, e no mínimo houve culpa do comprador. Assim demonstramos a má-fé do vendedor e a falta de boa-fé do
comprador. Se o comprador quiser comprar o carro, o devedor não impedirá, pois o carro não está penhorado. O comprador
pode comprar, mas não pode alegar que não sabia que havia ação perseguindo o bem comprado.

A fraude à execução não impede a venda do bem, portanto, tanto é que, se eu vender, o contrato só não terá eficácia frente
ao exequente, mas terá efeitos em relação à quem comprou e o devedor que vendeu. Ex.: Tenho vinte caminhões. Não tenho
nenhum caminhão penhorado. Uma ação foi proposta contra mim. Não há nem sentença, não sei se vou perder a ação, mas
tenho quase certeza que não. Posso sim vender os caminhões se eu quiser (e se o comprador for desleixado a ponto de não ver
nada no registro), mas se eu cair em estado de insolvência, haverá a presunção de fraude à execução. Se eu não cair em estado

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de insolvência, não houve fraude por óbvio, pois eu tinha patrimônio para pagar, pois tinha muitos caminhões além dos que
foram vendidos e tinha outros apartamentos, outros bens que poderiam satisfazer a dívida.

Lembrar: Os terceiros que quiserem adquirir, podem adquirir, mas não poderão alegar que não sabiam que havia uma ação.

Alguns bens móveis não podem ser registrados. Veremos depois quem é responsável por tomar alguma atitude em relação
a isso. O registro que se faz, primeiramente, é o registro preventivo.

Aqui no inciso I, no caso de ação que busca o bem (reipersecutória), pode ser uma ação para a entrega de coisa. Ex.: Tenho
cinco touros na minha estância, que podem ser penhorados. Tem registro para este tipo de animal. A colega vendeu os cinco
touros para mim, e eu não paguei os touros. Ela promoveu uma ação, onde quer a resolução do contrato, com a multa e a
devolução dos 5 touros. Eu poderia vender os touros, levo-os para a Argentina, e nunca mais ela vai acha-los. Ela não quer o
dinheiro dos touros, ela quer os animais, pois os 5 são campeões mundiais da raça. Neste caso, para ela evitar a fraude à
execução, registrará no escritório de registro dos touros, que há uma ação em curso, em que ela está buscando a entrega dos
animais. Se alguém comprar, o juiz expedirá mandado de busca e apreensão contra o comprador, pois a pessoa comprou
sabendo que havia uma ação contra quem vendeu. Se não tiver registrado, a princípio, não há fraude à execução, embora
possa se demonstrá-la de outro modo. Pode ocorrer fraude contra credores. Só porque não registrou? Sim. Se não fizer o
registro, porém, pode ser que demonstre a fraude à execução, por outros meios, mas será mais difícil provar que quem comprou
os touros sabia que havia ação em curso. Há outras formas de demonstrar que houve fraude à execução, mas a presunção do
registro é trazida pela própria lei, e é bem mais fácil usá-la.

II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828;

Quando eu proponho a execução, posso requerer uma certidão na qual constará que propus a ação executiva. Com esta certidão
eu registrarei no registro de bens (mobiliário ou imobiliário) que há ação executiva em curso, e este registro também faz
com que se porventura o devedor cair em estado de insolvência, presuma-se fraude à execução.

Vejam, aqui a execução pode ser mesmo execução por quantia certa. No inciso I, era pra entrega do bem (reipersecutória
ou de busca real). Aqui é para o pagamento de uma quantia constante do título executivo. Ao promover a execução, se
requererá uma certidão e se registrará esta certidão no registro de bens, imobiliário ou mobiliário, e se alguém comprar este
bem não poderá alegar a boa-fé. Isso é feito na forma do art. 828:

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor
da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou
indisponibilidade. Vejam, entrou com a execução. Mas a parte não foi intimada ainda. Não importa. Se já entrou com a ação,
basta pegar a certidão, e ir no registro.

Vejam que o art. § 2º diz: “§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente
providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados”. Se porventura,
na execução que promoveram contra mim, o exequente fez o registro no CRVA, determinando que havia uma ação em curso
querendo os três veículos, eu devo 500 mil reais, e cada carro vale 250 mil reais (três carros = 750mil). Se porventura se
penhorou apenas dois carros, o exequente tem obrigação de retirar a averbação de um dos carros, pois a execução está

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garantida, e do contrário criará um prejuízo. Ela só pode deixar o registro para impedir que eu venda o bem para garantir a
execução, tem obrigação de tirar do registro a averbação relativa aos bens que não garantem a execução.

III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do
processo onde foi arguida a fraude;

Da mesma forma, se houver um registro de hipoteca, este precisa ser feito o mais rápido possível para dar conhecimento aos
terceiros. O registro não é só de que há uma ação em curso, ou que há ação real ou por quantia certa, mas também é necessário
o registro da hipoteca judiciária, se o bem está garantido.

IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;

Nestes casos, sempre será ação capaz de levar o devedor à insolvência, a não ser no caso do inciso I, pois neste não estamos
falando de dinheiro, mas da entrega do bem, móvel ou imóvel. No inciso I não se trata de fraude à execução em razão de cair
no estado de insolvência, é que o exequente não quer o dinheiro, mas quer o bem (no exemplo acima, os 5 touros). Nos demais
casos, se eu cair em estado de insolvência e houverem as averbações, configura-se na execução por quantia certa a fraude à
execução.

V - nos demais casos expressos em lei.

Se houver uma nova lei dizendo que há fraude à execução, o legislador poderá acrescer mais medidas, como quiser.

§ 1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.

Vejam, é ineficaz em relação ao exequente a fraude que o devedor cometeu. Se for fraude contra credores, essa fraude é
frente ao credor, e o credor terá de demonstrar na ação pauliana a intenção do devedor de cair na insolvência e de quem
comprou o bem de entrar na fraude. É difícil provar o concilio fraudis. Na fraude à execução, os carros e os touros vendidos,
no exemplo acima, não produzem efeito frente ao exequente e frente à execução, mas o contrato produz efeito em relação
à quem comprou e o devedor, já que há ação regressiva por parte dos que compraram os bens e os perderam para a execução.
É o fato de poder ter ação regressiva que faz com que o contrato tenha efeito em relação àquele que comprou.

§ 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas
necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local
onde se encontra o bem.

Há registro cabível para o bem -> responsabilidade do credor averbar;

Não há registro -> responsabilidade do devedor tirar certidões e tomar precauções.

Nos casos em que o exequente pode averbar, tem este como precaução averbar no registro de bens que há uma ação em curso.
O problema ocorre quando o bem não admite registro. Como o comprador saberá que existe uma ação em curso pra pegar
o bem que comprará? Ex.: Tenho vinte cadeiras (que poderiam pagar o crédito do exequente), mas não tem como registrá-las.
Alguém compraria, e em princípio não seria fraude à execução, pois não houve má-fé de quem comprou. Sequer há registro
deste tipo de bem. Mas não é bem assim que as coisas acontecem.

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Neste caso, não cabe ao exequente promover averbação, cabe ao terceiro tentar demonstrar a sua boa-fé. Como o terceiro
demonstrará a boa-fé? Obtendo certidões. Se não demonstrar através dos atos do artigo, se presumirá a má-fé, e haverá fraude
à execução. Nos locais em que o devedor estiver domiciliado, deverá o terceiro obter certidões do Foro para saber se existe
alguma ação contra quem está vendendo as cadeiras, no exemplo anterior. Quem tem que praticar o ato para evitar a fraude é
o terceiro que pretende adquirir o bem, portanto. Basta para isso se dirigir ao foro, ou na internet procurar se há alguma ação
em curso contra quem está vendendo as cadeiras. Os bens que eu estou vendendo (eu, devedor) estão em Pelotas, estou
domiciliado em Pelotas. Se os bens estão em Pelotas e estou domiciliado em Rio Grande, deve-se tirar uma certidão nas duas
comarcas. Se não fizer isso, se o terceiro não demonstrar que tomou essas atitudes, há fraude à execução.

E se mesmo assim, o terceiro provar que fez, mas fez de forma errada? O terceiro tirou certidões em Jaguarão (achou que
eu morava em Jaguarão) apenas. Neste caso, não há fraude à execução. O terceiro tem, então, determinação preventiva, o
que nunca aconteceu antes, pois o CPC só entregava as obrigações a uma das partes. Agora o terceiro, para adquirir bens terá
que obter tais certidões. É para evitar a fraude à execução, caso contrário, nem precisa pegar certidões.

§ 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte
cuja personalidade se pretende desconsiderar.

§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos
de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. Se porventura antes do juiz declarar a fraude à execução chamar o terceiro, para que
ele diga se praticou o ato de boa-fé ou má-fé. Se ele alegar que praticou de boa-fé, pode demonstrar que houve boa-fé através
da ação de embargos de terceiro, onde dirá que não teve chances de obter tal determinação, comprando o bem de boa-fé, onde
não haverá fraude à execução. No embargos de terceiro, a parte contrária poderá demonstrar que a outra parte sabia que havia
ação em curso. O terceiro tem que provar que adquiriu o bem de boa-fé, se porventura provar, nada impede que a outra parte
também prove que houve má-fé.

Liquidação de sentença (arts. 509, 510, 511 e 512 do CPC)

Conceito: A liquidação de sentença é uma mera fase do processo, constituindo providência integrativa da sentença
exequenda, com o objetivo de oferecer liquidez ao título antes ilíquido.

O processo, sabemos, começa com a fase de conhecimento. Da petição inicial, até a sentença. Depois da sentença, se ela não
for cumprida voluntariamente, iremos até a fase executiva. Temos um processo sincrético, com duas fases (conhecimento e
executiva). O problema é: Se o título é ilíquido, ele é incompleto, e não posso passar à fase executiva.

Entre as duas fases nasce uma, uma fase intermediária, de liquidação da sentença. É uma mera fase do processo, que pode
até não existir em vários casos (quando a sentença é líquida), pois o juiz pode dar valor na sentença, por existir pedido certo
e determinado. Ex.: Bateram no meu carro. Eu, autor da ação, farei o pedido para que pague 20 mil reais acrescido das
despesas processuais, custas e honorários advocatícios. Se o juiz condenar o réu no total do pedido, será condenado a pagar
este valor. A sentença, neste caso, seria líquida, não haveria liquidação de sentença.

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O CPC, entretanto, admite pedido genérico em alguns casos, quando não se tem condições de determinar o valor do pedido
que em regra deveria ser certo. Ex.: Vocês disseram que eu, professor, sou ladrão. Processarei vocês em virtude do dano moral,
mas não sei até que ponto o crime contra a honra causou prejuízo. Não tenho como dizer o valor ainda. Estou inscrito num
concurso público e tirarão informações da minha vida, e essas informações falsas (gerarão um dano moral maior ainda) farão
com que eu obtenha reprovação nesse concurso. Promovo a ação, há a condenação, mas passados dois anos da condenação,
fiquei sabendo que fui reprovado no concurso pelos fatos alegados por vocês. Promoverei a liquidação da sentença, pedindo
que o juiz arbitre um valor apresentando os fatos que corroboram com a determinação desse valor.

A decisão interlocutória proferida na liquidação, integra a sentença exequenda, para que o título seja líquido. A decisão
proferida na liquidação integrará a sentença (é decisão interlocutória), aquela sentença que antes estava incompleta para ser
executada. Integrando a sentença, temos que o título executivo é certo, exigível e líquido, e posso me dirigir à fase executiva.
A fase de liquidação não é obrigatória, portanto, pois se o título já for líquido, não há fase de liquidação, ela ocorre apenas
quando a sentença não dá valor. Em regra, como é uma decisão proferida no curso do processo, é uma decisão interlocutória,
e o recurso cabível, no prazo de 15 dias, é o agravo de instrumento, de acordo com parágrafo único do art. 1.015: Também
caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. É preciso tomar cuidado, pois pode ocorrer que a decisão
proferida na liquidação de sentença não seja interlocutória, mas sentença, e o recurso cabível, evidentemente, não é agravo
de instrumento, mas apelação.

Em regra, a liquidação é de um título executivo judicial (sentença). Não é normal, mas se admite liquidação de título
extrajudicial. Todos os doutrinadores dizem que a regra é a liquidação ser de sentença, mas existem títulos extrajudiciais
que admitem a fase processual de liquidação. Ex.: Um título executivo que é feito por um particular e pelo MP. O termo de
ajustamento de conduta, que por lei extravagante é título extrajudicial. Digamos que fique determinado que haverá, em caso
de descumprimento do TAC, uma multa a ser paga, e a obrigação de fazer não foi realizada por este agente que assinou junto
com o MP o termo de ajustamento de conduta. Pode ser que este termo não tenha valor, e o MP tenha que promover a
liquidação deste título que não é sentença, se quiser executá-lo. O juiz dirá qual o valor da multa pela não prestação do fato.
Não podemos interpretar literalmente como se a liquidação fosse apenas de sentença. Por isso, o professor prefere chamar de
apuração de liquidez, a apuração do valor do título extrajudicial. Que fique claro, portanto, que quando o CPC usar o termo
liquidação de sentença, apuração da liquidez, está se referindo à liquidação, que pode ser não só a sentença, mas o título
extrajudicial em alguns casos.

Se o título não é líquido, temos apenas a certeza e exigibilidade, mas não a liquidez. Com os três requisitos, poderei promover
a execução. Ex.: A sentença condenou a ressarcir o dano, mas sem dar valor. Não houve o cumprimento, mas eu, ganhador da
ação, farei o requerimento (antes da execução) e pedirei que o juiz dê valor à sentença. Quem vai pagar precisa saber o valor
sempre, do mesmo modo que quem vai executar precisa saber o valor. Deverá se apurar o valor da sentença, para que o título
executivo esteja completo e que o ganhador da ação possa intimar o devedor para pagar em 15 dias. Se não pagar em 15 dias,
há a multa de 10% do valor (pois aí já saberei o valor) mais multa de 10% sobre os honorários.

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Legitimidade ativa e passiva para a liquidação (credor e devedor, art. 509, caput, do CPC): Art. 509. Quando a sentença
condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor. No
sistema do antigo CPC, apenas o credor podia promover a liquidação de sentença. Geralmente é o credor que é interessado
em promover a liquidação, pois é ele que quer executar. O art. 509, no seu caput, parte final, entretanto, diz que o devedor
também pode promover a liquidação de sentença. O interesse do devedor é pagar voluntariamente (enquanto o interesse do
credor é exigir o pagamento). Ex.: Vocês foram condenados a ressarcir um dano moral. Vocês querem pagar, mas não sabem
o valor. Nada impede que vocês, devedores, promovam a liquidação de sentença. Vocês apresentarão os fatos ao juiz para que
ele dê valor à sentença. Eu, que serei a parte contrária da liquidação, serei chamado para que querendo, conteste a liquidação
que vocês promoveram. Se vocês obterem um valor de 100 mil reais na liquidação, podem voluntariamente pagar 100 mil
reais. Se porventura vocês promoveram a liquidação e não pagaram em 15 dias os 100 mil reais, haverá a multa de 10%, pois
não cumpriram voluntariamente. O credor tem interesse na liquidação para futuramente, exigir o pagamento. O devedor, tem
interesse para poder saber o valor que deve pagar o valor. Pode acontecer que o devedor tenha apurado o valor e só tenha 20
mil reais para pagar, no exemplo acima. Ficou faltando 80 mil reais. Já depositou 20 mil, mas em relação aos 80 mil temos
multa de 10%. A execução prossegue nos 80 mil.

O próprio devedor ou o próprio credor podem promover a liquidação, portanto.

Devedor promovendo a liquidação -> Devedor possui a legitimidade ativa, e o credor a passiva.

Credor promovendo a liquidação -> Credor possui a legitimidade ativa, e o devedor a passiva.

§ 1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução
daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.

§ 2º Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o
cumprimento da sentença.

§ 3º O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização
financeira.

Espécies de liquidação.

1) Liquidação por arbitramento (inciso I do art. 509 e caput do art. 510 do CPC): I - por arbitramento, quando
determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação: A liquidação por
arbitramento ocorre quando o valor não trazido na decisão depende da ajuda de um perito (que o professor chama de árbitro).

Esse tipo de liquidação é determinado: 1) Pelo juiz, na sentença; 2) Convencionado pelas partes (neste caso pode decorrer de
cláusula contratual anterior à sentença, ou de transação posterior à sentença); 3) Nos casos em que a natureza da prestação
exigir.

Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos
elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o
procedimento da prova pericial.

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A liquidação arbitramento é bastante utilizada no terceiro caso (em decorrência da natureza do objeto da liquidação, da
prestação), pois é especificamente nestes contextos que se depende de conhecimento técnico. O perito trará informações
para elucidar o caso, e o juiz estipulará um valor frente à condenação. Vejam, o objeto exige o conhecimento de um
especialista, e o perito traz a matéria elucidativa ao juiz, mas quem dará valor não é o perito, é o juiz, em cima do conteúdo
elucidativo que o perito trouxe ao órgão julgador.

Vejam, o juiz pode utilizar o conhecimento do perito (especialista), mas não necessariamente necessita. Pode o juiz, de
plano decidir, baseado apenas na apresentação de pareceres e documentos que foram trazidos pelas partes. Se porventura os
documentos elucidativos que as partes trouxeram ao conhecimento ao juiz para que estipule o valor da sentença não forem
suficientes, por falta de conhecimento técnico adequado, aí é que será necessária a ajuda do perito e o arbitramento se
processará com observância das normas gerais da prova pericial (art. 510). Ao final do procedimento, o juiz proferirá decisão
interlocutória, na qual definirá o objeto líquido da condenação, o valor. Desta decisão, caberá o recurso de agravo de
instrumento (a previsão é do art. 1.015, § único): “Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário”.

2) Liquidação pelo procedimento comum (inciso II do art. 509 e caput do art. 511 do CPC): II - pelo procedimento
comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. Se a liquidação não for por arbitramento, só poderá ser
por procedimento comum. Anteriormente, não se chamava assim, mas liquidação por artigos, nomenclatura que foi banida
do sistema. A liquidação pelo procedimento comum ocorre quando for necessário alegar e provar fato novo. Ex.: Atropelei
uma senhora. Essa senhora poderia ter quebrado o braço. Se quebrasse o braço, poderia até pedir indenização em uma ação
(embora não tenha ainda como quantificar este prejuízo). Digamos que ela me processe e eu seja condenado a ressarcir os
prejuízos que causei. Passados dois anos da condenação, a senhora fez tratamento e tem como alegar e provar fato novo
(posterior à sentença, pois teve que fazer fisioterapia, aquecimento nos braços, entre outras coisas). Estes valores gastos são
fatos novos, que ela alegará, não na petição inicial (porque a ação já foi proposta e eu fui condenado), mas na petição de
liquidação, e eu serei citado, pelo procedimento comum (lá do processo de conhecimento), para acompanhar a prova destes
fatos novos. Se ela provar estes fatos novos, será atribuído o valor que ela demonstrou. Se ela não provar, talvez a liquidação
não apresente valor nenhum. Se ela provar os fatos alegados, o valor será o que ela atribuiu. Agora, com a decisão proferida
na liquidação pelo procedimento comum, o título está completo.

A liquidação pelo procedimento comum era chamada de liquidação por artigos porque todos os tribunais determinavam que,
para fazer a liquidação por artigos era necessário fazer uma petição, qualificar o liquidado e liquidante, mostrando tudo em
itens (artigos). Em cada artigo, precisaria alegar e provar os fatos novos. Nunca deveria ter sido chamada assim, pois eu
poderia fazer tudo na forma de texto e não itens.

Não há citação na liquidação por procedimento comum, pois a citação é feita em função da pessoa, e a intimação é feita na
pessoa do advogado. Na petição de liquidação, o credor pode alegar vários fatos novos, e deverá provar o que foi alegado
(os tais fatos novos), com por exemplo, prova documental ou qualquer outro meio de prova, como se admite no procedimento
comum. No exemplo acima, bastava apresentar os laudos médicos de fisioterapia e os valores que a senhora pagou. O fato

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novo é aquele que veio depois da sentença, que não foi discutido na ação. Se o fato aconteceu antes da sentença e não foi
discutido, não era fato novo, e a parte que não o alegou no processo de conhecimento que se dará mal.

Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado
ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias,
observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código. A intimação é feita na pessoa
do advogado, para evitar demora no processo. Vejam, será intimado para que em 15 dias responda à liquidação, e segue
tudo pelo procedimento comum. Se houver necessidade de prova, se determina audiência, sendo colhidas as provas, até a
decisão final que integre a sentença que dará o valor à sentença.

Da decisão proferida na liquidação pelo procedimento comum cabe agravo de instrumento, conforme o § único do art. 1.015,
recebido no efeito devolutivo.

Liquidação provisória (art. 512): Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em
autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.
A liquidação de sentença é admissível ainda quando existe recurso pendente em ambos os efeitos. É o que chamamos de
liquidação provisória, do art. 512. Ex.: Vocês foram condenados a ressarcir os prejuízos causados em mim. Esta sentença
determinou ressarcimento dos prejuízos, mas eu ainda não sei quais são os prejuízos em valor monetário. Vocês, réus
condenados, dizem que a sentença foi injusta, e desta sentença ilíquida, cabe recurso de apelação, vocês apelaram. A apelação
foi recebida em ambos os efeitos. Não posso executar, nem definitivamente nem sequer provisoriamente, pois a sentença não
pode produzir efeitos. Eu posso, ainda assim, por força do art. 512, promover a liquidação na pendência deste recurso. A
liquidação será provisória.

Não confundam liquidação provisória com execução provisória. Na liquidação provisória, não pedirei a penhora do carro
do devedor, mas irei apenas apurar o valor dos prejuízos causados a mim, vencedor na sentença. Não há nenhum problema
em liquidar provisoriamente, pois continuarei sem poder executar a sentença. Se a liquidação, no exemplo acima, der o
valor de 200 mil, terei um título executivo líquido, certo e exigível, mas não posso executar sequer provisoriamente pois há
efeito suspensivo na apelação. É por isso que eu não preciso prestar caução na liquidação, pois estou apenas apurando o valor
do título. Se na apelação o tribunal disserem que vocês não devem nada no exemplo acima, não poderei promover a execução.
Não há nenhum prejuízo na liquidação para o devedor, pois não há levantamento, penhora, nada, apenas há o estabelecimento
de um valor. Se eu perder a apelação interposta por vocês, eu terei gastado dinheiro à toa, pois gastei para liquidar a sentença
e não pude executá-la. Não poderei exigir nenhuma cobrança de valor.

Digamos que, no exemplo acima, o juiz tenha proferido sentença ilíquida que transitou em julgado. Eu promovo a liquidação
da sentença, que sabemos, transitou em julgado. O devedor não recorreu da sentença, portanto. Qual é o valor do prejuízo? A
liquidação não é provisória, pois não há recurso, ela é definitiva. O juiz estipula o valor de 200 mil reais como sendo o valor
do prejuízo que vocês causaram a mim. Vocês, executados, recorrerão da decisão interlocutória proferida no curso da
liquidação, com o recurso de agravo de instrumento. Este agravo, em regra, é recebido apenas no efeito devolutivo, então é
possível recorrer. Eu, pegarei a sentença certa, exigível, e líquida, e a minha pergunta (do professor) é: A execução é
provisória ou definitiva? Vocês, executados, recorreram da decisão que liquidou a sentença, dizendo que o dano foi de 20

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mil, e não 200. Posso eu, exequente, promover a execução definitiva? A sentença transitou em julgado, o que não transitou
em julgado foi a decisão interlocutória que liquidou a sentença. Posso sim executar, mas provisoriamente. Há pendência
de recurso, não sobre a sentença (que transitou em julgado), mas sobre a decisão interlocutória que liquidou e deu o valor. Se
o tribunal disser que a sentença vale 20 mil reais, e eu exequente na execução provisória peguei 200 mil, apenas consegui
fazer isso por ter prestado caução (lembremos que a execução é provisória, e em regra pra levantar dinheiro precisa de caução).
O que eu dei como garantia ressarcirá adequadamente o executado, pois causei um prejuízo a ele, e também sabemos que a
execução provisória corre por conta e risco do exequente, que sou eu. Não pude promover a execução definitiva pois ainda
existe recurso que, de certo modo, é sobre parte da sentença (apenas sobre o valor, estabelecido pela decisão interlocutória
que liquidou a sentença). A sentença transitou em julgado, mas o valor da sentença não transitou em julgado. Quando houver
o julgamento do agravo de instrumento que questiona a decisão que liquidou, esta decisão integrará a sentença exequenda. É
preciso tomar cuidado com os dois recursos:

Apelação -> atacará a sentença condenatória. No nosso exemplo não existiu, pois houve trânsito em julgado da sentença;

Agravo de instrumento -> ataca a decisão interlocutória que estabeleceu o valor na liquidação (o valor é um dos elementos
que compõem a sentença e o próprio título executivo, com a liquidez).

Eu disse que o recurso que atacava a decisão (interlocutória) que estabeleceu a liquidação da sentença é o agravo de
instrumento. É preciso cuidado, pois se for proferida uma sentença na fase de liquidação, o recurso não é agravo de
instrumento, mas apelação. Ex.: Promovi a ação, vocês foram condenados a ressarcir o dano. Tenho 5 anos para promover
a execução, que é o prazo prescricional da sentença (a execução prescreve no mesmo prazo que a ação, lembremos). Passaram
10 anos e eu promovo a liquidação da sentença. O juiz dirá, na liquidação, que o título está prescrito. A sentença prescreveu.
Se o juiz disser isso, essa decisão pôs fim ao processo. Não vamos à fase executiva pois há a prescrição do título. Desta
decisão, que não é interlocutória, mas sentença, cabe apelação.

Na liquidação não se pode rediscutir o mérito da ação, se houve culpa do réu ou não, isso já foi feito no processo de
conhecimento e na decidido na sentença. Na liquidação apenas se pode debater, discutir e contestar o valor do prejuízo. A
previsão está no art. 509, § 4º “Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou”. A
liquidação de sentença não serve como recurso. Se vocês, devedores, disseram que não cometeram nenhum prejuízo contra
mim, devem recorrer da sentença. Não podem afirmar isso em sede de liquidação de sentença, pois nesta seara apenas se
discute a valoração do ressarcimento.

Vimos que a liquidação é uma mera fase intermediária do processo, situada entre a fase de conhecimento e a fase executiva,
que talvez nem ocorra, se a decisão for líquida. A liquidação, vimos, pode ser provisória, na pendencia de recurso, e vimos
também a legitimidade (pode promover o credor e o devedor, por motivos diferentes). O mais importante: Para que eu possa,
credor, promover ou chegar à fase de execução, o título precisa ser completo: certo, exigível e líquido. Se ele é ilíquido,
promovo essa fase de liquidação de sentença. Se o título já é líquido, promovo diretamente a execução.

A questão da liquidação por cálculo: § 2º Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor
poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença. Vejam, não há essa fase intermediária. É dentro do cumprimento
da sentença que a parte apresentará o cálculo, e a discutiremos dentro da execução. Se fosse liquidação, evidentemente a

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discussão do valor deveria ser feita anteriormente à execução. Então não há liquidação por cálculo. A atualização monetária
do valor da condenação será discutida na própria fase de cumprimento da sentença.

Quando a liquidez depender de cálculo, temos simples cálculos aritméticos, mais fáceis de se fazer do que a apuração que
se faz na liquidação por arbitramento ou pelo procedimento comum, já que o próprio exequente pode fazê-los em uma
memória discriminada de cálculo. Nesta situação, vocês acharão alguns doutrinadores que dizem que há liquidação por
cálculo. Mas é errado dizer isso (diz o professor). Acabei de dizer que temos uma mera fase de liquidação entre o processo de
conhecimento e a fase executiva, se o título for ilíquido. Se porventura esta sentença ter a sua liquidez dependente de cálculo,
não digam que há liquidação por cálculo. Se os livros forem anteriores à 2006, realmente havia liquidação por cálculo. Antes
de 2006 tínhamos três espécies: liquidação por cálculo, por arbitramento e por artigos. Depois de 2006, retiraram a liquidação
por cálculo e ficaram duas espécies (por arbitramento e por artigos). Com o NCPC, continuou fora a liquidação por cálculo
(já estava desde 2006) e continua presente a liquidação por arbitramento e a antiga liquidação por artigos continua, mas com
o nome de liquidação por procedimento comum. Eu disse pra vocês que a liquidação é uma mera fase intermediária entre
conhecimento e execução, se a sentença for ilíquida. Ex.: Tenho uma sentença que condenou “B” a pagar 100 mil reais. Tem
já 2 anos dessa sentença. Eu não promovi a execução pois “B” não tinha bens a serem penhorados. Hoje, vi que “B” comprou
um carro por 280 mil reais. Agora, eu promoverei a execução. Posso pedir, se quiser, os 100 mil reais, para que “B” seja
intimado para em 15 dias pagar o valor. Se não pagar, quero que acrescente a multa de 10% sobre o valor (110 mil). Faz porém
2 anos que a sentença disse 100 mil reais, e se passar o valor para o atual (corrigir), será bem mais. Digamos que o devedor
deve mais 160% de juros, o que dá 260 mil reais, com multa de 10% se atrasar. Quando a liquidez depender de cálculo, não
há esta fase de liquidação. Eu, que sou o credor e que pediria liquidação se a sentença fosse ilíquida (neste caso não é, o valor
é de 100 mil e precisa apenas ser atualizado), farei a memória discriminada de cálculo principal, colocando custas
processuais, honorários advocatícios, multa, e o total, 260 mil reais. Estou atualizando a liquidez do meu título. Já farei isso
na própria execução. Não é liquidação, pois não é uma fase intermediária. Quando eu fizer este cálculo, pedirei ao juiz para
que ele intime os senhores para pagar 260mil reais em 15 dias. Se vocês pagarem os 260, não pagam os 10%. É claro que
vocês poderão dizer que o cálculo está mal feito, que a taxa de juros está incorreta, mas isso não é oposição à liquidação, mas
oposição à execução. Vocês alegarão que há excesso na execução por meio de impugnação, argumentando por exemplo, que
o credor, atualizou erroneamente a taxa de juros, colocando não de 1% ao mês, mas de 10% ao mês). Na impugnação à
execução vocês alegarão isso, que estou pleiteando quantia superior ao título, estou me excedendo, e nela terão de dizer qual
é o cálculo correto, o quanto realmente vocês me devem, e aí o juiz decidirá entre os valores, e conforme a decisão do juiz
prosseguirá a execução. Se vocês tem razão, apresentaram os cálculos e o valor escolhido pelo juiz e executado será o posto
por vocês na impugnação. Se vocês não disserem qual o valor correto, a impugnação não será aceita. Então, entendam, não
tem liquidação por cálculo. Neste exemplo acima, a sentença era claramente líquida, apenas o valor precisava ser atualizado
com um novo cálculo.

Liquidação por cálculo -> Não existe. Não é uma fase intermediária do processo (como é a liquidação), está dentro da fase
executiva. O exequente com uma memória de cálculo discriminada buscará corrigir o valor de uma sentença que já era
líquida (na liquidação a sentença é ilíquida), mas que precisava ter atualização em seu valor. O exequente já iniciará a
execução com o cálculo feito, anexando este cálculo ao requerimento de execução, e neste último pedindo que o juiz intime o

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executado para pagar em 15 dias o valor já atualizado. Se o executado discordar do valor, questionará isso em sede de
impugnação (e como sabemos, a impugnação é um modo de se atacar a própria execução). Este cálculo não é liquidação,
então.

Existem vários programas de cálculo que as editoras vendem. Alguém dirá: E se eu não quiser comprar um programa de
cálculo? Não é obrigado a fazer. Poderei contratar um contador, ou eu mesmo fazer e terei de atualizar mensalmente a taxa de
juros. O próprio programa faz o cálculo. Este cálculo impresso demonstrará a memória discriminada, dizendo qual a taxa de
juros, o índice que utilizei para correção monetária, e se houver alguma multa. Esta memória pode ser semanal, diária, mensal,
ou anual. Logo o CNJ fará isto, disponibilizando um programa (§3º do art. 509): § 3º O Conselho Nacional de Justiça
desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira. Colocará o CNJ na sua página
um programa para que os advogados tenham um programa de cálculo para fazer a sua memória discriminada.

§ 4º Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou (apenas revisão): A liquidação serve
para apurar o valor, não serve como recurso para rediscutir o mérito da ação de conhecimento. Se eu quero reformar, modificar
ou anular a sentença, preciso promover a apelação. Se a sentença transitou em julgado (por eu não ter promovido recurso, ou
ter promovido e ter perdido) e disse que o réu deve ressarcir o autor, o autor, agora exequente, promoverá a liquidação e
apurará os prejuízos, isso está definido. O que se pode discutir é o valor do prejuízo. Da decisão proferida na fase de liquidação,
teremos uma decisão interlocutória dizendo algum valor, e qualquer das partes vencidas pode recorrer. O recurso é o agravo
de instrumento, pelo parágrafo único do art. 1.015. Vejam, as decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação são
atacadas por agravo de instrumento, por orientação do 1.015.

Pergunta: Eu, professor, promovi uma ação contra vocês. Vocês foram condenados a ressarcir os prejuízos (em sentença
ilíquida). Vocês me atropelaram, mas à época da sentença eu não sabia se seria preciso amputar as minhas pernas, ou se elas
ficariam mesmo inutilizadas pro resto da vida. Eu promovi a ação de conhecimento mas ainda não sabia exatamente quais os
prejuízos. O tempo passou, e eu, hoje, preciso fazer fisioterapia e vários exames no exterior. O valor desta sentença, com o
tempo, acredito que chegou a uns 830 mil reais (todas as despesas necessárias). Promoverei a liquidação da sentença em razão
de fatos novos que surgiram (liquidação pelo procedimento comum). Vou alegar e provar nessa liquidação que aconteceram
fatos novos (a medicação estrangeira, a fisioterapia no Brasil, minhas pernas estão começando a se movimentar, tive que fazer
exames no exterior). O detalhe é que a sentença foi proferida no ano 2000. Hoje, eu promovo a liquidação (em 2016) e
apresento este valor de 830 mil reais. O juiz decidiu sobre a liquidação de sentença, e quero recorrer, qual o recurso cabível?
É apelação. Porque? O juiz decretou a prescrição do título executivo (passaram-se 16 anos, prescrição intercorrente). O juiz
disse na sentença que não dará liquidez, pois o título está prescrito, e o recurso cabível é apelação, pois é uma sentença, que
pôs fim ao processo, resolveu o mérito (prescrição resolve o mérito, conforme o art. 487, II do CPC). Não chegaremos à fase
de cumprimento da sentença. Se o juiz reconheceu a decadência ou prescrição, não é decisão interlocutória, mas sentença, da
qual cabe apelação.

Revendo a aula anterior: Vimos na aula passada a situação em que não há liquidação, mas mera memória discriminada
de cálculo. Na verdade, a sentença não era ilíquida, era líquida, apenas precisava de atualização. A atualização não é uma
forma de liquidação, pois temos apenas duas formas de liquidação (por arbitramento e pelo procedimento comum). Esta

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memória discriminada de cálculo não é liquidação, pois a liquidação é fase intermediária entre o processo de conhecimento e
o processo de execução. Eu, credor, farei um requerimento, pedindo que vocês devedores sejam intimados para cumprir
voluntariamente a sentença, com o valor que atualizei. Vocês terão 15 dias para cumprir o necessário, e se o devedor achar
que o valor é excessivo, pode questionar isto dentro da própria execução, então o devedor alegará na impugnação à execução
que o credor está pleiteando quantia superior ao título, dizendo qual valor é o valor justo, decidindo o juiz qual o valor
realmente devido. Desta decisão do juiz, cabe recurso de agravo de instrumento. Essa decisão não é da fase de liquidação, é
uma decisão da fase executiva de cumprimento da sentença.

Do cumprimento da sentença. Execução de obrigação de fazer (Art. 536 e 537 c\c art. 815 até 821 do CPC)

Temos aqui um título executivo judicial certo, líquido e exigível (a sentença). Estudaremos o procedimento deste tipo de
execução (a de obrigação de fazer, pois a de não fazer veremos logo mais à frente), referente neste momento, apenas à título
executivo judicial. Esqueçam momentaneamente a execução de título extrajudicial, que tem um procedimento diferente.

Primeiro ponto importante: a mente precisa estar ligada no aspecto jurídico. “Fazer” não significa “fazer qualquer coisa”.
Para o direito, não podemos usar o termo “fazer” para qualquer coisa. “Fazer”, na sentença, é realmente fazer algo, algo
diferente de “entregar coisa” ou “pagar quantia”, pois temos execução por quantia certa, e nesta não há nada para fazer mas
“pagar”. É óbvio de certo modo, que pagar uma quantia também é fazer alguma coisa. Para o leigo, qualquer coisa é “fazer”.
Entregar um quadro, para o leigo, também é “fazer”, mas para o direito não é assim. Se eu tenho um quadro e alguém quer,
que façam uma ação de conhecimento para a entrega de coisa. Mas se querem que eu faça algum tipo específico de trabalho,
e se eu não fizer este quadro específico, deverá o afetado (que não tem título executivo) promover ação para que eu seja
condenado a fazer algo. Se quiser o credor apenas o dinheiro de volta, deve promover uma ação indenizatória, mas não é o
caso, pois ele quer realmente que eu faça o quadro.

Se eu fui condenado, e não fizer o quadro de modo algum, não há como me obrigar a fazer algo. Algumas vezes a prestação
de “fazer” exige o caráter personalíssimo, só aquele devedor tem condições de bem fazer. Se este devedor não conseguir
cumprir a obrigação de fazer, o credor exequente poderá converter a execução de obrigação de fazer em execução por quantia
certa, onde precisará apurar qual o valor do prejuízo causado pelo não cumprimento da sentença pelo devedor. Ex.: Vocês me
contrataram para que eu fizesse um painel em uma galeria de arte. No dia que era pra fazer, não apareci. Fui processado,
condenado e mesmo na execução de obrigação de fazer não fiz o quadro. Vocês, exequentes, divulgaram o evento de
inauguração em todos lugares, mas eu não apareci para fazer nada. Toda a sociedade está dizendo que vocês fizeram um
evento fraudulento. Houve prejuízo à galeria e à honra de vocês. Neste caso, como eu me neguei a cumprir a obrigação
personalíssima de fazer, restou a vocês converterem a execução de obrigação de fazer em execução de quantia certa. Existem
fatos novos, que são os prejuízos que aconteceram depois da sentença (o fechamento do local, por ex.). Não há como me
obrigar a fazer o quadro, mas podem invadir meu patrimônio contra a minha vontade.

Prestações infungíveis -> Quando se faz a execução de obrigação de fazer, baseada em sentença, é necessário levar em
consideração se as prestações são infungíveis (insubstituíveis), que são as que levam em conta a pessoa do devedor (obrigações
intuitu personae, personalíssimas). Ex.: Eu preciso fazer o quadro, pois tenho habilidades especiais na pintura. A obrigação é

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personalíssima, só eu sou capaz de cumpri-la. Sendo a prestação infungível, se o devedor não a cumprir, a única alternativa
que restará ao exequente será converter a execução de obrigação de fazer em execução de quantia certa.

Prestações fungíveis -> Sendo prestação de fazer fungível, e o devedor não a cumprir, haverá duas opções ao exequente: a)
Poderá convertê-la em execução de quantia certa; b) Poderá pedir que terceiro a cumpra no lugar do próprio devedor, às
custas do próprio devedor.

Medidas de apoio na execução de obrigação de fazer ou de não fazer (art. 536, caput e seguintes do CPC). Astreintes -
Pena pecuniária estipulada como meio de coação no cumprimento da obrigação (art. 536, § 1º e art. 537): Art. 536. No
cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar
as medidas necessárias à satisfação do exequente. Para tentar forçar o devedor a cumprir a obrigação, existem algumas
medidas de apoio, trazidas pelo art. 536, § 1º: § 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras
medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento
de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial. Ex.: Uma pena pecuniária por dia de
atraso (as chamadas astreintes), que servem e são cabíveis na execução de obrigação de fazer, não fazer ou de entrega
de coisa (não cabem, em princípio, em quantia certa). Esta pena pecuniária visa coagir o devedor à cumprir a obrigação.
Ex.: Eu fui condenado a fazer um quadro na ação de conhecimento. A obrigação é infungível, personalíssima. Eu, devedor,
digo que até pago a obrigação, mas não faço o quadro. Vocês podem usar o pedido cominatório (pedir o estabelecimento de
astreintes, por requerimento), ou o juiz, de ofício, pode estipular na sentença, conforme o art. 537 caput: “A multa independe
de requerimento da parte” c\c § 1º do art. 536, que diz que “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento para a efetivação da
tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação
do exequente”. Ou vocês requerem na petição inicial, ou o juiz pode estipular na fase de cumprimento da sentença, para tentar
me forçar a cumprir a obrigação. Foi estipulado que por dia de atraso, eu executado pagarei 50 mil. Se eu não fizer nada, em
6 dias, o credor terá o valor do quadro apenas em multa. Esta medida de apoio é para coagir o devedor para cumprir a obrigação,
não é uma forma de indenizar o credor.

Pode acontecer que esta multa seja muito alta, o que deve ser evitado. Se a multa for excessiva, a ponto de perder a sua
finalidade, o juiz pode diminuir o seu valor. Pode ser que na época que o juiz proferiu a sentença o devedor tinha um
patrimônio grande, e agora tem um patrimônio pequeno, e as astreintes não sejam mais cabíveis no valor que eram. É por isso
que o art. 537, caput diz as astreintes podem ser aplicadas desde que a multa seja suficiente e compatível com a obrigação e
que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito. E o § 1º: “O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar
o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: I - se tornou insuficiente ou excessiva”.

As medidas de apoio do § 1º do art. 536 (imposição de multa; busca e apreensão; a remoção de pessoas e coisas; desfazimento
de obras; impedimento de atividade nociva) são exemplificativas (outras podem ser tomadas). Ex.: Uma das determinações
do § 1º é o impedimento de atividade nociva. Havia há um tempo atrás uma mineradora no Vale do Rio dos Sinos que
despejava mercúrio no rio, o que começou a matar os peixes. Houve crime ambiental. O Ministério Público entrou com uma
ação penal, por crime ambiental. Bastou? Não. O presidente da empresa fugiu. A ação penal não adiantou nada, a empresa

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continuava funcionando e o crime continuou. O que o MP deveria ter feito antes da ação? Promover uma ação cível com os
efeitos antecipados da tutela para que se coloque filtros e não se deixe que o mercúrio seja atirado no rio. O MP até promoveu
posteriormente uma ação para determinar que se coloque os filtros, e enquanto não voltassem os peixes, a empresa deveria
pagar um salário mínimo para cada família que ali morava. A empresa foi condenada a colocar os filtros. A determinação dos
valores ia ser discutida depois na ação. O dono da empresa optou por não colocar os filtros. O juiz poderia, a requerimento ou
de ofício, estipular astreintes (10 mil por dia de atraso no cumprimento). O valor era muito pequeno, e a empresa continuou a
poluir o rio. O juiz mandou fechar a empresa, e o presidente colocou os filtros. Fechar a empresa foi feito no sentido de
impedir a atividade nociva, para que o dano fosse evitado, as astreintes não bastaram.

Quando houver lacunas na lei na execução com base em título judicial, procuraremos suprir essas lacunas com as regras
da execução de título extrajudicial (veremos isso mais adiante, no art. 513, caput). E se houver lacuna no título extrajudicial,
iremos ao processo de conhecimento.

Revendo a aula anterior: Vimos que as astreintes podem ser requeridas pelo autor na petição inicial (pedido cominatório).
Ex.: Peço que o devedor seja condenado a fazer um muro (é o pedido principal), e se ele não fizer, que se dê uma multa por
dia de atraso (astreintes). As astreintes podem ser requeridas pelo autor na petição inicial, mas também se o autor não pedir
na petição inicial, o juiz, de ofício, pode impô-las na própria sentença, sem pedido do autor. O juiz de ofício fixou na
sentença as astreintes, que não são indenização, mas um meio de coação para que o devedor cumpra a obrigação.

Se porventura neste mesmo exemplo, eu pedi que fosse estipulado as astreintes em 50 mil reais por dia de atraso, sendo que o
muro custou 20 mil, e mesmo assim o juiz fixa, pode o devedor questionar o valor excessivo. O juiz pode (também de ofício,
ou a requerimento da parte) reduzir o valor das astreintes. 50 mil é demais para este tipo de devedor, até deixa de incentivar
o cumprimento da obrigação. O valor, é bom dizer, também pode ser aumentado. Ex.: Alguém era pobre, mas subitamente
ganhou na loteria, e o juiz revê o valor das astreintes, aumentando por conta da condição nova do devedor. O juiz também
pode determinar ou modificar a periodicidade das astreintes. Pode mudar, de dia de atraso, para por mês, ou
quinzenalmente. O juiz não precisa da concordância das partes para mudar o valor das astreintes, mas necessita ter bom
senso, pois sua decisão pode ser atacada por agravo de instrumento, e se for o valor visivelmente absurdo, será modificado
pelo tribunal, certamente.

A intimação deve ser pessoal quando a sentença determine multa pecuniária. Claro que aqui a obrigação é de fazer.
Ninguém foi chamado a fazer, a não ser o executado. O que se quer, obviamente, é que o executado cumpra a ordem judicial,
que faça o muro, então, se intima ele pessoalmente, ainda mais que se não cumprir a obrigação de fazer (fazer o muro) sofrerá
uma grave multa (astreintes). Se intimássemos vocês na pessoa do advogado, ele poderia não avisar. Esta é a orientação da
Súmula 410 do STJ, que diz: “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa
pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.

Execução provisória das astreintes: art. 537, caput e § 3º do CPC. Não exigência de caução: Art. 537. A multa independe
de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de
execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do
preceito.

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§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o
levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos
incisos II ou III do art. 1.042.

Quando executamos provisoriamente um título executivo judicial, sabemos que ele não transitou em julgado. É claro que deve
se prestar caução quando houver levantamento de valores, e em havendo a reforma da sentença, a execução corre por conta e
risco do exequente. Se transitou em julgado, a execução passa a ser definitiva. Deverá haver um requerimento do exequente
para o cumprimento voluntário da sentença. Talvez neste requerimento seja requerido ao juiz que intime-se o executado para
cumprir, e em não havendo astreintes estipuladas na sentença, vocês poderão requerer que sejam atribuídas astreintes (se o
juiz não as estipulou na sentença).

Se porventura vocês (devedores) pagaram as custas e honorários advocatícios, mas não cumpriram a obrigação como
devedores, ainda tenho algum dinheiro pra receber de vocês (eu credor), as astreintes. Poderei promover neste caso a execução
das despesas processuais e das astreintes. Se porventura as astreintes ainda não foram determinadas ou estão em grau de
recurso, promoverei a execução provisória das astreintes. A execução é provisória porque não sei se o recurso depois
reformará a decisão estipulada nas astreintes. Poderei levantar o valor das astreintes na execução provisória das astreintes,
entretanto, apenas quando a sentença transitar em julgado, e este valor ficará depositado em uma conta aberta pelo juiz.
Apenas quando o valor das astreintes posto em sentença transitar em julgado, com confirmação do recurso, eu exequente
poderei levantar o dinheiro. Além disso, eu, credor não preciso prestar caução na execução provisória das astreintes (ao
contrário da execução provisória do crédito, em que preciso prestar caução se quiser levantar os valores), pois não tem sentido
eu ser prejudicado se quem não está fazendo a obrigação é o devedor.

Sabemos que se a obrigação é fungível, e intimado o executado não a cumpre (mesmo com as astreintes) não tenho como, em
razão da integridade física do executado, obrigá-lo a fazer o muro. Fico com duas opções: 1) Fazer um pedido ao juiz que um
terceiro faça o muro, às custas do executado. Quem paga esse muro é o executado, pois eu já paguei anteriormente o valor à
ele; 2) Converter a obrigação de fazer em perdas e danos. Nesta última hipótese, no mínimo o devedor devolverá os 20 mil
reais do muro. Se houver outro dano, isso poderá ser apurado na liquidação, onde se verá o valor da obrigação de fazer não
cumprida e outros danos. Nesta segunda opção, começou-se como uma execução de obrigação de fazer, eu farei outro
requerimento, pedindo para o juiz intimar o devedor para pagar o dinheiro. O Poder Judiciário retirará o patrimônio do
executado contra a sua vontade, levando-o à venda e satisfazendo o credor.

Se eu quiser que terceiro cumpra a obrigação no lugar do devedor, o CPC não diz como esse terceiro fará isso. Juntamente
com o meu requerimento de execução, onde pedirei para que um terceiro faça o muro, poderei anexar ao meu requerimento
três orçamentos. Talvez eu pudesse apenas apresentar um, mas não farei isso, apresento três orçamentos de pessoas que podem
fazer o muro. O juiz, analisando os orçamentos, deverá levar em consideração o valor, o material e o prazo para o cumprimento
da obrigação, aprovará um dos orçamentos. O juiz aprovará um só orçamento. Aprovado este orçamento, eu exequente serei
intimado, a parte contrária também será, e terei 5 dias, para se quiser, exercer o meu direito de preferência. Ex.: o juiz
aprovou um orçamento de 28 mil reais, mas eu acho que eu mesmo tenho condições de fazer o muro. Receberei os 28 mil
reais, mas não tenho para quem reclamar se o muro ficar mal feito. O direito de preferência significa que eu mesmo posso

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fazer o muro, ou posso pedir que outra pessoa faça o muro, sob minha vigilância (e se esta pessoa ou eu mesmo fizer o muro,
não poderei para reclamar para o juiz). É só o credor, o exequente, que tem o direito de preferência, pois o executado já
teve e não exerceu quando não cumpriu a obrigação voluntariamente. Se porventura eu não quiser exercer o meu direito de
preferência, fico inerte em 5 dias, ou também posso dizer que não tenho vontade de exercer o direito. Não sendo exercido o
direito de preferência pelo credor, aquele sujeito indicado no orçamento aprovado pelo juiz é que fará o muro, às custas do
devedor.

Procedimento da execução de obrigação de fazer: Sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de fazer (art. 536,
caput) -> Requerimento do exequente, que deve conter o título executivo judicial (art. 815) -> intimação do executado para
cumprimento voluntário da obrigação (art. 815) -> o executado cumpre a obrigação voluntariamente, ou não cumprindo,
segue -> duas opções do exequente em obrigação de fazer fungível do art. 816 (conversão em execução por quantia certa,
e aí segue pelo art. 523 ou pedido para que terceiro faça às custas do executado, do art. 817)

Procedimento para que terceiro cumpra a obrigação de fazer: Apresentação de requerimento (art. 817) -> Apresentação
de propostas dos terceiros, o juiz as analisará e ouvirá as partes. Feito isso, aprovará uma das propostas, tudo isso é feito
em 5 dias (§ único do art. 817) -> adiantamento dos valores da proposta aprovada pelo exequente (§ único do 817) ->
possibilidade de que o exequente exerça o direito de preferência, no prazo de 5 dias contados da aprovação da proposta do
terceiro (art. 820). Não exercido o direito, o terceiro aparecerá e cumprirá a obrigação.

Art. 815. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz
lhe designar, se outro não estiver determinado no título executivo. Segundo o professor, o executado não deve ser citado, mas
intimado. Há a citação na execução de título extrajudicial.

Art. 816. Se o executado não satisfizer a obrigação no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do processo,
requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se converterá em indenização.
A hipótese aqui é de obrigação fungível. São as tais duas opções do exequente: a) Terceiro pode cumprir a obrigação (já que
é fungível); b) Converter em perdas e danos.

Parágrafo único. O valor das perdas e danos será apurado em liquidação, seguindo-se a execução para cobrança de quantia
certa. Se a pessoa escolheu a indenização, esta execução que começou por obrigação de fazer, se converte automaticamente
nos próprios autos, em execução de quantia certa.

Art. 817. Se a obrigação puder ser satisfeita por terceiro, é lícito ao juiz autorizar, a requerimento do exequente, que aquele
a satisfaça à custa do executado. Se a parte requerer ao juiz que terceiro cumpra a obrigação de fazer, providenciaremos
para que o terceiro faça à custa do executado. Os terceiros trarão a sua proposta para fazer o muro. As propostas serão
apresentadas. Antes de decidir, o juiz, por força do § único do art. 817, ouvirá as partes. Quando as propostas forem
apresentadas, as partes serão ouvidas, e o juiz no prazo de 5 dias (para que as partes se pronunciem), decidirá a respeito da
aprovação da proposta.

Parágrafo único. O exequente adiantará as quantias previstas na proposta que, ouvidas as partes, o juiz houver aprovado. O
próprio CPC diz, no art. 816, caput, que pode o exequente “nos próprios autos do processo, requerer a satisfação da
obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se converterá em indenização”, e agora o parágrafo único

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do art. 817 diz que o exequente “adiantará as quantias previstas na proposta aprovada pelo juiz”. Aparentemente, é
contraditório, mas não é. Ex.: Eu, exequente, pagarei (adiantarei) ao terceiro os 28 mil reais, relativos à proposta aprovada
pelo juiz. Na verdade, o exequente “adiantará”, e isso acontece porque o devedor dificilmente pagaria de primeira o valor da
proposta do terceiro. Eu, credor, chamarei o terceiro e adiantarei o dinheiro para que ele tenha condições de fazer o muro (28
mil reais).

Art. 820. Se o exequente quiser executar ou mandar executar, sob sua direção e vigilância, as obras e os trabalhos necessários
à realização da prestação, terá preferência, em igualdade de condições de oferta, em relação ao terceiro. Se eu quiser, posso,
na condição de exequente, exercer o direito de preferência previsto no caput do art. 820. Vejam, eu, credor, tenho direito de
preferência.

Parágrafo único. O direito de preferência deverá ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, após aprovada a proposta do
terceiro. Então foi aprovada a proposta do terceiro. Tenho 5 dias, para querendo, exercer o direito de preferência. Se eu não
exercer este direito no prazo cabível, o terceiro aparecerá e fará o muro.

Revendo a aula anterior. Obrigação de fazer e de não fazer. Prestação fungível e infungível: Falávamos da prestação
infungível. Se a prestação for infungível, exige as características personalíssimas do devedor para cumprir a obrigação. Ex.:
Fui condenado (o título executivo é judicial) a fazer um quadro para vocês. Fizemos o contrato verbal, não cumpri e vocês
promoveram uma ação que buscava a minha condenação, para que eu cumprisse a obrigação. Vocês credores não querem o
dinheiro. A princípio, querem apenas que eu faça o quadro. Como vocês não tem título executivo, promoveram a ação de
conhecimento. Eu fui condenado a cumprir a obrigação no prazo de 20 dias (o juiz determinou esse prazo). Se eu cumprir essa
obrigação, não chegamos a fase executiva. Ocorre que eu não cumpri a ordem judicial, não fiz o quadro. Incidirei em litigância
de má-fé, pois estou desobedecendo uma ordem. Poderei responder por crime de desobediência, estou desrespeitando uma
ordem judicial, que me condenou a fazer o quadro. A obrigação é infungível, e os credores querem que eu faça o quadro, pois
tenho habilidades especiais. O fato é que ninguém poderá me obrigar a cumprir a obrigação contra a minha vontade em última
análise. Eu já disse que posso até pagar multas, mas não farei o quadro. A única opção que sobra a vocês é a indenização por
perdas e danos. O resultado que vocês conseguirão será apenas o equivalente, pois vocês apenas terão o equivalente em
dinheiro, em compensação monetária.

Se a obrigação for fungível, é bem diferente. Ex.: Vocês me contrataram para que eu faça um muro. As minhas características
pessoais não estão em jogo, qualquer pedreiro faz o muro, então não é obrigação personalíssima. Descumpri o contrato, não
fiz o muro. Vocês promovem uma ação de conhecimento para que eu faça o muro, e ganham. Vocês podem optar para que eu
faça o muro ou ganhar o dinheiro equivalente, mas querem mesmo o muro. Eu me neguei a fazer o muro e vocês finalmente
optam por chamar um terceiro para fazer o muro. Vocês já pagaram 10 mil para mim (pagaram lá na época do contrato que
eu não cumpri). Vocês pedirão ao juiz que chame terceiro para fazer o muro às minhas custas (eu devedor que não fiz o muro).
Eu pagarei o muro, pois vocês já pagaram. A prestação precisa ser, entretanto, fungível. Se vocês quiserem, como eu disse,
podem converter em perdas e danos, é uma opção.

*É necessário ter cuidado aqui. Se vocês querem dinheiro, cuidado ao promoverem a ação em que serei condenado à fazer,
pois quando transitar em julgado a sentença, quem promoveu a ação pode pensar que não era mais necessário o “fazer” e

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querer o dinheiro. Se eu propus a ação de conhecimento para condenação em obrigação de fazer, ganhei e depois mudei de
ideia, poderei converter a ação em perdas e danos, mas essa opção ocorre apenas no caso de não haver cumprimento
voluntário da sentença. Se o devedor foi obrigado a fazer o muro e efetivamente o fez, não pode o credor reclamar dizendo
que queria dinheiro. O credor não pode achar que a obrigação é alternativa. Só poderá ele pedir para terceiro fazer o muro se
o devedor não cumprir com a sentença, esta opção ocorre em último caso, portanto.

Se vocês optaram por execução de quantia certa (convertendo a execução que começou como de obrigação de fazer), o valor
desta execução pode até ser determinado pela própria sentença, se for relativa apenas ao valor do muro. Pode ser então, que
a própria sentença determine qual o valor. Se, entretanto, houver fato novo (algum prejuízo, por exemplo) terei que liquidar
a sentença. Será caso de liquidação pelo procedimento comum, onde alegarei e provarei fatos novos que surgiram em razão
do não cumprimento da obrigação e o valor da indenização será dado em liquidação de sentença. Ex.: Não é mais 20mil, mas
28mil. Se porventura os 28mil reais não forem pagos voluntariamente por mim, os senhores indicarão um bem meu à penhora,
e vocês receberão o equivalente pelo muro, acrescido das despesas processuais. Quanto à execução por quantia certa, não há
problema: Indicaremos um bem à penhora, e mesmo que o devedor não queira cumprir, o estado invade o seu patrimônio, leva
os bens à venda, e paga a dívida.

Procedimento subsidiário (art. 513, caput, do CPC): Por força do art. 513, no seu caput, temos que será utilizada como
fonte subsidiária na execução de título judicial, as determinações dos procedimentos de execução de título extrajudicial. Art.
513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que couber e conforme a
natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código. O Livro II da Parte Especial do CPC é o que
trata do processo de execução de título extrajudicial. Quero dizer que o próprio artigo menciona que devemos utilizar como
fonte subsidiária para a aplicação das regras em título executivo judicial, as regras do título extrajudicial, no que for cabível
e possível.

Os arts. 536 e seguintes tratam, em grande parte, das medidas de apoio. Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça
a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela
específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente. Não se menciona no caput do art. 536 nada a respeito de terceiros cumprindo a obrigação no lugar do executado.
Precisamos nos socorrer dos artigos 815 e seguintes do CPC. Utilizarei alguns destes artigos, mas não são todos, são alguns,
apenas no que couber, no que não contrariar a natureza específica do título judicial.

Tutela ressarcitória = Converter em perdas e danos, ou seja, converter a execução de obrigação de fazer que não teve sucesso
em execução de obrigação de pagar quantia certa, buscar o equivalente em dinheiro.

Como vimos, se a obrigação for fungível, há as duas opções. Ex.: Eu, exequente, escolhi por chamar um terceiro. Terei de
juntar algumas propostas, então juntarei três propostas, de um amigo que faz o muro por 20 mil reais, outro que faz por 22 mil
reais, e outro que faz por 35 mil reais. Apresentadas as propostas e ouvidas as partes, o juiz aprovará uma delas, e o terceiro
será convocado a cumprir a obrigação no lugar do executado. O procedimento é dado pelo art. 817: Art. 817. Se a obrigação
puder ser satisfeita por terceiro, é lícito ao juiz autorizar, a requerimento do exequente, que aquele a satisfaça à custa do
executado. Quem pagará este terceiro, portanto, é o devedor, o executado. O § único do art. 817 ordena: Parágrafo único. O

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exequente adiantará as quantias previstas na proposta que, ouvidas as partes, o juiz houver aprovado. Vejam, o juiz aprovará
uma das propostas. Claro, depois de ouvidas as partes, e aprovando uma destas propostas, quem terá que pagar será o
executado. Quem paga é o executado, mas quem adiantará os valores para o terceiro será o exequente. O terceiro fará a
obrigação ao invés do executado. O exequente adiantará o valor para o terceiro cumprir a obrigação, e depois de cumprida a
obrigação, o exequente se sub-rogará no crédito, nos valores pagos ao terceiro. Neste momento, a execução de obrigação de
fazer se converterá em execução de pagar quantia certa, nos próprios autos. Vejam, o título executivo é o mesmo, o
exequente apenas converteu a execução de obrigação de fazer (cumprida pelo terceiro), em uma execução de pagar quantia
certa. Depois que o terceiro cumpriu a obrigação, o executado tem uma dívida pecuniária com para com o exequente. O
exequente receberá o valor da proposta que foi adiantado frente ao terceiro. Esse adiantamento por parte do exequente se faz
necessário pelo fato de o devedor não estar disposto, evidentemente, a pagar o valor do orçamento ao terceiro.

Havendo a aprovação de um dos orçamentos para que terceiro cumpra a obrigação, há sempre a possibilidade de que o
exequente exerça o seu direito de preferência (art. 820). Ex.: Digamos o juiz tenha aprovado uma proposta de 22 mil reais,
sendo que o valor original do muro era de 15 mil. O terceiro irá, a princípio, cumprir com a obrigação por 22mil reais. O
exequente entende que, sendo pago com 22 mil reais, ele próprio teria condições de cumprir a obrigação de fazer (fazer o
muro). Ele exercerá, então, o seu direito de preferência. Terá o exequente 5 dias, contados da data de aprovação da proposta
(o prazo é processual, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento) para exercer este direito, ou seja, para fazer o
muro. O exequente começa a fazer o muro, e há a conversão da execução de obrigação de fazer em execução de obrigação de
pagar quantia certa. Caberá ao devedor pagar 22 mil reais ao exequente. Ressalte-se que o direito de preferência é sempre uma
faculdade, pode ser que o exequente não saiba ou não queira fazer muro nenhum. No direito de preferência, é bom que se
diga, não é necessário que o próprio exequente cumpra a obrigação de fazer ele próprio, podendo o exequente contratar
uma outra pessoa, um terceiro, para que cumpra a obrigação, sob sua direção e vigilância (este terceiro não participou
da concorrência e nem apresentou orçamentos). No exemplo acima, digamos que o exequente exerceu o direito de preferência
e optou por não fazer o muro ele próprio, mas chamou um amigo (o terceiro) para fazer este muro. Este amigo cobrou apenas
5 mil reais para fazer o muro. Neste caso, o resto do dinheiro (17 mil reais) ficarão para o exequente que exerceu o direito de
preferência. Se por acaso este amigo fizer mal o muro, não poderá o exequente reclamar para o juiz na mesma execução
(mas cuidado, o exequente terá ainda a chance de propor ação autônoma cobrando o valor), pois exerceu o direito de
preferência e o terceiro fez o muro sob sua vigilância e direção.

É o contrário do que acontece quando um dos terceiros das propostas e orçamentos, sujeitas à concorrência e à escolha do juiz,
forem os encarregados de fazer o muro (e o fazem sem ter a supervisão e vigilância do exequente), pois aí o exequente terá
a possibilidade de reclamar para o juiz sobre a obra, além de ter outras opções. O juiz chamará terceiro para que pague
outro que fará a parte que ele não fez. É a previsão do art. 819: Art. 819. Se o terceiro contratado não realizar a prestação
no prazo ou se o fizer de modo incompleto ou defeituoso, poderá o exequente requerer ao juiz, no prazo de 15 (quinze) dias,
que o autorize a concluí-la ou a repará-la à custa do contratante. Parágrafo único. Ouvido o contratante no prazo de 15
(quinze) dias, o juiz mandará avaliar o custo das despesas necessárias e o condenará a pagá-lo. Vejam, se o terceiro não
cumprir com a obrigação plenamente, o próprio exequente poderá terminar o serviço, às custas do próprio terceiro
(que recebeu para cumprir com a obrigação). Temos esta situação: Primeiro quem “enrolou” o exequente foi o executado,

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depois foi o próprio terceiro, que fez o muro de forma incompleta. Pode o exequente terminar o muro ou chamar alguém para
terminar às custas do terceiro que foi chamado. Quem pagará é o terceiro que deveria ter cumprido a obrigação no lugar do
executado. Como vimos, se o muro for feito pelo próprio exequente, em direito de preferência, ou por outra pessoa, sob sua
direção e vigilância, inexiste essa possibilidade de reclamação.

Diz o art. 818: Realizada a prestação, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias e, não havendo impugnação,
considerará satisfeita a obrigação. Parágrafo único. Caso haja impugnação, o juiz a decidirá. Se o terceiro que teve a
proposta aprovada cumpriu com a obrigação (está feita a obra, o muro), o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 dias (prazo
comum para ambas as partes). A impugnação do art. 818 não é a impugnação do art. 536, § 4º (que é impugnação à
execução). Esta do art. 818 é a impugnação que questiona a obrigação cumprida pelo terceiro. O exequente chamou o
terceiro para fazer, e ele cumpriu a obrigação. O juiz ouviu as partes. Se uma delas impugnar, o juiz decidirá. Se não
impugnarem, a obrigação será considerada satisfeita. Pois bem, apresentadas as espécies de prestações fungíveis ou
infungíveis, chegamos ao estudo da impugnação.

Impugnação à execução (art. 525 c\c § 4º do art. 536 do CPC)

A impugnação não é a mesma coisa que a contestação. Apesar de também ter o prazo de 15 dias, a impugnação é um meio
de oposição ao cumprimento da sentença (baseada em título executivo judicial, portanto). Qualquer que seja o título judicial,
se estivermos tratando de obrigação de fazer ou não fazer, de entrega de coisa ou de obrigação de pagar quantia certa, todas
baseadas em título judicial, teremos impugnação como forma de oposição. Quando o título for extrajudicial, a forma de se
opor à execução é por meio da ação de embargos. A impugnação se dá nos próprios autos do processo, enquanto a ação de
embargos se dá em autos apartados.

Ação de embargos -> Meio de se opor à execução de título extrajudicial. Se dá em autos apartados.

Impugnação -> Meio de se opor à execução de título judicial, seja tratando de obrigação de fazer ou não fazer, de entrega de
coisa seja de obrigação de pagar quantia certa. Se dá nos próprios autos do processo.

Não é qualquer matéria que poderá ser alegada em sede de impugnação. Ex.: Há uma sentença que condenou vocês a
fazer o muro, e vocês a cumpriram (fizeram o muro). Eu, ganhador da ação de conhecimento, propus erroneamente a execução,
pois a obrigação já estava cumprida, e não havia porque prosseguir o processo para a fase executiva. Além de querer executar,
chamei um terceiro para fazer o muro, e sabemos, quem paga o terceiro são vocês, os executados. Neste caso, vocês possuem
um claro motivo para se opor à execução. Na impugnação, dirão que o muro se enconra feito, e provavelmente a ganharão. A
impugnação não serve para novamente discutir o que foi discutido no processo de conhecimento. Aliás, no processo de
conhecimento, sequer havia impugnação, mas havia contestação. Quando eu entrei com uma ação contra os senhores, para
que vocês fossem condenados a fazer um muro, vocês foram citados para contestar a ação no prazo de 15 dias, pelo
procedimento comum, e fizeram, dizendo que não houve contrato verbal nenhum. Eu, autor da ação, porém, consegui provar
que houve contrato verbal, e a sentença transitou em julgado, declarando que havia contrato e que havia obrigação inadimplida.
Já houve o trânsito em julgado, e não se pode na impugnação alegar que “não houve contrato verbal”, mas se pode questionar
a obrigação que já foi cumprida (o muro foi feito). A matéria é bem restrita.

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Diz o § 4º do art. 536: § 4º No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não
fazer, aplica-se o art. 525, no que couber. Diz o caput do art. 525: Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem
o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. Vejam, o art. 536, § 4º afirma que aplica-se o art. 525 (que trata
da possibilidade de impugnação) no que couber, ao procedimento da execução de obrigação de fazer ou de não fazer. O art.
525, veremos, trata da impugnação de execução de obrigação de pagar quantia certa. Vocês verão que por exemplo, na
impugnação pode-se alegar quantia superior à do título (excesso na execução). Estamos falando da impugnação que cabe
contra execução por quantia certa. Ex.: O título judicial condenou o executado ao pagamento da quantia de 15 mil reais, e os
exequentes pedem para que o juiz intime o executado para pagar 45 mil reais, no prazo de 15 dias. Isso porque quem digitou,
sem querer, colocou o número 4 no lugar do número 1. O devedor é intimado para pagar 45 mil reais. Neste caso, ele terá de
impugnar a execução de obrigação de pagar quantia certa. Se estivermos, porém, tratando de uma execução de obrigação de
fazer, não posso alegar na impugnação que há quantia superior à presente no título, pois a obrigação é de fazer. O excesso da
execução pode ser outro, não relacionado à valor. A alegação das matérias do art. 525 deverá ser feita nas impugnações
relativas às obrigações de fazer, não fazer e de entregar coisa NO QUE COUBER, sempre respeitadas as especificidades
desses tipos de obrigações.

Meios de oposição ao cumprimento da sentença (que condena à obrigação de fazer ou não fazer). Prazo de 15 dias (art.
525, caput, do CPC e art. 229 do CPC): Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário
inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos
próprios autos, sua impugnação.

Vejam, o prazo de 15 dias para cumprir a obrigação de fazer nem sempre é suficiente. O prazo assinado pelo juiz pode ser até
maior, pois na execução de obrigação de fazer o prazo é o assinado pelo juiz na sentença (embora o juiz possa usar um
prazo de 15 dias também). Ex.: Fazer um muro no inverno, o que nunca poderá ser feito em 15 dias apenas. O caput do art.
525 diz que passado o prazo previsto no art. 523 (diz isso porque esse artigo em princípio regula a execução por quantia
certa o prazo, onde o prazo é sempre de 15 dias), sem o pagamento (também por se referir à execução por quantia certa,
que fala de pagamento, mas estamos falando de execução de obrigação de fazer, melhor seria falar em cumprimento
voluntário da obrigação de fazer no lugar de “pagamento”), inicia-se a contagem do prazo de 15 dias para a apresentação
de impugnação. Então, vejam, passou o prazo para cumprir voluntariamente com a obrigação. Ex.: Digamos que seja de 30
dias o prazo, no exemplo do muro feito no inverno. Hoje terminou o prazo. Não fiz muro algum no prazo de 30 dias, pois eu
já cumpri voluntariamente a sentença, como devedor, fiz o muro anteriormente, e não sei porque o credor entrou na fase
executiva. Amanhã começa a correr o primeiro dos 15 dias para que eu apresente impugnação.

Em relação ao termo “Independentemente de penhora”, é preciso dizer que só há penhora na execução por quantia certa, na
execução de obrigação de fazer não há penhora. Ninguém penhorará o carro de uma pessoa para que ela faça um muro. Na
execução de fazer o exequente não tem direito a dinheiro, só há quando não houver cumprimento voluntário da obrigação sem
impugnação, que poderá ser convertida a execução de fazer em perdas e danos. Então, não é adequado falar
“independentemente de penhora” (como é no caso de execução por quantia certa), mas independentemente de caução

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(prestação de uma garantia). Caução real, no caso de eu, executado, prestar algum direito real de garantia, por exemplo,
hipotecar a minha casa. Caução fidejussória no caso de eu, executado, pedir para que alguém seja meu fiador.

O executado pode impugnar sem que haja garantia ao juízo. Garanto o juízo pela penhora (quantia certa), caução (fazer
ou não fazer) ou pelo depósito da coisa (entrega de coisa). Se fosse necessário a segurança do juízo em uma obrigação de
fazer, eu teria que primeiro prestar caução, e apenas prestando caução a minha impugnação seria aceita. Mesmo que eu não
tenha nenhum bem para caucionar de forma real ou prestar fiança, ainda assim a minha impugnação será recebida para que o
juiz analise os argumentos colocados na impugnação.

Execução de obrigação de pagar quantia certa -> independentemente de penhora;

Execução de entrega de coisa -> independentemente do depósito da coisa;

Execução de fazer ou não fazer -> independentemente de caução (da prestação de uma garantia real ou fidejussória).

O prazo para impugnar, por força do caput do art. 525, é de 15 dias. O exequente não será intimado para impugnar. Findo
o prazo para o cumprimento da obrigação (no exemplo acima, seriam os 30 dias), no dia útil seguinte ao fim do prazo
começaremos a contar o primeiro dos 15 dias para a apresentação de impugnação. Independentemente de intimação.

Diz o § 3º do art. 525: Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229. Há aplicabilidade, no que diz respeito à impugnação,
do disposto no art. 229 do CPC: Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento. § 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida
defesa por apenas um deles. § 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. Ex.: Vocês (alunos)
então promovendo uma execução contra mim (professor) e contra outra professora da faculdade. A professora tem o advogado
dela e eu, professor, tenho o meu advogado (são advogados diferentes). Nesse caso nós (eu e a professora) teremos 30 dias
para cumprir a obrigação (prazo para cumprir a obrigação conta em dobro), que é fazer o muro. Se já fizemos o muro e não
havia motivo para se chegar na fase executiva, teremos 30 dias para impugnar a execução (prazo para impugnar conta em
dobro). Como somos litisconsortes com diferentes procuradores, conta-se o prazo em dobro. Se formos três os
executados, contudo, o prazo para impugnar continuará contando em dobro (30 dias), e não teremos 45 dias, como alguns
poderiam pensar.

Vejam, de certo modo a impugnação também é uma forma de defesa, então se forem dois os executados e um apenas oferecer
a impugnação, não existirá contagem em dobro (§ 1º do art. 229). Se porventura eu, só eu, (apenas um dos executados),
pretendo impugnar, tenho o prazo de apenas 15 dias.

Se eu e a colega (os dois executados) queremos impugnar e temos procuradores diferentes, o prazo volta a ser de de 30 dias.

Mas se eu e outro colega pretendemos impugnar e temos o mesmo advogado, o prazo é só de 15 dias.

No caso de beneficiado pela Defensoria pública, os prazos contam em dobro (art. 186 do CPC).

Litisconsortes com diferentes advogados -> Prazo para impugnar em dobro, 30 dias;

Litisconsortes com o mesmo advogado -> Prazo normal, 15 dias;

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Litisconsortes com advogados diferentes, mas apenas um deles oferece impugnação -> Prazo normal, 15 dias.

Assistido pela Defensoria Pública -> Prazo em dobro não só para impugnar, mas para qualquer ato processual (art. 186)

Matérias passíveis de serem alegadas na impugnação (art. 525, § 1º): § 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:

I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia: Apenas na fase de conhecimento,
pois aqui o devedor foi intimado para cumprir a sentença, e se presume que ele não seja mais revel. É a hipótese de na fase de
conhecimento, onde foi proferida a sentença, não ter havido a citação, ou se houve, foi de maneira incorreta. Na impugnação
alegará falta de citação. Se ganhar a impugnação, teremos que voltar à fase de conhecimento, sendo citado o réu para contestar
a ação, e o título perde a sua validade.

II - ilegitimidade de parte: Se a parte a quem foi requerida o cumprimento da obrigação (a parte executada) não for a parte
devedora da ação de conhecimento, deverá alegar na impugnação ilegitimidade de parte. Ex.: Fui condenado a fazer o muro
para vocês. Vocês promovem a execução contra o Leonardo. Ele impugnará. Não fará o muro em 15 dias, pois foi outra pessoa
a condenada. Passados os 15 dias, terá mais 15 dias para impugnar, e alegará a ilegitimidade da parte. O juiz ouvirá para que
o possível condenado se manifeste e proferirá decisão certamente extinguindo a fase executiva contra o Leonardo.

III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação: Nesta hipótese, o título não é exequível, ou por não ter
obrigação, ou por não ter data para exigir a obrigação, ou por trazer algum defeito, ou inexigível pelo fato de o autor não ter
demonstrado alguma condição, por exemplo. Ex.: Só darei o bem se você se formar em Direito. Neste caso, o título é
inexigível. Se é inexigível, não posso, embora tenha um título, promover a execução forçada.

IV - penhora incorreta ou avaliação errônea: Senhores, este inciso não pode ser utilizado na impugnação de execução de
obrigação de fazer. Se não há penhora, não há avaliação incorreta, pois não há bem a ser penhorado ou avaliado.

V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções: Ocorre, por exemplo, cumulação indevida de execuções,
quando se requer concomitantemente, nos mesmos autos, execuções sujeitas a ritos diversos e inconciliáveis. Ex.: Na sentença
cumularam uma sentença que condenou o devedor a uma obrigação de fazer com uma sentença que condenou ao pagamento
de quantia certa, e eu executado alegarei na impugnação a cumulação indevida de execução, ou se for o caso, excesso de
execução. Vamos agora ao artigo que trata do excesso de execução previsto para título extrajudicial, pois podemos usá-lo, em
virtude do caput do art. 513:

§ 2º do art. 917: Há excesso de execução quando:

I - o exequente pleiteia quantia superior à do título: Não é possível se estivermos tratando de obrigação de fazer, pois não há
quantia no título nesse caso. Aqui a procedência da impugnação não exclui integralmente a viabilidade da execução, mas
apenas a reduz ao quantum compatível com o título.

II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título: A diversidade pode dizer respeito à quantidade ou à qualidade
das coisas devidas nas obrigações de dar coisas certas ou incertas (arts. 806 e 811). E a impugnação, quando procedente, pode
conduzir à anulação de toda a execução ou apenas à redução dela à quantidade compatível com a força da sentença. Vejam,
aqui é execução para entrega de coisa. O título diz que eu tenho que entregar um livro, e vocês pedem que eu entregue uma
pasta. Está o exequente pleiteando coisa diversa da estipulada no título.

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III - ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título: Não se pode, por exemplo, executar a coisa in natura,
quando a sentença condenou apenas à indenização de seu equivalente. Nem se pode, desde logo, executar como obrigação de
pagar quantia certa aquela que fora objeto de condenação a prestação de fazer ou de dar coisa certa ou incerta. As sentenças
devem ser executadas fielmente, sem ampliação ou restrição do que nelas estiver disposto. Ex.: A obrigação é de fazer, e os
senhores pedem que eu entregue uma coisa, e não pedem que eu faça algo. Está sendo promovida a execução de modo diverso
da obrigação constante no título, por outro procedimento, que é inadequado.

IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado: É carente
da execução o credor que não cumpre previamente a contraprestação a que está subordinada a eficácia do negócio
sinalagmático retratado no título (art. 787). Se insistir em fazê-lo, a execução será nula nos termos do inciso III do art. 803.
Trata-se da exceção de contrato não cumprido, que é de natureza substancial, e paralisa a eficácia do direito do credor, tornando
prematura a execução intentada sem cumprimento ou oferecimento da prestação do credor, por atentar contra o disposto no
art. 476 do Código Civil. Qualquer um sabe que só pode exigir o cumprimento de uma obrigação se cumprir a própria
obrigação, nos negócios jurídicos bilaterais e onerosos.

V - o exequente não prova que a condição se realizou: Para o prof. Bezerra, este inciso diz respeito apenas à condição
suspensiva. Para ele, só há excesso da execução em razão da condição suspensiva (art. 125 do CC). Se o termo do título (prazo)
ainda não tivesse sido alcançado, o título seria inexigível (art. 514 c\c art. 525, § 1º, III), e aí não haveria excesso. O inciso
trataria da condição, não do prazo. Não é termo, é condição (se o termo não foi alcançado, o título é inexigível).

§ 3º do art. 917: Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante
declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu
cálculo: Em execução por quantia certa (não estamos falando de obrigação de fazer), se quem está impugnando alega excesso
da execução, precisa dizer o valor que considera devido.

VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução: Duas observações devem ser feitas neste caso. a) A
incompetência relativa pode ser alegada na própria impugnação, sob pena de preclusão, porquanto o novo Código não prevê
a possibilidade de argui-la por exceção de incompetência; b) A incompetência absoluta, por sua vez, pode ser alegada não
apenas na impugnação, mas em qualquer fase da execução, e até mesmo o juiz pode conhecê-la, de ofício.

VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou
prescrição, desde que supervenientes à sentença: São fatos posteriores à condenação que afetam o direito do credor,
impedindo a execução ou modificando a exigibilidade da obrigação. É bom dizer que devem estes fatos serem posteriores à
sentença, se forem anteriores à formação do título executivo, estará preclusa a possibilidade de invocá-los, por força da coisa
julgada que os excluiu definitivamente.

(continuação do art. 525 e seus parágrafos):

§ 2º A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148: Não é só no processo de conhecimento,
pode-se alegar também na execução a suspeição e o impedimento do juiz. Ex.: O juiz que julgou a ação de conhecimento era
o juiz da 2 vara cível, que se aposentou. Vocês promovem a execução na 2 vara cível, e o juiz que está atuando é o pai de

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vocês, ou um inimigo. Ele deveria se dar por suspeito, mas ainda não se deu. Eu apresentarei a exceção de impedimento ou
suspeição. Se retira o pai ou o inimigo da ação e se coloca outro juiz.

§ 3º Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229: Ex.: Meus procuradores são o Dr. Daniel e o Dr. Manoel. São do mesmo
escritório, ambos trabalham conjuntamente. Tenho dois advogados, diversos. São diversos, mas não são diferentes. O prazo
não conta em dobro. Sou litisconsorte de outra pessoa que também tem como advogados o Dr. Daniel e Manoel. Os advogados
não são diferentes. São idênticos, na verdade. Se vocês disserem que diversos procuradores conta-se o prazo em dobro, está
errado. Na verdade é “procuradores diferentes”.

§ 4º Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença,
cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de
seu cálculo: Já vimos esta regra quando falamos do conteúdo da impugnação, é basicamente a mesma regra do § 3º do art.
917. É bom ressaltar que essa obrigação de demonstrar o valor devido na impugnação é apenas na execução por quantia certa.
Tenho que demonstrar o que eu entendo como devido, com o cálculo pertinente.

§ 5º Na hipótese do § 4º, não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será liminarmente
rejeitada, se o excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será processada, mas o
juiz não examinará a alegação de excesso de execução: Se quem impugnou não escrever qual valor é devido, nos termos do
§ 4º do art. 525 e do § 3º do art. 917, a impugnação não será analisada e rejeitada liminarmente. Isso quando a impugnação se
resumir a alegar o excesso da execução. Se a impugnação tratar de outros temas, será analisada apenas nestes outros temas,
não em relação à alegação de excesso de execução.

Efeito suspensivo (§ 6º do art. 525 do CPC): § 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos,
inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com penhora, caução
ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da
execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação.

Em regra, a impugnação não traz efeito suspensivo. Se vocês promoveram a impugnação, e por exemplo, não querem fazer
o muro enquanto está sendo decidida a impugnação, precisarão requerer efeito suspensivo. Se o juiz não der efeito suspensivo,
os atos executivos prosseguirão. Isso serve para mostrar para o executado que ele não ganhará tempo. Então, se vocês
promoverem impugnação, o juiz poderá determinar que, por exemplo, terceiro venha a fazer o muro (terceiro que cumpre a
obrigação às custas de vocês), enquanto tramita a própria impugnação. Pode acontecer qualquer ato que venha a ser da
execução, como a penhora, o chamamento de terceiro, a conversão da execução em perdas e danos, a liquidação.

Pode acontecer, entretanto, que o prosseguimento da execução possa causar, por exemplo, um grave dano, de difícil ou
impossível reparação. Ex.: Vocês impugnaram a execução de fazer, alegando que fizeram o muro (já cumpriram a obrigação).
Se prosseguir a execução, sem efeito suspensivo na impugnação, pode acontecer de o exequente chamar terceiro para cumprir
com a obrigação, ou mesmo a conversão em perdas e danos. Poderia mesmo ser penhorado o bem do executado para depois,
no final da impugnação, ser dito que já foi feito o muro anteriormente, o que traria grandes prejuízos ao executado. Neste caso
e em outros semelhantes, o executado interessado pode requerer (a concessão é sempre por requerimento, portanto) a
concessão de efeito suspensivo à impugnação, mas para isso é necessária a existência de três requisitos cumulados. Enquanto

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tramitar a impugnação dotada de efeito suspensivo, nenhum ato executivo poderá ser praticado. Os requisitos do efeito
suspensivo são:

1) Prestação de garantia ao juízo da execução: O primeiro requisito é a prestação de garantia por parte de quem está
impugnando. Isso porque a suspensão dos atos executivos pode trazer prejuízos ao exequente, e a caução servirá para ressarcir
estes danos causados ao exequente. Ex.: “A” está sofrendo uma execução de obrigação de fazer, impugnou e quer efeito
suspensivo na impugnação. Para isso, hipotecará a sua casa. Prestará caução real, portanto. Em caso de prejuízo causado ao
exequente em virtude da suspensão dos atos executivos, a casa de “A” será vendida para cobri-los. Se a impugnação não for
recebida ou não for provida, o executado pode pedir que se retire a garantia dada anteriormente. É bom sempre lembrar que a
prestação de garantia pode variar de acordo com o tipo de obrigação a ser executada:

Caução, real ou fidejussória -> Execução de obrigação de fazer ou não fazer

Penhora -> Execução de obrigação de pagar quantia certa

Depósito judicial da coisa -> Execução de obrigação de entrega de coisa

2) Fundamentos relevantes: Os fundamentos da impugnação devem ser relevantes. Ex.: Assinei um contrato dizendo que,
se eu conseguir me formar em Direito, deverei pagar 20 mil reais. O exequente abriu a ação executiva, depois da sentença
(que estava sujeita à condição suspensiva para ser executada). Não pagarei os 20 mil reais no prazo assinado pelo juiz, pois a
condição não estava cumprida. Pegarei uma certidão de matrícula no curso de Direito, o que certamente provará que estou
cursando Direito e ainda não foi cumprida a condição (este é o fundamento relevante, a certidão que prova que um dos
requisitos do título executivo não está presente). O juiz dará efeito suspensivo à impugnação.

3) Grave dano de difícil ou incerta reparação: Como os requisitos são cumulativos, é preciso preencher os três, inclusive o
último, que é a possibilidade de que a suspensão dos atos executivos cause um grave dano, de difícil ou incerta reparação. Ex.:
O devedor cumpriu a sentença que o condenou à fazer o muro, e mesmo assim a execução prosseguiu. O devedor sabe que se
os atos da execução continuarem, existirá a possibilidade de que dois muros sejam feitos por ele, sendo que ele sabe que o
exequente não terá condições de reparar ou pagar. O exequente ganharia dois muros pelo preço de um, uma clara hipótese de
enriquecimento ilícito, onde seria impossível que o credor reparasse os danos causados ao executado.

Estes são, então, os três requisitos para que o juiz possa deferir efeito suspensivo à impugnação. Se faltar um dos requisitos,
o juiz não deferirá o efeito suspensivo. Os atos executivos prosseguirão enquanto a impugnação for analisada. Preenchidos os
requisitos, entretanto, o juiz dará o efeito suspensivo.

Mesmo que o executado tenha conseguido o efeito suspensivo para a sua impugnação, o exequente ainda conservará a
possibilidade de retirar o efeito suspensivo da impugnação. A previsão é do § 10 do art. 525: § 10. Ainda que atribuído
efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos
próprios autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada pelo juiz. Ex.: Vocês pedem efeito suspensivo para a impugnação,
pois pode principalmente ocorrer um grave dano. O dano que vocês sofreriam é de 40 mil. Tá bom, eu exequente, prestarei
caução, hipoteco minha casa de 200 mil reais. Se vocês sofrerem o dano, pagarei com a minha casa (caução), ou utilizarei um
fiador. Se ao final, vocês ganharem a impugnação, o fiador pagará ou eu darei o dinheiro da minha casa. Então, ainda que o

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juiz dê efeito suspensivo à impugnação, se eu exequente der caução, poderei descaracterizar este efeito suspensivo. Terei de
prestar caução independentemente da espécie de execução. Se for execução de quantia certa, terei de dar caução.

§ 7º A concessão de efeito suspensivo a que se refere o § 6º não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou
de redução da penhora e de avaliação dos bens: O efeito suspensivo não impede, portanto, o andamento de alguns atos de
execução, que devem prosseguir até o momento anterior à expropriação. Na execução por quantia certa, por exemplo, pode
ocorrer a avalição de bens, a penhora, a substituição de penhora. Ainda que o juiz dê efeito suspensivo, os bens poderão ser
avaliados ou pode haver reforço e substituição de penhora. Isso porque estes atos apenas são garantidores da execução. Quando
há reforço da penhora, não significa que o bem será vendido. É possível ir até o momento da conclusão destes atos, pois eles
não trazem ao devedor possibilidade de gravo dano, de difícil ou incerta reparação. Agora claro, o bem pode ser penhorado,
revitalizado, ser dado um aumento de bens a serem penhorados sim, mas nunca serão vendidos.

§ 8º Quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser respeito apenas a parte do objeto da execução, esta
prosseguirá quanto à parte restante: Pode o efeito suspensivo dado à impugnação ser parcial, ou seja, dizer respeito apenas
a parte do objeto da execução. Nesse caso, a execução prosseguirá quanto à parte restante, até seu exaurimento. Ex.: No título
judicial fui condenado a fazer uma mesa (obrigação de fazer) e a fazer um muro (obrigação de fazer). Na impugnação, o efeito
suspensivo foi concedido apenas à parte que fala da obrigação de fazer o muro, pois o juiz considerou que eu provei que fiz o
muro. Em relação à obrigação de fazer a mesa, o juiz não concedeu efeito suspensivo algum, por considerar que o fundamento
não era relevante e não havia risco de grave dano. Se eu não fizer a mesa, em relação à esta deverei pagar a multa pecuniária
por dia de atraso no descumprimento da obrigação, as astreintes, etc. O efeito suspensivo foi parcial, não total, incidiu sobre
apenas uma parte do pedido cumulativo (fazer a mesa + fazer o muro).

§ 9º A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados não suspenderá a execução contra os
que não impugnaram, quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao impugnante: Havendo
litisconsórcio passivo, a concessão do efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados não tem o condão
de suspender a execução contra os que não impugnaram, desde que o fundamento diga respeito exclusivamente ao
impugnante. Um dos litisconsortes impugnou e obteve o efeito suspensivo, baseado em fundamento que está relacionado
apenas à ele (que impugnou). A impugnação não será aproveitável aos demais litisconsortes que não impugnaram.

Simples petição (art. 525, § 11 do CPC): § 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para
apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos
executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15
(quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

Para explicar bem por que existe o mecanismo da simples petição, vamos a um exemplo: Em uma execução por quantia certa,
o executado foi intimado para pagar ao credor 100 mil reais, no prazo de 15 dias (prazo assinado pelo juiz). Ele já pagou os
100 mil, por isso supôs que o credor promoveu o cumprimento de sentença por engano ou erro. No passado, mesmo sem ser
intimado, o devedor procurou o advogado do credor e pagou os 100 mil reais, e mesmo assim, o advogado do credor pediu ao
juiz que intimasse o devedor para pagar 100 mil em 15 dias. Quando o devedor foi intimado, disse ao seu advogado que já
havia pago o crédito. O devedor executado utilizará impugnação, mas para ganhar efeito suspensivo precisa garantir a

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execução com a penhora, além de apresentar fundamentos relevantes e demonstrar a possibilidade de grave dano. Como o
devedor não garantiu a execução com a penhora (o único bem que poderia ser penhorado era um carro, que era muito
necessário naquele momento), a execução prosseguiu, com o executado não tendo pago os 100 mil reais (pois já havia pago
antes). Prosseguiu a execução e o juiz determinou que fosse penhorado o único carro do devedor. Além disso, este veículo foi
avaliado em 3 mil reais, sendo que vale 30 mil reais. A avaliação errônea poderia ser alegada na impugnação, mas ocorre que
a impugnação já foi apresentada no décimo quinto dia do prazo, e nada se falou nela sobre avaliação errônea. Neste caso, o §
11 do art. 525 traz a possibilidade de o executado, por meio de simples petição alegar a matéria que não foi possível alegar
no momento em que foi feita a impugnação. A matéria que poderia ter sido alegada na impugnação não foi alegada em
virtude de que o fato que deu origem à alegação ter sido superveniente à apresentação da impugnação. A avaliação
errônea deveria ter sido alegada na impugnação, mas o fato (a própria avaliação errônea) foi superveniente à própria
impugnação. Evidentemente que há prazo para apresentar a simples petição, é também de 15 dias.

No exemplo acima, quando o oficial de justiça for à casa do executado, penhorar o carro e avaliar em 3 mil reais, neste
momento ele será intimado da penhora e avaliação. Então, digamos que ele tenha sido intimado na quinta-feira. Na sexta
começa a correr o primeiro dos 15 dias para apresentar a simples petição. É claro, não conto os dias não úteis. Sexta o primeiro
dia, segunda o segundo dia, terça o terceiro. O detalhe é que o executado precisa comprovar que o prazo começou só sexta-
feira, e fará isso mostrando a intimação do oficial de justiça, ou a certidão que comprova a realização da penhora. Assim,
comprovará que o ato foi superveniente à impugnação. Considerando que a impugnação foi realizada na quarta, e a avaliação
errônea foi na sexta, abre-se o prazo de 15 dias para a simples petição, por que o fato foi superveniente. Comprovarei assim
que cabe simples petição e que ela é tempestiva. Vejamos novamente o § 11:

§ 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação (veja, precisa ser
depois dos 15 dias, ou depois dos 30 dias, conforme o prazo for em dobro), assim como aquelas relativas à validade e à
adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o
executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência
do fato ou da intimação do ato. Como eu posso demonstrar que a minha simples petição é tempestiva? Comprovo que ocorreu
o ato superveniente (depois da impugnação) e que fui intimado dele, e a partir daí demonstro que apresentei a simples petição
dentro do prazo de 15 dias contados da ciência ou da intimação do fato. Ex.: Estou questionando a avaliação errônea. Se eu
perdi a impugnação (que lidou com outras matérias), ainda vou discutir se o meu carro vale mesmo 3 mil ou 30 mil em sede
de simples petição. Posso perder a impugnação, prosseguindo a execução, e ganhar a simples petição, pois o juiz determinou
que o meu carro tem o valor de 30 mil. Resumindo, posso perder a impugnação e ganhar a simples petição. Ou perder a
simples petição e ganhar a impugnação, ou ganhar ambas. A matéria trazida por uma é diversa da matéria trazida por outra.
Se eu já tinha ciência do fato (a avaliação errônea) quando ainda havia prazo para a impugnação, não posso utilizar a simples
petição, pois o fato não é superveniente e precisava ter sido alegado na impugnação.

Revendo a aula anterior (Impugnação e simples petição. Prazo de 15 dias. Efeito suspensivo na impugnação): Já vimos
a execução de obrigação de fazer ou não fazer e a impugnação. Veremos logo mais, ainda na aula de hoje, a execução para a
entrega de coisa, e veremos futuramente a execução por quantia certa. Em qualquer destas espécies de execução, todas
baseadas em título judicial, teremos como meio de oposição a impugnação, por isso é importante o estudo desse instituto e

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especialmente do art. 536, § 4º c\c art. 525 do CPC. Diz o § 4º do 536: “No cumprimento de sentença que reconheça a
exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, aplica-se o art. 525, no que couber”. Encerra o caput do art. 525:
Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o
executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.

A impugnação que falamos é a impugnação à execução, que em regra, tem o prazo de 15 dias. Como se conta esse prazo de
15 dias? Só pra relembrar com um exemplo: A sentença condena o réu ao cumprimento da obrigação de fazer (fazer o muro)
no prazo de, digamos, 10 dias. Se a parte não cumprir voluntariamente a obrigação no prazo assinado pelo juiz, estipulado na
sentença, independentemente de nova intimação, começará a correr o prazo de 15 dias para, querendo, o executado se
opor à execução. Como ele irá se opor à execução? Através da impugnação. O executado terá o prazo de 10 dias para fazer o
muro, sendo que último dia do prazo foi hoje, acabou. Mesmo sem intimação, amanhã começará a correr o primeiro prazo
de 15 dias para que querendo o executado, apresente impugnação. É bem verdade que se o executado estiver em litisconsórcio
passivo com outro executado, e os dois tem diferentes procuradores, o próprio art. 525, no § 3º determina que o prazo seja
contado em dobro (“Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229”). O caput do art. 229 diz: “Os litisconsortes que tiverem
diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento”. Há uma pegadinha nas provas sobre esse
assunto, vou explica-la. Ex.: Eu e a Paula somos executados. O meu advogado (prof. Jairo) já está constituído nos autos do
processo de conhecimento. O prof. Jairo tem um escritório em que trabalha ele, a professora Jane e o prof. Alexandre. Os três
estão no mesmo escritório. É uma sociedade de advogados? Não é. Vejam, embora os três estejam no mesmo local, na mesma
sede, não há constituição de sociedade de advogados. Neste escritório, cada um tem uma sala e atende de forma independente.
Tenho o prof. Jairo de advogado. A Paula, tem o prof. Alexandre como patrono. Neste caso, somos litisconsortes com
diferentes procuradores, e teremos o prazo de 30 dias, por força do art. 229, pois conta em dobro em razão da determinação
deste artigo. Se porventura sou eu, a Paula e a Camila que temos três advogados diferentes, o prazo continua contando em
dobro. Se tivermos 100 litisconsortes com advogados diferentes, o prazo continua sendo de 30 dias. Não fica um prazo maior
por ter mais litisconsortes (por ex., 45 dias).

Voltando ao mesmo exemplo, sabemos que os advogados possuem, cada um, uma sala neste escritório. Para mim, advoga o
Jairo, mas na procuração que ele me concedeu, consta o nome do prof. Jairo, do prof. Alexandre e da prof. Jane. Os três não
tem sociedade, mas são amigos, e combinaram que se porventura um está impossibilitado de praticar um ato, o colega que
divide o escritório atende por ele. Então, ficou combinado que se o prof. Jairo estiver em POA, o prof. Alexandre fará as
audiências, por exemplo. Eu contratei o prof. Jairo e a Paula contratou o prof. Alexandre. Na minha procuração e na procuração
da Paula consta o nome dos três advogados (prof. Jairo, prof. Alexandre e prof. Jane). Ainda que o prof. Jairo tenha assinado
todas as petições, tenho o prazo de apenas 15 dias para promover a impugnação. Mas alguém dirá: Você contratou apenas o
prof. Jairo e que foi ele sozinho que praticou todos os atos do processo. Sim, mas na procuração consta o nome de todos os
advogados, o que faz os procuradores serem os mesmos, afinal a Paula é representada pelo prof. Alexandre, sendo que o nome
dele também está na minha procuração e o nome do prof. Jairo (que é meu advogado), está na procuração da Paula. O benefício
do prazo em dobro não incidirá, pois temos diversos procuradores, mas não são diferentes procuradores. O prazo
contará de forma simples, 15 dias. É mais de um procurador, mas eles não são diferentes, na verdade, são os mesmos, o nome

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dos três está na duas procurações. É um detalhe importante. “Diferente” não é a mesma coisa que “Diverso”. Podem ser
“diversos” os procuradores, e o prazo ser de 15 dias, não contar em dobro, mas se forem “diferentes” procuradores, o prazo
conta sempre em dobro.

Vimos também na aula passada que a impugnação, em regra, não tem efeito suspensivo. Os requisitos cumulativos para a
concessão do efeito suspensivo são: 1) Os fundamentos dos embargos devem ser relevantes. Se não forem relevantes, é
motivo para o juiz não dar efeito suspensivo à impugnação; 2) O prosseguimento da execução puder causar ao executado
grave dano, de difícil ou incerta reparação; 3) A execução estar garantida, por caução, por penhora, ou por depósito, a
depender do tipo de obrigação. No caso de obrigação de fazer, a caução poderá ser real ou fidejussória. Se o juiz decidir pela
concessão do efeito suspensivo, os atos executivos não serão praticados.

O requisito da prestação de garantia ao juízo serve para ressarcir o exequente na hipótese de algum prejuízo vir a afetá-lo.
Se não há efeito suspensivo na impugnação (e essa é a regra) a execução continuará tramitando, e os atos executivos serão
praticados normalmente. Ex.: O juiz chamou vocês para em 10 dias fazerem o muro, mas vocês não fizeram, pois na verdade
já haviam feito o muro, cumpriram com a sentença. Vocês tem motivo para impugnar. Passados os 10 dias, a impugnação à
execução de obrigação de fazer foi apresentada tempestivamente no prazo de 15 dias, não sendo concedido o efeito suspensivo.
Eu, exequente, além de me manifestar sobre a impugnação apresentada por vocês devedores, exercerei a minha opção, pois
houve inadimplemento: Não quero converter em perdas e danos, já que a prestação é fungível, chamarei um terceiro para fazer
o muro, e ele o fará às custas de vocês, que são os executados. Já que a impugnação não tem efeito suspensivo, eu exequente
apresentarei orçamentos para fazer o muro. Três amigos apresentaram orçamentos e o juiz aprovará um destes orçamentos,
para que terceiro cumpra com a obrigação. Vocês executados dirão: nós impugnamos. Não importa se impugnaram, não teve
efeito suspensivo, a execução prossegue. Enquanto a impugnação está tramitando, a proposta do terceiro foi aprovada e eu
exequente optei por não exercer meu o direito de preferência nos 5 dias. O resultado disso é que o terceiro começou a fazer o
muro. É bem verdade que se vocês devedores ganharem a impugnação, como a execução corre por minha conta e risco, eu
deveria saber que se a impugnação fosse procedente, talvez vocês já tivessem feito o muro, e um prejuízo ocorreria. Ao final,
foram feitos 2 muros. Um vocês fizeram e o outro é por minha conta e risco. Eu, exequente, precisarei ressarcir vocês,
executados. Se porventura a impugnação for improcedente, o muro então estará pronto através do terceiro. Como eu adiantei
os valores do orçamento ao terceiro, ocorreu sub-rogação, e eu, exequente, poderei cobrar de vocês, executados, o valor do
orçamento. Então, se a impugnação não foi dotada de efeito suspensivo, a execução prosseguirá até o final.

Só para lembrar: Se o juiz der efeito suspensivo à impugnação do executado, será evidente que foram preenchidos os
três requisitos que já vimos. Vejamos um deles. Ex.: O executado já fez o muro. Além de já ter feito o muro e apresentar a
impugnação alegando este fundamento relevante, que já traz prova pré-constituída da elaboração do muro, um laudo pericial
demonstrando que o muro está completo e terminado. Eu, exequente, estou promovendo o cumprimento da sentença de forma
errônea. O primeiro advogado não disse que o executado fez o muro, e o outro advogado prosseguiu na execução. O
fundamento relevante é ter feito o muro, e vocês provam que o muro está pronto.

O detalhe é que mesmo que o executado obtenha efeito suspensivo ao apresentar a impugnação, o exequente pode retirar
o efeito suspensivo. Isso porque o requisito da possibilidade de gravo dano, de difícil ou incerta reparação, pode ser retirado

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a qualquer momento, basta que o exequente preste caução. Ex.: Pedirei para alguém ser meu fiador, ou hipotecarei a minha
casa, desse modo se a execução, prosseguindo, causar um grave dano, não será de difícil ou impossível reparação. A minha
casa (caução real, com a hipoteca), ou o fiador (caução fidejussória) ressarcirão o executado. A impugnação prossegue e a
execução também. Se o exequente causar um dano ao executado, repara, com a venda da sua casa ou com a fiança prestada
por terceiro. Ainda que o juiz tenha dado efeito suspensivo, há a possibilidade da retirada do efeito suspensivo pela prestação
de caução suficientemente idônea, por parte do exequente, arbitrada pelo juiz.

Vocês verão que no tocante à alguns atos, a execução pode prosseguir mesmo sendo dado efeito suspensivo à
impugnação. Ex.: Se a execução for de obrigação de pagar quantia certa, e o juiz atribuiu efeito suspensivo, ainda assim
ocorrerá, mesmo com o efeito suspensivo, a penhora e a avaliação, pois estes atos não trazem prejuízo nenhum ao executado.
Prejuízo ocorreria se o bem avaliado ou penhorado fosse levado a leilão e vendido, mas isso não acontecerá. Se foi dado efeito
suspensivo, a penhora ainda pode ocorrer. Para este ato, não há efeito suspensivo, mas é claro que o bem penhorado não será
levado a leilão, pois o efeito suspensivo impede a expropriação do bem penhorado, impede a sua venda.

Do cumprimento de sentença. Execução de obrigação de não fazer (art. 513 c\c arts. 822 e 823 do CPC)

Vimos que os arts. 536 e 537 tratam da execução de obrigação de fazer, baseada em título judicial. O art. 513 diz que o
cumprimento de sentença (a execução de obrigação de fazer, não fazer, de entregar coisa e de pagar quantia certa), baseado
em título judicial, deve ser feito com a observância, no que couber, das regras dispostas no Livro II da Parte Especial do CPC
(as regras que regulam a execução de título extrajudicial). Ex.: No caso da execução de obrigação de fazer e de não fazer,
servem os arts. 536 e 537, mas existem lacunas da lei, não é tudo que está regulado ali. Por isso, utilizamos os arts. 815 até
821 do CPC. As normas que regulam a execução de título extrajudicial são consideradas fonte subsidiária, ou seja, são
aplicadas quando há omissão das normas que regulam propriamente a execução de título judicial.

Foi por isso que nós vimos que lá no art. 816 a obrigação, quando não adimplida voluntariamente pelo executado, pode ser
prestada por terceiro ou pelo próprio exequente (no caso de prestação fungível), ou ainda haver a conversão em execução de
fazer em perdas e danos. A mesma coisa vale para a obrigação de não-fazer. Tudo que os arts. 536 e 537 determinam, como
as medidas de apoio e a impugnação do art. 536, § 4º (que remete para o art. 525, que regula a aplicação da impugnação como
forma de oposição à execução) pode ser aplicado às obrigações de não-fazer. Isso porque o próprio caput do art. 536 fala o
que “no cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de
ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente,
determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente”. A respeito das obrigações de não-fazer, embora mencionadas
no art. 536, praticamente nada consta nos arts. 536 e 537 sobre a sua natureza jurídica específica. Em razão disso poderemos
aplicar como fonte subsidiária os arts. 822 e 823 do CPC, por força do art. 513.

Antes de falar detidamente da execução obrigação de não-fazer, é bom enfatizar que se utilizam as medidas de apoio neste
tipo de execução, como bem vimos no art. 536. Ex.: Os senhores foram condenados a não fazerem um muro nesta sala, mas
fizeram o muro. O juiz os chamará para desfazer o muro, e pode como medida de apoio atribuir um valor de 1 salário mínimo
(valor exemplificativo) por dia de atraso no descumprimento da obrigação (astreintes). Se vocês desfizerem o muro apenas

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no prazo de 15 dias, cumpriram a obrigação que era pra ser feita no prazo de 10 dias, mas devem 5 salários mínimos pelos 5
dias atrasados. É o valor das astreintes. As obrigações de não-fazer são negativas, mas a sua execução é positiva, pois se
vocês fossem chamados a não destruir o muro, diriam que ótimo, perfeito, já fizemos o muro (e foi aí que descumprimos a
obrigação de não-fazer), agora seguiremos sem fazer nada, reiterando o descumprimento da obrigação.

Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei ou por contrato, o exequente requererá ao
juiz que assine prazo ao executado para desfazê-lo. Nas obrigações de não-fazer, o executado será intimado a desfazer o ato
que praticou e que estava obrigado a não praticar.

Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa daquele,
que responderá por perdas e danos. Se o executado não desfazer o que indevidamente fez, ou seja, não cumprir
voluntariamente com a sentença, terá a princípio o exequente duas opções, conforme o art. 823: a) chamar terceiro, para
que desfaça o ato indevido, às custas do executado; b) converter em perdas e danos, e o executado pagará monetariamente,
indenizará o prejuízo. Ex.: Propus uma ação de conhecimento contra vocês, para que desfaçam o muro, em razão do
descumprimento de um contrato que fizemos que ordenava que não se construísse nada no local. Vocês foram condenados a
desfazer o muro, mas não cumpriram a sentença. Restaram a mim duas opções: Chamar terceiro para cumprir a obrigação no
lugar de vocês às custas de vocês, ou converter em perdas e danos. É claro que se vocês foram condenados e cumpriram
voluntariamente com a sentença, nem chegamos na fase executiva, isso é óbvio. É só na hipótese de não cumprimento
voluntário da sentença que eu chamarei terceiro para fazer tudo, às custas de vocês executados, ou converterei em perdas e
danos.

O prazo assinado pelo juiz constará no título executivo judicial (na sentença, na decisão judicial). Quanto à parte do art.
822 que fala em “estar obrigado pela lei ou por contrato”, não esqueçam que aqui o regramento é relativo à título extrajudicial
(o contrato é um deles, assinado por duas testemunhas), e estamos utilizando esse regramento de forma subsidiária, no que
couber, para a execução de título judicial.

Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a
liquidação, se observará o procedimento de execução por quantia certa. É interessante dar um exemplo para explicar o §
único do art. 823. Ex.: Quando vocês descumpriram a obrigação de não-fazer e construíram o muro, ele mexeu na estrutura
da minha casa. Combinamos que ele não poderia ser feito exatamente por conta disso, pois eu preciso que a minha casa
continue do mesmo jeito. Agora, o muro foi feito, o dever foi descumprido. Se o devedor desfizer o muro (vocês), a casa
inteira cai, e o dano será maior. Se eu chamar terceiro para desfazer o muro, perco a casa. Não há possibilidade de desfazer o
muro, nem por terceiro nem pelo próprio executado. Neste caso sou obrigado a converter em perdas e danos. Se eu não posso,
e nem o executado pode desfazer, sob pena de prejudicar toda a casa, se apurará o valor devido (em sede de liquidação) e tudo
será convertido em indenização para ressarcir o prejuízo devido por ter danificado toda a casa, de acordo com o procedimento
da execução de obrigação de pagar quantia certa.

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Do cumprimento da sentença. Execução de obrigação de entrega de coisa (art. 538 c\c art. 806 até 813 do CPC)

As obrigações de dar (ou de entrega de coisa, como fala o CPC) são modalidades de obrigação positiva, cuja prestação
consiste na entrega ao credor de um bem corpóreo, seja para transferir-lhe a propriedade, seja para ceder-lhe a posse, seja para
restituí-la. Ocorrido o inadimplemento, cabível se torna a tutela judicial para a execução da entrega de coisa. Nesta, temos
uma decisão judicial, que pode ser sentença mas pode também não ser sentença (pode ser, por ex., uma decisão interlocutória
que antecipa os efeitos da tutela, onde se admite o cumprimento dessa decisão, que antecipa os efeitos da sentença). Então,
temos a execução ou o cumprimento de sentença (ou decisão) que determina a entrega de uma coisa, sendo essa execução
baseada em título judicial.

É preciso novamente ter cuidado com as palavras. Alguém pode dizer: “Você foi condenado a entregar o muro depois que o
fazer e ele estiver pronto. Nesse caso não é execução de entrega de coisa, mas de obrigação de fazer (fazer o muro). Entrega
de coisa será se vocês promoverem uma ação para que eu seja condenado a entregar um livro, por exemplo, e eu for condenado
e não entrega-lo. Aqui eu também preciso “fazer algo”, que é entregar o livro, mas não é uma obrigação de fazer. Se
considerarmos desse modo, qualquer obrigação seria “fazer”, até a de pagar quantia certa, e não é verdade.

Coisa incerta e coisa certa: Para o direito civil, a coisa pode ser certa ou incerta.

Coisa incerta é aquela classificada ao menos pelo gênero e pela quantidade, segundo o CC (Art. 243. A coisa incerta será
indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade). Ex.: 10kg de arroz. 10kg é a quantidade. Arroz é o gênero. Mas qual tipo
de arroz deve ser entregue? Existem vários tipos de arroz. Há os de péssima qualidade e os de boa qualidade. Quando eu quiser
um tipo determinado e específico de arroz, é claro que transformarei a coisa incerta em coisa certa. É bem verdade que o CC
diz que na obrigação de coisa incerta não se pode exigir do devedor a melhor coisa, mas também ele não pode entregar
a pior (Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não
resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor). Ex.: Há um contrato
assinado pelo devedor e duas testemunhas (falamos de título extrajudicial como exemplo, pois no título judicial a especificação
se dá na ação de conhecimento). É um título que obriga a entregar 100kg de arroz. Sendo devedor, não posso nem entregar o
pior arroz nem sou obrigado a entregar o melhor. O juiz classificará qual seria o arroz “mediano”. A coisa é incerta, claramente.

Quando estivermos falando de título extrajudicial, basta promover a execução de coisa incerta diretamente, e o devedor será
citado para entregar o arroz considerado “mediano”.

Quando estivermos falando de título judicial, para promover a execução de coisa incerta será necessário propor ação de
conhecimento em que se busca a entrega de coisa incerta. Digamos que foi convencionado que a escolha seria feita pelo credor.
Neste caso, a coisa incerta passa a ser coisa certa logo na petição inicial da ação de conhecimento, de modo que o devedor
será condenado a entregar uma coisa certa. Ex.: “A” fez um contrato com “B”, que não é título extrajudicial porque não é
assinado por duas testemunhas e pelo devedor. No contrato foi convencionado que “A” pagaria 85 mil reais e “B” entregaria
300kg de arroz. Não ficou estipulado qual espécie de arroz (coisa incerta). Foi convencionado que a escolha competia a “A”.
“A” escolheu mas “B” não entregou nenhum arroz. “A” propôs uma ação para a entrega de coisa certa, pois na própria petição
inicial escolheu o tipo de arroz “PN1 tipo agulha”. A obrigação nasceu como entrega de coisa incerta, mas como a escolha
competia ao credor, “B” foi condenado a entregar coisa certa (300kg do arroz PN1 tipo agulha).

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Dei um exemplo de coisa incerta que se transforma em certa logo na petição inicial, então, a princípio, não existe cumprimento
de sentença baseada em coisa incerta. Se a escolha competir ao credor, ele a fará na petição inicial da ação de
conhecimento, para que o juiz ao proferir a sentença condene à entrega de coisa certa. Falei de coisa móvel (arroz), mas
poderia ser uma casa. Ex.: “A” comprou uma casa de “B”, que vendeu, mas não entregou, e o valor foi pago integralmente.
“A” promoveu a ação de conhecimento, especificou o tipo de casa na petição inicial e “B” foi condenado. “A” pode promover
a execução para a entrega de coisa certa. “B” tem um prazo para cumprir voluntariamente a sentença (prazo determinado pelo
juiz no título executivo judicial). Determinará o juiz que “B” deve entregar o arroz em 10, 15, 20 ou mesmo 5 dias, o prazo
pode variar, ou se for entregar a casa, em 5, 10, 15, 20 dias.

Art. 498, Parágrafo único do CPC: Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor
individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individualizada,
no prazo fixado pelo juiz.

Escolha da coisa incerta cabível ao credor -> Escolherá na petição inicial da ação de conhecimento;

Escolha da coisa incerta cabível ao devedor -> Escolherá no momento do cumprimento da sentença, no prazo assinado pelo
juiz para o cumprimento da obrigação

Se o devedor não entregar o bem (o arroz, que é bem móvel), o juiz, passado o prazo, expedirá um mandado de busca e
apreensão deste arroz. No exemplo anterior, “B” foi condenado a entregar os 300kg de arroz tipo PN1 agulha, que se
encontram nos seus galpões. Se ele não cumprir voluntariamente a obrigação, passado o prazo para isto, “A” irá requerer que
se expeça mandado de busca e apreensão, cumprido por oficiais de justiça, que se dirigirão ao local onde se encontra o arroz,
pegarão este arroz e entregarão ao credor, e estará cumprida a obrigação. Se houver a necessidade de pagamento de custas e
honorários advocatícios que constam na sentença, essa execução que começou como execução de entrega de coisa, se
converterá em execução de obrigação de pagar quantia certa. Ex.: “A” indicou à penhora a moto de “B”, para pagar o valor
das custas, pois o arroz já foi entregue com o mandado de busca e apreensão.

Converter em execução de quantia certa -> Quando houverem custas e despesas processuais remanescentes

Voltando ao exemplo que tratávamos antes (o da casa, que não é como o arroz, pois é bem imóvel), como tratamos de uma
casa, não será mandado de busca e apreensão, mas mandado de imissão de posse. No exemplo anterior, “B” não entregou a
casa voluntariamente, não cumpriu a sentença. “A” irá requerer ao juiz a expedição de mandado de imissão de posse. As
fechaduras serão trocadas e estará cumprida a obrigação. Se houver custas e honorários advocatícios não pagos, cumprida a
obrigação, é possível converter a execução de entrega de cosia em execução de pagar quantia certa, “A” indicará a moto e o
carro de “B” à penhora e a execução prosseguirá apenas para o pagamento em dinheiro dos honorários.

Há uma certa dificuldade no mandado de busca e apreensão, pois os exequentes precisam saber onde se encontra o bem
móvel (o arroz, no nosso exemplo). Embora o mandado tenha o nome de busca e apreensão, os oficiais de justiça cumprirão
o mandado apenas no lugar designado pela parte. Oficial de justiça não é investigador. O oficial de justiça não pode saber ou
descobrir o lugar, ele só cumpre ordem judicial. Se o exequente quer saber onde está o arroz, que contrate alguém para
investigar, e quando souber onde ele está, o oficial de justiça se dirigirá ao local e fará a apreensão do arroz. Se em último
caso, o exequente não sabe mesmo onde está o bem móvel é possível converter a entrega da coisa em quantia certa,

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devendo ser apurado em liquidação, além do valor do produto (o arroz em si), os prejuízos causados pelo fato de o bem móvel
não ter sido entregue no prazo estipulado.

Se o bem for imóvel, o devedor pode, na sua defesa (em sede de contestação, na fase de conhecimento), pedir a
indenização de benfeitorias que realizou. Não posso discutir estas benfeitorias na fase de cumprimento da sentença, na
execução. Se eu tenho direito a ser indenizado, isso deve ser discutido na fase de conhecimento e o resultado virá na sentença.
Ex.: Sou condenado a entregar uma casa, mas fiz benfeitorias nessa casa, e elas são benfeitorias necessárias, sempre
indenizáveis. Eu até entrego a casa, desde que me paguem as benfeitorias necessárias. Se a sentença transitou em julgado e
não aleguei nada sobre as benfeitorias, nada poderei fazer na execução, mas poderei propor uma ação autônoma pedindo
indenização pelas benfeitorias realizadas.

Utilização subsidiária das disposições do cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer ao cumprimento de
entrega de coisa (§ 3º do art. 538): § 3. Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couber, as disposições
sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer. Na obrigação de fazer ou de não fazer, o art. 536 remete para o
art. 525, dizendo que os meios de oposição (impugnação) se aplicam à obrigação de fazer e não fazer. Por força do § 3º do art.
538, se aplicam também à execução de entrega de coisa as disposições que regulam a execução de obrigação de fazer. Tudo
que falamos para a execução de obrigação e não fazer, se aplica à execução de entrega de coisa, mas que se lembre que as
aplicações subsidiárias são sempre no que couber. Logo mais, abaixo, veremos exemplos dessas aplicações.

É importante dizer que especificamente no caso de execução de entrega de coisa incerta, o art. 813 (que trata em princípio
dos títulos extrajudiciais) também ordena expressamente que se aplique à esta modalidade de obrigação as disposições que
regulam a execução de obrigação de fazer ou de não fazer os arts. 814 até 823 (também em princípio de títulos
extrajudiciais, mas admitidos como aplicação subsidiária pelo próprio art. 513): Art. 813. Aplicar-se-ão à execução para
entrega de coisa incerta, no que couber, as disposições da Seção I deste Capítulo (os arts. 814 até 823 são a Seção I).

O executado em obrigação de entrega de coisa pode utilizar os mesmos meios de oposição utilizados na execução de
obrigação de fazer (impugnação e simples petição. A única diferença é que para obter o efeito suspensivo na impugnação,
vimos que o executado deve preencher o requisito da prestação de garantia ao juízo da execução, garantia essa que na obrigação
de fazer era a caução, e na entrega de coisa é o depósito da coisa. Sendo bem imóvel (a casa) deposita-se as chaves, sendo
bem móvel (o arroz) entrega-se, deposita-se o arroz ao Judiciário. Se eu entregar o arroz para o credor, é óbvio que termina a
execução, pois estarei cumprindo voluntariamente a sentença. Se eu, devedor, ganhar a impugnação, o arroz é devolvido. Se
os senhores ganharem a impugnação (credores), o juiz expedirá mandado para que vocês recebam a coisa que já está
depositado em juízo. A simples petição será cabível se o fato for superveniente à impugnação. Se o executado não obtiver o
efeito suspensivo na sua impugnação, continuará a execução, e o exequente poderá requerer a expedição de mandado de busca
e apreensão (se souber onde se encontra o arroz). Se o juiz deu efeito suspensivo à impugnação, o exequente poderá retirá-lo,
bastando para isso que preste garantia. Tudo que foi falado na impugnação na obrigação de fazer serve aqui.

As medidas de apoio também podem ser aplicadas na execução de entrega de coisa. Se o credor quiser, pedirá na petição
inicial da ação de conhecimento, ou requererá depois alguma medida (requerimento) ou o juiz pode estipular na sentença, de

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ofício, quando condenar. Ex.: O devedor foi intimado para entregar o arroz tipo PN1 agulha no prazo de 10 dias, sob pena de
pagar um salário mínimo por dia de atraso (estipulação de astreintes na execução de entrega de coisa).

Procedimento resumido da execução de entrega de coisa: Sentença que condena à obrigação de entregar coisa (art. 538,
caput) -> Intimação do executado para entregar a coisa no prazo assinado pelo juiz na sentença (art. 513, § 2º) ->
Cumprimento voluntário (art. 807), ou não havendo o cumprimento no prazo -> expedição de mandado de busca e
apreensão ou de imissão na posse (art. 538, caput e § 3º), e havendo cumprimento do mandado, encerra-se a execução ->
sendo impossível localizar a coisa, ou estando ela deteriorada, tudo será resolvido com a conversão da obrigação para o
valor correspondente da coisa e com perdas e danos (art. 809)

Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca
e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. Claro, coisa móvel =
mandado de busca e apreensão; coisa imóvel = mandado de imissão de posse. Apenas será expedido mandado se a entrega
determinada pela sentença não foi cumprida voluntariamente. Se foi cumprida voluntariamente, extingue-se a execução, desde
que tenham sido pagas as despesas processuais.

§ 1º A existência de benfeitorias deve ser alegada na fase de conhecimento, em contestação, de forma discriminada e com
atribuição, sempre que possível e justificadamente, do respectivo valor. Já falamos disso antes. Vejam, se eu tenho benfeitorias
indenizáveis, devo argui-las na contestação, e mais, tenho que se possível, especificar o valor das benfeitorias. Onde? Na fase
de conhecimento. A sentença que, ao final, determinará qual o valor a ser pago pelas benfeitorias realizadas pelo agora
devedor.

§ 2º O direito de retenção por benfeitorias deve ser exercido na contestação, na fase de conhecimento. A parte pode reter o
bem em razão das benfeitorias, mas apenas na fase de conhecimento. Na fase de cumprimento da sentença, a parte não pode
mais reter o bem, ela deve entregar o bem e ser indenizada. Se o devedor entrega o bem e não recebe a indenização
(indenização que foi determinada lá atrás na sentença, depois de o réu pedir no processo de conhecimento), passa a ser credor
desta indenização, e há um título executivo em favor do até então devedor, que passará a ser legitimado ativo para promover
a execução da quantia referente às benfeitorias.

Sabemos que como fonte subsidiária do cumprimento de sentença (baseado em título judicial, que é o caso das obrigações de
fazer e de entregar coisa), também se utilizam as regras do título executivo extrajudicial de forma subsidiária, por força do art.
513. É por isso que utilizamos na entrega de coisa os arts. 806 até 813 do CPC, que em princípio regulariam apenas
títulos extrajudiciais.

Art. 808. Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que somente será ouvido
após depositá-la. Se houver fraude à execução (a coisa objeto do título executivo foi alienada ou doada, por exemplo), o
mandado expedido será contra terceiro. Se o terceiro quiser ser ouvido através do embargos de terceiro, poderá ser ouvido,
mas desde que deposite à coisa. Condição para a interposição e o recebimento da ação de embargos de terceiro é o prazo de
15 dias e o depósito da coisa, e aí o terceiro poderá se opor à entrega da coisa.

Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for
entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente. Se a coisa não for entregue

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voluntariamente, a parte tem duas opções: a) Requerer que seja expedido o mandado de busca e apreensão ou o mandado de
imissão; b) Converter em perdas e danos. Evidentemente que em alguns casos só resta a conversão em perdas e danos,
geralmente quando não se sabe onde se encontra o bem, quando a coisa se deteriorar, etc. Se buscará o valor da coisa, além
das perdas e danos, em razão de se demonstrar os danos trazidos pela não entrega da coisa. Estes danos serão quantificados
em sede de liquidação, conforme a previsão do § 1º do art. 809: “§ 1º Não constando do título o valor da coisa e sendo
impossível sua avaliação, o exequente apresentará estimativa, sujeitando-a ao arbitramento judicial”. No caso do § 1º, a
liquidação se dará por arbitramento. Emenda o § 2º: “§ 2º Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos. Se
houver fato novo, o valor da coisa será apurado em liquidação pelo procedimento comum”. A liquidação poderá se dar das
duas formas: por arbitramento judicial, ou se houver fato novo, os fatos novos darão liquidez além do valor da coisa, onde se
fará a liquidação pelo procedimento comum (§2º do art. 809).

Art. 807. Se o executado entregar a coisa (cumprir voluntariamente a sentença), será lavrado o termo respectivo e considerada
satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver.
Intimado, o executado cumpre voluntariamente a sentença, entrega a coisa. Faz-se um termo de quitação para provar que a
coisa foi entregue.

Vejam, se houver algum prejuízo que pode ser liquidado, desde que evidentemente provado ou demonstrado ao juiz, como
por exemplo, custas ou despesas processuais não pagas (não são só frutos da coisa, mas do processo), neste caso prossegue a
execução, como de obrigação de pagar quantia certa. Ex.: A parte cumpriu voluntariamente, mas não pagou as despesas
processuais. Cumprida a obrigação principal, que deu origem ao cumprimento da sentença, se houver ainda possibilidade de
pagamento, converte-se a execução de quantia certa. O credor apresentará memória discriminada de cálculo e pedirá para o
devedor ser intimado para em 15 dias pagar o valor das perdas, danos e custas. Se cumprir voluntariamente isso, termina a
execução, se não cumprir, será penhorado e avaliado o bem, nos autos da própria execução.

Do cumprimento de sentença. Execução de obrigação de pagar quantia certa contra devedor solvente (art. 523)

Para o professor, é a execução mais importante do semestre. Isso porque de todas as execuções que vimos até aqui (execução
para entrega de coisa certa e incerta, baseada em título judicial, e execução de obrigação de fazer e não fazer, também baseada
em título judicial), vimos que uma das opções que tem o exequente em caso não cumprimento voluntário do executado é
sempre a de conversão para execução de obrigação de pagar quantia certa. Em sendo obrigação de fazer, em uma prestação
fungível, sempre se tem duas opções (terceiro fazer ou perdas e danos, convertendo a obrigação). Se eu optar pelas perdas e
danos, há a conversão da obrigação de fazer para execução por quantia certa contra devedor solvente. No caso de
prestação infungível, só há uma opção, a conversão em perdas e danos, pois nas obrigações intuitu personae um terceiro não
pode tomar o lugar do devedor originário. Então, vejam, sendo a obrigação de fazer, seja em prestação fungível ou não
fungível, há a possibilidade de perdas e danos.

Na execução de entrega de coisa, seja incerta, seja certa, também poderemos cair nesta espécie de execução. Vamos dar
um exemplo: Vocês foram condenados a me entregar este CPC em 5 dias. Este código tem a assinatura do Pontes de Miranda.
Não serve outro código, tem que ser este com a assinatura. Vocês devedores colocam fogo no código, no dia que transitou em

83
julgado a sentença. A única possibilidade que me restou é apurar o valor em liquidação. O juiz arbitrará o valor do código, e
converterei a execução de entrega de coisa certa em execução por quantia certa, apurando as perdas e danos. Descumprida
qualquer hipótese de execução, algumas opções recaem certamente em converter ao equivalente monetário. Vejam, não é
necessário promover outra execução, mas converter a execução anterior.

Procedimento. Requerimento apresentado pelo exequente. Arts. 523, caput e § 1,º e art. 524 do CPC. Prazo para
cumprimento voluntário de 15 dias: Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no
caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente,
sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

§ 1º do art. 523: Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento
e, também, de honorários de advogado de dez por cento.

O art. 524 fala a respeito da memória discriminada de cálculo. Veremos este artigo depois.

Quando falamos de condenação em quantia certa, há uma sentença que obrigou alguém a pagar determinada quantia. Se a
sentença não é líquida, deverei promover a liquidação de sentença (por arbitramento ou pelo procedimento comum). Após o
título ter os três requisitos posso promover a execução por quantia certa contra devedor solvente.

Na execução de entrega de coisa e na execução de obrigação de fazer e não fazer, posso requerer ao juiz que se intime o
devedor para fazer ou para entregar a coisa. Eu disse “posso requerer” pois nessas duas espécies de execução, o juiz pode de
ofício prosseguir na execução. Ex.: “B” foi condenado a entregar um código em 5 dias, e foi intimado do trânsito em julgado
da sentença na pessoa do seu advogado. Ele sabe que tem 5 dias para entregar o código, e se não entregar nesse prazo, o
próprio juiz pode, de ofício (sem nenhum requerimento do exequente), despachar da seguinte forma: “intime-se o exequente
sobre o prosseguimento da execução”. Neste contexto, “A”, que é o exequente, terá duas opções: a) Se “A” souber onde se
encontra o código, poderá pedir ao juiz que expeça mandado de busca e apreensão; b) Poderá requerer ao juiz que atribua ao
título astreintes, para que o devedor seja coagido a cumprir a entrega da coisa. Se eu não souber onde se encontra a coisa, o
juiz já estiver estipulado as astreintes, e nada adiantou, poderá “A” converter a execução de entrega de coisa (na qual não
houve cumprimento voluntário da sentença) em execução por quantia certa. Se “A” já tem o valor do livro, apresentará um
cálculo, onde demonstrará como chegou até o valor posto, atualizado, e o executado será intimado para em 15 dias pagar o
valor.

Então, deve ficar claro que nas duas primeiras espécies de execução (fazer e não fazer, e entrega de coisa certa ou incerta)
o juiz pode de ofício dar prosseguimento à fase executiva. Eu, sendo exequente, também posso apresentar um requerimento
nessas espécies de execução, requerendo que ao juiz que se intime o executado para entregar o livro em 15 dias, ou fazer o
quadro em 15 dias. Se eu não requerer, ainda assim o juiz pode dar prosseguimento à execução de obrigação de fazer ou não
fazer e de entrega de coisa, certa ou incerta. Digo isso porque essa possibilidade de o juiz dar prosseguimento à fase
executiva de ofício não ocorre na execução de quantia certa, onde é sempre preciso apresentar esse requerimento.
Obrigatoriamente deve haver o requerimento. No caso das primeiras execuções, não era preciso fazer o requerimento para
que o devedor cumpra com a obrigação, ou seja, para que entre na fase executiva. O credor é obrigado a requerer que o juiz
intime o devedor a cumprir com a obrigação. Porque é assim nesse tipo de execução? Por que é o credor que precisa

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atualizar o valor da sentença, e o requerimento deverá estar acompanhado da memória discriminada de cálculo, que
ele é obrigado a anexar. Ex.: O devedor foi condenado a pagar determinada quantia certa, de 100 mil reais. Isso foi há 3
meses, e o valor obviamente não é mais 100 mil reais. O credor corrigirá os 100 mil reais para o valor de 102,360. A execução
não foi promovida antes porque o devedor não tinha bens. Pois bem, junto com o requerimento será apresentada a memória
discriminada de cálculo. O valor principal será posto, a taxa de juros (1% ao mês), a taxa de correção monetária (IGPM-Foro,
de 0,8% ao mês) e a periodicidade do cálculo (por dia, semana, quinzenal, mensal). O credor apresentará este cálculo, que foi
feito em relação ao período de 90 dias que passou, na memória discriminada de cálculo, e deverá explicar bem, pois o
executado precisa ter total ciência do valor integral para poder impugnar. Então, obrigatoriamente deverá haver um
requerimento (na execução por quantia certa).

Pergunta feita ao professor: Entrei com uma execução por quantia certa na Justiça do Trabalho. O cálculo era que deveria ser
pago 5,900 reais. Houve impugnação, mas era impugnação genérica, não se atacou especificamente o cálculo feito e nem
sequer colocaram um valor menor. O valor aceito foi o do exequente, no seu requerimento, pois nenhum valor foi dado na
impugnação, e prosseguiu a execução. A regra da CLT, neste sentido, é a mesma do CPC: Se houver questionamento de
excesso na execução, quem questiona deve apresentar outro cálculo, não basta a impugnação genérica.

A execução de quantia certa pode ser definitiva ou provisória. Aparentemente, não há diferença nestas execuções. A
execução provisória de quantia certa se faz da mesma forma que a definitiva, levando em conta apenas os princípios que
regem a provisória (corre por conta e risco do exequente; restituição das coisas ao estado anterior em caso de impugnação
procedente). Neste caso, havendo execução provisória ou definitiva, e sendo quantia certa, o exequente deve sempre colocar
a memória de cálculo no requerimento.

Se o exequente não quiser atualizar o valor (no nosso exemplo, os 100 mil reais), tudo bem, é uma opção dele. Ele continuará
obrigado a apresentar a memória de cálculo comum, não precisará apresenta-la na forma discriminada, detalhada. O exequente
apresentará o valor principal, acrescido de, se houver, honorários advocatícios e custas processuais. Ex.: O valor principal
da sentença foi de 100 mil reais, com 20 mil de honorários e mais 300 de custas processuais. O ganhador tem o direito de
120,300. Este foi o valor estabelecido lá na sentença, o valor que o executado foi intimado para pagar em 15 dias. Se o
executado não pagar em 15 dias este valor (120,300), o valor precisará ser atualizado, e será na memória discriminada de
cálculo, onde o exequente colocará o valor base de 120,300 (da memória de cálculo comum) e acrescentará 10% de multa
(+12,030), mais 10% de honorários advocatícios (+ 12,030). Agora, o executado pagará 144mil60 reais. Então, quando não
há memória de cálculo discriminada, não há atualização do valor, não há taxa de juros nem nada disso, o valor devido é
120,300. Se não pagar esse valor no prazo de 15 dias, incidirá a multa diária de 10% sobre o valor mais 10% no valor dos
honorários, o que dará 144mil60 reais. Estes valores são trazidos em razão do descumprimento voluntário.

A memória discriminada do cálculo serve para discriminar e atualizar o valor anterior, dando um novo calor, pelo
qual prosseguirá a execução. Isso porque o credor pode deixar o processo parado por quanto tempo quiser, desde que a
obrigação não esteja prescrita. O CPC fala em 1 ano, mas pode ser mais tempo, pelo fato de o executado não ter bens. Ex.:
A sentença condenou vocês a pagarem 80 mil reais para mim (há 3 anos), mas vocês não tinham bens na época. Vocês
conseguiram uma herança. Agora promoverei a execução da sentença. Atualizei o valor de 80 mil reais (3 anos passaram),

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acrescido da taxa de juros, taxa de correção monetária, custas processuais, despesas processuais e honorários advocatícios.
Apresentei o valor de 120 mil reais. Promoverei a execução e vocês (devedores) serão intimados para em 15 dias pagarem o
valor de 120mil. Se vocês acham que o valor está errado (excesso da execução), impugnem e apresentem os seus cálculos.

A taxa de juros e a taxa de correção monetária, no caso de título judicial, começam a incidir a partir da citação no processo
de conhecimento. Quando o título é extrajudicial é começa a partir fato danoso. Sendo título judicial, o cálculo é feito da
seguinte forma: Os juros e a correção contam a partir da citação.

O devedor tem 15 dias para pagar (sempre). Não se conta o prazo em dobro, nem se houver litisconsórcio com diferentes
procuradores. A aplicação do art. 229 só se dá para os meios de oposição à execução (impugnação e simples petição). Quando
o prazo for para pagar quantia certa, será sempre de 15 dias. Se for execução de entrega de coisa ou obrigação de fazer,
o juiz assinará o prazo na sentença (o prazo pode não ser de 15 dias). Aqui o juiz não assinará prazo nenhum na sentença,
é a lei que determina o prazo de 15 dias para o cumprimento voluntário desta obrigação de pagar quantia.

O devedor, será intimado, em regra, na pessoa do advogado, através do diário oficial. Sendo intimado, exclui-se o dia da
intimação e inclui-se o do vencimento (prazo processual), para que se o devedor quiser, cumpra voluntariamente com a
obrigação (o que evita o acréscimo de 10% de multa e 10% de honorários advocatícios). Cuidado, estes segundos 10% de
multa e de honorários são apenas para a fase executiva, ou seja, se tivermos apenas fase de conhecimento e houver o
cumprimento voluntário da sentença, o devedor apenas pagará o valor principal, honorários advocatícios e custas processuais.
Se estes valores não foram pagos voluntariamente no cumprimento de sentença, aí teremos a multa de 10% e mais 10% sobre
o valor dos honorários advocatícios estabelecidos anteriormente. Este valor de 10% a mais nos honorários é devido por se
presumir que o exequente deverá continuar gastando mais com advogado e atos processuais.

Pode acontecer que o devedor queira cumprir voluntariamente com a obrigação, mas não tem todo o dinheiro. Ex.:
120,300 reais é o valor. Ainda não tem os dois 10% de multa e honorários, pois não sabemos se terá ou não o cumprimento
voluntário. O devedor analisa sua responsabilidade patrimonial e vê que só tem 100 mil reais para pagar, não tem 120,300. O
advogado aconselhará a pagar no prazo de 15 dias os 100 mil reais que possui. Agora, ainda ficou faltando 20,300, e apenas
em relação a esta quantia é que serão acrescidos os valores de 10% de multa e de 10% de honorários advocatícios. Não houve
o pagamento integral voluntário. O exequente pedirá, além de 20,300 + 2,030 de honorários + 2,030 de multa. A execução
prosseguirá com o valor de 24,060 reais. Se o devedor cumprir, ainda que parcialmente e voluntariamente a sentença, os
honorários advocatícios e a multa recairão apenas sobre o valor que não foi pago. Entendam isso.

Comentário ao caput do art. 523 pelo professor: Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em
liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento
do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
A “parcela incontroversa” mencionada pelo artigo é aquela relacionada à quantia certa, sempre. Melhor que dizer “acrescido
de custas, se houver”, seria colocar “acrescido de despesas processuais, se houver”. O credor deverá saber quem foi o
condenado e qual o valor das despesas processuais, que deverão ser apresentadas em memória discriminada de cálculo (onde
se demonstrará ao executado como o exequente chegou ao valor posto).

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Os requisitos do requerimento apresentado pelo exequente para a execução de quantia certa estão no art. 524: Art. 524. O
requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição
conter: Este requerimento é feito pelo exequente, onde se apresentará a memória discriminada de cálculo e se requererá a
intimação do executado, para que cumpra a sentença no prazo de 15 dias. Detalhe: Essa “petição” não é uma petição inicial,
é um requerimento. Petição aqui é sinônimo de requerimento. É uma petição, um pedido, um requerimento, que será
acompanhado obrigatoriamente do demonstrativo de cálculo.

I - o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do
exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a 3º: Se faltar algum destes dados e mesmo assim o
executado puder ser intimado, será intimado, na pessoa do seu advogado. É o que traz o art. 319, quando trata dos requisitos
da petição inicial. O nome e o número de inscrição serão provavelmente copiados da petição inicial (ação de conhecimento).

II - o índice de correção monetária adotado: O credor é obrigado a dizer qual índice adotou. Ex.: IGPM do Foro.

III - os juros aplicados e as respectivas taxas: É a taxa de juros aplicada pelo credor no cálculo.

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados: O credor precisa definir e dizer o dia que
começou a contar a atualização e em qual dia terminou.

V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso: Pode ser diária, semanal, quinzenal, mensal, etc.

VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados: Se houver algum desconto, é preciso apresenta-los na
memória discriminada de cálculo.

VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível: No próprio requerimento o exequente pode indicar bens
à penhora. Exemplo anterior: O exequente poderá acompanhar junto com a memória discriminada de cálculo, outra memória,
de 120,300 + 10% de honorários advocatícios e 10% de multa, com o valor de 144,600 reais, pois está prevendo que o devedor,
intimado para pagar os 120,300, não pagará nada e nem indicará bens à penhora no prazo de 15 dias. Em 15 dias o executado
não cumprirá voluntariamente a obrigação, e o oficial de justiça, munido do mandado de penhora e avaliação, se dirigirá ao
executado e realizará a penhora e a avaliação, do bem que o exequente já indicou no requerimento. Se o exequente não souber
ou não quiser indicar o bem à penhora, o oficial de justiça se dirigirá à casa do executado e perguntará se ele quer indicar um
bem à penhora. Se ele não quiser indicar, o oficial de justiça buscará na casa dele um bem a ser penhorado. O próprio executado
pode, portanto, indicar um bem à penhora que está na sua casa, se adiantando.

§ 1º Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da condenação, a execução será iniciada
pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender adequada.

§ 2º Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o prazo máximo de 30 (trinta)
dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado.

§ 3º Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do executado, o juiz poderá
requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência.

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§ 4º Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder do executado, o juiz poderá, a
requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência.

§ 5º Se os dados adicionais a que se refere o § 4º não forem apresentados pelo executado, sem justificativa, no prazo
designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe.

Intimação do executado no cumprimento voluntário da sentença que obriga a pagar quantia certa (art. 513, § 2º): O
executado será intimado para o cumprimento voluntário na pessoa do seu advogado (essa é a regra) Se ele não tiver advogado,
será intimado pessoalmente, através de carta AR. Se estiver em local não sabido ou incerto, será citado por edital.

§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:

I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos: A regra, então, é que não haja intimação pessoal
do devedor, que é intimado na pessoa do seu advogado.

II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador
constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV: Se o devedor é defendido pela Defensoria Pública, será intimado
pessoalmente, com carta AR. Se o devedor não tem procuração nos autos, também será intimado para cumprir a sentença
através de carta com AR.

III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos: Vejam, apenas no
caso de não ter procurador constituído nos autos e o processo ser eletrônico. Diz o § 1º do art. 246: “Com exceção das
microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos
sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas
preferencialmente por esse meio”.

IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento: O art. 256 fala da citação por
edital (Art. 256. A citação por edital será feita: I - quando desconhecido ou incerto o citando; II - quando ignorado, incerto
ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando; III - nos casos expressos em lei). Ocorre essa citação por edital quando
o executado se encontra em local incerto ou não sabido, e além disso foi revel na fase de conhecimento.

§ 4º do art. 513. Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a
intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante
dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo: Se a intimação para o cumprimento da
sentença for feita em prazo igual ou inferior a 1 ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será na pessoa do
advogado do devedor. Ex.: Em outubro de 2015 houve o trânsito em julgado de uma sentença que condenou “B” a pagar 100
mil reais. Hoje, em agosto de 2016, “A” apresentará a memória discriminada de cálculo e requererá a execução. Já passaram
10 meses do trânsito em julgado. “A” pedirá a intimação do devedor na pessoa do advogado dele, para que o devedor pague
o valor atualizado em 15 dias. Se por acaso passou-se 1 ano do trânsito em julgado da sentença condenatória, e “B” tem
advogado constituído nos autos, “A” apresentará o cálculo e requererá a intimação de “B” sem ser na pessoa do seu advogado,
mas na pessoa do próprio devedor (de “B”). “B” será intimado pessoalmente, em razão do decurso de 1 ano do trânsito
em julgado da sentença.

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A determinação que o § 4º faz ao art. 274 e ao § 3º do art. 513 é no sentido de que o devedor deve atualizar o seu endereço (§
único do art. 274: Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas
pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo,
fluindo os prazos a partir da juntada aos autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço). Vejam
o que poderia acontecer: O devedor reside na Rua Andrade Neves, 222, ap. 203. Foi citado no processo de conhecimento para
contestar a ação, contestou depois de contratar um advogado e perdeu a ação há 10 meses, data em que transitou em julgado
a sentença pois não houve recurso. O credor quer promover a execução. Como ainda não completou um ano do trânsito em
julgado da sentença, o credor pedirá que o devedor seja intimado na pessoa do seu advogado. Se passou 1 ano do trânsito em
julgado, o credor não pode pedir a intimação na pessoa do advogado, mas intimação pessoal, por carta com AR. O correio
levará a intimação até a rua Andrade Neves. Digamos que lá seja dito que o devedor não reside mais no local. Mesmo assim,
a intimação será considerada perfeita e acabada, pois o devedor não atualizou o seu endereço, não comunicou a
mudança ao juízo. A previsão é do § 3º do art. 513, que diz: “§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada
a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no
parágrafo único do art. 274”. O devedor se mudou e não atualizou o seu endereço. Ou o advogado sabia que o devedor se
mudou e não informou, ou o advogado não sabia de nada. Mesmo assim, a intimação feita por AR é considerada válida. Só
haverá intimação por edital quando realmente quando a parte se encontrar em local incerto ou não sabido. O devedor não pode
se esquivar.

Execução de quantia certa contra devedor solvente e contra devedor insolvente: Ex.: “B” foi condenado a pagar a “A”
200 mil reais. A sentença transitou em julgado. “B” possui um veículo no valor de 80 mil reais, e “A” sabe disso. É só este
carro que constitui o patrimônio penhorável de “B”, sendo que ele ainda possui uma casa, que é impenhorável. Que espécie
de execução “A” promoverá contra “B”? Execução de quantia certa contra devedor solvente ou contra devedor insolvente?
“B” só tem um veículo de 80 mil e foi condenado a pagar 200 mil. No mundo dos fatos, da vida real, “B” é insolvente, tem
uma dívida maior que o seu patrimônio penhorável. As duas execuções podem ser promovidas, na verdade. O exequente é
que escolherá se promoverá contra um devedor solvente ou contra um insolvente. Na verdade, a espécie é uma só (execução
por quantia certa). “B” é insolvente de fato, na vida real, mas juridicamente não é insolvente ainda, pois não há nenhuma
decisão judicial que tenha declarado cabalmente o seu estado de insolvência. Para que um devedor seja considerado
insolvente, é necessário que o juiz declare por sentença o estado de insolvência do devedor. O próprio executado pode
pedir a declaração da sua insolvência (autoinsolvência) ou o espólio do executado, representado pelo inventariante ou pelos
devedores podem requerer a insolvência do devedor já falecido. Surgirá uma sentença meramente declaratória, o juiz declarará
o estado de insolvência do devedor. Declarada juridicamente a insolvência do devedor, a única execução possível será a
execução por quantia certa contra devedor insolvente. Se o credor não quiser promover a execução por quantia certa contra
devedor insolvente, basta não pedir que o juiz declare este estado. Mesmo que o devedor esteja insolvente de fato, isto não
está declarado judicialmente, e o devedor será considerado para fins de execução como sendo um devedor solvente. A
execução a ser promovida será a de quantia certa contra devedor solvente, mas é bom que o credor saiba que pode ser que não
receba o seu crédito pelo fato de o devedor não ter bens penhoráveis. No exemplo acima, o devedor é solvente apenas porque
o juiz não declarou o estado de insolvência. Mesmo que “B” tenha apenas 80mil para pagar os 200, “A” poderá promover a

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execução por quantia certa contra devedor solvente. Receberá provavelmente 80 mil e a execução ficará suspensa, e passado
um ano começará a correr a prescrição intercorrente do título executivo. Se “B” não adquiriu nenhum bem, prescreverá a
obrigação de pagar quantia certa. “A” receberá os 80 mil e a execução ficará suspensa, e passado um ano começará a correr a
prescrição intercorrente do título. Se “B” não adquirir bem algum, prescreve a obrigação de pagar. Se “B” adquirir algum,
basta “A” pedir o desarquivamento da execução, indicar um novo bem à penhora e prosseguir para ter o crédito satisfeito.

Comportamento do executado em execução de obrigação de pagar quantia certa. Existem várias possibilidades.

1) Satisfaz a obrigação em cumprimento do mandado de intimação (15 dias): Art. 523. No caso de condenação em
quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da
sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze)
dias, acrescido de custas, se houver. § 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido
de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento. § 2º Efetuado o pagamento parcial no
prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante. § 3º Não efetuado
tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos
de expropriação). Consideremos então que ninguém requereu judicialmente a declaração de insolvência do devedor, embora
ele possa ser de fato insolvente. Pouco importa se ele tem ou não condições de pagar o crédito, pois feito o requerimento, o
devedor terá 15 dias para voluntariamente pagar o estipulado no título judicial. Se pagar nos 15 dias, extingue-se a obrigação
e a execução. O devedor citado satisfez a obrigação, em cumprimento do mandado de intimação. Senhores, este débito
de que fala o § 1º será acrescido das despesas processuais, custas é apenas a exemplificação de uma despesa processual. No
memorial discriminatório do crédito o exequente fará acompanhar, por força do art. 524, os valores devidos pelo executado.
É aí que o executado será intimado para cumprir a obrigação em 15 dias. É bom destacar que este prazo para cumprir a
obrigação não é contado em dobro, mesmo se houver litisconsórcio com diferentes procuradores. O que conta em dobro é o
prazo para impugnar ou apresentar simples petição (§ 4º do art. 525).

Em regra, o devedor será intimado para cumprir com a sentença na pessoa do seu advogado. Em regra, pois se não
possuir advogado, não se encontrar endereço certo ou sabido, intimação será por edital. Se porventura passado 1 ano do trânsito
em julgado da sentença, ainda que o executado possua advogado constituído nos autos, a intimação deverá ser feita por AR
(pessoal). Tudo isso é previsão do art. 513, § 2º, que trata das formas de intimação, e que já vimos.

Intimado o executado, como dissemos, ele poderá primeiramente cumprir a obrigação. Se pagar o devido, extingue-se a
execução. Vejamos: “Art. 924. Extingue-se a execução quando: II – a obrigação for satisfeita”. Isto se a obrigação for
cumprida integralmente no prazo estipulado. Vimos que se houver o cumprimento parcial, não se extingue a execução. Ex.:
Alguém foi condenado a pagar 200 mil reais, mas tem apenas 150mil reais. Paga nos 15 dias, 150 mil. Não acabou a execução,
ainda faltam 50mil reais, e será dada a multa de 10%, para penalizar o devedor (não é astreintes). Pode o executado, portanto,
pagar parcialmente a prestação: § 2º do art. 523 “Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os
honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante”. No próprio requerimento para intimar o devedor, o exequente pode,
se quiser, indicar bens passíveis de penhora. Ex.: Indicar dois carros do devedor.

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2) Se opor a fase executiva (15 dias). Impugnação (art. 525, do CPC), ou simples petição (art. 525 § 11 do CPC): O
executado, se não quiser pagar, poderá se opor à fase executiva. Da mesma forma que pudemos nos opor à execução de
obrigação de fazer ou não fazer, ou de entrega de coisa, podemos nos opor à execução por quantia certa contra devedor
solvente. A impugnação deve ser feita no prazo de 15 dias, independentemente de intimação. Vejam, passou os 15 dias para
pagar, e o executado não pagou, pois tem motivos para não pagar, e pretende impugnar. Terminou hoje o décimo quinto dia.
Não precisa ele de outra intimação. Amanhã começará o primeiro dos quinze dias para apresentar a impugnação. Contam-se
os dias úteis da mesma forma que na citação. Tenho 15 dias para impugnar, e alegarei as matérias previstas no art. 525,
§ 1º do CPC. O próprio art. 525 retrata, primeiro o prazo para interpor e quais as matérias. Vejamos:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para
que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. O bem
já foi penhorado? Pouco importa. Não foi penhorado? Não importa. Abre-se o prazo de 15 dias para se opor à execução, depois
de transcorrido o prazo de 15 dias para cumprir a obrigação. Segundo o professor, é possível impugnar mesmo antes do
começo do prazo de 15 dias.

§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar: Já analisamos estas matérias anteriormente. São matérias postas em um rol
taxativo. O que não vimos foi o excesso de execução, que se dá quando o exequente pleiteia quantia superior à estipulada no
título. Ex.: Quando “A” promoveu a execução contra “B”, apresentou o requerimento para “B” ser intimado e pagar em 15
dias. Apresentou a memória discriminada de cálculo. O principal era 200 mil reais. “A” usou o índice IGPM-Foro, que era de
20%, pelo prazo de dois anos. Tem mais 20%, que dá 40 mil reais, tem mais honorários advocatícios, previstos na sentença,
10%, que dão mais 20 mil reais. Temos custas processuais de 500 reais, e, temos taxa de juros nesse tempo de 10%, o que dá
mais 20 mil reais. Chegou “A” à conclusão de 285 mil reais. “B” será intimado para pagar em 15 dias 285 mil reais. Ah, se
porventura, “B” não pagar este valor, a lei manda acrescentar 10% de multa e 10% sobre o valor dos honorários advocatícios,
ou seja mais 28.500 x 2. Segue a execução com todo esse valor somado. Se “B” pagar 200 mil, cumprindo parcialmente a
obrigação, fica só 85 mil para aplicar as penalidades, aí seria menos. Na impugnação, “B” poderá alegar que o índice IGPM-
Foro está errado. Além disso, digamos que em relação aos honorários advocatícios, o juiz tenha condenado a 5%, e não a 10%
como o exequente disse. Nas custas processuais, só no que tange às custas, “B” tem justiça gratuita, não tem que pagar nada.
Ou que os juros não eram também de 10%, eram de 5%. No cálculo de quem impugnou, chegou-se ao cálculo de 228,800mil
reais, e não o valor anterior que era maior. O executado alegará na impugnação o excesso na execução. O exequente pleiteou
quantia superior à estipulada no título. Para que a impugnação possa ser aceita, se o executado alegar excesso de execução,
preciso apresentar a memória discriminada de cálculo para mostrar como chegou a este valor, e porque o exequente está
errado. Para que a impugnação seja recebida, é possível impugnar o excesso de execução, mas é preciso apresentar o cálculo,
de acordo com o § 4º do art. 525: Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia
superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando
demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo. Estamos tratando da impugnação, não de embargos à execução, mas
é possível usar como fonte subsidiária o art. 917, § 2º: Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar: § 2º
Há excesso de execução quando: I - o exequente pleiteia quantia superior à do título (Só pode-se pleitear quantia superior à
do título em execução de quantia certa); II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III - ela se processa de

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modo diferente do que foi determinado no título; IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o
adimplemento da prestação do executado; V - o exequente não prova que a condição se realizou.

O § 4º do art. 917 dá a mesma orientação do § 4º do 525, no sentido de ser obrigação do executado quando alegar o excesso
de execução, apresentar o seu cálculo: Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à
execução: I - serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de execução for o seu único fundamento:
O juiz presume que o executado está querendo ganhar tempo, fazendo um protesto genérico, dizendo que não deve o valor,
mas não dá qual é o valor real. Poderia o devedor alegar outra matéria também (em conjunto com o excesso), como a avaliação
incorreta (o bem penhorado foi avaliado por 180 mil reais, e o valor dele é de 230 mil reais). Se o devedor alegar excesso de
execução mas não apresentar a memória discriminada, o juiz rejeitará liminarmente a impugnação, se for apenas este o
conteúdo da impugnação. Se impugnou de duas maneiras, o juiz rejeitará o conteúdo do excesso da execução, mas analisará
a avaliação incorreta. Pode ser que o juiz reforme a decisão, mesmo que não analise o excesso de execução, atribuindo valor
ao bem penhorado de 230mil reais no nosso exemplo: II - serão processados, se houver outro fundamento, mas o juiz não
examinará a alegação de excesso de execução.

Surgindo fato superveniente, por simples petição a parte poderá se manifestar, contrariando este fato. Aqui não é impugnação,
é simples petição, também no prazo de 15 dias, mas contamos este prazo da ciência da parte em relação à ocorrência do
ato superveniente, e não da término do prazo de cumprimento voluntário da sentença (como é na impugnação). Ex.: Ainda
não foi avaliado nem penhorado o meu carro. Eu deveria alegar, por força do art. 525, a penhora incorreta ou avaliação errônea
em sede de impugnação. Ocorre que eu apresentei a impugnação, passou o prazo de 15 dias, e só depois o oficial de justiça
foi a minha casa e penhorou o meu carro. A impugnação não tem efeito suspensivo, mas ainda que tivesse, a penhora e a
avaliação poderiam ocorrer (pois são atos que não trazem danos ao executado). Mesmo que o juiz dê efeito suspensivo, o
oficial de justiça avaliará e penhorará o veículo, e isso foi feito depois que eu, devedor, apresentei a minha impugnação. Tenho
que alegar a avaliação errônea depois da impugnação, em sede de simples petição. Não tem problema, tenho 15 dias para
alegar por simples petição a avaliação errônea. Comprovarei com intimação da penhora feita a mim, que tenho o prazo de 15
dias para apresentar a simples petição (e portanto eu apresentei a simples petição tempestivamente), e o juiz decidirá se o meu
carro foi avaliado corretamente ou não.

3) Permanecer inerte: Não cumpriu o mandado. Expedição do mandado de penhora e avaliação (art. 523, § 3º do CPC):
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação,
seguindo-se os atos de expropriação.

Legitimidade do devedor (art. 526 do CPC): Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da
sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, apresentando memória discriminada
do cálculo. § 1º O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor depositado, sem prejuízo do
levantamento do depósito a título de parcela incontroversa. § 2º Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a
diferença incidirão multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a
execução com penhora e atos subsequentes. § 3º Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá
o processo.

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4) Protesto do título executivo judicial (art. 517 do CPC).

Procedimento e requisitos: 1) Trânsito em julgado da decisão; 2) Decurso do prazo de 15 dias: Pode o título executivo
judicial sofrer protesto extrajudicial. Levo a protesto a decisão judicial transitada em julgado que prevê a obrigação de pagar
quantia certa, desde que o título executivo judicial seja certo, líquido e exigível. Por ser possível apenas em relação a
decisões que transitaram em julgado, não se admite protesto em relação à títulos que permitem apenas a execução
provisória (sempre deve ser execução definitiva). São, porém, protestáveis todas as decisões que o NCPC qualifica como
títulos executivos judiciais, inclusive a sentença arbitral e as decisões homologatórias de autocomposição. O protesto só pode
ser efetivado após o decurso do prazo de 15 dias. É bom também dizer que o protesto se refere apenas às sentenças que
condenam ao pagamento de quantia certa (não cabe em obrigação de fazer ou entrega de coisa, mas será possível nessas
modalidades se houver a conversão ao equivalente econômico). O protesto é meio de prova que tem a finalidade de tornar
claro o inadimplemento da obrigação, dando publicada da mora do devedor. Dá mais efetividade ao cumprimento da decisão,
pois abala o acesso do devedor a crédito.

Se porventura o exequente estiver cometendo um ilícito, responderá pelas perdas e danos que causar ao executado. O prejuízo
é falta de crédito, pois quando há protesto de título, a pessoa protestada perde seu crédito.

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o
prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523: Os dois requisitos do protesto estão aqui, o trânsito em julgado e o
decurso do prazo de 15 dias para o pagamento voluntário da quantia certa (que é o prazo dado pelo art. 523, quando fala da
condenação à obrigação de pagar quantia certa).

§ 1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão: O protesto será pleiteado pelo
credor, junto ao Tabelião de Protesto de Títulos, mediante apresentação de certidão de teor da decisão. Pego o título
executivo judicial e levo no cartório judicial. O título está nos autos da ação. Terei de pedir ao cartório judicial certidão
comprobatória da existência do título. Pedirei para que se expeça a certidão. Com esta certidão, me dirigirei ao cartório de
protesto do título executivo judicial.

Não poderá, em regra, o protesto ser promovido de ofício, por determinação do magistrado, salvo no caso de sentença que
condene a prestação de alimentos (art. 528, § 1º)

§ 2º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do
exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário:
O cartório judicial, do local em que foi proferida a sentença, expedirá uma certidão comprobatória no prazo de 3 dias. Este
prazo conta-se do requerimento do exequente. A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida, pelo cartório judicial, no
prazo de três dias e indicará os nomes e qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e
a data em que transcorreu o prazo de quinze dias para pagamento voluntário. Este prazo de 15 dias é o prazo que transcorreu
em branco sem que houvesse o pagamento voluntário, sem que o devedor cumprisse voluntariamente com a sentença.

§ 3º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e
sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado: Existindo ação rescisória
proposta pelo executado visando desconstituir a decisão que está servindo de título executivo judicial, pode o executado

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requerer, sob sua responsabilidade e despesas, a anotação da propositura da ação rescisória à margem do registro do
protesto. Ex.: Os senhores (vocês) promoveram o protesto contra mim de uma sentença, sendo que eu não fui citado. Estou
promovendo a ação rescisória em razão de não ter ocorrido a citação. Neste caso, posso registrar no protesto que há ação
rescisória. A averbação dá apenas publicidade à existência da ação rescisória, então não é o fato da simples existência da ação
rescisória (sem a ação do executado de pedir a averbação) que fará com que se averbe. Ainda, só vale averbação da ação
rescisória (não vale para qualquer outra ação, só para essa, que pode desconstituir a coisa julgada).

§ 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao
cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral
da obrigação: O protesto será cancelado por ordem judicial, que deve ser requerida pelo executado, mediante expedição
de ofício ao cartório, no prazo de três dias, contato da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação
integral da obrigação. O executado pode retirar do protesto o título, e fará isso cumprindo com a obrigação. Não haverá mais
motivo para continuar protestado o título, e o executado requererá ao juiz que determine ao cartório para cancelar o protesto,
em razão da extinção da execução.

Além do protesto, a sentença que determina o pagamento de quantia certa se sujeita a anotação em cadastros de
inadimplentes nos termos do art. 782, § 3º. Essa inserção do nome do executado em cadastro de proteção ao crédito está
prevista no referido dispositivo legal como medida própria da execução de título extrajudicial, entretanto o § 5º do art. 782
autoriza sua aplicação também à execução de título judicial, mas apenas quando a execução for definitiva. A anotação em
cadastros de inadimplentes não se aplica, portanto, à execução provisória.

Do cumprimento de sentença. Execução de prestação alimentar (arts. 528, 529, 530, 531, 532 e 533 do CPC)

Geralmente se tem a ideia de que quem paga alimentos é o pai para o filho, ou o avô para o neto, por exemplo. Pode a prestação
alimentar, entretanto, decorrer até de ato ilícito, entre outas hipóteses pouco usuais. A primeira forma de execução que temos
é por ato ilícito, com constituição de renda, onde o que for produzido será pago ao credor. Existem outras três formas de
execução de prestação alimentar, quando a relação é de paternidade ou maternidade. A mais utilizada e que menos dará
trabalho, em razão de não ter inadimplência, ocorre quando o devedor, o pai ou a mãe, são regidos pela CLT ou diretores de
empresa, ou funcionário público, ou qualquer outra forma de recebimento de salário, em que haja folha de pagamento. Pode
ser funcionário público, militar, regido pela CLT, diretor de empresa, e há desconto diretamente na folha de pagamento. É a
melhor forma pois impossibilita o inadimplemento. Explicaremos todas as formas mais adiante.

Procedimento (execução especial de alimentos, sob pena de prisão civil do devedor):

1) Decisão: A decisão que obriga a pagar alimentos pode ser uma sentença ou decisão interlocutória. Se houver antecipação
dos efeitos da tutela será decisão interlocutória, em regra. Na ação de alimentos, se a parte não afirmar que não quer alimentos
provisórios, o juiz, de iniciativa própria, denominará uma porcentagem de alimentos provisórios. Essa “decisão” pode ser
sentença proferida na ação de alimentos definitivos ou por decisão interlocutória em alimentos provisórios. O novo CPC
trouxe para o âmbito do cumprimento de sentença a execução das decisões definitivas ou interlocutórias que fixem alimentos,
conforme o art. 528. Dispensa-se a instauração de ação executiva autônoma, bastando o requerimento do exequente pedindo

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a intimação do executado no próprio procedimento originalmente instaurado pelo credor, quando for decisão definitiva
(§ 2º do art. 531: O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que
tenha sido proferida a sentença) ou em autos apartados, quando for decisão provisória (§ 1º do art. 531: A execução dos
alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se processa em autos
apartados). O regramento previsto nos arts. 528 e seguintes do CPC aplica-se tanto aos alimentos definitivos quanto aos
provisórios (Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios).

2) Requerimento do exequente (art. 528, caput, CPC). Competência do juízo (art. 528, § 9º, CPC): Art. 528. No
cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos,
o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar
que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo: Este requerimento apresentará o valor devido, com a memória
discriminada de cálculo. No próprio requerimento o credor indicará bens do devedor à penhora. No requerimento o credor
poderá optar por executar a obrigação observando as regras do cumprimento de sentença em que se reconhece a exigibilidade
de obrigação de pagar quantia certa (mas aí não será admitida a prisão do executado) ou seguir no procedimento específico
que permite a prisão (art. 528, § 8º). As regras de competência que veremos a seguir valerão da mesma maneira para as duas
formas de execução.

O requerimento será direcionado, em regra, ao juízo da ação (a regra geral de competência de que o juízo da ação é o juízo
da execução, art. 516, II). Ex.: Quem condenou meu pai a pagar alimentos é o juiz da segunda vara de família. Endereçarei o
requerimento a este juízo, acompanhado da memória discriminada de cálculo. Meu pai será intimado para pagar em 3 dias.
Esta é a competência geral. Pode o exequente, entretanto, optar por outros juízos competentes, em virtude da previsão do § 9º
do art. 528 c\c art. 516, § único: § 9º Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover o
cumprimento da sentença ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio. Diz o
art. 516 do CPC: Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: II - o juízo que decidiu a causa no primeiro
grau de jurisdição; Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio
do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada
a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. Esta
nova competência foi dada porque o credor nem sempre pode se dirigir ao foro da competência geral. Ficamos, então, com 4
opções de juízos competentes na execução de alimentos:

O próprio juízo que proferiu a decisão a ser executada -> Regra geral do art. 516, II;

O juízo do domicílio do exequente -> Regra especial do art. 528, § 9º;

O juízo do atual domicílio do executado -> Regra do § único do art. 516;

O juízo do local onde os bens sujeitos à execução se encontram -> Regra do § único do art. 516;

3) Intimação pessoal do executado, para no prazo de 3 dias: A intimação não é na pessoa do advogado (como era na
execução de quantia certa), mas na pessoa do executado, para que pague a quantia estipulada no requerimento. Como a ação
de alimentos tem a característica particular da celeridade, o prazo de 3 dias é para fazer tudo que está abaixo.

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a) pagar o débito: Extingue-se a execução.

b) provar que o fez: Extingue-se a execução.

c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo: Pode haver a apresentação de justificativa pelo executado, que comprove
impossibilidade absoluta de adimplir as prestações. Para justificar, basta apresentar petição, não sendo necessário fazer isso
na impugnação. Se a justificação for aceita, o inadimplemento é tido como justificado e cessa a execução (art. 528, § 2º). Se
a justificação não for aceita, haverá protesto e decretação da prisão civil (§ 3º do art. 528).

Tem que ter cuidado, pois para ser plausível a justificativa não serve dizer “não tenho dinheiro”. Se fosse assim, o pobre
poderia deixar o filho morrer de fome por falta de dinheiro, e o rico não. O executado precisa buscar dinheiro, pois é a vida
do filho, do credor, que está em jogo. Não é motivo plausível dizer “estou desempregado”. O juiz perguntará: “Como o senhor
vive”? e o devedor dirá “vendo latinhas”. Então o juiz estabelecerá, por exemplo, que será devido 30% do que o executado
ganhar com as latinhas. É por isso que o § 2º do 528 diz: § 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade
absoluta de pagar justificará o inadimplemento.

d) permanecer inerte: Se o executado permanecer inerte, não justificando por que não cumpriu a obrigação ou não provando
que a cumpriu, será decretada a sua prisão civil, pelo prazo de no mínimo 1 e no máximo 3 meses, além do protesto (§§ 3º e
4º do art. 528).

4) Ordem de protesto extrajudicial do título (art. 528, § 1º) e decretação da pena de prisão (art. 528, § 3º): § 1º Caso o
executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da
impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no
art. 517. Completa o § 3º: § 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de
mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.
O juiz, ao ver que o executado permaneceu inerte (não justificando o não cumprimento da obrigação, não a cumprindo ou não
provando que a cumpriu) de ofício ordena o protesto extrajudicial do título (aplicando-se, no que couber, as regras do art.
517) e decreta a pena de prisão do devedor.

Se o devedor pagar depois dos 3 dias (antes de ser preso), a parte pedirá que o juiz não se cumpra o mandado de prisão.

Se o devedor pagar já estando preso, alguns advogados costumam tirar cópia autenticada da sentença e vão ao presídio para
levar o seu cliente. Está errado, pois o que é necessário é um alvará de soltura (ordem judicial). Mostrar para o diretor que
extinguiu-se a execução com a cópia da sentença não é motivo suficiente para liberar o preso.

A prisão do devedor será feita em local distante dos presos comuns, pois sabemos que a prisão é uma escola para o crime.
Deverá o executado ficar em celas separadas dos presos comuns.

Levantamento da quantia (art. 528, § 8º): § 8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão
desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado,
e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante
mensalmente a importância da prestação. Haverá um requerimento do exequente em que será apresentado o cálculo, e o
executado será intimado para cumprir a prestação em 15 dias. É uma execução por quantia certa (regida por seus princípios).

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O exequente optou por esta espécie de execução (não sendo admissível a prisão do executado nestes casos, será sob pena de
penhora a execução). Se o executado cumprir em 15 dias, termina a execução. Se não cumprir, haverá a incidência de 10% de
multa, de honorários advocatícios, e o valor já não será mais o valor original, e se o exequente quiser, indicará um bem à
penhora. Então, se o exequente quiser (é uma opção, fica a critério do credor) pode escolher a execução por quantia certa
(e a execução será sob pena de penhora) ou promover a espécie de execução especial em que é possível a prisão civil do
devedor. Se o exequente optou pelo regime da execução de quantia certa, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de
efeito suspensivo a eventual impugnação não impedirá o levantamento mensal do valor da prestação por parte do
exequente, conforme a orientação do § 8º.

Este procedimento da prisão civil só pode ser em relação às três últimas prestações alimentares. Ex.: Meu pai não pagou o
mês de abril, maio e junho. Não havia desconto em folho, pois se houvesse, não haveria inadimplemento. Se for 10 meses de
inadimplemento, executo os últimos 3 meses sob pena de prisão, e os outros 7 sob pena de penhora. Se eu optar pela prisão,
no máximo serve para as 3 prestações anteriores inadimplidas. § 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no
curso do processo. Se eu promovi a execução de três meses, e ainda assim venceu um quarto mês, não preciso promover esse
quarto mês como execução por quantia certa. As prestações que forem sendo vencidas acompanham a execução, sob pena de
prisão. Se a parte não pagar, poderá sair da cadeia com uma dívida de três meses, e se passar, mais três meses, quando sair,
pois a prisão não faz com que a dívida seja cumprida. Ela é apenas uma forma de coação. E se o devedor não conseguir
pagar por estar preso? Alguém certamente pagará no lugar dele. Ex.: Executei um pescador. Não tinha condições de pagar
pois estava preso, mas os seus amigos pescadores o ajudaram.

Desconto em folha de pagamento (art. 529 e art. 532 do CPC): Art. 529. Quando o executado for funcionário público,
militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto
em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia. Na execução por desconto em folha, o credor entra com a
ação de alimentos, e na própria petição inicial pede, por exemplo, que o pai que é regido pela CLT, funcionário público, militar
ou diretor de empresa, seja condenado a pagar uma quantia mensalmente. O credor pedirá ao juiz para intimar o empregador
do devedor para que ele promova o desconto da prestação alimentar em folha de pagamento, já indicando na própria
petição inicial que deverá ser aberta conta em nome da representante do menor autor. O credor pedirá que se faça um
depósito dessa quantia descontada da folha de pagamento, e o depósito seja feito em uma conta a ser aberta, por ordem do
juiz, em nome da representante do menor. Abre-se uma conta em nome da mãe da criança, e todo mês a mãe se dirigirá ao
banco, retirando a quantia para a manutenção do menor. Detalhe, embora o menor seja o autor da ação, não deve ser pedida a
abertura de conta corrente em nome do menor. Se for a mãe que abrir a conta no banco, pagará pelo valor da manutenção da
conta. Se porventura o juiz mandar abrir uma conta em nome da mãe, ela não pagará nada.

A vantagem desta espécie de execução é que o devedor nunca descumprirá a obrigação. É o empregador que deverá ter
a obrigação de descontar em folha, sob pena de cometer o crime de desobediência. O juiz intimará o empregador para promover
o desconto em folha de pagamento. A representante do menor pode se dirigir à empresa, ou depositar o empregador o valor
na conta da representante. Será protocolado um ofício, e no momento em que o devedor receber, já se dará o desconto. Ex.:
Hoje foi protocolado o ofício. O devedor recebe no dia 2 de agosto. Dia 2 de agosto será o primeiro desconto que o empregador

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irá fazer. Se o empregado mudar de emprego, é preciso existir um novo ofício, se desarquivará a execução e o juiz deve intimar
o novo empregador para fazer o desconto. Se o empregado sair do emprego e não pagar as parcelas, existirão parcelas não
pagas (ex.: 4 mil em atraso, 2 parcelas atrasadas). O que ficou atrasado, será pago. Não será descontado em folha, pois não há
ou não havia emprego, e posso recorrer à outra espécie de execução. Estas parcelas atrasadas podem recair sobre o dinheiro
para receber, sobre uma moto, um carro, uma casa, qualquer coisa.

Não há limites para o pagamento por desconto em folha, mas há limites se for em relação à parcelas vencidas. O comum
e usual é que o valor estabelecido seja de 30%, mas poderia estipular um valor de 60% tranquilamente, cuidando claro para
não impossibilitar o devedor de viver, pois na ação de alimentos se leva em conta a possibilidade do devedor.

§ 1º Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de
desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício. Digamos
que hoje tenha sido intimado o empregador, por ofício, para haver o desconto. Quando o exequente receberá o dinheiro? Dia
5 do mês que vem, haverá o primeiro desconto em folha de pagamento, é quando o exequente receberá. Se não houver o
desconto, ocorrerá o crime de desobediência.

§ 2º O ofício (expedido pelo juiz) conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do
executado, a importância a ser descontada mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o depósito.
Está aí a forma de não haver o descumprimento da obrigação da execução de obrigação alimentar.

§ 3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode ser descontado dos rendimentos
ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não
ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos. Vejam o que poderia acontecer: Digamos que o executado tenha que
pagar mensalmente, 2 mil reais. Ele foi demitido, e o credor não soube disso, e por isso não promoveu outra execução. Durante
3 meses, o executado não pagou a pensão, gerando uma dívida de 6 mil reais. O executado deixou de pagar 3 meses os 2 mil
reais, e a parte está esperando para receber. O pai está desempregado, mas está conseguindo um novo emprego, que pagará o
valor de 10 mil reais mensais. Está ganhando mais, antes ganhava só 6 mil reais mensais. O que fará o filho? Pedirá ao juiz
que intime o novo empregador para promover o desconto. O valor aumentou, pois foi estipulado 30% do salário, que antes
era de 6 mil e agora é de 10 mil. Três parcelas anteriores não foram pagas, venceram, totalizando 6 mil de dívida. Ele deve
agora 3 mil mensais (relativos aos 30% do novo salário) e mais 6 mil reais das parcelas vencidas. Este pai não tem praticamente
bens, tem só o salário. O filho pode pedir que estes 6 mil sejam parcelados, em no máximo 3 parcelas de 2 mil reais. Porque
no máximo 3 parcelas de 2 mil? Porque o exequente está promovendo a execução de 6 mil reais, e irá pedir a penhora do
salário, não de bens materiais. O filho pode promover a execução dos 6 mil reais, mas não pode ultrapassar a metade do
salário do devedor (50%). Isso porque em alguns casos, o devedor tem duas famílias, e não pode ficar sobrecarregado. Se
por acaso o credor tivesse obrigação de pagar 50% do salário, não teria como parcelar essas parcelas vencidas. A pessoa,
então, tem o salário, e não há a necessidade de penhora de bens materiais, pois já se penhora o dinheiro do salário.

Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao Ministério Público
dos indícios da prática do crime de abandono material. Este artigo serve para qualquer espécie de execução de prestação
alimentar. Se o devedor usa instrumentos procrastinatórios (buscando ganhar tempo para deixar o credor à míngua), em tese,

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está cometendo abandono material. Ex.: Tendo que indicar um bem à penhora, não indica, mesmo tendo o bem. É obrigação
do juiz informar ao MP, para possível prática de crime de abandono material.

Execução de prestação alimentar decorrente de ato ilícito. Art. 533 do CPC (constituição de renda): Art. 533. Quando
a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir
capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. Os alimentos legítimos são os que se originam das
relações de direito de família. Os alimentos indenizatórios são os que servem para indenizar danos provenientes de ato ilícito.
O procedimento do cumprimento de sentença dos arts. 528 a 532 diz respeito apenas aos alimentos legítimos. Os alimentos
remuneratórios executam-se pelas vias do cumprimento de obrigação de pagar quantia certa (acrescido das regras do
art. 533).

O que é considerado ato ilícito pode variar. Pode ser um acidente de veículo. Ex.: Eu, professor, vinha do Laranjal dirigindo
meu veículo, não vi uma pessoa atravessar a faixa, e atropelei esta pessoa. Este senhor possuía 60 anos de idade, e mantinha
uma família. Sua mulher era paraplégica, a vida dele era ruim. Este senhor tinha 8 filhos, todos crianças, e recebia dois salários
mínimos. Fui condenado a indenizar este homem, com uma prestação de natureza alimentar. Precisarei pagar mensalmente 2
mil reais, por ter provocado a morte deste senhor. Até quando? A sentença disse determinou que seria o tempo da média de
vida do brasileiro. A regra geral é, pois, que o culpado pela morte deva alimentar os dependentes da vítima pelo tempo
equivalente à duração presumível de sua vida e enquanto mantida a condição de dependentes dos beneficiários. Devo pagar
por 18 anos, 2 mil reais mensais. Quando a prestação de caráter alimentar decorrer de ato ilícito, o juiz determinará que eu
constitua renda (o professor chama de constituição de renda, o livro chama de constituição de capital) para pagar este valor
da prestação alimentar. Alguém me dirá, que renda? Digamos que eu tenha 1 milhão de reais aplicado em fundos de ações.
Eu vivo deste dinheiro. O juiz pedirá que este dinheiro continue aplicado, mas sofrerei uma afetação patrimonial, não poderei
mexer neste dinheiro. Dos 2 mil reais não poderei me desfazer, e o valor será repassado mensalmente aos filhos e à mulher do
falecido. É uma forma de cumprimento da obrigação. Sou obrigado a constituir renda. Se eu não tenho dinheiro, mas tenho
imóveis, sem problema. Vivo apenas do meu salário e da renda dos apartamentos. Cada apartamento está alugado por mil
reais mensais. O juiz afetará dois apartamentos meus, para que esta renda seja entregue mensalmente durante 18 anos aos
autores da ação de indenização que também trouxe prestação alimentar. Tenho meu patrimônio afetado, estes dois
apartamentos não podem ser penhorados nem alienados enquanto a prestação persistir, por 18 anos. É claro, se a parte não
tem condições de constituir renda ou apresentar bens que possam trazer rendas para pagar, é evidente que não existirá
constituição de renda, e se for preciso haverá execução por quantia certa contra devedor solvente, penhorando se tiver bens
penhoráveis, para que a parte receba. A constituição de renda é apenas em caso de ato ilícito. Se forem alimentos devidos
para pais ou filhos, temos outras espécies de execução, que foram vistas anteriormente (arts. 528 a 532).

§ 1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação,
títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a
obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação. A constituição de capital visa garantir o
adimplemento da obrigação alimentar originada da prática de ato ilícito, mediante um patrimônio de afetação dos bens do
executado, o que depende sempre de requerimento do interessado. Então, vejam, quando o patrimônio, as rendas ou os bens
forem constituídos como patrimônio de afetação (bens que não se sujeitam a responder por outras obrigações do executado),

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evidente que se tornam inalienáveis e impenhoráveis (enquanto subsistir a obrigação), pois se não assim não fosse, não
constituiriam renda e não garantiriam a prestação dos alimentos ao credor.

O capital poderá ser representado por imóveis, por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação, por títulos da dívida
pública ou por aplicações financeiras em banco oficial.

O montante da constituição de capital será definido por meio de liquidação de sentença. O rito variará conforme o tipo de
operação necessária para aferir o bem garantidor. Pode ser um simples cálculo da própria parte até liquidação por arbitramento
ou pelo procedimento comum.

§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica
de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser
arbitrado de imediato pelo juiz. A critério do juiz, a constituição do capital (representado ordinariamente por imóveis, direitos
reais sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras) poderá ser substituída por
uma das seguintes medidas: a) inclusão do exequente em folha de pagamento; b) fiança bancária; c) garantia real, em valor
a ser arbitrado de imediato pelo juiz. Exemplo de inclusão em folha de pagamento: Sou dono de uma empresa, e ela é
economicamente forte aqui em Pelotas. Atropelei um senhor. A minha empresa é uma PJ, com diferente personalidade jurídica
em relação à minha. Como sou o único dono, não quero colocar os meus bens e minhas rendas empresariais de forma afetada,
pois preciso destas rendas e bens para o exercício da atividade empresarial. Deixo a minha casa e meus bens como forma de
cumprimento das obrigações empresariais. Se eu afetar o patrimônio, minha empresa decairá aos poucos. Mas posso colocar
a quantia de 2 mil reais, paga mensalmente, durante 18 anos, como se fosse o pagamento de um salário a algum empregado.
Incluo na folha de pagamento da PJ a prestação alimentar decorrente de ato ilícito. Se a empresa for à falência, o juiz
determinará que eu constitua renda ou traga patrimônio para pagar os meses que faltam.

A substituição por inclusão em folha de pagamento é decisão do juiz, tomada independentemente de requerimento ou de
concordância do exequente e do executado. A fiança bancária e a garantia real, por sua vez, apenas podem ser requeridas
pelo executado.

§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou
aumento da prestação. Os alimentos, sejam definitivos ou provisórios, não fazem coisa julgada. A qualquer momento a
prestação de alimentos pode ser revista. Pode se propor uma ação para exonerar, aumentar ou diminuir a prestação de
alimentos. Basta que as condições do autor sejam mudadas, ou as possibilidades do réu se modifiquem. Pode acontecer que o
autor também não mais necessite dos alimentos. Neste caso, o devedor poderá promover uma ação de exoneração de prestação
alimentícia. Isso não tem nada a ver com a idade. Alguns dizem que com 21 anos acabou a prestação. Eu com 50 ou o meu
pai com 85 anos podem pedir alimentos ao filho, se assim necessitarem. Geralmente se chega ao parâmetro dos 21 anos, pois
os filhos trabalham e não há mais necessidade de receber os alimentos. Agora, cuidado, tivemos aqui um caso de dois alunos
da UCPEL, os dois eram de família pobre, tinham bolsa, e os pais eram separados. O pai pagava parte da bolsa, de 25% para
cada um dos filhos, com muito esforço. Quando chegou aos 24 anos, faltava 1 ano para os filhos terminarem a faculdade de
medicina. O pai chamou os filhos e disse: Trabalhem como enfermeiros em qualquer hospital, e paguem sua faculdade. Os

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filhos tentaram emprego nos hospitais, mas o salário não dava para pagar a faculdade de medicina, e mesmo se pagasse a
faculdade, como eles comeriam? Não há como. Ficaram desesperados. Deveriam ter direito a alimentos, neste último caso.

§ 4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo: Simplifica-se o problema da correção
monetária, diante da multiplicidade de índices existentes no mercado.

§ 5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as
garantias prestadas: Deverá ser cancelada a cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade sobre o capital vinculado
à execução, restabelecendo-se sobre ele a plena disponibilidade do devedor. Se for o caso de desconto em folha, dar-se-á seu
encerramento, e se houver garantias de qualquer espécie serão canceladas. Em qualquer caso, porém, os interessados deverão
solicitar a decisão do juiz da execução, a quem compete determinar o cancelamento ou a exoneração mencionados

Execução de título extrajudicial. Processo autônomo. Ação executiva

A primeira coisa que temos que fazer é esquecer das execuções baseadas em título judicial. Elas tem um procedimento muito
parecido, em alguns casos, com as execuções que veremos, como a de obrigação de fazer, mas estas que estudaremos serão
baseadas em título extrajudicial. Toda execução que é baseada em título extrajudicial é diferente da execução de título
judicial já no seu começo.

Na execução de título extrajudicial, teremos um processo autônomo de execução. Qualquer execução que tenha por base
título extrajudicial começará com uma petição inicial, sendo que a execução de título judicial começou com um
requerimento. Na execução de título judicial (cumprimento de sentença), o que começou com petição inicial foi o processo
de conhecimento que fez surgir a sentença (o próprio título judicial). Ao obter o título judicial, se preciso fosse, através de um
requerimento o credor começava a fase executiva. Aqui, como o título é extrajudicial já possuímos o título executivo. O
legislador dá a possibilidade de que o legitimado promova diretamente a execução do título extrajudicial, por meio de ação
executiva. A jurisdição será provocada através da petição inicial (e apenas assim o juiz prestará a tutela jurisdicional, em
virtude do princípio da inércia).

Título extrajudicial. Execução de obrigação de fazer (art. 815 até 821 do CPC):

Procedimento da execução de obrigação de fazer

1. Petição inicial (arts. 319 e 798 do CPC): A petição inicial da ação executiva obedece aos mesmos requisitos exigíveis da
petição inicial das ações de conhecimento (art. 319). Segundo o professor, não é necessário requerer a citação do executado.
Na verdade, no sistema do NCPC não é necessário requerer a citação do réu nem mesmo no processo de conhecimento,
visto que o art. 319 excluiu essa necessidade presente no antigo CPC. O executado não será citado para contestar a execução,
já que não existe contestação na execução. Isso não faz com que o processo de execução seja iniciado sem que haja
possibilidade de ampla defesa, posto que há chance de defesa, mas não é através de contestação, e sim através de embargos à
execução.

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Vimos que quando o título é judicial a forma de se opor ao cumprimento de sentença é a impugnação e a simples petição.
Aqui, temos uma forma de se opor à execução, só que com natureza de ação de conhecimento (embargos à execução). Ex.:
O credor propõe contra o devedor a execução de um cheque, e o devedor quer se opor. O devedor se oporá por meio de uma
ação (os embargos à execução). Ele será executado num processo autônomo de execução, ao mesmo tempo em que será autor
de uma ação de oposição (os embargos). O credor será exequente na ação executiva mas será réu nos embargos. Os polos se
invertem.

Na petição inicial da ação executiva é preciso indicar o juízo competente (Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a
que é dirigida). Em título executivo judicial, vimos que a regra geral é a de que o juiz da ação é o juiz da execução. Aqui
haverá de ser eleito o juiz competente pelas regras próprias para título extrajudicial (art. 781) ou de acordo com as regras
colocadas em lei específica, de acordo com o tipo de título executivo extrajudicial.

Como estamos falando de um processo que não é de conhecimento, na petição inicial da ação executiva, pelo menos um
requisito não é necessário: O pedido para haver ou não mediação ou conciliação entre as partes. Não há necessidade
deste requerimento na execução. Ele é exigido nas ações de conhecimento como requisito da petição inicial.

O segundo requisito que talvez não seja necessário são os meios de prova que o autor pretende utilizar. Isso porque quando
fazemos uma petição colocamos o tradicional “protesta por todos os meios de prova, requerendo o depoimento pessoal do
réu”, por exemplo. Na ação executiva, entretanto, é indispensável que o credor faça acompanhar na petição inicial um único
documento, qual seja, o título executivo extrajudicial. Este estará em poder do exequente, e deve obrigatoriamente estar na
peça inicial. O exequente não precisa botar esse pedido de “protesta por todos os meios de prova”, pois em regra a única prova
que a lei exige dele é o acompanhamento do título extrajudicial na petição inicial. A previsão é da alínea a) do inciso I do art.
798: “Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: a) o título executivo
extrajudicial”.

Ocorre que nem sempre apenas o título extrajudicial bastará. Por vezes pode acontecer de o exequente ter de provar a
ocorrência do termo ou da condição suspensiva, conforme a alínea c) do inciso I do art. 798: “c) a prova de que se verificou
a condição ou ocorreu o termo, se for o caso. Como vimos na execução de título judicial, o prazo (termo) é mais fácil de ser
provado, a condição suspensiva é mais difícil. Ex.: “A” fez um contrato com “B”, assinado por “B” e duas testemunhas. Neste
documento particular, que é título extrajudicial, “A” contratou “B” para fazer m muro, e “B” cobrou 5 mil reais para isso. Mas
para fazer o muro, convencionou-se que este só deveria ser feito se “B” se formasse em engenharia. Quando “B” se formar
em engenharia, basta se dirigir à faculdade dele e retirar uma certidão que mostra que ele está formado. “A” terá o título
executivo extrajudicial (alínea a) e instruirá a petição inicial com a prova da verificação da condição, a certidão (alínea c). O
título será líquido, certo e exigível. Se o exequente tem prova documental, o próprio art. 798, inc. I, alínea c), ordena que ele
instrua a petição inicial da ação executiva com a prova da ocorrência da condição ou do termo. Esta prova deve acompanhar
desde logo a petição inicial.

Emenda da petição inicial da ação executiva (art. 801): Se não for anexado à petição inicial o título executivo ou qualquer
dos documentos exigidos pelo art. 798, o juiz dará ao exequente 15 dias para emendar a petição inicial. A previsão é do art.
801: Art. 801. Verificando que a petição inicial está incompleta ou que não está acompanhada dos documentos

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indispensáveis à propositura da execução, o juiz determinará que o exequente a corrija, no prazo de 15 (quinze) dias, sob
pena de indeferimento.

O juiz não indeferirá liminarmente a petição se verificar que ela está incompleta. Ele a receberá e depois dará 15 dias para
a emenda. Passando em branco os 15 dias e não sendo emendada a petição inicial pelo exequente, a mesma será indeferida,
e por força do art. 924, I, do CPC, será extinta a execução (Art. 924. Extingue-se a execução quando: I - a petição inicial for
indeferida). A petição inicial será indeferida, pois estava incompleta (e mesmo assim o juiz pediu para o autor emenda-la e
ele não o fez), desacompanhada do título ou da prova de que ocorreu a condição ou o termo, ou sem algum requisito do art.
319. O juiz antes de mandar citar o réu, então, determinará que o exequente emende a petição inicial, dando-lhe o prazo de 15
dias para isso. Se for emendada, prossegue a execução com a citação do executado para que querendo, cumpra com a obrigação
no prazo estipulado pelo juiz ou pelo título. Se o exequente não emendar a petição no prazo dado pelo juiz (15 dias), neste
caso, o juiz indeferirá a petição inicial e pronunciará através de sentença a extinção do processo de execução por força do art.
924, I, sem julgamento de mérito. Restará ao exequente promover novamente a ação executiva, devendo para isso pagar
novamente as custas processuais. O indeferimento da inicial extingue a execução.

2. Despacho do órgão julgador, estabelecendo citação (art. 815), fixando honorários advocatícios (art. 827), estipulando
astreintes (814) e o prazo para o cumprimento da obrigação (815): Sabemos que quando qualquer ação começa, é preciso
haver citação. Por isso diz o art. 815 “Art. 815. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será citado
para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe designar, se outro não estiver determinado no título executivo”. Desse modo, na
execução de título extrajudicial também é necessário que se dê o conhecimento da ação executiva ao executado. O juiz, ao
receber a petição inicial, desde que ela esteja completa, despachará, nos seguintes termos: “Determino a citação do réu, para
cumprir com a obrigação no prazo tal”. Mas afinal, qual será o prazo?

O CPC não diz exatamente qual é o prazo para o cumprimento da obrigação. O art. 815 fala que o juiz determinará o prazo,
se outro não existir no título executivo (no prazo que o juiz lhe designar, se outro não estiver determinado no título
executivo). O prazo pode ser estabelecido, portanto, ou pelo juiz ou pelo próprio título extrajudicial. Ex.: Há um contrato
assinado por duas testemunhas e pelo devedor. O devedor não fez o muro e o credor pagou os 5 mil reais. O devedor foi citado
pelo juiz na ação de executiva para cumprir a obrigação no prazo de 10 dias, pois no contrato assinado constava uma cláusula
com o prazo de 10 dias.

Não havendo prazo no título, o juiz fixará um prazo no mandado citatório. É bom dizer que é o bom senso da autoridade
julgadora que determinará o prazo necessário e razoável para a parte cumprir a obrigação, afinal o prazo deve ser elaborado
de acordo com o tipo e a complexidade da obrigação. Ex.: O contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas não
estipulou prazo. O juiz deve determinar o prazo na citação, mas este prazo não pode ser pequeno, afinal a previsão é que a
chuva seja forte durante todo o mês naquela região. Não adiantará que o juiz determine o prazo de 15 ou de 10 dias para o
cumprimento da obrigação, pois será muito pouco tempo. O juiz deverá dar prazo maior, do contrário não será possível que o
devedor faça o muro. Deve o juiz levar em conta o contexto da localidade e do tempo.

Ao determinar a citação através do despacho, o juiz fixará honorários advocatícios, de acordo com o art. 827: Art. 827. Ao
despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado. O

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que percebemos pela leitura desse artigo é que mesmo que o devedor cumpra a obrigação, terá de pagar as custas processuais
e os honorários advocatícios. Isso porque este devedor executado descumpriu originalmente a obrigação, fazendo com que o
credor tivesse de lançar mão da ação executiva e buscar a ajuda do Judiciário. Se o executado não quisesse pagar custas,
bastava ter cumprido a obrigação, pois aí não seria preciso ação executiva alguma, não teria sido necessário ir até o Judiciário,
contratar advogado, pagar custas judiciais, etc.

No mesmo despacho em que estipulou honorários e o prazo para cumprimento, o juiz estipulará as astreintes e a data em
relação à qual ela será devida, que é a pena por atraso no cumprimento da obrigação e que serve para coagir o devedor a
cumpri-la: Art. 814. Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer fundada em título extrajudicial, ao despachar a
inicial, o juiz fixará multa por período de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida. O juiz
pode fixar as astreintes de acordo com a periodicidade que desejar (mensal, quinzenal, diária), e tem liberdade para aumentar
ou diminuir o valor a qualquer tempo.

Podem as astreintes estarem previstas no próprio título extrajudicial, com o respectivo valor e periodicidade. Neste caso,
basta que o juiz copie no despacho a descrição da penalidade de acordo com o que consta no título extrajudicial. Pode, porém,
o juiz aumentar ou diminuir o valor e a periodicidade das astreintes previstas no título extrajudicial, conforme o parágrafo
único do art. 814: “Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto no título e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo”.
Em não havendo previsão de astreintes no título extrajudicial, o juiz sempre pode de ofício estabelecê-las ou estipulá-las a
requerimento do exequente (ele faz esse requerimento na petição inicial da ação executiva). Ex.: O devedor tem 10 dias
para fazer o muro, sendo que se não fazê-lo neste prazo, pagará 10 salários mínimos por dia de atraso. No título nada estava
previsto, mas o juiz decidiu estabelecer a pena, de ofício, no despacho.

Como dito, se o valor das astreintes previsto no título executivo for irrisório, o juiz poderá aumentá-lo. Se for excessivo, o
juiz poderá reduzi-lo. Por isso o magistrado precisa ter bom senso, afinal o valor precisa coagir o devedor. Se o valor é muito
baixo, não intimida, não serve para nada, mas se é muito alto, desestimula o cumprimento da obrigação. O juiz pode sempre
rever o valor das astreintes. Ex.: Era 2 salários mínimos, o juiz revisou o valor e passou para 5 salários mínimos, pois viu
que o devedor tinha capacidade econômica para pagar. O que se busca é o cumprimento da obrigação.

O mandado de citação deverá informar claramente ao devedor o valor das astreintes e a partir de que data elas serão
devidas. Se houve erro do cartório em relação ao mandado citatório (ex.: na parte escrita determinou a citação e a fixação
de honorários, apenas), ultrapassado o prazo a partir do qual as astreintes serão devidas, estas não poderão ser cobradas
do executado, pois ele não tinha conhecimento. O executado deve obrigatoriamente ser informado e ter conhecimento da
fixação dos honorários e das astreintes. Se não houve essa informação, o exequente poderá requerer ao juiz que seja expedido
novo mandado que determine de fato o valor das astreintes e a data a partir do qual será devida. O juiz precisa indicar o valor
e a data a partir da qual o valor incidirá. Se a citação ocorrer por carta rogatória, de ordem ou precatória, acontecerá da mesma
forma. O juiz deverá fixar no mandado a partir de quando se dará o pagamento das astreintes.

Segundo H. Theodoro, na execução de obrigação de fazer baseada em título extrajudicial, o juiz não fica adstrito apenas às
astreintes. Pode se valer de outras medidas de apoio, como as do art. 536, § 1º para dar a melhor, mais justa e efetiva tutela
ao credor de obrigação de fazer e não fazer. O professor concorda com este raciocínio.

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A redução do valor dos honorários a serem pagos em execução de obrigação de fazer: Na execução de obrigação de pagar
quantia certa decorrente de título extrajudicial, o executado é citado para pagar em 3 dias. Quando há o despacho ordenando
a citação na execução de quantia certa, o juiz determina a citação da parte, mas não fixa astreintes, pois as astreintes só podem
ser estipuladas na execução de obrigação de fazer, de não fazer ou de entrega de coisa (o professor concorda com isso).

Como vimos antes, em execução de obrigação de fazer o devedor será citado para cumprir a obrigação e haverá a fixação de
honorários advocatícios a serem pagos por ele. Na execução de quantia certa, no mandado citatório também há fixação de
honorários a serem pagos (Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por
cento, a serem pagos pelo executado). Se a parte cumprir em 3 dias a obrigação de pagar quantia certa, os honorários
serão reduzidos pela metade (o executado só pagará a metade), conforme o § 1º do 827 (§ 1º No caso de integral
pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade). Ex.: “A” deve um
cheque para “B” no valor de 100 mil. “B” promove a execução, e pede 100 mil. O juiz estabelece que deverão ser pagos 10%
dos 100 mil, de honorários advocatícios, conforme o caput do art. 827. Se “A” pagar em 3 dias, pagará as custas do processo,
mais 100 mil e mais 5 mil reais (é a metade de 10 mil, pois 10 mil é 10% de 100 mil). É um benefício para o executado pagar
apenas a metade do valor dos honorários, é um estímulo para cumprir a obrigação de pagar quantia certa.

Na execução de obrigação de fazer por título extrajudicial, os honorários deverão ser pagos por inteiro. Não há essa
redução de 50%, mesmo que a obrigação seja cumprida dentro do prazo. Ex.: “A” contratou “B” para fazer um muro, no
prazo que estava no título extrajudicial, de 10 dias. O juiz determinou a citação, fixando astreintes e honorários a serem pagos
pelo executado. O executado (B) fez o muro em 10 dias (cumpriu a obrigação), pagando honorários no valor de 10%. Mesmo
que tenha “B” tenha cumprido a obrigação e pago os honorários no prazo devido, não ganhará o benefício da redução de 50%.
A discussão é a seguinte: Se ele cumpriu a obrigação no prazo devido e pagou os honorários, não deveria receber o mesmo
benefício que existe na execução de obrigação de pagar quantia certa (a redução do valor dos honorários)? Reduziria
consideravelmente o valor do débito. Segundo alguns doutrinadores, deveria ser aplicado esse benefício, mas outro dizem que
esse desconto serve apenas para execução de quantia certa, com prazo de 3 dias para cumprimento. Pode ou não haver a
premiação dada pelo § 1º do 827 no caso de execução de obrigação de fazer? Não há uma saída, só a jurisprudência dirá.

3. Comportamento do executado, que pode:

3.1. Cumprir o mandado (art. 924, II): Ao ser citado, o executado pode cumprir a obrigação. Cumprindo, acaba a execução
(Art. 924. Extingue-se a execução quando: II - a obrigação for satisfeita). A extinção da execução será declarada por sentença
(art. 925). Ex.: O devedor foi citado para cumprir a obrigação (fazer o muro), sob pena de pagar 30 salários mínimos por dia
de atraso. Se fizer o muro em 10 dias (o prazo), pagar as custas e o valor dos honorários (reduzidos ou não, conforme a
corrente), extingue-se a execução, que será declarada pelo juiz em sentença. Pagou os acessórios e cumpriu a obrigação
principal, acaba a execução.

Revendo a aula anterior: Vimos que há a petição inicial da ação executiva, e um despacho do juiz, onde ele determina
honorários advocatícios, podendo prever as astreintes e mandando citar o executado para cumprir o mandado. Na execução, a
prova documental, o título executivo extrajudicial tem força tão grande, mas tão grande, que a citação não é para contestar a
ação. Antes do NCPC, era necessário na petição inicial requerer a citação do réu para contestar a ação, no prazo de 15 dias. A

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contestação podia ser escrita ou oral. Agora, pelo NCPC, não há mais a necessidade de requerer a citação do réu para apresentar
defesa. Ora, se eu propus a ação, é claro que eu quero que a outra parte tenha direito de ampla defesa. Sem a citação do réu, o
processo não se forma. Retiraram então esse requisito da petição inicial. Mas aqui, no processo de execução, a citação não é
para ampla defesa, mas para cumprir com a obrigação de fazer. O título extrajudicial é tão forte que o juiz presume (essa
presunção é relativa) pela apresentação da prova que o exequente tem direito de receber a obrigação, sendo que a citação é
apenas para cumprir com a obrigação.

3.2. Se opor à execução (arts. 914 e seguintes): A forte presunção de que falamos antes (de que o juiz presume que o
exequente tem o direito a receber o crédito) não é absoluta, pois admite prova em contrário. Uma das formas que tem o devedor
de se opor à execução é através de uma ação autônoma de conhecimento, que se chama ação de embargos à execução
(também chamado de embargos do devedor, pois em regra quem utiliza esse meio é o devedor). Digo em regra porque
existem algumas exceções em que mesmo não sendo o devedor, poderão ser apresentado os embargos à execução. Ex.:
Penhoraram um bem da minha mulher, que também é meu. Eu sou o executado. Minha mulher, embora não seja devedora,
poderá apresentar embargos à execução. Não é embargos do devedor porque ela não é devedora, mas é à execução. Por isso
o CPC prefere o termo embargos à execução. Analisaremos os embargos em detalhes depois.

Os embargos à execução são uma forma de oposição à execução, mas também existe a exceção de pré-executividade e a
simples petição (da mesma forma que existe a simples petição lá na impugnação, só que aqui será usada quando o devedor já
utilizou os embargos).

A exceção de pré-executividade nunca esteve prevista no CPC. Era admitida quando o devedor, por simples petição,
questionava matéria de ordem pública, com prova pré-constituída, e não queria fazer isso por meio de embargos à execução,
quase sempre para se livrar da necessidade de prestar garantia. A matéria questionada na exceção de pré executividade é
matéria de ordem pública, que pode ser decretada de ofício pelo juiz, como ausência dos pressupostos necessários para a
execução, de liquidez e certeza do título executivo, de condições da ação, etc. Não é uma exceção clássica. Não é propriamente
de pré-executividade, pois já estamos na execução. A pré-execução em título é extrajudicial, não seria possível, pois ainda
não temos ação, só há o descumprimento da obrigação. Os autores atuais preferem chamar de objeção à executividade, pois é
uma forma de o devedor se opor à execução. Ex.: Passou o prazo dos embargos e o devedor não embargou pois não havia
motivos naquele momento para isso. Só depois o devedor percebeu que deveria ter embargado e alegado prescrição do título.
A prescrição pode ser conhecida de ofício pelo juiz, a qualquer tempo. Através de uma simples petição de exceção de pré-
executividade o devedor alertará o juiz de que o título executivo está prescrito e o juiz declarará a prescrição, extinguindo o
processo.

Cabe lembrar que a exceção de pré-executividade só cabe com prova pré constituída. Se houver necessidade de dilação
probatória, o remédio necessário serão os embargos do devedor.

O próprio art. 485, § 3º do CPC dispõe que “Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IV - verificar a ausência de
pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção,
de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; IX - em caso de
morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal. § 3º O juiz conhecerá de ofício da matéria

106
constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”.
Além disso, o art. 803 diz que: “Art. 803. É nula a execução se: I - o título executivo extrajudicial não corresponder a
obrigação certa, líquida e exigível; II - o executado não for regularmente citado; III - for instaurada antes de se verificar a
condição ou de ocorrer o termo”. O próprio parágrafo único do 803 diz que “A nulidade de que cuida este artigo será
pronunciada pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos à execução”. Ou seja, mesmo
sem ter embargado o devedor pode por meio de uma petição simples alegar estas matérias para conseguir a extinção da
execução, em qualquer fase do processo executivo. Além de ter título executivo, o exequente precisa que o título seja certo,
líquido e exigível (art. 783), em conjunto com o inadimplemento da obrigação (art. 786). Diz o art. 788 que “O credor não
poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o devedor cumprir a obrigação”. Cumprindo o devedor a obrigação, o
processo de execução deverá ser extinto (art. 924), e se não for extinto, o devedor poderá questionar isto em sede de exceção
de pré-executividade.

Na simples petição, temos as matérias que o juiz não pode decretar de ofício, relacionadas a direito privado. Ex.: Estou
sendo executado por causa de um cheque. Meu carro foi penhorado e avaliado erroneamente, e já apresentei os embargos
dizendo que já havia pago a dívida (essa alegação é mentirosa, pois eu realmente não paguei a dívida). O prazo dos embargos
findou, eu tinha 15 dias e o apresentei. Me opus à execução, dizendo que paguei o valor do cheque, e vocês foram citados para
contestar a minha ação de embargos. Enquanto vocês estão respondendo à ação de embargos, o oficial de justiça se dirigiu à
minha casa (pois em regra, os embargos não tem efeito suspensivo, então prossegue à execução) e penhorou o meu carro que
tem o valor de 50 mil por 5 mil reais. Eu poderia alegar essa matéria (avaliação errônea) em sede de embargos à execução,
mas já os apresentei. Se eu perder os embargos, o meu carro será levado para ser expropriado por 5 mil reais (sendo que tem
o valor de 50). Abre-se, neste caso, a possibilidade de através de simples petição alegar a avaliação errônea do veículo que foi
penhorado. Mas cuidado, preciso provar que tive conhecimento deste fato de forma posterior ao prazo para propositura dos
embargos. Não adianta dizer que já sabia da avaliação errônea na época dos embargos à execução, pois se isso aconteceu não
pode ser alegada em simples petição a avaliação errônea. Se era conhecido do embargante este fato (a avaliação errônea) e ele
não alegou nos embargos, houve preclusão e a simples petição será rejeitada.

A importância da natureza jurídica dos embargos à execução: A natureza jurídica dos embargos à execução é a de ação
de conhecimento. Isso porque em sede de execução de título extrajudicial, a presunção existente é a de que o título executivo
precisa ser executado e o devedor precisa cumprir a obrigação. Essa presunção só será desfeita se o devedor se opor à execução
através dos embargos, que tem natureza de ação de conhecimento. Na ação de embargos, invertem-se os polos do processo
de execução de título extrajudicial. Ex.: O devedor foi citado para fazer o muro em 10 dias, mas quer se opor, afinal já fez o
muro. O credor é o autor da ação executiva, mas será o réu da ação de embargos. Embargante é quem propõe os embargos
(em regra, é o devedor). Embargado é quem responderá os embargos. Esta ação será distribuída como qualquer outra ação,
havendo pagamento de custas e honorários advocatícios. Os embargos seguem o procedimento comum. O autor apresentará
os embargos por meio de petição inicial, e o réu dos embargos será citado para contestar em 15 dias. A petição inicial dos
embargos terá valor da causa e deverá obedecer aos requisitos do art. 319 e 320, sendo distribuída ao juízo da causa
principal (o juízo da execução).

107
Sabe-se que o prazo para promover impugnação é de 15 dias, e que por força do art. 229 este prazo é contado em dobro para
os litisconsortes que possuem diferentes procuradores de escritórios distintos (Art. 229. Os litisconsortes que tiverem
diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento). Os embargos à execução possuem
natureza jurídica de ação de conhecimento, razão pela qual o prazo não pode ser dobrado, não se aplica este benefício,
conforme o § 3º do art. 915: § 3º Em relação ao prazo para oferecimento dos embargos à execução, não se aplica o disposto
no art. 229. Não existe ação em processo civil ação com prazo de propositura dobrado. Não muda nada, o prazo para propor
a ação é sempre o mesmo. Aqui é de 15 dias sempre. Se propor no décimo sexto dia, não será analisada a ação. Para contestar
os embargos à execução, entretanto, o prazo contará em dobro, pois é hipótese de manifestação processual, caso em que
a ação já foi proposta.

Autonomia dos embargos na existência de litisconsórcio (art. 915, § 1º): § 1º do art. 915. Quando houver mais de um
executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a partir da juntada do respectivo comprovante da citação, salvo
no caso de cônjuges ou de companheiros, quando será contado a partir da juntada do último. Os embargos de cada devedor
são autônomos e independentes. Por isso, o prazo para embargar é individual e nasce a partir da juntada do respectivo
mandado citatório de cada coexecutado. A falta de citação de um dos devedores é irrelevante em relação aos outros
devedores. Desse modo, quando existir mais de um executado, o prazo continua sendo contado de acordo com a regra geral
(a partir da data da juntada do mandado citatório cumprido aos autos), fluindo o prazo de maneira separada para cada um dos
executados em razão da autonomia dos embargos. Ex.: Eu e a colega somos executados em um processo. Eu fui citado e o
mandado foi juntado aos autos na terça-feira (o prazo começa a fluir quarta-feira) e o mandado dela foi juntado na quinta-feira
(começa na sexta-feira o prazo).

Há exceção para esta regra de um prazo para cada devedor. É o caso de cônjuges ou companheiros litisconsortes,
hipótese em que a autonomia dos embargos não será absoluta e o prazo começará a ser contado de forma conjunta. Ex.: Eu e
minha mulher somos executados. Fui citado hoje, terça-feira, enquanto minha mulher foi citada na quinta-feira. Não vamos
cumprir a obrigação, iremos embargar. O prazo de 15 dias para embargar começa a partir da sexta-feira, pois minha mulher
foi citada apenas na quinta-feira. O prazo contará da juntada aos autos do último mandado citatório (no caso, o mandado da
minha mulher que foi citada quinta). Os casados ou companheiros que se beneficiam desse estado, começando a contar o prazo
para embargar da juntada aos autos do último mandado citatório. Se não forem casados, o começo do prazo se dá a partir da
juntada aos autos de cada mandado citatório de forma autônoma.

Prazo para a propositura dos embargos: Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado,
conforme o caso, na forma do art. 231. O prazo corre da juntada aos autos do mandado de citação devidamente
cumprido, na forma do inciso II do art. 231 (Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do
prazo: II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça).
Ex.: O devedor foi citado hoje, terça-feira, sendo que o mandado cumprido foi juntado aos autos na quarta-feira. Quinta-feira
começará a correr o prazo para embargar e quarta-feira começará a correr o prazo para cumprir a obrigação (para cumprir a
obrigação, o prazo é contado da efetiva citação).

108
Competência para a propositura dos embargos (§§ 1º e 2º do art. 914, art. 845, § 2º e art. 62 do CPC): Art. 61. A ação
acessória será proposta no juízo competente para a ação principal. § 1º do art. 914. Os embargos à execução serão
distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que poderão
ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: Os embargos serão distribuídos por
dependência (art. 286). Será preciso endereçá-los para a vara correta, qual seja, a vara do mesmo juiz que está
acompanhando a execução. Ex.: Se a execução está sendo promovida na 2º vara cível de Pelotas, farei minha petição inicial
de embargos à execução dizendo “Exmo. Senhor Doutor Juiz de Direito da 2º Vara Cível da Comarca de Pelotas” e botarei
“distribuição por dependência, nº do processo de execução”. Quando os embargos forem distribuídos, já saberão que existe
uma execução. Surgirão autos apartados. Como os embargos não possuem efeito suspensivo, não tem sentido colocá-los
dentro do processo executivo. Ex.: Meu carro não foi penhorado. Estamos discutindo os embargos. O juiz determinou que o
oficial de justiça penhore e avalie o carro. Como não há efeito suspensivo, continua a execução. São autos distintos.

Em relação às cópias de peças relevantes, o devedor pode tirá-las do processo de execução para colocá-las nos embargos.
Estas cópias poderão ser reconhecidas e autenticadas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal. Se alguma
peça estiver deformada ou alterada, a responsabilidade é do advogado que autenticou as cópias como verdadeiras. Se o
advogado não quer se responsabilizar, basta retirar a cópia do processo e autenticar, mediante pagamento, no cartório judicial
ou extrajudicial.

Quando a penhora for realizada em comarca diferente do juízo da execução, a execução se dará por carta: “Art. 845. Efetuar-
se-á a penhora onde se encontrem os bens, ainda que sob a posse, a detenção ou a guarda de terceiros. § 2º Se o executado
não tiver bens no foro do processo, não sendo possível a realização da penhora nos termos do § 1º, a execução será feita
por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação”. Nesta situação, a competência para
processar e julgar os embargos será ou do juízo deprecante ou do juízo deprecado, de acordo com a matéria a ser julgada,
conforme o § 2º do art. 914: “§ 2º do art. 914. Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou
no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou
defeitos da penhora, da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado”. Se os embargos versarem sobre
atos da execução em geral, é o juízo deprecante que analisará. O juízo deprecado será competente para julgar os embargos
quando eles versarem sobre atos deste juízo deprecado (defeitos da penhora, avaliação ou alienação feitas pelo juízo
deprecado).

Se os embargos versarem sobre atos do juízo deprecado e a competência for de fato deste juízo deprecado, o prazo para
embargar será contado conforme o art. 915, § 2º, I: “§ 2º Nas execuções por carta, o prazo para embargos será contado: I
- da juntada, na carta, da certificação da citação, quando versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da
avaliação ou da alienação dos bens”.

Quando a citação se faz por carta precatória, o 2º, II do art. 915 diz que ao juiz deprecado cabe comunicar imediatamente a
realização da citação, e da juntada aos autos dessa comunicação é que será contado o prazo para embargos: “II - da
juntada, nos autos de origem, do comunicado de que trata o § 4º deste artigo ou, não havendo este, da juntada da carta
devidamente cumprida, quando versarem sobre questões diversas da prevista no inciso I deste parágrafo. § 4º do art. 915.

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Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação será imediatamente
informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante.”

3.3. Permanecer inerte: Não cumprindo o devedor a obrigação de fazer (permanecendo inerte), o exequente terá as mesmas
opções que tinha na execução de fazer de título judicial, a depender do tipo de prestação de fazer.

Sendo a prestação fungível, o exequente, em razão da inércia do executado, terá duas opções:

a) Converter a execução em perdas e danos (art. 816): Diz o art. 816 “Art. 816. Se o executado não satisfizer a obrigação
no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do processo, requerer a satisfação da obrigação à custa do
executado ou perdas e danos, hipótese em que se converterá em indenização. Parágrafo único. O valor das perdas e danos
será apurado em liquidação, seguindo-se a execução para cobrança de quantia certa”. O respectivo valor da conversão será
apurado em liquidação, prosseguindo-se depois para a execução de quantia certa.

b) Pedir para que terceiro cumpra a obrigação no lugar do executado, às custas do próprio executado (art. 817 até
821): O próprio art. 816, no seu caput, diz que o exequente pode, em caso de inadimplemento, nos próprios autos pedir “a
satisfação da obrigação à custa do executado”, ou seja, o terceiro arcará com os custos da obrigação cumprida pelo terceiro
que será chamado.

Art. 817. Se a obrigação puder ser satisfeita por terceiro, é lícito ao juiz autorizar, a requerimento do exequente, que aquele
a satisfaça à custa do executado. Obrigação que pode ser feita por terceiro é a prestação fungível. Haverá a apresentação de
propostas. O juiz escolherá (aprovará) uma das propostas, e ouvidas as partes, o terceiro cumprirá a obrigação às custas do
executado. Ocorre que é preciso que alguém pague efetivamente o valor da prestação ao terceiro (adiante o valor), afinal ele
precisa receber pra trabalhar. Quem adiantará é o exequente, conforme a previsão do parágrafo único do art. 817: “O exequente
adiantará as quantias previstas na proposta que, ouvidas as partes, o juiz houver aprovado”. Pode acontecer também, é bom
dizer, que o executado pague diretamente o valor da prestação ao terceiro que teve a proposta aprovada, caso em que o
exequente não precisará adiantar o valor.

Art. 818. Realizada a prestação, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 (dez) dias e, não havendo impugnação, considerará
satisfeita a obrigação. Parágrafo único. Caso haja impugnação, o juiz a decidirá. Sendo cumprida a obrigação pelo terceiro,
o juiz ouvirá as partes em 10 dias e se não houver impugnação, reconhecerá que a obrigação foi cumprida e extinguirá a
execução. Cumprida a obrigação, a execução de obrigação de fazer se converterá em execução de obrigação de pagar
quantia certa nos mesmos autos, para que o exequente possa cobrar do executado o valor que ele, exequente, adiantou ao
terceiro.

Art. 820. Se o exequente quiser executar ou mandar executar, sob sua direção e vigilância, as obras e os trabalhos
necessários à realização da prestação, terá preferência, em igualdade de condições de oferta, em relação ao terceiro.
Parágrafo único. O direito de preferência deverá ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, após aprovada a proposta do
terceiro. Não se esqueçam que é sempre possível ao exequente exercer o direito de preferência, logo após o juiz aprovar a
proposta do terceiro. Após aprovada a proposta, o exequente terá 5 dias para exercer este direito.

110
Exercendo, o exequente deverá cumprir ele próprio a obrigação, ou contratar um terceiro, para que este cumpra a obrigação
sob sua vigilância e direção. Se o exequente exerceu o direito de preferência, não poderá reclamar se porventura a obrigação
for mal feita, afinal ela foi cumprida sob a sua vigilância e observação. É bem diferente do que acontece quando o terceiro
teve a proposta aprovada e é o próprio terceiro da proposta que cumpre a obrigação de modo errado, pois nesta hipótese o
exequente poderá impugnar a conclusão da obrigação mal feita, conforme o art. 819: Art. 819. Se o terceiro contratado não
realizar a prestação no prazo ou se o fizer de modo incompleto ou defeituoso, poderá o exequente requerer ao juiz, no prazo
de 15 (quinze) dias, que o autorize a concluí-la ou a repará-la à custa do contratante. Parágrafo único. Ouvido o contratante
no prazo de 15 (quinze) dias, o juiz mandará avaliar o custo das despesas necessárias e o condenará a pagá-lo. O juiz pode
mandar que outra pessoa cumpra a obrigação às custas do terceiro que cumpriu de forma errada a obrigação. Se o exequente
exerceu o direito de preferência, não pode reclamar para o juiz que a obrigação está mal feita.

Sendo a prestação infungível, em caso de inadimplemento, só restará uma opção ao exequente:

a) Optar por perdas e danos (art. 821): Art. 821. Na obrigação de fazer, quando se convencionar que o executado a satisfaça
pessoalmente, o exequente poderá requerer ao juiz que lhe assine prazo para cumpri-la. A obrigação em que se convencionou
“que o executado a satisfaça pessoalmente” é a obrigação intuitu personae, que existe apenas em razão das qualidades e
habilidades pessoais do obrigado. Ninguém mais além dele pode cumprir a obrigação. Por isso, se ele, executado, se negar a
cumprir a obrigação pessoal, sobrará apenas ao exequente converter a execução de obrigação de fazer em perdas e danos (o
procedimento passará a ser o da execução de obrigação de pagar quantia certa). É o que ordena o parágrafo único do art. 821:
“Havendo recusa ou mora do executado, sua obrigação pessoal será convertida em perdas e danos, caso em que se observará
o procedimento de execução por quantia certa”. Assim, haverá a consequente penhora dos bens para o pagamento da
indenização.

Segundo H. Theodoro, não seria cabível para prestações infungíveis a estipulação de astreintes em execução de obrigação
de fazer baseada em título extrajudicial. A única sanção aplicável seria a conversão em perdas e danos. Mas ao que tudo indica,
o professor parece considerar que é possível utilizar as astreintes mesmo em prestação infungível (considerar isso).

Execução de obrigação de não fazer baseada em título extrajudicial (art. 822 e 823): A execução de obrigação de fazer,
surgiria, em princípio, quando o devedor estava obrigado a não fazer algo e acabou fazendo. A execução deste tipo de
obrigação, portanto, acaba sendo um fazer. Não existe portanto, propriamente, uma execução de obrigação de não fazer. Tendo
violado o dever de abstenção, o devedor criou para si uma obrigação positiva, um fazer (que é o desfazimento do ato
anterior), conforme o caput do art. 822: Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei ou
por contrato, o exequente requererá ao juiz que assine prazo ao executado para desfazê-lo.

Se mesmo depois do requerimento o executado não desfez o ato anterior, o credor terá duas opções: a) Desfazer o fato à custa
do devedor (Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à
custa daquele, que responderá por perdas e danos); b) Indenizar o credor pelas perdas e danos, caso em que será obedecido
o procedimento da execução de quantia certa (Parágrafo único do art. 823. Não sendo possível desfazer-se o ato, a
obrigação resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a liquidação, se observará o procedimento de execução por
quantia certa).

111
Revendo a aula anterior: Vimos o procedimento da execução de obrigação de fazer com título extrajudicial. Aquela
execução de obrigação de fazer que vimos na segunda prova era relacionada à título judicial. As regras que regem a execução
de título extrajudicial são aplicadas subsidiariamente à execução de título judicial (conforme o art. 513).

Vimos que o devedor será intimado para cumprir a obrigação, e se ficar inerte, o exequente terá algumas opções a depender
do tipo de prestação. Sendo prestação fungível, o exequente pode: a) Pedir para que terceiro cumpra a obrigação; b) Converter
tudo em perdas e danos. Em relação à estas opções, são as mesmas que tínhamos na execução de fazer de título judicial.
Temos as mesmas duas opções, neste caso as matérias coincidem.

Diferem, entretanto, as duas execuções no seu começo. A execução de obrigação de fazer com título judicial começa com um
requerimento, enquanto a execução de obrigação de fazer com título extrajudicial começa com uma petição inicial, com
quase todos os requisitos da petição inicial de ação de conhecimento.

Na execução de título judicial, o devedor será intimado para cumprir com a sentença. Na execução de título extrajudicial, o
devedor será citado para cumprir a obrigação constante no título.

A forma de se oposição à execução de obrigação de fazer com título judicial (cumprimento de sentença) é a impugnação,
caso em que o prazo pode ser contado em dobro (aplicação do art. 229). A forma de se opor à execução de obrigação de fazer
com título extrajudicial são os embargos à execução (onde não há aplicação do art. 229). Os embargos são uma ação autônoma
de conhecimento. Não há contestação no processo executivo. Ex.: Eu possuo um título extrajudicial contra vocês, e protocolo
a petição inicial da ação executiva. Vocês serão citados para fazer o muro, e a partir deste prazo começará a correr 15 dias
para oferecer a oposição (os embargos). Se não quiserem fazer o muro, podem promover uma ação contra mim (os embargos
à execução). Se a ação de embargos de vocês for procedente, refletirá na minha execução, se não for procedente, prosseguem
os atos executivos. O exequente será o réu da ação de embargos, e o executado será o autor dela. Os polos do processo de
execução se invertem.

Procedimento da execução de obrigação de fazer resumido:

Petição inicial -> Despacho do juiz, fixando astreintes, ordenando a citação do executado, o cumprimento da obrigação
no prazo, com o pagamento de honorários advocatícios -> citado, o executado pode ter três comportamentos: a) cumprir o
mandado; b) se opor à execução; c) permanecer inerte).

Se o executado cumpre o mandado, extingue-se a execução. Cumprir é cumprir todo o mandado, tem de pagar custas e despesas
processuais, honorários advocatícios e cumprir a obrigação principal (fazer algo).

Se a parte cumpre a obrigação de fazer e não paga as custas, essa execução de obrigação de fazer original se transforma
em execução de obrigação de pagar quantia certa. O exequente indicará, se quiser, bens à penhora do devedor para
responder sobre o valor estipulado pelo juiz ao despachar a petição inicial.

Pode haver a estipulação de astreintes, a multa pelo descumprimento da obrigação. Ex.: O devedor foi citado para fazer o
muro em 10 dias, sob pena de no décimo primeiro dia pagar 3 salários mínimos por dia de atraso.

Voltando ao estudo dos embargos: Em relação aos embargos à execução, se o executado se opor à execução por meio
destes, não se aplica o art. 229. Não se conta em dobro o prazo, se houver litisconsortes com diferentes procuradores, pois a

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natureza jurídica dos embargos é de ação de conhecimento, e não há prazo em dobro para propor ações, sejam quais forem. O
que conta em dobro é o prazo que tem os litisconsortes com diferentes procuradores contestarem, recorrerem e de modo geral
falarem nos autos (manifestações processuais, como diz o art. 229). A propositura da ação não é manifestação nos autos. Para
promover a ação, o prazo não conta em dobro, ainda que haja litisconsortes com diferentes procuradores. Mas cuidado, para
contestar a ação (os embargos) se aplica o art. 229, pois é manifestação nos autos de uma ação, o prazo conta em dobro. Para
promover a ação não conta em dobro, pois a natureza jurídica é de ação, mas se for manifestação processual, conta em dobro.

Matéria alegável nos embargos (art. 917): Vimos que no processo de execução o título executivo traz uma presunção forte
de que o exequente tem razão. O executado é citado para cumprir diretamente a obrigação (o juiz presume que o exequente
tem razão). Se o executado não quiser cumprir com a obrigação, poderá se opor através de embargos à execução. O que o
executado poderá alegar nos embargos? Em princípio, qualquer matéria que lhe seria lícito alegar se houvesse processo de
conhecimento (conforme o inc. VI do art. 917). O art. 917 apenas exemplifica as matérias alegadas. Os embargos podem
questionar tanto o próprio direito de execução (buscando extinguir o processo executivo) quanto alguns atos executivos.
Vejamos:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:

I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação: Toda execução precisa ser fundada em título executivo que
retrate obrigação certa, líquida e exigível. Se não estiver, a execução será nula (art. 783, 784 e 803). Aliás, já vimos que a
falta de título ou de exequibilidade do título consiste em ausência de condição de procedibilidade da execução, de modo que
a qualquer tempo, a requerimento da parte ou o juiz de ofício, poderá declarar esta nulidade, extinguindo o processo de
execução.

II - penhora incorreta ou avaliação errônea: A penhora pode por vezes atingir bens impenhoráveis ou ofender a ordem legal
de preferência, e neste caso nem é necessário embargar a execução, pois o devedor pode pleitear em petição avulsa a
substituição do bem penhorado, nos moldes do art. 848. Em sede de embargos só pode ser arguida a incorreção da penhora
(quando na prática não se observou os requisitos jurídicos deste ato executivo) e a avaliação errônea.

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções: Também é alegada em impugnação (cumprimento de
sentença). Quando falávamos do excesso de execução no cumprimento de sentença, pegávamos estes artigos (que lidam com
título extrajudicial) como fonte subsidiária. Vejamos quando há excesso de execução.

Diz o § 2º do art. 917 que: § 2º Há excesso de execução quando:

I - o exequente pleiteia quantia superior à do título: Nas obrigações de fazer, o executado não poderá alegar nos embargos a
quantia superior à estipulada pelo título, pois ele só precisa fazer, não é uma execução de quantia certa. Não se aplica este
inciso, afinal se está executando o réu por conta de dinheiro neste inciso, de valor monetário.

II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título:

III - ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título: Não se permite que se tente cumular numa mesma
execução vários títulos com procedimentos diversos, ainda que seja o mesmo devedor. Já vimos isso na cumulação de

113
execuções (art. 780). É preciso que seja o mesmo devedor, o mesmo juízo competente e o procedimento de execução dos
títulos seja o mesmo.

IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado:

V - o exequente não prova que a condição se realizou: Ex.: “A” fez um contrato assinado pelos dois e por duas testemunhas,
com “B”, onde “B” se compromete a pagar 10 mil reais para “A” e “A” se compromete a fazer um muro, com a condição
suspensiva de que é preciso que “A” se forme em filosofia. Se “B” quiser executar “A”, terá de esperar que “B” se forme em
filosofia. Se mesmo assim ele promover a execução, “A” não fará o muro e embargará, onde alegará que há excesso de
execução pelo fato de o exequente não ter provado que a condição se realizou (art. 917, § 2º, V). A execução será extinta, e
“B” terá de pagar as despesas da ação de embargos proposta.

Para que os embargos do devedor em que se alega excesso de execução por quantia superior ao título sejam recebidos e
analisados, nos próprios embargos o devedor deverá dizer qual é o valor realmente devido, conforme o § 3º do art. 917: §
3º do art. 917. Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante
declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu
cálculo. A consequência para o não acompanhamento da memória de cálculo nos embargos que alegam quantia superior à do
título é a rejeição liminar dos próprios embargos, conforme o § 4º do art. 917: “§ 4º do art. 917. Não apontado o valor correto
ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à execução: I - serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito,
se o excesso de execução for o seu único fundamento; II - serão processados, se houver outro fundamento, mas o juiz não
examinará a alegação de excesso de execução”. Ex.: O executado dirá que não é os 110 mil que colocou o exequente, tendo
chegado a um valor de 90 mil. O juiz citará o exequente para contestar a ação de embargos, e de posse das duas memórias
discriminadas de cálculo, proferirá julgamento. O juiz pode utilizar o contador do foro como auxílio na hora de decidir se há
ou não excesso de execução.

Quando a execução é por quantia certa, portanto, o executado é obrigado a dizer qual o valor devido se alega o excesso de
execução. Se não fizer isso, a alegação de excesso de execução não será analisada, e se os embargos disserem respeito apenas
a esta alegação, serão liminarmente rejeitados. Se houver outra alegação além do excesso, poderá esta ser analisada.

Apesar disso, do mesmo modo que o juiz não pode indeferir a petição inicial da ação executiva sem dar chance para o credor
suprir a falta de algum documento (art. 801), também não pode o magistrado indeferir de plano os embargos sem dar chance
de que o executado que alegou quantia superior à estipulada no título traga a memória de cálculo em 15 dias, estabelecendo
qual é o valor devido em respeito ao § 3º do art. 917. É tema controverso, pois o professor diz que o juiz pode sim indeferir
de plano os embargos, sem mandar a parte autora emendar (considerar isso).

Agora, voltaremos aos incisos do art. 917 (inciso IV até VI).

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa: Se estivéssemos em
uma execução de entrega de coisa baseada em título judicial, a retenção por benfeitorias deveria ser alegada sempre em sede
de contestação, como resposta à ação de conhecimento. Como estamos em execução de entrega de coisa baseada em título
extrajudicial, não tivemos ação de conhecimento, e esta matéria deverá ser alegada em sede de embargos à execução. O

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executado, que alegou a retenção nos embargos, deverá pedir que o embargado (o exequente) pague as benfeitorias, para que
depois ele, executado, tenha condições de devolver a coisa retida.

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução: A arguição de incompetência deve ser feita por meio de
embargos, não mais em exceção de incompetência (não há no NCPC esta exceção, mas existe a exceção de suspeição e
impedimento como incidente apartado, conforme o art. 146 a 148).

Como estamos em execução de título extrajudicial, competente é o juízo da execução (não tivemos juízo da ação). Ex.: Eu,
credor, tenho um contrato assinado pelo devedor e duas testemunhas. Ele diz respeito à uma obrigação a ser feita em Pelotas.
O devedor tem bens a serem penhorados em Jaguarão. Eu promovo a execução em Jaguarão. A execução é de obrigação de
fazer (não tem penhora, nem bens a serem penhorados). Há incompetência relativa, o juízo competente seria Pelotas. Basta
que o devedor alegue a incompetência nos embargos que propor.

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento: O embargante pode arguir,
por ex, falta de pressupostos processuais e condições da ação, ou algum outro fato extintivo, impeditivo ou modificativo do
direito do credor, de forma ampla. O executado tem o direito de alegar tudo que poderia objetar em uma pretensão formulada
em ação de conhecimento. As matérias postas nos incisos do art. 917, que vimos antes, fazem parte de um rol exemplificativo.
O executado pode alegar nos embargos quaisquer matérias que seriam lícitas de serem alegadas para a defesa em um processo
de conhecimento, em sede de contestação, com as devidas adaptações. É esse dispositivo que dá ampla defesa ao processo
autônomo de execução.

Efeito suspensivo nos embargos à execução (art. 919, caput e § 1º): Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito
suspensivo. De acordo com o caput do art. 919, em regra, os embargos à execução não são dotados de efeito suspensivo (assim
como ocorre na impugnação, já vimos que ela também não é dotada, em regra, de efeito suspensivo). Sem efeito suspensivo,
mesmo com a propositura dos embargos, os atos executivos prosseguem normalmente, podendo mesmo se chegar à
expropriação. Se houve propositura de embargos sem efeito suspensivo e a execução prosseguiu até a expropriação e
posteriormente os embargos foram providos, as alienações judiciais não serão desfeitas, nos termos do art. 903 (Art. 903.
Qualquer que seja a modalidade de leilão, assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo leiloeiro, a arrematação será
considerada perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado ou a
ação autônoma de que trata o § 4º deste artigo, assegurada a possibilidade de reparação pelos prejuízos sofridos). O
executado será indenizado pelo exequente no valor dos bens expropriados. Se o bem foi adjudicado pelo próprio exequente,
ele, exequente devolverá o bem, mas terceiros não precisam devolver (tudo se resolverá em indenização).

Ocorre que o § 1º do 919 abre a possibilidade de concessão de efeito suspensivo aos embargos: § 1º do art. 919. O juiz
poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a
concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
Como a execução que estamos tratando é de obrigação de fazer, a segurança do juízo se dará pela caução, real ou fidejussória.
Desde que preenchidos os requisitos da tutela provisória de urgência (antecipatória ou cautelar), o juiz poderá, a
requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo. Também é admitida concessão do efeito suspensivo se preenchidos
alternativamente os requisitos da tutela provisória de evidência, quais sejam: a) alegações de fato do embargante puderem

115
ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante
+ segurança do juízo com prestação de garantia; b) petição inicial dos embargos for instruída com prova documental suficiente
dos fatos constitutivos do direito do embargante, a que o exequente não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável +
segurança do juízo com prestação de garantia.

Sendo atribuído o efeito suspensivo aos embargos, os atos executivos não prosseguem, a execução fica suspensa. Enquanto
os embargos não forem decididos, a execução não anda, de maneira geral. Entretanto, mesmo com o efeito suspensivo, alguns
atos poderão ser praticados, a exemplo da penhora e da avaliação do bem penhorado, conforme o § 5º do art. 919: § 5º A
concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e
de avaliação dos bens. Então, se diz que de modo geral os atos executivos não prosseguem, pois alguns atos executivos
poderão prosseguir.

Vejamos quais são os requisitos utilizados para admitir a tutela provisória de urgência:

a) Elementos que evidenciem a probabilidade do direito: Os fundamentos trazidos pelo embargante devem ser relevantes.
Fundamentos relevantes são aqueles que, à primeira vista, levam o juiz a crer que os embargos serão procedentes. Mesmo
sem o juiz ter citado a parte contrária, já deverá ter percebido que os embargos provavelmente serão procedentes. Tudo leva
a crer que o embargante tem razão. Ex.: O devedor alega nos embargos que fez o muro. Com a prova pré-constituída, provou
que fez o muro tirando a foto do muro e apresentando um laudo do engenheiro que diz que o muro se encontra nas condições
estipuladas pelo título extrajudicial. Provou cabalmente que cumpriu a obrigação. Há forte probabilidade de os embargos
serem recebidos e aceitos e a execução extinta.

b) Perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo: Ex.: O devedor demonstrou para o juiz nos embargos que já fez
o muro anteriormente, e que se não for dado o efeito suspensivo aos embargos, ele terá de fazer outro muro (para não pagar
as astreintes), e fazendo outro muro, terá feito dois muros, e a parte contrária não conseguirá devolver o valor do segundo
muro por não ter responsabilidade patrimonial. O resultado dos embargos é inútil (há dano ou perigo de dano ao resultado útil
do processo), pois mesmo que os embargos sejam providos, sem o efeito suspensivo o embargante terá feito o muro e ficará
sem o dinheiro. Neste exemplo, se houver a demonstração da responsabilidade patrimonial do exequente, não estará
presente o requisito do perigo de dano ou risco ao resultado do processo.

c) Segurança ao juízo com a prestação de garantia (caução, penhora ou depósito da coisa): A prestação de garantia serve
para o ressarcimento de um possível dano que por acaso ocorra ao exequente que foi afetado por um possível efeito
suspensivo. Em outras palavras, o dano que ocorrer será ressarcido com a própria garantia dada pelo executado.

É bom dizer que se não houver a prestação de garantia, não será concedido o efeito suspensivo, ainda que estejam presentes
os dois requisitos anteriores. No caso de caução (que é a garantia que nos interessa aqui, em razão da execução de obrigação
de fazer), sabemos que ela pode ser fidejussória ou real. O executado pode caucionar um bem móvel ou um imóvel. Não
existindo bens, poderá chamar um fiador, que prestará fiança (um terceiro que possua idoneidade financeira fará isso).

Revogação do efeito suspensivo dos embargos (art. 919, § 2º do CPC): § 2º do art. 919. Cessando as circunstâncias que
a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a requerimento da parte, ser modificada ou revogada a
qualquer tempo, em decisão fundamentada. A concessão do efeito suspensivo é provisória e reversível a qualquer tempo.

116
Esta reversão poderá ser provocada por requerimento do exequente. O juiz, se decidir por revogar, terá de fundamentar
adequadamente. Esta decisão que defere ou revoga o efeito suspensivo é decisão interlocutória, podendo ser atacada por
agravo de instrumento.

Vimos que a regra é que os embargos à execução não possuam efeito suspensivo (caput do 919). O juiz, entretanto, desde
que preenchidos os requisitos e com o requerimento do executado, pode atribuir efeito suspensivo aos embargos (§ 1º do
919). Este efeito suspensivo dado excepcionalmente pelo juiz, porém, pode ser modificado ou revogado (§ 2º do 919). Esta
modificação\revogação, já estudamos, estava prevista no caso do efeito suspensivo dado à impugnação. Ex.: O juiz deu o
efeito suspensivo pois a parte demonstrou fundamentos relevantes e risco de grave dano. O grave dano seria o de que se
prosseguisse a execução, o executado poderia perder um bem, sem que o exequente tivesse responsabilidade patrimonial para
restituir o valor deste bem. Passou 1 semana e o exequente ganhou na loteria (ficou rico) adquiriu patrimônio, possuindo agora
possibilidade de reparar algum dano que ocorra pela perda do bem do executado. O exequente pedirá ao juiz que revogue o
efeito suspensivo dado aos embargos do devedor. O fundamento continua sendo relevante, mas um dos requisitos necessários
à concessão do efeito suspensivo não existe mais (o risco de grave dano ao executado, ao autor dos embargos). Neste caso, o
juiz revogará o efeito suspensivo, depois de evidentemente ouvir a parte contrária (o embargante).

Vimos antes que os embargos à execução são autônomos. Da autonomia dos embargos decorrem outras regras, relacionadas
à eventual efeito suspensivo concedido aos embargos.

A primeira é relacionada aos embargos parciais. É possível que seja concedido efeito suspensivo em relação à embargos que
impugnaram apenas parte do crédito do exequente. Neste caso, os atos executivos relativos à parte do crédito não
questionada pelo devedor poderão prosseguir: “§ 3º do art. 919. Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser
respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante”. Se os embargos atacam apenas
parte da pretensão do exequente, a execução deverá prosseguir normalmente quanto à parte não embargada. Mesmo que o
executado consiga o efeito suspensivo, a execução não terá os atos paralisados na parte não atingida pelos embargos (a parte
não impugnada).

A segunda é relacionada à extensão do efeito suspensivo aos codevedores que não embargaram em litisconsórcio, estando
prevista no § 4º do art. 919 (§ 4º do art. 919. A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados
não suspenderá a execução contra os que não embargaram quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente
ao embargante). É preciso que a defesa dos embargos do litisconsorte que embargou contenha matéria aproveitável apenas
à ele próprio, ou seja, matéria que não beneficia de modo algum os outros codevedores. Se houver possibilidade de que a tese
dos embargos derrube completamente o crédito a ser executado em relação à todos devedores, não haverá como
prosseguir a execução em relação ao devedor que não embargou. Ex.: O único embargante alegou falsidade do título
executivo, e conseguiu efeito suspensivo. A execução deverá ser suspensa em relação à todos os codevedores que não
embargaram, não só em relação ao devedor que embargou.

Requisitos de admissibilidade dos embargos à execução (art. 914 e 915): Antes de tudo, é preciso dizer que não é requisito
para a propositura dos embargos a segurança do juízo (prestação de garantia). Isso porque o art. 914 diz que: “Art. 914.
O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos”. Antes

117
de 2006, exigia-se prestação de garantia na propositura dos embargos. Hoje, não se exige mais, conforme o art. 914. Na
execução por quantia certa, a garantia seria feita por meio de penhora, na de fazer, por caução, na de entrega da coisa, por
depósito. Assim, independentemente de penhora, caução ou entrega da coisa o devedor poderá embargar. Ex.: O credor
promove a execução de um cheque contra o devedor, que já pagou este cheque. O devedor quer embargar, mas não tem bens
para penhorar (prestar a garantia). Mesmo sem ter bens, poderá embargar, pois não é requisito de admissão dos embargos a
indicação de um bem à penhora. A prestação de garantia deixou de ser um requisito para a propositura dos embargos, e passou
a ser requisito para a concessão de efeito suspensivo aos embargos (§ 1º do 919. O juiz poderá, a requerimento do
embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória
e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes).

Os 3 requisitos de admissibilidade dos embargos à execução, se não preenchidos acarretarão na rejeição liminar dos
embargos, nos termos do art. 918:

1) Legitimidade (art. 914, art. 918, II e art. 330): O embargante deve ser o executado (Art. 914. O executado,
independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos). Sendo proposto os
embargos sem que haja legitimidade do autor da ação, os embargos serão rejeitados liminarmente, pois um dos requisitos da
petição inicial não foi atendido, qual seja, o da parte legítima (art. 330, § 1º, II): Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os
embargos: II - nos casos de indeferimento da petição inicial e de improcedência liminar do pedido.

As hipóteses que ensejam o indeferimento da petição inicial estão previstas no art. 330:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta: A petição inicial será inepta nas hipóteses do § 1º do art. 330: “§ 1º Considera-se inepta a petição inicial
quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se
permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - contiver pedidos
incompatíveis entre si”.

II - a parte for manifestamente ilegítima: Demos este exemplo acima, como um dos requisitos de admissibilidade dos
embargos.

III - o autor carecer de interesse processual:

IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321: Ocorre quando não constar da inicial o endereço do advogado do
exequente, seu nº de inscrição na OAB e o nome da sociedade de advogados da qual participar, para recebimento de intimações
(art. 106, I), ou quando intimado a emendar ou completar a inicial em 15 dias, o exequente deixar de fazê-lo (art. 321, parágrafo
único).

As irregularidades da inicial, portanto, quando sanáveis, não deverão causar de plano a rejeição dos embargos. Como dito
antes, o juiz deverá conceder primeiro o prazo de 15 dias para que o devedor emende a petição inicial (art. 321 c\c art.
801 do CPC), decretando a rejeição da petição somente após os 15 dias sem ação do devedor.

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende

118
ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a
diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Art. 801. Verificando que a petição inicial está incompleta ou que não está acompanhada dos documentos indispensáveis à
propositura da execução, o juiz determinará que o exequente a corrija, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
indeferimento.

Essa decisão do juiz que rejeita liminarmente os embargos tem força de sentença, razão pela qual se o executado quiser
recorrer da rejeição liminar dos embargos, o recurso cabível será apelação, nos termos do art. 331 e 1.009 do CPC.

2) Tempestividade (art. 915 e art. 918, I): O embargante deve embargar dentro do prazo de 15 dias (Art. 915. Os embargos
serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado, conforme o caso, na forma do art. 231), sob pena de os embargos
serem rejeitados liminarmente, conforme o inciso I do art. 918: Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos: I -
quando intempestivos.

Conforme o art. 915, este prazo corre na forma do art. 231, II, ou seja começa a correr a partir da data de juntada aos autos
do mandado cumprido, já que a citação é por oficial de justiça. O dia do começo é o dia da data de juntada do mandado,
lembrando sempre que a regra geral da contagem de prazos no processo civil é excluir o dia do começo e incluir o do
vencimento (art. 224). Ex.: Foi o executado citado para cumprir a obrigação no dia 14 (terça-feira), pelo oficial de justiça. O
mandado foi juntado aos autos no dia 15 (quarta-feira). O dia 15 é o dia do começo, que será excluído. O prazo começará a
ser contado a partir do dia 16 (quinta-feira), de modo que a partir do dia 16 o executado poderá embargar (no dia 16 começa
a correr o prazo de 15 dias).

Por fim, cabe dizer que é possível a propositura de embargos antes da citação do executado, caso em que não haverá
intempestividade. Neste caso, o comparecimento espontâneo do demandado supre a citação, conforme o art. 239, 1º, que
dispõe “o comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta
data (a do comparecimento) o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução”. Além disso, o próprio
art. 218, 4º do CPC dispõe que "será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo".

3) Fundamentos não banais, não protelatórios (art. 918, III): O juiz pode rejeitar liminarmente os embargos à execução
se considerar que há intenção protelatória (Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos: III - manifestamente
protelatórios). O art. 774, II, do CPC declara atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que “se opõe
maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos”, sendo que utilizar os embargos à execução de forma
protelatória é claramente um modo malicioso de se opor à execução, configurando também litigância de má-fé. Em razão
disso, o embargante deve demonstrar que não tem intenção protelatória. Esta, se for configurada, caracteriza ato atentatório
à dignidade da justiça, conforme o § único do art. 918 (Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à dignidade da
justiça o oferecimento de embargos manifestamente protelatórios).

Estando configurada a conduta atentatória à dignidade da justiça, o juiz deverá aplicar ao embargante multa de até 20%
do valor do débito da execução, conforme o § único do art. 774: Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz
fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida

119
em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual
ou material.

O juiz, à primeira vista, deverá ter condições de reconhecer que o embargante não quer apenas ganhar tempo, ou seja, não
quer embargar de forma manifestamente protelatória. Os fundamentos dos embargos não precisam relevantes (como se exige
no pedido de concessão de efeito suspensivo), mas para embargar é preciso na petição demonstrar um certo conteúdo que
sinaliza não existir intenção meramente protelatória. Ex.: O exequente promoveu a execução de um cheque de 10 mil
reais. Posteriormente, atualizou para 12 mil o valor. O executado embarga, dizendo que o valor não é 12 mil reais, mas não
diz qual é o valor devido. Entende-se que o executado está apenas querendo ganhar tempo, pois fez um questionamento
genérico. Os fundamentos serão desconsiderados e os embargos rejeitados liminarmente.

O juiz pode rejeitar liminarmente os embargos, mas se fizer isso, é possível que o devedor recorra e reforme a decisão. Se a
apelação for rejeitada, caberá recurso especial, e depois recurso extraordinário (afinal pode estar sendo ferida a ampla defesa).
Provavelmente algum recurso será provido em relação à esta decisão que rejeitou liminarmente os embargos. Pela lei, o juiz
não precisa dar oitiva para a parte contrária, mas é aconselhável, pois a parte contrária provavelmente recorrerá. Se o juiz
rejeitar liminarmente sem dar o motivo da rejeição expressamente e sem aplicar a penalidade, o executado pode interpor até
embargos de declaração, pois se houve intenção protelatória, deveria ter a menção à esta, a fundamentação e a aplicação da
penalidade relacionada ao ato atentatório à dignidade da justiça.

Procedimento dos embargos à execução (art. 920 do CPC): Os embargos seguem o procedimento comum, devendo ser
propostos por meio de petição inicial, com os requisitos do art. 319, inclusive com o pedido de conciliação ou mediação, se
for o caso (este pedido não era necessário na petição inicial da ação executiva). Como é uma ação de conhecimento, todos
estes requisitos devem estar presentes, inclusive os meios de prova requeridos (este pedido também não era necessário na
petição inicial da ação executiva). Em momento oportuno, terá o embargante prazo para apresentar o rol de testemunhas.

Na petição inicial dos embargos à execução, ao contrário de uma petição inicial de uma ação de conhecimento comum, o
embargante já tem um juízo prevento. O inciso I do art. 319 traz que a petição inicial deve indicar “o juízo ou tribunal a que
é dirigida”. Já existe um processo de execução, o embargante sabe quem é o juiz que está processando e julgando a execução.
Será para este juiz (digamos que seja o da 2º Vara Cível) que ele endereçará os embargos, pedindo a distribuição por
dependência, para que os embargos sejam apensados aos autos do processo executivo. Assim, nós teremos dois volumes de
processo, e um não impede o andamento do outro. Então, se os embargos não tiverem efeito suspensivo, continua-se
processando nos outros autos, aos quais estão apensos os autos dos embargos, os atos executivos, que prosseguirão.

Art. 920. Recebidos os embargos: Não sendo rejeitados liminarmente, os embargos serão recebidos.

I - o exequente será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias: O exequente será citado para se manifestar. Na citação, o réu (o
embargado, que é o exequente) será chamado para contestar os embargos no prazo de 15 dias, como ocorre no procedimento
comum.

II - a seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido ou designará audiência: Após a apresentação ou não da contestação, se
necessário, o juiz designará audiência de instrução e julgamento. O juiz pode julgar imediatamente o pedido (caso em
que proferirá desde logo sentença), sem designar audiência, conforme o art. 355 do CPC, quando não houver necessidade

120
de produção de provas, por ex.: “Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de
mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no
art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349”.

III - encerrada a instrução, o juiz proferirá sentença: Desta sentença que julgou os embargos cabe o recurso de apelação.
Esta apelação, em regra, é recebida em ambos os efeitos. Há de se ter cuidado, entretanto, pois nem sempre será assim, pois
se os embargos forem julgados improcedentes, a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo, prosseguindo a
execução, conforme o art. 1.012, § 1º, III (§ 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que: III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os
embargos do executado). Se não fosse assim, o devedor sempre entraria com apelação para suspender a execução através
deste recurso. O recorrente não ganhará tempo promovendo a apelação (se é isso que pretende). Quando os embargos forem
considerados improcedentes, portanto, prossegue a execução mesmo com apelação, que será recebida apenas no efeito
devolutivo.

Procedimento dos embargos à execução resumido:

Petição inicial -> citação do réu (embargado\exequente) -> julgamento imediato do pedido ou designação de audiência de
instrução e julgamento, se necessário -> Sentença -> Recurso (apelação, que se atacar sentença de improcedência do
pedido será recebida apenas no efeito devolutivo)

Título extrajudicial. Execução de entrega de coisa certa (arts. 806 a 810) ou incerta (arts. 811 até 813)

Esta é a segunda espécie de execução que temos para a terceira prova.

Procedimento da execução de entrega de coisa certa e de coisa incerta.

1. Petição inicial (art. 319\320\798\811): A execução de entrega de coisa começa da mesma forma que a execução de
obrigação de fazer baseada em título extrajudicial: com uma petição inicial.

Sendo a coisa incerta, e competindo a individualização desta ao exequente, este a fará na petição inicial, conforme o
parágrafo único do art. 811: “Parágrafo único. Se a escolha couber ao exequente, esse deverá indicá-la na petição inicial”.
Ex.: O devedor tem um instrumento de transação referendado pelo MP, onde foi acordado que ele deveria entregar para o
credor 100 kg de arroz. A coisa é claramente incerta, classificada apenas pelo gênero e pela quantidade. O devedor não
entregou a coisa incerta. O credor tem um título extrajudicial, líquido, certo e exigível. Anexará o título na petição inicial da
ação executiva, onde individualizará o bem, pedindo 100 kg de arroz tipo PN1 agulha.

No caso de coisa incerta e competindo a individualização desta ao executado, este a individualizará no momento do
cumprimento da obrigação, depois de ser citado, conforme o caput do art. 811: “Art. 811. Quando a execução recair sobre
coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe couber a
escolha”.

121
A petição inicial da ação executiva que busca a entrega de coisa, certa ou incerta, segue os requisitos do art. 319 (requisitos
gerais). Em relação à coisa incerta, devemos nos atentar principalmente à alínea a) do inciso II do art. 798, ao art. 811 (já
comentamos ele) e ao art. 320 do CPC. Vejamos:

Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.

Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: II - indicar: a) a espécie de execução de sua preferência, quando
por mais de um modo puder ser realizada.

Art. 811. Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o executado será citado para
entregá-la individualizada, se lhe couber a escolha. Parágrafo único. Se a escolha couber ao exequente, esse deverá indicá-
la na petição inicial.

Se o credor quiser, pode requerer na petição inicial, ao juiz, a fixação de astreintes (o que o juiz fará no mandado citatório).
As astreintes podem estar já previstas no próprio título extrajudicial. Neste caso, o juiz ou pode apenas fixar o valor ali
estabelecido, ou estabelecer outro valor, aumentando (se o valor for pequeno) ou diminuindo (se o valor for exorbitante).
Lembrando sempre que o juiz pode fixar de ofício as astreintes, conforme o § 1º do art. 806: “§ 1º Ao despachar a inicial, o
juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso
se revele insuficiente ou excessivo”.

Além do mais, já vimos que as medidas de apoio utilizadas no cumprimento de sentença que condena à obrigação de fazer,
do art. 536, § 1º (§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de
multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva,
podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial) podem ser utilizadas para o cumprimento de sentença de
obrigação de entrega de coisa (conforme o art. 538, § 3º). Segundo H. Theodoro, estas medidas de apoio podem também ser
utilizadas na execução de entrega de coisa baseada em título extrajudicial, embora a lei mencione apenas a multa no § 1º do
art. 806.

Despacho do juiz fixando astreintes (art. 806, § 1º), ordenando a citação do executado, o cumprimento da obrigação
(art. 806, caput) e o pagamento de custas e honorários (art. 827): Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa
certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. O executado
será citado para entregar a coisa no prazo de 15 dias, se não houver outro prazo assinado pelo juiz. Deste modo, não
havendo outro prazo assinado pelo magistrado, o prazo é o legal, de 15 dias.

Se a coisa é incerta e competia ao exequente individualizá-la (por ex., por constar no título extrajudicial que caberá ao credor
individualizar), vimos que ele tornará a coisa certa na petição inicial da ação executiva, conforme o caput do art. 811. Ex.:
O exequente na petição inicial pediu para o juiz citar o executado para entregar 100 kg do arroz tipo PN1 agulha, no prazo de
15 dias. Este arroz não é considerado nem o melhor nem o pior arroz, conforme manda o CC\02.

A parte insatisfeita pode impugnar a individualização da coisa incerta feita pela outra parte (art. 812). Digamos que no
exemplo dado acima o exequente tenha escolhido na petição inicial o melhor arroz, e pedido para o executado entregar 100
kg deste arroz. Ora, sabemos que o devedor não tem obrigação de entregar a melhor coisa, nem a pior (conforme o art.

122
244 do CC\02), mas a coisa mediana (o arroz mediano, no exemplo dado). É cabível que o executado impugne, conforme o
art. 812: “Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a escolha feita pela outra, e o juiz
decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação”. O juiz decidirá se o arroz a ser entregue será o
escolhido pelo exequente ou outro arroz. O juiz, ao apreciar a impugnação da individualização da coisa, pode utilizar perito
(observando o procedimento dos exames periciais). A decisão do juiz que julgar esta impugnação poderá ser contestada por
agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único).

É bom lembrar que no mandado de citação o juiz ordena que o devedor entregue a coisa, mas também ordena que o devedor
pague as custas e honorários advocatícios fixados, além das astreintes (se houver atraso). Vejamos: “Art. 827. Ao despachar
a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado”. Os honorários
e custas são devidos porque o credor teve de acionar o Judiciário para que a obrigação fosse cumprida. Se o executado não
quisesse pagar honorários e custas, bastava que cumprisse a obrigação no momento devido, mas não fez e portanto merece
pagar tudo.

Comportamento do executado. Várias possibilidades:

Cumpre com o mandado citatório (art. 924, II, art. 807 do CPC): Se depois de ser citado, o executado cumprir a obrigação
no prazo (de 15 dias ou outro prazo assinado pelo juiz), entregando a coisa e pagando honorários e custas, a obrigação estará
satisfeita e a execução acabará, conforme o art. 924, II: “Art. 924. Extingue-se a execução quando: II - a obrigação for
satisfeita”. Complementa o art. 807: “Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e
considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos,
se houver”. É necessário destacar e lembrar que não basta entregar a coisa, mas também é preciso pagar os honorários e
custas, caso contrário, a execução prosseguirá como execução de quantia certa. Se o executado entregar a coisa mas não pagar
os honorários e as custas, a execução prosseguirá, como execução de quantia certa, para que se pague o restante devido.

Se opõe à execução (embargos, exceção de pré-executividade, simples petição): O executado pode se opor à execução,
por meio de embargos à execução, no mesmo prazo que tem para entregar a coisa (15 dias). Segundo H. Theodoro, temos
2 formas distintas de contar os prazos: a) O prazo para entregar a coisa, que é de 15 dias e começa a contar da data da efetiva
citação do devedor; b) O prazo para embargar, que também é de 15 dias mas começa a contar na forma do art. 231, ou seja,
da juntada do mandado cumprido aos autos (art. 915 c\c art. 231).

Na execução de título extrajudicial, em regra, se utiliza os embargos à execução como forma de oposição, mas temos todas as
outras formas de oposição que temos na execução de obrigação de fazer por título extrajudicial.

Como os embargos não possuem em regra efeito suspensivo, prossegue a execução e prosseguem os atos executivos. Para
que o juiz possa atribuir efeito suspensivo aos embargos, vimos que é necessário o preenchimento de 3 requisitos: a)
Fundamentos relevantes; b) Possibilidade de que o prosseguimento da execução cause grave dano, de difícil ou impossível
reparação; c) Prestação de garantia ao juízo (em entrega de coisa, o depósito da coisa). No nosso exemplo, bastaria
depositar o arroz, provar que o prosseguimento da execução poderia causar grave dano ao executado, e mostrar que possui
provas suficientes a respeito do direito.

123
Permanece inerte (cumprimento através de mandado de busca e apreensão ou imissão de posse. Art. 806, § 2º do CPC):
§ 2º do art. 806. Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de
bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi
designado. No primeiro mandado citatório, o juiz recebe a petição inicial, despacha e determina a citação do executado por
meio de oficial de justiça. A citação necessariamente será feita por meio de oficial de justiça. O oficial de justiça ficará com
o mandado citatório e se a obrigação não for cumprida no prazo devido, o oficial já possuirá a ordem de busca e apreensão
ou omissão de posse. Ex.: Os 15 dias (prazo legal para o cumprimento da obrigação) passaram em branco, sem que o devedor
entregasse a coisa. Independentemente de oposição do devedor, o oficial se dirigirá à casa dele e cumprirá o mesmo mandado,
levando a coisa. O mesmo mandado que ordenou a citação possui também ordem de busca e apreensão. A citação deve
ser feita pelo oficial de justiça, afinal se fosse feita pelo correio, o carteiro não poderia ficar com o mandado debaixo do braço.

Não há a necessidade de expedição de um novo mandado de busca e apreensão ou de imissão. Usa-se o mesmo mandado
citatório, aquele original, que já se encontra na mão do oficial de justiça. Se o bem se encontrar naquela casa, em razão da
citação anterior, o próprio oficial de justiça já possui a ordem para se dirigir à casa do devedor e para apreender a coisa móvel
objeto da execução, ou no caso de bem imóvel, possui a ordem de imissão de posse.

Perdas e danos e coisa em poder de terceiro (art. 809 do CPC): Em último caso, restará ao exequente buscar e receber
perdas e danos e o valor da coisa, se não souber onde a coisa se encontra, ou se o devedor não entrega-la, ou a coisa não for
encontrada, etc. Não há, de fato, como efetuar a busca e apreensão ou a imissão de posse se ninguém sabe onde a coisa se
encontra. A previsão é do art. 809: Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente.
Nesta hipótese, a execução de entrega de coisa se tornará execução de quantia certa.

Art. 808. Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que somente será ouvido
após depositá-la. Se por acaso o terceiro adquire a coisa no curso da ação, há fraude à execução, já vimos isso. Ademais, o
terceiro só poderá ser ouvido sobre esta compra que efetuou depois de depositar a coisa em juízo. Depositada a coisa, o
terceiro será ouvido. Se o terceiro não depositar a coisa e ela continuar em seu poder (do terceiro), o exequente poderá
pedir que o mandado de busca e apreensão seja cumprido no lugar onde a coisa se encontra (com o terceiro).

Segue o § 1º do 809: “§ 1º Não constando do título o valor da coisa e sendo impossível sua avaliação, o exequente apresentará
estimativa, sujeitando-a ao arbitramento judicial”. Se o credor não tiver condições de estipular o valor da coisa, a apuração
do valor se dará por arbitramento. O juiz é que arbitrará o valor que parecer mais correto à coisa, que não foi encontrada.
Completa o § 2º do 809: “§ 2º Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos”.

Benfeitorias na execução de entrega de coisa (art. 810 do CPC): “Art. 810. Havendo benfeitorias indenizáveis feitas na
coisa pelo executado ou por terceiros de cujo poder ela houver sido tirada, a liquidação prévia é obrigatória. Parágrafo
único. Havendo saldo: I - em favor do executado ou de terceiros, o exequente o depositará ao requerer a entrega da coisa;
II - em favor do exequente, esse poderá cobrá-lo nos autos do mesmo processo”. Se houver benfeitorias na coisa a ser
entregue (aquelas benfeitorias que no processo de conhecimento deveriam ser alegadas na contestação), na execução de
entrega de coisa elas devem ser alegadas em sede de embargos do devedor (art. 917, IV). Ex.: O devedor entregará a casa,

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desde que o credor pague o telhado que ele, devedor, foi obrigado a fazer, pois chovia muito no imóvel. Neste caso, o devedor
tem um saldo favorável à si. Até entrega a casa, mas o credor, primeiramente, deverá pagar o valor estipulado nos embargos
(9 mil reais). Se o credor não pagar, o devedor terá adquirido um título judicial (a sentença proferida nos embargos, que
obrigou o credor a pagar 9 mil reais).

Essa “liquidação prévia e obrigatória” do caput do 810 pode ser por arbitramento ou pelo procedimento comum. Se a
liquidação for por arbitramento, e houver fato novo, não haverá ofensa à coisa julgada. Não há ofensa à coisa julgada se a
sentença disser que a liquidação se der por arbitramento.

Título extrajudicial. Execução de obrigação de pagar quantia certa contra devedor solvente (art. 824 até art. 909)

O patrimônio do devedor é a garantia dos seus credores frente às dívidas do devedor, caso em que teremos execução por
quantia certa, onde é devida uma soma de dinheiro (Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei). Teremos também esta modalidade de
execução quando ocorrer substituição da execução de obrigação de entrega de coisa ou de fazer, por inadimplemento do
devedor dentro da execução (arts. 809, 816 e 821).

Para chegar ao seu fim (a satisfação do credor pela entrega do dinheiro que lhe é devido), a execução de quantia certa se vale
da expropriação dos bens do devedor (por meio de adjudicação ou alienação), conforme os arts. 824 e 825: Art. 824. A
execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções especiais. Art. 825.
A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimentos e de outros bens.

Procedimento da execução de obrigação de pagar quantia certa contra devedor solvente:

1) Petição inicial: Na petição inicial da ação executiva que busca a execução de quantia certa devem estar presentes, além
dos requisitos de qualquer execução (a demonstração do inadimplemento do devedor e o título executivo extrajudicial) os
requisitos do art. 319 e 320, como em qualquer petição inicial.

É especialmente necessário instruir a petição inicial com a memória discriminada do cálculo, conforme o art. 798, I, b) do
CPC (o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia
certa). Este demonstrativo deve ser detalhado e analítico, conforme o parágrafo único do art. 798: “O demonstrativo do débito
deverá conter: I - o índice de correção monetária adotado; II - a taxa de juros aplicada; III - os termos inicial e final de
incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se
for o caso; V - a especificação de desconto obrigatório realizado”.

Na própria petição inicial o credor pode, querendo, indicar um bem à penhora, conforme o art. 798, II, c) do CPC (os bens
suscetíveis de penhora, sempre que possível).

2) Despacho do órgão julgador, determinando a citação do devedor (art. 829) e estipulando honorários em 10% (art.
827): O despacho do órgão julgador que ordenar a citação (estudaremos ela logo mais) estipulará honorários advocatícios
no valor de 10% (Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a

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serem pagos pelo executado), destacando-se o fato de que segundo o § 1º do art. 827, os honorários advocatícios serão
reduzidos pela metade se o devedor cumprir integralmente a obrigação no prazo de 3 dias (§ 1º No caso de integral
pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade). O pagamento deve,
portanto, ser integral (com todos os valores acessórios) e feito dentro do prazo de 3 dias, do contrário, não haverá a redução.

Havendo a propositura de embargos à execução e sendo os embargos julgados procedentes, a execução pode ser extinta e
não será mais necessário o pagamento de honorários por parte do embargante\executado (é o embargado que pagará os
honorários fixados na sentença que julgou os embargos). Tendo sido julgados improcedentes os embargos, é porque o
advogado da parte e o embargante não tinham razão, de modo que o valor dos honorários será ampliado para o total de até
20%. O embargante-executado deverá pagar honorários, que não serão mais de 10% (§ 2º do art. 827. O valor dos honorários
poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos
os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do
exequente). Ou o juiz soma o valor dos honorários sucumbenciais dos embargos com o valor dos honorários do mandado na
própria sentença de improcedência dos embargos ou nesta sentença o valor antigo (presente no mandado citatório inicial) é
absorvido por um novo valor, que não ultrapasse 20%.

Ainda, o aumento do valor dos honorários não ocorre apenas por conta de sentença que julgue improcedentes os embargos.
Mesmo que não sejam opostos embargos, este valor de 10% inicial poderá ser aumentado ao final do procedimento
executivo, levando em conta o trabalho do advogado, se este for realmente bom (art. 827, § 2º).

2.1) Requerimento de certidão comprobatória que demonstra a admissão da execução (art. 828 e art. 792, II): Após o
despacho do órgão julgador, o exequente tem a faculdade de requerer uma certidão comprobatória da admissão da ação
executiva. Esta atitude do credor está relacionada à configuração de fraude à execução.

No CPC anterior, antes de uma modificação legislativa feita em 2006, o credor, com a petição inicial, se dirigia à distribuição,
pagava custas, e ali mesmo pedia uma certidão que comprovava que a ação executiva havia sido ajuizada. Era no momento
da distribuição da petição inicial, do ajuizamento da ação executiva que o credor conseguia a certidão. De posse dessa
certidão, o credor se dirigia ao cartório de registro dos bens (ex.: O CRVA, ou CRI) e registrava esta certidão. O credor fazia
isso exatamente para que se qualquer pessoa comprasse este bem (ex.: o carro ou a casa), teria ciência de que o bem comprado
poderia responder pela execução, não sendo cumprida a obrigação, a fraude à execução estaria automaticamente configurada.
Em outras palavras, o terceiro não poderia alegar a boa-fé ao comprar o bem, pois estava registrado que havia ação em curso
contra o bem comprado. Esta alienação, frente ao exequente não produziria efeito algum. O exequente poderia penhorar, por
ex., o carro ou a casa vendida ao terceiro.

Mas isto trazia inconvenientes. Imaginemos o seguinte exemplo: O João quer vender o carro dele por 200 mil. Eu digo para
ele: “Tenho 150 mil reais, João, e compro o seu carro”. Ele não quer em princípio, mas eu ofereço 160 mil se ele não conseguir
vender até o final do mês por 200 mi l. Para que ele não consiga vender o carro por 200 mil, eu falsificarei um cheque e
proponho uma ação executiva contra o João. No momento em que for distribuída a petição inicial dessa execução mentirosa,
eu pedirei a certidão que comprova que ajuizei a ação executiva. Levarei a certidão no CRVA e registrarei que há uma
execução pedindo o carro como pagamento. Ninguém comprará o carro, pois há o registro (e João não sabe disso). No final

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do mês, João venderá o carro para mim, pois ninguém quis comprá-lo, e ele aceitará o valor de 160 mil. Eu desistirei da ação
executiva, retirarei a certidão comprobatória, e comprarei o veículo por 160 mil.

Depois de 2005, isso não é mais possível. É necessário, antes, que o juiz admita a execução. Se o devedor promoveu a
execução por meio da petição inicial, mas o juiz mandou ele emendar a petição inicial, não poderá o devedor pegar a certidão
comprobatória. Se a parte não emendar a inicial, a execução não será admitida, pois faltou um dos seus requisitos. Apenas
com a admissibilidade da execução será possível conseguir a certidão comprobatória. A admissibilidade da execução só
surge com o despacho do órgão julgador, que determina a citação do executado. Havendo despacho, fica claro que a
execução foi admitida pelo juiz, e estando admitida a execução, o credor pode requerer no cartório a certidão comprobatória
do ajuizamento da execução. Posteriormente, pode levar ao registro dos bens que busca para o pagamento da obrigação, e
registrar a existência de uma execução. Cabe ao cartório judicial a expedição desta certidão, que só poderá ser expedida pelo
cartório judicial depois de a execução ter sido admitida pelo juiz. Caberá ao exequente se dirigir aos registros de bens e realizar
a averbação, sendo de sua responsabilidade a eventual abusividade nessa conduta. O credor tem o prazo de 10 dias para
registrar o bem (conforme o § 1º do 828), e se registrar de forma indevida, responderá pelos prejuízos causados ao executado.

Depois dessa modificação de 2006, o credor até pode conseguir a certidão comprobatória, mas não no momento do
ajuizamento da execução (na distribuição da petição), mas no momento da admissão da execução (comprovada pelo
despacho do órgão julgador que determina a citação do executado). Veremos essas regras agora:

Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: IX - proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e
dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros.

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do
valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou
indisponibilidade. Este bem do qual a certidão, sobre o qual foi averbado no respectivo registro a existência de uma execução,
pode responder pela execução. Nessa certidão haverá o nome das partes e o valor do débito.

É bom dizer que o registro dessa certidão não impede a alienação do bem, apenas torna a alienação desvantajosa em relação
ao terceiro adquirente. Há uma ineficácia relativa da alienação. Ainda assim, o bem pode ser alienado, pois não está
penhorado. Apenas está se dando conhecimento a terceiros de que esse bem poderá futuramente responder pela execução se
o executado não dispor de outros bens para cumprir a obrigação, caso em que se configura fraude à execução nos termos do §
4º do art. 828 e do inciso II do art. 792: “§ 4º do art. 828. Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de
bens efetuada após a averbação. Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: II - quando
tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828”. O que configura a
fraude é o conhecimento do terceiro da existência de ação contra o devedor que lhe alienou o bem (que é o executado). É a
averbação da certidão comprobatória da admissão da execução que traz essa presunção de conhecimento do terceiro em relação
à existência do processo executivo.

§ 1º do art. 828. No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações
efetivadas. Para que as averbações continuem produzindo efeito, o exequente deverá no prazo de 10 dias comunicar ao juízo
todas as averbações que efetuou.

127
Uma vez aperfeiçoada a penhora em bens suficientes para garantir a dívida, as averbações relativas aos bens não penhorados
deverão ser canceladas pelo exequente, no prazo de 10 dias: § 2º do art. 828. Formalizada penhora sobre bens suficientes
para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas
àqueles não penhorados. Ex.: O exequente registrou a certidão no CRVA, em relação à dois carros do executado. O executado
deve um total de 200 mil reais. Ocorre que houve penhora, realizada pelo oficial de justiça. Um dos carros vale 150 mil reais,
e o outro vale 250 mil reais. Um carro que foi penhorado tem o valor de 250 mil, o que já paga o débito. Não há porque deixar
a certidão comprobatória registrada em relação ao carro de 150 mil. Se cancelará o registro deste carro de 150 mil no CRVA,
e não haverá nenhum problema em vende-lo. O exequente tem o prazo de 10 dias para cancelar a averbação. Não cancelando,
terá de ressarcir o executado pelo prejuízo sofrido em virtude da certidão averbada desnecessariamente. Será retirada também
a certidão comprobatória de admissão da execução relativa ao carro de 250 mil. No lugar, surgirá uma certidão de penhora
sobre este bem.

Sendo necessário que o credor cancele a averbação indevida, e tendo este não feito este cancelamento, o próprio juiz pode
determinar o cancelamento, de ofício ou a requerimento: § 3º do art. 828. O juiz determinará o cancelamento das
averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não o faça no prazo. O exequente não cancelou a averbação. O
executado pode requerer o cancelamento, mas o próprio juiz pode de ofício mandar cancelar. A primeira intervenção é do
próprio exequente. Se ele não fizer, o juiz ou o executado mediante requerimento podem cancelar a averbação indevida.

O CPC busca evitar o abuso do direito de averbação, estabelecendo sanções: § 5º do art. 828. O exequente que promover
averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos termos do § 2º indenizará a parte contrária,
processando-se o incidente em autos apartados. Autos apartados, mas evidentemente anexados à execução, pois foi nesta
ação executiva que ocorreu o ato que deu ensejo à indenização. Este ato é, evidentemente, a averbação manifestamente
indevida ou o não cancelamento da averbação anteriormente devida mas que se tornou indevida posteriormente.

3) Citação do executado (art. 829): Utilizando ou não o exequente da faculdade que possui de averbar a certidão
comprobatória da admissão da execução no registro dos bens, haverá a citação do executado. O despacho do juiz que vimos
antes determinará a citação do executado, para que pague em 3 dias, contados da efetiva citação, o valor devido, acrescido
de custas e honorários advocatícios: “Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias,
contado da citação”. Só depois de ser citado é que o executado saberá que existe contra ele uma ação executiva. Assim, terá
condições de saber que nos autos do processo já se encontra um requerimento de averbação, já que provavelmente o exequente
deve ter levado ao conhecimento do juiz este fato (conforme o § 1º do art. 828).

Como dito, o executado tem o prazo de 3 dias para cumprir a obrigação (pagar os valores). O prof. Mitidiero diz que o prazo
de 3 dias começaria a correr da data de juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido, na forma do
inciso II do art. 231. Segundo ele, haveria vantagem no uso subsidiário das disposições do processo de conhecimento dentro
do processo de execução. O oficial de justiça se dirigiria à casa do devedor, citaria o devedor, voltaria ao Foro, juntaria aos
autos o mandado cumprido, e a partir desta juntada é que começaria a contar os 3 dias para pagar. O professor discorda, pois
o art. 829 diz que “O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação”. Segundo o
professor, não se admite citação por correio no processo de execução, pois o oficial de justiça fica com o mandado citatório

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embaixo do braço. Se contarmos o prazo da juntada do mandado aos autos, apenas uma das vias deverá ser juntada, pois a
outra via ficará com o oficial de justiça. O art. 829 foi feito para dar celeridade à execução. Não teria sentido citar, juntar o
mandado e só depois começar a correr o prazo, pois demoraria muito. A contagem do prazo para cumprir a obrigação, segundo
o professor, começa a contar do próprio ato de citação, do dia que o oficial citou o executado, e não da juntada do mandado
cumprido aos autos. A mesma opinião é compartilhada pela doutrina majoritária. Até por isso, o juiz não precisa expedir
outro mandado para o oficial de justiça penhorar os bens em caso de não pagamento. O mandado é um só, para dar velocidade
à execução. Se fosse para contar da juntada do mandado aos autos, o art. 829 deveria remeter ao art. 231, que traz a regra geral
da contagem de prazos no processo de conhecimento.

Com a citação do devedor na execução de quantia certa, passam a fluir dois prazos diferentes:

1. Prazo de 3 dias -> para cumprir a obrigação (pagar o principal e os acessórios) -> contado da efetiva citação do devedor;

2. Prazo de 15 dias -> para embargar -> contado da juntada aos autos do mandado citatório efetivamente cumprido.

Por meio de um só mandado o oficial de justiça tem poder para citar o executado e realizar a penhora e avaliação. O oficial
cita o devedor e aguarda o prazo de 3 dias para o pagamento voluntário. Não havendo pagamento, ele, oficial, procede à
penhora e intima o executado imediatamente sobre esta penhora, nos termos do § 1º do 829: § 1º do art. 829. Do mandado de
citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado
o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. Não sendo cumprida a
obrigação no prazo de 3 dias (não sendo pago o valor), o oficial de justiça voltará, penhorará e avaliará os bens do executado.
Já há uma ordem para penhorar e avaliar os bens do executado em caso de inadimplemento no próprio mandado citatório.

Ocorrendo esta hipótese de inadimplemento do devedor ao ser citado (não pagou), o oficial de justiça penhorará os bens
indicados pelo exequente na petição inicial (§ 2º do art. 829. A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente,
salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição proposta lhe
será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente). Não tendo sido indicado nenhum bem, o oficial penhorará os bens
que encontrar. Existindo dificuldade em localizar bens penhoráveis, o próprio juiz, de ofício ou a requerimento pode
determinar a intimação (na pessoa do advogado ou na pessoa do devedor, se houver ou não advogado) do executado para
que este indique bens passíveis de penhora. Haverá ato atentatório à dignidade da justiça se o executado não indicar
bens à penhora quando intimado, nos termos do inciso V do art. 774 (inciso V - intimado, não indica ao juiz quais são e
onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão
negativa de ônus).

Intimação após a penhora (art. 841, 842): Penhorados e avaliados os bens, o executado será intimado pessoalmente, no
momento da própria penhora, em regra, pois a presenciou: Art. 841. Formalizada a penhora por qualquer dos meios legais,
dela será imediatamente intimado o executado. § 3º do art. 841. O disposto no § 1º não se aplica aos casos de penhora
realizada na presença do executado, que se reputa intimado.

No caso de penhora feita em imóvel ou em veículo por exibição de certidão de matrícula ou registro, o executado será intimado
na pessoa do seu advogado (§ 1º do art. 841. A intimação da penhora será feita ao advogado do executado ou à sociedade
de advogados a que aquele pertença) e não havendo advogado, o executado será intimado pessoalmente (§ 2º do art. 841.

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Se não houver constituído advogado nos autos, o executado será intimado pessoalmente, de preferência por via postal. § 4º
do art. 841. Considera-se realizada a intimação a que se refere o § 2º quando o executado houver mudado de endereço sem
prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274).

Art. 842. Recaindo a penhora sobre bem imóvel ou direito real sobre imóvel, será intimado também o cônjuge do executado,
salvo se forem casados em regime de separação absoluta de bens. Há litisconsórcio necessário entre os cônjuges, quando há
bem imóvel pertencente à pessoa casada relacionado (Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor
ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1º Ambos
os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado
por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento,
a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges). No caso de cônjuges casados sob o regime
da separação absoluta de bens, não há porque intimar o cônjuge do executado, pois cada um é proprietário dos seus bens
particulares. Mas havendo comunhão parcial de bens ou comunhão universal e se o bem for imóvel ou houver direito real
sobre imóvel relacionado, será necessária a intimação do cônjuge. Quando o bem penhorado for alienado, o exequente só
terá direito à 50% do valor, correspondente à metade do bem, que é a parte que o executado tem direito como cônjuge. Os
outros 50% devem ser devolvidos ao cônjuge.

Arresto de bens (art. 830 do CPC): Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos bens
quantos bastem para garantir a execução. No arresto, o oficial de justiça, na tentativa de citar o devedor, não o encontra,
mas encontra bens penhoráveis. O arresto realiza-se, portanto, antes da citação do devedor, é prévio à citação. É uma
medida cautelar preparatória da penhora e um dever do oficial de justiça, que o realiza de ofício, lavrando um termo e
nomeando um depositário, a quem caberá zelar pelo bem. É possível excepcionalmente, porém, que o credor peça o arresto
na petição inicial, com base no art. 799, VIII (Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: VIII - pleitear, se for o caso, medidas
urgentes), para que os bens do devedor sejam apreendidos antes da citação.

Após realizar o arresto, o oficial ficará com o mandado citatório embaixo do braço e tentará citar o executado dentro do prazo
de 10 dias, procurando-o 2 vezes em dias diferentes (§ 1º do art. 830. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o
oficial de justiça procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a citação
com hora certa, certificando pormenorizadamente o ocorrido). Não tendo sucesso na citação do devedor, o oficial o citará
com hora certa. Não tendo sido bem sucedida a citação pessoal e nem a com hora certa do 1º, o exequente deverá requerer
a citação por edital (§ 2º do art. 830. Incumbe ao exequente requerer a citação por edital, uma vez frustradas a pessoal e a
com hora certa). Aperfeiçoada a citação (por qualquer meio) e transcorrido o prazo de 3 dias, o arresto será convertido
em penhora (§ 3º Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o arresto converter-se-á em penhora,
independentemente de termo).

Cabe por fim dizer que o arresto não elimina o direito de o executado pretender a substituição do bem penhorado.

130
4) Comportamento do executado. Várias possibilidades:

4.1) Cumpre o mandado (art. 826, 827, § 1º e art. 924, II): Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado
pode, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros,
custas e honorários advocatícios. Art. 924. Extingue-se a execução quando: II - a obrigação for satisfeita. Se o executado
cumprir totalmente a obrigação (paga o valor devido e corrigido, as custas, os honorários, os juros e eventual multa), a
execução será extinta. Também já vimos que se o executado cumpre a obrigação no prazo de 3 dias, o valor dos honorários
será reduzido pela metade (§ 1º do art. 827. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários
advocatícios será reduzido pela metade).

4.2) Requer o parcelamento do débito (art. 916): Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente
e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção
monetária e de juros de um por cento ao mês. Na execução de quantia certa em título extrajudicial (não é aplicável ao
cumprimento de sentença, conforme o § 7º do art. 917), o executado tem a faculdade de pedir o parcelamento da dívida. O
parcelamento traz uma forma de execução menos onerosa para o executado, e afasta a possibilidade de embargos (beneficia o
exequente também). Se o executado escolheu parcelar, não poderá embargar. A escolha por uma opção elimina a
possibilidade de utilizar a outra: § 6º do art. 916. A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao
direito de opor embargos.

Requisitos do parcelamento (art. 916): Ao ser citado, o executado tem 15 dias para embargar ou para parcelar o débito. Se
reconhecer o crédito do exequente, dentro do prazo de 15 dias poderá requerer o parcelamento do débito, por meio de
petição simples. Logo ao requerer o parcelamento o executado deve depositar em juízo 30% do valor do débito. O
pagamento do saldo deve ser em no máximo 6 parcelas, com correção monetária e juros de 1% ao mês.

Procedimento do parcelamento: Requerido o parcelamento, o juiz ouvirá o exequente. Depois de ouvir o exequente, o juiz,
por meio de decisão interlocutória, decidirá. Se verificar que os requisitos do parcelamento postos no art. 916 foram
cumpridos, deferirá o pedido de parcelamento. § 1º do art. 916. O exequente será intimado para manifestar-se sobre o
preenchimento dos pressupostos do caput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias.

§ 2º do art. 916. Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado ao
exequente seu levantamento.

Enquanto vigorar o parcelamento, os atos executivos ficarão suspensos (§ 3º do art. 916. Deferida a proposta, o exequente
levantará a quantia depositada, e serão suspensos os atos executivos). Se já houver penhora antes de vigorar o parcelamento,
esta penhora não será desfeita, mas se não existir penhora antes do parcelamento, ela não poderá ocorrer enquanto ele vigorar,
em obediência ao § 3º.

O juiz indeferirá o parcelamento se não visualizar a existência de algum requisito do art. 916. Deferindo ou indeferindo,
haverá decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento. Denegado o parcelamento, os atos executivos
prosseguem normalmente, mesmo com eventual agravo, que não terá efeito suspensivo (§ 4º do art. 916. Indeferida a

131
proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito, que será convertido em penhora). O depósito preparatório de
30% não será devolvido e será convertido em penhora.

Além disso, o executado que teve o parcelamento indeferido ou que não cumpriu o parcelamento não poderá embargar, pois
reconheceu o crédito do exequente.

§ 5º do art. 916. O não pagamento de qualquer das prestações acarretará cumulativamente: Vigorando o parcelamento, o
executado precisa cumprir as prestações pontualmente.

I - o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do processo, com o imediato reinício dos atos executivos:
A parcela não paga provocará o vencimento antecipado de todas as subsequentes, além de causar o reestabelecimento dos
atos executivos.

II - a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das prestações não pagas.

4.3) Se opõe à execução, por meio de embargos, simples petição ou exceção de pré-executividade (art. 914 e seguintes):
Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de
embargos. § 1º Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias
das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade
pessoal. Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado, conforme o caso, na forma do art.
231. § 3º Em relação ao prazo para oferecimento dos embargos à execução, não se aplica o disposto no art. 229.

4.4) Permanece inerte (§§ 1º e 2º do art. 829): Já vimos estes dois parágrafos. § 1º do art. 829. Do mandado de citação
constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não
pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. O mesmo mandado utilizado pelo
oficial de justiça para citar o executado contém uma ordem de penhora e avaliação. O executado é citado para pagar em 3 dias,
e se não pagar o oficial de justiça, que ficou com o mandado embaixo do braço, voltará, penhorará e avaliará os bens do
executado, intimando-o no próprio ato de penhora (se o executado o presenciou).

Não tendo sido indicado nenhum bem, o oficial penhorará os bens que encontrar (§ 2º do art. 829. A penhora recairá sobre
os bens indicados pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração
de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente). Existindo dificuldade em localizar
bens penhoráveis, o próprio juiz, de ofício ou a requerimento pode determinar a intimação do executado (na pessoa do
advogado ou na pessoa do executado, se houver ou não advogado) para que este indique bens passíveis de penhora. Haverá
ato atentatório à dignidade da justiça se o executado não indicar bens à penhora quando intimado.

Penhora (art. 831 até 869 do CPC)

Conceito: “É o primeiro ato por meio do qual o Estado põe em prática o processo de expropriação executiva”. Também é
“o ato de constrição que tem por fim individualizar os bens do patrimônio do devedor que ficarão afetados ao pagamento
do débito e que serão expropriados oportunamente”.

132
Natureza jurídica: A penhora é um ato executivo.

Funções da penhora: a) Individualizar os bens que serão destinados à expropriação (art. 839); b) Apreender, depositar os
bens e conservá-los (art. 839); c) Conferir preferência ao exequente que obteve a penhora (art. 797)

Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, dos juros,
das custas e dos honorários advocatícios. Quando o bem é indicado pelo credor à penhora (veremos que o próprio devedor
pode indicar ou substituir o bem penhorado já indicado pelo credor), devem se seguir os atos que concretizam a própria
penhora. Em qualquer execução por quantia certa haverá penhora. A finalidade da execução é responsabilizar o patrimônio
do devedor, para que à custa deste, seja satisfeito o direito do credor reconhecido no título executivo. A forma de
responsabilizar o patrimônio do devedor, em um primeiro momento, é através da penhora. Mesmo contra a vontade do
devedor, os bens dele serão penhorados. Se a execução é baseada em título judicial ou extrajudicial, desde que seja execução
por quantia certa, haverá penhora. A regulação dos atos executivos relativos à penhora serve, portanto, para qualquer tipo de
execução de quantia certa (de título judicial ou de título extrajudicial). Serve também, é claro, para as execuções que
começaram como execuções de fazer ou de não fazer, ou de entrega de coisa, e que em último caso se transformaram em
execução de quantia certa. Se nos dois tipos de execução o devedor, quando citado ou intimado permanecer inerte (não
cumprir a obrigação o devedor), iremos à penhora, para responsabilização do patrimônio do devedor, na busca da satisfação
do direito reconhecido no título.

Local da penhora (art. 845): Art. 845. Efetuar-se-á a penhora onde se encontrem os bens, ainda que sob a posse, a detenção
ou a guarda de terceiros. É óbvio que em princípio, a penhora deve ser feita no local onde se encontram os bens, pois ela é
feita por meio do depósito e da apreensão física do bem. Por isso, quando o devedor não possuir bens no juízo do processo, a
penhora será feita em outro juízo (§ 2º do art. 845. Se o executado não tiver bens no foro do processo, não sendo possível a
realização da penhora nos termos do § 1º, a execução será feita por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os
bens no foro da situação).

Mas a penhora de bens que estão em outro juízo que não o juízo da execução nem sempre será por carta. Em relação aos
veículos e imóveis que estão fora do foro da execução, admite-se a sua penhora no próprio juízo da execução, sem
necessidade de penhora por carta precatória, mesmo que eles estejam longe (§ 1º do art. 845. A penhora de imóveis,
independentemente de onde se localizem, quando apresentada certidão da respectiva matrícula, e a penhora de veículos
automotores, quando apresentada certidão que ateste a sua existência, serão realizadas por termo nos autos). Basta que se
apresente certidão da matrícula do imóvel ou certidão que ateste o registro do veículo no órgão público. O escrivão lavrará o
termo de penhora atribuindo ao devedor, proprietário do bem penhorado, o encargo de depositário do bem que está fora
do foro da execução.

Objeto da penhora: Inicialmente, é preciso definir que se um bem for considerado impenhorável ou inalienável, não poderá
ser expropriado. Essa é a orientação do art. 832: Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis. A penhora só pode atingir os bens negociáveis e alienáveis.

Existem bens passíveis de penhora e existem bens impenhoráveis. Os bens impenhoráveis, segundo o professor, podem ser
absolutamente impenhoráveis ou relativamente impenhoráveis. Veremos logo mais que a impenhorabilidade de certos

133
bens será relativizada, em alguns casos, em virtude da necessidade de adimplemento da prestação alimentícia. Ex.: O salário
é impenhorável (art. 833, IV). O § 2º do art. 833 diz, porém, que o salário é penhorável em relação à prestação alimentícia. É
uma exceção, pois em regra, o salário é impenhorável, mas na prestação alimentícia, o salário se torna penhorável.

O exequente nem sempre sabe todas informações à respeito da vida do executado. Ex.: Um amigo do exequente disse
para ele que o executado tem dinheiro na conta corrente (10 mil reais). O executado deve ao exequente 8 mil reais de um
cheque. O exequente promove a execução e na petição inicial já indica à penhora o dinheiro na conta corrente do executado,
que não paga a dívida em 3 dias. O exequente sabe que o salário é absolutamente impenhorável, mas pediu o dinheiro da conta
corrente por achar que não era dinheiro de salário. Se o executado quiser, pode embargar e alegar penhora incorreta,
argumentando que os 10 mil reais são referentes apenas ao seu salário, aos proventos que recebe da universidade. Não sendo
caso de execução de alimentos, o juiz desconstituirá a penhora e julgará procedente o pedido dos embargos. Outro
exemplo, em relação aos honorários (que também são impenhoráveis): O executado é médico, não trabalhando para nenhum
plano de saúde. Cobra apenas 300 reais por consulta, é um profissional liberal. Este médico deve 10 mil reais ao devedor, e
tem 10 mil reais na sua conta corrente. O médico embargará, dizendo que esta quantia é proveniente do pagamento de
honorários médicos que recebeu. Ele diz que recebe aproximadamente 10 mil reais por mês de honorários. Nos embargos, o
médico deverá provar que o dinheiro da conta corrente é proveniente do pagamento de honorários (e portanto, é
impenhorável). Pode usar o valor do imposto de renda, para mostrar que ganha mais ou menos 10 mil por mês. Provando, o
juiz desconstituirá a penhora. A prova de que houve penhora sobre bens impenhoráveis, é portanto, do autor da ação de
embargos. O exequente não precisa provar nada. É uma faca de dois gumes, pois o executado é que deverá demonstrar a
incorreção da penhora.

Bens absolutamente impenhoráveis (art. 833): Art. 833. São impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução: Os bens públicos são inalienáveis e
portanto, impenhoráveis (art. 100 do CC). Afora isso, bens privados podem se tornar inalienáveis ou impenhoráveis por ato
de vontade, como no caso de testamentos ou instituição de bem de família (ver lei 8.009\90). Os bens inalienáveis,
logicamente, são impenhoráveis. A cláusula de inalienabilidade contém, frente à execução, implicitamente e
explicitamente a impenhorabilidade (aliás, esse é o teor do art. 832). Se não assim não fosse, para alienar um bem inalienável
bastaria utilizar o processo de execução como uma forma de fraude. Ex.: O pai de “A”, após morrer, deixou para ele duas
casas, uma em que “A” reside, e outra tornada inalienável. Ambas servem para a manutenção da vida de “A”. “A” não pode
vender esta segunda casa, nem ela pode responder por alguma execução. Há uma cláusula evidente de impenhorabilidade nela.
Do contrário, bastaria combinar com alguém para que esta pessoa executasse “A” e a casa fosse vendida dentro da execução.
O contrário não é verdadeiro, pois os bens impenhoráveis não necessariamente serão inalienáveis. Ex.: O salário, as
roupas e os pertences domésticos, que podem ser alienados a qualquer tempo, mas não podem ser penhorados.

II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor
ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida: Ex.: O executado tem 5
televisões na sua casa. Uma televisão é impenhorável, enquanto as outras 4 são penhoráveis, afinal o brasileiro costuma ter 1
televisão em casa. Além disso, o executado tem um sofá em casa, um micro-ondas, uma máquina de lavar, um fogão e uma

134
geladeira. Em princípio, todos estes itens são impenhoráveis, pois só existe um de cada. O executado também possui um
espelho de alto valor, banhado a ouro, feito na França e deixado na sala. Este último bem é penhorável, pois não está na
necessidade média de padrão de vida do brasileiro ter um espelho banhado a ouro.

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor: São as roupas, artigos de
vestuário em geral e pertences de uso pessoal do devedor, excluindo-se as de elevado valor, que são penhoráveis (ex.: roupas
de alta costura, bebidas finas importadas, joias, relógios de ouro). Outro ex.: Artigos de vestuário que servem para a profissão.
Se o capitão do exército possui uma farda de gala, esta é impenhorável, até por ser de certo modo um instrumento de trabalho.
Se na farda existirem botões de ouro, estes botões são de grande valor e são passíveis de penhora.

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os


pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º: Trata-se de
qualquer verba que sirva ao sustento do executado e de sua família. Ex.: Contas vinculadas ao FGTS e ao PIS, bem como
doações feitas por terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família. A ressalva ocorre no caso de prestação
alimentícia, caso em que qualquer vencimento poderá ser penhorado, como o salário do trabalhador.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao
exercício da profissão do executado: São os bens móveis (não estão incluídos os bens imóveis) relacionados ao exercício da
profissão do executado, pois se retirassem os instrumentos de trabalho do devedor, seria a mesma coisa que retirar o salário
e os honorários dele. Ex.: Os livros de direito e o computador do escritório do advogado. A farda, os sapatos e instrumentos
do militar.

O § 3º do art. 833 está relacionado à este inciso V do art. 833: “§ 3º do 833. Incluem-se na impenhorabilidade prevista no
inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa
individual produtora rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia
a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária”. Os tratores,
colheitadeiras e equipamentos agrícolas, em geral, são impenhoráveis, pois são instrumentos de trabalho do produtor rural. A
regra beneficia as pessoas físicas e empresas individuais, não alcançando as pessoas jurídicas organizadas para a exploração
do agronegócio em larga escala. Estas máquinas e equipamentos serão penhoráveis, porém, se forem: a) financiadas; b)
vinculadas à garantia de negócio jurídico; c) responderem por prestação alimentar, trabalhista ou previdenciária.

VI - o seguro de vida: Apenas é impenhorável o seguro de vida, serve para que o indivíduo beneficiado não tenha problemas
depois que houver o falecimento de alguém. Como há a finalidade de manter o devedor e a sua família, não é passível de
penhora. Ex.: O pai do devedor faleceu e deixou um seguro de vida, para que na sua ausência, o devedor mantivesse um padrão
mínimo de vida. A vida do devedor depende deste seguro, então ele será impenhorável.

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas: É possível penhorar uma obra
por inteiro e levar por tabela os materiais de construção desta obra. O que não pode acontecer é penhorar os materiais de
construção de uma obra que está em andamento de maneira exclusiva e separada, pois fazer isso seria o mesmo que impedir

135
que a obra fosse finalizada. Ex.: Uma obra em andamento será penhorada na totalidade. Neste caso, os acessórios (os materiais
de construção) acompanharão o principal (a obra).

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família: É apenas a propriedade rural
trabalhada pela família. Esta proteção decorre do próprio art. 5º, inciso XXVI da CF: “a pequena propriedade rural, assim
definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”. Destaque-se que na falta de bens
passíveis de penhora, os frutos de qualquer propriedade poderão ser penhorados, inclusive os da propriedade rural
trabalhada pela família (em virtude do art. 834 do CPC).

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência
social: Os bens particulares das instituições privadas são penhoráveis, apenas os recursos públicos não são, pois devem
continuar sendo aplicados nas áreas a que foram destinados. Ex.: A UCPel deve 50 mil reais ao credor e está sendo executada.
A universidade recebe recursos do governo federal, para aplicação em educação. Na conta da universidade estão mais de 50
mil reais, mas estes recursos são impenhoráveis. Admitir o contrário seria admitir a penhora de recursos públicos, e bens
públicos não são passíveis de penhora. O credor deve buscar bens privados da universidade, como as cadeiras, mesas,
computadores, etc.

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos: Tentou-se aqui
incentivar a poupança, que serve como espécie de previdência pessoal, de natureza alimentar. Se o valor depositado na
caderneta de poupança, porém, ultrapassar 40 salários mínimos, o que estiver além de 40 salários mínimos será quantia
penhorável. Lembrando que mesmo o valor abaixo de 40 salários mínimos é penhorável se existir necessidade de
adimplemento de prestação alimentícia (§ 2º do art. 833)

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei: Os bens particulares dos
partidos políticos são penhoráveis. O que não será penhorável são os recurso públicos, oriundos do fundo partidário.

XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à
execução da obra: Na mesma lógica do inciso VII, estes créditos estão vinculados à execução de obra, e penhorá-los seria
impedir que a própria obra fosse feita. Resguarda-se o andamento da obra para a sua entrega aos adquirentes.

Quando a penhora acontecer em execução fiscal movida pela União, haverá indisponibilidade dos bens constritos em relação
à outros particulares, que não poderão penhorar estes bens (lei 8.212). Os Estados e os Municípios, porém, poderão penhorar
estes bens, preservada a preferência da União por anterioridade da penhora (art. 908). A penhora feita pelos Estados e
Municípios, entretanto, não torna o bem impenhorável para outros credores particulares.

Penhorabilidade de bem cujo crédito decorre de negócio relativo o próprio bem (§ 1º do art. 833): § 1º do art. 833. A
impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua
aquisição. Se o executado não pagou a dívida relativa à obtenção de um bem (algum dos bens previstos nos incisos I, II,
III, V, VII e VIII do art. 833), este bem poderá ser penhorado e responder pela dívida gerada para a sua obtenção em uma
eventual execução. Ex.: “B” comprou em uma loja uma máquina de lavar (art. 833, II), pagando a entrada, mas já sabendo
que não pagaria o resto das 9 parcelas (evidente má-fé). Se “B” for executado e indicarem à penhora a própria máquina de

136
lavar que ele comprou e não pagou, não poderá “B” se socorrer do inciso II do art. 833 para alegar que a máquina é um bem
impenhorável, pois o crédito que está sendo executado é relacionado à própria máquina de lavar.

Possibilidade de penhora de bens impenhoráveis por prestação alimentícia (§ 2º do art. 833): § 2º do art. 833. O disposto
nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º, e no art. 529, § 3º. Já falamos disso. Para o pagamento de prestação
alimentícia, o salário e outros vencimentos necessários à subsistência do devedor (inciso IV) e a quantia em caderneta de
poupança até 40 salários mínimos (inciso X) serão penhoráveis.

Bens relativamente impenhoráveis (art. 834): Art. 834. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e os
rendimentos dos bens inalienáveis. Bens relativamente impenhoráveis são os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, que
poderão ser penhorados à falta de outros bens penhoráveis. Se não houver bens passíveis de penhora, os bens inalienáveis
continuam sendo impenhoráveis, mas excepcionalmente se admite que os frutos e rendimentos destes bens inalienáveis
sejam penhorados. Ex.: Um dos bens absolutamente impenhoráveis que constam no art. 833 é a propriedade rural trabalhada
pela família, da qual o executado retira o seu sustento e o sustento da sua família. Não havendo outros bens passíveis de
penhora direta, os frutos e rendimentos desta gleba de terra serão passíveis de penhora. Se for uma chácara da qual o
executado recebe 500 reais por mês, a chácara continua impenhorável, mas o exequente indicará à penhora os frutos e os
rendimentos dessa chácara. Neste caso, o exequente receberá o valor mensal do arrendamento, até vencer o valor total da
execução. O juiz instituirá usufruto sobre este bem, e os rendimentos mensais serão entregues ao exequente, o inquilino os
pagará. Os bens (a gleba de terra, a chácara) não podem ser penhorados, mas os frutos e os rendimentos destes bens podem
ser penhorados, já que faltam outros bens passíveis de penhora.

Limites da penhora: A penhora não pode ser excessiva, devendo atingir apenas os bens suficientes para a satisfação do
crédito (corrigido e atualizado, de acordo com as custas e honorários do advogado do exequente). Não deverá ser realizada
penhora inútil (Art. 836. Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens
encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução).

Ordem legal de preferência na escolha dos bens a serem penhorados (art. 835): Já vimos que quem tem a primeira
possibilidade de indicar bens à penhora é o exequente, na petição inicial da ação executiva e no requerimento para execução
de título judicial. O juiz, a qualquer momento do processo, pode intimar o executado para que este apresente bens à penhora.
Por sua vez, o executado não pode indicar bens à penhora (em princípio), mas demonstrando a utilidade e a economia da
substituição de um bem penhorado, os bens indicados poderão ser substituídos, excepcionalmente. O devedor pode portanto
questionar a escolha dos bens a serem penhorados feita pelo exequente, pleiteando substituição (Art. 848. As partes poderão
requerer a substituição da penhora se: I - ela não obedecer à ordem legal). Ocorre que o exequente não necessariamente terá
obedecido a ordem de preferência do art. 835, afinal não costuma saber tudo da vida do executado. Ex.: Não sabe o exequente
se o executado possui aplicação financeira, dinheiro em conta, carros, casas, gado, etc. Geralmente o exequente sabe que o
executado tem um tipo de bem e só isso. Se o exequente não sabe onde o executado possui bens, pode lançar mão do art. 854

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(penhora online). Se não há dinheiro em banco, o juiz a qualquer momento do processo intimará o executado para intimar
bens à penhora, apresentar documentos e dizer onde se encontram os bens que poderão ser penhorados.

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação
em instituição financeira; II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis
em geral; VII - semoventes; VIII - navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; X - percentual
do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e metais preciosos; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de
compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; XIII - outros direitos.

Esta gradação legal não é absoluta, mas relativa, podendo o juiz alterar a ordem no caso concreto. A penhora de dinheiro,
por sua vez, tem prioridade: § 1º do art. 835. É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses,
alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.

§ 2º do art. 835. Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia
judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. A penhora em
dinheiro tem prioridade mas não é absoluta, pois o CPC equipara ao dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial.

§ 3º do art. 835. Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a coisa
pertencer a terceiro garantidor, este também será intimado da penhora. Recairá sobre a coisa dada em garantia.

Penhora “online” (art. 854): Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o
juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por
meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional (o Banco Central), que torne
indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na
execução. O exequente não sabe onde o executado tem bens a serem penhorados. O juiz da execução, a requerimento do
exequente ou de ofício, obtém, por via eletrônica, o bloqueio e a indisponibilidade junto ao Banco Central, de depósitos ou
aplicações financeiras mantidas pelo executado. A indisponibilidade será limitada sempre ao valor da obrigação. Ex.: O
executado possui uma aplicação financeira de 120 mil reais, e deve apenas 30 mil. A indisponibilidade será de apenas 30 mil
naquela aplicação financeira. Nesta fase, ainda, não há penhora, mas mera indisponibilidade.

Para que esta medida tenha eficácia, o juiz não pode cientificar o executado previamente, pois do contrário, ele saberia e
retiraria o dinheiro, frustrando a medida. Isso não prejudica o contraditório, que será diferido (§ 3º do art. 854).

§ 1º do art. 854. No prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da resposta, de ofício, o juiz determinará o cancelamento de
eventual indisponibilidade excessiva, o que deverá ser cumprido pela instituição financeira em igual prazo. O
descumprimento desse prazo tornará a instituição financeira responsável, nos termos do § 8º: § 8º do art. 854. A instituição
financeira será responsável pelos prejuízos causados ao executado em decorrência da indisponibilidade de ativos financeiros
em valor superior ao indicado na execução ou pelo juiz, bem como na hipótese de não cancelamento da indisponibilidade
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, quando assim determinar o juiz: Havendo prejuízo para o executado em razão de não
cancelamento da indisponibilidade ou por indisponibilidade de valor superior ao indicado pelo juiz, a responsabilidade não

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é do juiz, mas da própria instituição financeira, que não praticou corretamente os atos de cancelamento ou adequação dos
valores de indisponibilidade.

§ 2º do art. 854. Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, este será intimado na pessoa de seu advogado
ou, não o tendo, pessoalmente. Depois que o banco fornecer a informação e a quantia for tornada indisponível, o executado
deve ser intimado e notificado da indisponibilidade levada a cabo pelo sistema financeiro com ordem do Judiciário. A
intimação será na pessoa do seu advogado. Não existindo advogado, a intimação será na pessoa do executado. Depois de
ser intimado, o executado pode, querendo: § 3º do art. 854. Incumbe ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, comprovar
que:

I - as quantias tornadas indisponíveis são impenhoráveis: Essa alegação só será procedente se as quantias forem realmente
impenhoráveis. Ex.: Foi tornada indisponível a quantia de 3 mil reais, sendo que não há prestação alimentar e se tratava do
dinheiro do salário do executado. O executado alegará a impenhorabilidade, demonstrando que a quantia é impenhorável
através do comprovante de proventos (mostrando que o salário é de 3 mil por mês, depositado no Banco do Brasil, pela UFPel).

II - ainda remanesce indisponibilidade excessiva de ativos financeiros: Sendo a indisponibilidade excessiva, o executado
provocará o juiz por meio de simples petição, no prazo de 5 dias, pois só depois teve ciência da indisponibilidade. Até então,
corria em segredo, sem a intimação do executado.

§ 4º do art. 854. Acolhida qualquer das arguições dos incisos I e II do § 3º, o juiz determinará o cancelamento de eventual
indisponibilidade irregular ou excessiva, a ser cumprido pela instituição financeira em 24 (vinte e quatro) horas:
Apresentada a defesa do executado, o juiz deverá decidir. Se considerar o juiz que a quantia é impenhorável ou a
indisponibilidade é excessiva, determinará o cancelamento da indisponibilidade irregular ou excessiva. A instituição
financeira deverá cumprir a ordem em 24 horas. Mas se o juiz não acolher os argumentos do devedor na defesa (ou não existir
defesa), a indisponibilidade será convertida em penhora: § 5º do art. 854. Rejeitada ou não apresentada a manifestação
do executado, converter-se-á a indisponibilidade em penhora, sem necessidade de lavratura de termo, devendo o juiz da
execução determinar à instituição financeira depositária que, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, transfira o montante
indisponível para conta vinculada ao juízo da execução. A quantia indisponível será retirada da conta do executado e
transferida para uma conta vinculada ao juízo da execução. Essa transferência do dinheiro de contas é feita para que o
executado continue com a sua conta corrente, providenciando a entrada e saída de dinheiro daquela conta bancária. O
executado não precisará criar uma nova conta, portanto. Em alguns estabelecimentos comerciais, por exemplo, o cheque só é
aceito depois de 2 anos de conta corrente. A pessoa teria o seu crédito massacrado pela penhora de uma quantia. A única coisa
que continua indisponível, então, é o dinheiro retirado dessa conta e depositado em uma conta do juízo, o que agora
configura penhora.

Havendo o pagamento da dívida, o juiz mandará a instituição financeira cancelar a indisponibilidade: § 6º do art. 854.
Realizado o pagamento da dívida por outro meio, o juiz determinará, imediatamente, por sistema eletrônico gerido pela
autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, a notificação da instituição financeira para que, em até 24 (vinte e
quatro) horas, cancele a indisponibilidade: Ex.: O dinheiro da aplicação financeira do executado (3 mil reais) foi tornado

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indisponível e transferido para uma conta do juízo, o que caracterizou penhora. Uma amiga emprestou ao executado 3 mil
reais, e ele pagou totalmente a dívida (remiu a execução). O juiz retirará a penhora da quantia.

§ 7º do art. 854. As transmissões das ordens de indisponibilidade, de seu cancelamento e de determinação de penhora
previstas neste artigo far-se-ão por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro
nacional: O Banco Central é que determinará a forma do sistema eletrônico. Tanto o cancelamento, quanto a penhora, quanto
as comunicações, tudo é feito por meio eletrônico. Não há contato através de carta de ordem, mas por computador.

§ 9º do art. 854. Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a requerimento do exequente, determinará às
instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido por autoridade supervisora do sistema bancário, que tornem
indisponíveis ativos financeiros somente em nome do órgão partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha
dado causa à violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a responsabilidade pelos atos praticados, na
forma da lei: O partido político tem como impenhoráveis os recursos públicos oriundos do fundo partidário. A
responsabilidade fica com o sistema financeiro, e se houver má-fé e ato atentatório à dignidade da justiça, também com o
partido político.

Modificações na penhora: Pode ocorrer substituição, ampliação, renovação ou diminuição da penhora.

Ampliação da penhora (art. 874, II): Art. 874. Após a avaliação, o juiz poderá, a requerimento do interessado e ouvida a
parte contrária, mandar: II - ampliar a penhora ou transferi-la para outros bens mais valiosos, se o valor dos bens
penhorados for inferior ao crédito do exequente. Os bens apreendidos são insuficientes para pagar a dívida. Ou se apreende
novos bens ou se substitui bens existentes por outros mais valiosos.

Redução da penhora (art. 874, I): Art. 874. Após a avaliação, o juiz poderá, a requerimento do interessado e ouvida a parte
contrária, mandar: I - reduzir a penhora aos bens suficientes ou transferi-la para outros, se o valor dos bens penhorados
for consideravelmente superior ao crédito do exequente e dos acessórios. O valor dos bens penhorados é superior ao crédito
do exequente. Ou se libera alguns bens ou se substitui alguns por outros de menor valor.

Nos casos de ampliação, redução e substituição a parte interessada manifestará o seu interesse na medida por simples petição
ou requerimento, sendo que o juiz mandará ouvir a parte contrária, também em sintonia com o § 4º do art. 847 (§ 4º O juiz
intimará o exequente para manifestar-se sobre o requerimento de substituição do bem penhorado).

Renovação da penhora (art. 851): Art. 851. Não se procede à segunda penhora, salvo se: I - a primeira for anulada; II -
executados os bens, o produto da alienação não bastar para o pagamento do exequente; III - o exequente desistir da primeira
penhora, por serem litigiosos os bens ou por estarem submetidos a constrição judicial. Na renovação, se faz nova penhora na
mesma execução.

Substituição da penhora (art. 829, § 2º, art. 847 e 848 do CPC): § 2º do art. 829. A penhora recairá sobre os bens indicados
pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a
constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente.

Art. 847. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias contado da intimação da penhora, requerer a substituição do bem
penhorado, desde que comprove que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. Esta é a substituição privativa

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do executado, que deve ser pedida em até 10 dias contados da intimação. O executado deverá além de demonstrar que a
substituição é menos onerosa e não trará prejuízo (art. 847, caput), obedecer às exigências do §§ 1º a 3º do art. 847: § 1º
O juiz só autorizará a substituição se o executado: I - comprovar as respectivas matrículas e os registros por certidão do
correspondente ofício, quanto aos bens imóveis; II - descrever os bens móveis, com todas as suas propriedades e
características, bem como o estado deles e o lugar onde se encontram; III - descrever os semoventes, com indicação de
espécie, de número, de marca ou sinal e do local onde se encontram; IV - identificar os créditos, indicando quem seja o
devedor, qual a origem da dívida, o título que a representa e a data do vencimento; e V - atribuir, em qualquer caso, valor
aos bens indicados à penhora, além de especificar os ônus e os encargos a que estejam sujeitos. § 2º Requerida a substituição
do bem penhorado, o executado deve indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua
propriedade e a certidão negativa ou positiva de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a
realização da penhora. § 3º O executado somente poderá oferecer bem imóvel em substituição caso o requeira com a expressa
anuência do cônjuge, salvo se o regime for o de separação absoluta de bens. Ex.: O exequente indicou o carro do executado
à penhora, pois procurou bens imóveis na cidade e só achou um imóvel em que o executado reside (que é impenhorável). O
oficial de justiça se dirigiu à casa do executado, penhorou e avaliou o carro. O executado, entretanto, apresentou um pedido
de substituição do bem penhorado, argumentando que tem dinheiro em conta corrente, no valor de 200 mil reais, em um fundo
de aplicações financeiras. É mais vantajoso para ambos esta substituição, pois não haverá avaliação nem leilão do dinheiro.
Existirão menos atos processuais, não haverá sequer edital para o leilão. É a execução mais econômica. Existe vantagem para
as duas partes e não existe dano algum para o executado. O juiz aceitou a substituição, por decisão interlocutória (cabe agravo
de instrumento dela), por considerar que o executado preencheu todos requisitos. Só saberemos, porém, se há vantagem ou
não, em cada caso prático, de acordo com os argumentos apresentados pelo exequente e pelo executado.

Resumindo: O executado pode requerer a substituição do bem penhorado, mas para isso deverá demonstrar que a
substituição é vantajosa para ambas as partes e para o exequente não traz nenhum prejuízo. Ex.: O exequente, obviamente,
não conhece o devedor, e indicou o carro dele à penhora. O executado requere, entretanto, a substituição do bem penhorado,
alegando que não foi obedecida a gradação legal do CPC, que é mais vantajoso para ambas as partes substituir o bem e que
não traz prejuízo ao exequente. A substituição é por dinheiro. Em regra, o dinheiro é mais vantajoso, tanto para o exequente
quanto para o executado. Basta levantar o dinheiro que a obrigação estará cumprida e a execução termina. O juiz neste caso,
tem todos motivos para aceitar a substituição do bem penhorado, mas não fará isso apenas pela desobediência à ordem de
gradação do CPC, mas por haver vantagem para os envolvidos e não existir prejuízo para o exequente. A desobediência à
gradação legal do CPC, por si só, não é motivo para substituir o bem penhorado. Há de se conjugar isso com algum outro
motivo.

O pedido de substituição do art. 848, diferente daquele do art. 847, pode ser feito por qualquer das partes (o exequente
inclusive), sem prazo, tendo como requisito de uma das hipóteses dos sete incisos do art. 848: Art. 848. As partes poderão
requerer a substituição da penhora se: I - ela não obedecer à ordem legal; II - ela não incidir sobre os bens designados em
lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - havendo bens no foro da execução, outros tiverem sido penhorados; IV -
havendo bens livres, ela tiver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - ela incidir sobre bens de baixa

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liquidez; VI - fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - o executado não indicar o valor dos bens ou omitir
qualquer das indicações previstas em lei.

Depósito e administração dos bens penhorados (159, 160, 161 e art. 840 do CPC): Art. 159. A guarda e a conservação de
bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados serão confiadas a depositário ou a administrador, não dispondo
a lei de outro modo. A penhora é aperfeiçoada exatamente com a apreensão e o depósito dos bens do devedor (art. 839). Após
os bens serem penhorados, alguém deverá ficar na qualidade de depositário destes bens, devendo conservar e guardar os
bens, evitando deteriorações e extravios até a expropriação. Quando a conservação for impossível ou se tornar prejudicial,
o juiz autorizará antecipadamente a alienação dos bens penhorados: Art. 852. O juiz determinará a alienação antecipada
dos bens penhorados quando: I - se tratar de veículos automotores, de pedras e metais preciosos e de outros bens móveis
sujeitos à depreciação ou à deterioração; II - houver manifesta vantagem.

O depositário é nomeado pelo juiz, e recebe dinheiro pelo encargo que desempenha (Art. 160. Por seu trabalho o depositário
ou o administrador perceberá remuneração que o juiz fixará levando em conta a situação dos bens, ao tempo do serviço e às
dificuldades de sua execução). Se o depositário desempenhar o seu encargo de forma errada, perderá a remuneração da qual
teria direito e terá que sujeitar-se aos ônus processuais decorrentes desta conduta (art. 161 e 162). O depositário é um auxiliar
do Poder Judiciário. Temos o depositário judicial, que integra o Poder Judiciário. O juiz, entretanto, geralmente nomeia um
depositário particular. Parágrafo único do art. 160. O juiz poderá nomear um ou mais prepostos por indicação do
depositário ou do administrador. Isto geralmente acontece quando a penhora recai sobre vários bens. O administrador ou
depositário pode requerer ao juiz que sejam nomeados prepostos para auxiliá-lo em suas atividades.

O depositário é responsável cível e criminalmente sobre as condutas que efetuar no exercício da sua função: Art. 161. O
depositário ou o administrador responde pelos prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, perdendo a remuneração
que lhe foi arbitrada, mas tem o direito a haver o que legitimamente despendeu no exercício do encargo. Se o depositário
gastou dinheiro do seu bolso desempenhando suas funções, receberá o dinheiro de volta. Mas, ainda que receba o dinheiro, se
por dolo ou culpa prejudicou a parte, perderá o valor que foi estipulado pelo juiz para o desempenho do seu cargo (a sua
remuneração). Parágrafo único. O depositário infiel responde civilmente pelos prejuízos causados, sem prejuízo de sua
responsabilidade penal e da imposição de sanção por ato atentatório à dignidade da justiça. Ato atentatório à dignidade da
justiça resulta sempre em multa. Além de o depositário perder a remuneração pelo serviço mal feito, pode ser penalmente
responsabilizado. Só receberá o dinheiro que ele mesmo desembolsou para o depósito ou administração do bem penhorado
(para o exercício das funções inerentes ao cargo).

Art. 840. Serão preferencialmente depositados: Trata-se apenas de uma preferência, pois se o juiz visualizar que for melhor
tanto para o exequente quanto para o executado depositar o bem de acordo com outras circunstâncias ou nomear outro
depositário, poderá fazer.

Depósito de dinheiro, joias, pedras e objetos preciosos (art. 840, I e § 3º): I - as quantias em dinheiro, os papéis de crédito
e as pedras e os metais preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o
Distrito Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer
instituição de crédito designada pelo juiz: O depósito de dinheiro, pedras e metais preciosos penhorados se faz em

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estabelecimento oficial de crédito (banco). O banco é o lugar certo para deixar dinheiro. É mais seguro ter dinheiro no banco
do que em casa. Se o depositário perder o dinheiro por ter deixado embaixo do colchão da sua casa, responderá pelo prejuízo
que causou por culpa ou dolo, então é melhor deixar no banco. As joias, as pedras e os objetos preciosos deverão ser
depositados com registro do valor estimado de resgate (§ 3º do 840). Deve ser apresentado também o valor de avaliação do
bem, ou pelo oficial de justiça, ou por alguém que tenha conhecimento da matéria.

Em regra, o banco não fica com os bens móveis do executado. Por vezes, o banco aceita porque ele é o credor, o exequente.
O juiz não indicará um banco, por exemplo, para ser depositário de um carro, pois um banco não é obrigado a ter garagem
com empregados para cuidar desses bens. O banco já age como depositário, guardando dinheiro, pedras, metais preciosos e
títulos.

Depósito dos bens móveis, semoventes, imóveis urbanos e direitos aquisitivos sobre imóveis urbanos (art. 840, II e §
1º): II - os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos sobre imóveis urbanos, em poder do
depositário judicial: A regra é estes bens ficarem com um depositário judicial. Se não existir depositário judicial na
localidade, vamos para o §1º do art. 840 (os bens ficarão com o exequente): § 1º do art. 840. No caso do inciso II do caput,
se não houver depositário judicial, os bens ficarão em poder do exequente. Não havendo condições de depósito judicial nas
hipóteses enumeradas no inciso II do art. 840, nomeia-se o exequente como depositário particular. Lembrando que se o
exequente anuir, o executado poderá ser depositário mesmo no caso dos bens do inciso II (ex.: imóveis urbanos).

O executado como depositário (art. 840, III e § 2º): III - os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as
máquinas, os utensílios e os instrumentos necessários ou úteis à atividade agrícola, mediante caução idônea, em poder do
executado: Já vimos que é possível para créditos trabalhistas, previdenciários e alimentares, que o exequente penhore os
instrumentos de trabalho rural do executado, como por ex., o trator e a colheitadeira (§ 3º do art. 833). Nesta hipótese, o
depositário será o próprio executado, ou seja, ele, executado, ficará com o bem penhorado. Isso porque o executado precisa
continuar usando estes bens, do contrário, ficaria sem dinheiro, pois tratam-se de instrumentos de trabalho rural. Para que o
executado fique na qualidade depositário, entretanto, precisará prestar caução. Se algo acontecer com as máquinas, a caução
servirá para ressarcir prejuízos frente à execução. Afora esta hipótese, o executado será o depositário em mais duas situações:
§ 2º do art, 840. Os bens poderão ser depositados em poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando anuir o
exequente: Além da hipótese anterior, na qual o executado fica como depositário dos seus próprios instrumentos de trabalho
rural, o executado também poderá ser depositário quando o exequente concordar (anuir), ou quando for difícil remover o
bem (neste caso não é necessária a concordância do exequente). Na primeira hipótese, o exequente quer que o executado
seja o depositário, ou seja, concorda com esta situação. Na segunda hipótese, é mais fácil que o bem fique com o próprio
executado por ser o bem de difícil remoção.

Registro da penhora (art. 844): Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, cabe ao exequente
providenciar a averbação do arresto ou da penhora no registro competente, mediante apresentação de cópia do auto ou do
termo, independentemente de mandado judicial. Para que a penhora tenha eficácia perante terceiros na presunção do seu
conhecimento, é obrigatória a sua averbação no registro competente. Neste sentido, o ato da penhora se aperfeiçoa no processo
(internamente) quando levado a cabo efetivamente (na lavratura do auto ou termo). Para ter certeza, porém, que o terceiro

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sabia que o bem que adquiriu era penhorado, existe o registro, que traz à penhora publicidade erga omnes, frente à terceiros.
Sendo feita a averbação da penhora no registro competente, portanto, haverá presunção absoluta de terceiros a respeito da
ciência da penhora, caso ocorra alguma alienação. No momento em que o exequente averbar a certidão comprobatória da
penhora no registro do bem penhorado, haverá presunção absoluta de conhecimento de todas pessoas que fizerem negócio
em relação àquele bem. Deste modo, sendo feito negócio jurídico em cima do bem em que houve esta averbação, estará
claramente configurado ato atentatório à dignidade da justiça, e a alienação não será eficaz frente à execução. Não é mais um
critério preventivo, mas um critério determinativo, a presunção é absoluta e não relativa.

Efeitos da penhora. A penhora produz efeitos em três direções (em direção ao credor, ao devedor e ao terceiros).

1) Para o credor, fixa os bens do executado que irão efetivar a garantia da responsabilidade patrimonial: No momento
em que o bem do executado for penhorado, o exequente passará a saber os bens que responderão pela execução e passa a ter
sobre estes bens um direito de sequela. Ex.: O executado tem dinheiro, carro e 10 apartamentos. O exequente indicou o dinheiro
à penhora, e o juiz aceitou e foi penhorado o dinheiro. O exequente saberá a partir desse momento que será o dinheiro que
responderá pela execução. A penhora individualiza dentro do patrimônio do devedor quais os bens que responderão pela
execução. Por outro lado, se o exequente penhorou o carro, saberá que é o carro que responderá pela execução. Poderá o
exequente alienar o carro e pegar 100 mil ou ficar com o carro para si.

2) Para o devedor, inibe e dificulta a disponibilidade dos bens penhorados: No momento em que o bem do executado for
penhorado, será muito mais difícil dispor destes bens. O executado perderá a posse direta dos bens, embora continue sendo
proprietário do bem penhorado. Isso não significa que o bem se tornará propriamente inalienável, pois se alguém quiser
comprar o carro penhorado, por ex., poderá compra-lo. Basta que o executado tenha outros bens para cumprir a obrigação.
Ocorre que se não for satisfeita a obrigação que embasa a execução e houver registro da penhora, haverá fraude à execução,
de modo que a alienação será ineficaz frente à execução. Frente ao alienante e ao comprador, o negócio jurídico é perfeito,
porém. A disponibilidade do bem é inibida, já que provavelmente o executado não alienará o bem penhorado. O executado
pode até vender o bem penhorado, desde que cumpra totalmente com a obrigação pela qual foi executado (remindo a
execução). Se não cumprir a obrigação, a venda não produz efeito algum frente à execução. A transmissão dos bens
penhorados, perante a execução, será sempre inoperante

3) Para terceiros, faz com que estes tenham de sujeitar-se à expropriação caso venham a adquirir ditos bens: Este efeito
está relacionado ao segundo efeito, dirigido ao devedor (a inibição da disponibilidade dos bens penhorados). O terceiro sofrerá
o efeito da penhora se adquirir o bem penhorado e a obrigação não for satisfeita pelo executado. Como foi dito antes, frente
ao alienante e ao comprador, o negócio jurídico é perfeito, mas frente à execução a alienação não produzirá efeito algum
se forem os bens alienados necessários para o adimplemento da obrigação, caso em que o Estado-juiz buscará o bem do agora
“terceiro” para satisfazer o crédito do exequente dentro da execução. Lembrando que o terceiro não terá problemas se adquirir
um bem penhorado e o executado remir a execução, pagando integralmente a dívida.

Avaliação dos bens penhorados (art. 870 a 876): A avaliação serve para dar conhecimento aos interessados do valor
aproximado dos bens que serão expropriados oportunamente. É importante por determinar o preço mínimo na adjudicação
(876), e o preço a partir do qual o bem poderá ser alienado (880, § 1º).

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A avaliação será levada a cabo pelo oficial de justiça, sendo feita no momento da realização da própria penhora: Art. 870. A
avaliação será feita pelo oficial de justiça. O mandado citatório que o oficial de justiça carrega tem ordens para citação,
penhora e avaliação (art. 829). Mas a avaliação não será feita pelo oficial quando for necessário conhecimentos específicos:
Parágrafo único do art. 870. Se forem necessários conhecimentos especializados e o valor da execução o comportar, o juiz
nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.

O oficial e o avaliador não farão avaliação nas hipóteses do art. 871: Art. 871. Não se procederá à avaliação quando: I - uma
das partes aceitar a estimativa feita pela outra; II - se tratar de títulos ou de mercadorias que tenham cotação em bolsa,
comprovada por certidão ou publicação no órgão oficial; III - se tratar de títulos da dívida pública, de ações de sociedades
e de títulos de crédito negociáveis em bolsa, cujo valor será o da cotação oficial do dia, comprovada por certidão ou
publicação no órgão oficial; IV - se tratar de veículos automotores ou de outros bens cujo preço médio de mercado possa
ser conhecido por meio de pesquisas realizadas por órgãos oficiais ou de anúncios de venda divulgados em meios de
comunicação, caso em que caberá a quem fizer a nomeação o encargo de comprovar a cotação de mercado. Parágrafo único.
Ocorrendo a hipótese do inciso I deste artigo, a avaliação poderá ser realizada quando houver fundada dúvida do juiz quanto
ao real valor do bem.

Na avaliação sempre haverá um laudo, onde os bens penhorados serão descritos no seu estado e valor e características,
conforme os requisitos do art. 872: Art. 872. A avaliação realizada pelo oficial de justiça constará de vistoria e de laudo
anexados ao auto de penhora ou, em caso de perícia realizada por avaliador, de laudo apresentado no prazo fixado pelo
juiz, devendo-se, em qualquer hipótese, especificar: I - os bens, com as suas características, e o estado em que se encontram;
II - o valor dos bens.

§ 1º do art. 872. Quando o imóvel for suscetível de cômoda divisão, a avaliação, tendo em conta o crédito reclamado, será
realizada em partes, sugerindo-se, com a apresentação de memorial descritivo, os possíveis desmembramentos para
alienação.

§ 2º do art. 872. Realizada a avaliação e, sendo o caso, apresentada a proposta de desmembramento, as partes serão ouvidas
no prazo de 5 (cinco) dias. As partes serão ouvidas no prazo de 5 dias, contados da juntada do laudo avaliação. As partes terão
contato com o laudo, com oportunidade para questioná-lo se quiserem.

Art. 873. É admitida nova avaliação quando: Afora as hipóteses do art. 873, admite-se realização de nova avaliação quando
frustradas as tentativas de alienação, é reaberta a oportunidade para requerimento de adjudicação (art. 878).

I - qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador: Qualquer das
partes pode suscitar a repetição, com prova pré-constituída.

II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem: Qualquer das partes pode
arguir este motivo para pleitear repetição. Serve tanto quando há majoração ou diminuição do valor.

III - o juiz tiver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem na primeira avaliação: O juiz pode determinar a repetição da
avaliação, de ofício, neste caso.

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Parágrafo único. Aplica-se o art. 480 à nova avaliação prevista no inciso III do caput deste artigo. O art. 480 trata do
procedimento para nova perícia no processo de conhecimento.

A parte afetada pela avaliação pode impugná-la com simples petição, alegando algumas das hipóteses do art. 873, com prova
pré-constituída. Acolhendo a impugnação à avaliação, ocorrerá nova avaliação e a penhora poderá ser modificada, reduzida
ou ampliada, nos termos do art. 874: Art. 874. Após a avaliação, o juiz poderá, a requerimento do interessado e ouvida a
parte contrária, mandar: I - reduzir a penhora aos bens suficientes ou transferi-la para outros, se o valor dos bens penhorados
for consideravelmente superior ao crédito do exequente e dos acessórios; II - ampliar a penhora ou transferi-la para outros
bens mais valiosos, se o valor dos bens penhorados for inferior ao crédito do exequente.

Sendo feitas as modificações da penhora, poderemos passar à expropriação: Art. 875. Realizadas a penhora e a avaliação,
o juiz dará início aos atos de expropriação do bem.

Da expropriação de bens (art. 876 até 903 do CPC).

Se a penhora recaiu sobre dinheiro, não teremos expropriação. Passa-se diretamente ao levantamento do dinheiro. Se os bens
penhorados são de outra natureza, porém, teremos os atos de expropriação. Segundo H. Theodoro, expropriação é “o ato
estatal coativo por meio do qual o juiz transfere a propriedade do executado sobre o bem penhorado, no todo ou em parte,
independentemente da concordância do dono, e como meio de proporcionar a satisfação do direito do credor”. A
expropriação pode ser feita de 3 maneiras: a) por meio de adjudicação; b) por meio de alienação (por iniciativa particular
ou em leilão judicial, eletrônico ou presencial); c) por apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimento e de outros bens.

Ordem de preferência: A lei dá preferência para a adjudicação de bens (art. 878), pois é uma forma de compor o litígio
de forma mais rápida e com menos gastos. Se não for possível adjudicar, se procederá à alienação particular (art. 880).
Apenas se não houver adjudicação ou alienação particular é que se tentará o leilão judicial (art. 881). O leilão judicial exige
gastos com editais e intimações, além de permitir a arrematação por valor inferior ao da avaliação.

Adjudicação (art. 876, 877 e 878 do CPC): É o ato de expropriação executiva em que o bem penhorado se transfere “in
natura” para o legitimado, fora da arrematação. A adjudicação é uma forma indireta de satisfação do crédito (art. 904, II)
que se dá pela transferência da propriedade do bem penhorado ao exequente ou aos terceiros legitimados. O bem foi
avaliado e o exequente fica com o próprio bem como forma de pagamento. É semelhante à dação em pagamento.

Quando a adjudicação for direcionada ao exequente, deve ser requerida por ele próprio. O exequente só fica com o bem se
quiser, pois a execução é de pagar quantia certa, e ele, exequente, tem direito à dinheiro, em princípio. Se o exequente quiser,
por sua iniciativa (ninguém pode obriga-lo) poderá ficar com o bem indicado à penhora.

Quando a adjudicação for direcionada à outros legitimados (que não o exequente), devem estes legitimados depositar o
valor de avaliação, para este valor ser levantado depois pelo credor. Neste caso, a adjudicação difere da arrematação
(quando o bem é posto em leilão judicial), pois neste último caso qualquer interessado pode ficar com o bem, e por valor até
inferior ao de avaliação. Na adjudicação, o valor não pode ser inferior ao de avaliação, e a lista de legitimados é limitada.

146
A adjudicação pode se dar com bens móveis ou imóveis, e como dissemos, só pode ser feita pelo valor de avaliação.

Prazo para adjudicar: Só se pode adjudicar após a realização da avaliação. Uma vez iniciado o leilão judicial, nao há como
impedir que o arrematante adquira o bem, mas se a alienação judicial for frustrada, poderá realizada adjudicação (Art. 878.
Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de adjudicação, caso em que
também se poderá pleitear a realização de nova avaliação. Como modo de expropriação e encerramento da execução, a lei
dá preferência à adjudicação. Se ninguém quis adjudicar e depois se tentou a alienação, e mesmo essa não teve êxito, voltará
a possibilidade de adjudicar. Busca-se a realização de adjudicação, como se percebe também pela leitura do art. 881 (Art. 881.
A alienação far-se-á em leilão judicial se não efetivada a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular).

Requisitos do pagamento por adjudicação de bens (art. 876): Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior
ao da avaliação, requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

a) Legitimação para adjudicar: Os legitimados podem requerer a adjudicação a qualquer tempo, desde que seja após a
avaliação e que não tenha sido realizada ainda a alienação particular o leilão judicial.

Todos estes que veremos abaixo possuem legitimidade para adjudicar. Se houver uma pessoa, ou um terceiro que não esteja
ali, não poderá adjudicar (poderá participar depois na alienação, se quiser). Vejamos:

a.1) Exequente (caput do art. 876): O exequente sempre tem legitimidade para adjudicar, pois como diz o caput do art. 876
“É lícito ao exequente requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados”. Se não quiser adjudicar e o bem penhorado
não for alienado por iniciativa particular, é claro que o exequente poderá participar também do leilão judicial. O exequente
pode participar mesmo do segundo leilão. A única pessoa que não poderá participar do leilão é o executado. Se ele tem
dinheiro, deve pagar a dívida, ou no mínimo requerer a substituição do bem penhorado.

a.2) Cônjuge ou companheiro do executado (§ 5º do art. 876): “§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles
indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo
companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado”

a.3) Ascendente e descendente do executado (§ 5º do art. 876): “§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles
indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo
companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado”. O executado não pode adjudicar. Pode apenas pagar
a dívida, ou seja, cumprir a obrigação. Pagando a dívida, teríamos uma forma de remição da execução, ou seja, o resgate da
execução. A qualquer momento, terceiro ou o próprio executado pode remir a execução, pagando o devido, conforme o caput
do art. 826 (Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando
ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios). Mesmo que o bem
já esteja penhorado. Até um terceiro pode pagar a dívida. Por outro lado, o exequente pode perdoar a dívida (remissão).
Remissão = perdão da dívida. Remição = resgate, pagamento da dívida.

a.4) Credores concorrentes e os indicados do inciso II a VIII do art. 889 (§ 5º do art. 876): “§ 5º Idêntico direito pode
ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o
mesmo bem, pelo cônjuge, pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado”: Qualquer credor

147
quirografário que tenha penhorado o mesmo bem pode requerer a adjudicação. Ex.: O executado deve 100 mil para uma
pessoa, 30 mil para outra pessoa e 20 para outra, 150 mil de dívida no total. Qualquer dos exequentes que penhoraram o carro
podem adjudicar o bem. O carro foi penhorado e avaliado em 170 mil reais. Se o carro foi adjudicado pelo credor que tem o
crédito de 100 mil, este precisará depositar 70 mil reais da diferença de valor.

Vejamos quem são os indicados nos incisos II a VIII do art. 889: “II - o coproprietário de bem indivisível do qual tenha
sido penhorada fração ideal; III - o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão de uso
especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com tais
direitos reais; IV - o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial
para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais; V - o credor
pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora anteriormente averbada, quando a penhora recair sobre
bens com tais gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução; VI - o promitente comprador, quando
a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; VII - o promitente vendedor,
quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda registrada; VIII - a União, o
Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado”.

b) Preço não inferior à avaliação (caput do art. 876): O caput do art. 876 diz que “Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo
preço não inferior ao da avaliação, requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados”. Ex.: O carro penhorado foi
avaliado em 100 mil reais. Se eu quiser que a execução termine agora, eu credor ficarei com o carro e a execução termina.
Adjudiquei o bem. Tenho legitimidade para o juiz aceitar, o executado será ouvido e o bem adjudicado. Se o carro foi avaliado
em 180 mil reais e eu tenho um crédito de 100 mil reais, também posso adjudicar o carro, mas tenho que depositar 80 mil
reais. Não posso adjudicar por preço inferior à avaliação.

O executado deverá ser intimado do requerimento de adjudicação: § 1º do art. 876. Requerida a adjudicação, o executado
será intimado do pedido. A intimação poderá ser feita das seguintes formas, nos termos do § 1º do 876: I - pelo Diário da
Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II - por carta com aviso de recebimento, quando representado
pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos; III - por meio eletrônico, quando, sendo o
caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos.

§ 2º do art. 876. Considera-se realizada a intimação quando o executado houver mudado de endereço sem prévia
comunicação ao juízo, observado o disposto no art. 274, parágrafo único. Já existindo o endereço do executado na petição
inicial da ação executiva, o executado deve comunicar ao juízo a mudança de endereço, se houve mudança real. Não
comunicando, a intimação será considerada acabada e perfeita, mesmo que tenha sido feita no endereço antigo.

§ 3º do art. 876. Se o executado, citado por edital, não tiver procurador constituído nos autos, é dispensável a intimação
prevista no § 1º. Perante o réu revel, os prazos correm independentemente de intimação, bastando a publicação do ato decisório
no órgão oficial (art. 346).

Depósito do preço por parte do adjudicatário: § 4º do art. 876. Se o valor do crédito for:

I - inferior ao dos bens, o requerente da adjudicação depositará de imediato a diferença, que ficará à disposição do
executado: Sendo o preço do bem adjudicado maior do que o valor do crédito, deverá o adjudicatário depositar a diferença.

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Ex.: O executado deve 100 mil reais. O carro foi penhorado e avaliado em 130 mil reais, além de ser adjudicado. Como o
exequente pegou um bem que vale 30 mil reais a mais, deverá entregar 30 mil reais em juízo.

II - superior ao dos bens, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente: O exequente está, em regra, dispensado de
depositar o valor do bem, desde que o valor seja igual ou inferior ao crédito. Sendo inferior, a execução prossegue pelo valor
remanescente, nos termos do inciso II do § 4º do art. 876. Ex.: O executado deve 120 mil reais. O carro tinha o valor de 100
mil reais, foi penhorado, avaliado e adjudicado. A execução prosseguirá pelos 20 mil reais remanescentes. O exequente
certamente pedirá uma segunda penhora para que termine no todo a execução.

Concorrência e concurso entre os legitimados: § 6º do art. 876. Se houver mais de um pretendente, proceder-se-á a
licitação entre eles, tendo preferência, em caso de igualdade de oferta, o cônjuge, o companheiro, o descendente ou o
ascendente, nessa ordem: É possível que simultaneamente, vários legitimados queiram adjudicar. Acontecendo isso, o juiz
fará uma licitação entre todos interessados, e havendo empate, haverá uma ordem de preferência. Ex.: O exequente, a mulher
do executado e o filho dele querem adjudicar (3 pessoas). Em princípio, ficará com o bem quem der a oferta mais alta, mas
como houve empate (igualdade de oferta), a preferência fica com o cônjuge (a mulher do executado), com o descendente
(o filho do executado), e só depois com o exequente. Se presume que é mais benéfico que o bem penhorado fique no seio da
família do executado.

Alienação por iniciativa particular (art. 879 e 880): Primeiramente, é necessário dizer que havendo adjudicação, não
existirá possibilidade de alienação, seja particular, seja leilão judicial. A alienação por iniciativa particular, por sua vez,
é uma das espécies do gênero “alienação”. O outro tipo é a hasta pública (leilão judicial, eletrônico ou presencial), que veremos
depois: Art. 879. A alienação far-se-á: I - por iniciativa particular; II - em leilão judicial eletrônico ou presencial. É bom
dizer que toda alienação, seja de iniciativa particular, seja o leilão judicial, se dá por ordem judicial (mesmo que seja chamada
de alienação de iniciativa particular).

Vantagens da alienação por iniciativa particular: a) Menos custos na execução, sem precisar de editais; b) Flexibilidade
para negociar, com a participando direta das partes.

Procedimento da alienação por iniciativa particular: Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer
a alienação por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante o órgão
judiciário. Não existindo nenhum interessado na adjudicação, cabe ao exequente pedir a alienação, por meio de um
requerimento (o juiz não pode de ofício estabelecer alienação por iniciativa particular). Neste requerimento o exequente
dirá se pretende ele próprio alienar os bens ou se deseja que um corretor ou um leiloeiro público faça.

Recebido o requerimento, o juiz o deferirá, podendo modificar os seus termos: § 1º do art. 880 O juiz fixará o prazo em que
a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o preço mínimo, as condições de pagamento, as garantias e, se for
o caso, a comissão de corretagem. O corretor e o leiloeiro público devem ser credenciados pelo Judiciário. Tendo sido
escolhida a alienação por meio do corretor ou leiloeiro público, a comissão destes será aprovada pelo juiz, sendo incluídas
nas custas da execução. Se o exequente for o encarregado da alienação não existirá esse custo.

Ademais, se o juiz fixar parceladamente o preço da alienação, terá de requerer uma garantia, para que o bem adquirido por
alienação particular seja realmente pago. Esta garantia é de cumprimento da obrigação do terceiro frente à alienação.

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Sobre o preço, o CPC não admite que os bens penhorados sejam alienados por preço vil (art. 891). Preço vil é o preço inferior
ao preço mínimo fixado pelo juiz. Não existindo preço mínimo fixado, vil é o preço inferior a 50% do valor da avaliação.

§ 4º do art. 880. Nas localidades em que não houver corretor ou leiloeiro público credenciado nos termos do § 3º, a indicação
será de livre escolha do exequente. A indicação do exequente não obriga o juiz, como se pode interpretar de começo. O juiz
pode se quiser, nomear outro corretor ou leiloeiro, mesmo que seja distinto do indicado pelo exequente.

A alienação por iniciativa particular é feita com a intervenção da autoridade pública, e se aperfeiçoa com termo lavrado nos
autos da execução pelo escrivão, assinado pelo juiz, pelo exequente e pelo adquirente: § 2º do art. 880. A alienação será
formalizada por termo nos autos, com a assinatura do juiz, do exequente, do adquirente e, se estiver presente, do executado,
expedindo-se:

I - a carta de alienação e o mandado de imissão na posse, quando se tratar de bem imóvel: Será expedida em favor do
adquirente uma carta de alienação do bem imóvel (quando um bem imóvel for alienado). É com a carta de alienação que o
adquirente irá obter a transmissão da propriedade no Registro de Imóveis.

II - a ordem de entrega ao adquirente, quando se tratar de bem móvel: No caso de bem móvel não é preciso carta de alienação.
Basta um mandado de entrega ao adquirente. Os semoventes estão incluídos aqui. Ex.: Em alienação por iniciativa particlar,
um adquirente comprou 10 vacas. O juiz emitirá mandado de entrega, que será apresentado ao depositário para que ele entregue
os bens ao adquirente.

Alienação por leilão judicial (hasta pública), eletrônico ou presencial (art. 881 até 903): Art. 881. A alienação far-se-á
em leilão judicial se não efetivada a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular. Primeiro se tenta a adjudicação.
Se não for possível adjudicar, tenta-se a alienação por iniciativa particular. Se não houve sucesso na alienação particular, a
última possibilidade será o leilão judicial.

Hasta pública (ou leilão judicial) é a alienação de bens em pregão (publicamente), promovida pelo Poder Público, por meio
de leiloeiro público (§ 1º do art. 881. O leilão do bem penhorado será realizado por leiloeiro público). Arrematação é o ato
que conclui o pregão. A hasta pública admite duas variações: a) Leilão judicial (eletrônico ou presencial); b) Pregão da
Bolsa de Valores (§ 2º do art. 881. Ressalvados os casos de alienação a cargo de corretores de bolsa de valores, todos os
demais bens serão alienados em leilão público). Não há mais a diferença que havia no CPC-73. Lá, a hasta pública (leilão
judicial) se dividia em leilão (para bens móveis), praça (para bens imóveis) e pregão da bolsa de valores (para os títulos
emitidos por pessoas jurídicas de direito público interno e aqueles que lhe são equiparados). Não subsiste mais essa
classificação. Todos os casos que não configurarem pregão da bolsa de valores serão casos de leilão judicial.

O pregão da bolsa de valores (ou alienação a cargo de corretores da bolsa de valores) ocorre quando o título tem cotação
em bolsa de valores. Foram penhoradas ações que tem cotação em bolsa de valores. Não haverá leiloeiro, mas o corretor da
bolsa de valores. Quem nomeará o corretor será o juiz, e quem indicará é o exequente (aplicação analógica do art. 883).
Estes títulos são levados para o pregão da bolsa de valores, e o corretor receberá pelo encargo que desempenha. Permite-se,
portanto, que o exequente indique o corretor da bolsa de valores que fará a alienação.

150
O CPC dá preferência ao leilão judicial eletrônico. Se não for possível o eletrônico, haverá leilão presencial: Art. 882. Não
sendo possível a sua realização por meio eletrônico, o leilão será presencial. No antigo CPC o leilão judicial só podia ser
presencial. Agora há leilão judicial eletrônico, que se faz através da internet, e há o leilão presencial. O leilão presencial será
realizado no local designado pelo juiz (§ 3º do art. 882).

O CNJ lançará as regras e os tribunais estaduais poderão regulamentar o leilão eletrônico: § 1º do art. 882. A alienação
judicial por meio eletrônico será realizada, observando-se as garantias processuais das partes, de acordo com
regulamentação específica do Conselho Nacional de Justiça. No leilão eletrônico busca-se a publicidade (para que o maior
número de pessoas participe), autenticidade e segurança: § 2º do art. 882. A alienação judicial por meio eletrônico deverá
atender aos requisitos de ampla publicidade, autenticidade e segurança, com observância das regras estabelecidas na
legislação sobre certificação digital. Nos leilões presenciais haverá publicação de editais, no jornal ou no foro.

Nomeação do leiloeiro público, seus deveres e remuneração (art. 883 e 884): Quem indica o leiloeiro público é o
exequente, mas quem o nomeia efetivamente é o juiz: Art. 883. Caberá ao juiz a designação do leiloeiro público, que poderá
ser indicado pelo exequente. Quem nomeia, afinal, é o juiz. Esta regra se aplica também à escolha e nomeação do corretor
(do pregão da bolsa de valores do § 2º do art. 881). Ainda, nas localidades em que não houver leiloeiro público credenciado,
a escolha também será do exequente (§ 4º do art. 880).

O leiloeiro público tem alguns deveres, que estão arrolados no art. 884: Art. 884. Incumbe ao leiloeiro público: I - publicar
o edital, anunciando a alienação; II - realizar o leilão onde se encontrem os bens ou no lugar designado pelo juiz; III - expor
aos pretendentes os bens ou as amostras das mercadorias; IV - receber e depositar, dentro de 1 (um) dia, à ordem do juiz, o
produto da alienação; V - prestar contas nos 2 (dois) dias subsequentes ao depósito.

O leiloeiro tem direito de receber sua remuneração, que deverá ser paga pelo arrematante (Parágrafo único. O leiloeiro tem
o direito de receber do arrematante a comissão estabelecida em lei ou arbitrada pelo juiz). A comissão só é devida se
efetivamente for realizado o leilão.

O edital do leilão (art. 886 e 887): Estes avisos públicos convocando os interessados a participar da licitação ocorrerão no
leilão eletrônico e no presencial. O conteúdo do edital do leilão está no art. 886: Art. 886. O leilão será precedido de publicação
de edital, que conterá: I - a descrição do bem penhorado, com suas características, e, tratando-se de imóvel, sua situação e
suas divisas, com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor pelo qual o bem foi avaliado, o preço mínimo pelo qual
poderá ser alienado, as condições de pagamento e, se for o caso, a comissão do leiloeiro designado; III - o lugar onde
estiverem os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de créditos ou direitos, a identificação dos autos do processo
em que foram penhorados; IV - o sítio, na rede mundial de computadores, e o período em que se realizará o leilão, salvo se
este se der de modo presencial, hipótese em que serão indicados o local, o dia e a hora de sua realização; V - a indicação de
local, dia e hora de segundo leilão presencial, para a hipótese de não haver interessado no primeiro; VI - menção da
existência de ônus, recurso ou processo pendente sobre os bens a serem leiloados. Parágrafo único. No caso de títulos da
dívida pública e de títulos negociados em bolsa, constará do edital o valor da última cotação.

Busca-se sempre o máximo de publicidade em relação ao edital, para que mais interessados participem da licitação: Art. 887.
O leiloeiro público designado adotará providências para a ampla divulgação da alienação. Neste sentido, o edital deverá

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ser publicado com 5 dias de antecedência da data do leilão: § 1º do art. 887. A publicação do edital deverá ocorrer pelo menos
5 (cinco) dias antes da data marcada para o leilão.

A publicação do edital poderá ser feita na internet ou não sendo possível nesta, em algum jornal: § 2º do art. 887. O edital
será publicado na rede mundial de computadores, em sítio designado pelo juízo da execução, e conterá descrição detalhada
e, sempre que possível, ilustrada dos bens, informando expressamente se o leilão se realizará de forma eletrônica ou
presencial. § 3º do art. 887. Não sendo possível a publicação na rede mundial de computadores ou considerando o juiz, em
atenção às condições da sede do juízo, que esse modo de divulgação é insuficiente ou inadequado, o edital será afixado em
local de costume e publicado, em resumo, pelo menos uma vez em jornal de ampla circulação local. Também pode o edital
ser publicado em local de ampla circulação de pessoas, além de existirem avisos no rádio ou na televisão: § 4º Atendendo ao
valor dos bens e às condições da sede do juízo, o juiz poderá alterar a forma e a frequência da publicidade na imprensa,
mandar publicar o edital em local de ampla circulação de pessoas e divulgar avisos em emissora de rádio ou televisão local,
bem como em sítios distintos do indicado no § 2º.

§ 5º do art. 887. Os editais de leilão de imóveis e de veículos automotores serão publicados pela imprensa ou por outros
meios de divulgação, preferencialmente na seção ou no local reservados à publicidade dos respectivos negócios. § 6º do art.
887. O juiz poderá determinar a reunião de publicações em listas referentes a mais de uma execução.

Intimação do leilão judicial (art. 889): Art. 889. Serão cientificados da alienação judicial, com pelo menos 5 (cinco) dias
de antecedência: I - o executado, por meio de seu advogado ou, se não tiver procurador constituído nos autos, por carta
registrada, mandado, edital ou outro meio idôneo: O executado deve ser intimado na pessoa do seu advogado. O executado
que for revel, sem advogado e tiver endereço nos autos será intimado pessoalmente, mas se não existir endereço seu nos autos,
será citado pelo próprio edital do leilão: Parágrafo único do art. 889. Se o executado for revel e não tiver advogado
constituído, não constando dos autos seu endereço atual ou, ainda, não sendo ele encontrado no endereço constante do
processo, a intimação considerar-se-á feita por meio do próprio edital de leilão.

Devem ser intimados os credores com algum direito incidente sobre os bens a serem leiloados: V - o credor pignoratício,
hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora anteriormente averbada, quando a penhora recair sobre bens com tais
gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução. Não é só o credor com garantia real, mas o credor
quirografário que tem penhora averbada (art. 844) sobre o bem a ser leiloado. Não havendo a intimação de algum credor
concorrente, a alienação será considerada ineficaz (§ 1º do art. 903. Ressalvadas outras situações previstas neste Código,
a arrematação poderá, no entanto, ser: II - considerada ineficaz, se não observado o disposto no art. 804), podendo a sua
nulidade ser postulada em sede de embargos de terceiro, ou se não expedida ainda a carta de alienação, perante o juízo da
execução (§ 2º do art. 903. O juiz decidirá acerca das situações referidas no § 1º, se for provocado em até 10 (dez) dias após
o aperfeiçoamento da arrematação). Depois de perfeita a arrematação, o credor afetado deverá propor ação anulatória
autônoma (§ 4º do art. 903. Após a expedição da carta de arrematação ou da ordem de entrega, a invalidação da arrematação
poderá ser pleiteada por ação autônoma, em cujo processo o arrematante figurará como litisconsorte necessário).

Serão também intimados os titulares de direito real sobre o bem a ser leiloado: II - o coproprietário de bem indivisível do
qual tenha sido penhorada fração ideal; III - o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão

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de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com
tais direitos reais; IV - o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso
especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais; VI - o
promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada;
VII - o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda
registrada; VIII - a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.

Arrematante é o licitante que deu o maior lance, o vencedor do leilão (o que adquiriu o bem). Todos que participam do leilão
são licitantes, mas nem todos licitantes são arrematantes. O licitante pode ser um terceiro interessado ou o próprio exequente.
Algumas pessoas não podem ser licitantes (art. 890): Art. 890. Pode oferecer lance quem estiver na livre administração de
seus bens, com exceção: I - dos tutores, dos curadores, dos testamenteiros, dos administradores ou dos liquidantes, quanto
aos bens confiados à sua guarda e à sua responsabilidade; II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou
alienação estejam encarregados; III - do juiz, do membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, do escrivão, do
chefe de secretaria e dos demais servidores e auxiliares da justiça, em relação aos bens e direitos objeto de alienação na
localidade onde servirem ou a que se estender a sua autoridade; IV - dos servidores públicos em geral, quanto aos bens ou
aos direitos da pessoa jurídica a que servirem ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; V - dos leiloeiros e
seus prepostos, quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados; VI - dos advogados de qualquer das partes.

Não tendo surgido nenhum licitante no primeiro leilão, será feito um segundo leilão. Neste segundo, o preço da arrematação
não estará mais limitado ao preço de avaliação, mas não poderá ser vil: Art. 891. Não será aceito lance que ofereça preço
vil. Parágrafo único. Considera-se vil o preço inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e constante do edital, e, não tendo
sido fixado preço mínimo, considera-se vil o preço inferior a cinquenta por cento do valor da avaliação). O juiz determinará
qual o valor mínimo por qual o bem deverá ser vendido (Art. 885. O juiz da execução estabelecerá o preço mínimo, as
condições de pagamento e as garantias que poderão ser prestadas pelo arrematante). Não tendo sucesso o segundo leilão,
ficará aberta a possibilidade ao credor para requerer adjudicação (isso ocorre também se o leilão vir a ser anulado). Aceita
o lance, o pagamento deve ser imediato (art. 892), mas o juiz pode permitir pagamento a prazo ou em prestações (ver art.
895 do CPC).

Qualquer que seja a modalidade de leilão, o aperfeiçoamento da arrematação ocorre com a assinatura do auto de arrematação
pelo leiloeiro público: Art. 903. Qualquer que seja a modalidade de leilão, assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo
leiloeiro, a arrematação será considerada perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os
embargos do executado ou a ação autônoma de que trata o § 4º deste artigo, assegurada a possibilidade de reparação pelos
prejuízos sofridos. A arrematação, uma vez perfeita, tem como principal efeito a transferência da propriedade do bem ao
arrematante. Pode ocorrer que o julgamento de procedência dos embargos aconteça quando o arrematante já tenha se
tornado proprietário dos bens. Neste caso, o arrematante não sofrerá prejuízo. A arrematação será perfeita e acabada, mas ao
vitorioso nos embargos é reservado o direito de conseguir a indenização junto ao exequente.

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Da satisfação do crédito exequendo (art. 904 até 909 do CPC)

Levantamento do dinheiro (art. 904): Art. 904. A satisfação do crédito exequendo far-se-á: I - pela entrega do dinheiro; II
- pela adjudicação dos bens penhorados. A forma pura de pagamento na execução de quantia certa (embora se admita
também o pagamento por adjudicação de bens) é a que se dá por meio da entrega do dinheiro ao exequente, dinheiro este
que veio da remição ou da expropriação dos bens penhorados. Na adjudicação não há levantamento de dinheiro, mas
levantamento de bem. O juiz dá uma ordem para que seja possível levantar o bem penhorado (móvel ou imóvel).

Quando há pagamento de dinheiro, o juiz também dá uma ordem (expede um alvará para o levantamento da importância).
O levantamento se faz em cumprimento de ordem do juiz, e ao credor compete firmar termo de quitação nos autos: Art. 906.
Ao receber o mandado de levantamento, o exequente dará ao executado, por termo nos autos, quitação da quantia paga. No
momento em que a parte receber a ordem do juiz, poderá se dirigir ao banco e retirar o dinheiro. Dependendo do valor do
dinheiro, será necessário avisar o banco. Na hora de retirar o alvará, o exequente ou o seu advogado (com plenos poderes)
dará quitação nos autos. Parágrafo único. A expedição de mandado de levantamento poderá ser substituída pela
transferência eletrônica do valor depositado em conta vinculada ao juízo para outra indicada pelo exequente. Para agilizar a
satisfação do exequente, permite-se que o mandado de levantamento seja substituído pela transferência eletrônica do valor
depositado em juízo para outra conta indicada pelo exequente.

É proibida durante o plantão judiciário a concessão de pedidos de levantamento de dinheiro: Parágrafo único do art. 905.
Durante o plantão judiciário, veda-se a concessão de pedidos de levantamento de importância em dinheiro ou valores ou de
liberação de bens apreendidos.

II - não houver sobre os bens alienados outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente à penhora: São
privilégios instituídos antes da penhora. Ex.: O credor penhorou o carro do devedor e este carro é dado como garantia depois
da penhora, em outro negócio jurídico. Não pode, é fraude. Estas preferências ou privilégios deveriam ter sido instituídas
anteriormente à penhora.

Uma vez feito o pagamento, será possível levantar o preço, nos termos do art. 905, caput e inciso I, desde que a execução
tenha corrido em benefício do exequente singular que quer o pagamento, não houver privilégio ou preferência de terceiros
sobre os bens penhorados e desde que não tenha sido declarada a insolvência do executado: Art. 905. O juiz autorizará que o
exequente levante, até a satisfação integral de seu crédito, o dinheiro depositado para segurar o juízo ou o produto dos bens
alienados, bem como do faturamento de empresa ou de outros frutos e rendimentos de coisas ou empresas penhoradas,
quando: I - a execução for movida só a benefício do exequente singular, a quem, por força da penhora, cabe o direito de
preferência sobre os bens penhorados e alienados: Aqui o levantamento poderá ser dado em razão de a execução ter sido
movida só a benefício do exequente singular. Temos apenas um exequente, não há insolvência do devedor e nem há privilégio
ou preferência de terceiros, caso em que o credor poderá levantar o dinheiro.

Sendo declarada a insolvência do executado, não será possível levantar o dinheiro (art. 762, § 2º do CPC-73). Com a
insolvência, todos os bens do executado serão levados para o juízo coletivo. Se o credor levantou antes o dinheiro, ficará
com o dinheiro, pois o dinheiro já será de propriedade do credor que o levantou previamente, não havendo sentido em levar
este dinheiro para o juízo coletivo. Mas sendo decretada a insolvência e existindo execuções contra aquele devedor em que

154
existem bens já penhorados e avaliados (mas não expropriados e nem o seu dinheiro levantado), o patrimônio que restou fará
parte da execução coletiva.

Havendo qualquer privilégio ou preferência constituídos anteriormente à penhora do exequente (garantia real sobre
alguma dívida, por ex.) sobre os bens alienados, não será possível levantar o dinheiro: Art. 905. O juiz autorizará que o
exequente levante, até a satisfação integral de seu crédito, o dinheiro depositado para segurar o juízo ou o produto dos bens
alienados (..) quando: II - não houver sobre os bens alienados outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente
à penhora. Nesta hipótese, por conta da intercorrência de penhoras, se instaura um concurso particular de preferência, com
a participação do exequente e dos credores que tem preferência ou privilégio, nos termos do art. 908: Art. 908. Havendo
pluralidade de credores ou exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue consoante a ordem das respectivas
preferências. Art. 909. Os exequentes formularão as suas pretensões, que versarão unicamente sobre o direito de preferência
e a anterioridade da penhora, e, apresentadas as razões, o juiz decidirá.

Em primeiro lugar, o produto da expropriação deverá satisfazer (independentemente de penhora) os credores que tiverem
preferência (garantia real sobre os bens arrematados). Não existindo preferência, ou depois de satisfeitas estas, os demais
credores quirografários receberão de acordo com a ordem de cada penhora (§ 2º do art. 908. Não havendo título legal à
preferência, o dinheiro será distribuído entre os concorrentes, observando-se a anterioridade de cada penhora). Se leva em
conta a data da lavratura do auto de penhora, quando ocorre a apreensão e o depósito dos bens (art. 839). O credor quirografário
que recebe o primeiro pagamento, é portanto o que penhorou primeiro o bem, não necessariamente aquele que é o exequente
da execução em que o bem foi alienado. O pagamento é por ordem cronológica, e os credores subsequentes só recebem se
sobrar algo após a satisfação do credor anterior. O concurso é de preferência, não há rateio.

O art. 797 diz que a penhora dá ao exequente o direito de preferência sobre os bens penhorados: Art. 797. Ressalvado o
caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que
adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora
sobre o mesmo bem, cada exequente conservará o seu título de preferência. Havendo mais de uma penhora sobre o mesmo
bem (pluralidade de credores), cada exequente tem o seu direito de preferência, de acordo com uma ordem estabelecida de
anterioridade. Não haverá divisão do bem penhorado entre os credores, mas ordem de preferência. Ex.: “C” propôs uma
execução contra “A”, no dia de 1 de julho, por causa de um cheque de 30 mil. “B” propôs uma execução contra “A” por causa
de um cheque de 20 mil reais, em 1 de agosto (depois de “C”). Quando foi indicar um bem a penhora, “C” não sabia qual bem
indicar, enquanto “B” já havia indicado bens na petição inicial. “A” foi citado para pagar “B” em 3 dias, mas não pagou nada
e a execução prosseguiu. “C” percebeu que “B” indicou na sua execução um carro de “A” à penhora. Este carro provavelmente
será vendido. Quem receberá o valor? Quem pode levantar de imediato o dinheiro é quem penhorou primeiro o bem, ou seja,
“B”. Não interessa quem promoveu a execução primeiro, quem foi citado primeiro, nem quem indicou o bem à penhora
primeiro, interessa quem penhorou efetivamente o bem primeiro. É bom relembrar que a ordem de preferência da penhora
só existe entre os credores quirografários e enquanto durar o estado de solvência do devedor. A ordem de preferência
não afeta os direitos reais de garantia, que receberão sempre em primeiro lugar (ex.: credores hipotecários). Se decretada a
insolvência, não haverá ordem de preferência por penhora.

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Execução de prestação alimentar decorrente de título executivo extrajudicial (art. 911, 912 e 913 do CPC).

Vimos a execução de prestação alimentar baseada em título judicial (cumprimento de sentença). Aqui, porém, temos um
título extrajudicial determinando a obrigação alimentar. Ex.: Um documento particular assinado pelo devedor e por duas
testemunhas, ou mesmo um instrumento de transação referendado pelo MP, pelo devedor e por seu advogado.

As espécies desse tipo de execução são:

Desconto em folha de pagamento (art. 912 do CPC): Art. 912. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor
ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em
folha de pagamento de pessoal da importância da prestação alimentícia: É possível o desconto em folha de pagamento
quando o devedor for funcionário público, militar, gerente ou diretor de empresa, ou empregado regido pela CLT, ou seja,
quando há salário. Havendo folha de pagamento, a execução será feita por desconto em folha. Não se admite desconto em
folha em relação ao profissional liberal.

§ 1º do art. 912. Ao despachar a inicial, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena
de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do
ofício. § 2º do art. 912. O ofício conterá os nomes e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e
do executado, a importância a ser descontada mensalmente, a conta na qual deve ser feito o depósito e, se for o caso, o tempo
de sua duração: Na petição inicial da ação executiva de alimentos, se pedirá que o juiz oficie a autoridade, pedindo o desconto
a partir da primeira remuneração do executado depois do ofício. Depois do pedido, o juiz oficiará o empregador para que se
desconte a quantia do salário, e se deposite o valor da prestação em uma conta a ser aberta pelo próprio juízo em nome da
representante do alimentando (se ele for menor), ou se ele for maior, em nome do próprio alimentado.

Pelo rito específico do § 2º a § 7º do art. 528, sob pena de prisão civil, conforme o art. 911 do CPC: Quando não for
possível o desconto em folha de pagamento, vamos ao art. 911. Art. 911. Na execução fundada em título executivo
extrajudicial que contenha obrigação alimentar, o juiz mandará citar o executado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento
das parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de fazê-lo. Parágrafo único. Aplicam-se, no que couber, os §§ 2º a 7º do art. 528:

O executado será citado para pagar em 3 dias, ou justificar que já pagou, ou alegar a impossibilidade de pagar,
apresentando justificativa. A execução será extinta se o juiz aceitar a justificativa da impossibilidade de pagamento, ou
se visualizar que o executado já pagou a prestação.

A partir daqui, aplica-se o regramento previsto no cumprimento de sentença de prestação alimentar (§§ 2º a 7º).

Se em 3 dias o juiz não aceitar a justificativa da impossibilidade de pagar ou não visualizar que o executado já pagou,
será decretada a prisão civil do devedor, pelo prazo de 1 a 3 meses, e o juiz mandará protestar a decisão (art. 528, § 3º).
Lembrando que “somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento”
(art. 528, § 2º).

156
A prisão é meio de coação, de modo que não impede o prosseguimento dos atos executivos. O cumprimento da prisão "não
exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas" (art. 528, § 5º). O devedor poderá ser preso várias vezes,
basta existir o inadimplemento da obrigação alimentar e não for provada a impossibilidade de pagar.

A prisão será cumprida em regime fechado (art. 528, § 4º), mas sendo pagas as prestações devidas, o devedor será posto em
liberdade imediatamente por ordem do juiz (art. 528, § 6º). Além do mais, segundo o § 7º do art. 528 “O débito alimentar
que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da
execução e as que se vencerem no curso do processo”.

Pelo rito da execução de quantia certa, sob pena de penhora (art. 913 do CPC): Art. 913. Não requerida a execução nos
termos deste Capítulo, observar-se-á o disposto no art. 824 e seguintes, com a ressalva de que, recaindo a penhora em
dinheiro, a concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução não obsta a que o exequente levante mensalmente a
importância da prestação. Possuindo título extrajudicial, o credor de alimentos deverá requerer a citação do devedor para
pagar alimentos ou sob pena de prisão (art. 911), ou sob pena de penhora, caso em que a execução será pelo procedimento da
quantia certa (art. 913). Sob pena de prisão civil ou sob pena de penhora a citação será para pagar em 3 dias. O art. 824 e
seguintes tratam do procedimento da execução por quantia certa, baseada em título extrajudicial, sob pena de penhora
(não será cabível neste rito a prisão civil do devedor).

Dúvida: Se o credor escolheu o rito especial (sob pena de prisão), após a prisão ou justificativa do devedor, o credor poderia
pedir o prosseguimento da execução pelo rito da execução de quantia certa, se ainda persistisse o inadimplemento?

Quando o juiz atribui efeito suspensivo aos embargos (por ter visualizado o preenchimento de todos requisitos para esta
concessão), em tese, quase nenhum ato executivo pode ser praticado. Na execução de prestação alimentar baseada em título
judicial, entretanto, se a penhora recair em dinheiro, mesmo que o efeito suspensivo seja concedido após a propositura
dos embargos, ainda assim o executado poderá levantar o dinheiro. Ex.: O filho do devedor propôs a execução, pedindo
a penhora do salário do seu pai. O salário em regra é impenhorável, mas em execução de alimentos é penhorável. O devedor
tem 5 mil reais no banco, e o filho alega que o pai está devendo 3 meses de prestação alimentar. O devedor pediu a concessão
de efeito suspensivo aos embargos, argumentando que tinha fundamentos relevantes (já havia pago o credor, não devia nada
a ele), demonstrando que a prosseguimento da execução causaria grave dano (o filho não tinha bem nenhum em seu nome,
não tendo como devolver o dinheiro depois de os embargos serem providos). Além disso, foi prestada garantia (a penhora do
dinheiro). O efeito suspensivo foi concedido, mas ainda assim o credor-filho poderá levantar a quantia depositada.

Resumindo: Seguindo-se o rito da execução de quantia certa em prestação alimentícia, ainda que o executado tenha preenchido
os requisitos do efeito suspensivo e este tenha sido concedido, poderá o credor dos alimentos levantar o dinheiro. Lembrando,
apenas no caso de a penhora recair sobre dinheiro. Mesmo que o devedor tenha embargado e haja efeito suspensivo, o
credor poderá levantar o dinheiro. O legislador privilegiou a vida do credor de alimentos, mesmo reconhecendo que possa
ocorrer alguma injustiça se no futuro os embargos forem providos e for demonstrado que o credor dos alimentos não tinha
razão.

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Execução por quantia certa contra devedor insolvente (arts. 748 a 786-A do CPC-73).

Conceito: “É o processo que se observa quando existe um patrimônio que há de responder por um conjunto de dívidas,
constitutivos de outros tantos créditos em favor de uma pluralidade de credores, sendo que este patrimônio é insuficiente, no
momento, para satisfazer a todos esses credores na sua integralidade”.

O estado de insolvência, em princípio, ocorre quando o devedor possui mais dívidas do que patrimônio para pagar estas
mesmas dívidas. O próprio art. 748 diz isso: “Art. 748. Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à importância
dos bens do devedor”. Este estado de insolvência, entretanto, só existirá juridicamente quando for declarado por sentença.
Se ninguém requereu a declaração de insolvência, o devedor pode até ter muito mais a pagar do que tem de patrimônio, que
mesmo assim será apenas insolvente de fato (não será considerado juridicamente insolvente). Ex.: O devedor tem dívidas que
totalizam 100 mil reais, e possui como patrimônio apenas um carro que vale 80 mil reais. O único credor promoveu execução
por quantia certa contra devedor solvente, pois queria ao menos 80 mil reais. Faltarão 20 mil reais, a execução será suspensa
provavelmente por falta de bens penhoráveis no futuro.

Por isso se diz que o credor tem a faculdade de escolher o tipo de execução que deseja promover. Ele pode querer execução
contra devedor solvente ou contra insolvente. Ambas possuem vantagens e prejuízos, com efeitos diferentes, desde a sua
propositura. Ex.: Um devedor tem 490 mil de dívidas vencidas, com vários credores. Um dos credores sabe que o devedor é
insolvente de fato, e propõe a execução por quantia certa contra devedor insolvente. No momento em que o juiz declarar por
sentença o estado de insolvência, as dívidas do devedor se vencerão antecipadamente. O credor que propôs a execução tinha
um crédito de 90 mil reais, e os outros credores tinham 400 mil reais de crédito no total. Além disso, o devedor tem 5 parcelas
de uma nota promissória a serem pagas, cada uma valendo 100 mil reais (totalizando mais 500 mil reais). A primeira parcela
vence em 5 de dezembro, a segunda em 5 de janeiro, a terceira em 5 de fevereiro, a quarta em 5 de março e a quinta em 5 de
abril. As dívidas desta nota promissória se vencerão antecipadamente, no momento em que for declarada a insolvência
juridicamente. Teremos uma dívida de 990 mil reais e patrimônio de 80 mil reais, de modo que nenhum dos credores
receberá a dívida por inteiro. Quem tem mais crédito recebe a maior parte. Os outros recebem outra parte, e quem tem 90
mil recebe menos, pois é a menor dívida. O valor a ser pago na execução é proporcional ao crédito. Se alguém pedir a
declaração do estado de insolvência, deve pensar bem para ver se é vantajoso. Por vezes será mais vantajoso ao credor não
pedir a insolvência e executar para ganhar apenas a sua parte, mantendo o devedor juridicamente solvente. Outras vezes,
entretanto, valerá a pena promover a execução contra devedor insolvente: Ex.: “A” deve 100 mil reais para “B” e mais
100 mil reais para “C”. “A” possui apenas 70 mil reais de patrimônio, é insolvente de fato. “B” promoveu a execução por
quantia certa contra devedor solvente, para que “A” o pagasse os 70 mil reais. “B” conseguiu a penhora do carro de “A”. “C”
está em posição de desvantagem, pois vai ficar sem nada. Cabe a “C” promover a execução por quantia certa contra devedor
insolvente, para que seja juridicamente declarada a insolvência de “A” e a divisão de pagamento seja feito de modo
proporcional, com chances de “C” conseguir uma parte.

Antes de visualizar os pressupostos da execução de quantia certa contra devedor insolvente, é bom dizer que o CPC 2015 não
regulou a matéria, dispondo que até a edição de nova lei, ela continuaria a ser regulada da forma que estava no CPC-73:

158
“Art. 1.052. Até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas,
permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973”.

Pressupostos da execução por quantia certa contra devedor insolvente: Tanto o inadimplemento do devedor quanto o
título executivo (os dois primeiros pressupostos) são pressupostos de qualquer execução, seja contra devedor solvente, seja
contra devedor insolvente. Os dois últimos pressupostos (declaração judicial do estado de insolvência e não ser o devedor
comerciante) é que são próprios da execução de quantia certa contra devedor insolvente, não estando presentes em outros tipos
anteriores de execução que já estudamos.

a) Título executivo (art. 783 e 786 do NCPC e 754 do CPC-73): Nulla executio sine titulo. É claro que não há execução sem
título executivo, judicial ou extrajudicial (seja contra devedor solvente seja contra devedor insolvente).

b) Inadimplemento do devedor (art. 786 do NCPC): É evidente que se o devedor pagar integralmente a dívida (cumprir a
obrigação), o juiz não decretará a insolvência. c) Declaração judicial do estado de insolvência (art. 748, 751 e 761 do CPC-
73): Só há execução por quantia certa contra devedor insolvente se o juiz declarar, através de uma sentença, o estado de
insolvência.

d) Não ser o devedor comerciante ou empresário: Na execução de quantia certa contra devedor insolvente o executado não
pode ser empresário, necessariamente deve ser civil. Se fosse empresário, não estaria na condição de insolvência, mas de
falência. Quem propor a execução deverá pedir a falência do empresário, e não a insolvência.

Discute-se a possibilidade de não admitir o processamento do pedido de insolvência se em execução singular foi provada
a inexistência de bens penhoráveis do devedor. Alguns dizem que não seria possível pedir a insolvência, pois não há
execução sem objeto. H. Theodoro discorda, pois na declaração de insolvência o que se busca é decretar um estado jurídico
novo para o devedor, o que tem consequências importantes. Apenas depois, quando houver execução contra devedor
insolvente é que na falta de bens penhoráveis ocorrerá a suspensão dos atos executivos e com o encerramento do feito,
começará a contar o prazo para a extinção das obrigações do insolvente. É possível, portanto, pedir a insolvência do devedor
mesmo quando ele não possui bens penhoráveis (tanto o devedor quanto o credor).

Efeitos da declaração de insolvência (art. 751 do CPC-73): Os primeiros 3 efeitos são relacionados aos credores. Os 2
últimos efeitos atingem a pessoa do devedor. Vejamos: Art. 751. A declaração de insolvência do devedor produz:

a) Vencimento antecipado de todas as dívidas (inciso I do art. 751): I - o vencimento antecipado das suas dívidas: Ao ser
declarada a insolvência, as dívidas não vencidas de qualquer credor instantaneamente vencem. No exemplo anterior, havia 5
parcelas de uma nota promissória (com 100 mil reais cada parcela) a serem pagas no dia 5 de cada mês. Após a declaração da
insolvência, as 5 parcelas se tornaram dívidas certas, venceram, e o devedor aumentou o seu débito total em 500 mil reais.

b) Arrecadação de todos os bens penhoráveis (inciso II do art. 751): II - a arrecadação de todos os seus bens suscetíveis
de penhora, quer os atuais, quer os adquiridos no curso do processo: As penhoras individuais de outras execuções perdem
eficácia diante da arrecadação dos bens do devedor. Serão arrecadados tanto os seus suscetíveis de penhora que ainda não
foram penhorados quanto os bens que já foram penhorados. A arrecadação é ato executivo similar à penhora na medida que
tende a vincular os bens ao processo de execução, preparando a expropriação futura.

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c) Execução coletiva. Juízo universal do concurso de credores (inciso III do art. 751 e art. 762): III - a execução por
concurso universal dos seus credores. Art. 762. Ao juízo da insolvência concorrerão todos os credores do devedor comum.
§ 1º As execuções movidas por credores individuais serão remetidas ao juízo da insolvência. § 2º Havendo, em alguma
execução, dia designado para a praça ou o leilão, far-se-á a arrematação, entrando para a massa o produto dos bens.
Através de edital publicado no diário oficial da comarca e em jornais de grande circulação, todos os credores serão
chamados, sem distinção. Os credores com garantia real serão também chamados, pois os bens que garantem o pagamento
de dívida serão expropriados. O juízo universal da insolvência atrai para o seu bojo todas as execuções singulares existentes
e impede que outras sejam iniciadas. As penhoras já feitas perdem a eficácia e os credores perdem o privilégio da ordem
de penhora. Se houver leilão já designado, a alienação judicial será realizada, mas o dinheiro será remetido para a massa
insolvente e não para o exequente singular. Ex.: “A” comprou uma casa de “C”, e ambos instituíram garantia real (um
apartamento hipotecado). “A” deve 200 mil reais parcelado, mas não pagou. “C” é credor hipotecário, logo não pode requerer
a insolvência de “A”. Mesmo assim, existem outros credores quirografários, que requereram e conseguiram que o juiz
declarasse a insolvência de “A”. Surge a execução coletiva. “C” será chamado para participar da execução e receberá os 200
mil reais do apartamento por inteiro. O valor que sobrar, será dividido entre os credores quirografários. Todos credores serão
chamados.

d) Perda do direito de administrar os bens, até a liquidação total da massa (art. 752): Art. 752. Declarada a insolvência,
o devedor perde o direito de administrar os seus bens e de dispor deles, até a liquidação total da massa: A massa da qual
fala o final do artigo é a massa insolvente e não massa falida (própria do direito empresarial).

Na mesma decisão judicial em que for declarado o estado de insolvência o juiz nomeará um administrador. Este
administrador tomará o lugar do devedor insolvente, cabendo a ele administrar os bens e se dispor deles quando necessário,
deverá fazer isso com autorização do juiz. Essa perda do direito de administrar os bens perdura até a sentença declaratória
de extinção de todas as obrigações do devedor insolvente (art. 782). As medidas tomadas pelo administrador devem sempre
ser levadas ao juiz, para que este autorize. Ex.: Depois de serem penhorados 10 computadores, o administrador pediu ao juiz
a venda antecipada, pois era vantajoso.

e) Perda da capacidade processual de ser parte (art. 763, caput, e art. 766, II): Art. 763. A massa dos bens do devedor
insolvente ficará sob a custódia e responsabilidade de um administrador, que exercerá as suas atribuições, sob a direção e
superintendência do juiz. Art. 766. Cumpre ao administrador: II - representar a massa, ativa e passivamente, contratando
advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e submetidos à aprovação judicial: A execução, uma vez declarada
a insolvência (se tornando portanto, execução de quantia certa contra devedor insolvente) não seguirá mais contra o devedor
considerado insolvente, mas contra os seus bens (a massa). O devedor perde a capacidade de ser parte naquele processo de
execução. A massa insolvente passa a ser executada, tendo como representante o administrador. Quem passa a ter capacidade
processual é o administrador, que representará os bens que sobraram, eram do antigo devedor e foram trazidos para a
execução.

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Isso não significa que o devedor insolvente não sofrerá as consequências da insolvência, apenas significa que ele não será
parte no processo de execução. Depois dos 5 anos é que o devedor insolvente pode pedir ao juiz que declare extinta as suas
obrigações na órbita civil.

Resumo dos efeitos da declaração de insolvência: Vimos que um dos efeitos da declaração de insolvência é a perda da
capacidade processual do devedor dentro do processo de execução contra ele próprio e a perda do direito de
administrar os bens. A execução segue contra o espólio, que é o complexo de bens e direitos do devedor insolvente
(representado judicialmente pelo administrador). O espólio estará no polo passivo da execução de quantia certa contra devedor
insolvente. Também haverá a arrecadação de todos os bens penhorados do devedor (art. 751, II). Todos bens passíveis de
penhora serão levados para esta execução. Haverá juízo universal, concurso de credores (art. 762, e art. 751, II).
Chamaremos todos credores para participarem dessa execução. Outro efeito é o vencimento antecipado das dívidas do
devedor insolvente.

Legitimidade ativa para pedir a declaração de insolvência (art. 753 do CPC-73): Art. 753. A declaração de insolvência
pode ser requerida: Antes de tudo, é necessário dizer que o juiz não pode de ofício, sem provocação de algum legitimado,
declarar a insolvência. O máximo que pode o juiz fazer é suspender a execução singular, se não visualizar bens penhoráveis
(art. 921, III).

Credor quirografário (inciso I do art. 753): I - por qualquer credor quirografário: Haverá contraditório, que culminará em
uma sentença de mérito. O credor ficará, ao requerer a insolvência, como o sujeito ativo e o devedor como passivo. Pode ser
qualquer credor quirografário (é o credor que não possui garantia de direito real ou privilégio), desde que tenha título
executivo com prestação não adimplida pode requerer a insolvência do devedor. O título executivo (judicial ou extrajudicial)
deve sempre ser líquido, certo e exigível para que seja possível requerer a insolvência. Ex.: “A” é credor e tem uma nota
promissória que vence no dia 5 de dezembro. Como não estamos ainda em 5 de dezembro, a obrigação não é ainda exigível,
e “A” não poderá requerer a insolvência do devedor antes de 5 de dezembro.

Devedor (inciso II do art. 753 e art. 759): II - pelo devedor: Ao contrário do que ocorre no inciso I, aqui não haverá
contraditório, pois o devedor reconheceu a sua insolvência e pede que o juiz a declare. O próprio devedor pode, portanto,
requerer que seja declarada a sua insolvência. Temos a chamada autoinsolvência. Ademais, o próprio art. 759 diz que “É
lícito ao devedor ou ao seu espólio, a todo tempo, requerer a declaração de insolvência”.

Espólio (inciso III do art. 753 e art. 759): III - pelo inventariante do espólio do devedor: Neste caso, o devedor morreu, e
sobrou a universalidade de bens (a herança). Aberto o inventário, o inventariante pode requerer a insolvência, se verificar
que há mais dívidas que patrimônio para adimpli-las. Também não haverá contraditório aqui, tratando-se de um mero
procedimento de jurisdição voluntária, com a relação inventariante\espólio -> juiz, como no inciso II era devedor -> juiz.

Competência (art. 760 do CPC-73): Art. 760. A petição, dirigida ao juiz da comarca em que o devedor tem o seu domicílio,
conterá: O juízo competente para requerer a declaração de insolvência é a comarca do domicílio do devedor. Quem requerer
a insolvência deverá apresentar a petição no domicílio do devedor. Ex.: O credor tem um cheque emitido pelo devedor, que
mora em Pelotas. O cheque foi emitido na comarca de Rio Grande. O credor, em princípio, poderia promover a execução do
cheque em Rio Grande, afinal Rio Grande é o local de pagamento. Ocorre que se o credor for requerer a declaração judicial

161
de insolvência do devedor, deverá apresentar o cheque no foro do domicílio do devedor. Estando o devedor domiciliado em
Pelotas, a execução será processada na comarca de Pelotas.

Procedimento da execução de quantia certa contra devedor insolvente (art. 761 até 786): Para que comece a execução de
quantia certa contra devedor insolvente é necessário que seja declarada a insolvência. Primeiro, se apurará a existência ou
não do estado de insolvência do devedor, e se este estado realmente existir, passa-se para a execução dos bens, para saldar
os créditos remanescentes.

Já vimos que o credor, o próprio devedor ou o espólio requererão a declaração de insolvência. O procedimento varia de
acordo com o legitimado que fizer o pedido.

Se for o credor que requerer a declaração de insolvência, instruirá o pedido com o título executivo (art. 754). Sendo o
devedor citado, poderá tomar algumas atitudes:

a) Apresentar defesa (qualificada na lei como “embargos”) no prazo de 10 dias, onde ele poderá alegar que tem ativo
superior ao passivo ou que não paga por alguma razão (art. 755 e 756), formulando também defesas baseadas nas matérias
postas no art. 917 do NCPC.

b) Pagar a dívida, caso em que o pedido de insolvência não será mais aceito e nenhuma execução poderá ser proposta (art.
924, II do NCPC).

c) Permanecer inerte, não opondo embargos, caso em que o juiz prolatará sentença que deferirá o pedido de insolvência
em 10 dias (art. 755).

d) Depositar o valor do crédito, para discutir a legitimidade deste crédito ou o valor, caso não será mais possível decretar a
insolvência (art. 757).

Não havendo mais provas a produzir, o juiz dará sentença em 10 dias. Havendo necessidade de provas, o magistrado designará
audiência de instrução e julgamento (art. 758) para que depois possa decidir, e depois declarará ou não a insolvência.
Desta sentença que julgar os embargos caberá apelação, que em regra terá efeito suspensivo, mas se atacar decisão que rejeitou
os embargos terá apenas efeito devolutivo (art. 1.012, III do NCPC).

Se for o próprio devedor ou o espólio que requerer a declaração de insolvência, estes farão uma petição que conterá a
relação de todos credores com seus respectivos créditos, além do relatório dos seus bens, seus valores e as causas que levaram
o devedor à insolvência (art. 760, I, II e III).

Recebida a petição, o juiz decidirá, declarando ou não a insolvência.

Nos dois casos anteriores, se o juiz não vislumbrar a prova do déficit patrimonial, a sentença terá natureza de decisão
declaratória negativa, não se seguindo à execução contra devedor insolvente, pois não haverá insolvência.

1. Declaração judicial de insolvência (art. 761): Art. 761. Na sentença, que declarar a insolvência, o juiz: Ao ser declarada
a insolvência por sentença transitada em julgado ou ao menos atacada por apelação recebida apenas no efeito devolutivo,
começará a execução por quantia certa contra devedor insolvente, nos termos do caput do art. 761.

162
1.1. Nomeação do administrador e administração da massa (inciso I do art. 761, art. 763 até art. 767): I - nomeará,
dentre os maiores credores, um administrador da massa. Um administrador será nomeado pelo juiz, dentre os maiores
credores. Quando o juiz nomeia o administrador, este toma o lugar do devedor. O devedor perde o direito de administrar
os bens e de dispor deles (art. 752). Ao administrador incumbe conservar e administrar os bens da massa (763 e 766),
garantindo que eles produzam rendas e frutos até que chegue o momento da expropriação e prestar contas, mas não apenas
isso: “Art. 766. Cumpre ao administrador: I - arrecadar todos os bens do devedor, onde quer que estejam, requerendo para
esse fim as medidas judiciais necessárias; II - representar a massa, ativa e passivamente, contratando advogado, cujos
honorários serão previamente ajustados e submetidos à aprovação judicial; III - praticar todos os atos conservatórios de
direitos e de ações, bem como promover a cobrança das dívidas ativas; IV - alienar em praça ou em leilão, com autorização
judicial, os bens da massa”. Exerce o seu cargo sob a superintendência do juiz (art. 763), exercendo função remunerada
(art. 767) e respondendo pelos prejuízos que por dolo ou culpa causar à massa (art. 161).

2. Expedição de edital (inciso II do art. 761): II - mandará expedir edital, convocando os credores para que apresentem,
no prazo de 20 (vinte) dias, a declaração do crédito, acompanhada do respectivo título. Na mesma sentença em que o juiz
declarar a insolvência e nomear um administrador, o magistrado ordenará a expedição de editais, para que sejam convocados
todos os credores. Os credores terão após a publicação do edital 20 dias para apresentarem, por meio de uma petição simples,
o seu título executivo, o crédito e o seu valor. O edital será publicado no Diário de Justiça e em jornais de grande circulação
na comarca. Ex.: Um dos credores promoveu um pedido de declaração de insolvência do devedor. O devedor foi citado para
se defender, mas não se defendeu, e o juiz declarou o estado de insolvência, nomeando na sentença um dos credores como
administrador. Além disso, determinou a expedição de editais, que foram expedidos e publicados no Diário de Justiça e em
jornais da cidade, convidando todos os credores para que no prazo de 20 dias, querendo, participem da execução (apresentando
o seu título, o seu crédito e o valor do crédito). Vieram os credores com garantia real, os quirografários, e até aqueles que
possuíam títulos incompletos (com dívidas não vencidas, mas que venceram com a declaração de insolvência).

2.1. Verificação e classificação dos créditos (art. 768 do CPC-73): Art. 768. Findo o prazo, a que se refere o no II do art.
761 (20 dias), o escrivão, dentro de 5 (cinco) dias, ordenará todas as declarações, autuando cada uma com o seu respectivo
título. Em seguida intimará, por edital, todos os credores para, no prazo de 20 (vinte) dias, que Ihes é comum, alegarem as
suas preferências, bem como a nulidade, simulação, fraude, ou falsidade de dívidas e contratos. O prazo de 5 dias do escrivão,
para ordenar as declarações, é prazo impróprio (se desrespeitado, não gera sanção). Poderá demorar um pouco mais que 5
dias, dependendo da execução, mas em princípio, teria o prazo de 5 dias o escrivão para ordenar os documentos que foram
entregues ao juiz. Ele colocará em ordem, autuará cada um dos créditos acompanhados do respectivo título. Teremos vários
autos, como se fosse execução separada, mas na verdade, a execução será uma só.

No primeiro edital, todos credores foram convocados (para apresentar em 20 dias os seus títulos, créditos com os valores).
O escrivão, em 5 dias, colocou em ordem a declaração dos créditos, os títulos e valores. Depois disso, um segundo edital será
expedido, desta vez convocando os credores para apresentarem os seus direitos de preferência. Ex.: Vários credores foram
chamados. Um dos credores fez um contrato com o devedor em que o pagamento da dívida era garantido pelo direito real de
garantia chamado hipoteca. O devedor comprou um carro deste credor e pagaria parcelado, garantindo a dívida com o seu
apartamento. Este credor hipotecário possui preferência em relação aos outros credores (que são quirografários). O credor

163
hipotecário não pediu obviamente a declaração de insolvência, pois não podia fazer isso. Ao ser chamado, este credor
apresentou o seu título executivo, acompanhado da declaração de crédito. Chamado no segundo edital, apresentou o seu direito
de preferência (a hipoteca, que garante a dívida). Se não existir nenhum credor hipotecário, passarão em branco os 20 dias
para que alguém apresentasse direito de preferência, e a execução prosseguirá.

Segundo o parágrafo único do art. 768, neste prazo de 20 dias (o mesmo para a apresentação do direito de preferência), o
devedor poderá impugnar qualquer crédito presente na execução (Parágrafo único. No prazo, a que se refere este artigo,
o devedor poderá impugnar quaisquer créditos). Nestes 20 dias, além de chamarem os possíveis credores com direito de
preferência, o próprio devedor poderá impugnar qualquer crédito apresentado, o que serve para evitar fraudes e burlas à
execução. Ex.: Um dos credores quirografários pediu a declaração de insolvência do devedor. Logo mais, quando declarar a
insolvência por sentença, o juiz nomeará um administrador e pedirá para expedir edital chamando os 20 credores para
participar da execução. O devedor deve 500 mil reais para todos os credores, e tem um patrimônio de só 100 mil reais. Ele
pensa da seguinte maneira: “Tenho um carro no valor de 100 mil reais, e tenho dívidas de 500 mil. Estes 100 mil serão
divididos entre os 20 credores. Chamarei um amigo e darei para ele um cheque de 1 milhão, sabendo que não tenho dinheiro
para pagar. Este amigo, combinando comigo, levará este cheque no banco, o banco o carimbará por falta de provisão de
fundos, e nos primeiros 20 dias dias, quando for expedido o edital, ele aparecerá na execução. Quando os 100 mil forem
divididos, este falso credor receberá o maior valor, pois tem uma parcela muito maior de crédito se comparado com os outros
credores. Quando receber a maior parcela do crédito, este amigo me devolverá o dinheiro. Serei declarado insolvente mas
ainda assim ficarei com o dinheiro”. Este crédito claramente é falso e simulado, elaborado para que o devedor fique com o
seu crédito de forma fraudada. Para estas situações existe o segundo prazo de 20 dias, do segundo edital, onde qualquer
credor poderá impugnar o crédito falso (ou mesmo o devedor pode). Havendo impugnação à credito, o juiz decidirá,
deferindo ou indeferindo o pedido.

Depois de apresentados os créditos e resolvidas as impugnações se houverem, o processo será levado para o contador do
foro, e ele apresentará a memória de pagamento, ou seja, o que cada credor receberá (art. 769 e seguintes).

Ordem de classificação dos créditos. Segundo H. Theodoro, prevalece a seguinte classificação: (i) créditos trabalhistas e de
acidentes do trabalho; (ii) créditos tributários; (iii) créditos com garantia real; (iv) créditos com privilégio especial; (v)
créditos com privilégio geral; (vi) créditos quirografários. Os credores que possuem garantia real (credores hipotecários),
receberão integralmente o valor da garantia, tem direito de preferência. Os demais credores quirografários dividirão o resto
da quantia, de forma proporcional em relação ao seu crédito (nenhum dos credores quirografários receberá integralmente
o crédito). Quem faz essa divisão é o contador, conforme o valor de cada crédito e de forma proporcional (art. 776, 770 e
769).

3. Extinção das obrigações (art. 777 e 778 do CPC-73): Depois de arrecadados, os bens serão alienados judicialmente, por
meio de leilão (art. 881 do NCPC). Feito isso, o produto da alienação será dividido entre os credores, de acordo com as ordens
de preferência e a execução terminará, com uma sentença de encerramento. O trânsito em julgado desta sentença de
encerramento funcionará como o recomeço do prazo prescricional das obrigações do devedor insolvente (Art. 777. A
prescrição das obrigações, interrompida com a instauração do concurso universal de credores, recomeça a correr no dia em

164
que passar em julgado a sentença que encerrar o processo de insolvência). Passados 5 anos dessa sentença, as obrigações do
devedor estarão extintas. O devedor fica sujeito às obrigações pelo prazo de 5 anos (Art. 778. Consideram-se extintas todas
as obrigações do devedor, decorrido o prazo de 5 (cinco) anos, contados da data do encerramento do processo de
insolvência).

Passados estes 5 anos do término da execução, o devedor poderá requerer ao juiz da execução que declare por uma nova
sentença a extinção de todas as suas obrigações na órbita civil (Art. 779. É lícito ao devedor requerer ao juízo da
insolvência a extinção das obrigações; o juiz mandará publicar edital, com o prazo de 30 (trinta) dias, no órgão oficial e em
outro jornal de grande circulação). A partir do trânsito em julgado da sentença que declarar extintas as obrigações do antigo
devedor insolvente, o mesmo devedor passará estar apto para praticar todos atos da vida civil, como se nunca tivesse sido
devedor insolvente. Não é automaticamente depois dos 5 anos que se dá a extinção das obrigações, portanto. É necessário que
exista uma mera sentença declaratória apontando a extinção.

Se o devedor conseguir algum bem dentro deste período de 5 anos, os credores poderão retomar a execução, afinal a sentença
de encerramento, embora ponha momentaneamente fim à execução, não desobriga de pronto o devedor pelo remanescente
dos débitos da insolvência, até o final dos 5 anos (art. 774). Adquirindo o devedor algum outro bem dentro deste prazo
de 5 anos, este bem, se penhorável, será expropriado dentro da execução (Art. 775. Pelo pagamento dos saldos respondem os
bens penhoráveis que o devedor adquirir, até que se Ihe declare a extinção das obrigações).

Mesmo que o devedor tenha feito o pedido de extinção de todas obrigações, argumentando que os 5 anos já passaram, os
credores poderão se opor, nos termos do art. 780: “Art. 780. No prazo estabelecido no artigo antecedente, qualquer credor
poderá opor-se ao pedido, alegando que: I - não transcorreram 5 (cinco) anos da data do encerramento da insolvência; II -
o devedor adquiriu bens, sujeitos à arrecadação”. Se o juiz acolher os argumentos apenas do devedor e proferir sentença
declarando extintas as obrigações deste, os credores poderão recorrer, por meio de apelação. Ex.: A execução terminou, e
passaram-se 4 anos. O que fez o devedor? Pediu ao juiz para que fosse declarada por sentença a extinção das obrigações.
Quando a sentença foi publicada, abriu-se o prazo para apelar (para os credores). Qualquer dos credores poderá pedir ao
tribunal para que reforme a sentença do juiz, por desrespeito ao prazo do art. 778 (5 anos). Com o provimento da apelação, o
devedor continuará a ser responsável por suas obrigações. Se dentro deste prazo de 5 anos (só há mais 1 ano até que se
complete 5 anos), embora encerrada a execução, o devedor adquirir outro bem passível de penhora, se reabrirá a execução. O
bem será trazido, e haverá nova divisão, verificação e classificação dos créditos. Enquanto as obrigações não forem extintas
por sentença declaratória do juiz, sempre há verá a possibilidade de reabrir a execução se algum bem do devedor insolvente
surgir.

Tutela de urgência cautelar – tema alocado no CPC dentro do conteúdo de tutela provisória

Observação inicial: Tomem cuidado, pois na elaboração do conteúdo de tutela de urgência cautelar, da ação de consignação
em pagamento e da ação de oposição não utilizei os livros, apenas as aulas do professor. Não estão nesse material o conteúdo
das ações possessórias, embargos de terceiro, divisão e demarcação, entre outras ações, pois ele acabou o conteúdo antes disso.

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Há quem diga que não existe mais processo cautelar (verificar os livros, mas sempre considerar a opinião do professor). É
preciso ter cuidado, pois agora com a mudança do CPC, se lê muita coisa errada. Já disseram que não existem mais as
cautelares, mas não é verdade. A função do antigo processo cautelar ainda existe, prevista como uma modalidade de tutela de
urgência (a tutela de urgência cautelar).

Não existem mais cautelares nominadas. Antes o CPC dava nome próprio às cautelares (arresto; sequestro; busca e
apreensão; produção antecipada de prova; separação de corpos). Agora, o CPC, para facilitar, não dá nome algum. Que ação
o necessitado irá propor? Ação cautelar. Talvez ação cautelar inominada, ou se quiserem podem dar nome próprio. Isso porque
o CPC não dá nome a certas ações, são as pessoas que criam nomes. Nos anos anteriores, o autor perguntava: Qual a medida
cautelar cabível? Não é preciso perguntar mais isso, pois não há mais nome pela lei. Não existe a classificação que existia
antes quanto à nomenclatura. Em prova, será exigido o tipo de pedido a ser feito: “Qual o pedido que vocês farão na ação
cautelar?”.

Exemplo: O marido bate na mulher todos os dias. No final de semana, bebeu demais e decidiu bater mais na mulher,
ameaçando que mataria ela se ela entrasse com uma ação judicial para se divorciar. Não adianta nada promover a ação de
conhecimento, sendo que logo após promover a ação a mulher irá apanhar até morrer. Sem o marido saber, a mulher poderá
entrar com uma ação cautelar (não entrou ainda com a ação principal de separação). A mulher terá de provar para o juiz o
risco de grave dano e a probabilidade do direito, e ele deferirá uma liminar de afastamento do lar de um dos cônjuges. Ela
promoveu uma medida cautelar, que é acautelatória do direito, preventiva, para não ser morta, ou seja, pediu a tutela de
urgência cautelar em caráter antecedente (a tutela cautelar busca resguardar o resultado útil do processo, busca acautelar o
direito). Se o juiz deferiu a liminar, na casa dos dois, o oficial de justiça retirará o marido de lá. A mulher trocará as chaves, e
haverá uma ordem judicial de afastamento do cônjuge. A mulher entrará depois com uma ação de divórcio, e aí sim se discutirá
quem ficará na casa, de quem é a casa, mas enquanto tramita a ação, o marido não terá condições de se dirigir a casa, nem tem
permissão. A tutela de urgência cautelar neste caso, foi concedida em caráter antecedente, pois a mulher a pediu sem que
existisse ação principal. Poderia a mulher, é claro, pedir, no próprio corpo da ação principal, incidentalmente, o afastamento
do lar. Ela não está pedindo a separação (caso em que teríamos tutela de urgência satisfativa, que antecipa a fruição do direito).
Aliás, seria impossível pedir antecipação de tutela em sede de ação de divórcio, pois se assim fosse o juiz divorciaria as duas
pessoas e se a decisão fosse revertida posteriormente, teria o juiz de dizer que não estão mais as duas pessoas divorciadas,
haveria impossibilidade de reverter a prestação. Neste caso que tratamos os cônjuges continuam casados, mas estão afastados.

Outro exemplo: Minha mulher que se separar de mim. Não fiz ameaça alguma, nem bato na minha mulher. Ela quer se
divorciar de mim pois cometi adultério, fui infiel. Ela promoverá a ação. Quando eu sou citado para contestar a ação, eu
ameaço ela. A minha mulher pode requerer, no curso da ação de divórcio, uma medida cautelar, que terá caráter incidental,
pois foi pedida no curso da ação principal. A mulher irá requerer que enquanto tramite a ação, o cônjuge que a ameaçou seja
afastado do lar. Pediu a concessão da tutela de urgência cautelar, portanto.

1. Conceito de processo cautelar: “É a providência concreta tomada pelo órgão judicial para eliminar uma situação de
perigo para direito ou interesse de um litigante, mediante a conservação de estado de fato ou de direito que envolve as partes
durante todo tempo necessário para o desenvolvimento do processo principal”.

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2. Princípios do processo cautelar.

2. 1. Provisório ou temporário: O processo cautelar é provisório (os autores dizem isso, mas há quem diga que não é).
Provisório ou temporário, como queiram. Uma das características é a provisoriedade. Ex.: Quando a mulher promoveu a ação
de divórcio e pediu a medida cautelar para afastar o marido do lar, o ato que ela busca é o divórcio. A medida cautelar durará
até a finalização do processo em que se discute o divórcio, ela não dura mais do que isso. O marido será afastado do lar até
que seja ou não decretado o divórcio.

Outro exemplo: Eu, credor, possuo um cheque emitido pela colega, no valor de 100 mil reais. Pretendo promover a execução
deste cheque segunda-feira que vem. A colega devedora possui um carro no valor de 120 mil reais, que aliás é o único bem
que ela possui. Visualizo, entretanto, que ela colocou este carro à venda, com anúncio no jornal. É uma tentativa de fraude,
claramente, o devedor quer ficar sem responsabilidade patrimonial. Eu precisarei promover uma medida cautelar em caráter
antecedente (a ação executiva será proposta posteriormente, portanto). Pedirei ao juiz que defira a liminar, para impedir que
vocês vendam o carro.

O arresto, por exemplo, serve para garantir uma execução por quantia certa. Quando estudamos a execução de título
extrajudicial, vimos que o devedor é citado para pagar em 3 dias. Se pagar, termina a execução. Se não pagar, o oficial de
justiça se dirige à casa do executado para penhorar o bem indicado pelo credor. Pode ocorrer o seguinte: o devedor se esconde
da citação. Havendo suspeita de ocultação, o oficial citará por hora certa. Se o devedor continuar se ocultando, o oficial tomará
uma medida preventiva. Mesmo sem ter citado o réu, o oficial poderá arrestar tantos bens quantos bastem para garantir a
execução. Ex.: O carro do devedor que está tentando se esconder se encontra na garagem da casa. O oficial de justiça arrestará
o carro (não é penhorar, pois ele ainda não foi citado). O arresto é uma medida acautelatória, pensada para garantir a execução.
Como depositário do arresto, ficará a mulher do devedor. Já há um bem garantindo a execução. Se o devedor continuar
ocultando-se, haverá a citação por edital, e este citado terá o prazo de 3 dias para pagar. Se ele pagar, o carro arrestado (que
era uma medida acautelatória) será devolvido para ele. Se ele não pagar e não indicar um bem à penhora, o carro arrestado se
tornará um carro penhorado. O arresto visa garantir uma futura penhora, em caso de inadimplemento.

2. 2. Instrumentalidade: A medida cautelar visa garantir o resultado útil de um processo. Todo processo é um instrumento
de busca pelo reconhecimento do direito material. Ex.: Como garantir o processo de execução de quantia certa? Pedindo uma
medida cautelar de arresto do carro do devedor que se esconde. A medida cautelar visa garantir a futura execução. Outro ex.:
Como garantir o processo em que se discute o direito de se divorciar? Afastando o marido do lar, para que ele não mate a
mulher que o processou e não acabe com o resultado deste processo.

2. 3. Acessoriedade: A medida cautelar não tem um fim em si mesmo, é acessória do processo principal. Ex.: Minha mulher
que se separar de mim, pois costumo agredir ela. Ela não pode pedir uma medida cautelar, e após esta medida ser deferida,
não promover a ação principal. O acessório segue o principal. Se a mulher não promover o processo principal no prazo de 30
dias a contar do meu afastamento, eu, marido, volto para casa. A finalidade do processo cautelar é apenas garantir outro
processo, e se não há outro processo, não tem sentido que ele exista.

2. 4. Autonomia: É acessório mas também é autônomo, pois o que é decidido no processo cautelar não influencia no resultado
do processo principal. É possível que se ganhe a medida cautelar (ter ela deferida) e perder o processo principal. Mas é bom

167
dizer que, autonomia não existe mais no sentido de que a medida cautelar é pedida no bojo do processo em que se tem o
pedido principal (em caráter incidental), ou no máximo, em caráter antecedente, mas neste caso, não se trata de um novo
processo. Apesar disso, em provas considerar que é correta a assertiva de que existe um processo cautelar que é autônomo.

3. Classificação das medidas cautelares quanto à oportunidade (antecedente; incidental, art. 294): Art. 294. A tutela
provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou
antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental. A tutela provisória pode ser de urgência ou de
evidência. Nos interessa aqui a tutela de urgência, especificamente a tutela de urgência com caráter cautelar, que pode ser
concedida em caráter antecedente (ou preparatória), antes do processo principal, ou em caráter incidental, se pedida no
curso ou conjuntamente com o processo principal (logo no começo dele, na petição inicial da ação principal). A tutela de
urgência antecipatória (satisfativa) é a antecipação dos efeitos da sentença. É bem diferente do que ocorre na cautelar, onde
não se antecipa os efeitos da sentença, apenas se busca conservar o direito.

4. Requisitos específicos do processo cautelar (fumus boni juris; periculum in mora, art. 300): Art. 300. A tutela de
urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo. Estes dois requisitos são cumulativos. Não basta apenas um requisito, os dois devem estar
presentes e provados para o juiz. Ressalte-se que, segundo o § 1º do art. 300, na tutela de urgência o juiz pode, por vezes,
exigir prestação de garantia: § 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real
ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a
parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

4. 1. Fumus boni juris: Deve ser revelado um interesse amparado pelo direito, do qual o suplicante se considera titular,
apresentando elemento que prima facie possa formar no juiz a posição de credibilidade mediante um conhecimento
superficial. Trata-se da possibilidade de sentença favorável ou de legitimidade da execução. Simples possibilidade de bom
êxito na demanda principal. Se eu for traduzir literalmente o primeiro requisito, significa “fumaça de bom direito”. O leigo
geralmente diz “onde há fumaça, há fogo”. Aqui, esta fumaça dá a entender isto. O fogo seria a fundamentação através da
qual o requerente da medida cautelar demonstra ao juiz prima facie (à primeira vista, ou seja, tudo leva crer que o requerente
da medida cautelar será vencedor na ação principal) que pode ser vencedor na ação principal. Há análise superficial e sumária
do juiz sobre o caso apresentado, pois o juiz só irá decidir conhecendo de fato a causa na ação principal. Ex.: Sou casado há
12 anos, e tenho um filho de 12 anos. Quando o meu filho fez 2 anos de idade, me separei da minha mulher. Nós morávamos
em RG, ela continuou em RG com meu filho e me mudei para Pelotas. Eu sou um bom pai. Não entrei com ação de divórcio,
apenas saí da casa. Eu pago alimentos para o meu filho, sem precisar de ação. Trago meu filho para ficar comigo em vários
momentos. Neste final de semana, conheci outra mulher, e disse para a mãe do meu filho que conheci uma mulher e pretendo
me casar. A mãe do meu filho (ainda casada comigo), discorda e não quer que eu case. Ela me ameaça, dizendo que se eu
entrar com a ação de divórcio levará meu filho para o Tibet. Se eu promover a ação de divórcio, ela será citada para contestar.
No mesmo dia, saberá que quero me separar dela e fugirá com meu filho. Ela será revel, eu ganharei a ação mas nunca terei
mais acesso ao meu filho. O que eu farei aqui? Promoverei uma medida cautelar, para acautelar o resultado útil da minha ação
de divórcio. Aliás, nem quero mais deixar o meu filho com a minha mulher, quero tirar a guarda definitiva que ela tem sobre
o filho também, pois não considero que ela é uma boa mãe. Para impedir que o resultado da minha ação de divórcio seja, em

168
parte, deferido, mas do ponto de vista prático, inútil, promoverei uma ação cautelar e requererei antes da ação divórcio, em
caráter antecedente, a busca e apreensão do meu filho. Depois de eu conseguir garantir que o meu filho não seja raptado, a
ação será proposta, e enquanto tramitar a tal ação de divórcio, através da medida cautelar, conseguirei que o meu filho esteja
em minha companhia. Assim, a minha mulher sendo citada da ação de divórcio, se quiser, pode ir ao Tibet, mas não levará o
meu filho. Provavelmente ganharei a ação de divórcio, obterei a guarda do filho, e a cautelar terminará. Esta medida de busca
e apreensão do menor fez que eu garantisse o resultado útil, eficaz e operante da ação principal que era a ação de divórcio. No
momento que a criança me é entregue definitivamente na ação de divórcio extingue-se a medida cautelar (a medida principal,
a ação de divórcio, não exige mais a manutenção da medida cautelar, pois o filho foi entregue de forma definitiva). Isso porque
como vimos, a cautelar é temporária ou provisória, só dura até a finalização do processo principal, que aqui é o processo do
divórcio e da guarda.

Quero demonstrar que na ação cautelar eu consegui provar os dois requisitos. Se eu não conseguir demonstrar os dois
requisitos, não obterei a medida cautelar. Ex.: Consegui demonstrar para o juiz que provavelmente serei vencedor na ação de
divórcio, afinal pago alimentos, sou um bom pai, além do fato de que o divórcio não necessita da demonstração de culpa ou
de tempo de separação, mas mesmo que existisse esse requisito temporal, eu já estou separado dela há 10 anos de fato. Com
uma análise sumária e superficial, tudo leva a crer que eu serei o vencedor na ação principal (a de divórcio). Há grande
probabilidade de que isso aconteça. Ovídio Baptista fala em “possibilidade de sentença favorável”, mas o professor discorda,
pois é preciso que a sentença favorável seja provável (e não apenas possível).

4. 2. Periculum in mora: Há um grave risco de dano ao processo principal, há a chance de que a continuidade do processo
não adiante nada, pois ao final, o autor não conseguirá o bem da vida que deseja (risco ao resultado útil do processo). A
parte deverá demonstrar fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a faltar as circunstâncias de fato
favoráveis a própria tutela. Há de se ter a possibilidade de que se cause um grave dano, de difícil, incerta ou impossível
reparação. Este risco não é causado simplesmente pela demora do processo, mas muitas vezes decorre de atitudes da parte
contrária que trazem o risco. Ex.: Promovi uma ação de divórcio contra minha mulher. Entrei com a ação, ela foi citada e 10
dias depois levou meu filho para o Tibet. Não houve demora, foi tudo muito rápido, não houve atraso. Não é só o atraso, mas
o comportamento da parte contrária que interessa. Às vezes nem atrasou nada na ação principal (ela pode nem ter sido
proposta) e o dano já ocorreu (o meu filho foi levado para o Tibet). O risco de dano ocorre, no nosso exemplo, quando o autor
ganha o processo principal, obtém a guarda e o divórcio, mas não consegue o filho. Tal perigo de dano deve ser:

4. 2. 1. Fundado: Para que seja demonstrado o periculum in mora, a parte deve demonstrar fundado temor, ou seja, o medo
de que o dano ocorra deve ser real, e estar provado. Este perigo de dano deve ser fundado. Ex.: O cliente diz que acha que a
mulher levará o filho para viajar e fugirá com ele, mas o advogado pergunta: “Ela lhe ameaçou, disse expressamente que ia
fugir?” E o cliente responde “Não, ela não disse nada, mas eu acho que vai”. Não está configurado o periculum in mora, pois
o perigo de dano não é fundado. Neste exemplo, o cliente precisaria conseguir as passagens da mulher e do filho, ou o visto
no consulado do Tibet da mulher e do filho, entre outras provas. Não basta o “eu acho que”. O juiz não defere medida cautelar
com base em “achismo”.

4. 2. 2. Grave e de difícil, incerta ou impossível reparação:

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4. 2. 3. Relacionado a um dano máximo (próximo): O dano que tem chance de ocorrer deve ocorrer enquanto tramitar o
processo principal, precisa ser próximo, não pode ser um dano que não se sabe quando vai acontecer. Ex.: Digamos que um
homem quer se separar da sua mulher, sendo que ela possui passagem comprada para os Estados Unidos, para o ano que vem.
Não é possível promover uma medida cautelar, pois pode até ser que a ação de divórcio tenha terminado antes do ano que
vem. Mas se porventura o homem propôs a ação sem pedir medida cautelar, e o tempo vai passando, até que ele verifica que
a mulher comprou uma passagem para viajar no próximo mês, o risco de dano é relacionado a um dano que está próximo de
acontecer. Se o juiz no ano que vem ainda não decidiu a ação de divórcio, e a minha mulher está com passagem para aquele
ano, aí estará configurado o periculum in mora. No curso da ação de divórcio eu promoverei a medida cautelar, obviamente
de maneira incidental, mas apenas no ano que vem, enquanto tramitar a ação.

Para que seja acolhida a medida cautelar, seja em caráter antecedente ou incidental, é preciso que existam os dois requisitos
(a probabilidade de que o autor será vencedor da ação principal e o perigo de dano ou risco ao resultado do processo que possa
ocorrer caso a medida cautelar não seja de pronto deferida). Outro ex.: Bato muito na minha mulher, e ela diz que entrará com
ação de divórcio. Ameaço ela dizendo que vou matá-la se ela entrar com a ação. Ela precisará requerer medida cautelar antes
de entrar com a ação de separação. Ela precisará demonstrar ao juiz o fumus boni juris e o periculum in mora. Primeiro,
provavelmente ela vencerá a ação, pois há registros policiais de que eu bato nela. Tudo leva a crer que a minha mulher
conseguirá a separação. A sentença será favorável. Há também perigo de dano, em relação à vida dela, perigo de dano esse
que pode até ser de impossível reparação (a morte da mulher). Antes de promover a ação de divórcio, a mulher pedirá
cautelarmente que o marido seja retirado da morada do casal. Demonstrado os dois requisitos, o juiz deferirá a medida cautelar.
É claro que o marido só será afastado enquanto tramitar a ação de divórcio. Quando for julgada a ação de divórcio e a mulher
ganhar a ação, pedirá a partilha, a divisão dos bens. Das duas uma: Ou a mulher compra e fica na casa, ou transformamos a
casa em condomínio, e ela me paga uma parte referente a aluguel ou vendemos a casa, e cada um fica com a metade.

Revendo a aula anterior: Vimos na aula passada que as medidas cautelares podem ser antecedentes (ou preparatórias) se
interpostas anteriormente à ação principal, ou incidentais, se forem conjuntamente propostas com a ação principal (pedidas na
petição inicial) ou pedidas no curso da ação principal. Se for no curso da ação ou conjuntamente à sua propositura, é só fazer
a menção à medida cautelar, pois os requisitos deverão estar demonstrados na ação principal. Ex.: Quero me separar da mulher
para me casar novamente. Se na ação de divórcio, ela, depois de citada, diz que levará o filho para o exterior se perder a ação,
eu irei requerer a medida cautelar incidentalmente, e na própria ação de divórcio eu já disse tudo que aconteceu (que estou
separado há bastante tempo, que pago alimentos, que sou um bom pai). A probabilidade do direito já foi demonstrada na
petição inicial da ação, basta agora demonstrar o periculum in mora. Para isso, três testemunhas viram a mulher dizendo que
levaria o filho para o exterior. O perigo é fundado, próximo, e de impossível reparação. No próprio corpo da petição posso
pedir uma medida cautelar de busca e apreensão, pois já está demonstrado o fumus boni juris e demonstrarei apenas o
periculum in mora. Inclusive em grau de recurso, enquanto tramita a ação, eu estarei com o filho em minha companhia.

5. Procedimento da cautelar requerida em caráter antecedente. Se a medida cautelar não for requerida no corpo ou
conjuntamente com a ação principal (incidentalmente), precisarei promover o pedido de medida cautelar em caráter
antecedente (não tenho processo principal, não tenho processo algum). Precisarei evitar o dano antes que o processo principal
comece.

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5. 1. Petição inicial da cautelar requerida de forma antecedente (art. 305 do NCPC): Art. 305. A petição inicial da ação
que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do
direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Se for em caráter antecedente
o pedido de medida cautelar, ele deve ser feito por meio de uma petição inicial. Além dos requisitos de qualquer petição inicial
(arts. 319 e 320), o processo cautelar ainda tem como requisito o fumus boni juris e o periculum in mora. Ainda, o autor será
obrigado a falar brevemente sobre a lide e o fundamento do processo principal futuro. Isto demonstrará que ele, autor, tem
direito à tutela cautelar em caráter antecedente.

Parágrafo único do art. 305. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o
disposto no art. 303. O juiz transforma a tutela cautelar em tutela antecipada. Para a tutela antecipada, os requisitos são outros,
mas pode ser que os requisitos estejam presentes quando o autor pediu a tutela cautelar. A tutela antecipada também é de
urgência, mas não é cautelar, pois não está acautelando, conservando, está apenas antecipando os efeitos da sentença, a
satisfação do bem da vida pedido no processo. Como estou pedindo o divórcio, não é possível pedir antecipadamente o
divórcio, pois do contrário, eu poderia conseguir a separação antecipadamente, casar com outra pessoa, e depois se eu perdesse
o processo principal, voltaria a estar casado com a mulher anterior, o que é inviável. Não há possibilidade de reversão da tutela
antecipada neste caso, o que a inviabiliza, nos termos do § 3º do art.300 (§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada
não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão).

Voltando ao caput do art. 305, obedece esta petição inicial aos requisitos genéricos de qualquer petição inicial, mas é preciso
também demonstrar os requisitos específicos. Como qualquer processo, começarei com uma petição inicial. Preciso
demonstrar os requisitos específicos. No processo principal, esses requisitos não precisam ser demonstrados. Como é em
caráter antecedente, não preciso aprofundar o conteúdo do meu pedido principal de divórcio (que ainda não existe). É preciso,
portanto, falar brevemente da lide e do fundamento da ação principal (que será proposta posteriormente).

5. 2. Medida liminar “inaudita altera pars” (art. 300 § 2º): § 2º do art. 300. A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia. A cautelar admite medida liminar. A decisão que concede a medida liminar é uma
decisão interlocutória, e é “inaudita altera pars”. No exemplo da mulher que quer fugir com o filho, o juiz proferirá decisão
interlocutória sem ouvir a mulher. O autor pedirá que seja entregue o filho para ele, e que a mulher seja citada, mas antes da
citação, que seja concedida a medida liminar sem ouvir a parte contrária (a mulher), pois se ela for ouvida, fugirá. Ela seria
citada e fugiria, não iria à audiência. Ex.: Eu disse para minha mulher que quero me separar dela, e ela disse que levaria o
filho para o Tibet. Promoverei uma medida cautelar, pois ela disse que quando seria citada levaria o filho. Apresento a ação
cautelar, e a mulher será citada para se defender, e ao fazer isso levará o filho. Para evitar isso, o juiz concede a liminar sem
ouvir a mulher, e assim ela não fica sabendo e não tem como escapar. Vejam, a tutela cautelar é uma tutela de urgência.
Quando concedida liminarmente, a parte contrária não é ouvida.

Já a justificação prévia acontece em uma audiência. Se o autor possuir farta prova documental, não será necessária audiência
de justificação prévia, o juiz apenas concederá a liminar sem ouvir a parte contrária, de plano. Se aquele que postula a medida
cautelar, entretanto, não possui boa prova documental (mas possui bastante prova oral, testemunhal) e não a conseguiu,
será necessária justificação prévia. O juiz marcará uma audiência de justificação prévia, onde participará o juiz, o MP (no

171
interesse do menor), o autor, as suas testemunhas, mas a mulher não participará (é óbvio). A mulher não pode saber de nada,
ou fugirá com o filho. Se o juiz do caso verificar que a mulher pode ser intimada (pois não há risco na medida cautelar),
pode intimá-la até mesmo para comparecer à audiência de justificação prévia, mas ela não será ouvida. Ela pode, querendo,
comparecer à audiência, para ouvir e contraditar as minhas testemunhas, mas não apresentará testemunha alguma nesse
momento. Se houver necessidade de prova de natureza oral para a concessão de medida liminar inaudita altera pars, o juiz
marcará audiência prévia.

5. 3. Citação do réu (art. 306): Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e indicar as
provas que pretende produzir. Haverá, evidentemente, o princípio da ampla defesa, mesmo com o fato de a liminar ser
concedida sem ouvir a parte contrária. A ré foi citada para contestar a ação, e na sua contestação deverá indicar as provas que
pretende produzir. Se já possui provas, pode acompanhar estas provas na própria contestação.

Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso
em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias. Claro, se não for contestada a ação cautelar, há o efeito da revelia, presumindo-
se verdadeiros os fatos alegados por aquele que pediu a medida cautelar, e o juiz decidirá em 5 dias.

Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o procedimento comum. Se a ré apresentou em 5 dias a
contestação, havendo necessidade de prova a ser produzida, o juiz marcará uma audiência de instrução e julgamento (não é
de justificação prévia). O juiz marca uma audiência de instrução e julgamento, e após a demonstração das provas, proferirá
sentença.

5. 4. Sentença e recursos (art. 1.012, § 1º, V): Proferida a sentença, cabem recursos. Em princípio, em primeiro grau de
jurisdição, da decisão que concedeu a liminar lá no começo cabe o recurso de agravo de instrumento, pois trata-se de decisão
interlocutória. Precisa ser agravo de instrumento em razão da urgência da medida cautelar. No nosso exemplo, se a mulher
quiser, terá 15 dias após o deferimento da liminar para entrar com o agravo e até talvez pedir efeito suspensivo (ver se isso é
possível). Detalhe: Embora o professor ache que é sentença, existem autores que dizem que após existir a contestação,
audiência e produção de provas, a decisão do juiz será interlocutória (e não sentença), caso em que caberia o recurso de agravo
de instrumento.

Se for sentença, há o recurso de embargos declaratórios ou o recurso de apelação. O art. 1.012 demonstra que se a mulher
promover o recurso de apelação, este recurso será recebido apenas no efeito devolutivo. Em regra, a apelação na maioria das
ações costuma ser recebida em ambos os efeitos, mas neste caso não é assim, pois o dano poderia se concretizar em razão do
próprio efeito suspensivo. Ex.: A criança foi entregue liminarmente. Na sentença, o juiz confirma a liminar. Se a minha mulher
entrasse com a apelação recebida em ambos os efeitos (devolutivo e suspensivo), eu seria obrigado a devolver o meu filho, e
ela viajaria com ele. Se a apelação for interposta, será recebida apenas no efeito devolutivo. Enquanto tramita a apelação no
TJ, a criança continua em meu poder.

Para entrar com a ação principal, quem ganhou a medida cautelar tem o prazo máximo de 30 dias. Depois de promover
a medida cautelar antecedente, o autor terá 30 dias para propor a ação principal: Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido
principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em
que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais. Se o autor que

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conseguiu a tutela cautelar não propor a ação em 30 dias, cessará a eficácia da medida cautelar. A medida cautelar não é
suficiente por si só, então não adianta conseguir ela e pensar “está tudo bem, não farei mais nada”. Este prazo de 30 dias é
contado a partir da efetivação da medida cautelar. Ex.: Se o juiz deferiu a liminar ontem, e hoje foi cumprida a liminar
(foi hoje que entregaram o meu filho) os 30 dias começam a correr amanhã (de acordo com a regra de que é excluído da
contagem o dia do começo e incluído o do vencimento). Se o prazo começasse a correr do deferimento da liminar, começaria
a ser contado ontem, mas não é assim. Se o juiz deferiu a medida cautelar hoje, o oficial de justiça pode ir lá e cumprir,
executar a medida cautelar, mas isso pode ser feito hoje ou outro dia. Digamos que o oficial cumpriu terça. Quarta começa a
contar o prazo de 30 dias. O prazo não conta da decisão do juiz, mas sim da data em que a medida é executada.

Revendo as aulas anteriores: As cautelares servem para prevenir, para garantir o resultado de um processo, de outro processo
(não do próprio processo cautelar). Ninguém entra com processo cautelar para ganhar o próprio processo cautelar, mas para
garantir o resultado de outro processo (o processo principal). Ex.: “A” quis se divorciar da mulher “B”, mas a mulher ameaçou
vender os quadros caros e de elevado valor emocional de “A”. “A” poderia entrar com ação de divórcio e pedir nesta ação a
partilha dos bens (os quadros, as obras de arte), mas isso é difícil de ser feito, pois a mulher será citada para contestar a ação
e pode ser que o divórcio termine daqui há 3, 4 anos, e neste tempo ela venda todos os quadros e gaste o dinheiro. Para evitar
este gravo dano de impossível reparação (afinal a minha mulher só ganha um salário mínimo e quer gastar qualquer dinheiro),
terei de promover uma medida cautelar. O processo cautelar é acessório, pois garantirá o resultado de outro processo, o
principal (a ação de divórcio). A medida cautelar não fará divisão dos quadros. A partilha haverá apenas na ação de divórcio.
A medida cautelar serve apenas para garantir o resultado da própria ação de divórcio. A acessoriedade é um dos princípios
que rege o processo cautelar. O acessório sempre segue o principal. A medida cautelar vigorará até o processo principal ser
decidido. Sendo deferida a medida cautelar, os bens serão entregues por ordem do juiz a um depositário, que ficará com os
quadros em seu poder, e quando houver a finalização do divórcio, o juiz trará a partilha de bens, dizendo quantos quadros
ficarão com o marido e quantos ficarão com a mulher. A medida cautelar não pode ultrapassar a finalização da ação principal,
ela dura até quando durar a ação principal. O processo principal acabará quando transitar em julgado. Ex.: A sentença partilhou
os bens, mas a mulher apelou e o recurso foi recebido sem efeito suspensivo. A medida cautelar continuará vigorando até não
existir mais recurso por parte da mulher.

As cautelares, no NCPC, não tem nome próprio. São inominadas, embora o art. 301 do CPC mencione algumas: Art. 301.
A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de
protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito. O CPC dá alguns nomes.
No exemplo acima dos quadros, o pedido do marido na medida cautelar será o arrolamento de bens. O arrolamento é uma
medida cautelar pedida por uma das partes para arrolar os bens que não foram especificados. Ex.: O marido disse que tinha
mais ou menos 50 quadros, mas não sabe exatamente quantos quadros possui, então pede o arrolamento dos bens. O oficial
de justiça anotará um por um, descreverá a condição dos quadros, o local onde estão, e depois disso, retirará os quadros da
parede e levará ao depositário. O oficial achou 70 quadros. Agora, os bens estão arrolados e serão divididos (partilhados) na
ação principal de divórcio. A medida cautelar é tão preventiva e garantidora do direito, que se no exemplo acima o oficial de
justiça encontrar 300 quadros, não poderá arrolar 180 e deixar o resto na casa da mulher. Ele deverá sair da sala, lacrar a porta
e a mulher não poderá entrar até que o oficial volte no dia seguinte para arrolar e apreender o resto dos quadros. O arrolamento

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é de bens, não de pessoas. A busca e apreensão, por sua vez, pode ser de pessoas ou de bens. No exemplo do pai que quer
evitar que a mãe leve o filho para o Tibet, ele pede a busca e apreensão do filho. No arrolamento temos uma universalidade
de bens ainda não individualizados, enquanto que na busca e apreensão, quem a requere é obrigado a individualizar os bens
ou a própria pessoa. Assim, se o bem já estiver individualizado pelo autor, não há necessidade de arrolamento, ele já poderá
pedir diretamente a busca e apreensão.

Existem ainda outras cautelares, como a medida de arresto, que também já vimos. Essa medida decorre do próprio poder
geral de cautela do juiz. O art. 830 autoriza o arresto executivo: Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado,
arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. § 1º Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto,
o oficial de justiça procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a
citação com hora certa, certificando pormenorizadamente o ocorrido. § 2º Incumbe ao exequente requerer a citação por
edital, uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa. § 3º Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o
arresto converter-se-á em penhora, independentemente de termo. O arresto visa garantir uma futura execução, neste caso (por
quantia certa). Ex.: Tenho um cheque, e vou promover a execução semana que vem. Abro jornal e vejo que o devedor está
vendendo o único carro para cair em estado de insolvência. Para evitar a insolvência e a consequente suspensão do processo,
o autor deve promover uma medida cautelar, pedindo o arresto do carro, pois daqui há uma semana promoverei uma execução
de quantia certa contra devedor solvente (pois existem bens para garantir a execução). Este arresto pode ser determinado de
ofício pelo juiz. O oficial de justiça foi na casa do devedor por 3 dias seguidos e ele está se escondendo. Para evitar a fraude,
o próprio oficial de justiça tem poder para arrestar os bens do devedor. Se o devedor não pagar em 3 dias, em regra, o arresto
se converte em penhora. Ainda que o devedor se esconda, será citado (talvez por edital). Depois que for citado, terá 3 dias
para pagar. Se não pagar, e não indicar outro bem à penhora, o carro arrestado se tornará um carro penhorado.

Toda medida cautelar é cumprida pelo oficial de justiça. Na busca e apreensão, o oficial vai no local indicado pelo autor
da medida cautelar. Se o marido disser que o filho está na escola, é neste horário que ele se dirigirá até a escola, e promoverá
a apreensão do filho. Se o marido não souber o local onde está o filho, não adianta promover a ação cautelar, pois o oficial de
justiça não sairá perguntando para todos onde o filho está.

Vimos que é possível promover a medida cautelar de forma antecedente (antes de promover a ação principal), ou de
maneira incidental (no curso da ação principal, ou conjuntamente com a sua propositura). Exemplo: Promovi a ação de
divórcio e no mesmo dia vi que a mulher botou os quadros à venda, caso em que faço o pedido da medida cautelar no mesmo
dia da propositura da ação principal, de forma incidental. Outro exemplo: O juiz de primeiro grau na sentença determinou o
divórcio e partilhou os bens, mas houve apelação da mulher com efeito suspensivo, e a mulher começa a tentar vender os
quadros. O marido, no curso do processo (em que pende recurso), promove a medida cautelar para evitar a venda dos quadros.
Desse modo, vemos que a medida cautelar dura até o trânsito em julgado do processo principal. Finalizado o processo
principal, não há mais motivo para a existência da medida cautelar.

Se a medida cautelar for incidental, o autor pode ao fazer a petição inicial pedir a medida cautelar (dentro da própria petição
inicial). A petição inicial é da ação principal, e sendo demonstrados os requisitos, o juiz deferirá a medida. Quando o processo
cautelar for de máxima urgência, pode ser pedido antes do processo principal, em caráter antecedente. Os requisitos exigidos

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na petição inicial são os requisitos genéricos de qualquer petição inicial, em conjunto com os requisitos do fumus boni
juris e do periculum in mora. Sem falar na lide e no fundamento (quando for em caráter antecedente), o que significa que o
autor precisará dizer resumidamente qual será a ação principal que será promovida em até 30 dias e os seus argumentos
centrais. No prazo de 30 dias o autor deverá promover a ação principal (quando a ação for em caráter antecedente), e se não
for promovida em 30 dias, cessa a eficácia da medida cautelar. O autor não precisa fazer uma petição inicial para a ação
principal que será proposta futuramente, basta pegar a petição inicial da ação cautelar e modifica-la, pedindo a citação do
executado. Basta complementar a petição da ação cautelar.

Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu
fundamento, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. Estes são os requisitos da petição inicial da medida cautelar requerida em caráter antecedente. Parágrafo único.
Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303. É o
princípio da fungibilidade. Se a tutela for antecipada (satisfativa), e não cautelar, o juiz receberá como se fosse tutela
antecipada. A parte pode se confundir, e mesmo assim, o juiz receberá a petição. Ex.: O autor entra com uma cautelar pedindo
medicação. O autor pensa que tem o fumus boni juris e o periculum in mora, mas na verdade, quer é tutela antecipada (quer
receber o bem da vida desde já, antes que o processo acabe).

Ademais, é bom lembrar que o juiz a qualquer momento pode providenciar medidas cautelares urgentes, em virtude do poder
geral de cautela, mesmo com o processo suspenso.

Vimos também que não adianta nada promover uma medida cautelar e o réu ser citado para contestar, pois isso faria com que
a análise do juiz demorasse 6 meses para ser feita no mínimo. O próprio réu saberia como acabar com o direito do autor
(vendendo os bens para cair em insolvência, por exemplo). Por isso, a medida liminar precisa ser concedida “inaudita altera
pars” (sem ouvir a parte contrária) (§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia).
Por isso, o autor irá requerer na ação cautelar uma medida liminar “inaudita altera pars” (sem ouvir a parte contrária). É bem
verdade que se não houver tanto risco assim, o réu poderá ser ouvido. É uma decisão interlocutória que ocorre antes de ser
citado o réu. Ex.: O devedor colocou um carro à venda para cair em insolvência. O autor-credor promove uma medida cautelar
pedindo liminar, e antes que o devedor seja citado, o juiz deferirá a medida liminar, e o oficial de justiça deverá se dirigir até
a casa do devedor e arrestará o carro. O arresto é medida assecuratória que visa garantir a execução. O oficial arrestará e dará
o bem para o depositário. A partir da efetivação da medida cautelar (e não do deferimento da liminar) começará a correr o
prazo para propor a ação principal. Se o arresto foi efetivado no dia 15, o dia 16 será o primeiro dia para propor a ação
principal.

Se o autor não tiver prova de natureza documental, a situação será diferente, e será necessária uma audiência de justificação
prévia. Nesta audiência, comparecerá o autor, o seu advogado, o juiz, o escrivão, o membro do MP, e as testemunhas. Ex.: O
credor sabe que o devedor está tentando vender o bem, mas é porque um amigo seu disse que o devedor tentou vender o carro
para ele. Haverá audiência de justificação (sem a presença do devedor), onde os amigos do autor explicarão que o devedor
tentou vender o carro para todos eles. Se o autor conseguir provar por meio de prova testemunhal que o devedor está querendo
cair em estado de insolvência, terá deferida a sua medida liminar.

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Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Se foi deferida a medida liminar, o autor está garantido em seu direito, mas mesmo assim o réu (requerido) será citado para
contestar a ação em 5 dias. O requerido poderá contestar ou não contestar, e dependendo disto pode ou não ocorrer audiência
de instrução e julgamento (art. 307): Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão
aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias. Parágrafo único. Contestado o pedido
no prazo legal, observar-se-á o procedimento comum. Se o autor contestar em 5 dias, o juiz marcará uma audiência de
instrução e julgamento, onde cada parte trará suas provas (provas relacionadas à medida cautelar). Se o réu for citado e não
contestar, serão presumidos verdadeiros os elementos fornecidos pelo autor, e em 5 dias o juiz proferirá sentença,
provavelmente confirmando a medida liminar. Após a audiência de instrução e julgamento, o juiz profere sentença (há quem
discorde, mas isso não importa agora), e o recurso cabível é apelação, por força do art. 1.012. A apelação será recebida apenas
no efeito devolutivo, pois se fosse também com efeito suspensivo, a eficácia da sentença estaria suspensa, o que frustraria a
eficácia da medida cautelar.

Arresto -> Medida cautelar destinada a preservar os bens do devedor, para garantir futura penhora (garantir uma execução de
quantia certa). Há perigo de que o devedor dilapide seu patrimônio e torne-se insolvente. Há a constrição de bens do devedor
(com valor econômico) suficientes para garantirem uma futura execução por quantia.

Sequestro -> Medida cautelar que serve para a constrição de bens determinados e específicos (que correm o risco de perecer
ou danificar-se), relacionados a um certo litígio, buscando-se garantir uma futura execução de entrega de coisa certa.

Arrolamento de bens -> Medida cautelar que se funda no receio de extravio ou dissipação de bens, onde se enumeram os bens
e estes são entregados a um depositário. Há uma universalidade de bens, em princípio.

Busca e apreensão -> Nos demais casos, em que não há processo de execução (há processo de conhecimento).

Procedimentos especiais (art. 539 até 770 do CPC).

Dentro do processo de conhecimento, temos o procedimento comum, exaustivamente regulamentado no CPC e os especiais.
Se o procedimento não for considerado especial pelo CPC ou por outra lei, será considerado comum. O comum, então,
por falta de opção, é o último procedimento, pois é o mais comum. Ex.: A chamada “ação de cobrança” não é um procedimento
especial, não se acha ela no CPC e nem em leis extravagantes. Só pode ser regulada pelo procedimento comum, portanto.

1. Tipos de procedimentos especiais: Dentro dos procedimentos especiais, temos duas espécies, os de procedimentos
especiais de jurisdição contenciosa e os de jurisdição voluntária.

1. 1. De jurisdição contenciosa: Aqui existe lide, existem partes, com interesses divergentes e há contestação. Ex.:
Consignação em pagamento. Neste exemplo, existem partes (o devedor que quer pagar e o credor que não quer receber e nem
dar quitação). Existem interesses divergentes (o devedor quer pagar, mas o credor não quer receber, um está contra o outro).
Há lide, pois há pretensão resistida pela parte contrária (o credor não quer aceitar o pagamento, que é a pretensão do credor).
Haverá contestação, pois o réu será citado para contestar a petição inicial (poderá dizer, por exemplo, que não deve 120 mil,
mas 100 mil, ou que não recebe o pagamento por algum motivo justificável).

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1. 2. De jurisdição voluntária: Aqui inexiste lide, não há contestação, nem partes (mas interessados). Há interesses
convergentes (e não divergentes). Ex.: Divórcio consensual. Não há réu nesta ação, pois tanto a mulher como o marido
poderiam ser autores ou réus. Ambos possuem interesses convergentes, pois a separação é consensual. Ambos são interessados
e autores da ação de divórcio consensual. Não há divórcio litigioso nesse caso. Não há uma pretensão resistida pela mulher
ou pelo marido. Não haverá contestação, não há porque citar a mulher ou o marido.

Jurisdição contenciosa -> Há lide; há contestação; existem partes; existem interesses divergentes.

Jurisdição voluntária -> Não há lide; não há contestação; não existem partes; não existem interesses divergentes.

Uma pergunta: Morreu a minha mãe, e o meu pai começou a arranjar várias namoradas. Uma das namoradas disse que quer
se casar com o meu pai. Meu pai já apresenta problemas mentais, e vou pedir a sua interdição. Eu, filho, quero interditá-lo,
mas o meu irmão, que é muito amigo desta namorada, não quer interditá-lo. Entro com uma ação com um procedimento de
jurisdição voluntária (interdição). Todos os interessados serão chamados por edital para se manifestar. O meu irmão pode
contestar esse pedido de interdição? Não pode contestar, pois o procedimento continua sendo de jurisdição voluntária. A
presunção é de que todos os filhos querem o bem do seu pai.

Um procedimento de jurisdição voluntária não pode se transformar em um procedimento de jurisdição contenciosa.


Ex.: Marido e mulher propuseram ação de divórcio consensual, pois queriam se separar e estavam de pleno acordo. No curso
do procedimento de jurisdição voluntária, a mulher diz que quer pensão alimentícia. O marido não quer pagar. A mulher
mudou de ideia, claramente. Surgiu de certa forma, um litígio, mas o juiz não pode transformar este procedimento de jurisdição
voluntária em um procedimento contencioso (transformar o divórcio consensual em divórcio litigioso). Se for o caso, o juiz
deverá extinguir a ação de divórcio consensual (pois não houve consenso, que é uma das características dos procedimentos de
jurisdição voluntária), e esperar que posteriormente o marido ou a mulher proponham a ação de divórcio litigioso, caso em
que poderá se requerer e discutir os alimentos. O contrário pode ocorrer. Ex.: Entrei com ação de divórcio litigioso contra
minha mulher, pois acho que ela cometeu adultério. Na audiência, a minha mulher pede desculpas, e o marido diz que já foi
infiel anteriormente. O próprio juiz pode transformar o divórcio litigioso em divórcio consensual. Basta que se faça um acordo,
que haja conciliação, e o processo terminará.

Consignação em pagamento (art. 539 até 549 do CPC e art. 334 a 345 do CC)

O direito de ação é exercido perante o Poder Judiciário, toda ação é judicial. A consignação pode ser extrajudicial, e neste
caso, não haverá ação, mas o CPC regula a consignação extrajudicial neste capítulo. A consignação extrajudicial não é ação.
Quando eu falar em ação de consignação em pagamento, só pode ser a consignação judicial, feita por petição inicial,
endereçada ao juiz, onde a parte será citada, e todo o resto. Então, a consignação em pagamento pode ser extrajudicial ou
judicial (com a ação de consignação em pagamento).

O pagamento por consignação ocorre para qualquer quantia, dinheiro ou bens (não aluguéis, já que esta hipótese está prevista
na lei de locações). Ex.: Eu sou devedor, e vocês são credores, devo 100 mil reais. Nós fizemos um negócio, comprei um carro
de vocês por 100 mil. Combinamos que eu ia pagar no prazo de 15 dias. No décimo quinto dia, eu fui pagar o valor, mas vocês

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não aceitaram, alegando que o valor era 120 mil, de acordo com a tabela FIPE, embora no momento do negócio vocês tenham
me cobrado apenas 100 mil. Para que eu me libere desta obrigação, afinal estarei em mora se não pagar no prazo, utilizarei a
ação de consignação em pagamento. Eu transferirei este dinheiro (100 mil) para o Poder Judiciário, para que no futuro vocês
recebam se quiser. Quero me liberar para não ser mais devedor. A sentença da ação de consignação em pagamento é
meramente declaratória, pois declara que o autor da ação (o devedor) cumpriu a sua obrigação, mesmo que o credor não venha
pegar a quantia. A finalidade da ação de consignação em pagamento (a primeira finalidade) é a liberação do devedor da
obrigação respectiva.

Pelo art. 304 do CC\02, pode pagar a dívida o devedor ou o terceiro: Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida
pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito
cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. No exemplo acima, o devedor
deve 100 mil reais, mas se não tiver dinheiro para pagar, nada impede que o irmão do devedor pague a quantia. O credor tem
a obrigação de receber, mesmo que outra pessoa (o terceiro) pague, e se o credor se negar a receber a quantia, o próprio irmão
poderá promover a consequente consignação.

Este terceiro pode ser terceiro juridicamente interessado ou terceiro faticamente interessado. Ex.: A colega é minha
fiadora. Prestou caução (garantia) em um contrato em que sou obrigado a pagar 100 mil reais. Se eu não pagar os 100 mil
reais, o credor poderá promover uma ação contra a colega que prestou caução. Nesta relação, a colega fiadora será terceiro
juridicamente interessado. Se a colega procurar o credor e lhe pagar a dívida, ou promover ação de consignação em pagamento,
se sub-rogará nos direitos do credor, e posteriormente poderá exigir em outro processo os 100 mil reais que pagou para garantir
a dívida que eu era obrigado a pagar.

No caso de terceiro faticamente interessado, temos um amigo, por exemplo. O terceiro pode pagar a dívida, mas quando pagar
a dívida, não sub-roga-se nos direitos do credor, pois não é terceiro juridicamente interessado. Pagará a conta em nome
do devedor, não em nome próprio. Mas ainda assim, poderá promover a consignação em pagamento judicialmente. Quem tem
legitimidade ativa para promover a ação de consignação em pagamento, nos termos do art. 539 do CPC, é tanto o devedor
quanto o terceiro, seja juridicamente interessado, seja faticamente interessado.

1. Conceito: É o instrumento jurídico-processual indicado para o devedor ou terceiro de uma obrigação de dar coisa ou de
pagar quantia certa em favor do credor, obtenha o reconhecimento da sua liberação e, obtendo igualmente a quitação, nas
hipóteses previstas na lei civil. Geralmente quem propõe ação no processo civil é o credor (ex.: ação de cobrança). Na
consignação em pagamento, quem promoverá a ação é o devedor, ou o terceiro juridicamente interessado ou terceiro
faticamente interessado. O devedor quer se liberar da obrigação. E mesmo que o credor não queira receber o dinheiro, o juiz
dará quitação, para liberar o devedor. Pode o terceiro efetuar o pagamento por consignação, seja o interessado, seja o não
interessado. Sendo o terceiro não interessado juridicamente (ou apenas faticamente interessado) que pagar a dívida, não se
sub-rogará nos direitos do autor.

2. Objeto da consignação (dinheiro ou bens): Apenas bens ou dinheiro podem ser objeto da consignação em pagamento
judicial. Obrigação de fazer não pode ser objeto de ação de consignação em pagamento. Isto se estivermos falando de
consignação judicial, pois na consignação extrajudicial apenas se admite a consignação de dinheiro (nunca de coisa). Ex.: A

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colega me emprestou o carro dela, sendo que eu deveria devolvê-lo hoje, no mesmo dia, sob pena de pagar por dia de atraso
5 mil reais. Eu tento devolver o carro, mas ela não aceita, pois diz querer que atrase o pagamento propositalmente para receber
os 5 mil reais. Precisarei promover a consignação em pagamento judicialmente, por meio da ação, e não extrajudicialmente.
Quando o objeto da ação for pagar quantia certa (dinheiro), é opção do devedor escolher a consignação judicial ou
extrajudicial. O devedor pode tentar as duas vias.

3. Motivos que levam a parte a promover o pagamento por consignação: Art. 335 do CC. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma: É a hipótese
em que o devedor quer pagar, mas o credor não quer receber. Outro motivo pode ser o credor querer receber o pagamento
ou a coisa, mas não querer dar quitação (recibo).

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos: Aqui, a mora seria accipiendi
(mora do credor). Vocês aprenderam que a obrigação pode ser portável ou quesível. Na dívida portável, de certa forma, “o
devedor porta a dívida”, ou seja, o devedor se dirige ao credor e paga. Geralmente as dívidas são portáveis. Ex.: Digamos que
haja aluguel. O devedor, que porta a dívida, se dirige ao local de pagamento (a imobiliária, por ex.) e efetua o pagamento, e
se não efetuar, estará em atraso. Mas se a dívida for quesível, o credor precisa ir no local estipulado e lá receber a quantia.
Ex.: Hoje era o dia 15, o devedor esperará o credor na casa dele próprio, devedor, para pagar o valor. Seja a dívida portável
ou quesível, o devedor poderá promover a consignação em pagamento, pois não quer ficar na condição de devedor, e o devedor
pode, se o contrato prever, requerer a rescisão do contrato pelo descumprimento de uma das cláusulas.

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso
perigoso ou difícil: O devedor deveria efetuar o pagamento de 100 mil reais em uma localidade que fica em lugar de acesso
perigoso ou difícil (ex.: Cidade de Deus). Neste caso, promoverá a consignação em pagamento, para que o credor seja citado
e tudo seja pago na respectiva comarca. Mesmo que seja ausente o credor, será citado por edital.

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento: Digamos que o devedor deva 100 mil
reais, mas está em dúvida, pois não sabe se paga para “B” ou “C”. Se pagar errado, pode ter que pagar duas vezes (pois quem
paga mal paga duas vezes), mas quer evitar isso. Por isso, irá consignar em pagamento e os dois supostos credores serão
citados para discutir quem é o credor verdadeiro (pode ser que ninguém apareça também), e o juiz liberará o devedor da
obrigação.

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento: Neste último caso, digamos que “B” ou “C” estejam litigando judicialmente
sobre o crédito. O devedor pode esperar, mas pode ser que demore demais e ocorra a mora, e aí o credor verdadeiro pode
cobrar o crédito com as correções devidas e multas, o que pode ser ruim. Para evitar isso, o devedor pode promover a
consignação em pagamento e chamará os dois possíveis credores, em litisconsórcio. Quando os dois possíveis credores vierem,
o valor do devedor ficará depositado em juízo, e ele devedor sairá da ação, e os dois demonstrarão quem é parte legítima como
credor, e após isso o juiz dará o pagamento a quem for credor.

4. Consignação em pagamento extrajudicial (art. 539): O que vem a ser a consignação extrajudicial? Esta modalidade,
prevista nos parágrafos do art. 539 do CPC, só pode ser de quantia (não pode ser de bens). Ex.: Eu, devedor, quero pagar 10
mil reais, mas não tenho advogado para promover a consignação judicial, pois não quero pagar honorários ou contratar

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advogado. Promoverei, então, a consignação em pagamento extrajudicial. Me dirigirei ao banco em que o Estado possui maior
capital social. No nosso caso, pode ser Banrisul, ou Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil. Em localidades em que não
há empresa pública ou sociedade de economia mista, faz-se em bancos privados. O devedor deverá pagar uma taxa, e fará um
depósito no nome do credor. O gerente do banco mandará uma carta com AR, dizendo ao credor que foi depositado 10 mil
reais, em uma conta para ele, com juros e correção, para que o credor diga se vai receber ou não a quantia, no prazo de 10
dias. Se passarem os 10 dias, e o credor não buscar o dinheiro ou não comunicar nada, será considerado como se houvesse a
aceitação tácita. O gerente dirá que a dívida está quitada, em razão do silêncio do credor que concordou tacitamente. Mas
pode ocorrer também de que o credor vá até o banco e retire o dinheiro, caso em que o gerente também dirá que a dívida está
quitada. Com esta certidão do gerente, o devedor estará liberado da obrigação.

Mas pode ser que no prazo de 10 dias o credor remeta ao banco carta dizendo que não quer receber a quantia. O credor não
precisa dizer o motivo, pois o gerente não proferirá julgamento. Havendo a recusa expressa do credor, o devedor terá o prazo
de 30 dias para promover a ação de consignação em pagamento (converter a consignação extrajudicial em judicial), e se não
promover, continuará como devedor. Se o credor recebeu o dinheiro, o devedor não precisa promover a consignação judicial.
Se for converter para judicial, é claro que precisará o devedor fazer uma petição inicial, e precisará de advogado. O devedor
demonstrará ao juiz que já fez o depósito extrajudicial, que chamou o credor com carta com AR, mas o credor recusou. Será
anexado o depósito já feito no banco e a recusa do credor (se for expressa).

A consignação extrajudicial é sempre uma opção do devedor. Se o devedor achar que só vai perder tempo no banco, pode
optar por promover diretamente a consignação judicial. Se promover diretamente a judicial, o devedor fará uma petição inicial,
mas não poderá juntar o depósito extrajudicial (afinal nem tentou a consignação extrajudicial). O devedor pedirá ao juiz, para
que, antes de o credor ser citado, que se expeça uma guia de depósito. A petição será apresentada, haverá o pedido de
expedição de uma guia de depósito, e o devedor, com essa guia de depósito, efetuará o depósito no banco. Não estamos falando
do depósito extrajudicial, é uma guia de depósito judicial, necessária exatamente por não ter existido depósito extrajudicial.
Esta guia será juntada no processo, e o juiz poderá chamar o credor para que ele venha receber o dinheiro. O juiz apenas citará
o credor após o dinheiro ser depositado.

4. 1. Procedimento da consignação extrajudicial.

Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida. O objeto da consignação é dinheiro ou bens, já vimos isso.

§ 1º do art. 539. Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial
onde houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo
de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. Tudo ocorre no banco. Haverá o deposito do dinheiro e o banco cientificará
o credor por carta com AR. Pode haver aceitação expressa do credor. Pode também existir recusa expressa (caso em que não
se poderá obrigar o credor a receber), ou silêncio da parte (caso em que há aceitação tácita).

§ 2º do art. 539. Decorrido o prazo do § 1º (os 10 dias), contado do retorno do aviso de recebimento, sem a manifestação de
recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada. Passou-se os
10 dias. O credor não se manifestou. O devedor obteve a liberação, e o dinheiro estará lá, e quando o credor quiser receber,

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que se dirija ao banco e receba a quantia. O devedor obteve o que queria, a liberação, pois não houve recusa manifestada
expressamente pelo credor. Houve aceitação tácita pelo silêncio em 10 dias.

§ 3º do art. 539. Ocorrendo a recusa (neste caso, expressa), manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá
ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa. Se
o credor, no prazo de 10 dias, recusou a quantia por escrito e expressamente, a ação de consignação deverá ser proposta
no prazo máximo de 30 dias. Já que o dinheiro estará depositado extrajudicialmente, o devedor anexará na inicial o
comprovante de depósito, a comunicação com carta e a recusa do credor em receber o dinheiro.

§ 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o depositante. Digamos que o
devedor não queira promover a ação de consignação. Continua, nesse caso, sendo devedor. Poderá levantar os 100 mil reais,
mas continuará sendo devedor. Passados 3 meses, poderá ser feita novamente a consignação extrajudicial (ou mesmo
judicial), mas em ambos os casos o valor do dinheiro deverá ser atualizado. Quando estava no banco, o dinheiro estava sendo
atualizado, com juros e correção monetária. Se 3 meses passarem, não será mais 100 mil, mas 118 mil, por exemplo. E como
há atraso do cumprimento da obrigação, o credor pode não querer aceitar a quantia e promover a rescisão do contrato.

4. 1. Lugar da consignação extrajudicial: Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o
devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente. A consignação deverá ser
proposta no local de pagamento, ou no local de entrega da coisa (se for móvel), se for imóvel, é o local onde a coisa está
situada. Digamos que o devedor tenha uma dívida portável e mora em Pedro Osório, e o credor mora em Rio Grande. O
credor não quer receber. O devedor deverá promover a consignação em Rio Grande, que é o lugar do pagamento. O credor
não precisa se dirigir a Pedro Osório, pois a dívida é portável. Se a ação for procedente, o devedor está livre de quaisquer juros
ou correção do dinheiro. Se o devedor ficar com o dinheiro em casa, ainda fica com o risco de ter de atualizar juros e correção.
O depósito, seja judicial ou extrajudicial, livra o devedor dos riscos pela inadimplência da obrigação e dos juros e
correção, a não ser que ao final a ação seja julgada totalmente improcedente. Ex.: O devedor propôs a ação contra o devedor
errado, e a ação foi julgada improcedente. Arcará com os juros e a correção monetária.

4. 2. Consignação de prestações sucessivas: Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o
devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em
até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento. Não vale aqui dar exemplo do aluguel, pois este segue a lei de
locações. Outro exemplo: O devedor deve 100 mil reais, em 10 parcelas de 10 mil. O credor não quer receber a primeira
parcela de 10 mil hoje, ou quer receber a primeira parcela mas só quer dar quitação ao final. O devedor pode promover a
consignação extrajudicial e se não der certo, promover a judicial. Entrou com a consignação judicial, e quando foi citado o
credor, venceu o segundo mês. Quando vencer, o devedor tem 5 dias para pegar guia de depósito, e ir no banco e fazer outro
depósito, juntando aos autos do processo o comprovante de pagamento, para que ao final o credor receba todas as parcelas (os
100 mil reais).

No caso dos aluguéis, por disposição da lei de locações, o devedor pode também efetuar o pagamento das parcelas de aluguel,
sem demais formalidades. O problema é: Até quando? Digamos que o devedor tenha contrato de 30 meses, e esta ação será
julgada em 1 ano. Em 1 ano, o devedor pagará 12 mil reais (mil reais por mês). O devedor só pode consignar as parcelas

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que forem se vencendo enquanto a ação está aberta, até ser proferida a sentença em 1 grau. Se hoje o juiz proferiu a
sentença dizendo que o credor tem que receber os 10 mil reais, o devedor ganhou a ação, e mesmo que o credor tenha apelado,
o devedor não pode pagar o mês posterior. Se o devedor tem mais motivos para continuar pagando o aluguel de mil reais (era
esse o valor) terá de promover outra ação de consignação em pagamento. Mas na ação de consignação em pagamento normal
(que não são de aluguéis), pode pagar todas as parcelas até o trânsito em julgado da ação.

5. Consignação em pagamento judicial (ação): Vimos na aula passa a consignação extrajudicial, que é feita em banco, em
órgão financeiro. Esta consignação extrajudicial não é uma ação judicial de consignação. Toda ação é frente ao poder
judiciário. Ou já fizemos a consignação extrajudicial, e efetuamos um depósito na instituição de crédito, ou ainda (é uma
opção do autor da ação, do devedor) a consignação será feita judicialmente, pois não houve sucesso na tentativa de consignação
extrajudicial.

Na consignação extrajudicial, se o credor recusar o pagamento no prazo de 10 dias, o devedor terá 30 dias para promover
diretamente a ação de consignação em pagamento. Se eu, devedor, já fiz a consignação extrajudicial, já efetuei o depósito
da quantia no banco. Anexarei à petição inicial o comprovante do depósito extrajudicial, junto do AR que determinou o
envio ao agora réu da informação de que a quantia estava lá depositada, além da recusa por escrito do credor ao banco. Isso
se o devedor tentou a consignação extrajudicial. Se ele não tentou a consignação extrajudicial, não terá como anexar o
comprovante de depósito, mas mesmo assim, irá requerer na própria petição inicial o depósito da quantia devida. Veremos
todos esses requisitos da petição inicial agora.

5. 1. Requisitos da petição inicial da ação de consignação em pagamento (art. 542): Art. 542. Na petição inicial, o autor
requererá: Lembrando que de modo geral, se aplicam os requisitos do art. 319 e 320 do CPC.

I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada
a hipótese do art. 539, § 3º: O devedor deve requerer que se expeça guia de depósito para efetuar o depósito da quantia
devida, se não tentou consignação extrajudicial antes. O juiz dará ordem para o cartório expedir uma guia, e com esta guia o
devedor se dirigirá ao banco, efetuará o depósito, provando que o depósito está feito em tempo hábil, e após isso (apenas após
isso) o credor será citado para vir receber a quantia. Se o devedor fez o depósito extrajudicial, não será necessário que se
expeça nova guia, basta que se anexe o comprovante de depósito. O inciso I fala em “ressalvada a hipótese do art. 539, §
3º”, pois nesta hipótese o depósito foi feito extrajudicialmente. Só depois de efetuado o depósito é que o juiz determinará a
citação do credor-réu.

II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. O autor da ação é obrigado na petição inicial a
requerer a citação do réu, o que não é no procedimento comum necessário, pois já vimos que esta exigência foi abolida no
NCPC. Aqui, por força do art. 542, II, é necessário este requisito na petição inicial. Este pedido é feito para que o credor
venha, no prazo de 15 dias, ou receber o dinheiro já depositado ou contestar o pedido. Este prazo é de 15 dias, pois decorre da
aplicação subsidiária das disposições do procedimento comum, já está escrito nos artigos que regulam a contestação.

Parágrafo único do art. 542. Não realizado o depósito no prazo do inciso I (os 5 dias), o processo será extinto sem resolução
do mérito. Se o autor pedir para efetuar o depósito e a guia for expedida, terá ele 5 dias para depositar. Se o autor da

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consignação não depositar em 5 dias, o juiz não terá porque citar o réu para receber, pois não há nenhuma quantia para receber.
O juiz extinguirá o processo sem análise de mérito. O autor terá de pagar as custas processuais (aliás, já pagas).

Eu disse que os requisitos do art. 319 e 320 devem estar preenchidos. Uma pergunta: A audiência de conciliação e mediação
é um dos requisitos do 319. Este requisito precisa estar presente ou não, ou seja, o autor da ação de consignação em pagamento
precisa ter colocado na petição se quer ou não a conciliação ou a mediação? Todos os incisos do art. 319 precisam estar
presentes na ação de consignação em pagamento? Opinião do professor (não sei se é a correta, mas isso não interessa): Não é
requisito da petição inicial da ação de consignação em pagamento requerer ou dizer que não tem interesse na
conciliação ou a mediação. Segundo ele, essa audiência de conciliação ou mediação não teria objeto, afinal seria impossível
conciliação ou mediação neste caso, e designar um dia para isso seria violar a celeridade processual. Para ele, a princípio, não
é requisito da petição inicial, pois o credor já demonstrou que não tem interesse em receber a quantia de vários modos. Não
teria sentido dar outra oportunidade para o credor demonstrar interesse em receber a quantia, o que se deveria fazer é apenas
citar o credor para ele vir receber diretamente ou dar a chance de ele contestar. O réu é chamado para receber o dinheiro, não
para conciliar. Não haverá uma audiência específica para isso antes da citação, mas nada impede que o juiz, no curso da ação,
tente conciliar as partes. Se por acaso o juiz mandar a parte autora emendar a petição inicial por não ter se manifestado sobre
o pedido de conciliação ou mediação, o autor poderá recorrer, e provavelmente o tribunal reformará a decisão do magistrado,
mandando a ação seguir normalmente.

5. 2. Comportamento do réu (permanecer inerte; contestar; receber o dinheiro): Depois de efetuado o depósito (no caso
de ter sido necessário o depósito feito por guia de depósito judicial), o réu será citado para, conforme dispõe o art. 542, II
receber a quantia ou contestar.

Se receber a quantia, o réu reconhecerá a procedência do pedido, e terminará a ação. Ele levantará a quantia depositada,
pagará custas e honorários advocatícios e a ação de consignação em pagamento terminará, não haverá necessidade de
audiência de instrução e julgamento.

Mas se o réu, ao ser citado, permanecer inerte, neste caso, o juiz considerará extintas as obrigações do devedor, e o credor
deverá pagar as custas e honorários advocatícios, podendo retirar a quantia devida quando quiser.

Outra possibilidade é contestar a ação, no prazo de 15 dias. Poderá também o réu reconvir, se quiser contra-atacar. Ex.: O
réu contesta, dizendo que a quantia é maior do que o que foi depositado. O autor depositou 50 mil reais, mas na verdade, o
réu diz que é 80 mil reais. Ao mesmo tempo em que o réu apresenta essa diferença na contestação, pedindo para que a ação
seja julgada improcedente, apresenta reconvenção, para pedir a rescisão contratual, pois o contrato foi descumprido (o devedor
deveria pagar 80 mil, mas deu só 50), e o réu não quer receber mais nem os 50 mil reais, não quer receber nada, quer é rescindir
o contrato para voltar ao estado anterior. Não temos portanto, apenas contestação, é possível reconvenção. Apesar disso, não
há necessidade de apresentação de reconvenção se o réu apenas quiser discutir o valor pago. Ex.: O autor-devedor propôs
a consignação em pagamento e depositou 50 mil reais, mas segundo o réu, o autor da ação deve 60 mil reais. Apenas a
contestação é apresentada, dizendo que o autor deve 60 mil reais. Neste caso, o juiz abrirá um prazo para que o autor da ação
deposite, se quiser e se concordar, a diferença (10 mil reais), caso em que o réu receberá o valor integral e a ação acabará. Se
por acaso o autor da ação continuar insistindo que é 50 mil o valor do débito (e não 60 mil, como alega o réu), será necessária

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uma audiência de instrução e julgamento para ver quem tem razão. Se o juiz disser que é 50 mil reais, o autor da ação venceu,
e o réu receberá apenas 50 mil, mas se o juiz na sentença decretar que é devido os 60 mil, o autor da ação será condenado a
pagar a diferença de 10 mil reais, e os 50 mil que já estavam depositados, que é parcela incontroversa, pode de pronto ser
levantado pelo réu da ação. Não tem necessidade de apresentar reconvenção para discutir apenas o valor a ser pago, basta
contestar. Isso porque a ação de consignação em pagamento tem natureza dúplice (o autor pode ser condenado sem que
haja pedido expresso do réu). Não é preciso que o réu, no nosso exemplo, peça para o juiz que o autor seja condenado a
pagar a diferença de 10 mil reais. O juiz poderá falar o seguinte na sentença: “Quanto aos 50 mil, a parte já retirou e deu
quitação parcial do débito, no entanto o autor está condenado a pagar a diferença de 10 mil reais”. Se o autor da ação pagar
voluntariamente, tudo bem, acaba a ação. Se não for pago o valor, entretanto, o réu terá um título executivo judicial contra o
autor (a sentença da ação em que o devedor era o autor, mas não pagou a diferença). O credor-réu poderá executar este título
executivo nos próprios autos da ação de consignação em pagamento.

Haverá audiência de instrução e julgamento geralmente quando há contestação. Haverá produção de prova de natureza oral,
e o juiz proferirá sentença, e se for interposto recurso atacando esta sentença, ele será recebido em ambos os efeitos. Enquanto
a apelação estiver sendo julgada, a sentença não produzirá efeitos, mas a responsabilidade daquele que efetuou o depósito
acaba, pois ele já efetuou o depósito, o dinheiro está lá.

No caso da contestação, algumas matérias podem ser alegadas: Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que:

I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida: Se o autor propôs a ação, o autor precisa provar os
fatos constitutivos do seu direito, ou seja, precisa provar que houve a recusa. Então cuidado, pois a prova depende do autor.
Ex.: O devedor disse que se dirigiu ao credor para pagar, mas o credor não quis dar quitação (recibo). Ninguém viu isso
acontecer, ninguém ouviu, não há nada que prove que o credor se negou a receber a dar quitação. O devedor procurou um
advogado e entrou com a consignação judicial, mas perdeu a ação exatamente por não ter prova da negativa de recebimento
de dinheiro do credor. O credor contestou a ação e disse que não existe prova alguma de que ele se negou a dar quitação (e
que ele queria receber, que nunca se negou), e o devedor-autor perdeu a ação. É diferente da situação em que várias pessoas
viram o credor recusando o recibo (há prova testemunhal) ou o devedor tenha gravado a recusa (prova documental). Perdendo
a ação, o autor terá de pagar custas e honorários advocatícios.

II - foi justa a recusa: Existem vários motivos para a recusa ser justa. Ex.: Havia condição suspensiva, de modo que o devedor
não deveria pagar nada em princípio, a não ser que ele, credor, se formasse em Medicina. O credor não se formou em medicina,
portanto, não tem sentido receber o dinheiro, a condição não se concretizou.

III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento: A dívida é portável ou quesível, já vimos isso.

A dívida é portável quando o devedor precisa se dirigir ao credor para efetuar o pagamento. Ex.: Eu, devedor, moro em
Pelotas, e vocês moram em Rio Grande. A dívida é portável. Eu, devedor, quero pagar, mas o credor não que receber. Onde
eu, devedor, devo promover a ação? Em Rio Grande, pois o credor mora em Rio Grande (lá que é o lugar do pagamento) e
não quis receber.

No caso de obrigação quesível, é diferente, pois o credor tem a obrigação de ir receber o pagamento onde o devedor estiver
(por exemplo, deve ir na casa do devedor receber o pagamento). Ex.: O credor tinha obrigação de ir na casa do devedor (lugar

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do pagamento) receber o pagamento, mas não foi. Há mora accipiendi (mora do credor). Onde o devedor irá promover a ação
de consignação? No seu próprio domicílio, digamos que seja em Pelotas. É lá que será proposta a ação, lá que é o lugar do
pagamento, lá é onde o credor não quis ir receber o pagamento. O juízo a que será dirigido a petição inicial é, portanto, o
do local do pagamento nos dois tipos de obrigação, como manda o art. 540.

Evidentemente que se o bem for imóvel, o pagamento é no local onde se situa o imóvel. Ex.: Eu, devedor, tenho que entregar
uma casa para entregar em Arroio Grande. Eu moro em Pelotas, e vocês credores moram em Porto Alegre. Se vocês não
aceitarem a casa, eu deverei promover a consignação em pagamento em Arroio Grande, pois lá era o local do pagamento, da
entrega do imóvel.

IV - o depósito não é integral: O credor não aceitou o pagamento do devedor por este pagamento ser insuficiente, era menos
do que era devido. Ex.: O réu-credor contesta dizendo que realmente não aceitou o pagamento, mas apenas não aceitou porque
o débito tinha o valor de 70 mil reais, e o devedor queria pagar apenas 60 mil reais. É bom dizer que se o credor-réu alega na
contestação que o depósito não é integral, é obrigado a especificar qual é o valor integral, qual é o valor que não foi pago,
nos termos do parágrafo único do art. 544: Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o
réu indicar o montante que entende devido. Se o credor-réu não apresentar o valor devido o juiz analisará a contestação
apenas nas outras matérias de defesa trazidas, como por exemplo, o fato de não ter havido recusa no recebimento do
pagamento.

É possível que o autor complete a quantia devida quando o depósito não for integral. Basta que o réu na contestação tenha
alegado a tentativa do pagamento de quantia não integral. O juiz abrirá um prazo de 10 dias para esta complementação seja
feita. Mas isso vai ocorrer apenas se o credor-réu não tiver apresentado reconvenção, pois se o credor-réu promoveu
reconvenção e pediu a rescisão do contrato, o juiz não determinará a complementação do depósito nos termos do caput
do art. 545: Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se
corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato (em razão de reconvenção).

§ 1º do art. 545. No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente
liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida. Se não for apresentada a reconvenção,
será discutida apenas a parcela controvertida (digamos que o autor depositou 50 mil, mas o réu-credor alega que faltam 20 mil
reais na contestação). Os 50 mil reais já podem ser levantados pelo credor-réu, pois é parcela incontroversa, e o devedor-
autor recebe uma liberação parcial da sua obrigação (em relação aos 50 mil, ele já está liberado). O juiz decidirá ao final se
o devedor-autor deve mais 20 mil ou não. Se o juiz decidir por sentença que o autor deve mais 20 mil reais, basta pagar os 20
mil para obter a liberação total, e se o devedor-autor não pagar os 20 mil reais, o credor-réu terá um título executivo judicial
para executar este devedor.

§ 2º do art. 545. A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido
e valerá como título executivo, facultado ao credor (o réu da ação) promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após
liquidação, se necessária. É a natureza dúplice da ação de consignação em pagamento. O autor, sem que haja pedido expresso
do réu (mesmo sem que haja reconvenção) foi condenado a pagar a diferença trazida pela sentença, valendo essa diferença
como título executivo judicial, a ser executada nos mesmos autos, como foi dito antes.

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Como foi dito antes, se o credor-réu receber o dinheiro e der quitação, deverá ele, réu, pagar custas e honorários advocatícios,
nos termos do parágrafo único e do art. 546: Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e
condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o
credor receber e der quitação. O pagamento de custas e honorários ocorre também quando o credor-réu, mesmo contestando
o pedido e se opondo, perde a ação, ou mesmo se ele não se opor mas receber a quantia.

5. 3. Dúvida sobre quem é o credor (art 547 e 548): Pode ocorrer dúvida sobre quem é o credor. Ex.: Eu, devedor, devo
pagar 100 mil para a colega. Hoje, a colega falece. Eu não sei pra quem eu devo pagar mais, pois não sei se a colega tem
filhos. Estou em dúvida sobre quem é o credor. Por edital serão chamados os sucessores da colega, mesmo que o devedor não
tenha nenhuma ideia sobre quem são os seus sucessores. É disto que fala o art. 547: Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem
deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para
provarem o seu direito. Pode também ocorrer dúvida em relação a um número X de pessoas. Ex.: Eu quero pagar os 100
mil que eu devo, mas não sei se é para o João ou para o Frederico. Eu acho que o credor é o Frederico, mas ocorre que eles
dois estão litigando sobre este valor de 100 mil reais. Eu, devedor, promoverei a ação de consignação pagamento e chamarei
o João e Frederico, em litisconsórcio. Depositarei os 100 mil reais e o juiz chamará os dois para dizer quem é que tem direito
aos 100 mil reais. Se ninguém contestar a minha ação, é porque realmente eu, devedor, devia apenas 100 mil reais para um
deles, e neste caso, o valor estará depositado e eu, devedor, saio da ação, pois já obterei o que eu queria (a liberação da
obrigação, o dinheiro está lá). O juiz dará a liberação da obrigação, eu saio do processo e eles ficam lá brigando para ver quem
é que possui o crédito. A ação de consignação em pagamento fica sem autor.

Pode acontecer que o devedor proponha consignação em pagamento e um dos pretensos credores conteste a ação, alegando
por exemplo, que o depósito é insuficiente, pois o débito é maior do que 100 mil reais, faltam 20 mil reais, ao mesmo tempo
que o outro pretenso credor não contesta. Neste caso, o devedor-autor terá 10 dias para depositar a diferença, se quiser (os 20
mil reais alegados por um dos possíveis credores). Se ao final este credor que alegou que faltavam 20 mil reais ganhar a ação
e for considerado o verdadeiro credor, o devedor deverá pagar o valor integral a este credor (digamos que seja 20 mil reais).
Mas pode ocorrer também que este credor que alegou que faltavam 20 mil não ganhe nada, pois não foi considerado como o
verdadeiro credor. Neste caso, o outro credor que não contestou poderá ir retirar o valor originalmente depositado (100 mil
reais). Pode também acontecer de os dois contestarem o valor originalmente depositado, dizendo que não é 100 mil reais, mas
120. Neste caso, se ficar provado que o valor era realmente 120 pelos dois, o que for considerado o verdadeiro credor levará
120 mil reais.

Art. 548. No caso do art. 547:

I - não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em arrecadação de coisas vagas: Nesta hipótese, o
devedor propôs a consignação por não saber quem era o credor, mas ninguém apareceu. O devedor obterá do mesmo jeito a
liberação da obrigação. Ninguém está brigando para tentar ser o credor, não apareceu ninguém. Do mesmo jeito, o devedor
estará liberado, e o dinheiro, mais tarde, irá para o Estado (arrecadação de coisas vagas).

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II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano: Parece para quem lê este inciso, que se aparecer apenas um pretenso
credor, o juiz dirá logo que só pode ser deste pretenso credor o direito de crédito. Não é verdade, é preciso que o candidato
a credor prove que é o credor, ou que é sucessor do credor. É preciso provar.

III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação, continuando o processo a correr
unicamente entre os presuntivos credores, observado o procedimento comum: É isso que ocorreu no exemplo que demos
acima. Apareceram dois possíveis credores, que reconheceram o crédito. O autor da ação-devedor está liberado e ficam os
pretensos credores brigando entre si para provar quem é o verdadeiro credor.

Ação de oposição (art. 682 até 686 do CPC).

1. Conceito: É a forma pela qual o terceiro ingressa em processo alheio para obter para si, no todo ou em parte, a coisa ou
o direito sobre que disputam autor e réu, excluindo o direito destes. Também é possível conceituar oposição como “o
procedimento especial pelo qual alguém, pretendendo coisa ou direito alheio que está sub judice, demanda ambos os
litigantes, em litisconsórcio necessário, para exercer sua pretensão”. Primeira coisa a ser destacada é que este conceito pode
dar a entender que se trata de intervenção de terceiros. Não pode ser assim, pois se fosse intervenção de terceiros, o terceiro
teria a condição de terceiro, e não de parte. O terceiro, na ação de oposição, é autor da ação. No CPC anterior, a oposição
era uma forma de intervenção de terceiros, mas era difícil visualizá-la realmente como forma de intervenção de terceiros, pois
o terceiro era autor de uma ação, e não propriamente um terceiro. O terceiro, na verdade, promove uma ação autônoma, que
por força de conexão, é julgada pelo mesmo juiz que julga a outra ação relacionada à coisa ou direito que ele disputa com o
autor e o réu desta outra ação. O mesmo juiz que está julgando a ação originária julgará a ação de oposição. O juiz tentará
julgar primeiro a oposição, pois o destino da ação originária depende disso. Se não der primeiro para julgar a oposição, julga-
se primeiro a ação originária.

Exemplo: Existem duas pessoas na sala de aula discutindo sobre a propriedade de uma mesa. João propôs a ação para que
Carlos seja condenado a entregar a mesa. Carlos contesta a ação, dizendo que ele próprio é proprietário da mesa. Um terceiro
está de fora, apenas vendo os dois brigarem pela propriedade da mesa, mas aí este terceiro visualiza que a mesa é dele.
Proprietário é o terceiro (ao menos ele se considera assim). Neste caso, se Carlos e João estão brigando pela propriedade desta
mesa, o terceiro pode se opor à pretensão dos dois. O terceiro promoverá uma nova ação, que será a ação de oposição, se
tornando opoente, com legitimidade ativa para propor esta ação. O terceiro se opõe a ambos, Carlos e João. Os réus da ação
de oposição serão Carlos e João. Obrigatoriamente eles serão citados. Os réus da ação de oposição são os litigantes do processo
originário. Deve haver um processo anterior quando se promove a oposição, pois se não há processo anterior, é possível
promover uma ação, contra um dos dois, mas não será ação de oposição, certamente será ação reivindicatória neste exemplo.
Para que haja oposição é preciso haver uma ação em curso. Teremos duas ações: a originária e a ação de oposição. Os
opostos serão citados e formarão litisconsórcio necessário.

Se os dois opostos reconhecerem a oposição do terceiro, dizendo que o terceiro é realmente o proprietário da mesa, as duas
ações terminam, pois a ação originária ficou prejudicada. O terceiro ganhou a oposição e Carlos e João perderam a ação de

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oposição, perdendo o objeto a ação originária. Mas se Carlos reconheceu a oposição e João não reconheceu, a oposição
prossegue contra João, ou seja, prossegue contra aquele que se opôs à pretensão do opoente.

Os opostos serão citados para contestar a ação de oposição no prazo de 15 dias. Não importa que existam litisconsortes
necessários com diferentes procuradores de escritórios diferentes, o prazo será sempre comum, de 15 dias. Não se conta
em dobro este prazo para contestação na oposição.

O que interessa aqui é que vocês tenham entendido o que vem a ser a ação de oposição. Não achem que é intervenção de
terceiros, pois não é, é um procedimento especial de jurisdição contenciosa.

Como a ação de oposição é uma ação, e não uma intervenção de terceiros, o opoente promoverá a ação por uma petição inicial,
claro, pois é uma ação como todas as outras. O opoente deverá pedir obrigatoriamente a citação das pessoas que estão
disputando o objeto do processo. Haverá litisconsórcio necessário.

2. Legitimidade ativa: Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e
réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.

3. Legitimidade passiva: São legitimados passivos ambos os litigantes do processo originário.

4. Admissibilidade e requisitos da oposição: O limite temporal para a propositura da oposição é a sentença da causa em que
se disputa, entre outras partes, a coisa que o opoente pretende para si, nos termos do art. 682 do CPC (Art. 682. Quem
pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença,
oferecer oposição contra ambos). A oposição só será admitida até que seja prolatada a sentença. Ex.: Eu propus uma ação
contra a colega. O juiz proferiu a sentença, julgando a ação totalmente improcedente. A colega continua com a propriedade e
a posse da mesa. O terceiro não pode promover oposição, pois eu já perdi a ação originária. O que o terceiro pode fazer é
promover uma ação contra a colega diretamente. Detalhe, não se trata do trânsito em julgado da sentença, mas da mera
existência de uma sentença.

A oposição pode ser total ou parcial, se referir a uma parte da coisa ou direito litigioso ou à sua totalidade.

5. Competência para a propositura da oposição: É competente o juiz da causa principal (da ação originária), nos termos
do parágrafo único do art. 683 (Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa
de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias). É o mesmo juiz que julga a
ação originária. Haverá distribuição por dependência.

6. Procedimento da ação de oposição.

6. 1. Petição inicial (arts. 319\320 do CPC): Art. 683. O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos
para propositura da ação.

6. 2. Distribuição por dependência: Art. 685. Admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e tramitará
simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. Vejam, se foi distribuída por dependência
a ação, teremos dois processos, e em regra, apenas uma sentença.

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Parágrafo único. Se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz suspenderá o curso do processo
ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração
razoável do processo. Se o juiz já marcou a audiência e ela já começou, sendo que a parte entra com a oposição com a audiência
já tendo começado, o juiz tem duas possibilidades: a) continuar com a audiência para finalizá-la e ao final, suspender o
processo da ação originária, para depois realizar a outra audiência de instrução na oposição e julgar ao final ambas ações na
mesma sentença; b) suspender a audiência e o processo da ação originária, para realizar conjuntamente a audiência de instrução
e julgamento nas duas ações, para ao final julgá-las na mesma sentença. Se a oposição foi proposta antes da audiência, nem
se realiza a audiência que estava marcada. A oposição será apensada aos autos e tramitará simultaneamente à ação
originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença.

6. 3. Citação dos opostos: Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de
seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias. Não conta em dobro o prazo
para contestar, mesmo que existam diferentes procuradores de escritórios diferentes, pois trata-se de procedimento especial.
É possível alegar qualquer matéria em sede de contestação, e também é possível reconvir.

Art. 684. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. E se os dois
reconhecerem a procedência do pedido, a ação de oposição será totalmente procedente, ficando prejudicada a ação originária.
O juiz julgará antecipadamente a ação em razão do reconhecimento da procedência do pedido apontado pelos opostos.

6. 4. Sentença: Art. 686. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta conhecerá em
primeiro lugar. Primeiro o juiz julga na mesma sentença a oposição, depois se manifesta sobre a ação originária. Ex.: O
terceiro perdeu a oposição, o juiz já julgou. Na mesma sentença, o juiz dirá quem tem razão, se é o autor ou o réu da ação
originária.

Passados os 15 dias, se os opostos contestarem, e o juiz colocará a ação originária ao lado da oposição, colhendo a prova de
ambas ações conjuntamente, melhor será se assim ocorrer. Assim, o juiz decide na mesma sentença a oposição e a ação
originária. A colheita de prova testemunhal pode ser feita nas duas ações. Todas as provas deverão dizer quem é que possui o
direito sobre o objeto do processo.

Se não for atrasar o andamento da ação originária, o juiz pode suspender a originária e colher prova testemunhal na
oposição, marcando audiência de instrução e julgamento na ação de oposição. O juiz suspenderá a ação originária apenas se
não prejudicar a celeridade e o andamento da ação. Se prejudicar, o juiz não suspende, mas decide quem tem direito na
ação originária e depois se preocupa com a oposição. Se for mais interessante suspender a ação, suspende-se a ação
originária, colhe-se a prova na ação de oposição e na mesma sentença julga-se as duas ações, decidindo-se primeiro a oposição.
Detalhe: No sistema do CPC anterior, era possível existir duas sentenças, uma julgando a ação originária e outra julgando a
ação de oposição, mas no CPC atual isso parece ter acabado, sendo necessário que ambas as ações sejam julgadas sempre pela
mesma sentença. Mesmo que prejudique a celeridade, o juiz não poderia julgar primeiro a ação originária. Mas a opinião do
professor, ao que parece, ainda considera ser possível existir duas sentenças, com uma julgando a ação originária primeiro (no
caso de ser prejudicial para a celeridade deste processo deixa-lo suspenso). Verificar isso posteriormente com ele.

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Ação de exigir contas (arts. 550 a 553 do CPC)

1. Conceito: “Significa fazer alguém a outrem pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos componentes do
débito e crédito resultantes de determinada relação jurídica (legal ou contratual) concluindo pela apuração aritmética do
saldo credor ou devedor ou de sua inexistência” (Adroaldo Furtado Fabricio).

Segundo H. Theodoro, o objetivo da ação de exigir contas é “liquidar dito relacionamento jurídico existente entre as partes
no seu aspecto econômico, de tal modo que, ao final, se determine, com exatidão, a existência ou não de um saldo, fixando,
no caso positivo, o seu montante, com efeito de condenação judicial contra a parte que se qualifica como devedora”. O saldo,
seja em favor de qual parte for, será conteúdo de título executivo judicial (art. 552) e poderá ser exigido nos próprios autos.

Se vocês pegarem os livros anteriores ao CPC 2015, verão que existia a ação de prestação de contas, que dividia-se em duas:
ação de exigir contas e ação de prestar contas. O CPC 73 dizia que a ação de prestação de contas poderia ser proposta por
aquele que tinha o direito de exigir contas ou por aquele que tinha o direito de prestar as contas. A ação de prestação de contas
era gênero, e uma das espécies era exatamente a ação de exigir contas, outra espécie era a ação de prestar contas. Quem
propõe a ação de exigir contas é quem tinha o direito de exigir contas, contra aquele tinha o dever de prestar contas (o
sujeito que tinha o dever de prestar as contas não fazia isso). Por sua vez, a ação de prestar contas era proposta por aqueles
que tinham o dever de prestar contas mas não conseguiam fazer isso. Ex.: Eu quero prestar contas, mas vocês não querem
aceitar essa prestação. Para me desobrigar dessa prestação de contas, eu deveria promover contra vocês uma ação de prestação
de contas. Na minha petição inicial, estaria acompanhada a minha prestação de contas, e vocês seriam citados para receber a
minha prestação de contas ou contestar o pedido. Como era possível saber qual era o tipo de ação? Bastava verificar quem
tinha legitimidade ativa, para promover estas ações, nos termos do art. 914 do antigo CPC: “Art. 914. A ação de prestação de
contas competirá a quem tiver: I - o direito de exigi-las; II - a obrigação de prestá-las”.

É bom dar um exemplo para ilustrar o que seria a tal ação de exigir contas: Meu pai faleceu e deixou três herdeiros, eu
e mais dois irmãos. Ele deixou de bens uma garagem para 180 veículos, e por mês ele tirava em média 28 mil reais mensais.
Tinha alguns outros gastos para manter a garagem, mas em média era 28 mil reais. Seguidamente a garagem estava precisando
de reparos. Agora quando meu pai morreu, fizemos outras reformas, trocamos o telhado da garagem, fizemos calçada, etc. Ao
meu pai morrer, buscou-se a partilha e o inventário, o juiz nomeou o meu irmão mais velho como inventariante. O juiz nomeou
alguém para administrar os bens do meu pai (o meu irmão). Enquanto tramita a ação de inventário e partilha, o meu irmão
recebe os 28 mil reais, paga os empregados, paga as reformas, ele recebe também por ser o administrador, e o que sobra do
dinheiro ele deposita em uma conta aberta pelo juízo. O meu irmão está administrando bens de terceiro (são deles os bens,
mas são também meus e do meu outro irmão). Nós, os dois irmãos, podemos exigir a prestação de contas deste irmão que é o
administrador. Digamos que o meu irmão sempre tenha sido pobre, e torna-se inventariante, e repentinamente começa a viajar
para lugares caros, com muito dinheiro. Há algo estranho nisso, e começo a desconfiar que ele está pegando dinheiro por fora.
Eu e o outro irmão poderemos exigir que ele preste contas, isso porque nós já pedimos para ele prestar as contas, mas ele disse
que não prestaria nada. Neste caso, eu tenho o direito de exigir contas e promoverei a ação contra quem tem o dever de prestar
contas. Se ele não quiser prestar contas, que não aceite o cargo de inventariante, pois ao aceitar, ele estará administrando bens
alheios. O meu irmão terá de prestar contas, de forma pormenorizada, ou seja, parcela por parcela do que foi gasto, do dinheiro

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recebido, e todo o resto. O irmão precisa dizer qual é a receita e qual a despesa, em detalhes. Quem faz essa descrição
pormenorizada é o contador, mas há programas de cálculo que também fazem. Ao final, se a receita for igual à despesa, não
haverá saldo. Mas pode ser que exista um saldo. No nosso exemplo, digamos que o irmão inventariante demonstre que houve
28 mil reais de receita e 20 mil de despesa, neste caso há um saldo de 8 mil reais favorável aos herdeiros. Este saldo será
depositado na conta aberta no inventário, para que os herdeiros o partilhem depois. Aqui, a receita foi maior do que a despesa,
mas pode acontecer o contrário. Digamos que o irmão demonstre uma receita de 28 mil reais, mas uma despesa de 30 mil
reais. Há 2 mil reais de saldo negativo. Só que, no mesmo dia, o meu irmão tirou do seu bolso 2 mil reais, de dinheiro seu, e
pagou o que faltava dos 2 mil reais, para pagar reformas da garagem que deveriam ser pagas por todos os irmãos. Como a
ação de exigir contas tem natureza dúplice, eu, que sou o autor da ação e não paguei a minha parte destes 2 mil reais que
faltavam, serei condenado a pagar a minha parte destes 2 mil. Eu, autor da ação deverei pagar a minha parte destes 2 mil reais
em 15 dias, pois do contrário o meu irmão inventariante que é réu da ação terá um título executivo judicial contra mim. Mesmo
sem o pedido expressão do meu irmão-réu eu poderei ser condenado a pagar o valor que não paguei destes 2 mil reais.

Na prestação das contas, todas as parcelas apresentadas devem estar documentadas, pois se não estiver documentado,
a parte afetada se manifestará e não aceitará a prestação. Se as contas não foram comprovadas, o autor da ação impugnará
essa prestação de contas, e o juiz decidirá. As parcelas devem ser comprovadas, ou por prova documental (recibo, por exemplo)
ou por prova testemunhal.

2. Legitimidade ativa e passiva: No NCPC, passamos a ter como procedimento especial unicamente a ação de exigir
contas. Agora, só pode promover esta ação aquele que tem o direito de exigir contas. Ex.: Vocês tem o direito de exigir contas
de mim. Vocês podem promover contra mim a ação de exigir contas, que tem um procedimento especial. Se entretanto, sou
eu que tenho o dever de prestar as contas e vocês não querem a minha prestação de contas, eu poderei promover a ação de
prestação de contas, mas não vai ser por procedimento especial de jurisdição contenciosa, vai ser pelo procedimento comum.
Não existe mais pelo procedimento especial uma ação em que aquele que tem o dever de prestar contas a promove. Aquele
que precisar fazer isso terá de fazer pelo procedimento comum. O NCPC reduziu para os procedimentos especiais à ação de
exigir contas, a ação de prestar contas passa para o procedimento comum.

Só pode ser autor desta ação (só tem legitimidade ativa) a pessoa que tem o direito de exigir contas. Ex.: Eu vou exigir
contas e vocês a princípio tem obrigação de prestar contas. Nosso pai faleceu, o juiz nomeou vocês como inventariante do
processo de inventário e partilha, e vocês estão, na qualidade de administradores, administrando bens de terceiros. Em razão
de eu ser terceiro, também proprietário deste bem, tenho direito de exigir contas. Vocês entrarão com a ação de exigir contas,
e já que eu sou inventariante, vocês pedirão para que eu preste contas, juntamente ou em apenso aos autos do inventário. Foi
na ação de inventário e partilha que o juiz me nomeou como inventariante. Este juiz, também poderá me retirar da qualidade
de inventariante se eu não prestar as contas, ou prestar e não cumprir com a sentença. Quem julgará a ação de exigir contas,
se a nomeação do administrador foi feita por ordem de juiz? Será o próprio juiz que nomeou o inventariante e poderá destituí-
lo do cargo se o mesmo não prestar as contas em apenso ao processo de inventário. Mais, o juiz pode retirar vocês da qualidade
de inventariante, e sequestrará a garagem, que será passada para outro inventariante, nomeado pelo juiz, que em outra
oportunidade prestará contas ao proprietário da garagem. Isso se encontra no art. 553, parágrafo único, que trata da
competência do juízo para analisar a ação de exigir contas. Se a prestação contas deriva de instrumento contratual, é diferente.

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Ex.: Eu fiz um contrato, e neste contrato dizia que vocês administrariam essa garagem. No próprio contrato, determinamos
que atualmente vocês devem prestar contas, mas vocês ainda não prestaram. Promoverei a ação de exigir contas. Não sei qual
o juiz analisará essa ação. Se o ato da administração ocorreu aqui na cidade, por força do art. 53 do CPC, promoverei a ação
de exigir contas contra vocês aqui na Comarca, para qualquer uma das varas cíveis. Se for decidido que as contas deveriam
ser apresentadas e deveria ser pagos 10 mil reais, se não for pago esse dinheiro, o réu poderá ser executado. É possível também
fazer resolução do contrato, vocês me pagam os 10 mil e passaremos para um terceiro administrar a garagem.

Em alguns casos, a lei exige a prestação de contas. Ex.: O irmão foi nomeado pelo juiz para administrar os bens do espólio,
ou seja, tornou-se inventariante. O inventariante tem, por lei, dever de prestar contas. Outras vezes, o dever de prestar contas
surge de contrato. Ex.: Eu e o João somos sócios, temos uma garagem. Ele está administrando a nossa garagem, e nós temos
um contrato, ele é o administrador do nosso negócio. Se eu promover uma ação contra o João, eu tenho o direito de exigir
contas em razão deste contrato, e ele tem o dever de prestar contas, pois administra um bem alheio (a garagem é minha
também). Quando a obrigação de prestar contas surgir da lei e a nomeação do cargo que fez surgir o dever de prestar
contas foi feita por ordem judicial, a ação de exigir contas deverá ser proposta frente ao próprio juiz que determinou a
nomeação de quem deveria prestar contas. No exemplo do irmão nomeado inventariante, digamos que o juiz seja da 1 vara
de família. A ação de exigir contas deveria ser proposta e distribuída por dependência ao juiz que nomeou o meu irmão como
inventariante.

3. Natureza jurídica dúplice da ação de exigir contas: Diz-se que a ação de exigir contas tem natureza dúplice pelo fato de
que qualquer um dos sujeitos do processo (autor ou réu) pode formular pedidos em relação às verbas e os seus
montantes, sem depender de reconvenção. Nas ações normais não isso que acontece, pois só o autor formula pedido, o réu
apenas resiste ao pedido do autor, enquanto nesta ação a formulação de pedidos pode ser feita pelo autor ou pelo réu. Ambos
litigantes atuam como autor ou como réu. Por isso, pode ser que no começo da ação o autor tenha exigido as contas achando
que o réu ao final estaria devendo dinheiro (o autor achava que teria um saldo favorável à si), mas no decorrer da ação se
perceba que é o réu que tem um saldo favorável à si, caso em que o autor acabará sendo condenado a pagar dinheiro ao réu
(que terá um título judicial).

4. Foro competente (art. 53, III, alínea d; art. 53, IV, alínea b; art. 553): Art. 53. É competente o foro: III - do lugar: d)
onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento. Se decorre de contrato (e não da lei) o
dever de prestar contas, a ação deverá ser proposta no local onde a obrigação de prestar contas deva ser satisfeita. Segue
o art. 53: IV - do lugar do ato ou fato para a ação: b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios.

Se a obrigação decorrer da lei, como vimos no caso dos administradores judiciais (inventariante, tutor, curador, depositário,
etc) a ação será proposta perante o mesmo juízo que designou o administrador ou gestor de negócios alheios, nos termos
do art. 553 do CPC: Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro
administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado. O juízo competente será o
mesmo que determinou a administração por terceiro de bens alheios. Prossegue o parágrafo único do art. 553 estabelecendo
sanções ao administrador de coisas alheias que não cumprir com a sentença: Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no
caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda,

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glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do
prejuízo. O juiz nomeou o administrador, nomeou o tutor, o curador, o inventariante, etc, neste caso, o próprio juiz que nomeou
poderá destituí-lo do cargo de inventariante, de tutor, de curador e assim por diante. Provavelmente um bem do devedor será
penhorado para ser pago o saldo, e além de ser penhorado um bem, já que ele não pagou voluntariamente, perderá o cargo que
ocupava e a remuneração que recebia e seus bens serão sequestrados.

5. Procedimento da ação de exigir contas, composto por duas fases. Resumidamente, temos:

a) Primeira fase, onde busca-se apurar se existe ou não a obrigação de prestar contas que o autor atribui ao réu;

b) Procedente a primeira fase, na segunda fase é a hora de se prestar as contas e apurar o saldo, se houver.

5. 1. Petição inicial (art. 319, 320 e 550, § 1º do CPC): A petição segue os requisitos do art. 319 e 320. Na ação de exigir
contas, há a possibilidade de audiência de conciliação ou mediação. A parte pode ser chamada para a audiência e sair um
acordo. Ex.: O réu diz que presta contas, mas precisa de um prazo de 30 dias para organizar os documentos. Prestadas as
contas, se verificará se há saldo favorável, desfavorável ou não há saldo em favor de nenhuma das partes.

O art. 550, § 1º, determina que “Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as
contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem”. Vejam, o autor deverá convencer o
juiz que tem o direito de exigir as contas. Se tiver prova documental, melhor ainda. Ex.: Há um contrato assinado por nós
dois, em que fica especificado o dever de prestar contas. Esse contrato vai acompanhar a petição inicial, e estará demonstrado
o direito de exigir contas. Evidentemente, será assim quando houver prova documental. Se não houver prova documental que
acompanhe, é possível pedir outros meios de prova. Ex.: Fizemos um contrato verbal de administração dessa garagem.
Vocês recebem 5 mil reais para administrar a garagem mas tem obrigação de prestar contas. Na petição inicial é possível
requerer a produção de prova testemunhal, para demonstrar a obrigação de prestar contas. Demonstrada a obrigação e decidido
pelo juiz que vocês tem de prestar contas, o juiz dará o prazo de 15 dias para que as contas sejam prestadas.

Há de se ter na petição inicial o requerimento de citação do réu, conforme o caput do art. 550 (Art. 550. Aquele que
afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo
de 15 (quinze) dias). O réu deve ser citado para ou contestar a ação ou apresentar contas em 15 dias. É um requisito a mais,
pois no procedimento comum não se exige o requerimento de citação do réu. Se as contas forem prestadas no prazo de 15
dias, o juiz dará 15 dias para o autor se manifestar, e se o autor concordar e não houver necessidade de produção de prova
oral, o juiz dará sentença, declarando as contas prestadas e a apuração do saldo devedor, se houver. Se o saldo for favorável
ao autor, ele autor terá um título judicial, e se for favorável ao réu, este é que terá o título judicial para ser cumprido nos
próprios autos.

5. 2. Após ser citado, o réu pode ter vários comportamentos.

5. 2. 1. Contestar (art. 550, caput): Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação
do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias. O réu poderá, em 15 dias, contestar ou
apresentar as contas. Se o réu apresentar as contas, a primeira fase já acaba, pois ao apresentar as contas o réu implicitamente
reconheceu a obrigação de prestar as contas, e procede-se para a segunda fase, para apuração destas contas e de um possível

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saldo. Apesar disso, se o juiz entender que não há o dever de prestar contas, nem se procede para a segunda fase e a
ação termina. Ex.: Vocês são proprietários de uma garagem, e eu sou amigo de vocês, mas não tenho nada a ver com a
garagem, não sou o dono dela (vocês são). Dá para ver que vocês não tem obrigação nenhuma de prestar contas a mim, pois
não temos relação jurídica em relação à garagem. Ainda assim, eu promovo uma ação de exigir contas contra vocês. Basta
que na contestação vocês aleguem que eu não sou parte legítima para propor a ação, e o juiz proferirá sentença dizendo que a
parte é ilegítima para exigir a prestação de contas, extinguindo o processo. Mas se o réu concordar que tem a obrigação de
prestar as contas, não contestará, apenas apresentará as contas.

5. 2. 2. Apresentar as contas (art. 550, caput e § 2º): Vimos que o autor na petição inicial “requererá a citação do réu para
que as preste (as contas) ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias”. Após ser citado o réu tem 15 dias para prestar
as contas ou para contestar. Se prestar as contas, reconheceu esse dever de prestar contas, e nos termos do § 2º do art. 550 “§
2º Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo
X do Título I deste Livro”. Ou seja, prestadas as contas, se dará a oportunidade para manifestação do autor da ação. Se o réu,
citado, apresenta as contas, prossegue-se de acordo com o procedimento comum. Havendo necessidade de dilação probatória,
o juiz determinará audiência de instrução e julgamento e ao final considerará as contas prestadas, com possibilidade de
eventual saldo. Se o autor impugnar a prestação de contas feita pelo réu, deverá tomar muito cuidado: § 3º do art. 550. A
impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e específica, com referência expressa ao lançamento
questionado. Se o réu apresentou as contas, o autor será intimado para se manifestar pelas contas. É o princípio do
contraditório. Neste caso, já que as contas foram manifestadas, é necessário impugnar parcela por parcela,
pormenorizadamente. Não é possível que o autor impugne a prestação e diga “não estou de acordo com o saldo, mas não sei
por qual razão discordo”. É preciso especificar o porquê, a razão do equívoco na prestação. Ex.: Havia uma despesa de 500
reais na prestação do réu, mas o autor achou o recibo e a nota fiscal que dizia que a despesa na verdade foi só de 50 reais.

Pode ocorrer que mesmo que o réu conteste, não tenha sucesso, e neste caso a ação prosseguirá. Ex.: O autor promoveu
a ação de exigir contas e o réu contestou, alegando que teria de existir litisconsórcio necessário, que não foi formado. O juiz
não acatou o argumento da contestação, e decidiu por decisão interlocutória determinando que o réu apresente as contas. O
juiz entendeu que existia a obrigação de prestar contas. Se o juiz considerou procedente a alegação do autor de que havia o
direito de prestar contas do réu, acabou a primeira fase do procedimento desta ação (o juiz considerou que havia de fato a
obrigação de prestar contas). Após isso, haverá uma decisão interlocutória determinando que o réu preste as contas (nos
termos do § 5º do art. 550) e o réu terá 15 dias para prestar as contas. Se as contas forem prestadas pelo réu em 15 dias, o
juiz dará ao autor 15 dias para ele se manifestar sobre as contas prestadas, como vimos acima.

5. 2. 3. Permanecer inerte (art. 550, § 4º): § 4º Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355. Se o
réu citado não fizer nada, ficar inerte, passamos pela primeira fase, pois o juiz decidirá que o réu tem obrigação de prestar as
contas. O réu será intimado para em 15 dias prestar as contas, conforme o § 5º do art. 550. Se o réu não contestar a obrigação
de prestar contas, já se passa da primeira fase, pois certamente não haverá necessidade de produção de novas provas, e incidem
os efeitos da revelia e presumem-se verdadeiras as obrigações de prestar conta. O juiz proferirá uma decisão interlocutória e
dará o prazo de 15 dias para que o réu preste as contas.

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5. 3. Decisão interlocutória que reconhece o dever de prestar contas (começo da segunda fase, § 5º do art. 550): § 5º do
art. 550. A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob
pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. Decidida a obrigação de prestar contas por meio de decisão
interlocutória, acaba a primeira fase da ação de exigir contas. Abre-se o prazo de 15 dias (já falamos bastante dele) para o
réu apresentar as contas. Se as contas forem apresentadas, o autor da ação se manifestará sobre elas, pois o próprio § 6º do art.
550 determina que se aplique o § 2º (que é o parágrafo que permite a manifestação do autor após a apresentação das contas se
isto for feito lá após a citação do réu, no começo da ação). Vejamos: § 6º do art. 550. Se o réu apresentar as contas no prazo
previsto no § 5º, seguir-se-á o procedimento do § 2º, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias,
podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário. Poderá haver impugnação por parte do autor em
relação às contas apresentadas pelo réu nesta segunda fase do processo (o autor tem o prazo de 15 dias impugnar, se quiser,
pois este é o prazo do § 2º do 550). Havendo impugnação do autor, o § 1º do art. 551 autoriza que o réu se justifique: § 1º
Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente
os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados.

Foi dito que depois da decisão interlocutória que determina a obrigação de prestar contas, o réu deverá prestar as contas em
15 dias. Se não fizer a prestação em 15 dias (permaneceu inerte), o próprio autor é que prestará (apresentará as contas), pois
como o § 6º do art. 550 diz, “caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o juiz determinar
a realização de exame pericial, se necessário”. Como o réu não quis apresentar as contas, o próprio autor é que apresentou,
com os documentos e provas que tinha em mãos, e o réu não poderá sequer questionar esta prestação de contas feita pelo
autor, pois o § 5º do art. 550 deixa claro que a decisão interlocutória determinará a prestação de contas pelo autor no prazo
de 15 dias “sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar”, ou seja, não apresentando as contas na
segunda fase do processo, é o autor que apresentará e o réu não poderá questionar esta prestação de contas, mesmo que seja
insuficiente.

Há de se ter cuidado aqui, pois o juiz pode desconfiar da prestação de contas do autor, e determinar a produção de prova
pericial. É verdade que o autor prestará as contas e o réu não poderá impugnar as contas deficientemente prestadas pelo
autor. Permanecendo inerte na segunda fase o réu, o autor prestará as contas, e provavelmente haverá um saldo favorável ao
autor. Apesar disso, continua vigorando o princípio do livre convencimento motivado do juiz, então não quer dizer que se o
réu se mantiver inerte o juiz aceitará de qualquer jeito as contas prestadas pelo autor, pois pode ser que o juiz não
aceite. Ex.: Vocês alugam a garagem por mil reais. Eu propus a ação de exigir contas, e vocês não prestam as contas. Eu,
autor, prestarei as contas, e direi que vocês tiveram rendimentos anuais de 36 mil reais (sendo que o rendimento real anual foi
de 12 mil). O juiz, ao analisar a prestação de contas do autor, achou estranho. Neste caso, o juiz poderá determinar prova
pericial no computador do réu. Se o juiz achar que a prestação do autor é absurda, ele poderá de ofício determinar perícia
contábil nos documentos e livros da garagem (e fará isso autorizado pelo § 6º do art. 551). O perito apresentará qual o valor
real da prestação de contas. É claro que depois de o perito se manifestar, haverá oportunidade para as partes se manifestarem
sobre o cálculo apresentado pelo próprio perito.

As contas devem ser apresentadas sempre na forma mercantil. Existem programas de cálculo que fazem isso, mas é
possível utilizar o contador para fazer isso. O crédito e o débito vão aparecer, e será mostrado o saldo, se houver, nos termos

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do art. 551: Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das
despesas e os investimentos, se houver. Segue o § 2º do art. 551: § 2º As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5º, serão
apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação
das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo. Tanto o autor quanto o réu devem apresentar as
contas, parcela por parcela, pormenorizadamente. Se a impugnação ocorrer, também deve ser parcela por parcela, em detalhes.

5. 4. Sentença (art. 552): Segundo H. Theodoro “A sentença é condenatória quanto ao saldo fixado e, em virtude do caráter
dúplice da ação, poderá voltar-se tanto contra o réu como contra o autor. O recurso cabível é a apelação, com efeito
suspensivo”. O saldo pode ser de qualquer das partes, em razão da natureza dúplice da ação (não é necessário que o réu
apresente reconvenção). O saldo pode ser a favor do réu, sem reconvenção, portanto. Havendo saldo favorável, haverá título
executivo judicial, com o consequente cumprimento de sentença: Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título
executivo judicial. Por sentença, o juiz pode considerar as contas devidamente prestadas e a própria sentença apurará o saldo.
O autor da ação (ou o réu) terá um título executivo judicial, para fazer com que aquele que deva pague o saldo. O cumprimento
da sentença será uma execução por quantia certa (título judicial) e depende do trânsito em julgado, pois eventual apelação
que atacar a sentença condenatória terá efeito suspensivo.

Notificação, interpelação e protesto (art. 726 até 729 do CPC).

1. Noções gerais: A notificação, o protesto e a interpelação são procedimentos especiais de jurisdição voluntária. A
princípio, não há contestação. Não há lide, portanto não há jurisdição contenciosa aqui.

O protesto, a notificação e a interpelação são manifestações de vontade sob um aspecto formal. Os três institutos são
parecidos e difíceis de diferenciar. Em todos eles temos medidas que não são absolutamente necessárias, pois a parte que as
utiliza pode obter a finalidade que deseja por outros meios, mas mesmo assim, o juiz não deve indeferi-las, a não ser que
envolvam ilícitos. A participação do judiciário se limita a acatar a pretensão de quem promove estas medidas, para que a
vontade desta pessoa seja levada (transmitida) pelas vias judiciais ao conhecimento de outra pessoa. O juiz só pode indeferir
o pedido se visualizar fim ilícito. Não há nestes procedimentos, em regra, produção de provas, nem sentença, nem
recursos. O interessado quer maior solenidade e formalidade à sua declaração de vontade (e o Judiciário serve bem para isso),
quer mais segurança, por algum motivo.

2. Protesto: No protesto, o interessado busca documentar certa declaração de vontade em juízo, com a finalidade de
ressalvar ou conservar direitos ou prevenir responsabilidades. Um bom exemplo para entender um protesto feito para
prevenir responsabilidades: Eu sou engenheiro, e vocês me contrataram para elaborar uma obra. Perguntei se vocês queriam
colocar mais andares ou só fazer uma sala. Quando eu fiz o projeto, já que vocês disseram que seria 5 andares, escrevi que
deveriam ser colocados ferros de 5 polegadas (necessários para os andares não caírem). Eu quero saber se quem está fazendo
a obra está seguindo o meu projeto, pois vi que estavam usando ferros de meia polegada, o que pode causar um acidente, e se
houver acidente, eu poderei ser acionado judicialmente. Para evitar problemas, usarei o Poder Judiciário para protestar. Farei
uma petição inicial, direi para o juiz o que aconteceu, e pedirei para ele intimar as pessoas que estão levando a cabo a obra.
Ninguém será chamado para contestar a ação, não há sentença nem recurso. O juiz mandará o protesto judicial para o

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interessado. Se no futuro a casa cair e os lesados me processarem, eu na contestação juntarei o protesto, pedirei prova pericial
e comprovarei que utilizaram ferros de meia polegada (descumprindo o projeto que eu fiz). Comprovarei que não fui o
responsável pela destruição da casa. O Poder Judiciário foi utilizado para dar mais formalidade e grau de certeza a esta
declaração de vontade, pois eu poderia simplesmente avisar quem está fazendo a obra que deveriam usar ferros de 5 polegadas
e seguir a minha orientação.

Outros exemplos de protesto: O protesto feito apenas para interromper a prescrição, que visa conservar um direito. O protesto
feito contra a alienação de certos bens, para evitar que o alienante caia em insolvência.

O NCPC não define o protesto, apenas diz que os artigos que regulam a notificação e a interpelação aplicam-se ao protesto:
“§ 2º Aplica-se o disposto nesta Seção, no que couber, ao protesto judicial”.

3. Notificação: A definição de notificação está no art. 726 “Art. 726. Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua
vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar pessoas participantes da mesma relação jurídica
para dar-lhes ciência de seu propósito”. Segundo H. Theodoro, notificação é “a cientificação que se faz a outrem para que
junto a ele se produza algum efeito prático ou jurídico, incidente sobre relação jurídica preexistente entre promovente e
promovido”. Exemplo clássico é o locador que notifica o locatário para desocupar prédio alugado até certo prazo, sob pena
de ajuizamento do despejo.

4. Interpelação: A definição de interpelação está no art. 727 “Art. 727. Também poderá o interessado interpelar o requerido,
no caso do art. 726, para que faça ou deixe de fazer o que o requerente entenda ser de seu direito”. A interpelação é uma
espécie de notificação, destacada pelo fato de o promovente (quem promove a medida) objetivar que o interpelado faça ou
não faça alguma coisa, ou seja, se busca uma prestação (um fazer ou não fazer). A interpelação tem “o fim específico de
servir ao credor para fazer conhecer ao devedor a exigência de cumprimento da obrigação, sob pena de ficar constituído em
mora”, por isso o professor diz que na interpelação se busca constituir o devedor em mora. Ex.: Emprestei meu carro para
vocês, por tempo indeterminado. Combinamos que quando eu quisesse o carro de volta, deveria avisar vocês. Ocorre que eu
avisei que queria o carro semana passada, mas vocês me enrolaram e não entregaram. Eu quero agora avisar definitivamente,
para que esteja bem demarcada a mora de vocês. Vou declarar formalmente essa vontade, vou interpela-los. Vocês serão
intimados com a mensagem de que eu quero o carro de volta, e saberão que se não devolverem, estarão constituídos em mora.
Não terá erro, estará provada a mora se o carro não for devolvido. Antes eu não havia dito formalmente que o veículo deveria
ser entregue, mas agora direi formalmente que quero o carro em 7 dias, e após estes 7 dias eu poderei exigir a entrega do carro
em uma ação, buscando também reparação para o prejuízo que tive por não poder usar o carro.

5. Procedimento da notificação e interpelação

5. 1. Petição inicial e intimação. Editais quando necessário: A interpelação, a notificação e o protesto não servem para
cobrar o prejuízo, são apenas declarações formais de vontade. Tudo começa com uma petição inicial, com os fatos e
fundamentos respectivos. O indeferimento da inicial pode ser atacado por apelação. Sendo deferida a notificação ou
interpelação, haverá intimação por carta, mandado ou meio eletrônico. Não há citação, há mera intimação. Não se trata de
chamar o réu para integrar um processo, não há processo nem réu.

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Em alguns casos não tem sentido e nem se alcança o objetivo da medida se houver a simples intimação de quem faz parte da
relação jurídica. Nestes casos é necessário publicar edital, para preservar o interesse do notificante perante terceiros. Mas
para que isto aconteça, é preciso que o juiz entenda que dar conhecimento geral por meio de edital é uma medida fundada e
necessária ao resguardo do direito do promovente: § 1º do art. 726. Se a pretensão for a de dar conhecimento geral ao
público, mediante edital, o juiz só a deferirá se a tiver por fundada e necessária ao resguardo de direito. É preciso que a
publicação de edital seja necessária para preservar o direito.

5. 2. Necessidade em alguns casos de ouvir o requerido antes de deferir a medida: Geralmente o juiz defere o protesto, a
interpelação ou a notificação, e o requerido é intimado após esse deferimento. Isso não acontecerá nas duas hipóteses do art.
728: Art. 728. O requerido será previamente ouvido antes do deferimento da notificação ou do respectivo edital: I - se
houver suspeita de que o requerente, por meio da notificação ou do edital, pretende alcançar fim ilícito; II - se tiver sido
requerida a averbação da notificação em registro público. Nestes casos, não será possível que o juiz defira a notificação ou
interpelação e no mesmo momento mande publicar o edital ou averbar a notificação no registro público. Será preciso antes
ouvir o requerido, para que depois de ouvi-lo, o juiz decida se realmente há necessidade de efetivar estas medidas.

5. 3. Contraprotesto: Não é possível contestar o protesto, mas é possível fazer um contraprotesto. Diz H. Theodoro que
“Não impede que aquele contra quem se protestou, por sua vez, proteste, ou seja, admite-se outro procedimento, cuja
manifestação de vontade pode ser contrária ou até complementar, alternativa, ou substitutiva da primitiva. É o protesto
daquele que foi atingido por protesto”. Ex.: Eu protesto dizendo que vocês estão usando ferros de meia polegada, mas na
verdade, ninguém está usando ferros de meia polegada. É possível protestar contra esse protesto, declarando formalmente a
vontade (declarando que não se está usando ferros de meia polegada, mas de 5 polegadas, adequadamente e de acordo com a
orientação do engenheiro).

5. 4. Indeferimento do protesto, quando necessário e encerramento do feito: Se houver suspeita de que há finalidade
ilícita, neste caso o juiz pode, antes de deferir a medida, ouvir a parte contrária (não se trata de contestar, mas de se
manifestar a respeito do processo). Já vimos isso. E se o juiz ficar convencido de que realmente o protesto é feito com
finalidades ilícitas, deverá indeferir o protesto, e apenas neste caso haverá sentença, que pode ser atacada por apelação.
Desta sentença cabe recurso de apelação. Somente neste caso há sentença. Ex.: Vocês querem vender uma casa, e eu quero
comprar esta casa, e digo assim: Quanto vocês querem pela casa? 650 mil. Eu digo que até compro a casa se vocês não
conseguirem vender, e compro por 500 mil. Para conseguir comprar a casa por 500 mil, eu vou protestar. Eu apresento o
protesto e peço para o juiz editar o protesto e publicar em um jornal de grande circulação. O juiz mandará colocarem o protesto
nas redes sociais e no jornal. O protesto diz que vocês cairão em estado de insolvência se venderem a casa. De certa forma,
estou impedindo que vocês realizem um contrato lícito, pois ninguém vai querer comprar a casa por causa deste protesto
mentiroso. O meu protesto busca fim ilícito. Neste caso, como eu sou obrigado a demonstrar as razões do meu protesto, o juiz
pode, antes de deferir o protesto, pode ouvir a parte. Na verdade, o juiz deve ouvir a parte contrária (nos termos do art. 728,
I), mas não é contestação, é apenas se manifestar em relação ao protesto. E se o juiz ficar convencido de que quem elaborou
o protesto o faz por meios ilícitos, ele pode indeferir o protesto, e haverá sentença. Desta sentença cabe recurso de apelação.

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Cientificado o requerido, os autos serão entregues ao requerente, fica tudo à disposição dele: Art. 729. Deferida e realizada
a notificação ou interpelação, os autos serão entregues ao requerente. Como dito, o juiz não entra no mérito da relação
jurídica, apenas tem um papel administrativo, manda intimar o notificado ou interpelado e após isso ser feito, entrega os autos
ao requerente. Não há sentença de encerramento (só há sentença quando há o indeferimento do pedido de notificação,
interpelação ou protesto).

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