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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

DIREITO DE FAMÍLIA

FAMÍLIA NA CF/88

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento.  
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (não depende de
qualquer prazo).
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de
suas relações.

Interpretando-se o art. 226 da CF, pode-se dizer que a família é decorrente dos
seguintes institutos: a) casamento civil, sendo gratuita a sua celebração e tendo efeito civil o
casamento religioso, nos termos da lei; b) união estável entre homem e mulher, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento; c) família monoparental, comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes. Tem prevalecido, na doutrina e jurisprudência, o
entendimento pelo qual o rol constitucional familiar é exemplificativo (numerus apertus)
e não taxativo (numerus clausus). Assim sendo, são admitidas outras manifestações
familiares, caso das seguintes categorias: a) família anaparental: quer dizer família sem pais,
a exemplo do imóvel em que residem duas irmãs solteiras, que, para o STJ, constitui bem de
família; b) família homoafetiva: constituída por pessoas do mesmo sexo; c) família mosaico
ou pluriparental: aquela decorrente de vários casamentos, uniões estáveis ou mesmo simples
relacionamentos afetivos de seus membros, a exemplo da união de A, que já foi casado 3
vezes e possui um filho do primeiro casamento e dois do segundo, com B, que tem cinco
filhos, dois do primeiro casamento, dois do segundo e um do terceiro.

Essa ampliação acima destacada faz com que seja inconstitucional qualquer projeto de
lei que procure restringir o conceito de família.

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TÍTULO I
DO DIREITO PESSOAL
SUBTÍTULO I
DO CASAMENTO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- INTRODUÇÃO

Casamento pode ser conceituado como a união legal de duas pessoas (está superada a
noção de união apenas entre o homem e a mulher, uma vez que o Brasil admite, na atualidade,
o casamento entre pessoas do mesmo sexo), reconhecida e regulamentada pelo Estado,
formada com o objetivo de constituição de uma família e baseada em um vínculo de afeto.
Tem como efeito, estabelecer comunhão plena de vida com base na igualdade de direitos e
deveres entre os cônjuges.
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

A igualdade significa que não mais existe a figura do chefe de família, competindo a
ambos os cônjuges ditar os rumos familiares.

O casamento é protegido pela norma constante do art. 1.513 do CC, segundo a qual é
defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida
instituída pelo casamento. É também com base nessa regra (e com base na disposição do art.
226, §7º, da CF) que é impossível que o estado realize controle de natalidade. O
planejamento familiar é decisão da família.

O casamento é um ato solene. Se for realizado sem as solenidades previstas na lei, o


casamento será INEXISTENTE, bem como o é aquele em que os cônjuges não manifestam
seu consentimento.

IMPORTANTÍSSIMO!!! O STF declarou constitucional a união civil (casamento) de


pessoas do mesmo sexo.

O art. 1.511 do CC proclama que o casamento gera comunhão plena de vida. Ao


dizer isso, se refere a comunhão nos planos material e espiritual (de afeto, compreensão
etc.).

O casamento cria a família legítima. A união estável, reconhecida pela CF e pelo


CC como entidade familiar, gera a denominada família natural. Quando formada somente
por um dos pais e seus filhos, denomina-se família monoparental (art. 226 § 4º, CF).

#Qual é a natureza jurídica do casamento?


É polêmica a questão da natureza jurídica do casamento, existindo três correntes:

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1ª) Teoria contratualista: o casamento é um contrato de natureza especial, e com regras


próprias de formação. É a visão adotada pelo Código Civil português. No Brasil, é
capitaneada por Sílvio Rodrigues.

2ª) Teoria institucionalista: o casamento é uma instituição, tese sustentada, entre outros, por
Maria Helena Diniz e Rubens Limongi França. Há nessa corrente uma forte carga moral e
religiosa.

3ª) Teoria mista ou eclética (contrato especial): considera que o casamento é um contrato
especial de direito de família, mediante o qual os nubentes aderem a uma instituição pré-
organizada, alcançando o estado matrimonial. Logo, o casamento é uma instituição quanto ao
conteúdo e um contrato especial quanto à formação. É a corrente que prevalece!

São inovações trazidas pelo novo CC em relação ao casamento:

a) Gratuidade da celebração do casamento.


b) Regulamentação e facilitação do registro civil do casamento religioso.
c) Redução da capacidade do homem para casar-se para 16 anos.
d) Casamento por procuração mediante instrumento público, com validade restrita a 90
dias.
e) Consolidação da igualdade entre os cônjuges, aos quais compete a direção da sociedade
conjugal, com o desaparecimento da figura do chefe de família.
f) Oficialização do termo sobrenome e possibilidade de adoção do utilizado pelo outro por
qualquer dos nubentes.

2- DA CAPACIDADE PARA O CASAMENTO E DO PROCESSO DE


HABILITAÇÃO

Não se pode confundir a incapacidade para o casamento com os impedimentos


matrimoniais. Isso porque a incapacidade é geral, impedindo que a pessoa se case com
qualquer um que seja. Já os impedimentos matrimoniais atingem determinadas pessoas, em
situações específicas. Em outras palavras, os impedimentos envolvem a legitimação, que é a
capacidade especial para celebrar determinado ato ou negócio jurídico.

O Estado cerca o casamento de uma série de solenidades.

O processo de habilitação serve para: (a) constatar a capacidade para o casamento,


(b) constatar a inexistência de impedimentos e (c) para dar publicidade à intenção de casar-se.

2.1 PROCEDIMENTO

a) Os noivos devem requerer a instauração do processo de habilitação no cartório de registro


civil do seu domicílio.

Obs.: Se morarem em lugares distintos, o processo de habilitação corre no cartório do registro


civil de qualquer deles. Nesse caso, porém, o edital será publicado em ambos.

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Art. 1.526.  A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do


Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. 
Parágrafo único.  Caso haja impugnação do oficial, do Ministério
Público ou de terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. 

b) Os proclamas serão fixados em local ostensivo do cartório e publicados na imprensa

c) Ouve-se o Ministério Público (pode requerer diligências, nos termos do art. 1.526 do CC).

d) O juiz homologa

IMPORTANTE!!! A habilitação tem VALIDADE DE 90 DIAS. Após esse prazo, os


nubentes deverão se habilitar novamente. Ex.: Em 03/03 é formalizada a habilitação. Tem-se
até 03/06 (90 dias depois) para casar-se.

Dispõe o art. 1.512 do CC que o casamento é civil e GRATUITA a sua celebração. O


parágrafo único do dispositivo afirma que a habilitação para o casamento, o registro e a
primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza
for declarada, sob as penas da lei.

2.2 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

É o art. 1.525 do CC que lista os documentos necessários para o requerimento de


habilitação. São eles:

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será


firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, A SEU PEDIDO,
POR PROCURADOR, e deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente;
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal
estiverem, ou ato judicial que a supra;
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que
atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de
casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos
contraentes e de seus pais, se forem conhecidos;
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do
registro da sentença de divórcio.

Merece destaque a certidão de nascimento ou documento equivalente (inciso I).


Serve para provar que os nubentes atingiram a idade núbil, que é de 16 anos.

IMPORTANTE!!! A Lei n.º 13.811/2019 alterou a redação do art. 1.520 do CC. Com a nova
redação do dispositivo, tem-se não ser permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 do CC (o qual reclama a autorização
dos pais ou representantes legais para que os maiores de 16 anos possam se casar, enquanto
não atingida a maioridade civil).

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Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem


não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 13.811, de 2019)

IMPORTANTE!!! Quanto à gravidez, permanece em vigor o comando no sentido de que não


se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.
Art. 1.551. Não se anulará, POR MOTIVO DE IDADE, o casamento de
que resultou gravidez.

Ex.: Menina de 15 anos se casou. Esse casamento, a priori, é anulável, nos termos do art.
1.550 do CC. Se ela ficar grávida e se casar, esse casamento NÃO será mais anulável por
motivo de idade.
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;

IMPORTANTE!!! Impor-se-á o regime de separação obrigatória/legal sempre que houver


a necessidade de suprimento judicial para realização do casamento (ex.: suprimento de
idade) - art. 1.641, III, do CC.
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº
12.344, de 2010)
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Se, pela certidão de nascimento, for verificado que algum dos nubentes tem mais de
70 anos (alteração realizada em 2010, sendo que anteriormente a idade prevista era de
60 anos), também se imporá o regime de separação de bens. Alguns entendem que esse
dispositivo é inconstitucional, já que afrontaria o princípio da igualdade.

IMPORTANTE!!! Merece destaque, ainda, quanto ao processo de habilitação, a exigência de


autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem (inciso II, art. 1.525 do
CC), ou ato judicial que a supra. Como visto, a idade núbil é de 16 anos. Porém, é exigido
dos menores de 18 anos a autorização de seus pais (necessário o consentimento de ambos os
pais) ou tutores, para que possam se casar, ou prova do ato de suprimento judicial ou da
emancipação. A anuência dos pais, tutores e curadores pode ser revogada até a
celebração (art. 1.518 do CC).

Em caso de divergência dos pais, é assegurado a qualquer dos genitores o direito de


recorrer ao juiz para a solução do desacordo verificado no exercício do poder familiar.

Se o pai, tutor ou curador se negar a dar a autorização, o próprio interessado pode


pedir o suprimento judicial da vontade. Nesse caso, o incapaz poderá outorgar procuração
ao advogado, sem ser assistido, já que há evidente colidência de interesses.

IMPORTANTE!!! O pródigo não é impedido de se casar. Entretanto, deve ser assistido por
curador quando da celebração do pacto antenupcial, que é ato de disposição do patrimônio.

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Em relação ao inciso V do art. 1.525 do CC, o viúvo deve provar o seu estado com a
certidão de óbito do cônjuge falecido. E se um dos cônjuges for divorciado, não bastará a
certidão do trânsito em julgado da sentença que decretou o divórcio, é preciso juntar a
certidão de registro dessa sentença no cartório de registro civil.

CAPÍTULO II
DOS IMPEDIMENTOS

1- INTRODUÇÃO

Os requisitos essenciais do casamento são: consentimento e celebração na forma da


lei (o antigo requisito da distinção de sexos encontra-se superado). Faltando qualquer
deles, o casamento será INEXISTENTE. Porém, outros requisitos devem ser observados para
a validade e regularidade do casamento. O art. 1.521 do CC traz um rol taxativo de pessoas
que não podem casar, situações que envolvem a ordem pública.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Recentemente o STF declarou constitucional o casamento


entre pessoas do mesmo sexo.

As causas impeditivas têm o objetivo de evitar reuniões que possam, de algum modo,
ameaçar a ordem pública. Sua inobservância como visto, gera a nulidade do ato.
Art. 1.521. NÃO PODEM casar (impedimentos):
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas; (não se aplica à união estável se a pessoa estiver
separada de fato ou judicialmente)
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado (exige-se trânsito em
julgado) por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

As causas impeditivas tratam das pessoas que não podem se casar.

As causas impeditivas visam proteger certos valores, como: a eugenia (pureza da


raça), a moral familiar, a monogamia e evitar uniões que tenham raízes no crime.

Assim, os impedimentos podem ser divididos em: impedimento resultante de


parentesco; impedimento resultante de casamento anterior e impedimento resultante de
crime.

IMPORTANTE!!! Como os impedimentos visam resguardar a ordem pública, qualquer


pessoa capaz tem legitimidade para alegá-los.
Art. 1.522. Os IMPEDIMENTOS podem ser opostos, até o momento da
celebração do casamento, por QUALQUER PESSOA CAPAZ.

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Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da


existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo (de ofício).

Vamos estudá-los separadamente:

 Impedimentos resultantes do parentesco

Art. 1.521, incisos I ao V, do CC.

a) Parentesco por consanguinidade:

Não podem casar os ascendentes com descentes (ex.: pai com filha; neto com avó).
Duas são as razões do impedimento: a) Razão moral – evitar o incesto (relações sexuais entre
pessoas da mesma família); b) Razão biológica – evitar problemas congênitos à prole, comuns
em casos tais.

Não podem casar os irmãos (havidos ou não de casamento, sejam unilaterais ou


bilaterais).

Não podem casar os colaterais até terceiro grau (exceção: casamento avuncular,
definido como o casamento entre tios e sobrinhos se uma junta médica apontar que não há
risco biológico. Segundo a doutrina, trata-se de uma aplicação do princípio da especialidade,
prevalecendo o Decreto Lei 3.200/41, ainda em vigor – lei especial – sobre o CC de 2002 – lei
geral posterior).

Obs.: Primos são parentes colaterais de 4º grau. Portanto, podem se casar.

O casamento entre consanguíneos pode gerar a impureza da raça e prejudicar a


variabilidade genética. Esse é um dos motivos do impedimento.

Ocorre que, existe hipótese em que o casamento poderá ser dar entre parentes
colaterais. É o denominado “casamento avuncular”, que é o casamento entre tios e
sobrinhos, permitido expressamente pelo Decreto Lei 3200/41:

Art. 1º O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau, é


permitido nos termos do presente decreto-lei.
Art. 2º Os colaterais do terceiro grau, que pretendam casar-se, ou seus
representantes legais, se forem menores, requererão ao juiz competente
para a habilitação que nomeie dois médicos de reconhecida capacidade,
isentos de suspensão, para examiná-los e atestar-lhes a sanidade,
afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da sanidade,
afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da saúde de
qualquer deles e da prole, na realização do matrimônio.

Portanto, para a realização do casamento avuncular é necessária autorização judicial


e que uma junta médica comprove a ausência de problemas genéticos quanto à futura
prole.

José Fernando Simão, refletindo sobre o tema, traz interessante questionamento: na


hipótese de casamento avuncular entre pessoas do mesmo sexo, as exigências do Decreto-lei

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3200 de 1941 têm aplicação?

Para o ilustre doutrinador, a resposta deve ser negativa. Isso porque casais de pessoas
do mesmo sexo terão filhos por adoção (hipótese em que o filho não terá material genético de
nenhum de seus pais ou suas mães) ou utilizando-se as técnicas de reprodução humana
assistida. Nesta hipótese, o material genético será de apenas um deles (um dos cônjuges doa
esperma ou óvulo e recebem o outro gameta de um terceiro) ou de nenhum dos dois (recebem
em doação óvulo e esperma).
 
Sendo impossível que o casamento gere problemas à prole, o casamento
avuncular homoafetivo pode ser admitido sem a necessidade de qualquer autorização
judicial ou exame médico.

b) Parentesco por afinidade:

Há parentesco por afinidade entre um cônjuge (ou companheiro) e os parentes do


outro consorte (ou convivente).

Não podem casar os afins em linha reta (ex.: genro com sogra; padrasto com a
enteada). A proibição refere-se apenas à linha reta até o infinito. Na linha colateral de
afinidade, não há impedimento (ex.: cônjuge viúvo pode se casar com cunhada). A afinidade
resulta do casamento ou da união estável.

Esse impedimento visa preservar a moral familiar. Com efeito, a dissolução do


casamento não extingue o parentesco por afinidade em linha reta (art. 1.595, §2º, do CC).
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.

c) Parentesco por adoção:

Não podem se casar o adotante com quem foi cônjuge do adotado, o adotado com
quem foi cônjuge do adotante e o adotado com o filho do adotante (são irmãos). Vale a
máxima pela qual a adoção imita a família consanguínea.

A adoção imita a família, sem qualquer distinção. Por isso, esse impedimento tem fins
de preservar a moral da família. Na realidade, essas disposições são inúteis, bastando as do
parentesco comum, por inexistir diferença entre o vínculo da adoção e o sanguíneo.

 Impedimento resultante de casamento anterior

Art. 1.521, VI, do CC.

Não podem casar as pessoas já casadas. O Brasil não admite a poligamia. Assim, só
é possível um vínculo matrimonial por vez. O impedimento só desaparece após a dissolução
do anterior vínculo matrimonial pela morte, anulação, divórcio ou morte presumida do
ausente (abertura da sucessão definitiva).

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Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto
ao ausente.

IMPORTANTE!!! O casamento anterior exclusivamente religioso (sem a observância


das formalidades para que produza efeitos civil) não é impedimento (mesmo porque esse
casamento é inexistente, uma vez que não observou as formalidades necessárias).

 Impedimento resultante de crime (doloso)

Não pode casar o cônjuge sobrevivente com a pessoa que foi CONDENADA por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o consorte. O impedimento só existe se o crime
for praticado a título de dolo e em havendo condenação criminal transitada em julgado
(incidência do princípio da presunção de não culpabilidade). Logo, se o casamento ocorre no
curso da instrução criminal, será reputado válido, pois quando da celebração não havia
limitação à autonomia privada.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Todos esses IMPEDIMENTOS também impedem a existência


de união estável (art. 1.723, §1º, do CC), ressalvada a hipótese em que a pessoa casada se
acha separada de fato ou judicialmente. Já as CAUSAS SUSPENSIVAS não impedirão a
união estável.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a UNIÃO ESTÁVEL


entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável NÃO SE CONSTITUIRÁ se ocorrerem os
IMPEDIMENTOS do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso
VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente.
§ 2o As CAUSAS SUSPENSIVAS do art. 1.523 NÃO impedirão a
caracterização da união estável.

EXCEÇÃO!!! As pessoas casadas podem contrair união estável se separadas de fato ou


judicialmente.

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CAPÍTULO III
DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

Art. 1.523. NÃO DEVEM casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não
cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

As causas suspensivas do casamento são situações de menor gravidade, relacionadas a


questões patrimoniais e de ordem privada. Não geram nulidade absoluta ou relativa do
casamento, mas apenas impõem sanções patrimoniais aos cônjuges. A sanção principal é o
regime da separação legal ou obrigatória de bens (art. 1.641, I, do CC). As causas suspensivas
demonstram que é prudente aguardar certo tempo para que o casamento se realize
regularmente (o art. 1.523 do CC faz uma recomendação prevendo que, em tais situações, as
pessoas não devem casar). São determinadas circunstâncias capazes de suspender a realização
do casamento. Se infringida uma CAUSA SUSPENSIVA o casamento não é nulo nem
anulável. Será apenas IRREGULAR.

O único efeito da violação de causa suspensiva é que o REGIME,


OBRIGATORIAMENTE, SERÁ O DA SEPARAÇÃO DE BENS.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;

As causas suspensivas visam proteger interesses de terceiros, em geral da prole do


leito anterior, do ex-cônjuge e da pessoa influenciada pelo abuso de confiança ou autoridade
exercida pelo outro.

IMPORTANTE!!! Como visam apenas proteger interesse de terceiro, as causas suspensivas


podem deixar de ser respeitadas (e o casamento se realiza normalmente) se ficar provado que
inexiste prejuízo para essas pessoas.

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Art. 1.523.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do
inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

Atenção!!! Nas CAUSAS SUSPENSIVAS as pessoas NÃO DEVEM CASAR, mas nada
impede que se casem.

IMPORTANTE!!! As causas suspensivas dizem respeito somente à família. Assim, a lei


restringe a legitimação para sua alegação aos parentes em linha reta e aos colaterais em
segundo grau de um dos nubentes, diferentemente, portanto, das causas impeditivas, as
quais podem ser alegadas por qualquer interessado.
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser
arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam
consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam
também consanguíneos ou afins.

1- CONFUSÃO PATRIMONIAL

Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. Além da imposição do regime
da separação obrigatória de bens, essa causa suspensiva gera uma segunda sanção, qual seja a
imposição de uma hipoteca legal em favor dos filhos sobre os bens imóveis que passarem a
outras núpcias antes de ser feito o inventário do cônjuge falecido (art. 1.489, II, do CC). Se o
filho for apenas do cônjuge falecido, ou seja, não for filho do viúvo ou viúva que pretende se
casar novamente, não se impõe a causa suspensiva ao cônjuge sobrevivente, pois se trata de
limitação da autonomia privada que somente pode decorrer de lei, não admitindo
interpretação extensiva ou analogia. O mesmo ocorre se o filho for apenas daquele que
pretende se casar.

Esse dispositivo visa evitar confusão na hora de dividir a herança do morto.

IMPORTANTE!!! Inventário negativo: é uma construção doutrinária e jurisprudencial.


Serve para provar que não existe patrimônio a ser partilhado, demonstrando, assim, a
inexistência de prejuízo aos herdeiros, o que afasta, por via de consequência, a causa
suspensiva.

Ainda com o objetivo de evitar confusões patrimoniais, o inciso III do art. 1.523 do
CC prevê causa suspensiva diversa, assinalando que não deve se casar o divorciado, enquanto
não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal. Essa previsão foi
incluída no CC de 2002, uma vez que o divórcio pode ser concedido sem que haja prévia
partilha dos bens, o que abrange o divórcio extrajudicial (art. 1.581 do CC). Anote-se que a lei
exige apenas a homologação ou decisão da partilha, não a sua efetivação em si.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Não DEVE casar o divorciado enquanto não houver ocorrido a


partilha dos bens do casal (LEMBRAR QUE É POSSÍVEL O DIVÓRCIO E A

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SEPARAÇÃO SEM PRÉVIA PARTILHA).

Lembrar!!! O divorciado pode se casar sem prévia partilha, só que o regime de bens será,
obrigatoriamente, o de separação de bens.

Este dispositivo visa impedir a confusão na hora de dividir os bens do casal.

2- CONFUSÃO DE SANGUE (TURBATIO SANGUINIS)

Não deve casar a viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou
anulável nos 10 meses posteriores ao começo da viuvez ou da dissolução da sociedade
conjugal.

Tem o objetivo de evitar dúvida sobre a paternidade da criança que venha a nascer
nesse interregno.

IMPORTANTE!!! Se a mulher provar o nascimento da criança, inexistência de gravidez,


aborto ou se a gravidez for notória quando da dissolução da antiga sociedade conjugal, essa
causa suspensiva é superada. Quer-se dizer, se não há possibilidade de dúvida sobre a
paternidade da criança, não subsiste a causa suspensiva.

3- TUTELA E CURATELA

Não devem casar o tutor ou curador (e seus descendentes, ascendentes, irmãos,


cunhados ou sobrinhos) com a pessoa tutelada ou curatelada enquanto não cessar a
tutela/curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

A razão é moral, pois, supostamente, o tutor ou curador poderia induzir o tutelado ou


curatelado a erro, diante de uma relação de confiança, o que geraria repercussões
patrimoniais.

IMPORTANTE!!! Como as demais causas suspensivas, também pode ser afastada provando-
se a inexistência de prejuízo.

4- OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

Dispõe o art. 1.529 do CC que tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas


serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou
com a indicação do lugar onde possam ser obtidas.

O Código Civil tratou de modo diferente os impedimentos e as causas suspensivas do


casamento. Os IMPEDIMENTOS podem ser opostos no processo de habilitação e ATÉ O
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO do casamento por QUALQUER PESSOA CAPAZ. Se
o juiz – ou o oficial de registro – tiver conhecimento da existência de algum impedimento,
será obrigado a declará-lo (art. 1.522 do CC). No entanto, se, apesar do impedimento, o
casamento se realizar, este poderá ter declarado sua nulidade, a qualquer tempo, e por
iniciativa de qualquer interessado ou do Ministério Público (já não poderá mais o juiz agir

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

oficiosamente, nos termos do art. 1.549 do CC).

As CAUSAS SUSPENSIVAS dizem respeito somente à família. Assim, o Código


Civil restringe a legitimação para alegar as causas suspensivas aos PARENTES EM
LINHA RETA E AOS COLATERAIS EM SEGUNDO GRAU de um dos nubentes. Nem
mesmo o Ministério Público pode alegá-las. Podem ser opostas somente no curso do
processo de habilitação, até o decurso do prazo de 15 dias da publicação do proclamas.

CAPÍTULO IV
DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

1- FORMALIDADES

O casamento é um ato bastante formalista. É marcado por um verdadeiro ritual, com


significativa incidência de normas de ordem pública. Os nubentes, munidos da certidão de
habilitação, devem requerer ao oficial de registro que marque dia, hora e local da sua
celebração.

O local é, em geral, a sede do cartório. Porém, pode ser escolhido outro local, público
ou particular. É importante que as portas permaneçam sempre abertas.

No tocante à hora, pode ser realizado de dia ou a noite, inclusive nos domingos.

Em relação às testemunhas, o Código Civil exige a presença de pelo menos duas


(podem ser parentes ou não dos contraentes). Se algum dos cônjuges não souber ou não puder
escrever, colhe-se a digital e o número de testemunhas sobe para quatro. Também aumenta
para 4 se o casamento se realizar em edifício particular. A presença dos nubentes deve ser
simultânea.

2- CASAMENTO POR PROCURAÇÃO

É possível que o casamento se realize mediante procuração por INSTRUMENTO


PÚBLICO, com poderes especiais para celebração do casamento.
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se MEDIANTE PROCURAÇÃO,
por INSTRUMENTO PÚBLICO, com poderes especiais.

IMPORTANTE!!! Se ambos os nubentes não puderem comparecer, devem nomear


procuradores diferentes.

A eficácia do mandato dura por 90 dias (art. 1.542, §3º, do CC). Vale dizer, se a
procuração for outorgada em determinado dia, o casamento deve se realizar dentro do prazo
de 90 dias a contar da outorga, caso contrário a procuração caduca.

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Pelo paralelismo das formas, o mandato pode ser revogado pela mesma forma com
que foi celebrado, ou seja, por instrumento público (art. 1.542, §4º, do CC). A revogação
não precisa chegar ao conhecimento do procurador ou do outro nubente para produzir
efeitos. Entretanto, se for celebrado o casamento sem que se tenha dado ciência da revogação
do mandato, o mandante responderá por perdas e danos (art. 1.542, §1º, do CC).

IMPORTANTE!!! Será ANULÁVEL o casamento feito pelo mandatário sem que ele ou o
outro cônjuge soubesse da revogação do mandato, desde que NÃO tenha havido coabitação
entre os cônjuges (art. 1.550, V, do CC). Quem tem interesse em anular é o cônjuge que deu
e depois revogou a procuração.
Art. 1.550. É anulável o casamento:
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse
da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;

3- MOMENTO DA CELEBRAÇÃO

A celebração do casamento obedece a formalidades essenciais (ad solemnitatem), que,


se ausentes, tornarão o ato INEXISTENTE.

Uma das principais solenidades exigidas no casamento ocorre no momento em que o


juiz pergunta aos nubentes, um após o outro, se persistem no propósito de casar.

Deve ser inequívoca a manifestação da vontade (a manifestação pode ser por


escrito, palavras ou gestos, desde que seja inequívoca). O silêncio nesse caso não pode ser
interpretado como manifestação de vontade.

A celebração será suspensa se algum dos nubentes não afirmar livremente que deseja
se casar e não é possível a retratação no mesmo dia. Ex.: um dos cônjuges jocosamente
brinca afirmando não querer se casar. Em tal cenário, a celebração será suspensa e não poderá
ser retomada no mesmo dia.

Obs.: Se a retratação for admitida no mesmo dia o casamento será nulo.

Se ambos responderam afirmativamente, o juiz os declara casados, dizendo as


palavras constantes do art. 1.535 do CC.

IMPORTANTE!!! O momento específico em que o casamento é realizado é após a


declaração do juiz. Sem ela o casamento é inexistente (art. 1.514 do CC).
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher
manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o
juiz os declara casados.

Atenção!!! Não basta só a manifestação afirmativa da vontade. Esta deve vir acompanhada
da declaração do juiz. O casamento só se tem por concluído com a solene declaração do
celebrante. Sem essa declaração, será inexistente.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Logo depois de celebrado o casamento, lavrar-se-á o assento no livro de registro. A


lavratura do assento constitui formalidade ad probationem tantum, e não ad solemnitatem,
pois ocorre depois que o casamento já está concluído e aperfeiçoado.

CAPÍTULO V
DAS PROVAS DO CASAMENTO

1- CERTIDÃO DE REGISTRO

Prescreve o art. 1.543 do CC que o casamento celebrado no Brasil se prova pela


certidão do registro (sistema de prova pré-constituída). O parágrafo único do dispositivo
anuncia que “justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra
espécie de prova”. Essa prova supletória se faz em duas fases: primeiro se prova o fato que
ocasionou a perda ou falta do registro; depois, se admitidas as primeiras, serão
admitidas testemunhas, registros em passaporte, nascimento do filho etc.

Aduz o art. 1.546: “quando a prova da celebração legal do casamento resultar de


processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que
toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do
casamento”.

Prova-se o casamento celebrado fora do Brasil de acordo com a lei do país onde se
celebrou. Dispõe o art. 1.544 do CC que “o casamento de brasileiro, celebrado no
estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser
registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao
Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1 o Ofício da Capital do
Estado em que passarem a residir”.

2- POSSE DO ESTADO DE CASADOS

A posse do estado de casado é a situação de duas pessoas que viveram como casadas
e assim eram consideradas por todos. Trata-se de prova indireta do casamento, fundada na
demonstração efetiva da situação de casados.

Preceitua o art. 1.545 que “o casamento de pessoas que, na posse do estado de


casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em
prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que prove que já era
casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado”. Tal situação somente

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poderá ser alegada pelos filhos e se mortos ambos os cônjuges, uma vez que, se um dos
cônjuges estiver vivo, este poderá indicar o local onde se realizou o casamento, para que os
filhos obtenham a certidão.

Os elementos que caracterizam a posse do estado de casado são:

a) Nomen (ou nominatio), indicativo de que um cônjuge utiliza o nome do outro.


b) Tractatus (ou tratactio), indicativo de que se tratavam publicamente como se fossem
casados.
c) Fama (ou reputatio), indicativo de que a sociedade reconhece nas partes pessoas casadas.

De acordo com o art. 1.547 do CC, na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias,
julgar-se-á pelo casamento (regra hermenêutica do in dubio pro matrimonio), se os
cônjuges, cujo casamento se impugna viverem ou tiverem vivido na posse do estado de
casados.
CAPÍTULO VI
ESPÉCIES DE CASAMENTO

1- CASAMENTO VÁLIDO

De acordo com o Código Civil existem: casamento válido; casamento nulo;


casamento anulável. A doutrina inclui também o casamento inexistente.

São espécies de casamento válido:

1.1 CASAMENTO PUTATIVO

É o casamento que, embora nulo ou anulável, foi contraído de boa-fé por um ou por
ambos os cônjuges, gerando, para esse(s) que estava(m) de boa-fé, efeitos de casamento
válido. Do latim, putare significa crer, imaginar. O casamento putativo gera efeitos em
relação ao cônjuge que esteja de BOA-FÉ SUBJETIVA (ignorando o motivo de nulidade ou
anulação).
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por
ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos,
produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

A boa-fé consiste na ignorância (de fato ou de direito) da existência de impedimento


para o matrimônio (ex.: João casa com Maria sem saber que eram irmãos separados na
maternidade; ex.: pessoa sem instrução se casa com sobrinha também sem instrução
desconhecendo impedimento resultante do casamento avuncular sem exame pré-nupcial por
junta médica). O momento em que se apura a boa-fé é o da celebração do casamento, sendo
irrelevante eventual conhecimento da causa de invalidade posterior à celebração. De acordo
com a LINDB, a ignorância da lei é inescusável. Entretanto, servirá para provar a boa-fé

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subjetiva.

Na sentença em que proclama a invalidade do casamento, o juiz declara a putatividade


de ofício ou a requerimento da parte.

IMPORTANTE!!! Quando um cônjuge casa mediante coação, a rigor não se poderia


reconhecer a putatividade já que o coato não ignora a coação. Entretanto o senso ético-
jurídico recomenda que este seja equiparado, no plano dos efeitos, ao cônjuge de boa-fé.

IMPORTANTE!!! A eficácia da decisão que anula o casamento gera efeitos “ex nunc” para
o cônjuge de boa-fé, já que, para ele, o casamento gera efeitos de válido até a declaração da
invalidade. Os efeitos do casamento cessam para o futuro, sendo considerados produzidos
todos os efeitos que se tenha verificado até a data da sentença anulatória.

Obs.: Se, em virtude de casamento putativo, um menor se emancipou, permanecerá


emancipado, caso tenha contraído o matrimônio de boa-fé, mesmo após a anulação do
casamento.

Obs.: Todos os efeitos quanto ao regime de bens são produzidos. Se somente um dos cônjuges
estava de boa-fé, adquirirá a meação dos bens levados ao casal pelo outro cônjuge que estava
de má-fé.

IMPORTANTE!!! Os efeitos da putatividade podem ocorrer no casamento NULO ou


ANULÁVEL, como consta no art. 1.561 do CC. Não é possível o reconhecimento de
putatividade no casamento INEXISTENTE.

#Casamento putativo dá direito a alimentos? (IMPORTANTE!!!)


Existe divergência se o casamento putativo gera ou não o direito a alimentos após a
sentença que o anula. Existem duas correntes:

1ª  STF: o cônjuge culpado não pode furtar-se ao pagamento de alimentos se o inocente


deles necessitar. A putatividade consiste em assegurar aos cônjuges de boa-fé os efeitos de
casamento válido, e entre esses efeitos se encontra o direito a alimentos, sem limitação de
tempo.

2ª  STJ (mais recente): após a sentença que anula o casamento esse não gera mais efeitos,
já que as partes não são mais cônjuges. Quer dizer, a putatividade garante os efeitos de
casamento válido até a sentença que anula , não produzindo efeitos posteriores. “A mulher
que reclama alimentos a eles tem direito, mas até a data da sentença. Anulado ou declarado
nulo o casamento, desaparece a condição de cônjuges”.

Os filhos são protegidos mesmo se nenhum dos cônjuges estiver de boa-fé. Como a
Constituição Federal não permite qualquer distinção entre filho havido fora do casamento e
filho havido na constância do casamento, essa disposição perdeu totalmente a eficácia.

1.2 CASAMENTO NUNCUPATIVO E EM CASO DE MOLÉSTIA GRAVE

Como visto, o casamento é um ato por demais formal. Ocorre que, em duas situações,

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por causa da urgência, essas formalidades são deixadas um pouco de lado. A primeira é em
caso de moléstia grave (art. 1.539 do CC). A segunda é quando um dos cônjuges está em
iminente risco de vida (art. 1.540 do CC).

O casamento em caso de MOLÉSTIA GRAVE pressupõe que tenha havido prévia


habilitação, só que, em razão de grave moléstia, um dos cônjuges não pode locomover-se até
o local da cerimônia. Nesse caso, a autoridade celebrante irá até onde se encontra o doente,
mesmo durante a noite, na companhia de duas testemunhas. Nada obstante, Flávio Tartuce
aponta a existência de precedente do TJRS no sentido de que a urgência dispensa o processo
de habilitação anterior.
Art. 1.539. No caso de MOLÉSTIA GRAVE de um dos nubentes, o
presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente,
ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever.
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o
casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial
do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo
registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

A segunda hipótese é o CASAMENTO NUNCUPATIVO (em viva voz), que se dá


quando um dos cônjuges está em iminente risco de vida. Nesse caso dispensa-se a
habilitação dada a extrema urgência. O moribundo (desde que esteja consciente) e o outro
cônjuge devem manifestar, de VIVA VOZ, a inequívoca intenção de casarem-se na presença
de seis testemunhas, que não sejam parentes dos nubentes em linha reta ou em linha colateral
até o segundo grau (irmão). Como se pode notar, não há a presença da autoridade celebrante
prevista em lei, ao contrário da modalidade prevista no art. 1.539 do CC.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de
vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato,
nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de
seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha
reta, ou, na colateral, até segundo grau.

Essas seis testemunhas devem comparecer, no prazo de 10 dias, perante a autoridade


judiciária mais próxima a fim de que sejam reduzidas a termo suas declarações.

Posteriormente, o juiz deve verificar a inexistência de impedimentos e proferir


sentença declarando-os casados. Os efeitos da sentença retroagem à data da celebração do
casamento.

Se o enfermo sobreviver, deverá ser ratificado o casamento. Não se trata de novo


casamento, mas de confirmação do já realizado.

1.3 CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS

No casamento religioso com efeitos civis, a única diferença é que a celebração não se
fará pelo juiz de paz, mas sim pelo sacerdote. A doutrina sustenta, com base na laicidade e
pluralidade do Estado brasileiro, que o casamento pode ser celebrado perante qualquer
religião.

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É EXIGIDA A HABILITAÇÃO, que pode ser prévia ou posterior ao casamento


religioso.

Se a habilitação for anterior ao casamento religioso, este deverá ser registrado no


registro civil dentro de 90 dias (prazo decadencial). Caso desatendido o prazo mencionado,
será necessária nova habilitação.

Se o casamento religioso for feito ainda sem a habilitação, as partes deverão


providenciá-la a qualquer tempo e pedir o posterior registro civil do casamento religioso.

IMPORTANTE!!! Em ambos os casos OS EFEITOS RETROAGIRÃO à data da


celebração no religioso (art. 1.515 do CC).

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a


validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no
registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.

IMPORTANTE!!! Suponha-se que, em 15/04, João celebra casamento religioso com Maria.
O casamento ainda não foi submetido a registro civil. Em 15/05, João contrai casamento civil
com Flavia. Nesse caso valerá o casamento contraído com Flavia. O casamento realizado com
Maria será nulo (art. 1.516, §3º, do CC).
Art. 1516
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele,
qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento
civil.

1.4 CASAMENTO CONSULAR

É aquele celebrado no estrangeiro, por brasileiro, mediante autoridade consular


brasileira.

Para ser válido, o casamento consular deverá ser registrado no Brasil em 180 dias a
contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil.

1.5 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

A Constituição Federal determina que seja facilitada a conversão da união estável em


casamento.

Contrariando esse mandamento constitucional, o art. 1.726 do CC diz que a união


estável poderá ser convertida em casamento mediante requerimento ao juiz.

Assim, ao invés de ter que recorrer ao judiciário, é mais fácil que os conviventes se
casem regularmente. Sendo assim, o art. 1.726 do CC desatende ao previsto no art. 226, §3º,
da CF.

2- CASAMENTO INVÁLIDO

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Existem três níveis de invalidade do casamento (embora o legislador civil tenha feito a
opção de não tratar da inexistência dos atos, mas apenas da nulidade absoluta e da nulidade
relativa): a inexistência, a nulidade absoluta e a nulidade relativa (anulabilidade).

2.1 CASAMENTO INEXISTENTE

Para que o casamento exista, é necessária a presença de requisitos essenciais. São


eles:

a) Diferença de sexos (requisito que não mais gera inexistência do casamento)


b) Manifestação de vontade
c) Solenidades

IMPORTANTÍSSIMO!!! O Supremo Tribunal Federal, dando interpretação conforme a


constituição, declarou constitucional o casamento de pessoas do mesmo sexo.
Reconheceu o STF, em maio de 2011, que a união homoafetiva deve ser equiparada à
união estável para todos os efeitos, inclusive para a conversão em casamento, aplicando-
se o art. 1.726 do CC.

Se faltar qualquer desses requisitos, o casamento sequer existirá. Tratar-se-á de mero


fato, incapaz de produzir qualquer efeito jurídico. Terá apenas a aparência de casamento, mas,
na verdade, será um nada jurídico.

Admitir-se-á o conhecimento da inexistência a qualquer tempo, não estando sujeito a


prescrição ou decadência.

Obs.: Como visto, o casamento inexistente não pode ser declarado putativo, já que o que
não existe não pode gerar efeito algum.

IMPORTANTE!!! Por aplicação do princípio do in dúbio pro matrimonio e da teoria da


aparência, o art. 1.554 do CC estatui que “subsiste o casamento celebrado por aquele que,
sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de
casamento e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no registro civil”.

Quanto ao requisito da vontade, a doutrina exemplifica ser inexistente o casamento


contraído mediante coação física (vis absoluta).

2.2 CASAMENTO E TEORIA DAS NULIDADES

Se existir, o casamento inválido poderá ser nulo ou anulável.

IMPORTANTE!!! Em geral, o ato nulo não gera qualquer efeito. Entretanto, em matéria de
casamento, o casamento nulo poderá gerar efeitos, SE FOR PUTATIVO.

A decretação de nulidade do casamento depende de ação. Isso significa dizer que não
pode ser declarada de ofício pelo juiz (princípio da não intervenção).

Casamento nulo  ação declaratória de nulidade (ex tunc): imprescritível, podendo ser

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público, mediante ação direta.

Casamento anulável  ação anulatória (ex nunc/ex tunc): é ação constitutiva negativa
sujeita, portanto, a prazos decadenciais. Segue-se o entendimento pelo qual o Ministério
Público não tem legitimidade para promover a referida ação que cabe, em regra, ao
interessado. Flávio Tartuce é partidário da tese de que a ação anulatória gozaria, em tais
hipóteses, de efeitos ex tunc, uma vez que, anulado o casamento, as partes voltam a ser
solteiras.

IMPORTANTE!!! Existe discussão se a sentença que anula o casamento anulável gera


efeitos ex nunc ou ex tunc. Entre os adeptos da 1ª corrente estão Maria Helena Diniz e outros.
Entre os adeptos da 2ª corrente estão Pontes de Miranda, Bevilaqua e outros. Se gerar efeitos
ex nunc, por exemplo, a parte menor que foi emancipada permanece emancipada; do
contrário, se os efeitos forem ex tunc, a emancipação estará fulminada.

IMPORTANTE!!! Ambas são ações de estado e como tais:

a) é OBRIGATÓRIA a intervenção do Ministério Público como custus iuris.


b) NÃO se operam os efeitos da revelia.
c) NÃO existe o ônus da impugnação específica.

 Casamento NULO

Somente em um caso o Código Civil, em seu art. 1.548, considera nulo o casamento:

 Com infringência de impedimento

Com o advento do Estatuto da Deficiência, deixou de ser nulo o casamento contraído


pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil, que passou a
ser plenamente VÁLIDO.

A declaração de nulidade tem efeitos retroativos e proclama que jamais existiu


casamento válido. Não subsistem quaisquer de seus efeitos (a não ser que seja putativo ).
Protege-se, entretanto, a aquisição de direitos a título oneroso por terceiros de boa-fé.
Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à
data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título
oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada
em julgado.

De se relembrar, entretanto, que, enquanto não declarado nulo, o casamento produz


todos os seus efeitos (eficácia interimística).

Lembrar!!! Embora o juiz deva pronunciar de ofício a nulidade dos atos em geral, A
NULIDADE NO CASAMENTO SÓ PODE SER DECLARADA POR MEIO DE AÇÃO
DIRETA (promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público).

Atenção!!! Em verdade, o casamento nulo gera ao menos um efeito: o de gerar a causa


suspensiva segundo a qual a mulher não deve se casar nos 10 meses seguintes para não gerar

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dúvida quanto à paternidade da criança.

O casamento nulo aproveita aos filhos, e a paternidade é certa.

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por


ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz
todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

IMPORTANTE!!! A legitimidade para a propositura da ação declaratória de nulidade é de


qualquer interessado (exige interesse econômico ou moral) e do Ministério Público.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos
no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta, por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

 Casamento ANULÁVEL

As causas de anulabilidade do casamento estão elencadas no art. 1.550 do CC.

Art. 1.550. É ANULÁVEL o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar (16 anos);
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1o. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente
decretada. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)   (Vigência)
§ 2o  A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade
DIRETAMENTE ou POR MEIO DE SEU RESPONSÁVEL OU
CURADOR. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)

O casamento anulável produz todos os efeitos enquanto não anulado por sentença
transitada em julgado (eficácia interimística).

IMPORTANTE!!! Segundo Carlos Roberto Gonçalves, a sentença que anula o casamento


gera efeitos retroativos, como ocorre em se tratando de casamento nulo, atacando o
casamento como se este jamais tivesse existido (a exceção também fica por conta da
putatividade). Lembra o autor que existe uma corrente que sustenta que os efeitos são ex
nunc.

IMPORTANTE!!! A legitimidade ativa é reservada somente às partes diretamente


interessadas (o Ministério Público não ostenta legitimidade) - arts. 1552, 1555 e 1559 do
CC.

Lembrar!!! Ministério Público só tem legitimidade ativa na ação de nulidade.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Art. 1.552. A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será


requerida:
I - pelo próprio cônjuge menor;
II - por seus representantes legais;
III - por seus ascendentes.

Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado


por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em
cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus
representantes legais ou de seus herdeiros necessários.
§ 1o O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a
incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no
terceiro, da morte do incapaz.
§ 2o Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido
os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo,
manifestado sua aprovação.

Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode
demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do
vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

São causas que geram casamento anulável:

a) Defeito de idade

É anulável o casamento do menor de 16 anos. A anulação deve ser pleiteada em 180


dias a contar de:

 Para os representantes legais ou ascendentes do menor, do dia da


celebração.
 Para o menor, do dia em que completar a idade núbil de 16 anos (tem
legitimidade para a ação anulatória mesmo sem ser representado ou assistido).

IMPORTANTE!!! De acordo com o disposto no art. 1.520 do CC, alterado pela Lei n.º
13.811/19, não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a
idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 do CC (necessidade de autorização dos
pais ou dos representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil, para que o
homem e a mulher com dezesseis anos possam casar).

IMPORTANTE!!! Conforme prescreve o art. 1.551 do CC, não se anulará por motivo de
idade o casamento de que resultar gravidez.

Se a ação de anulação for ajuizada pelos representantes/ascendentes do menor, este


poderá ratificar o casamento, com efeitos retroativos, assim que completar a idade núbil,
desde que ainda não tenha transitado em julgado a sentença que anular.

b) Falta de autorização do representante legal

Se faltar a autorização para o maior de 16 e menor de 18 se casar, o casamento será


anulável mediante ação que poderá ser proposta em 180 dias pelo:

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 Próprio menor, ao deixar de sê-lo


 Dos representantes legais que tinham o poder de autorizar, desde que não
tenham assistido ao ato ou de qualquer forma manifestado aprovação.
 Dos herdeiros necessários

c) Erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge

O art. 1.557 do CC estabelece, em rol taxativo, os casos que podem dar ensejo ao erro
essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, capaz de tornar ANULÁVEL o casamento.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao
cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne
insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de
moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Redação dada pela
Lei nº 13.146, de 2015)
IV - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

IMPORTANTE!!! Somente o cônjuge que incidiu em erro pode ajuizar a ação anulatória
(ação personalíssima). E o prazo para a ação foi aumentado de dois para TRÊS ANOS.

Em regra, a coabitação posterior, mesmo sabendo do vício, valida o ato, que não mais
poderá ser anulado (art. 1.559 do CC), salvo na hipótese do inciso III e IV do art. 1.559 do CC
(o inciso IV do dispositivo, que mencionava a ignorância, anterior ao casamento, de doença
mental grave, foi revogado pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência).

EXCEÇÃO!!! Permanece como exceção, atualmente, portanto, apenas o inciso III do art.
1.559 do CC, sendo que, na hipótese de defeito físico irremediável, capaz de pôr em risco a
saúde do outro cônjuge ou de sua descendência, a coabitação posterior não convalidará o
casamento.
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação,
pode demandar a anulação do casamento (PRAZO DE 3 ANOS); mas a
coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as
hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

Vamos analisar cada inciso separadamente:

I – erro sobre a identidade do outro cônjuge ou sua boa fama

Pode ser erro sobre a identidade física, quando o sujeito casa com outra pessoa, que
não a que pretendia (ex.: o noivo tem um irmão gêmeo por quem é trocado).

Pode ser erro sobre a honra/boa fama (ex.: homem que casa, sem saber, com pessoa
adepta de práticas sexuais não convencionais, a exemplo da zoofilia; mulher que após o
casamento descobre que o marido se entrega a práticas homossexuais; etc.).

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Para que seja anulável por erro sobre a pessoa, dois requisitos são exigidos:

 Que o defeito ignorado preexista ao casamento;


 Que a descoberta do defeito torne insuportável a vida em comum para o
cônjuge enganado.

A apreciação da presença desses requisitos será feita casuisticamente, tendo em conta


as características pessoais da pessoa enganada e as peculiaridades do caso.

II – ignorância de crime ULTRAJANTE (é ultrajante, diferente de não afiançável).

Caracteriza o erro sobre a pessoa quando o crime ignorado tiver sido praticado antes
do casamento e torne insuportável a vida conjugal.

IMPORTANTE!!! Não há necessidade do trânsito em julgado da sentença, bastando a


repercussão social do crime e a insuportabilidade da vida em comum. Exemplo: casar-se com
um grande traficante de drogas, fato ignorado. Não se exige também que o crime seja
inafiançável.

Lembrar!!! No caso de impedimento para casar é necessário que a pessoa seja condenada.
Art. 1.521. Não podem casar (impedimentos):
VII - o cônjuge sobrevivente com o CONDENADO por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.

III – defeito físico irremediável, que não caracterize deficiência, e moléstia grave e
transmissível, pelo contágio ou pela herança

Defeito físico irremediável é aquele que impede a concretização dos fins


matrimoniais. Em geral são graves defeitos nas genitálias que impedem o sexo (a exemplo do
hermafroditismo).

IMPORTANTE!!! A impotência couendi (impotência para o ato sexual) é causa de


anulação por dano físico irremediável. Por sua vez, a impotência generandi (esterilidade ou
incapacidade para ter filhos) não gera a anulabilidade do casamento.

A moléstia grave capaz de dar causa a anulação do casamento é aquela anterior ao


casamento que seja transmissível por contágio ou herança, capaz de pôr em risco o outro
cônjuge ou a prole (ex.: HIV, sífilis, hemofilia etc.).

d) Vício da vontade determinado pela coação

A coação aqui tratada é a coação moral (vis compulsiva). A coação física (vis
absoluta) torna o casamento inexistente em razão da ausência de livre manifestação da
vontade.

A ação anulatória, nesse caso, é personalíssima e somente poderá ser proposta pelo
cônjuge que sofreu a coação (no prazo de quatro anos a contar da celebração).

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De acordo com o art. 1.559 do CC, a prova da coabitação pode ser usada pelo coator
para impedir a anulação (adoção da vedação do comportamento contraditório – venire contra
factum proprium non potest). Entretanto, há que se considerar que a coabitação pode ter sido
feita também com coação.

e) Incapacidade de manifestação do consentimento

A incapacidade que torna anulável o casamento é a relativa, a incapacidade absoluta


torna nulo.

O prazo para a ação é de 180 dias a contar da celebração (e não da cessação da


incapacidade, como era anteriormente).

f) Realização por mandatário estando revogado o mandato

É anulável o casamento realizado por mandatário sem que ele ou o outro cônjuge
saibam da revogação do mandato.

Nesse caso, a parte que deu e revogou a procuração deverá ajuizar a ação para anular o
casamento, dentro de 180 dias de quando tiver ciência da celebração do casamento.

Obs.: Se houve coabitação, a anulação NÃO será possível.

g) Incompetência da autoridade celebrante

A incompetência que torna anulável o casamento é a ratione loci (ex.: um juiz de paz
de uma determinada localidade realiza o casamento em outra, fora de sua competência).

O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de 2 anos contados da


data da celebração do casamento (art. 1.560, II, do CC). O art. 1.554 do CC trata de hipótese
de convalidação de tal casamento, sanando a anulabilidade quando o celebrante, sem possuir a
competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa
qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.

A incompetência ratione materiae torna o casamento inexistente (ex.: quem casa é o


árbitro de futebol).

3- CASAMENTO IRREGULAR

O casamento contraído com a inobservância de CAUSA SUSPENSIVA não é nulo


nem anulável, mas apenas irregular.

O desrespeito a causa suspensiva gera o efeito de tornar OBRIGATÓRIO O


REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com INOBSERVÂNCIA DAS CAUSAS
SUSPENSIVAS da celebração do casamento;

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II – da pessoa MAIOR DE 70 (setenta) anos; 


III - de todos os que dependerem, para casar, de SUPRIMENTO
JUDICIAL.

Contudo, é permitido às partes provar a ausência de prejuízo, afastando o regime de


separação legal.
Art. 1.523.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do
inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

CAPÍTULO VII
EFICÁCIA JURÍDICA DO CASAMENTO
1- DISPOSIÇÕES GERAIS

O primeiro e principal efeito do casamento é a constituição de FAMÍLIA


LEGÍTIMA. A CF admite outras entidades familiares, porém, somente o casamento
constitui família legítima.

O segundo efeito previsto no art. 1.565 do CC é a mútua assunção, pelo casal, da


condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família (decorrência
da isonomia entre os cônjuges). Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o
sobrenome do outro.

O terceiro efeito é a imposição de deveres aos cônjuges.

O quarto é a imediata vigência, na data da celebração, do regime de bens, que em


princípio é IRREVOGÁVEL, só podendo ser alterado mediante AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO de AMBOS os cônjuges, apurada a procedência
das razões invocadas e RESSALVADOS os direitos de terceiros.
Art. 1.639
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO DE AMBOS

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OS CÔNJUGES, apurada a procedência das razões invocadas e


RESSALVADOS OS DIREITOS DE TERCEIROS.

IMPORTANTE!!! Antes da celebração, podem os nubentes, por meio de pacto antenupcial,


alterar o regime de bens, estipulando, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. Celebrado o
casamento, o regime de bens torna-se relativamente imutável (só se admite a mudança
mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges). A
jurisprudência entende que a separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens (STJ.
4ª Turma. REsp 678.790/PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/06/2014). Se o casal se
divorciar, poderá casar-se novamente, adotando regime diverso do anterior.

2- DEVERES RECÍPROCOS

Como visto, um dos efeitos do casamento é fazer surgir deveres recíprocos. A


infringência desses deveres é causa de separação judicial. Estão previstos no art. 1.566 do
CC.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.

IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66 alterou o art. 226, §6º, da CF, retirando do texto a


referência à separação judicial e aos requisitos temporais para a obtenção do divórcio.
Nesse contexto, a doutrina concluía que a separação judicial ou por escritura pública
havia sido abolida do direito brasileiro, restando apenas o divórcio que, ao mesmo
tempo, rompe a sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. Nada obstante, o
STJ consolidou o entendimento de que: A EC 66/2010 não revogou, expressa ou
tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp
1431370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). STJ.
4ª Turma. REsp 1247098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017
(Info 604). Ademais, O novo CPC (Lei nº 13.105/2015) manteve em diversos dispositivos
referências ao instituto da separação judicial, inclusive regulando-o no capítulo que trata das
ações de família, demonstrando, de forma indiscutível, que a mens legis foi a de manter a
figura da separação no ordenamento jurídico pátrio.

I- Fidelidade recíproca

É uma decorrência do caráter monogâmico do casamento. A infringência desse dever


configura adultério e enseja separação judicial litigiosa. Não é necessário que se mantenha
concubina, basta apenas uma transgressão ao dever de fidelidade.

Os atos anteriores ao sexo não configuram adultério, mas podem configurar injúria
grave, que também é causa de separação.

Esse dever perdura enquanto subsistir a sociedade conjugal. A jurisprudência entende


que a separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens e acaba com os deveres

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matrimoniais de coabitação e fidelidade recíproca (STJ. 4ª Turma. REsp 678.790/PR, Rel.


Min. Raul Araújo, julgado em 10/06/2014).

Obs.: a separação judicial e o divórcio também acabam com esse dever.

II- Vida em comum no domicílio conjugal

É o dever de coabitação, que obriga o casal a viver sob o mesmo teto e a ter uma
comunhão de vidas.

IMPORTANTE!!! Essa obrigação não deve ser encarada como absoluta, pois a
impossibilidade física ou mesmo moral pode justificar o seu afastamento. Assim, em razão,
por exemplo, do emprego, um dos cônjuges pode ter a necessidade de viver em outra cidade,
sem que isso caracterize a quebra da vida em comum.

O que caracteriza o abandono do lar é o animus, a intenção de não mais regressar à


residência comum.

No dever de coabitação a doutrina tradicional inclui o dever de manter relações


sexuais, sendo exigível o pagamento do débito conjugal (o descumprimento daria causa a
separação judicial). A doutrina contemporânea, no entanto, capitaneada por Maria Berenice
Dias, procura afastar a obrigatoriedade de se manter relações sexuais, pois a obrigatoriedade
infringiria o princípio constitucional do respeito à dignidade da pessoa, o direito à liberdade e
à privacidade, além do direito à inviolabilidade do próprio corpo.

De acordo com o art. 1.569 do CC, a escolha do domicílio do casal deve ser feito por
ambos os cônjuges.

III- Mútua assistência

Compreende a assistência em todos os níveis: material, moral, espiritual e sexual. É o


companheirismo.

É o fundamento legal do dever de prestar alimentos.

IMPORTANTE!!! O dever de mútua assistência subsiste mesmo após a separação judicial


e só acaba com o divórcio (art. 1.576 do CC). Mesmo assim, é possível que a obrigação de
prestar alimentos permaneça após o divórcio.

IV- Sustento, guarda e educação dos filhos

Ambos os cônjuges são responsáveis pelo sustento, guarda e educação dos filhos. A
previsão tem relação com a solidariedade social, retirada do art. 3º, I, da CF. A infração a esse
dever sujeita à perda do poder familiar e enseja a ação de alimentos, além de também
configurar causa de separação judicial.

Esse dever extingue-se, em regra, com a maioridade dos filhos.

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IMPORTANTE!!! A jurisprudência tem estendido o dever de sustento e educação até a


expedição do diploma ou conclusão do curso universitário, no caso de filhos que não possam
pagar a mensalidade.

V- Respeito e consideração mútuos

Tem relação com o companheirismo etc. São deveres retirados da boa-fé objetiva.

3- DIREITOS E DEVERES DE CADA CÔNJUGE

Com o advento da CF/88 vige a isonomia entre os cônjuges. Assim, os cônjuges são
iguais em direitos e deveres. Desapareceu a figura do chefe de família. A ambos os
cônjuges cabe ditar os rumos familiares, competindo ao juiz decidir em caso de divergência.
Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração,
pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá
recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.

O homem deixou de ser o único provedor da família, também incumbindo à mulher o


sustento da família. E de acordo com o art. 1.570 do CC, “se qualquer dos cônjuges estiver
em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado
judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de
acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a
administração dos bens”.

CAPÍTULO VIII
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

1- CAUSAS TERMINATIVAS

O art. 1.571 CC diz que a sociedade conjugal termina:

 Pela morte de um dos cônjuges


 Pela nulidade ou anulação do casamento
 Pela separação judicial
 Pelo divórcio

IMPORTANTE!!! Pela redação do dispositivo, a separação de fato não põe termo à


sociedade conjugal. Contudo, o STJ já decidiu que a separação de fato, por tempo razoável,
também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal.

IMPORTANTE: O art. 197, I, do Código Civil prevê que “não corre a prescrição entre os
cônjuges, na constância da sociedade conjugal”. Se os cônjuges estão separados há muitos
anos, não se deve aplicar a regra do art. 197, I, do CC. Mesmo não estando prevista no rol
do art. 1.571 do CC, a separação de fato muito prolongada, ou por tempo razoável,
também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal e, em

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assim sendo, tem o condão de impedir a natural fluência do prazo prescricional da


pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. Caso concreto: a pretensão de partilha de
bem comum após mais de 30 anos da separação de fato e da partilha amigável dos bens
comuns do ex-casal está fulminada pela prescrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1660947-TO, Rel.
Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

A morte que extingue é a real. O CC 2002, porém, inclui entre as causas de dissolução
a morte presumida do ausente, que se configura nos casos em que a lei autoriza a sucessão
definitiva. Passou a admitir também, a declaração de morte presumida sem decretação de
ausência, para todos os efeitos.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se
esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.

A nulidade ou anulação do casamento rompe o vínculo matrimonial, extinguindo a


sociedade conjugal e permitindo que os cônjuges se casem novamente. Nada impede a
cumulação da ação anulatória com a de separação judicial em ordem subsidiária.
Art. 326 do Novo CPC.  É lícito formular mais de um pedido em ordem
subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não
acolher o anterior.

2- SEPARAÇÃO JUDICIAL
IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66 suprimiu a parte final do §6º do art. 226 CF. Sendo
assim, a separação judicial deixou de ser contemplada na CF, onde figurava como
requisito para a conversão, desaparecendo ainda o requisito temporal para a obtenção
do divórcio, agora exclusivamente direto, por mútuo consentimento ou litigioso. A
inovação constitucional levava à conclusão doutrinária de que a separação judicial ou
por escritura pública foi eliminada do nosso direito, restando o divórcio, que ao mesmo
tempo, rompe a sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. No entanto, a
jurisprudência do STJ consolidou o entendimento de que a EC 66/2010 não revogou,
expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação judicial. STJ. 3ª
Turma. REsp 1431370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017
(Info 610). STJ. 4ª Turma. REsp 1247098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 14/3/2017 (Info 604). Ademais, o CPC/15 trata expressamente da figura da separação
judicial, prevendo, inclusive, regulamentação específica no capítulo que trata das ações de
família.

De acordo com o art. 1.576 do CC, a separação judicial põe termo a três deveres
matrimoniais. São eles:

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a) coabitação (não precisa mais morar junto)


b) fidelidade recíproca (pode transar com quem quiser)
c) regime de bens (faz-se a partilha dos bens)

Os outros três deveres matrimoniais permanecem. São eles:

a) mútua assistência (deve pagar pensão alimentícia)


b) sustento, guarda e educação dos filhos
c) respeito e consideração mútuos

Trata-se de ação de caráter personalíssimo, que só os cônjuges têm legitimidade


para propor (art. 1.576, parágrafo único, do CC). É privativa e intransmissível. Em sendo
assim, se um dos cônjuges morrer no curso da ação, essa será extinta (também a ação de
divórcio se extingue com a morte de um dos cônjuges).
Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e
fidelidade recíproca e ao regime de bens.
Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente
aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão representados pelo curador,
pelo ascendente ou pelo irmão.

EXCEÇÃO: no caso de incapacidade, o cônjuge é representado pelo curador, ascendente ou


irmão.

O art. 695 do CPC/15 ordena que se realize uma audiência prévia de conciliação, na
qual o juiz deve tentar promover a reconciliação das partes. Se a reconciliação não for
possível, o juiz deve convencer as partes a transformar a separação litigiosa em amigável.

O não comparecimento das partes a essa audiência de conciliação não gera a revelia,
significando, apenas, que não querem acordo. Não sendo obtida a reconciliação nem a
transformação em separação amigável, da audiência começa a fluir o prazo para contestação,
ainda que a parte nela não tenha comparecido.

2.1 SEPARAÇÃO JUDICIAL POR MÚTUO CONSENTIMENTO (SEPARAÇÃO


AMIGÁVEL)

É a separação requerida por ambos os cônjuges. É hipótese de jurisdição voluntária.


Não há litígio, pois as partes buscam a mesma solução: a homologação de acordo por eles
celebrado. A vantagem dessa modalidade é que os separandos não precisam declinar a causa,
o motivo da separação.

O juiz pode se negar a homologar o acordo se verificar prejuízo a interesse de filho


ou de um dos cônjuges. Essa decisão deve ser fundamentada, devendo o juiz indicar a
cláusula que traz prejuízo.

É permitido ao juiz que homologue apenas parte do acordo, deixando de lado a parte
que julga prejudicial.

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O art. 731 do CPC/15 afirma que o acordo deverá obrigatoriamente conter:

I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;


II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

IMPORTANTE!!! Nada impede que a partilha seja elaborada de modo desigual (um fica
com mais que o outro), já que ambos os cônjuges são maiores e capazes e podem transigir
sobre seu patrimônio. Nesse caso, é devido o pagamento de ITCMD por conta da doação
implicitamente feita.

IMPORTANTE!!! Tem sido admitido que a mulher abra mão dos alimentos, podendo,
porém, pleiteá-los futuramente, se vier a necessitar e não tiver sido contemplada na partilha
com bens suficientes à manutenção de sua subsistência (pode pedir alimentos futuramente).
(súmula 379 do STF - no acordo de desquite não se admite renúncia a alimentos, que
podem ser pleiteados futuramente).

A petição deverá esclarecer, ainda, se o cônjuge que usa o sobrenome do outro voltará
a usar o sobrenome de solteiro. No silêncio deve-se entender que optou por conservá-lo.

IMPORTANTE: A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do


patronímico adotado por ocasião do casamento não significa concordância tácita com a
modificação do nome civil. Ex.: João da Silva Maier casou-se com Gabriela Ferreira. Gabriela
adotou o patronímico de João e passou a se chamar Gabriela Ferreira Maier. O
relacionamento chegou ao fim e João ajuizou ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a)
que fosse decretado o divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o patronímico
“Maier” de seu nome. Gabriela foi devidamente citada, mas não respondeu a ação. Correta a
decisão do juiz que julga o pedido parcialmente procedente decretando o divórcio, mas
mantendo o sobrenome da ré. Principais argumentos: • o fato de o réu ter sido revel não
significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor; • o nome é
considerado direito indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade; • para que
houvesse a retirada do sobrenome, seria necessária a manifestação expressa da vontade da
mulher; • a utilização do sobrenome do ex-marido por mais de 30 trinta anos pela ex-mulher
demonstra que há tempo ele está incorporado ao nome dela, de modo que não mais se pode
retirá-lo, sem que cause evidente prejuízo para a sua identificação. STJ. 3ª Turma. REsp
1732807-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2018 (Info 631).

Antes de homologar o acordo, o juiz deve ouvir o Ministério Público.

Enquanto não lavrado o termo pelo escrivão e assinado pelas partes, o pedido não se
tornou público e poderá haver arrependimento unilateral. Assinado o termo, o pedido torna-se
irretratável pela manifestação unilateral de um só dos cônjuges.

IMPORTANTE: A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes
maiores e capazes, versando sobre a partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que
fora homologado judicialmente por ocasião de divórcio consensual, não impede que haja um
novo acordo sobre o destino dos referidos bens. STJ. 3ª Turma. REsp 1623475-PR, Rel. Min.

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Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018 (Info 624).

IMPORTANTE!!! Separação e divórcio consensual no cartório (administrativamente).


Não pode haver nascituro ou filhos menores/incapazes. Devem ser respeitados os prazos.
Exige escritura pública, que deve conter acordo relativo à partilha dos bens, pensão e guarda
dos filhos. A escritura não depende de homologação e constitui título hábil para ser registrado
no registro de imóveis e no registro civil. As partes devem, obrigatoriamente, ser assistidas
por advogados, que deverão assinar o acordo.

Obs.: Por analogia, a dissolução consensual da união estável também pode ser feita em
cartório.

2.2 SEPARAÇÃO LITIGIOSA

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação


judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos
deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum. (separação
sanção)
§ 1o A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar
ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua
reconstituição. (separação falência)
§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver
acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne
impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração
de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.
(separação remédio)
§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao cônjuge enfermo, que não
houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou
para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação
dos adquiridos na constância da sociedade conjugal.

O rol de causas que permitem a separação judicial (art. 1.572 do CC) é taxativo,
inexistindo outras hipóteses de separação judicial em nosso ordenamento.

A hipótese do caput é chamada de separação-sanção porque se atribui culpa (na


modalidade “grave infração a deveres conjugais”) a um dos cônjuges, impondo-lhe sanções.
Estas são:

 Perda do direito a alimentos, exceto os indispensáveis à sobrevivência (art.


1.694, §2º e art. 1.704, parágrafo único, do CC)

Obs.: Sempre que resultar de culpa de quem os pleiteia, os alimentos só serão os


indispensáveis à sobrevivência.

Obs.: O cônjuge inocente só pagará alimentos ao culpado se este não tiver condições de
trabalhar e não existir mais ninguém para prestar alimentos (subsidiário).

 Perda do direito de usar o sobrenome do inocente (art. 1.578 do CC)

Obs.: Para isso, é necessário o expresso requerimento do inocente e, mesmo assim, só não
poderá usar o sobrenome do outro se: (a) não acarretar evidente prejuízo para sua

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

identificação; (b) não acarretar manifesta distinção entre seu nome de solteira e o nome dos
filhos; (c) não acarretar qualquer outro dano grave reconhecido na decisão judicial.

IMPORTANTE: A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do


patronímico adotado por ocasião do casamento não significa concordância tácita com a
modificação do nome civil. Ex.: João da Silva Maier casou-se com Gabriela Ferreira. Gabriela
adotou o patronímico de João e passou a se chamar Gabriela Ferreira Maier. O
relacionamento chegou ao fim e João ajuizou ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a)
que fosse decretado o divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o patronímico
“Maier” de seu nome. Gabriela foi devidamente citada, mas não respondeu a ação. Correta a
decisão do juiz que julga o pedido parcialmente procedente decretando o divórcio, mas
mantendo o sobrenome da ré. Principais argumentos: • o fato de o réu ter sido revel não
significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor; • o nome é
considerado direito indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade; • para que
houvesse a retirada do sobrenome, seria necessária a manifestação expressa da vontade da
mulher; • a utilização do sobrenome do ex-marido por mais de 30 trinta anos pela ex-mulher
demonstra que há tempo ele está incorporado ao nome dela, de modo que não mais se pode
retirá-lo, sem que cause evidente prejuízo para a sua identificação. STJ. 3ª Turma. REsp
1732807-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2018 (Info 631).

IMPORTANTE!!! A separação-sanção é a única hipótese em que se discute culpa. Por isso,


também é a única hipótese em que se admite reconvenção (para atribuir a culpa na separação
ao outro cônjuge). Se ambos forem culpados, nenhum deles fará jus a verba alimentícia,
exceto se necessária à subsistência.

A insuportabilidade da vida em comum é um requisito que deve existir para a


decretação da separação. O simples fato de ter ingressado com o processo pedindo a
separação já demonstra a insuportabilidade da vida a dois. O art. 1.573 do CC elenca alguns
dos casos em que a vida em comum torna-se insuportável. Esse rol é meramente
exemplificativo.

2.2.1 Grave Infração Aos Deveres Do Casamento

Como visto, na separação-sanção, a culpa é demonstrada pela grave violação de


deveres do casamento.

a) Fidelidade recíproca

A violação ao dever de fidelidade recíproca é o adultério (conjunção carnal). Os atos


pré-sexuais constituem injúria grave, não adultério.

IMPORTANTE!!! A separação de fato, segundo orientação jurisprudencial, desobriga os


cônjuges do dever de fidelidade recíproca, isto é, autorizando, a depender da presença dos
elementos objetivo e subjetivo, a atividade sexual com terceiros.

IMPORTANTE!!! O chamado adultério precoce (defloramento da mulher antes do


casamento) não é mais considerado erro sobre a pessoa capaz de tornar anulável o casamento.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Obs.: A inseminação artificial não configura adultério, porque este só ocorrerá se houver
cópula completa com estranho de outro sexo. Mas a mulher poderá dar causa a separação
judicial se receber o sêmen de outro homem sem o consentimento do marido, mas sua conduta
caracterizará injúria grave, e não adultério.

b) Coabitação

O dever de coabitação é desrespeitado com o abandono voluntário do lar conjugal


(exige o animus de não mais retornar ao lar conjugal). A doutrina tradicional sustenta que
infringe o dever de coabitação o cônjuge que se recusa ao sexo (a tese é rechaçada pela
doutrina contemporânea, sobretudo por Maria Berenice Dias).

c) Mútua assistência

O dever de mútua assistência é violado pela tentativa de morte e pela sevícia (maus-
tratos).

d) Guarda, educação e sustento dos filhos

Embora não se trate de agressão direta ao outro cônjuge, será ele atingido
reflexamente pelo sofrimento dos filhos.

e) Respeito e consideração mútuos

Esse dever é violado pela injúria grave e pela conduta desonrosa.

2.2.2 Insuportabilidade Da Vida Em Comum

Como visto, um dos requisitos exigidos para a decretação da separação-sanção (além


da prova da culpa) é a prova da insuportabilidade da vida em comum.

Como dito, a só propositura da ação já demonstra que a vida em comum não é


mais viável. O art. 1.573 do CC traz um rol exemplificativo.
Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a
ocorrência de algum dos seguintes motivos:
I - adultério;
II - tentativa de morte; (não é necessário a condenação no juízo criminal)
III - sevícia ou injúria grave;
IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V - condenação por crime infamante;
VI - conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente
a impossibilidade da vida em comum.

Ao outro cônjuge cabe a prova da suportabilidade da vida conjugal.

2.2.3 Ruptura Da Vida Em Comum E Doença Mental Grave

Ter sempre em mente o seguinte.

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Separação-sanção  discute-se culpa

Separação-remédio  não se discute culpa

As hipóteses dos §§1º e 2º do art. 1.572 do CC são separação-remédio (a separação-


falência é espécie da separação-remédio). A doença mental grave que autoriza a separação
judicial, na dicção do CC, é aquela manifestada após o casamento, que torne impossível a
continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade
tenha sido reconhecida de cura improvável.

a) Separação-falência

É a que tem causa na “falência” da vida em comum. Exige separação de fato há mais
de um ano (levar em conta sempre a EC 66).

Obs.: Foi retirado o termo “consecutivo” da lei do divórcio, de modo que se pode interpretar
que é possível a soma de períodos para chegar a essa um ano.

Exige também prova da impossibilidade de reconciliação.

b) Separação-remédio propriamente dita

É a possibilidade de pedir a separação judicial por doença mental grave, manifestada


após o casamento, que torne insuportável o casamento, e que, após dois anos, seja
considerada de improvável cura (CC art. 1.572).

Nesse caso, o cônjuge doente, que não pediu a separação, torna-se proprietário
exclusivo dos bens que trouxe para o casamento e meeiro dos bens adquiridos posteriormente
(art. 1.572, §3º, do CC).

2.2.4 Separação De Corpos

A separação judicial gera como efeitos a partilha dos bens e a separação de corpos.

A separação de corpos pode ser requerida liminarmente, a título cautelar ou


antecipatório.

IMPORTANTE!!! A Lei Maria da Penha prevê a possibilidade de o juiz decretar a separação


de corpos como medida protetiva de urgência.

2.3 PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS

Esse capítulo sofreu recente reforma (realizada no ano de 2008).

Dispõe o art. 1.583 do CC que a guarda dos filhos será unilateral ou


compartilhada.

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a) guarda unilateral: atribuída a um só dos genitores ou alguém que o substitua (avô, p.ex.).

A guarda unilateral será deferida ao cônjuge que revele melhores condições de


cuidar do filho e dar-lhe afeto, saúde, segurança e educação. Fica afastada assim, qualquer
interpretação no sentido de que teria melhores condições o cônjuge com mais recursos
financeiros.

Para a definição da guarda unilateral não tem importância ter sido o cônjuge culpado,
ou não. A guarda é deferida no interesse do filho.

Ex.: A mulher foi flagrada pelo marido em uma orgia com 10 profissionais do sexo. Embora
possa ser declarada culpada na separação-sanção, poderá ficar com a guarda dos filhos se
ficar provado que possui melhores condições de cuidar das crianças.

IMPORTANTE!!! Caso verificado que os pais não têm condições de cuidar dos menores, a
guarda será deferida a pessoa da família que seja compatível com o encargo, considerando, de
preferência, o grau de parentesco e a relação de afinidade e afetividade (avô, p.ex.).

A guarda admite revisão sempre no interesse do menor, não fazendo coisa julgada
(na verdade faz coisa julgada, só que, se a situação fática mudou, poderá ser revista).

O cônjuge que não ficou com a guarda dos filhos tem o direito de visitas. E mais, o
cônjuge que não tem a guarda fica obrigado a supervisionar os interesses dos filhos, e, para
possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar
informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que
direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos (art.
1.583, §5º, do CC). 

Tal direito de visitas, entretanto, poderá ser restringido e até mesmo suspenso
temporariamente se ficar provado que as visitas estão sendo prejudiciais aos filhos.

IMPORTANTE: É válida a aplicação de astreintes quando o genitor detentor da guarda da


criança descumpre acordo homologado judicialmente sobre o regime de visitas. A aplicação
das astreintes em hipótese de descumprimento do regime de visitas por parte do genitor,
detentor da guarda da criança se mostra como um instrumento eficiente e também, menos
drástico para a criança. STJ. 3ª Turma. REsp 1481531-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
em 16/2/2017 (Info 599).

Obs.: A Lei Maria da Penha prevê a suspensão do direito de visitas como medida protetiva de
urgência.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência vem assegurando o direito de os avós visitarem os netos.

b) guarda compartilhada: responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do


pai e da mãe quando não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao exercício do poder
familiar. Não significa que o filho dormirá uma noite com o pai e outra com a mãe. O menor
terá um lar definido, com um ou com outro, mas ambos decidirão conjuntamente os rumos da
vida do filho, sem a necessidade da intervenção do juiz regulando, por exemplo, as visitas etc.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que
melhor atender aos interesses dos filhos.    

O juiz deve incentivar a guarda compartilhada, sendo obrigado a, na audiência de


conciliação, informar as partes de sua importância.

Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-
se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada,
salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor (§2º do
artigo 1.584 do CC).

Ficar atento à letra da lei:


Art. 1.583.  A guarda será unilateral ou compartilhada.        (Redação
dada pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 1o  Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda
compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes
ao poder familiar dos filhos comuns.        
§ 2o  Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve
ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo
em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:        (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
II - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 3º  Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia
dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos
filhos.    (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 4o  (VETADO).        (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 5º  A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a
supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar
informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e
psicológica e a educação de seus filhos.     (Incluído pela Lei nº 13.058, de
2014)

Art. 1.584.  A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: 


I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em
ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou
em medida cautelar; 
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou
em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e
com a mãe.
§ 1o  Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o
significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de
deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento
de suas cláusulas. 
§ 2o  Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder
familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor.     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

§ 3o  Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de


convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à
divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 4o  A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de
cláusula de guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a
redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
5o  Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do
pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade
com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de
parentesco e as relações de afinidade e afetividade.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014).

IMPORTANTE: REGRA: o CC determina que, quando não houver acordo entre a mãe
e o pai quanto à guarda do filho, o juiz deverá aplicar a guarda compartilhada (art.
1.584, § 2º). EXCEÇÕES: Não será aplicada a guarda compartilhada se: a) um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor; b) um dos
genitores não estiver apto a exercer o poder familiar. O § 2º do art. 1.584 afirma que
“encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar”, será aplicada a guarda
compartilhada. O que significa essa expressão: “genitores aptos a exercer o poder familiar”?
Quando o genitor não estará apto a exercer o poder familiar? A guarda compartilhada
somente deixará de ser aplicada quando houver inaptidão de um dos ascendentes para o
exercício do poder familiar, fato que deverá ser declarado, prévia ou incidentalmente à
ação de guarda, por meio de decisão judicial (STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-RJ, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016. Info 595). O § 2º do art. 1.584 somente admite duas
exceções em que não será aplicada a guarda compartilhada. A interpretação desse dispositivo
pode ser relativizada? É possível afastar a guarda compartilhada com base em peculiaridades
do caso concreto mesmo que não previstas no § 2º do art. 1.584 do CC? O STJ está dividido,
havendo decisões em ambos os sentidos: 1ª) NÃO. A guarda compartilhada apresenta força
vinculante, devendo ser obrigatoriamente adotada, salvo se um dos genitores não estiver apto
a exercer o poder familiar ou se um deles declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor (STJ. 3ª Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/09/2016). 2ª) SIM. As peculiaridades do caso concreto podem servir como argumento para
que não seja implementada a guarda compartilhada. Ex.: se houver dificuldades geográficas
(pai mora em uma cidade e mãe em outra, distante). Isso porque deve-se atentar para o
princípio do melhor interesse dos menores. Assim, as partes poderão demonstrar a existência
de impedimento insuperável ao exercício da guarda compartilhada, podendo o juiz aceitar
mesmo que não expressamente previsto no art. 1.584, § 2º. A aplicação obrigatória da guarda
compartilhada pode ser mitigada se ficar constatado que ela será prejudicial ao melhor
interesse do menor (STJ. 3ª Turma. REsp 1605477/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 21/06/2016). STJ. 3ª Turma. REsp 1629994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 6/12/2016 (Info 595).

IMPORTANTE: Na dissolução de entidade familiar, é possível o reconhecimento do direito


de visita a animal de estimação adquirido na constância da união, demonstrada a relação de
afeto com o animal. Na dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em
relação ao animal de estimação, independentemente da qualificação jurídica a ser adotada, a
resolução deverá buscar atender, sempre a depender do caso em concreto, aos fins sociais,

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atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser humano e do seu
vínculo afetivo com o animal. STJ. 4ª Turma. REsp 1713167-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 19/06/2018 (Info 634).

2.4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Alienação parental consiste no fato de a mãe ou o pai de uma criança induzir esta a
romper os laços afetivos com o outro cônjuge. A lei de alienação parental estendeu seus
efeitos não apenas aos pais, mas a qualquer outra pessoa que tenha a guarda ou vigilância do
incapaz. Dessa forma, considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos
avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.

O judiciário deve agir para reverter a situação. Pode o juiz, por exemplo, afastar o
filho do convívio da mãe ou do pai, modificar a guarda e o direito de visita e até impedir a
visita. Como última opção pode ainda destituir ou suspender o exercício do poder parental.

2.5 DO USO DO NOME

Na separação consensual, o cônjuge decide livremente a respeito do uso do


sobrenome do outro. A omissão significa a vontade de continuar a usar o nome do ex-
consorte.

Na separação litigiosa, a solução encontra-se no art. 1.578 do CC.


Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial
perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente
requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da
união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a
qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.

2.6 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL APÓS A SEPARAÇÃO


JUDICIAL

Dispõe o art. 1.577 do CC:


Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é
lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato
regular em juízo.
Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros,
adquirido antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de
bens.

Ou seja, se as partes estão separadas judicialmente, para retornarem ao estado de

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casadas basta requerer ao juiz. Esse requerimento deverá ser feito por ambos os cônjuges.

A renovação da sociedade conjugal se faz nos mesmos moldes da que foi dissolvida
pela separação, mesmo regime de bens, as partes voltam a usar os mesmos nomes etc.

Obs.: O restabelecimento da sociedade conjugal não prejudica o direito de terceiros obtidos


enquanto os cônjuges estavam separados (art. 1.577, parágrafo único, do CC).

IMPORTANTE!!! Após o divórcio a sociedade conjugal só voltará por um novo casamento.

IMPORTANTE!!! É possível, todavia, em caso de separação judicial, a alteração do regime


de bens por ocasião da reconciliação, mediante autorização judicial, se houver “pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados
os direitos de terceiros” (art. 1.639 do CC).

3- DIVÓRCIO

O divórcio foi incluído no Brasil em 1977, por meio de emenda constitucional que
suprimiu o princípio da indissolubilidade do vínculo matrimonial. A CF/88 tornou mais fácil o
divórcio, adequando-se aos tempos modernos.

O divórcio é uma das causas de dissolução do vínculo matrimonial e tem o condão


de dissolver o casamento válido.

IMPORTANTÍSSIMO!!! O art. 1.581 do CC diz que O DIVÓRCIO PODE SER


CONCEDIDO SEM QUE HAJA PRÉVIA PARTILHA. Quer dizer, é possível conceder o
divórcio antes e partilhar os bens depois (ver causa suspensiva para novo casamento até a
partilha dos bens).
Art. 1.581. O DIVÓRCIO PODE SER CONCEDIDO SEM QUE HAJA
PRÉVIA PARTILHA DE BENS.

IMPORTANTE!!! O divórcio não comporta a discussão da culpa. Só existe divórcio-


remédio.

A ação de divórcio é personalíssima e somente competirá aos cônjuges (art. 1.582 do


CC). Entretanto, em se tratando de incapaz, poderá fazer-se representar.

O divórcio extingue todo o vínculo matrimonial e permite que os cônjuges contraiam


novas núpcias.

IMPORTANTE!!! Findo o casamento com o divórcio, extinguem-se também os deveres e


direitos alimentares, decorrentes do dever de mútua assistência, salvo se ficarem
estabelecidos antes da dissolução do vínculo matrimonial. O novo casamento/união estável
do cônjuge-credor da pensão extingue a obrigação do cônjuge devedor, não o fazendo o
simples namoro (quer dizer, mesmo após a decretação do divórcio, um dos cônjuges poderá
ser obrigado a pagar alimentos ao outro).

IMPORTANTÍSSIMO!!! No tocante à partilha, o CC/02 trouxe significativa alteração,

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PERMITINDO QUE SEJA DECRETADO O DIVÓRCIO SEM PRÉVIA PARTILHA


DE BENS (art. 1.581 do CC). Mas se o divorciado se casar novamente, sem fazer a partilha,
deverá adotar o regime de separação obrigatória de bens (causa suspensiva).

O Ministério Público deverá ser ouvido, já que se trata de ação de estado.

IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66 aboliu o divórcio conversão ou indireto,


remanescendo apenas o divórcio direto, sem o requisito temporal e que pode ser
denominado simplesmente divórcio. Tal modalidade pode se desdobrar em:

a) Divórcio judicial litigioso


b) Divórcio judicial consensual
c) Divórcio extrajudicial consensual

Em todas as modalidades exige-se apenas a exibição da certidão de casamento.

As questões correlatas, como a guarda e proteção dos filhos, alimentos, partilha


dos bens e sobrenome a ser utilizado podem ser objeto de discussão e contestação, para
os fins próprios, sem prejudicar a decretação do divórcio. A partilha dos bens, segundo
expressamente dispõe o art. 1.581 do CC, pode ser discutida em outra ocasião (depois do
divórcio). Nessas questões não se discutirá as causas ou a culpa pelo fim do casamento.
No tocante à guarda dos filhos, discutir-se-á apenas o melhor interesse destes, buscando
apurar qual dos genitores desfruta de melhores condições para exercê-la. No tocante aos
alimentos, importará saber apenas da necessidade de quem os pede e da possibilidade do
outro cônjuge.

SUBITÍTULO II
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- INTRODUÇÃO

O parentesco pode ser conceituado como sendo o vínculo jurídico estabelecido entre
pessoas que têm a mesma origem biológica (mesmo tronco comum); entre um cônjuge ou
companheiro e os parentes do outro; e entre pessoas que têm entre si um vínculo civil. São
três, portanto, as modalidades de parentesco admitidas no Direito Civil brasileiro. Parentesco

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consanguíneo ou natural, existente entre pessoas que mantêm entre si um vínculo biológico
ou de sangue, por terem origem no mesmo tronco comum; parentesco por afinidade,
existente entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro cônjuge ou companheiro;
parentesco civil, aquele decorrente de outra origem, que não seja a consanguinidade ou a
afinidade, a exemplo do vínculo oriundo da adoção.

Afinidade é o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou companheiro e os


parentes do outro. Parentesco civil é o resultante da adoção ou outra origem.

2- O VÍNCULO DE PARENTESCO: LINHAS E GRAUS

O vínculo de parentesco se estabelece por linhas (reta e colateral), e a contagem se


faz por graus. Parentes em linha reta são as pessoas que descendem uma das outras
(ascendente e descendente).

São parentes em linha colateral as pessoas que provêm de um tronco comum, sem
descenderem umas das outras (irmãos, tios etc.).

IMPORTANTE!!! Na linha reta não há limite de parentesco; na colateral, este se estende


somente até o quarto grau.

Grau é a distância, em gerações, que vai de um a outro parente.


Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de
gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos
parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

IMPORTANTE!!! Não há parentesco em primeiro grau em linha colateral, porque quando


contamos uma geração ainda estamos na linha reta.

3- ESPÉCIES DE PARENTESCO

a) Natural: resulta da consanguinidade.

b) Civil: resulta de outra origem, por exemplo, a adoção ou inseminação artificial heteróloga.
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem.

c) Por afinidade: origina-se do casamento ou da união estável.


Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e
aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.

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CAPÍTULO II
DA FILIAÇÃO

Filiação é a relação de parentesco em primeiro grau em linha ascendente que liga uma
pessoa àquelas que a geraram ou a receberam como se tivessem gerado (paternidade
socioafetiva). Tal relação é regida pelo princípio da igualdade entre os filhos (art. 227,
§6º, da CF, e art. 1.596 do CC).

Isso é por demais importante: para haver relação de filiação, não é necessário que
uma pessoa (pais) tenha gerado outra (filho) de seu próprio ventre. Também há relação de
filiação quando a pessoa (pais) recebe a outra pessoa (filho) como se tivesse gerado. Essa
última parte não é só para a adoção, mas também, e é isso o que é relevante nos dias atuais,

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para justificar a paternidade socioafetiva, amplamente adotada em nossos tribunais.

De acordo com a CF e com o CC, não pode ser feita nenhuma distinção entre os filhos
(havidos fora ou dentro do casamento, adotivo etc.).

1- PRESUNÇÃO LEGAL DE PATERNIDADE

Trata-se da presunção pater is est (pater is est quem justae nuptiae demonstrant) pela
qual o marido é presumidamente o pai do filho gerado por mulher casada. Tal presunção
destina-se a preservar a paz familiar. Essa presunção só é aplicada em relação aos filhos
gerados dentro do casamento, e torna desnecessário o reconhecimento do filho pelo marido
da mulher casada que gerou a criança.

O art. 1.597 do CC traz os casos em que os filhos se presumem concebidos na


constância do casamento, incidindo a presunção pater is est.

 Nascidos pelo menos 180 dias depois de estabelecida a convivência conjugal;


 Nascidos 300 dias depois da dissolução do casamento;
 Fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
 Havidos a qualquer tempo quando se tratar de embriões excedentes de
concepção artificial homóloga;
 Havido por inseminação artificial heteróloga, desde que haja prévia
autorização do marido (nesse caso a presunção é absoluta).

Em regra, a presunção de paternidade é relativa, podendo o marido ajuizar ação


negatória de paternidade para provar que não é o pai. A ação negatória de paternidade é
imprescritível.

Obs.: Não basta que a mulher afirme que o marido não é o pai para afastar a presunção.
Também não basta que a mulher confesse adultério (arts. 1.600 e 1.602 do CC).

Obs.: Ilide a presunção de paternidade a prova da impotência generandi do marido (prova de


que o indivíduo é estéril).

2- AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A ação negatória de paternidade destina-se a excluir a presunção pater is est,


provando que o marido não é o pai da criança. Trata-se de ação imprescritível.

A ação é de legitimidade ativa privativa do marido. Só ele pode propor a ação, mas,
uma vez iniciada, caso faleça, os herdeiros assumem por sucessão processual. A legitimidade
passiva é do filho, mas como foi registrado pela mãe, esta também deve figurar no polo
passivo.
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos
nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm
direito de prosseguir na ação.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

IMPORTANTE!!! Tem sido reconhecido ao filho o direito de impugnar a paternidade


(obter a declaração de que o indivíduo não é seu pai), provando erro ou falsidade do
registro, nos termos do art. 1.604 do CC. O art. 27 do ECA dispõe que o reconhecimento
do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição.

Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do


registro de nascimento, salvo provando-se ERRO ou FALSIDADE DO
REGISTRO.

Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a


filiação por qualquer modo admissível em direito:
I - quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais,
conjunta ou separadamente;
II - quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver,


passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão
continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

IMPORTANTE: O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação. Assim,
mesmo que ele tenha nascido durante a constância do casamento de sua mãe e de seu pai
registrais, ele poderá ingressar com ação de investigação de paternidade contra o suposto pai
biológico. A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento são filhos do
marido não pode servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira
paternidade. STF. Plenário. AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
22/09/2016 (Info 840).

IMPORTANTE: A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não


impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica,
com os efeitos jurídicos próprios. Ex.: Lucas foi registrado e criado como filho por João;
vários anos depois, Lucas descobre que seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá buscar o
reconhecimento da paternidade biológica de Pedro sem que tenha que perder a filiação
socioafetiva que construiu com João; ele terá dois pais; será um caso de pluriparentalidade; o
filho terá direitos decorrentes de ambos os vínculos, inclusive no campo sucessório. STF.
Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840).

CAPÍTULO III
DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS

1- FILIAÇÃO HAVIDA FORA DO CASAMENTO

Os filhos havidos fora do casamento não gozam da presunção de paternidade,


devendo ser reconhecidos.

É possível que o reconhecimento se dê judicialmente ou voluntariamente.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

IMPORTANTE: É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do


registro de nascimento na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que foi registrado
conforme prática conhecida como “adoção à brasileira”. Caracteriza violação ao princípio da
dignidade da pessoa humana cercear o direito de conhecimento da origem genética,
respeitando-se, por conseguinte, a necessidade psicológica de se conhecer a verdade
biológica. Assim, o filho tem direito de desconstituir a denominada "adoção à brasileira" para
fazer constar o nome de seu pai biológico em seu registro de nascimento, ainda que preexista
vínculo socioafetivo de filiação com o pai registral. STJ. 4ª Turma. REsp 1167993-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012. STJ. 3ª Turma. REsp 1417598-CE, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/12/2015 (Info 577).

IMPORTANTE!!! Seja qual for o modo, o reconhecimento de filho havido fora do


casamento é sempre irrevogável (art. 1.609 do CC).

Obs.: O testamento tem a revogabilidade como característica. Porém, na parte que tratar de
reconhecimento de filho, será irrevogável.

IMPORTANTÍSSIMO (Prova de TJ-DF e MP ES!!!) Não confundir a irrevogabilidade


com o reconhecimento de invalidade. Se o reconhecimento do filho decorrer de vício de
consentimento, o registro será anulado. Vale dizer: o reconhecimento de filho é irrevogável,
ou seja, o sujeito não pode dizer que o filho é seu e registrá-lo em um dia e no outro se
arrepender e revogar o registro. Porém, o reconhecimento de filho pode ser invalidado
(anulado ou declarado nulo) se, p.ex. o indivíduo provar que foi coagido a reconhecer a
criança.

2- RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO

Constitui espécie de ato jurídico em sentido estrito que exige capacidade do agente.

O reconhecimento voluntário de filho se dá de acordo com o art. 1.609 do CC.


Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é
irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho
ou ser POSTERIOR AO SEU FALECIMENTO, SE ELE DEIXAR
DESCENDENTES.

O reconhecimento voluntário de filho pode ser anterior ao nascimento. Pode também


ser reconhecido filho depois da morte, SE O FILHO DEIXOU DESCENDENTES (essa
exigência é para que o pai não reconheça o filho que não deixou herdeiros visando a herança).

Obs.: O filho havido fora do casamento, que for reconhecido por um dos cônjuges só pode
morar no lar conjugal com o consentimento do outro cônjuge (art. 1.611 CC).

Art. 1.611. O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.

O reconhecimento de filho é incondicional. Vale dizer, esse ato não pode ser
submetido a condição ou termo (ex.: pai só reconhece o filho se demonstrado talento
artístico). São ineficazes as condições e termos opostos ao ato de reconhecimento de filho,
considerando-se não escritas (art. 1.613 do CC).

Dispõe o art. 1.614 do CC que o filho maior não pode ser reconhecido sem o seu
consentimento (ex.: o indivíduo que pretende reconhecer como filho alguém de 32 anos deve
obter seu consentimento).

IMPORTANTE: É imprescindível o consentimento de pessoa maior para o reconhecimento


de filiação post mortem. STJ. 3ª Turma. REsp 1688470-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 10/04/2018 (Info 623).

O filho menor pode contestar o reconhecimento nos quatro anos seguintes aos em
que completar a maioridade.
Art. 1.614. O FILHO MAIOR NÃO pode ser reconhecido sem o seu
consentimento, e o MENOR pode impugnar o reconhecimento, nos quatro
anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.

IMPORTANTE: A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo


decadencial de 4 anos estabelecido no art. 1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em
que se pretende, exclusivamente, desconstituir o reconhecimento de filiação, não tendo
incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação do registro civil constitui
mera consequência lógica da procedência do pedido. • Ação pedindo apenas a desconstituição
do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos. • Ação pedindo a investigação de paternidade
e a consequente desconstituição do reconhecimento de filiação: imprescritível. STJ. 4ª Turma.
AgRg no REsp 1259703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/2/2015 (Info
556).

IMPORTANTE!!! O reconhecimento de filho tem natureza declaratória e produz efeitos


retroativos ao nascimento. Ou seja, declara que o sujeito sempre foi o pai.

De acordo com o art. 1.596 do CC, “os filhos, havidos ou não da relação de
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação”.

IMPORTANTE!!! Ação anulatória de reconhecimento. Todos aqueles que tiverem


interesse na desconstituição do reconhecimento poderão ingressar com ação anulatória de
reconhecimento, provando a desconformidade com o vínculo biológico. O Ministério
Público tem legitimidade em ingressar com a ação por se tratar de questão que diz respeito ao
estado da pessoa. Por essa razão, a ação é imprescritível.

IMPORTANTE: Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no


momento de registrar a criança e que não é pai biológico do seu filho registral, poderá
contestar a paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604 do CC). Não se
pode obrigar o pai registral, induzido a erro substancial, a manter uma relação de afeto,

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

igualmente calcada no vício de consentimento originário, impondo-lhe os deveres daí


advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o queira. Vale ressaltar, no entanto, que,
para que o pai registral enganado consiga desconstituir a paternidade, é indispensável que tão
logo ele tenha sabido da verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho,
rompendo imediatamente o vínculo afetivo. Se o pai registral enganado, mesmo quando
descobriu a verdade, ainda manteve vínculos afetivos com o filho registral, neste caso ele não
mais poderá desconstituir a paternidade. “Adoção à brasileira” – A situação acima descrita é
diferente da chamada “adoção à brasileira”, que ocorre quando o homem e/ou a mulher
declara, para fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que isso seja
verdade. No caso de adoção à brasileira, o pai sabe que não é genitor biológico (ele não foi
enganado). Caso o pai registral se arrependa da “adoção à brasileira” realizada, ele poderá
pleitear a sua anulação? NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não
biológico), que ele próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais
especificamente a regra da "venire contra factum proprium" (proibição de comportamento
contraditório). Para que seja possível a anulação do registro, é indispensável que fique
provado que o pai registrou o filho enganado (induzido em erro), ou seja, é imprescindível
que tenha havido vício de consentimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1330404-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

3- RECONHECIMENTO JUDICIAL
O filho não reconhecido voluntariamente poderá obter o reconhecimento pela via
judicial, mediante ação de investigação de paternidade, de natureza declaratória e
imprescritível (ação de estado).

A ação de investigação de paternidade tem natureza declaratória, produzindo efeitos


retroativos à data do nascimento (igual ao reconhecimento voluntário).

Trata-se de ação de estado, que versa sobre direito personalíssimo e imprescritível.

IMPORTANTE!!! Apesar de a ação de investigação de paternidade ser imprescritível, os


efeitos patrimoniais decorrentes prescrevem normalmente (Súmula 149 do STF: É
imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança - o
prazo prescricional da ação de petição de herança (10 anos) SÓ COMEÇA A CORRER DO
RECONHECIMENTO DO FILHO, antes ele não corre contra o filho ainda não
reconhecido).

Legitimidade ativa: como se trata de direito personalíssimo, a ação de investigação de


paternidade é privativa do filho (igualmente, a ação negatória de paternidade é privativa do
pai). Quem ajuíza é o menor, representado pela mãe.

IMPORTANTE!!! Se o filho morrer sem intentar a ação de investigação de paternidade, os


seus herdeiros ficam impedidos de intentar a ação, SALVO se ele morrer menor ou
incapaz.

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver,


passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão
continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Obs.: A ação pode ser ajuizada a qualquer momento e sem restrição, isto é, por filho
adulterino e incestuoso, mesmo durante o casamento dos pais.

IMPORTANTE!!! O STJ já decidiu que, mesmo se o filho morreu sem ajuizar ação de
investigação de paternidade, seus herdeiros (filhos do filho) podem ajuizar ação de
investigação de relação avoenga em face do pai do pai (avô). Com efeito, o filho, em nome
próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória de filiação
socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da ação, pré-
morta (já falecida) - e os supostos pais socioafetivos dela. Obs.: o filho teria legitimidade para
propor ação pedindo o reconhecimento de sua relação de parentesco socioafetivo com os
pretensos avós. Aí, contudo, seria outra ação, na qual se buscaria um direito próprio (e não de
sua mãe). STJ. 3ª Turma. REsp 1492861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
2/8/2016 (Info 588).

Obs.: Se o filho já iniciou a ação, seus herdeiros poderão prosseguir em caso de falecimento
do autor, salvo se a ação já tiver sido julgada extinta.

IMPORTANTE!!! O Ministério Público possui legitimidade ativa para ingressar com ação
de investigação de paternidade (ou seja, a legitimidade é do filho ou do Ministério Público).

Legitimidade passiva: a legitimidade passiva é do suposto pai ou dos seus herdeiros, se o


pai for morto. Se não tiver herdeiros certos, a ação será proposta em face dos eventuais
herdeiros, incertos e desconhecidos, que deverão ser citados por edital. O município deve ser
citado em razão do interesse patrimonial no pedido.

IMPORTANTE: A ação rescisória de sentença proferida em ação de investigação de


paternidade cujo genitor é pré-morto deve ser ajuizada em face dos herdeiros, e não do
espólio. STJ. 3ª Turma. REsp 1667576-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
10/09/2019 (Info 656).

IMPORTANTE: Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva
poderá impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o
processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma. REsp 1466423-GO, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

IMPORTANTE!!! Exame de DNA. Ninguém pode ser constrangido a dar amostra de seu
sangue para a realização da prova pericial. No entanto, a negativa gera presunção de
paternidade (súmula 310 do STJ: em ação investigatória, a recusa do suposto pai a
submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum (relativa) de paternidade).
CAPÍTULO IV
DO PODER FAMILIAR

1- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

O poder familiar é decorrência do vínculo jurídico de filiação, constituindo o poder


exercido pelos pais em relação aos filhos, dentro da ideia de família democrática, do regime

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

de colaboração familiar e de relações baseadas, sobretudo, no afeto.

Constitui um múnus público. É irrenunciável, indelegável e imprescritível. Os pais


não podem renunciar ao poder familiar, e nem o transferir a outrem. Os pais dele não decaem
pelo fato de não o exercitar.

Atenção!!! Dispõe o art. 1.630 do CC que os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto
menores. Este dispositivo abrange os filhos menores não emancipados.

A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder


familiar, com exceção da guarda, que representa uma pequena parcela desse poder e fica com
um deles.

2- CONTEÚDO DO PODER FAMILIAR

O art. 1.634 do CC enumera os direitos e deveres que incumbem aos pais, referentes
às pessoas dos filhos menores.
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto
aos filhos:     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - dirigir-lhes a criação e a educação;     (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art.
1.584;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
casarem;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao
exterior;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município;     (Redação dada pela Lei
nº 13.058, de 2014)
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o
poder familiar;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis)
anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que
forem partes, suprindo-lhes o consentimento;     (Redação dada pela Lei
nº 13.058, de 2014)
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;     (Incluído pela Lei
nº 13.058, de 2014)
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios
de sua idade e condição.     (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014)

A perda do poder familiar não desobriga os pais do dever de sustentar os filhos, sendo-
lhes devidos alimentos ainda que estejam em poder da mãe, em condição de mantê-los.

Com o advento da lei da Palmada (Lei 13.010/2014), a criança e o adolescente têm o


direito de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos
pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

tratá-los, educá-los ou protegê-los

Os pais, em igualdade de condição, são os administradores legais dos bens dos filhos
menores sob sua autoridade. Não podem, porém, praticar atos que ultrapassem os limites da
simples administração. Para ALIENAR ou GRAVAR DE ÔNUS REAIS os bens imóveis
dos filhos menores precisam obter autorização judicial (art. 1.691 do CC), mediante a
demonstração de necessidade, ou evidente interesse da prole. Se a venda se efetivar sem
autorização judicial, padecerá de nulidade, porém relativa, pois só poderá ser oposta pelo
próprio filho, seus herdeiros, ou representante legal.

Aos pais pertence o usufruto, as rendas dos bens dos filhos menores, como uma
compensação dos encargos decorrentes da sua criação e educação.

IMPORTANTE: O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários


dos bens dos filhos (usufruto legal), bem como têm a administração dos bens dos filhos
menores sob sua autoridade, nos termos do art. 1.689, incisos I e II, do Código Civil. Por essa
razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores recebidos pelos pais
em nome do menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de que as
verbas recebidas tenham sido utilizadas para a manutenção da comunidade familiar,
abrangendo o custeio de alimentação, saúde, vestuário, educação, lazer, entre outros.
Excepcionalmente, admite-se o ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre
que a causa de pedir estiver fundada na suspeita de abuso de direito no exercício desse poder.
Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em desfavor dos pais é possível
quando a causa de pedir estiver relacionada com suposto abuso do direito ao usufruto legal e à
administração dos bens dos filhos. STJ. 3ª Turma. REsp 1623098-MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018 (Info 622).

3- DA EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

3.1 EXTINÇÃO

O art. 1.635 do CC menciona as causas de extinção do poder familiar.


Art. 1.635. EXTINGUE-SE o poder familiar:
I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela EMANCIPAÇÃO, nos termos do art. 5o, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente (causas
de suspensão do poder familiar).
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele
que: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:

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(Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)


a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de
morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; (Incluído
pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente: (Incluído pela Lei nº
13.715, de 2018)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de
morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; (Incluído
pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual
sujeito à pena de reclusão. (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)

3.2 SUSPENSÃO E PERDA

A suspensão do poder familiar constitui sanção aplicada aos pais pelo juiz, não tanto
com intuito punitivo, mas para proteger o menor. É temporária, perdurando somente até
quando se mostre necessária. Desaparecendo a causa, pode o pai, ou a mãe, recuperar o poder
familiar. É facultativa e pode referir-se somente a determinado filho.

O art. 1.637 do CC prevê as hipóteses de suspensão do poder familiar.


Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres
a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo
algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça
reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o
poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao
pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime
cuja pena exceda a dois anos de prisão.

IMPORTANTE!!! A falta ou carência de recurso materiais não constitui, por si só,


motivo suficiente para a suspensão ou perda do poder familiar, devendo a família do
menor, se não concorrer outro motivo que autorize a decretação da medida, ser incluída em
programas oficiais de auxílio.

Obs.: O Código Penal prevê a incapacidade (perda) para o exercício do poder familiar
como efeito da condenação nos crimes dolosos sujeitos à reclusão cometidos contra outrem
igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou
contra tutelado ou curatelado (art. 92, II, do CP, com redação dada pela Lei 13.715/18).

A perda do poder familiar tem como característica o fato de ser permanente, pois os
pais só podem recuperá-lo em procedimento judicial, de caráter contencioso, desde que
comprovem a cessação das causas que determinaram. É imperativa e não facultativa.

IMPORTANTE!!! A PERDA do poder familiar abrange TODA A PROLE,


diferentemente da suspensão que pode recair sobre determinado filho.

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TÍTULO II
DO DIREITO PATRIMONIAL
SUBTÍTULO I
DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES

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1- PRINCÍPIOS BÁSICOS

O regime matrimonial de bens pode ser conceituado como sendo o conjunto de regras
de ordem privada relacionadas com interesses patrimoniais ou econômicos resultantes da
entidade familiar.

As relações econômicas entre os cônjuges durante o casamento se submetem a três


princípios básicos, a saber:

a) Irrevogabilidade
b) Variedade de regimes
c) Livre estipulação

a) IRREVOGABILIDADE: da imutabilidade absoluta à mutabilidade relativa

Duas razões justificam a imutabilidade do regime de bens: o interesse dos cônjuges e


o interesse de terceiros. Evita-se, assim, que um dos cônjuges abuse da influência que exerce
sobre o outro para fazer modificações no regime de bens em seu benefício. O interesse de
terceiros também fica resguardado de mudanças inesperadas no regime de bens que lhes
podiam prejudicar.

É IMPORTANTE que se diga, porém, que, com o advento do CC/02, a


imutabilidade do regime de bens NÃO É ABSOLUTA, mas sim RELATIVA, admitindo
alteração em situações excepcionais, desde que presentes os seguintes requisitos (art. 1.639,
§2º, do CC):

 Pedido MOTIVADO de AMBOS os cônjuges


 Não prejuízo aos interesses de terceiros
 AUTORIZAÇÃO JUDICIAL

Art. 1639
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência
das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

b) VARIEDADE de regimes

A lei põe à disposição dos nubentes quatro regimes de bens. As partes podem ainda
criar um regime de bens diferente para adoção no caso concreto.

c) LIVRE ESTIPULAÇÃO

O caput do art. 1.639 do CC diz que é lícito aos nubentes, antes do casamento,
estipular o que quiserem quanto aos bens.

Assim, as partes podem livremente adotar qualquer regime que quiserem ou combinar
o regime de bens entre si, criando regime diferente.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular,


quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges COMEÇA A VIGORAR DESDE
A DATA DO CASAMENTO.
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO DE AMBOS
OS CÔNJUGES, apurada a procedência das razões invocadas e
RESSALVADOS OS DIREITOS DE TERCEIROS.

EXCEÇÃO!!! A lei impede a livre estipulação, impondo obrigatoriamente o regime de


separação de bens, às pessoas que se encontrem nas condições do art. 1.641 (pessoas que
casam não observando causa suspensiva; maiores de 70 anos; de todos os que necessitem de
suprimento judicial para casar).

IMPORTANTE: A proteção matrimonial conferida pelo art. 1.641, II, do Código Civil de
2002, não deve ser aplicada quando o casamento for precedido de união estável que se iniciou
quando os cônjuges eram menores de 70 anos. STJ. 4ª Turma. REsp 1318281-PE, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 1/12/2016 (Info 595).

IMPORTANTE!!! Se não for feita a escolha quanto ao regime de bens ou se a escolha for
nula ou ineficaz, valerá o regime de comunhão parcial de bens que é o regime supletivo
(art. 1.640 do CC).

2- ADMINISTRAÇÃO E DISPONIBILIDADE DE BENS

Com o reconhecimento da ampla autonomia entre os cônjuges, não cabe mais só ao


marido prover o sustento da família. Esse mister é da entidade conjugal.

O art. 1.642 do CC dispõe sobre o que o marido e a mulher podem fazer livremente,
sem a anuência do outro:

 Atos de disposição e administração necessários ao desempenho de sua profissão,


administrar bens próprios.
 Desobrigar ou reivindicar imóveis que tenham sido alienados ou gravados sem sua
anuência.
 Invalidar contratos de doação, fiança e aval feitos pelo outro cônjuge sem sua
anuência.
 Reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, transferidos pelo outro cônjuge à
concubina, desde que provado que o bem não foi adquirido pelo esforço comum
dos amantes, estando o casal separado de fato há mais de 5 anos (Carlos Roberto
Gonçalves critica tal disposição, sob o argumento de que o cônjuge pode ser
beneficiado com a meação de patrimônio que não ajudou a construir, obtidos durante
os 5 anos de separação de fato).

IMPORTANTE!!! A jurisprudência tem decidido que não se comunicam ao outro cônjuge


os bens adquiridos no período que estavam separados de fato ou durante a convivência com
terceira pessoa.

O art. 1.643 do CC aduz que podem os cônjuges, independente da autorização do

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

outro, comprar, ainda que a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica e contrair
empréstimo para obter tais coisas.
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do
outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas (coisas
necessárias à economia doméstica) possa exigir.

Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam


SOLIDARIAMENTE ambos os cônjuges.

O art. 1.647 do CC, por sua vez, estabelece os atos que um cônjuge só pode fazer com
a autorização do outro.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges


pode, sem autorização do outro, EXCETO no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando
casarem ou estabelecerem economia separada.

Se tais atos forem praticados por um cônjuge sem a anuência do outro ou suprimento
judicial, tornar-se-ão anuláveis.

Nesse caso, ao ser anulado o negócio jurídico praticado por um cônjuge sem a
anuência do outro, o terceiro prejudicado tem ação regressiva contra o cônjuge que o
prejudicou, ou seus herdeiros.

Obs.: Se o outro cônjuge se negar, sem justo motivo, a dar a anuência à prática dos atos
previstos no art. 1.647 do CC, ou lhe seja impossível anuir (está em coma, p.ex.), cabe ao juiz
suprir-lhe a vontade (art. 1.648 do CC).

IMPORTANTE!!! A falta de consentimento do outro cônjuge e de suprimento judicial torna


o negócio jurídico ANULÁVEL. O prazo para a anulação é de 2 ANOS A CONTAR DO
TÉRMINO DA SOCIEDADE CONJUGAL. A ação anulatória somente poderá ser proposta
pelo cônjuge preterido ou por seus herdeiros (são os interessados considerados legitimados
pelo art. 1.650 do CC).

Atenção!!! Pablo Stolze chama atenção para a supressio/surrectio que pode existir nesses
casos.

O ato é apenas anulável, não nulo, podendo ser validado pela posterior autorização,
que pode ser dada por instrumento público ou particular (art. 1.649, parágrafo único, do CC).

Os atos que nenhum dos cônjuges pode fazer sem a autorização do outro, EXCETO
no regime de separação absoluta de bens são:

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I- Alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis

Justifica-se pelo fato de os bens imóveis serem bens de raiz, que se destinam à
segurança da família. Por isso, ambos os cônjuges devem ser ouvidos a respeito da
conveniência ou não de alienar esse bem.

O verbo alienar tem sentido amplo e abrange todas as formas de transferência do bem
de um patrimônio para outro: venda, doação, permuta, dação em pagamento etc.

IMPORTANTÍSSIMO!!! É INDISPENSÁVEL a vênia conjugal também no


COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IRRETRATÁVEL, já que é instrumento
hábil a transferir o bem por meio de adjudicação compulsória (independentemente do efetivo
registro).

Também a imposição ao bem de ônus reais (ex.: hipoteca) depende de autorização do


outro cônjuge, já que pode significar a perda do bem.

II- Pleitear como autor ou réu acerca desses bens ou direitos

Para demandar sobre direito real sobre bens imóveis no polo ativo, um cônjuge
depende da AUTORIZAÇÃO do outro (salvo no regime da separação absoluta). Ensina
Fredie Didier que não se trata de um litisconsórcio ativo necessário (figura cuja existência
é rechaçada pela doutrina majoritária), bastando a autorização para demandar.

No polo passivo, existe a necessidade de formação de um litisconsórcio necessário,


devendo ambos os cônjuges serem citados.

Essa necessidade se justifica porque o julgamento da ação pode levar à perda do bem
imóvel.

III- Prestar fiança ou AVAL

Procura-se evitar a dilapidação dos bens do casal em virtude da graciosa garantia de


dívida de terceiro.

IMPORTANTE!!! A ação anulatória cabe ao cônjuge que não consentiu. Porém, mesmo que
esse não proponha a ação, poderá opor embargos de terceiro para excluir os bens de sua
meação de eventual penhora, pois somente as dívidas que guardem relação com a
economia doméstica obrigam solidariamente os cônjuges.

IMPORTANTE: O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada
somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de
bens for da separação absoluta). Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob
pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário. Diante disso, o STJ afirmou que esse
art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando
que eles são regidos pelo Código Civil. Por outro lado, os títulos de créditos nominados
(típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer a regra do art. 1.647,

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III, do CC. Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de
outorga uxória ou marital. Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota
promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito. STJ. 3ª Turma. REsp 1526560-
MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 604). STJ. 4ª Turma.
REsp 1633399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/11/2016.

IMPORTANTE: É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade


cooperativa. STJ. 4ª Turma. REsp 1351058-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
26/11/2019 (Info 664). A fiança concedida em garantia de operação comercial, por não ser
desinteressada, dispensa a outorga uxória. No entanto, para o STJ, as cooperativas possuem
natureza civil e praticam atividades econômicas não empresariais, não podendo ser
qualificadas como comerciantes/empresárias (não se está, assim, diante de “fiança
mercantil”).

IMPORTANTE: Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte, a fiança prestada


sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia (Sumula
332/STJ), salvo se o fiador emitir declaração falsa, ocultando seu estado civil de casado.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1533161/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/08/2018.

IV- Fazer doação, NÃO sendo remuneratória, de bens comuns ou dos que possam
integrar futura meação

Tal proibição se aplica aos bens móveis, porque os imóveis já estão abrangidos pelo
inciso I do art.1.647 do CC. A doação remuneratória é permitida mesmo sem a anuência
do outro cônjuge. Doação remuneratória é aquela que representa o pagamento de um serviço
prestado pelo donatário.

3- PACTO ANTENUPCIAL

A escolha do regime de bens é feita no pacto antenupcial. Se este não for feito, ou for
nulo ou ineficaz, vigorará o regime da comunhão parcial de bens (regime supletivo).

Pacto antenupcial é um contrato SOLENE (é solene porque é nulo o pacto


antenupcial que não for feito por escritura pública) e CONDICIONAL (é condicional
porque é ineficaz o pacto antenupcial se não lhe seguir o casamento) por meio do qual os
nubentes disciplinam o regime de bens que vigorará durante a constância do casamento. A
natureza contratual do pacto antenupcial permite concluir que são a ele aplicáveis os
princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva.

A capacidade para celebrar o pacto antenupcial é a mesma para o casamento,


exigindo-se para o menor, a anuência dos representantes legais.

O art. 1.655 do CC dispõe que é nula a convenção ou cláusula que constar no pacto
que conflite com disposição absoluta de lei, ou seja, que colida com normas de ordem pública.

Para valer contra terceiros, o pacto deve ser registrado no Registro de Imóveis do
domicílio dos cônjuges. Caso contrário, só valerá entre as partes, ficando, com relação a
terceiros, como se não existisse pacto, valendo para eles o regime de comunhão parcial (art.

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1.657 do CC).

Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito PERANTE


TERCEIROS senão DEPOIS DE REGISTRADAS, em livro especial, pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

4- REGIME DA SEPARAÇÃO LEGAL (OU OBRIGATÓRIA)


Como se trata de imposição legal, NÃO é necessário o pacto antenupcial.

O regime da separação legal é imposto para resguardar interesses de terceiros (no caso
de violação a causa suspensiva) ou de um dos nubentes, protegendo-o de eventuais
aventureiros que objetivam apenas vantagens patrimoniais.

As hipóteses em que é obrigatório o regime da separação de bens são:

a) Violação de causa suspensiva: é para proteger o interesse de terceiros. A inobservância de


causa suspensiva torna o casamento irregular, impondo o presente regime.

b) Pessoas maiores que 70 anos: tem a intenção de proteger idosos de aventureiras(os) que
só pretendem lograr vantagens financeiras. A doutrina sustenta, porém, que a referida
restrição é incompatível com as cláusulas constitucionais de tutela da dignidade da pessoa
humana, da igualdade jurídica e da intimidade.

c) Os que dependerem de autorização judicial para casar: tem a intenção de proteger o


menor que conseguiu a autorização judicial para se casar.

IMPORTANTE!!! No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos


na constância do casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua
aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado. O regime
de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1623858-MG, Rel.
Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em
23/05/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).

IMPORTANTE: Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime
patrimonial que irá regular essa relação é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do
CC). Apesar disso, se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na loteria, o valor
do prêmio integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de forma que
pertence a ambos. Assim, havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá
ser partilhado igualmente entre os consortes. Em suma, o prêmio de loteria, recebido por ex-
companheiro septuagenário durante a relação de união estável, deve ser objeto de meação
entre o casal em caso de dissolução do relacionamento. STJ. 4ª Turma. REsp 1689152-SC,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

5- REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL OU LIMITADA

Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao passado (bens que cada


cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro (bens adquiridos na

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constância do casamento, com exceção dos incomunicáveis), gerando três massas de bens: os
do marido, os da mulher e os comuns.

É o regime que prevalece se os consortes não fizerem pacto antenupcial, ou, se o


fizeram, este for nulo ou ineficaz (art. 1.640 CC). É, portanto, o regime legal ou supletório.

São bens particulares de cada cônjuge (arts. 1.659 e 1.661 do CC):

a) aqueles que cada um possuía antes do casamento e OS SUB-ROGADOS EM SEU


LUGAR
b) havidos posteriormente a título gratuito (por doação ou sucessão) e os sub-rogados em
seu lugar
c) as obrigações anteriores ao casamento
d) as obrigações provenientes de ato ilícito, salvo reversão em proveito do casal
e) os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão
f) os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge
g) as pensões, meios-soldos e montepios e outras rendas semelhantes
h) os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento

IMPORTANTE!!! No tocante ao disposto no inc. VI do art. 1.659 do CC, que exclui da


comunhão os “proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge”, o que não é comunicável é
só o direito a esses proventos. Ou seja, após a separação, cada um continua com o direito de
receber a sua remuneração integralmente. Entretanto, após o recebimento do dinheiro fruto do
trabalho, este integra os bens comuns do casal. Se se interpretar que o dinheiro recebido pelo
trabalho não se comunica, mas somente o que for adquirido com ele, um tratamento
favorecido estará sendo criado para aquele cônjuge que prefere poupar em espécie em
detrimento daquele que compra bens para a família. Essa mesma construção vale para as
pensões, soldos e montepios.

São bens comuns (art. 1.660 do CC):

a) os adquiridos na constância do casamento por título oneroso ou FATO EVENTUAL


(a exemplo do prêmio de loteria)
b) por doação, herança ou legado em favor de ambos os cônjuges.
c) as benfeitorias em bens particulares de cada um deles
d) os frutos advindos dos bens comuns ou particulares, percebidos na constância do
casamento ou pendentes quando o casamento acabar.

Obs.: Os bens móveis presumem-se adquiridos durante a constância do casamento, se não se


provar que foram adquiridos de outro modo (art. 1.662 do CC).

Os bens comuns respondem pelas dívidas contraídas pelo marido ou pela mulher para
atender aos encargos da família, às despesas de administração e as decorrentes de imposição
legal (art. 1.664 do CC).

6- REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL


É o regime que estabelece a comunhão de todos os bens presentes e futuros dos

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cônjuges, bem como as dívidas posteriores ao casamento, com exceção daqueles bens
excluídos da comunhão pela lei ou pela vontade das partes.

É regime que depende de contrato pré-nupcial (escritura pública).

No regime da comunhão universal predominam os bens comuns. Entretanto, podem


existir bens particulares do marido e da mulher.
6.1 BENS INCOMUNICÁVEIS

Os bens excluídos da comunhão estão elencados no art. 1.668 do CC. São eles:

a) Bens doados ou herdados com cláusula de incomunicabilidade, e os sub-rogados em seu


lugar.
b) Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de
realizada a condição suspensiva.
c) Dívidas anteriores ao casamento, salvo as que forem com gastos no casamento ou que
tenham se revertido em proveito comum.
d) Os bens de uso pessoal, livros e objetos de trabalho.
e) Proventos do trabalho (salário).
f) Pensões, meio-soldo e montepio.

Obs.: Valem as mesmas observações para as letras “e” e “f” feitas ao tratar dos bens
incomunicáveis na comunhão parcial.

Obs.: Dispõe a súmula 49 do STF: a cláusula de inalienabilidade inclui a


incomunicabilidade dos bens. Disposição idêntica está gravada no art. 1.911 do CC. Assim,
se o bem vier gravado com cláusula de inalienabilidade, será também incomunicável (e
impenhorável) e será excluído da comunhão.

IMPORTANTE!!! Os frutos advindos dos bens incomunicáveis se comunicam e passam a


integrar o patrimônio do casal (art. 1.669 do CC).

7- REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS

Trata-se de um regime misto. Durante o casamento, se aplicam as regras da separação


convencional (absoluta), após a sua dissolução, regras próximas às da comunhão parcial.
Cada cônjuge possui patrimônio próprio e lhe cabe, quando da dissolução, o direito a metade
dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Dessa forma,
finda a união, cada cônjuge terá direito a uma participação daqueles bens para os quais
colaborou para a aquisição, devendo provar o esforço patrimonial para tanto, uma vez que o
art. 1.672 do CC preconiza que caberá direito à metade dos bens adquiridos a título oneroso
durante a união.

É na verdade um regime de separação de bens, enquanto durar a sociedade conjugal,


tendo cada cônjuge a exclusiva administração de seu patrimônio pessoal, integrado pelos que
possuía e pelos que adquirir a qualquer título na constância do casamento, podendo
livremente dispor dos móveis e dependendo da autorização do outro para os imóveis (art.
1.673 do CC).

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Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía
ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do
casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge,
que os poderá livremente alienar, se forem móveis.

Ao final da sociedade conjugal serão apurados os bens de cada cônjuge, cabendo a


cada um deles a metade dos adquiridos pelo casal a título oneroso na constância do
casamento. Deve ficar claro que os bens de participação não se confundem com a meação,
pois a última independe de prova de esforço comum para a comunicação. A doutrina aponta
haver atecnia nos dispositivos que fazem uso do termo meação.

Exclui-se da divisão o patrimônio próprio de cada um e o que em seu lugar sub-


rogaram-se, os que vieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade e as dívidas relativas a
esses bens (art. 1.674 do CC).

Pelas dívidas anteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, somente este
que contraiu responde, a não ser que reste provado que se reverteu em benefício comum.

IMPORTANTE!!! De acordo com o art. 1.682 do CC, o direito a meação não é renunciável,
cessível ou penhorável na vigência do regime matrimonial.

Depende de pacto antenupcial.

8- REGIME DA SEPARAÇÃO CONVENCIONAL (ABSOLUTA)


Neste regime, cada cônjuge conserva a propriedade plena de seus bens móveis e
imóveis, podendo aliená-los livremente, sem a necessidade de autorização do outro
cônjuge. Envolve todos os bens, presentes e futuros, frutos e rendimentos, e confere
autonomia a cada cônjuge na administração de seu patrimônio.

Exige prévia estipulação no pacto antenupcial.

Cada cônjuge é obrigado a contribuir nas despesas do lar na proporção de seus


rendimentos e de seus bens.

IMPORTANTE: O regime da separação convencional ou absoluta de bens não pode ser


confundido com o regime da separação legal ou obrigatória de bens. Na separação absoluta
(convencional), não há comunicação dos bens adquiridos na constância do casamento. Assim,
somente haverá separação absoluta (incomunicável) na separação convencional. No regime de
separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição. No sentido: “Inaplicabilidade, in casu, da
Súmula 377 do STF, pois esta se refere à comunicabilidade dos bens no regime de
separação legal de bens (prevista no art. 1.641, CC), que não é caso dos autos. O aludido
verbete sumular não tem aplicação quando as partes livremente convencionam a separação
absoluta dos bens, por meio de contrato antenupcial. (...)” STJ. 4ª Turma. REsp 1481888/SP,
Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/04/2018.

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SUBTÍTULO III
DOS ALIMENTOS

Alimentos são prestações periódicas que objetivam a satisfação das necessidades


vitais de uma determinada pessoa que não possa prover tais necessidades pelo trabalho
próprio. Aquele que pleiteia os alimentos é o alimentando ou credor; o que os deve pagar é o
alimentante ou devedor. Abrange o necessário ao sustento, vestuário, habitação, assistência
médica e educação.

1- CLASSIFICAÇÃO

Existem diversas maneiras de classificar os alimentos:

 Quanto à natureza

a) Naturais/necessários: restringem-se ao indispensável para a sobrevivência.

b) Civis/côngruos: destinam-se a manter o status social da pessoa, o seu padrão de vida.

 Quanto à causa jurídica

a) Legais/legítimos: são os que decorrem de uma imposição legal, por conta do parentesco,
casamento, união estável etc.

b) Voluntários: são os que advêm da liberalidade manifestada por ato inter vivos ou causa
mortis (legado de alimentos). Pertencem ao direito das obrigações.

c) Indenizatórios: são os que decorrem de um ato ilícito. É a reparação por um ilícito


praticado. Pertence ao direito das obrigações.

IMPORTANTE!!! Somente os alimentos legais são pertencentes ao ramo do direito de


família. Assim, somente o seu inadimplemento autoriza a prisão por dívida (jamais se
prende por dívida em outros casos).

 Quanto à finalidade DECORAR!!!

a) Definitivos: são os estabelecidos pelo juiz em sentença definitiva ou acordo devidamente


homologado (embora sejam definitivos, caso a situação fática se altere, poderão ser revistos,
na forma do art. 13 Lei de alimentos e art. 1.699 do CC).

IMPORTANTE!!! O art. 15 da Lei de alimentos afirma que a decisão judicial sobre


alimentos NÃO TRANSITA EM JULGADO, podendo a qualquer tempo ser revista em face
da modificação da situação financeira dos interessados.
   
 Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a
qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira
dos interessados.

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b) Provisórios: são os fixados em liminar da ação de alimentos de rito especial


estabelecido pela Lei nº 5.478/68. Trata-se de um tipo especial de alimentos que exige uma
única prova: a prova da relação de parentesco ou da obrigação alimentar. Se a parte
trouxer essa prova, o juiz é obrigado a fixar os alimentos provisórios, salvo se a parte
expressamente disser que deles não necessita. Ou seja, pela lei, a parte não precisa requerer a
fixação de alimentos provisórios, devendo o juiz fixá-los a não ser que a parte diga que não
necessita. Entretanto, a despeito do que diz a lei, Carlos Roberto Gonçalves afirma que o juiz
não pode deferir alimentos provisórios sem requerimento da parte.

c) Provisionais: estipulados em outras ações que não seguem o rito especial mencionado
(previsto na Lei de Alimentos). Visam manter a parte que os pleiteia no curso da lide. São
fixados por meio de antecipação de tutela ou em liminar concedida em medida cautelar de
separação de corpos ou em ações em que não há a mencionada prova pré-constituída (caso da
investigação de paternidade). Estão previstos no art. 1.706 do CC.

Com o advento do CPC/15, os alimentos provisionais passaram a ser apenas uma


hipótese de cautelar inominada.

IMPORTANTE!!! Seja com base na lei especial, seja com base no CPC, os alimentos, uma
vez deferidos, retroagem à data da citação (art. 13, §2º da lei nº 5.478/68).

Súmula 612-STJ: “Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o


alimentante do pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação e a
repetibilidade”. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

IMPORTANTE: Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu


termo inicial, deve prevalecer o disposto no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de
Alimentos), segundo o qual, em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da
citação. Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.
Se a lei diz expressamente que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não cabe ao
intérprete fazer restrições onde o legislador não o fez, de modo que não há justificativa
para que os alimentos fixados em acordo celebrado em ação investigatória de
paternidade não receba o mesmo tratamento, sob o singelo argumento de que ajuste foi
omisso a respeito do seu termo inicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1821107-ES, Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

 Quanto ao momento

a) Pretéritos: quando os alimentos são referentes ao período anterior ao pedido.

b) Atuais: postulados a partir do ajuizamento.

c) Futuros: são os alimentos devidos somente a partir da sentença.

IMPORTANTE!!! A doutrina e a jurisprudência têm se reportado a uma outra espécie de


alimentos, os compensatórios. De cunho mais indenizatório que alimentar, pois não se
restringem em cobrir apenas a dependência alimentar, mas também o desequilíbrio econômico

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

e financeiro oriundo da ruptura do liame conjugal. Não deve ter duração ilimitada no tempo.
Uma vez desfeitas as desvantagens sociais e reparado o desequilíbrio financeiro provocado
pela ruptura da união conjugal, devem cessar.

Obs.: A Lei Maria da Penha prevê que o Juiz de Família poderá, quando necessário, sem
prejuízo de outras medidas protetivas de urgência, aplicar ao agressor a prestação de
alimentos provisionais ou provisórios.

2- OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E DIREITO A ALIMENTOS

IMPORTANTE!!! É importante ressaltar que entre pais e filhos menores existe o dever de
sustento inserido no plexo do poder familiar, e entre cônjuges ou companheiros existe dever
de mútua assistência.

A obrigação alimentar também decorre da lei, mas tem como fundamento o


parentesco ou o poder familiar. São devidos alimentos reciprocamente entre pais e
filhos, ascendentes, descendentes e colaterais até o 2º grau (apenas os irmãos). Os irmãos,
portanto, são os únicos colaterais obrigados ao pagamento de alimentos, caso demonstrada
necessidade de quem os reclama e possibilidade de quem os deve prover (devendo também
ser observada a proporcionalidade na fixação dos alimentos).

Enunciado 341 do CJF/STJ: “para os fins do art. 1.696 do CC, a relação


socioafetiva pode ser elemento gerador de obrigação alimentar”.

Segundo o entendimento deste Tribunal, a obrigação alimentar decorre da lei, que


indica os parentes obrigados de forma TAXATIVA e não enunciativa, sendo devidos os
alimentos, reciprocamente, pelos pais, filhos, ascendentes, descendentes e colaterais até o
segundo grau, NÃO abrangendo, consequentemente, tios e sobrinhos (CC, art. 1.697).
(AgRg no REsp 1305614/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 17/09/2013, DJe 02/10/2013)

Obs.: Os alimentos são transmissíveis (art. 1.700 do CC), passando a obrigação aos
herdeiros do alimentante nos limites dos quinhões hereditários.

IMPORTANTE!!! A obrigação alimentar é também DIVISÍVEL E NÃO-SOLIDÁRIA


(lembrar: a solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes). Havendo
três filhos em condições de prestar alimentos ao pai, este não poderá exigir que a obrigação
alimentar seja cumprida exclusivamente por um dos filhos, devendo cada um deles arcar
exclusivamente com a sua quota-parte. Se, no caso, o pai demandar somente um dos filhos,
receberá somente 1/3 da pensão (segundo o STJ, trata-se de litisconsórcio facultativo
impróprio). A exclusão da obrigação de prestar alimentos por parte de, no caso, um dos três
filhos só se legitima a nível de exame de mérito feito pelo juiz acerca da impossibilidade
financeira de um deles. Não pode o pai, por ele mesmo, julgar que um dos filhos não pode
prestar alimentos e ajuizar a ação somente contra os outros dois. Nesse caso, somente
receberá 2/3 dos alimentos. Porém, se se tratar de pai IDOSO, a obrigação de prestar
alimentos será solidária, portanto, poderá exigir o valor total de apenas um filho (isso
porque o Estatuto do Idoso prevê a solidariedade na prestação de alimentos ao idoso –
art. 12 da Lei 10.741/2003).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

IMPORTANTE!!! Existe uma tremenda celeuma acerca da natureza jurídica da


intervenção de terceiros prevista no art. 1.698, segunda parte, do CC. Fredie Didier e
Carlos Roberto Gonçalves sustentam que se trata de litisconsórcio facultativo e que o art.
1.698 equivocou-se nessa parte já que não poderão os demais réus chamar ao processo os
litisconsortes facultativos excluídos pelo autor, já que se trata de uma opção do autor
demandar contra quem ele quiser. Maria Berenice Dias e Cássio Scarpinella pregam que se
trata de um novo tipo de intervenção de terceiros (intervenção autônoma no processo) que,
apesar de não se tratar de obrigação solidária, admite-se que os demais réus provoquem o
ingresso do excluído no processo.

Obs.: É certo que, apesar de o art. 1.698 do CC se valer da expressão “chamadas a integrar a
lide” a hipótese não trata de chamamento ao processo, já que chamamento pressupõe
obrigação solidária, o que não é o caso.
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver
em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a
concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a
lide.

Flávio Tartuce segue o entendimento de Rodrigo Mazzei, no sentido de que o


dispositivo enuncia litisconsórcio sucessivo-passivo, pois se trata de hipótese de
responsabilidade subsidiária especial. Ato contínuo, sustentam os autores que as convocações
dos demais parentes devedores para integrar serão formuladas pelo autor da ação, e não pelo
réu (como instrumento de efetivação do direito aos alimentos).

IMPORTANTE!!! O ESTATUTO DO IDOSO prevê que em se tratando de obrigação


alimentar devida a idoso, a OBRIGAÇÃO É SOLIDÁRIA (trata-se do único caso de
obrigação alimentar solidária).

 Principais características da obrigação alimentar

a) Personalíssimo: é a característica principal. Os alimentos são fruto de uma obrigação


personalíssima entre alimentante e alimentado.

b) Incessível: dada a sua natureza jurídica e o fato de ser personalíssimo e objetivar o próprio
sustento do alimentado, a obrigação alimentar não pode ser alvo de cessão de crédito (art.
1.707).

IMPORTANTE!!! Só não pode ser cedido o crédito a alimentos futuros. Os alimentos já


vencidos são créditos comuns que ingressaram na esfera do alimentado, podendo, pois, ser
cedidos.

c) Impenhorável: os créditos destinados à mantença do indivíduo são impenhoráveis.

d) Incompensável: dada a natureza de garantir o próprio sustento da pessoa do alimentado,


os alimentos não podem ser extintos por compensação (art. 1.707).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.

O STJ NÃO admite que os valores pagos a mais sejam compensados com as
prestações vincendas:

IMPORTANTE!! STJ 543 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. LIMITES DOS


EFEITOS DA SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS.
Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos – seja em caso de
redução, majoração ou exoneração – retroagem à data da citação (art. 13, § 2º, da Lei
5.478/1968), ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a impossibilidade de
compensação do excesso pago com prestações vincendas. (EREsp 1181119/RJ, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/11/2013, DJe 20/06/2014)

Perguntas que explicam o julgado:

Em julho e agosto, Rui pagou 4 mil reais em cada mês e, posteriormente, esse valor foi
reduzido para 1 mil reais mensais. Ele poderá pedir de volta esses 6 mil reais que pagou a
mais para Gabriel (seu filho) (3 mil a mais em cada mês)? NÃO. A decisão na revisão de
alimentos é RETROATIVA, no entanto, os valores adimplidos são irrepetíveis, ou seja,
as parcelas que já foram pagas não podem ser pedidas de volta. Isso porque o direito
presume, de forma absoluta (presunção jure et de jure), que as quantias recebidas a título de
alimentos foram utilizadas para o sustento da pessoa, isto é, foram efetivamente consumidas,
não sendo, portanto, legítimo que o beneficiário seja obrigado a devolver por conta de uma
decisão posterior.

Rui poderá utilizar esse valor pago a mais (6 mil reais) como crédito e compensá-los
(abatê-los) das prestações futuras? NÃO. A decisão na revisão de alimentos é
RETROATIVA, no entanto, mesmo que isso gere um “crédito” em favor do alimentante, ele
não poderá utilizar esse saldo positivo para abater (fazer a compensação) dos valores que ele
ainda tem que pagar. Em outras palavras, ele não pode compensar o excesso do que foi
pago com prestações vincendas.

Se existe uma decisão determinando que o pai/devedor pague pensão alimentícia para o
seu filho e este pai ajuíza uma ação de exoneração ou redução dos alimentos, o simples
fato de ter sido proposta a demanda já faz com que fique suspensa a sua obrigação? NÃO.
O ajuizamento de ação pleiteando exoneração/revisão de alimentos não exime o devedor
de continuar a prestá-los até o trânsito em julgado da decisão que modifica o valor da
prestação alimentar ou exonerá-lo do encargo alimentar (art. 13, § 3º, da Lei n.
5.478/1968).

Se o juiz profere sentença exonerando o pai/devedor de pagar alimentos ou reduzindo o


valor fixado, mas o alimentando (filho) apresenta apelação, a obrigação alimentícia é
suspensa? NÃO. Da sentença revisional/exoneratória caberá apelação com efeito
suspensivo e, ainda que a referida decisão seja confirmada em segundo grau (pelo
Tribunal), não haverá liberação da prestação alimentar se for interposto recurso
especial ou recurso extraordinário. Em suma, somente com o trânsito em julgado é que

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

haverá a retroação da decisão que reduz ou exonera. Durante todo o período de


tramitação da ação revisional/exoneratória, salvo se concedida antecipação de tutela
suspendendo o pagamento, o devedor deverá adimplir a obrigação, sob pena de prisão
(art. 733 do CPC).
Agora, transitada em julgado a sentença revisional/exoneratória, se, por qualquer
motivo, não tiverem sido pagos os alimentos, a exoneração ou a redução terá efeito
retroativo à citação (art. 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968), não sendo cabível a execução de
verba já afirmada indevida por decisão transitada em julgado.

e) Imprescritível: o que não prescreve é o direito de postular em juízo o pagamento de


prestação alimentícia. Entretanto, o direito de cobrar os alimentos vencidos prescreve em
DOIS ANOS (art. 206, §2º, do CC).

IMPORTANTE!!! Lembrar que a PRESCRIÇÃO NÃO CORRE CONTRA OS


ABSOLUTAMENTE INCAPAZES (art. 198, I, do CC). Assim, por exemplo, a prestação
alimentar devida a filho menor, mesmo vencida há mais de dois anos, não estará prescrita.

f) Intransacionável: sendo o direito aos alimentos intransmissível e indisponível, não pode


ser transacionável. Assim, não pode ser dirimido pelo juízo arbitral.

IMPORTANTE!!! O que é intransacionável é o direito aos alimentos (fundo de direito).


Ou seja, a parte não pode acordar em dispor do direito aos alimentos. Entretanto, o valor das
parcelas (vencidas e vincendas) pode ser, e muitas vezes é, fruto de um acordo entre as
partes. O próprio art. 9º, §2º, da Lei de alimentos menciona a possibilidade de acordo.

g) Atual: só é exigível no presente e futuro, mas não no passado.

h) Irrepetível: os alimentos são destinados a serem consumidos. Assim, uma vez pagos a
qualquer título (provisórios, provisionais ou definitivos) não são restituíveis, justamente
porque o alimentando já os consumiu.

IMPORTANTE!!! Apesar da característica de serem irrepetíveis, o STJ já determinou a


repetição no caso de novo casamento da ex-cônjuge, alimentanda, não comunicado ao patrão
do alimentante, que continuou com os descontos em folha.

i) Irrenunciável: o direito aos alimentos é um consectário lógico do direito à vida. Trata-se


de uma forma de garantir o direito à vida. Dessa forma, é protegido com normas de ordem
pública, que não podem ser renunciadas. Assim, o direito aos alimentos é irrenunciável. O
art. 1.707 do CC admite que o credor não exerça o direito de pedir os alimentos, mas
impossibilita a renúncia aos mesmos.

IMPORTANTE!!! Os alimentos devidos e não prestados podem ser renunciados.

IMPORTANTE!!! A irrenunciabilidade é reforçada pela súmula 379 do STF que reza que
“no acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados
ulteriormente, verificados os pressupostos legais”. Há polêmica sobre a superação dessa
súmula. Porém, no âmbito do STJ, vêm prevalecendo entendimento diverso: “São
irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

CC/2002). Não obstante considere-se válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião de
acordo de separação judicial ou de divórcio, nos termos da reiterada jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, não pode ser admitida enquanto perdurar a união estável.
(REsp 1178233/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
06/11/2014, DJe 09/12/2014)”. O professor Márcio do Dizer o Direito entende que a Súmula
379 do STF encontra-se superada.

Tal posicionamento também se encontra consagrado no Enunciado 263 do CJF/STJ:


O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia
manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da “união
estável”. A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista
vínculo de Direito de Família.

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado


renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito
insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

3- PRESSUPOSTOS. PESSOAS OBRIGADAS

Os pressupostos da obrigação alimentar são:

a) Relação de parentesco
b) Necessidade de quem pleiteia
c) Possibilidade do obrigado

Só é possível reclamar alimentos, assim, o parente que não tem recursos próprios
nem possibilidade de obtê-los por seus próprios meios (por enfermidade, idade tenra ou
avançada...).
Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem
bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria
mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque
do necessário ao seu sustento.

Não importa a causa que levou o alimentando a essa situação de necessidade, tendo
direito aos alimentos mesmo que seja culpado por ela (nesse caso, só aos alimentos
estritamente necessários).

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a
situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

IMPORTANTE!!! Quer dizer que no pressuposto da necessidade de quem pleiteia o juiz


deve analisar também se o sujeito não tem condições de prover sua própria mantença.

O pagamento de alimentos depende também da possibilidade de quem os presta. É


inadmissível que, pelo cumprimento de obrigação alimentar, o alimentado fique privado de

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

seu próprio sustento (art. 1.695 do CC).

O quantum será fixado de acordo com um juízo de proporcionalidade feito pelo juiz,
que levará em conta o binômio necessidade/possibilidade.

IMPORTANTE!!! Na relação entre pais e filhos menores e entre cônjuges ou


companheiros, os alimentos são devidos em decorrência do dever familiar . Nesses casos, a
necessidade do alimentando não precisa ser demonstrada.

IMPORTANTE: É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de


doença mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos
prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do alimentado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info
601).

IMPORTANTE!!! Após o filho completar 18 anos, cessa o dever alimentar decorrente do


poder familiar, mas pode surgir o dever alimentar genérico, decorrente das relações de
parentesco, que exige a prova dos pressupostos possibilidade e necessidade (sem esquecer da
demonstração de que o alimentando não possui condições de prover-se).

IMPORTANTE!!! Reiterada jurisprudência tem, entretanto, afirmado que o advento da


maioridade do filho, por si só, não é capaz de gerar a imediata cessação do dever de prestar
alimentos, determinando a manutenção do encargo até o limite de 24 anos (limite extraído da
legislação sobre imposto de renda), enquanto estiver cursando escola superior, salvo se
dispuser de meios próprios para sua manutenção.

Obs.: Súmula 358 STJ: o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade ESTÁ SUJEITO À DECISÃO JUDICIAL , mediante contraditório, ainda que
nos próprios autos.

IMPORTANTE: Súmula 596-STJ: “A obrigação alimentar dos avós tem natureza


complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou
parcial de seu cumprimento pelos pais”. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.

IMPORTANTE!!! Cessa de imediato a obrigação alimentar em relação a filho emancipado


em razão do casamento.

O dever de sustento pesa somente sobre os pais, não se estendendo aos outros
ascendentes. E não é recíproco, ao contrário da obrigação alimentar do art. 1.694 do CC, que
se dá entre todos os ascendentes e descendentes.

 Formas de prestar alimentos

Existem duas formas de se prestar alimentos:

a) Própria: em espécie ou in natura. O alimentante dá a moradia, a comida, as roupas etc.

b) Imprópria: é o pagamento em pecúnia, por meio de prestações periódicas.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

A escolha do modo de prestar alimentos é do devedor. Entretanto, essa escolha não é


absoluta, podendo o juiz determinar que o pagamento se faça dessa ou daquela maneira.

 Alimentos gravídicos

Mesmo antes da lei que deu o direito de a mulher grávida pleitear alimentos ao
suposto pai, a melhor doutrina já se mostrava favorável à tese de que são devidos alimentos
ao nascituro.

Diz Carlos Roberto Gonçalves que, como o direito aos alimentos tem afinidade com o
direito à vida, direito fundamental garantido pela CF, são devidos alimentos ao nascituro.

Obs.: Lembrar-se da corrente que diz que os direitos personalíssimos nascem com a
concepção e os direitos patrimoniais nascem com o nascimento com vida (Teoria da
Personalidade Formal ou Condicional).

Atualmente, é a lei nº 11.804/08 que regula o direito de alimentos da mulher gestante.

Os alimentos gravídicos compreenderão os valores suficientes para cobrir as


despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção
ao parto. Dentre essas despesas, além de outras que o juiz considere pertinentes, estão:

a) alimentação especial,
b) assistência médica e psicológica,
c) exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico.

Não quer dizer que todas essas despesas devem ser custeadas somente pelo futuro pai.
Na realidade, elas devem ser divididas entre futuro pai e futura mãe, na proporção de seus
ganhos.

Os alimentos gravídicos perduram até o nascimento da criança, após o que são


convertidos em pensão alimentícia, até que uma das partes solicite a revisão do valor.

IMPORTANTE: A ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o
nascimento da criança, pois os referidos alimentos ficam convertidos em pensão alimentícia
até eventual ação revisional em que se solicite a exoneração, redução ou majoração de seu
valor ou até mesmo eventual resultado em ação de investigação ou negatória de paternidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1629423-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/6/2017
(Info 606).

IMPORTANTE!!! Para a fixação de alimentos gravídicos basta a existência de indícios de


paternidade.

 Pessoas obrigadas

Os art. 1.696 e 1.697 do CC estabelecem um rol taxativo e preferencial de pessoas

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

obrigadas a prestar alimentos:

1- Ascendentes: o primeiro a quem se deve recorrer são aos pais. Na falta dos pais, aos avós e
assim por diante.

2- Descendentes: na falta de ascendentes, o dever recai sobre os descendentes, filhos, netos...

Obs.: O grau mais próximo exclui o grau mais remoto.

3- Irmãos: na falta desses, a obrigação recairá sobre irmão (é o único colateral obrigado).

IMPORTANTE!!! Esse rol é taxativo. O STJ já decidiu, em caso de pedido de alimentos


deduzidos em desfavor de irmã que vivia sob total dependência econômica do marido, não ser
possível a imposição de condenação ao pagamento de alimentos à ré, sob pena de a obrigação
recair sobre seu marido, que não é obrigado.

IMPORTANTE!!! Se quem pleiteia é casado, antes de pedir alimentos aos parentes, deve
pedi-los ao cônjuge, em decorrência do dever de mútua assistência.

IMPORTANTE: Obrigação alimentar extinta, mas mantida por longo período de tempo por
mera liberalidade do alimentante, não pode ser perpetuada com fundamento no instituto da
surrectio. STJ. 3ª Turma. REsp 1789667-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/08/2019 (Info 654). O dever de prestar
alimentos entre ex-cônjuges ou companheiros é regra excepcional que desafia interpretação
restritiva.

4- ALIMENTOS DECORRENTES DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE


CONJUGAL

IMPORTANTE!!! A disciplina é a mesma em se tratando de casamento ou de união estável


(art. 1.694 do CC).

O cônjuge inocente separado judicialmente que vier a necessitar de alimentos tem


direito a recebê-los em quantia suficiente para manter o seu padrão de vida - alimentos
côngruos/civis.

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de


alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada
pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação
judicial.

O cônjuge culpado também tem direito a alimentos a serem prestados pelo outro
consorte, desde que presentes os seguintes requisitos:

a) que não tenha parentes em condições de prestar os alimentos;


b) que não tenha aptidão para o trabalho

Nesse caso, os alimentos serão somente os indispensáveis à sobrevivência


(alimentos naturais/necessários).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

1704.
Parágrafo único. Se o CÔNJUGE DECLARADO CULPADO vier a
necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los,
nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los,
fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

Nos casos de alimentos devidos a ex-cônjuges, o novo casamento, união estável ou


concubinato do credor (alimentando) faz cessar a obrigação alimentícia.
Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor,
cessa o dever de prestar alimentos.

Obs.: O simples namoro não extingue a obrigação alimentar.

Da mesma forma, se o alimentando adotar procedimento indigno em relação ao


alimentante, cessará a obrigação alimentar.
1708.
Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a
alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.

O novo casamento do alimentante não extingue a obrigação.


Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação
constante da sentença de divórcio.

5- MEIOS PARA ASSEGURAR O PAGAMENTO DA PENSÃO

5.1 AÇÃO DE ALIMENTOS

A ação de alimentos, de rito especial previsto pela Lei nº 5.478/68, só pode ser
manejada por quem apresente prova pré-constituída do parentesco (ex.: certidão de
nascimento, sentença de investigação de paternidade) ou prova pré-constituída da
obrigação alimentar (ex.: certidão de casamento, que comprova o dever de mútua
assistência).

Obs.: Quem não possuir essas provas, deverá ajuizar uma ação ordinária.

IMPORTANTE!!! Ao despachar a inicial, o juiz fixará os alimentos provisórios (liminar de


alimentos). A leitura do texto da lei dá a clara impressão de que o juiz deverá fixar os
alimentos de ofício, só não o fazendo se a parte expressamente disser que não necessita desses
alimentos provisórios. Ocorre, porém que, Carlos Roberto Gonçalves diz que apesar do texto
da norma, o juiz não deve fixar os alimentos provisórios de ofício.

IMPORTANTE!!! Na sentença da ação de alimentos, o juiz fixa os alimentos a seu juízo, de


acordo com a proporcionalidade entre a necessidade e a possibilidade. Assim, não está o juiz
adstrito ao quantum pedido na petição inicial, não constituindo, dessa forma,
julgamento ultra petita se o juiz fixa os alimentos em valor superior ao que foi pedido
(trata-se de posição pacífica no STJ).

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De acordo com o art. 13 da Lei 5.478/68, os alimentos, mesmo os definitivos, podem


ser revistos a qualquer tempo, se sobrevier alteração no binômio necessidade x possibilidade.
Assim, na ação de alimentos a coisa julgada recai de maneira mais branda (na verdade, a
causa de pedir não é a mesma).

A ação de revisão de alimentos admite a fixação de alimentos provisórios, mas só em


situações excepcionais, como, por exemplo, quando o valor dos alimentos estiver fixado em
patamar irrisório.

IMPORTANTE!!! A apelação da sentença que julga procedente a ação de alimentos é


recebida somente no efeito devolutivo, ou seja, o apelante continua obrigado a pagar os
alimentos. De maneira diversa, a apelação da sentença que julga improcedente a ação de
alimentos é recebida no duplo efeito, ficando o apelante obrigado a pagar os alimentos
provisórios, caso concedidos anteriormente à prolação da sentença, até o trânsito em
julgado da ação.

Conclusão!!! Em qualquer caso, os alimentos provisórios são devidos até o final da ação (seja
a sentença de primeiro grau procedente, seja improcedente).

O art. 24 da lei de alimentos prevê uma hipótese rara: é possível que o devedor de
alimentos informe ao juiz os seus rendimentos e promova a citação dos credores para que
compareçam em juízo a fim de que sejam fixados os alimentos.

5.2 MEIOS DE EXECUÇÃO DA PRESTAÇÃO NÃO SATISFEITA

A execução da prestação alimentícia pode dar-se por diversas formas:

a) Execução por quantia certa: é a mais demorada das modalidades. Normalmente se opta
por esta forma de execução quando mesmo após cumprir a pena de prisão, o devedor não
paga. Uma vez penhorados os bens do devedor, incabível pleitear concomitantemente a
prisão.

b) Desconto em folha: se o devedor for funcionário público, empregado sujeito à legislação


do trabalho, em suma, quando receber contracheque, a medida executiva a ser adotada é o
desconto em folha de pagamento.

c) Reserva de aluguéis ou quaisquer outros rendimentos: quando o devedor receber


aluguéis ou qualquer outro rendimento, é possível que parte desses sejam reservados para o
pagamento da pensão.

d) Prisão civil: quando todos os outros meios executórios se mostrarem inviáveis, o juiz
intimará o devedor para que pague em três dias, sob pena de prisão civil.

Obs.: A única medida que vem depois da prisão é a execução por quantia certa.

A prisão civil do devedor de alimentos não tem caráter de pena, mas sim de meio
coercitivo de execução indireta. Assim, a prisão é imediatamente revogada quando o sujeito
pagar, já que a finalidade da medida terá sido cumprida.

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Se restar provado que o devedor não tem condições de pagar, não poderá ser
decretada a prisão, que só é cabível nos casos de descumprimento VOLUNTÁRIO e
INESCUSÁVEL da obrigação alimentícia.

IMPORTANTE!!! O juiz não pode, de ofício, determinar a prisão por dívida alimentícia.
Para tanto é necessário requerimento da parte (jurisprudência PACÍFICA).

IMPORTANTE!!! O Ministério Público, quando atuar na causa como custus iuris, no


interesse do menor também NÃO pode pedir a prisão por dívida (só o autor pode). Ao
contrário, quando se tratar de MP agindo como parte (substituto processual), tendo ajuizado
ação de alimentos nos moldes do ECA, para a defesa do menor, poderá requerer a prisão
do devedor (agindo como parte).

Atenção!!! Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação
de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder
familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no
artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos
acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca. STJ. 2ª Seção.
Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017.

Conclusão!!! Só o autor pode pedir a prisão civil do devedor (o Ministério Público só


poderá reclamar a prisão quando atuar como autor).

IMPORTANTE!!! A prisão civil poderá ser requerida pelo descumprimento no pagamento


de alimentos definitivos, provisórios ou provisionais. Ou seja, pode ser requerida a prisão na
falta de pagamento das três modalidades de alimentos.

#Qual é o prazo da prisão?


O CPC/15 anuncia o prazo de 01 a 03 meses. Tem prevalecido, a previsão do Código
de Processo Civil, sendo o prazo máximo de 03 meses.

É indispensável que o juiz, ao decretar a prisão, estabeleça o prazo, se não contiver


prazo, o decreto prisional é inexequível.

O recurso cabível da decisão que decreta a prisão é o agravo de instrumento. É


possível manejar Habeas Corpus, que será decidido por uma câmara/turma cível, e não
criminal.

Uma vez cumprida a pena de prisão, o alimentante não poderá ser preso pelas
mesmas parcelas.

Obs.: Somente o descumprimento da obrigação alimentícia sujeita o devedor a prisão, não


assim o não pagamento de outras verbas, como custas, despesas periciais e honorários de
advogados, que não podem ser incluídas no mandado de citação.

Cumprida a pena de prisão, o devedor não poderá ser novamente preso pelo não
pagamento das mesmas prestações vencidas, mas poderá sê-lo outras vezes mais, se não

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

pagar novas prestações que vencerem.

IMPORTANTÍSSIMO!!! A prisão somente poderá ser decretada para suprir as necessidades


atuais do alimentado. Assim, somente poderá ser decretada para pagar as TRÊS
ÚLTIMAS PRESTAÇÕES, caso contrário, a prisão estará sendo utilizada para compelir o
devedor a pagar uma dívida comum, visto que o alimentando logrou sobreviver sem essas
prestações (súmula 309 do STJ).

STJ Súmula nº 309 - O débito alimentar que autoriza a prisão civil do


alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

O entendimento exposto na súmula foi incorporado pelo CPC/15:


Art. 528. § 7o O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

Obs.: A quitação parcial não fulmina a dívida , não tendo o condão de revogar o decreto
prisional.

IMPORTANTE: A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos


jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a
obrigações de natureza alimentar. STJ. 4ª Turma. HC 439973-MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

TÍTULO III
DA UNIÃO ESTÁVEL

Inicialmente, a união entre homem e mulher sem casamento constituía concubinato,


sem qualquer proteção jurídica. Com o passar do tempo, esse concubinato passou a ser, de
alguma forma protegido pelo direito (ver legislação previdenciária e possibilidade de partilha
do patrimônio fruto do esforço comum - súmula 380 do STF).

Posteriormente, a expressão concubinato passou a ser mais empregada para os casos


de união entre homem e mulher na pendência de algum impedimento matrimonial. Dividiu-se
em concubinato impuro (o adulterino, estabelecido com pessoa casada não separada) e
concubinato puro (o que é hoje a união estável).

Hoje, a expressão concubinato é utilizada apenas para designar o concubinato impuro.

IMPORTANTE: Em relação ao concubinato (concubinato impuro), não há direito à meação


patrimonial, não há direito a alimentos ou direito sucessório. Na questão patrimonial, aplica-
se a antiga súmula 380 do STF, que consagra direito à participação patrimonial em relação aos
bens adquiridos pelo esforço comum. O concubinato não constitui entidade familiar, mas uma
mera sociedade de fato.

IMPORTANTE!!! Vale dizer que nem todos os impedimentos matrimoniais são


impedimentos para a constituição de união estável, já que O SEPARADO
JUDICIALMENTE E ATÉ MESMO O SEPARADO DE FATO PODEM CONSTITUIR
UNIÃO ESTÁVEL (art. 1.723, §1º, do CC).
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa
casada se achar SEPARADA DE FATO OU JUDICIALMENTE.
§ 2o As CAUSAS SUSPENSIVAS do art. 1.523 NÃO impedirão a
caracterização da união estável.

IMPORTANTE!!! Causas suspensivas NÃO impedem a união estável.

 Requisitos

Os requisitos estabelecidos pelo CC/02 para a configuração de união estável são:

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

a) União entre homem e mulher – Agora possível também entre homossexuais


b) Convivência pública, contínua e duradoura
c) Animus de constituir família

IMPORTANTE!!! Não existe requisito de lapso temporal específico, bastando que a


união seja duradoura. O conceito do que é ou não duradoura deverá ser examinado pelo juiz
caso a caso.

IMPORTANTE: O Código Civil definiu a união estável como entidade familiar entre o
homem e a mulher, “configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
com o objetivo de constituição de família” (art. 1.723). Em relação à exigência de estabilidade
para configuração da união estável, apesar de não haver previsão de um prazo mínimo, exige
a norma que a convivência seja duradoura, em período suficiente a demonstrar a intenção de
constituir família, permitindo que se dividam alegrias e tristezas, que se compartilhem
dificuldades e projetos de vida, sendo necessário um tempo razoável de relacionamento. No
caso concreto, o STJ afirmou que não havia união estável. Isso porque o relacionamento do
casal teve um tempo muito exíguo de duração. Foram apenas dois meses de namoro, sendo
duas semanas em coabitação, período que não permite a configuração da estabilidade
necessária para o reconhecimento da união estável. STJ. 4ª Turma. REsp 1761887/MS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/08/2019.

IMPORTANTE!!! NÃO é necessária a convivência sob o mesmo teto para a constituição


de união estável. Trata-se de entendimento jurisprudencial pacífico.

 Regime de bens

Dispõe o CC que o regime de bens adotado será o da comunhão parcial de bens.


Entretanto, os conviventes podem celebrar contrato escrito, disciplinando o regime de bens da
forma como quiserem.

IMPORTANTE: É válido, desde que escrito, o pacto de convivência formulado pelo casal no
qual se opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil (igual) ao
regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura pública.
Em outras palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar
contrato de convivência dizendo que aquela relação será regida por um regime de bens
igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para ser válido, precisa ser feito
por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública. STJ. 3ª Turma.
REsp 1459597-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1/12/2016 (Info 595).

IMPORTANTE: ANTES da Lei 9.278/96, quando chegava ao fim uma união estável, cada
companheiro somente teria direito aos bens sobre os quais contribuiu para a formação do
patrimônio comum. Não havia presunção legal de esforço comum para a partilha de bens. Ao
término do relacionamento, os bens amealhados no período eram divididos
proporcionalmente ao esforço comprovado, direto ou indireto, de cada convivente. Ainda
vigorava, em parte, o raciocínio da súmula 380 do STF quanto à necessidade de provar o
esforço comum. DEPOIS da Lei 9.278/96, foi criada uma presunção legal de comunhão dos
bens adquiridos a título oneroso durante a união estável. Quando há a dissolução da união
estável, para que o(a) companheiro(a) tenha direito aos bens adquiridos durante a relação,

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

ele(a) não precisará provar que contribuiu para a aquisição. Com a edição desta, os bens a
partir de então adquiridos por pessoas em união estável passaram a pertencer a ambos em
meação, salvo se houver estipulação em sentido contrário ou se a aquisição patrimonial
decorrer do produto de bens anteriores ao início da união. Ficou superada a súmula 380 do
STF. Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente
o homem trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa
e um sítio. Em 2000, chegou ao fim a união. As regras da Lei 9.278/96 poderão ser aplicadas
para todos os bens adquiridos durante a união (dois apartamentos, uma casa e um sítio)?
Presume-se que a mulher tenha direito aos dois apartamentos, à casa e ao sítio? NÃO. Os bens
adquiridos anteriormente à Lei 9.278/96 têm a propriedade — e, consequentemente, a partilha
ao fim da união — disciplinada pelo ordenamento jurídico vigente quando da respectiva
aquisição. Assim, tem-se o seguinte: Quanto aos bens adquiridos antes da Lei 9.278/96 (dois
apartamentos): aplica-se o regime da prova do esforço comum (Súmula 380 do STF). Quanto
aos bens adquiridos após a Lei 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a presunção legal de que a
mulher tem direito à meação dos bens, independentemente de prova do esforço comum. STJ.
2ª Seção. REsp 1124859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).

IMPORTANTE: O STF fixou a seguinte tese: No sistema constitucional vigente, é


inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código
Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão
geral) (Info 864). O STJ acompanhou o entendimento do Supremo e também decidiu de
forma similar: É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829
do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1332773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 27/6/2017 (Info 609).

IMPORTANTE: O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831


do Código Civil, não pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do
cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que o cônjuge ou
companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se
justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente
permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas
de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem
humanitária e social, já que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico
estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de sua
convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-
RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

IMPORTANTE: Em 2016, foi publicada a seguinte premissa na Edição 50 da ferramenta


Jurisprudência em Teses do Superior Tribunal de Justiça, que trata da união estável: “não é
possível o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas”. Em conclusão, essa é a posição
majoritária da jurisprudência superior, devendo ser assim considerada para os devidos fins
práticos.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

TÍTULO IV
DA TUTELA E DA CURATELA
CAPÍTULO I
DA TUTELA

1- CONCEITO

Tutela é o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa do
menor e administrar seus bens. Destina-se a suprir a falta do poder familiar. Constitui um
sucedâneo do poder familiar e é incompatível com este. Se os pais ainda se encontrarem com
o poder familiar, só se admitirá a nomeação de tutor depois que os pais forem destituídos de
tal encargo. É considerado um múnus público e é obrigatório, salvo nos casos dos arts. 1.736
e 1.737 do CC.
Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:
I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.

2- ESPÉCIES

As formas ordinárias de tutela civil são: testamentária, legítima e dativa.

Obs.: A tutela de fato (ou irregular) dá-se quando uma pessoa passa a zelar pelo menor e por
seus bens, sem ter sido nomeada. A tutela ad hoc, também chamada de tutela especial ou
provisória, ocorre quando uma pessoa é nomeada tutora para a prática de determinado ato,
sem destituição dos pais para o poder familiar. Também se denomina tutor ad hoc o curador
especial nomeado pelo juiz quando os interesses do incapaz colidirem com o do tutor.

a) Tutela testamentária: Atribui direito de nomear tutor somente aos pais em conjunto. Não
há prevalência de um sobre o outro. Só se admite a nomeação feita por apenas um deles se o
outro for falecido. A nomeação é feita por testamento ou outro documento autêntico, como
codicilo, escritura pública ou outro documento particular. Só podem nomear tutor os pais que
no momento da sua morte detinham o poder familiar.

Obs.: Mesmo feita por instrumento particular, a nomeação não deixa de ser testamentária, pois
somente irá produzir efeitos após a morte do nomeante.

b) Tutela legítima: não havendo nomeação por testamento ou outro documento autêntico,
incumbe a tutela aos parentes consanguíneos do menor, sendo chamada esta tutela de

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

legítima.

O art. 1.731 do CC nomeia os parentes que devem ser nomeados pelo juiz em ordem
preferencial.
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos
parentes consanguíneos do menor, por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais
remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos
casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício
do menor.

c) Tutela dativa: é quando não há tutor testamentário, nem a possibilidade de nomear-se


parente consanguíneo do menor, ou porque não existe nenhum, ou porque os que existem são
inidôneos. Tem caráter subsidiário. O juiz nomeará pessoa estranha à família residente no
domicílio do menor.

3- INCAPAZES DE EXERECER A TUTELA

Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a
exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem
constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer
direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda
contra o menor;
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes
expressamente excluídos da tutela;
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a
família ou os costumes, tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas
de abuso em tutorias anteriores;
VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa
administração da tutela.

4- PODEM SE ESCUSAR DA TUTELA


Art. 1.736. Podem ESCUSAR-SE da tutela:
I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.

Art. 1.737. Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar
a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consangüíneo ou afim, em
condições de exercê-la.

5- GARANTIA DA TUTELA

Art. 1.744. A RESPONSABILIDADE DO JUIZ será:

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

I - direta e pessoal, quando NÃO TIVER NOMEADO O TUTOR, ou não


o houver feito oportunamente;
II - subsidiária, quando NÃO TIVER EXIGIDO GARANTIA LEGAL
DO TUTOR, nem o removido, tanto que se tornou suspeito.

Art. 1.745. Os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo


especificado deles e seus valores, ainda que os pais o tenham dispensado.
Parágrafo único. Se o patrimônio do menor for de valor considerável,
poderá o juiz condicionar o exercício da tutela à prestação de caução
bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida idoneidade.

6- EXERCÍCIO DA TUTELA

O exercício da tutela assemelha-se ao do poder familiar, mas não se lhe equipara, pois
sofre algumas limitações, sendo ainda sujeita e inspeção judicial.

O tutor é obrigado a prestar balanços anuais e prestar contas em juízo, sob forma
contábil, de dois em dois anos, de sua administração.

A venda de imóveis pertencentes ao menor só pode ser feita mediante autorização


judicial e quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial.

Responde o tutor pelos prejuízos que, por culpa, ou dolo, causar ao pupilo, mas tem
direito a ser pago pelo que realmente despender no exercício da tutela e, salvo no caso do art.
1.734 do CC (tutela do menor abandonado do ECA), receber uma remuneração proporcional a
importância dos bens administrados.

O CC admite ao juiz a nomeação de um protutor. Incumbe-lhe a fiscalização do tutor.

7- CESSAÇÃO DA TUTELA

Em relação ao menor:
Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:
I - com a maioridade ou a emancipação do menor;
II - ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou
adoção.

Cessam as funções do tutor, sem que cesse a tutela:


Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:
I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
II - ao sobrevir escusa legítima;
III - ao ser removido.

Art. 1.765. O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos.


Parágrafo único. Pode o tutor continuar no exercício da tutela, além do
prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar conveniente ao menor.

Art. 1.766. Será destituído o tutor, quando negligente, prevaricador ou


incurso em incapacidade.

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CAPÍTULO II
DA CURATELA

1- CONCEITO

Curatela é o encargo definido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e
administrar os bens de quem, não pode fazê-lo por si mesmo. Assemelha-se a tutela por seu
caráter assistencial, destinando-se igualmente a proteção dos incapazes.

Obs.: São aplicadas as disposições legais relativas à tutela.

2- DIFERENÇAS ENTRE TUTELA E CURATELA

a) A tutela é destinada a menores de 18 anos de idade, enquanto a curatela é deferida, em


regra, a maiores (não é absoluta a regra de que a curatela se destina somente a incapazes
maiores).

b) A tutela pode ser testamentária com nomeação de tutor pelos pais; a curatela é SEMPRE
deferida pelo juiz.

c) A tutela abrange a pessoa e os bens do menor, enquanto a curatela pode compreender


somente a administração dos bens do incapaz, como no caso dos pródigos.

d) Os poderes do curador são mais restritos do que os poderes do tutor.

3- CARACTERÍSTICAS RELEVANTES DA CURATELA

a) Seus fins são assistenciais.


b) Tem caráter eminentemente publicista (o estado deve zelar pelo interesse dos incapazes).
c) Tem caráter supletivo da capacidade.
d) É temporária, perdurando somente enquanto a causa da incapacidade se mantiver.
e) A sua decretação requer certeza da incapacidade, obtida por meio do procedimento especial
de interdição.

IMPORTANTE!!! Tem prevalecido o entendimento de que a sentença que decreta a


interdição não é constitutiva, mas sim declaratória da existência de uma situação.

IMPORTANTE!!! Como a incapacidade é preexistente, entende-se possível intentar ação


anulatória dos atos praticados anteriormente à sentença, devendo-se, no entanto, provar a
incapacidade àquela época. Já os atos praticados na constância da interdição levam consigo,

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sem necessidade de prova, a eiva de nulidade pressuposta na interdição.

IMPORTANTE!!! Em princípio são nulos os atos praticados antes da interdição. Todavia, a


jurisprudência tem ressalvado os direitos do terceiro de boa-fé que negociou com o incapaz
ignorando a sua incapacidade. Somente se anula o negócio se a deficiência era notória.

Obs.: O nosso ordenamento não admite os chamados intervalos lúcidos. Os atos praticados
pelo incapaz serão sempre NULOS, ainda que no momento aparentasse alguma lucidez.

O art. 1.767 do CC revela as hipóteses de curatela.


Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015);
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015)  
IV - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
V - os pródigos.(somente aos atos de alienação do patrimônio, os atos de
disposição praticados sem assistência serão anuláveis)

IMPORTANTE!!! Insta frisar, aqui, que em face do advento do Estatuto da Deficiência,


houve uma revolução nos institutos da curatela e da interdição. Os amentais, ou deficientes
mentais, não estão mais submetidos à curatela, sendo reconhecidos como sujeitos plenamente
capazes. A curatela dar-se-á apenas como medida EXTRAORDINÁRIA e de forma
LIMITADA, conforme o Estatuto da Deficiência:

Art. 84.  A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício


de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas.(Capacidade plena dos deficientes)
§ 1o  Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à
curatela, conforme a lei.
§ 2o  É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de
tomada de decisão apoiada.
§ 3o  A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida
protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
§ 4o  Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua
administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 85.  A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos
de natureza patrimonial e negocial.
§ 1o  A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à
sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao
trabalho e ao voto.
§ 2o  A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da
sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os
interesses do curatelado.
§ 3o  No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear
curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de
natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.

Art. 86.  Para emissão de documentos oficiais, não será exigida a


situação de curatela da pessoa com deficiência.

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Art. 87.  Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os


interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito
ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do
interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará
sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo Civil.

Conforme visto, o Estatuto da Deficiência trouxe ao Código Civil o instituto da


tomada de decisão apoiada, que assim a disciplina:
Art. 1.783-A.  A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a
pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com
as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-
lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes
os elementos e informações necessários para que possa exercer sua
capacidade. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 1o  Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com
deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os
limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,
inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. (Incluído pela Lei
nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 2o  O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa
a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o
apoio previsto no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015)  (Vigência)
§ 3o  Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão
apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do
Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que
lhe prestarão apoio. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 4o  A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio
acordado. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 5o  Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial
pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 6o  Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um
dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre
a questão. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 7o  Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou
não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou
qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao
juiz. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 8o  Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará,
ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para
prestação de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 9o  A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de
acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 10.  O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do
processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento
condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria. (Incluído pela Lei
nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 11.  Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as
disposições referentes à prestação de contas na curatela. (Incluído pela

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)

IMPORTANTE!!! O CC prevê a possibilidade de se dar CURATELA AO NASCITURO.


Art. 1.779. Dar-se-á CURADOR AO NASCITURO, se o pai falecer
estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.
Parágrafo único. SE A MULHER ESTIVER INTERDITA, SEU
CURADOR SERÁ O DO NASCITURO.

Podem ser nomeados curador:

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de


fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. (curatela legitima)
§1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe;
na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto. (curatela
legitima)
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
(curatela legitima)
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha
do curador (curatela dativa)

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