Você está na página 1de 30

DIREITO CIVIL – FAMILIA AULA 16/28

TEMA: 4 Do concubinato e da união estável DATA: 10/05/2022

TEMPO: 100 minutos

CONTEÚDO DA AULA:

4.1 Do concubinato e da união estável


Evolução
Regulamentação
Conceito
Requisitos
Deveres
Efeito patrimoniais
Conversão em casamento
Repúdio ao concubinato
Respostas às questões de aula anterior:

01. Gabriel e Júlia casaram-se jovens, com apenas 18 anos e tornaram-se


proprietários de uma empresa multinacional. Após 2 anos do matrimônio
nasceu Pedro. Desejando outro filho, no mês do aniversário de 1 ano de
Pedro, o casal ajuizou uma Ação de Adoção perante a 2ª Vara de Família de
Brasília com o intuito de adotar Lucca, 10 anos, que reside em um orfanato
no Gama/DF. Devido a rotina, o casal concedeu poderes especiais para uma
amiga atuar como sua representante no processo de adoção. Os pais de
Gabriel, entretanto, contrários à adoção e preocupados em proteger os
direitos do neto Pedro, o procuram na qualidade de advogado(a),
questionando sobre as possibilidades dessa adoção. Nesta situação, comente,
fundamentadamente, a possibilidade de sucesso da ação mencionada.
(Questão de aluno, semestre anterior)

01. A ação em questão não tem possibilidade de sucesso, na medida em


que:

O juízo competente para ADOÇÃO de menores é o da Vara da


Infância e Juventude (art. 148, III, ECA);

A adoção exige a presença do adotante, logo, não pode ser realizada


por procuração (art. 39, § 2º, ECA); e

O casal contraiu matrimônio aos 18 anos. Se após 2 anos nasceu Pedro


e decidiram adotar Lucca no ano em que o filho fez 1 ano, na época,
possuíam 21 anos. Portanto, o casal não possui a diferença de 16 anos,
exigida entre adotante e adotado que possui 10 anos (art. 42, § 3º, ECA).
02. Em julho de 2012, em razão de desavenças irreconciliáveis, Miguel e
Letícia rompem a sociedade conjugal que mantinham e divorciam-se. A
guarda do único filho do casal, Pedro, é compartilhada entre os pais. Ocorre
que Edith, avó paterna de Pedro, está sentindo o afastamento do neto em
razão dos ressentimentos surgidos após a separação. Letícia afirma que a avó
pode acompanhar o desenvolvimento do neto nos momentos em que a guarda
estiver sendo exercitada por seu filho Miguel. Entretanto, Edith, pretende
propor medida judicial visando garantir seu direito de visita a Pedro.
Considerando a situação, diga o que se entende por guarda compartilhada e
comente a possibilidade de sucesso da avó na via judicial. (IX Exame de
Ordem Unificado, Ipatinga/MG – adaptada).

02. Compreende-se por guarda compartilhada a responsabilização


conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam
sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns (art.
1.583, §1º).

Edith tem possibilidade de sucesso, na medida em que o direito de


visita se estende a qualquer dos avós, a critério do juiz, observados os
interesses da criança ou do adolescente (art. 1.589, § único).
TEXTO:

Do concubinato e da união estável

01. Evolução

A união prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento, foi


chamada, durante longo período histórico de concubinato.

concubinato concu (coito, cópula) + binatus (com alguém)

A expressão concubinato, em linguagem corrente é sinônimo da


união livre, à margem da lei e da moral.

Entretanto, no campo jurídico tem um sentido mais amplo,


indicando:

- os que mantém vida marital sem serem casado; e

- os que contraíram matrimônio não reconhecido legalmente,


por mais respeitável que seja perante a consciência dos contraentes
(somente religioso, inválido, e que não reúna as condições de casamento
putativo).

Tradicionalmente malvisto, repudiado mesmo!

Não gerava qualquer direito.

Uma ameaça para a família tradicional.

O CCi 1916 (e o atual) estabelece restrições, proibindo:


Doações (art. 1.177, atual 550);
Seguro de vida (art. 1.474, atual 793);
Benefícios testamentários (art.1.719, atual 1.801).

Entretanto, sempre existiu, e, em razão da indissolubilidade do


casamento passou a ser moralmente aceito.
Aos poucos se passou a entender a injustiça dessa situação, da
concubina em relação à esposa já separada de fato há longo tempo ou até
mesmo aos parentes distantes do falecido concubino. Assim a lei e a
jurisprudência começaram a reconhecer alguns direitos da concubina:

Em 1944, o Decreto-lei n.º 7.036 (reforma a Lei de Acidentes de


Trabalho) reconheceu à companheira os benefícios de indenização por
acidente de trabalho.

Depois vieram benefícios previdenciários.

A jurisprudência começou a reconhecer:

Indenização por serviços domésticos alimentos

Sociedade de fato meação de bens adquiridos com o


esforço comum.1

Esforço comum:
Trabalhando lado a lado;
Afazeres domésticos;
Mesmo sem exercer atividade econômica.

No STF, a Su 380 (Sessão plenária de 03/04/1964)2

Su 380 (STF). Comprovada a existência de sociedade de fato entre


os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum.

Assim, ocorreu uma evolução, da simples tolerância ao


reconhecimento e valorização.

1 Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 253.


2 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, 8ª ed, p. 421.
E nessa situação começou a diferenciar:

Concubinato puro companheira; e


Concubinato impuro concubina.

As restrições ficaram apenas para o concubinato impuro, adulterino

Amasiados, amigados, juntados! (termos pejorativos)

Entretanto, a união livre significa a deliberação de rejeitar o vínculo


conjugal, o propósito de não assumir compromissos recíprocos.

A doutrina clássica esclarece que o estado de concubinato pode ser


rompido a qualquer instante.

Competência era da Vara Cível!

Grande passo foi a CF 1988, 226, § 3º:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a
lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada
um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no
âmbito de suas relações.

Paulo Lobo sustenta que o caput do art. 226 da Constituição Federal é


cláusula geral de inclusão, não sendo admissível excluir qualquer entidade
que preencha os requisitos de: Afetividade;
Estabilidade; e
Ostentabilidade. 3

Aqui surge a união estável

Inicialmente regulada pelas Leis:

8.971/1994 5 artigos; Sistema fechado:


Exigia 5 anos ou filhos

9.278/1996 11 artigos Sistema aberto:


Exigia objetivo de constituir família

Aqui (Lei 9.278/96), passou para a Vara de Família e


Segredo de Justiça

Ainda tímida:

[...]
V - Na fixação do percentual, que necessariamente não implica
meação no sentido estrito (50 %), recomendável que o seu
arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao tempo
de duração da sociedade, a idade das partes e a contribuição indireta
prestada pela concubina, orientando-se o Juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida
e às peculiaridades de cada caso. (STJ, 4ª Turma, REsp 183.718 SP, Rel.
Min. Sálvio de Figueiredo, j. em 13.10.1998, DJ de 18.12.1998).

3 Citado por Maria Berenice Dias, 12 ed., p. 255.


[...]
3. Demonstrado no acórdão recorrido, de forma inconteste, que a
contribuição da concubina-autora para a formação do patrimônio comum
dos conviventes ocorreu de forma indireta, impõe-se o afastamento da
meação, por sucumbir frente à prevalência da partilha dos bens que, a par
das circunstâncias dos autos, não há que ser em partes iguais.
4. Inaplicabilidade, ainda que por analogia, das disposições
prescritas na Lei nº 9.278/1996 (período anterior à lei).
5. Incidência de normas legais e orientações jurisprudenciais que
versam sobre o concubinato, especialmente a Lei nº 8.971/1994 e a Súmula
nº 380 do STF, delimitando que a atribuição à companheira ou ao
companheiro de metade do patrimônio vincula-se diretamente ao esforço
comum, consagrado na contribuição direta para o acréscimo ou a aquisição
de bens mediante o aporte de recursos ou força de trabalho.
6. Levando-se em conta a moderação e o bom senso
recomendados para a hipótese em apreço, o arbitramento, no
percentual de 40 % (quarenta por cento) sobre o valor dos bens
adquiridos na constância concubinato e apurados na instância ordinária,
apresenta-se compatível com o caso em apreço, por encontrar amparo nos
sempre requeridos critérios de razoabilidade e proporcionalidade.
[...] (STJ, 2ª Seção, REsp 914.811 SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. em 27.08.2008, DJ de 21.11.2008, maioria 4 x 3).

Depois acolhida no CCi 2002, arts. 1.723 a 1.727.

No passado por falta de opção, hoje, por clara opção.4

4 Flávio Tartuce, 12 ed., p. 325.


02. Regulamentação da união estável no CCi

As duas leis mencionadas anteriormente foram acolhidas pelo novo


CCi, assim a matéria ficou disciplinada em um capítulo próprio, artigos 1723
a 1727, mais os diversos artigos pertinentes do CCi.

En 97 (CEJ do CJF) No que tange à tutela especial da família,


as regras do Código Civil que se referem apenas ao cônjuge devem ser
estendidas à situação jurídica que envolve o companheiro, como por
exemplo, na hipótese de nomeação de curador dos bens do ausente (art. 25
do CCi).

Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado


judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da
ausência, será o seu legítimo curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe
aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que
os iniba de exercer o cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais
remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha
do curador.

02.1 Seu CONCEITO está no caput do art. 1.723:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável


entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de
família.

02.2 Que também estabelece seus REQUISITOS:

Objetivos CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA E


DURADOURA

Subjetivo COM OBJETIVO DE CONSTITUIR FAMÍLIA


(Requisito essencial)
Ordem objetiva (detalhados conforme doutrina e jurisprudência):

0/6 Diversidade de sexo (também no art. 1.723) CAIU!

Aos poucos a doutrina começou a aceitar uniões homoafetivas.

ADPF nº 132 RJ e ADI nº 4.277 DF em julgamento conjunto,


interpretou o art. 1.723 de forma a excluir qualquer restrição a união de
pessoas do mesmo sexo e ao seu reconhecimento como entidade familiar,
entendida como sinônimo perfeito de família (julgado em 05/05/2011).

Posteriormente o STJ, no REsp 1.183.378 RS, Relatoria do Min. Luiz


Felipe Salomão, por maioria de 4 X 1, afastou o requisito de diversidade de
sexo do casamento (julgado em 25/10/2011).

Em consequência, em 14 de maio de 2013, o CNJ promulgou a


Resolução nº 175, resolvendo que:

Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de


habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união
estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.

Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata


comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis.

1/6 Notoriedade

Relações clandestinas, desconhecidas da sociedade, não constituem


união estável.

2/6 Continuidade

Sem interrupções.

3/6 Estabilidade ou duração prolongada

Por um período de tempo razoável.


RECURSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE
UNIÃO ESTÁVEL POS MORTEM.ENTIDADE FAMILIAR QUE SE
CARACTERIZA PELA CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA,
DURADOURA E COM OBJETIVO DE CONSTITUIR FAMÍLIA
(ANIMUS FAMILIAE). DOIS MESES DE RELACIONAMENTO,
SENDO DUAS SEMANAS DE COABITAÇÃO. TEMPO
INSUFICIENTE PARA SE DEMONSTRAR A ESTABILIDADE
NECESSÁRIA PARA RECONHECIMENTO DA UNIÃO DE FATO.
1. O Código Civil definiu a união estável como entidade familiar entre o
homem e a mulher, "configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família" (art.
1.723).
2. Em relação à exigência de estabilidade para configuração da união
estável, apesar de não haver previsão de um prazo mínimo, exige a
norma que a convivência seja duradoura, em período suficiente a
demonstrar a intenção de constituir família, permitindo que se
dividam alegrias e tristezas, que se compartilhem dificuldades e
projetos de vida, sendo necessário um tempo razoável de
relacionamento.
3. Na hipótese, o relacionamento do casal teve um tempo muito exíguo
de duração – apenas dois meses de namoro, sendo duas semanas em
coabitação –, que não permite a configuração da estabilidade
necessária para o reconhecimento da união estável. Esta nasce de um
ato-fato jurídico: a convivência duradoura com intuito de constituir
família. Portanto, não há falar em comunhão de vidas entre duas pessoas,
no sentido material e imaterial, numa relação de apenas duas semanas.
4. Recurso especial provido. (STJ, 4ª Turma, REsp 1.761.887 MS, Min.
Luis Felipe Salomão, j. em 06.08.2019, DJe de 24.09.2019)

4/6 Inexistência de impedimentos matrimoniais.

Está no art. 1.723, § 1º;

Art. 1.723. [...]


§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os
impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no
caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
]§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a
caracterização da união estável.

não se constituirá => é caso de inexistência.5

5 Paulo Lobo, 9ª ed., p. 171.


não menciona período mínimo de convivência, mas veda aos
casados não separados de fato (no § 1º).

Não se aplicam as causas suspensivas art. 1.723, § 2º

Atenção que o vínculo de afinidade resulta tanto do casamento


como da união estável (art. 1.595, caput).

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do


outro pelo vínculo da afinidade.
[...]

Não pode ser anulada (art. 1.550), pois não existiu A


CELEBRAÇÃO!

5/6 Relação monogâmica

A referência à união estável, tanto na CF como no CCi é sempre no


singular (art. 1.724 – lealdade e respeito).

Característica da civilização ocidental.

6/6 Convivência more uxorio (como se casados fossem)

Não existe uma exigência legal. Não exige o domicílio comum.

Su 382 (STF). A vida em comum sob o mesmo teto, "more uxorio",


não é indispensável à caracterização do concubinato.

Essa súmula tem quase sessenta anos, quando nem se pensava em


união estável. Mas ainda é utilizada (abaixo):
DIREITOS PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL.
REQUISITOS. CONVIVÊNCIA SOB O MESMO TETO. DISPENSA.
CASO CONCRETO. LEI N. 9.728/96. ENUNCIADO N. 382 DA
SÚMULA/STF. ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. REEXAME.
IMPOSSIBILIDADE. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ.
DOUTRINA. PRECEDENTES. RECONVENÇÃO. CAPÍTULO DA
SENTENÇA. TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM.
HONORÁRIOS. INCIDÊNCIA SOBRE A CONDENAÇÃO. ART. 20, §
3º, CPC. RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE.

I - Não exige a lei específica (Lei n. 9.728/96) a coabitação como


requisito essencial para caracterizar a união estável. Na realidade, a
convivência sob o mesmo teto pode ser um dos fundamentos a
demonstrar a relação comum, mas a sua ausência não afasta, de
imediato, a existência da união estável.
[...]
III - O que se mostra indispensável é que a união se revista de
estabilidade, ou seja, que haja aparência de casamento, como no caso
entendeu o acórdão impugnado.
[...] (STJ, 4ª Turma, REsp 474.962 SP, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo, j. em 23.09.2003, DJ de 01.03.2004)
Ordem subjetiva:

Com objetivo de constituir família (requisito essencial).

Affectio maritalis: ânimo ou objetivo de estar constituindo uma


família
afeição conjugal

Flávio Tartuce prefere animus familiae.6

O elemento essencial.

Entretanto, não basta o animus, tem que constituir, senão o


namoro seria união estável.

Se há um projeto futuro de constituição de família => é namoro!

Se há uma família, com ou sem filhos => é união estável. 7

Nesse sentido:

1. A configuração da união estável é ditada pela confluência dos


parâmetros expressamente declinados, hoje, no art. 1.723 do CC-02, que
tem elementos objetivos descritos na norma: convivência pública, sua
continuidade e razoável duração, e um elemento subjetivo: o desejo de
constituição de família.
2. A congruência de todos os fatores objetivos descritos na
norma, não levam, necessariamente, à conclusão sobre a existência de
união estável, mas tão somente informam a existência de um
relacionamento entre as partes.
3. O desejo de constituir uma família, por seu turno, é essencial
para a caracterização da união estável pois distingue um
relacionamento, dando-lhe a marca da união estável, ante outros tantos
que, embora públicos, duradouros e não raras vezes com prole, não
têm o escopo de serem família, porque assim não quiseram seus atores
principais. (aqui, o ÂNIMO DE CONSTITUIR FAMÍLIA)
[...]
Recurso provido. (STJ, 3ª Turma, REsp 1.263.015 RN, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. em 19.06.2012, DJe de 26.06.2012)

6 Flávio Tartuce, 12 ed., p. 336.


7 Idem, p. 333.
No mesmo sentido:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. IMPROCEDÊNCIA.
RELAÇÃO DE NAMORO QUE NÃO SE TRANSMUDOU EM
UNIÃO ESTÁVEL EM RAZÃO DA DEDICAÇÃO E
SOLIDARIEDADE PRESTADA PELA RECORRENTE AO
NAMORADO, DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA QUE
ACARRETOU SUA MORTE. AUSÊNCIA DO INTUITO DE
CONSTITUIR FAMÍLIA. MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS
FÁTICOS-PROBATÓRIOS. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DO
ENUNCIADO N. 7/STJ. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
[...]
III - Após o conhecimento da doença (final de 1999 e julho de
2001), L. e F. F. passaram a residir, em São Paulo, na casa do pai de L.,
sem que a relação transmudasse para uma união estável, já que ausente,
ainda, a intenção de constituir família. Na verdade, ainda que a habitação
comum revele um indício caracterizador da affectio maritalis , sua
ausência ou presença não consubstancia fator decisivo ao reconhecimento
da citada entidade familiar, devendo encontrar-se presentes,
necessariamente, outros relevantes elementos que denotem o
imprescindível intuito de constituir uma família;
IV - No ponto, segundo as razões veiculadas no presente recurso
especial, o plano de constituir família encontrar-se-ia evidenciado na prova
testemunhal, bem como pelo armazenamento de sêmen com a finalidade
única de, com a recorrente, procriar. Entretanto, tal assertiva não encontrou
qualquer respaldo na prova produzida nos autos, tomada em seu conjunto,
sendo certo, inclusive, conforme deixaram assente as Instâncias ordinárias,
de forma uníssona, que tal procedimento (armazenamento de sêmen) é
inerente ao tratamento daqueles que se submetem à quimioterapia, ante o
risco subsequente da infertilidade. Não houve, portanto, qualquer
declaração por parte de L. ou indicação (ou mesmo indícios) de que tal
material fosse, em alguma oportunidade, destinado à inseminação da ora
recorrente, como sugere em suas razões. Bem de ver, assim, que as razões
recursais, em confronto com a fundamentação do acórdão recorrido,
prendem-se a uma perspectiva de reexame de matéria de fato e prova,
providência inadmissível na via eleita, a teor do enunciado 7 da Súmula
desta Corte;
V - Efetivamente, a dedicação e a solidariedade prestadas pela ora
recorrente ao namorado L., ponto incontroverso nos autos, por si só, não
tem o condão de transmudar a relação de namoro para a de união estável,
assim compreendida como unidade familiar. Revela-se imprescindível,
para tanto, a presença inequívoca do intuito de constituir uma família,
de ambas as partes, desiderato, contudo, que não se infere das
condutas e dos comportamentos exteriorizados por L., bem como pela
própria recorrente, devidamente delineados pelas Instâncias ordinárias;
VI - Recurso Especial improvido. (STJ, 3ª Turma, REsp 1.257.819
SP, Rel. Min. Massami Uyeda, j. em 01.12.2011, DJe de 15.12.2011)
Provas: convivência sob o mesmo teto;
provas documentais do início da vida em comum:
correspondência,
fotos,
documentos de viagem,
a assunção por um das despesas do outro.

Não confundir com o namoro qualificado!

Caso do REsp 1.454.643 RJ


juntos no exterior (ele trabalho, ela estudo)
namoro qualificado
casamento ao regresso

“É NAMORO OU UNIÃO ESTÁVEL” (Zeno Veloso)

O caso da Luiza Brunet (em andamento):

Namorado condenado por agressão (transitou em 11/2020).

União estável não reconhecida (TJSP).

Ambas as decisões de 2020.

“UNIÃO ESTÁVEL E NAMORO QUALIFICADO” (Flávio Tartuce)

O manual do Flávio Tartuce discorre bem sobre o tema, mencionando


e transcrevendo inúmeras decisões dos nossos tribunais.
02.3 No campo pessoal o art. 1.724 acrescenta os DEVERES:

Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão


aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e
educação dos filhos.

Lealdade;
Respeito e assistência;
Guarda, sustento e educação dos filhos.

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:


I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.

faltaram Fidelidade?
Vida em comum?

Estão implícitas na lealdade e no respeito e assistência.

A lealdade é gênero de que a fidelidade é espécie. 8

Paulo Lobo entende que não são exigíveis, em razão das


peculiaridades da união estável, matrizada na liberdade de constituição e de
dissolução. 9

8 Gustavo Tepedino, p. 186.


9 Paulo Lobo, 9ª ed., p. 175.
02.4 Em relação aos EFEITOS PATRIMONIAIS o art. 1.725:

Estabelece a comunhão parcial de bens.


Possibilita o contrato de convivência.

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os


companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime
da comunhão parcial de bens.

Contrato de convivência Pacto Antenupcial

Destacam-se como direitos fundamentais dos companheiros, no plano


material, os concernentes a alimentos, meação e herança.

1/3 Alimentos

Assegurados no art. 1.694:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros


pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de
modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência,
quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

O direito a alimentos cessa, entretanto, com o concubinato, casamento


ou união estável do credor (art. 1.708):

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do


credor, cessa o dever de prestar alimentos.
Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a
alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.
Pode utilizar a Lei 5478/68 (Lei de Alimentos):
Alimentos provisórios (desde que haja prova pré-constituída)
Oferta de alimentos
Desconto em folha

2/3 Meação e regime de bens

Segue as normas da comunhão parcial de bens (art. 1.725):

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os


companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime
da comunhão parcial de bens.

Basicamente bens adquiridos a título onerosos na constância da união


(aplicam-se os arts. 1658 e ss).

3/3 Sucessão hereditária

Os direitos sucessórios limitam-se aos bens adquiridos onerosamente


na vigência da união estável, nos termos do art. 1790, caput. Agora, os
mesmos dos casados (RE 878.694 MG).

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da


sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência
da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-
lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um
terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da
herança.
Críticas ao art. 1.790:

Pior que a Lei 8971/1994.


E o direito real de habitação e o usufruto vidual?
Severas críticas. Vide Zeno Veloso.10

Entretanto o STF:

“O Tribunal, por maioria, […] deu provimento ao recurso, para


reconhecer de forma incidental a inconstitucionalidade do art. 1.790 do
CC/2002 e declarar o direito do recorrente de participar da herança de seu
companheiro em conformidade com o regime jurídico estabelecido no art.
1.829 do Código Civil de 2002[…]. Em seguida, o Tribunal […] fixou tese
nos seguintes termos: “É inconstitucional a distinção de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do
CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento
quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”. (STF,
Pleno, RE 878.694 MG, Rel. Min. Roberto Barroso, j. em 10.05.2017)

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide


Recursos Extraordinários nº 646.721 e nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou
no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

10 Carlos Roberto Gonçalves, 13 ed., p. 637.


2.5 O art. 1.726 prevê a CONVERSÃO EM CASAMENTO,
sem estabelecer os critérios para tanto.

A conversão é assegurada pela CF, art. 226 § 3º e pelo CCi, art. 1.726.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


[...]
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.
[...]

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento,


mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.

Pelo texto do CCi (art. 1.726), a conversão deve ser feita pela via
judicial.

Entretanto, atualmente a jurisprudência diz que tanto pode ser feita


através de Processo Judicial como através de Processo Administrativo junto
ao Oficial do Registro Civil. A jurisprudência entende que é uma opção dos
companheiros (REsp 1.685.937 RJ).

O pedido deve ser dos dois companheiros.11

Com Habilitação e Registro, só dispensa a celebração.

Para um novo regime de bens (UE é comunhão parcial), exige a prévia


partilha de bens (EREsp 1.263.234 TO).

11 Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias, 11 ed., p. 264.


Particularidades:

Em Minas Gerais

Diretamente no Cartório, mas sem a data de início. Para constar


a data de início, deve passar pela esfera judicial.12

No Distrito Federal:

PROVIMENTO-GERAL DA CORREGEDORIA DE JUSTIÇA


DO DISTRITO FEDERAL APLICADO AOS SERVIÇOS NOTARIAIS
E DE REGISTRO

Art. 251. A conversão da união estável em casamento depende de


prévia homologação pela autoridade judiciária competente e será
registrada no livro "B Auxiliar", independentemente do ato de celebração
do casamento, anotando-se no assento tão somente que se trata de
conversão de união estável em casamento.

Crítica: Maria Berenice Dias afirma que casar é mais fácil!

Alguns doutrinadores elencam como uma espécie de casamento


decorrente da conversão da união estável em casamento

12 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, 8ª ed., p. 460.


02.6 O art. 1.727 REPUDIA O CONCUBINATO:

A expressão concubinato ficou para o art. 1.727.

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher,


impedidos de casar, constituem concubinato.

Concubinato adulterino; e
Concubinato incestuoso.

Aqui surgiu um problema. A companheira está amparada pela união


estável, a concubina não:

COMPANHEIRA e CONCUBINA. DISTINÇÃO. Sendo o Direito


uma verdadeira ciência, impossível é confundir institutos, expressões e
vocábulos, sob pena de prevalecer a babel.

UNIÃO ESTÁVEL. PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do


Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não
está incluído o concubinato.

PENSÃO. SERVIDOR PÚBLICO. MULHER. CONCUBINA.


DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecimento de servidor
público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico,
mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em
detrimento da família, a concubina (STF, 1ª Turma, RE 397.762 BA, 1ª
Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, j. em 03.06.2008, DJe de 11.09.2008,
maioria, vencido o Min. Ayres Britto).

É o caso do WAD e da JP. 11 filhos com a esposa e 9 com a concubina


(37 anos de concubinato).

Exatamente no mesmo sentido existe o RE 590.779-1, mesmo relator


e mesmo voto vencido.
O STJ também não aceita:

Direito civil. Família. Paralelismo de uniões afetivas. Recurso


especial. Ações de reconhecimento de uniões estáveis concomitantes.
Casamento válido dissolvido. Peculiaridades.
[...]
- A despeito do reconhecimento – na dicção do acórdão
recorrido – da “união estável” entre o falecido e sua ex-mulher, em
concomitância com união estável preexistente, por ele mantida com a
recorrente, certo é que já havia se operado – entre os ex-cônjuges – a
dissolução do casamento válido pelo divórcio, nos termos do art. 1.571, §
1º, do CC/02, rompendo-se, em definitivo, os laços matrimoniais outrora
existentes entre ambos. A continuidade da relação, sob a roupagem de
união estável, não se enquadra nos moldes da norma civil vigente –
art. 1.724 do CC/02 –, porquanto esse relacionamento encontra
obstáculo intransponível no dever de lealdade a ser observado entre
os companheiros.
[...]
- As uniões afetivas plúrimas, múltiplas, simultâneas e
paralelas têm ornado o cenário fático dos processos de família, com os
mais inusitados arranjos, entre eles, aqueles em que um sujeito
direciona seu afeto para um, dois, ou mais outros sujeitos, formando
núcleos distintos e concomitantes, muitas vezes colidentes em seus
interesses.
[...]
- Emprestar aos novos arranjos familiares, de uma forma
linear, os efeitos jurídicos inerentes à união estável, implicaria julgar
contra o que dispõe a lei; isso porque o art. 1.727 do CC/02 regulou,
em sua esfera de abrangência, as relações afetivas não eventuais em
que se fazem presentes impedimentos para casar, de forma que só
podem constituir concubinato os relacionamentos paralelos a
casamento ou união estável pré e coexistente.
Recurso especial provido. (STJ, 3ª Turma, REsp 1.157.273 RN,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. em 18.05.2010, DJe de 07.06.2010)

Flávio Tartuce sustenta que a concubina não tem direito a alimentos,


direitos sucessórios ou meação, porque não se trata de uma entidade
familiar.13

13 Flávio Tartuce, 12 ed., p. 346/347.


Assim, a concubina, desamparada, passou a pleitear a indenização
por serviços domésticos.

O STJ não acolheu: Seria mais vantajoso que casamento e união


estável.

- Se com o término do casamento não há possibilidade de se


pleitear indenização por serviços domésticos prestados, tampouco
quando se finda a união estável, muito menos com o cessar do
concubinato haverá qualquer viabilidade de se postular tal direito, sob
pena de se cometer grave discriminação frente ao casamento, que tem
primazia constitucional de tratamento; ora, se o cônjuge no casamento
nem o companheiro na união estável fazem jus à indenização, muito
menos o concubino pode ser contemplado com tal direito, pois teria
mais do que se casado fosse.
- A concessão da indenização por serviços domésticos prestados
à concubina situaria o concubinato em posição jurídica mais vantajosa
que o próprio casamento, o que é incompatível com as diretrizes
constitucionais fixadas pelo art. 226 da CF/88 e com o Direito de
Família, tal como concebido.
- A relação de cumplicidade, consistente na troca afetiva e na
mútua assistência havida entre os concubinos, ao longo do
concubinato, em que auferem proveito de forma recíproca, cada qual
a seu modo, seja por meio de auxílio moral, seja por meio de auxílio
material, não admite que após o rompimento da relação, ou ainda,
com a morte de um deles, a outra parte cogite pleitear indenização por
serviços domésticos prestados, o que certamente caracterizaria
locupletação ilícita.
- Não se pode mensurar o afeto, a intensidade do próprio
sentimento, o desprendimento e a solidariedade na dedicação mútua que
se visualiza entre casais. O amor não tem preço. Não há valor econômico
em uma relação afetiva. Acaso houver necessidade de dimensionar-se a
questão em termos econômicos, poder-se-á incorrer na conivência e até
mesmo estímulo àquela conduta reprovável em que uma das partes serve-
se sexualmente da outra e, portanto, recompensa-a com favores.
- Inviável o debate acerca dos efeitos patrimoniais do
concubinato quando em choque com os do casamento pré e
coexistente, porque definido aquele, expressamente, no art. 1.727 do
CC/02, como relação não eventual entre o homem e a mulher,
impedidos de casar; a disposição legal tem o único objetivo de colocar
a salvo o casamento, instituto que deve ter primazia, ao lado da união
estável, para fins de tutela do Direito.
Recurso especial do Espólio provido. Recurso especial da
concubina julgado prejudicado. (STJ, 3ª Turma, REsp 872.659 MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. em 25.08.2009, DJe de 19.10.2009)
Mas existem decisões favoráveis em outros pontos. Reconhecendo
uma Sociedade de Fato.

Ação de Reconhecimento e Dissolução de Sociedade de Fato. (REsp


229.069 SP – Sociedade de fato reconhecida, sendo rejeitado o REsp
manejado pelo espólio do concubino falecido)

CONCUBINATO. SOCIEDADE DE FATO. DIREITO DAS


OBRIGAÇÕES.
1. Segundo entendimento pretoriano, "a sociedade de fato entre
concubinos é, para as consequências jurídicas que lhe decorram das
relações obrigacionais, irrelevante o casamento de qualquer deles,
sobretudo, porque a censurabilidade do adultério não pode justificar que
se locuplete com o esforço alheio, exatamente aquele que o pratica."
2. Recurso não conhecido. (STJ, 4ª Turma, REsp 229.069 SP, Rel.
Min. Fernando Gonçalves, j. em 26.04.2005, DJ de 16.05.2005)

Na realidade, o concubinato tem sido objeto de demandas de soluções


equitativas.

O caso de um o seguro de vida, dividido metade para esposa, metade


para a concubina (cinco filhos com esposa e três com a concubina – quase
bigamia).

quase bigamia, cinco filhos com esposa e três com a concubina.


50 % para cada

CIVIL E PROCESSUAL. SEGURO DE VIDA REALIZADO


EM FAVOR DE CONCUBINA. HOMEM CASADO. SITUAÇÃO
PECULIAR, DE COEXISTÊNCIA DURADOURA DO DE CUJUS
COM DUAS FAMÍLIAS E PROLE CONCOMITANTE ADVINDA DE
AMBAS AS RELAÇÕES. INDICAÇÃO DA CONCUBINA COMO
BENEFICIÁRIA DO BENEFÍCIO. FRACIONAMENTO. CC. ARTS.
1.474, 1.177 E 248, IV. PROCURAÇÃO. RECONHECIMENTO DE
FIRMA. FALTA SUPRÍVEL PELA RATIFICAÇÃO ULTERIOR DOS
PODERES.
[...]
I I . Inobstante a regra protetora da família, consubstanciada nos
arts. 1.474, 1.177 e 248, IV, da lei substantiva civil, impedindo a
concubina de ser instituída como beneficiária de seguro de vida,
porque casado o de cujus, a particular situação dos autos, que
demonstra espécie de "bigamia", em que o extinto mantinha-se ligado
à família legitima e concubinária, tendo prole concomitante com
ambas, demanda solução isonômica, atendendo-se à melhor aplicação
do Direito.
III. Recurso conhecido e provido em parte, para determinar o
fracionamento, por igual, da indenização securitária. (STJ, 4ª Turma,
REsp 100.888 BA, Rel. Min. Aldir Passarinho, j. em 14.12.2000, DJ de
12.03.2001)

Mais recentemente, o STJ concedeu alimentos a uma concubina


septuagenária (43 anos de concubinato).

RECURSO ESPECIAL. CONCUBINATO DE LONGA


DURAÇÃO. CONDENAÇÃO A ALIMENTOS. NEGATIVA DE
VIGÊNCIA DE LEI FEDERAL. CASO PECULIARÍSSIMO.
PRESERVAÇÃO DA FAMÍLIA X DIGNIDADE E
SOLIDARIEDADE HUMANAS. SUSTENTO DA ALIMENTANDA
PELO ALIMENTANTE POR QUATRO DÉCADAS. DECISÃO.
MANUTENÇÃO DE SITUAÇÃO FÁTICA PREEXISTENTE.
INEXISTÊNCIA DE RISCO PARA A FAMÍLIA EM RAZÃO DO
DECURSO DO TEMPO. COMPROVADO RISCO DE DEIXAR
DESASSISTIDA PESSOA IDOSA. INCIDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS
DA DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE HUMANAS. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-
JURÍDICA.
1. De regra, o reconhecimento da existência e dissolução de
concubinato impuro, ainda que de longa duração, não gera o dever de
prestar alimentos a concubina, pois a família é um bem a ser preservado a
qualquer custo.
2. Nada obstante, dada a peculiaridade do caso e em face da
incidência dos princípios da dignidade e solidariedade humanas, há de se
manter a obrigação de prestação de alimentos a concubina idosa que os
recebeu por mais de quatro décadas, sob pena de causar-lhe desamparo,
mormente quando o longo decurso do tempo afasta qualquer riso de
desestruturação familiar para o prestador de alimentos.
3. O acórdão recorrido, com base na existência de circunstâncias
peculiaríssimas – ser a alimentanda septuagenária e ter, na sua juventude,
desistido de sua atividade profissional para dedicar-se ao alimentante;
haver prova inconteste da dependência econômica; ter o alimentante, ao
longo dos quarenta anos em que perdurou o relacionamento amoroso,
provido espontaneamente o sustento da alimentanda –, determinou que o
recorrente voltasse a prover o sustento da recorrida. Ao assim decidir,
amparou-se em interpretação que evitou solução absurda e manifestamente
injusta do caso submetido à deliberação jurisprudencial.
[...]
5. Recurso especial conhecido em parte e desprovido. (STJ, 3ª
Turma, REsp 1.185.337 RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em
17.03.2015, DJ de 31.03.2015)

Juiz já tem reconhecido a TRIAÇÃO. 14

APELAÇÃO. UNIÃO ESTÁVEL CONCOMITANTE AO


CASAMENTO. POSSIBILIDADE. DIVISÃO DE BEM. TRIAÇÃO.
Viável o reconhecimento de união estável paralela ao casamento.
Precedentes jurisprudenciais. Caso em que a prova dos autos é robusta em
demonstrar que a apelante manteve união estável com o falecido, mesmo
antes dele se separar de fato da esposa. Necessidade de dividir o único bem
adquirido no período em que o casamento foi concomitante à união estável
em três partes. Triação. Precedentes jurisprudenciais. Deram provimento
por maioria. (TJRS, 8ª Câmara Cível, Acórdão 70024804015 Guaíba, Rel.
Des. Rui Portanova, j. 13.08.2009, DJERS 04.09.2009, p. 49)

No TJDFT, encontramos:

3. No caso dos autos, verifica-se que, a princípio, haveria um


impedimento para o reconhecimento da união estável entre a autora e o
primeiro réu a partir de 2009.
3.1. Isso porque, nesse período, os réus já conviviam em união
estável, o que foi reconhecido judicialmente.
3.2. Assim, em tese, não seria possível o reconhecimento de duas
uniões estáveis concomitantes, em observância ao disposto no art. 1.723,
§1º, do CC, uma vez que já houve o reconhecimento judicial anterior de
outra união estável ocorrida em período parcialmente simultâneo, tendo
como companheiro a mesma pessoa, o primeiro réu.
3.3. Contudo, a despeito da existência, a princípio, de impedimento
para o reconhecimento da união estável da autora e do primeiro réu, a
doutrina e a jurisprudência têm flexibilizado a referida norma, a depender
do caso concreto, para reconhecer a existência de duas uniões estáveis
concomitantemente, quando a companheira não sabia do vício, aplicando-
se, por analogia, as normas previstas para o casamento putativo. (TJDFT,

14 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, 8ª ed., p. 469; Flávio Tartuce, 12 ed., p. 352.
Segunda Turma Cível, Ac 1.156.834, Rel. Des. João Egmont, j.
27.02.2019, p. 18.03.20190

Dessa forma, apesar das justificadas críticas aos seus fundamentos, o


concubinato tem sido objeto de demandas de soluções equitativas ao
Legislativo e ao Judiciário.

Jogar a união estável concubinária na penumbra do não direito é dar


as costas à realidade da vida; é desconsiderar a ética da responsabilidade em
prol da ética da convicção absoluta. 15

A solução juridicamente adequada para as questões pessoais e


patrimoniais da relação concubinária é sua qualificação como espécie do
gênero união estável. 16

Se um dos companheiros não sabe da outra, pode existir uma união


estável putativa. (Zeno Veloso e Euclides de Oliveira)

15 Paulo Lobo, 9ª ed., p. 189.


16 Paulo Lobo, 9ª ed., p. 189.
COMENTÁRIOS FINAIS:

QUESTÕES:

Questões para a próxima aula:

01. Marcos e Catarina, mantém um relacionamento amoroso público e


duradouro. Ambos mantêm uma convivência íntima - inclusive, sexual -,
frequentam as respectivas casas, comparecem a eventos sociais, viajam
juntos, demonstram para os de seu meio social e profissional que entre os
dois há uma afetividade, um relacionamento amoroso. Comentam, inclusive,
que tem a intenção de no futuro constituir uma família. Identifique o
relacionamento existente entre o casal e diga qual o regime de bens aplicável
ao caso.

02. Joaquim, viúvo, é pai de José, que se casara com Amélia. José e
Amélia divorciaram-se. Três meses após esse divórcio, Joaquim e Amélia
compareceram a um Cartório de Notas, solicitando ao Tabelião que lavrasse
uma escritura pública de união estável, escolhendo o regime da comunhão
universal de bens. O Tabelião recusou-se a lavrar a escritura, por reputar
inválido o ato. Comente o caso, abordando a recusa do Tabelião e
identificando o relacionamento mantido por Joaquim e Amélia, caso esse
relacionamento venha a persistir.

Aula 16-28

Você também pode gostar