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SINOPSE DO CASE: “Amor de pai”?

Acácio L. Alves2
Profͣ Anna Valéria de Miranda Araujo³

O direito de família ao longo dos anos passou por várias transformações até
chegar à atualidade, sendo a família um dos institutos mais antigos de que se tem
conhecimento. Diante de todas essas mudanças históricas e estruturais este ramo
jurídico deve ser analisado sob a ótica dos princípios constitucionais preconizado na
nossa carta magna (TURTUCE, 2015).
Verifica-se que no bojo de mudanças da Constituição Federal/1988, todos
têm o mesmo direito, sem distinção, conceituando especificamente a família em um
sentido mais restrito, ampliando seu alcance. Nesta cláusula geral de inclusão, não é
admissível desconsiderar qualquer entidade que satisfaça os requisitos de afetividade,
ostensibilidade e estabilidade, haja vista que se trata de rol exemplificativo
(CALHEIRA, 2007, p. 5).
Diante do exposto, nesse primeiro momento analisando o caso em tela
podemos concluir que estamos diante de uma união estável entre Cleodnesine Ingrid
(26) e Rozenildo (33). Sobre o tema em seu artigo (ZENO VELOSO) nos ensina que,“a
união estável é uma situação de fato que preexiste ao contrato de convivência que os
interessados celebrarem”.
A união estável pode ser reconhecida por escritura pública onde as partes
podem definir o regime a ser adotado na união, se o casal vive em união estável sem a
elaboração de uma escritura pública ou se nela não constar nada estabelecido a respeito
do regime de bens, em caso de separação será aplicado a regra da comunhão parcial de
bens (GAIOTTO FILHO, 2013).
No caso em análise Cleodnesine Ingrid (26) e Rozenildo (33) estavam
vivendo uma união estável sem nada estabelecido quanto ao regime de bens, logo a

1
Case apresentado à disciplina Direito de Família, do Centro Universitário Dom Bosco – UNDB.
2
Aluno, 6° período, do Centro Universitário Dom Bosco - UNDB
³ UNDB Professora, Especialista, orientador.
separação dos bens do casal adquirido onerosamente na constância da vivência entre os
dois será comunhão parcial de bens.
Assim, a união estável, por nascer de forma tipicamente informal, prescinde
de reconhecimento judicial de sua existência ou de sua dissolução para que opere seus
efeitos jurídicos entre os companheiros.
Neste caso, se faz necessário, primeiramente, reconhecer judicialmente a
existência da união estável, para somente então, poder realizar a sua dissolução
(GAIOTTO FILHO, 2013).
No entanto, a intervenção do Poder Judiciário só se justifica quando há
legítimo interesse processual. Na falta de comprovação do interesse, decai a pretensão,
que se restringirá à mera declaração da existência da união estável, uma vez que o fato
subsiste por si.
Quanto a partilha dos bens do casal, na união estável, a Lei n.º 9.278/96, em
seu artigo 5º, dispõe que aqueles bens seja eles moveis ou imóveis, adquiridos por um
ou ambos os conviventes, na constância da união, a título oneroso, são frutos de
esforços comuns, pertencendo aos conviventes em condomínio e em partes iguais, salvo
expresso em contrário.
No Código Civil de 2002, a possibilidade de partilha de bens ocorre no
momento da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, conforme o art. Transcrito a
seguir:
“Art. 1.575– A sentença de separação judicial importa a separação de corpos
e a partilha de bens”.
“Parágrafo único – A partilha de bens poderá ser feita mediante proposta
dos cônjuges e homologada pelo juiz ou por esta decidida”.

Nesse sentido, é lícito a Cleodnesine Ingrid (26), na dissolução da união


estável, pleitear a metade do patrimônio que tiver sido constituído na constância da
união estável com Rozenildo (33).
No que diz respeito aos filhos do casal, os gêmeos Cloidiney e Cleovidei
(10), ambos continuarão com a guarda deles, o que a doutrina chama de guarda
compartilhada. Nesse caso, os pais deverão cuidar e zelar pelo bem-estar e segurança
das crianças conjuntamente.
. Nesse sentido, é relevante mencionar o acórdão do STJ [REsp 1.251.000-
MG (2011/0084897-5), da Ministra Nancy Andrighi, quando afirma que “A guarda
compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder Familiar entre pais
separados, mesmo que demandem deles reestruturações, concessões e adequações
diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, do ideal
psicológico de duplo referencial.”
Desse modo, a Lei 13.058/2014 estabelece que, por regra, a guarda deve ser
compartilhada. Dessa forma pede-se que seja deferido o pedido de guarda
compartilhada, tendo em vista que ambos, o pai e a mãe têm a possibilidade de exercer a
guarda compartilhada.
No bastante demais doutrinas, o art. 21 da Lei 8069/90 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), independente das partes estarem convivendo sob o mesmo teto: “Art.
21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na
forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da
divergência”.
 No Código Civil:

                  “Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada § 3° A guarda


unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos
filhos”.
                   “Art. 1.589. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá
visita- lós e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou
for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação”.
Quanto as trigêmeas, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) prevê a
oficialização em cartório de duas pessoas como pais de uma criança gerada por meio de
inseminação caseira. Os pais têm que entrar com ação na Justiça para exigir a
multiparentalidade, foi o que ocorreu no caso em tela. Considerando ainda, que
Rozenildo (33) apenas realizou a doação de seu material genético. Rozenildo assinou
um contrato abrindo mão de quaisquer direitos ou deveres decorrente da inseminação
caseira.
Todavia, não há legislação específica para garantir o direito ao doador a
guarda dos filhos. Assim como também não há lei específica a respeito do direito de o
filho requerer o reconhecimento da sua paternidade biológica (nestas hipóteses de
inseminação caseira), ficando ele resguardado pelos seus direitos constitucionais, como
o da própria dignidade humana de buscar o reconhecimento paterno-biológico do sujeito
que doou o gameta.
Por fim, quanto a dissolução da união afetiva de Midorlene Walquíria (52) e
Villarinda (25), o STF (Supremo Tribunal Federal) em maio de 2011, julgou procedente
uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI n° 4277), atribuindo as mesmas regras
da união estável heterossexual a união entre pessoas do mesmo sexo. (STF, 2011).
[...] ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO.
RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E
SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO.
CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA
ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos
fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade
de conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 1.723 do Código
Civil. Atendimento das condições da ação[...]

Sendo a mesma regra de partilhas de bens para a união estável homoafetiva. Será
dividida em comum entre as duas apenas os bens adquiridos onerosamente dentro da
constância da união estável.
REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição Federal. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm: Acesso
em: 17/03/2020.

BRASIL. Código Civil (2002). Código Civil. Brasília, DF.

CALHEIRA, Luana Silva, Os princípios do direito de família na Constituição Federal


de 1988 e a importância aplicada do afeto: o afeto é juridicizado através dos princípios,
Edição nº 229, código de publicação 1791, disponível em:
http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1791, Acesso em 17/03/2020.

GAIOTTO FILHO, W L Partilha de bens na União Estável, 2013. Disponível em


http://washingtongaiotto.jusbrasil.com.br/artigos/111680600/partilha-de-bens-nauniao-
estavel. Acesso em 17/03/2020.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil v 5– Direito de Família, ed. Ver., atual. E ampl – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉDOTO, 2015.

VELOSO, Zeno. Separação, extinção de união estável, divórcio, inventário e partilha


consensuais, de acordo com o novo CPC. Disponivel em:
https://www.irib.org.br/files/obra/Artigo-BIR-Zeno-Veloso-Goiania-Regional.pdf >
Acesso em: 17/03/2020.

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