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DIREITO DE FAMÍLIA

UNIÃO ESTÁVEL.
PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE

UNIÃO ESTÁVEL

1. Introdução. Histórico sobre o tratamento do tema. A Constituição Federal e a


Legislação posterior.

A união estável equivale a uma união livre/informal, que era reconhecida como um fato social
antes da sua institucionalização.

No Brasil, o início do reconhecimento jurídico da união estável ocorreu no âmbito da


jurisprudência.

A súmula 380 do STF1, da década de 60, reconheceu efeitos para o então chamado
“concubinato”, tratado como uma sociedade de fato e não como entidade familiar. Esta súmula
traz a previsão de partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.

A Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos) trouxe o reconhecimento da possibilidade de a


companheira utilizar o sobrenome do companheiro, desde que houvesse autorização dele e um
justo motivo.

A Constituição de 1988 reconheceu a união estável como entidade familiar (entre homem e
mulher), devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento (art. 226, § 3º, CF/19882).

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Súmula 380 do STF: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a
partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.”
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CF, art. 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 3º Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”
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Conclusões retiradas do texto constitucional:
1ª) Existem diferenças entre a união estável e o casamento.
2ª) Não há hierarquia entre o casamento e a união estável.

Na década de 1990, surgiram duas leis que regulamentaram a união estável (ambas conviviam):
• Lei 8.971/1994: Previa um prazo mínimo de 5 anos para a união estável.
• Lei 9.278/1996: Afastou esse prazo.

Em suma, essas duas leis:


- Reconheciam a união estável como entidade familiar (de competência da Vara da Família);
Tais leis sacramentaram a impropriedade da expressão “concubinato”, afastada desde a CF/88.
- Reconheciam o direito à meação ou à participação patrimonial dos companheiros;
- Reconheciam o direito aos alimentos;
- Reconheciam o direito à sucessão e o direito real de habitação.

O Código Civil de 2002 tratou da maioria dos temas previstos nas duas leis (em especial, na
Lei 9.278/96), revogando-as tacitamente.
• Arts. 1.723 a 1727; • Art. 1.790 (Tratava da Sucessão).
• Art. 1.694 (Alimentos);

O art. 1.790 do CC foi declarado inconstitucional pelo STF (Informativo 864) em decisão que
tornou aplicável o art. 1.829 do CC3 ao companheiro. (RE 646.721 e RE 878.694).

“DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL À

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CC, art. 1.829: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos
ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais.”
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SUCESSÃO EM UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA. INCONSTITUCIONALIDADE DA
DISTINÇÃO DE REGIME SUCESSÓRIO ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS. 1. A
Constituição brasileira contempla diferentes formas de família legítima, além da que resulta do
casamento. Nesse rol incluem-se as famílias formadas mediante união estável, hetero ou
homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade
jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico”,
aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesas
consequências da união estável heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j.
05.05.2011) 2. Não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os
companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal
hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a Constituição de 1988. Assim
sendo, o art. 1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e
discriminar a companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios bem
inferiores aos conferidos à esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios da
igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à proteção
deficiente e da vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica,
o entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha
havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que ainda não
haja escritura pública. 4. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em repercussão
geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de
regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002.” (STF. RE 646.721. Rel. Min.
Roberto Barroso. Julg. 10/05/2017. Dje. 08/09/2017) (similar ao RE 878.694)

Dois aspectos das duas leis continuam em vigor, pois não foram tratados pelo CC/2002:
• Competência da Vara da Família (art. 9º da Lei 9.278/96); e
• Direito real de habitação (art. 7º da Lei 9.278/96).

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2011: Ocorreu o julgamento da ADPF 132/RJ e ADI 4277/DF. Nesses julgados, houve o
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, com aplicação analógica das
mesmas regras da união heteroafetiva.

O CPC de 2015 “equalizou processualmente” a união estável ao casamento:


• Artigo 534 - competência;
• Artigo 735 - outorga convivencial para ações reais imobiliárias;
• Artigo 6936 – ações contenciosas de família; e
• Artigos 731, 732 e 7337 – ações e procedimentos consensuais de família.

A Lei do SERP (Lei n. 14.382/2022) passou a possibilitar o registro da união estável no Livro
E, no Cartório de Registro Civil (novo art. 94-A da Lei de Registros Públicos - Lei 6.015/1973).
Matéria tratada pelo Provimento n. 141/2023 do CNJ. Entendo que há equiparação total quanto
às formalidades, com esse registro.

CPC, art. 53: “É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução
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de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de
domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; d) de domicílio da vítima de violência doméstica e
familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha); (Incluída pela Lei nº 13.894, de 2019)
CPC, art. 73: “O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo
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quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. [...] § 3 o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada
nos autos.”
CPC, art. 693: “As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção
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de união estável, guarda, visitação e filiação.”


CPC, art. 731: “A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em
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petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão: I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns; II - as
disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges; III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de
visitas; e IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos. Parágrafo único. Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha
dos bens, far-se-á esta depois de homologado o divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658.
CPC, art. 732. As disposições relativas ao processo de homologação judicial de divórcio ou de separação consensuais aplicam-se, no
que couber, ao processo de homologação da extinção consensual de união estável.
CPC, art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou
filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de
que trata o art. 731.”
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2. Conceito e elementos caracterizadores da união estável.

Conceito: Consta no art. 1.723 do CC, o qual equivale ao conceito do art. 1º da Lei 9.278/1996
(Álvaro Villaça Azevedo: responsável por introduzir o tratamento da união estável na lei).

CC, art. 1.723: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família. [...]”

A união estável é reconhecida como entidade familiar, configurada pela convivência:


- Pública;
- Contínua;
- Duradoura; e
- Estabelecida com o objetivo de constituição de família (“animus familiae”).

• Convivência pública: convivência notória ou conhecida, não podendo ser “às


escondidas”. Não significa a necessidade de um ato público (escritura pública ou registro
no Livro E do Cartório de Registro Civil).
• Convivência contínua e duradoura: convivência sem interrupções, sem que seja “dado
um tempo”. Não há prazo mínimo, mas deve ser por prazo necessário para a
configuração de uma família.

Obs. 1: Não há exigência de prole comum nem convivência sob o mesmo teto (Súmula 382,
STF8 e Tese 2 da Edição 50 do Jurisprudência em Teses, do STJ9).

Obs. 2: Não há qualquer requisito formal ou necessidade de ação judicial para o seu
reconhecimento

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Súmula 382 do STF: “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato.”
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JTSTJ, edição 50, Tese 2: “A coabitação não é elemento indispensável à caracterização da união estável.”
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EMENTA: “DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
REGISTRO DE PENSÃO POR MORTE PELO TCU. RATEIO ENTRE COMPANHEIRA E
VIÚVA DE SERVIDOR PÚBLICO. EXIGÊNCIA DE RECONHECIMENTO JUDICIAL DE
UNIÃO ESTÁVEL E SEPARAÇÃO DE FATO. 1. É possível o reconhecimento de união
estável de pessoa casada que esteja separada judicialmente ou de fato (CC, art. 1.723, § 1º).
2. O reconhecimento da referida união estável pode se dar administrativamente, não se
exigindo necessariamente decisão judicial para configurar a situação de separação de fato.
3. No caso concreto, embora comprovada administrativamente a separação de fato e a união
estável, houve negativa de registro de pensão por morte, fundada unicamente na necessidade de
separação judicial. 4. Segurança concedida.” (STF. Mandado de Segurança 33008/DF. Rel.
Min. Roberto Barroso. Julg. 03/05/2016).

Obs. 3: Conforme o art. 1.723, § 1º do CC10, uma pessoa casada, desde que seja separada de
fato, judicialmente ou extrajudicialmente, pode constituir união estável.

Obs. 4: De acordo com o art. 1.723, § 2º do CC11, as causas suspensivas do casamento não
impedem a caracterização da união estável.

Questão: As causas suspensivas do casamento impõem o regime de separação obrigatória?


O STJ entende que sim, pois, aplica-se o disposto no art. 1.641 do CC12 e a Súmula 377 do
STF13 à união estável (Tese nº 6, Ed. 50 do Jurisprudência em Teses14 e EREsp 1.171.820/PR):
“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA.
UNIÃO ESTÁVEL. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE
BENS (CC/1916, ART. 258, II; CC/2002, ART. 1.641, II). DISSOLUÇÃO. BENS
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CC, art. 1.723, §1º: “A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência
do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.”
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CC, art. 1.723, §2 º: “As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.”
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CC, art. 1.641: “É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das
causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; 1III - de todos os que dependerem, para
casar, de suprimento judicial.”
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Súmula 377, STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.”
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Tese 6, Ed. 50: “Na união estável de pessoa maior de setenta anos (art. 1.641, II, do CC/02), impõe-se o regime da separação
obrigatória, sendo possível a partilha de bens adquiridos na constância da relação, desde que comprovado o esforço comum.”
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ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE. PARTILHA. NECESSIDADE DE PROVA DO
ESFORÇO COMUM. PRESSUPOSTO DA PRETENSÃO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
PROVIDOS. 1. Nos moldes do art. 258, II, do Cóigo Civil de 1916, vigente à época dos fatos
(matéria atualmente regida pelo art. 1.641, II, do Código Civil de 2002), à união estável de
sexagenário, se homem, ou cinquentenária, se mulher, impõe-se o regime da separação
obrigatória de bens. 2. Nessa hipótese, apenas os bens adquiridos onerosamente na constância
da união estável, e desde que comprovado o esforço comum na sua aquisição, devem ser objeto
de partilha. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos para negar seguimento ao
recurso especial.” (EREsp 1.171.820, Rel. Min. Raul Araújo. Segunda Seção. Julgado em
26/08/2015. DJe 21/09/2015).

Obs. 5: Os elementos caracterizadores da união estável são abertos e subjetivos, havendo uma
verdadeira “cláusula geral” na sua configuração, a qual provoca incerteza e dúvidas em sua
aplicação.
Questão: Como diferenciar a união estável de um namoro (longo, qualificado) ou de um
noivado?
Conforme afirmam José Fernando Simão e Zeno Veloso, no namoro e no noivado, a família é
futura, com intenção ou objetivo projetado no futuro.
Na união estável, a família é presente - já existe. A diferença está no animus familiae.

Esse ânimo familiar deve ser analisado sob duas perspectivas:


• Reputação (reputatio) e
• Tratamento (tractatio).

Nesse sentido: REsp 1.454.643/RJ (namoro qualificado).


“RECURSO ESPECIAL E RECURSO ESPECIAL ADESIVO. AÇÃO DE
RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, ALEGADAMENTE
COMPREENDIDA NOS DOIS ANOS ANTERIORES AO CASAMENTO, C.C. PARTILHA
DO IMÓVEL ADQUIRIDO NESSE PERÍODO. [...] 1. O conteúdo normativo constante dos
arts. 332 e 333, II, da lei adjetiva civil, não foi objeto de discussão ou deliberação pela instância

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precedente, circunstância que enseja o não conhecimento da matéria, ante a ausência do
correlato e indispensável prequestionamento. 2. Não se denota, a partir dos fundamentos
adotados, ao final, pelo Tribunal de origem (por ocasião do julgamento dos embargos
infringentes), qualquer elemento que evidencie, no período anterior ao casamento, a
constituição de uma família, na acepção jurídica da palavra, em que há, necessariamente, o
compartilhamento de vidas e de esforços, com integral e irrestrito apoio moral e material entre
os conviventes. A só projeção da formação de uma família, os relatos das expectativas da vida
no exterior com o namorado, a coabitação, ocasionada, ressalta-se, pela contingência e
interesses particulares de cada qual, tal como esboçado pelas instâncias ordinárias, afiguram-se
insuficientes à verificação da affectio maritalis e, por conseguinte, da configuração da união
estável. 2.1 O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência como requisito
essencial à constituição da união estável - a distinguir, inclusive, esta entidade familiar do
denominado "namoro qualificado" -, não consubstancia mera proclamação, para o
futuro, da intenção de constituir uma família. É mais abrangente. Esta deve se afigurar
presente durante toda a convivência, a partir do efetivo compartilhamento de vidas, com
irrestrito apoio moral e material entre os companheiros. É dizer: a família deve, de fato,
restar constituída. 2.2. Tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma união
estável (ainda que possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante indício),
especialmente se considerada a particularidade dos autos, em que as partes, por contingências e
interesses particulares (ele, a trabalho; ela, pelo estudo) foram, em momentos distintos, para o
exterior, e, como namorados que eram, não hesitaram em residir conjuntamente. Este
comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos tempos atuais, impondo-se ao
Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à realidade social. 3. Da análise acurada
dos autos, tem-se que as partes litigantes, no período imediatamente anterior à celebração
de seu matrimônio (de janeiro de 2004 a setembro de 2006), não vivenciaram uma união
estável, mas sim um namoro qualificado, em que, em virtude do estreitamento do
relacionamento projetaram para o futuro – e não para o presente –, o propósito de
constituir uma entidade familiar, desiderato que, posteriormente, veio a ser concretizado
com o casamento. 4. Afigura-se relevante anotar que as partes, embora pudessem, não se
valeram, tal como sugere a demandante, em sua petição inicial, do instituto da conversão da
união estável em casamento, previsto no art. 1.726 do Código Civil. Não se trata de renúncia
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como, impropriamente, entendeu o voto condutor que julgou o recurso de apelação na origem.
Cuida-se, na verdade, de clara manifestação de vontade das partes de, a partir do casamento, e
não antes, constituir a sua própria família. A celebração do casamento, com a eleição do regime
de comunhão parcial de bens, na hipótese dos autos, bem explicita o termo a partir do qual os
então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem consolidar, consciente e
voluntariamente, a relação amorosa vivenciada para constituir, efetivamente, um núcleo
familiar, bem como comunicar o patrimônio haurido. A cronologia do relacionamento pode ser
assim resumida: namoro, noivado e casamento. E, como é de sabença, não há repercussão
patrimonial decorrente das duas primeiras espécies de relacionamento. 4.1 No contexto dos
autos, inviável o reconhecimento da união estável compreendida, basicamente, nos dois anos
anteriores ao casamento, para o único fim de comunicar o bem então adquirido exclusivamente
pelo requerido. Aliás, a aquisição de apartamento, ainda que tenha se destinado à residência dos
então namorados, integrou, inequivocamente, o projeto do casal de, num futuro próximo,
constituir efetivamente a família por meio do casamento. Daí, entretanto, não advém à
namorada/noiva direito à meação do referido bem. 5. Recurso especial provido, na parte
conhecida. Recurso especial adesivo prejudicado.” (STJ. REsp 1.454.643/RJ - 2014/0067781-5.
3ª Turma. Rel. Marco Aurélio Bellizze. Julg. 03/03/2015).

REsp. 1.678.437/RJ - “data em aliança”.


“CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE
UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA DE PATRIMÔNIO. JUNTADA DE
DOCUMENTO EM GRAU RECURSAL. POSSIBILIDADE, DESDE QUE OBSERVADO O
CONTRADITÓRIO, COMO NA HIPÓTESE. REQUALIFICAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS.
POSSIBILIDADE. INDISCUTIBILIDADE SOBRE A EXISTÊNCIA E MODO DE
OCORRÊNCIA DOS FATOS, INCLUSIVE SOB A PERSPECTIVA DAS PARTES.
CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL. PRESENÇA CUMULATIVA DOS
REQUISITOS DE CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTINUIDADE, DURABILIDADE E
INTENÇÃO DE ESTABELECER FAMÍLIA A PARTIR DE DETERMINADO LAPSO
TEMPORAL. DATA GRAVADA NAS ALIANÇAS. INSUFICIÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PUBLICIDADE DA CONVIVÊNCIA E DE PROVA DA SIMBOLOGIA DAS ALIANÇAS.

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DATA DE NASCIMENTO DO FILHO. INSUFICIÊNCIA. PROVA SUFICIENTE DE
COABITAÇÃO EM MOMENTO ANTERIOR, INCLUSIVE AO TEMPO DA
DESCOBERTA DA GRAVIDEZ, COM EXAME ENDEREÇADO À RESIDÊNCIA DO
CASAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA.
DESSEMELHANÇA FÁTICA. 1- Ação distribuída em 11/03/2013. Recurso especial
interposto em 11/03/2016 e atribuídos à Relatora em 20/09/2016. 2- O propósito recursal
consiste em definir se a prova documental produzida apenas em grau recursal pode ser
considerada na definição da data de início da união estável e, ainda, definir o exato momento no
tempo em que se configurou a união estável havida entre as partes. 3- A regra segundo a qual
somente se admite a juntada de documentos novos em momentos posteriores à petição inicial
ou à contestação deve ser flexibilizada em atenção ao princípio da verdade real, devendo ser
observado, contudo, o princípio do contraditório, efetivamente exercido pela parte na hipótese.
Precedente. 4- É admissível a requalificação jurídica dos fatos quando as decisões judiciais de
mérito descrevem, de forma suficiente e harmônica, a existência e o modo pelo qual ocorreram,
aspectos sobre os quais, inclusive, inexiste controvérsia até mesmo entre as próprias partes. Não
incidência da Súmula 7/STJ. 5- Embora a identificação do momento preciso em que se
configura a união estável, deve se examinar a presença cumulativa dos requisitos de
convivência pública (união não oculta da sociedade), de continuidade (ausência de
interrupções), de durabilidade e a presença do objetivo de estabelecer família, nas perspectivas
subjetiva (tratamento familiar entre os próprios companheiros) e objetiva (reconhecimento
social acerca da existência do ente familiar). 6- Na hipótese, deve ser afastada a data
gravada nas alianças do casal - 25/08/2002 - como termo inicial da união estável, eis que
ausente o requisito da convivência pública e diante da ausência de prova da específica
simbologia representada pelas referidas alianças, como também deve ser afastada a data
de nascimento do filho primogênito - 18/06/2004 - como termo inicial da convivência, eis
que produzida prova suficiente de que os requisitos configuradores da união estável
estavam presentes em momento anterior. 7- Os elementos de prova colhidos nos graus de
jurisdição, interpretados à luz das máximas de experiência e da observação do modo pelo
qual os fatos normalmente se desenvolvem, somada a existência de coabitação entre as
partes desde Fevereiro de 2003, mantida ao tempo da descoberta da gravidez, ocorrida em
24/10/2003, do primeiro filho do casal, permitem estabelecer essa data como o momento
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temporal em que a união estável havida entre as partes ficou plenamente configurada. 8-
A dessemelhança fática entre o acórdão recorrido e os acórdãos tidos como paradigmáticos
impede o conhecimento do recurso especial pela divergência jurisprudencial. 9- Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido.” (REsp.
1.678.437/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi. Terceira Turma. Julgado em 21/08/2018, DJe
24/08/2018).

Obs.6: as partes da união estável são denominadas “companheiros” ou “conviventes’, não mais
“concubinos”, desde a Constituição de 1988.

3. Efeitos Pessoais e Patrimoniais da União Estável. Direitos e Deveres dos companheiros,


regime de bens, dissolução e conversão em casamento.

Os efeitos se aplicam para as uniões heteroafetivas e homoafetivas.


As ações são de competência da Vara da Família.

O art. 1.724 do CC15 prevê os deveres de lealdade, respeito, assistência, guarda, sustento e
educação dos filhos.
Confrontando-se o art. 1.724 do CC com aquele que prevê os deveres dos cônjuges no
casamento (art. 1.566 do CC16), é possível notar duas diferenças:
1ª) No casamento, está estabelecido o dever de fidelidade e não de lealdade; e
2ª) No casamento, há a exigência de vida em comum no lar conjugal – coabitação.

O art. 1.725 do CC17 trata do regime patrimonial – Salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial
de bens (regime legal ou supletório na união estável).

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CC, art. 1.724: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda,
sustento e educação dos filhos.”
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CC, art. 1.566: “São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua
assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos.”
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O contrato escrito em questão é chamado de “contrato de convivência” por Francisco José
Cahali. Tal contrato não é obrigatório, pode ser feito por escritura pública ou instrumento
particular. Nele, pode-se escolher regime patrimonial diverso do da comunhão parcial e, ainda,
afirmar a existência da união estável, o que também pode ser feito por termo declaratório no
Cartório de Registro Civil (Lei do SERP).

STJ - É nula a cláusula que atribui eficácia retroativa ao regime de bens pactuado em escritura
de união estável:
“Recurso Especial – Civil e Processual Civil – Direito de Família – Escritura pública de
reconhecimento de união estável – Regime da separação de bens – Atribuição de eficácia
retroativa – Não cabimento – Precedentes da Terceira Turma. 1. Ação de declaração e de
dissolução de união estável, cumulada com partilha de bens, tendo o casal convivido por doze
anos e gerado dois filhos. 2. No momento do rompimento da relação, em setembro de 2007, as
partes celebraram, mediante escritura pública, um pacto de reconhecimento de união estável,
elegendo retroativamente o regime da separação total de bens. 3. Controvérsia em torno da
validade da cláusula referente à eficácia retroativa do regime de bens. 4. Consoante a
disposição do art. 1.725 do Código Civil, “na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial
de bens”. 5. Invalidade da cláusula que atribui eficácia retroativa ao regime de bens pactuado
em escritura pública de reconhecimento de união estável. 6. Prevalência do regime legal
(comunhão parcial) no período anterior à lavratura da escritura. 7. Precedentes da Terceira
Turma do STJ. 8. Voto divergente quanto à fundamentação. 9. Recurso Especial desprovido.”
(STJ. REsp 1.597.675/SP. 3ª Turma. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino. Julg. 25/10/2016)

Por conta da expressão “no que couber” do art. 1.725 do CC, entende-se que se aplicam apenas
algumas regras da comunhão parcial de bens (conforme Giselda Hironaka e Euclides de
Oliveira).

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CC, art. 1.725: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens.”
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O art. 1.647 do CC18 (outorga conjugal) aplica-se, por analogia, à união estável (outorga
convivencial)? (3 correntes)

• 1ª corrente: sim, pois a união estável equipara-se ao casamento.


“PROCESSO CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – PENHORA DE BEM IMÓVEL EM
CONDOMÍNIO – EXIGÊNCIA DE CONSENTIMENTO DOS DEMAIS. 1. A lei civil exige,
para alienação ou constituição de gravame de direito real sobre bem comum, o consentimento
dos demais condôminos. 2. A necessidade é de tal modo imperiosa, que tal consentimento é,
hoje, exigido da companheira ou convivente de união estável (art. 226, § 3º, da CF), nos termos
da Lei 9.278/96. 3. Recurso especial improvido.” (REsp 755.830/SP, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/11/2006, DJ 01/12/2006, p. 291).

• 2ª corrente: não, pois a união estável não é totalmente igual ao casamento. Outrossim, o
art. 1.647 não admite analogia por ser norma restritiva.
“DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO DE FAMÍLIA. CONTRATO DE
LOCAÇÃO. FIANÇA. FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL.
INEXISTÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. DISPENSA. VALIDADE DA GARANTIA.
INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ. 1. Mostra-se de extrema relevância para a
construção de uma jurisprudência consistente acerca da disciplina do casamento e da união
estável saber, diante das naturais diferenças entre os dois institutos, quais os limites e
possibilidades de tratamento jurídico diferenciado entre eles. 2. Toda e qualquer diferença entre
casamento e união estável deve ser analisada a partir da dupla concepção do que seja casamento
- por um lado, ato jurídico solene do qual decorre uma relação jurídica com efeitos tipificados
pelo ordenamento jurídico, e, por outro, uma entidade familiar, dentre várias outras protegidas
pela Constituição. 3. Assim, o casamento, tido por entidade familiar, não se difere em nenhum
aspecto da união estável - também uma entidade familiar -, porquanto não há famílias timbradas
como de "segunda classe" pela Constituição Federal de 1988, diferentemente do que ocorria nos

18
CC, art. 1.647: “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.”
13
diplomas constitucionais e legais superados. Apenas quando se analisa o casamento como ato
jurídico formal e solene é que as diferenças entre este e a união estável se fazem visíveis, e
somente em razão dessas diferenças entre casamento - ato jurídico - e união estável é que o
tratamento legal ou jurisprudencial diferenciado se justifica. 4. A exigência de outorga uxória a
determinados negócios jurídicos transita exatamente por este aspecto em que o tratamento
diferenciado entre casamento e união estável é justificável. É por intermédio do ato jurídico
cartorário e solene do casamento que se presume a publicidade do estado civil dos contratantes,
de modo que, em sendo eles conviventes em união estável, hão de ser dispensadas as vênias
conjugais para a concessão de fiança. 5. Desse modo, não é nula nem anulável a fiança prestada
por fiador convivente em união estável sem a outorga uxória do outro companheiro. Não
incidência da Súmula n. 332/STJ à união estável. 6. Recurso especial provido.” (REsp
1.299.866/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
25/02/2014, DJe 21/03/2014).

Enunciado 641, VIII Jornada de Direito Civil: “Art. 1.790: A decisão do Supremo Tribunal
Federal que declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil não importa
equiparação absoluta entre o casamento e a união estável. Estendem-se à união estável
apenas as regras aplicáveis ao casamento que tenham por fundamento a solidariedade
familiar. Por outro lado, é constitucional a distinção entre os regimes, quando baseada na
solenidade do ato jurídico que funda o casamento, ausente na união estável.”
Com a Lei do SERP, havendo o registro no Livro E no Cartório de Registro Civil, como
fica essa tese? Ver meu artigo no Migalhas, com Carlos Elias de Oliveira.
https://www.migalhas.com.br/coluna/familia-e-sucessoes/388946/uniao-estavel-versus-
casamento.

• 3ª corrente: Depende. Aplica-se o art. 1.647 do CC somente no caso de haver escritura


pública de união estável, devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
“DIREITO CIVIL. ALIENAÇÃO, SEM CONSENTIMENTO DO COMPANHEIRO, DE
BEM IMÓVEL ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. A invalidação da
alienação de imóvel comum, fundada na falta de consentimento do companheiro, dependerá da

14
publicidade conferida à união estável, mediante a averbação de contrato de convivência ou da
decisão declaratória da existência de união estável no Ofício do Registro de Imóveis em que
cadastrados os bens comuns, ou da demonstração de má-fé do adquirente. A Lei 9.278/1996,
em seu art. 5º, ao dispor acerca dos bens adquiridos na constância da união estável, estabeleceu
serem eles considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a
ambos os conviventes, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em
contrato escrito. Dispôs, ainda, que a administração do patrimônio comum dos conviventes
compete a ambos, questão também submetida ao poder de disposição dos conviventes. Nessa
perspectiva, conforme entendimento doutrinário, a alienação de bem co-titularizado por ambos
os conviventes, na esteira do citado artigo, sem a anuência de um dos condôminos,
representaria alienação - pelo menos em parte - de coisa alheia, caracterizando uma venda “a
non domino”, ou seja, um ato ilícito. Por outro lado, inolvidável a aplicabilidade, em regra, da
comunhão parcial de bens à união estável, consoante o disposto no caput do art. 1.725 do CC.
E, especialmente acerca da disponibilidade dos bens, em se tratando de regime que não o da
separação absoluta, consoante disciplinou o CC no seu art. 1.647, nenhum dos cônjuges poderá,
sem autorização do outro, alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis. A interpretação
dessas normas, ou seja, do art. 5º da Lei 9.278/1996 e dos já referidos arts. 1.725 e 1.647 do
CC, fazendo-as alcançar a união estável, não fosse pela subsunção mesma, esteia-se, ainda, no
fato de que a mesma ratio - que indisfarçavelmente imbuiu o legislador a estabelecer a outorga
uxória e marital em relação ao casamento - mostra-se presente em relação à união estável; ou
seja, a proteção da família (com a qual, aliás, compromete-se o Estado, seja legal, seja
constitucionalmente). Todavia, levando-se em consideração os interesses de terceiros de boa-fé,
bem como a segurança jurídica necessária para o fomento do comércio jurídico, os efeitos da
inobservância da autorização conjugal em sede de união estável dependerão, para a sua
produção (ou seja, para a eventual anulação da alienação do imóvel que integra o patrimônio
comum) da existência de uma prévia e ampla notoriedade dessa união estável. No casamento,
ante a sua peculiar conformação registral, até mesmo porque dele decorre a automática
alteração de estado de pessoa e, assim, dos documentos de identificação dos indivíduos, é ínsita
essa ampla e irrestrita publicidade. Projetando-se tal publicidade à união estável, a anulação da
alienação do imóvel dependerá da averbação do contrato de convivência ou do ato decisório
que declara a união no Registro Imobiliário em que inscritos os imóveis adquiridos na
15
constância da união. A necessidade de segurança jurídica, tão cara à dinâmica dos negócios na
sociedade contemporânea, exige que os atos jurídicos celebrados de boa-fé sejam preservados.
Em outras palavras, nas hipóteses em que os conviventes tornem pública e notória a sua
relação, mediante averbação, no registro de imóveis em que cadastrados os bens comuns, do
contrato de convivência ou da decisão declaratória da existência da união estável, não se poderá
considerar o terceiro adquirente do bem como de boa-fé, assim como não seria considerado
caso se estivesse diante da venda de bem imóvel no curso do casamento. Contrariamente, não
havendo o referido registro da relação na matrícula dos imóveis comuns, ou não se
demonstrando a má-fé do adquirente, deve-se presumir a sua boa-fé, não sendo possível a
invalidação do negócio que, à aparência, foi higidamente celebrado. Por fim, não se olvide que
o direito do companheiro prejudicado pela alienação de bem que integrava o patrimônio comum
remanesce sobre o valor obtido com a alienação, o que deverá ser objeto de análise em ação
própria em que se discuta acerca da partilha do patrimônio do casal.” (REsp 1.424.275-MT,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014, DJe 16/12/2014).

Art. 1.725, CC – O dispositivo preceitua que o regime legal da união estável é a comunhão
parcial. Em relação aos bens adquiridos durante a união, há meação, sem a necessidade da
prova do esforço comum (Enunciado 115, da I JDC19).

Esse já era o regime legal da união estável antes do CC/2002?


O STJ entende que já era comunhão parcial desde o art. 5º da Lei 9.278/1996 20. Tese 16 da
Edição 50 do “Jurisprudência em Teses do STJ”.
“RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. INÍCIO ANTERIOR E DISSOLUÇÃO
POSTERIOR À EDIÇÃO DA LEI 9.278/96. BENS ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE
ANTES DA VIGÊNCIA DA NORMA LEGAL. 1. Não configura ofende o art. 535 do CPC a

19
Enunciado 115, I JDC: “Há presunção de comunhão de aquestos na constância da união extramatrimonial mantida entre os
companheiros, sendo desnecessária a prova do esforço comum para se verificar a comunhão dos bens.”
20
Lei 9.278/96, art. 5º: “Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na constância da união estável e a
título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em
partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito. § 1° Cessa a presunção do caput deste artigo se a aquisição patrimonial
ocorrer com o produto de bens adquiridos anteriormente ao início da união. § 2° A administração do patrimônio comum dos
conviventes compete a ambos, salvo estipulação contrária em contrato escrito.”
16
decisão que examina, de forma fundamentada, todas as questões submetidas à apreciação
judicial. 2. Demonstrado que as instâncias de origem não apreciaram a efetiva contribuição de
um dos conviventes para a construção do patrimônio comum, prova considerada irrelevante
para o deslinde da controvérsia, mas entenderam aplicável a presunção legal do esforço comum
prevista na Lei 9.278/96, também em relação aos bens adquiridos antes de sua entrada em
vigor, não tem incidência, no caso presente, o óbice da Súmula 7/STJ. 3. A violação aos
princípios do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada encontra vedação em
dispositivo constitucional (art. 5º XXXVI), mas seus conceitos são estabelecidos em lei
ordinária (LINDB, art. 6º). Dessa forma, não havendo na Lei 9.278/96 comando que determine
a sua retroatividade, mas decisão judicial acerca da aplicação da lei nova a determinada relação
jurídica existente quando de sua entrada em vigor - hipótese dos autos - a questão será
infraconstitucional, passível de exame mediante recurso especial. Precedentes do STF e deste
Tribunal 4. A presunção legal de esforço comum na aquisição do patrimônio dos conviventes
foi introduzida pela Lei 9.278/96, devendo os bens amealhados no período anterior a sua
vigência, portanto, serem divididos proporcionalmente ao esforço comprovado, direito ou
indireto, de cada convivente, conforme disciplinado pelo ordenamento jurídico vigente quando
da respectiva aquisição (Súmula 380/STF). 5. Os bens adquiridos anteriormente à Lei 9.278/96
têm a propriedade - e, consequentemente, a partilha ao cabo da união - disciplinada pelo
ordenamento jurídico vigente quando respectiva aquisição, que ocorre no momento em que se
aperfeiçoam os requisitos legais para tanto e, por conseguinte, sua titularidade não pode ser
alterada por lei posterior em prejuízo ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito (CF, art. 5,
XXXVI e Lei de Introdução ao Código Civil, art. 6º). 6. Os princípios legais que regem a
sucessão e a partilha de bens não se confundem: a sucessão é disciplinada pela lei em vigor na
data do óbito; a partilha de bens, ao contrário, seja em razão do término, em vida, do
relacionamento, seja em decorrência do óbito do companheiro ou cônjuge, deve observar o
regime de bens e o ordenamento jurídico vigente ao tempo da aquisição de cada bem a
partilhar. 7. A aplicação da lei vigente ao término do relacionamento a todo o período de união
implicaria expropriação do patrimônio adquirido segundo a disciplina da lei anterior, em
manifesta ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito. 8. Recurso especial
parcialmente provido.” (REsp. 959.213/PR. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. Rel. para Acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti. 4ª Turma. J. 06/06/2013. DJe 10/06/2013).
17
O art. 1.726 do CC21 sempre tratou da conversão da união estável em casamento, exigindo, para
tal, uma ação judicial, em desobediência ao art. 226, §3º da CF/198822.
Porém, na prática, em muitas unidades da Federação, a conversão era feita unicamente no
Cartório de Registro Civil, por meio de normas das Corregedorias dos Tribunais de Justiça
(como ocorre no estado de São Paulo).
STJ – REsp 1.685.937/RJ (3ª Turma – 2017): as partes podem escolher entre a conversão
judicial ou a administrativa.
EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE CONVERSÃO DE
UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO. OBRIGATORIEDADE DE FORMULAÇÃO
EXCLUSIVAMENTE PELA VIA ADMINISTRATIVA. INEXISTÊNCIA. CONVERSÃO
PELA VIA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. O propósito recursal é reconhecer a existência de
interesse de agir para a propositura de ação de conversão de união estável em casamento,
considerando a possibilidade de tal procedimento ser efetuado extrajudicialmente. Os arts.
1726, do CC e 8º, da Lei 9278/96 não impõem a obrigatoriedade de que se formule pedido
de conversão de união estável em casamento exclusivamente pela via administrativa. A
interpretação sistemática dos dispositivos à luz do art. 226 § 3º da Constituição Federal confere
a possibilidade de que as partes elejam a via mais conveniente para o pedido de conversão de
união estável em casamento. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 1685937/RJ, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/08/2017, DJe
22/08/2017).
21
CC, art. 1.726: “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no
Registro Civil.”
22
CF, art. 226, § 3º: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”

18
A Lei do SERP passou a prever que essa conversão pode ser efetivada perante o Cartório de
Registro Civil, o que veio em boa hora (novo art. 70-A da Lei de Registros Públicos). .

“Art. 70-A. A conversão da união estável em casamento deverá ser requerida pelos
companheiros perante o oficial de registro civil de pessoas naturais de sua residência.
§ 1º Recebido o requerimento, será iniciado o processo de habilitação sob o mesmo rito previsto
para o casamento, e deverá constar dos proclamas que se trata de conversão de união estável em
casamento.
§ 2º Em caso de requerimento de conversão de união estável por mandato, a procuração deverá
ser pública e com prazo máximo de 30 (trinta) dias.
§ 3º Se estiver em termos o pedido, será lavrado o assento da conversão da união estável em
casamento, independentemente de autorização judicial, prescindindo o ato da celebração do
matrimônio.
§ 4º O assento da conversão da união estável em casamento será lavrado no Livro B, sem a
indicação da data e das testemunhas da celebração, do nome do presidente do ato e das
assinaturas dos companheiros e das testemunhas, anotando-se no respectivo termo que se trata
de conversão de união estável em casamento.
§ 5º A conversão da união estável dependerá da superação dos impedimentos legais para o
casamento, sujeitando-se à adoção do regime patrimonial de bens, na forma dos preceitos da lei
civil.
§ 6º Não constará do assento de casamento convertido a partir da união estável a data do início
ou o período de duração desta, salvo no caso de prévio procedimento de certificação eletrônica
de união estável realizado perante oficial de registro civil.
§ 7º Se estiver em termos o pedido, o falecimento da parte no curso do processo de habilitação
não impedirá a lavratura do assento de conversão de união estável em casamento.”

19
Dissolução. Alimentos entre os companheiros ou conviventes: aplicam-se os artigos 1.69423
e seguintes do Código Civil (equiparação quanto ao cônjuge).

Dissolução por morte. Direito das sucessões: não se aplica mais o art. 1.790 do CC
(declarado inconstitucional pelo STF – Informativo 864). Aplica-se o art. 1.829 do CC para a
sucessão do companheiro ao lado do cônjuge.

CC, art. 1.829: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge OU COMPANHEIRO sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge OU COMPANHEIRO;
III - ao cônjuge OU COMPANHEIRO sobrevivente;
IV - aos colaterais.”

4. Diferenças entre a união estável e o concubinato

A união estável está prevista no art. 1.723 do CC24 como entidade familiar. Já o concubinato,
previsto no art. 1.727 do CC25, não é entidade familiar, mas sociedade de fato.

23
CC, art. 1.694: “Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de
modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1o Os alimentos devem ser
fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. § 2 o Os alimentos serão apenas os
indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.”
24
CC, art. 1.723: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
25
CC, art. 1.727: “As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.”
20
União Estável Concubinato

Entidade Familiar. Não é família, mas sociedade de fato.

Companheiros ou conviventes. Concubinos ou amantes.

Pessoas solteiras, viúvas, divorciadas ou Pessoas casadas não separadas; ou havendo


separadas (de fato, judicialmente ou impedimento decorrente de parentesco ou crime
extrajudicialmente). (art. 1.521 do CC).

Há meação, sucessão e direito a alimentos. Não há meação, sucessão ou alimentos. Aplica-se


a súmula 380 do STF26.

Vara da Família. Vara Cível.

Ação de reconhecimento e dissolução de união Ação de reconhecimento e dissolução de


estável (CPC/2015). sociedade de fato.

Temas finais sobre união estável e concubinato:

- Direitos da amante (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona) - Concomitância de casamento com a


união estável. O STF e STJ tratam como concubinato.
“COMPANHEIRA E CONCUBINA – DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma verdadeira ciência,
impossível é confundir institutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel.
UNIÃO ESTÁVEL – PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável
alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato. PENSÃO –
SERVIDOR PÚBLICO – MULHER – CONCUBINA – DIREITO. A titularidade da pensão
decorrente do falecimento de servidor público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento
jurídico, mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em detrimento da
família, a concubina.” (STF. RE 397.762-8/BA. Rel. Min. Marco Aurélio. Julg. 03/06/2008.
DJe. 12/09/2008).
Tese 4 da Edição 50 do “Jurisprudência em Teses do STJ”.

26
Súmula 38, STF: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a
partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.”
21
- Uniões estáveis plúrimas ou paralelas - Na doutrina, há três correntes:
1ª corrente: nenhum relacionamento é união estável. Posição de Maria Helena Diniz e Álvaro
Villaça (uniões desleais). No STJ, é a posição que prevalece (Tese 4 da Edição 50 do JTSTJ).

2ª corrente: todos os relacionamentos são uniões estáveis. Posição de Maria Berenice Dias.

3ª corrente: união estável putativa (art. 1.561, CC). De acordo com essa tese, o primeiro
relacionamento seria união estável e os demais seriam uniões estáveis putativas (se houver boa-
fé).
Esta corrente é adotada por Euclides de Oliveira e Rolf Madaleno.

O tema estava pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal, especialmente para o


âmbito do Direito Previdenciário e em repercussão geral (Tema 529), tendo sido encerrado em
dezembro de 2020.
Em setembro de 2019 iniciou-se a sua análise, em sede do Recurso Extraordinário
1.045.273/SE, que abordava a concomitância de uma união estável homoafetiva com uma
heteroafetiva.
O Ministro Luiz Edson Fachin votou exatamente na linha do que sustento, de que são possíveis
efeitos previdenciários para atingir companheiros de boa-fé nas uniões estáveis plúrimas. No
mesmo sentido julgaram os Ministros Marco Aurélio e Rosa Maria Weber.
Os Ministros Roberto Barroso e Carmen Lúcia votaram também pelo reconhecimento desses
efeitos, mas sem a necessidade da boa-fé, pois prevalece a equidade que deve guiar o Direito
Previdenciário.
Por seu turno, os Ministros Alexandre de Moraes (Relator), Gilmar Mendes, Ricardo
Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux e Nunes Marques entenderam pela impossibilidade de se
reconhecerem quaisquer efeitos previdenciários nas uniões concomitantes, diante do princípio
da monogamia, que se aplica plenamente à união estável. Assim sendo, apenas o primeiro
vínculo de união estável deve ser admitido. A tese final fixada, com votação apertada de 6 a 5,
portanto, foi a seguinte: “a preexistência de casamento ou de união estável de um dos
conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, parágrafo 1º, do Código Civil, impede o
22
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins
previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo
ordenamento jurídico-constitucional brasileiro”.
Como se pode perceber, a única exceção admitida diz respeito à pessoa separada de fato.
Parece-me que o julgamento já fechou a possibilidade de se admitirem as uniões estáveis
plúrimas, para os fins de gerarem efeitos para o Direito de Família e das Sucessões.
Deve ficar claro que não se analisou diretamente a concomitância de casamento e de
concubinato (ou de união estável), apesar da tese final exarada – o que foi objeto de outro
processo na Corte, também em repercussão geral (Recurso Extraordinário 883.168/SC – Tema
526) –, mas a existência de várias uniões estáveis ao mesmo tempo.
Também no julgamento do Tema 526, em 2021, o STF não admitiu o reconhecimento jurídico
de famílias paralelas, afirmando ser o princípio da monogamia regramento que rege tanto o
casamento quanto a união estável. Essa é, portanto, a posição a ser considerada para os devidos
fins práticos.

- União poliafetiva – Existe um só vínculo entre mais de duas pessoas.


Foram lavradas algumas escrituras públicas de uniões poliafetivas em São Paulo e no Rio de
Janeiro. Porém, o CNJ, em junho de 2018, proibiu a lavratura de tais escrituras – consideradas
nulas e ilícitas (art. 166, CC).
Ver artigo: “Da escritura pública de uniões poliafetivas – Breves considerações.”, disponível
neste link

Atenção para esse julgado: O STJ, no REsp 1.185.337/RS (concomitância de casamento e


concubinato por longo tempo – 40 anos), reconheceu alimentos à concubina, aplicando os
seguintes fundamentos: (1) a dignidade humana (2) Solidariedade Social, (3) proteção do idoso
e da (4) Boa-Fé (geração de justas expectativas):
“RECURSO ESPECIAL. CONCUBINATO DE LONGA DURAÇÃO. CONDENAÇÃO A
ALIMENTOS. NEGATIVA DE VIGÊNCIA DE LEI FEDERAL. CASO PECULIARÍSSIMO.
PRESERVAÇÃO DA FAMÍLIA X DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE HUMANAS.
SUSTENTO DA ALIMENTANDA PELO ALIMENTANTE POR QUATRO DÉCADAS.
DECISÃO. MANUTENÇÃO DE SITUAÇÃO FÁTICA PREEXISTENTE. INEXISTÊNCIA
23
DE RISCO PARA A FAMÍLIA EM RAZÃO DO DECURSO DO TEMPO. COMPROVADO
RISCO DE DEIXAR DESASSISTIDA PESSOA IDOSA. INCIDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS
DA DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE HUMANAS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA. 1. De regra, o reconhecimento da
existência e dissolução de concubinato impuro, ainda que de longa duração, não gera o dever de
prestar alimentos a concubina, pois a família é um bem a ser preservado a qualquer custo. 2.
Nada obstante, dada a peculiaridade do caso e em face da incidência dos princípios da
dignidade e solidariedade humanas, há de se manter a obrigação de prestação de alimentos a
concubina idosa que os recebeu por mais de quatro décadas, sob pena de causar-lhe desamparo,
mormente quando o longo decurso do tempo afasta qualquer riso de desestruturação familiar
para o prestador de alimentos. 3. O acórdão recorrido, com base na existência de circunstâncias
peculiaríssimas – ser a alimentanda septuagenária e ter, na sua juventude, desistido de sua
atividade profissional para dedicar-se ao alimentante; haver prova inconteste da dependência
econômica; ter o alimentante, ao longo dos quarenta anos em que perdurou o relacionamento
amoroso, provido espontaneamente o sustento da alimentanda –, determinou que o recorrente
voltasse a prover o sustento da recorrida. Ao assim decidir, amparou-se em interpretação que
evitou solução absurda e manifestamente injusta do caso submetido à deliberação
jurisprudencial. 4. Não se conhece da divergência jurisprudencial quando os julgados
dissidentes tratam de situações fáticas diversas. 5. Recurso especial conhecido em parte e
desprovido.” (STJ. REsp n. 1.185.337. 3ª Turma. Rel. Min. João Otávio de Noronha. Julg.
31/03/2015).

24

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