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DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Módulo:
INTRODUÇÃO AO DIREITO DE FAMÍLIA,
CONCUBINATO, UNIÃO ESTÁVEL E
PARENTESCO.
TEMA: Concubinato – Conceito; Evolução
Histórica; Diferenças; Aspectos Patrimoniais;
Divergências Jurisprudenciais e aspectos
práticos; Núcleo de Prática Jurídica.

1. CONCEITO

Na etimologia grega, o concubinato significa dormir com certa pessoa, copular,


ter relação sexual, portanto, historicamente, concubina era considerada a amante do
homem casado, sendo aquele associado ao adultério. Portanto, tem como origem,
também, a expressão “comunhão de leito”, significando as chamadas uniões não
formadas por casamento, e por isso, não possuíam aprovação legal.
Como visto, a expressão concubinato traz um verdadeiro sentido depreciativo
para toda a cultura ocidental, consequentemente, fica sempre abaixo do matrimônio,
estigmatizado como algo proibido, contrário aos bons costumes. A Revista Jurídica
Consultor Jurídico (2020) acentua sobre esse conceito de concubinato e explica sobre
este instituto que não deveria ser mais utilizado na Era Contemporânea:

Sempre houve uma profunda aversão a vínculos afetivos constituídos


fora dos "sagrados laços do matrimônio". Mesmo enquanto o casamento
hipoteticamente era tido por indissolúvel e os desquitados não podiam
casar. As pessoas se desquitavam e o novo relacionamento era
denominado pela feia expressão "concubinato". Ele era visto como
vínculo clandestino e a lei se encarregava de impor-lhe todo o tipo de
restrições e impedimentos. Verdadeira condenação à invisibilidade que
sempre é causa de grandes injustiças. Até que a jurisprudência criou a
expressão "companheiro" para identificar as uniões extramatrimoniais,
que passaram a receber aceitação no meio social. A palavra
"concubinato" continuou identificando os amores mantidos fora do

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casamento. Vínculos clandestinos sem o reconhecimento de qualquer
direito. (DIAS, 2020)1

Como mencionado, o termo concubinato é utilizado há tempos, todavia, essa


expressão traz um sentido patriarcal que não é mais aconselhável utilizar-se, em que se
pese, nosso contexto atual. Deste modo, o termo mais adequado a ser utilizado é a de
“companheiro” para identificação das relações extramatrimoniais. Todavia, ainda, é
bastante utilizado nas legislações, bem como, de maneira corriqueira nos estudos sob o
tema.
Apenas com a Constituição Federal de 1988, a expressão união estável tomou
conotação jurídica, e no seu artigo 226, § 3º foi lhe dado proteção estatal juntamente
com o casamento.
Desse modo, mudou-se a terminologia que tradicionalmente era utilizada para
identificar a mesma relação informal até então chamada de concubinato.
Com o advento do Código Civil de 2002, o seu artigo 1.723 definiu a união
estável como entidade familiar, e estabelecendo seus requisitos, e em contrapartida, o
artigo 1.727 do mesmo diploma, estabeleceu que as relações não eventuais entre duas
pessoas impedidas de se casar, constituem concubinato.
Assim fica claro que, era uma relação não aceita pela sociedade, sendo vista,
inclusive como uma relação imoral, ainda que a realidade não retratasse isso.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Os vínculos afetivos e de família sempre existiram independente de uma


formalidade, por outro lado, a família matrimonial foi a família eleita para ser a regra
durante muito tempo.
Em análise da revista da Série Aperfeiçoamento de Magistrados, realizado pelo
Magistrado da 9º Vara Criminal da Capital, diz que:
A família, primeira célula de organização social e formada por indivíduos
com ancestrais em comum ou ligada pelos laços afetivos, surgiu há
aproximadamente 4.600 anos. Este termo nasceu do latim famulus, que
significa “escravo doméstico” e foi criado na Roma antiga para servir de
base para designação de grupos que eram submetidos à escravidão
agrícola. Essencialmente a família afirmou sua organização no
patriarcado, originado no sistema de mulheres, filhos e servos sujeitos

1 DIAS, Maria Berenice. Concubinato, um instituto que já morreu. Revista Consultor Jurídico. 2020.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-nov-18/dias-concubinato-instituto-morreu> Acesso em:
11.jul.2022

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ao poder limitador e intimidador do pai, que assumia a direção desta
entidade e dos bens e a sua evolução, segundo Friedrick Engels2,
subdivide-se em quatro etapas: família consanguínea, família
punaluana, pré-monogâmica e a monogâmica, tendo cada uma sua
característica e particularidades. Esta última etapa foi adotada como
forma de manter para si uma esposa, já que eram raras; etapa
caracterizada pelo casamento e pela procriação. (BARRETO)3

Seguindo mais à frente na história do direito de família, especificamente o


Código Civil Brasileiro de 1916, a regra era a família matrimonial, objetivando impedir
as uniões paralelas e preservar o princípio da monogamia - punindo-se as famílias com
formatações diversas, no âmbito criminal pelo crime de bigamia (artigo 235, CP) e no
âmbito patrimonial. Ou seja, no Código de 1916 era previsto somente a união entre
homem e mulher, e ainda, tínhamos uma visão restrita e patriarcal acerca de família.
Já nos anos 60, é importante destacar que, o Judiciário passou a regrar apenas
os efeitos patrimoniais, através da edição das Súmulas n°s 380 e 382.
Os tribunais do país passaram, então, a decidir sobre o aspecto patrimonial da
relação entre os concubinos: devendo distinguir-se no concubinato a situação da mulher
que contribui, com o seu esforço ou trabalho pessoal, para formar o patrimônio comum,
de que o companheiro se diz único senhor, e a situação da mulher que, a despeito de,
não haver contribuído para formar o patrimônio do companheiro, prestou a ele serviço
doméstico, ou de outra natureza, para o fim de ajudá-lo a manter-se no lar comum. Na
primeira hipótese, a mulher tem o direito de partilhar com o companheiro o patrimônio
que ambos formaram - e o que promana dos arts. 1.303 e 1.366 do código civil, do art.
673 do Código de Processo Civil de 1939, este ainda, vigente no pormenor por força do
art. 1.219, VII, do Código de Processo Civil de 1939, e do verbete 380 da súmula desta
corte, assim redigido:
comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, e
cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido
pelo esforço comum. Na segunda hipótese, a mulher tem o direito de
receber do companheiro a retribuição devida pelo serviço doméstico a
ele prestado, como se fosse parte num contrato civil de prestação de
serviços, contrato esse que, ressabiamento, outro não e senão o

2 BARRETO, Apud, ENGELS, Friedrich. A origem da família da propriedade privada e do Estado: Texto
integral. Traduzido por Ciro Mioranza. 2. ed. rev. São Paulo: Escala, [S.d]. p. 31-7. (Coleção Grandes
Obras do Pensamento Universal, v. 2).
3 BARRETO, Luciano Silva. Evolução histórica e legislativa da família. Série Aperfeiçoamento de

Magistrados 13. 10 anos do Código Civil - Aplicação, Acertos, Desacertos e Novos Rumos Volume I.
Disponível em: <
https://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/13/volumeI/10anosdoco
digocivil_205.pdf> Acesso em: 11.jul.2022.

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bilateral, oneroso e consensual definido nos arts. 1.216 e seguintes do
código civil, isto e, como se não estivesse ligada, pelo concubinato, ao
companheiro. 2. Quantum da remuneração devida a companheira.
Como se calcula no caso. 3. Recurso Extraordinário provido. (STF- RE
79079 SP, Relator: Min. Antônio Neder, d.j: 10/11/1977, 1ª Turma, dp:
29/12/1977)4.

Verifica-se que a proteção se justificava pela proibição do enriquecimento ilícito,


e reconhecendo de forma velada o pagamento de alimentos, como forma de pagamento
de prestação de serviços domésticos pela mulher ao homem. Posteriormente, passou-
se a distinguir o concubinato em espécies, e dar amparo a uma dessas espécies, o
concubinato puro.
Mas uma vez que, não se reconhecia o concubinato como uma espécie de
família. Os direitos advindos das relações familiares ainda não estavam protegidos, e
geravam grandes prejuízos pela falta do amparo aos direitos sucessórios, por exemplo.
A proteção vai surgir apenas com a Constituição Federal de 1988 e no Código
Civil de 2002, mas somente para uma das espécies do concubinato.

3. ESPÉCIES
Há algumas espécies de concubinato definidos na sociedade. A doutrina
comumente distinguia o concubinato puro e impuro. Portanto, tem-se que:
Concubinato puro Era aquele formado por pessoas que não
se casavam por opção, visto que, não
possuía nenhum impedimento legal.

Concubinato impuro Era o formado por pessoas que tinham


impedimentos matrimonias estipulados
pela lei, estabelecendo, assim, uma união
contraria às condições impostas ao
casamento.
O concubinato impuro ainda tinha uma
subdivisão em incestuoso, sancionador e
impuro. O incestuoso era o que possuía

4
Supremo Tribunal Federal. RE 79079 SP, Relator: Min. Antônio Neder, d.j: 10/11/1977, 1ª
Turma, dp: 29/12/1977

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impedimentos devido ao parentesco,
(artigo 1521, I ao V, Código Civil).

Já o sancionador, é o previsto no inciso VII


do artigo 1521, que proíbe o casamento
entre o cônjuge sobrevivente com o
condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.

O concubinato impuro é na hipótese de


determinada pessoa, casada, estabelece
uma relação com outrem, ou seja, com uma
terceira pessoa, sendo que há
impedimentos, pois esta é casada.

A impura se justifica pelo princípio da


monogamia adotada pelo Código Civil,
assim, enquanto não desfeitas as primeiras
núpcias são proibidas contrair novas, razão
pela qual, repugna ao Direito o
reconhecimento de quaisquer efeitos
jurídicos às uniões simultâneas ou
paralelas, quer eles decorram do Direito de
Família ou do Direito das Sucessões.

4. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

O direito de família é norteado por princípios basilares, quais sejam: o princípio


da dignidade da pessoa humana, princípio da igualdade entre filhos, princípio da
solidariedade familiar, princípio da igualdade entre os cônjuges e companheiros,
princípio da igualdade na chefia familiar, princípio da intervenção ou da liberdade,

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princípio do melhor interesse da criança e do adolescente princípio da efetividade,
princípio da função social da família, bem como o princípio da boa-fé.
O princípio da boa-fé tem como objetivo enquadrar e alinhar o comportamento
das partes no âmbito civil. Ou seja, quando estamos diante do negócio jurídico, é
necessário que haja boa-fé entre as partes, no que diz respeito ao comportamento
contratual e negocial.
Por outro lado, na esfera familiar, há uma exigência de comportamento
coerente, objetivando a lealdade e a honestidade.
O Enunciado n° 26 da Jornada de Direito Civil explica: “a cláusula geral contida
no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir
e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de
comportamento leal dos contratantes.”
O doutrinador TARTUCE (2014) explica de forma aprofundada e objetiva acerca
do princípio, inclusive, sobre o enunciado n° 26 da Jornada de Direito Civil:
A boa-fé objetiva representa uma evolução do conceito de boa-fé, que
saiu do plano da mera intenção – boa-fé subjetiva –, para o plano da
conduta de lealdade das partes. O Enunciado n. 26, aprovado na I
Jornada de Direito Civil, define a boa-fé objetiva como a exigência de
comportamento leal das partes. Diante de seu desenvolvimento no
Direito Alemão, notadamente por autores como Karl Larenz, a boa-fé
objetiva está relacionada com os deveres anexos ou laterais de conduta,
que são ínsitos a qualquer negócio jurídico, não havendo sequer a
necessidade de previsão no instrumento negocial (MARTINS-COSTA,
Judith. A boa-fé..., 1999). São considerados deveres anexos, entre
outros: dever de cuidado em relação à outra parte negocial; dever
de respeito; dever de informar a outra parte sobre o conteúdo do
negócio; dever de agir conforme a confiança depositada; dever de
lealdade e probidade; dever de colaboração ou cooperação; dever
de agir com honestidade; dever de agir conforme a razoabilidade, a
equidade e a boa razão. (TARTUCE, 2014, p.44 – grifo nosso)5

Em relação ao concubinato, o conceito estabelecido pelo Código Civil de 2002,


faz-se nascer mais uma subdivisão doutrinária, entre concubinato de boa-fé e de má-
fé.
O artigo 1.561 do Código Civil Brasileiro traz as consequências da situação:

Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os


cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz
todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.

5
Ibid., p.44

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§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento,
os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. (art. 1.561, Código Civil,
2002)6

Assim comprovada a boa-fé, não haverá perda de direitos para os concubinos,


nem os filhos havidos dessa relação. Ao contrário, para os de má-fé, pois, somente os
direitos dos filhos serão preservados.
Para se verificar a boa-fé, é necessário, verificar as diligências dos envolvidos,
as cautelas que se cercaram para esse relacionamento

5. RECONHECIMENTO DO CONCUBINATO

Com a Constituição Federal de 1988, criou-se uma concepção de família, e o


concubinato puro passou a ser reconhecido como entidade familiar, passando a ser
reconhecido como união estável, e trouxe a igualdade entre homens e mulheres e entre
os filhos, independente do modo da sua concepção.
O concubinato, como vimos nos estudos históricos, era conhecido como
concubinato puro e impuro. O primeiro, nos tempos atuais, foi reconhecido como união
estável, por outro lado, o impuro é aquele que possuem relações duradoras, porém,
estão impedidas de se casarem. Como bem explicou o STF em 2021 (atenção ao
destacado):
6. Antes do advento da Constituição de 1988, havia o emprego
indistinto da expressão concubinato para qualquer relação não
estabelecida sob as formalidades da lei, daí porque se falava em
concubinato puro (hoje união estável) e concubinato impuro
(relações duradoras com impedimento ao casamento). Erigida a
união estável, pelo texto constitucional (art. 226, § 3º, da CF), ao
status de entidade familiar e tendo o Código Civil traçado sua
distinção em face do concubinato (art. 1.723, § 1º, c/c art. 1.521, VI
e art. 1.727 do CC), os termos passaram a disciplinar situações
diversas, o que não pode ser desconsiderado pelo intérprete da
Constituição. 3. O art. 1.521 do Código Civil – que trata dos
impedimentos para casar -, por força da legislação (art. 1.723, § 1º),
também se aplica à união estável, sob claro reconhecimento de que a
ela, como entidade familiar, também se assegura proteção à unicidade
do vínculo. A espécie de vínculo que se interpõe a outro juridicamente
estabelecido (seja casamento ou união estável) a legislação nomina
concubinato (art. 1.727 do CC). Assim, a pessoa casada não pode ter
reconhecida uma união estável concomitante, por força do art. 1.723, §
1º, c/c o art. 1.521, VI, do Código Civil. 4. Considerando que não é
possível reconhecer, nos termos da lei civil (art. 1.723, § 1º, c/c art.
1.521, VI e art. 1.727 do Código Civil Brasileiro), a concomitância de

6
Código Civil, 2002.

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casamento e união estável (salvo na hipótese do § 1º, art. 1.723, do
CC/02), impende concluir que o concubinato – união entre pessoas
impedidas de casar - não gera efeitos previdenciários. 5. A exegese
constitucional mais consentânea ao telos implícito no microssistema
jurídico que rege a família, entendida como base da sociedade (art. 226,
caput, da CF), orienta-se pelos princípios da exclusividade e da boa-fé,
bem como pelos deveres de lealdade e fidelidade que visam a assegurar
maior estabilidade e segurança às relações familiares. (RE 883168,
Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2021,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-
200 DIVULG 06-10-2021 PUBLIC 07-10-2021)7

6. DIFERENÇA ENTRE CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO

Observamos o conceito de concubinato e algumas espécies. Deste modo, nos


atentaremos e aprenderemos sobre a diferença de casamento, união estável e do
próprio concubinato através dos quadros esquematizados:

CONCUBINATO É estabelecido como concubinato a união


entre duas pessoas fora do âmbito do
casamento.

UNIÃO ESTÁVEL É uma união de fato e convencional


(“casamento” de fato), não há dever de
coabitar e de fidelidade, apenas de
lealdade. Há direito a partilha de bens e
alimentos.
Em outras palavras, possui direitos iguais
ao casamento. Mas a sua constituição
não possui tantas formalidades iguais ao
casamento.

CASAMENTO É um negócio jurídico com formalidades


legais, e com deveres e obrigações, como
a coabitação e a fidelidade. Há direito a
partilha de bens e alimentos.

7
Recurso Especial n° 883168, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
03/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-200 DIVULG
06-10-2021 PUBLIC 07-10-2021

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7. ASPECTOS PATRIMONIAIS

Não há legislação que proteja o concubinato quanto os aspectos patrimoniais,


para isso é preciso utilizar-se de decisões jurisprudenciais.
Quando se tratar de concubinato impuro, a partilha de bens somente é possível,
se comprovado, que o patrimônio adquirido decorreu de esforço comum.
Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que editou a
Súmula nº 380: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é
cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço
comum. (03.04.1964).”
É importante provas robustas que comprovem o esforço comum na constituição
do patrimônio, sem isso não será possível que se partilhe os bens.

8. JURISPRUDÊNCIAS

Diante dos conceitos doutrinários, observaremos e analisaremos alguns casos


jurisprudenciais acerca da temática, e comentaremos sobre cada uma, in verbis:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 529.


CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE.
RATEIO ENTRE COMPANHEIRA E COMPANHEIRO, DE UNIÕES
ESTÁVEIS CONCOMITANTES. IMPOSSIBILIDADE. 1. A questão
constitucional em jogo neste precedente com repercussão geral
reconhecida é a possibilidade de reconhecimento, pelo Estado, da
coexistência de duas uniões estáveis paralelas, e o consequente rateio
da pensão por morte entre os companheiros sobreviventes -
independentemente de serem relações hétero ou homoafetivas. 2. O
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tem precedentes no sentido da
impossibilidade de reconhecimento de união estável, em que um dos
conviventes estivesse paralelamente envolvido em casamento ainda
válido, sendo tal relação enquadrada no art. 1.727 do Código Civil, que
se reporta à figura da relação concubinária (as relações não eventuais
entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem
concubinato). 3. É vedado o reconhecimento de uma segunda união
estável, independentemente de ser hétero ou homoafetiva, quando
demonstrada a existência de uma primeira união estável, juridicamente
reconhecida. Em que pesem os avanços na dinâmica e na forma do
tratamento dispensado aos mais matizados núcleos familiares, movidos
pelo afeto, pela compreensão das diferenças, respeito mútuo, busca da
felicidade e liberdade individual de cada qual dos membros, entre outros
predicados, que regem inclusive os que vivem sob a égide do casamento
e da união estável, subsistem em nosso ordenamento jurídico
constitucional os ideais monogâmicos, para o reconhecimento do

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casamento e da união estável, sendo, inclusive, previsto como deveres
aos cônjuges, com substrato no regime monogâmico, a exigência de
fidelidade recíproca durante o pacto nupcial (art. 1.566, I, do Código
Civil). 4. A existência de uma declaração judicial de existência de união
estável é, por si só, óbice ao reconhecimento de uma outra união
paralelamente estabelecida por um dos companheiros durante o mesmo
período, uma vez que o artigo 226, § 3º, da Constituição se esteia no
princípio de exclusividade ou de monogamia, como requisito para o
reconhecimento jurídico desse tipo de relação afetiva inserta no mosaico
familiar atual, independentemente de se tratar de relacionamentos
hétero ou homoafetivos. 5. Tese para fins de repercussão geral: “A
preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes,
ressalvada a exceção do artigo 1723, § 1º, do Código Civil, impede o
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive
para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de
fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional
brasileiro”. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 1045273, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,
julgado em 21/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-066. DIVULG 08-04-2021. PUBLIC 09-04-2021)8

A respectiva jurisprudência, teve como relator o Ministro Alexandre de Moraes,


sendo um Recurso Extraordinário, com repercussão geral, cujo tema é de nº 529,
tratando sobre o ramo do direito civil, bem como, direito previdenciário. A questão
submetida à julgamento foi um recurso extraordinário com agravo, tendo como base os
seguintes artigos: 1º, III; 3º, IV; 5º, I, da Constituição Federal. O julgamento, portanto,
era o reconhecimento jurídico de união estável, bem como de relação homoafetiva
concomitantes e o rateio de pensão por morte.
A decisão supramencionada reconheceu a impossibilidade de mais de uma
união estável, ou seja, não há reconhecimento de uniões estáveis concomitantes. Esta
regra valerá para todos os tipos de relações existentes: homoafetiva ou
heteronormativa.
É importante ressaltar que, na decisão, também é analisado o âmbito
previdenciário, portanto, não há a possibilidade de rateio entre companheiro e
companheira de uniões estáveis concomitantes.
É interessante destacar, também, um caso sobre o reconhecimento da união
estável post mortem:

8
Recurso Especial n° 1045273, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
21/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-066. DIVULG 08-04-
2021. PUBLIC 09-04-2021.

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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL. POST
MORTEM. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA. PRESENÇA DOS
ELEMENTOS CARACTERIZADORES. 1. A declaração judicial da união
estável, por tratar-se de estado de fato, depende de prova convincente de seus
elementos caracterizadores, quais sejam: a convivência pública, sua
continuidade e razoável duração, bem como, sob o viés subjetivo, o desejo de
constituir família, nos termos do artigo 1º, da Lei n 9.278/96, e artigo 1.723 do
Código Civil/02, gozando de proteção estatal, conforme regulamenta o artigo
226, §3º, da Constituição Federal/88. 2. No caso, o conjunto probatório apurado
nos autos, mormente as provas testemunhais e documentais, sustentam as
alegações da autora, de modo que deve ser reconhecida a união estável.
APELAÇÃO CÍVEL COHECIDA E DESPROVIDA. (Tribunal de Justiça de Goiás
– Apelação: Processo nº 0234889-17.2012.8.09.0206 – 1º Câmara Cível –
Julgamento 26 de maio de 2020)9.

Diante da jurisprudência, é possível, como estabelecido no caso


supramencionado, o reconhecimento da união estável após a morte de um dos
companheiros. Na jurisprudência destacada, elenca as possibilidades de provas para
conhecimento da união estável, quais são: convivência pública, sua continuidade e
razoável duração, bem como, o desejo de constituir família, sendo, elemento subjetivo.
Para isto, será necessário provas materiais e testemunhais para comprovação do
alegado.

9Tribunal de Justiça de Goiás – Apelação: Processo nº 0234889-17.2012.8.09.0206 – 1º Câmara Cível –


Julgamento 26 de maio de 2020

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Bibliografia

DIAS, Maria Berenice


Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. 10. ecl. rev., atual. e
ampliada. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
DIAS, Maria Berenice. Concubinato, um instituo que já morreu. Revista Conjur.
2020. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2020-nov-18/dias-concubinato-
instituto-morreu> Acesso em 30/06/2022.
DIAS, Maria Berenice. Concubinato, um instituto que já morreu. Revista
Consultor Jurídico. 2020. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-nov-18/dias-
concubinato-instituto-morreu> Acesso em: 11.jul.2022
FERRAZ, Paula Carvalho. O concubinato e uma perspectiva de inclusão
constitucional. Instituto Brasileiro de Direito de Família. 2008. Disponível em
<https://ibdfam.org.br/artigos/470/O+Concubinato+e+uma+perspectiva+de+inclus%C3
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JALES, Camila Fitipaldo Duarte. O concubinato adulterino sob o prisma do
Código Civil de 2002. 2008. Disponível em
<https://ibdfam.org.br/artigos/400/O+Concubinato+adulterino+sob+o+prisma+do+C%C
3%B3digo+Civil+de+2002> Acesso em 30/06/2022.
MADALENO, Rolf. O concubinato, a união estável e as relações putativas.
Revista Gen Jurídico. 2019. Disponível em:
<http://genjuridico.com.br/2019/07/08/concubinato-uniao-estavel/> Acesso em 30 de
junho de 2022.
TARTUCE, Flávio. Direito de família – Volume V. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense
– São Paulo. Editora Método, 2014.

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