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II – DIREITO MATRIMONIAL
1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Direito de
Família – as famílias em perspectiva constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 118-119.
Institucionalista: O casamento é uma instituição social, um estado no qual os
nubentes ingressam. Trata-se de uma instituição social que reflete a situação
jurídica emergente da vontade dos contraentes, mas que possui um conjunto de
normas imperativas e preestabelecidas pela lei (são livres para escolher o cônjuge,
mas não podem discutir sobre o conteúdo dos direitos de deveres, não sendo
possível alterar a disciplina legal de suas relações). Não se trata de contrato, mas de
um estatuto, ou seja, há uma adesão a normas já estabelecidas, sem poder adotar
outras normas. Adeptos: Arnoldo Wald; Maria Helena Diniz.
Mista: Ato complexo, um contrato quando de sua formação e uma instituição
no que diz respeito ao seu conteúdo, existência e efeitos. O casamento-ato é um
negócio jurídico e o casamento-estado é uma instituição. Adeptos: Giselda Maria
Fernandes Novaes Hironaka, Flávio Tartuce. Esta teoria é a que conta com mais
adeptos na atualidade.
2DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 98.
Toda e qualquer promessa de contrato, no caso de ser frustrada, gera efeitos
na inexecução culposa. Quando um dos nubentes quebra a promessa séria de
casamento e o outro já fez preparativos para o ato e para a futura vida em comum, é
fato gerador do dever de indenizar. Essa responsabilidade é subjetiva, devendo
ser demonstrada a culpa do nubente desistente. As situações de caso fortuito ou
força maior, bem como a culpa do outro nubente afastam o dever de indenizar.
Assim, são requisitos a serem provados (IMPORTANTE OBSERVAR):
a) Existência da promessa de casamento feita pelos noivos e não por terceiros.
b) Recusa injustificada de contraí-lo, de forma que é necessário que essa recusa
chegue ao conhecimento do outro noivo;
c) Existência de dano (material ou moral);
d) Nexo causal.
O dano pode ser: moral e/ou material. A desistência injustificada de casar por
um dos nubentes gera o dever de indenizar ao outro se este comprovar que teve
despesas com o casamento (DANO MATERIAL). Mas a ruptura de noivado por si só
não determina a responsabilidade do desistente, o que pode ensejar a reparação
moral são as circunstâncias em que a outra parte foi comunicada de seu intento. Isto
porque o não cumprimento da promessa de casamento não enseja reparação, pois o
relacionamento entre duas pessoas é espontâneo, livre de coação. O DANO
MORAL vem sendo reconhecido pelos Tribunais quando o comportamento atinge
bens imateriais caros e importantes, como a dor, a humilhação, o desprezo, a
angústia e agressão à honra e à imagem da pessoa, casos em que, em qualquer
outra hipótese, diversa daquela aqui tratada, a reparação se imporia. IMPORTANTE:
Meros dissabores x humilhação pública. Ex.: chegar no altar e dizer: aceita fulana
como sua legítima esposa? “Bem, pra ser franco, não!”. O noivo vai embora e deixa
a noiva na frente do padre e dos convidados.
O dano moral está sendo deferido apenas em casos excepcionais,
quando reste evidente a humilhação e exposição de um dos nubentes a
situações vexatórias.
3. Espécies de casamento:
São admitidas duas formas de casamento (art. 226, § 1.º e § 2.º, CF): o civil
(art. 1.512, CC) e o religioso com efeitos civis (art. 1.515 e 1.516, CC). Existem ainda
outras modalidades especiais de casamento: o casamento por procuração, o
nuncupativo, o putativo, o homossexual, o consular, o de estrangeiros.
Civil: Realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil, pelo juiz de paz.
É ato solene levado a efeito por um celebrante e na presença de testemunhas. Pode
ser realizado nas dependências do Cartório ou em outro local. É previsto pela
Constituição no art. 226, § 1.º e no art. 1.512, CC. A celebração é gratuita para as
pessoas cuja pobreza for declarada, incluindo a habilitação, o registro e a primeira
certidão de casamento (art. 1.512, § único, CC).
Religioso com efeitos civis: O casamento religioso com efeitos civis foi
reconhecido, no Brasil, com a Constituição de 1934, que estabeleceu que o
casamento religioso, celebrado perante um ministro de qualquer religião, produzirá
os mesmos efeitos do casamento civil, desde que fosse procedida a habilitação. A
CF/88 também faz esta previsão (art. 226, § 2.º), desde que preenchidos certos
requisitos (arts. 1.515 e 1.516, CC). Não é necessária a celebração do ato civil,
basta que o matrimônio realizado pelo ministro de Deus (de qualquer religião, não só
o casamento católico) seja registrado no Cartório de Registro Civil. Para tanto
devem ser obedecidos os requisitos da habilitação (antes ou depois do ato religioso).
Os efeitos civis são admitidos a partir do registro e a qualquer tempo, retroagindo a
data da celebração da solenidade religiosa (art. 1.515, CC). No caso de prévia
habilitação, o prazo para registro é de 90 dias. Depois desse prazo é possível o
registro, desde que efetuada nova habilitação. Portanto, realizado o casamento
religioso, poderá ser inscrito no registro civil, bastando que seja feita a devida
habilitação junto a autoridade competente (art. 1.516, CC). Se o casamento religioso
for anulado, em tendo sido procedido o registro civil do mesmo, tal não afeta a
validade deste. Se entre a celebração do casamento religioso e o registro um dos
cônjuges casar no civil com terceiro, há impedimento para efetuar o registro (art.
1.516, § 3.º, CC), pois haveria bigamia, neste caso.
Por procuração: art. 1.542, CC. O instrumento procuratório deve ser público e
com poderes especiais (constar expressamente que é para casar com Fulano de
Tal). A procuração é válida por 90 dias. A revogação da procuração também é por
instrumento público. Se a revogação não chegar ao conhecimento do mandatário e o
casamento for celebrado o mandante responde por perdas e danos. Revogado o
mandato a lei determina que o casamento é anulável (art. 1.550, V, CC). Há a
possibilidade de o casamento ter validade na hipótese de, mesmo sendo revogado o
mandato, ocorrer a coabitação entre os cônjuges. O contato sexual entre os
cônjuges é que dá a validade ao casamento (não significa que o casamento se
consuma na noite de núpcias, mas quer evitar que exista o uso malicioso desse
expediente, conseguindo favores sexuais do cônjuge).
Nuncupativo: É o casamento quando um dos nubentes está em iminente risco
de vida (arts. 1.540 ao 1.542, CC). Esta modalidade de casamento é realizada sem
nenhum requisito legal (celebração sem juiz de paz, sem prévia habilitação),
bastando a presença de seis testemunhas que não tenham parentesco (em linha
reta ou colateral, até segundo grau) com os nubentes. Dentro de 10 dias a contar da
celebração as testemunhas tem de confirmar o casamento perante a autoridade
judicial que, antes de mandar registrar o casamento, fará uma investigação. Não
existe previsão de ouvir o cônjuge sobrevivente. Se o nubente que estava em risco
de vida sobreviver poderá ratificar o casamento, retroagindo os efeitos a data da
celebração.
Putativo: É o casamento que reputa verdadeiro, mas não o é. Trata-se de
casamento nulo ou anulável contraído de boa-fé (art. 1.561, CC). Neste caso, o
casamento produz efeitos com relação ao cônjuge de boa-fé, no período entre a
celebração e o trânsito em julgado da sentença que o desconstitui. Com relação aos
filhos todos os efeitos se operam. Havendo a boa-fé, sendo o casamento nulo ou
anulável, a sociedade conjugal dissolve-se, como se tivesse ocorrido a morte de um
dos cônjuges (o de má-fé), se partilhando os bens. No caso de ambos estarem de
boa-fé, o pacto antenupcial deve ser observado na partilha. Se a nulidade for
decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Em caso
de morte: a) decretada a nulidade antes da morte, o sobrevivente não herda, pois o
término do casamento e do regime de bens ocorreu com a sentença que declarou a
nulidade ou anulação do matrimônio; b) se a nulidade for decretada após a morte de
um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Se o cônjuge morre após a anulação,
não herdará. Se o casamento putativo for de um bígamo, morrendo este, ambos os
cônjuges serão herdeiros e a meação será divida entre ambos (25% para cada um).
Consular: É o casamento de brasileiro, realizado no estrangeiro, perante a
autoridade consular brasileira, sujeitando-se, assim, as leis brasileiras e não à
legislação local. O registro deve ser procedido dentre do prazo de 180 dias a contar
da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no Cartório de seu domicílio ou,
em não possuindo domicílio certo, no 1.º Ofício da Capital do Estado em que
passem a residir (art. 1.544, CC). Se o registro não for feito dentro desse prazo, o
casamento não produzirá os efeitos jurídicos pela lei brasileira. Ver art. 18, LINDB.
No mesmo sentido, o art. 32 da Lei dos Registros Públicos. Aplica-se apenas em
casos de ambos os nubentes serem brasileiros e estarem casando no exterior. Se
um dos nubentes não for brasileiro, a autoridade consular não possui competência
para celebrar o casamento.
Casamento realizado no estrangeiro: Para que o casamento de brasileiros ou
estrangeiros, realizado no exterior, tenha validade no Brasil, deve ocorrer o registro
do matrimônio no Brasil. A certidão de casamento deve ser traduzida por tradutor
juramentado e autenticada pelo agente consular brasileiro para, então, ser
registrada. Nestes termos, ver art. 32, Lei dos Registros Públicos.
Casamento de casais homoafetivos: Em razão da Resolução 175 CNJ é
possível que casais homoafetivos celebrem casamento no Brasil – tanto por
processo de habilitação, como, também, por processo de conversão de união
estável em casamento.
6. Celebração do casamento:
Processada a habilitação, estão os nubentes em condições de casar.
A celebração é pública, de maneira que qualquer pessoa pode participar da
solenidade. O procedimento de celebração inicia-se pelo requerimento dos nubentes
indicando dia, hora e local onde deverá ser realizado o matrimônio (Art. 1.533, CC).
Via de regra realiza-se o casamento no Cartório. Entretanto pode ocorrer em
local diverso, desde que às portas abertas, para que seja público (Art. 1.534 e § 1.º,
CC). No Cartório – 2 testemunhas; Fora do Cartório (ou quando um dos nubentes for
analfabeto - Art. 1.534, § 2.º, CC) – 4 testemunhas.
A cerimônia é celebrada pelo juiz de paz, pessoa escolhida e designada
segundo as leis do Estado, não podendo haver substituição por qualquer outra
autoridade.
Juiz de paz pergunta aos nubentes se pretendem casar por livre e espontânea
vontade sim, declarará o celebrante formalizado o casamento, nos termos da
segunda parte do Art. 1.535, CC. Neste momento o casamento passa a produzir os
efeitos. . Maria Berenice Dias defende que a perfectibilização do ato depende de um
duplo requisito: manifestação da vontade das partes e a declaração do celebrante de
que estão casados3.
Se responderem não, manifestarem dúvida (ainda que de brincadeira), a
celebração será suspensa (Art. 1.538, CC).
O registro do casamento deverá conter os dados constantes no Art. 1.536, CC.
Igualdade constitucional = qualquer dos cônjuges pode pode adotar o
sobrenome do outro. Art. 1.565, § 1.º, CC.
7. Provas do casamento:
Prova de casamento celebrado no Brasil = certidão do registro (Art. 1.543, CC);
casamento celebrado no exterior = documento emanado pelo país estrangeiro,
devidamente autenticado pelas autoridades consulares (prazo de 180 dias, a contar
da volta para o Brasil, para fazer o registro do casamento, que deverá ser feito no
3DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 166.
domicílio do casal ou no 1.º Ofício de Registro Civil da Capital do Estado (Art. 1.544,
CC) – prova direta.
Inexistindo o registro = prova indireta – admitida qualquer outra espécie de
prova (Art. 1.543, § único, CC) ação judicial (ação declaratória ou justificação
judicial) que visa declarar o estado de casado. Ex.: Carteira de Identidade onde
conste o estado civil de casado. Também pode ser feita a prova do estado de
casado por testemunhas. No caso da ação declaratória, sua sentença deve ser
inscrita no registro civil, que produzirá seus efeitos quanto aos cônjuges e quanto a
seus filhos, desde a data do casamento (Art. 1.546, CC).
Posse do Estado de casados.
Aquelas pessoas que não possam manifestar vontade (por morte ou outra
circunstância – doença mental, por exemplo) e que vivam na posse do estado de
casadas – como se casadas fossem – poderão ter o reconhecimento do casamento,
sendo a posse do estado de casadas um início de prova.
Requisitos: a) nomen: a mulher usa o nome do marido ou vice-versa; b)
tractatus: ambos tratam-se, ostensivamente, como marido e mulher; c) fama: a
sociedade dever reconhecer esta condição dos cônjuges.
Momento da Legitimados
oposição
Oposição (em Impedimentos No processo de Juiz e oficial do
declaração escrita, habilitação e até o registro (de ofício),
assinada e com momento da Ministério Público e
provas) – 1.529 celebração qualquer interessado
(1.522)
Causas suspensivas Só no processo de Parentes em linha reta
habilitação, até 15 dias e colateral até 2.º grau
após os proclamas (consanguíneos ou
afins) (1.524)
ATENÇÃO:
Impedimento = não PODEM – 1.521
Causa suspensiva = não DEVEM – 1.523
4RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense,
2006, p. 104.
paz incompetente (de outra circunscrição, p. ex.), por um equívoco, não será caso
de inexistência, mas sim, causa de anulabilidade (Art. 1.550, VI, CC).
5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 189.
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 189.
Uma vez que seja declarado nulo ou anulado o matrimônio, os efeitos são
retroativos à data da celebração. O casamento é considerado putativo (reputa-se
verdadeiro mas não é), produzindo todos os efeitos para aquele que estiver de boa-
fé e para os filhos (art. 1.561, CC).
7
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016, p. 95.
discriminação. O portador de HIV, por exemplo, merece proteção e respeito e tem
todo o direito de constituir família, mas seu futuro cônjuge deve saber da situação.
OBSERVAÇÃO: O Estatuto da Pessoa com Deficiência revogou o inciso IV do
art. 1.557, CC, que mencionava a ignorância de doença mental grave, que fosse
anterior ao casamento, grave e desconhecida pelo outro cônjuge. Agora este
casamento é válido, visando a inclusão social das pessoas.
PRAZO NOS CASOS ACIMA: 3 anos (art. 1.560, III, CC), contando da data da
celebração do casamento.
Art. 1.558, CC – Coação: a coação é a pressão física ou moral, ou o
constrangimento que sofre uma pessoa, com o fim de ser obrigada a realizar um ato
ou negócio. Ocorre no momento da celebração do casamento. Somente o cônjuge
que sofreu a coação pode demandar a anulação de casamento, mas a coabitação,
havendo ciência do vício, valida o ato. A coação, para viciar a declaração de
vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens ou temor de morte.
PRAZO: 4 anos a contar da celebração do ato (art. 1.560, IV, CC).
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento – Em razão do Estatuto da pessoa portadora de deficiência, a
previsão do inciso IV incide apenas sobre os alcoólatras e viciados em tóxicos (art.
4.º, II, CC). As pessoas com capacidade reduzida podem contrair matrimônio,
manifestando sua vontade pessoalmente ou por responsável (art. 1.550, §2.º, CC).
O prazo para revogação é de 180 dias a contar da celebração do casamento
(Art. 1.560, I, CC).
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os
cônjuges – Uma vez ocorrendo a coabitação, naturalmente se depreende a
renúncia da revogação do mandato, porquanto o mandante, indo coabitar com o
outro cônjuge, naturalmente aceitou o casamento, além de lhe competir a
comunicação ao outro cônjuge da revogação do mandato. Cabe ao mandante tomar
todas as providencias necessárias para cientificar o mandatário ou o outro
contraente da revogação da procuração. No caso disso não ocorrer, o mandante
responde por perdas e danos. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato
judicialmente decretada (Art. 1.550, § único, CC). PRAZO = 180 dias a contar da
ciência pelo mandante da celebração do casamento (Art. 1.560, § 2.º, CC).
VI - por incompetência da autoridade celebrante – Tal infração refere-se a
incompetência relativa ou em razão do lugar do juiz de casamentos. Só tem
validade, em princípio, o casamento realizado pelo juiz do distrito onde se processou
a habilitação para o casamento. Contudo o Art. 1.554, CC protege o estado de
aparência, quando o casamento é celebrado pro quem, sem possuir a competência
exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de paz e, nessa qualidade,
tiver registrado o ato no Registro Civil. Mas só na hipótese de juiz de paz
incompetente o casamento se convalida. Se for outra pessoa (delegado, ministro,
prefeito...) o casamento é inexistente. PRAZO = 2 anos, a contar da data da
celebração (Art. 1.560, II, CC).
QUESTÕES:
VI EXAME - Rejane, solteira, com 16 anos de idade, órfã de mãe e devidamente
autorizada por seu pai, casa-se com Jarbas, filho de sua tia materna, sendo ele
solteiro e capaz, com 23 anos de idade. A respeito do casamento realizado, é
correto afirmar que é
(A) nulo, tendo em vista o parentesco existente entre Rejane e Jarbas.
(B) é anulável, tendo em vista que, por ser órfã de mãe, Rejane deveria obter
autorização judicial a fim de suprir o consentimento materno.
(C) válido.
(D) anulável, tendo em vista o parentesco existente entre Rejane e Jarbas.
1. Princípios:
1. Variedade do regime de bens: a lei oferece uma multiplicidade de regimes
de bens: 4 diferentes regimes de bens para que os consortes possam optar
pelo que mais lhes convier: comunhão universal, comunhão parcial,
separação e participação final dos aquestos.
2. Liberdade dos pactos antenupciais: é decorrência do primeiro. É a liberdade
de escolha dentre os vários regimes de bens existentes, podendo ainda,
criar um regime novo, mesclando partes de um regime e elementos de outro
(art. 1.639, CC). O Estado não pode, salvo havendo motivo relevante e
norma específica, intervir demasiadamente e coativamente na relação
matrimonial, de forma a impor o regime de bens.
Assim, podem os cônjuges:
a) Ficar em silêncio e ser aplicado o regime da comunhão parcial.
b) Escolher um dos regimes previstos em lei.
c) Criarem, através de pacto antenupcial o regime que bem entenderem,
podendo, dessa forma, mesclar diversos regimes.
2. Pacto antenupcial:
Quando o regime não for o legal dispositivo (CPB), a escolha do regime de
bens é feita através de um negócio jurídico solene: o pacto antenupcial, realizado
mediante escritura pública, no Tabelionato de Notas (art. 1.653, CC).
CPB8 – regra: sem pacto; havendo alteração: com pacto;
CUB – sempre com pacto;
PFA – sempre com pacto;
SOB – sempre sem pacto – imposição legal;
SCB (SAB) – sempre com pacto. Separação consensual = absoluta.
8
CPB – Comunhão parcial de bens; CUB – Comunhão universal de bens; PFA – Participação final nos aquestos;
SOB – Separação obrigatória de bens; SCB – Separação convencional de bens (também conhecido como SAB –
separação absoluta de bens).
- Após a celebração do casamento o pacto antenupcial deverá ser registrado
no Cartório de Registro de Imóveis, em livro especial, para ter validade contra
terceiros (art. 1.657, CC; art. 167, I, n.12 e II, n.1, Lei 6.015/73). Se o nubente for
empresário, o pacto deverá ser arquivado e averbado no Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 979, CC).
- Pelo pacto os nubentes podem fundir os regimes de bens, criando seu próprio
regime.
4. Regime Legal:
4.1. Regime Legal Dispositivo
Determinado pelo Estado = CPB.
Se os nubentes não escolherem o regime de bens CPB (regime legal
dispositivo).
4.2. Regime Legal Obrigatório
Em razão de certas circunstâncias os nubentes não podem escolher livremente
o regime de bens: quando ocorrer alguma causa suspensiva, quando o nubente for
maior de 70 anos, quando o nubente necessitar de suprimento judicial para casar
(art. 1.641). Nesses casos o regime passa a ser obrigatório – separação de bens –,
não se aplicando nem o regime legal dispositivo, nem outro escolhido via pacto
antenupcial.
Neste caso, incide a súmula 377 do STF, permitindo a comunicabilidade dos
bens aquestados:
Súmula 377, STF: “No regime de separação legal de bens comunicam-se
os adquiridos na constância do casamento”.
IMPORTANTE!!!!!
Há a possibilidade de modificação do regime legal obrigatório quando a hipótese que lhe deu causa
tiver sido superada. Só não é possível no caso dos maiores de 70 anos.
5. Regime Convencional:
Os nubentes poderão escolher o regime de bens que mais lhe aprouver, dentre
os previstos no Código Civil ou mesclá-los. Art. 1.639, CC.
6. Mutabilidade:
Possibilidade de alterar o regime de bens escolhido para a celebração do
casamento. Também é permitida nos casos de união estável, bastando um singelo
acordo, podendo retroagir a data do início da união estável.
Vedação de alteração nas hipóteses do art. 1.641, CC, SALVO SE A CAUSA
QUE DEU ORIGEM TIVER CESSADO! Enunciado 262, da III Jornada de Direito
Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal: “A obrigatoriedade da separação
de bens, nas hipóteses previstas no art. 1.641, I e III, do CC não impede a alteração
do regime, desde que superada a causa que o impôs”. Contudo, esse enunciado
não abrange as hipóteses do art. 1.641, II, ou seja, quando os cônjuges tiverem mais
de 70 anos quando da celebração do casamento. Neste caso, não poderá haver a
modificação.
O art. 1.647, CC traz os atos que nenhum dos cônjuges pode praticar sem
autorização do outro, exceto no regime de separação absoluta:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando
casarem ou estabelecerem economia separada.
Isto quer dizer que o salário (provento) não é partilhado, mas o bem adquirido
com este poderá (e deverá) o ser. Isto porque nada justifica que um cônjuge tenha
ingerência sobre o salário do outro. Além disso, se o salário for depositado em uma
poupança, previdência privada, enfim, algum tipo de investimento, os rendimentos
advindos daí serão comunicáveis.
O STJ entende que também se incluem na partilha os bens adquiridos, em sua
maior parte, com o produto do levantamento do FGTS de um dos cônjuges.
8.4. Dívidas
Cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento, pois
se constituem patrimônios separados.
Se o débito for subseqüente ao casamento, contraídas no exercício da
administração do patrimônio comum, obrigam aos bens comuns e aos particulares
do cônjuge que o administra e aos do outro na proporção do proveito que houver
auferido (art. 1.663, § 1.º).
O débito contraído por qualquer dos consortes na administração dos bens
particulares e em benefício destes não obrigam os bens comuns (art. 1.666).
Quando a dívida for para atender aos encargos da família (contas de água, luz,
alimentação), despesas de administração dos bens comuns (reparos) e decorrentes
de imposição legal (impostos) os bens comuns irão responder, para resguardar
direitos dos credores (art. 1.664).
8.5. Dissolução
Dissolve-se pela morte de um dos cônjuges, separação, divórcio, nulidade ou
anulação de casamento. No caso de morte, o patrimônio particular do falecido
transmite-se aos filhos, sem que haja meação. Quanto ao patrimônio comum, deverá
ser partilhado entre o viúvo/viúva meeira e os herdeiros.
9.4. Extinção
A extinção do regime se dá com a dissolução da sociedade conjugal pela morte
de um dos cônjuges, sentença de nulidade ou anulação ou pela separação ou
divórcio ou, ainda, com a separação de fato.
Com a ocorrência de um desses fatos, deverá ser operada a partilha para que
seja posta fim à indivisão.
Se houver separação de fato, os bens ou dívidas adquiridos posteriormente,
ainda que não tenha se operado a partilha, não serão partilhados, pois a separação
de fato põe fim ao regime de bens.
Com a morte, caso o cônjuge supérstite tiver realizado aumento no patrimônio,
esse fica excluído da partilha. Partilha-se 50% para o cônjuge sobrevivente e 50%
entre os herdeiros. Se houverem bens incomunicáveis estes só serão partilhados
entre os herdeiros.
No caso de nulidade, não se tem comunhão de bens, pois o casamento não
existiu, de maneira que cada cônjuge retira o que trouxe para o casamento. Se
houve, nesse período, aquisição de bens em conjunto, esse será partilhado na
proporção da colaboração financeira.
Caso de casamento anulável, se tiver sido considerado putativo, haverá a
partilha dos bens. Se um dos cônjuges for culpado, perderá as vantagens que
obteve e não terá direito a meação quanto ao patrimônio que o outro trouxe para o
casamento. Contudo, o inocente terá direito de exigir sua meação sobre tudo.
Extinta a comunhão e efetuada a divisão do ativo e passivo, cessará a
responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro por
dívidas que este houver contraído (art. 1.671).
10. Regime da Participação Final nos Aquestos:
O regime da participação final nos aquestos foi introduzido pelo Código de
2002 no sistema brasileiro, que não mais contempla o regime dotal (que há muito já
não era utilizado).
Esse regime tem maior aplicabilidade quando os cônjuges exercem atividades
empresariais distintas, para que possam manusear com maior liberdade seus
pertences.
Ainda assim, é pouco procurado.
Por este regime, cada cônjuge conserva como de seu domínio os haveres que
trouxe para o casamento, e os conseguidos ao longo de sua duração,
administrando-os e aproveitando os seus frutos. Mas, na época da dissolução do
vínculo conjugal procede-se a divisão do acervo adquirido a título oneroso. Para
Tartuce10 a divisão dos bens, ao final, é feita somente dos bens adquiridos, de forma
onerosa, e nos quais tenha havido a participação. Não se trata de uma meação, mas
de uma participação no patrimônio.
“Basicamente, durante o casamento há uma separação total de bens, e no
caso de dissolução do casamento e da sociedade conjugal, algo próximo de uma
comunhão parcial. Cada cônjuge terá direito a uma participação daqueles bens para
os quais colaborou para a aquisição, devendo provar o esforço para tanto”11.
Nesse regime, formam-se massas de bens particulares incomunicáveis durante
o casamento, mas que se tornam comuns no momento da dissolução do matrimônio.
Cada cônjuge tem a expectativa da meação, sendo credor da metade do que o
outro adquiriu a título oneroso durante o matrimônio, se houver dissolução da
sociedade conjugal (art. 1.672).
Existem dois patrimônios: o inicial, que é o conjunto de bens que cada cônjuge
adquire durante a vigência matrimonial e o patrimônio final, que é o patrimônio
verificável no momento da dissolução do casamento.
10 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 180.
11 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 181.
Dias12 afirma existirem cinco universalidades de patrimônios: 1. Os bens
particulares que cada um possuía antes de casar; 2. Os bens que o outro já possuía;
3. O patrimônio adquirido por um dos cônjuges, em nome próprio, após o
matrimônio; 4. Os adquiridos pelo outro, em seu nome, após o casamento; 5. Os
bens comuns, adquiridos pelo casal.
Trata-se de um regime misto: durante o casamento assemelha-se a separação
de bens e, na dissolução, assemelha-se à comunhão parcial.
Contudo, a participação ocorrerá sobre o patrimônio adquirido, de forma
onerosa, pelo outro, mas através de um crédito e não pela constituição de
condomínio sobre o patrimônio. Significa dizer que o direito não é sobre o
patrimônio, mas sim sobre eventual saldo após as compensações dos acréscimos
de cada um13.
10.2. Dívidas
Pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges antes do matrimônio, responde
seu patrimônio particular. Quanto aos débitos posteriores ao casamento, contraídos
por um dos cônjuges, em princípio, o patrimônio particular deste é que responderá,
salvo de comprovado o proveito comum, quando o patrimônio do outro consorte
responderá na proporção do seu proveito (art. 1.677).
12 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 304.
13 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 322.
No caso de um dos cônjuges pagar dívida do outro, com bens de seu
patrimônio, o valor deverá ser atualizado e imputado na meação do devedor, na data
da dissolução (art. 1.678).
Quando as dívidas de um dos cônjuges for superior a sua meação, não
obrigam o outro, ou a seus herdeiros (art. 1.686). Assim, se falecer o cônjuge
devedor, seus credores só terão direito a sua meação e, se não for suficiente para
saldar a dívida, não poderão cobrar do outro cônjuge ou dos herdeiros, pois estes só
têm responsabilidade no exato teor do que lhes couber na herança.
No caso de direito de terceiros, presume-se como sendo do cônjuge devedor
os bens móveis (art. 1680).
10.3. Dissolução
Com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges,
invalidade, separação ou divórcio apura-se o montante dos aquestos, excluindo-se
da soma o patrimônio próprio dos cônjuges: bens anteriores ao casamento, os sub-
rogados em seu lugar e os obtidos pelos cônjuges por herança, legado ou doação,
bem como os débitos relativos a esses bens (art. 1.674). Incluem-se na partilha os
frutos dos bens particulares. Os bens móveis, salvo prova em contrário, presumem-
se adquiridos na constância do casamento (art. 1.674, parágrafo único).
Por ocasião da partilha, para a apuração do montante dos aquestos, ficam
excluídos:
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o
montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante
o casamento os bens móveis.
No caso de bens adquiridos com o esforço comum dos cônjuges, ambos terão
direito a quota igual no condomínio (50% para cada cônjuge) (art. 1.679).
Ex.: se uma casa foi construída em conjunto (esforço comum), sobre o terreno
de um deles, o cônjuge que contribuiu para a construção da casa terá direito apenas
a indenização, pois o imóvel pertencerá ao dono do solo, pois se operou a acessão
artificial.
Se houver doação feita por um cônjuge sem a autorização do outro, este
poderá ser, ao final do matrimônio, indenizado em sua meação (art. 1.675). Pode
haver a reivindicação desse bem. Contudo, também se pode optar por fazer integrar
o monte partilhável o valor equivalente ao bem (art. 1.676).
No caso de separação ou divórcio o montante a ser apurado com os aquestos
será o da data que cessou a convivência (art. 1.683). Neste caso, utiliza-se da
contabilidade para realizar a divisão, pois se levanta o acréscimo patrimonial de
cada cônjuge no período da vigência do casamento. Faz-se o balanço e aquele que
tiver enriquecido menos terá direito à metade do saldo encontrado.
Ex.:
ITEM MARIDO MULHER
PATRIMÔNIO FINAL 1.000.000,00 500.000,00
BENS EXCLUÍDOS 500.000,00 300.000,00
GANHO OU AQUESTOS 500.000,00 200.000,00
ENRIQUECIMENTO
Cálculo 500.000,00 (enriquecimento do marido) – 200.000,00 (enriquecimento da
mulher) = 300.000,00.
R$ 300.000,00 é o valor que o marido enriqueceu a mais que a mulher. Este valor
deverá ser partilhado (50% para cada um).
Assim, a mulher terá um crédito de R$ 150.000,00, que o marido deverá pagar.
14DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010. p. 243.
11.1. Dívidas
Pelas dívidas contraídas antes ou depois do casamento não responde o
patrimônio do outro cônjuge, só o patrimônio daquele que é devedor. Contudo, as
dívidas que forem contraídas, ainda que sem a autorização do outro cônjuge, em
proveito de ambos, ou seja, para o bem da família, se comunicarão ao outro
cônjuge.
11.2. Administração
Cada consorte terá a administração e fruição do que lhe pertence, sem
necessidade de anuência um do outro para alienar ou gravar seus bens (art. 1.687).
11.3. Dissolução
Na dissolução cada um dos consortes retira seu patrimônio próprio. No caso de
óbito de um dos consortes, o outro entrega aos herdeiros o patrimônio do falecido, e,
se houver bens comuns, o administrará até a partilha.
EXAME XX – Juliana é sócia de uma sociedade empresária que produz bens que
exigem alto investimento, por meio de financiamento significativo. Casada com Mário
pelo regime da comunhão universal de bens, desde 1998, e sem filhos, decide o
casal alterar o regime de casamento para o de separação de bens, sem prejudicar
direitos de terceiros, e com a intenção de evitar a colocação do patrimônio já
adquirido em risco. Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) A alteração do regime de bens mediante escritura pública, realizada pelos
cônjuges e averbada no Registro Civil, é possível.
B) A alteração do regime de bens, tendo em vista que o casamento foi realizado
antes da vigência do Código Civil de 2002, não é possível.
C) A alteração do regime de bens mediante autorização judicial, com pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros, é possível.
D) Não é possível a alteração para o regime da separação de bens, tão somente
para o regime de bens legal, qual seja, o da comunhão parcial de bens.
IV – BEM DE FAMÍLIA
O direito à moradia é um direito fundamental social, garantido
constitucionalmente, através do art. 6.º, CF. A instituição de bem de família visa
afetar bens para o destino especial de abrigar a família, protegendo-os. Depois de
instituído, o bem torna-se impenhorável por dívidas posteriores a sua constituição,
salvo as relativas aos impostos devidos pelo próprio prédio (IPTU e ITR, p.ex.).
Tem por objetivo assegurar um lar à família, pondo-a ao abrigo de penhoras
por débitos posteriores a sua instituição, salvo os que provierem de tributos relativos
ao próprio prédio ou de despesas condominiais (IPTU, ITR, etc).
1. Espécies:
Existem duas espécies de bem de família: voluntário (decorre da vontade do
instituidor, devendo obedecer certos requisitos) e o legal (independe da vontade do
instituidor, de forma que a lei torna impenhorável o imóvel simplesmente pelo fato de
o devedor residir nele).
2. Convencional/voluntário:
A instituição do bem de família voluntário pode ser feita pelo proprietário ou
pela entidade familiar (art. 1.711, CC). Uma vez que seja instituído um imóvel como
bem de família, não responde mais por dívidas futuras (mas responde pelas
pretéritas), pois a impenhorabilidade não possui efeito retroativo (1.715, CC).
O bem de família poderá ser instituído pelos cônjuges, companheiros,
integrante-chefe da família monoparental ou por terceiro, por ato inter vivos ou causa
mortis (testamento), desde que ambos os cônjuges beneficiados ou membros da
família contemplada aceitem expressamente a liberalidade (art. 1.711, parágrafo
único). Deve haver o assento no Registro de imóveis (art. 1.714), para que tenha
oponibilidade erga omnes.
O bem de família pode constituir de prédio urbano ou rural, bem como seus
pertenças (mobília), que a família destina para ser o abrigo ou domicílio familiar (art.
1.712).
Existem limites à instituição do bem de família: só pode usar 1/3 do patrimônio
líquido do instituidor, existente ao tempo da instituição. Dessa forma, o proprietário,
para poder instituir o bem de família, deve ter, no mínimo 3 imóveis (art. 1.711).
Trata-se de uma medida legal protetiva dos credores, ante a possibilidade de má-fé
do instituidor. Além disto, apenas pessoas mais abastadas podem se utilizar deste
instrumento, tornando-o de pouco uso.
Essa isenção dura enquanto viverem os cônjuges (ou companheiros) ou
enquanto os filhos forem menores de idade. Somente depois de finda a cláusula é
que o bem ficará sujeito ao pagamento dos credores e o prédio será levado a
inventário. Ademais, deve ser lembrado que o bem não fica isento de
responsabilidade quanto aos débitos de condomínio e IPTU, por exemplo.
REQUISITOS:
- institui-se por Escritura Pública.
- não ultrapassar 1/3 do patrimônio.
- constitui-se por registro no Cartório de Registro de Imóveis.
- se na família existirem menores ou incapazes (interditos) não pode ser
eliminada a cláusula que institui o bem de família, salvo se houver sub-rogação (art.
1.719).
Só pode haver alienação do prédio no qual foi instituído o bem de família se
houver a concordância do interessado (instituidor ou filhos menores) e ouvido o MP
(art. 1.717). No caso de falecerem os cônjuges e deixarem filhos menores, o tutor é
que será responsável por gerir o bem de família. Se houver necessidade de vendê-
lo, poderá fazê-lo desde que com autorização judicial e ouvido o MP.
Se restar comprovada a impossibilidade de manter o bem de família, como por
exemplo, para pagar despesas com UTI, poderá haver requerimento ao juiz que
extinga o bem de família, ouvido o MP e o interessado (instituidor ou filhos
menores). Neste caso poderá haver a sub-rogação de outro bem no lugar, quando
ficará gravado como bem de família ou o produto da venda será depositado
judicialmente, sendo o valor liberado para o pagamento da UTI, por exemplo (art.
1.719).
A administração do bem de família caberá a ambos os cônjuges, em igualdade
de condições (art. 1.720). Se ambos os cônjuges falecerem, a administração passa
ao filho mais velho ou ao seu tutor, se menor.
A cláusula de bem de família só poderá ser levantada por mandado judicial.
Só haverá a partilha quando for eliminada a cláusula que o institui, pela morte
dos cônjuges e maioridade de todos os filhos, por exemplo.
3. Legal:
A lei 8.009/90 institui o bem de família legal, impedindo a penhora do único
bem imóvel rural ou urbano da família, destinado a moradia permanente, excluindo
casas na praia ou casas de campo. Tais bens não responderão pelos débitos
contraídos pela entidade familiar. Contudo, se o devedor oferecer este bem à
penhora, não poderá, depois, pleitear a exclusão.
O bem de família legal não responde por qualquer tipo de dívida (civil,
comercial, fiscal, previdenciária, ou qualquer natureza) (art. 1.º, lei 8.009/90),
podendo ser oposta a impenhorabilidade em qualquer tempo ou grau de jurisdição.
A lei 13.144/2015, alterou o art. 3.º, III da lei 8.009/90, de forma que pode ocorrer a
penhora do bem de família para pagamento de débito alimentar, resguardado o
direito do coproprietário.
Para que essa impenhorabilidade seja reconhecida, o único imóvel do devedor
deve estar sendo habitado por ele e sua família. PODE ESTAR LOCADO, mas a
renda deve reverter para a subsistência da família:
O fato de o devedor possuir mais bens não impede que seja declarada a
impenhorabilidade sobre o imóvel de residência da família.
A execução da dívida alimentar afasta a impenhorabilidade do bem de família.
V – UNIÃO ESTÁVEL:
16TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 2.
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO
DE UNIÃO ESTÁVEL - IMPROCEDÊNCIA - RELAÇÃO DE NAMORO QUE
NÃO SE TRANSMUDOU EM UNIÃO ESTÁVEL EM RAZÃO DA
DEDICAÇÃO E SOLIDARIEDADE PRESTADA PELA RECORRENTE AO
NAMORADO, DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA QUE
ACARRETOU SUA MORTE - AUSÊNCIA DO INTUITO DE CONSTITUIR
FAMÍLIA - MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS FÁTICOS-PROBATÓRIOS -
IMPOSSIBILIDADE - INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7/STJ -
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - Na hipótese dos autos, as
Instâncias ordinárias, com esteio nos elementos fáticos-probatórios,
concluíram, de forma uníssona, que o relacionamento vivido entre a ora
recorrente, F. F., e o de cujus, L., não consubstanciou entidade familiar, na
modalidade união estável, não ultrapassando, na verdade, do estágio de
namoro, que se estreitou, tão-somente, em razão da doença que acometeu
L.; II - Efetivamente, no tocante ao período compreendido entre 1998 e final
de 1999, não se infere do comportamento destes, tal como delineado pelas
Instâncias ordinárias, qualquer projeção no meio social de que a relação por
eles vivida conservava contornos (sequer resquícios, na verdade), de uma
entidade familiar. Não se pode compreender como entidade familiar uma
relação em que não se denota posse do estado de casado, qualquer
comunhão de esforços, solidariedade, lealdade (conceito que abrange
"franqueza, consideração, sinceridade, informação e, sem dúvida,
fidelidade", ut REsp 1157273/RN, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe
07/06/2010), além do exíguo tempo, o qual também não se pode reputar de
duradouro, tampouco, de contínuo; III - Após o conhecimento da doença
(final de 1999 e julho de 2001), L. e F. F. passaram a residir, em São Paulo,
na casa do pai de L., sem que a relação transmudasse para uma união
estável, já que ausente, ainda, a intenção de constituir família. Na verdade,
ainda que a habitação comum revele um indício caracterizador da affectio
maritalis, sua ausência ou presença não consubstancia fator decisivo ao
reconhecimento da citada entidade familiar, devendo encontrar-se
presentes, necessariamente, outros relevantes elementos que denotem o
imprescindível intuito de constituir uma família; IV - No ponto, segundo as
razões veiculadas no presente recurso especial, o plano de constituir família
encontrar-se-ia evidenciado na prova testemunhal, bem como pelo
armazenamento de sêmen com a finalidade única de, com a recorrente,
procriar. Entretanto, tal assertiva não encontrou qualquer respaldo na prova
produzida nos autos, tomada em seu conjunto, sendo certo, inclusive,
conforme deixaram assente as Instâncias ordinárias, de forma uníssona,
que tal procedimento (armazenamento de sêmen) é inerente ao tratamento
daqueles que se submetem à quimioterapia, ante o risco subseqüente da
infertilidade. Não houve, portanto, qualquer declaração por parte de L. ou
indicação (ou mesmo indícios) de que tal material fosse, em alguma
oportunidade, destinado à inseminação da ora recorrente, como sugere em
suas razões. Bem de ver, assim, que as razões recursais, em confronto com
a fundamentação do acórdão recorrido, prendem-se a uma perspectiva de
reexame de matéria de fato e prova, providência inadmissível na via eleita,
a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte; V - Efetivamente, a
dedicação e a solidariedade prestadas pela ora recorrente ao namorado L.,
ponto incontroverso nos autos, por si só, não tem o condão de transmudar a
relação de namoro para a de união estável, assim compreendida como
unidade familiar. Revela-se imprescindível, para tanto, a presença
inequívoca do intuito de constituir uma família, de ambas as partes,
desiderato, contudo, que não se infere das condutas e dos comportamentos
exteriorizados por L., bem como pela própria recorrente, devidamente
delineados pelas Instâncias ordinárias; VI - Recurso Especial improvido.
(REsp 1257819/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 01/12/2011, DJe 15/12/2011)
17 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 341-342.
A partir daí, como ficam os direitos das conviventes? Segundo Tartuce18
existem três posicionamentos diferentes a esse respeito.
1. Nenhum dos relacionamentos constitui união estável. Como não há
lealdade na relação, não constitui um dos seus requisitos, sem o qual não há a
entidade familiar (posicionamento de Maria Helena Diniz). As conviventes poderão
pleitear indenização por danos morais e materiais, em razão da boa-fé.
2. Aplicação das regras do casamento putativo. Neste caso, como as
Marias estavam de boa-fé e não sabia da existência uma das outras, devem pedir a
aplicação analógica do art. 1.561, CC.
Se não houver filhos em comum o segundo parceiro terá pretensão contra o
primeiro no campo das relações patrimoniais, segundo o modelo do direito das
obrigações, quando à partilha dos bens adquiridos com esforço comum ou à
indenização por serviços prestados. Os filhos comuns terão direito tanto a pretensão
de natureza patrimonial, quanto pessoal.
Nesse sentido a jurisprudência do STJ:
União estável. Reconhecimento de duas uniões concomitantes.
Equiparação ao casamento putativo. Lei nº 9.728/96.
1. Mantendo o autor da herança união estável com uma mulher, o posterior
relacionamento com outra, sem que se haja desvinculado da primeira, com
quem continuou a viver como se fossem marido e mulher, não há como
configurar união estável concomitante, incabível a equiparação ao
casamento putativo.
2. Recurso especial conhecido e provido. (STJ. REsp 789.293/RJ. Rel. Min.
Carlos Alberto Menezes Direito. j. 15/02/2006).
18 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 342-349.
1. A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como
união estável a relação concubinária não eventual, simultânea ao
casamento, quando não estiver provada a separação de fato ou de direito
do parceiro casado.
2. O acórdão recorrido estabeleceu que o falecido não havia desfeito
completamente o vínculo matrimonial - o qual, frise-se, perdurou por trinta e
seis anos -, só isso seria o bastante para afastar a caracterização da união
estável em relação aos últimos três anos de vida do de cujus, período em
que sua esposa permaneceu transitoriamente inválida em razão de
acidente. Descabe indagar com que propósito o falecido mantinha sua vida
comum com a esposa, se por razões humanitárias ou qualquer outro
motivo, ou se entre eles havia "vida íntima".
3. Assim, não se mostra conveniente, sob o ponto de vista da segurança
jurídica, inviolabilidade da intimidade, vida privada e dignidade da pessoa
humana, discussão acerca da quebra da affectio familiae, com vistas ao
reconhecimento de uniões estáveis paralelas a casamento válido, sob pena
de se cometer grave injustiça, colocando em risco o direito sucessório do
cônjuge sobrevivente.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1096539/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 25/04/2012)
Se, contudo, forem ambos livres e desimpedidos para casar, não poderão se
valer desse direito.
REGIME DE BENS: comunhão parcial ou qualquer outro convencionado
formalmente pelos conviventes. Em razão disto, qualquer alienação depende da
autorização do outro companheiro, sob pena de possibilidade de anulação do ato. O
terceiro de boa-fé tem direito, no caso de anulação, de pleitear do cônjuge que lhe
vendeu o bem, o ressarcimento dos valores pagos e indenização por perdas e
danos. Necessidade de registrar o contrato no registro de imóveis para que as
cláusulas estabelecidas tenham validade contra terceiros. Se não for registrado o
contrato, para efeitos contra terceiros, presume-se a comunhão parcial de bens, de
modo que poderá haver a penhora de parte de um imóvel adquirido depois da união,
para pagamento de dívida de um dos companheiros (mesmo que o regime
estabelecido no contrato – e não registrado – seja o da separação de bens).
Deve-se observar, ainda, que o CPC/2015, no art. 73, § 3.º, exige a
aquiescência do convivente em união estável nas ações que versarem sobre direitos
reais imobiliários, desde que a união estável esteja comprovada nos autos.
Não se aplica à união estável o regime legal obrigatório da separação de bens
(art. 1.641), pois normas restritivas de direitos não pode ter interpretação extensiva.
Assim, se houver união estável de pessoa com mais de 70 anos, o regime legal é o
da comunhão parcial de bens, salvo estipulação em contrário.
Se a união estável iniciou-se antes da entrada em vigor do CC, a ela também
se aplica o regime da comunhão parcial de bens, salvo se os companheiros
estipularam algo em contrário.
4. Contrato de convivência:
Aos conviventes é lícito estabelecerem convenções por escrito quanto ao
direito patrimonial, assim como ocorre com o casamento, sendo aplicado,
supletivamente, as regras quanto aos regimes de bens. Não é necessária escritura
pública, podendo ser feito por documento particular. Para que tenha eficácia contra
terceiros, é preciso que o contrato de convivência seja feito por escritura pública ou
registrado no Cartório de Títulos e Documentos.
IMPORTANTE (Tartuce19): “no caso de dois nubentes que celebraram um
pacto antenupcial por escritura pública no Tabelionato de Notas. O casamento não
se realiza, o que faz com que o pacto não tenha eficácia, para fins de casamento.
Todavia, se ambos passarem a viver em união estável, o pacto antenupcial vale e
gera efeitos como se fosse um contrato de convivência”.
Aplicam-se subsidiariamente as normas aplicáveis aos pactos antenupciais, ou
seja, não podem ser fixadas cláusulas que nos pactos também são vedadas. Dessa
maneira, só são permitidas cláusulas que estabeleçam quanto ao regime de bens
dos companheiros e nada mais. Pode ser estabelecido pelos companheiros, no
contrato de união estável, que o regime de bens seja retroativo, mas tem como limite
a proteção dos interesses de terceiros de boa-fé. No caso de ausência desse pacto
escrito, aplicam-se as regras pertinentes ao regime da comunhão parcial de bens.
5. Alimentos:
19 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 161.
Qualquer dos companheiros, em caso de necessidade, pode exigir do outro
alimentos (art. 1.694). Basta que seja comprovada, em ação pertinente, a
necessidade. Essa ação pode ser tanto a que visa o reconhecimento e a dissolução
da união estável, quanto a ação de alimentos propriamente dita.
6. Direito sucessório:
O direito sucessório dos conviventes era tratado pelo art. 1.790 do CC, que
acabou sendo declarado inconstitucional pelo STF em maio de 2017. Sendo assim,
atualmente aplica-se à sucessão do companheiro, a mesma regra da sucessão do
cônjuge.
7. Conversão em casamento:
O art. 1.726 dispõe que a união estável poderá ser convertida em casamento,
mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no registro civil. Contudo,
deve-se observar que essa disposição não dispensa os procedimentos preliminares
e o processo de habilitação do casamento.
Na conversão há dispensa da celebração do casamento, mas da habilitação,
não. Há, sim, uma simplificação na habilitação, pois a união estável pressupõe que a
união tenha sido constituída sem violação aos impedimentos matrimoniais, tornando
desnecessária publicação de edital. O único impedimento é quanto ao convivente
que estivesse separado de fato ou judicialmente no início da união estável, quando
terá de comprovar que já se encontra divorciado, para possibilitar o casamento.
O pedido deve ser feito por ambos os conviventes ou por procuradores com
poderes para tanto. Feita prova da união estável o juiz determinará o registro do
casamento.
A conversão não produz efeitos retroativos. As relações pessoais e
patrimoniais da união estável permanecerão desde seu início até a conversão em
casamento. A partir daí os efeitos do casamento passarão a viger. Assim, se os
cônjuges estabelecerem o regime da separação total de bens, por pacto antenupcial,
os bens adquiridos durante a união estável ingressam no regime legal da comunhão
parcial, permanecendo em condomínio e, em caso de dissolução, serão partilhados
igualitariamente. HÁ DIVERGÊNCIAS, POIS ROLF MADALENO ENTENDE QUE
HÁ A RETROATIVIDADE DO CASAMENTO ATÉ A DATA DO INÍCIO DA UNIÃO
ESTÁVEL. DESSA FORMA, TAMBÉM O REGIME DE BENS RETROAGIRÁ A
DATA DO INÍCIO A UNIÃO ESTÁVEL.
QUESTÕES:
V EXAME – Em relação à união estável, assinale a alternativa correta.
A) Para que fique caracterizada a união estável, é necessário, entre outros
requisitos, tempo de convivência mínima de cinco anos, desde que durante esse
período a convivência tenha sido pública e duradoura.
B) Quem estiver separado apenas de fato não pode constituir união estável, sendo
necessária, antes, a dissolução do anterior vínculo conjugal; nesse caso, haverá
simples concubinato.
C) Não há presunção legal de paternidade no caso de filho nascido na
constância da união estável.
D) O contrato de união estável é solene, rigorosamente formal e sempre público.
3. Separação de fato:
A separação de fato é o que realmente coloca um ponto final no casamento,
podendo resultar de decisão conjunta do casal ou da iniciativa de um dos cônjuges.
Todas as conseqüências dessa situação fática passam a correr da ruptura da união,
ou seja, da separação de fato. A separação de fato não exige que o casal já se
encontre residindo em residências distintas, sendo aceita a separação de fato de
casais que ainda residem sob o mesmo teto. Com o término do casamento pela
separação de fato as partes podem, inclusive, constituir novo relacionamento,
através da união estável.
A separação de fato faz cessar o dever de vida em comum, configurando
requisito suficiente para o fim do regime de bens. Este é o momento da apuração
dos bens para efeitos de partilha (ex.: participação final nos aquestos – art. 1.683).
4. Separação Judicial:
A separação é o gênero do qual a separação consensual e a litigiosa são as
espécies. É uma forma de dissolver a sociedade conjugal, romper com os deveres
do casamento. NÃO ROMPE O VÍNCULO MATRIMONIAL.
É a dissolução do vínculo conjugal, da sociedade conjugal decretada e
homologada pelo juiz, sem a extinção do vínculo matrimonial.
Tem caráter pessoal, personalíssimo, não podendo o Pai, por exemplo, buscar
a separação, através de ação judicial, em nome da filha. Pode, contudo, nos termos
do art. 1.576, § único, a ação ser feita por outra pessoa (curador, ascendente ou
irmão), no caso de um dos cônjuges ser incapaz. Só cabe em caso de separação
judicial, pois na extrajudicial os cônjuges devem estar em pessoa presentes na
frente do Tabelião.
Na realidade, todas essas causas podem ser concentradas nos itens “b” ou “i”
quando a separação for irreversível e impossível a reconciliação.
Sempre que ficar caracterizada a insuportabilidade ou a impossibilidade da vida
em comum o juiz deve decretar a dissolução judicial, sem investigar a culpa de um
ou outro cônjuge e sem o requisito do prazo anual da separação de fato (art. 1.572,
caput).
Na separação judicial litigiosa cabe ao autor comprovar a culpa do outro
cônjuge, imputando-lhe a causa que levou à dissolução da sociedade conjugal.
Na inicial o autor deve estabelecer todas as cláusulas da separação (alimentos,
guarda, nome do cônjuge, partilha de bens, direito de visitas, etc.), para que se
possa discutir ou conciliar sobre essas cláusulas no correr da ação.
Se na inicial o autor alegar a culpa do outro pelo fim do casamento, na
contestação, o outro poderá alegar que a culpa não era dele, mas sim do autor,
fazendo prova nesse sentido.
5. Divórcio:
O divórcio é o meio voluntário de dissolução do casamento. Possui fundamento
constitucional. Será nos termos dos arts. 731 e ss, CPC/2015. Em razão da EC
66/2010 para que as partes possam requerer o divórcio, não mais existem requisitos
de prévia separação judicial ou de separação de fato por 2 anos. Pode ser requerido
a qualquer tempo: no mesmo dia ou no dia seguinte ao casamento. O CPC/2015, no
entanto, previu, ainda, o processo de separação consensual (arts. 693 a 699,
CPC/2015 – processo litigioso e arts. 731 a 734, CPC/2015 – processo consensual).
5.5. Efeitos:
O maior efeito do divórcio é a dissolução do casamento (a sociedade conjugal
termina com a separação, mas o vínculo do casamento só com o divórcio). Quanto
ao nome, poderá manter, salvo disposição em contrário. Art. 1.571, § 1.º. Contudo,
quanto ao poder familiar, independentemente da modalidade de divórcio, não há
alteração, exceto quanto ao tipo de guarda que ficar acordado ou decidido pelo juiz.
Ainda assim, a guarda exclusiva de um dos pais não retira do outro o direito de
acesso do filho ao pai não guardião e deste àquele ou o direito-dever do pai não
guardião de participar da formação moral, religiosa e intelectual do filho (art. 1.579).
20CAHALI, Yussef Said. Separações conjugais e divórcio. 12.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011, p. 1048-1050.
6. Cláusulas a serem estabelecidas no divórcio
São fatores indispensáveis para regulação da separação consensual:
a) Guarda dos filhos: modo de exercício do poder familiar sobre os filhos.
Poderá ser compartilhada (quando Pai e Mãe são responsáveis pela
educação e criação dos filhos) ou exclusiva (viverá na casa de um dos pais
– o que será o detentor da guarda –, que será responsável pela criança e
esta usufruirá da presença do outro genitor através das visitas). OBS.: No
Brasil não é possível a guarda alternada (a criança viverá sucessivamente,
por longos períodos de tempo na casa de cada um dos genitores; cada
genitor exercerá alternadamente a guarda dos filhos).
b) Partilha de bens: pode ser igualitária ou beneficiar integralmente um dos
cônjuges, devendo ser respeitada a liberdade destes. Poderá haver a
separação consensual sem que haja a partilha dos bens. Ela poderá ser
feita no divórcio ou até mesmo depois deste, através de um pedido
específico ao juiz para homologação do acordo.
c) Visitas: art. 1.589. No caso de a guarda ficar exclusivamente com um dos
genitores, o outro deverá ter direito de visitas, que deverá ser estipulado na
separação a forma que se dará (livre ou com hora marcada). A lei
12.398/2011 estabeleceu o direito de visitas extensivo aos avós, no caso
de ser benéfico à criança e/ou adolescente.
d) Dever alimentar: Deve ser fixado tanto em favor dos filhos, quanto com
relação ao casal, podendo haver a dispensa mútua dos alimentos (quanto
ao casal, não quanto aos filhos). Por quê? Pois decorrem do parentesco e
são irrenunciáveis.
e) Nome do cônjuge: art. 1.578. Poderá haver a continuidade ou não do uso
do sobrenome de um dos cônjuges pelo outro. A regra é que o nome de
casado seja retirado. Contudo, esta regra não se aplica quando o
sobrenome do cônjuge já foi incorporado ao nome do
separando/divorciando, em razão dos direitos da personalidade. Dessa
forma, desimporta discutir culpa pelo fim do relacionamento. Se houver a
configuração de alguma das hipóteses do art. 1.578, CC, deverá ser
mantido o sobrenome do cônjuge.
21 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, p. 566-568.
22 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 276.
extrajudicial – o CPC/2015 retirou o termo menores, deixando os incapazes
e incluindo os nascituros;
c) Observância do prazo de 1 ano da celebração do casamento para o caso
de separação; COM A EC 66 NÃO MAIS É EXIGIDO.
d) Observância do prazo de 2 anos de separação de fato para o divórcio;
COM A EC 66 NÃO MAIS É EXIGIDO.
e) Assistência de advogado.
Quanto as cláusulas, a escritura deve expressar a livre decisão do casal quanto
aos alimentos – poderá haver estipulação de um em favor do outro ou mútua
dispensa –, descrição e partilha dos bens comuns, estipulação quanto a mantença
ou mudança do sobrenome do outro.
Enunciado 571: Se comprovada a resolução prévia e judicial de todas as
questões referentes aos filhos menores ou incapazes, o tabelião de notas
poderá lavrar escrituras públicas de dissolução conjugal.
QUESTÕES
Não se tem observado, nos últimos Exames, questões em se de primeira fase. Nos
últimos anos encontra-se apenas questões de segunda fase:
IV EXAME - Maria, casada em regime de comunhão parcial de bens com José por 3
anos, descobre que ele não havia lhe sido fiel, e a vida em comum se torna
insuportável. O casal se separou de fato, e cada um foi residir em nova moradia,
cessando a coabitação. Da união não nasceu nenhum filho, nem foi formado
patrimônio comum. Após dez meses da separação de fato, Maria procura um
advogado, que entra com a ação de divórcio direto, alegando que essa era a visão
moderna do Direito de Família, pois, ao dissolver uma união insustentável, seria
facilitada a instituição de nova família. Após a citação, João contesta, alegando que
o pedido não poderia ser acolhido, uma vez que ainda não havia transcorrido o
prazo de dois anos da separação de fato exigidos pelo artigo 40 da Lei 6.515/77.
Diante da hipótese apresentada, responda aos itens a seguir, empregando os
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Nessa situação é juridicamente possível que o magistrado decrete o divórcio, não
obstante não exista comprovação do decurso do prazo de dois anos da separação
de fato como pretende Maria, ou João está juridicamente correto, devendo o
processo ser convertido em separação judicial para posterior conversão em
divórcio?
b) Caso houvesse consenso, considerando as inovações legislativas, o ex-casal
poderia procurar via alternativa ao Judiciário para atingir o seu objetivo ou nada
poderia fazer antes do decurso dos dois anos da separação de fato?
1. Guarda unilateral
A guarda unilateral é aquela em que um dos genitores é detém a guarda física
da criança ou adolescente e o outro detém o direito de visitas. Pela redação trazida
pela lei 13.058/2014, esta modalidade será aplicável apenas quando um dos
genitores manifestar que não tem interesse em deter a guarda do filho.
Também é unilateral a guarda estabelecida a terceiro quando o juiz se
convencer que nenhum dos pais preenche as condições necessárias para tal.
No estabelecimento da guarda, em casos de separação, não importa se um
dos pais foi considerado ou não culpado pela separação. Isto não influenciará na
fixação da guarda, mas sim o melhor interesse da criança. Dessa forma, o filho ficará
com aquele que detiver melhores condições de exercício da guarda.
Melhores condições não significa, de maneira alguma, melhores condições
financeiras. O juiz deve levar em conta o conjunto de situações existentes para o
desenvolvimento moral, educacional, psicológico do filho. Fator relevante é o de
menor impacto emocional ou afetivo sobre o filho, para essa delicada escolha.
Em situações excepcionais o juiz pode deferir a guarda a terceiros, quando
concluir que nenhum dos pais tem condições de ficar com o filho. Ex.: pais viciados
em drogas. Nesses casos, o parente mais próximo, normalmente presume-se o mais
indicado para ficar com a guarda (avós, por exemplo), mas essa aptidão deve ser
confirmada. Nestes casos, ainda, deve ser levado em conta a afetividade entre a
criança e a pessoa que assumirá a guarda. Ex.: um tio/tia ou madrasta/padrasto
podem ter mais afetividade do que os avós.
2. Guarda compartilhada:
A Lei 13.058/2014 alterou o sistema de guardas até então vigente no Brasil,
estabelecendo a guarda compartilhada como obrigatória, estabelecendo-se mesmo
em caso de litígio entre os genitores (embora não se saiba bem como se daria este
funcionamento).
A guarda compartilhada pode ser requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe,
ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução
de união estável ou, ainda, decretada pelo juiz, em atenção a necessidades
específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio
deste com o pai e com a mãe.
O art. 1.584, § 2.º, CC, com a redação da lei 13.058/2014, estabelece que a
guarda compartilhada é obrigatória ou compulsória.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar,
será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar
ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
É obrigatória, pois só pode ser afastada motivadamente, cabendo ao juiz
analisar a situação23. Ela estimula a coparentalidade e corresponsabilidade em
relação ao filho, que tem direito de conviver e ser formado por ambos os pais, em
igualdade de condições.
Enunciado 603: A distribuição do tempo de convívio na guarda
compartilhada deve atender precipuamente ao melhor interesse dos filhos,
não devendo a divisão de forma equilibrada, a que alude o § 2 do art. 1.583
do Código Civil, representar convivência livre ou, ao contrário, repartição de
tempo matematicamente igualitária entre os pais.
23 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 265.
Deve ficar claro que o estabelecimento desta modalidade de guarda nada tem
de relação com a dispensa do pagamento de alimentos com relação aos filhos,
devendo, para tanto, sempre ser levado em consideração a relação do trinômio
necessidade x possibilidade x proporcionalidade.
Enunciado 607: A guarda compartilhada não implica ausência de
pagamento de pensão alimentícia.
3. Guarda alternada:
A guarda alternada é uma modalidade que se aproxima da guarda
compartilhada, pois o tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando
a viver alternadamente, de acordo com o que ajustarem os pais ou o que for
decidido pelo juiz, na residência de um e de outro. Ex.: no caso de pais que vivam
em cidades diferentes, o filho reside durante o período escolar com um dos pais e,
durante as férias, com o outro.
Sua utilização é bastante rara, pois pode trazer certa instabilidade para a
criança, sendo aplicada apenas em casos excepcionais e se evidenciado que trará
benefícios para o menor.
O filho permanece um tempo com o pai e um tempo comm a mãe,
pernoitando certos dias da semana com o pai e outros com a mãe. [...]
Alguns a denominam como a guarda do mochileiro, pois o filho sempre deve
arrumar a sua mala ou mochila para ir à outra casa24.
24 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 271.
A guarda pode ser modificada se ficar provado que o guardião ou pessoas de
sua convivência familiar não trata convenientemente a criança ou o adolescente.
Ex.: a mãe que ficou com a guarda do filho que vem a contrair nova união. Se o
companheiro da mãe tiver conduta prejudicial à formação da criança, a guarda
poderá determinar a retirada do menor de tal convivência, transferindo a guarda para
o pai ou terceiro. Também poderá haver a modificação da guarda se este abusar de
seu direito, excedendo os limites da guarda.
4. Direito de visitas
O genitor que não ficar com a guarda terá direito de visitas, conforme
convencionado entre os genitores ou definido pelo juiz. Não devem haver grandes
limitações, sob pena de prejudicar a própria criança.
A regulamentação do direito de visitas deve ser estabelecida já na separação
ou divórcio (art. 729, III, CPC/2015).
O direito de visitas não se restringe a visitar o filho na residência do guardião
ou no local que este designe. Abrange o direito de ter o filho em sua companhia e o
de fiscalizar sua manutenção e educação (art. 1.589, CC).
Cabe ao pai não guardião o direto-dever de fiscalizar o exercício da guarda, de
maneira que se ela não estiver sendo desempenhada da melhor forma possível, no
melhor interesse da criança, o genitor não guardião poderá requerer ao juiz que
destitua aquele que está com a guarda exclusiva e a transfira para si.
Mas o direito de visita não se restringe apenas ao pai não guardião, mas
também aos familiares deste (avós, tios, primos), ou seja, a criança deve ter contato
afetivo tanto com a família da mãe, quanto a do pai – art. 1.589, § único.
As visitas só podem ser negadas – tanto nos casos dos genitores, quanto nos
casos dos familiares destes – quando houver sérios indícios de prejuízos para a
criança, que desaconselhem as visitas. Nestes casos o juiz poderá restringir ou
suspender as visitas.
QUESTÕES
EXAME XXI - Augusto e Raquel casam-se bem jovens, ambos com 22 anos. Um
ano depois, nascem os filhos do casal: dois meninos gêmeos. A despeito da
ajuda dos avós das crianças, o casamento não resiste à dura rotina de criação
dos dois recém-nascidos. Augusto e Raquel separam-se ainda com os filhos em
tenra idade, indo as crianças residir com a mãe. Raquel, em pouco tempo,
contrai novas núpcias. Augusto, em busca de um melhor emprego, muda-se para
uma cidade próxima. A respeito da guarda dos filhos, com base na hipótese
apresentada, assinale a afirmativa correta.
A) A guarda dos filhos de tenra idade será atribuída preferencialmente, de forma
unilateral, à mãe.
B) Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos será dividido de
forma matemática entre o pai e a mãe.
C) O pai ou a mãe que contrair novas núpcias perderá o direito de ter consigo os
filhos.
D) Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos
filhos será a que melhor atender aos interesses dos filhos.
VIII – PARENTESCO
“Entende-se por parentesco a relação jurídica, calcada na afetividade e
reconhecida pelo Direito, entre pessoas integrantes do mesmo grupo familiar, seja
pela ascendência, descendência, ou colateralidade, independentemente da natureza
(natural, civil ou por afinidade)” (Gagliano e Pamplona Filho).
O parentesco pode ser (art. 1.593, CC): natural ou biológico; civil (adoção ou
inseminação, por exemplo); afetividade (ainda que a legislação não faça previsão,
há o reconhecimento desta modalidade de parentesco pelos Tribunais (decisões que
permitem a inclusão de dois Pais ou duas Mães na certidão de nascimento)
Processo de desbiologização da paternidade-maternidade-filiação –
evolução da engenharia genética deixou de limitar os vínculos de parentesco à
verdade biológica.
Parentesco natural: Parentesco natural é o que decorre da consanguinidade
dos parentes, ou seja, é o vínculo biológico que liga as pessoas.
Parentesco civil: Parentesco civil é o decorrente da socioafetividade, do
parentesco por adoção, tendo qualquer outra origem, que não seja a biológica
(fertilização in vitro, p. ex.).
Parentesco por afinidade: Parentesco por afinidade é o decorrente do
casamento e da união estável, vinculando-se com os parentes do cônjuge ou
companheiro. Significa dizer que somos parentes dos parentes do nosso cônjuge ou
companheiro (ou, em uma linguagem vulgar, com o casamento, o pacote vem
completo). Contudo, os afins de um cônjuge não são afins do outro, nem os parentes
colaterais dos afins são parentes em relação àquele. Nesse sentido o art. 1.595, §
1.º, CC estabelece:
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
1.º
A
2. Afinidade:
Art. 1.595, CC – O parentesco por afinidade é estabelecido em decorrência do
casamento ou da união estável. É o vínculo que se estabelece entre um dos
cônjuges/companheiro e os parentes do outro.
É estabelecido por lei – art. 1.595, CC e depende da existência de casamento
válido ou união estável. O concubinato ou o casamento putativo não gera a
afinidade.
Os parentes afins são equiparados aos consanguíneos, mas não são iguais. O
enteado, por exemplo, não é igual ao filho, não gerando direitos e deveres iguais aos
que possui o último.
O parentesco estabelece-se em linha reta (sogro, sogra, genro, nora, enteado),
de forma infinita, que jamais se extingue, gerando impedimentos para o casamento
(art. 1.521, II) e em linha colateral (cunhados), até o 2.º grau, que se extingue com o
fim do casamento (morte ou divórcio). Art. 1.595, § 2.º. Deve-se observar que essa
extinção só ocorre com o divórcio e não com a separação.
25TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 328
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido.
2. Paternidade registral:
O registro de nascimento é meio de prova da filiação, não sendo, contudo, o
único, já que a declaração manifestada perante o juiz, a escritura pública, o escrito
particular e o testamento, também comprovam a filiação (art. 1.609).
Todo aquele que se apresenta no Cartório e registra um recém nascido,
declarando-se como pai do mesmo, passa assim o ser considerado para todos os
fins legais. O registro só pode ser invalidado se houver erro ou falsidade (art. 1.604).
Nestes casos, se o pai que registrou a criança, acreditando ser filho seu, descobrir
que não é, deve ingressar com ação anulatória de paternidade.
Segundo Tartuce26, esta situação não se aplica nos casos de socioafetividade.
Para ele:
- Regra: não cabe a quebra do que consta do registro de nascimento.
- Exceção: o registro pode ser quebrado nos casos de erro ou falsidade do
registro. Ação anulatória.
- Exceção da exceção (retorna-se à regra): a quebra do registro não pode
ocorrer nos casos de parentalidade ou paternidade socioafetiva.
3. Inseminação artificial:
O art. 1.597 presume como tendo sido concebidos na constância do casamento
os filhos havidos por técnicas de reprodução assistida: homóloga, mesmo que
falecido o marido; havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; e os havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que exista prévia autorização do marido.
26TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 349
HETERÓLOGA: é a concepção que utiliza esperma de um doador, mas com a
concordância do marido. Trata-se de filiação afetiva, pois biologicamente não é filho
do pai. A fecundação é feita com o óvulo da mulher e em seguida implantado. O
vínculo de filiação, neste caso, é estabelecido com a parturiente que, no caso de ser
casada, o marido será, por presunção legal, o pai do filho gerado, se tiver consentido
com tal prática. Mas e se o casal separar, poderá haver a retratação? Sim, desde
que a retratação ocorra antes da implantação do óvulo, pois a autorização não pode
ter duração infinita.
EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS: embrião é o óvulo fecundado em suas
primeiras 8 semanas de desenvolvimento no útero materno. Pré-embrião é o óvulo
fecundado até os seus primeiros 14 dias. Embrião excedentário é o fecundado in
vitro, não aproveitado imediatamente pelo casal e armazenado em laboratório.
Todos os embriões excedentários que venham a ser utilizados (a qualquer tempo),
presumem-se tenham sido concebidos na constância do casamento (art. 1.597, IV –
havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes
de concepção artificial homóloga).
BARRIGA DE ALUGUEL: é vedada constitucionalmente (art. 199, § 4.º). É
permitida a cessão temporária do útero, sem fins lucrativos, desde que a cedente
seja parente até o segundo grau (mãe, avó, neta ou irmã) da mãe genética. Também
parentes por afinidade, até segundo grau, podem ceder o útero (sogra ou cunhada).
5. Prova da filiação:
No direito brasileiro a prova da filiação é feita pela certidão de nascimento
registrada no Registro Civil (art. 1.603). Contudo, essa prova não é exclusiva, pois
se admite a prova da posse do estado de filiação (art. 1.605). Também não é
definitiva, pois admite eventual invalidação (art. 1.604).
O art. 50 da Lei 6.015/73 estabelece que todo nascimento deverá levado a
registro, no lugar onde tiver ocorrido o parto ou no local de residência dos pais, no
prazo de 15 dias.
O art. 52 estabelece que o dever de fazer a declaração de nascimento é dos
pais ou, na falta destes, o parente mais próximo, prosseguindo sucessivamente o
ônus nas pessoas dos administradores de hospitais, dos médicos, das parteiras,
terceiros, que tiverem assistido ao parto.
Se a mãe for casada, constará o nome do marido como pai, pela presunção de
paternidade. Se não o for, o nome do pai só constará no registro se ele assim se
declarar.
O registro de nascimento produz uma presunção de filiação quase absoluta,
pois apenas pode ser invalidade se provado que houve erro ou falsidade.
O art. 1.604 estabelece que ninguém poderá vindicar estado contrário ao que
resulta do registro de nascimento. Assim, a validade do registro pode ser impugnada
apenas nas hipóteses de erro ou falsidade.
A prova da filiação, acolhida em juízo, é o quanto basta para regularizar o
registro de nascimento e a certificação da paternidade e maternidade. A ação de
estado de filiação não prescreve nem decai em tempo algum.
6. Reconhecimento de filho:
O reconhecimento é o ato que declara a filiação, estabelecendo, juridicamente,
o parentesco entre pai, mãe e filho. Não cria a paternidade, apenas declara um fato.
Dessa maneira, o ato de reconhecimento é declaratório e não constitutivo.
O reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, podendo ser exercido contra os pais ou seus
herdeiros, sem quaisquer limitações. Sendo ato personalíssimo, não pode ser feito
por avô ou filho, por exemplo. Todavia, é permitido o reconhecimento por
procurador, com poderes especiais para tanto, pois a declaração de vontade já está
expressa na própria procuração.
O ato declaratório do reconhecimento pode decorrer da livre manifestação dos
pais, quando será voluntário ou de sentença proveniente de ação de investigação
de paternidade ou maternidade, quando será judicial.
6.1 Voluntário:
O reconhecimento voluntário é o meio legal pelo qual pai, mãe, ou ambos,
revelam espontaneamente o vínculo que os liga ao filho, outorgando-lhe o status
correspondente (art. 1.607).
Filho maior – art. 1.614 – necessidade de consentimento.
Filho menor – pode impugnar o reconhecimento nos 4 anos posteriores a sua
maioridade ou emancipação.
Reconhecimento de filho falecido – art. 1.609, § único – só é permitido se o
filho tiver deixado herdeiros, caso em que cabe a eles consentir com o ato de
reconhecimento. Essa exigência existe para evitar que haja reconhecimento de
filhos a fim de receber herança (caso de não haverem descendentes, os
ascendentes herdarão).
Reconhecimento = ato irretratável ou irrevogável, inclusive se feito em
testamento (art. 1.610). Pode, contudo, ser anulado, se eivado de vício de vontade,
como erro, coação, ou se não observar as formalidades legais (através da
anulatória).
O reconhecimento será feito (art. 1.609, CC – lei 8.560/92):
I - no registro do nascimento. O pai comparece ao Registro Civil e presta
declarações sobre a descendência do registrado, assinando o termo na presença de
testemunhas. Se o pai é o declarante, constando a maternidade no termo de
nascimento (emitido pelo Hospital), a mãe só poderá contestar provando a falsidade
do termo ou das declarações nele contidas (art. 1.608). O registro de nascimento
feito por quem sabe não ser o pai biológico da criança é tido como adoção à
brasileira e gera paternidade socioafetiva.
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório.
A escritura pública não precisa ser específica para esse fim, podendo ocorrer em
uma escritura de compra e venda, quando a paternidade será declarada de modo
incidente, assinado pelo declarante e testemunhas. Pode também ocorrer por
escritura particular, com firma reconhecida, devendo ser arquivada no Cartório.
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. O testamento
pode ser cerrado, público ou particular ou especial (art. 1.886). Ainda que o
testamento venha a ser anulado, o reconhecimento constante nele não perderá o
efeito, a menos que o testador não tenha condições de manifestar sua vontade de
forma inequívoca (ex.: se for demente).
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
6.2 Judicial:
Resulta de sentença proferida em ação intentada com o fim de ter o
reconhecimento do filho (ação de reconhecimento da paternidade ou maternidade).
Essa ação deve ser intentada pelo filho, por ser pessoal, mas os herdeiros poderão
prosseguir nela, no caso do falecimento do titular do direito. A ação pode ser
ajuizada contra o pai, contra a mãe, ou contra ambos. A contestação pode ser feita
por qualquer pessoa que tenha interesse moral ou econômico na ação (art. 1.615)
(ex.: cônjuge do réu, herdeiros, etc.). A sentença tem eficácia absoluta, valendo
contra todos. Deverá já haver a fixação dos alimentos provisionais ou definitivos.
Deve ser averbada no registro competente.
6.3 Oficioso:
Lei 8.560/92, art. 2.º. Se apenas a mãe comparecer no Cartório de Registro
Civil e esta indicar o nome do pai, o registrador deverá remeter ao juiz corregedor a
certidão do registro e o nome do indicado pai, devidamente qualificado, para que
oficiosamente se verifique a procedência da imputação da paternidade. A indicação
falsa leva a mãe a incursionar no crime de falsidade ideológica.
O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e será
notificado o suposto pai para se manifestar.
Se o suposto pai confirmar a paternidade, será lavrado termo de
reconhecimento, remetendo-se a certidão ao oficial do Registro, para que faça a
averbação da paternidade.
Se o suposto pai não se apresentar dentro de 30 dias da notificação judicial, ou
se negar a paternidade, os autos serão remetidos ao MP para que intente ação de
investigação de paternidade, mesmo sem a iniciativa do interessado direto. O MP
age como substituto processual. Mas se o interessado (investigado) quiser, poderá
intentar a ação de investigação – art. 2.º, § 6.º, Lei 8.560/92.
Art. 2° Em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade
estabelecida, o oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome
e prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser
averiguada oficiosamente a procedência da alegação.
§ 1° O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada
e mandará, em qualquer caso, notificar o suposto pai, independente de seu
estado civil, para que se manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída.
§ 2° O juiz, quando entender necessário, determinará que a diligência seja
realizada em segredo de justiça.
§ 3° No caso do suposto pai confirmar expressamente a paternidade, será
lavrado termo de reconhecimento e remetida certidão ao oficial do registro,
para a devida averbação.
§ 4° Se o suposto pai não atender no prazo de trinta dias, a notificação
judicial, ou negar a alegada paternidade, o juiz remeterá os autos ao
representante do Ministério Público para que intente, havendo elementos
suficientes, a ação de investigação de paternidade.
§ 5o Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável o
ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público
se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para
adoção. (Redação dada pela Lei nº 12,010, de 2009) Vigência
§ 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha
legítimo interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido
reconhecimento da paternidade. (Incluído pela Lei nº 12,010, de
2009) Vigência
7. Ações de filiação:
7.1 Negatória de paternidade:
Casos do art. 1.597, CC – a paternidade pode ser impugnada por aquele cujo
nome veio a ser declinado como genitor da criança (marido da mãe da criança). A
presunção de paternidade não é absoluta, de modo que o pai pode elidi-a provando
o contrário. A ação é de ordem pessoal, privativa daquele a quem foi atribuída a
paternidade, de maneira que só ele é legitimado a propor referida ação (art. 1.601).
Contudo, se o titular da ação falecer, seus herdeiros poderão prosseguir com a ação
(art. 1.601, § único). A ação negatória é imprescritível (art. 1.601).
IMPOTÊNCIA GENERANDI: impossibilidade de conceber filho. Para tanto será
exigida perícia médica que comprove a impotência absoluta, pois se houver mero
distúrbio psíquico transitório, a presunção será mantida, só sendo elidida pelo
exame de DNA. Trata-se da impotência em razão de infertilidade.
ADULTÉRIO DA MULER: deve provar que houve adultério e relação sexual de
sua mulher com outro homem. Mas por si só não é fato para justificar a negatória de
paternidade, devendo, ainda, provar que estava fisicamente impossibilitado de gerar
filhos à época da concepção. Ex.: estava separado judicialmente, não tendo
convivido um só dia sob o mesmo teto, daí não ter havido qualquer relaçao sexual
entre eles. Assim, o adultério serve como prova complementar na negatória de
paternidade.
7.3 Anulatória:
Quando o reconhecimento é feito pelo suposto genitor (voluntária ou
judicialmente). É ato irretratável e incondicional. Contudo, poderá emanar de vícios
de vontade ou defeitos formais de registro. Neste caso a modificação do registro
somente se admite com a ação anulatória. O autor da ação poderá ser tanto o pai
que reconheceu, quanto o filho reconhecido. Pode também ser proposta pelo MP,
quando pai e filho estarão no polo passivo da ação. A ação é imprescritível, pois se
trata de estado de filiação.
7.4 Investigatória:
Por meio da ação investigatória de paternidade busca-se a declaração de seu
respectivo status familiae. Processa-se mediante ação ordinária proposta pelo filho
contra o genitor ou seus herdeiros ou legatários. Caso o investigante faleça antes do
fim da ação, seus herdeiros poderão prosseguir na ação, mas não poderão intentá-la
em nome do investigante. Nesse sentido, o direito à investigação de paternidade é
personalíssimo, na medida em que pode ser exercida somente pelo filho (podendo
ser representado ou assistido, se menor de idade); é indisponível, já que não pode
ser renunciado; é imprescritível, pois pode ser exercido a qualquer momento
(súmula 149, STF).
Contudo, deve-se destacar que a Lei 8.560/92, no art. 2.º, §§ 4.º e 5.º
reconheceu a possibilidade de o MP propor a ação de investigação de paternidade.
Questão controvertida na investigação de paternidade – a paternidade
socioafetiva: existindo paternidade socioafetiva o entendimento é de que ela não
pode ser desconstituída em nome da verdade biológica.
Questão controvertida na investigação de paternidade – a negativa do
suposto pai de se submeter ao exame de DNA: Há discussões sobre a negativa
do pai a submeter-se ao exame de DNA por ser atentatório a sua dignidade e
intimidade. A maioria da doutrina, bem como o STJ (súmula 301) entende que
haverá a presunção da paternidade neste caso. SÚMULA 301, STJ: Em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade. Para terminar com as discussões, a Lei
12.004/09, veio a regulamentar essa questão, incluindo o art. 2.º-A, § único, da Lei
8.560/92, e estabelecendo que a recusa do réu em se submeter ao exame de DNA
gerará a presunção da paternidade, que deverá ser apreciada em conjunto com o
contexto probatório. Essa presunção é relativa. O juiz, para reconhecê-la, deve
analisar outras provas (fotos da relação do casal, cartas, testemunhas, etc).
QUESTÕES
EXAME VII - A respeito da perfilhação é correto dizer que
A) constitui ato formal, de livre vontade, irretratável, incondicional e
personalíssimo.
B) se torna perfeita exclusivamente por escritura pública ou instrumento particular.
C) não admite o reconhecimento de filhos já falecidos, quando estes hajam deixado
descendentes.
D) em se tratando de filhos maiores, dispensa‐se o consentimento destes.
EXAME XIX - Júlio, casado com Isabela durante 23 anos, com quem teve 3 filhos,
durante audiência realizada em ação de divórcio cumulada com partilha de bens
proposta por Isabela, reconhece, perante o Juízo de família, um filho havido de
relacionamento extraconjugal. Posteriormente, arrependido, Júlio deseja revogar
tal reconhecimento. Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
A) O reconhecimento de filho só é válido se for realizado por escritura pública ou
testamento.
B) O reconhecimento de filho realizado por Júlio perante o Juízo de Família
é ato irrevogável.
C) O reconhecimento de filho em Juízo só tem validade em ação própria com
essa finalidade.
D) Júlio só poderia revogar o ato se este tivesse sido realizado por testamento.
X – ALIMENTOS:
Juridicamente, “os alimentos significam o conjunto das prestações necessárias
para a vida digna do indivíduo” (Gagliano e Pamplona Filho, p. 683).
4. Pressupostos:
Os pressupostos essenciais da obrigação alimentar são:
a) Existência de companheirismo, vínculo de parentesco ou conjugal entre
o alimentando e o alimentante. Podem ser exigidos alimentos entre
irmãos? Sim, trata-se de vínculo de parentesco. Art. 1.697.
b) Necessidade do alimentando. O alimentado deve estar precisando dos
alimentos, pela impossibilidade de trabalhar e prover seu próprio
sustento.
c) Possibilidade econômica do alimentante. O alimentante deverá cumprir
com o dever, sem que haja desfalque do necessário ao seu próprio
sustento.
d) Proporcionalidade, na sua fixação, entre as necessidades do alimentário
e os recursos econômico-financeiros do alimentante.
5. Classificação
Quanto à finalidade:
a) Provisionais: se concedidos em ação cautelar preparatória ou incidental.
Serão arbitrados pelo juiz. Podem ser revogados a qualquer momento.
Os fixados em cautelar de separação de corpos, por exemplo. Art. 1.706.
b) Provisórios: Fixados incidentalmente pelo juiz no curso do processo de
congnição ou liminarmente em despacho inicial na ação de alimentos.
Tem natureza antecipatória. Liminar em ação de alimentos.
c) Regulares: estabelecido pelo magistrado ou pelas partes, com
prestações periódicas, de caráter permanente, embora sujeitos a
revisão.
Quanto à natureza:
d) Naturais: compreendem o estritamente necessário à subsistência do
alimentando, ou seja, alimentação, remédios, vestiário, habitação. Art.
1.694, § 2.º (quando resultar de culpa de quem os pleiteia).
e) Civis: concernem a outras necessidades, como as intelectuais e morais
(educação, instrução, assistência, recreação). Art. 1.694, caput.
Quanto à causa jurídica:
f) Voluntários: resultantes de declaração de vontade, inter vivos ou causa
mortis. Ex.: o marido, na separação, estipula a pensão a prestar à
mulher.
g) Ressarcitórios: destinados a indenizar vítima de ato ilícito. Ex.: autor do
homicídio deve prestar alimentos às pessoas a quem o falecido os devia.
h) Legítimos: impostos por lei em virtude do fato de existir entre as pessoas
um vínculo de família.
Quanto ao momento da reclamação:
i) Atuais: se forem a partir do ajuizamento da ação.
j) Futuros: se devidos após a prolação da decisão. Os alimentos pretéritos
não são devidos.
Quanto à modalidade:
k) Próprios: é o fornecimento direto de alimentos no próprio lar do
alimentante, que fornece hospedagem e sustento ao alimentado.
Fornecimento de alimentos in natura. Normalmente o genitor que fica
com a guarda presta alimentos próprios.
l) Impróprios: pagamento de prestação pecuniária, na forma de pensão
mensal. É a forma mais comum de pagamento de alimentos. Geralmente
é pago pelo genitor não detentor da guarda.
Tartuce (p. 423) afirma que os alimentos devidos entre os cônjuges tratam-se
de alimentos compensatórios, ideia desenvolvida por Rolf Madaleno, que entende
que trata-se de uma prestação periódica, paga de um cônjuge para o outro, visando
compensar um possível desequilíbrio econômico causado pela separação/divórcio.
Isto porque, durante o matrimônio o casal experimentava um nível de vida que pode,
eventualmente, ter sido reduzido (condições econômicas) em razão do rompimento.
Devem ser prestados por determinado tempo, possibilitando que o cônjuge
necessitado possa se qualificar para se inserir no mercado de trabalho.
8. Ação de alimentos:
A ação de alimentos é o meio técnico de reclamar a prestação alimentícia,
desde que se configurem os pressupostos jurídicos.
A lei 5.478/68 estabelece o rito especial para a ação de alimentos, que deve
ser célere. Para tanto, deve haver prova pré-constituída da existência da relação de
parentesco (paternidade já reconhecida).
Esta ação é imprescritível. Contudo, para exigir a execução dos alimentos, já
fixados, e que estão vencidos, o prazo prescricional é de 2 anos.
O foro competente é o do domicílio do alimentando – art. 53, II, CPC/2015.
Depende de intervenção do MP.
Podem os pais propor ação de alimentos a fim de fixar o valor devido aos
filhos? Sim. Ver art. 24, lei 5.478/68.
Art. 24. A parte responsável pelo sustento da família, e que deixar a
residência comum por motivo, que não necessitará declarar, poderá tomar a
iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de que dispõe e de pedir a
citação do credor, para comparecer à audiência de conciliação e julgamento
destinada à fixação dos alimento a que está obrigado.
Deve-se destacar que mesmo havendo bens para garantir a execução (seja por
cumprimento de sentença ou por execução autônoma), a preferência será o
desconto em folha. Assim, se o devedor é trabalhador assalariado, seu empregador
ou o ente público (para quem ele trabalha) deverá descontar os valores de sua
remuneração, conforme determinado por ofício judicial, sob pena de desobediência.
O desconto pode ocorrer das parcelas vencidas (em atraso) e das mensais, desde
que não ultrapasse 50% dos ganhos líquidos do alimentante28.
27 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 621-622.
28 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 622.
10. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de prestar alimentos – arts. 528 a 533, CPC/2015
Uma vez que exista sentença condenatória de obrigação de prestar alimentos,
com trânsito em julgado ou decisão interlocutória que fixe alimentos, poderá a parte
exequente requerer ao juiz que intime pessoalmente o devedor para que, em 3 dias
pague, prove o pagamento ou justifique a impossibilidade de pagar.
Se o executado, neste prazo, não pagar, não provar o pagamento, nem
justificar, o juiz determinará o protesto da decisão. Isto acarretará restrições de
crédito ao devedor/executado, bem como sua inscrição em cadastros negativos de
crédito29.
Somente situação excepcional (doença, por exemplo), ou seja, fato que gere a
impossibilidade absoluta de pagar, justificará o inadimplemento (§ 2.º, art. 528,
CPC/2015).
Não havendo pagamento, ou se a justificativa não for aceita, o juiz, além de
mandar protestar a decisão, determinará a prisão civil do executado pelo prazo de 1
a 3 meses (§ 3.º).
Havendo prisão, esta deverá ser cumprida em regime fechado e em separado
dos presos comuns (§ 4.º).
Sobre a prisão dos avós, ver o Enunciado n.º 599, VII Jornada de Direito Civil:
ENUNCIADO 599 – Deve o magistrado, em sede de execução de alimentos
avoengos, analisar as condições do (s) devedor (es), podendo aplicar
medida coercitiva diversa da prisão civil ou determinar seu cumprimento em
modalidade diversa do regime fechado (prisão em regime aberto ou prisão
domiciliar), se o executado comprovar situações que contraindiquem o rigor
na aplicação desse meio executivo e o torne atentatório à sua dignidade,
como corolário do princípio de proteção aos idosos e garantia à vida.
Uma vez que a prestação seja paga, o juiz determinará a suspensão da ordem
de prisão (§ 6.º).
Lembrando que o débito que autoriza a prisão é o correspondente a até 3
meses de débito alimentar (anteriores ao ajuizamento da ação) e as vencíveis no
curso do processo (§ 7.º).
29 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 591-592.
Pode, ainda, o credor escolher em cobrar o débito alimentar nos termos do
cumprimento definitivo de sentença (arts. 523 a 527, CPC/2015). Neste caso não
haverá incidência de prisão civil. A vantagem deste caminho é a incidência de
multas. Cabe, nestas situações, a pena de penhora.
Optando pelo cumprimento definitivo, o juiz determinará que o executado seja
intimado para pagar o débito em 15 dias, acrescido de custas. Não havendo
pagamento neste prazo, incide multa de 10% e honorários de 10%. Havendo
pagamento parcial, a multa e os honorários incidirão apenas pelo que falta a pagar.
Não havendo pagamento dentro do prazo, haverá expedição de mandado de
penhora.
Vale lembrar que o cumprimento de sentença dispensa nova ação e nova
citação. Tramitam nos mesmos autos da ação de alimentos ou ação que tenha
fixado-os.
30DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, p. 619.
Essa execução será com base nos 3 últimos meses (até 3 meses) de
prestações vencidas. Incluem-se as vincendas. É bem célere.
Não cabe habeas corpus para prisão alimentar.
O cumprimento da pena não exime do pagamento dos alimentos, que seguem
sendo devidos.
Art. 913 e 824, CPC/2015.
Para a execução de alimentos vencidos há mais de 3 meses, deve-se utilizar o
procedimento do art. 824 e ss., CPC/2015 (execução por quantia certa), onde
haverá, ao invés da prisão, a penhora de bens. É bem mais moroso que o primeiro.
Ordem de penhora = art. 835, CPC/2015
QUESTÕES
EXAME IX - Henrique e Natália, casados sob o regime de comunhão parcial de
bens, decidiram se divorciar após 10 anos de união conjugal. Do relacionamento
nasceram Gabriela e Bruno, hoje, com 8 e 6 anos, respectivamente. Enquanto
esteve casada, Natália, apesar de ter curso superior completo, ser pessoa jovem e
capaz para o trabalho, não exerceu atividade profissional para se dedicar
integralmente aos cuidados da casa e dos filhos. Considerando a hipótese acima e
as regras atinentes à prestação de alimentos, assinale a afirmativa correta.
A) Uma vez homologado judicialmente o valor da prestação alimentícia devida por
Henrique em favor de seus filhos Gabriela e Bruno, no percentual de um salário
mínimo para cada um, ocorrendo a constituição de nova família por parte de
Henrique, automaticamente será minorado o valor dos alimentos devido aos filhos
do primeiro casamento.
B) Henrique poderá opor a impenhorabillidade de sua única casa, por ser bem de
família, na hipótese de ser acionado judicialmente para pagar débito alimentar atual
aos seus filhos Gabriela e Bruno.
C) Natália poderá pleitear alimentos transitórios e por prazo razoável, se
demonstrar sua dificuldade em ingressar no mercado de trabalho em razão do
longo período que permaneceu afastada do desempenho de suas atividades
profissionais para se dedicar integralmente aos cuidados do lar.
D) Caso Natália descubra, após dois meses de separação de fato, que espera um
filho de Henrique, serão devidos alimentos gravídicos até o nascimento da criança,
pois após este fato a obrigação alimentar somente será exigida.
EXAME XV - Augusto, viúvo, pai de Gustavo e Fernanda, conheceu Rita e com ela
manteve, por dez anos, um relacionamento amoroso contínuo, público, duradouro e
com objetivo de constituir família. Nesse período, Augusto não se preocupou em
fazer o inventário dos bens adquiridos quando casado e em realizar a partilha entre
os herdeiros Gustavo e Fernanda. Em meados de setembro do corrente ano,
Augusto resolveu romper o relacionamento com Rita.
Face aos fatos narrados e considerando as regras de Direito Civil, assinale a opção
correta.
A) A ausência de partilha dos bens de Augusto com seus herdeiros Gustavo e
Fernanda caracteriza causa suspensiva do casamento, o que obsta o
reconhecimento da união estável entre Rita e Augusto.
B) Sendo reconhecida a união estável entre Augusto e Rita, aplicar-se-ão à relação
patrimonial as regras do regime de comunhão universal de bens, salvo se houver
contrato dispondo de forma diversa.
C) Em razão do fim do relacionamento amoroso, Rita poderá pleitear alimentos
em desfavor de Augusto, devendo, para tanto, comprovar o binômio
necessidade
D) As dívidas contraídas por Augusto, na constância do relacionamento com Rita,
em proveito da entidade familiar, serão suportadas por Rita de forma subsidiária.
a. Morte real
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral, ....). Neste caso, necessário um
laudo médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito.
1TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
13.
Justiça e na plataforma de editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não
havendo site, a publicação deve ocorrer, de dois em dois meses, no órgão oficial e
na imprensa da Comarca.
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do
curador, a sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver
deixado representante, o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos
após a arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC:
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente
a sucessão.
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da
sucessão provisória.
§ 1o Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
2TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
14-20.
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na
sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo
competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário
até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente
pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a
conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em
imóveis ou em títulos garantidos pela União.
3GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 34.
Do contrário, inexiste qualquer interesse jurídico nessa pesquisa. O principal
efeito da presunção da morte simultânea é que, não tendo havido tempo
ou oportunidade para a transferência de bens entre os comorientes,
um não herda do outro.
EXEMPLO:
Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a
sucessão de cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido.
Venosa demonstra a vital importância da comoriência:
[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito
sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se
ambos não tivessem descendentes ou ascendentes, e a mulher falecesse
depois, a herança iria para os herdeiros dela, ou seja, seus colaterais. O
oposto ocorreria se provasse que a mulher falecera antes. Tal situação pode
ocorrer em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo por coincidência.
Para evitar os entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código
presume comoriência, isto é, o falecimento conjunto (VENOSA, 2012, p. 13)
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que
regula a sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art.
1.787, CC:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao
tempo da abertura daquela.
Estrangeiro:
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último
domicílio do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao
cônjuge ou filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for
casado com brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege o
direito do cônjuge e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros
(ascendentes, colaterais).
5. Espécies de sucessão
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última
vontade.
a. Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do
falecido, ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os
herdeiros participam da totalidade do ativo e do passivo.
b. Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento
(é válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o
poder de dispor livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros
necessários (cônjuge, ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela
liberdade de testar disposta no art. 1.789, CC. O poder de dispor integralmente só
ocorre na hipótese de herdeiros facultativos.
c. Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários.
RESUMO
Legítima Havendo herdeiros necessários, sem testamento.
Havendo herdeiros necessários, com testamento que tenha
caducado ou sido declarado nulo.
Testamentária Havendo testamento ou legado.
Simultânea Quando houver herdeiros necessários e, ao mesmo tempo,
testamento válido.
e. Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão
contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem em
vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre os
descendentes por escritura pública (com anuência de todos os descendentes):
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
f. Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias
e à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI o benefício
ao cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no
Brasil, permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais favorável.
6. Espécies de sucessores
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio deixado
pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
a. Herdeiro legítimo:
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada
pela lei. Art. 1.829, CC e 1.790 (união estável). Classificam-se como necessários
(descendentes, ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais e companheiros ou
conviventes). É chamada a sucessão que resulta da lei.
i. Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é,
todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação
(ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por disposição de
última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a totalidade de seus
bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens
da herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da
herança deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as
dívidas e despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários
surge a ideia de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos
interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o
testador só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários
(ascendente, descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens.
IMPORTANTE: durante a vida há a liberdade de alienar, onerosamente, todo o
patrimônio existente, não deixando nada de herança. O que não pode haver é
doação de todo o patrimônio ou excedendo a parte da liberalidade para um dos
filhos.
Nesse caso, algumas hipóteses podem ocorrer:
a) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, em
detrimento dos demais, não mencionando que essa doação sai da sua parte
disponível o herdeiro que recebeu deverá, no inventário, trazer esses
bens recebidos por doação a colação, descontando da sua quota parte
(entende-se como adiantamento de legítima);
b) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro,
mencionando que se trata da sua parte disponível, não poderá exceder ¼
do patrimônio do casal (no caso de comunhão universal, ou seja, ½ de
meação e ½ de herança – dessa ½ da herança, somente a ½ (¼ do
patrimônio, portanto) pode ser disponível).
Cálculo da legítima
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a
meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da
sucessão.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida,
o valor dos bens sujeitos a colação.
i. Facultativos:
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a
disposição em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a sua
parte disponível.
Conforme se verá mais adiante, também é herdeiro facultativo o companheiro
sobrevivente, pois, ao contrário do cônjuge, que não pode ser excluído da herança
por ser herdeiro necessário, o companheiro pode ser excluído através de
testamento.
b. Herdeiro testamentário ou instituído:
É o herdeiro nomeado ou instituído, designado pelo testador por ato de última
vontade como uma parte do acervo, sem individualização de bens.
i. Legatário:
É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada, singularizada,
precisa.
2. Herança e espólio
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento de
alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos e
dívidas existentes em nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um ente
despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a
individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante ou,
antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos limites
da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de imóveis de
propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela dívida,
dentro das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa de existir,
pois desaparece a universalidade patrimonial.
Forma e objeto
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para
que seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga
uxória como condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art.
166, IV).
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa; se
estão sendo cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do quinhão;
etc.
O objeto do contrato são os direitos hereditários.
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da herança,
não sua extensão.
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se
encontra, correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de dívidas;
sub-roga-se nos direitos do cedente, como se fosse ele próprio.
A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente
quanto à quota parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em razão
da indivisibilidade da herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a cessão de
bem individualizado (art. 1.793, § 2.º, CC).
§ 2o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da
concordância dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos
hereditários que tem por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da
concordância/liberalidade dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente,
quando os herdeiros fizeram a partilha de forma amigável, dividindo entre eles os
bens existentes.
Direito de acrescer
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente,
substituição ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.),
os direitos daí resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada
anteriormente (GONÇALVES, 2012, p. 58).
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum co-herdeiro, este
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão,
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação. E
se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso, segundo
Tartuce (2012, p. 18) deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles, na
proporção de suas quotas hereditárias:
Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das
respectivas quotas hereditárias.
4São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei
Estadual .912/1998.
sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas necessárias e
úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.
Mas quem será o administrador provisório? O art. 1.797, CC traz o rol daqueles
que podem ser administradores provisórios:
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança
caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da
abertura da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver
mais de um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave
levado ao conhecimento do juiz.
Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):
a) deve ser pessoa – animais não podem suceder. O que pode haver é o
testador impor ao herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal em
específico.
b) deve estar viva – pode já estar concebido na época da morte e terá direito
se nascer com vida e, então, tornar-se-á herdeiro desde a concepção.
c) deve ser capaz – é a aptidão específica para a herança, a legitimação.
Assim não basta existir no momento da morte, tem de ser legítimo, pois se o autor
da herança tiver deixado descendente, os ascendentes, mesmo que vivos, não
serão legítimos;
d) não pode ter sido declarada indigna – aquele que praticar atos contra o
autor da herança, que sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos de
afeição real ou presumida.
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a
abertura da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados
caberão aos herdeiros legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do
beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido
(GONÇALVES, 2012, p. 73).
IMPORTANTE: Também deve ser salientado que essa disposição do art.
1.799, I, CC, aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da
igualdade estabelecida pela CF, no art. 227, § 6.º.
Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão é
diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a
situação:
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a
transmissão da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e
dela participam as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da
abertura da sucessão” (art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no
sentido de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos
de reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente
preceder à concepção, quer na de implantação de embriões depois de
aberta a sucessão. Solução favorável à criança ocorreria se houvesse
disposição legislativa favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação
artificial homóloga,, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido
“concebidos na constância do casamento”, não se justifica a exclusão de
seus direitos sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação da
existência, em nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios, em
situação incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da Constituição
Federal.
O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam
ser beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser
contemplada no testamento, tanto física quanto jurídica, simples ou empresária, de
direito público ou privado.
O inciso III, do art. 1.799, CC permite que o testador beneficie uma fundação
que, nos termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento.
Neste último caso, segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa
jurídica idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a
guarda provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro de seus
estatutos, quando passará a ter existência legal”.
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica existente
de fato, mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos termos do art.
986, CC. O que se deve perceber é que estas pessoas jurídicas existem, já estão
atuando, ainda que não tenham seus documentos constitutivos registrados. O que
não se permite é que o testador beneficie pessoa jurídica que, sequer existe de fato.
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente e
o testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a outra
fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC). OBSERVAÇÃO:
Já caiu questão no exame de ordem sobre esta situação!
Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem
contempladas pessoas neles contantes, de forma direta ou mediante simulação, as
disposições testamentárias serão NULAS.
A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: a) o
testador dissimulada a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso; ou
b) recorre a interposta pessoa para beneficiar o proibido de suceder
(GONÇALVES, 2012, p. 84).
9. Aceitação da herança
Com o falecimento abre-se a sucessão e a transmissão opera-se desde logo. A
aceitação revela a anuência do beneficiário em receber a herança. Assim, o
recebimento da herança é facultativo, pois o beneficiário poderá deliberar (aceitar ou
renunciar) seu direito. A aceitação (ou adição) da herança é o ato pelo qual o
herdeiro concorda com a transmissão dos bens do de cujus, que ocorreu, por lei, no
momento da abertura da sucessão.
Obs: Enquanto não manifestada a aceitação, entrementes, não é definitiva
a transmissão, no que foi claro o Código em seu art. 1.804 CC. Embora se de a
transmissão imediata, a aceitação vem a ser uma confirmação da aquisição
que se dá a partir da abertura da sucessão.
Espécies de aceitação:
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.
a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o
beneficiário deseja receber a herança.
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação
tácita resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos
compatíveis com caráter de herdeiro:
a) se o herdeiro cede seus direitos hereditários;
b) se o herdeiro nomeia advogado e se faz representar como tal no inventário;
c) se o herdeiro concorda com a avaliação, ou contesta;
d) se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio;
e) se requer a abertura do inventário;
f) quando paga dívida dos de cujus com numerário proveniente do espólio;
g) quando doa bens da herança;
h) que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e
administração e que impliquem, necessariamente, a intenção de aceitar;
i) o silêncio do herdeiro, quando notificado para se manifestar (art. 1.807).
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de
aceitar a herança.
ATOS OFICIOSOS = praticados de forma desinteressada, com objetivo de
prestar favor.
ADMINISTRAÇÃO E GUARDA PROVISÓRIA = praticados pelo herdeiro para
atender a uma necessidade premente, sem intenção de tê-los para si.
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também
não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012,
p. 91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao
juiz, após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer,
em prazo não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012,
p. 91). Nesse caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade
(aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois esta
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”.
Todavia, quem seriam esses interessados?
a) Os demais herdeiros;
b) As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição
de herdeiros;
c) Algum credor.
Irrevogabilidade da aceitação
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá
possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e
definitivos.
Anulação da aceitação
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não é
o herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois,
verificar-se a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação,
devolvendo-se a herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido
julgado, como homologação da partilha, apenas com a ação de petição de herança é
que será possível reivindicar o que lhe cabe.
Características da Renúncia:
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o
entendimento doutrinário dominante:
a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros.
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada
nenhuma razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que aí a
figura seria cessão.
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança, e
não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do
patrimônio. A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808).
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art. 1.808
CC.
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma compensação, sob
pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos.
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts. 1.784
e 1.804.
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida à
renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia deve
ser feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há presunção de
renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal.
Efeitos da Renúncia:
Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em
especial, a exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva.
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é
tratado como se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da
abertura da sucessão, ou seja, desde o óbito). O renunciante é
afastado da sucessão (art. 1.810 e 1811). NÃO CABE, PORTANTO,
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.
b) direito de acrescer: a parte do renunciante passa imediatamente à dos
outros herdeiros da mesma classe, nos termos do art. 1810, CC.
A e B recebem a cota de “C” – A herança será divida em duas partes.
Herdeiro renunciante
Herdeiro renunciante
H – herdeiro indigno.
A e B – herdarão por representação
(no lugar de seu pai, como se ele
nunca tivesse existido).
Com isto:
X – recebe 1/3
Y – recebe 1/3
A e B – dividem o 1/3 que caberia a
seu pai.
12.1 Deserdação
A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através
de disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro
necessário que tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei civil.
IMPORTANTE: só se aplica aos herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge), que ficam privados de sua legítima, sem atingir a meação.
Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança,
através de testamento.
Características da deserdação
a) o arbítrio do autor da herança não é ilimitado (incondicionado); precisa
seguir os pressupostos legais e limites.
b) o autor deve mencionar a causa constitutiva e determinante da deserdação,
entre as indicadas na lei (para permitir a defesa e o contraditório);
c) deve ser clara e expressa; atendendo os requisitos legais;
d) não existe deserdação tácita, virtual ou implícita;
e) o testador pode retratar a deserdação (por testamento). EX: não vale
simples reconciliação; precisa cancelar, ou fazer um novo testamento, seguindo o
rito anteriormente adotado.
f) o testamento que é anulável (nulo), torna ineficaz a cláusula de deserdação;
g) condição ou termo são inconciliáveis com a deserdação;
ex: Ameaças, em relação ao herdeiro fazer ou deixar de fazer algo, sob pena
de ser deserdado, não têm o poder nem a legalidade para deserdar.
h) o excluído da sucessão não tem direito ao usufruto e à administração dos
bens (art. 1816, parágrafo único, CC);
i) não há proibição de deserdação parcial (sanção proporcional à gravidade da
ofensa, apesar de não estar pacífica tal posição);
j) o herdeiro que falece antes do testador não pode ser deserdado (implicaria
na quebra do princípio da pessoalidade, alcançando os descendentes do punido. A
pena é personalíssima). No entanto, existe a possibilidade de deserdar o neto,
vinculada a pré-morte do filho, condicionada aos mesmos requisitos supracitados.
Efeitos da deserdação:
O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de
não haver previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo,
tendo em vista que o objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
- Privação em todo ou parte, da legítima, sendo o deserdado havido como se
morto fosse;
- É de índole pessoal a sanção;
- Aos ascendentes não cabe a representação;
- Os descendentes recolhem a herança por direito de representação;
Casos de jacência:
Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:
a) ocorrência do óbito;
b) sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso,
tem-se duas situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento
c. Herdeiro instituído ou testamenteiro não existir ou não aceitar a
herança
d. Falecido não tiver herdeiros necessários.
Cabe ao curador:
Art. 739, § 1o Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do
Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a
arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2o Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.
Durante a arrecadação o juiz ou a autoridade policial que estiver cumprindo a
diligência (art. 740, § 2.º, CPC/2015) fará a inquirição dos vizinhos do falecido,
visando descobrir sua qualificação, existência de outros bens e o paradeiro de seus
sucessores.
A arrecadação será suspensa se aparecerem o cônjuge, companheiro ou
herdeiro do falecido para reclamar os bens (§ 6.º, art. 740, CPC/2015).
Finalizada a arrecadação, serão expedidos editais, nos termos do art. 741,
CPC/2015 – na internet, site do tribunal e na plataforma do CNJ, devendo
permanecer por 3 meses. Em não havendo o site, a publicação deverá ocorrer na
imprensa da Comarca, por 3 vezes, com intervalos de 1 mês entre cada uma.
Havendo herdeiro habilitado, a arrecadação converte-se em inventário (art.
741, § 1.º, § 3.º, CPC/2015).
Declaração de vacância
Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a
herança será declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive
com a publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros sucessíveis
habilitados. Há uma exceção: se todos os chamados a suceder renunciarem a
herança, será, desde logo, declarada vacante (art. 1.823, CC), sem que haja a fase
de jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro
ou herdeiros só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de herança
(art. 743, § 2.º, CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das
dívidas reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, §
4.º, CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se
incorporem, desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se
localizados nos seus territórios) ou à União (se localizados em território federal).
Para tanto, o art. 1.822, CC prevê o prazo de 5 anos da abertura da sucessão.
O Código não deixa dúvida sobre a exclusão dos colaterais da sucessão
se não habilitarem até a sentença de vacância – art. 1.822, § único. Os demais
herdeiros têm o prazo de 5 anos.
Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos)
não existe = 1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.
Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua quota
parte). Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida entre os
herdeiros de Filho 1.
3. A herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece testamento
do de cujus, em que outra pessoa é nomeada herdeira;
4. O filho não reconhecido ingressa com ação de investigação de paternidade
e, de forma cumulada, com a petição de herança.
Conceito:
A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no sentido
de que lhe seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se, pois, do
meio jurídico pelo qual o herdeiro (excluído por qualquer razão – não se sabia da
existência, por exemplo) pode se utilizar para garantir sua condições e o acesso aos
bens deixados pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a
satisfação quanto ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor da
ação – com sua quota parte na herança. Necessita, contudo de uma ação de estado,
ou seja, de uma ação que objetive a declaração do parentesco.
A petição de herança tem dúplice objetivo:
a) o reconhecimento judicial da qualidade do herdeiro ou a condição de
herdeiro (qualidade sucessória);
b) a proclamação do princípio de que, sendo vários os herdeiros, qualquer
deles pode demandar a totalidade da herança.
LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse
da herança como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a
posição de herdeiro, sem o ser verdadeiramente.
a) Herdeiro aparente (possuidor dos bens hereditários);
b) Terceiro estranho à sucessão causa mortis;
c) Herdeiro que possua por outro título (usucapião).
d) Estado (quando há herança jacente)
Efeitos da sentença:
Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança, transmite-
se a titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a procedência da ação e
o trânsito em julgado há o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao
autor da ação, sendo dispensada sua anulação. Bastará o requerimento de
retificação da partilha realizada anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-fé
e quanto ao terceiro adquirente:
Possuidor:
Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança, deverá
devolvê-los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e pelos frutos
que tiver colhido, salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do
acervo, fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado
o disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há
de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
Já o possuidor de má-fé:
a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de
perceber por culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art.
1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as voluptuárias);
as necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).
Terceiro adquirente:
A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é válida
ou não.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário
pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos protegidos
por lei em benefício de terceiros de boa fé:
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não
está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a
este o direito de proceder contra quem o recebeu.
QUESTÕES
EXAME IV - Rodolfo, brasileiro, engenheiro, solteiro, sem ascendentes ou
descendentes, desapareceu de seu domicílio há 11 (onze) meses e até então não
houve qualquer notícia sobre seu paradeiro. Embora tenha desaparecido, deixou
Lisa, uma amiga, como mandatária para a finalidade de administrar-lhe os bens.
Todavia, por motivos de ordem pessoal, Lisa não quis exercer os poderes
outorgados por Rodolfo em seu favor, renunciando expressamente ao mandato.
De acordo com os dispositivos que regem o instituto da ausência, assinale a
alternativa correta.
(A) O juiz não poderá declarar a ausência e nomear curador para Rodolfo, pois Lisa
não poderia ter renunciado o mandato outorgado em seu favor, já que só estaria
autorizada a fazê-lo em caso de justificada impossibilidade ou de constatada
insuficiência de poderes.
(B) A renúncia ao mandato, por parte de Lisa, era possível e, neste caso, o juiz
determinará ao Ministério Público que nomeie um curador encarregado de gerir os
bens do ausente, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores
e curadores.
(C) Os credores de obrigações vencidas e não pagas de Rodolfo, decorrido 1
(um) ano da arrecadação dos bens do ausente, poderão requerer que se
determine a abertura de sua sucessão provisória.
(D)Poderá ser declarada a sucessão definitiva de Rodolfo 10 (dez) anos depois de
passada em julgado a sentença que concedeu a sucessão provisória, mas, se
nenhum interessado promover a sucessão definitiva, nesse prazo, os bens
porventura arrecadados deverão ser doados a entidades filantrópicas localizadas no
município do último domicílio de Rodolfo.
EXAME V - Heitor, solteiro e pai de dois filhos também solteiros (Roberto, com trinta
anos de idade, e Leonardo, com vinte e oito anos de idade), vem a falecer, sem
deixar testamento. Roberto, não tendo interesse em receber a herança deixada pelo
pai, a ela renuncia formalmente por meio de instrumento público. Leonardo, por sua
vez, manifesta inequivocamente o seu interesse em receber a herança que lhe
caiba. Sabendo-se que Margarida, mãe de Heitor, ainda é viva e que Roberto possui
um filho, João, de dois anos de idade, assinale a alternativa correta.
(A) Roberto não pode renunciar à herança, pois acarretará prejuízos a seu filho,
João, menor de idade.
(B) Roberto pode renunciar à herança, o que ocasionará a transferência de seu
quinhão para João, seu filho.
(C) Roberto pode renunciar à herança, e, com isso, o seu quinhão será
acrescido à parte da herança a ser recebida por Leonardo, seu irmão.
(D) Roberto pode renunciar à herança, ocasionando a transferência de seu quinhão
para Margarida, sua avó, desde que ela aceite receber a herança.
EXAME XVI - Márcia era viúva e tinha três filhos: Hugo, Aurora e Fiona. Aurora,
divorciada, vivia sozinha e tinha dois filhos, Rui e Júlia. Márcia faleceu e Aurora
renunciou à herança da mãe. Sobre a divisão da herança de Márcia, assinale a
afirmativa correta.
A) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre
Hugo e Fiona, cabendo a cada um metade da herança.
B) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo,
Fiona, Rui e Júlia, em partes iguais, cabendo a cada um 1/4 da herança.
C) Diante da renúncia de Aurora, a herança ser dividida entre Hugo, Fiona, Rui e
Júlia, cabendo a Hugo e Fiona 1/3 da herança, e a Rui e Júlia 1/6 da herança para
cada um.
D) Aurora não pode renunciar à herança de sua mãe, uma vez que tal faculdade não
é admitida quando se tem descendentes de primeiro grau.
XVII EXAME - Ester, viúva, tinha duas filhas muito ricas, Marina e Carina. Como
as filhas não necessitam de seus bens, Ester deseja beneficiar sua irmã, Ruth,
por ocasião de sua morte, destinando-lhe toda a sua herança, bens que vieram
de seus pais, também pais de Ruth. Ester o(a) procura como advogado(a),
indagando se é possível deixar todos os seus bens para sua irmã. Deseja fazê-lo
por meio de testamento público, devidamente lavrado em Cartório de Notas,
porque suas filhas estão de acordo com esse seu desejo.
Assinale a opção que indica a orientação correta a ser transmitida a Ester.
A) Em virtude de ter descendentes, Ester não pode dispor de seus bens por
testamento.
B) Ester só pode dispor de 1/3 de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo o
restante de sua herança às suas filhas Marina e Carina, dividindo-se igualmente
o patrimônio.
C) Ester pode dispor de todo o seu patrimônio em favor de Ruth, já que as filhas
estão de acordo.
D) Ester pode dispor de 50% de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo
os outros 50% necessariamente às suas filhas, Marina e Carina, na
proporção de 25% para cada uma.
Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão
regular-se-á da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô (pai
do falecido), nada receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.
a. Descendentes
Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo
quotas iguais e, os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já
faleceram. Nesse caso, os netos, por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça
ou direito próprio (sucessão avoenga).
EXEMPLOS:
1. Por direito próprio:
Cada filho receberá ¼.
2. Por estirpe:
Assim:
Filhos – sucedem por cabeça.
Netos – sucedem por estirpe. Se, contudo, os filhos forem todos falecidos, os
netos herdarão por cabeça, por serem todos de mesmo grau.
b. Ascendentes
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não se
admite o direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
Pai = ½ da herança.
Mãe = ½ da herança.
Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo
que tenha avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.
- Patrimônio de R$100.000,00
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
Art. 1.832
Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da herança
em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15% para
cada um
Pai = 1/3
Mãe = 1/3
- Pai = ½
Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro herdeiro,
caberá ao cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a venda deste
imóvel (desde que seja o único daquela natureza a inventariar).
2. Herdeiros necessários
O art. 1.845, CC estabelece quem são os herdeiros necessários:
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
1. descendentes
2. ascendente
3. cônjuge (o companheiro não é herdeiro necessário, mas sim, facultativo)
Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser
estabelecidas pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo
de cujus no testamento. Ex.: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro
necessário é um caçador/caçadora de dotes, pq o cônjuge do herdeiro possui filho
fora do casamento e, em razão do regime da comunhão universal, esse filho
acabará por herdar o patrimônio do de cujus, etc. Inalienabilidade e
incomunicabilidade, pois o herdeiro é consumidor compulsivo e aposta em jogos de
azar, etc.
Art. 1.849.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à legítima.
3. Direito de representação
Existem duas maneiras diferentes de suceder:
a) Por direito próprio/cabeça;
b) Por representação.
Pressupostos (requisitos):
1) A morte do representado: não há representação de herdeiro vivo. Exceção:
ter sido declarado deserdado, indigno ou ausente. Não cabe na renúncia.
2) Parentesco em linha descendente: o representante deve ser descendente do
representado, ou, EXCEPCIONALMENTE, colateral – filho do irmão (sobrinho) do
autor da herança. A descendência é a civil e não apenas a biológica (adoção,
também).
3) Capacidade sucessória do representante em relação ao representado:
(legitimação para herdar). Deve ter legitimação para herdar. Ex. O filho substitui o
pai morto na herança do avô (linha descendente); ou filho substitui o pai pré-morto
na sucessão de um tio (linha colateral). Importante ressaltar a isonomia
Constitucional: igualdade dos filhos.
4) Inexistir solução de continuidade no encadeamento de grau entre o
representante e o representado: não se opera per saltum et omisso médio. Ex. o
bisneto não representa o filho do autor da herança se ainda vive o neto deste.
5) Que reste, no mínimo um filho do de cujus ou, na linha colateral um irmão do
falecido. Se não a sucessão será por direito próprio.
Efeitos
A representação produz dois efeitos:
1) O representante (representantes) só pode herdar o que herdaria o
representado, se vivesse (se vivo fosse) (art. 1854, CC). A porção é a mesma;
2) O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes (art.
1855, CC).
3) O renunciante à herança de uma pessoa pode inobstante representá-la na
sucessão de outra. Na renúncia, os descendentes do abdicante não herdam
por direito de representação (art. 1856, CC). Assim, os efeitos da renúncia não
passam da herança à qual houve manifestação de repúdio.
4) Os representantes estão obrigados a trazer à colação os bens doados ao
representado pelo autor da herança (art. 1791); quando os netos, representando
os pais, sucedem os avós, serão obrigados a trazerem colação, para igualdade
de legítima;
5) O representante é considerado um herdeiro legítimo (e necessário...Colaterais,
não), com todos os direitos inerentes (direito da saisina – art. 1572 – 1.784),
sendo igualitária sua posição relativamente aos co-herdeiros.
6) A responsabilidade do representante por dívidas do espólio se sujeita ao
benefício do inventário – responde por elas até o limite do quinhão;
7) A quota hereditária do representante não responde pelas dívidas do
representado, mas pelas do autor da herança.
8) O direito de representação se opera na sucessão legítima (excepcionalmente, na
testamentária, quando será chamada de substituição.
EXEMPLOS:
1º Exemplo: Se o de cujus deixa três irmãos, sendo que um deles já falecido
com filhos, a herança será dividida em três partes, cabendo uma para cada irmão
vivo e a terceira deverá ser repartida entre os sobrinhos que herdarão por
representação. Receberão a parte que caberia ao pai, se vivo fosse.
2º Exemplo: o de cujus deixa um (1) irmão vivo; um irmão (pré-morto) com
dois filhos e outro irmão (pré-morto) com três filhos. Divide-se em três partes iguais,
correspondente às três estirpes.
3º Exemplo: o de cujus deixa 3 irmãos vivos, 1 irmão pré-morto com filhos e
outro irmão pré-morto sem filhos. Divide-se em quatro (4) partes.
4º Exemplo: o de cujus deixa três irmãos vivos; um irmão pré-morto com
filhos; outro irmão pré-morto, com um filho pré-morto que tem um filho vivo. Divide-
se em quatro (4) partes... sobrinho-neto não herda.
Linha Ascendente
Art. 1852: O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas
nunca na linha ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se
encontra falecida, sem quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será
contemplado com toda herança. Os progenitores maternos nada herdarão.
QUESTÕES
EXAME VI - José, solteiro, possui três irmãos: Raul, Ralph e Randolph. Raul era pai
de Mauro e Mário. Mário era pai de Augusto e Alberto. Faleceram, em virtude de
acidente automobilístico, Raul e Mário, na data de 15/4/2005. Posteriormente, José
veio a falecer em 1º/5/2006. Sabendo-se que a herança de José é de R$ 90.000,00,
como ficará a partilha de seus bens?
(A) Como José não possui descendente, a partilha deverá ser feita entre os irmãos.
E, como não há direito de representação entre os filhos de irmão, Ralph e Randolph
receberão cada um R$ 45.000,00.
(B) Ralph e Randolph devem receber R$ 30.000,00 cada. A parte que caberá a Raul
deve ser repartida entre Mauro e Mário. Sendo Mário pré-morto, seus filhos Alberto e
Augusto devem receber a quantia que lhe caberia. Assim, Mauro deve receber R$
15.0000,00, e Alberto e Augusto devem receber R$ 7.500,00 cada um.
(C) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante (R$
30.000,00) será entregue a Mauro, por direito de representação de seu pai pré-
morto.
(D) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante, na falta de
outro colateral vivo, será entregue ao Município, Distrito Federal ou União.
EXAME VII - Edgar, solteiro, maior e capaz, faleceu deixando bens, mas sem deixar
testamento e contando com dois filhos maiores, capazes e também solteiros, Lúcio e
Arthur. Lúcio foi regularmente excluído da sucessão de Edgar, por tê‐lo acusado
caluniosamente em juízo, conforme apurado na esfera criminal. Sabendo‐se que
Lúcio possui um filho menor, chamado Miguel, assinale a alternativa correta.
A) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu
irmão, Arthur, tendo em vista que Lúcio é considerado como se morto fosse antes da
abertura da sucessão.
B) O quinhão de Lúcio será herdado por Miguel, seu filho, por representação,
tendo em vista que Lúcio é considerado como se morto fosse antes da
abertura da sucessão.
C) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu
irmão, Arthur, tendo em vista que a exclusão do herdeiro produz os mesmos efeitos
da renúncia à herança.
D) O quinhão de Lúcio se equipara, para todos os efeitos legais, à herança jacente,
ficando sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor
devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.
1. Conceito:
A noção de testamento está clara no art. 1.857 e 1.858 do Código Civil, sendo
considerado um “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”
(GONÇALVES, 2012, p. 228).
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a
qualquer tempo.
2. Características:
a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite
testamento por procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é mais
adequada e correta; é a principal característica dos testamentos. A
revogabilidade é da essência do testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do testador.
Não há a necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de mão
comum é defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o
pacto sucessório - proibido art. 1.863 CC. Assim é vedado o testamento
conjuntivo (mão comum), feito por duas ou mais pessoas, seja simultâneo
(disposição conjunta para beneficiar terceira pessoa), recíproco (instituindo
benefícios mútuos) ou correspectivo (disposições em retribuição de outras
correspondentes). Nada impede, contudo, que o casal faça cada um seu
testamento em que um deixa os bens para o outro. O que não pode é isso ser
feito em um mesmo ato. Podem fazer, no mesmo momento, mas em atos
diferentes.
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de formalidades
essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a validade e
a eficácia. O formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade de testar.
Exceção: testamento nuncupativo (de viva voz), admissível como espécie de
testamento militar (art. 1.896).
f) Gratuito: não exige do contemplado qualquer correspectivo, contrapartida ou
reciprocidade, ou seja, não há vantagens para o testador. Mesmo que haja
encargo para o beneficiário, o testamento segue sendo gratuito. Está contida
na unilateralidade. Não existe contra-prestação (exigível). Entretanto, o
herdeiro responde pelas dívidas (arts. 1.792 e 1.821).
g) Revogável: a vontade testamentária é essencialmente revogável (art. 1.969), é
ato de última vontade, desde que não tenha sido modificado; A revogabilidade
é conceito legal e da essência do testamento. É irrenunciável a liberdade de
revogar ou modificar o testamento. Toda renúncia é considerada não escrita.
Pode, contudo, o testador, modificar o testamento a qualquer momento e
quantas vezes quiser (art. 1.858). Exceção: o testamento é irrevogável com
relação a cláusula na qual eventualmente o testador tenha reconhecido filho
fora do matrimônio (art. 1.609, III). Se houverem vários testamentos
sucessivos, feitos pelo mesmo testador, com seu falecimento, terá validade
apenas o último, a não ser que sirva para completar o anterior.
h) Patrimonialidade não necessária: serve para dispor de parte ou de todo
patrimônio (parte disponível), bem como para instituir herdeiros, deserdá-los ou
retratar a deserdação (1.857, § 2º).
i) Ato causa mortis: a morte do testador é condição de eficácia do testamento,
com imediata abertura do processo sucessório. Assim, o testamento só produz
efeitos com a morte do testador. A abertura da sucessão é essencial para o
cumprimento das disposições contidas no testamento.
O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem
discernimento, de forma que se subentende que todos os demais possuem
capacidade para testar. Assim, podem testar os cegos e os analfabetos, por
exemplo. A norma do art. 1.860 é restritiva e só abrangem os casos específicos, não
permitindo interpretação extensiva.
Observação:
A capacidade deve ser verificada no momento da elaboração do testamento.
Na dúvida, decide-se pela validade do ato, em respeito ao princípio do in dubio
pro capacitate.
Os Tribunais (STF, especialmente) têm entendido que para a decretação da
nulidade de testamento deverá haver prova inequívoca da incapacidade do
testador.
Requisitos:
O art. 1.868, CC estabelece os requisitos e formalidades do testamento
cerrado. O testamento cerrado se compõe de algumas fases:
a) a elaboração do testamento. O Tabelião pode escrever e aprovar o
testamento (1.870). Assinatura do testamento é imprescindível. Entrega ao
Tabelião, acompanhado de 2 testemunhas. Requer a lavratura do auto de
aprovação (art. 1.869).
b) entrega do testamento. O testamento deve ser entregue pessoalmente pelo
testador ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo a
utilização de portador.
c) Participação das testemunhas. As testemunhas participam do ato de entrega
do testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião. Depois de aprovado, o auto
de aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador
e Tabelião. O auto de aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo
após a última palavra do testador. A solenidade de aprovação deve ser feita
sem interrupções.
e) Cerramento. Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião
dobra a cédula e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de
lacre sobre cada um. Se houver o rompimento do lacre pelo testador, não
terá validade o testamento. Se for feito o rompimento contra a vontade do
testador, deverão os interessados demonstrar ao juiz tal fato, para que não
anule o ato.
Requisitos:
O art. 1.876 apresenta os requisitos e formalidades do testamento particular.
a) Deve ser escrito e assinado pelo testador.
b) Inquirição das testemunhas em juízo (confirmar o testamento);
c) Pode ser feito em idioma estrangeiro;
d) A lei permite que terceira pessoa redija, pois pode ser datilografado;
e) Se for escrito a mão, deverá ser feito pessoalmente pelo testador.
f) Uma testemunha pode confirmar (Leite, 393).
g) Leitura e assinatura de 3 testemunhas
e. Testemunhas instrumentárias
A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir validade
ao ato.
Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo, o
art. 228, CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado com
as alterações do Estatuto da Pessoa com Deficiência):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o
terceiro grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de
condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os
recursos de tecnologia assistida. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
Formas:
- é hológrafo; simplificada; sem formalidades;
- é válido datilografado, desde que datado e assinado pelo testador;
- não exige testemunhas;
- pode ser escrito por meios mecânicos (jurisprudência dominante);
- deve ser escrito pelo disponente ou por terceiro;
- não exclui a forma pública, embora indique a particular.
Execução:
As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-se
as normas de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o
testamento cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.
Consequências:
Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte
integrante de um testamento.
- Não revoga testamento. Por este é revogável (1.884);
- É revogável por outro codicilo;
- Mais de um codicilo: Na dúvida, vale a última disposição;
- É válido exista ou não testamento;
- Sendo o codicilo parte integrante ou complementar do testamento,
anulado ou revogado este, deixa de existir aquele;
- As regras da capacidade no testamento valem para o codicilo.
Seu registro e cumprimento se dará de acordo com o art. 737, § 3.º, CPC/2015,
obedecendo as regras do testamento particular.
a. Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em
alto mar. Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888). Justifica-
se em caso de emergência e necessidade. Não prevalece se a embarcação estiver
em local onde o testador poderia ter desembarcado e testado de forma ordinária (art.
1.892). Caducará se o testador não morrer em viagem, nem nos 90 dias
subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária,
outro testamento (art. 1.891).
Requisitos
- viagem realizada em navio nacional (extensão do território nacional);
- navio de guerra ou mercante (transporte de pessoas de um porto a outro).
- testador esteja a bordo do navio.
- cédula testamentária seja registrada no diário de bordo.
- testamento fique sob a guarda do comandante.
Formas
- na forma do Público ou cerrado;
- exige apenas duas testemunhas;
- será lavrado, em regra, pelo Comandante;
- se o testador não puder assinar, alguém assina a rogo;
- o registro do testamento será no diário de bordo: parágrafo único, do art.
1888.
Formas e requisitos
- público ou cerrado, nos termos do art. 1.888, CC
- requisitos: os mesmos do marítimo.
- o comandante não se envolve na elaboração do testamento pois está
conduzindo a aeronave.
Caducidade: Efemeridade
Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:
a) não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito através
de uma forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art. 1892).
Requisitos
- Que a Força esteja “em campanha” (dentro ou fora do país) – mesmo missão
de paz.
- Que o testador esteja participando da guerra, em campanha, sem
possibilidade de se afastar para realizar o testamento pela forma ordinária.
- Qualquer pessoa envolvida – civil ou militar.
- Que não haja, no local, um tabelionato onde o testador possa dispor de seus
bens através de testamento público.
- Que a situação de perigo seja real.
Formas
Pode ser de 3 formas: público, cerrado ou nuncupativo.
- Público: o comandante da tropa ou diretor do hospital ou oficial de saúde
funcionará como tabelião. Lavrado perante duas testemunhas ou por três, caso o
testador não saiba assinar (uma delas assinará a rogo).
- Cerrado: o testador entregará o escrito, devidamente assinado, ao oficial de
patente mais acima, que o datará, indicará o lugar em que lhe foi apresentado,
assinando-o com as duas testemunhas, devolvendo-o ao apresentante.
- Nuncupativo: é feito de viva voz, perante duas testemunhas, por alguém que
esta empenhada em combate ou ferida, ou seja, a pessoa está exposta a risco de
vida e impossibilitada de usar a forma escrita. Se findar a guerra ou o testador
convalescer, cessarão os motivos que autorizam esta forma de testamento.
As declarações são feitas a duas testemunhas: que devem escrevê-las e
confirmar em juízo. É exceção e possui o risco, pois se o testador falecer, ficará
nas mãos das testemunhas.
a. Interpretação do testamento:
Quando da interpretação das cláusulas testamentárias, deve-se atentar para
buscar a verdadeira intenção do testador, ainda que não tenha se saído bem com as
palavras escritas. É nesse sentido a determinação do art. 1.899, CC.
b. Regras proibitivas:
Nomeação a termo: Art. 1898
A designação do tempo: é vedada, com exceção do Fideicomisso. É cláusula
não escrita. A herança se transmite imediatamente, a partir do óbito. Aberta a
sucessão o herdeiro não tem o que aguardar.
Reafirma o princípio da saisine – a herança transmite-se com a morte.
Nesse caso, não há o prejuízo da nomeação em si, mas sim da designação do
termo (inicial ou final).
Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Não admite nenhuma espécie de pacto sucessório (vedação de contrato que
tenha por objeto herança de pessoa viva – art. 426, CC).
Essa condição captatória “é a que representa um induzimento, mediante
nomeação e favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também inclua
o captador, ou terceiro, em suas disposições testamentárias, como beneficiário”
(Gonçalves, p. 331).
Ex.: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu testamento.
Ex.: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me transmitir
em seu testamento.
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através da
plena liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese, poderia
haver influência do captador sobre o testador.
Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II
Não há como ser cumprido um ato de disposição de última vontade se o
beneficiário não puder ser identificado. Nesse sentido, não é válida a disposição
testamentária em que conste: “beneficio meus amigos” ou “beneficio a pessoa mais
digna da cidade”. Trata-se de expressões vagas, de forma que não há como precisar
quem é a pessoa que o testador pretende beneficiar.
Quanto mais claro, melhor será. Contudo, não é preciso indicar o nome da
pessoa, desde que existam características possíveis de identificar o beneficiário.
Ex.: deixo x% dos meus bens para o primeiro filho da minha irmã Fulana, que
nascer após a minha morte.
Beneficiar pessoa incerta, a ser identificada por terceiro: Art. 1.900, III
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido,
mas sim do terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.
Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor do
legado: Art. 1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido.
Quem deve fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua
ordem.
Ex.: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que Fulano
decidir.
Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os
seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato
do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim
como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a
suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
c. Regras permissivas:
Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há
qualquer encargo, condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha herança.
Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do
negócio jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.
Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro
dependerá do implemento da condição. O implemento da condição terá efeito
retroativo (ex tunc). Se não houver o implemento da condição, a cláusula
testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar,
não mais receberá o valor definido pelo testador.
Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá
cumprir, caso aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu patrimônio,
com o encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do
encargo e a perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina
entende que, descumprido o encargo, os interessados deverão propor ação judicial
para que seja declarada a ineficácia da deixa testamentária.
Disposição motivada: art. 1897
É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear
alguém como seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso queira,
não pode haver a confusão com obrigação modal (de encargo), pois se trata de fatos
passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do meu
filho no acidente de carro sofrido em 2006.
Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911
O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou
gravame sobre os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade
que pode ser imposta, traz como consequência a impenhorabilidade e a
incomunicabilidade desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848,
verifica-se que a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão somente
a imposição de cláusulas para a legítima. Quanto ao testamento ou legado, não há a
imposição de justa causa.
8. Rompimento do testamento
Ocorre a ruptura do testamento quando “há a superveniência de uma
circunstância relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador,
como, verbi gratia, o surgimento de um herdeiro necessário” (Gonçalves, p. 457)
Enquanto a revogação depende da vontade do testador, o rompimento
independe de sua vontade, sendo determinado pela lei.
a. Espécies de revogação
REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento,
onde é indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-se
a mesma solenidade pra a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a
revogação seja efetuada por outro testamento da mesma modalidade, mas,
necessariamente, tem de ser feita por outro testamento. Ex: testamento marítimo
pode revogar público; cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos
dizeres e o conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a
contradição, permanece sempre a disposição mais recente. O simples fato de existir
novo testamento não significa que tenha revogado o anterior. Ambos podem
coexistir, desde que não sejam contraditórios, ou seja, desde que se complementem.
b. Formas de revogação:
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma
total ou parcial.
1) Total = revogação pura e simples: declara-se, em novo testamento, a
revogação do anterior, não fazendo qualquer limitação ou reserva.
2) Parcial: limita-se ao tópico atingido – art. 1.970 CC
3) A revogação de um testamento, mas existindo outro, sem que a este haja
alguma referência, leva a concluir quanto à revogação de apenas um, perdurando o
outro.
4) A revogação do testamento de reconhecimento de filho é válida.
Contudo, revoga-se o testamento, não a declaração de reconhecimento – esta
é intangível – única forma irrevogável do testamento.
5) O novo testamento não atinge os legados, pois estes são especificações dos
bens.
c. Efeitos da revogação:
- priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na parte
atingida, se parcial;
- passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus efeitos.
a. Situações OU Classificação:
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe
pertença no momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não
pertencendo ao testador na época do testamento, após o testamento, vier a integrar
o patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele
herdeiro) a terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não
cumprido, equivale à renúncia.
Art. 1.915 – confuso. Como deve o herdeiro cumprir o legado.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o
legatário substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva
cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e a
casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de regra,
cabe ao testador fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes alimentos,
atendendo para as forças da herança e para as necessidades do alimentário.
Exemplo: compelir herdeiro a pagar alimentos a terceiros.
c. Direito de Pedir:
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada por
legado.... art. 1.923 CC.
Sucessão testamentária:
Se o falecido tiver deixado 10% de seu patrimônio (ou uma casa) para A e B, a
herança será dividida: 90% (por sucessão legítima), entra A, B e C (30% para cada
um); 10% entre A e B. Como, neste caso, o testador não deixou expresso como
seria a divisão dos 10% entre A e B, caso B faleça, A receberá todos os 10% (pelo
direito de acrescer). Diferente será se o falecido disser: “Deixo 10% do meu
patrimônio para A e B, em parte iguais” (ou em qualquer percentual definido). Neste
caso, não haverá o direito de acrescer.
b. Fundamentos:
a) Decorrência da vontade presumida do testador – quando nomeia vários
beneficiários pela mesma disposição testamentária, para toda a herança ou
parte dela, sem determinar a porção de cada um; ou quando deixa a vários
legatários a mesma coisa ou parte dela. Presume-se que ele desejava que
se um faltasse, os demais ficassem com a herança.
b) Quando ocorre o direito de acrescer, o acréscimo é forçado, pois não pode o
beneficiário (co-herdeiro ou co-legatário) aceitar sua parte e renunciar ao
direito de acrescer. Ademais, nos termos do art. 1.943, § único, os co-
herdeiros ou co-legatários, aos quais acresceu o quinhão daquele que não
quis ou não pôde suceder, ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o
oneravam.
c. Pressupostos:
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos
devem estar presentes:
a) Nomeação de vários herdeiros ou legatários na mesma disposição
testamentária;
b) Atribuição sem discriminar as porções ou o quantum, no mesmo bem ou
porção de bens.
c) A falta ou impossibilidade de herdar de um herdeiro ou legatário instituído no
testamento.
d) O testamento não pode ter indicado uma pessoa determinada para que, na
falta do herdeiro ou legatário, receba sua parte – não pode haver substituto.
e) Indivisibilidade do bem, no caso de legados.
f) Indeterminação das quotas hereditárias.
g. Legado de usufruto
Testamento institui o exercício do usufruto em favor de duas ou mais pessoas.
O usufruto é o direito de usar e gozar da coisa, por tempo certo ou vitaliciamente.
Haverá o direito de acrescer quando a nomeação for conjunta, sem especificação
das quotas. Assim, são requisitos: a) que haja a nomeação conjunta, sem especificar
as frações em que incide o usufruto; b) sempre sobre um bem individuado.
a. Substituição vulgar
Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do
herdeiro ou legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário não
puder ou não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição
principal não produzir efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto herda
diretamente do falecido.
A substituição vulgar pode ser:
a) Simples ou singular, um só substituto para um ou muitos herdeiros
instituídos
b) Coletiva ou plural, quando há mais de um substituto a ser chamado
simultaneamente
c) Recíproca, quando são nomeados dois ou mais beneficiários,
estabelecendo que reciprocamente se substituam. Neste caso, os herdeiros
recolherão a cota do que faltar.
b. Substituição fideicomissária
Trata-se das situações nas quais o testador estabelece um beneficiário, mas
com a incumbência de, após, por sua morte, ou em vida, transmitir o bem a outra
pessoa, inclusive sob certa condição.
Existem três figuras: a) Fideicomitente – o instituidor, testador, doador; b)
Fiduciário (ou gravado) – que recebe o bem para, após, efetuar a transmissão; c)
Fideicomissário (ou substituto) – pessoa que recebe o bem quando da morte do
fiduciário.
O testador fixa o tempo do fideicomisso: vitalício (até a morte do fiduciário); a
termo (em tempo prefixado pelo testador) ou condicional (se depender de
implementação de alguma condição resolutiva).
Trata-se de uma vocação dupla, pois tanto o fiduciário, quanto o fideicomissário
se tornam titulares da herança. O fiduciário enquanto estiver vivo ou não ocorrer a
condição ou termo. O fideicomissário após estes períodos.
Há direito de acrescer – art. 1.956, CC: Se o fideicomissário aceitar a herança
ou legado, terá direito a receber também aquilo que acresceu aos fiduciários.
14. Testamenteiro:
Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus
encarrega de fazer cumprir suas disposições de última vontade.
O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos (quando a
atuação é conjunta, cumulando funções) ou separados (quando o exercício da
testamentaria é feito uns em falta dos outros).
Testamentaria – conjunto de funções que são realizadas pelo testamenteiro, o
complexo de direitos e obrigações.
Trata-se de encargo complexo na execução do testamento – não é múnus ou
função pública, mas encargo de ordem privada, de caráter facultativo. Há ampla
liberdade de escusar-se à testamentaria. Um ou mais, conjuntos ou separados, para
cumprir a última vontade.
a. Espécies de testamenteiro:
O testamenteiro pode ser:
Instituído: quando o testador o nomeia
Dativo: quando não havendo testamenteiro nomeado ou, se o nomeado
recusar a testamentaria, o juiz nomeia alguém para o encargo – art. 735,
§ 4.º, CPC/2015.
Testamenteiro universal: a quem se confere a posse e a administração
da herança ou de parte dela, caso não haja herdeiros necessários – art.
1.977. O art. 1.978 determina que o testamenteiro universal pode
requerer o inventário e cumprir o testamento.
Testamenteiro particular: não desfruta do direito de posse ou
administração da herança por não tê-los ou por tê-los perdido.
b. Nomeação do testamenteiro:
O testamenteiro pode ser nomeado no próprio testamento ou codicilo. O
testador pode, ainda, instituir um ou vários testamenteiros para atuar em conjunto ou
em separado. Se não houver testamenteiro, o cumprimento do testamento deverá
ser cumprido pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou qualquer herdeiro. Se
não houver testamenteiro, o juiz nomeará dativo, obedecendo a ordem (§ 4.º, art.
735, CPC/2015).
c. Aceitação do encargo:
A pessoa que é nomeada testamenteira pode aceitar ou não o encargo. Em se
tratando de um múnus privado ninguém é obrigado a exercer.
d. Atribuições do testamenteiro:
1.979, CC – Registro do testamento – como o testamenteiro é o detentor (em
regra) do testamento, a ele incumbe (compete/pode) levá-lo a registro.
1.980, CC – Obrigação do Testamenteiro: cabe ao testamenteiro a execução
do testamento. Para tanto, deve:
1. apresentar o testamento em juízo para o registro.
2. depois de registrado o testamento, dar cumprimento, ou seja, executar as
disposições nele constantes – prazo – 180 dias.
1.982, CC - O testamenteiro – executor da última vontade – age de acordo com
os poderes conferidos pelo Testador.
1.983, CC - Prazo de 180 dias: suficiente. O prazo pode ser prorrogado (§
único)
1.984, CC – Na ausência de nomeação de testamenteiro, a execução
testamentária, compete a um dos cônjuges ou herdeiro nomeado pelo juiz.
3. defender a validade do testamento – art. 1.981, CC
1.981, CC - Propugnar a validade do testamento: deve defender a validade do
testamento, contra quem impugnar em juízo.
4. exercer as funções de inventariante, se estiver na posse e na administração
da herança ou se não houver cônjuge, nem herdeiros necessários.
1.990, CC - O testamenteiro exerce as funções de inventariante, na hipótese do
testador “tiver distribuído toda a herança em legados”.
5. prestar contas – art. 1.980.
QUESTÕES
EXAME X - Rogério, solteiro, maior e capaz, estando acometido por grave
enfermidade, descobre que é pai biológico de Mateus, de dez anos de idade,
embora não conste a filiação paterna no registro de nascimento. Diante disso,
Rogério decide lavrar testamento público, em que reconhece ser pai de Mateus e
deixa para este a totalidade de seus bens. Sobrevindo a morte de Rogério, Renato,
maior e capaz, até então o único filho reconhecido por Rogério, é surpreendido com
as disposições testamentárias e resolve consultar um advogado a respeito da
questão.
A partir do fato narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Todas as disposições testamentárias são inválidas, tendo em vista que, em seu
testamento, Rogério deixou de observar a parte legítima legalmente reconhecida a
Renato, o que inquina todo o testamento público, por ser este um ato único.
B) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é
válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; a
disposição testamentária relativa aos bens deverá ser reduzida ao limite da
parte disponível, razão pela qual Mateus receberá o quinhão equivalente a 75%
da herança e Renato o quinhão equivalente a 25% da herança.
C) Todas as disposições testamentárias são inválidas, uma vez que Rogério não
poderia reconhecer a paternidade de Mateus em testamento e, ainda, foi
desconsiderada a parte legítima de seu filho Renato.
D) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida,
devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; é, contudo,
inválida a disposição testamentária relativa aos bens, razão pela qual caberá a cada
filho herdar metade da herança de Rogério.
EXAME XV - Mateus não tinha mais parentes, nunca tivera descendentes e jamais
havia vivido em união estável ou em matrimônio. Há alguns anos, ele decidiu fazer
um testamento e deixar todo o seu patrimônio para seus amigos da vida toda,
Marcos e Lucas. Seis meses depois da lavratura do testamento, por força de um
exame de DNA, Mateus descobriu que tinha um filho, Alberto, 29 anos, que não
conhecia, fruto de um relacionamento fugaz ocorrido no início de sua faculdade.
Mateus reconheceu a paternidade de Alberto no Registro Civil e passou a conviver
periodicamente com o filho. No mês passado, Mateus faleceu.
Sobre sua sucessão, assinale a afirmativa correta.
A) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Alberto.
B) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Marcos e Lucas, por força do testamento.
C) Alberto terá direito à legítima, cabendo a Marcos e Lucas a divisão da quota
disponível.
D) A herança de Mateus caberá igualmente aos herdeiros.
EXAME XX – Antônio deseja lavrar um testamento e deixar toda a sua herança
para uma instituição de caridade que cuida de animais abandonados. O único
parente de Antônio é seu irmão João, com quem almoça todos os domingos.
Antônio não possui outros parentes nem cônjuge ou companheiro. Antônio
procura você na condição de advogado e indaga se a vontade dele é tutelada
pela lei. Diante da indagação de Antônio, assinale a afirmativa correta.
A) Antônio pode deixar toda a herança para a instituição de caridade, uma
vez que seu irmão não é seu herdeiro necessário.
B) Antônio não pode testar em favor da instituição de caridade que cuida de
animais, uma vez que a herança cabe inteiramente a parente vivo mais próximo,
no caso, seu irmão.
C) Antônio pode deixar por testamento apenas metade da herança para a
instituição de caridade, uma vez que a outra metade pertence por lei a seu irmão,
a quem deve alimentos.
D) Antônio pode deixar para a instituição de caridade 3/4 de seu patrimônio, uma
vez que é preciso garantir no mínimo 1/4 da herança a seu irmão bilateral.
IV – INVENTÁRIO E PARTILHA
1. Inventário
Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio é,
desde logo, transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo com o
art. 1.784, CC. Como a herança é transmitida “como um todo unitário”, é preciso que
seja feita a individualização de cada quota parte dos herdeiros, a fim de terminar
com o estado de comunhão. Nesse sentido, deve-se instaurar o processo de
inventário, para que seja possível realizar a partilha dos bens e individualização dos
quinhões hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de
enumerar e catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao
falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do CPC/2015.
2. Inventário negativo
Mesmo que não existam bens, é possível que seja feito o processo de
inventário. Serve, tão somente, para comprovar que aquele que faleceu não possui
bens a inventariar.
Ex.: art. 1.523, I – causa suspensiva – viúvo que não deu partilha aos filhos não
deve casar – regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, I). É possível que
esta penalidade não seja imposta se restar comprovado que não haverá prejuízo
aos filhos. A forma de fazer essa prova é o inventário negativo.
Será dada abertura ao inventário, feita a pesquisa de bens e a sentença judicial
declarará a inexistência de bens a serem partilhados.
3. Inventário conjunto
Em situações excepcionais é possível que seja realizado o inventário de duas
pessoas ao mesmo tempo, no mesmo processo, visando a economia processual.
HIPÓTESES: Art. 672, CPC/2015 – identidade de herdeiros, herança deixada pelos
dois cônjuges ou companheiros ou dependência de uma das partilhas em relação à
outra.
4. Dispensa de Inventário
Dependendo dos bens que componham o acervo hereditário o inventário pode
ser dispensado – Lei 6.858/80 - Pagamento, aos Dependentes ou Sucessores, de
Valores Não Recebidos em Vida pelos Respectivos Titulares – FGTS (Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço) e PIS-PASEP (Fundo de Participação) – art. 666,
CPC/2015.
Outros bens:
- bens que o de cujus tenha apenas a posse – não é necessário fazer
inventário – aquisição originária da propriedade – uscucapião.
- contas poupança – se o de cujus tiver um segundo titular na conta, este
poderá sacar os valores, ainda que a jurisprudência tenha uma tendência a deferir
só a metade dos valores.
- Alvará judicial: em sendo necessário o levantamento de importâncias em
dinheiro ou venda de algum bem antes de completado o inventário, é possível que
as partes façam requerimento em juízo de alvará judicial para tal fim. Normalmente a
justificativa utilizada é o pagamento das custas do inventário, impostos, taxas, etc.
5. Inventário Judicial
O inventário judicial é divido em:
a) inventário judicial pelo rito tradicional – arts. 610 a 658, CPC/2015;
b) inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário – art. 659, CPC/2015;
c) inventário judicial pelo procedimento do arrolamento comum – art. 664,
CPC/2015.
Foro competente
O foro competente para processamento do inventário é o foro do último
domicílio do de cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa (arts.
1.785 e 1.796, CC e art. 48, CPC/2015).
Administrador provisório
Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a
administração da herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado pelo
juiz (art. 613, CPC/2015). Este tem a função de representação do espólio, devendo
trazer ao acervo frutos percebidos, tendo direito de ser reembolsado pelas despesas
necessárias. Responde por danos a que der causa (art. 614, CPC/2015).
Nomeação de inventariante
Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e
nomeará o inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações
(prazo de 20 dias) (art. 620, CPC/2015). A função do inventariante é administrar os
bens do espólio, sendo seu representante legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial6 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante é
trazida pelo art. 617, CPC/2015:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
6 O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)
qualquer momento, se comprovada a prática de determinados fatos, descritos no art.
622, CPC/2015:
Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou
sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de
cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas necessárias para
evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
Primeiras declarações
Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações no
prazo de 20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620, CPC/2015):
I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o
lugar em que faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos
herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;
IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,
inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se
encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem
dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de
sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
Fase de impugnações:
Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração
prestada pelo inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as
declarações sejam retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não a
documental, especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar a
qualidade de herdeiro – o juiz deverá remeter o impugnante para as vias ordinárias
(dilação probatória) e suspender o inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).
Últimas declarações:
Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações à
avaliação, o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636,
CPC/2015), quando poderá descrever bens que, porventura tenham sido esquecidos
(mesmo que por desconhecimento). As partes serão ouvidas sobre as últimas
declarações, podendo alegar a sonegação de bens pelo inventariante somente
depois da última declaração feita por ele, de que não existem outros bens a
inventariar (art. 621, CPC/2015).
6. Inventário administrativo:
A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa.
Não há obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes e
concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas (art.
610, § 1.º, CPC/2015).
Requisitos/pressupostos:
Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência
de litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva
desburocratizar e agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha.
Se o testamento já foi anulado, pode ser feito o inventário extrajudicial, fazendo
constar da Escritura as informações da ação anulatória transitada em julgado.
Os herdeiros e meeiros são representados por advogado (indispensável,
conforme art. 610, § 2.º, CPC/2015) e devem assinar a Escritura.
Se por todos reconhecida a União estável do falecido, poderá o companheiro
sobrevivente promover o inventário extrajudicial. Do contrário, via judicial e com
reconhecimento.
A opção pela via extrajudicial, poderá, inclusive, ser solicitada durante o trâmite
do procedimento judicial do inventário (arrolamento), mediante a suspensão ou
desistência.
Na via judicial existe a fixação da limitação em face da competência territorial:
local do óbito/último domicílio do de cujus. No âmbito extrajudicial, a escolha do
Tabelião é liberalidade das partes, não se condicionando ao domicílio, situação dos
bens ou local do óbito.
7. Sonegados:
Aberto o inventário, é dever do inventariante apresentar as primeiras e últimas
declarações, com a indicação e caracterização dos bens a serem partilhados. Caso
o inventariante ou algum herdeiro não descreva algum bem, intencionalmente, de
forma a desfalcar o ativo do espólio, cometerá o delito civil de sonegação,
sujeitando-se às penas dos arts. 1.992 e 1993, CC.
“Sonegados são os bens ocultados maliciosamente, enquanto sonegação é
a conduta de quem age deste modo, negando informações necessárias ao
conhecimento do monte-mor, com isto, desviando ou deixando de restituir os bens
da herança. (Nader, 2007, p. 577)”.
São diversas as hipóteses de sonegação.
Sonegação – omissão ou ocultação dolosa;
Intenção maliciosa de ocultar os bens do espólio e fraudar a expectativa dos
herdeiros.
Penas:
Os arts. 1.992 e 1.993 do CC determinam as penas aplicadas; ao herdeiro que
sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem como
aos seus frutos; se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da
inventariança.
A pena é civil. Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do
bem sonegado, que é imposta por sentença.
A pena só poderá ser imposta em ação ordinária (LEITE, p. 724). Se o
sonegador for testamenteiro perde direito à vintena e é removido do cargo de
inventariante.
Para que tenha cabimento a ação de sonegados não é preciso que o
sonegador negue a restituição dos bens, mas que tão somente não os descreva,
estando tais bem em seu poder, ou em poder de terceiros, com sua ciência.
Art. 1.994 – ação de sonegados.
O prazo prescricional é de 10 (dez) anos. Foro é do inventário
9. Colação
Instituto de origem romana, a colação é reunião dos bens recebidos pelo(s)
descendente(s), a título de liberalidade (doação), antes da abertura da sucessão.
O que exceder a metade disponível, para cálculo das legítimas, devem ser
conferidos na parte indisponível.
Art. 2.002 - Apenas os descendentes estão sujeitos a colação.
Art. 2003 - A colação visa igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge
sobrevivente.
Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor
calculado pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos após
a entrada em vigor desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março de 2016,
aplica-se a regra do art. 2004 – O valor da colação é aquele atribuído na
liberalidade; se não tiver valor, por ocasião da partilha, se estimará o valor da época
da liberalidade( os bens serão avaliados com base no valor do tempo da
liberalidade); as benfeitorias, frutos e rendimentos são do donatário, “que responde
pelos danos e perdas que eles sofrerem”(§§1º e 2º, do art. 2004).
a. Dispensa da colação.
“O doador pode dispensar o donatário da colação, determinando que a
liberalidade saia de sua metade disponível, contanto que a doação não exceda o
valor da quota disponível, comutado o seu valor ao tempo da doação” (Gonçalves, p.
542).
ART. 2005 – Contanto que não excedam a parte disponível (sua metade),
computada ao tempo da liberalidade (doação).
Deve ser expressa tal condição, em que pese inexistir forma sacramental.
Se a doação não exceder a parte disponível, não há que falar em colação. Se
exceder, o excesso deve ser colacionado. (Cf. LEITE, p. 770).
10. Partilha
Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e cessionários,
separando-se a meação do cônjuge sobrevivente. É a forma de terminar com a
comunhão dos bens, com o condomínio (salvo se não for possível dividir o bem –
quando deverá ficar em condomínio, sendo, apenas, definido o percentual de
propriedade de cada herdeiro sobre o bem).
Se houver apenas um herdeiro, providencia-se a adjudicação dos bens, pois
não haverá partilha dos bens, nem divisão, de forma que poderá haver o inventário
simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015
b. Forma de partilha:
ART. 2014 –ART. 2015 –
a) Escritura Pública;
b) Termo nos autos do inventário;
c) Escrito particular homologado;
c. Plano de partilha:
Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.
Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de
quinhão e o juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que deverá
ser efetivada pelo juiz.
ART. 2017 – Igualdade possível: quanto à natureza, valor e qualidade.
Igualdade é equidade. Princípio fundamental da partilha.
Neste caso, se o juiz tiver de decidir a partilha, normalmente optará pela mais
justa e equânime possível (provavelmente, dividir tudo entre todos).
d. Partilha em vida:
A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via escritura
pública ou testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos herdeiros
necessários.
ART. 2018 – Partilha em vida: possibilidade de ser fazer a partilha em vida ou
por testamento, reservada a legítima dos herdeiros necessários.
Art. 2019: Divisão Cômoda: Venda Judicial: Divisão do valor apurado:
“Dos bens insuscetíveis de divisão cômoda”: bens que não o couberem na
meação do cônjuge (ou companheiro) ou no quinhão do herdeiro, serão vendidos
judicialmente.
a) venda judicial;
b) cessão de direitos;
c) partilha-se o valor apurado.
d) Parágrafo Primeiro: adjudicação a todos. Um, dois ou três podem requerer a
adjudicação (total das quotas). Não se fará a venda se os herdeiros
requerem a adjudicação.
e. Sobrepartilha:
ART. 2022 –
a) Os bens sonegados ficam sujeitos a sobrepartilha;
b) quaisquer outros que se tiver ciência após a partilha.
Se a partilha foi feita com dolo ou outro vício de consentimento, cabe ação de
anulação e, não sobrepartilha.
1-A, 2-A
1-B
CADERNO DE QUESTÕES
OAB
DIREITO CIVIL – PROF. MAITÊ
1ª FASE
1-C, 2-D
1-B, 2-D
1-D, 1-B