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Unidade I – Família, incolumidade pública e saúde pública sob a tutela

penal

Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940)

OBJETIVOS DA UNIDADE

⦁ Apresentar e analisar os principais bens jurídicos protegidos pelos


crimes contra a família, a incolumidade pública e a saúde pública;

⦁ Levar o aluno a uma análise crítica das consequências da


criminalização de certas condutas;

⦁ Capacitar o aluno a identificar as principais características doutrinárias


de alguns dos crimes contra a família, a incolumidade pública e a
saúde pública;

⦁ Apresentar o entendimento jurisprudencial recente, em especial do


STF e STJ, sobre alguns pontos controversos dos principais crimes
contra a família, a incolumidade pública e a saúde pública.

TÓPICOS DE ESTUDO

Família e casamento

– Bigamia

Estado de filiação

– Registro de nascimento inexistente

– Parto suposto, supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil do


recém-nascido

Incolumidade pública e perigo comum

– Incêndio (Criminalização do incêncdio, depende dos aspectos como local


do fato, intenção do agente com a pratica de tal conduta, bens e vítimas
atingidos e a substância utilizada)

– Explosão

– Uso de gás tóxico ou asfixiante

– Inundação

– Desabamento ou desmoronamento

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Saúde pública

– Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais

– Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica

– Charlatanismo

– Curandeirismo

Poliamor: Efeitos obrigacionais e requisitos

Família e casamento

Constituição Federal: Casamento x União Estável

Casamento: Direitos e obrigações do Casal, artigo 1.566 do Codigo Civil,


como a fidelidade, vidade em comum, assitência comum, guarda dos filhos e
respeito mútuo.

O legislador ao optar por proteger o casamento enquanto organização


monogamica, estabelece que uma pessoa não poderá se casar legalmente
por duas vezes sob pena de haver Bigamia: Art. 235, CP - Contrair alguém,
sendo casado, novo casamento. Havera nulidade do segundo casamento.

A Constituição Federal art. 226, § 3º Para efeito da proteção do Estado, é


reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Equipara a
união estável ao casamento, inviabilisando viver em casamento e união
estável ou em duas uniões estáveis concomitantemente. Logo, apenas
diante da separação de fato ou da dissolução da união estavel é que pode
haver uma nova união para que não se caracterize concubinato, conforme
art.1.727 do código civil: As relações não eventuais entre o homem e a
mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.

Poliamor: relações amorosas com mais de um parceiro simultaneamente,


hoje pela lei a poligamia é proibida e a união estável tem no máximo efeitos
obrigacionais de sociedade de fato caso prove efetivo aporte de capital ou
trabalho, contribuindo na formação de patrimonio constituido em nome da
outra pessoa para avaliação dos direitos do socio. Art. 987. Os sócios, nas
relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a
existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
conforme dispõe o art. 987 do código civil a prova da sociedade de fato
requer testemunhas e comprovação escrita.

Nesse sentido, Machado (2017, p. 682) afirma que família num “sentido
amplo, seria o grupo de pessoas ligadas por vínculos de descendência ou de
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uma mesma origem sanguínea, abrangendo, também, pessoas ligadas a
esses descendentes pelo instituto do casamento e da afinidade. Em sentido
estrito, a família é o grupo ou comunidade composto por cônjuges,
companheiros e pelos filhos destes”.

No Brasil, a própria Constituição Federal protege a família, estabelecendo,


em seu art. 226, que este é um instituto tradicional que serve tanto de base à
sociedade como de sustentação ao próprio Estado. Vem, daí, o por que de
merecer proteção especial: afinal, enquanto um dos principais espaços de
organização social, o núcleo familiar, em nosso ordenamento jurídico, é de
suma importância para o desenvolvimento do indivíduo, indo ao encontro do
princípio da dignidade da pessoa humana.

Dada a importância da família no contexto brasileiro, tem ela também abrigo


no Código Penal, em que há um título inteiro dedicado à tutela dos interesses
da família (Título VII), com quinze artigos (art. 235 até o art. 249) sobre esse
tema. Neles, foram elencadas aquelas condutas suscetíveis de lesionar a
organização familiar enquanto instituto jurídico merecedor de proteção em
alguma de suas dimensões, como o casamento; o estado de filiação; a
garantia de assistência familiar em relação à subsistência e ao amparo
material e moral de seus membros; o pátrio poder; a tutela; e a curatela.

Assim como o conceito de família, o casamento, enquanto instituto jurídico,


passou por mudanças na interpretação de seu sentido e efeitos jurídicos.
Antes compreendido como mera união legal baseada na afetividade entre um
homem e uma mulher, com o intuito de constituir uma família, o casamento
no Brasil passou a abranger também a união entre pessoas do mesmo sexo
como entidade familiar, possibilitando a concessão da tutela jurídica
patrimonial, alimentícia, sucessória e penal também a esse grupo de
indivíduos.

O Código Penal não detalha nem define as figuras do casamento e suas


elementares típicas (sendo assim, norma penal em branco); logo, devemos
nos remeter ao Código Civil para compreendermos o sentido e a aplicação
das penalidades previstas aos comportamentos ofensivos ao casamento (art.
235 a 239), indo ao encontro de uma interpretação sistemática de nosso
ordenamento jurídico.

Ponto importante em que devemos prestar atenção é o fato de as


penalidades previstas nos crimes contra o casamento aplicarem-se
exclusivamente ao instituto do casamento, sendo vedado estendê-las à união
estável. Como o emprego da analogia in malam partem é proibida no direito
penal, não é permitida a realização de qualquer processo interpretativo que
alcance a união estável com o objetivo de inclui-la nas hipóteses de crimes
contra o casamento e conferir-lhe proteção penal, embora ela goze da

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mesma tutela usufruída pelo casamento no direito cível.

BIGAMIA – Art. 235

Figura 1. Pessoa solteira que contrai casamento com pessoa casada - pena de reclusão de
um a três anos. Fonte: Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 2014.

Iniciando o título sobre crimes contra a família e o capítulo acerca dos crimes
contra o casamento, a bigamia é tipificada no art. 235 do Código Penal, com
pena de reclusão de dois a cinco anos. Pode ser entendida como “a
contração de casamento por pessoa regular e validamente casada, conforme
preceitos contidos no Código Civil pátrio em seu art. 1.51 (MACHADO, 2017,
p. 686-687).
Como podemos notar, a celebração de união estável não é suficiente para
caracterizar a bigamia. Contudo, as hipóteses do Código Civil de casamento
nulo e anulável (de ambos os casamentos), previstas nos arts. 1.548, 1.550,
1.556, 1.557 e 1.558, são aptas a encerrar o feito criminal relativo à bigamia
ou mesmo excluir sua tipicidade (no caso do segundo casamento, sua
nulidade deve se basear em motivo distinto do próprio impedimento causado
pelo matrimônio anterior, nos termos do art. 235, § 2º, do Código Penal).
Vale lembrar que nas hipóteses de anulação do casamento, a exclusão da
tipicidade da conduta submete-se ao art. 92 do Código de Processo Penal,
sendo a ação penal suspensa até que o juízo cível dirima a controvérsia, por

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sentença transitada em julgado, sobre o estado civil das pessoas.
Ao criminalizar a bigamia, o legislador optou por proteger, como bem jurídico,
a instituição do casamento enquanto instituição familiar estável ou a ordem
jurídica matrimonial como organização da família, com base no princípio
monogâmico.
Analisemos agora a conduta propriamente criminalizada na bigamia. Trata-se
de crime material, cuja conduta típica consiste em alguém contrair, sendo
casado, novo casamento, de acordo com todas as formalidades legais
exigidas (há, portanto, uma forma vinculada, nos termos dos arts. 1.525 a
1.542 do Código Civil). É, como podemos notar, um delito comissivo
(consistente num agir) que exige um resultado naturalístico a partir da ação
de necessariamente duas pessoas.

Devemos notar que o sujeito ativo na bigamia (ou seja, o agente que comete
o crime) deve ser pessoa regularmente casada que se casa novamente,
estando ciente de sua condição impeditiva (trata-se de delito de mão própria,
já que requer uma qualidade específica do sujeito). Já o sujeito passivo (isto
é, aquele que sofre a prática do crime) poderá ser o Estado (sujeito passivo
primário, imediato ou direto); o cônjuge do primeiro casamento (lembrando
que o impedimento prevalece mesmo que este concorde com o segundo
casamento) e o cônjuge do segundo casamento, se este estiver de boa-fé,
ou seja, se desconhecer o impedimento (sujeitos passivos mediatos ou
indiretos). Se, por outro lado, o cônjuge do segundo casamento tiver ciência
desse impedimento, terá pena mais branda enquanto coautor do crime,
caracterizando a figura penal privilegiada prevista no § 1º do art. 235 do
Código Penal.

Vejamos, agora, alguns exemplos de bigamia:

Exemplo: Antônio é casado com Beatriz, e Denise é solteira. Se Antônio vier


a se casar com Denise, haverá bigamia cometida contra Beatriz (cônjuge do
primeiro casamento). Se Denise (cônjuge do segundo casamento) não
souber que Antônio é casado, ela não sofrerá punição (casou-se de boa-fé).
Se, por outro lado, Denise souber que Antônio é casado, será punida com
reclusão ou detenção, de um a três anos (é a forma privilegiada do delito,
conforme estabelece o § 1º do art. 235).

Importante lembrarmos que aquele que se casa no exterior e, detendo


estado civil de casado, contrai novo casamento no Brasil também incorre no
delito de bigamia. Afinal, o casamento realizado no exterior deverá ser
homologado no órgão competente no Brasil para que produza seus efeitos
legais. Quanto à pessoa separada judicialmente, ela também poderá cometer
o crime, se vier a contrair segundo casamento, já que tal separação não
extingue o vínculo contraído pelo casamento.

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Se considerarmos o casamento religioso celebrado com efeitos civis (art.
226, § 2º, da CF/1988), ele também poderá caracterizar o delito, mas o
casamento religioso celebrado antes ou depois do matrimônio civil não o
configurará. Poderá, ainda, haver o concurso de crimes, na modalidade
continuada, se o agente se casar mais de duas vezes (art. 71 do Código
Penal).

Ao pensarmos sobre a prescrição, o termo inicial de sua contagem (art. 111,


IV, do Código Penal) será a data em que o fato se tornou público e
conhecido.

Devemos ter em mente, ainda, que deve haver o dolo de praticar o crime
(tipo subjetivo). Importante lembrarmos que a mera dúvida sobre o vínculo
conjugal anterior é suficiente para caracterizar o delito, sendo o caso de dolo
eventual. Assim, caso o sujeito ativo não esteja ciente desse impedimento, o
fato será atípico pelo erro de tipo, isto é, pela falsa percepção da realidade
(art. 20 do Código Penal).

Se, por outro lado, o agente conseguir demonstrar de forma robusta que a
ilicitude da própria conduta não era de seu conhecimento no momento do
delito (por acreditar na nulidade do primeiro casamento, por exemplo),
haverá erro de proibição, ou seja, embora o agente soubesse o que fazia,
acreditava estar agindo dentro da lei.

Quando pensamos no momento de consumação do crime de bigamia,


devemos nos lembrar de que estamos lidando com um delito instantâneo de
efeitos permanentes, ou seja, que se consuma no momento da celebração
do segundo casamento, conforme estabelece o art. 1.514 do Código Civil,
O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher
manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e
o juiz os declara casados. A esse propósito, a mera publicação de proclamas
e a preparação de documentos para a cerimônia de celebração constituem
atos preparatórios que podem, eventualmente, tipificar a falsidade
documental.

Quanto à possibilidade de tentativa, podemos notar que a doutrina se divide


basicamente em duas posições. A primeira defende que a tentativa é
possível (porém rara na prática) pela característica de plurissubsistência do
delito, gerada pela possibilidade do fracionamento do crime em diversos
atos. Já a segunda corrente defende a impossibilidade jurídica da tentativa
pela condição de processabilidade do art. 236, parágrafo único (MACHADO,
2017, p. 689-690).

E, para terminarmos nosso estudo sobre o crime de bigamia, devemos


lembrar que a apuração da responsabilidade penal do agente suspeito de ter

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cometido tal crime será promovida por meio da denúncia feita pelo Ministério
Público (a chamada ação penal pública incondicionada, nos termos do art.
100, §1º, do Código Penal, A ação pública é promovida pelo Ministério
Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou
de requisição do Ministro da Justiça.), nas hipóteses previstas no caput e §1º
do art. 235 do Código Penal (Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo
casamento. Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não
sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos), sendo
imprescindível um conjunto probatório acerca da vigência do primeiro
casamento. Também não podemos nos esquecer de que poderá ser
admitido o sursis processual (art. 89 da Lei nº 9.099/1995) para a hipótese do
§1º do art. 235 do Código Penal, já que a pena mínima cominada não é
superior a um ano.

Estado de filiação

O Título VII do Código Penal (Dos Crimes contra a família) dedica o Capítulo
II aos crimes contra o estado de filiação, indo do art. 241 ao art. 243 (registro
de nascimento inexistente; parto suposto; supressão ou alteração de direito
inerente ao estado civil do recém-nascido; e sonegação de estado de
filiação).

CITANDO

Vejamos uma boa definição jurídica da expressão estado de filiação,


elaborada por Diniz (2011, p. 264 apud MACHADO, 2017, p. 709), a qual
preceitua que “estado de filiação é a ligação entre pais e filhos ou o vínculo
de parentesco em linha reta de primeiro grau entre um indivíduo e seus
descendentes ou, ainda, a relação socioafetiva existente entre pais e filhos
adotivos ou advindos de inseminação artificial ou fertilização in vitro”.

Importante percebermos, pela definição acima, que o estado de filiação em


nosso ordenamento jurídico compreende tanto a filiação natural (filhos
advindos de vínculo sanguíneo) como a civil (filhos advindos do vínculo civil).
Sobre esse assunto, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 227, § 6º,
estabelece a igualdade de direitos e qualificações entre os filhos, advindos
ou não do casamento ou mesmo por adoção, proibindo qualquer tipo de
designação discriminatória referente à filiação.

REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE – Art. 241

Iniciando o capítulo sobre os crimes contra o estado de filiação, o registro de


nascimento inexistente é tipificado no art. 241 do Código Penal, prevendo
pena de reclusão de dois a seis anos.

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Consiste a conduta típica (ou seja, o tipo objetivo) basicamente na “ação de
promover, no registro civil, a inscrição de nascimento que não ocorreu, por
ser inexistente” (MACHADO, 2017, p. 709).

Há discussão na doutrina brasileira sobre o verbo-núcleo do delito e a forma


como deve ser interpretado. Assim, promover, dentre algumas
possibilidades, pode ser entendido como provocar, originar ou causar
inscrição de nascimento que não existiu (porque a mulher não estava grávida
ou ainda porque não ocorreu o parto) ou mesmo de nascimento de natimorto
(ou seja, a criança que nasceu morta ou que morreu durante o parto) no
registro civil. Por trazer a ideia de realização de uma conduta positiva, o
verbo-núcleo do tipo pressupõe uma conduta comissiva, embora a omissão
imprópria seja possível. Por exemplo:

sujeito que possui status de garantidor (art. 13 do CP) e que, mesmo


tendo ciência da falsidade das declarações que serão levadas a
registro, se omite e não age com o fim de impedir a inscrição falsa do
nascimento inexistente (GRECO, 2010, p. 662 apud MACHADO,
2011, p. 712).

A respeito do natimorto, fazem-se necessárias algumas observações. Se a


criança nascer morta, será feito registro no livro “C Auxiliar”, com os
elementos que couberem e com remissão ao assentamento de óbito, nos
termos do art. 53, caput e §1º da Lei nº 6.015/73. Mas, se durante o parto
tiver respirado e morrer na sequência, serão feitos os registros de
nascimento e óbito, com remissões recíprocas, conforme dispõe o §2º do art.
53 da mesma Lei.

Devemos lembrar que o bem jurídico protegido nesse delito é a segurança do


estado de filiação. De igual forma são tuteladas a fé pública da
documentação inscrita no registro civil; a regular constituição da família,
enquanto “vínculo jurídico e socioafetivo entre pais e filhos,
independentemente da origem dessa relação” (MACHADO, 2017, p. 711); e
o status familae, uma vez que a família pode ser prejudicada ao lhe ser
atribuída falsamente um descendente inexistente.

Analisemos agora os possíveis agentes e vítimas envolvidos no crime do art.


241 ( Registro de nascimento inexistente, Art. 241 - Promover no registro civil
a inscrição de nascimento inexistente: Pena - reclusão, de dois a seis anos).
O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa, inclusive o oficial de registro civil,
sendo, portanto, um crime comum. Já os sujeitos passivos ou possíveis
vítimas serão o Estado (sujeito passivo imediato), já que haverá ofensa ou
lesão à fé pública (ou seja, à presunção de veracidade e legitimidade) de
seus documentos oficiais relativos ao estado de filiação; e qualquer pessoa
que por acaso vier a sofrer algum prejuízo com o uso do registro de

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nascimento fictício (sujeito passivo mediato), incluindo os pais a quem o
nascimento falso for atribuído e os demais membros da família.

O objeto material do delito (isto é, onde recai a condita criminosa) é o


registro de nascimento inexistente levado ao Cartório de Registro Civil, o qual
debilitará a fé pública dos documentos oficiais ao tornarem, pela ação do
agente, o ato público fictício.

Analisando o tipo subjetivo, notamos que o crime somente será praticado se


o sujeito ativo tiver plena consciência da inexistência do nascimento que
levou, por livre vontade, a registro, não importando, contudo, a motivação
que deu ensejo a tal ato. Assim, esse delito será praticado mediante dolo,
sem previsão da modalidade culposa e de elemento subjetivo especial. Por
outro lado, vale lembrar que pode ocorrer o erro de tipo, afastando o dolo do
agente e, portanto, a infração penal.

Exemplo: sujeito que leva a registro inscrição de um feto natimorto,


pensando que, com sua mera retirada do útero materno, após período
gestacional transcorrido normalmente, estar-se-ia diante de um
nascimento comum (MACHADO, 2011, p. 711).

Importante lembrar que o tipo do art. 241 se consuma quando é realizada a


inscrição do nascimento fictício no Cartório de Registro Civil, tratando-se,
portanto, de um crime formal. Ressalta-se que a comprovação de prejuízo
efetivo a terceiros como resultado do delito não é necessária para que a
consumação esteja configurada. Além disso, a tentativa é admitida, tendo em
vista a possibilidade de fragmentação do iter criminis, por se tratar de crime
plurissubsistente.

A ação penal para apuração da responsabilidade do crime será de iniciativa


pública incondicionada, pela via do procedimento comum. Contudo,

Caso haja incerteza idônea sobre o estado civil da vítima, será


suspenso o curso da ação penal até que a dúvida seja sanada na
esfera cível, pois se trata de questão prejudicial [art. 92 do Código
Penal]. Nesse ínterim, também será suspenso o prazo de prescrição
da pretensão punitiva, conforme o art. 116, inciso I, [suspensão essa
que] não poderá ir além do tempo superior da prescrição da pretensão
punitiva em abstrato [...] [como estabelece a Súmula 415 do STJ]
(MACHADO, 2017, p. 714).

Ainda sobre a prescrição, não devemos nos esquecer de que o termo inicial
de sua contagem será a data em que o fato se tornará conhecido de uma
autoridade pública (ou seja, delegado de polícia, juiz de direito ou
representante do Ministério Público), como ocorre com a bigamia, pois o
delito é cometido às escondidas, sendo que nem mesmo as vítimas têm

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consciência de sua existência, nos termos do art. 111, inciso IV, do Código
Penal. Trata-se de exceção à regra de que a contagem se inicia no dia em
que o crime se consumou (art. 111, inciso I, do Código Penal).

Finalizando nosso estudo, é necessário ressaltar que há a possibilidade de


absorção ou consunção, pelo crime de registro de nascimento inexistente
(delito-fim), do delito de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal) ou
uso de documento falso.

**A consunção é utilizada quando a intenção criminosa é alcançada pelo


cometimento de mais de um tipo penal, devendo o agente, no entanto, por
questões de justiça e proporcionalidade de pena (política criminal), ser
punido por apenas um delito.Princípio da consunção, conhecido também
como Princípio da Absorção, é um princípio aplicável nos casos em que há
uma sucessão de condutas com existência de um nexo de dependência. De
acordo com tal princípio o crime fim absorve o crime meio. Exemplo: O
indivíduo que falsifica identidade para praticar estelionato. Este só
responderá pelo crime de estelionato, e não pelo crime de falsificação de
documento.

PARTO SUPOSTO, SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DO DIREITO


INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO – Art. 242

Inicialmente, devemos observar que o tipo penal do art. 242, isto é, parto
suposto e supressão ou alteração do direito inerente ao estado civil de
recém-nascido, cuja pena é de reclusão, de dois a seis anos, prevê uma
série de “condutas atentatórias ao recém-nascido, à família, à fé nos
registros públicos e, portanto, ao Estado” (MACHADO, 2017, p. 715), sendo,
portanto, um tipo cumulativo, ou seja, apresenta quatro figuras criminosas no
“mesmo dispositivo penal, todas com autonomia. Assim, praticando mais de
uma delas, o agente responderá por todas, em concurso material (art. 69 do
CP)” (AZEVEDO e SALIM, 2018, p. 543).

A primeira dessas condutas diz respeito ao parto suposto, ou seja, quando a


falsa mãe atribui a maternidade de filho de outra mulher como sendo sua,
simulando, desse modo, a filiação do suposto filho ao apresentá-lo como tal
no meio social, ou, ainda, quando a falsa mãe substituiu seu filho natimorto
por filho alheio (importante pontuar que em ambos os casos não é
necessário o registro civil). Não se configura o crime, no entanto, quando 1)
há mera simulação da gravidez e do parto, já que isso não afeta direito de
terceiros, a fé pública em documentos oficiais ou mesmo o estado civil do
neonato; e 2) a mulher atribui o próprio parto a outra pessoa.

Em seguida, temos o registro de filho de outrem como próprio, popularmente


conhecido como adoção à brasileira, uma tentativa de o agente, por meio de

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inserção de informação falsa em registro público, burlar os procedimentos
legais previstos para a adoção regular. Vale lembrar que a eventual inserção
de informação falsa no registro civil (crime-meio) para a consecução dessa
adoção ilegal (crime-fim) será absorvida por este, eliminando, assim, a dupla
persecução criminal (princípio da consunção). Por fim, entende o STJ que a
concessão da guarda provisória a quem não respeita a regra de adoção legal
é excepcionalmente possível, ante o princípio do melhor interesse do menor
(STJ. 3ª. T. Data do julgamento: 27/02/2018. HC 385507/PR. Ministra Nancy
Andrighi).

Em terceiro e quarto lugares há a ocultação e substituição de recém-nascido,


com supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil do neonato.
Na supressão de direito do neonato, não se faz necessária a ocultação
material propriamente dita da criança, bastando que haja apenas a sua não
apresentação a registro, sonegando, assim, sua existência. Importante
pontuar, contudo, que

Da mera desídia na submissão do neonato a registro não se perfaz


crime, já que é necessário um especial fim de agir por parte do autor,
consistente na finalidade específica de privar direito do recém-nascido,
como a finalidade de que não figure como herdeiro (MACHADO, 2017,
p. 717).

Quanto à alteração de direito inerente ao estado civil do recém-nascido pela


sua troca por outra criança, basta a inserção da criança em outra família,
com recebimento de nome e direitos que não são seus, não sendo
necessária a formalização no registro, pois a substituição pode ocorrer tanto
antes como depois deste.

Dentre os bens jurídicos protegidos em todas as modalidades do tipo penal


previsto, podemos elencar: 1) a segurança e a certeza do estado de filiação
do recém-nascido: a tutela desse bem será necessária para evitar que o
vínculo da criança com sua família e o futuro conhecimento de sua
identidade civil sejam prejudicados; 2) o aspecto de confiança nas estruturas
e funcionalidades do Estado; e 3) a fé pública de documentos oficiais.

Verifiquemos, agora, os sujeitos que podem cometer esse delito e as


possíveis vítimas. Qualquer pessoa, independentemente do sexo, poderá ser
sujeito ativo do crime (crime comum), obviamente com exceção da
modalidade “dar parto alheio como próprio”, já que somente uma mulher é
apta a ter um parto, sendo essa modalidade, portanto, um crime próprio.
Quanto aos sujeitos passivos, o Estado será o sujeito imediato em todas as
modalidades, ao passo que as vítimas mediatas serão os herdeiros da autora
do delito, na modalidade dar parto alheio como próprio; aqueles que tiveram
seus direitos lesados em face do delito, na modalidade de registrar como seu

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o filho alheio; e a criança recém-nascida que foi ocultada ou substituída, bem
como terceiros que tiveram seus filhos substituídos ou escondidos, no caso
da modalidade de ocultar recém-nascido ou substitui-lo.

Ao analisarmos mais detidamente o tipo subjetivo do crime, notamos que é


necessária a vontade de praticar uma das condutas elencadas (dolo), sendo
que, nas modalidades ocultar ou substituir recém-nascido, exige-se, além do
dolo, o elemento subjetivo especial, isto é, “a especial finalidade de suprimir
ou alterar direito inerente ao estado civil do neonato” (AZEVEDO e SALIM,
2018, p. 546). Não há previsão da modalidade culposa e é possível a
exclusão da tipicidade pela incidência do erro de tipo em todas as
modalidades, bem como a incidência do erro de proibição, como
exemplificado:

Exemplo de erro de tipo: “(...) caso de alteração do estado civil do recém-


nascido em que as crianças são trocadas na maternidade, entretanto por
acidente” (MACHADO, 2017, p. 718)

Exemplo de erro de proibição: “(...) casos em que se registra criança


abandonada como próprio filho entendendo estar agindo de forma lícita”
(MACHADO, 2017, p. 718).

O momento de consumação do tipo penal previsto no art. 242 se dá assim


que o agente causar a situação que leva à alteração do status familiae do
recém-nascido.

Devemos notar que, como o art. 242 prevê crimes plurissubsistentes, a


tentativa será admitida, particularmente quando 1) a conduta da falsa mãe
não privar o direito do recém-nascido; 2) não ocorrer o efetivo registro das
informações falsas em cartório; e 3) a conduta de substituição ou ocultação
do neonato não resultar na privação ou supressão de direito afeto ao estado
civil da criança que nascer viva, uma vez que direitos não são atribuídos ao
natimorto e, por isso, não podem dele ser suprimidos.

A ação penal será pública incondicionada. Por outro lado, na forma


privilegiada, há benefício previsto no parágrafo único, este devendo ser
entendido como algo que demonstre “altruísmo, generosidade e
solidariedade por parte do autor” (AZEVEDO; SALIM, 2018, p. 546), haverá
uma causa de diminuição da pena para o delito em todas as figuras descritas
no caput, o que dará ensejo à propositura tanto da transação penal como da
suspensão condicional do processo, ante a pena de detenção de um a dois
anos. Além disso, o juiz também terá possibilidade de utilizar o perdão
judicial, a depender das circunstâncias do caso concreto.

Quanto ao prazo prescricional, ele terá seu termo inicial, na modalidade de


registro de filho alheio como próprio, na data em que o fato se tornou

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conhecido (art. 111, inciso IV, do Código Penal), ao passo que nas demais
modalidades a prescrição começará a correr da data de consumação do
delito (art. 11, inciso I).

Por fim, não podemos nos esquecer de que se houver a prática de falsidade
ideológica, prevista no art. 299 do Código Penal, ou o uso de documento
falso (crimes-meio) para se concretizar o crime previsto no art. 242, haverá a
absorção do crime-meio pelo crime-fim, eliminando, assim, a dupla
persecução criminal.

Incolumidade pública e perigo comum

O ato de atear fogo poderá ser punido de diferentes formas pelo direito
penal, dependendo de onde o agente causar o fogo, do tipo de substância
que ele utilizar e de suas intenções. Se a intenção for de matar alguém com
fogo ele responderá tanto por homicídio art. 121, § 2, III do CP, quanto por
incêndio conforme art. 250 do CP. Desde que ele cause risco a pessoas e
patrimônio de outros, configurando assim um concurso formal impróprio, ou
seja, as penas serão somadas. Caso haja a intenção de atingir pessoas,
considera-se o crime de perigo para vida ou saúde de outrem, conforme o
art. 132 do CP. Se houver o intuito de danificar o imóvel da vítima com
substâncias inflamáveis, a pessoa respoderá pelo art.163, único, II do CP,
configurando um crime qualificado, contanto que não esponha a vidas, nem
patrimônio de terceiros. No caso de o agente causar tanto perigo comum,
quanto dano individual com o ateamento de fogo, o fato de ajustará apenas
ao tipo penal de maior gravidade, ou seja, nas formas majoradas previtas no
art. 250, § 1. Causar incêndio para destruir bens próprios visando
indenização ou valor de seguro mas ao mesmo tempo causar perigo comum,
incorre em concursos de crime entre o art. 250 e o art. 171, § 2, v do CP,
pois os bens jurídicos tutelados são distintos. O incêndio por inconformismo
político sera inquadrado no art. 20, da Lei 7.170 de 1983, que define os
crimes contra a segurança nacional.

Primeiramente, devemos notar que o Título VIII do Código Penal, que dispõe
sobre os crimes contra a incolumidade pública, nos apresenta três capítulos:
Capítulo I – Dos crimes de perigo comum (arts. 250 a 259), Capítulo II – Dos
crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros
serviços públicos (arts. 260 a 266) e Capítulo III – Dos crimes contra a saúde
pública (arts. 260 a 285). Aliás, é justamente a incolumidade pública o bem
jurídico tutelado nos tipos penais inseridos nos referidos capítulos.

CITANDO

A incolumidade pública pode ser definida como “‘a segurança de todos os


membros da sociedade, que têm sua vida, integridade pessoal e patrimonial
sujeitas a acentuada probabilidade de lesão’ ou como o ‘estado de
13
preservação ou segurança em face de possíveis eventos lesivos’” (PRADO,
2006, p. 1.130; HUNGRIA, 1959, p. 7-8 apud COSTA, 2017, p. 751).

Assim, verifica-se que o agente desse tipo de crime objetiva causar perigo a
um número indeterminado de pessoas, um perigo comum à vida, à
integridade física ou mesmo ao patrimônio alheio (trata-se de perigo a bens
jurídicos individuais de titulares indeterminados). Consequentemente,
podemos concluir que o sujeito passivo ou vítima desse crimes, conforme
doutrina majoritária, é a coletividade e, a depender do caso, até mesmo o
Estado.

INCÊNDIO – Art. 250

Iniciando o capítulo sobre os crimes de perigo comum, o incêndio está


tipificado no art. 250 do Código Penal, com pena de reclusão de três a seis
anos, e multa, apresentando ainda causa de aumento de pena (§1º) e a
modalidade culposa (§2º).

A conduta típica (tipo objetivo) consiste em causar incêndio ou fogo relevante


e perigoso, ou seja, provocar combustão de modo que venha colocar a vida,
a integridade ou o patrimônio de um número indeterminado de pessoas em
risco. Trata-se, portanto, de crime comissivo, embora a doutrina também
admita o crime de incêndio por omissão na situação em que o sujeito ativo
seja garante (COSTA, 2017, p. 753), ou seja, temos aqui um crime de forma
livre, que admite qualquer meio de execução. Por exemplo:

agente coloca fogo em objetos localizados em sua garagem; depois,


com as chamas já altas e prestes a atingir a casa do vizinho, nada faz
para apagá-las: basta a combustão (por meio de fogo, gás inflamável
etc., não sendo necessário que o incêndio provoque chamas para que
se configure o crime) (SALIM; AZEVEDO, 2018, p. 38).

Ademais, é delito de perigo concreto, pois exige a comprovação de que


efetivamente houve perigo de dano aos bens tutelados a partir da conduta do
agente. Por exemplo:

se o agente atear fogo em casa situada em local ermo e isolado, onde


não há vizinhos nem outras residências, não haverá crime de incêndio,
podendo ser caso de delito de dano (art. 163, parágrafo único, inciso
II, do CP) em face do direito individual atingido (SALIM; AZEVEDO,
2018, p. 38).

A constatação desse perigo ocorrerá a partir da análise das condições de


atuação do agente e de seu conhecimento no momento da ação. Por
exemplo:

se o agente colocou fogo em coisa alheia, mas sem criação de perigo


14
comum e de forma controlada, poderá ocorrer crime de dano
qualificado, mas não de incêndio (COSTA, 2017, p. 753).

Quanto aos sujeitos envolvidos no crime, teremos como sujeito ativo (agente)
qualquer pessoa (crime comum), inclusive, o próprio proprietário do bem
incendiado. Já o sujeito passivo, ou seja, a vítima, será a coletividade como
um todo e as pessoas que tiveram sua vida, entre integridade física ou
patrimônio, sob perigo.

Analisado o tipo subjetivo do crime de incêndio, podemos notar que ele pode
ser praticado tanto na modalidade dolosa (isto é, quando há a vontade de
provocar o incêndio por parte do agente, o qual deverá ter ciência de que sua
conduta irá expor a perigo de vida a integridade física ou o patrimônio de
outras pessoas) quanto na modalidade culposa (quando houver lesão do
dever objetivo de cuidado e nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado de perigo concreto, bem como a aplicação dos critérios de
imputação objetiva). Ressalta-se que não há previsão de elemento subjetivo
especial ou dolo específico na forma simples do caput. A modalidade culposa
(prevista no §2º do art. 250 do Código Penal) será apenada com detenção de
seis meses a dois anos (trata-se de infração de menor potencial (Lei nº
9.099/95). Por exemplo:

o agente, deprimido porque supunha ter sido abandonado pela mulher


amada, decide colocar fogo na própria residência. Sem saber, a
namorada já havia regressado e estava escondida, prestes a fazer-lhe
uma surpresa. Nesse caso, não há dolo dirigido a expor a perigo a
vida a integridade física ou o patrimônio de ontem (SALIM; AZEVEDO,
2018, p. 40).

O momento de consumação do crime de incêndio se dá no instante em que o


incêndio causado cria efetivamente perigo à vida, à integridade física ou ao
patrimônio de outrem, sendo, dessa forma, indispensável que um desses
elementos específicos seja exposto a perigo de dano. O exame pericial
técnico será necessário pelo fato de o delito de incêndio geralmente deixar
vestígios que não desaparecem prontamente, conforme disposição do art.
173 do Código de Processo Penal e jurisprudência do STJ, o que afasta a
possibilidade de substituição do laudo pericial por outros meios de prova.

Tendo em vista que o crime de incêndio é plurissubsistente, isto é, pode ter


sua conduta fracionada e, por conseguinte, ser interrompido por motivos
alheios ao querer do autor, a tentativa é admitida.

após derramar gasolina sobre o carro do vizinho do qual pretende ser


vingar, o agente é surpreendido riscando o fósforo”, sendo impedido
de dar sequência ao seu intento (SALIM; AZEVEDO, 2018, p. 41).

15
Caso o agente ateie fogo e, arrependido, voluntariamente decida apagá-lo
antes de expor perigo à vida, à integridade física ou o patrimônio de outrem,
responderá pelos atos já praticados durante a fase executória (art. 15 do
Código Penal), como eventual crime de dano (art. 163 do Código Penal). É o
caso da tentativa abandonada.

Poderá haver, ainda, a hipótese de crime impossível por meio inidôneo,


na situação em que o autor, ao tentar praticar o incêndio, utiliza a água
contida num frasco de álcool quando pensava estar utilizando combustível,
incidindo, desse modo, o art. 17 do Código Penal.

O §1º do art. 250 estabelece, em seus dois incisos, causas especiais de


aumento da pena do caput quando há ocorrência do incêndio doloso.
Dispõe o inciso I que se aumenta a pena em um terço “se o crime é cometido
com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio”.

O inciso II do art. 250, por sua vez, elenca uma série de locais onde, caso o
incêndio seja praticado, haverá um aumento de um terço da pena. São os
seguintes:

1 - em casa habitada ou destinada à habitação: casa habitada é aquela


serve de moradia a alguém, mesmo não tendo tal finalidade;

2 - em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de


assistência social ou de cultura: edifício público é aquele do qual faz uso o
Estado, ao passo que edifício destinado ao uso público é aquele que permite
o acesso público em geral, onerosa ou gratuitamente; os edifícios destinados
à obra de assistência social ou de cultura são os hospitais e os museus,
respectivamente;

3 - em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte


coletivo: aplica-se a majorante mesmo desocupados (por pessoas ou
coisas);

4 - em estação ferroviária ou aeródromo: aqui estão excluídos portos e


estações rodoviárias por expressa disposição legal;

5 - em estaleiro, fábrica ou oficina: poderão estar desocupados no


momento do incêndio para a incidência da majorante;

6 - em depósito de explosivo (dinamite e pólvora), combustível (carvão,


lenha e palha) ou inflamável (álcool e petróleo). Aqui, entretanto, não se
exige a exposição a perigo (concreto) de vida, da integridade física ou o
patrimônio de outrem, bastando a presunção;

7 - em poço petrolífero ou galeria de mineração: o aumento ocorre pela

16
dificuldade considerável de controlar o fogo;

8 - em lavoura, pastagem, mata ou floresta: aqui devemos diferenciar essa


hipótese daquela hipótese típica prevista no art. 41 da Lei nº 9.605/98 (Lei
dos Crimes Ambientais). Será crime ambiental se o incêndio não ocasionar
perigo à coletividade, ao passo que se o fizer, será o delito do art. 250 do
Código Penal. Como as elementares lavouras e pastagem não estão
previstas na Lei dos Crimes Ambientais, o incêndio nelas provocado será
enquadrado no art. 250, §1º, inciso II, alínea “h”, do Código Penal, se levar a
perigo coletivo. Por fim, a soltura de balões: se causarem incêndio em
florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo
de assentamento humano, haverá o crime ambiental previsto no art. 42 da
Lei nº 9.605/98. Se o agente tiver assumido o risco de causar incêndio,
responderá pelo crime do art. 250 do Código Penal, considerando o dolo
eventual (SALIM; AZEVEDO, 2018).

Além das hipóteses de aumento de pena expostas, o art. 258 prevê ainda
outras, a saber:

1 - Nos crimes preterdolosos (aqueles em que há dolo no crime antecedente


e culpa no consequente): se o incêndio é doloso e dele resulta lesão corporal
de natureza grave, a pena é aumentada de metade, ao passo que se o
incêndio é doloso e dele resulta morte, a pena é aplicada em dobro;

2 - Nos crimes de dano: se o resultado mais grave for desejado pelo agente,
não haverá crime de perigo (incêndio), mas de dano (lesão grave ou morte),
conforme o caso;

3 - Nos crimes de incêndio com resultado de lesão corporal: a pena é


aumentada de metade;

4 - Nos crimes de incêndio com resultado de morte: aplica-se a pena


cominada ao homicídio culposo, aumentada de 1/3. Por fim, a ação penal
será pública incondicionada.

EXPLOSÃO – Art. 251

17
Inicialmente, devemos observar que o crime de explosão, tipificado no art.
251 do Código Penal (tipo objetivo), com pena de reclusão de três a seis
anos, e multa, configura-se quando o autor expõe a perigo concreto a vida, a
integridade física ou patrimônio de outrem por meio de: explosão, arremesso
ou simples colocação (dispor em determinado local) de engenho de dinamite
ou de substância de efeitos análogos. Assim, podemos notar que a diferença
da explosão em relação ao incêndio se encontra no meio de execução.
Além disso, cabe pontuar que se trata de crime de perigo comum ou coletivo,
pois deve alcançar um número indeterminado de pessoas ou coisas. É ainda
crime de perigo concreto, pois é necessário ficar demonstrado no caso
concreto que a conduta do agente expôs, efetivamente, perigo à vida, a
integridade física ou o patrimônio alheio.
Ao contrário do crime de incêndio, o delito de explosão é de forma vinculada,
ante o fato de que o próprio tipo penal indica a maneira pela qual poderá ser
praticado. Também se diferencia do crime de perigo para a vida e a saúde de
outrem (art. 132 do Código Penal) pela forma de execução, a exigência de
perigo comum e a exposição a perigo de patrimônio alheio.
Nesse delito, o bem jurídico protegido, segundo a doutrina majoritária, é a
incolumidade pública, mas autores como Costa (2017, p. 756) ainda incluem
a vida, a integridade física e a propriedade, bens jurídicos de titulares não

18
determinados.
Quanto aos autores e possíveis vítimas do tipo penal, temos como sujeito
ativo qualquer pessoa (crime comum). Já o sujeito passivo compreende, de
acordo com boa parte da doutrina, a sociedade em geral (delito de perigo
comum) e o Estado. Para Costa (2017, p. 756), também se afigura como
sujeito passivo o conjunto de pessoas indeterminadas que tiveram seus bens
jurídicos colocados em perigo. Se houver também o perigo comum, ter-se-á
o concurso formal de crimes, com homicídio doloso, o estelionato e o dano
qualificado, devendo o intérprete cuidar para não incorrer no bis in idem.
Ainda sobre possível concurso de crimes, em especial no caso de utilização
de explosivos durante o furto, há tese do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
(STJ, 6ª T, REsp 1647539/SP, j. 21/11/2017) no sentido de que a depender
do caso concreto, em especial se as infrações atingirem bens jurídicos
distintos, poderá haver concurso formal de crimes, ou seja, furto simples ou
qualificado por outra circunstância mais explosão (SALIM; AZEVEDO, 2018,
p. 49).
Ao analisarmos o tipo subjetivo do caput do delito de explosão, exige-se a
presença de dolo, isto é, a vontade de provocar perigo coletivo (à vida, à
integridade física ou ao patrimônio de pessoas indeterminadas). Se o dolo do
agente se voltar ao lesionamento dos mesmos bens jurídicos, mas de pessoa
determinada, os possíveis crimes serão eventualmente outros, como
homicídio qualificado, lesão corporal dolosa ou dano.
O §3º do art. 251 traz duas modalidades culposas, ambas aplicadas à
conduta de causar explosão, a saber: 1) explosão com uso de dinamite ou
substância de efeitos análogos: pena de detenção de seis meses a dois
anos; e 2) explosão com uso de outras substâncias explosivas (maior
aplicação prática), com pena de detenção de meses a um ano. Veja o
exemplo a seguir:
explosão ocasionada por fogos de artifício e outros artefatos
explosivos, como bombinhas e morteiros, os quais fazem uso da
pólvora como componente explosivo.
Ao verificarmos o momento da consumação do crime de explosão, este se
dará no instante em que a explosão, o arremesso ou a simples colocação de
engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos exponha a perigo
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, sendo que o efetivo
dano a tais bens é irrelevante para a consumação do delito (mas se houver,
a modalidade típica qualificada poderá se configurar, no caso de lesão
corporal ou morte). Além disso, nas condutas de mero arremesso ou simples
colocação de dinamite, a explosão em si não será essencial à configuração
do crime, pois esses atos, anteriores a esta, já são punidos.
O crime pode ocorrer na forma tentada nas duas primeiras modalidades, ou
seja, exclusão e arremesso. Por outro lado, cumpre ressaltar que a simples
colocação de dinamite dificilmente aceita a tentativa. Por exemplo:
agente que, ao iniciar a montagem de um explosivo ou a colocação

19
deste, é interrompido contra sua vontade no momento em que ainda
não se verifica a situação perigosa (MIRABETE, 2005).
O §1º do art. 251 apresenta a figura privilegiada do crime, com pena de
reclusão de um a quatro anos, e multa, se a substância utilizada não for
dinamite ou substância de efeitos análogos, mas qualquer outra que causar
menor potencial de detonação, perigo e dano, (o que justifica a pena mais
branda), como a pólvora.
Por outro lado, o §2º do art. 251 traz formas majoradas (de um terço), caso
ocorram as hipóteses descritas no §1º, inciso I, do art. 250 (causa de
aumento previstas para o crime de incêndio, a saber, se se o crime é
cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou
alheio). Vale lembrar que a majoração não se aplica à forma culposa do
delito. Aliás, as hipóteses de aumento de pena do art. 258 do Código Penal
são igualmente aplicadas ao crime de explosão, como ocorre com o crime de
incêndio.
Para concluirmos nosso estudo sobre o crime de explosão, importante
salientar que a ação penal para apuração de responsabilidade será
pública incondicionada, e que a modalidade culposa do delito é a infração
de menor potencial ofensivo, o que enseja a transação penal. Por fim, tanto a
forma privilegiada (§1º) quanto à forma culposa do delito (§3º) aceitam a
suspensão do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE – Art. 252

Primeiramente, devemos mencionar que “o art. 252 do Código Penal foi


[integral e] tacitamente revogado pelo art. 56 da Lei Federal nº 9.605/98 (Lei
dos Crimes Ambientais), permanecendo em vigor somente no que se refere a
exposição de patrimônio alheio a perigo” (COSTA, 2017, p. 759).

De qualquer forma, a conduta típica (tipo objetivo) do crime de uso de gás


tóxico ou asfixiante, cuja pena era de reclusão de um a quatro anos, e multa,
e de detenção de três meses a um ano em caso de culpa, consistia em expor
a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, por meio do
uso de gás tóxico.

Tratava-se de crime de perigo comum coletivo. Estaria configurado, no


entanto, o crime do art. 132 do Código Penal caso o autor desejasse por em
risco a vida ou a saúde de pessoa específica. Além disso, o crime era de
perigo concreto (exigindo, assim, a efetiva demonstração da situação de
perigo no caso concreto) e de forma vinculada (sua prática somente ocorreria
por forma prevista em lei, a saber, uso de gás tóxico ou asfixiante).

Quanto ao bem jurídico tutelado, tínhamos, segundo a doutrina majoritária, a


incolumidade pública. Costa (2017) também incluía a vida, a integridade
física e a propriedade de um número indeterminado de pessoas. Importante
ressaltar que era relevante para a configuração típica a lesão efetiva a tais

20
bens jurídicos.

O possível autor do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante (sujeito ativo)


poderia ser qualquer pessoa (crime comum), ao passo que as possíveis
vítimas (sujeito passivo), segundo a doutrina majoritária, seriam a
coletividade em geral e o Estado, embora Costa (2017, p. 759) mais uma
vez, inclua nessa lista “o conjunto de pessoas indeterminadas que tiveram
seu(s) bem(ns) jurídico(s)colocados em perigo”.

Passando à análise do tipo subjetivo do crime, verifica-se no caput que havia


a necessidade de haver a vontade de cometer a conduta descrita no tipo
penal (dolo de perigo). Já no parágrafo único era prevista a modalidade
culposa por imprudência, negligência ou imperícia do agente ao manusear ou
armazenar os gases sem cuidado.

A consumação do delito ocorria quando o uso de gás tóxico ou asfixiante


expusesse a perigo a vida, integridade física ou o patrimônio alheio. Como
era crime plurissubsistente, era admissível a tentativa. Contudo, o crime
tornava-se impossível se o agente utilizasse um gás que não pudesse
provocar perigo a terceiros. Além disso, costumavam incidir ainda sobre o
tipo, as causas de aumento de pena, previstas no parágrafo único do art. 258
do Código Penal.

Exemplo: uso de gás lacrimogêneo (fato atípico pela ineficácia


absoluta do meio de execução — art. 17 do Código Penal).

São necessárias algumas observações para diferenciar esse crime de outros.


Se o autor expuser a perigo um número determinado de pessoas, configura-
se o crime do art. 132 do Código Penal. Caso o agente opte por provocar a
emissão de fumaça, vapor ou gás, que possa vir a ofender ou molestar
alguém, temos o delito do art. 38 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-
Lei nº 3.688/41). Se o autor vier a causar poluição de qualquer natureza em
níveis que resultem em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, tem-se o crime
ambiental previsto no art. 54 da Lei nº 9.605/98. Caso o agente faça uso de
armas químicas ou realize atividade que as envolva, configurar-se-á o crime
do art. 4º, incisos I e II, da Lei nº 11.254/05.

Por fim, a ação penal prevista para sua apuração era pública incondicionada.
A modalidade culposa era infração penal de menor potencial ofensivo,
incidindo, assim, os institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/95. Era
possível, também, a aplicação do sursis processual, tanto na modalidade
dolosa quanto na modalidade culposa.

INUNDAÇÃO – Art. 254

21
Para iniciarmos nosso estudo sobre o crime de inundação, tipificado no art.
254 do Código Penal, devemos ter em mente que a conduta tipificada (tipo
objetivo), cuja pena é de reclusão de três a seis anos, multa e de detenção,
de seis meses a dois anos.

É o caso de culpa, ou seja, de causar inundação, criando perigo


efetivamente comprovado pela vulneração dos bens jurídicos ou cuja lesão
parece provável (crime de perigo comum concreto).

Quanto ao bem jurídico tutelado, temos mais uma vez, segundo a doutrina
majoritária, a incolumidade pública, em virtude do referido perigo comum
advindo da conduta proibida. Além disso, de acordo com grande parte da
doutrina brasileira, qualquer pessoa poderá ser o autor do crime (sujeito
ativo), por se tratar de crime comum, ao passo que o sujeito passivo será a
coletividade ou o Estado, eis que se trata de um crime vago. Na perspectiva
de Costa (2017, p. 767), também serão vítimas do crime “o conjunto de
pessoas indeterminadas que tiveram seu(s) bem(ns) jurídico(s) colocados em
perigo”.

Analisando o elemento subjetivo do crime, notamos que há previsão tanto da


modalidade dolosa quanto da culposa. Na primeira possibilidade, deverá
haver o conhecimento e a vontade do agente de causar a inundação. No
caso da culpa, tanto a inundação como o perigo por ela causado deverão ter
por origem a inobservância de dever de cuidado objetivo, devendo-se aplicar
os critérios de imputação objetiva. Além disso, há a possibilidade de dolo
eventual.

O momento de consumação do crime de inundação se dá no instante em


que ocorrer o alagamento provocado pela saída de água dos seus limites, e
que cause risco à coletividade como um todo. Como esse é um crime
plurissubsistente, a forma tentada será admitida, particularmente se “a
inundação é a finalidade da conduta do agente, ou se é aceita como possível
ou provável, com assunção do risco, mas não vem a se verificar
concretamente” (COSTA, 2017, 768). Temos, como exemplo,

funcionário encarregado de vistoria em barragem que deixa uma


brecha nela e da qual resulta a inundação (assumiu a possibilidade de
inundação e o risco do resultado).

Por oportuno, ressaltamos algumas distinções entre o crime de inundação e


demais delitos. Haverá o crime de perigo de inundação (art. 255 do Código
Penal) se o agente não quiser o alagamento, nem assumir o risco de produzi-
lo. Estará configurado o crime de usurpação de águas (art. 161, §1º, inciso I,
do Código Penal) ou de dano (art. 163 do Código Penal) se a inundação
causada pelo autor não apresentar perigo comum ou coletivo. Se a
inundação causar devastação que ofenda a segurança nacional, estará
22
caracterizado o delito do art. 20 da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança
Nacional), ao passo que se a inundação ocorrer em floresta de preservação
permanente, poderá ser aplicado art. 38 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes
Ambientais). Se houver inundação com o fim de causar a morte de alguém,
haverá homicídio qualificado (art. 121, §2º, inciso III, do Código Penal), em
face da asfixia.

Para finalizarmos nosso estudo sobre o crime de inundação, importante


dizer que a ação penal será pública incondicionada, sendo que na
modalidade culposa o rito será sumaríssimo, por se tratar de crime de menor
potencial ofensivo.

DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO – Art. 256

Inicialmente, devemos observar que a conduta proibida pelo art. 256 do


Código Penal (elemento objetivo), a saber, desabamento ou
desmoronamento, cuja pena é de reclusão, de um a quatro anos, e multa, e
de detenção de seis meses a um ano, é causar desabamento um
desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de pessoas indeterminadas. Trata-se, assim, de um crime de
forma livre (mas caso o desabamento/desmoronamento seja causado por
explosivos, por exemplo, o delito será o do art. 251 - explosão).

Importante entendermos os conceitos empregados no tipo objetivo.


Primeiramente, o desabamento está relacionado à queda de uma construção
(casa, edifício etc.), de forma total ou mesmo parcial. O desmoronamento,
por sua vez, diz respeito à queda parcial ou total de solo, rocha ou areia.
Para que esses fatos caracterizem crimes, é necessária a demonstração de
que os bens jurídicos protegidos de um número indeterminado de pessoas
foram colocados em provável situação de lesão (e isso pode ocorrer mesmo
no caso de desabamento ou desmoronamento parcial). Por outro lado, “Se
não houver perigo comum (...) e houver o resultado lesivo (morte, lesão
corporal), tratar-se-á, caso se constate culpa, de homicídio culposo ou lesão
corporal culposa” (HUNGRIA, 1959, p. 52, apud COSTA, 2017, p. 771).
Quanto ao bem jurídico tutelado, temos, mais uma vez, segundo a doutrina
majoritária, a incolumidade pública, em virtude do referido perigo comum
advindo da conduta proibida.

De acordo com grande parte da doutrina brasileira, qualquer pessoa poderá


ser o autor do crime (sujeito ativo), por se tratar de crime comum, ao passo
que o sujeito passivo será a coletividade ou o Estado, eis que se trata de um
crime vago. Na perspectiva de Costa (2017, p. 771), também serão vítimas “o
conjunto de pessoas indeterminadas que tiveram seu(s) bem(ns) jurídico(s)
colocados em perigo [...]”.

23
Quanto ao tipo subjetivo, estão previstas as modalidades dolosa e culposa.
Na primeira, há por parte do autor o conhecimento e a vontade de causar o
perigo comum, e na segunda (prevista no parágrafo único), o delito deve ser
praticado por imprudência, negligência ou imperícia.

O crime será consumado quando a produção de desabamento ou


desmoronamento pelo autor expuser a vida, a integridade física ou o
patrimônio alheio a perigo concreto. Por outro lado, caso o agente não
consiga consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade, ainda
que tenha iniciado os atos executórios, o conatus estará configurado.

Para parte da doutrina (FRAGOSO, 1986, p. 172, apud COSTA, 2017, p.


773-774), o delito de desabamento ou desmoronamento poderá
eventualmente “ser praticado por omissão, desde que o autor tenha o dever
jurídico de evitar o resultado”. Além disso, incidem sobre o tipo as figuras
qualificadas previstas no art. 258 do Código Penal, na hipótese de ocorrência
de morte ou lesão corporal.

Importante tecer agora algumas observações com o intuito de diferenciar


esse crime de outros delitos. Haverá o crime de dano (art. 163 do Código
Penal) se o perigo causado pelo autor tiver por fim atingir bens, e não
pessoas. Caso o autor provoque o desabamento de construção sem criar
perigo comum ou dar-lhe causa por erro no projeto ou na execução, haverá
incidência do art. 29 da Lei de Contravenções Penais (LCP). Se o agente
omitir a providência reclamada pelo estado ruinoso da construção que lhe
pertence ou cuja conservação lhe incumbe, haverá incidência do art. 30 da
LCP.

Finalizando nosso estudo sobre o crime de desabamento ou


desmoronamento, este será processado por ação penal pública
incondicionada, sendo possível, na forma simples, o sursis processual (art.
89 da Lei nº 9.099/95).

Saúde pública

Para a doutrina majoritária, importante notarmos que a saúde pública é vista


como bem jurídico supraindividual ou coletivo, numa clara referência ao art.
196 da Constituição Federal (BITENCOURT, 2013, p. 3111 apud COSTA,

DICA

Não obstante, Costa (2017, p. 792) lembra que os crimes contra a saúde
pública não visam à proteção de políticas públicas voltadas à garantia do
direito à saúde pública, mas sim à tutela da saúde individual de um número
indeterminado de membros da sociedade potencialmente ameaçada por
certas condutas.2017, p. 792).

24
FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS — art.
273

Incialmente, devemos ter em mente que as figuras tipificadas (tipo objetivo)


no art. 273 do Código Penal, com pena de reclusão de dez a quinze anos, e
multa, incluem falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a
fins terapêuticos ou medicinais, tendo como objeto material um produto
destinado ao tratamento, prevenção ou cura de doenças (aqui não se
incluem alimentos – funcionais ou não –, nem demais produtos voltados à
animais).

Trata-se de crime de perigo abstrato, uma vez que o risco não precisa ser
efetivamente demonstrado no caso concreto, pois vem presumido pelo
legislador. Contudo, alguns doutrinadores apregoam que a conduta deve ser
idônea para colocar a saúde de um número indeterminado de pessoas em
perigo ou, ainda, haver alguma comprovação da nocividade à saúde ou
redução do valor terapêutico (BITENCOURT, 2013), além de se verificar a
gravidade dos efeitos, a partir da seriedade das consequências à saúde ou

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mesmo da morte de um número não determinado de pessoas. Assim, no
caso de alteração positiva ou inócua (que não causa mal nem prejuízo,
inofensivo), não haverá crime por ausência de perigo ou lesão à saúde.
Importante entendermos o sentido atribuído a cada um dos verbos nucleares
do tipo. De acordo com Costa (2017, p. 810),
Falsificar significa alterar a coisa para pior, buscando manter a
aparência de legítima. Adulterar também significa contrafazer, em
geral por meio de inserção de substâncias indevidas. Já corromper
refere-se a deturpar a própria essência da coisa. Alterar significa
simplesmente modificar a coisa, seja para melhor, seja para pior.
Além disso, devemos nos ater ainda às condutas equiparadas (§1º) e aos
produtos com fins terapêuticos ou medicinais por equiparação (§1º-A), entre
eles os medicamentos. Importante ressaltarmos que “a importação para uso
próprio não possui idoneidade para colocar em perigo a saúde de um
número indeterminado de pessoas” e, portanto, não configura o crime
(COSTA, 2017, p. 811).
Digno de nota o fato de que o sujeito cometerá apenas um crime se vier a
“praticar conduta(s) do caput e outra(s) do §1º” (COSTA, 2017, p. 811). Aliás,
pelo §1º-B, também estará configurado o crime se as condutas do §1º
envolverem produtos, dentre outras possibilidades, sem registro ou de
procedência ignorada.
Ao analisarmos o bem jurídico tutelado pelo crime, a doutrina majoritária
aponta a incolumidade pública, em geral, e a saúde pública, em especial.
Costa (2017, p. 809), pontua, por sua vez, que a saúde, nesse caso, deve
ser considerada como bem individual de um número indeterminado de
pessoas. Quanto aos sujeitos envolvidos, grande parte da doutrina apregoa
que qualquer pessoa poderá ser autor do delito (crime comum), ao passo
que a vítima (sujeito passivo) será a coletividade em geral.
Ao pensamos no tipo subjetivo do crime, teremos o dolo, caracterizado
basicamente pela vontade de praticar uma das condutas descritas, ciente o
agente que exporá a perigo um número indeterminado de pessoas. Com
exceção da modalidade ter em depósito (“para vender”), não se exige
elemento subjetivo especial do tipo. De acordo com o § 2º, se o crime for
culposo (tal modalidade abrange somente as condutas previstas no caput), a
pena é de detenção de um a três anos, além de multa. A forma culposa não
alcança o verbo falsificar, que só pode ser praticado dolosamente.
O crime estará consumado quando o agente falsificar, corromper, adulterar
ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Como se está
diante de um delito formal e de perigo abstrato, não há necessidade de o
produto ser comercializado ou consumido. Com exceção da modalidade
culposa, admite-se a forma tentada. Há, ainda, a previsão da forma majorada
no art. 285.
Ademais, a ação penal para apuração desse crime será pública
incondicionada, sendo que a forma culposa admitirá o sursis processual (art.

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89 da Lei nº 9.099/95), já que a pena mínima não ultrapassa um ano.

EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU


FARMACÊUTICA – Art. 282
Iniciando nosso estudo sobre o crime de exercício ilegal da medicina, arte
dentária ou farmacêutica, devemos lembrar que as condutas tipificadas (tipo
objetivo) no art. 282, com pena de detenção de seis meses a dois anos,
abrangem tanto o exercício (ainda que a título gratuito) da profissão de
médico, dentista ou farmacêutico sem autorização legal, quanto a hipótese
de o agente exceder os limites delas. Importante pontuar que a expressão
sem autorização legal se refere ao fato de o agente não possuir o título ou
não estar devidamente registrado. Já a frase excedendo-lhe os limites diz
respeito à realização de ato tecnicamente específico não condizente com a
formação técnica da profissão, como por exemplo, um dentista realizando no
abdômen de um paciente (COSTA, 2017, p. 834).

Devemos notar que ambos os comportamentos acima descritos são casos de


norma penal em branco, pois há a necessidade de complementação do tipo
a partir de leis, decretos, portarias etc. que regulamentem as profissões
descritas, em especial sobre sua autorização e os limites para seu exercício.
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Por outro lado, alguns atos praticados por estudantes ou estagiários não
configurarão prática criminosa, se estiverem dentro dos limites estabelecidos
pela legislação (COSTA, 2017, p. 834). Também não caracterizam o crime a
inadimplência do profissional no respectivo conselho profissional ou mesmo
“a ausência de inscrição secundária (nos termos do art. 18, § 2º, da Lei nº
3.268/57) prevista para o médico que passa a exercer, de modo permanente,
atividade em Estado distinto daquele em que está inscrito” (COSTA, 2017, p.
834).
Temos, aqui, um crime de perigo comum e abstrato, em vista de colocar em
risco um número indeterminado de pessoas e não haver necessidade de que
o perigo seja demonstrado no caso concreto. Em vista disso, deve-se ao
menos verificar a idoneidade da conduta para colocar a saúde de alguém em
perigo. Trata-se, ainda, de um crime habitual, ante o fato de exigir, para a
sua consumação, a prática reiterada e uniforme de atos que denotem o estilo
ou modo de vida do agente. Assim, um único ato, isolado, constituirá fato
atípico.
Analisando o bem jurídico tutelado, temos a incolumidade pública (em geral)
e a saúde pública (em especial). Costa (2017, p. 792 e 833) aponta que a
saúde pública deve aqui ser entendida como algo que tem “como referente
material a própria saúde individual, embora sob a perspectiva de colocação
em perigo por uma conduta que deve ter potencialidade para atingir um
número indeterminado de pessoas”. Busca-se, com a tipificação da conduta,
proteger a saúde individual de diversas pessoas.
Devemos ter em mente que qualquer pessoa poderá ser o autor/sujeito ativo
do delito na modalidade “sem autorização legal” (crime comum), contanto
que atue como se fosse legalmente autorizado para exercer a atividade de
médico, dentista ou farmacêutico. Nesse sentido, importante destacarmos
que “a mera falta de registro, tendo o sujeito diploma reconhecido, deve ser
considerada atípica” (SILVEIRA; REALE JÚNIOR, 2012, p. 162 e s. apud
COSTA, 2017, p. 834). Por outro lado, somente o médico, o dentista e o
farmacêutico poderão ser os autores na modalidade “excedendo-lhe os
limites” (crime próprio ou delito especial). A vítima ou sujeito passivo de tal
delito, por sua vez, será a coletividade em geral (crime vago).
Quanto ao tipo subjetivo, temos o dolo, caracterizado pelo conhecimento da
conduta e vontade de praticá-la. No entanto, o “erro quanto a normas
profissionais que complementam o tipo penal excluirá o dolo e, por via de
consequência, a aplicação deste artigo” (COSTA, 2017, p. 835).
O crime consumado com o exercício habitual e reiterado da profissão (o que
exclui a forma tentada), sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites.
Contudo, devemos ter em mente que o estado de necessidade,
caracterizado quando alguém não habilitado exerce a medicina, a arte
dentária ou farmacêutica, em casos de urgência ou em regiões sem
profissionais habilitados, não configura o crime (SILVEIRA; REALE JÚNIOR,
2012, p. 165 e s. apud Costa, 2017, p. 835).
Há a previsão das formas qualificada para o crime, disposta no parágrafo

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único: se o crime for praticado com o intuito de se obter lucro (dolo
específico), aplica-se também multa (logo, mesmo o exercício gratuito é
incriminado, sendo também irrelevante que o agente logre êxito em alcançar
o lucro visado). Já a forma majorada está prevista no art. 285: “Aplica-se o
disposto no art. 258 nos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao
definido no art. 267“. Caso haja como resultado morte ou lesão corporal de
natureza grave, incidirão as causas especiais de aumento de pena.

Importante dizer que a ação penal será pública incondicionada. Trata-se,


desde que não haja a incidência da majorante do art. 285 do Código Penal,
de infração penal de menor potencial ofensivo, com aplicação dos institutos
despenalizadores.

CHARLATANISMO – Art. 283

Para iniciarmos nosso estudo sobre o crime de charlatanismo, devemos ter


em mente que a conduta tipificada (tipo objetivo) no art. 283 do Código
Penal, com pena de detenção de três meses a um ano, e multa, consiste em
inculcar ou anunciar (tornar público) cura de moléstia por meio secreto ou
infalível. Dentre os possíveis sentidos para o verbo nuclear inculcar, temos:
estampar, apontar, indicar, divulgar ou apregoar. Já a cura secreta ou
infalível está relacionada a método não conhecido pelas ciências médicas,
mas totalmente eficaz para a cura da enfermidade. Assim, podemos concluir
que a mera promessa, tanto de cura como de alívio de sintomas, não
caracteriza o crime do art. 283, embora tal promessa possa vir a
eventualmente se conformar no delito tipificado no art. 282. Importante
lembrar que a doença a ser curada deve ser humana, não abrangendo, por
exemplo, doenças que acometem animais de estimação.

Por colocar em risco um número indeterminado de pessoas, trata-se de


crime de perigo comum. Jurisprudência do STJ (STJ – HC 1498-3/RJ, Rel.
Ministro Vicente Cernicchiaro, 6ª T., j. 18/12/1992) aponta para o fato de ser
esse crime de perigo concreto, com necessidade de se demonstrar o risco
sob o qual se coloca a saúde de diversas pessoas. Nesse sentido, nos casos
em que não for verificada tal situação de perigo e houver interferência na
liberdade religiosa e de crença do sujeito, a aplicação desse tipo penal
deverá ceder (COSTA, 2017, p. 838). Além disso, temos ainda um crime de
forma vinculada, ante o fato de só poder ser praticado por meio específico, a
saber, com indicação ou anúncio de meio secreto (oculto) ou infalível (de
garantia eficiente), o que exclui a tipicidade do anúncio de meios
comprovadamente eficazes.

Analisando o bem jurídico tutelado, a doutrina majoritária aponta tanto a


incolumidade pública (em geral) como a saúde pública (em especial). No
entanto, Costa (2017, p. 836) assevera que “o bem jurídico correspondente é

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a saúde individual, colocada abstratamente em perigo de forma coletiva”.

O autor/sujeito ativo do pode ser qualquer pessoa (crime comum), incluindo


tanto o médico e demais profissionais com conhecimento técnico quanto o
próprio leigo. Já a vítima (sujeito passivo) será a coletividade em geral (crime
vago).

Analisando mais detidamente o elemento subjetivo do crime, notamos que há


previsão apenas da modalidade dolosa, configurada pela vontade de inculcar
ou anunciar cura por meio secreto ou infalível, estando o agente ciente da
falsidade ou ineficácia do método apresentado (há, assim, atuação de má-
fé).

O momento de consumação do crime se dá quando for praticado o núcleo do


tipo, sendo dispensável, segundo a doutrina, que o agente consiga
convencer alguém de seus métodos de cura. Admite-se a tentativa (crime
plurissubsistente).

Ponto importante é o fato de a habitualidade ser dispensável para a


caracterização desse delito, de modo que um único ato já é suficiente para
configurá-lo. Por outro lado, tanto a doutrina quanto a jurisprudência exigem
ao menos o perigo de dano à saúde para tipificação (por exemplo, por meio
da probabilidade de abandono do tratamento médico devido), sendo também
necessária a idoneidade da conduta para convencer a vítima (caso contrário,
haverá a hipótese de crime impossível). Se houver intuito de lucro, obtenção
de vantagem indevida e prejuízo da vítima, poderá haver estelionato (art.
171, do Código Penal), absorvendo, desse modo, o charlatanismo. Há ainda
no art. 285 a forma majorada do crime.

Por fim, o processamento do crime será por ação penal pública


incondicionada. Trata-se, desde que não haja a incidência do art. 285 do
Código Penal, de infração penal de menor potencial ofensivo, incidindo
institutos despenalizadores.

CURANDEIRISMO - Art. 284

Primeiramente, devemos ter em mente que exercer o curandeirismo, de


forma habitual, é uma conduta tipificada (tipo objetivo) no art. 284 do Código
Penal, com pena de detenção de seis meses a dois anos. Importante
entendermos que o termo curandeirismo se refere ao uso de supostos
métodos não científicos de cura por quem não tem a necessária habilitação
técnico-profissional ou respaldo científico tradicional. Tal crime só poderá ser
praticado pelos meios especificados nos incisos do art. 284 (trata-se,
portanto, de crime de forma vinculada), a saber: I - prescrevendo,
ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando

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gestos, palavras ou qualquer outro meio; ou III - fazendo diagnósticos.

Continuando nossa análise, notamos que esse crime é de perigo comum e


abstrato, pois além de atingir um número indeterminado de pessoas, a
situação de perigo à saúde não precisará ser demonstrada no caso concreto.
Trata-se ainda de crime habitual, eis que exige, para sua consumação, a
prática reiterada e uniforme de atos que denotem um modo de vida do
agente (um único ato isolado será fato atípico).

Quanto ao bem jurídico, temos, segundo doutrina majoritária, a incolumidade


pública, em geral, e a saúde pública, em especial, enquanto bem coletivo.
Lado outro, Costa (2017, p. 792) pontua que “este tipo penal tem como
referente material a própria saúde individual, embora sob perspectiva de
colocação em perigo por uma conduta que deve ser potencializada para
atingir um número indeterminado de pessoas”.

Para grande parte da doutrina brasileira, qualquer pessoa que não tenha
conhecimentos médicos para a cura da doença poderá ser o autor do crime
(sujeito ativo), por se tratar de crime comum (não se trata aqui de atuação de
má-fé, mas de uso de crendice popular). Já o sujeito passivo será a
coletividade em geral, eis que se trata de um crime vago. Na perspectiva de
Costa (2017, p. 793), contudo, também serão vítimas do crime “o grupo de
pessoas cuja saúde foi colocada em perigo”.

Quanto ao tipo subjetivo, está prevista apenas a modalidade dolosa,


caracterizada pela vontade e conhecimento de exercer, reiteradamente, o
curandeirismo para a cura de doenças, mediante uma das condutas
cientificamente não reconhecidas descritas nos incisos do tipo penal. Se o
crime for praticado mediante remuneração (pecuniária ou não) efetivamente
recebida pelo curandeiro, aplica-se também a pena de multa (forma
qualificada), conforme parágrafo único.

O crime será consumado quando ocorrer o exercício habitual e reiterado dos


atos citados nos incisos do art. 284, o que exclui a forma tentada. Além
disso, temos a forma majorada prevista no art. 285.

Não devemos nos esquecer, ainda, de que nos limites da liberdade religiosa
ou do conhecimento popular cultural e tradicionalmente aceito pela
comunidade, ministrar ervas naturais, aplicar “passes” ou fazer rezas,
novenas e afins com finalidade curativa não configuraria crime
doutrinariamente, embora apregoar que determinada prática religiosa
dispensa o tratamento médico possa tipificar a conduta. Por exemplo: caso o
padre diga ao doente que basta a sua bênção para se curar, sem a
necessidade de consultar o médico, poderá restar configurado o crime.

A ação penal para apuração desse crime será pública incondicionada. Trata-

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se, desde que não haja incidência do art. 285 do Código Penal, de infração
de menor potencial ofensivo, devendo incidir os institutos despenalizaradores
da Lei nº 9.099/95.

Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade.


Vamos lá?!

SINTETIZANDO

Nessa unidade pudemos conhecer e analisar as principais características


doutrinárias de alguns dos crimes contra a família, a incolumidade pública e a
saúde pública, como os bens jurídicos protegidos, os sujeitos envolvidos, os
tipos objetivo e subjetivo de cada delito, a consumação e a tentativa, bem
como eventuais formas majoradas e privilegiadas. Também examinamos o
entendimento jurisprudencial recente sobre alguns pontos controversos de
alguns desse crimes,

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