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penal
OBJETIVOS DA UNIDADE
TÓPICOS DE ESTUDO
Família e casamento
– Bigamia
Estado de filiação
– Explosão
– Inundação
– Desabamento ou desmoronamento
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Saúde pública
– Charlatanismo
– Curandeirismo
Família e casamento
Nesse sentido, Machado (2017, p. 682) afirma que família num “sentido
amplo, seria o grupo de pessoas ligadas por vínculos de descendência ou de
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uma mesma origem sanguínea, abrangendo, também, pessoas ligadas a
esses descendentes pelo instituto do casamento e da afinidade. Em sentido
estrito, a família é o grupo ou comunidade composto por cônjuges,
companheiros e pelos filhos destes”.
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mesma tutela usufruída pelo casamento no direito cível.
Figura 1. Pessoa solteira que contrai casamento com pessoa casada - pena de reclusão de
um a três anos. Fonte: Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 2014.
Iniciando o título sobre crimes contra a família e o capítulo acerca dos crimes
contra o casamento, a bigamia é tipificada no art. 235 do Código Penal, com
pena de reclusão de dois a cinco anos. Pode ser entendida como “a
contração de casamento por pessoa regular e validamente casada, conforme
preceitos contidos no Código Civil pátrio em seu art. 1.51 (MACHADO, 2017,
p. 686-687).
Como podemos notar, a celebração de união estável não é suficiente para
caracterizar a bigamia. Contudo, as hipóteses do Código Civil de casamento
nulo e anulável (de ambos os casamentos), previstas nos arts. 1.548, 1.550,
1.556, 1.557 e 1.558, são aptas a encerrar o feito criminal relativo à bigamia
ou mesmo excluir sua tipicidade (no caso do segundo casamento, sua
nulidade deve se basear em motivo distinto do próprio impedimento causado
pelo matrimônio anterior, nos termos do art. 235, § 2º, do Código Penal).
Vale lembrar que nas hipóteses de anulação do casamento, a exclusão da
tipicidade da conduta submete-se ao art. 92 do Código de Processo Penal,
sendo a ação penal suspensa até que o juízo cível dirima a controvérsia, por
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sentença transitada em julgado, sobre o estado civil das pessoas.
Ao criminalizar a bigamia, o legislador optou por proteger, como bem jurídico,
a instituição do casamento enquanto instituição familiar estável ou a ordem
jurídica matrimonial como organização da família, com base no princípio
monogâmico.
Analisemos agora a conduta propriamente criminalizada na bigamia. Trata-se
de crime material, cuja conduta típica consiste em alguém contrair, sendo
casado, novo casamento, de acordo com todas as formalidades legais
exigidas (há, portanto, uma forma vinculada, nos termos dos arts. 1.525 a
1.542 do Código Civil). É, como podemos notar, um delito comissivo
(consistente num agir) que exige um resultado naturalístico a partir da ação
de necessariamente duas pessoas.
Devemos notar que o sujeito ativo na bigamia (ou seja, o agente que comete
o crime) deve ser pessoa regularmente casada que se casa novamente,
estando ciente de sua condição impeditiva (trata-se de delito de mão própria,
já que requer uma qualidade específica do sujeito). Já o sujeito passivo (isto
é, aquele que sofre a prática do crime) poderá ser o Estado (sujeito passivo
primário, imediato ou direto); o cônjuge do primeiro casamento (lembrando
que o impedimento prevalece mesmo que este concorde com o segundo
casamento) e o cônjuge do segundo casamento, se este estiver de boa-fé,
ou seja, se desconhecer o impedimento (sujeitos passivos mediatos ou
indiretos). Se, por outro lado, o cônjuge do segundo casamento tiver ciência
desse impedimento, terá pena mais branda enquanto coautor do crime,
caracterizando a figura penal privilegiada prevista no § 1º do art. 235 do
Código Penal.
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Se considerarmos o casamento religioso celebrado com efeitos civis (art.
226, § 2º, da CF/1988), ele também poderá caracterizar o delito, mas o
casamento religioso celebrado antes ou depois do matrimônio civil não o
configurará. Poderá, ainda, haver o concurso de crimes, na modalidade
continuada, se o agente se casar mais de duas vezes (art. 71 do Código
Penal).
Devemos ter em mente, ainda, que deve haver o dolo de praticar o crime
(tipo subjetivo). Importante lembrarmos que a mera dúvida sobre o vínculo
conjugal anterior é suficiente para caracterizar o delito, sendo o caso de dolo
eventual. Assim, caso o sujeito ativo não esteja ciente desse impedimento, o
fato será atípico pelo erro de tipo, isto é, pela falsa percepção da realidade
(art. 20 do Código Penal).
Se, por outro lado, o agente conseguir demonstrar de forma robusta que a
ilicitude da própria conduta não era de seu conhecimento no momento do
delito (por acreditar na nulidade do primeiro casamento, por exemplo),
haverá erro de proibição, ou seja, embora o agente soubesse o que fazia,
acreditava estar agindo dentro da lei.
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cometido tal crime será promovida por meio da denúncia feita pelo Ministério
Público (a chamada ação penal pública incondicionada, nos termos do art.
100, §1º, do Código Penal, A ação pública é promovida pelo Ministério
Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou
de requisição do Ministro da Justiça.), nas hipóteses previstas no caput e §1º
do art. 235 do Código Penal (Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo
casamento. Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não
sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos), sendo
imprescindível um conjunto probatório acerca da vigência do primeiro
casamento. Também não podemos nos esquecer de que poderá ser
admitido o sursis processual (art. 89 da Lei nº 9.099/1995) para a hipótese do
§1º do art. 235 do Código Penal, já que a pena mínima cominada não é
superior a um ano.
Estado de filiação
O Título VII do Código Penal (Dos Crimes contra a família) dedica o Capítulo
II aos crimes contra o estado de filiação, indo do art. 241 ao art. 243 (registro
de nascimento inexistente; parto suposto; supressão ou alteração de direito
inerente ao estado civil do recém-nascido; e sonegação de estado de
filiação).
CITANDO
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Consiste a conduta típica (ou seja, o tipo objetivo) basicamente na “ação de
promover, no registro civil, a inscrição de nascimento que não ocorreu, por
ser inexistente” (MACHADO, 2017, p. 709).
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nascimento fictício (sujeito passivo mediato), incluindo os pais a quem o
nascimento falso for atribuído e os demais membros da família.
Ainda sobre a prescrição, não devemos nos esquecer de que o termo inicial
de sua contagem será a data em que o fato se tornará conhecido de uma
autoridade pública (ou seja, delegado de polícia, juiz de direito ou
representante do Ministério Público), como ocorre com a bigamia, pois o
delito é cometido às escondidas, sendo que nem mesmo as vítimas têm
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consciência de sua existência, nos termos do art. 111, inciso IV, do Código
Penal. Trata-se de exceção à regra de que a contagem se inicia no dia em
que o crime se consumou (art. 111, inciso I, do Código Penal).
Inicialmente, devemos observar que o tipo penal do art. 242, isto é, parto
suposto e supressão ou alteração do direito inerente ao estado civil de
recém-nascido, cuja pena é de reclusão, de dois a seis anos, prevê uma
série de “condutas atentatórias ao recém-nascido, à família, à fé nos
registros públicos e, portanto, ao Estado” (MACHADO, 2017, p. 715), sendo,
portanto, um tipo cumulativo, ou seja, apresenta quatro figuras criminosas no
“mesmo dispositivo penal, todas com autonomia. Assim, praticando mais de
uma delas, o agente responderá por todas, em concurso material (art. 69 do
CP)” (AZEVEDO e SALIM, 2018, p. 543).
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inserção de informação falsa em registro público, burlar os procedimentos
legais previstos para a adoção regular. Vale lembrar que a eventual inserção
de informação falsa no registro civil (crime-meio) para a consecução dessa
adoção ilegal (crime-fim) será absorvida por este, eliminando, assim, a dupla
persecução criminal (princípio da consunção). Por fim, entende o STJ que a
concessão da guarda provisória a quem não respeita a regra de adoção legal
é excepcionalmente possível, ante o princípio do melhor interesse do menor
(STJ. 3ª. T. Data do julgamento: 27/02/2018. HC 385507/PR. Ministra Nancy
Andrighi).
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o filho alheio; e a criança recém-nascida que foi ocultada ou substituída, bem
como terceiros que tiveram seus filhos substituídos ou escondidos, no caso
da modalidade de ocultar recém-nascido ou substitui-lo.
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conhecido (art. 111, inciso IV, do Código Penal), ao passo que nas demais
modalidades a prescrição começará a correr da data de consumação do
delito (art. 11, inciso I).
Por fim, não podemos nos esquecer de que se houver a prática de falsidade
ideológica, prevista no art. 299 do Código Penal, ou o uso de documento
falso (crimes-meio) para se concretizar o crime previsto no art. 242, haverá a
absorção do crime-meio pelo crime-fim, eliminando, assim, a dupla
persecução criminal.
O ato de atear fogo poderá ser punido de diferentes formas pelo direito
penal, dependendo de onde o agente causar o fogo, do tipo de substância
que ele utilizar e de suas intenções. Se a intenção for de matar alguém com
fogo ele responderá tanto por homicídio art. 121, § 2, III do CP, quanto por
incêndio conforme art. 250 do CP. Desde que ele cause risco a pessoas e
patrimônio de outros, configurando assim um concurso formal impróprio, ou
seja, as penas serão somadas. Caso haja a intenção de atingir pessoas,
considera-se o crime de perigo para vida ou saúde de outrem, conforme o
art. 132 do CP. Se houver o intuito de danificar o imóvel da vítima com
substâncias inflamáveis, a pessoa respoderá pelo art.163, único, II do CP,
configurando um crime qualificado, contanto que não esponha a vidas, nem
patrimônio de terceiros. No caso de o agente causar tanto perigo comum,
quanto dano individual com o ateamento de fogo, o fato de ajustará apenas
ao tipo penal de maior gravidade, ou seja, nas formas majoradas previtas no
art. 250, § 1. Causar incêndio para destruir bens próprios visando
indenização ou valor de seguro mas ao mesmo tempo causar perigo comum,
incorre em concursos de crime entre o art. 250 e o art. 171, § 2, v do CP,
pois os bens jurídicos tutelados são distintos. O incêndio por inconformismo
político sera inquadrado no art. 20, da Lei 7.170 de 1983, que define os
crimes contra a segurança nacional.
Primeiramente, devemos notar que o Título VIII do Código Penal, que dispõe
sobre os crimes contra a incolumidade pública, nos apresenta três capítulos:
Capítulo I – Dos crimes de perigo comum (arts. 250 a 259), Capítulo II – Dos
crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros
serviços públicos (arts. 260 a 266) e Capítulo III – Dos crimes contra a saúde
pública (arts. 260 a 285). Aliás, é justamente a incolumidade pública o bem
jurídico tutelado nos tipos penais inseridos nos referidos capítulos.
CITANDO
Assim, verifica-se que o agente desse tipo de crime objetiva causar perigo a
um número indeterminado de pessoas, um perigo comum à vida, à
integridade física ou mesmo ao patrimônio alheio (trata-se de perigo a bens
jurídicos individuais de titulares indeterminados). Consequentemente,
podemos concluir que o sujeito passivo ou vítima desse crimes, conforme
doutrina majoritária, é a coletividade e, a depender do caso, até mesmo o
Estado.
Quanto aos sujeitos envolvidos no crime, teremos como sujeito ativo (agente)
qualquer pessoa (crime comum), inclusive, o próprio proprietário do bem
incendiado. Já o sujeito passivo, ou seja, a vítima, será a coletividade como
um todo e as pessoas que tiveram sua vida, entre integridade física ou
patrimônio, sob perigo.
Analisado o tipo subjetivo do crime de incêndio, podemos notar que ele pode
ser praticado tanto na modalidade dolosa (isto é, quando há a vontade de
provocar o incêndio por parte do agente, o qual deverá ter ciência de que sua
conduta irá expor a perigo de vida a integridade física ou o patrimônio de
outras pessoas) quanto na modalidade culposa (quando houver lesão do
dever objetivo de cuidado e nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado de perigo concreto, bem como a aplicação dos critérios de
imputação objetiva). Ressalta-se que não há previsão de elemento subjetivo
especial ou dolo específico na forma simples do caput. A modalidade culposa
(prevista no §2º do art. 250 do Código Penal) será apenada com detenção de
seis meses a dois anos (trata-se de infração de menor potencial (Lei nº
9.099/95). Por exemplo:
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Caso o agente ateie fogo e, arrependido, voluntariamente decida apagá-lo
antes de expor perigo à vida, à integridade física ou o patrimônio de outrem,
responderá pelos atos já praticados durante a fase executória (art. 15 do
Código Penal), como eventual crime de dano (art. 163 do Código Penal). É o
caso da tentativa abandonada.
O inciso II do art. 250, por sua vez, elenca uma série de locais onde, caso o
incêndio seja praticado, haverá um aumento de um terço da pena. São os
seguintes:
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dificuldade considerável de controlar o fogo;
Além das hipóteses de aumento de pena expostas, o art. 258 prevê ainda
outras, a saber:
2 - Nos crimes de dano: se o resultado mais grave for desejado pelo agente,
não haverá crime de perigo (incêndio), mas de dano (lesão grave ou morte),
conforme o caso;
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Inicialmente, devemos observar que o crime de explosão, tipificado no art.
251 do Código Penal (tipo objetivo), com pena de reclusão de três a seis
anos, e multa, configura-se quando o autor expõe a perigo concreto a vida, a
integridade física ou patrimônio de outrem por meio de: explosão, arremesso
ou simples colocação (dispor em determinado local) de engenho de dinamite
ou de substância de efeitos análogos. Assim, podemos notar que a diferença
da explosão em relação ao incêndio se encontra no meio de execução.
Além disso, cabe pontuar que se trata de crime de perigo comum ou coletivo,
pois deve alcançar um número indeterminado de pessoas ou coisas. É ainda
crime de perigo concreto, pois é necessário ficar demonstrado no caso
concreto que a conduta do agente expôs, efetivamente, perigo à vida, a
integridade física ou o patrimônio alheio.
Ao contrário do crime de incêndio, o delito de explosão é de forma vinculada,
ante o fato de que o próprio tipo penal indica a maneira pela qual poderá ser
praticado. Também se diferencia do crime de perigo para a vida e a saúde de
outrem (art. 132 do Código Penal) pela forma de execução, a exigência de
perigo comum e a exposição a perigo de patrimônio alheio.
Nesse delito, o bem jurídico protegido, segundo a doutrina majoritária, é a
incolumidade pública, mas autores como Costa (2017, p. 756) ainda incluem
a vida, a integridade física e a propriedade, bens jurídicos de titulares não
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determinados.
Quanto aos autores e possíveis vítimas do tipo penal, temos como sujeito
ativo qualquer pessoa (crime comum). Já o sujeito passivo compreende, de
acordo com boa parte da doutrina, a sociedade em geral (delito de perigo
comum) e o Estado. Para Costa (2017, p. 756), também se afigura como
sujeito passivo o conjunto de pessoas indeterminadas que tiveram seus bens
jurídicos colocados em perigo. Se houver também o perigo comum, ter-se-á
o concurso formal de crimes, com homicídio doloso, o estelionato e o dano
qualificado, devendo o intérprete cuidar para não incorrer no bis in idem.
Ainda sobre possível concurso de crimes, em especial no caso de utilização
de explosivos durante o furto, há tese do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
(STJ, 6ª T, REsp 1647539/SP, j. 21/11/2017) no sentido de que a depender
do caso concreto, em especial se as infrações atingirem bens jurídicos
distintos, poderá haver concurso formal de crimes, ou seja, furto simples ou
qualificado por outra circunstância mais explosão (SALIM; AZEVEDO, 2018,
p. 49).
Ao analisarmos o tipo subjetivo do caput do delito de explosão, exige-se a
presença de dolo, isto é, a vontade de provocar perigo coletivo (à vida, à
integridade física ou ao patrimônio de pessoas indeterminadas). Se o dolo do
agente se voltar ao lesionamento dos mesmos bens jurídicos, mas de pessoa
determinada, os possíveis crimes serão eventualmente outros, como
homicídio qualificado, lesão corporal dolosa ou dano.
O §3º do art. 251 traz duas modalidades culposas, ambas aplicadas à
conduta de causar explosão, a saber: 1) explosão com uso de dinamite ou
substância de efeitos análogos: pena de detenção de seis meses a dois
anos; e 2) explosão com uso de outras substâncias explosivas (maior
aplicação prática), com pena de detenção de meses a um ano. Veja o
exemplo a seguir:
explosão ocasionada por fogos de artifício e outros artefatos
explosivos, como bombinhas e morteiros, os quais fazem uso da
pólvora como componente explosivo.
Ao verificarmos o momento da consumação do crime de explosão, este se
dará no instante em que a explosão, o arremesso ou a simples colocação de
engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos exponha a perigo
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, sendo que o efetivo
dano a tais bens é irrelevante para a consumação do delito (mas se houver,
a modalidade típica qualificada poderá se configurar, no caso de lesão
corporal ou morte). Além disso, nas condutas de mero arremesso ou simples
colocação de dinamite, a explosão em si não será essencial à configuração
do crime, pois esses atos, anteriores a esta, já são punidos.
O crime pode ocorrer na forma tentada nas duas primeiras modalidades, ou
seja, exclusão e arremesso. Por outro lado, cumpre ressaltar que a simples
colocação de dinamite dificilmente aceita a tentativa. Por exemplo:
agente que, ao iniciar a montagem de um explosivo ou a colocação
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deste, é interrompido contra sua vontade no momento em que ainda
não se verifica a situação perigosa (MIRABETE, 2005).
O §1º do art. 251 apresenta a figura privilegiada do crime, com pena de
reclusão de um a quatro anos, e multa, se a substância utilizada não for
dinamite ou substância de efeitos análogos, mas qualquer outra que causar
menor potencial de detonação, perigo e dano, (o que justifica a pena mais
branda), como a pólvora.
Por outro lado, o §2º do art. 251 traz formas majoradas (de um terço), caso
ocorram as hipóteses descritas no §1º, inciso I, do art. 250 (causa de
aumento previstas para o crime de incêndio, a saber, se se o crime é
cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou
alheio). Vale lembrar que a majoração não se aplica à forma culposa do
delito. Aliás, as hipóteses de aumento de pena do art. 258 do Código Penal
são igualmente aplicadas ao crime de explosão, como ocorre com o crime de
incêndio.
Para concluirmos nosso estudo sobre o crime de explosão, importante
salientar que a ação penal para apuração de responsabilidade será
pública incondicionada, e que a modalidade culposa do delito é a infração
de menor potencial ofensivo, o que enseja a transação penal. Por fim, tanto a
forma privilegiada (§1º) quanto à forma culposa do delito (§3º) aceitam a
suspensão do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE – Art. 252
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bens jurídicos.
Por fim, a ação penal prevista para sua apuração era pública incondicionada.
A modalidade culposa era infração penal de menor potencial ofensivo,
incidindo, assim, os institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/95. Era
possível, também, a aplicação do sursis processual, tanto na modalidade
dolosa quanto na modalidade culposa.
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Para iniciarmos nosso estudo sobre o crime de inundação, tipificado no art.
254 do Código Penal, devemos ter em mente que a conduta tipificada (tipo
objetivo), cuja pena é de reclusão de três a seis anos, multa e de detenção,
de seis meses a dois anos.
Quanto ao bem jurídico tutelado, temos mais uma vez, segundo a doutrina
majoritária, a incolumidade pública, em virtude do referido perigo comum
advindo da conduta proibida. Além disso, de acordo com grande parte da
doutrina brasileira, qualquer pessoa poderá ser o autor do crime (sujeito
ativo), por se tratar de crime comum, ao passo que o sujeito passivo será a
coletividade ou o Estado, eis que se trata de um crime vago. Na perspectiva
de Costa (2017, p. 767), também serão vítimas do crime “o conjunto de
pessoas indeterminadas que tiveram seu(s) bem(ns) jurídico(s) colocados em
perigo”.
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Quanto ao tipo subjetivo, estão previstas as modalidades dolosa e culposa.
Na primeira, há por parte do autor o conhecimento e a vontade de causar o
perigo comum, e na segunda (prevista no parágrafo único), o delito deve ser
praticado por imprudência, negligência ou imperícia.
Saúde pública
DICA
Não obstante, Costa (2017, p. 792) lembra que os crimes contra a saúde
pública não visam à proteção de políticas públicas voltadas à garantia do
direito à saúde pública, mas sim à tutela da saúde individual de um número
indeterminado de membros da sociedade potencialmente ameaçada por
certas condutas.2017, p. 792).
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FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS — art.
273
Trata-se de crime de perigo abstrato, uma vez que o risco não precisa ser
efetivamente demonstrado no caso concreto, pois vem presumido pelo
legislador. Contudo, alguns doutrinadores apregoam que a conduta deve ser
idônea para colocar a saúde de um número indeterminado de pessoas em
perigo ou, ainda, haver alguma comprovação da nocividade à saúde ou
redução do valor terapêutico (BITENCOURT, 2013), além de se verificar a
gravidade dos efeitos, a partir da seriedade das consequências à saúde ou
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mesmo da morte de um número não determinado de pessoas. Assim, no
caso de alteração positiva ou inócua (que não causa mal nem prejuízo,
inofensivo), não haverá crime por ausência de perigo ou lesão à saúde.
Importante entendermos o sentido atribuído a cada um dos verbos nucleares
do tipo. De acordo com Costa (2017, p. 810),
Falsificar significa alterar a coisa para pior, buscando manter a
aparência de legítima. Adulterar também significa contrafazer, em
geral por meio de inserção de substâncias indevidas. Já corromper
refere-se a deturpar a própria essência da coisa. Alterar significa
simplesmente modificar a coisa, seja para melhor, seja para pior.
Além disso, devemos nos ater ainda às condutas equiparadas (§1º) e aos
produtos com fins terapêuticos ou medicinais por equiparação (§1º-A), entre
eles os medicamentos. Importante ressaltarmos que “a importação para uso
próprio não possui idoneidade para colocar em perigo a saúde de um
número indeterminado de pessoas” e, portanto, não configura o crime
(COSTA, 2017, p. 811).
Digno de nota o fato de que o sujeito cometerá apenas um crime se vier a
“praticar conduta(s) do caput e outra(s) do §1º” (COSTA, 2017, p. 811). Aliás,
pelo §1º-B, também estará configurado o crime se as condutas do §1º
envolverem produtos, dentre outras possibilidades, sem registro ou de
procedência ignorada.
Ao analisarmos o bem jurídico tutelado pelo crime, a doutrina majoritária
aponta a incolumidade pública, em geral, e a saúde pública, em especial.
Costa (2017, p. 809), pontua, por sua vez, que a saúde, nesse caso, deve
ser considerada como bem individual de um número indeterminado de
pessoas. Quanto aos sujeitos envolvidos, grande parte da doutrina apregoa
que qualquer pessoa poderá ser autor do delito (crime comum), ao passo
que a vítima (sujeito passivo) será a coletividade em geral.
Ao pensamos no tipo subjetivo do crime, teremos o dolo, caracterizado
basicamente pela vontade de praticar uma das condutas descritas, ciente o
agente que exporá a perigo um número indeterminado de pessoas. Com
exceção da modalidade ter em depósito (“para vender”), não se exige
elemento subjetivo especial do tipo. De acordo com o § 2º, se o crime for
culposo (tal modalidade abrange somente as condutas previstas no caput), a
pena é de detenção de um a três anos, além de multa. A forma culposa não
alcança o verbo falsificar, que só pode ser praticado dolosamente.
O crime estará consumado quando o agente falsificar, corromper, adulterar
ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Como se está
diante de um delito formal e de perigo abstrato, não há necessidade de o
produto ser comercializado ou consumido. Com exceção da modalidade
culposa, admite-se a forma tentada. Há, ainda, a previsão da forma majorada
no art. 285.
Ademais, a ação penal para apuração desse crime será pública
incondicionada, sendo que a forma culposa admitirá o sursis processual (art.
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89 da Lei nº 9.099/95), já que a pena mínima não ultrapassa um ano.
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único: se o crime for praticado com o intuito de se obter lucro (dolo
específico), aplica-se também multa (logo, mesmo o exercício gratuito é
incriminado, sendo também irrelevante que o agente logre êxito em alcançar
o lucro visado). Já a forma majorada está prevista no art. 285: “Aplica-se o
disposto no art. 258 nos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao
definido no art. 267“. Caso haja como resultado morte ou lesão corporal de
natureza grave, incidirão as causas especiais de aumento de pena.
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a saúde individual, colocada abstratamente em perigo de forma coletiva”.
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gestos, palavras ou qualquer outro meio; ou III - fazendo diagnósticos.
Para grande parte da doutrina brasileira, qualquer pessoa que não tenha
conhecimentos médicos para a cura da doença poderá ser o autor do crime
(sujeito ativo), por se tratar de crime comum (não se trata aqui de atuação de
má-fé, mas de uso de crendice popular). Já o sujeito passivo será a
coletividade em geral, eis que se trata de um crime vago. Na perspectiva de
Costa (2017, p. 793), contudo, também serão vítimas do crime “o grupo de
pessoas cuja saúde foi colocada em perigo”.
Não devemos nos esquecer, ainda, de que nos limites da liberdade religiosa
ou do conhecimento popular cultural e tradicionalmente aceito pela
comunidade, ministrar ervas naturais, aplicar “passes” ou fazer rezas,
novenas e afins com finalidade curativa não configuraria crime
doutrinariamente, embora apregoar que determinada prática religiosa
dispensa o tratamento médico possa tipificar a conduta. Por exemplo: caso o
padre diga ao doente que basta a sua bênção para se curar, sem a
necessidade de consultar o médico, poderá restar configurado o crime.
A ação penal para apuração desse crime será pública incondicionada. Trata-
31
se, desde que não haja incidência do art. 285 do Código Penal, de infração
de menor potencial ofensivo, devendo incidir os institutos despenalizaradores
da Lei nº 9.099/95.
SINTETIZANDO
32